a eficÁcia prÁtica da aplicabilidade da lei 13.104/2015

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FARO - Faculdade de Rondônia 788 (Decreto Federal nº 96.577 de 24/08/1988) 453 (Portaria MEC de 29/04/2010) IJN - Instituto João Neórico 3443 (Portaria MEC / Sesu nº369 de 19/05/2008) A EFICÁCIA PRÁTICA DA APLICABILIDADE DA LEI 13.104/2015 COMO INSTRUMENTO DE PUNIÇÃO NOS CASOS DE VIOLENCIA CONTRA A MULHER: ANALISE DA JURISPRUDÊNCIA ÉRIKA VENTURA DE QUEIROZ 1 ALEQUESANDRO ANDRADE 2 RESUMO O presente artigo visa analisar a eficácia da lei 13.104/2015 nos crime de homicídio, a qual qualificou o crime de homicídio como feminicídio e o transformou em crime hediondo, no qual a vítima é caracterizada pela sua condição de mulher. Para isto foi utilizado o método de pesquisa bibliográfica, analisando o ponto de vista dos doutrinadores sobre o instituto do crime de feminicídio, explicando o seu conceito, suas espécies e sua tipificação. De igual forma, para analisar a eficácia da lei, foi necessário o estudo de julgados dos tribunais de justiça, analisando também as jurisprudências do Superior Tribunal de Justiça e ao Supremo Tribunal Federal. Verificando as repercussões trazidas pela norma, que nesta analise foi possível verificar a existência da aplicação da qualificadora trazida pela lei 13.104/2015 em todas as regiões do nosso país. Demonstrando que a norma vem tendo eficácia nos julgamento das ações e nos julgamentos dos recursos impetrados. Palavras-chave: FEMINICÍDIO. HOMICÍDIO. HEDIONDO. LEI 13.104/2015. ABSTRACT This article aims to analyze the effectiveness of law 13.104 / 2015 in the crime of homicide, which described the crime of homicide as feminicide and turned it into a heinous crime, in which the victim is characterized by her condition as a woman. For this, the method of bibliographical research was used, analyzing the point of view of the doctrinaires about the institute of the crime of feminicide, explaining its concept, its species and its typification. Likewise, in order to analyze the effectiveness of the law, it was necessary to study the courts of justice, also analyzing the jurisprudence of the Superior Court of Justice and the Federal Supreme Court. Checking the repercussions brought by the norm, that in this analysis it was possible to verify the existence of the application of the qualifier brought by law 13.104 / 2015 in all regions of our country. Demonstrating that the norm has been effective in judging the actions and judgments of the appeals filed. Key words: FEMINICIDE. MURDER. HEINOUS. Law 13.104 / 2015. 1 Graduanda do Curso de Direito da Faculdade de Rondônia - FARO, [email protected]; 2 Professor orientador do Curso de Direito da Faculdade de Rondônia - FARO, [email protected] Porto Velho RO.

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Page 1: A EFICÁCIA PRÁTICA DA APLICABILIDADE DA LEI 13.104/2015

FARO - Faculdade de Rondônia 788 (Decreto Federal nº 96.577 de 24/08/1988) 453 (Portaria MEC de 29/04/2010) IJN - Instituto João Neórico 3443 (Portaria MEC / Sesu nº369 de 19/05/2008)

A EFICÁCIA PRÁTICA DA APLICABILIDADE DA LEI 13.104/2015 COMO

INSTRUMENTO DE PUNIÇÃO NOS CASOS DE VIOLENCIA CONTRA A

MULHER: ANALISE DA JURISPRUDÊNCIA

ÉRIKA VENTURA DE QUEIROZ1

ALEQUESANDRO ANDRADE2

RESUMO

O presente artigo visa analisar a eficácia da lei 13.104/2015 nos crime de homicídio, a qual qualificou o crime de homicídio como feminicídio e o transformou em crime hediondo, no qual a vítima é caracterizada pela sua condição de mulher. Para isto foi utilizado o método de pesquisa bibliográfica, analisando o ponto de vista dos doutrinadores sobre o instituto do crime de feminicídio, explicando o seu conceito, suas espécies e sua tipificação. De igual forma, para analisar a eficácia da lei, foi necessário o estudo de julgados dos tribunais de justiça, analisando também as jurisprudências do Superior Tribunal de Justiça e ao Supremo Tribunal Federal. Verificando as repercussões trazidas pela norma, que nesta analise foi possível verificar a existência da aplicação da qualificadora trazida pela lei 13.104/2015 em todas as regiões do nosso país. Demonstrando que a norma vem tendo eficácia nos julgamento das ações e nos julgamentos dos recursos impetrados. Palavras-chave: FEMINICÍDIO. HOMICÍDIO. HEDIONDO. LEI 13.104/2015. ABSTRACT This article aims to analyze the effectiveness of law 13.104 / 2015 in the crime of homicide, which described the crime of homicide as feminicide and turned it into a heinous crime, in which the victim is characterized by her condition as a woman. For this, the method of bibliographical research was used, analyzing the point of view of the doctrinaires about the institute of the crime of feminicide, explaining its concept, its species and its typification. Likewise, in order to analyze the effectiveness of the law, it was necessary to study the courts of justice, also analyzing the jurisprudence of the Superior Court of Justice and the Federal Supreme Court. Checking the repercussions brought by the norm, that in this analysis it was possible to verify the existence of the application of the qualifier brought by law 13.104 / 2015 in all regions of our country. Demonstrating that the norm has been effective in judging the actions and judgments of the appeals filed. Key words: FEMINICIDE. MURDER. HEINOUS. Law 13.104 / 2015.

1Graduanda do Curso de Direito da Faculdade de Rondônia - FARO, [email protected];

2Professor orientador do Curso de Direito da Faculdade de Rondônia - FARO,

[email protected] Porto Velho – RO.

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2

INTRODUÇÃO

O falecimento de muitas mulheres por causa do gênero, que vem ocorrendo-

nos diversos contextos sociais e políticos, é nomeado com feminicídio, sendo este

encontrado em todas as culturas das sociedades estudas e é oriunda de uma cultura

que envolve o desiquilíbrio de poder entres os gêneros feminino e masculino, que

por sua vez, deu origem a ideia do sexo feminino ser inferior ao masculino, que

resultou nas mortes de muitas mulheres.

O homicida no crime de feminicídio gera diversos tipos de tipologias para o

crime, a depender do grau de ligação sentimental mantido com a vítima, mas isto

será apresentado no decorrer do deste artigo.

Neste artigo será conceituado o crime de feminicídio, apresentando as suas

principais características e expondo os resultados com a aplicação da lei

13.104/2015 que transformou o crime de feminicídio em um crime hediondo,

gerando uma maior repercussão sobre este instituto jurídico. Demonstrando as

espécies de caracterização do crime de feminicídio, assim como, os institutos da

qualificadora no âmbito objetivo e subjetivo por apontamentos dos doutrinados e das

jurisprudências.

Será exposto no decorrer do desenrolar deste artigo, se está havendo eficácia

na aplicabilidade da lei 13.104/2015 para punir os assassinos nos casos de

homicídios em que a vítima é mulher por causa do seu gênero. Para isto será

utilizada a método de pesquisa bibliográfica, analisando as jurisprudências dos

tribunais de justiça, em destaque o do Estado de Rondônia.

Para a elaboração deste artigo será utilizado o método dedutivo e a técnica

metodológica de monografia. O método de pesquisa é a bibliografia e a documental,

com o ponto de vista quantitativo.

1 FEMINICÍDIO

1.1 Conceito

Feminicídio é um crime de homicídio praticado contra uma mulher por causa

do seu gênero feminino, menosprezando a vítima e seus direitos assegurados, como

se os seres humanos do sexo feminino fossem inferior ao sexo masculino. A partir

deste ponto de vista, pode-se notar a diferença entre o conceito do crime de

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homicídio e feminicídio, que não pode ser tratado com apenas um crime que leva a

morte de uma mulher.

Nesse ponto de vista, Romero (2014, pág. 373-400) vem garantir que o crime

de feminicídio é todo e qualquer ato que gera agressão contra a mulher por causa

do seu gênero, e que muitas das vezes gera a morte da vítima. Nesta trajetória, o

homicida em muitos casos é uma pessoa próxima da vítima, como marido,

namorado e/ou companheiro, amigos, colegas e, até mesmo, membros da própria

família.

Nessa perspectiva, o feminicídio pode ser considerado com um meio de

qualificar o crime de homicídio em face de uma mulher, no qual o crime é fundado

em circunstancia específica, ou seja, o crime acontece devido a vítima ser uma

mulher, caso a vítima fosse um homem não ocorreria. Na caracterização deste

crime, estão incluídos: os homicídios devido o menosprezo ou a discriminação à

situação de mulher, e os assassinatos em meio a violência familiar/doméstica.

. Este crime é conhecido como “crime fétido”, esta é um expressão para ódio

contra a mulher ou como é conhecido por misoginia, sendo que esta situação gera

um ambiente de pavor na mulher, resultando em diversos traumas e até mesmo

levando a vítima a morte.

