a educaÇÃo em saÚde na prÁtica cotidiana: atuaÇÃo...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SÁUDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA ÁREA DE CONCENTRAÇÃO EM ODONTOLOGIA PREVENTIVA E SOCIAL A EDUCAÇÃO EM SAÚDE NA PRÁTICA COTIDIANA: ATUAÇÃO DOS CIRURGIÕES-DENTISTAS DO PSF DE NATAL-RN Maria Juliêta Medeiros Fernandes NATAL -RN 2007

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SÁUDE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO EM ODONTOLOGIA PREVENTIVA E SOCIAL

A EDUCAÇÃO EM SAÚDE NA PRÁTICA COTIDIANA:

ATUAÇÃO DOS CIRURGIÕES-DENTISTAS DO PSF DE

NATAL-RN

Maria Juliêta Medeiros Fernandes

NATAL -RN 2007

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MARIA JULIÊTA MEDEIROS FERNANDES

A EDUCAÇÃO EM SAÚDE NA PRÁTICA COTIDIANA: ATUAÇÃO DOS

CIRURGIÕES-DENTISTAS DO PSF DE NATAL-RN

Orientadora: Profª Dra. Iris do Céu Clara Costa

NATAL -RN

2007

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Odontologia da UFRN como requisito parcial para obtenção do grau de mestre em Odontologia, área de concentração em Odontologia Preventiva e Social.

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MARIA JULIÊTA MEDEIROS FERNANDES

A EDUCAÇÃO EM SAÚDE NA PRÁTICA COTIDIANA: ATUAÇÃO DOS

CIRURGIÕES-DENTISTAS DO PSF DE NATAL-RN

COMISSÃO EXAMINADORA:

PROFESSORA DRA. IRIS DO CÉU CLARA COSTA (ORIENTADORA)

PROFESSORA DRA. LIS CARDOSO MARINHO MEDEIROS (MEMBRO TITULAR – UFPI)

PROFESSOR DR. ANTÔNIO DE MEDEIROS JÚNIOR ( MEMBRO TITULAR – UFRN)

NATAL – RN

2007

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Dedico

A painho, Helder (in memorian), que não pôde esperar pela concretização do sonho, mas se faz presente em minha vida, todos os dias, com sua imagem de entusiasmo, incentivo e alegria.

A mainha, Socorro, minha fortaleza, pelo seu amor, exemplo de fé e por sua contribuição em todos os momentos.

A titia, Luzia Cecília, a grande incentivadora para que eu realizasse este mestrado, apoio constante ao longo da vida e em especial nestes últimos dois anos de batalha.

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AGRADECIMENTOS ESPECIAIS

À minha Orientadora, Professora Dra. Iris do Céu Clara Costa, pela permanente disponibilidade revelada ao longo destes dois anos, pelas críticas e sugestões relevantes feitas durante a orientação e pela confiança e amizade.

À minha tia, Luzia Cecília, pela disponibilidade e apoio, desde a execução do projeto de pesquisa, me permitindo trazer um manancial de informações que em muito contribuiu para a execução desta dissertação.

À amiga de mestrado, Gilmara Celli, por compartilhar comigo as angústias e alegrias nos momentos da coleta de dados.

Ao amigo de mestrado, Dyego Leandro, pela troca de informações e conhecimentos na análise dos dados.

Aos cirurgiões-dentistas do PSF de Natal-RN, pela disponibilidade para a realização das entrevistas, sem as quais não teria sido possível a realização desta pesquisa.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, por ser a grande luz a me guiar todos os dias.

À minha mãe, Socorro Medeiros, pelo estímulo e apoio incondicional desde a primeira hora;

pela paciência, grande amizade e sensatez com que sempre me ajudou.

Ao meu noivo, Damião Júnior, pelos sonhos tão almejados e já realizados e pelos que estão

por vir.

À Coordenação do Curso de Pós-Graduação em Odontologia, na pessoa do Professor

Angelo Giuseppe Roncalli.

À Professora Maria Ângela F. Fernandes, pelas considerações realizadas a este trabalho

em metodologia da pesquisa, nos seminários de pesquisa e na qualificação.

Ao professor Antônio Medeiros Júnior, pela disponibilidade em contribuir na avaliação

deste trabalho durante o processo de qualificação e defesa.

A professora Lis Cardoso Marinho Medeiros, por ter aceitado o nosso convite para

participar da avaliação deste trabalho no momento da defesa e pelas contribuições

estabelecidas.

A todos os professores do Curso de Mestrado, pela competência, pelo nível de qualidade do

curso e por todo conhecimento propiciado. E em especial, ao professor Kênio Costa Lima,

pelo profissionalismo e dedicação.

Ao amigo de mestrado Ricardo Castro, pela sua amizade e bondade na indicação do meu

nome para o PSF de Santa Cruz, onde pude ter a experiência deste serviço de assistência à

saúde e entender melhor as dificuldades relatadas pelos cirurgiões-dentistas do PSF de

Natal.

A todos os amigos de turma do mestrado em Odontologia, das áreas de concentração

Odontologia Preventiva e Social e Periodontia, pela troca de conhecimento, experiências e

amizade ao longo dos dois anos de curso. Em especial a Allan Patrício, Bianca Torres e

Irlane Alves, pelo apoio em todos os momentos e companheirismo ao longo do mestrado.

Aos amigos de mestrado Candice Freitas e Lailson Lima, pelas noites de estudo durante a

realização deste mestrado.

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À secretária do Programa de pós-graduação em Odontologia, Sandra Abrantes, por estar

sempre presente nos momentos que precisávamos.

À Biblioteca Setorial do curso de Odontologia, em especial à bibliotecária Cecília Santos,

pelas relevantes contribuições ao longo do mestrado.

Á professora Maria do Pérpetuo Socorro de Menezes, pela ajuda inestimável na revisão

desta dissertação.

À cirurgiã-dentista Maíra Fanha, pela valorosa colaboração na tradução do resumo dessa

dissertação.

À grande amiga, Rejane Lima, pelo incentivo constante na realização deste mestrado e pela

amizade de longa data.

À grande amiga, Angélica Freitas, pelas ajudas na área de informática, elaboração da capa

e incentivo constante.

A Dr. Belmiro Nobre e “Tia” Cleomar Ramalho, pela grande amizade e disponibilidade

para que eu exercesse as atividades odontológicas entre os períodos vagos de aulas do

mestrado.

À Secretaria de Saúde do município de Santa Cruz, na pessoa do Sr. Jalmir Simões, pela

oportunidade que me concedeu de colocar em prática, atividades do PSF, na referida

cidade.

Aos amigos que sempre me incentivaram, em especial, Ane Cele Nóbrega, Marisa

Fernandes e Marina Fernandes.

Aos meus amigos de Santa Cruz, pelo convívio e apoio diário, ao longo destes últimos 7

meses, Régia Amaral, Thiago Raulino, Carolina Câmara, Maria Gracimani, Álvaro Freitas

e Régis Gadelha.

A minha família, pelo carinho e confiança no meu sucesso.

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“O homem não pode participar ativamente na história, na sociedade, na transformação da realidade se não for ajudado a tomar consciência da

realidade e da sua própria capacidade para a transformar. (...) Ninguém luta contra forças que não entende, cuja importância não meça, cujas formas e

contornos não discirna; (...) Isto é verdade se, se refere às forças da natureza (...) isto também é assim nas forças sociais.(...) A realidade não

pode ser modificada senão quando o homem descobre que é modificável e que ele o pode fazer”.

(Paulo Freire, 2000)

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RESUMO

A EDUCAÇÃO EM SAÚDE NA PRÁTICA COTIDIANA: ATUAÇÃO DOS

CIRURGIÕES-DENTISTAS DO PSF DE NATAL-RN

Considerando a educação como suporte para a promoção da saúde, integralidade da assistência e formação da cidadania, o objetivo desta pesquisa foi analisar a percepção dos cirurgiões-dentistas do Programa Saúde da Família (PSF) de Natal-RN sobre a educação em saúde, bem como a sua atuação como educador, a partir das atividades realizadas por eles no referido Programa. Foi realizado um estudo qualitativo, utilizando como instrumentos de coleta de dados uma entrevista semi-estruturada e um Teste de Associação Livre de Palavras com 80 cirurgiões-dentistas do PSF de Natal-RN, que foram analisados respectivamente através de análise de conteúdo e da Teoria do Núcleo Central de Vergès. Os resultados mostram que há uma falta de planejamento nas ações de saúde, de forma que não existe uma padronização das práticas educativas realizadas pelos cirurgiões-dentistas, que em sua maior parte, são voltadas para escolares. A partir das percepções dos entrevistados a respeito da temática educação em saúde, vimos que há um consenso entre o grupo, ligado a história coletiva do mesmo em relacionar educação como tendo a função de apenas repassar à população noções de prevenção. A maioria das unidades de contexto analisada, a partir do discurso dos profissionais, demonstra o entendimento da educação em saúde apenas como um instrumento de mudança de comportamento inadequado dos indivíduos. Um ponto interessante foi a citação por parte de alguns profissionais de temas atuais como: cidadania, motivação e qualidade de vida, dentro do discurso da educação em saúde. Para os entrevistados, as maiores dificuldades no desenvolvimento das ações educativas se deve a falta de incentivo por parte da Secretaria Municipal de Saúde e ao desinteresse e falta de valorização das atividades por parte da população. Os cirurgiões-dentistas se vêem como co-responsáveis pela formação de uma população capaz de reivindicar por sua saúde e relataram ter conhecimentos da necessidade da participação comunitária no planejamento das ações do PSF. Finalmente, percebe-se a necessidade de mais incentivos para que os cirurgiões-dentistas possam se capacitar e tenham interesse em utilizar a educação em saúde na perspectiva do novo paradigma em saúde, para uma vez capacitados e estimulados possam despertar na população a importância da educação como o grande instrumento de transformação das pessoas em busca de uma sociedade justa, igualitária e cidadã.

PALAVRAS-CHAVE: Programa saúde da família; Educação em saúde; Promoção da saúde.

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ABSTRACT

EDUCATION IN HEALTH ON THE DAILY PRACTICE: THE PERFORMANCE OF THEORAL SURGEONS FROM THE FAMILY HEALTH PROGRAM OF NATAL-RN

Considering education a support to health promotion, care integration and citizenship formation,the purpose of this research was to analyze the perception of the oral surgeons from the Family Health Program of Natal-RN over education in health as well as their performance as educators based on their activities on the program. A qualitative study was accomplished by a semi-structured interview and a Free Association of Words Test with 80 oral surgeons from the Family Health Program of Natal-RN. The instruments were analyzed through the meaning analysis and the Central Nucleus of Vergès Theory. The results showed a lack of planning in health actions so there is no standardization on the educative practices done by the oral surgeons which mostly are focused on scholars. There was an agreement among the group according to the oral surgeons´ perception about education in health that education is related to its function of recall prevention ideas to the population. Most part of the context units analyzed by the professionals´ speech show the knowledge of education in health as an inadequate behavior change instrument of the individuals. An interesting point was a quotation cited by some professionals that included actual themes such as citizenship, motivation and life quality, put inside the speech of education in health. To the oral surgeons the biggest difficulties on the development of the educative actions are due to the lack of incentive by the Municipal Health Bureau and to the detachment and lack of valorization of the themes by the population. The oral surgeons consider themselves co-responsible for the formation of a population which is able to request its health. They also mention the knowledge about the need of the community participation on the planning of the Family Health Program actions. Finally, it is notable the need for more encouragement so the oral surgeons can be more capable and have more interest in applying education in health on the perspective of a new model in health, because once capable and stimulated they can awake the population to education importance as a great transformation instrument for people searching for a fair, equalitarian and citizeness society.

KEYWORDS: Family Health Program; Health Education; Health Promotion.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Distribuição segundo a faixa etária dos cirurgiões-dentistas do PSF de Natal-RN. Natal/ RN, 2006.________________________ 51

Figura 2 Distribuição segundo o gênero dos cirurgiões-dentistas do PSF de Natal-RN. Natal/RN, 2006._______________________________ 51

Figura 3 Distribuição segundo o tempo de formados dos cirurgiões-dentistas do PSF de Natal- RN. Natal/RN, 2006.______________ 52

Figura 4 Distribuição segundo o tempo de atuação dos cirurgiões-dentistas no serviço público. Natal/RN, 2006.________________________ 52

Figura 5 Distribuição segundo o tempo de inserção dos cirurgiões-dentistas no PSF de Natal-RN. Natal/RN, 2006.______________________ 53

Figura 6 Distribuição segundo a formação profissional dos cirurgiões-dentistas do PSF de Natal-RN na área de educação em saúde. Natal/RN, 2006.________________________________________ 59

Figura 7 Identificação dos possíveis elementos do núcleo central sobre educação em saúde por cirurgiões-dentistas atuantes no PSF de Natal/RN. Natal/RN, 2006._______________________________ 60

Figura 8 Categorização e subcategorização dos objetivos das atividades educativas ,segundo a visão dos cirurgiões-dentistas do PSF de Natal/RN. Natal/RN, 2006._______________________________ 63

Figura 9 Apoios institucionais que os cirurgiões-dentistas dispuseram para o desenvolvimento de atividades educativas. Natal/RN, 2006.___ 73

Figura 10 Categorização e subcategorização das dificuldades apresentadas pelos cirurgiões-dentistas do PSF de Natal/RN para desenvolverem atividades educativas. Natal/RN, 2006._________ 74

Figura 11 Categorização e subcategorização dos objetivos das atividades educativas que estão sendo alcançados, segundo os cirurgiões-dentistas do PSF de Natal/RN. Natal/RN, 2006._______________ 80

Figura 12 Categorização e subcategorização das razões pelas quais os cirurgiões-dentistas do PSF de Natal/RN percebem que os objetivos das atividades educativas não estão sendo alcançados. Natal/RN, 2006.________________________________________

82

Figura 13 Categorização e subcategorização da importância da participação da população nos serviços demonstrada pelos cirurgiões-dentistas do PSF de Natal/RN. Natal/RN,2006.______________________ 84

Figura 14 Categorização e subcategorização da forma que os cirurgiões-dentistas podem orientar a população para a participação popular no SUS. Natal/RN,2006._________________________________ 87

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Categorização e subcategorização dos temas que os cirurgiões-dentistas gostariam de ter em cursos introdutórios no PSF de Natal/RN. Natal/RN, 2006.____________________________ 55

Quadro 2 Categorização e subcategorização das atividades educativas realizadas pelos cirurgiões-dentistas do PSF de Natal/ RN. Natal/ RN, 2006.____________________________________________ 71

LISTA DE ABREVIATURAS

ATF- Aplicação Tópica de Flúor

CAPs – Caixas de Aposentadorias e Pensões

CD- Crescimento e Desenvolvimento

CEP- Comitê de Ética e Pesquisa

DNSP- Departamento Nacional de Saúde Pública

IAPs- Institutos de Aposentadorias e Pensões

INPS – Instituto Nacional de Previdência Social

OMS – Organização Mundial de Saúde

PSF – Programa Saúde da Família

RN- Rio Grande do Norte

SESP – Serviço Especial de Saúde Pública

SMS – Secretaria Municipal de Saúde

SUS – Sistema Único de Saúde

TALP – Teste de Associação Livre de Palavras

TCLE- Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte

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SUMÁRIO

RESUMO

ABSTRACT

LISTA DE FIGURAS

LISTA DE QUADROS

LISTA DE ABREVIATURAS

CAPÍTULO I ............................................................................................................................ 16 INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 16 O ESTADO DA ARTE ............................................................................................................. 18

1 As práticas de Educação em Saúde no contexto das Políticas Públicas de Saúde ................. 19 1.1 A Educação em Saúde nos Séculos XVIII, XIX e início do século XX. ................................................ 19 1.2 As práticas de Educação em Saúde, no Brasil do século XX, a partir do entendimento do contexto das Políticas Públicas de Saúde. .......................................................................................................................... 22 1.3 Criação do Programa Saúde da Família no Brasil ................................................................................... 28 1.4 A inclusão do cirurgião-dentista no Programa Saúde da Família ............................................................ 30

2 Novas perspectivas no campo da Educação em Saúde ............................................................ 31 2.1 Educação em Saúde: a reflexão sobre as condições de vida levará a mudança da realidade .................. 31 2.2 A Educação em Saúde formando uma população participativa .............................................................. 36 2.3 Profissionais de saúde preparados para o novo perfil de práticas ........................................................... 38

PROPOSIÇÃO ......................................................................................................................... 40 CAPÍTULO II .......................................................................................................................... 42 O PERCURSO METODOLÓGICO ........................................................................................ 42

1 Natureza da pesquisa .................................................................................................................. 42

2 Considerações éticas .................................................................................................................... 43

3 Pré-teste ....................................................................................................................................... 43

4 O Cenário da pesquisa ............................................................................................................... 43 4.1 Campo de pesquisa ................................................................................................................................ 43 4.2 Atores Sociais .......................................................................................................................................... 44

5 Instrumentos para a coleta de informações .............................................................................. 44 5.1 Entrevista inicial para caracterização dos sujeitos ................................................................................... 45 5.2 O Teste de Associação Livre de Palavras (TALP) ................................................................................. 45 5.3 A entrevista semi-estruturada ................................................................................................................ 46

6 A análise dos dados .................................................................................................................... 46 6.1 A análise da entrevista inicial para caracterização dos cirurgiões-dentistas ........................................... 46 6.2 Análise do TALP ..................................................................................................................................... 46 6.3 Análise das Entrevistas ............................................................................................................................ 47

CAPÍTULO III ......................................................................................................................... 50 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................................. 50

1 Os sujeitos ................................................................................................................................... 51 1.1 Características sócio-demográficas dos cirurgiões-dentistas ................................................................... 51 1.2 Atividades realizadas no Programa Saúde da Família ............................................................................ 55 1.3 Temas que deveriam ser abordados em cursos introdutórios para os dentistas do PSF .......................... 55 1.4 Formação profissional no campo da educação em saúde ........................................................................ 60

2. Concepções com relação à educação em saúde ......................................................................... 61

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2.1 Percepções dos cirurgiões-dentistas a respeito da educação em saúde .................................................. 61 2.2 Os objetivos das atividades educativas no contexto do Programa Saúde da Família .............................. 63

3 A respeito do que foi posto em prática no campo da educação em saúde .............................. 71 3.1 Atividades educativas realizadas ............................................................................................................. 71 3.2 Apoios institucionais para a realização das ações educativas ................................................................. 74 3.3 Dificuldades encontradas no desenvolvimento de atividades educativas ............................................... 74 3.4 Objetivos alcançados e objetivos não alcançados .................................................................................. 80

4. A educação sendo instrumento para a participação popular .................................................. 85 4.1 A importância da participação popular nos serviços ............................................................................... 85 4.2 O cirurgião-dentista orientando a população através da educação para a participação popular ............. 88

CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................. 91 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................... 93 ANEXOS .................................................................................................................................. 99 ANEXO 1 ................................................................................................................................ 100 ANEXO 2 ................................................................................................................................ 105 ANEXO 3 ................................................................................................................................ 107

CONFIDENCIALIDADE DO ESTUDO .................................................................................................... 108 PERGUNTAS .............................................................................................................................................. 109 COMPROMISSO DO INVESTIGADOR ................................................................................................... 109

ANEXO 4 ................................................................................................................................ 110 ANEXO 5 ................................................................................................................................ 112

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CAPÍTULO I

“Nas condições de verdadeira aprendizagem os educandos vão se transformando em reais sujeitos da

construção e da reconstrução do saber ensinado, ao lado do educador, igualmente sujeito do processo”.

Freire, 2006.

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INTRODUÇÃO

O modelo tradicional de ciência e de assistência construído ao longo da história

já não responde às demandas da sociedade e, por esta razão, novos conceitos devem reorientar

as práticas de saúde. O PSF surgiu no início da década de 90, apresentando uma proposta que

tem novas bases e critérios conceituais, que rompem com a idéia da assistência limitada à cura

de doenças, para um novo modelo cuja atenção deverá ter como centro a família, entendida e

percebida a partir de seu ambiente físico e social.

Um dos desafios do PSF é transformar o modelo de atenção, estimulando a

promoção e prevenção, oferecendo atenção integral e fortalecendo a autonomia dos usuários

na promoção da sua saúde nos planos individual e coletivo.

O Programa Saúde da Família (PSF) visa a reestruturação da prática assistencial

em saúde, centrada no modelo hospitalocêntrico que tem como objetivo a cura individual,

herança da fragmentação do conhecimento e de determinantes sócio-políticos e econômicos

relacionados com o desenvolvimento das ciências e, em particular, das ciências médicas, na

sociedade capitalista.

Tomando como referência a Carta de Otawa67 podemos dizer que a promoção da

saúde é um processo que confere às populações os meios para melhorar sua saúde e exercer

um maior controle sobre a mesma. Para alcançar um estado adequado de bem estar físico,

mental e social um indivíduo/grupo deve ser capaz de identificar e realizar suas aspirações, de

satisfazer suas necessidades e de modificar ou adaptar-se ao meio ambiente67.

Dessa forma a educação em saúde, entendida como um processo capaz de

desenvolver nas pessoas a consciência crítica das causas reais dos seus problemas e, ao

mesmo tempo criar uma prontidão para atuar no sentido da mudança48, é uma ferramenta

indispensável para garantir a integralidade da assistência11 e conseqüentemente a promoção da

saúde, meta do PSF.

A educação em saúde para ser eficaz deverá ser crítica, reflexiva e capaz de levar

a independência do usuário, pois só assim ela será capaz de promover a saúde através da

formação da cidadania. Uma formação capaz de promover a cidadania deve romper velhos

paradigmas e ser problematizadora no sentido freiriano. Segundo as teorias de Paulo Freire, 1 conjunto articulado e contínuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso e em todos os níveis de complexidade do sistema

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uma educação realmente transformadora é aquela onde o educando tem a visão de sua

consciência ingênua e o educador o ajuda a transformá-la em uma consciência crítica, capaz

de reconhecer a realidade em que vive e de sua capacidade de agir como verdadeiro ator no

processo de mudança29.

O meu interesse pessoal por essa temática surgiu quando recém-graduada e

cursando a disciplina de Metodologia do Ensino Superior, dentro da grade curricular de uma

especialização em Endodontia, apropriei-me do pensamento de Paulo Freire, através de

leituras textuais e pude compreender que uma formação na área da saúde pautada no modelo

biomédico não atende mais as necessidades da população na sociedade atual. Assim, surgiu a

inquietação de conhecer a vivência dos cirurgiões-dentistas como educadores, o que redundou

nos seguintes questionamentos: Como os cirurgiões-dentistas do PSF realizam educação em

saúde? Até que ponto os cirurgiões-dentistas que atendem no PSF de Natal-RN estão

preparados para realizar educação em saúde como suporte para promoção da cidadania e

garantia da integralidade da assistência?

