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REVISTA DIREITO, CULTURA E CIDADANIA – CNEC OSÓRIO / FACOS
VOL. 3 – Nº 2 – DEZEMBRO/2013 – ISSN 2236-3734 .
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A efetividade da lei dos alimentos gravídicos: um cotejo jurisprudencial do tribunal de justiça do Rio Grande do Sul
Madalena Fernandes Reck1
Resumo: O presente estudo tem como objetivo analisar se a Lei dos Alimentos Gravídicos está sendo efetivamente aplicada pelos desembargadores do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Para tanto, o estudo fundamentou-se em pesquisas bibliográfica e jurisprudencial, a fim de verificar a carga probatória necessária para a concessão dos alimentos gravídicos, comparando-se os requisitos exigidos pelos desembargadores para o deferimento de tal pleito com aqueles requeridos pela doutrina e pela Lei 11.804/2008. Foram selecionadas decisões diversificadas, abrangendo tanto as que negaram quanto as que concederam os pedidos de fixação dos alimentos gravídicos, observando suas peculiaridades e disparidades. A partir do resultado da análise dessas jurisprudências, corroborado com o entendimento doutrinário, foi possível identificar que a Lei dos Alimentos Gravídicos não está sendo plenamente efetivada, necessitando-se uma mudança de entendimento dos julgadores a fim de que os direitos da gestante e consequentemente do nascituro possam ser satisfatoriamente alcançados. Palavras-chave: Alimentos gravídicos. Lei 11.804/2008. Efetividade. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Jurisprudência. Abstract: This study aims to analyze whether the Parturient Food Law is being effectively applied by the judges of Rio Grande do Sul Court. Therefore, the study was based on literature and constitutional research in order to verify the evidentiary burden necessary to award parturient food, comparing the necessities required by the judges for the granting of such petition with those required by doctrine and according to the Law 11.804/2008. Diversified decisions were selected, covering both those who were denied as those granted the applications for setting parturient food, noting their peculiarities and differences. From the result of analysis of jurisprudence, corroborated with the doctrinal understanding, it was identified that the Parturient Food Law has not been fully effective, necessitating a change in the understanding of judges so that the rights of pregnant women and consequently the unborn child can be satisfactorily achieved. Keywords: Parturient Food. Law 11.804/2008. Effectiveness. Court of Rio Grande do Sul. Jurisprudence.
Introdução
As questões ligadas aos alimentos sempre ganharam papel de destaque na doutrina
e legislação pátrias por estarem diretamente vinculadas à subsistência do ser
humano, correspondendo a uma de suas necessidades mais básicas. Não restam
dúvidas de que o assunto é extremamente relevante, pois o não cumprimento da
obrigação alimentar é o único meio de prisão civil previsto no ordenamento jurídico
brasileiro.
1 Acadêmica do Curso de Direito da Faculdade Cenecista de Osório.
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A Magna Carta confirma tal tese, pois, em seu artigo 6º2, preocupa-se em elencar
um rol de direitos sociais, sendo eles a educação, a saúde, a alimentação, o
trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à
maternidade e à infância, e a assistência aos desamparados.
Contudo, até o ano de 2008, existia uma lacuna na lei, a qual nada referia sobre o
direito a alimentos da mulher gestante e do nascituro. No entanto, o tema ganhou
novas proporções a partir de cinco de novembro daquele ano, com a entrada em
vigor da Lei 11.804, denominada Lei dos Alimentos Gravídicos. Apesar das
divergências trazidas pela legislação até então, por não haver uma lei específica
sobre o tema, os Tribunais já vinham reconhecendo a legitimidade do nascituro para
pleitear alimentos, devidamente representado por sua genitora.
[...] tendo decisão pioneira da Primeira Câmara do Tribunal de Justiça de São Paulo, datada de 14.09.1993 (Ap. Cível n. 193648-1), atribuído legitimidade 'ad causam' ao nascituro, representado pela mãe gestante, para propor ação de investigação de paternidade com pedido de alimentos. Concluiu o relator - Des. Renan Lotufo - reportando-se à decisão pioneira no mesmo sentido do Tribunal do Rio Grande do Sul (RJTJRS 104/418) que 'ao nascituro assiste, no plano do Direito Processual, capacidade para ser parte como autor ou réu. Representado o nascituro, pode a mãe propor ação de investigatória e o nascimento com vida investe o infante na titularidade da pretensão de direito material, até então uma expectativa resguardada'.
3
O interesse pelo tema em estudo decorre do fato de o mesmo ser polêmico, sendo a
Lei dos Alimentos Gravídicos fonte de muitas discussões e controvérsias, seja no
âmbito acadêmico, doutrinário ou jurisprudencial.
Hodiernamente, sabe-se que as relações afetivas têm tornado cada vez mais
efêmeras e descompromissadas. Neste cenário, surge a inovadora Lei dos
Alimentos Gravídicos, a fim de implementar o Princípio da Paternidade Responsável,
já que se tornou possível compelir o suposto genitor a contribuir financeiramente
durante a gestação, visando proporcionar ao nascituro um nascimento com vida e,
acima de tudo, com saúde. Ademais, com o nascimento com vida, os alimentos 2 Art. 6º “São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição”. BRASIL. CASA CIVIL. Presidência da República. Constituição Federal de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 03 set. 2012.
3 LOMEU, Leandro Soares. Alimentos gravídicos: aspectos da Lei 11.804/08. Disponível em: <http://www.ibdfam.org.br/novosite/artigos/detalhe/467>. Acesso em: 04 set. 2012.
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gravídicos são convertidos automaticamente em pensão alimentícia, compelindo o
homem a colaborar com essa gestação pela qual também é responsável.4
Anteriormente à entrada em vigor da referida lei e do Código Civil de 2002, havia um
óbice à concessão de alimentos ao nascituro, gerado pela redação do artigo 2º da
Lei 5478/1968, o qual exigia a comprovação do parentesco ou da obrigação de
alimentar do devedor, algo inacessível no caso em questão. Todavia, o Código Civil
de 2002, em seu artigo 2º5, preocupou-se em pôr a salvo os direitos do nascituro
desde a sua concepção, justificando, portanto, seu direito a alimentos, mesmo que
de modo indireto.
Diante deste cenário, se fez relevante a realização de um levantamento através de
pesquisa jurisprudencial no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul a fim de
verificar se os objetivos da Lei dos Alimentos Gravídicos estão sendo contemplados.
Para tanto, foram comparados os requisitos trazidos pelo referido diploma legal para
a concessão dos alimentos gravídicos com aqueles exigidos pelos
desembargadores do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, verificando se esse
entendimento está em conformidade com o disposto na Lei 11.804/2008 e na
doutrina, as quais exigem a comprovação de meros indícios de paternidade.
O presente estudo se apresenta na forma de artigo científico, fundamentando-se em
pesquisas bibliográfica e jurisprudencial. Para tanto, empregou-se o método
comparativo, a fim de confrontar as disposições apresentadas pela Lei 11.804/2008,
pela doutrina e pela jurisprudência selecionada, analisando os dados apresentados
pelos mesmos, verificando suas semelhanças e disparidades, buscando examinar
se a Lei dos Alimentos Gravídicos possui a efetividade necessária para conferir
proteção à gestante e ao nascituro.
4 SILVA, Álvaro de Almeida. Alimentos gravídicos: norma amparada em princípios. Disponível em: <http://www.ibdfam.org.br/novosite/artigos/detalhe/772>. Acesso em: 04 set. 2012.
5 Art. 2
o “A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo,
desde a concepção, os direitos do nascituro.” BRASIL. CASA CIVIL. Presidência da República. Código Civil de 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 03 set. 2012.
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1. Algumas considerações acerca dos alimentos
Inicialmente, faz-se necessária uma breve definição dos alimentos, podendo os
mesmos ser conceituados como tudo aquilo que se fizer indispensável para garantir
aos seres humanos uma vida digna, incluindo-se, para a obtenção de tal fim, os
mais diversos valores6, os quais “não se limitam à nutrição da pessoa, com mera
cobertura de suas privações físicas, mas que também devem atender, ao aspecto
intelectual, voltado para o desenvolvimento da personalidade [...].”7
Neste sentido, cabe mencionar as palavras de Paulo Lôbo:
Alimentos, em direito de família, tem o significado de valores, bens ou serviços destinados às necessidades existenciais da pessoa, em virtude de relações de parentesco (direito parental), quando ela própria não pode prover, com seu trabalho ou rendimentos, a própria mantença.