A misoginia engloba a compreensão de agressões na psique e na parte

física da vítima, que pode ser o estupro, o espancamento, a escravidão, a mutilação

genital, e outros atos horrendos e dolosos praticados contra a mulher que facilmente

geraram a sua morte.

Portanto, podemos concluir que o crime de feminicídio é um tipo

caracterizado pelo assassinato de uma mulher, sendo o homicida motivado a

praticar o crime, pelo o ódio que este sente contra o sexo feminino. Podendo ou não

a vítima ter algum laço sentimental que o seu assassino. Sendo, portanto, um crime

derivado do crime de homicídio e atuando como uma qualificadora deste tipo penal.

1.2 Espécies de Feminicídio

A primeira espécie deste crime, pode-se destacar o “feminicídio intra lar”,

ocorrendo no ambiente familiar, ou seja, um homem que assassinou a sua esposa

sobre o contexto de violência familiar e doméstica. Via de regra, neste caso a

violência começou com pequenas agressões até ocorrer o menosprezo pela a

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dignidade da pessoa do sexo feminino e a sua morte. Conforme explica Francisco

Barros (2015, p. site)“ocorre quando as circunstância fáticas indicam que um homem

assassinou uma mulher em contexto de violência familiar”.

A segunda espécie é o feminicídio homoafetivo, neste caso o casal são do

mesmo sexo, feminino, e derivando da violência doméstica, uma mulher mata a

outra. O que caracteriza o crime de feminicídio, apesar de serem do mesmo sexo, os

elementos constitutivos estão presentes. Para Francisco Barros (2015, p. site) esta

espécie occorre “quando uma mulher mata a outra no contexto de violência

doméstica e familiar”.

A terceira espécie é “feminicídio aberrante por aberratio ictus” este ocorre

quanto por acidente ou um simples erro na utilização dos meio de execução, a

mulher ou o homem, no ato de atingir a mulher que pretendia matar, acaba

acertando uma pessoa diversa, vindo a ceifar a vida desta, mas responderá como

se tivesse assassinado a vítima pretendida. De igual forma é o entendimento do

doutrinador Francisco Barros (2015, p. site) “ o feminicídio aberaamte por aberratio

ictus, ocorre quando por acidente ou erro no meio de execução, o assasino erra a

vítima e atinge pessoa diversa, respondendo, portanto como se houvesse pratica o

crime contra a vítima que pretendia atingir”.

A quarta espécie é o feminicídio aberrante por aberratio criminis, este caso é

bem parecido com o anterior mas a diferença é que na espécie anterior o homicida

responde por dolo e nesta espécie o homicida respondo por culpa. Explica de forma

mais clara o doutrinador Francisco Barros (2015, p. site) “haverpa feminicídio

aberrante por aberratio criminis, quando o agente por acidente ou erro na execução

do crime, sobrevém resiltado diverso do pretendido’’.

A quinta espécie é o feminicídio aberrante por erro in persona, aqui o autor

tem intenção de matar uma mulher no ambiente de violência doméstica e familiar, ou

até mesmo motivado pela discriminação e menosprezo pelo sexo feminino, que no

ato de ceifar a vida da vítima, este pensa que mata o seu alvo, mas depois percebe

que matou outra mulher, diversa da pretendida. Mesmo errando o alvo, o homicida

responderá com se houvesse matado a vítima pretendida.

Existem outras espécies que caracterizam o crime de feminicídio, mas para

este artigo, estas já são suficientes para demonstrar que as principais espécies

seguem o mesmo discernimento e têm as suas bases no crime praticado contra uma

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mulher por causa do seu gênero. Sendo os crimes praticados num contexto de

violência domestica e/ou familiar, com ou sem laço sentimental com a vítima.

2 O FEMINICÍDIO É CRIME HEDIONDO

O feminicídio se tornou um crime hediondo com a promulgação da Lei

13.104/2015 que com o seu artigo 2º alterou o artigo 1ºda Lei 8.072/90, ora lei dos

crimes hediondos, que teve incluído no rol de crimes, o homicídio qualificado do

inciso VI do § 2º, do artigo 121 do Código Penal.

Conforme descrito na lei de crimes hediondos ( lei 8.072/90) o feminicídio

passa a ser crime hediondo, vejamos:

Art. 1o São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, consumados ou tentados: (Redação dada pela Lei nº 8.930, de 1994) (Vide Lei nº 7.210, de 1984) I – homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2o, incisos I, II, III, IV, V, VI e VII); (Redação dada pela Lei nº 13.142, de 2015)

Para a melhor complementar compreensão, vejamos o disposto na artigo 121,

§2º , VI, do CP:

§2º (...) VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino.

O feminicídio não é um crime comparado ao hediondo, como o crime de

tortura, o crime de tráfico ilícito e o crime de terrorismo, porém sim, é um crime

convencionalmente hediondo. Essa alteração legislativa, só passou a valer para os

crimes cometidos a partir da entrada em vigor da Lei 13.104/2015, sendo esta norma

mais gravosa, não retroage.

Para haver o enquadramento de um crime de violência contra gênero, exige

prova inequívoca, caso haja dúvida é aplicado o principio do in dubio pro reo. Na

prática forense pode haver diversas contradições ao tentar tipificar um crime com

feminicídio, posto que sempre o acusador tentará condenar o réu de forma mais

gravosa, o que pode ocasionar um abuso de poder por parte da acusação, pois nem

todo homicídio em que a vítima é uma mulher, será feminicídio, poderá ser o crime

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qualificado como fútil ou torpe. Competindo ao Juiz verificar os fatos e as provas

presentes no processo.

Na doutrina majoritária, Nestor Távora (2012, p. 191) expressando o

entendimento, conforme se cita:

“Acreditamos ser possível ao magistrado, sem se imiscuir nas atribuições do órgão acusador, rejeitar parcialmente a inicial acusatória. Nada impede que o juiz rejeite parcialmente a inicial para excluir um ou alguns imputados, quando não haja lastro probatório mínimo vinculando-os aos fatos. O mesmo raciocínio pode ser seguido na hipótese de pluralidade de infrações objeto de uma mesma denúncia, onde, em não havendo justa causa, algumas podem ser excluídas. O mesmo se diga quanto às qualificadoras ou causas de exasperação de pena” (Curso de Direito Processual Penal, 6. Ed., Ed. Jus Podvm, p.191)

Conforme exposto, o juiz tem a possiblidade de evitar um abuso de poder

durante a acusação e a defesa do réu. O objetivo da Lei 13.104/2015 ao classificar o

crime de feminicídio com hediondo não é tipificar todo e qualquer crime de homicídio

contra a mulher, mas sim garantir que caso o crime ocorra por razões do gênero da

vítima, o réu possa ser condenado a uma pena maior.

Nos crimes de feminicídio cometidos após a entrada da Lei 13.104/2015, a

pena é de 12 a 30 anos de reclusão, não se admitindo anistia, graça e nem indulto

natalino. Nem ao menos pode ser concedida a possibilidade de haver fiança.

Ressaltando que o regime inicial de cumprimento da condenação é o fechado. No

caso de progressão de regime, os condenados em crime hediondo poderão solicitar,

caso o réu seja primário, após o cumprimento de 2/5 da pena, no caso do réu ser

reincidente, o cumprimento é de no mínimo 3/5 da pena. Sem o cumprimento deste

requisito, não há a possiblidade de ser concedida a progressão de pena.

Vale ressaltar que a prisão temporária nos crimes hediondos possui o prazo

de 30 dias, podendo este ser prorrogados por um igual período, nos casos de

extrema e comprovada necessidade. Caso o réu queira o livramento condicional,

neste crime, é necessário o cumprimento de mais de 2/3 da pena, conforme

estabelecido no artigo 83, inciso V, do Código Penal.

2.1 Feminicídio como qualificadora

Satisfazendo a Convenção Interamericana que visa prevenir, penitenciar e

desenraizar a Violência em face da Mulher, o Brasil editou e promulgou uma lei,

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dando origem a qualificadora de feminicídio. A lei em comento é a de nº

13.104/2015, nos crimes de homicídios em que a vítima era mulher simplesmente

por razões do sexo feminino, não havia nenhuma punição específica. Ou seja, o

crime de feminicídio era julgado de forma genérica, como sendo um simples

homicídio.

Em cada caso concreto julgado antes da lei 13.104/2015, os crimes

feminicídio não eram tratados desta forma, e em diversos julgamentos a

qualificadora era pelo motivo torpe, sendo este previsto no inciso I, do § 2º, do art.

121 do código penal, ou era o crime era qualificado por motivo fútil, localizado no

inciso II, do § 2º, do art. 121 do código penal. Portanto não havia uma previsão

correta para o cabimento de uma pena maior para os crimes cometido contra Mulher

por causa do seu gênero. A lei 13.104/2015 trouxe a possibilidade de alterar este

cenário, deixando de forma expressa, que o feminicídio, deve a partir da entrada em

vigor desta lei, ser penitenciado como um crime de homicídio qualificado.

