a educação da criança segundo a ciência espiritual

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  • 8/14/2019 A Educao da Criana Segundo a Cincia Espiritual

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    Rudolf Steiner

    A educao da CRIANAsegundo a Cincia Espiritual

    Traduo deRudolf Lanz

    O contedo destas consideraes foi apresentado por mim sob forma de palestra proferidaem vrios lugares da Alemanha. Tendo-se expressado de muitos lados o desejo de v-lo publicado,apresento-o aqui refundido como trabalho escrito.

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    observao da natureza oculta do ser humano em geral.O que a observao sensria descobre no homem, e a concepo materialista considera o nico

    aspecto vlido em sua natureza, constitui para a pesquisa espiritual apenas uma parte, um membroda entidade humana, ou seja, seu corpo fsico. Este est sujeito s mesmas leis da vida fsica,compondo-se das mesmas substncias e foras que formam o resto do mundo chamado inorgnico.A Cincia Espiritual diz, portanto: o homem possui esse corpo fsico em comum com todo o chama-do reino mineral; e denomina corpo fsico no homem apenas o que produz a mistura, a combinao,a estrutura e a dissoluo das mesmas substncias, segundo as mesmas leis atuantes no mundomineral.

    Acima desse corpo fsico, a Cincia Espiritual reconhece ainda uma segunda entidade nohomem: o corpo vital ou etrico. Que os fsicos no estranhem a denominao corpo etrico.ter significa aqui algo diferente do ter hipottico da Fsica. Tome-se o termo simplesmentecomo denominao para o que ser descrito a seguir.

    Falar em tal corpo etrico foi considerado, h algum tempo, indcio de uma mentalidadealtamente desprovida de esprito cientfico. Entretanto, isso no ocorria no fim do sculo XVIII e naprimeira metade do sculo XIX. Nessa poca se dizia no ser possvel que as substncias e forasatuantes num mineral pudessem transform-lo espontaneamente num ser vivo. Este deveria conteruma fora especial chamada fora vital. Era opinio corrente que tal fora atua na planta, noanimal e no corpo do homem, provocando as manifestaes da vida da mesma forma como a foramagntica provoca a atrao no m. A poca subseqente, a do materialismo, afastou tais idias.

    Os cientistas passaram a dizer que um ser vivo se estrutura exatamente como o faz um ser ditoinanimado; que as foras reinantes no organismo so as mesmas que atuam no mineral - apenas demaneira mais complicada, pois formam uma estrutura complexa. Atualmente, s os materialistasmais obstinados persistem na negao desta fora vital. Os fatos ensinaram a muitos cientistasque se deve admitir algo como uma fora ou princpio vital.

    A cincia moderna aproxima-se, assim, do que a Cincia Espiritual afirma a respeito do corpovital. Contudo, h entre ambas uma considervel diferena. A cincia atual chega a postular umaespcie de fora vital mediante um raciocnio baseado em fatos constatados pela observaosensorial. Este, porm, no o caminho para uma genuna pesquisa, ponto de partida da CinciaEspiritual e origem dos resultados que esta divulga.

    Nunca se insistir o bastante sobre essa diferena entre a Cincia Espiritual e a cinciacorrente em nossa poca. Esta ltima considera a experincia sensorial como base de todoconhecimento, julgando incognoscvel tudo o que no se fundamente em tal base. Ela tira suas

    concluses e dedues das impresses sensoriais, declinando tudo o que estas transcendem, sob aalegao de que ultrapassaria os limites do conhecimento humano. Para a Cincia Espiritual,semelhante atitude se iguala de um cego que s quisesse admitir o que pudesse ser apalpado oudeduzido logicamente de sensaes tteis, rejeitando como transcendentes capacidade cognitivahumana os relatos de um indivduo dotado de viso. Com efeito, a Cincia Espiritual mostra que ohomem suscetvel de evoluir e adquirir o conhecimento de novos mundos pelo desenvolvimentode novos rgos. Assim como o cego, embora se encontre no meio de cores e de luz, no as podeperceber por falta de um rgo adequado, a Cincia Espiritual ensina que existem muitos mundosao redor do homem, e que este poder perceb-los se, para tal, desenvolver os rgos necessrios.Tal como o cego vislumbra um novo mundo depois de operado, o homem pode conhecer, pelodesenvolvimento de rgos superiores, mundos bem diferentes do que lhe revelam os sentidoscomuns. da condio dos rgos de um cego que depende a possibilidade de uma operao;porm os rgos que permitem ao homem penetrar em mundos superiores existem de formarudimentar em qualquer ser humano. Poder desenvolv-los toda pessoa que possua pacincia,

    perseverana e energia para aplicar em si mesma os mtodos descritos em meus artigos da srie Oconhecimento dos mundos superiores (A iniciao).2 Assim, a Cincia Espiritual no fala de limitescognitivos impostos ao homem por sua constituio; diz, antes, que para o ser humano existemaqueles mundos para cuja percepo ele possui os rgos apropriados.