8
Para a fixação de alimentos, faz-se necessária a observância do binômio
necessidade/possibilidade, ou seja, aquele que pleiteia alimentos, em se tratando de
maior, precisa demonstrar sua real necessidade, não bastando apenas ser titular do
direito, ao contrário dos menores, que possuem necessidade presumida. Por outro
lado, deve restar comprovada a possibilidade da outra parte para prestá-los9.
A exigência de caracterização desses elementos encontra-se expressa no artigo
1694, § 1º do Código Civil, o qual dispõe que “os alimentos devem ser fixados na
proporção das necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa obrigada.”10
Contudo, é importante frisar que a existência de um terceiro elemento, qual seja, a
proporcionalidade, vem sendo defendida por inúmeros doutrinadores, como Paulo
Lôbo,11 Flávio Tartuce e José Fernando Simão12 e Maria Berenice Dias13. A
jurisprudência14 também vem adotando os três elementos acima mencionados.
6 FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Direito das Famílias. 3. ed. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2011. P. 752. 7 MADALENO, Rolf. Alimentos processuais. Revista Brasileira de Direito das Famílias e
Sucessões, Porto Alegre, v.10, n.5, p. 23-50, ago./set. 2008. P. 23. 8 LÔBO, Paulo. Direito Civil: Famílias. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. P. 368.
9 LÔBO, Paulo. Direito Civil: Famílias. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. P. 374.
10 BRASIL. CASA CIVIL. Presidência da República. Código Civil de 2002. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 03 set. 2012. 11
LÔBO, Paulo. Direito Civil: Famílias. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. P. 375. 12
TARTUCE, Flávio; SIMÃO, José Fernando. Direito Civil: Direito de Família. 5. ed. São Paulo: Método, 2010. V. 5. P. 415.
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A inserção do princípio da proporcionalidade ou razoabilidade na fixação dos
alimentos justifica-se pela vedação ao enriquecimento sem causa quando da sua
quantificação,15 caracterizando-se como um balanceamento entre os outros dois
requisitos, ou seja, não deve o juiz verificar tão somente se existe a necessidade do
alimentando e a possibilidade do alimentante, mas se o valor exigido é razoável.16
1.1 Dos princípios concernentes à obrigação alimentar
No tocante à obrigação alimentar, é possível destacar alguns princípios como sendo
de maior relevância na discussão do tema, tais como o Princípio da Dignidade da
Pessoa Humana, do Melhor Interesse da Criança e do Adolescente e da
Solidariedade Familiar.
A Constituição Federal destaca a dignidade da pessoa humana como um princípio
basilar em um Estado Democrático de Direitos, conforme dispõe seu artigo 1º, III.17
Tal princípio possui conceituação e caracterização complexas, possuindo uma
definição indeterminada, já que abrange em seu ideário uma gama imensa de outros
preceitos constitucionais. Paulo Lôbo explica que
[...] a família, tutelada pela Constituição, está funcionalizada ao desenvolvimento das pessoas humanas que a integram. A entidade familiar
13
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito de Famílias. 7. ed., rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. P. 541.
14 “Agravo de instrumento. Ação de alimentos. Pedido de alimentos provisórios. Indeferimento
mantido. Ausência de demonstração do trinômio necessidade, possibilidade e proporcionalidade. Falta de requisitos que autorizem a concessão de alimentos provisórios à virago, pessoa jovem e capaz de prover seu sustento. Ausência de comprovação de sustento da virago provido pelo varão. Matrimônio lacônico de quatro meses. Alegação de união estável anterior ao casamento que não se sustenta, diante do conteúdo fático-probatório. Necessidade de dilação probatória para eventual fixação de verba alimentar. Agravo desprovido.” RIO GRANDE DO SUL. TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Agravo de Instrumento Nº 70047350145. Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Roberto Carvalho Fraga, Julgado em 25/07/2012. Disponível em: <http://www1.tjrs.jus.br/busca/?tb=juris>. Acesso em: 05 set. 2012.
15 TARTUCE, Flávio; SIMÃO, José Fernando. Direito Civil: Direito de Família. 5. ed. São Paulo:
Método, 2010. V. 5. P.415. 16
LÔBO, Paulo. Direito Civil: Famílias. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. P. 375. 17
Art. 1º “A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: [...] III - a dignidade da pessoa humana”. BRASIL. CASA CIVIL. Presidência da República. Constituição Federal de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 03 set. 2012.
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não é tutelada para si, senão como instrumento de realização existencial de seus membros.
18
O Princípio da Solidariedade Familiar caracteriza-se também como um dos objetivos
da República Federativa do Brasil, elencado pelo art. 3º, I da Constituição Federal19
de 1988. Tal princípio repercute no Direito de Família, dentre outras formas, no
pagamento de alimentos caso esses se façam necessários.20
O referido diploma legal, em capítulo específico destinado à família21, elucida o
princípio em estudo, impondo-se à sociedade, ao Estado e à família a obrigação de
sua observância. 22
No tocante à fixação de alimentos, devem ser observados parâmetros baseados na
solidariedade, a qual encontra fundamento na cooperação, na justiça social e na
igualdade, a fim de se assegurar a dignidade da pessoa humana. Verifica-se,
portanto, que a obrigação alimentar é proveniente da solidariedade familiar, a qual
decorre da solidariedade social23, constitucionalmente assegurada. 24
O Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu artigo 4º, também elucida tal
princípio, afirmando que “é dever da família, da comunidade, da sociedade em geral
e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos
18
LÔBO, Paulo. Direito Civil: Famílias. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. P. 55. 19
Art. 3º “Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;” BRASIL. CASA CIVIL. Presidência da República. Constituição Federal de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 03 set. 2012.
20 TARTUCE, Flávio; SIMÃO, José Fernando. Direito Civil: Direito de Família. 5. ed. São Paulo:
Método, 2010. V. 5. P. 37. 21
Art. 226. “A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado”. Art. 227. “É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.” BRASIL. CASA CIVIL. Presidência da República. Constituição Federal de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao compilado.htm>. Acesso em: 03 set. 2012.
22 LÔBO, Paulo. Direito Civil: Famílias. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. P. 56.
23 Art. 3º “Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma
sociedade livre, justa e solidária”. BRASIL. CASA CIVIL. Presidência da República. Constituição Federal de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao compilado.htm>. Acesso em: 03 set. 2012.
24 FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Direito das Famílias. 3. ed. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2011. P. 750-751.
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referentes à vida, à saúde, à alimentação [...]”.25 Ademais, a redação do dispositivo
legal citado reflete o chamado Princípio do Melhor Interesse da Criança e do
Adolescente.
No direito brasileiro, esse princípio está fundamentado no artigo 227 da Constituição
Federal26, impondo à família, à sociedade e ao Estado o dever de assegurar com
total prioridade à criança e ao adolescente o rol de direitos que explicita. Além disso,
passa a reconhecê-los como sujeitos de direitos e como pessoas em particular
condição de desenvolvimento.27
1.2 Da Lei 11.804/2008: Lei dos Alimentos Gravídicos
Devido às divergências doutrinárias acerca do termo inicial dos direitos da
personalidade do homem28, muito se relutava no tocante à prestação de alimentos
ao nascituro. Contudo, conforme ressaltam Cristiano Chaves de Farias e Nelson
Rosenvald
De fato existem despesas necessárias à perfeita realização do pré-natal, destinando-se a garantir a vida do concebido. Ou seja, durante a gravidez são incontáveis as situações materiais que exigem a participação do pai. São gastos com saúde, alimentação, medicamentos, despesas hospitalares com a maternidade..., sem contar a preparação do (necessário) enxoval do bebê, como na hipótese do vestuário e da assistência pediátrica, não podem ser exclusivos da genitora.
29
No entanto, essa lacuna foi preenchida a partir de 5 de novembro de 2008 com a
publicação da Lei 11.804/2008, a chamada Lei dos Alimentos Gravídicos, que vem
disciplinar o direito da mulher gestante de buscar assistência financeira perante o
indigitado pai na parte que lhe compete, mediante a propositura da correspondente
ação antes do nascimento da criança. Para tanto, verifica-se os recursos financeiros 25
BRASIL. CASA CIVIL. Presidência da República. Estatuto da Criança e do Adolescente. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8069.htm>. Acesso em: 03 set. 2012.