É necessário ressaltar 13.104/2015 não trouxe um rol de crimes no seu

texto, mas sim regras de cunho processual que visa à proteção da mulher que é e

pode ser vítima da violência doméstica, porém sem criar novas condutas para o

enquadramento deste crime. Bastando preencher a causa pela qual foi gerada a

morte da vítima.

Com intuito de alcançar a justiça, diversos atos contra a mulher devem ser a

mira da tutela estatal e os criadores das leis, ora legisladores, devem utilizar da

sabedoria para melhor tipificar os crimes de violência contra a mulher, visto em que

um levantamento foi constado mais de cinco mil mortes de mulheres por ano a partir

de 2001 até 2011, em território brasileiro. Bem observador o nobre doutrinador

Cézar Roberto Bitencout que no seu livro da 9ª edição trouxe o discernimento que

uma matança generalizada é um extermínio, é a chacina que exclui uma vítima pela

simples razão deste fazer parte de um determinado grupo ou classe social.

2.1.1 O feminicídio como uma qualificadora subjetiva

Se a ponto de vista, a verificação da ausência ou da presença das

qualificadoras subjetivas nos crimes realizar por motivo torpe ou fútil, cabe aos

jurados o parecer valorativa sobre as causas inerentes ao contexto fático-probatório

que trajaram o Autor a agir como agiu. A nova qualificadora para o crime de

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feminicídio tem essência objetiva, pois o crime ocorre por somente pelo fato da

vítima ser mulher, simplesmente pelo seu gênero feminino, e caberá aos jurados a

verificação objetiva da existência de um dos pressupostos legais de violência familiar

e doméstica (art. 121, § 2º-A, I, do CP, c/c art. 5º, I, II e III, da Lei 11.340/06) ou

ainda a existência da discriminação à condição de mulher ou de menosprezo (art.

121, § 2º-A, II, do CP).

Entendendo que o crime de feminicídio possui como característica a

qualificadora subjetiva, o Promotor de Justiça Rogério cunha e Ronaldo Pinto (2015,

p. 84) apresentam o entendimento:

"[...] a qualificadora do feminicídio é subjetiva, pressupondo motivação especial: o homicídio deve ser cometido contra a mulher por razões da condição de sexo feminino. Mesmo no caso do inc. I do § 2º-A, o fato de a conceituação de violência doméstica e familiar ter um dato objetivo, extraído da lei, não afasta a subjetividade. Isso porque o § 2º-A é apenas explicativo; a qualificadora está verdadeiramente no inc. VI do § 2º, que, ao estabelecer que o homicídio se qualifica quando cometido por razões da condição do sexo feminino, deixa evidente que isso ocorre pela motivação, não pelos meios de execução.”

Neste mesmo entendimento o Advogado criminalista Doutor Cezar Bittencourt

(2015, p. 143) apresenta em um artigo publicado no site de seu escritório de

advocacia:

“[...] o próprio móvel do crime é o menosprezo ou a discriminação à condição de mulher, mas é, igualmente, a vulnerabilidade da mulher tida, física e psicologicamente, como mais frágil, que encoraja a prática da violência por homens covardes, na presumível certeza de sua dificuldade em oferecer resistência ao agressor machista.”

No tocante ao enquadramento do crime de feminicídio sendo qualificado de

forma subjetiva, o Promotor de Justiça Francisco Barros publicou um artigo no site

da impetus.com.br, no qual o Promotor apresenta o seu posicionamento: “a violência

doméstica, familiar e também o menosprezo ou discriminação à condição de mulher,

não são formas de execução do crime, e sim, a motivação delitiva; portanto, o

feminicídio é uma qualificadora subjetiva.” Esse é um entendimento compartilhados

por outros estudiosos, como por exemplo, o Juiz Federal Márcio Cavalcante que

pronunciou o seu entendimento sobre o tema, no site dizerodireito.com.br, “a

qualificadora do feminicídio é de natureza subjetiva, ou seja, está relacionada com a

esfera interna do agente (“razões de condição de sexo feminino”). Ademais, não se

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trata de qualificadora objetiva porque nada tem a ver com o meio ou modo de

execução”, o Autor do crime só comete o ato se a vítima for do gênero feminino.

Com um posicionamento parecido com os demais citados acima, o Advogado

criminalista José Filho (2015, p.202) fala sobre o tema feminicídio na revista direito

publicada no site usjt.br, vejamos:

“Não parece ser possível que a palavra “razão”, ou “razões”, no plural, tenha outro sentido que não seja “causa, motivo”. [...] se o sentido não fosse esse, bastaria ter qualificado o homicídio cometido “contra mulher”. Nesse caso, abstraindo-se a inconstitucionalidade, o simples fato de a vítima ser mulher, bastaria para a qualificadora. A nova lei não usou essa definição, o que evidencia que não basta a condição de mulher para que se caracterize o feminicídio, é preciso que ela tenha sido morta por ser mulher, que a sua condição tenha sido o motivo do ato de matar. [...]

No entendimento do Advogado José Filho (2015, p.202), o agente criminoso

dever demonstrar que matou a vítima pelo fato dela ser mulher ou que isto o motivou

junto com outros motivos a pratica do ato criminoso. José Filho continuar a

apresentar o seu posicionamento:

Se antes de fazer menção à violência doméstica ou familiar o feminicídio foi definido como o crime praticado “contra a mulher por razões da condição de sexo feminino”, não há como negar que se trata de motivo. Parece evidente que a nova qualificadora contém circunstância de natureza subjetiva, vale dizer, associada ao motivo do delito. [...] Em resumo, parece evidente que o feminicídio possui natureza subjetiva, por exigir que a razão (motivo) do crime seja a condição feminina da vítima.”

Para o Advogado José Filho, assim com os demais autores citados neste

tópico, o crime de feminicídio é tipificado a partir do fato em que a vítima é mulher, e

a causa para o fato é que o Autor do crime só cometeu o ato devido a vítima ser do

sexo feminino. Restando claro o pressuposto subjetivo para o crime, ou seja, é uma

característica presente no autor do crime, o que qualifica o crime de forma subjetiva.

2.1.2 O feminicídio como uma qualificadora objetiva

O crime de feminicídio pode ser qualificado de forma objetivo, pois o é descrito

com violência contra a mulher pelo o seu gênero. O promotor de Justiça Amom

Pires, em um artigo publicado no site unilago.edu.br no ano de 2015, afirma:

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"[...] se, de um lado, a verificação da presença ou ausência das qualificadoras subjetivas do motivo fútil ou torpe (ou ainda da qualificadora do inciso V) demandará dos jurados avaliação valorativa acerca dos motivos inerentes ao contexto fático-probatório que levaram o autor a agir como agiu, por outro lado, a nova qualificadora do feminicídio tem natureza objetiva, pois descreve um tipo de violência específico contra a mulher (em razão da condição de sexo feminino) e demandará dos jurados mera avaliação objetiva da presença de uma das hipóteses legais de violência doméstica e familiar (art. 121, § 2º-A, I, do CP, c/c art. 5º, I, II e III, da Lei 11.340/06) ou ainda a presença de menosprezo ou discriminação à condição de mulher (art. 121, § 2º-A, II, do CP).

Na explicação do Promotor Amom (2015, p. site), os jurados que deverão

avaliar se existe no contexto a caracterização do crime por razões do gênero. O

Promotor Amom continuar expondo o seu entendimento:

[...] é objetiva a análise da presença do modelo de violência baseada no gênero (ou em razão da condição do sexo feminino), positivada na Lei Maria da Penha e na Convenção de Belém do Pará e agora incorporada pela Lei nº 13.104/2015 com a expressão “violência doméstica e familiar”, já qu e a Lei Maria da Penha já reputa como hipóteses desse tipo de violência àquelas transcritas acima (art. 5º, incisos I, II e III)."

Conforme aduz Amom Pires, na possibilidade de um homicídio privilegiado

(CP, art.121, §1º) ser recebido pelos jurados, sobrará uma deficiência a votação do

pressuposto da qualificadora subjetiva, mas a votação continuará quanto as

qualificadores objetivas (incisos III, IV e Vi do §2º do art. 121 do CP), principalmente

sobre à qualificadora do feminicídio, tendo em vista que a qualificadora é

nitidamente compatível com a aplicação do privilégio.

O advogado criminalista Vicente Maggio (2015, p. 96), a Lei 13.104/2015

trouxe mais uma qualificadora para o crime de homicídio, conforme ele expressa:

“para o autor, com o advento da Lei 13.104/2015, que incluiu mais uma qualificadora ao crime de homicídio, cinco passam a ser as espécies de qualificadoras: 1) pelos motivos (incisos I a II – paga, promessa ou outro motivo torpe, e pelo motivo fútil); 2) meio empregado (inciso III – veneno, fogo, explosivo, asfixia, etc.); 3) modo de execução (inciso IV – traição, emboscada, dissimulação, etc.), 4) por conexão (inciso V – para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime) e, a novidade, 5) pelo sexo da vítima (inciso VI – contra mulher por razões da condição de sexo feminino).