Para responder a essas perguntas, surgiu esta pesquisa, cuja estruturação foi

delineada da seguinte forma: O capítulo I é composto de Introdução, Estado da Arte e

Proposição. A Introdução nos dá uma fotografia do que foi a pesquisa, por sua vez, o Estado

da Arte nos permitiu conhecer a partir da literatura, a estrutura do conhecimento organizado

sobre o assunto, percorrendo um trajeto das políticas públicas e das práticas de educação em

saúde, até as novas perspectivas no campo da educação em saúde. O Percurso Metodológico

incluindo fases que vão da natureza da pesquisa à análise dos dados, compõe o capítulo II. No

seguimento, o capítulo III é composto pela apresentação dos resultados e a conseqüente

discussão dos mesmos, confrontando os trabalhos convergentes e/ou divergentes aos nossos

achados.

Por fim, “as Considerações Finais” foram assim denominadas por entendermos

que em educação nada é concluso, ou seja, como processo, cada análise encerra uma leitura

momentânea de uma situação que poderá ser modificada a curto, médio e longo prazo.

Não poderia ser diferente com esse nosso trabalho. Ele levantou dados que

esperamos, possam servir de suporte para o planejamento e avaliação de ações de um

programa que veio com o propósito de reorientar as práticas de saúde, as quais deverão neste

novo modelo estar pautadas na promoção da saúde, na integralidade e no controle social.

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O ESTADO DA ARTE

A educação em saúde é um processo situado em dois campos: o da saúde e o da

educação. Por sua vez, os profissionais da saúde que atuam com esta proposta, deverão estar

atentos às diferentes posições políticas, filosóficas e pedagógicas que regem o homem e a

sociedade, para poderem atuar de forma global neste campo aparentemente tão simples, mas

na verdade uma área fundamental na vida de qualquer um, considerando a educação o grande

instrumento de transformação da sociedade.

Por esta razão, para o entendimento de todo este processo, indispensável se faz saber

que o conceito de saúde e o entendimento do processo de educação em saúde estão sujeitos à

influência do contexto sócio, histórico, político e econômico. As formas como se interpretam

e se explicam as doenças, influenciam as maneiras de serem estruturadas as intervenções no

âmbito da educação em saúde.

A partir desta revisão histórica, faremos um paralelo, em diferentes momentos, entre

os saberes e as práticas de educação em saúde e os discursos sanitários subjacentes a estas,

pois, estes discursos vão determinar tais práticas.

O modelo hegemônico com discurso higienista e intervenções normalizadoras tem

marcado o campo da educação em saúde. Este modelo será discutido e posto em confronto

com as mudanças dos discursos das políticas de saúde, a partir da década de 80, onde um

novo modelo de práticas de educação em saúde, pouco conhecido pelos profissionais, mas já

existente em situações esporádicas no Brasil, denominado de modelo dialógico, vem

despontando como fundamental para se conseguir a promoção de saúde tão almejada nos

discursos atuais.

Então, no primeiro momento desta revisão de literatura, o leitor terá uma explanação

do histórico das políticas públicas de saúde no mundo, com uma abordagem sobre estes

fundamentos no continente Europeu, uma vez que estes exerceram fortes influências no

Brasil. Analisaremos a partir de então, o momento em que surgem no Brasil as primeiras

políticas voltadas para a saúde, no fim do século XIX. Esta abordagem se faz necessária para

o entendimento da concepção de educação em saúde em cada tempo da história, explanando

os pensamentos existentes em todo o percurso até as mudanças políticas nos anos 80, com o

surgimento do Sistema Único de Saúde (SUS) e em tempos atuais com a estratégia do saúde

da família, como modelo de reorientação da saúde.

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No segundo momento, uma análise mais específica será feita em torno do tema

educação em saúde, abordando os referenciais teóricos que estão sendo revistos por diversos

autores no país, relacionados à educação popular em saúde, visto que estes referenciais são

adequados aos propostos pela estratégia de saúde da família e poderiam ser conhecidos e

postos em prática, por todos os profissionais da saúde. Abordaremos dentro deste contexto a

educação em saúde como formadora de uma população cidadã e terminaremos concluindo

com uma discussão da necessidade de mudanças na formação dos cirurgiões-dentistas, bem

como das capacitações para os que já se encontram em plena atividade nos serviços.

1 As práticas de Educação em Saúde no contexto das Políticas Públicas de Saúde

Os movimentos políticos, sociais e econômicos em cada época histórica, exercem

influência direta sobre as formas como a política pública de saúde é estabelecida no país, e

esta sempre se organiza de acordo com as necessidades e contextos da época.

1.1 A Educação em Saúde nos Séculos XVIII, XIX e início do século XX.

A Educação em Saúde surge na Europa, no século XVIII e o discurso desenvolvido

em torno da questão saúde foi essencialmente normalizador e regulador, onde o objetivo

principal era o controle social sobre as classes subalternas. Segundo Singer53 foi graças à

necessidade de criar as condições mínimas para que a reprodução da força de trabalho

pudesse se dar de modo sistemático e para que a capacidade de trabalho dos operários fosse

preservada, que o Estado passou a assumir o cuidado e o controle dos que necessitavam de

assistência médica e social. A fim de assegurar o desenvolvimento das forças produtivas, o

Estado exercia sua função de civilizar e moralizar a grande massa da população, com um

discurso higienista e moralista.

Chiesa e Veríssimo17 destacam que a prática educativa em saúde não é uma proposição

recente, pois já era presente na Europa do século XVIII, onde os cuidados de higiene a serem

praticados por gestantes, os cuidados com as crianças e medidas de controle de epidemias

eram difundidos em almanaques populares. Existiam também ações educativas para a

população em geral, onde esta recebia informações sobre as principais doenças, enfatizando

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inúmeras recomendações sobre comportamentos “certos” e “errados” relacionados à vivência

das doenças e a sua prevenção.

Segundo Engels27, a situação da classe operária na Inglaterra do século XVIII era de

penúria e miséria onde os problemas de saúde alastravam-se. Grandes epidemias ameaçaram o

proletariado e as classes dominantes nos grandes centros industriais como Manchester, a

segunda cidade da Inglaterra e a mais importante cidade fabril do mundo, na época. E para

conter os problemas relacionados com a Saúde Pública, as principais cidades inglesas foram

dotadas de um sistema de planificação urbana que formava um verdadeiro cordão sanitário

entre ricos e pobres.

Portanto, questões de ordem política e econômica, desencadearam na Inglaterra do

século XVIII, uma campanha geral de Saúde Pública, com reforma nas prisões, reforma nos

hospitais militares, modificações na legislação sanitária e, ainda a Reforma Lord Shaftesbury,

visando a melhoria das condições de trabalho nas fábricas27.

Por causa da industrialização, o cenário existente na segunda metade do século XIX,

na Europa, era o de crescimento urbano, onde havia a degradação das condições de trabalho,

moradia e nutrição da população. Isto preocupava as classes dominantes, pois, poderiam

surgir rebeliões dos populares, que se aglomeravam nos bairros e também havia o risco de

epidemias que acometiam as classes populares e poderiam chegar à burguesia. Assim, se

intensificavam as ações de disciplinamento das classes populares onde se difundiam regras de

higiene e de condutas morais19.

No Brasil colônia e no império, o Estado não tinha uma sistematização para o setor

saúde, a população era vítima e sofria de diversas doenças infecciosas. Em casos esporádicos,

havia uma ação pontual em situações epidêmicas45.

No Brasil, na segunda metade do século XIX até meados do século XX, o discurso

sanitário segue as tendências européias, concentrando-se nas cidades e desenvolvendo-se em

torno da moralidade e disciplinarização higiênica3.

Com a Proclamação da República, tem-se um começo da sistematização das práticas

sanitárias, a saúde pública no país vai se configurando como uma política nacional de saúde e

é nesse mesmo contexto sócio-político que emerge o capitalismo brasileiro44.

Este período foi marcado pelas grandes imigrações e início das exportações de café,

sendo necessária, uma atenção especial aos portos, que eram locais propícios à proliferação de

doenças. Então, nesta época, se estruturaram as primeiras intervenções ampliadas do Estado,

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com a criação do Departamento Nacional de Saúde Pública – DNSP, no início da década de

20, do século passado. A política estatal estava voltada para a saúde das classes populares,

que foram as grandes campanhas de vacinação em massa da população e de condutas de

higiene. Neste período, a polícia sanitária liderada por Osvaldo Cruz empregava recursos

como a vacinação compulsória e vigilância sobre atitudes e moralidade dos pobres com a

finalidade de controlar a disseminação de doenças3.

Havia a necessidade de domínio sobre epidemias de varíola, peste, febre amarela,

tuberculose, entre outras, nos grandes centros urbanos, visto que estas doenças acarretavam

transtornos para a economia agro-exportadora e o mercado externo exigia do governo

brasileiro o controle destas doenças sob a ameaça de não mais aportarem seus navios nos

portos nacionais. Como discute Oliveira e Souza45, desde o início da ação governamental na

saúde no Brasil, as ações de caráter coletivo, como imunização, controle de epidemias e

saneamento vão se desenhando no campo da saúde pública, vinculadas com a conjuntura

econômica vigente.

Em meio a este contexto, vão se delineando as primeiras práticas sistemáticas de

educação em saúde que eram breves e marginais, voltadas principalmente para as classes

subalternas, consideradas incapazes de maiores entendimentos neste setor. Esta prática

educativa era caracterizada pelo autoritarismo, com imposição de normas e medidas de

vacinação e saneamento. Os técnicos tinham um saber científico que devia ser incorporado e

aplicado pela população ignorante3,63.

O discurso que se propagava era de que a não observância das normas de higiene pelos

indivíduos geravam os problemas de saúde e que só se conseguiria a resolutividade destes,

com a mudança de atitudes e comportamentos individuais. O processo saúde-doença era

assim, reduzido à dimensão individual e as práticas de educação em saúde eram orientadas

por um discurso biologicista. Os determinantes sociais desses problemas, contudo, não eram

levados em consideração.

Este discurso predominou no campo da educação em saúde durante as décadas

seguintes, podendo ser encontrado ainda hoje como orientador de práticas educativas3.

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1.2 As práticas de Educação em Saúde, no Brasil do século XX, a partir do entendimento do contexto das Políticas Públicas de Saúde.

No início do século passado, houve o desenvolvimento industrial e o modelo agro-

exportador não era mais hegemônico. A necessidade de sanear os espaços de circulação de

mercadorias deixa de ser o alvo das políticas públicas de saúde, sendo agora a meta, a

preservação da saúde do trabalhador, que era a força, da qual dependia o crescimento

industrial45.

Em 1923, a partir da Lei Eloy Chaves, são criadas as Caixas de Aposentadorias e

pensões (CAPs), cujos benefícios, são: aposentadorias e pensões a seus filiados e

dependentes dos trabalhadores de grandes indústrias. As CAPs eram criadas pelas empresas,

mantidas e geridas por patrões e empregados. Na década de 30, as CAPs foram substituídas

pelos Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPs), que passaram a ter participação direta do

Estado.

A partir de 1930, uma nova dinâmica de acumulação, sob a dominação do capital

industrial, começou a produzir mudanças na estrutura social, e estas mudanças refletiram-se

nas políticas sociais e, particularmente, nas políticas de saúde adotadas pelo Estado. Para

articular o processo de transposição de uma economia agro-exportadora para uma economia

industrial urbana, com base no processo de substituição de importações, o Estado rompeu

com as características peculiares ao Estado oligárquico liberal, predominante na Velha

República, e adquiriu características típicas de Estado burguês intervencionista. O período de

30 a 45 constitui a fase de implantação do capitalismo industrial e isso só se tornou possível

“porque o Estado criou aparelhos regulatórios e peculiaridades intervencionistas que

estabeleceram um suporte ativo ao avanço da acumulação industrial” 26.

A partir de 1932, com a criação do Ministério da Educação e Saúde emergiu e tomou

forma uma política nacional de saúde. Para Braga e Paula8, são as alterações de caráter

político e as transformações da natureza do Estado que criam as condições iniciais para que as

questões sociais em geral - e as de saúde em particular - já postas no período anterior

pudessem ser enfrentadas através de um bloco orgânico e sistemático de políticas.

Neste momento, a assistência a saúde, era direito somente dos participantes dos IAPs e

de seus familiares. O restante da população dependia da assistência particular ou de hospitais

filantrópicos. As políticas de saúde vão então se consolidando de caráter assistencialista e não

universalizante, que desde já começa a marcar o contexto da saúde no Brasil.

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Vasconcelos63 comenta que a partir da década de 30, a ação do Estado na saúde era

voltada para a implantação deste sistema previdenciário, onde somente participavam os

trabalhadores que estivessem em categorias organizadas. As atividades educativas

continuavam voltadas para o combate de doenças infecciosas e parasitárias e eram

direcionadas às populações que estavam fora deste “jogo político central”.

Valença59 complementa esta idéia dizendo que nas décadas de 20, 30 e 40, a educação

em saúde esteve relacionada principalmente e tão somente à necessidade de divulgar e

propagar, por todos os meios, as normas de puericultura, de higiene pessoal e do ambiente.

Ainda segundo Vasconcelos63, em alguns momentos os programas e serviços de saúde

se expandem e se voltam para algumas regiões, dependendo da situação econômica e

exportadora do Brasil. O autor cita que durante a Segunda Guerra, houve a necessidade dos

países aliados, incentivarem a extração de borracha e manganês na região amazônica e na área

da abrangência da companhia da Vale do Rio Doce. Assim, novos incentivos para a área da

saúde foram dirigidos ao país e questões de ordem estratégica condicionaram a criação do

Serviço Especial de Saúde Pública (SESP) e o sub-setor de Saúde pública expandiu suas

ações ampliando, significativamente, a ação médico-sanitário nestas áreas de importantes

interesses econômicos, onde os trabalhadores estavam sendo dizimados pela malária e febre

amarela. Mas, mesmo assim, a área da Educação em Saúde não teve desenvolvimento, pois a

população continuava a ser vista como incapaz de iniciativas próprias e passiva.

Ainda em meio a este discurso higienista que existia, houve o surgimento nos Estados

Unidos da América, da Medicina Comunitária, no início da década de 1970, quando no campo

da educação em saúde, verifica-se um apelo à participação e união da comunidade para a

resolução dos problemas de saúde por eles vivenciados. Valença59 afirma que é o papel da

educação nesta época, tentar a união de toda a sociedade em prol de um objetivo comum,

juntando todos de forma solidária e homogênea.

Mas, por trás deste apelo de participação comunitária, parece camuflar-se o mesmo

discurso da culpabilidade dos sujeitos, que era difundido anteriormente, com o diferencial de

que a culpabilização passava da individualidade para a coletividade. As práticas comunitárias

de educação em saúde partiam, então, do pressuposto de que as comunidades seriam as

responsáveis pela resolução de seus problemas de saúde devendo, para isto, serem

conscientizadas, embora as repercussões das políticas sociais e das condições de vida e de

trabalho na saúde das pessoas ainda não eram vistas3.

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Continuando na história política do Brasil, a partir do golpe militar de 1964, os

trabalhadores e demais segmentos da sociedade perdem representação e há a unificação dos

institutos – IAPs, com a criação do Instituto Nacional da Previdência Social – INPS18,45. Fica

assim estabelecido o modelo brasileiro de seguro social e prestação de serviços médicos.

Somente trabalhadores que tivessem carteira assinada e contribuíssem para a previdência

teriam direito aos benefícios45.

Durante todo o regime militar, eram limitados os espaços institucionais para a

expressão da educação em saúde, a política de saúde visava à expansão de serviços médicos

privados, onde as ações educativas não tinham espaço significativo64. Smeke e Oliveira54

admitem que durante esse período a educação em saúde correspondeu ao controle sobre os

sujeitos.

Mas, Vasconcelos63 lembra que a ditadura imposta pelo regime militar cria espaços

para a emergência de experiências de educação em saúde que rompem com aquelas existentes

até o momento no Brasil, pois, o regime cortou os incentivos para as políticas sociais, levando

a população a reivindicar por mudanças políticas. Neste contexto, tem-se destaque o método

da educação popular de Paulo Freire, que unia os intelectuais e a população, ávidos por

mudanças. Na área da saúde, alguns profissionais insatisfeitos com as práticas médicas

existentes, engajaram-se no processo e adentraram por cidades brasileiras, onde havia o total

descaso com a comunidade e buscaram soluções em várias áreas, entre elas a da saúde, com

base no diálogo entre o saber popular e o saber acadêmico.

O Brasil foi o primeiro país a constituir e utilizar o método da educação popular, na

redefinição de práticas sociais nos mais variados campos do saber. A partir dos anos 70, a

participação de alguns profissionais da saúde nas experiências de educação popular levou para

o setor saúde, apesar de pontual, uma nova cultura de relação com as classes populares que

representou uma ruptura com a tradição autoritária e normatizadora da educação em saúde.

Pelo método da educação popular, se toma como base o saber anterior do educando, para

então se construir uma nova realidade. Seria a construção compartilhada de conhecimento

onde a sociedade seja fundamentada na solidariedade, justiça e participação de todos63,64.

Mas, esse tipo de ação era escassa no Brasil, o que predominava mesmo no setor saúde

era o modelo médico-assistencial que dicotomizava assistência e prevenção e era

marcadamente reducionista, biologicista, individualista, centrado na doença e orientado para a

cura. Com o fim dos anos 70, pairava na população e em muitos profissionais um sentimento

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de revolta das condições em que o país se encontrava, era então, chegada a hora de mudar a

configuração do setor saúde brasileiro.

O quadro de doenças existentes no país era condicionado pelo tipo de

desenvolvimento social e econômico em que se encontrava a população e o sistema de saúde

vigente na época, centrado no modelo hospitalocêntrico, não conseguia enfrentar com decisão

esses problemas15. Esta prática médica denominada flexneriana, baseada nos aspectos

curativo-reabilitadores, centrada no atendimento médico, com uma visão apenas biológica do

processo saúde-doença, apresentava fortes inadequações à realidade sanitária nacional, não

sendo capaz de alterar os perfis de morbi-mortalidade, além de provocar uma crescente

insatisfação de usuários40.

Esta prática repercute numa educação em saúde voltada para o repasse de

conhecimentos sobre as doenças, modos de prevenção, restabelecimento da saúde e

modificação das características ou práticas individuais consideradas inadequadas pelos

profissionais, isto é, a atuação em saúde fica restrita à prescrição de tratamento e a conselhos

de mudança de comportamento. Era necessária a construção de um novo modelo assistencial

que fosse integral, humanizado e compromissado com o atendimento de necessidades e com a

garantia do direito a saúde da população, onde, os profissionais e os pacientes deveriam

entender o processo saúde-doença e sua relação com os fatores sociais, econômicos e

políticos. A prevenção dos agravos à saúde, não deveria ser tratada isoladamente, mas sim

como uma meta a ser atingida com o desenvolvimento sustentável, a melhoria da qualidade de

vida e justiça social, em que a educação em saúde fosse voltada para a formação do sujeito,

capaz de entender seus problemas e agir sobre os determinantes destes, isto é, educação para

formação da cidadania.

Neste sentido, a atenção primária integral à saúde que tem como objetivo principal o

apoio aos indivíduos e aos grupos sociais, para que estes assumissem cada vez mais o controle

de suas vidas e sua saúde, começou a ser divulgada em 1978 na Conferência Internacional de

Alma-Ata16. Esta conferência também dava ênfase a Educação em Saúde e as novas formas de

abordar os problemas de saúde, a fim de se superar a tradição positivista e mecanicista da

medicina.

Assim, as discussões internacionais e os problemas pelos quais passavam a saúde no

Brasil, levaram a surgir no fim da década de 70, um movimento denominado Reforma

Sanitária, liderado por profissionais de saúde e intelectuais da área de saúde coletiva que junto

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à população, almejavam políticas mais universalistas em contraponto ao modelo sempre

existente no Brasil e agravado pelo regime militar que concentrava renda, não distribuía

benefícios sociais e conseqüentemente adoecia a população.

Em 1986, novamente em âmbito internacional tem destaque a I Conferência

Internacional em Promoção de Saúde, em Ottawa no Canadá, que foi um marco fundamental

na história da saúde pública, e reconhecia como pré-requisitos fundamentais para a saúde: a

paz, a educação, a habitação, o poder aquisitivo, um ecossistema estável, a conservação dos

recursos naturais e a equidade67.

Como resultado das propostas discutidas nesta conferência tem-se a carta de Ottawa

que significou a ampliação da concepção de promoção de saúde, incorporando a importância

e o impacto das dimensões sócio-econômicas, políticas e culturais sobre as condições de

saúde. Houve um reconhecimento de que a promoção de saúde não concerne exclusivamente

ao setor de saúde, mas ao contrário, ela se constitui numa atividade essencialmente

intersetorial28. As estratégias de ação propostas pela Carta de Ottawa foram: 1)

estabelecimento de políticas públicas saudáveis; 2) criação de ambientes favoráveis à saúde;

3) reforço da ação comunitária; 4) desenvolvimento de habilidades pessoais; 5) reorientação

dos serviços de saúde67.

Ainda sobre o que ficou estabelecido pela carta de Ottawa, Costa21 analisa que, o

avanço da Promoção da Saúde, só se daria através do fortalecimento da ação comunitária de

forma correta e efetiva. Esse fortalecimento deveria passar pela participação comunitária nos

processos de decisão, planejamento de estratégias e implantação de ações, sobre as quais a

própria comunidade pudesse ter domínio e controle.

Pode-se dizer que a Carta de Ottawa foi o principal marco de referência da promoção

de saúde em todo o mundo e também incorporada como estratégia a ser seguida pelo

movimento de municipalização da saúde no Brasil15.

Então, a partir das novas propostas internacionais e do diagnóstico da total

inadequação do sistema de saúde brasileiro foi realizada, em 1986, no Brasil, a VIII

Conferência Nacional de Saúde. Ela contou com ampla participação popular e teve em seu

relatório final, consolidadas as propostas do movimento pela reforma sanitária. Estas

propostas embasariam um novo modelo de organização em saúde no Brasil, dando origem a

uma seção especial para a saúde na constituição brasileira de 19889.