    Portanto, essa a sua atitude tambm em relao investigao do corpo vital ou etrico, ede tudo o que ainda ser exposto neste livro a respeito de membros superiores da naturezahumana. A Cincia Espiritual reconhece que a pesquisa feita pelos sentidos fsicos s pode alcanaro corpo fsico, e que tal pesquisa pode, no mximo, admitir a existncia de outro, superior, pormeio de concluses. Mas informa como abrir acesso a um mundo em que os membros superiores daentidade humana se manifestam da mesma forma como as cores e a luminosidade dos objetos aocego nato recm-operado. Para os que desenvolveram seus rgos superiores de percepo, o corpoetrico ou vital um objeto de observao, e no apenas de raciocnio e concluso.

    Esse corpo etrico ou vital o homem tem em comum com as plantas e os animais. Graas sua

    atuao, as substncias e foras do corpo fsico redundam nos fenmenos do crescimento, dareproduo, do fluxo dos humores, etc. O corpo etrico , pois, construtor e piasmador do corpofsico, seu habitante e arquiteto. Por isso lcito considerar o corpo fsico uma imagem ou

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    expresso do corpo vital. Ambos apresentam, no homem, tamanho e forma aproximados nuncaexatamente iguais , enquanto nos animais e, mais ainda, nas plantas, o corpo etrico sediferencia consideravelmente do fsico quanto a forma e dimenso.

    O terceiro membro da entidade humana o chamado corpo das sensaes ou astral: oportador de dores e prazeres, instintos, apetites, paixes, etc. Um ser composto s dos corposfsico e etrico no possui essas manifestaes psquicas que poderamos reunir sob o termosensibilidade. A planta no a possui. Se, do fato de certas plantas responderem por movimentosou de outra maneira a impulsos exteriores, alguns cientistas conclussem que as plantas possuemuma certa capacidade sensvel, isso apenas revelaria sua ignorncia quanto essncia da sensao.O que importa no a resposta dada a uma excitao exterior, e sim sua reflexo por meio de umprocesso interior, como alegria ou dor, instinto, cobia, etc. No fora assim, poder-se-ia dizer, comrazo, que o papel de tornassol azul teria uma sensibilidade para certas substncias, motivo peloqual sua cor passa a vermelho em contato com elas .3

    O corpo das sensaes, veculo da vida sentimental, o homem a compartilha apenas com osanimais.

    No se deve incorrer no erro de certos crculos teosficos, imaginando serem os corpos etricoe astral compostos meramente por substncias mais sutis do que as existentes no corpo fsico. Issosignificaria materializar esses membros superiores da natureza humana. O corpo etrico umaestrutura energtica composta de foras atuantes, e no de matria; o corpo astral ou dassensaes uma formao constituda por imagens dinmicas, coloridas e luminosas.4

    Diferente do corpo fsico pela forma e pelo tamanho, o corpo astral apresenta no homem aforma de um ovo alongado, contendo os corpos fsico e etrico e ultrapassando-os, de todos oslados, como uma formao luminosa.

    O homem possui ainda um quarto membro de sua entidade, o qual ele no compartilha comqualquer ser terrestre. Trata-se do portador do eu humano. A palavrinha eu, tal como usadana lngua alem*, um nome diferente de todos os outros. Quem se pe a refletir de maneiracorreta sobre esse nome abre a via de acesso natureza humana. Qualquer outro nome pode serempregado por todos os homens para designar o objeto que lhe corresponde. Qualquer indivduopode chamar a mesa de mesa, a cadeira de cadeira. Tal no o caso do nome eu. Ningumpode us-lo para designar outrem. Cada um pode chamar eu somente a si mesmo. Nunca a palavraeu pode chegar ao meu ouvido para designar a mim. Ao designar-se como eu o homem d, em seuntimo, um nome a si prprio. Um ente capaz de dizer eu de si prprio constitui um mundo por si.Isso foi sempre sentido pelas religies baseadas na Cincia Espiritual. Por isso elas diziam o seguin-

    te: com o eu, a divindade que se manifesta em seres inferiores, nos fenmenos do mundoexterior, comea a falar no mago do homem. O veculo dessa qualidade o corpo do eu a, o quartomembro da entidade humana.5

    Esse corpo do eu o portador da alma humana superior. Graas a ele, o homem ocoroamento da Criao terrestre. Contudo, no homem atual o eu no , de maneira alguma, umaentidade simples. Pode-se reconhecer sua natureza comparando indivduos que se encontrem emvrios nveis de desenvolvimento. Basta considerar um selvagem inculto e um cidado mdioeuropeu, comparando este, por sua vez, com um idealista muito evoludo. Todos eles tmcapacidade para dizer eu de si prprios, j que o corpo do eu existe em todos. Mas o selvagemsegue suas paixes, seus desejos e instintos quase como um animal; o homem mais evoludo decide,diante de determinadas inclinaes e cobias, ceder a algumas, recalcando e reprimindo outras. Oidealista acrescentou s paixes e inclinaes originais outras mais elevadas. Tudo isso se deu poruma atuao do eu sobre os demais membros da entidade humana. Com efeito, a tarefa do eu purificar e aperfeioar esses outros membros.