Para o doutrinador Vicente Maggio as qualificadoras contidas nos incisos III,

IV e VI são objetivas. Neste mesmo sentido o Promotor de Justiça Paulo Busato, em

um artigo publicado no site mpsp.mp.br, afirme que:

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“para o autor, trata-se de “dado absolutamente objetivo, equivocadamente inserido em disposição que cuida de circunstâncias de natureza subjetiva. A partir dessas premissas, lança-se observação acerca do motivo imediato, que pode qualificar o crime se aderente às hipóteses do art. 121, § 2º, incisos I, II e V do Código Penal, quadro que não se confunde com a condição de fato, ou seja, com o contexto objetivo, caracterizador do cenário legal de violência de gênero, palco em que se desenvolveram os ataques contra a mulher dramaticamente encerrados com a sua morte.”

O Tribunal de Justiça do Distrito Federal, entendendo ser a qualificadora

objetiva, julgou em 29/10/2015 um Recurso em Sentido Estrito, no qual o Réu era

pronunciado por homicídio no contexto de violência doméstica, vejamos o julgado:

PENAL. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. RÉU PRONUNCIADO POR HOMICÍDIO COM MOTIVO TORPE. MORTE DE MULHER PELO MARIDO EM CONTEXTO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR. PRETENSÃO ACUSATÓRIA DE INCLUSÃO DA QUALIFICADORA DO FEMINICÍDIO. PROCEDÊNCIA. SENTENÇA REFORMADA. 1. Réu pronunciado por infringir o artigo 121 , § 2º, inciso I, do Código Penal, depois de matar a companheira a facadas motivado pelo sentimento egoístico de posse. 2. Os protagonistas da tragédia familiar conviveram sob o mesmo teto, em união estável, mas o varão nutria sentimento egoístico de posse e, impelido por essa torpe motivação, não queria que ela trabalhasse num local frequentado por homens. A inclusão da qualificadora agora prevista no artigo 121, § 2º, inciso VI, do Código Penal, não poderá servir apenas como substitutivo das qualificadoras de motivo torpe ou fútil, que são de natureza subjetiva, sob pena de menosprezar o esforço do legislador. A Lei 13.104 /2015 veio a lume na esteira da doutrina inspiradora da Lei Maria da Penha, buscando conferir maior proteção à mulher brasileira, vítima de condições culturais atávicas que lhe impuseram a subserviência ao homem. Resgatar a dignidade perdida ao longo da história da dominação masculina foi a ratio essendi da nova lei, e o seu sentido teleológico estaria perdido se fosse simplesmente substituída a torpeza pelo feminicídio. Ambas as qualificadoras podem coexistir perfeitamente, porque é diversa a natureza de cada uma: a torpeza continua ligada umbilicalmente à motivação da ação homicida, e o feminicídio ocorrerá toda vez que, objetivamente, haja uma agressão à mulher proveniente de convivência doméstica familiar. 3 Recurso provido. (TJDF - RSE: 20150310069727, Relator: George Lopes

Leite,Data de Julgamento: 29/10/2015, 1ª Turma Criminal, Data de Publicação: Publicado no DJE : 11/11/2015 .)

O entendimento da 1ª Turma Criminal do TJDF, é que o crime de feminicídio é

qualificado de forma objetiva e que poder coexistir nos perfeitamente com outras

qualificadoras.

Page 12: A EFICÁCIA PRÁTICA DA APLICABILIDADE DA LEI 13.104/2015

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3 ANALISE DE CASOS CONCRETOS

Neste tópico será abordado alguns julgados que condenaram ou não os

agentes suspeitos de cometer o crime de homicídio perante uma mulher, devido seu

gênero, e que foram tipificados pelo crime de feminicídio.

Vejamos, portanto, para começar, o julgamento do Tribunal de Justiça do

Estado da Bahia, o qual manteve a sentença proferida em primeira instância,

condenando o Infrator(posto que este era menor de idade na época dos fatos) a

medida socioeducativa pelo crime análogo ao Feminicídio, vejamos a integra do

julgamento:

ECA. APELAÇÃO. ATO INFRACIONAL ANÁLOGO AO CRIME TIPIFICADO NO ARTIGO 121, § 2º, INCISO VI (FEMINICÍDIO), § 2º-A, INCISO I, (EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA) E § 7º, INCISO I (CRIME PRATICADO DURANTE A GESTAÇÃO) DO CPB. SENTENÇA QUE JULGOU PROCEDENTE A REPRESENTAÇÃO PARA APLICAR MEDIDA DE INTERNAÇÃO AO MENOR INFRATOR. (...) RELAÇÃO ÍNTIMA DE AFETO PATENTE NOS AUTOS. CONJUNTURA DESCRITA QUE APONTA A EXISTÊNCIA DE RELACIONAMENTO AMOROSO, AINDA QUE INSTÁVEL E NÃO OFICIAL. MÓVEL DA CONDUTA RELACIONADA AO ESTADO GESTACIONAL DA VÍTIMA E A PATERNIDADE ATRIBUÍDA AO MENOR INFRATOR. SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE QUE CARACTERIZA O ATO INFRACIONAL COMO ANÁLOGO AO CRIME CAPITULADO NO ART. 121, INCISO VI, § 2-A, INCISO I, DO CPB. EXTREMA GRAVIDADE E CENSURABILIDADE DA AÇÃO PERPETRADA. CONDUTA PLANEJADA. INTUITO DE OCULTAR O ILÍCITO. CRUELDADE E VILEZA NO MODUS OPERANDI. MEDIDA SOCIOEDUCATIVA RAZOÁVEL, ADEQUADA E PROPORCIONAL AO CASO CONCRETO. ART. 112, § 1º, DO ECA. CONDENAÇÃO IRREPREENSÍVEL. RECURSO CONHECIDO, PRELIMINARES REJEITADAS E APELO IMPROVIDO. (Classe: Apelação,Número do Processo: 0000405-02.2016.8.05.0021, Relator (a): Ivone Ribeiro Gonçalves Bessa Ramos, Primeira Câmara Criminal - Primeira Turma, Publicado em: 05/10/2016 )(TJ-BA - APL: 00004050220168050021, Relator: Ivone Ribeiro Gonçalves Bessa Ramos).

Conforme a decisão do Tribunal de Justiça da Bahia, esta foi fundamentada

no artigo 121, §2º do Código penal. Agora, vejamos um julgamento do Tribunal de

Justiça do Distrito Federal, o qual julgou um Homicídio qualificado como feminicídio

na forma tentada:

APELAÇÃO CRIMINAL. TRIBUNAL DO JÚRI. HOMICÍDIO QUALIFICADO NA FORMA TENTADA. MOTIVO TORPE. EMPREGO DE MEIO CRUEL. FEMINICÍDIO. RECURSO DO MINISTÉRIO PÚBLICO. ERRO OU INJUSTIÇA NA DOSIMETRIA DA PENA. VALORAÇÃO DAS CONSEQUÊNCIAS DO CRIME. GRAVIDADE DAS SEQUELAS. FUNDAMENTO VÁLIDO. RECURSO DA DEFESA. TERMO DE

Page 13: A EFICÁCIA PRÁTICA DA APLICABILIDADE DA LEI 13.104/2015

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APELAÇÃO. CONHECIMENTO AMPLO DO RECURSO. NULIDADE POSTERIOR À PRONÚNCIA. NÃO OCORRÊNCIA. SENTENÇA CONTRÁRIA À LEI EXPRESSA OU À DECISÃO DOS JURADOS. NÃO OCORRÊNCIA. DECISÃO DOS JURADOS MANIFESTAMENTE CONTRÁRIA À PROVA DOS AUTOS NÃO EVIDENCIADA. ERRO OU INJUSTIÇA NA APLICAÇÃO DA PENA. PENA-BASE. EXCESSO. REDUÇÃO. AUMENTO DE 1/8 (UM OITAVO) PARA CADA CIRCUNSTÂNCIA JUDICIAL VALORADA NEGATIVAMENTE.(...) O crime resultou em lesões permanentes no braço e na mão da vítima, circunstâncias que extrapolam o resultado esperado para o crime de homicídio qualificado na forma tentada, sendo aptas a ensejar a valoração negativa das consequências do crime, na primeira fase da dosimetria. 7. Embora não se disponha de critérios legais previamente definidos para valoração de cada circunstância judicial constante do artigo 59, do Código Penal, a jurisprudência majoritária, no escopo de se encontrar uma valoração mais equânime, tem adotado o coeficiente imaginário de 1/8 (um oitavo) sobre o intervalo existente entre as penas mínima e máxima do tipo penal para fixar a pena-base, o que se mostra adequado para a reprovação e prevenção do crime. 8. Demonstrado nos autos que a pena-base afastou-se do quantitativo ideal de 1/8 (um oitavo) para cada circunstância judicial, impõe-se a sua readequação. 9.Recursos conhecidos e providos. (TJ-DF 20161510058372 DF 0002853-94.2016.8.07.0019, Relator: DEMETRIUS GOMES CAVALCANTI, Data de Julgamento: 05/04/2018, 3ª TURMA CRIMINAL, Data de Publicação: Publicado no DJE : 12/04/2018 . Pág.: 66/80)

Conforme o entendimento dos julgadores do Tribunal de Justiça do Distrito

Federal, além do crime ser qualificado pelo motivo torpe, este também pode ser

qualificado pelo feminicídio, posto que o crime ocorreu mediante violência doméstica

em que a vítima era mulher.