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Esta seção sobre saúde trata de três aspectos principais: Em primeiro lugar, incorpora

o conceito mais abrangente de saúde, que tem como fatores determinantes e condicionantes o

meio físico (condições geográficas, água, alimentação, habitação, etc.); o meio sócio-

econômico e cultural (ocupação, renda, educação, etc.); os fatores biológicos (idade, sexo,

herança genética, etc.); e a oportunidade de acesso aos serviços que visem a promoção,

proteção e recuperação da saúde. Em segundo lugar, a Constituição também legitima o direito

de todos, sem qualquer discriminação, às ações de saúde em todos os níveis, assim como,

explicita que o dever de prover pleno gozo desse direito é responsabilidade do governo, isto é,

do poder público. Por último, a Constituição estabelece o Sistema Único de Saúde – SUS, de

caráter público, formado por uma rede de serviços regionalizada, hierarquizada e

descentralizada, com direção única em cada esfera de governo, e sob controle dos seus

usuários9.

Então, diante da Constituição de 1988, necessário se fazia por em prática estas

propostas e o conceito abrangente de saúde deveria nortear a mudança progressiva do

paradigma de atenção à saúde no Brasil, passando de um modelo assistencial com ênfase na

prestação de serviços médicos individuais, de enfoque curativo, centrado na doença e baseado

no atendimento a quem procura, para um modelo de atenção integral à saúde, onde houvesse a

incorporação progressiva de ações de promoção e de proteção, ao lado daquelas propriamente

ditas de recuperação.

No Brasil, em 1988 foi implantado então, o SUS e a cada dia se caminha em prol da

sua melhoria, tentando-se superar as dificuldades apresentadas devido à mudança do sistema.

Estas dificuldades se devem, principalmente, a atuação por parte de alguns profissionais,

ainda voltada para o paradigma tradicional de práticas. Por isto, são almejadas diversas

transformações objetivando um novo perfil de atuação, com recursos humanos adequados.

Os modelos assistenciais em saúde geral e de saúde bucal em particular, de

abrangência municipal, passaram a ter uma importância maior a partir da criação do SUS com

o crescente incremento da municipalização das ações de saúde. As diretrizes do SUS puseram

em cheque os modelos vigentes e imputaram um desafio muito grande aos municípios que se

propuseram a reorganizar os seus modelos assistenciais46.

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1.3 Criação do Programa Saúde da Família no Brasil

Na conjuntura da política de saúde existente no Brasil, surge o PSF, em 1994. Este tem

desempenhado papel estratégico para a construção e consolidação do SUS, afirmando e

incorporando os seus princípios básicos como: universalização, descentralização,

integralidade e controle social; enfatizando a promoção de saúde, visando a qualidade de vida

das pessoas e privilegiando ações voltadas para comunidades específicas, abrangendo

indivíduos e famílias, do recém-nascido ao idoso, sadios ou doentes de forma integral e

contínua11.

Um dos objetivos do PSF é inserir a equipe de saúde na área geográfica em que atua,

para que esta conheça melhor a realidade local, convivendo com a dinâmica do processo de

adoecimento e de cura. Isto ajuda os profissionais a entenderem de forma ampliada o processo

saúde-doença e a necessidade de intervenções que vão além das práticas curativas12. Além

disto, eles podem buscar uma aproximação com a população para compreender melhor o seu

saber, participar dos movimentos sociais locais e por fim, quebrar a visão centralizadora que a

população tem dos profissionais de saúde (a questão da dominação profissional-paciente).

Os profissionais, que estão buscando reorientar suas práticas de atuação, enfrentam

problemas, dos mais diversos, como a dificuldade de atuação interdisciplinar devido a

carência de outros profissionais engajados nas questões sociais, carência de recursos físicos e

materiais, repressão dos políticos locais, exigência de produtivismo numérico do sistema de

saúde, vazio teórico e falta de sistematização de experiências realizadas, entre outros;

problemas comuns devido a mudança recente e que com o tempo devem ser superados com o

engajamento de todos os profissionais da saúde, grupos locais, políticos e população.

Para conseguir esta reorientação nas práticas, é necessário em primeiro lugar, o

conhecimento por parte dos profissionais da área da saúde, de seu papel na sociedade, na

mudança do sistema e isto só é possível se estes se empenharem em conhecer a realidade da

população. Em segundo lugar, que a população se sensibilize dos problemas em que está

envolvida e possa atuar reivindicando em favor da solução dos mesmos.

A estratégia do PSF traz no centro de sua proposta a expectativa relativa à reorientação

do modelo assistencial a partir da atenção básica11. Neste sentido, Vasconcelos60 destaca

dentre os diversos espaços dos serviços de saúde, os da atenção básica como em um contexto

privilegiado para o desenvolvimento de práticas de educação em saúde, devido a aproximação

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que há entre profissionais e população e o privilégio das atividades preventivas e

promocionais.

Vasconcelos63 complementa dizendo que a educação em saúde na atenção básica tem

que deixar de ser uma atividade realizada a mais, para ser algo que atinja e reoriente a

diversidade de práticas realizadas.

Segundo Garcia34 o trabalho cotidiano no PSF possui um amplo potencial pedagógico,

por integrar o individual, o grupal, a instituição com a sociedade, o cognitivo, afetivo e

psicomotor.

No âmbito do PSF, a educação em saúde se configura como uma prática prevista e

atribuída a todos os profissionais que compõem a equipe de saúde da família. Espera-se que

esta seja capacitada para assistência integral e contínua às famílias da área adscrita,

identificando situações de risco à saúde na comunidade assistida, enfrentando em parceria

com a comunidade os determinantes do processo saúde-doença, desenvolvendo processos

educativos para a saúde, voltados à melhoria do auto-cuidado dos indivíduos11.

O reconhecimento da crise do modelo assistencial predominante no Brasil, no âmbito

da saúde coletiva, vem suscitando a emergência de propostas que visam a transformação do

sistema de atenção em saúde, de suas práticas e, em articulação com essas, do processo de

trabalho em saúde, entre estes do processo de educação em saúde. Deve ser elaborado um

modelo educativo capaz de responder às novas bases conceituais e aos objetivos da atenção.

Novos referenciais teóricos e metodológicos devem ser discutidos de forma aprofundada para

a estruturação da educação em saúde no modelo assistencial atual e sua contraposição com o

antigo.

1.4 A inclusão do cirurgião-dentista no Programa Saúde da Família

Em dezembro do ano 2000, por intermédio da Portaria n. 1.444 do Ministério da

Saúde (Diário Oficial da União 2000; 29 dez), houve um incentivo para a reorganização da

atenção à saúde bucal prestada à população brasileira, frente aos alarmantes resultados obtidos

pela pesquisa nacional de amostras por domicílio, que relatava a existência de 29 milhões de

brasileiros que nunca foram ao dentista36. Isto chocou as autoridades sanitárias do país, que de

imediato autorizaram a inclusão da odontologia no PSF, visando então a ampliação do acesso

coletivo às ações de promoção, prevenção e recuperação da saúde bucal e a conseqüente

melhoria de seus indicadores epidemiológicos5.

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Segundo Oliveira46, a assistência com base no domicílio introduz uma nova lógica

assistencial que rompe com a prática histórica da odontologia essencialmente centrada no

alívio da dor e no trabalho dentro das quatro paredes do consultório. É importante, que as

experiências de introdução da saúde bucal no PSF, não apenas transfiram linearmente o

espaço de trabalho do cirurgião-dentista, mas que produzam um ganho no sentido do re-

ordenamento da prática odontológica, de uma mudança qualitativa na abordagem das doenças

bucais.

Sobre os modelos assistenciais em saúde bucal predominantes no Brasil, Weyne66

através de estudos epidemiológicos disponíveis e da penosa experiência profissional de muitas

gerações, pôde afirmar que a forma de atenção odontológica baseada exclusivamente em

procedimentos operatórios, não se mostrou capaz de controlar as doenças bucais, não

reduzindo a incontrolável demanda por serviços cirúrgico-restauradores e nem mesmo evitou

que muitas pessoas, assim tratadas, perdessem todos ou quase todos os dentes na meia-idade.

Com o novo sistema de saúde, ocorre uma relevante evolução na filosofia de educação e

treinamento dos recursos humanos, refletindo-se na clínica sob a forma de uma sensível

mudança no paradigma da prática da odontologia. A forma tradicional de tratamento centrada

na doença e até então hegemônica, está gradualmente cedendo espaço para um outro tipo de

atenção profissional, cuja ideologia é a prevenção das doenças e a promoção da saúde. Com a

nova filosofia de atendimento, os países desenvolvidos conseguiram, em menos de três

décadas, mudar o perfil epidemiológico de suas populações, elevando substancialmente seus

níveis de saúde bucal, pela prevenção e controle das doenças cárie e periodontal.

Ainda segundo Weyne66, o novo paradigma de assistência à saúde sinaliza a

necessidade de uma atuação interdisciplinar, ou seja, de um dentista com o perfil de

generalista (clínico geral). Isso se choca com uma situação que se converteu em algo

incrivelmente hegemônico e monopolítico no Brasil, que foi a divisão da odontologia em

especialidades, que praticamente não se intercomunicam, fazendo com que o paciente tenha

sua boca tratada em parcelas e nunca como um todo, dentro de um outro todo que é o

organismo, o que, com certeza, configura uma distorção.

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2 Novas perspectivas no campo da Educação em Saúde

De acordo com as descrições anteriores, a educação em saúde é um campo amplo de

práticas, havendo a necessidade de que o profissional entenda as duas principais dimensões

deste processo, que segundo Schall e Struchiner52 umas destas tendências envolve a

aprendizagem sobre as doenças, seus efeitos sobre a saúde, os modos de prevení-las e como

restabelecer a vida saudável. A outra dimensão é a caracterizada como promoção da saúde

pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e inclui os fatores sociais que afetam a saúde,

abordando os caminhos pelos quais diferentes estados de saúde e bem estar são construídos

socialmente.

Segundo o Comitê de especialistas em planejamento e avaliação dos serviços de saúde

da OMS, os objetivos da educação em saúde são encorajar as pessoas a adotar e manter

padrões de vida sadios, usar de forma judiciosa e cuidadosa os serviços de saúde colocados à

sua disposição e tomar suas próprias decisões, tanto individual como coletivamente, visando

melhorar suas condições de saúde e as condições do meio ambiente10.

2.1 Educação em Saúde: a reflexão sobre as condições de vida levará a mudança da realidade

Chiesa & Veríssimo17 relatam que com o paradigma da promoção de saúde, onde

entendemos a relação dos componentes biopsicossociais, a educação em saúde é utilizada não

apenas para mudar hábitos considerados inadequados e que levem ao desenvolvimento de

doenças, mas também para permitir que as pessoas façam uma reflexão sobre as suas reais

condições de vida.

Apesar deste conceito ampliado que permeia o paradigma da promoção de saúde, onde

as dimensões biológicas, sociais e culturais estão entrelaçadas em cada agravo, as práticas de

saúde ainda estão baseadas no velho paradigma, o flexneriano. Isto requer um

questionamento, pois trabalhar com uma educação em saúde tradicional, que trata a educação

unicamente como um recurso para consertar comportamentos inadequados, não levará a

mudanças no campo da saúde54.

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Sabemos, então, que o fundamental para a reversão do paradigma tradicional é

entender a visão ampliada da saúde e utilizar a educação em saúde como um instrumento de

mediação e crescimento entre os sujeitos, onde o profissional tenha por objetivo ser um

facilitador, ajudando a população a analisar criticamente a sua condição de vida, para poder

transformar a realidade existente21.

Um método revolucionário que alfabetizava em 40 horas, sem cartilha ou material

didático, foi criado por Paulo Freire. Sob a liderança de Moacir de Góis, em Natal (RN), no

ano de 1962, surgia a campanha De Pé no Chão Também se Aprende a Ler. Paulo Freire

achava que o problema central do homem não era o simples alfabetizar mas fazer com que o

homem assumisse sua dignidade enquanto homem. Ele concebe educação como reflexão

sobre a realidade existencial e deve articular com essa realidade as causas mais profundas dos

acontecimentos vividos, procurando inserir sempre os fatos particulares na globalidade das

ocorrências da situação. Para Paulo Freire o diálogo é o elemento chave onde o professor e

aluno sejam sujeitos atuantes, educação é sinônimo de conscientização. É reflexão rigorosa e

conjunta sobre a realidade em que se vive, de onde surgirá o projeto de ação. E, desta forma, o

surgimento de um homem detentor de uma cultura própria, capaz de fazer história. Com o

golpe militar de 1964, a experiência de Paulo Freire, já espalhada por todo o país, foi abortada

sob alegações inconsistentes como subversiva, propagadora da desordem e do comunismo. As

campanhas de alfabetização que tinham objetivos mais abrangentes do que a própria

alfabetização chegava ao seu fim, em 1964. Alguns trabalhos dispersos continuaram a ser

levados a efeito, mas a proposta de renovação humana estava prejudicada.

A educação em saúde deve ser capaz de formar o ser humano participante como

sujeito do seu processo histórico, como um ator social atuante na transformação de sua

realidade, relacionado a esse conceito citamos Freire33,

“Quer dizer, mais do que um ser do mundo, o ser humano se tornou

uma presença no mundo e com os outros. Presença que, reconhecendo

a outra presença como um “não-eu” se reconhece como “si própria”.

Presença que pensa a si mesma, que se sabe presença, que intervém,

que transforma, que fala do que faz mas também do que sonha, que

constata, compara, avalia, valora, que decide, que rompe”.

Stainback e Stainback55 complementam dizendo que a educação é a maneira de

tornarmo-nos mais humanos. Ela afasta as pessoas da rotina, dirigindo-as a superar desafios e

a extrair as lições da experiência humana, no enfrentamento da realidade da vida. A educação

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acontece no contato com os outros e as potencialidades e inabilidades das pessoas moldam a

extensão e a textura do crescimento de cada um.

O trabalho da educação deve ser dirigido para atuar sobre o conhecimento das pessoas,

para que elas desenvolvam juízo crítico e capacidade de intervenção sobre suas vidas e sobre

o ambiente com o qual interagem, e, assim, criarem condições para se apropriarem de sua

própria existência14.

Valença59, corrobora com estas afirmações e respalda que a tarefa da educação em

saúde não é dizer aos homens o que é importante, mas facilitar as condições para que eles

mesmos vejam a importância das coisas.

A educação em saúde deve ser um processo que envolva toda a população no contexto

da vida cotidiana e não apenas daquelas pessoas sob o risco de adoecer, pois, necessário se

faz, que todos possam fazer uma reflexão crítica sobre as causas reais dos seus problemas, e

assumam a solução destes como co-responsáveis, no sentido de mudar a realidade da

sociedade20,48. Isto se baseia no conceito ampliado de saúde, sendo, a educação em saúde uma

ferramenta indispensável para garantir a integralidade da assistência e conseqüentemente a

promoção da saúde, meta do PSF.

Os profissionais devem passar para a população que o processo saúde-doença tem

extrema relação com os fatores sociais, econômicos e políticos. A educação em saúde entra

neste contexto, como formadora de uma sociedade, capaz de entender seus problemas e agir

sobre os determinantes destes. É importante que todos os profissionais que atuam no PSF,

tenham em mente que um dos principais objetivos da educação em saúde, é levar o homem à

conscientização, para que este conheça e julgue sua própria realidade, se descubra ingênuo e

comece a se tornar crítico.

Freire31 considera libertadora esta prática educativa que leva o homem a ser capaz de

entender a sua inserção no processo histórico, como um ser crítico, capaz de a princípio

reconhecer-se ingênuo diante de sua realidade e com o tempo tornar-se consciente da sua

situação existencial, concreta, de injustiça e, a partir disto querer lutar em prol das

transformações do seu meio, buscando a sua afirmação.

Os profissionais e os usuários devem sentir-se o tempo todo sujeitos deste processo

educativo. E como sujeito, entende-se uma pessoa em busca de autonomia, disposta a correr

riscos, a abrir-se ao novo, ao desconhecido, capaz de perceber seu papel diante dos desafios

colocados a cada momento. Com a educação em saúde, pretende-se contribuir para o

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desenvolvimento de sujeitos autônomos que constroem essa autonomia com base na

imaginação de um outro futuro, um outro porvir, diferente, qualitativamente melhor, do

contexto em que vivem atualmente. Mas, para a construção deste futuro é preciso desejá-lo e

as pessoas não desejam outro futuro porque não sabem que ele pode existir39.

Para que os educadores em saúde atuem junto à população, fazendo com que esta

reflita sobre sua situação de vida, é necessário que estes profissionais conheçam a realidade

destes sujeitos, fazendo uso do diálogo para entender o mundo e as perspectivas do outro,

para assim, poder agir em prol da mudança.

Para Freire30, a educação não é um método, ou uma tática, ou uma didática. É um

diálogo entre pessoas. Ele era contra qualquer método no sentido tecnicista. Assim, todo ato

educativo é, antes de tudo, um diálogo entre sujeitos, que são agentes que têm sua história,

trajetória, cultura e valores4. O mesmo autor complementa criticando que na nossa cultura

política e social, o povo nunca foi reconhecido como sujeito, mas, como objeto de

intervenções educativas.

Desta forma, as práticas educativas devem estar permeadas de espaços onde haja um

processo de interação e debate entre ambas as partes. Os problemas concretos e prioritários

irão surgir ao longo dos encontros e soluções vão ser construídas com base no saber popular e

no saber científico. Manifestações em forma de teatro, música, dança, entre outros são

previstas neste meio62. E, de acordo com Chiesa e Veríssimo17, nos dias atuais o mais

próximo destas ações, são atividades ditas participativas, onde há a formação de grupos, com

aulas ou palestras e o onde há o surgimento de dúvidas pontuais que são respondidas pelos

profissionais, não havendo espaço para outro tipo de manifestação. Além disto, estas palestras

abordam principalmente a noção de que a doença se deve à falta de cuidado e ao descaso da

população com a saúde, isto é, uma visão de determinação individual da doença, onde as

pessoas são culpadas pelo problema que apresentam.

Vasconcelos63 enaltece a importância da educação em saúde e da necessidade dos

profissionais usá-la como instrumento de promoção de saúde na reordenação das práticas,

dinamizando e fortalecendo a relação com a população, através da criação de vínculos entre a

ação nos serviços de saúde e o pensar e fazer cotidiano da população. Vasconcelos64

complementa dizendo que se deve superar a distância que há entre a instituição e a população,

em que um lado não compreende a lógica e as atitudes do outro. O importante é reconhecer os

interesses políticos das classes populares, sua diversidade e heterogeneidade.

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A esse respeito Vasconcelos63 afirma que uma vez que a ação dos serviços de saúde,

sozinha, não consegue ultrapassar a barreira do curativismo, necessário se faz que haja o

envolvimento da população na busca de novas estratégias e do reforço às posturas de luta e

enfrentamento apropriados às condições materiais e sociais em que vivem. Isto é, a partir da

integração entre o agir médico e o agir popular, haja a criação de novas abordagens sobre o

processo saúde-doença, de modo que se caminhe para uma mudança significativa na

globalidade das práticas de enfrentamento das doenças.

Chiesa e Veríssimo17, também abordam a questão educativa individual que deve haver

nas consultas nos serviços de saúde. Atualmente, se nota que faltam informações à população

atendida, acerca da sua doença, dos medicamentos, das perspectivas quanto ao seu estado

atual, levando a população a uma total insatisfação com o serviço, uso incorreto das

medicações, abandono do tratamento. Acrescenta-se ainda a procura excessiva de serviços.

Considerando um exemplo do campo da odontologia, observa-se que a população

convive com um intenso ir e vir aos postos de saúde à procura de atendimento odontológico

para a resolução dos seus problemas bucais. Ela segue em busca da saúde bucal, mas o que é

oferecido a esta, é atendimento curativo às suas lesões de cárie ou extrações dentárias que

levam ao mutilamento. No entender desta população, a odontologia se restringe somente ao

tratamento de dentes já acometidos pelas doenças. Os profissionais não procuram saber como

a população está entendendo a presente situação. Os saberes desta são menosprezados nas

práticas de saúde. Necessário se faz entender o que esta população acha sobre esses

problemas, para a partir desses, o profissional passar para a mesma, a realidade do setor

saúde, da odontologia, explicar para a população, a questão da determinação social dos

problemas bucais, as dificuldades pelas quais passam as unidades de saúde, o que pode ser

feito pelo profissional se houver a união de todos, levando essa comunidade à conscientização

de seus problemas e da necessidade do envolvimento desta para a transformação da

sociedade, de forma que conjuntamente, cirurgião-dentista e população possam unir os seus

saberes e transformar a realidade.

A inserção dos profissionais de saúde no Programa Saúde da Família, levando-os ao

contato direto com a população, facilita a aproximação do profissional com os pacientes.

Assim, a inserção dos serviços e do profissional na dinâmica social local é facilitada. Mas,

embora esse processo de aproximação esteja iniciado, necessário se faz ainda, superar o

distanciamento que muitos profissionais tem com a população.

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2.2 A Educação em Saúde formando uma população participativa

A Educação em saúde, hoje, é vista como um instrumento de transformação social

onde os profissionais auxiliam a população a fazer uma reflexão da sua realidade de vida,

proporcionando a formação de pessoas críticas, criativas, reflexivas, capazes de assumir no

conjunto das lutas sociais, a condição de agentes de mudanças ativos na transformação da

sociedade e de si próprio, na conquista de direitos e justiça social e na adoção de novas

práticas de interlocução, participação e articulação de ações para além de espaços

institucionais13.

Sendo a participação popular uma das diretrizes do SUS e tendo a educação em saúde

esse papel de formação de sujeitos que tenham esta nova cultura de participação e discussão

política, ela também deve ajudar na conscientização das pessoas para que as mesmas exerçam

a cidadania, tendo em vista a melhoria nos padrões de saúde em nosso país. Aliado a tudo

isto, as práticas de educação em saúde, devem conscientizar a população de que a saúde é um

direito de todos e dever do Estado e que todos devem reivindicá-la para a melhoria da

qualidade de vida.

Segundo L’Abbate39, estas práticas só podem ser consideradas democráticas com o

objetivo de desenvolver a cidadania se houver a participação de ambos os sujeitos, se existir a

relação entre os atores sociais, o que ocorrerá no momento em que as práticas educativas

passarem a ser permeadas de espaços onde haja a conversação e o diálogo entre os

participantes.

Dentro deste contexto, é discutida pela educação popular em saúde a ruptura da

tradição autoritária e normatizadora da educação em saúde, além da abertura de espaços,

valorização da autonomia e criatividade dos sujeitos, pois assim sendo, a educação será

instrumento para se construir e ampliar os espaços de participação popular nos serviços de

saúde, dentro do Programa Saúde da Família, na reorientação das políticas públicas de

saúde61,64.