26 Art. 227. “É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao
jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.” BRASIL. CASA CIVIL. Presidência da República. Constituição Federal de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao compilado.htm>. Acesso em: 03 set. 2012.
27 LÔBO, Paulo. Direito Civil: Famílias. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2010, P. 70-71.
28 Teorias natalista, concepcionista e condicionalista.
29 FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Direito das Famílias. 3. ed. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2011, P. 797.
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de ambos os genitores e o valor das despesas realizadas no período da concepção
ao parto, além de outras provenientes da gestação. Este benefício se transforma
automaticamente em pensão alimentícia em favor do menor a partir de seu
nascimento com vida, sem que haja imputação de paternidade.30
O diploma legal em análise foi originado do Projeto de Lei nº. 7.376/2006, contando
com doze artigos em sua redação. Contudo, seis desses dispositivos foram vetados,
os artigos 3º, 4º, 5º, 8º, 9º e 10º. Portanto, a Lei 11.804 foi sancionada contendo os
seguintes artigos: 1º, 2º, 6º, 7º, 11º e 12º.
A lei em estudo, em seu artigo 1º, dispõe do seguinte modo: “esta Lei disciplina o
direito de alimentos da mulher gestante e a forma como será exercido”. Ou seja,
verifica-se que o direito a alimentos é conferido à gestante, porém, protege-se o
nascituro, o qual se encontra no ventre daquela, de modo indireto.
Os alimentos disciplinados pela lei compreendem os valores suficientes para cobrir
as despesas adicionais do período de gravidez que sejam dela decorrentes, da
concepção ao parto, inclusive as referentes à alimentação especial, assistência
médica e psicológica, exames complementares, internações, parto, medicamentos e
demais prescrições preventivas e terapêuticas indispensáveis, a juízo do médico,
além de outras que o juiz considere pertinentes, conforme artigo 2º da lei em
comento. “Como se nota, a extensão ou compreensão dos alimentos é ampla no
dispositivo, além de ser uma norma aberta, pois o juiz pode concedê-los levando em
consideração o que for pertinente.”31
Ademais, o parágrafo único do dispositivo referido adverte que os alimentos
elencados referem-se à parte das despesas que deverá ser custeada pelo futuro pai,
considerando-se a contribuição que também deverá ser dada pela mulher grávida,
na proporção dos recursos de ambos. Tal redação vem ao encontro do disposto no
30
FREITAS, Douglas Philips. Alimentos Gravídicos: comentários à Lei 11.804/2008. 3. Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2011. P. 73.
31 VENOSA, Sílvio de salvo. Direito Civil. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2010. P. 372.
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artigo 1694 do Código Civil32, referendando o binômio necessidade/possibilidade,
essencial quando se trata da concessão de alimentos.
Cabe à gestante convencer o juiz acerca dos indícios de paternidade, conforme
artigo 6º da Lei 11.804/2008: “Convencido da existência de indícios de paternidade,
o juiz fixará alimentos gravídicos que perdurarão até o nascimento da criança,
sopesando as necessidades da parte autora e as possibilidades da parte ré”.33
Desse modo, a mulher grávida deve juntar à petição inicial elementos probatórios
que demonstrem serem suas alegações verídicas, indicando que o réu é o pai do
nascituro. “São elementos de prova documentos que evidenciem a convivência,
como fotos, endereços comuns, aquisições, e-mails, pagamentos de despesas,
declarações de pessoas sobre a relação de convívio ou namoro.”34
Salienta-se que a realização de exame de DNA no líquido amniótico não é exigível
por comprometer a gravidez, pondo em risco a vida da criança. Por essa razão,
exige-se a mera comprovação dos indícios da paternidade, pois os alimentos
gravídicos propõem-se a estimular a paternidade responsável, já que, de outro
modo, os homens seriam beneficiados com essa dúvida que perduraria até o
nascimento da criança, arcando a mulher grávida com todas as responsabilidades
surgidas com a gestação.35
No caso de fixação dos alimentos gravídicos, esses serão automaticamente
convertidos em pensão alimentícia após o nascimento com vida da criança, e
32
Art. 1.694. “Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua educação. § 1
o Os alimentos devem ser fixados na proporção das necessidades do reclamante e dos
recursos da pessoa obrigada.” BRASIL. CASA CIVIL. Presidência da República. Código Civil de 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 03 set. 2012.
33 BRASIL. CASA CIVIL. Presidência da República. Lei dos Alimentos Gravídicos. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11804.htm>. Acesso em: 30 jul. 2012.
34 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de Família: Lei nº 10.406, de 10.01.2002. 7. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2009. P. 776. 35
FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Direito das Famílias. 3. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011. P. 800.
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perdurarão até que uma das partes solicite sua revisão, conforme artigo 6º da Lei
11.804/2008.
Isso porque os alimentos gravídicos, de regra, não devem levar em consideração no período gestacional a condição social do alimentante. Contudo, nada obsta que estes alimentos possam ser revisados depois do nascimento, agora sim, também considerando o padrão social, econômico e financeiro do alimentante, desde que haja iniciativa processual para a revisão dos alimentos que deixam de ser gravídicos com o nascimento do credor e se convertem em pensão alimentícia e esta é associada à condição social do alimentante.
36
A contestação do suposto genitor é tratada pelo artigo 7º da lei em comento, o qual
refere que o réu será citado para apresentar resposta em 5 (cinco) dias. Em sua
defesa, o demandado poderá alegar a impossibilidade de ser pai do nascituro
demostrando, por exemplo, sua esterilidade, ou que não esteve com a gestante no
período ao qual se imputa o momento concepção, apresentando comprovantes de
passagens aéreas, ou demostrando que permaneceu em outro local, afastado do
domicílio da autora.37
Ademais, vale ressaltar que à Lei dos Alimentos Gravídicos é aplicado, de modo
supletivo, o disposto no Código de Processo Civil e na Lei de Alimentos, conforme
redação do artigo 11 da Lei 11.804/2008.
2. Da efetividade da lei dos alimentos gravídicos
Apesar de a Lei 11.804/2008 prever em seu artigo 6º que, convencido da existência
de indícios de paternidade, o juiz fixará os alimentos gravídicos, alguns julgadores
ainda relutam em adotar tal entendimento, somente concedendo os alimentos caso a
gestante instrua o processo com provas inequívocas de que o demandado
realmente é o genitor do nascituro.
Por esse motivo, tendo consciência de que a Lei dos Alimentos Gravídicos passou a
vigorar com o intuito de proteger a gestante e, sobretudo, propiciar ao nascituro um
36
MADALENO, Rolf. Curso de Direito de Família. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2011. P. 883. 37
FREITAS, Douglas Philips. Alimentos Gravídicos: comentários à Lei 11.804/2008. 3. Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2011. P. 106.
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nascimento com saúde e plenas condições de vida, fez-se cabível uma análise
jurisprudencial no Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, com o
escopo de verificar quais elementos de prova vêm sendo exigidos para a concessão
dos alimentos gravídicos pelos julgadores, e se esse entendimento vem impedindo
que a lei, a qual intencionalmente exige a comprovação de meros indícios de
paternidade, cumpra seu papel protecionista.
Por essa razão, realizou-se pesquisa jurisprudencial no Tribunal de Justiça do Rio
Grande do Sul, onde foram identificadas 125 decisões abordando o tema em estudo
até a data de 10 de abril de 2013. Tais decisões foram proferidas por 14 relatores
diferentes. Todavia, vale lembrar que muitos desses desembargadores não mais
integram a composição do quarto grupo cível, formado pela sétima e oitava câmaras
cíveis, as quais possuem competência para julgar as causas relativas à Direito de
Família conforme estabelecido pelo artigo 11 da Resolução Nº 1/98 do Tribunal de
Justiça do Rio Grande do Sul38, que dispõe sobre a composição e competência dos
Órgãos do Tribunal de Justiça.