O Tribunal de Justiça do Paraná, após receber um Habeas Corpus e analisar

o mérito decidiu denegar, pois o agente já possuía diversos registros de práticas

ilícitas. O Denunciado neste caso era indiciado pelo crime, em tese de feminicídio,

vejamos o julgado:

DECISÃO: ACORDAM os integrantes da Primeira Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em DENEGAR o writ. EMENTA: "HABEAS CORPUS" - FEMINICÍDIO (ART. 121-§ 2º-VI, CP)- PRISÃO PREVENTIVA IMPRESCINDÍVEL PARA GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA - PERICULOSIDADE DO AGENTE EVIDENCIADA PELA REITERAÇÃO DE CONDUTAS ILÍCITAS - FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA - CONSTRANGIMENTO ILEGAL INEXISTENTE - "WRIT" DENEGADO. (TJPR - 1ª C.Criminal - HCC - 1382161-7 - Região Metropolitana de Londrina - Foro Central de Londrina - Rel.: Telmo Cherem - Unânime - - J. 02.07.2015) (TJ-PR - HC: 13821617 PR 1382161-7 (Acórdão), Relator: Telmo Cherem, Data de Julgamento: 02/07/2015, 1ª Câmara Criminal, Data de Publicação: DJ: 1605 14/07/2015)

Os nobres julgadores decidiram manter o indiciado preso para que fosse

garantida a ordem pública.

Page 14: A EFICÁCIA PRÁTICA DA APLICABILIDADE DA LEI 13.104/2015

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O Tribunal de Justiça do Estado do Pará ao receber um recurso em sentido

estrito, no qual era o réu recorrente da decisão e requeria que fosse instaurado a

incidência de Insanidade Mental e que houvesse a desclassificação da qualificadora

do crime de feminicídio, vejamos os julgado da 3ª câmara criminal:

a0 RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. ARTIGO 121, § 2º, II, IV E VI, § 2º- A, I DO CPB C/C ART. 5º, III E 7º, I DA LEI Nº. 11.340/2006 E ART. 1º, I DA LEI Nº. 8072/90 E ART. 155, CAPUT DO CPB. SENTENÇA DE PRONÚNCIA ? PEDIDO DE INSTAURAÇÃO DE INCIDENTE DE INSANIDADE MENTAL ? IMPROCEDENTE ? AUSÊNCIA DE ELEMENTOS ENSEJADORES DE DÚVIDA QUANTO A SANIDADE DO ACUSADO - DESCLASSIFICAÇÃO DA QUALIFICADORA DE FEMINICIDIO ? IMPROCEDENTE ? PRESENTES ELEMENTOS CARACTERÍSTICOS DA QUALIFICADORA - DESCARACTERIZAÇÃO DE CRIME DE FURTO ? INDÍCIOS DE MATERIALIDADE E AUTORIA DELITIVA COMPROVADOS NOS AUTOS - PRONÚNCIA APENAS JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE - RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO. DECISÃO UNÂNIME. 1. PEDIDO DE INSTAURAÇÃO DE INCIDENTE DE INSANIDADE MENTAL ? IMPROCEDENTE ? (...) o juiz fundamentadamente pronunciará o acusado, se convencido da materialidade do fato e da existência de indícios suficientes de autoria ou de participação, aptos a autorizar o julgamento pelo Tribunal do Júri. 5. PRESENÇA DE INDÍCIOS DE AUTORIA E MATERIALIDADE DELITIVA - A materialidade delitiva está devidamente comprovada pelo laudo pericial. A autoria delitiva está comprovada pela confissão do denunciado na fase judicial, e pelos depoimentos testemunhais. Portanto, presentes os requisitos do art. 413, § 1º do CPP. 5. DECISÃO DE PRONÚNCIA MANTIDA - RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO - UNANIMIDADE. Vistos etc. Acordam os Excelentíssimos Senhores Desembargadores componentes da Turma Julgadora da 3ª Câmara Criminal Isolada, por unanimidade de votos, conhecer do recurso e negar-lhe provimento, nos termos do voto do Relator. Sala das Sessões do Tribunala3 de Justiça do Pará. Julgamento presidido pelo Excelentíssimo Senhor Desembargador Leonam Gondim da Cruz Junior.(TJ-PA - RSE: 00043529420158140006 BELÉM, Relator: MAIRTON MARQUES CARNEIRO, Data de Julgamento: 23/06/2016, 3ª CÂMARA CRIMINAL ISOLADA, Data de Publicação: 24/06/2016)

Conforme o julgado supracitado, os nobres julgadores decidiram manter a decisão

de pronuncia em face do acusado, assim com havendo materialidade delitiva,

manteve também a qualificadora do feminicídio.

O Tribunal de Justiça do Mato Grosso do Sul ao julgar um recurso em sentido

estrito, no qual o indiciado pretendia desclassificar a qualificadora de feminicídio,

posto que estava sendo pronunciado pela tentativa de homicídio após lesões

corporais no contexto de violência doméstica. O tribunal julgou:

E M E N T A – RECURSO EM SENTIDO ESTRITO – HOMICÍDIO QUALIFICADO NA MODALIDADE TENTADA (ART. 121, § 2º, II, IV E VI C/C ART. 14, II, AMBOS DO CP)– PLEITO DE REFORMA DA DECISÃO JUDICIAL DE PRONÚNCIA – PRETENDIDA DESCLASSIFICAÇÃO

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PARA LESÃO CORPORAL– INVIABILIDADE – AUSÊNCIA DE "ANIMUS NECANDI" NÃO EXSURGE DE FORMA INEQUÍVOCA NOS AUTOS – PRETENDIDO AFASTAMENTO DAS QUALIFICADORAS DO MOTIVO FÚTIL, DO RECURSO QUE TENHA DIFICULTADO A DEFESA DA VÍTIMA E DO FEMINICÍDIO – QUESTÃO A SER APRECIADA PELO TRIBUNAL DO JÚRI – RECURSO IMPROVIDO. (...) Para que o crime de homicídio tentado seja desclassificado para outro da competência do juiz singular, na fase de pronúncia, exige-se a comprovação da ausência de "animus necandi", o que, neste momento, não há como afirmar, pois os elementos de prova não indicam com certeza necessária que o acusado não tinha a intenção de matar ou que não tenha assumido esse risco. A retirada das qualificadoras, na fase de pronúncia, só pode ser feita se manifestamente inadmissíveis. Não se afasta de plano a qualificadora do motivo fútil, se há duas versões para o fato e a questão de determinar se o crime foi precedido de desavença pelo fim do relacionamento ou não obrigaria a incursão deste Tribunal no acervo probatório, o que, nesta fase processual, extrapola nossa competência. Não se afasta o recurso que dificultou a defesa da vítima, se a dinâmica do evento indica que a vítima foi surpreendida com a presença do acusado em sua casa, sem possibilidade de prever o ataque, logo, deve ser mantida, cabendo ao Conselho de Sentença apreciar a questão. A qualificadora do feminicídio não pode ser de pronto afastada se os elementos de prova indicam que o agente agiu movido por razões relacionadas à condição de vulnerabilidade do sexo feminino, em contexto de violência doméstica e familiar, pois a vítima fora convivente do agressor, tinham dois filhos em comum, estariam em processo de separação e o recorrente afirmara que ia matar a vítima caso ela se separasse dele. Com o parecer, recurso improvido.(TJ-MS - RSE: 00098089120158120002 MS 0009808-91.2015.8.12.0002, Relator: Desª. Maria Isabel de Matos Rocha, Data de Julgamento: 18/07/2017, 1ª Câmara Criminal)(grifei)

Conforme grifado, os desembargadores conceituaram em sua decisão o

crime de feminicídio, denegaram o recurso, e mantiveram a sentença de pronúncia

em face do indiciado.

A 2ª câmara criminal do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais julgou

improcedente o recuso de apelação proposto pelo réu, o qual foi condenado pelo

crime de homicídio triplamente qualificado por feminicídio, motivo torpe e por ter

impossibilitado a defesa da vítima. Vejamos o julgado:

APELAÇÃO CRIMINAL. HOMICÍDIO TRIPLAMENTE QUALIFICADO. VEREDICTO CONDENATÓRIO. PRETENSÃO DESCLASSIFICATÓRIA. DECISÃO AMPARADA NO CONJUNTO PROBATÓRIO. QUALIFICADORAS. FEMINICÍDIO. MOTIVO FÚTIL. RECURSO QUE IMPOSSIBILITOU A DEFESA DA VÍTIMA. PLAUSIBILIDADE. - Em sede apelação contra as decisões do Tribunal do Júri, somente se legitima a cassação do veredicto absolutamente dissociado do conjunto probatório. - Encontrando-se o reconhecimento da prática de delito doloso triplamente qualificado contra a vida alinhado às provas produzidas, não há como determinar a submissão do acusado a novo julgamento pelo Conselho de Sentença.