Ainda citando Vasconcelos64, todos defendem o princípio do controle social; mas, tal

princípio se opera sempre mediante os espaços formais de sua implementação, como: os

conselhos e as conferências de saúde. No entanto, essas instâncias, por estarem presas às

questões gerenciais do sistema, não dão conta de implementar a participação dos usuários na

redefinição da maioria das ações de saúde executadas no dia-a-dia dos serviços. E, é no

cotidiano das práticas de saúde que o cidadão é desconsiderado, pelo autoritarismo e pela

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prepotência do modelo biomédico tradicional. Sem a participação ativa dos usuários e seus

movimentos na discussão de cada conduta ali implementada, os novos serviços expandidos

não conseguirão se tornar um espaço de redefinição da vida social e individual em direção a

uma saúde integral.

Toda a população tem que ter o conhecimento de que pode e deve atuar em favor da

melhoria do meio onde está inserida e, também, tem que ser capaz de reivindicar essa

melhoria, enfim, que todos despertem para a cidadania e saibam como buscá-la. Os

profissionais de saúde através das práticas educativas têm o papel de fornecer os subsídios

para que as pessoas possam ampliar o controle sobre suas vidas, visando a modificação das

realidades sociais e políticas. Isto é, devem levar a população o seu papel como cidadãos e os

caminhos que devem seguir para reivindicar os seus direitos. É interessante enfatizar que o

desenvolvimento da comunidade, elemento importante e necessário na Promoção de Saúde,

perpassa os recursos humanos e materiais existentes. A participação popular deve ser uma

conquista do dia-a-dia da população e se deve ao processo de construção permanente do

cotidiano, em um ambiente democrático.

Por isto, a educação deve ser crítica e libertadora, como cita Freire31, libertadora

porque, implicando no enraizamento que os homens fazem na opção que fizeram, os engaja

cada vez mais no esforço de transformação da realidade concreta objetiva. Diversos

problemas são enfrentados na construção desta prática educativa, pois uns acreditam que esta

questão da libertação do homem é utópica, enquanto outros não querem formar um homem

crítico, capaz de denunciar a situação opressora em que vive, pois isto poderia abalar a

estrutura política de algumas regiões. Porém, o profissional comprometido com a libertação

do homem, não fica aprisionado a esses fatos que na verdade aprisionam a realidade da

população.

Ainda citando Freire31, o profissional não deve temer enfrentar, não deve temer ouvir,

não deve temer o desvelamento do mundo. Não deve temer o encontro com o povo, não deve

temer o diálogo com ele, de que resulta o crescente saber de ambos.

Assim, como enfatiza, Orso47 esta perspectiva construtivista social da prática em

saúde, tendo em seus pressupostos a construção de sentidos sobre o mundo, na linguagem,

através da relação entre as pessoas, aponta para a possibilidade de co-construção de um

modelo de atenção em saúde entre profissionais e comunidade. E, ainda, aponta como

possibilidade para transformação da crise da Saúde Pública, uma prática em saúde baseada na

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aproximação, conversação e negociação constante, não somente entre equipe de profissionais

e comunidade, mas em todas as dimensões, desde os formuladores das políticas de saúde, até

os executores e usufruidores.

2.3 Profissionais de saúde preparados para o novo perfil de práticas

A política de saúde brasileira tem sido marcada por profundas mudanças, porém é

necessária uma redefinição urgente das práticas, por parte dos profissionais, principalmente na

área da prevenção e promoção de saúde, a fim de que os objetivos dos serviços de saúde

sejam alcançados.

Hoje, a formação acadêmica dos cirurgiões-dentistas se encontra mais atenta à visão

ampliada da saúde, principalmente a questão de se ver a saúde bucal como parte integrante e

inseparável da saúde geral e dependente das condições de alimentação, moradia, meio

ambiente, renda, trabalho, transporte, lazer, acesso a serviços de saúde e informação21. Para

que se implemente o novo paradigma da saúde, com o seu rol de práticas voltadas para a

integralidade no serviço, deverá de fato haver a formação de profissionais preparados para o

enfrentamento desta realidade.

Nos locais onde as formações essencialmente biológicas estiverem presentes, onde se

ensina principalmente a tratar as conseqüências das doenças e não suas causas e prevenção, há

necessidade de novas adequações, sejam elas no contexto da Universidade ou nos estágios

extra-muros pelos quais passam os estudantes. Todas as Universidades precisam adaptar os

seus currículos para essa mudança e os profissionais que já atuam no serviço público,

necessitam de capacitações para o enfrentamento desta nova situação, de forma que todos os

cirurgiões dentistas que ingressem ou que já estejam nos serviços de saúde sejam mais

voltados para a saúde do que para a doença, mais para o todo, do que para as partes.

Costa21 discute a necessidade de uma reformulação curricular, centrada na formação de

profissionais mais conscientes, preparados para o enfrentamento de uma população mais

politizada e conhecedora de seus direitos. Esta reforma já está sendo realizada em grande

parte das faculdades de Odontologia, mas as mudanças serão lentas devido à dificuldade de

alguns professores e profissionais absorverem inovações.

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Pinto49 também discute esta situação de mudança do perfil de práticas e afirma que se

devem ampliar os horizontes de interesse e de atuação dos que trabalham na área

odontológica, levando-os a se transformarem em agentes catalisadores de mudanças sociais e

econômicas que favoreçam a melhora dos níveis de saúde bucal da população sobre seus

cuidados. Cada trabalhador do setor odontológico deve se constituir num ator com ativa

participação neste processo de transformação que se faz necessário implantar no âmbito da

profissão e, para a execução de um novo tipo de prática clínica e preventiva mais eficaz que

os tradicionais métodos de tratamento da população.

É importante que todos os profissionais de saúde se atualizem e tenham a visão de “o

que ensinar” atendendo aos anseios de “a quem ensinar”, num conjunto sincronizado e

eficiente, voltado para a formação deste cidadão crítico e participativo na sociedade, que seja

capaz de entender o mundo que o cerca, para que, ao invés de simplesmente se acomodar

diante das dificuldades e injustiças, ele tenha condições psicológicas, cognitivas e espirituais

de transformar o que for necessário em nossa sociedade, para uma evolução auto-sustentável e

menos desigual68.

Além disto, Vasconcelos64 enaltece a importância de profissionais que levem em

consideração as práticas locais de enfrentamento dos problemas de saúde com participação

ativa da população. Além das atividades pedagógicas serem voltadas para o sentir, pensar e

agir de todos envolvidos na problemática da saúde, de forma que assim, poderá ser construída

coletivamente as novas soluções sanitárias necessárias para as mudanças.

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PROPOSIÇÃO

Esta pesquisa tem como proposta analisar a percepção dos cirurgiões-dentistas do PSF

de Natal-RN a respeito do tema “educação em saúde” e a sua atuação como educador em

saúde, a partir dos seguintes pontos:

Conhecimentos a respeito da educação em saúde;

Atividades gerais realizadas por estes profissionais no PSF, detalhando as ações

educativas individuais e em grupos;

Objetivos estabelecidos ao desenvolverem atividades educativas e se alguns resultados

já podem ser observados;

Dificuldades encontradas por eles no PSF e em especial, no desenvolvimento de

atividades educativas;

Suas percepções no que diz respeito à importância da participação popular nos

serviços e a capacidade que o profissional de saúde tem, como educador, em orientar a

população para tal participação.

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CAPÍTULO II

" É preciso, porém, que tenhamos na resistência que nos preserva vivos, na compreensão do futuro como problema e na vocação para o ser mais como expressão da natureza

humana de estar sendo, fundamentos para a nossa rebeldia e não para a nossa resignação em face das ofensas

que nos destroem o ser. Não é na resignação mas na rebeldia em face das injustiças que nos afirmamos."

Freire, 2006

Paulo Freire

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O PERCURSO METODOLÓGICO

1 Natureza da pesquisa

Este é um estudo exploratório na área de saúde bucal e busca enfatizar a educação em

saúde no Programa Saúde da Família de Natal-RN, a partir da perspectiva do cirurgião-

dentista, que é um dos atores sociais deste processo. Como referencial, realizamos a nossa

pesquisa baseada nas teorias da educação de Paulo Freire, conhecida como educação

problematizadora ou dialógica.

Para a realização deste estudo foi escolhida a abordagem qualitativa, considerada a

mais adequada para estudar a dimensão da percepção social de problemas42, na qual foi

fundamentada a análise dos dados.

No trabalho de campo, para a coleta de informações foram aplicados entre os

cirurgiões-dentistas que trabalham em equipes de PSF de Natal/RN: uma entrevista semi-

estruturada, cujo roteiro encontra-se no anexo 1, com informações gerais dos participantes e

com questões relacionadas ao tema educação em saúde e um Teste de Associação Livre de

Palavras (TALP). O recrutamento dos participantes foi realizado através da visita à unidade

básica do Programa Saúde da Família, com o objetivo de entrevistar todos os cirurgiões-

dentistas.

2 Considerações éticas

Antes de iniciar o estudo, o projeto de pesquisa foi encaminhado ao Comitê de Ética

em Pesquisa da UFRN para a devida apreciação, sendo aprovado de acordo com a resolução

196/96, sob o número do protocolo 32/06 CEP-UFRN (Anexo 2).

Selecionados os participantes e suas respectivas unidades de saúde, no momento que

antecedia a aplicação dos instrumentos de coleta de dados, eram explicados os motivos da

realização da pesquisa e sua finalidade, ressaltando sua relevância para a Odontologia, bem

como reforçado o caráter confidencial dos dados a serem coletados e o seu completo

anonimato, com uso exclusivo para a produção científica, conforme recomenda o Conselho

Nacional de Saúde através de resolução específica (196/96).

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Após os devidos esclarecimentos, um termo de consentimento livre e esclarecido

(TCLE) (Anexo 3) foi apresentado a cada sujeito amostral, que realizou a sua leitura e

autorização por meio de assinatura.

3 Pré-teste

Para a avaliação dos instrumentos de coleta de dados, foi realizado um pré-teste com

os mesmos, sendo utilizados cirurgiões-dentistas que não participariam da entrevista

definitiva. Por este motivo, foram escolhidos cinco profissionais inseridos no Programa Saúde

da Família em cidades do Rio Grande do Norte (2 em Macaíba, 2 em Ceará Mirim e 1 em

Nova Cruz). Este foi realizado no mês de Março de 2006.

Durante este pré-teste, foram observadas a clareza e objetividade das perguntas, cujas

adaptações foram efetuadas, buscando aprimorar os instrumentos de coleta.

4 O Cenário da pesquisa

4.1 Campo de pesquisa

A pesquisa foi realizada nas Unidades Básicas de Saúde do Programa Saúde da

Família de Natal-RN.

Foi solicitada à Coordenação de saúde bucal do município de Natal uma autorização

para a realização desse estudo e esta, se manifestou inteiramente favorável (Anexo 4).

O Programa Saúde da Família no município de Natal teve sua implantação no ano de

1998, mas, as equipes de saúde bucal só foram implantadas no ano de 2002 e hoje, contamos

com 91 equipes de saúde bucal distribuídas nos distritos Norte (58), Leste (8) e Oeste (25),

conforme dados apresentados pela Secretaria Municipal de Saúde no mês de Março de 2006.

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4.2 Atores Sociais

A seleção destes profissionais deu-se através de consulta à Coordenação de Saúde

Bucal do município de Natal-RN, que forneceu lista contendo todas as equipes de Saúde

Bucal (n= 91) cadastradas e implantadas no município até o mês de março de 2006, e que

distribuía os dentistas de acordo com os Distritos Sanitários existentes no município. Essa

distribuição dos profissionais por distrito e por unidades básicas de saúde pode ser vista no

anexo 5. Foram entrevistados 80 cirurgiões-dentistas do PSF de Natal-RN

A coleta dos dados ocorreu entre os meses de Julho a Setembro de 2006. Como

critério de inclusão, tivemos: cirurgiões-dentistas que se dispusessem a participar da pesquisa,

após fazerem a leitura do termo de consentimento livre e esclarecido. Como critérios de

exclusão tivemos: cirurgiões-dentistas que se apresentavam há menos de 6 meses no

Programa Saúde da Família ou que se encontrassem de férias ou licença. Sendo, portanto

excluídos apenas 11 profissionais, o que correspondeu a uma perda muito pequena do

universo (aproximadamente 12%), visto que foi entrevistado cerca de 88% do total de

sujeitos.

5 Instrumentos para a coleta de informações

Os instrumentos utilizados nesta pesquisa foram: uma entrevista inicial, contendo

perguntas para caracterizarmos os sujeitos, um teste de associação livre de palavras (TALP) e

uma entrevista semi-estruturada relacionada ao nosso tema de estudo (Anexo 1). Estes foram

aplicados por duas examinadoras, sendo uma destas a responsável pela pesquisa e a outra

entrevistadora também mestranda do mesmo Programa de Pós-graduação. Durante a

realização das entrevistas, as falas foram anotadas pelos entrevistadores.

5.1 Entrevista inicial para caracterização dos sujeitos

Com a finalidade de se conhecer os cirurgiões-dentistas participantes da pesquisa,

foram realizadas perguntas para se conhecer a idade, ano de formatura, realização de pós-

graduação, tempo de serviço público e tempo no Programa Saúde da Família.

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5.2 O Teste de Associação Livre de Palavras (TALP)

A realização do teste de associação livre de palavras se deu pela possibilidade de

apreender projeções mentais de maneira descontraída e espontânea, que revelassem conteúdos

implícitos ou latentes e que pudessem ser mascarados ou suplantados em técnicas de

entrevistas discursivas.

Segundo Bardin6, o teste de associação livre de palavras objetiva localizar as zonas de

bloqueamento e de recalcamento de um indivíduo, que seria a exclusão do campo da

consciência, de idéias, sentimentos e desejos, que o indivíduo não quer admitir, e que, no

entanto, continuam fazendo parte da sua vida psíquica.

A técnica de coleta nesta pesquisa consistiu em primeiramente explicitar para o

indivíduo entrevistado como a técnica seria desenvolvida, realizando-se um treinamento

prévio utilizando termos indutores que não estavam relacionados com o objeto da pesquisa.

Dando seqüência, e já utilizando o objeto a ser investigado, solicitou-se ao indivíduo que

emitisse três palavras que pudessem ser lembradas quando em que o entrevistador falasse o

estímulo indutor, que seria a expressão “Educação em Saúde”, seguindo-se da hierarquização

dos termos evocados, do mais para o menos importante.

O resultado das evocações foi anotado em formulário impresso, contendo os espaços

para as palavras e hierarquização das mesmas. O TALP foi aplicado a 80 sujeitos resultando

no total de 240 evocações.

Posteriormente a aplicação do TALP, seguiu-se à entrevista semi-estruturada.

5.3 A entrevista semi-estruturada

A entrevista semi-estruturada apresenta-se como uma técnica composta de perguntas

abertas, dispostas em ordem preestabelecidas e feitas oralmente, onde ao entrevistador é

permitido o esclarecimento das questões propostas38.

Triviños56 reforça esta opinião, quando cita que a entrevista semi-estruturada valoriza a

presença do investigador, oferece todas as perspectivas possíveis para que o informante

alcance a liberdade e a espontaneidade necessárias, enriquecendo a investigação.

A entrevista foi realizada com 80 profissionais, a partir de questões preestabelecidas,

levando-os a refletirem sobre as suas percepções sobre a educação em saúde no Programa

Saúde da Família.

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6 A análise dos dados

6.1 A análise da entrevista inicial para caracterização dos cirurgiões-dentistas

As características dos sujeitos envolvidos, como faixa etária, sexo, ano de formatura,

tempo no serviço público e tempo de trabalho no Programa Saúde da Família foram dispostas

em figuras comparativas criadas pelo programa Microsoft Excell, versão 2000.

6.2 Análise do TALP

Para a análise do TALP, utilizamos a Teoria do Núcleo Central de Vergès, apresentada

por Sá51. Este tratamento dos dados é feito considerando como critérios de importância à

freqüência e a ordem de aparição dos termos evocados, partindo do pressuposto que os termos

que atendam, ao mesmo tempo, aos critérios de freqüência e ordem prioritária de evocação

teriam uma maior importância no esquema cognitivo do sujeito e, provavelmente,

pertenceriam ao núcleo central1,51.

Para Tura57, o núcleo central tem como características o consenso, que define a

homogeneidade do grupo, a ligação a memória coletiva e a história do grupo e a pouca

sensibilidade ao contexto imediato.

Em torno do núcleo central organizam-se os elementos periféricos. E Abric2 descreve

o sistema periférico, tendo como determinação mais individualizada e contextualizada que o

núcleo central e sendo mais associado às características individuais e ao contexto imediato e

contingente, nos quais os indivíduos estão inseridos.

Para a obtenção do núcleo central e sistema periférico, inicialmente as palavras

coletadas foram organizadas através de um processo de agrupamento por classificação,

reunindo as palavras próximas em nível semântico (palavras idênticas ou sinônimas) e em

seguida, foram submetidas a uma classificação por aproximação de sentido com o objetivo de

estabelecer as categorias de análise, conforme preconiza Bardin6. O material foi então

submetido a uma análise quantitativa executada com o auxílio de um software denominado

EVOC 2000 - Essemble de programmes permettant l’analyses des evocations . A partir, dos

critérios já explicitados (freqüência média de ocorrência das palavras e a média das ordens

médias de evocação das palavras), os termos são distribuídos em um “quadro de quatro

casas”. A partir da distribuição, procede-se à interpretação dos dados, para a identificação de

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cada estrutura. As palavras que se situam no quadrante superior esquerdo são, muito

provavelmente, elementos do núcleo central, aquelas situadas nos quadrantes inferior

esquerdo e superior direito são do sistema intermediário e o do quadrante inferior direito são

considerados do sistema periférico1,51.

6.3 Análise das Entrevistas6.3.1 Análise de conteúdo

Os dados das entrevistas foram submetidos à análise de conteúdo do tipo temática

categorial6 que é realizada de modo sistemático, através de técnicas pré-estabelecidas por

estudiosos e que tem a capacidade de inferir vários aspectos das mensagens para o contexto.

Procurou-se explorar o conteúdo das mesmas, através da presença ou freqüência dos temas e

da importância e sentidos a eles atribuídos pelos dentistas.

Segundo Berelson7, a análise de conteúdo é uma técnica de investigação que permite a

descrição objetiva, sistemática e quantitativa do conteúdo manifesto da comunicação,

limitando a técnica a transformar o material estudado em categorias analíticas, a partir das

quais é possível produzir distribuições de freqüência e estudos de correlações.

Bardin6 complementa a idéia de Berelson7, dizendo que além de analisar o conteúdo

manifesto, a análise de conteúdo também se propõe a analisar o conteúdo latente da

mensagem, podendo o analista fazer inferências quanto ao conteúdo da mesma.

“A análise de conteúdo é um conjunto de técnicas de

análises das comunicações visando obter, por

procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do

conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou

não) que permitam a inferência de conhecimentos

relativos às condições de produção/ recepção (variáveis

inferidas) destas mensagens”.

A análise qualitativa interpreta o material com a ajuda das categorias analíticas

comparando as semelhanças e as diferenças quantitativas existentes entre essas categorias,

ressaltando e descrevendo as suas particularidades específicas.

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Krippendorff37 corrobora com a idéia de Bardin6, e diz que a análise de conteúdo

também se propõe a fazer inferências, válidas e reproduzíveis, dos dados para o seu contexto.

Valla58 resume todas as proposições e declara como sendo o objetivo da análise de

conteúdo realizar inferências, com base numa lógica clara, sobre as mensagens cujas

características foram inventariadas e sistematizadas e a partir disto, descrever fenômenos,

descobrir associação entre fenômenos, descobrir relações de causa-efeito entre fenômenos.

Enquanto técnica, a análise de conteúdo, exige maior explicitação de todos os

procedimentos realizados, por isso vejamos a seqüência de organização da análise temática

categorial que foi utilizada:

1- Constituição do corpus – correspondendo ao quantitativo das 80 entrevistas realizadas

neste estudo, seguindo-se de uma leitura flutuante e análise de todas as entrevistas.

2- Definição das unidades de análise (recortes) – a seleção das unidades de análise foi

realizada após a leitura flutuante das entrevistas. As unidades de contexto escolhidas para a

análise foram as frases citadas durante as entrevistas.

3- Definição de categorias e subcategorias (a posteriori) - Com uma grelha de análise aberta

em que não existem categorias analíticas pré-estabelecidas; as categorias e subcategorias

emergiram a partir dos textos analisados.

4- Codificação: Cada categoria recebeu um código e este serviu para classificar cada unidade

de contexto dentro da grelha de categorias estabelecida, de acordo com sua significação e

característica comum ou aproximada.

5- Tratamento e apresentação dos resultados: Os dados serão apresentados em temas,

interpretados descritivamente e destacados em quadros.

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CAPÍTULO III

”Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar possibilidades para a sua própria

produção ou a sua construção”.Freire, 2006

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

Este capítulo foi subdividido em quatro partes. Inicia-se com a caracterização dos

sujeitos participantes da pesquisa, os cirurgiões-dentistas do PSF de Natal/RN, sendo

apresentados os dados sócio-demográficos dos mesmos, a distribuição segundo faixa etária,

sexo, tempo de conclusão do curso de odontologia, tempo de inserção no serviço público e no

referido programa. Ainda, nesta primeira parte, serão descritas as atividades realizadas por

estes profissionais no PSF, os temas que eles gostariam que fossem abordados em cursos, para

os dentistas que ingressam no programa e como se encontra a formação destes profissionais

entrevistados no campo da educação em saúde.

Numa segunda parte deste capítulo será apresentado o entendimento das concepções

dos cirurgiões-dentistas com relação à educação em saúde, sendo analisada a percepção destes

sujeitos em torno da educação em saúde e os objetivos almejados com a realização deste tipo

de atividade.

Na terceira parte, buscamos apresentar o que foi posto em prática pelos cirurgiões-

dentistas no campo da educação em saúde no seu trabalho, no PSF. Relatamos as atividades

educativas realizadas, os apoios institucionais que eles puderam contar para a realização deste

tipo de atividade, bem como, as dificuldades encontradas na realização das mesmas. Além

disto, analisaremos dentro dos objetivos alcançados e dos não alcançados pelas atividades

educativas, as razões pelas quais os profissionais percebem que os mesmos estão sendo ou

não estão sendo alcançados.

Na quarta parte deste capítulo, abordamos o tema da educação em saúde como

instrumento para a participação popular. Tentamos mostrar a importância da participação da

população dada pelos cirurgiões-dentistas e o papel destes profissionais, orientando a

população através da educação em saúde para esta participação.