Atualmente, a 7ª Câmara Cível é composta pelos seguintes desembargadores:
Des. Jorge Luís Dall'Agnol (Presidente), Des. Sérgio Fernando de Vasconcellos
Chaves, Des.ª Liselena Schifino Robles Ribeiro e Des.ª Sandra Brisolara Medeiros.
A 8ª Câmara Cível, por sua vez, possui a seguinte composição: Des. Rui Portanova
(Presidente), Des. Luiz Felipe Brasil Santos, Des. Alzir Felippe Schmitz e Des.
Ricardo Moreira Lins Pastl.
Além dos desembargadores acima referidos, foram encontrados julgados com os
seguintes relatores: Des. José Ataídes Siqueira Trindade, Des. Claudir Fidélis
38
Art. 11. “Às Câmaras Cíveis serão distribuídos os feitos atinentes à matéria de sua especialização, assim especificada:
[...] IV - às Câmaras integrantes do 4o Grupo Cível (7ª e 8
a Câmaras Cíveis):
a) família; b) sucessões; c) união estável; d) Estatuto da Criança e do Adolescente; e) registro civil das pessoas naturais.” RIO GRANDE DO SUL. TRIBUNAL DE JUSTIÇA.
Resolução Nº 1/98 do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Disponível em: <http://www. tjrs.jus.br/site/legislacao/estadual/>. Acesso em: 26 abr. 2013.
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Faccenda, Des. José Conrado Kurtz de Souza, Des. Roberto Carvalho Fraga, Des.
Ricardo Raupp Ruschel e Des. André Luiz Planella Villarinho.
A fim de facilitar sua análise e compreensão, os julgados selecionados foram
divididos em dois grandes grupos, abordando separadamente as decisões que
negaram e as que concederam os alimentos gravídicos, procurando observar ainda
suas peculiaridades e disparidades, tais como as provas ou indícios produzidos
pelas partes, bem como as ponderações e argumentações dos desembargadores a
respeito dos mesmos ao analisar sua adequação, suficiência ou insuficiência, dentre
outros aspectos.
2.1 Das decisões que concederam os alimentos gravídicos
Dentre as decisões do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul que julgaram
questões concernentes a alimentos gravídicos, é possível destacar algumas em que
o pedido de fixação dos alimentos recebeu provimento tendo em vista que as partes
demonstraram os indícios de paternidade, estando, portanto, em conformidade com
o disposto na Lei 11.804/2008 e com o entendimento defendido pela doutrina.
Inicialmente, cabe analisar o Agravo de Instrumento no 7004559159139, do Relator
Roberto Carvalho Fraga, no qual a gestante alega que manteve relacionamento de
quatro anos com o agravado, e demonstra que este havia comprado móveis,
constando a casa da agravante como endereço de entrega. Este segundo elemento
probatório foi extremamente relevante para o convencimento do julgador, já que
demonstra peculiar proximidade entre as partes.
Neste mesmo sentido se deu o julgamento do Agravo de Instrumento no
7005326331540, do Relator Sérgio Fernando Vasconcellos Chaves, no qual a
gestante agravou de instrumento da decisão que indeferiu seu pedido de fixação
39
RIO GRANDE DO SUL. TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Agravo de Instrumento Nº 70045591591. Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Roberto Carvalho Fraga, Julgado em 14/03/2012. Disponível em: <http://www1.tjrs.jus.br/busca/?tb=juris>. Acesso em: 10 abr. 2013.
40 RIO GRANDE DO SUL. TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Agravo de Instrumento Nº 70053263315.
Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves, Julgado em 18/02/2013. Disponível em: <http://www1.tjrs.jus.br/busca/?tb=juris>. Acesso em: 10 abr. 2013.
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liminar de alimentos gravídicos, sustentando que namorou o agravado por dois anos,
tendo o casal vivido em união estável no ano de 2012.
Afirma que o agravado lhe sugeriu que realizasse um aborto, e como não obteve
sucesso, comprometeu-se a pagar a quantia de R$ 300,00 mensais, tendo efetuado
o referido pagamento apenas uma vez. O relator entendeu que o requisito trazido
pelo art. 6º da Lei 11.804/2008, qual seja, a demonstração de indícios de
paternidade, restaram comprovados nos autos, fixando, portanto, os alimentos
gravídicos no valor de meio salário mínimo mensal.
O mesmo relator, no julgamento do Agravo de Instrumento no 7004590837341
enfrentou situação semelhante, onde a gestante interpôs recurso alegando que
namorou o agravado por sete meses, tendo o casal praticamente vivido junto nesse
período.
Em seu decisum, o julgador refere que, além da afirmação coerente da autora, os
indícios de paternidade se revelaram por meio de fotografias e documentos
juntados, sendo que um deles apresentava o comprometimento do agravado com a
gestação. Desta forma, deu-se provimento ao agravo fixando os alimentos
gravídicos em 30% do salário mínimo.
Sérgio Fernando Vasconcellos Chaves também deu provimento a outros dois
recursos que pleiteavam a fixação de alimentos gravídicos provisórios. No primeiro
deles (Agravo de Instrumento no 70037374071)42, sua decisão fundamentou-se
pelas afirmações das partes, mensagens trocadas e declarações de testemunhas
que tinham conhecimento do relacionamento.
41
RIO GRANDE DO SUL. TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Agravo de Instrumento Nº 70045908373. Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves, Julgado em 31/10/2011. Disponível em: <http://www1.tjrs.jus.br/busca/?tb=juris>. Acesso em: 11 abr. 2013.
42 RIO GRANDE DO SUL. TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Agravo de Instrumento Nº 70037374071.
Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves, Julgado em 26/01/2011. Disponível em: <http://www1.tjrs.jus.br/busca/?tb=juris>. Acesso em: 11 abr. 2013.
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No segundo recurso (Agravo de Instrumento no 70041029737)43, o relator sustenta
que para a concessão dos alimentos gravídicos bastam haver indícios de
paternidade, os quais foram demonstrados nos autos pelas afirmações da partes,
corroboradas por mensagens trocadas, depósitos bancários, e inclusive pela
declaração do recorrido, que em contestação admitiu que contribuiu financeiramente
com a gestação na proporção de 20% de seus rendimentos mensais. Ademais, em
momento algum os diálogos juntados na exordial foram questionados pelo mesmo.
Por essa razão, foram fixados alimentos gravídicos em 30% de seus ganhos
líquidos.
Percebe-se que os julgados destacados acima se encontram em conformidade com
o disposto pelo texto do artigo 6º da Lei 11.804/200844 e pela doutrina, como se
depreende da lição de Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald, os quais
compreendem como sendo suficiente para a fixação dos alimentos gravídicos
[...] demonstrar a existência de indícios de paternidade [...] como, por exemplo, a colheita de testemunhas ou a juntada de documentos (fotografias, filmes, cartas ou bilhetes de amor, mensagens cibernéticas etc.). Trata-se de um momento processual bastante singular, pois o magistrado deferirá os alimentos gravídicos com base em juízo perfunctório, independentemente de prova efetiva da paternidade, bastando a existência de meros indícios.
45
Esse entendimento é corroborado por diversos outros autores, dentre eles Douglas
Philips Freitas,46 Arnaldo Rizzardo,47 Ana Cecília Rosário Ribeiro48 e Rolf
Madaleno49.
43
RIO GRANDE DO SUL. TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Agravo de Instrumento Nº 70041029737. Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves, Julgado em 31/01/2011. Disponível em: <http://www1.tjrs.jus.br/busca/?tb=juris>. Acesso em: 11 abr. 2013
44 Artigo 6º: “Convencido da existência de indícios de paternidade, o juiz fixará alimentos gravídicos
que perdurarão até o nascimento da criança, sopesando as necessidades da parte autora e as possibilidades da parte ré.” BRASIL. CASA CIVIL. Presidência da República. Lei dos Alimentos Gravídicos. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11804. htm>. Acesso em: 30 jul. 2012.
45 FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Direito das Famílias. 3. ed. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2011. P. 799-800. 46
FREITAS, Douglas Philips. Alimentos Gravídicos: comentários à Lei 11.804/2008. 3. Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2011. P. 77.
47 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de Família: Lei nº 10.406, de 10.01.2002. 7. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2009. P. 776. 48
RIBEIRO, Ana Cecília Rosário. Alimentos para o nascituro: tutela do direito à vida. Curitiba: Juruá, 2011. P. 130-131.