Page 16: A EFICÁCIA PRÁTICA DA APLICABILIDADE DA LEI 13.104/2015

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(TJ-MG - APR: 10628150017935001 MG, Relator: Renato Martins Jacob, Data de Julgamento: 23/03/2017, Câmaras Criminais / 2ª CÂMARA CRIMINAL, Data de Publicação: 03/04/2017)

Conforme estão sendo analisadas as decisões dos tribunais, até o momento é

notável a eficácia da lei 13.104/2015 que possibilitou os julgadores a qualificar o

crime de homicídio.

Um julgado recente do mês de abril de 2018 do Tribunal de justiça de Minas

Gerais, em sede de recurso de apelação, reconheceu e aplicou a qualificadora do

crime de feminicídio, no caso em específico, a vítima que teve sua vida ceifada após

um desentendimento amoroso. Vejamos o julgado:

EMENTA: APELAÇÃO CRIMINAL - HOMICÍDIO QUALIFICADO PELO MOTIVO FÚTIL, MEIO CRUEL, EMPREGO DE RECURSO QUE DIFICULTOU A DEFESA DA VÍTIMA E FEMINICÍDIO - ANULAÇÃO DO JULGAMENTO POR DECISÃO MANIFESTAMENTE CONTRÁRIA - IMPOSSIBILIDADE - RECURSO DEFENSIVO NÃO PROVIDO - ELEVAÇÃO DA REPRIMENDA - NECESSIDADE - RECURSO MINISTERIAL PROVIDO. (...) II - Se os jurados acolheram a tese de que o réu agiu por motivo fútil, em razão de seu inconformismo com o pedido de separação formulado pela vítima, não se permite que a instância revisora proceda a uma nova valoração subjetiva, acolhendo a tese defensiva de que o delito ocorreu por injusta provocação da vítima, pois isto representaria afronta à soberania dos veredictos. III - Não é manifestamente improcedente o reconhecimento da qualificadora relativa ao emprego de meio cruel reconhecida em razão da quantidade elevada de golpes de faca que atingiram a vítima e a levaram a óbito. IV - Deve ser mantida a qualificadora referente ao emprego de recurso que dificultou a defesa da vítima quando a tese de que o primeiro golpe de faca a atingiu nas costas é acolhida pelo Conselho de Sentença e o exame pericial constata a existência de uma ferida pérfuro contusa nas costas da ofendida. V - Constatando-se que o réu era companheiro da vítima e com ela mantinha um relacionamento amoroso, é de rigor o reconhecimento da qualificadora do feminicídio. VI - Havendo o reconhecimento de duas (ou mais) qualifcadoras pelo Corpo de Jurados, nada impede que uma qualifique o crime e a outra (ou outras) o agrave, desde que a qualificadora também esteja prevista como circunstância agravante. (TJ-MG - APR: 10392160020492001 MG, Relator: Júlio César Lorens, Data de Julgamento: 10/04/2018, Data de Publicação: 18/04/2018)

Portanto com mais um julgado do Tribunal do Estado de Minas Gerais, restou

evidente que a qualificadora está alcançando os seus objetivos no conjunto da

aplicação da pena.

De igual forma vem julgando o Tribunal de Justiça do Estado do Rio de

Janeiro, o qual em sede de recurso de apelação reajustou a pena imposta mas

preservou a qualificadora do crime de feminicídio na decisão, vejamos:

Page 17: A EFICÁCIA PRÁTICA DA APLICABILIDADE DA LEI 13.104/2015

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APELAÇÃO. CRIME DE HOMICÍDIO QUALIFICADO TENTADO. ART. 121, §§ 2º, II E VI, 2º-A, I E II C/C ART. 14, II, TODOS OS CÓDIGO PENAL. IRRESIGNAÇÃO DEFENSIVA, QUE PUGNA PELA SUBMISSÃO DO APELANTE A NOVO JULGAMENTO, ADUZINDO QUE A CONDENAÇÃO SERIA MANIFESTAMENTE CONTRÁRIA À PROVA DOS AUTOS, OU PELA REFORMA DA DECISÃO PROLATADA, EM RAZÃO DE INJUSTIÇA NO TOCANTE À APLICAÇÃO DA PENA. SUBSIDIARIAMENTE, REQUER SEJAM AFASTADAS AS QUALIFICA-DORES DO MOTIVO FÚTIL E DO FEMINICÍDIO, BEM COMO SEJA FIXADA A PENA BASE NO MÍNIMO LEGAL E REDUZIDA A REPRIMENDA NA FRAÇÃO DE 2/3, EM RAZÃO DA TENTA-TIVA. COMO PLEITO ALTERNATIVO, REQUER O BENEFÍCIO DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA. PREQUESTIONAMENTO DE DISPOSITIVOS LEGAIS E CONSTITUCIONAIS. RECURSO A QUE SE DÁ PARCIAL PROVIMENTO. (...) Destarte, incide o tipo penal derivado previsto no art. 121, § 2º, VI, 2º-A, I e II c/c 14, II, do C.P., eis que praticado em razão da condição do sexo feminino, envolvendo questão de menosprezo, em razão do gênero. Frise-se que a referida qualificadora foi reconhecida pelo Conselho de Sentença em consonância com as provas dos autos, sendo inadmissível a emissão de qualquer juízo de valor por este Colegiado, na medida em que seu afastamento ou o seu reconhecimento integra o âmbito da competência funcional do Tribunal do Júri, órgão constitucionalmente competente para apreciar e julgar os crimes dolosos contra a vida. O afastamento pretendido só seria possível se as circunstâncias fáticas se mostrassem incontroversas, o que não é o caso. Da dosimetria. (...)RECURSO QUE SE DÁ PARCIAL PROVIMENTO para, tão somente, redimensionar a sanção para 7 (sete) anos, 2 (dois) meses e 12 (doze) dias de reclusão, mantendo-se a sentença recorrida nos seus demais termos.(TJ-RJ - APL: 00093001420168190036 RIO DE JANEIRO NILOPOLIS 1 VARA CRIMINAL, Relator: CLAUDIO TAVARES DE OLIVEIRA JUNIOR, Data de Julgamento: 12/07/2017, OITAVA CÂMARA CRIMINAL, Data de Publicação: 14/07/2017)

Neste julgado, apesar de ter remido a pena do réu, a qualificadora foi mantida

na decisão. Demonstrando a sua importância na fundamentação dos julgadores e

como estes enquadram os crimes no quais as vítimas são do sexo feminino e sofrem

agressões pela a sua condição de vulnerabilidade perante o agressor do sexo

masculino.

3.1 Julgados do Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia

Como um dos objetivos deste artigo, neste momento será analisado alguns

julgados que aplicaram a qualificadora do crime de feminicídio, os quais

comprovaram a existência da eficácia da lei 13.104/2015.

Temos o julgado de um apelação na qual o réu pleiteou a nulidade do

julgamento e a exclusão das qualificadoras por crime de feminicídio, motivo torpe, e

por ter dificultado a defesa da vítima, vejamos o julgado:

Page 18: A EFICÁCIA PRÁTICA DA APLICABILIDADE DA LEI 13.104/2015

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Apelação criminal. Feminicídio. Tentativa. Nulidade do julgamento. Exclusão das qualificadoras. Motivo fútil. Recurso que dificultou a defesa da vítima. Impossibilidade. Soberania do júri. Dosimetria. Discricionariedade do juiz. Exasperação justificada. Descabe a exclusão da qualificadora de motivo fútil quando comprovado nos autos que o crime de feminicídio foi motivado por ciúmes e pela intenção da vítima de romper o relacionamento conjugal. Caracteriza a qualificadora do recurso que dificultou a defesa da vítima o ato de o agente surpreendê-la, em meio a uma discussão rotineira, e perseguí-la, reduzindo sua capacidade de defesa ao imobilizá-la aproveitando-se de sua superioridade física. Não há que se falar em decisão manifestamente contrária à prova dos autos quando existente versão coerente e consentânea com os meios de provas existentes nos autos. É lícita a fixação da pena acima do mínimo legal quando fundada na correta valoração das circunstâncias judiciais, com fundamento concreto em elementos observados nos autos e uso de uma das qualificadoras para aumento da pena-base, tendo o Juízo a quo apontado clara e precisamente os motivos para a escolha do patamar fixado, conforme lhe permite a discricionariedade. (Apelação, Processo nº 0000335-59.2016.822.0005, Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia, 2ª Câmara Criminal, Relator (a) do Acórdão: Des. Valdeci Castellar Citon, Data de julgamento: 09/11/2016)(TJ-RO - APL: 00003355920168220005 RO 0000335-59.2016.822.0005, Relator: Desembargador Valdeci Castellar Citon, Data de Julgamento: 09/11/2016, 2ª Câmara Criminal, Data de Publicação: Processo publicado no Diário Oficial em 17/11/2016.)