    Assim, na pessoa que se elevou acima do estado onde o mundo exterior a colocou, os membrosinferiores so, sob a influncia do eu, ora mais, ora menos transformados. No momento em que ohomem se eleva pela primeira vez acima do estado animal graas primeira manifestao do eu,ele ainda se assemelha ao animal quanto aos membros inferiores. Seu corpo etrico ou vital apenas o instrumento das foras formadoras vitais, do crescimento e da reproduo. Seu corpoastral limita-se a exprimir os impulsos, apetites e paixes solicitados pela natureza exterior.Enquanto o homem, a partir desse nvel evolutivo, atravessa as vidas ou encarnaes consecutivasascendendo a um desenvolvimento sempre mais elevado, o eu transforma os demais membros. Ocorpo das sensaes passa a ser o veculo de sentimentos sutis de prazer e desprazer, de desejos eapetites mais refinados. Tambm o corpo etrico ou vital se transforma, tornando-se suporte doshbitos, das inclinaes duradouras, do temperamento e da memria. Um indivduo cujo eu aindano chegou a plasmar seu corpo vital no tem lembrana alguma das experincias que fez. D livrecurso sua vitalidade tal como a natureza a implantou nele.

    Toda evoluo da cultura exprime-se em tal efeito do eu humano sobre os membros inferiores.a Designado normalmente pelo Autor como eu. (N.T.)

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    Essa atuao atinge at o corpo fsico: sob a influncia do eu transformam-se a fisionomia, osgestos e movimentos enfim, todo o aspecto do corpo fsico.

    Pode-se tambm distinguir como os diversos meios de cultura e educao atuamdiferentemente sobre os membros da entidade humana. Os fatores culturais comuns atuam sobre ocorpo das sensaes, trazendo-lhe tipos de prazer e desprazer, de impulsos, etc. diferentes dos queele inicialmente possua. A contemplao de obras de arte atua sobre o corpo etrico, pois ohomem o transforma quando se lhe revela, por intermdio da obra de arte, algo superior e maisnobre do que o proporcionado pelo ambiente sensrio. Outro meio potente para purificar eaperfeioar o corpo etrico a religio, cujos impulsos tm, portanto, uma misso grandiosa naevoluo da humanidade.

    O que se denomina conscinciaanada mais seno o resultado da atuao do eu sobre o corpoetrico atravs de uma srie de encarnaes. A conscincia nasce quando o homem se convence deno dever cometer este ou aquele ato, recebendo desse entendimento uma impresso to forte quea transmite at ao corpo etrico.

    Essa atuao do eu sobre os membros inferiores pode ser ou mais prpria de todo o gnerohumano ou totalmente individual, constituindo um desempenho do eu particular sobre si prprio.Toda a espcie humana colabora, de certa forma, numa transformao do primeiro tipo, enquantoa segunda repousa na atividade individual do eu. Quando o eu adquire bastante fora para, apenaspor seu prprio vigor, transformar o corpo das sensaes ou astral, o resultado dessa atuao chamado personalidade espiritual (ou, na terminologia oriental, manas). Tal transformao

    consiste essencialmente num aprendizado, num enriquecimento da alma com idias e conceitosmais elevados.Em sua atuao ntima sobe a natureza humana, o eu pode atingir um grau ainda mais elevado.

    Isso se d quando a transformao no atinge apenas o corpo astral. Em sua vida, o homem aprendemuitas coisas; e em qualquer ocasio em que contemplar sua vida passada, saber que aprendeumuito; mas s em escala muito menor poder falar de uma transformao do temperamento, docarter, de um aperfeioamento ou de uma deteriorao da memria, ocorridos durante sua vida.Aprender uma faculdade do corpo astral; as transformaes ora mencionadas, porm, referem-seao corpo etrico ou vital. Usando uma imagem assaz persuasiva podemos, pois, comparar astransformaes do corpo astral durante uma vida humana com o andamento do ponteiro grande deum relgio, enquanto as do corpo etrico corresponderiam ao movimento do ponteiro pequeno, queindica horas.

    Quando o homem se submete a um treino superior ou a uma educao denominada oculta,

    cabe-lhe obter essa ltima transformao com as foras mais genunas do eu. Ele deve trabalharnessa transformao de hbitos, temperamento, carter, memria, etc. com um esforo conscientee individual. A medida que remodela o corpo etrico ele o transforma, segundo a terminologia daCincia Espiritual, em esprito vital (ou buddhi, segundo a nomenclatura oriental).

    Num nvel ainda maiselevado, o homem consegue adquirir foras mediante as quais pode atuarplasmadoramente em seu corpo fsico (por exemplo, modificar a circulao do sangue, do pulso).Chama-se homem-esprito (na terminologia indiana, atma) o que, do corpo fsico, foitransformado dessa maneira.