49 MADALENO, Rolf. Curso de Direito de Família. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2011. P. 883.
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No entanto, verificou-se que no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, muitos
julgados também acabam por conceder os alimentos gravídicos nos casos em que
os indícios de paternidade se mostram escassos ou até mesmo inexistentes.
Nessa acepção, encontra-se o Agravo de Instrumento no 7004739692450, do Relator
Ricardo Moreira Lins Pastl51, havendo participado do julgamento os
desembargadores Luiz Felipe Brasil Santos e Rui Portanova. O Relator optou pelo
descabimento da antecipação da tutela pleiteada pela autora que intentava a fixação
dos alimentos gravídicos por estarem ausentes seus requisitos, já que não havia
qualquer elemento probatório acerca da indigitada paternidade, conforme exigido
pelo art. 6º da Lei 11.804/2008.
No entanto, Rui Portanova e Luiz Felipe Brasil Santos divergem do eminente
julgador a fim de dar provimento à pretensão da agravante, sob a justificativa de que
a situação que enseja os alimentos gravídicos, por si só, produz situações de difícil
comprovação, especialmente no que tange ao encargo da gestante de comprovar
que o filho que carrega é do demandado.
Prosseguem ainda afirmando que o provimento de liminares está naturalmente
envolto de riscos, e quando se trata de alimentos gravídicos, algumas regras que
regem a fixação dos alimentos devem ser um tanto relativizadas, devendo-se
flexibilizar certas normas que em se tratando de pessoa já nascida seriam mais
rígidas. Por essa razão, segundo os julgadores, não se pode exigir que a gestante
comprove a paternidade de uma criança que conta com poucos meses de gestação.
De outra banda, salienta-se que nesta fase a gestante se depara com inúmeras
despesas, tais como exames, acompanhamento médico, e inúmeros outros
procedimentos que visam alcançar o sadio desenvolvimento do infante.
50
RIO GRANDE DO SUL. TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Agravo de Instrumento Nº 70047396924. Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Ricardo Moreira Lins Pastl, Julgado em 29/03/2012. Disponível em: <http://www1.tjrs.jus.br/busca/?tb=juris>. Acesso em: 12 abr. 2013.
51 No entanto, quando se pesquisa por esse número do processo no site do Tribunal de Justiça do
Rio Grande do Sul, consta como relator em sua ementa o desembargador Rui Portanova, sendo que somente abrindo-se o documento percebe-se que realmente Ricardo Moreira Lins Pastl é o relator.
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Concluíram os desembargadores que, havendo dúvidas entre a imputação da
paternidade e das necessidades da gestante e do nascituro, esta segunda deve
prevalecer, pois menos gravoso reconhecer uma obrigação provisória contra o
suposto genitor, do que deixar de garantir um melhor desenvolvimento ao filho,
cabendo, portanto, a fixação dos alimentos apesar da fragilidade das provas.52
Julgamento semelhante se depreende do Agravo de Instrumento no 7005069167453,
no qual Rui Portanova atuou como relator, acompanhado de Luiz Felipe Brasil
Santos e Ricardo Moreira Lins Pastl.
Ao julgar o agravo da gestante que teve seu pedido de alimentos gravídicos
provisórios negado em primeira instância, Portanova aduz que, mesmo inexistindo
provas acerca do relacionamento entre as partes, o que poderia gerar os indícios de
paternidade, faz-se cabível a fixação dos alimentos gravídicos quando comprovada
a gestação.
Luiz Felipe Brasil Santos profere seu voto concordando com o relator, trazendo aos
autos dados embasados em sua experiência forense. Alega que em seus trinta e
cinco anos no exercício da função jurisdicional foi possível perceber que cerca de
95% das investigações de paternidade ajuizadas restaram procedentes,
evidenciando portanto, que a mulher não costuma fazer falsas imputações acerca da
paternidade. Desta forma, segundo o desembargador, é preferível cometer um erro
em face do demandado na probabilidade de 5% ao se conceder os alimentos, do
que enfrentar a probabilidade de 95% de errar em face da gestante negando-os.54
Nos julgados acima analisados, foi possível perceber uma extrema despreocupação
dos desembargadores com a carga probatória constante dos autos, bastando a
palavra da gestante para que fossem concedidos os alimentos gravídicos. Contudo
52
RIO GRANDE DO SUL. TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Agravo de Instrumento Nº 70047396924. Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Ricardo Moreira Lins Pastl, Julgado em 29/03/2012. Disponível em: <http://www1.tjrs.jus.br/busca/?tb=juris>. Acesso em: 12 abr. 2013.
53 RIO GRANDE DO SUL. TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Agravo de Instrumento Nº 70050691674.
Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Rui Portanova, Julgado em 01/11/2012. Disponível em: <http://www1.tjrs.jus.br/busca/?tb=juris>. Acesso em: 12 abr. 2013.
54 RIO GRANDE DO SUL. TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Agravo de Instrumento Nº 70050691674.
Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Rui Portanova, Julgado em 01/11/2012. Disponível em: <http://www1.tjrs.jus.br/busca/?tb=juris>. Acesso em: 12 abr. 2013.
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esse posicionamento fere a regra processual do ônus da prova contida no artigo
333, inciso I do Código de Processo Civil55, segundo o qual, a parte que alega os
fatos deve prová-los.
Acerca do tema, cabe destacar o entendimento de Douglas Phillips Freitas:
Salvo a presunção de paternidade dos casos de lei, como imposto no art. 1597 e seguintes, o ônus probatório é da mãe. Mesmo o pai não podendo exercer o pedido de Exame de DNA como matéria de defesa, cabe a genitora apresentar os "indícios de paternidade" informada na lei através de fotos, testemunhas, cartas, e-mails, entre tantas outras provas lícitas que puder trazer aos autos, lembrando que ao contrário do que pugnam alguns, o simples pedido da genitora, por maior necessidade que há nesta delicada condição, não goza de presunção de veracidade ou há uma inversão do ônus probatório ao pai, pois este teria que fazer (já que não possui o exame pericial como meio probatório) prova negativa, o que é impossível e refutado pela jurisprudência. Há necessidade de aplicação da regra do art. 333, inc. I, do Código Civil de 2002 que informa que o ônus da prova incumbe ao autor, quanto ao fato constitutivo do seu direito. [...]
56
No entanto, cabe frisar que Freitas, na obra Alimentos Gravídicos, comentários à Lei
11.804/2008, vem adotar posicionamento distinto, e inegavelmente destoante do que
se encontra na doutrina e jurisprudência dominantes, afirmando que, apesar de
caber à gestante produzir alguma prova acerca da paternidade, o magistrado deve
compreender que tal tarefa é das mais árduas, especialmente quando se trata de
relacionamentos efêmeros, e, portanto, a não apresentação de provas não poderia
ser motivo para negar sua pretensão.57
O autor assevera que a presunção de boa-fé da gestante, sujeitando-se aos fatos
narrados na inicial e às alegações da contestação, mesmo não havendo qualquer
prova documental, pode dar ensejo a fixação dos alimentos gravídicos caso o
magistrado tenha se convencido acerca dos indícios de paternidade. Apesar de que
algumas mulheres poderão utilizar este instituto para obter vantagens ilícitas, este
entendimento não pode ser a regra, devendo, como já afirmado anteriormente
prevalecer a presunção de boa-fé a fim de não se prejudicar inúmeras mulheres que
55
Art. 333. “O ônus da prova incumbe: I - ao autor, quanto ao fato constitutivo do seu direito;” BRASIL. CASA CIVIL. Presidência da República. Código de Processo Civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l 5869compilada.htm>. Acesso em: 29 abr. 2013.
56 FREITAS, Douglas Philips. Alimentos Gravídicos e a Lei 11.804/08 - Primeiros Reflexos.
Disponível em: <http://www.ibdfam.org.br/artigos/detalhe/468>. Acesso em: 26 abr. 2013. 57
FREITAS, Douglas Philips. Alimentos Gravídicos: comentários à Lei 11.804/2008. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2011. P. 77-78.
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buscam nesta ação o único meio de obter assistência para a gestação e atender as
necessidades da criança.58
Ao contrário do exposto até o momento, verifica-se que em boa parte das decisões
que abordam a matéria sob análise foram negados os pedidos de fixação dos
alimentos gravídicos, conforme se abordará a seguir.
