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A EFETIVAÇÃO DO DIREITO FUNDAMENTAL À CULTURA COMO CAMINHO
PARA A (DES) CONSTRUÇÃO DA (I) LÓGICA PUNITIVA
Patrícia Cordeiro da Silva1, Priscila Rosa Lima Schulz, Cátia Rejane Liczbinski
Sarreta3.
Escrito para apresentação na XII JORNADA CIENTÍFICA DA UNIVEL “Educação, tecnologia e pós-modernidade”
28 e 29 de outubro de 2014 – UNIVEL – CPE – Cascavel-PR ISBN 978-85-98534-11-4
RESUMO: A cultura punitiva apresenta-se como o néctar dos deuses, a solução
entre as soluções, sinônimo de segurança e tranquilidade, mas é carente de sentido
e mentirosa. Neste viés o trabalho pretende analisar a carência de sentido da pena
privativa de liberdade, e a quem ela interessa. E de que forma a contemplação do
Direito fundamental à cultura pode colaborar na busca de outras maneiras de
responsabilização, para quem realiza condutas definidas como crimes. A
aproximação com a arte, teatro, poesia, literatura é ponto essencial para a
(des)construção da cultura punitiva que está impregnada em nossa sociedade, e que
têm gerado impactos na própria construção da violência. Bem como, o
fortalecimento da indústria do medo, que se abastece da dor humana. Noutras
palavras: abolir o castigo da alma é o primeiro passo, para a destruição dos dogmas
impostos. Foucault (2002), em sua obra: A verdade e as formas jurídicas, adverte
que a própria edificação do conhecimento/linguagem é o resultado do jogo das
relações de poder - que por óbvio possui objetivos, bem diferentes dos declarados,
cabe questionar a quem interessa a falácia da punição. Trata-se dum conhecimento
1 Acadêmica do Curso de Curso de Direito e Comunicação Social - Jornalismo da UNIVEL. Integrante
do Projeto de Pesquisa vinculado ao CNPq: O Direito Humano Fundamental a Cultura, sua diversidade e efetivação, vinculado ao CNPQ.– Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas de Cascavel. 2 Acadêmica do Curso de Pós Graduação em Direito Civil e Processual Civil. Integrante do Projeto de
Pesquisa vinculado ao CNPq: O Direito Humano Fundamental a Cultura, sua diversidade e efetivação, vinculado ao CNPQ.– Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas de Cascavel.
3 ORIENTADORA: Doutora em Direito pela UNISINOS; Professora do Curso de Direito na Faculdade
de Ciências Sociais Aplicadas de Cascavel; Coordenadora do Projeto de Pesquisa vinculado ao CNPq: O Direito Humano Fundamental a Cultura, sua diversidade e efetivação.
forjado. Esse modelo de “pensar/conhecer”, legitima ainda mais um sistema que foi
criado para qualquer coisa, menos para causar o bem comum. Que não pretende
(re)discutir o direito, mas sim legitimá-lo ainda mais. Essa (ir)racionalidade está tão
intrínseca que não raro o indivíduo reproduz um discurso que se quer compreende
ou concorda. A metodologia utilizada será a dialética, bibliográfica, com pesquisas
em livros, artigos e palestras online.É comum pessoas que defendem causas
humanitárias, considerarem a privação de liberdade a forma comum e normal de
responsabilizar alguém, quer socializar (des)socializando, integrar desintegrando, ou
seja, em meio a contradições alcançar a lógica perfeita. Essa (i)lógica punitivista,
cria uma barreira entre nós e o outro, que agora desumanizado, despersonalizado
pode sofrer qualquer castigo que não gerará comoção, pois não nos enxergamos em
quem está preso, mas sim nos bons, ditos seguidores da lei. Cabe ressaltar que se o
sistema fosse integralmente cumprido, ninguém estaria do lado de fora. Neste
sentido Guilherme Moreira Pires (2013), explica que esse Direito Penal simbólico,
visa mascarar a falta de investimento num processo cultural e educacional eficiente,
disfarçando a falta de políticas públicas. E explica que a crença na punição, oculta
que para a sociedade capitalista a existência de alguns é desnecessária, além de
que o encarceramento movimenta dinheiro, ensanguentado, mas dinheiro. Bakunin
(2002), na obra "Deus e o Estado", publicada em 1882, diz para esquecer os códigos
criminais e apostar na força do espírito coletivo e no respeito mútuo para superação
de conflitos. A abolição do código criminal deve começar na alma, enquanto os olhos
tiverem grades, seguiremos encarcerando o mundo. Warat (2001), aponta que o
caminho é a desconstrução do imposto, afirmando que fomos persuadidos,
roubados e adestrados e ressalta que não se trata de fornecer chaves, pois o que se
pede é a própria porta, que deve ser construída com a desconstrução do aprendido
de forma autoritária, deixando o espaço vazio para que floresça a criatividade. Ou
seja, criados numa sociedade punitivista que nos adestrou para pensar na (i)lógica
da punição, temos um pequeno carrasco no fundo de nossas almas. O primeiro a
ser abolido/contido, para que haja enfim, uma porta. Logo, a aproximação com a
cultura, através da poesia, teatro, música, pintura e literatura, em que a missão seja
nos devolver a nós mesmos, é um dos caminhos. Um ensino pautado no
surrealismo, onde o professor não ensinará, mas ajudará a compreender/aprender,
será a porta que possibilitará o acesso à sensibilidade perdida, excluindo a ótica
cruel que o divide o mundo entre em vencedores e vencidos. Quebrará a barreira
que divide "eu" e o "outro", para começarmos a perceber que "eu" sou o "outro", e o
"outro" sou "eu". Cabe ao Estado possibilitar o acesso à cultura, através de políticas
públicas que visem essa aproximação, que depois de 26 anos da promulgação da
Constituição Brasileira ainda não foi realizada.
PALAVRAS-CHAVE: Cultura, punição, violência.
REFERÊNCIAS
BAKUNIN, Mikhail Alexandrovich. Deus e o Estado. Tradução: Plínio Augusto Coelho. Ano de publicação original 1882. Ano de digitalização: 2002. Editora: Hedra. 87p.
FOUCAULT, Michel. A verdade e as formas jurídicas. Tradução: Roberto Cabral de Melo Machado e Eduardo Jardim Morais, supervisão final do texto Léa Porto de Abreu Novaes... et AL. J. – Rio de Janeiro: NAU Editora, 2002. 160p.
PIRES, Guilherme Moreira, Desconstrutivismo Penal: uma análise crítica da expansão punitiva e dos mutantes rumos do Direito Penal. Vitória-ES, Aquarius, 2013.128p.
WARAT, Luis Alberto. O ofício do mediador. – Florianópolis: Habitus, 2001. 279p.