    As transformaes que o homem realiza em seus membros inferiores mais no sentido de toda aespcie humana ou de uma parte da mesma, como um povo, uma tribo ou uma famlia tm, naCincia Espiritual, as seguintes designaes: o corpo astral transformado pelo eu chama-se alma dasensao; o corpo etrico transformado, alma do intelecto; e o corpo fsico transformado, almadaconscincia. No se deve imaginar que a transformao desses trs membros se realizesucessivamente. A partir do primeiro refulgir do eu, ela se efetua simultaneamente nos trs corpos;

    e o homem no pode observar nitidamente a atuao do eu antes que se tenha formado uma parteda alma da conscincia.Do que precede, v-se que possvel falar em quatro membros da entidade humana: corpo

    fsico, corpo etrico ou vital, corpo astral ou das sensaes e corpo do eu. As almas da sensao, dointelecto e da conscincia e os membros ainda superiores da natureza humana, isto , apersonalidade espiritual, o esprito vital e o homem-esprito, aparecem como resultado datransformao operada naqueles quatro membros. Com efeito - quando se fala nos portadores dasdiversas qualidades do ser humano, s entram em considerao aqueles membros.

    Como educadores, atuamos sobre esses quatro membros do ente humano. Para podermos agircom acerto, precisamos investigar a natureza dessas partes do homem. Contudo, no devemosabsolutamente imaginar que essas partes se desenvolvam de forma a estarem igualmenteaperfeioadas em qualquer fase da vida - por exemplo, no momento do nascimento. Sua evoluoapresenta-se, antes, de maneira diversificada nas vrias pocas da vida. E o conhecimento dessas

    leis evolutivas da natureza humana constitui o fundamento apropriado para a educao e o ensino.a No sentido de escrpulo. (N.T.)

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    Antes do nascimento fsico, o homem em formao est envolto, de todos os lados, por umcorpo fsico estranho. Ele no tem contato direto com o mundo fsico exterior. O que o circunda ocorpo fsico da me, e somente este atua sobre o ser humano em amadurecimento, O nascimentofsico consiste na liberao do ser humano pelo envoltrio fsico materno e no fato de, por isso, omundo fsico ao redor poder atuar diretamente sobre ele. Abrem-se os sentidos para o mundoexterior, e este exerce sobre o homem a influncia que inicialmente cabia ao envoltrio materno.

    Para uma concepo espiritual do mundo tal como a postula a pesquisa do esprito, o queocorreu foi o nascimento do corpo fsico, mas ainda no o do corpo etrico ou vital. Assim como ato momento do nascimento o homem possui um envoltrio materno fsico, at a poca da segundadentio, isto , at a idade dos sete anos aproximadamente, ele est enlaado por um envoltrioetrico e um astral. E s na poca da troca da dentio que o envoltrio etrico libera o corpoetrico. Subsiste ainda um envoltrio astral at a entrada da puberdade 6, poca em que o corpoastral ou das sensaes se torna livre para todos os lados, tal como aconteceu com o corpo fsicopelo nascimento fsico e com o corpo etrico na poca da segunda dentio.

    A Cincia Espiritual fala, portanto, em trs nascimentos do ser humano. At a troca dos dentes,certos impulsos dirigidos ao corpo etrico podem atingi-lo to pouco quanto a luz e o ar do mundofsico podem chegar ao corpo fsico enquanto ele ainda repousa no ventre materno.

    Antes da segunda dentio, o corpo etrico autnomo no atua no homem. Assim como dentrodo ventre materno o corpo fsico recebe as foras que no so suas, desenvolvendopaulatinamente, dentro desse envoltrio, as foras prprias, o mesmo acontece com as foras do

    crescimento at a troca dos dentes. Nesse nterim, o corpo etrco desenvolve as foras prpriasalm daquelas estranhas que herdou. Durante esse perodo de libertao gradativa do corpoetrico, o fsico j possui autonomia. O corpo etrico ainda est preparando o que mais tarde irtransmitir ao corpo fsico. O ponto final desse trabalho so os dentes definitivos, que substituem osherdados. Eles so a incrustao mais slida no corpo fsico, e por isso aparecem em ltimo lugarnessa poca da vida.

    Aps esse perodo, o prprio corpo etrico cuida sozinho do crescimento, no se achando aindasob influncia do corpo astral envolto. No momento em que se libera tambm o corpo astral, ocorpo etrico chega ao trmino de um perodo, fenmeno que se manifesta pela puberdade. Osrgos de reproduo tornam-se independentes porque o corpo astral, liberto, no atua mais paradentro, e sim enfrenta o mundo exterior diretamente, sem necessidade de qualquer envoltrio.

