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Page 1: A EFETIVAÇÃO DO DIREITO FUNDAMENTAL À CULTURA COMO … · (des)construção da cultura punitiva que está impregnada em nossa sociedade, e que têm gerado impactos na própria

Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas de Cascavel Av. Tito Muffato, 2317 – Bairro Santa Cruz

85806-080 – Cascavel – PR Fone: (45) 3036-3653 - Fax: (45) 3036-3638

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A EFETIVAÇÃO DO DIREITO FUNDAMENTAL À CULTURA COMO CAMINHO

PARA A (DES) CONSTRUÇÃO DA (I) LÓGICA PUNITIVA

Patrícia Cordeiro da Silva1, Priscila Rosa Lima Schulz, Cátia Rejane Liczbinski

Sarreta3.

Escrito para apresentação na XII JORNADA CIENTÍFICA DA UNIVEL “Educação, tecnologia e pós-modernidade”

28 e 29 de outubro de 2014 – UNIVEL – CPE – Cascavel-PR ISBN 978-85-98534-11-4

RESUMO: A cultura punitiva apresenta-se como o néctar dos deuses, a solução

entre as soluções, sinônimo de segurança e tranquilidade, mas é carente de sentido

e mentirosa. Neste viés o trabalho pretende analisar a carência de sentido da pena

privativa de liberdade, e a quem ela interessa. E de que forma a contemplação do

Direito fundamental à cultura pode colaborar na busca de outras maneiras de

responsabilização, para quem realiza condutas definidas como crimes. A

aproximação com a arte, teatro, poesia, literatura é ponto essencial para a

(des)construção da cultura punitiva que está impregnada em nossa sociedade, e que

têm gerado impactos na própria construção da violência. Bem como, o

fortalecimento da indústria do medo, que se abastece da dor humana. Noutras

palavras: abolir o castigo da alma é o primeiro passo, para a destruição dos dogmas

impostos. Foucault (2002), em sua obra: A verdade e as formas jurídicas, adverte

que a própria edificação do conhecimento/linguagem é o resultado do jogo das

relações de poder - que por óbvio possui objetivos, bem diferentes dos declarados,

cabe questionar a quem interessa a falácia da punição. Trata-se dum conhecimento

1 Acadêmica do Curso de Curso de Direito e Comunicação Social - Jornalismo da UNIVEL. Integrante

do Projeto de Pesquisa vinculado ao CNPq: O Direito Humano Fundamental a Cultura, sua diversidade e efetivação, vinculado ao CNPQ.– Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas de Cascavel. 2 Acadêmica do Curso de Pós Graduação em Direito Civil e Processual Civil. Integrante do Projeto de

Pesquisa vinculado ao CNPq: O Direito Humano Fundamental a Cultura, sua diversidade e efetivação, vinculado ao CNPQ.– Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas de Cascavel.

3 ORIENTADORA: Doutora em Direito pela UNISINOS; Professora do Curso de Direito na Faculdade

de Ciências Sociais Aplicadas de Cascavel; Coordenadora do Projeto de Pesquisa vinculado ao CNPq: O Direito Humano Fundamental a Cultura, sua diversidade e efetivação.

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forjado. Esse modelo de “pensar/conhecer”, legitima ainda mais um sistema que foi

criado para qualquer coisa, menos para causar o bem comum. Que não pretende

(re)discutir o direito, mas sim legitimá-lo ainda mais. Essa (ir)racionalidade está tão

intrínseca que não raro o indivíduo reproduz um discurso que se quer compreende

ou concorda. A metodologia utilizada será a dialética, bibliográfica, com pesquisas

em livros, artigos e palestras online.É comum pessoas que defendem causas

humanitárias, considerarem a privação de liberdade a forma comum e normal de

responsabilizar alguém, quer socializar (des)socializando, integrar desintegrando, ou

seja, em meio a contradições alcançar a lógica perfeita. Essa (i)lógica punitivista,

cria uma barreira entre nós e o outro, que agora desumanizado, despersonalizado

pode sofrer qualquer castigo que não gerará comoção, pois não nos enxergamos em

quem está preso, mas sim nos bons, ditos seguidores da lei. Cabe ressaltar que se o

sistema fosse integralmente cumprido, ninguém estaria do lado de fora. Neste

sentido Guilherme Moreira Pires (2013), explica que esse Direito Penal simbólico,

visa mascarar a falta de investimento num processo cultural e educacional eficiente,

disfarçando a falta de políticas públicas. E explica que a crença na punição, oculta

que para a sociedade capitalista a existência de alguns é desnecessária, além de

que o encarceramento movimenta dinheiro, ensanguentado, mas dinheiro. Bakunin

(2002), na obra "Deus e o Estado", publicada em 1882, diz para esquecer os códigos

criminais e apostar na força do espírito coletivo e no respeito mútuo para superação

de conflitos. A abolição do código criminal deve começar na alma, enquanto os olhos

tiverem grades, seguiremos encarcerando o mundo. Warat (2001), aponta que o

caminho é a desconstrução do imposto, afirmando que fomos persuadidos,

roubados e adestrados e ressalta que não se trata de fornecer chaves, pois o que se

pede é a própria porta, que deve ser construída com a desconstrução do aprendido

de forma autoritária, deixando o espaço vazio para que floresça a criatividade. Ou

seja, criados numa sociedade punitivista que nos adestrou para pensar na (i)lógica

da punição, temos um pequeno carrasco no fundo de nossas almas. O primeiro a

ser abolido/contido, para que haja enfim, uma porta. Logo, a aproximação com a

cultura, através da poesia, teatro, música, pintura e literatura, em que a missão seja

nos devolver a nós mesmos, é um dos caminhos. Um ensino pautado no

surrealismo, onde o professor não ensinará, mas ajudará a compreender/aprender,

será a porta que possibilitará o acesso à sensibilidade perdida, excluindo a ótica

cruel que o divide o mundo entre em vencedores e vencidos. Quebrará a barreira

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que divide "eu" e o "outro", para começarmos a perceber que "eu" sou o "outro", e o

"outro" sou "eu". Cabe ao Estado possibilitar o acesso à cultura, através de políticas

públicas que visem essa aproximação, que depois de 26 anos da promulgação da

Constituição Brasileira ainda não foi realizada.

PALAVRAS-CHAVE: Cultura, punição, violência.

REFERÊNCIAS

BAKUNIN, Mikhail Alexandrovich. Deus e o Estado. Tradução: Plínio Augusto Coelho. Ano de publicação original 1882. Ano de digitalização: 2002. Editora: Hedra. 87p.

FOUCAULT, Michel. A verdade e as formas jurídicas. Tradução: Roberto Cabral de Melo Machado e Eduardo Jardim Morais, supervisão final do texto Léa Porto de Abreu Novaes... et AL. J. – Rio de Janeiro: NAU Editora, 2002. 160p.

PIRES, Guilherme Moreira, Desconstrutivismo Penal: uma análise crítica da expansão punitiva e dos mutantes rumos do Direito Penal. Vitória-ES, Aquarius, 2013.128p.

WARAT, Luis Alberto. O ofício do mediador. – Florianópolis: Habitus, 2001. 279p.