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1 Os sujeitos

1.1 Características sócio-demográficas dos cirurgiões-dentistasOs profissionais participantes deste estudo apresentam uma distribuição de idade

conforme mostrado na figura 1. Sendo a idade média encontrada de 48,2 anos, com idade

mínima de 36 anos e máxima de 65 anos, demonstrando um perfil de profissionais com

maturidade cronológica e profissional. Destes, 58 eram do sexo feminino e 22 eram do sexo

masculino, conforme pode ser observado na figura 2, demonstrando a predominância de

mulheres na odontologia nos últimos tempos, o que é um fato bastante comum atualmente,

haja vista o aumento da participação feminina no mercado de trabalho como um todo.

33%

54%

13%

34-45 anos

46-55 anos

56-65 anos

Figura 1 - Distribuição segundo a faixa etária dos cirurgiões-dentistas do PSF de Natal-RN. Natal/ RN, 2006.

Figura 2 – Distribuição segundo o gênero dos cirurgiões-dentistas do PSF de Natal-RN. Natal/RN, 2006.

72%

28%

Feminino

Masculino

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Quanto ao tempo que estes profissionais concluíram o curso de odontologia,

encontrou-se uma média de 23,6 anos de formado entre os entrevistados, onde o maior tempo

foi de 39 anos e o menor foi 10 anos. Essa característica nos dá idéia de profissionais com

ampla experiência nas práticas odontológicas e pode ser vista na figura 3.

Figura 3 – Distribuição segundo o tempo de formados dos cirurgiões-dentistas do PSF de Natal- RN. Natal/RN, 2006.

O tempo de atuação no serviço público é situado numa média de 20,3 anos, sendo o

profissional de menor tempo, um cirurgião-dentista com 10 anos de serviço e o de maior

tempo um com 39 anos. Esses dados estão expressos na figura 4.

45%

51%

4%

10-19 anos20-29 anos30-39 anos

Figura 4 – Distribuição segundo tempo de atuação dos cirurgiões-dentistas no serviço público. Natal/RN, 2006.

26%

60%

14%

10-19 anos

20-29 anos

30-39 anos

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O tempo de inserção nas equipes de saúde bucal gira em torno de 2 anos e 1 mês, com

o maior tempo de 4 anos e 10 meses e o menor tempo de 6 meses.

16%

54%

30%

Menos de 1 ano1 a 2 anosMais de 2 anos

Figura 5- Distribuição segundo o tempo de inserção dos cirurgiões-dentistas no PSF de Natal-RN. Natal/RN, 2006.

Quanto à realização de pós-graduação pelos profissionais, dos 80, observamos que 20,

não possuem pós-graduação, 11 dentistas possuem pós-graduação a nível máximo de

aperfeiçoamento, 43 dentistas possuem pós-graduação ao nível de especialização, sendo que

31 têm apenas uma especialização e 12 têm duas especializações. Destas 55 especializações

realizadas pelos dentistas, 25 são em áreas clínicas e 30 são em área de saúde coletiva, isto é,

37,5% dos dentistas entrevistados, possuem especialização em saúde coletiva. Ainda, 4

dentistas possuem pós graduação a nível de mestrado, sendo estes em físico-química,

dentística, odontopediatria e odontologia preventiva e social e 2 dentistas possuem pós-

graduação a nível de doutorado, sendo um na área de dentística e o outro concluiu seu

doutorado no Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde, sendo que ambos os

doutores possuem também mestrado em Odontologia Preventiva e Social.

A distribuição destes dentistas no município de Natal pode ser vista no anexo 5, onde

podemos perceber a localização por bairros de cada unidade básica, com sua respectiva

quantidade de equipes de saúde bucal e a quantidade de dentistas entrevistados.

Para melhor compreensão desta distribuição cabe a explicação que a cidade de Natal

está dividida do ponto de vista da saúde, a partir da municipalização, em quatro Distritos

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Sanitários, o Norte, o Leste, o Oeste e o Sul. Os dentistas entrevistados estão inseridos nas

Unidades Básicas de Saúde do Programa Saúde da Família de Natal- RN, nos distritos Norte,

Leste e Oeste, pois somente nestes já haviam sido implantadas equipes de saúde bucal. O

distrito Sul ainda não contava com essa estratégia. O critério para a localização do PSF nestas

localidades se deve à baixa condição sócio-econômica da população adscrita, que por isto são

mais expostas ao adoecimento e tem um acesso restrito aos serviços de saúde. A inserção

destes cirurgiões-dentistas nas equipes de saúde bucal deu-se mediante concurso interno

realizado com profissionais que já faziam parte do quadro funcional do Estado do Rio Grande

do Norte ou do município de Natal, não sendo, portanto, aberto a profissionais externos, que

não pertencessem ao quadro.

As atividades de saúde bucal tiveram seu início no mês de agosto de 2001 e o distrito

Norte foi o primeiro a ter a inserção destas equipes.

1.2 Atividades realizadas no Programa Saúde da Família

Objetivando conhecer as atividades realizadas pelos cirurgiões-dentistas no PSF, os

mesmos foram questionados sobre quais atividades ele desempenha na sua equipe de PSF.

Conforme fosse respondido, as respostas eram enquadradas em: atendimento curativo

individual, atendimento preventivo-educativo-individual, reuniões educativas, palestras,

atividades em grupos organizados (podendo ser um destes grupos ou todos: gestantes,

diabéticos, hipertensos, idosos), visitas domiciliares, reuniões/planejamento com a equipe do

PSF. A totalidade dos cirurgiões-dentistas entrevistados (80) relatou realizar todas essas

atividades em suas equipes de PSF.

1.3 Temas que deveriam ser abordados em cursos introdutórios para os dentistas do PSF

Objetivando conhecer as dificuldades apresentadas pelos profissionais da odontologia

no desenvolvimento das atividades no PSF de Natal-RN, os mesmos foram questionados se

viam a necessidade de cursos introdutórios para os cirurgiões-dentistas que ingressaram no

PSF e quais temas seriam mais necessários. Como resultados apresentamos o quadro 1, onde

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encontramos as categorias e subcategorias simbólicas geradas a partir da análise de conteúdo

das entrevistas realizadas, as quais representam os temas que eles gostariam de ter em cursos

ministrados por área temática, aqui representado por saúde coletiva, PSF e clínica. As

unidades de contexto encontram-se no anexo 6.

Quadro 1 – Categorização e subcategorização dos temas que os cirurgiões-dentistas gostariam de ter em cursos introdutórios no PSF de Natal/RN. Natal/RN, 2006.

Categorias n % Subcategorias n %1. Saúde coletiva 87 54 Preventiva 23 14,2

Educação em saúde 23 14,2Acolhimento/humanização 17 10,6

Saúde coletiva 11 6,8Epidemiologia 7 4,4

Áreas correlatas 4 2,5Políticas Públicas de Saúde 2 1,2

2. PSF 39 24,2 Propostas do programa 24 15Protocolo de trabalho 10 6,2Trabalho em equipe 3 1,8

Sistema de informação do PSF 2 1,23. Clínica 35 21,8 Odontopediatria 8 5

Patologia 8 5Farmacologia 7 4,3

Pacientes especiais 5 3,1Periodontia 3 1,8Urgências 2 1,3

Outros 2 1,3Total 161 100 Total 161 100

Segundo Costa23, a área do conhecimento que mais apresenta relações com o serviço

público de saúde é a saúde coletiva e esta agrupa os mais diversos saberes. Pelos resultados,

apresentados em nossa pesquisa, os profissionais do PSF de Natal-RN sentem dificuldades

nesta área e isto se deve ao tipo de formação universitária que tiveram, voltada para a clínica

privada. Apesar de 37,5% dos profissionais terem relatado a realização de especialização em

saúde coletiva, 54% das unidades de contexto analisadas relataram dificuldades dos

profissionais neste campo, 24,2% relataram serem as dificuldades na área de PSF, que

também se encontra estritamente relacionada com a saúde coletiva e apenas 21,8% das

unidades de contexto relatam serem as dificuldades na área clínica, confirmando a formação

acadêmica e o trabalho ao longo do tempo excessivamente clínico e tecnicista, que levaram os

profissionais a terem maior habilidade nesta área de atuação. A dificuldade na área de saúde

coletiva pode ser vista no discurso dos profissionais, a seguir, que têm dúvidas de:

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“Como desenvolver trabalhos junto à comunidade”. “Como trabalhar a educação em saúde, pois fiz ambulatório a vida

toda”.A categoria saúde coletiva foi, em nossa pesquisa, subdividida nas áreas específicas

onde os profissionais apresentam dificuldades, gerando as seguintes subcategorias: preventiva

(14,2%), educação em saúde (14,2%), acolhimento e humanização (10,6%), saúde coletiva

(6,8%), epidemiologia (4,4%), áreas correlatas, como antropologia, sociologia, filosofia, ética

(2,5%) e políticas públicas de saúde (1,2%).

Das mais citadas, entre as subcategorias, “preventiva” aparece como uma área que os

dentistas julgam importante, demonstrando a supremacia do modelo preventivista que

começou na década de 80, afirmando-se enquanto saber e prática35. Mas, interessante perceber

dentro deste contexto uma noção de prevenção tecnicista, a amplitude deste processo reduzido

a atos mecânicos, como pode ser visto quando os cirurgiões dentistas relatam dificuldades nas

áreas de escovação supervisionada e aplicação tópica de flúor (ATF).

Também, entre as subcategorias mais citadas na área de saúde coletiva, encontra-se a

“educação em saúde” e uma investigação mais aprofundada neste tema poderá ser vista

posteriormente.

A terceira subcategoria abordada como sendo dificuldades encontradas pelos

cirurgiões-dentistas foi a questão da humanização e do acolhimento no atendimento.

Algumas unidades de contexto abordam o tema da saúde coletiva de forma geral, por

isto determinamos uma subcategoria com esta denominação. Outras dificuldades apresentadas

foram no desenvolvimento de levantamentos epidemiológicos, assim como no conhecimento

dos índices usados na odontologia e também no conhecimento das políticas públicas de saúde.

Alguns discursos relatam a preocupação dos cirurgiões-dentistas quanto à necessidade

de terem um conhecimento nas áreas de antropologia, filosofia, sociologia e ética. Essas áreas

estão inseridas no currículo de Odontologia, mas os alunos no momento acadêmico, onde são

ministrados, não valorizam, ainda, tais temas. Uma avaliação da forma como estes estão

sendo abordados na universidade é necessária, para que se encontre o real motivo desta não

valorização dos temas acima citados e da desmotivação em desenvolvê-los no seu dia-a-dia

profissional.

E, o relato a seguir demonstra a valorização pelo cirurgião-dentista de ações que

despertem em quem as faz, a alegria, o sonho, o rigor, mesmo diante de coisas simples:

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“Filosofia, ética, responsabilidade profissional, busca pelo belo (diferente de estética) se sentir responsável pelas ações e elas serem a

sua cara”. Como já foi abordado, a categoria “PSF” apresentou 24,2% das unidades de contexto e

foi subdividida em subcategorias: propostas do programa (15%), protocolo de trabalho

(6,2%), sistema de informação do PSF (1,2%) e trabalho em equipe (1,8%).

Apesar de estarem inseridos no PSF, os profissionais não apresentam conhecimentos

sobre as propostas do programa e isto foi percebido nos discursos. Eles desconhecem o que

seja o PSF, suas diretrizes e funcionamento, alguns relatam dificuldades em se integrarem ao

programa e se remetem novamente à formação tecnicista, como pode ser visto nos discursos

que seguem:

“Conhecer o PSF, sua estrutura e funcionamento”.“São necessários cursos sobre o PSF, pois somos acostumados ao

consultório privado”.Mas, as dificuldades apresentadas, vão além do conhecimento das propostas do

programa. Os profissionais percebem que faltam normatizações e protocolos de atendimentos

para que as ações desenvolvidas em uma determinada área sejam padronizadas com as das

outras áreas e isto pode ser visto no que dizem os cirurgiões-dentistas:

“Falta uma normatização de atividades a serem desenvolvidas, pois cada um faz do jeito que quer”.

Interessante perceber, que para se chegarem à sistematização de atendimento é

necessário o planejamento das ações, que deve ser realizado em termos locais, pois em cada

Estado e até mesmo dentro de cada município a realidade apresentada é diferente e requer um

planejamento local com os profissionais atuantes. No caso do município de Natal, que

possuía, no momento da nossa pesquisa, 29 Unidades Básicas de Saúde com PSF espalhadas

em 3 distritos, podemos notar que cada distrito ou bairro, ou mesmo em cada equipe existem

as suas peculiaridades. Um planejamento geral anual, com todos os cirurgiões-dentistas seria

necessário para se traçar um plano baseado nas normas e diretrizes do PSF, de forma que as

peculiaridades de Natal fossem observadas. A partir da discussão com os profissionais e as

realidades vivenciadas poderia se traçar um protocolo de atividades para o município, além de

reuniões semestrais entre as equipes de um mesmo bairro visando adequar o protocolo de

forma mais específica para cada situação, trabalhando os problemas gerais do município e os

específicos de cada bairro.

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Baseada no método Altadir de planificação popular, Costa22 cita que no planejamento

devem ser desenvolvidas oficinas de trabalho com as pessoas diretamente relacionadas com o

serviço, com a finalidade de promover a construção coletiva, partindo da compreensão de

conceitos e vivências dos participantes. Este método tem como fundamento a participação

popular e o respaldo do Sistema Único de Saúde.

De acordo com o que foi relatado, nota-se a necessidade de um trabalho realizado em

equipe, tanto pelos profissionais da Odontologia, como entre toda a equipe de PSF (médico,

enfermeiro, dentista, auxiliares, técnicos e agentes comunitários de saúde), até com a

participação da comunidade, em prol da resolutividade dos problemas.

Mas, interessante perceber, que apenas três unidades de contexto, abordaram o aspecto

“trabalho em equipe” como sendo uma dificuldade dos profissionais. E isto demonstra

claramente, que os profissionais ainda não percebem a necessidade desta interação e

continuam trabalhando sozinhos, entre as quatro paredes do consultório odontológico. O

relato que segue, demonstra a dificuldade de:

“Como trabalhar de mãos dadas com outros profissionais”.O trabalho em equipe é um entrave na saúde pública, alguns profissionais até tentam

reorientar suas práticas, conduzindo seu trabalho de acordo com o novo paradigma de

práticas, mas se esbarram nos demais profissionais que não se interessam em fazer tal

reorientação. Um profissional não consegue sozinho conduzir o processo, precisa do trabalho

conjunto, que termina por não existir.

Ainda como dificuldade encontrada, no campo do PSF, os profissionais mostram que a

sua inserção na equipe ocorreu sem nenhuma orientação sobre o sistema de informações e

preenchimento das planilhas do programa.

A categoria “clínica” apresentou 21,8 % de unidades de contexto e estas relatam as

dificuldades dos profissionais neste campo, principalmente em áreas como: odontopediatria,

patologia, farmacologia, pacientes especiais, periodontia e urgências.

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1.4 Formação profissional no campo da educação em saúde

Visando verificar a formação profissional dos cirurgiões-dentistas do PSF de Natal/RN

dentro do campo da educação em saúde, foi feito um questionamento aos sujeitos

pesquisados: Como foi sua formação no que diz respeito à atuação do cirurgião-dentista como

educador em saúde? Respostas pré-estabelecidas foram apresentadas e os sujeitos analisavam

em qual alternativa melhor se enquadravam. A figura 6 ilustra o resumo das categorias

apresentadas.

1%

27%

16%

15%

41%

Após a graduação/ têm dificuldades

Graduação/ têm dificuldades

Graduação/ não têm dificuldades

Não teve formação/ se atualizam

Após a graduação/ não têm dificuldades

Figura 6 - Distribuição segundo a formação profissional dos cirurgiões-dentistas do PSF de Natal-RN na área de educação em saúde. Natal/RN, 2006.

Os resultados são os seguintes:

Nenhum cirurgião-dentista relatou não ter tido formação com relação ao tema e não

desenvolver essas atividades no trabalho.

1 cirurgião-dentista (1%) teve contato com a temática em cursos de formação ou pós

graduação e não se sente capaz de realizar uma educação em saúde de acordo com os

princípios e diretrizes do SUS.

12 cirurgiões-dentistas (15%) não tiveram formação com relação ao tema na

graduação ou pós-graduação, mas tentam estudar e pesquisar a respeito para

desenvolver em seus trabalhos.

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13 cirurgiões-dentistas (16%) tiveram aulas, apenas na graduação, sobre o tema e se

sentem capazes de realizar uma educação em saúde de acordo com os princípios e

diretrizes do SUS

22 cirurgiões-dentistas (27%) tiveram aulas apenas na graduação sobre o tema, mas

hoje sentem dificuldades em realizar as atividades educativas

32 cirurgiões-dentistas (41%) tiveram contato com a temática em cursos de formação

ou cursos de pós-graduação e se sentem capazes de realizar uma educação em saúde

de acordo com os princípios e diretrizes do SUS.

2. Concepções com relação à educação em saúde

2.1 Percepções dos cirurgiões-dentistas a respeito da educação em saúde

Na Figura 7, estão apresentados os resultados da estrutura das evocações dos

cirurgiões-dentistas após o estímulo indutor “educação em saúde” e analisados no EVOC

2000. A análise é baseada na Teoria do Núcleo Central2. As duas palavras (educação e

prevenção) que aparecem no quadrante superior esquerdo são elementos do provável núcleo

central da educação em saúde, seguido de cidadania, qualidade de vida e motivação como

sistema periférico, além de co-responsabilidade, mudanças de comportamento e orientação no

sistema intermediário. Observamos que as médias das ordens médias das evocações (MOME)

foi igual a 2,00 e a freqüência intermediária (FI) foi igual a 30.

OME <2,00 e F≥30 OME >2,00 e F≥30

Educação (40) 1,97Prevenção (41) 1,60 Orientação (49) 2,30

OME <2,00 e F<30 OME >2,00 e F<30

Co-responsabilidade (22) 1,90 Cidadania (16) 2,37Mudança de comportamento (15) 1,60 Motivação(28) 2,10

Qualidade de vida(29) 2,10

Figura 7 - Identificação dos possíveis elementos do núcleo central sobre educação em saúde por cirurgiões-dentistas atuantes no PSF de Natal/RN. Natal/RN, 2006.

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O núcleo central expressa o consenso e a homogeneidade do grupo, uma ligação à

memória coletiva e à história dos cirurgiões-dentistas. Como vimos no perfil dos profissionais

entrevistados, todos se formaram em média há 23,6 anos, nos anos de 1983-1984, época em

que ainda engatinhavam as discussões em torno do novo paradigma da saúde. A presença de

termos como prevenção e educação demonstra a incorporação destes no discurso coletivo dos

profissionais, pois a educação era vista como tendo a função de apenas transmitir à população

noções de prevenção.

A educação que deve ser trabalhada no PSF é aquela baseada no método de Paulo

Freire, onde haja a intermediação entre o saber popular e o científico através do diálogo. Esta

será abordada ao longo desta discussão.

A orientação presente no sistema intermediário mostra os fundamentos da educação

em saúde, que seria a orientação dada pelos profissionais para que as pessoas se

conscientizassem para a prevenção de doenças. Essa orientação não deve se limitar a dar

informações de prevenção, mas, também, se preocupar em estimular o paciente a aprender a

valorizar o seu corpo, capacitando-o no futuro, a tomar decisões e fazer escolhas relacionadas

à sua saúde. Além de orientar o paciente da estreita relação dos problemas de saúde com a

realidade em que vive.

A co-responsabilidade aparece como um elemento positivo dentro dos termos citados

como possível sistema intermediário, pois demonstra a incorporação da população como ator,

participante das práticas educativas. A questão da co-responsabilidade pode ser bem

percebida pelos cirurgiões-dentistas em suas práticas cotidianas, devido a necessidade dos

pacientes se envolverem no processo, pois sem este envolvimento não se conseguem êxito nos

trabalhos curativos e preventivos desenvolvidos. É necessário que os profissionais da saúde

dialoguem com a população para conhecer a sua verdadeira situação de vida e poder traçar

planos de acordo com a sua necessidade.

A presença do termo mudança de comportamento, pode ser vista como um elemento

negativo, se a educação em saúde for utilizada apenas com o objetivo de corrigir

comportamentos considerados inadequados dos indivíduos. A educação em saúde deve ser

usada para transformar atitudes, mas, também para permitir uma reflexão sobre as condições

reais de vida das pessoas17,54.

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A presença dos elementos: cidadania, motivação e qualidade de vida entre os

elementos do sistema periférico refletem o contexto imediato nos quais os indivíduos estão

inseridos. Os temas demonstram uma apreensão nas percepções de alguns cirurgiões-dentistas

a respeito dos novos discursos e referenciais que estão embasando a educação em saúde na

atualidade. Estes devem ter sido lembrados, principalmente, pelos profissionais que estão se

atualizando.

A educação e a saúde estão intimamente relacionadas ao exercício da cidadania, aos

direitos e deveres dos cidadãos, na luta por melhores condições de vida. O controle social é

essencial nos dias atuais para que ela conheça a realidade dos serviços de saúde e para que os

profissionais conheçam a realidade da mesma. Este tema será melhor abordado em outro

tópico.

Com relação ao termo “motivação”, encontrado entre os temas pertencentes ao sistema

periférico, Mielle41 diz que a motivação do paciente, associada ao processo de esclarecimento,

provavelmente são os fatores primordiais para transformar a saúde bucal. Dentro do processo

educativo, a utilização de forças motivadoras desempenha um papel importantíssimo.

Com relação à presença do termo “qualidade de vida” entre os do possível sistema

periférico, notamos a percepção dos cirurgiões-dentistas numa visão ampla da educação em

saúde, não apenas restringindo-a à saúde bucal ou geral, mas englobando-a dentro do contexto

social da qualidade de vida das pessoas.

2.2 Os objetivos das atividades educativas no contexto do Programa Saúde da Família

A fim de compreender os objetivos das atividades educativas no contexto do PSF, na

concepção dos cirurgiões-dentistas, duas perguntas foram dirigidas aos mesmos: Por que a

educação em saúde deve estar incluída como uma das atividades realizadas pelo cirurgião-

dentista no PSF? e quais os objetivos esperados ao serem desenvolvidas atividades

educativas?

Da análise de conteúdo dos questionamentos realizados na entrevista, tem-se como

resultado as categorias e subcategorias simbólicas apresentadas na figura 8, as quais resumem

as unidades de contexto das entrevistas contidas no anexo 7.

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Figura 8 – Categorização e subcategorização dos objetivos das atividades educativas, segundo a visão dos cirurgiões-dentistas do PSF de Natal/RN. Natal/RN, 2006.