    Assim como antes do nascimento no se pode expor a criana s influncias do mundo ambientefsico, no convm deixar que antes da segunda dentio atuem sobre o corpo etrico as foras

    que, para este, so como as impresses do meio ambiente para o corpo fsico. E s a partir dapuberdade se deveria dar lugar s influncias correspondentes ao corpo astral.Lugares-comuns como o equilbrio harmnico de todas as foras e disposies e similares no

    podem ser a base para uma genuna arte da educao: esta s pode ser construda sobre umverdadeiro conhecimento do ser humano. Com isso no queremos afirmar que esses lugares-comunssejam errneos, mas to-somente que no tm utilidade prtica alguma; seria como se algumdissesse que para o bom funcionamento de uma mquina bastaria fazer suas partes pr-se emfuncionamento de maneira harmoniosa. S pode manobrar a mquina quem a manipula comautnticos conhecimentos de seu funcionamento, e no apenas com frases gerais. Da mesma forma preciso, para dominar a arte da educao, que se conheam a fundo os membros da entidadehumana e sua evoluo em detalhes... E preciso saber sobre que parte do ser humano lcitoexercer determinada influncia em dada poca da vida, e como tal influncia deve ser exercida de

    forma adequada. No h dvida quanto a ser necessrio muito tempo para que uma adequada arteda educao, tal como aqui se esboa, encontre aceitao geral. Isso decorre da mentalidade de

    nossa poca, que ainda por muito tempo considerar os fatos concretos do mundo espiritual comoexcesso de fantasia doentia, enquanto lugares-comuns, to banais quanto irreais, lhe pareceroresultado de um pensamento realista. O que fica exposto sem reservas neste livro ser consideradobvio no futuro, embora muitos possam, hoje em dia, julgar ser apenas um quadro fantstico.

    Com o nascimento fsico, o corpo fsico passa a ser exposto ao ambiente fsico do mundoexterior, enquanto antes estava protegido pelo envoltrio materno. A ao das foras e humoresdeste ltimo deve ser substituda palas foras e elementos do mundo fsico exterior. At os seteanos, idade da troca dos dentes, o corpo humano deve realizar em si mesmo uma tarefa totalmentediferente das tarefas de todas as outras pocas da vida. Durante esse perodo, os rgos fsicosdevem assumir formas definidas; sua estrutura recebe certas tendncias e rumos. O fenmeno docrescimento ainda existe mais tarde, mas sempre se produz de acordo com as formas elaboradasdurante o perodo aludido. Se as estruturas foram elaboradas corretamente, o crescimento condu-zir a formas apropriadas; caso contrrio, haver deformaes. No possvel reparar mais tarde o

    que o educador negligenciou fazer durante o primeiro setnio. Assim como a prpria naturezapreparou o ambiente adequado para o corpo fsico antes do nascimento, o educador deve faz-lodepois, j que s um ambiente fsico apropriado atua sobre a criana de maneira a plasmar-lhe

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    corretamente os rgos.Duas palavras mgicas caracterizam a maneira como a criana se relaciona com o mundo:

    imitao e exemplo. O filsofo grego Aristteles denominou o homem como o animal mais propensoa imitar; essa verdade vale para a idade infantil, at os sete anos, mais do que para qualqueroutra. O que acontece no ambiente fsico a criana imita, e essa imitao confere aos rgos fsicossuas formas definitivas. Devemos considerar o ambiente fsico em sua acepo mais ampla,incluindo nele no apenas o que se passa materialmente ao redor da criana, mas tudo o queocorre, o que seus sentidos percebem - o que, a partir do espao fsico, suscetvel de agir sobreas foras espirituais. Isso inclui todas as aes morais e imorais, inteligentes e tolas que a crianapossa perceber.

    No so, pois, as sentenas morais nem os ensinamentos da razo que atuam nesse sentidosobre a criana, mas apenas o que os adultos fazem em sua redondeza de maneira visvel. Preceitosdesse tipo tm efeito plasmador, no sobre o corpo fsico, mas sobre o etrico; porm este, at aidade dos sete anos, tem o envoltrio etrico protetor da me exatamente como, fisicamentefalando, o corpo fsico protegido antes do nascimento pelo envoltrio materno, O que devedesenvolver~se nesse corpo etrico antes do stimo ano, quanto a representaes, hbitos,memria, etc. deve faz-lo espontaneamente, tal como o fazem os olhos e as orelhas no ventreda me sem que haja interveno da luz exterior... No h duvida sobre o acerto do que se podeler em Levana ou Erziehlehre [Teoria educacional] de Jean Paula, excelente livro pedaggico: umviajante aprende mais de sua ama durante o primeiro ano de vida do que em todas as viagens ao

    redor do mundo. S que a criana no aprende por instruo, mas por imitao. E seus rgosfsicos adquirem forma pela influncia do ambiente fsico. A viso se desenvolve sadiamente quan-do existem no ambiente da criana fenmenos apropriados de luz e cor; no crebro e na circulaosangnea se formam as disposies para um sentido moral sadio, desde que a criana perceba emseu ambiente fatos morais. Se antes da idade de sete anos a criana v ao seu redor apenasatitudes tolas, o crebro adquire formas tais que a capacitam apenas para tolices na vida posterior.