2.2 Das decisões que negaram os alimentos gravídicos
Dentre os recursos que intentaram a condenação do genitor ao pagamento dos
alimentos gravídicos, percebe-se que muitos tiveram seu provimento negado pelos
julgadores sob a justificativa de que os indícios de paternidade eram insuficientes ou
restaram ausentes nos autos.
O Desembargador André Luiz Planella Villarinho atuou como relator em dois
recursos nos quais se verificam as hipóteses acima mencionadas. O primeiro deles,
(Agravo de Instrumento no 70046488540)59 teve seu provimento negado pois a
agravante, a qual teve seu pedido de alimentos gravídicos provisórios não concedido
em primeira instância, segundo o relator, não instruiu o processo com os
necessários indícios de paternidade, pois apenas comprovou sua gravidez.
Segundo Villarinho, apesar de se exigirem somente indícios acerca da paternidade,
necessário se faz que a recorrente produza elementos mínimos a fim de que se
possa conferir verossimilhança aos fatos alegados pela mesma, pois a gestante não
se desincumbe do ônus probatório nessa fase.
58
FREITAS, Douglas Philips. Alimentos Gravídicos: comentários à Lei 11.804/2008. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2011. P. 78.
59 RIO GRANDE DO SUL. TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Agravo de Instrumento Nº 70046488540.
Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: André Luiz Planella Villarinho, Julgado em 05/12/2011. Disponível em: <http://www1.tjrs.jus.br/busca/?tb=juris>. Acesso em: 29 abr. 2013.
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Em seu segundo julgado a ser analisado, o Agravo de Instrumento no
7003394639360, Villarinho deparou-se com a situação de serem insuficientes os
indícios juntados pela autora.
Semelhantemente à fundamentação utilizada no recurso anteriormente discutido, o
relator informa terem sido juntados pela agravante apenas o exame de gravidez,
uma foto do agravado e um cartão de Natal subscrito por “Negão”. No entanto,
segundo ele, tais indicativos seriam insuficientes para configurar os indícios de
paternidade exigidos pela Lei 11.804/2008, sendo que o ônus probatório recai sobre
a gestante, não bastando seu simples pedido de alimentos, pois desse modo caberia
ao genitor produzir prova negativa acerca da paternidade.
Nesse caso, verifica-se uma situação extremamente peculiar no que diz respeito à
produção probatória na Ação de Alimentos Gravídicos, pois a partir dos fatos
narrados no processo tem-se a impressão de que na foto acostada aos autos pela
autora está presente somente o agravado, e dessa forma, não criaria nenhuma
alusão sobre um possível relacionamento entre as partes.
Ademais, o cartão juntado, além de trazer apenas uma mensagem natalina, está
assinado por “Negão”, não permitindo sequer identificar se o mesmo fora realmente
escrito pelo agravado.
Ou seja, em outra situação, uma foto e um cartão poderiam configurar-se como
indícios suficientes para a imputação da condenação ao pagamento de alimentos.
Porém, no caso em tela, os mesmos se mostraram totalmente inconcludentes, não
possuindo o condão de trazer qualquer convencimento ao julgador acerca da
paternidade do nascituro.
Outro julgado interessante é o Agravo de Instrumento no 7005064670261, no qual o
Relator Rui Portanova62 dá provimento ao Agravo de Instrumento da gestante a fim
60
RIO GRANDE DO SUL. TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Agravo de Instrumento Nº 70033946393. Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: André Luiz Planella Villarinho, Julgado em 20/12/2009. Disponível em: <http://www1.tjrs.jus.br/busca/?tb=juris>. Acesso em: 29 abr. 2013.
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de fixar os alimentos gravídicos provisórios, mesmo admitindo ser a prova frágil por
haver somente a declaração da mãe apontando a paternidade.
De modo diverso votaram Alzir Felippe Schmitz e Ricardo Moreira Lins Pastl. O
primeiro vem divergir do relator, pois, segundo ele, restou ausente a demonstração
de verossimilhança das alegações da autora, e que o artigo 6º da Lei 11.804/2008
não afasta da mesma o ônus de demonstrar os fatos alegados com um mínimo de
provas.
Ricardo Moreira, de igual forma, diverge do relator afirmando não existirem dados
para justificar a concessão dos alimentos gravídicos, e que sem um mínimo de
indícios apontando a possibilidade de o agravado ser o genitor do nascituro, inviável
obrigá-lo a prestar tais alimentos, pois devido ao fato de serem irrepetíveis, seu
deferimento seria temerário. Neste julgamento, portanto, por maioria de votos
negou-se provimento ao Agravo de Instrumento.
Vale destacar que Rui Portanova, um dos desembargadores que mais prontamente
dá provimento aos recursos pleiteando a fixação dos alimentos gravídicos, também
negou seguimento indeferindo alguns pedidos, como por exemplo, nos Agravos de
Instrumento no 7004615528963 e 7004575536064, sob a justificativa de que a
ausência de requisitos mínimos comprovando o relacionamento impediam a fixação
da verba alimentícia.
O raciocínio nesse caso é o mesmo feito nas decisões que concedem alimentos
gravídicos com poucos indícios ou provas da paternidade, no sentido de que
incumbe à parte autora demostrar os fatos alegados sob pena de indeferimento de
61
RIO GRANDE DO SUL. TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Agravo de Instrumento Nº 70050646702. Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Rui Portanova, Julgado em 18/10/2012. Disponível em: <http://www1.tjrs.jus.br/busca/?tb=juris>. Acesso em: 29 abr. 2013.
62 No entanto, quando se pesquisa por esse número do processo no site do Tribunal de Justiça do
Rio Grande do Sul, consta como relator em sua ementa o desembargador Alzir Felipe Schmitz, sendo que somente abrindo-se o documento percebe-se que realmente Rui Portanova é o relator.
63 RIO GRANDE DO SUL. TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Agravo de Instrumento Nº 70046155289.
Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Rui Portanova, Julgado em 17/11/2011. Disponível em: <http://www1.tjrs.jus.br/busca/?tb=juris>. Acesso em: 30 abr. 2013.
64 RIO GRANDE DO SUL. TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Agravo de Instrumento Nº 70045755360.
Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Rui Portanova, Julgado em 28/10/2011. Disponível em: <http://www1.tjrs.jus.br/busca/?tb=juris>. Acesso em: 30 abr. 2013.
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seu pedido de alimentos, conforme regra contida no artigo 333 do Código de
Processo Civil, o qual distribui o ônus da prova. Estão, portanto, corretas as
decisões de indeferimento dos pleitos nessas hipóteses.
Todavia, além das decisões que negaram os alimentos gravídicos por inexistirem ou
serem escassos os indícios de paternidade, é possível identificar grande número de
julgados que não fixaram os alimentos pleiteados mesmo nos casos em que tais
elementos probatórios se faziam presentes, cabendo, portanto, analisar alguns deles
a seguir.
Inicialmente, cabe citar o Agravo de Instrumento no 7004527615165 do Relator
Sérgio Fernando Vasconcellos Chaves, onde a gestante traz declarações de
pessoas que conheciam o relacionamento, inclusive do médico que realizou sua
primeira ecografia, tendo sido esta acompanhada pelo recorrido.
De modo semelhante, o Agravo de Instrumento no 7004709637566, com relatoria de
Roberto Carvalho Fraga, contava com três declarações de terceiros de boa fé que
conheciam do enlace afetivo entre as partes. O julgador, porém, entendeu que não
haviam indícios suficientes conforme dispõe o artigo 6o da Lei 11.804/2008, sendo
as declarações insuficientes, necessitando-se de provas que indicassem união
estável. Ressalta-se que ambos os julgados negaram provimento ao pedido de
alimentos gravídicos.
Outro recurso instruído somente com declarações de terceiros foi o Agravo de
Instrumento no 70035412253,67 do Relator José Conrado Kurtz de Souza. Nesse
caso, a gestante agravou da decisão que indeferiu liminar de alimentos gravídicos,
65
RIO GRANDE DO SUL. TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Agravo de Instrumento Nº 70045276151. Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves, Julgado em 30/09/2011. Disponível em: <http://www1.tjrs.jus.br/busca/?tb=juris>. Acesso em: 01 maio 2013.