De acordo com as categorias simbólicas apreendidas a partir das entrevistas com os

cirurgiões-dentistas do PSF de Natal-RN, constatamos que a educação em saúde tem como

objetivo no PSF: formar sujeitos (46,8%), ser base para alcançar metas (35,8%), se conseguir

a integralidade dos serviços (14%) e formar vínculos entre os profissionais e os pacientes

(3,4%).

Os profissionais destacam como principal função da educação em saúde no PSF, a

formação de sujeitos, e retomando o já exposto em nosso estado da arte e o que diz

L’Abbate39 por sujeito entende-se uma pessoa em busca de autonomia, disposta a abrir-se ao

novo, ao desconhecido, e na perspectiva ser alguém capaz de perceber seu papel diante dos

desafios colocados a cada momento.

OBJETIVOSDA

EDUCAÇÃOEM

SAÚDE

Alcançar metas (35,8%)Melhorar a saúde bucal (15,7%)Melhorar a saúde geral (13%)

Melhorar a qualidade de vida (3,7%) Prevenção e promoção (3,4%)

Formação de sujeitos (46,8%)

Modificar hábitos e comportamentos (12,6%)Co-responsáveis por sua saúde (10,6%)

Conhecer saúde-doença (9,3%)Conceito ampliado de saúde (8,3%)

Conscientes com a questão saúde (3,3%) Agentes multiplicadores (2,7%)

Formação de vínculos (3,4%)Melhorar a relação profissional-paciente

(3,4%)

Fundamental para a integralidade (14%)

Assistência e prevenção (11%) Visão do todo (3%)

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Freire33 aborda o ser humano como um ser inconcluso, que se encontra num

permanente movimento de procura. Por isso, cabe à educação o papel de levar discussões para

a população analisar e concluir por si só a realidade em que se encontra e o que está por vir

nas suas vidas. Formar esses sujeitos é muito mais do que treiná-los no desempenho de

destrezas. Vamos então analisar como está essa formação de sujeitos apresentada nos

discursos dos cirurgiões-dentistas pesquisados.

Dentro da categoria formação de sujeitos, destacam-se a formação de uma população

que seja capaz de modificar hábitos e comportamentos (12,6%), que seja co-responsável por

sua saúde (10,6%), conheça o processo saúde-doença (9,3%), entenda o conceito ampliado de

saúde (8,3%), que seja consciente com relação à questão saúde (3,3%) e aja como agentes

multiplicadores (2,7%).

A temática da educação em saúde tendo como objetivo a formação de sujeitos que

modifiquem hábitos e comportamentos, aparece neste momento da entrevista, mas já foi

relatado quando analisamos a percepção dos cirurgiões-dentistas a respeito da educação em

saúde. Dentro desta discussão é necessário lembrar que se olharmos somente por este ângulo,

da educação em saúde servindo apenas como modificadora de hábitos e comportamentos,

como podemos ver nos discursos abaixo, temos uma educação em saúde ultrapassada,

flexneriana, onde o cirurgião-dentista apenas deposita informações de mudança de

comportamento e hábitos e, a partir deste repasse, espera-se a melhora da saúde bucal da

população. Seria uma estratégia educativa que inclui somente informações verticalizadas que

ditam comportamentos a serem adotados para a manutenção da saúde3.

Segundo Vasconcelos64, o que se tem visto nos serviços de saúde são ações educativas

extremamente normatizadoras e centradas apenas na incorporação de hábitos individuais

considerados saudáveis pelos indivíduos. Esse trabalho nada tem a ver com processo de

transformação social através do diálogo de saberes e da reflexão crítica da realidade de vida e

saúde das populações.

Esse discurso normatizador pode ser visto nas falas dos cirurgiões-dentistas

pesquisados:

“Porque é através dela que a gente torna o hábito de escovação, higiene e dieta”.

“Porque ela vai modificar os hábitos e comportamentos inadequados da população”.

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A educação em saúde tendo como objetivo a formação de sujeitos que sejam co-

responsáveis por sua saúde, apareceu também em nossa pesquisa quando analisamos a

percepção dos cirurgiões-dentistas a respeito da educação em saúde. Vimos que a população

deve agir como ator participante no processo educativo e não apenas como um mero

expectador. Para isto, é importante manter um diálogo com as pessoas, onde estas sejam

estimuladas a pensar sobre as suas situações de vida, e a partir dos conceitos atuais de saúde,

essa população aja como sujeito co-responsável por sua saúde. Então, é necessário mudar as

atividades educativas, que somente repassam informações. Com relação a isto, Moyses e

Watt43 dizem que o processo de educação limita-se muitas vezes a ditar aos pacientes o que

eles deveriam fazer, mas ele deve dar condições para que a população tome suas próprias

decisões.

Esta questão da responsabilidade ser transferida para a população tem a ver com a

autonomia que ela deve ter em busca da sua saúde. Freire33 relata que o educador progressista

deve basear sua ação educativa crítica, na ética, no respeito à dignidade e na própria

autonomia do educando, provocando-os a se assumirem como sujeitos sócio-histórico-

culturais do ato de conhecer.

Então, vemos que muitos profissionais já apreendem, como essencial, a co-

participação da população, para a resolutividade dos problemas. Podemos ver esse tema da

co-responsabilidade nos discursos que seguem:

“Porque a meta é se conseguir o auto-cuidado das pessoas em saúde e sem educação em saúde não se consegue”.

“Que elas também possam ter responsabilidade com a sua saúde, pois deve existir uma parceria entre o profissional e o usuário para

serem conseguidos os objetivos”.Outro objetivo determinado pelos cirurgiões-dentistas foi a educação em saúde ser

formadora de sujeitos que conheçam o processo saúde-doença. Segundo o que já foi colocado

no estado da arte, o PSF, inserindo a equipe de saúde na área geográfica em que atua,

proporciona à mesma, o conhecimento da realidade local, pois o profissional irá conviver com

a dinâmica do adoecimento e cura. Isto ajuda no entendimento, de forma ampliada, do

processo saúde-doença daquela determinada população. Assim, o profissional pode buscar

formas de intermediar as informações de acordo com a realidade daquele local, gerando

intervenções que vão além de práticas curativas12.

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Freire e Guimarães32 abordam a perspectiva de se manter uma intimidade entre o

saber, experiências e realidades dos indivíduos e os saberes fundamentais sobre saúde que

devem ser repassados à população.

Nas nossas entrevistas, segundo as citações abaixo, percebemos a importância dada

pelo cirurgião-dentista ao repasse à população de informações sobre o processo saúde-doença,

necessário saber se estão de acordo com a realidade local de cada comunidade.

“Porque se você educa, as pessoas ficam esclarecidas quanto ao processo saúde-doença”.

“Porque você vê as pessoas, sem noção do assunto saúde, quando elas começam a entender, vivenciar, elas passam a se preocupar”.

Mais um dos objetivos da educação em saúde, segundo os cirurgiões-dentistas, seria a

formação de sujeitos que entendam o conceito ampliado de saúde. Devemos ver a saúde como

resultado dos modos de organização social da produção, como efeito da composição de

múltiplos fatores, entre eles, alimentação, moradia, saneamento básico, meio ambiente,

trabalho, renda, educação, transporte, lazer e acesso aos bens e serviços essenciais que

integram a política de saúde às demais políticas sociais e econômicas a fim de garantir a sua

efetivação9. Este conceito ampliado de saúde deve ser percebido pela população e o

profissional da saúde como o responsável por levar a população a entender essas informações

durante o processo educativo.

Mas, pelo discurso dos profissionais apreendidos nas entrevistas, apenas há relatos da

saúde bucal como parte integrante e inseparável da saúde, compreendendo somente a

dimensão biológica. A compreensão ampla da saúde enquanto dependente da condição social

e influenciando diretamente na qualidade de vida, não foi repassada pelos cirurgiões-dentistas,

que demonstram uma visão limitada do conceito ampliado de saúde, conforme podemos

perceber:

“A população deixa a boca de fora, mas tem que entender que faz parte da saúde como um todo”.

“É importante fazer grupos, para envolver a comunidade, tirá-los da ociosidade, participação em caminhadas, brincadeiras, mulheres em

atividades manuais, para com tudo isso eles entenderem a visão do corpo como um todo”.

Interessante lembrar, que quando analisamos a percepção dos cirurgiões-dentistas a

respeito da educação em saúde, a qualidade de vida foi um tema lembrado por 29

profissionais. Mas, como vimos na subcategoria anterior, o conceito de saúde é restrito na

visão dos profissionais entrevistados.

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Os profissionais também percebem como objetivo da educação em saúde a população

se conscientizar com relação à questão saúde, e de acordo com Rocha50, a educação deve

desenvolver a consciência crítica das pessoas a respeito das causas reais dos seus problemas e

estimulá-las na busca de soluções coletivas para resolvê-los. E observamos essa preocupação

no discurso dos profissionais:

“Porque é pela educação em saúde que iremos promover saúde, prevenir doenças, através da conscientização da população”.

Ainda neste tópico, da educação em saúde formando sujeitos, vemos a questão

multiplicadora onde, haja a formação de agentes multiplicadores, seja entre a família (pais-

filhos), ou na escola (professores-alunos) ou de forma mais ampla com vizinhos, amigos.

“Acho importante o trabalho com os pais e professores, pois eles passam para as crianças”.

A segunda categoria mais citada pelos odontólogos como sendo objetivo da educação,

foi alcançar metas de melhora da saúde bucal (15,7%), da saúde geral (13%), da qualidade de

vida (3,7%) e da prevenção e promoção em saúde (3,4%).

Cruz e Costa25 definem a educação como a base de qualquer atividade, cuja finalidade

seja a transformação para serem alcançadas metas. E isto, pode ser bem visto no discurso dos

profissionais estudados em nossa pesquisa:

“É a base de tudo, se educar e reeducar, para conseguir saúde”.“Pois é fundamental, sem educação em saúde não se leva a nada, não

pode caminhar”.A educação em saúde deve então ser vista como a base para se alcançarem os

objetivos, embora alguns profissionais apostem na educação em saúde como uma atividade

redutora e salvadora da saúde; uma visão um tanto ilusória, pois nem tudo pode ser resolvido

pela educação. Existe todo um contexto onde a população está inserida, como aspectos

econômicos, sociais, culturais, que não será a educação em saúde que irá mudar. Ela é

importante, fundamental, mas, não pode ser vista com este caráter de salvação da

humanidade. A frustração por não se mudar tudo com a educação, pode levar a desmotivação,

por não se atingirem todos os objetivos ilusórios que se espera e terminar havendo um total

abandono desta atividade.

Os discursos apreendem bem isto:

“Se a pessoa tem boa educação, não tem doença”.

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“Porque educação e saúde são coisas relacionadas, só educando haverá saúde”.

“Devemos investir em educação em saúde, para um futuro próximo saudável”.

Dentro da subcategoria “saúde bucal”, muitos especificam a educação como base para

melhorar apenas a saúde bucal. Notamos que o princípio da integralidade, não foi apreendido

nestas unidades de contexto, como pode ser visto nas citações que seguem:

“Com a educação em saúde tornamos as doenças bucais evitáveis”.“Porque só educando a gente vai conseguir diminuir os índices bucais”.

“Imprescindível para a manutenção da saúde bucal”.Na subcategoria “melhorar a saúde geral”, notamos uma visão mais ampla do conceito

de saúde, não se restringindo apenas a saúde bucal, mas, ainda um discurso estritamente

biologicista, conforme pode ser visto no discurso que segue:

“Prevenção de doenças, evitar que o grupo tenha determinadas doenças e que eles aprendam a se cuidar e saber quando está

doente”.Foram apreendidas poucas unidades de contexto, com relação à subcategoria

“conseguir qualidade de vida”, demonstrando novamente a visão restrita que os profissionais

têm da dimensão da saúde, como expressa a fala seguinte:

“Porque é primordial, é a base de tudo para se alcançar

qualidade de vida”.

Notamos na subcategoria “alcançar a prevenção e promoção de saúde”, um discurso

pré-estabelecido, baseado no que os profissionais têm apreendido com relação aos objetivos

do PSF:

“Prevenção é o carro chefe do PSF”.“Porque vejo como meta, como objetivo do PSF a promoção e

prevenção”.Dentro dos objetivos almejados com a educação em saúde no PSF, segundo os

cirurgiões-dentistas, a questão de se atingir a integralidade, que é um dos princípios do SUS,

aparece como a terceira categoria mais citada. Dentro desta categoria simbólica,

apresentamos subcategorias como a necessidade de se aliar assistência e prevenção (11%) e a

necessidade de se ter a visão do todo (3%).

Com relação à necessidade de se aliar assistência e prevenção abordada pelos

profissionais, Guterman35 destaca que na Odontologia, ainda há um caráter de atenção

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centrada no indivíduo e em atividades curativas. Mas, há o conhecimento por parte de todos

com relação à necessidade da inclusão das atividades educativas no cotidiano do serviço. Isto

pode ser visto nas citações dos profissionais pesquisados:

“Se não tiver educação associada ao tratamento curativo, o impacto será pequeno, o cirurgião-dentista vai passar a vida toda fazendo

tratamento clínico e com pouco tempo as pessoas retornando para novos tratamentos”.

“Tem que educar para as pessoas saberem que a parte curativa não resolve tudo sozinha, tem que haver a preventiva”.

“Não basta só tratamento curativo, é necessário mudar a mentalidade da população porque só querem extração e acham

bonito o uso de prótese”.Três aspectos podem ser analisados nas citações acima, na primeira, a necessidade da

associação do tratamento curativo com a educação em saúde, para se atingir um controle no

tratamento clínico, isto é, na saúde bucal das pessoas, e evitar o ciclo restaura-recidiva-

restaura, chegando à extração dentária. Na segunda citação, podemos destacar a visão deste

profissional em educar as pessoas, não apenas transmitindo instruções de prevenção

mecânica, mas, o caráter educativo conscientizador da população, mostrando a mesma que a

parte curativa tem que estar aliada à preventiva. E na terceira citação, novamente o

profissional, educando a população para um assunto que vai além de informações mecânicas,

à conscientização da importância dos elementos dentários neste contexto.

Ainda, com relação ao tema da educação em saúde ser fundamental para se atingir a

integralidade, damos destaque à segunda subcategoria citada pelos profissionais, a visão do

todo. Começo destacando que a fragmentação do homem ocorre devido às especializações

notoriamente, em sua maioria, de cunho curativo. A educação em saúde também absorve esta

fragmentação do conhecimento e podemos bem exemplificar que a odontologia criou para si a

educação em saúde bucal. Assim, podemos notar a isenção do cirurgião-dentista em outras

áreas da educação que não seja a que discuta temas de saúde bucal. O odontólogo confinado

em uma parte do corpo, a boca, não age como verdadeiro promotor de saúde. Com isto, vimos

que não há a assimilação do princípio da integralidade e se pode questionar os limites do PSF

em reorientar o modelo assistencial.

Pelas unidades de contexto apresentadas dentro do tema “visão do todo”, percebemos

novamente que os profissionais não conseguem sair da dimensão da boca inserida num corpo

para uma dimensão mais ampla que conforme Costa21, deveria contemplar a saúde bucal como

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parte integrante e inseparável da saúde geral e dependente das condições de alimentação,

moradia, meio ambiente, renda, trabalho, lazer, acesso a serviços de saúde e informação.

Segundo Vasconcelos64, a presença da integralidade nas práticas de saúde se baseia

fundamentalmente no crescimento da capacidade de doentes, famílias, movimentos sociais e

outros setores da sociedade civil em articular, usufruir e reorientar os mais diversos serviços e

saberes disponíveis, de acordo com a realidade e sua necessidade.

Mas, os cirurgiões-dentistas apreendem apenas a dimensão boca-corpo, conforme

expresso nas seguintes falas:

“O cirurgião-dentista com essa nova perspectiva de modelo boca integrada ao corpo”.

“Porque hoje a gente tem que ter uma visão holística do paciente, olhar a pessoa como um todo, a gente não pode ver só a boca e os

dentes”.A quarta categoria citou como objetivo da educação em saúde formar vínculos entre o

profissional e o paciente, melhorando a relação entre ambos, com apenas 3,4% das unidades

de contexto. Este tema é muito discutido pela educação popular em saúde e deve ser visto

como um dos principais aspectos dentro do contexto do PSF. O profissional é colocado para

atuar em uma determinada área e pode assim apreender a realidade da população, conhecer o

seu saber e traçar planos para atuar nesta perspectiva. Para conseguir isto, o profissional

precisa se aproximar da comunidade, participar de movimentos locais e, por fim, quebrar a

visão centralizadora que a população tem dos profissionais da saúde, podendo ser apreendido

como objetivo da educação em saúde:

“Ajudar a acabar com o distanciamento dentista-população”.“Criar o vínculo paciente-dentista”.

3 A respeito do que foi posto em prática no campo da educação em saúde

3.1 Atividades educativas realizadas

Visando conhecer as atividades educativas individuais e em grupos realizadas pelos

cirurgiões-dentistas, foi questionado, aos mesmos, qual a clientela envolvida e atividades

educativas desenvolvidas no programa.

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As respostas geraram categorias e subcategorias apresentadas no quadro 2, as quais

resumem as unidades de contexto das entrevistas, contidas no anexo 8.

Quadro 2 – Categorização e subcategorização das atividades educativas realizadas pelos cirurgiões-dentistas do PSF de Natal/ RN. Natal/ RN, 2006.

Categorias n % Subcategorias n %1. Escolares, pais de escolares e

professores132 24,4 1.1 Atividades coletivas com

escolares119 22

1.2 Atividades coletivas com pais e professores

13 2,4

2. Pessoas que não pertencem a nenhum dos grupos

104 19,3 2.1 Atividades coletivas 8 1,52.2 Visitas domiciliares 20 3,8

2.3 Orientações individuais no consultório

76 14

3. Idosos 101 18,7 3.1Atividades coletivas 50 9,33.2 Visita domiciliar 13 2,4

3.3 Orientações individuais 38 74. Crescimento e desenvolvimento (crianças de 0 a 14 anos e mães)

94 17,4 4.1 Atividades coletivas 27 54.2 Visitas as puerperais e bebês 26 4,8

4.3 Orientações individuais 41 7,65. Gestantes 74 13,7 5.1Atividades coletivas 47 8,7

5.2 Orientações individuais no consultório

27 5

6. Pessoas com dificuldade de locomoção

25 4,6 6.1 Visita domiciliar 25 4,6

6. Outros grupos 10 1,9 7.1 Atividades coletivas 10 1,9Total 540 100 540 100

Na realização destes trabalhos por grupos, os profissionais da saúde bucal, devem

saber que as atividades educativas não podem ocorrer fora do contexto do trabalho

multidisciplinar da equipe de saúde. Assim, os grupos trabalhados pelos cirurgiões-dentistas,

devem ser aqueles já formados por outros profissionais, de forma que se evitem a criação de

grupo específico para saúde bucal por faixa etária, para evitar que ocorram de forma vertical e

isolada da área médica e de enfermagem14.

As atividades educativas realizadas pelos cirurgiões-dentistas se dão a nível coletivo

reunindo esses determinados grupos ou mesmo através de informações individualizadas no

consultório odontológico. Têm-se, também, relatos de atividades educativas nas visitas

domiciliares, onde são realizadas orientações para um determinado indivíduo ou para toda a

família.

As atividades educativas mais citadas pelos profissionais foram com o grupo de

escolares e, isto se deve à herança que existe da odontologia voltada para escolares e também

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à facilidade encontrada por abordar um grupo que já se encontra formado e dentro de um

espaço propício para uma abordagem educativa. As atividades se baseiam em palestras,

escovação supervisionada, apresentação de filmes educativos, teatro ou fantoches, música,

roda de conversa, entre outras. Ainda dentro deste contexto escolar, foram abordadas palestras

com os professores e os pais dos alunos.

A segunda categoria citada foi das atividades educativas com pessoas que não

pertencem a nenhum dos grupos, por eles citados. São exemplos de atividades educativas

desta categoria, as orientações de saúde bucal individuais realizadas nos consultórios, além de

palestras nos corredores para pessoas que estão esperando por atendimento na unidade básica

de saúde e, também, as visitas domiciliares feitas de porta-em-porta a toda comunidade e

rodas de conversas em vilas ou ruas.

A terceira categoria citada foi a do grupo dos idosos, que normalmente é existente na

Unidade Básica de Saúde e conhecida como “Hiperdia”, por participarem deste, pessoas com

hipertensão e/ou diabetes. As ações educativas realizadas com este grupo são atividades

coletivas de palestras, rodas de conversa, teatro, filmes, caminhadas, passeios, entre outras.

Também, há o relato das atividades educativas nas visitas domiciliares, onde se orienta sobre

saúde bucal, inclusive sobre o câncer de boca e relatos de orientações individuais no

consultório odontológico.

A quarta categoria citada foi a do grupo de Crescimento e Desenvolvimento,

conhecido na unidade de saúde como “CD”, ao qual pertencem crianças de 0 a 14 anos e suas

respectivas mães ou cuidadores. São realizadas atividades coletivas com as mães, como roda

de conversas e palestras e com as crianças são realizados teatros e brincadeiras.

A quinta categoria citada foi a do grupo das gestantes, também já formado na unidade

básica de saúde, ao qual o cirurgião-dentista se integra, orientando individualmente cada

futura mãe no consultório odontológico ou coletivamente em palestras, rodas de conversa ou

terapia comunitária.

A sexta categoria citada foi a visita domiciliar, às pessoas com dificuldades de

locomoção, onde são realizadas orientações de saúde bucal.

A sétima categoria citada foi a de atividades coletivas a outros grupos que existam em

cada área específica, como: jovens, detentas, grupo de teatro, entre outros.

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Pela análise das unidades de contexto percebemos que não há uma padronização das

atividades educativas realizadas pelos cirurgiões-dentista, fruto da falta de planejamento das

ações, já abordadas em outros itens.

3.2 Apoios institucionais para a realização das ações educativas

Os cirurgiões-dentistas foram questionados quanto ao apoio de alguma instituição para

o desenvolvimento das atividades educativas, sendo que 44 cirurgiões-dentistas afirmaram

nunca terem tido este tipo de apoio, enquanto que 36 afirmaram já terem tido apoio das

seguintes instituições: ONGs (2), Urbana (empresa de limpeza urbana de Natal) (2), igrejas

(3), instituições filantrópicas (2), colégios particulares (1), drogarias (1), Universidades (13),

conselho comunitário (3), empresa de produtos odontológicos (2), empresa de ônibus (1) ,

clínica privada (1) e escolas estaduais (5), conforme figura 9.

55%

45%Não tiveram apoioinstitucionalTiveram apoioinstitucional

Figura 9 – Apoios institucionais que os cirurgiões-dentistas dispuseram para o desenvolvimento de atividades educativas. Natal/RN, 2006.