    Assim como os msculos da mo se tornam fortes e vigorosos quando exercem atividadesapropriadas, o crebro e os demais rgos do corpo humano seguem o rumo certo quando recebemdo ambiente os impulsos adequados. Um exemplo ilustrar melhor o que queremos dizer. Pode-sefazer para uma criana uma boneca com um guardanapo dobrado: duas pontas sero os braos, asoutras duas as pernas, um n servir para a cabea - onde algumas manchas de tinta indicam osolhos, o nariz e a boca. Tambm se pode comprar uma linda boneca, com cabelos genunos ebochechas pintadas, e d-la criana. Nem queremos insistir no aspecto horrvel desta boneca,

    perfeitamente capaz de estragar para sempre o sentido esttico sadio. Com efeito, o problemaeducacional mais importante outro. Tendo sua frente o guardanapo dobrado, a criana deve,por meio de sua fantasia, acrescentar algo que o transforme em figura humana. Essa atividade dafantasia tem efeito plasmador sobre as formas do crebro. Este se abre da mesma maneira comoos msculos da mo se deixam permear por uma atividade conveniente. Se a criana ganha achamada linda boneca, nada resta ao crebro para fazer, e ele se atrofia e resseca em vez dedesabrochar. Se os homens pudessem olhar, como pode faz-lo o pesquisador espiritual, paradentro do crebro empenhado em estruturar suas prprias formas, com toda a certeza s dariam aseus filhos brinquedos suscetveis de avivar as foras plasmadoras do crebro. Todos os brinquedosque possuem apenas formas mortas e matemticas ressecam e destroem as foras plasmadoras dacriana, enquanto tudo o que suscita a idia da vida atua de maneira sadia. Nossa poca materialis-ta produz poucos bons brinquedos. Veja-se como saudvel aquele brinquedo que, mediante doispedaos de madeira deslocveis, mostra dois ferreiros virados um contra o outro, martelando umobjeto. Ainda se podem comprar tais artigos no campo. Otimos, tambm, so os livros ilustrados

    com figuras mveis: puxando os fios fixados nessas figuras, a criana transforma a ilustrao mortaem imagem animada de aes. Tudo isso provoca a atividade ntima dos rgos, a partir da qual seconstroem as formas corretas para eles.

    A tais assuntos s se pode aqui, naturalmente, fazer breve aluso, mas futuramente a CinciaEspiritual ser chamada a detalhar todas as informaes necessrias. Para isso ela estperfeitamente preparada, pois no consiste numa abstrao vazia, e sim na soma de fatos cheios devida, aptos a fornecer uma orientao para a realidade.

    Seja-nos permitido acrescentar apenas mais alguns exemplos. De acordo com a CinciaEspiritual, uma criana nervosa e irrequieta e outra letrgica e fleumtica devem recebertratamentos diferentes, a comear pelo ambiente em que vivem. A esse respeito tudo importante,desde as cores do quarto e dos objetos que normalmente rodeiam a criana at as cores das roupascom as quais ela vestida. Quando no se segue a orientao da Cincia Espiritual,freqentemente se faz o contrrio, pois os conceitos materialistas conduzem, em muitos casos, a

    solues incorretas. Uma criana excitada deve ser rodeada e vestida de cores amarelas e ver-a Pseudnimo do escritor alemo Johann Paul Friedrich Richter (1763 1825). (N.E.)

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    melhas; no caso de uma criana impassvel, convm recorrer a tonalidades azuis e esverdeadas. Oque importa a cor complementar produzida interiormente. No caso do vermelho, ser a corverde; no do azul, a alaranjada como facilmente constatamos ao olhar durante algum tempo parauma superfcie colorida nessas cores e depois fixar o olhar rapidamente numa superfcie branca.Essa cor complementar produzida pelos rgos fsicos da criana e provoca as estruturas orgnicascorrespondentes, de acordo com suas necessidades. Se a criana irrequieta tem ao seu redor umacor vermelha, esta produz intimamente a imagem complementar verde. A produo dessa cor verdetem efeito calmante, e os rgos adquirem tendncia calma.

    Convm levar em conta que o prprio corpo fsico determina, nessa idade, o que lhe convm.Ele faz isso desenvolvendo adequadamente os apetites. De maneira geral, pode-se dizer que ocorpo fsico sadio requer o que lhe faz bem. Enquanto se tratar do corpo fsico da criana, convmobservar quais so os desejos do apetite sadio e da alegria. A alegria e o prazer so as foras quemelhor plasmam as formas fsicas dos rgos.

    Podemos incorrer em graves erros a esse respeito, deixando de proporcionar um entrosamentoperfeito da criana com seu ambiente fsico. Isso pode acontecer em particular com os instintosrelativos alimentao. Podemos abarrotar a criana com certos alimentos, a ponto de faz-laperder totalmente os instintos sadios relativos comida; por meio de uma alimentao correta,esses instintos podem ser mantidos de tal maneira que a criana s solicite o que lhe forconveniente (isso se aplica at a um simples copo dgua), enquanto recusa o que pode prejudic-la. A esse respeito a Cincia Espiritual poder fornecer todas as informaes, inclusive no que se

    refere aos diversos alimentos, desde que seja solicitada a elaborar uma arte da educao - pois ela um assunto realista para a vida, e no uma teoria empoeirada, embora hoje, aps as aberraesde alguns tesofos, possa parecer tal coisa.