66 RIO GRANDE DO SUL. TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Agravo de Instrumento Nº 70047096375.
Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Roberto Carvalho Fraga, Julgado em 28/03/2012. Disponível em: <http://www1.tjrs.jus.br/busca/?tb=juris>. Acesso em: 01 maio 2013.
67 RIO GRANDE DO SUL. TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Agravo de Instrumento Nº 70035412253.
Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: José Conrado Kurtz de Souza, Julgado em 07/07/2010. Disponível em: <http://www1.tjrs.jus.br/busca/?tb=juris>. Acesso em: 04 maio 2013.
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alegando que viveu em união estável com o recorrido por dois anos, trazendo
declarações de terceiros para corroborar suas afirmações.
O Relator, contudo, entendeu que o fato de as partes terem mantido relacionamento
não era suficiente para se presumir que daí tenha resultado a gravidez. Afirmou
ainda que as provas trazidas aos autos não eram suficientes para fixar os alimentos
gravídicos provisórios, pois juntada somente demonstração da gravidez e as
declarações dos terceiros informando que as partes viviam em união estável durante
a concepção e nos primeiros quatro meses de gestação.
O eminente julgador explica que a prova ora mencionada não é suficiente para
apontar a paternidade, devendo ser o relacionamento efetivamente demonstrado por
documentos, tais como correspondências em endereço comum, fotografias, contas
conjuntas, dentre outras. Negou-se, portanto, provimento ao recurso.
Embora tal entendimento esteja completamente avesso à regra enunciada pelo
artigo 6o da Lei 11.804/2008, o qual exige a comprovação de meros indícios de
paternidade, e conforme entendimento doutrinário68 que traz as declarações como
indícios perfeitamente válidos, alguns desembargadores adotam posicionamentos
ainda mais rigorosos quando se trata da concessão dos alimentos gravídicos,
deixando de validar inclusive os indícios apontados acima por José Conrado Kurtz
de Souza69 como sendo conclusivos e indispensáveis para a imputação da
paternidade.
68
“São elementos de prova documentos que evidenciem a convivência, como fotos, endereços comuns, aquisições, e-mails, pagamentos de despesas, declarações de pessoas sobre a relação de convívio ou namoro [...].” RIZZARDO, Arnaldo. Direito de Família: Lei nº 10.406, de 10.01.2002. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2009. P. 776. Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald, do mesmo modo, trazem como indícios de paternidade “[...] a colheita de testemunhas ou a juntada de documentos (fotografias, filmes, cartas ou bilhetes de amor, mensagens cibernéticas etc.) [...]” FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Direito das Famílias. 3. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011. P. 799.
69 RIO GRANDE DO SUL. TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Agravo de Instrumento Nº 70035412253.
Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: José Conrado Kurtz de Souza, Julgado em 07/07/2010. Disponível em: <http://www1.tjrs.jus.br/busca/?tb=juris>. Acesso em: 04 maio 2013.
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A decisão de Roberto Carvalho Fraga é exemplo disso, quando no julgamento do
Agravo de Instrumento no 7004565352470 afirma que as fotografias juntadas pela
gestante, apesar de demonstrarem a existência de um relacionamento amoroso
entre as partes, não são indícios suficientes para ensejar a fixação dos alimentos
gravídicos.
No entanto, Liselena Schifino Robles Ribeiro destaca-se por negar provimento a
todos os recursos que pleiteavam a fixação de tais alimentos, apesar de que muitos
deles encontravam-se instruídos com indícios ou até mesmo provas robustas
apontando a paternidade.
O Agravo de Instrumento no 7005047344671, no qual a agravante juntou fotografias
e declaração de união estável; o Agravo de Instrumento no 7005387904572, instruído
com duas testemunhas que sabiam do relacionamento e mensagens públicas em
redes sociais e, por fim, o Agravo de Instrumento no 7005320389973, onde foram
juntadas declarações que comprovaram ter o casal vivido em união estável, fotos e
conta conjunta no banco, são apenas alguns exemplos dos recursos que tiveram
seu provimento negado pela relatora supramencionada, sob a justificativa de serem
insuficientes os indícios juntados, não sendo certa a paternidade.
Verifica-se que dentre os desembargadores do Tribunal de Justiça do Rio Grande do
Sul paira grande disparidade de entendimentos a respeito do que são os indícios de
paternidade, conforme exigido pela Lei 11.804/2008 para a concessão dos alimentos
gravídicos.
70
RIO GRANDE DO SUL. TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Agravo de Instrumento Nº 70045653524. Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Roberto Carvalho Fraga, Julgado em 14/12/2011. Disponível em: <http://www1.tjrs.jus.br/busca/?tb=juris>. Acesso em: 04 maio 2013.
71 RIO GRANDE DO SUL. TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Agravo de Instrumento Nº 70050473446.
Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Liselena Schifino Robles Ribeiro, Julgado em 14/08/2012. Disponível em: <http://www1.tjrs.jus.br/busca/?tb=juris>. Acesso em: 04 maio 2013.
72 RIO GRANDE DO SUL. TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Agravo de Instrumento Nº 70053879045.
Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Liselena Schifino Robles Ribeiro, Julgado em 01/04/2013. Disponível em: <http://www1.tjrs.jus.br/busca/?tb=juris>. Acesso em: 04 maio 2013.
73 RIO GRANDE DO SUL. TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Agravo de Instrumento Nº 70053203899.
Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Liselena Schifino Robles Ribeiro, Julgado em 27/02/2013. Disponível em: <http://www1.tjrs.jus.br/busca/?tb=juris>. Acesso em: 04 maio 2013.
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Por essa razão, cabe destacar o entendimento da doutrina a respeito do tema,
valendo ressaltar inicialmente a lição de Moacyr Amaral Santos, que busca
esclarecer a significação dos indícios afirmando que
O fato conhecido, como causa ou efeito de outro, está a indicar este outro. Dada a existência daquele fato, certo é que outro existiu, ou existe, provavelmente o fato desconhecido que se pretende conhecer e provar. O botão de um casaco, encontrado junto ao cofre arrombado, caiu da roupa de alguém, muito provavelmente do casaco do arrombador. O fato conhecido, no caso aquele botão, indica outro: diz-se que é indício de outro, que se pretende provar. [...] Assim, indício, sob o aspecto jurídico, consiste no fato conhecido que, por via de raciocínio, sugere o fato probando, do qual é causa ou efeito.
74
Luiz Rodrigues Wambier e Eduardo Talamini, em sentido semelhante, também
conceituam indícios como "o nome que se dá ao fato que já está provado e que,
embora não sendo diretamente relevante para a causa, permite a formação de
convencimento a respeito de um fato diretamente relevante."75
Vale ressaltar que, segundo a obra Vocabulário Jurídico Conciso, indício significa
[...] o fato ou a série de fatos, pelos quais se pode chegar ao conhecimento de outros, em que se funda o esclarecimento da verdade ou do que se deseja saber. [...] Os indícios dizem-se provas indiretas, porque não vêm por si mesmos, mas como provas circunstanciais, conciliáveis ou conexas, para evidenciarem o fato que se quer demonstrar e por eles se demonstram.
76
As provas, por sua vez, são caracterizadas como
[...] a denominação, que se faz, pelos meios legais, da existência ou veracidade de um fato material ou de um ato jurídico, em virtude da qual se conclui por sua existência do fato ou do ato demonstrado. A prova consiste, pois, na demonstração de existência ou da veracidade daquilo que se alega como fundamento do direito que se defende ou se contesta. [...] E, assim sendo, juridicamente compreendida, a prova é a própria convicção acerca da existência dos fatos alegados, nos quais se fundam os próprios direitos, objetos da discussão ou do litígio.
77
Em outras palavras, enquanto as provas denotam a ideia de certeza a respeito de
um fato que se quer demonstrar, os indícios representam tão somente uma
probabilidade a respeito da existência do mesmo.
74
SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil. 26. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. P. 537.
75 WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil: Teoria
Geral do Processo e Processo de Conhecimento. 11. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. P. 487.
76 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico Conciso. 2. ed. Rio de janeiro: Forense, 2010. P. 430.
77 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico Conciso. 2. ed. Rio de janeiro: Forense, 2010. P. 620.