Conforme analisado, o recurso foi negado provimento e manteve a sentença

do juízo de primeira instância. Condenado o réu e qualificando o crime pela

qualificadora do feminicídio.

A 2ª câmara criminal do Tribunal de justiça de Rondônia manteve a sentença

que condenou o réu a pena de 19 anos de reclusão pelo crime homicídio qualificado

por feminicídio e por motivo torpe, vejamos o julgado:

Homicídio qualificado. Júri. Soberania dos veredictos. Decisão manifestamente contrária à prova dos autos. Não ocorrência. Exclusão da qualificadora. Não aplicação. Dosimetria. Inviabilidade. Pena de multa. Custas processuais. Isenção. Sanção de caráter penal. Impossibilidade. Recurso não provido. (...). Evidenciado que o crime se originou de uma discussão entre o réu e a vítima, sem razão aparente, após a ingestão de bebidas alcoólicas, inegável a caracterização do feminicídio e a motivação fútil deste delito. A dosimetria da pena apresentando-se devidamente fundamentada deve ser mantida na forma lançada pelo juízo a quo. A isenção da multa de sanção de caráter penal, violaria o princípio constitucional da legalidade. A isenção das custas processuais somente poderá ser concedida na fase de execução do julgado. (Apelação, Processo nº 0014831-39.2015.822.0002, Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia, 2ª Câmara Criminal, Relator (a) do Acórdão: Des. Miguel Monico Neto, Data de julgamento: 17/08/2016)(TJ-RO - APL: 00148313920158220002 RO 0014831-39.2015.822.0002, Relator: Desembargador Miguel Monico Neto, Data de Julgamento: 17/08/2016, 2ª Câmara Criminal, Data de Publicação: Processo publicado no Diário Oficial em 31/08/2016.)

Page 19: A EFICÁCIA PRÁTICA DA APLICABILIDADE DA LEI 13.104/2015

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De igual forma o Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia continua

firmando suas convicções sobre os crime de feminicídio. Vejamos mais um julgado

de um crime que ocorreu na capital do Estado, cidade de Porto Velho, que na

ocasião o réu foi condenado em 16 anos de reclusão pelo crime de homicídio

qualificado por feminicídio, tendo em vista que o crime ocorreu perante uma mulher

e por te sido realizado por meio de asfixia:

Apelação criminal. Júri. Homicídio qualificado por asfixia e feminicídio. Absolvição. Decisão contrária à prova dos autos. Versão escolhida pelo conselho de Sentença amparada no conjunto probatório. Não ocorrência. Exclusão das qualificadoras. Impossibilidade. Pena-base acima do mínimo legal. Redução. Circunstâncias judiciais desfavoráveis. Inviabilidade. (...) Não há razão para afastar as qualificadoras por asfixia e feminicídio se os jurados decidiram pela incidência com base no conjunto probatório apresentado nos autos. Deve ser mantida a fixação da pena-base acima do mínimo legal quando apreciadas e valoradas desfavoravelmente as circunstâncias judiciais do art. 59 do CP, tendo o magistrado apontado clara e precisamente os motivos para a escolha do patamar fixado. (Apelação, Processo nº 0005638-69.2016.822.0000, Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia, 1ª Câmara Criminal, Relator (a) do Acórdão: Des. Valter de Oliveira, Data de julgamento: 11/05/2017)(TJ-RO - APL: 00056386920168220000 RO 0005638-69.2016.822.0000, Relator: Desembargador Valter de Oliveira, Data de Julgamento: 11/05/2017, 1ª Câmara Criminal, Data de Publicação: Processo publicado no Diário Oficial em 17/05/2017.)

Novamente a 2ª câmara criminal do Tribunal de Justiça do Estado de

Rondônia, negou provimento o recurso apelação proposta pelo réu, na qual

pleiteava a sua absolvição e a desclassificação das qualificadoras. Vejamos o

julgado:

Apelação criminal. Tribunal do Júri. Decisão manifestamente contrária à prova dos autos quanto ao reconhecimento das qualificadoras. Inocorrência. Opção por uma das teses colocadas em plenário. Recurso não provido. 1. Descabe sujeitar o recorrente a novo julgamento perante o Tribunal do Júri quando a decisão que o condenou encontra esteio no conjunto probatório, guardando fidelidade à previsão constitucional da soberania dos veredictos, inserta no artigo 5º, XXXVIII. 2. A decisão dos jurados que optam pela tese do homicídio qualificado pelo feminicídio e recurso que dificultou a defesa da vítima em detrimento das teses defensivas e que encontra amparo no contexto probatório não pode ser considerada como contrária às provas dos autos. (Apelação, Processo nº 0013221-91.2015.822.0501, Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia, 2ª Câmara Criminal, Relator (a) do Acórdão: Desª Marialva Henriques Daldegan Bueno, Data de julgamento: 03/05/2017)(TJ-RO - APL: 00132219120158220501 RO 0013221-91.2015.822.0501, Relator: Desembargadora Marialva Henriques Daldegan Bueno, Data de Julgamento: 03/05/2017, 2ª Câmara Criminal, Data de Publicação: Processo publicado no Diário Oficial em 11/05/2017.)

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Conforme decidido pela 2ª câmara criminal, este denegaram o recurso pois

era impossível a desclassificação da qualificadora, pois os atos do réu estavam

tipificados nela, não podendo os julgadores descaracterizar os atos. Desta forma,

mantiveram a sentença proferida em primeiro grau.

Portanto, com as análises realizadas nos julgados do Tribunal Justiça do

Estado de Rondônia, há uma grande utilização da qualificadora para a dosagem da

pena em primeira estância nos crimes realizados perante uma mulher, no contexto

amoroso, familiar, e parental. Tais penas que posteriormente em sede de recurso

são confirmadas.

3.2 Julgados do Superior Tribunal de Justiça

O Superior Tribunal de Justiça – STJ, no mês de maio de 2018, julgou um

Habeas Corpus no qual era pleiteado a desqualificação de qualificadora do

feminicídio, sob alegado de bis in idem posto que o julgamento de 1ª instância havia

condenado o réu por homicídio qualificado pelo motivo torpe e pelo feminicídio.

Vejamos o julgado do STJ:

HABEAS CORPUS Nº 433.898 - RS (2018/0012637-0) RELATOR : MINISTRO NEFI CORDEIRO IMPETRANTE : BRUNO SELIGMAN DE MENEZES ADVOGADO : BRUNO SELIGMAN DE MENEZES - RS0063543 IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PACIENTE : STEPHANIE FOGLIATTO FREITAS EMENTA PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO QUALIFICADO. DECISÃO DE PRONÚNCIA ALTERADA PELO TRIBUNAL DE ORIGEM. INCLUSÃO DA QUALIFICADORA DO FEMINICÍDIO. ALEGADO BIS IN IDEM COM O MOTIVO TORPE. AUSENTE. QUALIFICADORAS COM NATUREZAS DIVERSAS. SUBJETIVA E OBJETIVA. POSSIBILIDADE. EXCLUSÃO. COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL DO JÚRI. ORDEM DENEGADA. 1. Nos termos do art. 121, § 2º-A, II, do CP, é devida a incidência da qualificadora do feminicídio nos casos em que o delito é praticado contra mulher em situação de violência doméstica e familiar, possuindo, portanto, natureza de ordem objetiva, o que dispensa a análise do animus do agente. Assim, não há se falar em ocorrência de bis in idem no reconhecimento das qualificadoras do motivo torpe e do feminicídio, porquanto, a primeira tem natureza subjetiva e a segunda objetiva. 2. A sentença de pronúncia só deverá afastar a qualificadora do crime de homicídio se completamente dissonante das provas carreadas aos autos. Isso porque o referido momento processual deve limitar-se a um juízo de admissibilidade em que se examina a presença de indícios de autoria, afastando-se, assim, eventual usurpação de competência do Tribunal do Júri e de risco de julgamento antecipado do mérito da causa. 3. Habeas corpus denegado. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima

Page 21: A EFICÁCIA PRÁTICA DA APLICABILIDADE DA LEI 13.104/2015

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indicadas, acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, denegar a ordem, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Antonio Saldanha Palheiro, Maria Thereza de Assis Moura, Sebastião Reis Júnior e Rogerio Schietti Cruz votaram com o Sr. Ministro Relator.