    Entre os impulsos que tm efeito plasmador sobre os rgos fsicos encontramos, pois, a alegriaprovocada pelo ambiente e, dentro deste, os rostos alegres dos educadores, como um amor antesde tudo sincero, nunca simulado. Tal amor permeando calorosamente todo o ambiente incuba, noverdadeiro sentido da palavra, as formas dos rgos fsicos.

    Quando a criana pode imitar tais exemplos sadios numa atmosfera de amor, ela se encontraem seu elemento adequado. Deve-se observar rigorosamente que ao seu redor nada ocorra que elano deva imitar. Ningum deveria praticar qualquer ao dizendo-lhe Isso voc no pode fazer.Quando se v a criana rabiscar letras muito antes de compreender seu sentido, constata-se queela procura, nessa idade, apenas imitar. Alis, bom que ela primeiro imite estes signos e somentemais tarde entenda seu significado. Com efeito, a tendncia a imitar pertence poca em que se

    desenvolve o corpo fsico, enquanto a interpretao do sentido diz respeito ao corpo etrico. conveniente atuar sobre este ltimo s depois da troca dos dentes, quando j se desprendeu oenvoltrio etrico. Todo aprendizado deveria ocorrer, nessa poca, especialmente pela imitao. ouvindo que a criana melhor aprende a falar. Quaisquer regras e qualquer instruo artificial nadapodem trazer de bom.

    Nesses primeiros anos da infncia, meios educativos tais como, por exemplo, canes infantisdevem impressionar os sentidos por seu belo ritmo. O que importa no tanto o contedo, mas abeleza sonora. Quanto mais algo vivifica a viso e o ouvido, tanto melhor. Nunca se deveriasubestimar a fora plasmadora de movimentos de dana acompanhando o ritmo de urna msica.

    Com a segunda dentio, o corpo etrico se liberta de seu envoltrio etrico; comea ento apoca em que se pode exercer sobre ele uma influncia pedaggica externa. Convm ter em mentequais fatores atuam de fora sobre o corpo etrico. Sua transformao e seu desenvolvimentocaminham a par com uma transformao e uma mudana das inclinaes, dos hbitos, daconscincia, do carter, da memria e dos temperamentos. O que atua sobre o corpo etrico so

    imagens, exemplos e uma orientao disciplinada da fantasia. Assim como at os sete anos de idadea criana deve ter exemplos fsicos para serem imitados, entre a troca de dentes e a puberdade seuambiente deve conter tudo o que possa orient-la por seu valor intrnseco e seu sentido. Isso ocorrecom tudo o que atua atravs de imagem e por analogia. O corpo etrico desenvolve sua foraquando uma fantasia bem orientada pode seguir, como modelos e ideais, as imagens e impressesextradas da vida ou recebidas pelo ensino. O que atua harmoniosamente sobre o corpo etrico emdesenvolvimento no so conceitos abstratos, mas o elemento plstico - no o sensorial, mas oespiritualmente visvel. A observao espiritual o meio educativo mais apropriado para essesanos. Da a importncia, para o jovem, de ter sua volta mestres, personalidades cuja maneira dever e julgar o mundo possa despertar nele as foras intelectuais e morais desejveis. Assim comoimitao e exemplo eram as palavras mgicas para a educao dos primeiros anos, para os anos orafocalizados o so a aspirao a ideais e a autoridade. A autoridade natural, no-imposta, deveconstituir a evidncia espiritual imediata para que o jovem forme conscincia, hbitos e inclinaes

    e discipline seu temperamento, com cujos olhos observa o mundo. Valem principalmente para essaidade as belas palavras do Poeta: Cada um deve escolher o heri a quem pretende imitar em suaascenso ao Olimpo. Venerao e respeito so foras que devem fazer crescer o corpo etrico de