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Deste modo, conforme verificado nas decisões acima, diante da falta da
apresentação de provas robustas pela genitora, os outros meios utilizados na
tentativa de comprovar a alegada paternidade ficam cercados de dúvidas, pois, ao
contrário daquelas, não são conclusivos. Por essa razão, a lei intencionalmente
permite que os alimentos gravídicos sejam concedidos mediante a existência de
meros indícios, bastando haver verossimilhança entre os fatos alegados e os
documentos ou testemunhas apresentadas pelas partes.78
Ademais, verifica-se que a presunção de boa-fé das arguições realizadas na exordial
adquire papel decisivo no momento decisório, pois conforme adverte Douglas Philips
Freitas,
Não há como esperar, considerando o atual sistema dos Alimentos Gravídicos, em um conjunto probatório de maior complexidade. Salvo as presunções de paternidade
79 que basicamente dispensam qualquer outra
prova, deve a parte autora trazer alguma prova de seu relacionamento, mas deve, também, o magistrado, entender que prova de relacionamentos afetivos, principalmente os mais efêmeros é de difícil produção, e sua não apresentação por si só não pode ser motivo de negativa da tutela.
80
Faz-se relevante frisar que, ao se deparar com provas frágeis, e tendo de escolher
entre a vida do nascituro e o possível prejuízo patrimonial do indigitado pai, deve o
julgador optar sempre pelo primeiro, pois, num estado democrático de direito, o
cuidado à vida deve prevalecer sobre demais valores. Nesse sentido, cabe citar as
palavras de Cândido Dinamarco, o qual muito bem elucida essa questão:
Assim, é dever do juiz afastar posicionamentos, muitas vezes comodistas, que facilitem formalmente o ato de julgar, mas possam torná-lo injusto. Exacerbar o ônus da prova e considerar inexistente um fato apesar da razoável probabilidade que resultou da prova constitui uma dessas atitudes
78
FREITAS, Douglas Philips. Alimentos Gravídicos: comentários à Lei 11.804/2008. 3. Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2011. P. 77.
79 Art. 1.597 do Código Civil. “Presumem-se concebidos na constância do casamento os filhos: I –
nascidos cento e oitenta dias, pelo menos, depois de estabelecida a convivência conjugal; II – nascidos nos trezentos dias subsequentes à dissolução da sociedade conjugal, por morte, separação judicial, nulidades e anulação do casamento. [...]”BRASIL. CASA CIVIL. Presidência da República. Código Civil de 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/2002/L104 06.htm>. Acesso em: 03 set. 2012.
80 FREITAS, Douglas Philips. Alimentos Gravídicos: comentários à Lei 11.804/2008. 3. Ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2011. P. 77-78.
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distorcidas e apoiadas no falso pressuposto de que o processo busca a verdade objetiva e o estado subjetivo de certeza absoluta.
81
Considerações finais
Inicialmente, se faz necessário asseverar que com o presente estudo foi possível
identificar decisões sobre os alimentos gravídicos expressivamente distintas desde
os órgãos de primeira instância, já que dentre o total de 125 julgados analisados
acerca do tema, cerca de 60 foram recursos interpostos por gestantes que tiveram
seu pedido de alimentos gravídicos negados em primeiro grau, seja liminarmente ou
já por meio de sentença.
Todavia, somente cerca de 33 recursos foram interpostos por supostos genitores
que, condenados em primeira instância, recorreram pleiteando a redução ou a
extinção da condenação ao pagamento dos alimentos.
Esses dados de primeiro grau somados à análise do conteúdo dos recursos sobre a
matéria em debate constantes no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul
conduzem à verificação de que a Lei dos Alimentos Gravídicos não está alcançando
sua plena efetividade, pois muitos julgadores estão realizando uma interpretação do
referido diploma legal carregada de rigorismos, dificultando, portanto, sua aplicação
ao caso concreto.
No entanto, é necessário compreender que a Ação de Alimentos Gravídicos, em
regra deixará o julgador com alguma dúvida acerca da veracidade das alegações da
parturiente. Porém, é natural que seja desta forma, tendo em vista tratar-se de
instituto diferenciado que visa conferir especial proteção à gestante e ao nascituro e
que, como explanado no presente estudo, não é plausível exigir-se da mulher
grávida provas inequívocas acerca da paternidade, tendo em vista que o único
instrumento probatório capaz de produzir maior grau de certeza acerca da
81
DINAMARCO, Cândido Rangel. A instrumentalidade do processo. 12. ed. São Paulo: Malheiros, 2005. P. 363.
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paternidade, qual seja, o exame de DNA, é desaconselhável neste período por
trazer grande comprometimento à gestação.
Por essa razão, deve o julgador imbuir-se do espírito protetivo trazido pela lei, e
conscientizar-se que para a concessão de tal pleito bastam indícios de paternidade,
constatando que os mesmos se caracterizam por fotos, e-mails, declarações de
terceiros que tomaram conhecimento da relação amorosa, bilhetes, cartas, e não
necessariamente demonstração de união estável ou demais provas robustas como
exigido por alguns julgadores.
Para que a lei atinja sua plena efetividade, se faz necessário que os
desembargadores compreendam que o julgamento de uma Ação de Alimentos
Gravídicos capaz de lhes proporcionar um elevado grau de certeza acerca da
paternidade será algo incomum, exatamente por ser uma exceção à regra, tendo em
vista a dificuldade enfrentada pela gestante no tocante à comprovação da
paternidade no nascituro, sobretudo em se tratando de relacionamentos efêmeros,
corroborada pelo disposto pelo art. 6º da Lei 11.804/2008, que intencionalmente veio
exigir tão somente a produção de indícios de paternidade, que sabidamente são
inconclusivos conforme demonstrado no presente estudo.
A partir das análises realizadas nesse trabalho, permitiu-se verificar grande
disparidade entre as decisões provenientes do Tribunal de Justiça do Rio Grande do
Sul que julgaram causas concernentes aos alimentos gravídicos.
Enquanto alguns desembargadores concedem tal pleito com a presença de indícios
extremamente frágeis ou até mesmo inexistentes, e em alguns casos somente
levando-se em consideração as alegações da gestante, ferindo, portanto, importante
regra processual referente ao ônus probatório, outros julgadores fazem uma
interpretação demasiadamente rigorosa da Lei 11.804/2008.
Nesses casos, os desembargadores erroneamente deixam de observar o texto legal,
ignorando regra especial trazida pela Lei dos Alimentos Gravídicos, que exige tão
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somente a comprovação dos indícios de paternidade, tornando suas decisões
verdadeiros óbices à implementação de direitos fundamentais.
Cabe destacar que, ao se criar uma norma jurídica, espera-se que ela possua a
força necessária para atuar e modificar o mundo dos fatos, gerando os resultados
almejados, a fim de que se possa atingir sua satisfatória efetividade na medida em
que atende os fins sociais para a qual se destina, pois o verdadeiro direito é aquele
que "não é apenas declarado, mas reconhecido, é vivido pela sociedade, como algo
que se incorpora e se integra na sua maneira de conduzir-se. A regra de direito
deve, por conseguinte, ser formalmente válida e socialmente eficaz.” 82
Diante do exposto, se faz necessário frisar que uma mudança na compreensão de
tais julgadores, ao atentarem para os aspectos até então esposados, além de trazer
maior efetividade à Lei dos Alimentos Gravídicos, acarretará, consequentemente,
numa maior valorização do direito à vida e da dignidade da pessoa humana, bens
estes assegurados pelos artigos 1º e 5º da Constituição Federal, merecendo,
portanto, peculiar proteção do Estado.
No caso em tela, tais direitos são implementados nas situações em que, restando o
julgador com alguma dúvida no momento decisório, opte pelo deferimento dos
alimentos em detrimento de um possível prejuízo patrimonial em face do suposto
genitor, que ademais, será provisório. Efetiva-se, desse modo, o direito das
gestantes a uma gravidez segura e saudável, e, por conseguinte, proporciona-se ao
nascituro um nascimento sadio e, sobretudo, com vida, bem este que deve sempre
prevalecer sobre os demais em um Estado Democrático de Direito.
Referências
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Disponível em: <http://www.ibdfam.org.br/novosite/artigos/detalhe/464>. Acesso em:
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82
REALE, Miguel. Lições Preliminares de Direito. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2002. P. 113.
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