3.3 Dificuldades encontradas no desenvolvimento de atividades educativas

Com o objetivo de determinar as dificuldades apresentadas pelos cirurgiões-dentistas

no desenvolvimento de atividades educativas, os sujeitos foram questionados sobre o assunto

e as categorias e subcategorias são demonstradas na figura 10, as quais resumem as unidades

de contexto das entrevistas contidas no anexo 9.

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Figura 10– Categorização e subcategorização das dificuldades apresentadas pelos cirurgiões-dentistas do PSF de Natal/RN para desenvolverem atividades educativas. Natal/RN, 2006.

Ao analisarmos as dificuldades relatadas pelos cirurgiões-dentistas para o

desenvolvimento de atividades educativas, encontramos as seguintes categorias: falta de apoio

institucional (51,4%), problemas com a população (32,6%), lacunas na formação do

cirurgião- dentista (10,3%), alta demanda (3,4%) e processo educativo longo (2,3%).

Em recente estudo com os profissionais atuantes no serviço público de saúde do RN,

Costa24 questionou, os mesmos, quanto as maiores dificuldades encontradas na área de saúde

coletiva e o resultado definiu o mesmo padrão de respostas da nossa pesquisa, onde a falta de

compromisso dos gestores foi a mais citada, sendo em seguida o despreparo/desinteresse dos

profissionais e a valorização do tratamento curativo pelos usuários e gestores.

Segundo L’Abbate39, a educação em saúde deve ser pensada como um campo de

práticas que se dá ao nível das relações sociais normalmente estabelecidas pelos profissionais

de saúde, entre si, com a instituição e, sobretudo com os usuários, no desenvolvimento

cotidiano de suas atividades. Por isso, essa análise das dificuldades no campo da educação

deve ser pensada em torno dos sujeitos participantes, instituição, serviço e mesmo em torno

do próprio processo educativo, onde fundamentamos nossas categorias.

A categoria “falta de apoio institucional” apresentou como subcategorias: falta de

material (28,6%), falta de espaço físico (14,8%), falta de normatização (4%), falta de

incentivos (2,3%) e falta de escovódromo (1,7%).

Problemas com a população

(32,6%)

Lacunas na formação (10,3%)

Alta demanda (3,4%)

Falta material (28,6%)Falta espaço físico (14,8%)Falta normatização (4%)

Falta incentivo (2,3%)Falta escovódromo (1,7%)

Resistência da população (14,9%)Desinteresse na participação (12%)

Condições precárias dos pacientes (5,7%)

Formação inadequada dos cirurgiões-dentistas (10,3%)

Alta demanda (3,4%)

Falta de apoio institucional

(51,4%)

Processo longo (2,3%) Processo demorado (2,3%)

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Neste aspecto, vê-se a necessidade de sensibilizar os gestores para que compreendam a

importância da educação como o grande agente de transformação social e da prevenção como

instrumento que deve ser trabalhado paralelamente ao tratamento curativo24, de modo a

reduzir demandas futuras e os custos das atividades desenvolvidas, vendo a educação como

um processo contínuo, conforme podemos perceber nas falas seguintes:

“Falta de incentivo do próprio governo, pois ele acha que é melhor dá material para o consultório, mas não investe em escovas e

materiais educativos, só em época de campanha”. Os gestores inseridos neste processo também têm que investir mais em material e

espaço físico para as atividades educativas e diminuir a cobrança por produtivismo numérico

na parte clínica. Essa cobrança estimula os profissionais a deixarem de lado as atividades

preventivas-educativas e só ficarem atuando na parte curativa.

A categoria “problemas com a população” apresentou como subcategorias: resistência

da população (14,9%), desinteresse na participação (12%) e condições precárias dos pacientes

(5,7%).

Com relação à resistência da população, os odontólogos relatam a dificuldade em

conduzirem um serviço de saúde mais voltado para o novo paradigma, pois a população cobra

tratamento curativo, o que pode impedir o profissional de fazer as atividades educativas e

preventivas, conforme expresso nos relatos:

“As pessoas ainda não dão importância às atividades educativas, só querem curativas”.

“Querem fazer o tratamento, mas não querem criar responsabilidade”.

“Agentes de saúde prezam pela quantidade de procedimentos, pois a população cobra ficha para a extração”.

No primeiro discurso, o cirurgião-dentista entende que o problema é com a

população, que não dá importância às atividades educativas, mas isso se deve a inserção

recente deste tipo de atividade, de forma contínua, no serviço. O importante é não utilizar a

educação em saúde apenas para repassar normas de higiene e desenvolvimento de atividades

preventivas, mas, usá-la como um instrumento que leve a população a entender o novo

paradigma e a necessidade deste tipo de atividade na transformação da sociedade.

Complementando com o segundo discurso, uma educação que leve as pessoas a serem co-

responsáveis por sua saúde, atores do processo e não apenas sujeitos passivos de um

tratamento odontológico.

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No terceiro discurso, vê-se um problema relacionado à falta de trabalho em equipe. Os

agentes de saúde devem ser formados dentro deste processo, pois eles são o principal elo da

equipe de saúde com a comunidade. Se os agentes de saúde têm essa resistência em aceitar

atividades educativas-preventivas, o que poderemos dizer da população da área onde eles

atuam?

Ainda relacionado aos problemas com a população, na subcategoria “desinteresse da

população”, os profissionais vêem que este problema também se deve ao processo de

educação ter ocorrido há pouco tempo e a comunidade não estar ainda inserida no contexto.

Mas, alguns profissionais tentam incentivar a participação desta população dando algo em

troca, como lanches e brindes. Também, há relatos da utilização de brincadeiras e jogos para

estimular a participação, conforme podemos ver nos discursos:

“Tem que haver um incentivo para que as pessoas participem”.“Tem que estimular muito, utilizar muita brincadeira para não

desviar o foco”.O importante é o profissional ter a disposição de criar, procurar apoios institucionais,

conforme já foi relatado em tópico anterior, procurar dentro da própria comunidade incentivos

para a participação da população, até mesmo inserir as atividades educativas em eventos da

comunidade e nos grupos locais. Para isso, o profissional tem que se inserir no meio da

população conhecendo a sua realidade e utilizar a criatividade em sua tarefa diária. Mas,

muitos profissionais relatam ter dificuldades em desenvolver as atividades educativas devido

ao problema das condições precárias dos pacientes, relacionando-as com a saúde bucal, saúde

geral e qualidade de vida, conforme podemos observar:

“Condições sociais das pessoas que não têm escovas, nem pasta que seria o básico para a prevenção em saúde bucal”.

“A população daqui é pobre, que nem banho toma, nem limpa a casa, a higiene geral não existe”.

“Condições precárias de vida”.L’Abbate39 relacionou a própria situação do usuário, em estado de piora constante

quanto às suas condições de vida, como uma das maiores dificuldades a serem enfrentadas

pelos profissionais no desenvolvimento de atividades com a população.

A categoria “lacunas na formação” apresentou como subcategoria a formação

inadequada dos cirurgiões-dentistas (10,3%). Os profissionais da área da saúde e em especial

os da Odontologia são despreparados para esse trabalho interativo, de comunicação com a

população. Estratégias e conteúdos pedagógicos têm que ser enfatizados durante o período da

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graduação. Os profissionais vêem a necessidade de aprender a trabalhar em grupo e a

melhorar o seu contato com o usuário nos atendimentos mais individualizados. Alguns

discursos demonstram essa lacuna sentida na área pedagógica e a falta de criatividade dos

cirurgiões-dentistas para inovar:

“Não dominar a área psico-pedagógica, os instrumentos pedagógicos, teríamos que ter uma noção de pedagogia para

trabalharmos melhor nessa área”.“Tem que sair de palestras e fazer rodas de conversa, mas o

cirurgião-dentista não está preparado para isto”.É necessário que os profissionais entendam alguns pressupostos a respeito do processo

ensino-aprendizagem, considerando que grande parte do trabalho do profissional de saúde

envolve transmissão de conhecimentos e orientações39. Além disto, deve incorporar também o

modelo dialógico da educação em saúde em suas atividades, pois este, segundo Alves3, está

em coerência com a integralidade da assistência.

Como já foi relatado, os profissionais que estão inseridos no PSF de Natal, têm em

média 23,6 anos de formados. O SUS foi implantado em 1988, há 19 anos e o PSF há 13

anos. Então, os cirurgiões dentistas por nós pesquisados, inseridos no PSF de Natal, não

apresentaram uma formação universitária na área de saúde coletiva, pois esta começou a ser

mais difundida após o surgimento do SUS. Esta situação tem que ser analisada pelos gestores

locais, pois para que os profissionais possam enfrentar estas novas perspectivas do SUS e do

PSF, há necessidade de cursos de formação/atualização neste campo de conhecimento.

E, esta dificuldade é sentida pelos profissionais em seus discursos, quando relatam a

sua formação inadequada:

“Estou decepcionado com a instituição que não capacita os profissionais envolvidos”.

“A gente não tinha essa formação na Universidade”.“A maior parte dos dentistas foi formada para consultório particular,

sentindo dificuldades em fazer a parte de educação em saúde”.Hoje, a atribuição de formar para o PSF é dada à Universidade, pois os estudantes ao

saírem desta e chegando aos serviços devem estar capacitados para desenvolverem as diversas

funções entre elas a de educador.

Mas, enquanto houver cirurgiões-dentistas formados em tempos anteriores a inserção

do PSF, haverá necessidade de serem oferecidos cursos pela Instituição em que o profissional

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trabalha ou mesmo que este profissional seja incentivado a realizar tais cursos em escolas

profissionalizantes.

O que vemos hoje é uma total falta de incentivo por parte das Prefeituras que

empregam os cirurgiões-dentistas no PSF, os profissionais são muito cobrados nos serviços e

não existe tempo para a sua formação continuada dentro do contexto atual. Assim, ficam no

mercado de trabalho, profissionais desatualizados que não respondem às atuais exigências.

Entre estas, segundo Costa23, o profissional deverá diagnosticar, solucionar problemas,

ser capaz de tomar decisões, de intervir no processo de trabalho e trabalhar em equipe, tarefas

que fazem parte das competências e habilidades que o profissional de saúde deverá ter

segundo as diretrizes curriculares dos cursos da área da saúde, aprovadas pela SESU

(Ministério da educação, 2002).

L’Abbate39 ainda acrescenta as dificuldades pelas quais os profissionais passam, além

da carência de recursos técnicos e materiais, a grave crise em relação à sua situação de

trabalho, aí ele incluiu a questão da carreira profissional aqui discutida e também a questão do

nível salarial, que não foi levantada pelos cirurgiões-dentistas nesta entrevista, mas funciona

como um incentivo para a melhora do trabalho.

A quarta categoria relacionada às dificuldades encontradas pelos profissionais no

desenvolvimento de atividades educativas foi a “alta demanda por atendimento curativo”,

onde foi relatada a dificuldade de pôr em prática as atividades educativas. Esta alta demanda

se deve a recente ampliação do acesso da população aos serviços odontológicos. Assim, o não

entendimento do novo paradigma de promoção da saúde gera a grande cobrança, por parte da

população, dos procedimentos clínicos. Até mesmo, os profissionais tentam encontrar

soluções para não parar o atendimento clínico, delegando as atividades educativas ao auxiliar,

conforme podemos ver nos discursos:

“O próprio deslocamento da gente do atendimento clínico para as atividades coletivas, devido à alta demanda”.

“Mas, não deve fazer isso (educação em saúde), porque a carência maior ainda é o curativo, podemos delegar essa função ao auxiliar”.

L´Abbate39 apreende esta dificuldade de se colocar em prática as ações de saúde

coletiva e diz que até agora não se saiu do papel o que foi colocado na constituição de 1988,

então, espera-se algo mais do que a melhor adequação do arcabouço jurídico-político-

institucional da organização dos serviços de saúde na construção do SUS.

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Como quinta categoria, os profissionais reconhecem que uma das dificuldades

encontradas no desenvolvimento de atividades educativas se deve ao processo ser demorado,

sendo os resultados só vistos a longo prazo. Por este estar no início e os profissionais não

terem logo esses resultados, eles podem se desestimularem em realizar tais atividades. Nesse

sentido, Freire33 relata que é próprio do pensar certo a disponibilidade ao risco, a aceitação do

novo que não pode ser negado ou acolhido só porque é novo.

O discurso que segue aborda a consciência do cirurgião-dentista em saber que o

resultado do processo não é imediato:

“Só a longo prazo que a gente vai ter êxito, não é de imediato”.

3.4 Objetivos alcançados e objetivos não alcançados

Segundo Freire33, é tarefa constante do educador, a reflexão crítica em torno de sua

prática. É pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a

próxima prática. Por isso, levamos os cirurgiões-dentistas a pensarem se os objetivos

esperados ao serem desenvolvidas as atividades educativas, estão sendo alcançados. Eles

respondiam sim ou não e o porquê.

Dentro das respostas apresentadas, 34% dos odontólogos, responderam que os

objetivos já podem ser vistos, isto é, já estão sendo alcançados. Enquanto que 66 % disseram

que os objetivos ainda não foram alcançados.

A partir do questionamento, foram relacionadas na figura 11, a categorização e

subcategorização dos objetivos das atividades educativas que já estão sendo alcançados, cujas

unidades de contexto podem ser vistas no anexo 10.

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Figura 11– Categorização e subcategorização dos objetivos das atividades educativas que

estão sendo alcançados, segundo os cirurgiões-dentistas do PSF de Natal/RN. Natal/RN,2006.

Com relação ao tema dos objetivos das atividades educativas que já estão sendo

alcançados, temos como categorias os objetivos relacionados: à população (76,4%), à melhora

da saúde (18%) e aos profissionais (5,6%).

Os profissionais, a partir de uma análise dos objetivos que já foram alcançados, devem

passar a valorizá-los, pois os mesmos, às vezes, parecem pequenos, mas, constituem

importantes avanços no sentido de não se perder o já conseguido e servir de estímulo em prol

de mais conquistas.

Dentro da categoria simbólica dos objetivos relacionados à população, temos que a

população está mais consciente da prevenção (41,6%), está mais co-responsável por sua saúde

(30,5%) e agindo como agente multiplicador (4,2%).

A subcategoria mais citada e apreendida nos discursos dos profissionais foi que a

população está mais consciente da prevenção, como pode ser visto a seguir:

“As pessoas também mudaram a consciência com relação à perda dentária, que está deixando de ser uma coisa natural para elas, passando a ter maior preocupação, elas não querem extração,

querem salvar os dentes”.“Estou notando uma maior conscientização da população da

necessidade de prevenção”.No primeiro discurso, se vê a abordagem dos profissionais notarem que a população

acordou para a questão de prevenir contra a perda dentária e no segundo, o profissional

aborda a prevenção de forma geral.

Melhora na saúde bucal (12,4%)Melhora na saúde geral (5,6%)

Mais consciente da prevenção (41,6%)Co-responsável por sua saúde (30,5%)

Agente multiplicador (4,2%)

A Saúde(18%)

Os profissionais(5,6%)

Atuam em equipe (2,8%)Mais humanizados (2,8%)

A população (76,4%)

Melhora na saúde bucal (12,4%)Melhora na saúde geral (5,6%)

Mais consciente da prevenção (41,6%)Co-responsável por sua saúde (30,5%)

Agente multiplicador (4,2%)

A Saúde(18%)

Os profissionais(5,6%)

Atuam em equipe (2,8%)Mais humanizados (2,8%)

A população (76,4%)

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Como segunda subcategoria mais citada, temos que os pacientes estão mais co-

responsáveis com sua saúde e entendendo a necessidade de sua participação nas atividades

educativas, conforme pode ser visto nos discursos:

“Uma mudança na consciência com relação as atividades educativas, as pessoas já aceitam com melhor facilidade”.

“A responsabilidade é dividida, sendo as pessoas co-responsáveis”.Com relação à segunda categoria, os profissionais vêem uma melhora na saúde bucal

da população (12,4%) e na saúde geral (5,6%), conforme os discursos:

“Nota nos escolares os índices de placa e cárie diminuindo”.“Idosos tem melhorado a auto-estima”.

Na figura 12, podemos observar a categorização e subcategorização das razões pelas

quais os cirurgiões-dentistas percebem que os objetivos das atividades educativas não estão

sendo alcançados, estando demonstradas as unidades de contexto no anexo11.

Segundo Freire31, a análise das falhas contribui para o crescimento e para a construção

de algo melhor. Por isso, é de fundamental importância que os cirurgiões-dentistas façam

sempre essa tarefa de análise das razões pelas quais os objetivos que eles almejam não estão

sendo alcançados.

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Figura 12– Categorização e subcategorização das razões pelas quais os cirurgiões-dentistas do PSF de Natal/RN percebem que os objetivos das atividades educativas não estão sendo alcançados. Natal/RN,2006.

Como razões pelas quais os cirurgiões-dentistas dizem que os objetivos das atividades

educativas não estão sendo alcançados, temos como a categoria mais citada a culpa da

população com 56,5%, depois ao processo ser a longo prazo com 37%, posteriormente, a

culpa da instituição com 16,2% e por último, a culpa dos profissionais com 6,5%.

Essas razões pelas quais os cirurgiões-dentistas percebem que os objetivos das

atividades educativas não estão sendo alcançados, apresentam o mesmo contexto das

dificuldades apresentadas pelos profissionais na realização das atividades educativas, cujo

conteúdo já foi analisado em tópico anterior.

Alguns profissionais, por não conseguirem alcançar os objetivos almejados, desistem

da luta em prol do ideal, mas, Freire33 critica este fatalismo imobilizante, que existe onde, às

vezes pensamos que nada podemos contra a realidade social que, de histórica e cultural, passa

a ser quase natural. Então, diante das dificuldades que já foram vistas nesta pesquisa, devem-

se procurar outros caminhos para conseguir vencê-las. No caso questionado agora, razões

pelas quais os objetivos não conseguem ser alcançados, devemos procurar as causas, tentando

desvendá-las e não ficar parado, convencido de que nada se pode fazer em busca do ideal.

Culpa dos profissionais(6,5%)

Formação inadequada (6,5%)

Culpa da população (56,5%)

Culpa da Instituição(16,2%)

Falta incentivo (6,5%)Falta material (6,5%)

Espaço físico inadequado (3,2%)

Resultados demorados (8%)Atividades recentes (8%)

Dificuldade de avaliação (4,8%)

Característica arredia (14,5%)Dificuldade de se conscientizar (14,5%)

Alta demanda (11,4%)Condições precárias (6,5%)

Dificuldade de mudar hábitos (4,8%)Não assume co-responsabilidade (4,8%)

Processo longo(37%)

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Na categoria “culpa da população” temos as subcategorias: característica arredia

(14,5%), dificuldade de conscientizar a população (14,5%), alta demanda (11,4%), população

com condições precárias (6,5%), dificuldade de mudar hábitos (4,8%) e não assumir co-

responsabilidade (4,8%).

Uma análise pode ser feita quando os cirurgiões-dentistas culpabilizam a população

pelas atividades educativas não alcançarem os objetivos almejados, mas, na verdade devem

ser analisadas criticamente a qualidade destas atividades, se são realmente transformadoras ou

se apenas repassam informações. Devem ser analisados vários fatores, entre estes, o tipo de

linguagem que está sendo usada nestas atividades, se a mesma está sendo compreendida pelos

usuários, ou se está havendo barreira devido a mesma ou devido a distância cultural,ou

preconceito, isto é, deve-se procurar o problema que está afastando a população da captação

da mensagem.

Vasconcelos62 diz que poucos estudos têm sido feitos para se saber como as

mensagens e saberes transmitidos pelos profissionais são entendidos pela população. E,

Guterman35 cita que desde que houve a inserção dos profissionais da saúde trabalhando com o

coletivo em palestras de educação em saúde, nota-se que os usuários não conseguem

compreender as mensagens sobre saúde bucal. E isto, era percebido tanto pela fisionomia

incrédula dos usuários diante das palestras, como pelos resultados negativos durante o

tratamento odontológico.

Na segunda categoria mais citada “processo longo” temos como razões para as

atividades educativas ainda não terem seus objetivos alcançados: os resultados serem

demorados (8%), as atividades serem recentes (8%) e haver dificuldade na avaliação destas

atividades (4,8%).

Como já foi discutido, é importante o profissional ter em mente que o processo tem

resultado a longo prazo, e não desistir de realizar a educação em saúde, por não ver os

resultados logo no início.

Na terceira categoria encontrada “culpa da instituição” temos como razões para as

atividades educativas ainda não terem seus objetivos alcançados: a falta de incentivos (6,5%),

a falta de material (6,5%) e o espaço físico inadequado (3,2%).

Os gestores têm que se inserirem no contexto da saúde, entendendo a importância da

educação em saúde para assim investir e incentivar estas atividades.

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Na quarta categoria encontrada “culpa dos profissionais temos como razão para as

atividades educativas ainda não terem seus objetivos alcançados: a formação inadequada dos

profissionais (6,5%).

Os profissionais que estão no serviço precisam se conscientizar da necessidade de

atualização dentro do campo da educação em saúde para poder atuar como verdadeiro agente

de mudanças.

4. A educação sendo instrumento para a participação popular

4.1 A importância da participação popular nos serviços

Os cirurgiões-dentistas foram questionados, se achavam importante a participação da

população nos serviços. Dois profissionais disseram que não acham importante e que não

deve haver esse espaço, um respondeu que a população não está preparada para isto e o outro

respondeu que tem medo desta participação, pois só vê a participação deles querendo

atendimento curativo.

Os demais, 78 cirurgiões-dentistas, responderam que acham importante a participação

e de acordo com suas respostas foram obtidas as categorias e subcategorias conforme

apresentadas na figura 13, cujas unidades de contexto estão explicitadas no anexo 12.

Figura 13 – Categorização e subcategorização da importância da participação da população nos serviços demonstrada pelos cirurgiões-dentistas do PSF de Natal/RN. Natal/RN,2006.

Profissionais (26,6%)

Parceira dos profissionais (35,5%)Reivindique seus direitos (17,7%)

Entenda a realidade do sistema (12%)Sujeito da ação (5,5%)

Entrosamento com os profissionais (2,7%)

População (73,4%)

Entendam os anseios da população (26,6%)

Profissionais (26,6%)

Parceira dos profissionais (35,5%)Reivindique seus direitos (17,7%)

Entenda a realidade do sistema (12%)Sujeito da ação (5,5%)

Entrosamento com os profissionais (2,7%)

População (73,4%)

Profissionais (26,6%)

Parceira dos profissionais (35,5%)Reivindique seus direitos (17,7%)

Entenda a realidade do sistema (12%)Sujeito da ação (5,5%)

Entrosamento com os profissionais (2,7%)

População (73,4%)

Entendam os anseios da população (26,6%)

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Segundo os cirurgiões-dentistas do PSF, a participação popular nos serviços é

importante para que a população: seja parceira dos profissionais (35,5%), reivindique seus

direitos (17,7%), entenda a realidade do sistema (12%), seja sujeito da ação (5,5%), se entrose

com os profissionais (2,7%) e, também, para que os profissionais entendam os anseios da

população (26,6%).