Conforme o julgado, este foi denegado, pois o STJ entende que as

qualificadores tem origens diversas, portanto não há em que se falar em bis in

idem.Analisamos outro julgado do STJ que deixa mais alicerçado o entendimento de

que duas ou mais qualificas podem coexistir em um mesmo crime:

HABEAS CORPUS Nº 430.222 - MG (2017/0330678-6) RELATOR : MINISTRO JORGE MUSSI IMPETRANTE : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE MINAS GERAIS ADVOGADO : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE MINAS GERAIS IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS PACIENTE : SERGIO MARTINS AMORIM (PRESO) EMENTA HABEAS CORPUS . IMPETRAÇÃO EM SUBSTITUIÇÃO AO RECURSO CABÍVEL. UTILIZAÇÃO INDEVIDA DO REMÉDIO CONSTITUCIONAL. VIOLAÇÃO AO SISTEMA RECURSAL. NÃO CONHECIMENTO. (...) 2. O alegado constrangimento ilegal será analisado para a verificação da eventual possibilidade de atuação ex officio, nos termos do artigo 654, § 2º, do Código de Processo Penal. HOMICÍDIO. EXCLUSÃO DA QUALIFICADORA DO MOTIVO TORPE. INCOMPATIBILIDADE COM O FEMINICÍDIO. NÃO OCORRÊNCIA. NATUREZA DIVERSA DAS CIRCUNSTÂNCIAS EM QUESTÃO. ILEGALIDADE NÃO CARACTERIZADA. (...) 4. Habeas corpus não conhecido. Documento: 1687572 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 22/03/2018 Página 1 de 9 Superior Tribunal de Justiça ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, não conhecer do pedido. Os Srs. Ministros Reynaldo Soares da Fonseca, Ribeiro Dantas, Joel Ilan Paciornik e Felix Fischer votaram com o Sr. Ministro Relator.

Resta claro que o STJ tende a se posicionar em favor da aplicação da

qualificadora do feminicídio nos crimes contra a vida de uma mulher, seja por

violência doméstica ou memorização do gênero feminino.

3.3 Julgados do Supremo Tribunal de Federal

O Supremo Tribunal de Federal – STF, julgou no final do ano de 2017 um

recurso de agravo regimental dentro habeas corpus, no qual o autor pleiteava o

cumprimento da sua pena em liberdade, entretanto, devido o grau do crime que foi

qualificado pelo feminicídio, pois o réu assassinou a própria esposa, o STF denegou

o recurso, vejamos:

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HC 149607 AgR / MA - MARANHÃO AG.REG. NO HABEAS CORPUS Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI Julgamento: 12/12/2017 Órgão Julgador: Segunda Turma Publicação PROCESSO ELETRÔNICO DJe-021 DIVULG 05-02-2018 PUBLIC 06-02-2018 Parte(s) AGTE.(S) : CARLOS ALBERTO SILVA ADV.(A/S) : CARLOS ARMANDO ALVES SEREJO E OUTRO(A/S) AGDO.(A/S) : SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA Ementa EMENTA Agravo regimental em habeas corpus. Processual Penal. Feminicídio. Condenação. Pena de 21 anos, 10 meses e 15 dias de reclusão. Vedação ao direito de recorrer em liberdade. Pretendida revogação da custódia. Impossibilidade. Necessidade de resguardar a integridade física de menor vulnerável. Precedentes. Agravo regimental não provido. 1. O agravante foi condenado a 21 anos, 10 meses e 15 dias de reclusão, em regime inicial fechado, pela prática do crime de feminicídio, perpetrado contra a própria esposa e na presença do filho de apenas 3 anos de idade. 2. Prisão preventiva fundamentadamente justificada na necessidade de se acautelar o meio social para resguardar a integridade física de menor vulnerável. 3. Agravo regimental a que se nega provimento. Decisão A Turma, por votação unânime, negou provimento ao agravo regimental, nos termos do voto do Relator. Ausentes, justificadamente, os Ministros Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski. Presidência do Ministro Edson Fachin. 2ª Turma, 12.12.2017.

Assim como o STJ, o STF demonstra em seus julgados que os crimes

qualificados por feminicídio devem ser cumpridos inicialmente no regime fechado.

No mês de março do ano de 2017, o STF julgou um agravo regimento no Habeas

Corpus, no qual o réu pleiteava em responder o processo em liberdade, mas devido

a gravidade do crime, sendo este em face da esposa do réu, em violência

doméstica, com utilização de meio cruel e impossibilidade de defesa da vítima, o

STJ por motivo de ordem pública denegou o recuso, vejamos:

HC 134796 AgR / SP - SÃO PAULO AG.REG. NO HABEAS CORPUS Relator(a): Min. LUIZ FUX Julgamento: 17/03/2017 Órgão Julgador: Primeira Turma Publicação PROCESSO ELETRÔNICO DJe-077 DIVULG 17-04-2017 PUBLIC 18-04-2017 Parte(s) AGTE.(S) : MICHEL RIBEIRO ADV.(A/S) : PAULO MARZOLA NETO E OUTRO(A/S) AGDO.(A/S) : SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICA Ementa Ementa: AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. PENAL E PROCESSUAL PENAL. CRIME DE FEMINICÍDIO TENTADO. ARTIGO 121, § 2º, II, IV, §º2-A, DO CÓDIGO PENAL. HABEAS CORPUS

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SUBSTITUTIVO DE RECURSO ORDINÁRIO. INADMISSIBILIDADE. COMPETÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL PARA JULGAR HABEAS CORPUS: CRFB/88, ART. 102, I, D E I. HIPÓTESE QUE NÃO SE AMOLDA AO ROL TAXATIVO DE COMPETÊNCIA DESTA SUPREMA CORTE. PLEITO PELA REVOGAÇÃO DA PRISÃO CAUTELAR. CUSTÓDIA PREVENTIVA DEVIDAMENTE FUNDAMENTADA. FUGA DO DISTRITO DA CULPA. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA, CONVENIÊNCIA DA INSTRUÇÃO CRIMINAL E APLICAÇÃO DA LEI PENAL. INEXISTÊNCIA DE TERATOLOGIA, ABUSO DE PODER OU FLAGRANTE ILEGALIDADE NO ATO IMPUGNADO. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. 1. A custódia preventiva para garantia da ordem pública, por conveniência da instrução criminal e para assegurar a aplicação da lei penal considera-se justificada ante a gravidade in concreto dos fatos (...)2. In casu, o recorrente teve a prisão preventiva decretada pela prática do crime tipificado nos artigos 121, § 2º, incisos I, III, IV e VI, § 2ºA, inciso I e 14, inciso II, do Código Penal, e 5º, caput, III, da Lei n.º 11.340/2006, em razão de haver tentado matar a vítima, por motivo torpe, com emprego de meio cruel, mediante recurso que dificultou a defesa da ofendida e contra a mulher em situação de violência doméstica e familiar. 4. A competência originária do Supremo Tribunal Federal para conhecer e julgar habeas corpus está definida, exaustivamente, no artigo 102, inciso I, alíneas d e i, da Constituição da República, sendo certo que o paciente não está arrolado em qualquer das hipóteses sujeitas à jurisdição desta Corte. 5. Agravo regimental desprovido.DecisãoA Turma, por maioria, negou provimento ao agravo, nos termos do voto do Relator, vencido o Ministro Marco Aurélio. Primeira Turma, Sessão Virtual de 10 a 16.3.2017.

Portanto, se encontra comprovada a utilização da qualificadora do feminicídio

nos crimes de homicídios tentado e consumado, para fundamentar as denegações

de recursos interpostos perante o STF.

CONCLUSÃO

Portanto, este artigo demonstrou ser de grande relevância para o estudo do

crime de Feminicídio, sendo este um crime que ocorre perante a vítima do sexo

feminino por razão do gênero. Se caracterizando no contexto familiar, conjugal,

parental e por menosprezo ou discriminação â condição de mulher da vítima, mas

pode ocorrer mesmo que o agente do crime não possua nenhuma relação com a

vítima.

O crime de feminicídio previsto no código penal, no §2º-A do art. 121, que

apresenta o crime praticado por causa do sexo feminino quando o crime envolve

violência doméstica e familiar, de igual forma, a discriminação à condição de mulher

ou ao menosprezo, fazem parte do caráter subjetivo da conduta, uma vez em que o

homicida era motivado por essas razões.Desta forma, a qualificadora do crime de

feminicídio é claramente subjetiva. Mas caso o crime não seja motivado por caso do

gênero da vítima, a qualificadora será objetiva.

Page 24: A EFICÁCIA PRÁTICA DA APLICABILIDADE DA LEI 13.104/2015

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A problematização deste artigo era: se havia eficácia da lei 13.104/2015 nos

crimes em que a vítima era morta pela sua condição de mulher, crime este que

denominamos como feminicídio. As analises de julgados dos Tribunais de Justiça,

possibilitou a constatação da aplicação da qualificadora do crime de homicídio que

se enquadrasse na tipificação do feminicídio.

Em diversos julgados, conforme apresentado no tópico 3, restou claro que há

uma eficácia da lei, posto que está sendo utilizada em nível nacional, em diversos

processos criminais, em destaque os julgados do Tribunal de Justiça de Rondônia

que em diversos julgados em sede de recurso de apelação, manteve a decisão de

primeira por entender que o criminoso deveria ser condenado de forma qualificada

pelo feminicídio e receber uma pena maior ao comparada com o crime simples. De

igual forma foi apresentado os julgados do STJ e STF que fundamentam suas

decisões nos recursos de habeas corpus na qualificadora do feminicídio para

denegar os mesmos.

Para uma futura pesquisa, será interessante analisar casos concretos do

crime de feminicídio, para verificar se apesar do réu receber uma pena maior, este

após cumprir sua pena ou até mesmo durante o cumprimento, comete a reincidência

no crime de feminicídio.

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