Os profissionais da saúde devem levar a população a se reconhecer como sujeito

participante do processo educativo, do sistema de saúde de forma geral, atuante, reivindicante,

conhecedora do setor saúde e dos seus direitos como cidadã. Muito ligada a essa noção de

sujeito, está a noção de cidadania e segundo L’Abbate39, os dois conceitos (sujeito e

cidadania) são faces de uma mesma moeda. A cidadania depende das práticas sociais que

ocorrem entre os sujeitos, entre atores sociais em relação. No nosso caso, entre os

profissionais e a população. Se não houver esse relacionamento, haverá apenas uma relação

burocrática entre os profissionais e a clientela, como infelizmente, ocorre em grande parte dos

serviços de saúde.

A população pode ajudar os profissionais, dentro das suas possibilidades, sendo

parceira destes, dando condições para a execução de atividades em saúde:

“Formando uma parceria e uma troca de conhecimentos e prestação de serviços, muitas vezes, para que tudo funcione, sem tanta

dependência da secretaria de saúde que é muito lenta na resolução dos problemas”.

“Fizemos parcerias com a população, compraram rifas e conseguimos comprar as cadeiras para as nossas reuniões”.

“O local de nossa reunião é uma casa de um dos membros da comunidade”.

Há também necessidade da população pressionar o sistema, reivindicando melhores

condições para a execução das ações, como pode ser visto nos discursos que seguem:

“A população apóia e pressiona junto aos conselhos”.“Juntar forças e capacidade para exigir mais da secretaria, do PSF,

para haver resolutividade das ações”. É de fundamental importância a participação da população nos serviços para que ela

conheça a realidade do sistema de saúde:

“Se estamos trabalhando para eles, é importante que entendam a realidade do serviço”.

E também, para que saibam que muitas vezes a culpa do sistema de saúde não está

funcionando, não é dos profissionais:

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“Eles denunciam muito, mas não conhecem as condições do profissional”.

“Quem coloca a culpa no dentista, tem que ver a realidade das coisas”.

E por ser sujeito da ação, ela tem que participar ativamente do serviço de saúde:

“Para mudar a realidade existem vários atores e a população é o principal, se ela participa”.

Além de tudo isto, é importante também a participação da população nos serviços,

para haver uma maior aproximação entre ela e os profissionais de saúde, um melhor

entrosamento, que leva até os serviços a fluírem de forma mais harmônica e com mais

resolutividade, segundo o discurso:

“Com isso tira o pedestal de doutor dos profissionais de saúde”.Mas, também, para se conseguir reorientar esta prática, o profissional precisa entender

a realidade da população, conscientizá-la dos problemas em que está envolvida e estimulá-la a

reivindicar em favor dos mesmos. O processo educativo vai muito além da parte pedagógica

de repasse das informações, como se faz ainda hoje.

A busca pela saúde e a superação do adoecer, depende justamente da participação da

população, se envolvendo nas estratégias de enfrentamento que sejam de acordo com sua

realidade, mas, que estejam comprovadas cientificamente. São necessárias novas formas de

abordagem para haver a troca de saberes entre os profissionais da área da saúde e a população,

a fim de que sejam detectados os problemas e se consigam sua resolução62.

Os discursos dos profissionais abordam este aspecto:

“Porque ao ouvir a comunidade, você detecta mais facilmente suas necessidades”.

“Você às vezes acha que está dando algo de importante para a população, mas pode não ser o que ela quer”.

“É importante, para que os cirurgiões-dentistas e demais profissionais da saúde conheçam melhor a realidade de cada área”.“Para se conhecer as dificuldades da população e saber então como

trabalhar com a mesma diante da sua realidade”.

.

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4.2 O cirurgião-dentista orientando a população através da educação para a participação popular

Os cirurgiões-dentistas que responderam positivamente ao questionamento: Você acha

importante a participação da população nos serviços? (n=78), foram perguntados se achavam

que através da educação em saúde se pode orientar a população para tal participação. Todos

os dentistas responderam positivamente e foram então questionados de como seria a

orientação a ser dada. As respostas dos sujeitos entrevistados geraram categorias e

subcategorias que se encontram na figura 14 e as unidades de contexto das entrevistas

encontram-se no anexo 13.

Figura 14 – Categorização e subcategorização da forma que os cirurgiões-dentistas podem orientar a população para a participação popular no SUS. Natal/RN,2006.

Segundo os cirurgiões-dentistas do PSF, a população pode através da educação em

saúde ser orientada pelos profissionais de saúde para a participação popular, mas, para isso

eles precisam despertar na população a necessidade da sua co-participação (22,2%), da busca

por seus direitos (9,9%) e da participação no conselho comunitário (3,8%). Além de também,

criar espaços para que a população exponha as suas necessidades (5,4%) e conheça os

serviços de saúde (3,8%). Os dentistas abordam que podem fazer isso utilizando ações

coletivas (38,1%) ou ações individuais (16,8%).

Criando espaços para a população (9,2%)

Expor as suas necessidades (5,4%)Conhecer o serviço de saúde (3,8%)

Ações coletivas (38,1%)Ações individuais (16,8%)

Usando como abordagem (54,9%)

A co-participação (22,2%)A busca por seus direitos (9,9%)

Participação no conselho comunitário (3,8%)

Despertando na população (35,9%)

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Freire33 relata que através das atividades educativas, fazemos uma leitura crítica das

verdadeiras causas da degradação humana e apresenta a compreensão da educação enquanto

dimensão social da formação humana e não com potencial apenas pedagógico.

Dentro da necessidade de mudança no sistema de saúde brasileiro, devemos fazer da

educação um instrumento formador de sujeitos conscientes e responsáveis socialmente. E

segundo Brasil13, a educação em saúde deve tornar-se um dos instrumentos de formação para

uma nova cultura política de participação popular e de exercício da cidadania, visando superar

as desigualdades econômicas e sociais existentes que restringem a melhoria dos padrões de

saúde em nosso país. Então, deve-se lutar pela qualificação dos processos educativos como

meios de fortalecimento do controle social do SUS.

Segundo Vasconcelos64, muitos locais, que se voltam para o movimento da educação

popular e para a luta dos movimentos sociais visando mudar a atenção à saúde, rompem com

as relações distantes entre profissionais e usuários, havendo uma população mais

participativa, quebrando aquela tradição autoritária e dominante do pessoal da saúde.

Os cirurgiões-dentistas abordam alguns destes aspectos não englobando o contexto

geral da educação em saúde formadora de uma população cidadã. Vamos entender o que foi

relatado pelos profissionais.

A necessidade da co-participação da população foi um aspecto abordado pelos

profissionais ao longo da entrevista e já discutido em outros momentos do nosso trabalho.

Eles determinaram que um dos objetivos da educação em saúde seria conscientizar a

população para a co-responsabilidade, alguns consideram como um dos objetivos alcançados

a questão de notarem que a população está mais participante e neste momento eles fecham o

tema da participação popular, dizendo novamente que os profissionais podem, através da

educação em saúde, despertar na população a necessidade da sua co-participação:

“Ser um ator social influente”“Conscientizar que ele é importante e faz parte do programa”

A educação em saúde sendo um suporte para que os profissionais incentivem e

despertem a população para a reivindicação dos seus direitos, pode ser vista nos discursos que

seguem:

“Despertar os direitos e a questão da cidadania”.“Os cirurgiões-dentistas podem orientar a população, pois essa não sabe muitas vezes os seus direitos e por onde seguir para consegui-

los”.

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“Conscientizando da importância do cuidado com a saúde, dos direitos de reivindicar melhorias sanitárias, de moradia e educação”.

Além disto os cirurgiões-dentistas viram que através da educação em saúde se pode

despertar na população a sua participação em conselhos comunitários:

“Orientando para que a população faça parte do conselho comunitário”.

Segundo os profissionais, além de despertar na população essa questão reivindicatória,

é necessário que se criem espaços para que a população exponha as suas necessidades e

também para que ela conheça o serviço de saúde:

“Criando um espaço para reuniões e para a comunidade expor seus problemas”.

“Pedindo opiniões aos pacientes de como deve ser o serviço prestado”.

“Explicando nosso atendimento, dificuldades e empecilhos”.Fechando esse aspecto, os profissionais relatam que podem ser utilizadas abordagens

individuais ou coletivas com a comunidade.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

As atividades realizadas pelos cirurgiões-dentistas do PSF de Natal-RN são agrupadas

em atendimento curativo e preventivo/educativo individual, reuniões educativas/palestras em

grupos organizados, visitas domiciliares e reuniões/planejamento com a equipe do PSF.

Quando analisamos especificamente as atividades educativas realizadas, percebemos que há

uma falta de planejamento entre os profissionais da área odontológica de forma a se

padronizar estas ações.

Apesar de 37,5% dos profissionais relatarem ter especialização em Saúde Coletiva, as

maiores dificuldades abordadas pelos odontólogos no desenvolvimento de suas atividades,

foram nesta área, especificamente na área de preventiva e educação em saúde e também na

área de PSF, onde eles abordam que apesar de estarem inseridos no programa, não apresentam

conhecimentos sobre a filosofia do mesmo. Especificamente na área de Educação em Saúde,

por razões decorrentes de sua formação profissional, 28% dos profissionais relatam ter

dificuldades nesta área.

Mas, os profissionais relatam que as maiores dificuldades no desenvolver da educação

em saúde se devem à falta de apoio da Secretaria Municipal de Saúde e a problemas com a

população, como a sua resistência e desinteresse em participar destas ações. Os profissionais

podem superar as dificuldades da falta de apoio da SMS, buscando parcerias com outras

instituições, mas, menos da metade dos dentistas (45%) procuraram este tipo de colaboração.

A partir das percepções dos entrevistados a respeito da temática educação em saúde,

vimos que há um consenso entre o grupo, ligado a história coletiva do mesmo em relacionar

educação como tendo a função de apenas repassar à população noções de prevenção. Um

outro ponto interessante foi a percepção por parte de alguns profissionais de temas atuais

como cidadania, motivação e qualidade de vida, dentro do discurso da educação em saúde.

Quando analisamos os objetivos almejados pelos profissionais percebemos a visão

limitada dos mesmos no campo da educação em saúde. A principal função da educação em

saúde apreendida no discurso dos profissionais foi a modificação de hábitos e

comportamentos considerados inadequados, onde os profissionais demonstram uma visão

flexneriana, pois não se apreende além deste processo. Também, percebemos que com a

educação em saúde, eles têm o objetivo de alcançar a integralidade e esta não é vista em seu

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aspecto amplo. A visão da integralidade apreendida pelos profissionais é restrita ao olhar

sobre a cavidade bucal inserida em um organismo.

Apesar das dificuldades encontradas, já existem relatos de objetivos alcançados, como

a melhora na saúde da população e isto se deve a população estar mais consciente da

necessidade da prevenção e da sua co-responsabilidade neste sentido, além dos profissionais

estarem atuando mais em equipe e mais humanizados.

A maioria dos profissionais entrevistados (97,5%) acha importante a participação da

população nos serviços de saúde, pois esta deve estabelecer parceria com os profissionais, se

entrosando melhor com os mesmos e com a realidade dos serviços para poder reivindicar seus

direitos, pois ela é o principal ator deste processo. Com a participação da população, o

profissional poderá entender melhor a sua realidade e atuar de forma mais adequada em seus

problemas.

Os cirurgiões-dentistas relataram que podem através da educação em saúde orientar a

população para a participação popular, despertando nela a necessidade da sua co-participação

e da necessidade desta buscar os seus direitos. Isto poderá ser feito através da criação de

espaços para que a população conheça os serviços de saúde e exponha as suas necessidades.

É necessário que a Secretaria Municipal de Saúde, enquanto gestora, estimule a

capacitação desses profissionais na área de educação, com cursos de atualização e educação

continuada para implementar ações realmente ligadas à promoção de saúde.

Enfim, o profissional educador em saúde tem que atuar como um facilitador, formando

uma população participante e capaz de analisar criticamente a sua condição de vida para

assim, poder transformar a realidade existente. Além disto, ele deve ajudar a conscientizar

esses sujeitos para que os mesmos exerçam a cidadania, pois através das práticas educativas, o

profissional pode orientar a população sobre os seus direitos e sua condição de reivindicá-los

para a melhoria da qualidade de vida.

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63 Vasconcelos EM. Educação popular e a atenção à saúde da família. São Paulo: HUCITEC; 2001.

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64 Vasconcelos EM. Educação popular: de uma prática alternativa a uma estratégia de gestão participativa das políticas de saúde. PHYSIS: Rev. Saúde Coletiva 2004; 14(1):67- 83.

65 Vilela EM, Mendes IJM. Interdisciplinaridade e saúde: estudo bibliográfico. Rev. Latino-Am. Enfermagem [Periódico da Internet] [acesso em 2005 Mar]. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104

66 Weyne SC. A construção do paradigma de promoção de saúde – um desafio para as novas gerações. In: Kriger L. Promoção de Saúde Bucal. 2 ed. São Paulo: Artes Médicas;1999. p.1-26.

67 World Health Organization. The Otawa charter for Health promotion. Health promotion. Genebra: World Health Organization; 1986.

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ANEXOS

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ANEXO 1

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Atuação dos Cirurgiões-dentistas como educadores em saúde no

Programa Saúde da Família de Natal – RN

Unidade de saúde:________________ Distrito:__________________________

Data de nascimento:___________ Ano de formatura: ___________________

Possui pós-graduação: SIM ( ) NÃO ( ). Área__________________________

Há quanto tempo trabalha no serviço público? __________________________

Há quanto tempo é dentista do PSF?__________________________________

TESTE DE ASSOCIAÇÃO LIVRE DE PALAVRAS:

Diga 3 palavras que vêm a sua cabeça quando eu falo a expressão:

EDUCAÇÃO EM SAÚDE

______________________________

______________________________

______________________________

Marcar com um sinal (+) a palavra que achar mais importante e com um sinal (-) a

palavra que achar menos importante.

ENTREVISTA:

1 – Quais atividades você desempenha na sua equipe de PSF?

( ) Atendimento curativo individual

( ) Atendimento preventivo-educativo individual

( ) Reuniões educativas, Palestras.

( ) Atividades em grupos organizados (gestantes, diabéticos, hipertensos, idosos )

( ) Visitas domiciliares

( ) Reuniões/ Planejamento com a equipe do PSF

( ) Outras (especificar): _______________________________________________

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2- Você vê a necessidade de cursos introdutórios para cirurgiões-dentistas que

ingressaram no PSF? Quais temas seriam os mais necessários?

( ) Sim

( ) Não

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

3- Por que a Educação em Saúde deve estar incluída como uma das atividades

realizadas pelo cirurgião-dentista no PSF?

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

4- Como foi sua formação no que diz respeito a atuação do cirurgião dentista

como educador de saúde?

A - ( ) Não tive nenhuma formação com relação ao tema e não desenvolvo essas

atividades em meu trabalho.

B- ( ) Não tive nenhuma formação com relação ao tema na graduação, mas tento

estudar e pesquisar a respeito para desenvolver em meu trabalho.

C- ( ) Tive aulas apenas na graduação sobre o tema, mas hoje sinto dificuldades

em realizar atividades educativas.

D- ( ) Tive aulas apenas na graduação sobre o tema e hoje me sinto capaz de

realizar uma educação em saúde de acordo com os princípios e diretrizes do SUS.

E- ( ) Tive contato com a temática em cursos de formação ou cursos de pós

graduação e não me sinto capaz de realizar uma educação em saúde de acordo

com os princípios e diretrizes do SUS.

F- ( ) Tive contato com a temática em cursos de formação ou cursos de pós

graduação e me sinto capaz de realizar uma educação em saúde de acordo com

os princípios e diretrizes do SUS.

G- ( ) Outra: ______________________________________________________

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5-Já desenvolveu alguma atividade educativa para a população de sua área de

atuação?

( ) Sim. Se sim, responder questões 6, 7,8,9,10.

( ) Não. Se não, porque nunca desenvolveu?

___________________________________________________________________

6- Qual a clientela envolvida e atividades educativas desenvolvidas:

Clientela Atividades educativas

7 – Quais os objetivos esperados ao serem desenvolvidas as atividades educativas?

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

8- Você acha que os objetivos estão sendo alcançados?

( ) Sim ( ) Não Por que?

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

___

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9- Quais as dificuldades mais encontradas no desenvolvimento de atividades

educativas?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

________________________

10- Já contou com a parceria de alguma instituição?

( ) Sim Qual (is)?______________________ ( ) Não.

11- Você acha importante a participação da população nos serviços?

( ) Sim ( ) Não Por que? ( Se sim, responder também a questão 12)

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

___________________________________________________________________

12- Você acha que o cirurgião-dentista pode através da educação em saúde orientar

a população para esta participação? ( ) Sim ( ) Não. Se sim, como seria essa

orientação?

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

_______________ ____________________________________________________

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ANEXO 2

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ANEXO 3

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Universidade Federal do Rio Grande do NorteCentro de Ciências da Saúde

Programa de Pós-Graduação em Odontologia

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

“Atuação dos Cirurgiões-dentistas como Educadores em Saúde no Programa Saúde da Família de Natal- RN”

OBJETIVO

Obrigado (a) pela sua participação como voluntário(a) em nossa pesquisa. O nosso

objetivo é estudar como trabalha o Cirurgião-dentista do Programa Saúde da Família nas

áreas de educação e prevenção em saúde bucal, assim como avaliar o grau de importância

dado pelo Cirurgião-dentista do PSF à educação em saúde bucal. Com isto serão obtidas

informações para poder se produzir novos conhecimentos e o desenvolvimento de novas

práticas que ajudem na construção e consolidação do PSF como estratégia de reorganização

da atenção básica do Sistema Único de Saúde.

PROCEDIMENTOS

Procedimentos a serem realizados para aqueles que concordarem em participar do projeto:Entrevistas sobre informações gerais dos cirurgiões-dentistas, questões relacionadas ao tema educação em saúde e um teste de associação livre de palavras (TALP).

CONFIDENCIALIDADE DO ESTUDO

O registro da participação neste estudo será mantido em sigilo. Nós guardaremos os registros de cada indivíduo e somente os pesquisadores trabalhando na equipe terão acesso a estas informações. Se qualquer relatório ou publicação resultar deste trabalho, a identificação do cirurgião-dentista não será revelada.

DANO ADVINDO DA PESQUISA Não se espera que você tenha problema algum em conseqüência da realização das atividades de pesquisa, porque estes não oferecem risco ou desconforto considerando-se que os dados serão obtidos através de uma entrevista e nenhum exame clínico será realizado.

PARTICIPAÇÃO VOLUNTÁRIA

Toda participação é espontânea e voluntária. Você não receberá nenhum pagamento por isto, mas, poderá ser ressarcido de alguma despesa oriunda dessa pesquisa. Entretanto, não há

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penalidade para alguém que decida não participar deste estudo. Ninguém também será penalizado se decidir desistir de participar do estudo em qualquer momento da pesquisa, mesmo já tendo assinado este termo.

PERGUNTAS

Qualquer dúvida ou esclarecimento poderão contactar a Mestranda Maria Juliêta Medeiros Fernandes no telefone: (84) 88285826 ou ainda no e-mail: [email protected], a orientadora Dra. Íris do Céu Clara Costa no telefone: (84) 3215-4133 no Departamento de Odontologia da UFRN e o Comitê de Ética em Pesquisa da UFRN no telefone (84) 3215-3135.

CONSENTIMENTO PARA PARTICIPAÇÃO

Declaro que após ter lido e entendido o conteúdo deste termo de Consentimento Livre e Esclarecido, estou de acordo com a participação no estudo descrito acima.

Autorizo também a publicação do referido trabalho, de forma escrita, podendo utilizar depoimentos. Concedo também o direito de retenção e uso para quaisquer fins de ensino e divulgação em jornais e/ou revistas científicas do país e do estrangeiro, desde que mantido o sigilo sobre minha identidade. Estou ciente que nada tenho a exigir a título de ressarcimento ou indenização pela minha participação na pesquisa.

Foram garantidos esclarecimentos que venhamos a solicitar durante o curso da pesquisa e o direito de desistir da participação em qualquer momento, sem que nossa desistência implique em qualquer prejuízo a minha pessoa.

A nossa participação na pesquisa não implicará em custos ou prejuízos adicionais, sejam esses custos ou prejuízos de caráter econômico, social, psicológico ou moral, sendo garantido o anonimato e o sigilo dos dados referentes a nossa identificação.

Nome do indivíduo (letra de forma): _________________________________________________________________

_____________________________________________________Assinatura

COMPROMISSO DO INVESTIGADOR

Eu discuti as questões acima apresentadas com os indivíduos participantes no estudo ou com o seu representante legalmente autorizado. É minha opinião que o indivíduo entende os riscos, benefícios e obrigações relacionadas a este projeto.

_____________________________________________________________ Assinatura do Pesquisador Data: ___/__/____

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ANEXO 4

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ANEXO 5

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Distribuição das equipes de saúde bucal existentes no município de Natal por unidades básicas de saúde e doscirurgiões dentistas entrevistados. Natal, RN/ 2006

Distrito sanitario

UBS Número de equipes de saúde bucal

Número de cirurgiões dentistas entrevistados

Norte África 2 2Norte Cidade Praia 2 2Norte Gramoré 4 3Norte Igapó 3 3Norte José Sarney 2 2Norte Nordelândia 2 2Norte Nova Natal 6 6Norte Panatis 4 3Norte Parque das Dunas 3 1Norte Parque dos Coqueiros 4 4Norte Pompéia 2 2Norte Planície das

Mangueiras

3 3

Norte Potengi 4 4Norte Redinha 2 2Norte Santa Catarina 4 2Norte Santarém 4 4Norte Soledade 4 3Norte Vista Verde 4 4Leste Guarita 2 2Leste Passo da Pátria 2 1Leste Rocas 4 4Oeste Felipe Camarão 8 8Oeste Cidade Nova 2 2Oeste Nova Cidade 2 2Oeste Bairro Nordeste 2 2Oeste Bom Pastor 2 0Oeste Monte Líbano 3 2Oeste Guarapes 2 2Oeste Km 06 3 3Total 91 80

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