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    maneira sadia. Quem no tem, nessa idade, a chance de olhar para algum com um sentimento deilimitada venerao, mais tarde ter de pagar por isso. Quando falta essa venerao, as foras vivasdo corpo etrico se atrofiam. Imaginemos a seguinte cena e o efeito produzido por ela sobre ummenino de, digamos, oito anos de idade: - Algum lhe conta algo a respeito de uma pessoaparticularmente venervel. Tudo o que ele ouve lhe incute um temor quase sagrado. Aproxima-se odia em que ele deve ter o primeiro encontro com essa pessoa. Ao pressionar a maaneta da portaatrs da qual dever aparecer o ser venervel, um tremor de respeito o invade... Os belossentimentos gerados por semelhante experincia permanecero entre as reminiscncias maisduradouras da vida. Feliz o adolescente que pode elevar seu olhar para o mestre e educadorcomo autoridades naturais, e isso no apenas em alguns momentos excepcionais, mas durante todaa juventude! Alm dessas autoridades vivas, verdadeiras encarnaes da fora moral e intelectual,deve haver as autoridades espiritualmente aceitas. O rumo espiritual do jovem deve serdeterminado pelas grandes figuras da Histria, pela descrio de homens e mulheres modelares eno por princpios abstratos de moral, que s atuaro efetivamente depois que o corpo astral setiver despedido de seu envoltrio astral, na poca da puberdade. Tais consideraes devem nortearsobretudo o ensino da Histria. Antes da troca dos dentes, todas as histrias, contos, etc. terocomo nico fim trazer criana um ambiente de alegria e riso; mais tarde as histrias deveroconter, alm disso, imagens vvdas que incitem nos adolescentes o desejo de igualar os feitos des-critos. No se deve esquecer que maus hbitos podem ser combatidos por meio de imagensrepugnantes apropriadas. Quando existem tais maus hbitos e inclinaes, pouco adianta recorrer a

    admoestaes. Contudo, muito pode ser feito para erradic-los por meio de imagens realistas dehomens maus que possuam os mesmos defeitos e sofram suas conseqncias negativas em sua vidaposterior.

    Convm ter em mente que no de conceitos abstratos que o corpo etrico em formaorecebe impulsos profundos, mas sim de imagens vvidas em sua clareza espiritual. E necessrio,naturalmente, proceder com bastante tato para no provocar um efeito contraproducente. O queimporta a maneira como se contam as histrias. Por esse motivo, um conto bem narrado nuncapode ser substitudo por uma leitura.

    A representao espiritual e imaginativa - ou, como poderamos tambm dizer, a representaosimblica - ainda tem outro campo de aplicao durante esse perodo entre a troca de dentes e apuberdade. E necessrio que a criana acolha os segredos da natureza e as leis da vida no pormeio de conceitos racionais e ridos, mas de smbolos. Analogias de relaes espirituais deveriamser apresentadas alma de modo que os grandes princpios da existncia fossem, de preferncia,

    adivinhados e sentidos por trs da metfora, em vez de vazados em conceitos intelectuais. Tudo oque morre e passa smbolo, somente.a* Essa sentena deveria constituir como que um lema paraa educao nessa idade. E de suma importncia que os mistrios da vida sejam apresentados aoadolescente sob forma de parbolas antes que ele os enfrente nas leis da natureza. Vejamos umexemplo:

    Desejamos falar a uma criana a respeito da imortalidade da alma, de seu desprendimento docorpo. Convm recorrer, nesse caso, analogia da borboleta que sai da crislida. Assim como esseinseto se desprende da pupa, depois da morte a alma se separa de seu invlucro. Ningum acharuma forma conceitual adequada a esse fato se no o tiver previamente recebido sob forma de talimagem. Com tal analogia no se fala apenas ao intelecto, mas ao sentimento, s emoes, a todaa alma. O adolescente que passou por essas etapas preparatrias ter uma atitude mental bemdiferente quando, mais tarde, abordar o fenmeno vazado em conceitos intelectuais. muitoprejudicial o fato de algum no ter a chance de abordar os enigmas da vida primeiramente com osentimento. E necessrio, pois, que o educador tenha sua disposio metforas e imagens para

    todas as leis da natureza e todos os mistrios do Universo.Esse exemplo mostra muito bem como a Cincia Espiritual deve fecundar a vida prtica. Sealgum, imbudo de uma mentalidade materialista, fosse apresentar analogias a adolescentes, comcerteza lhes causaria pouca impresso, pois teria de usar toda a sua esperteza para invent-las. Mastais analogias, fruto de um esforo intelectual, no convencem quem as ouve. Quando falamos aalgum sob forma de imagens, no apenas o contedo da comunicao que atua sobre ele, poisde quem narra flui uma fina corrente espiritual para o ouvinte. Se quem faz a comunicao notiver f ardente na imagem usada, no chegar a impressionar o destinatrio. Para se obter o efeitoadequado, preciso crer em suas imagens como em realidades, mas isso s possvel quando setem uma atitude cientfico-espiritual e quando as prprias metforas emanam da Cincia Espiritual.O autntico cientista espiritual no precisa fazer um esforo especfico para aceitar a metfora daalma que se desliga do corpo, pois para ele isso constitui uma verdade: o abandono da crislidapela borboleta significa, num nvel inferior da existncia, o mesmo que a separao da alma e do

    corpo em nvel superior e sob forma evolutiva mais perfeita. Ele prprio acredita nisso com toda aa Frase pronunciada pelo Coro Mstico no final da segunda parte do Fausto, de Goethe. (N.T.)

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    sua fora. E essa crena se transmite, como num fluxo misterioso, de quem fala a quem escuta,produzindo convico. A vida flui diretamente do educador para seu discpulo, e vice-versa. Maspara haver essa vida o educador deve haurir do manancial da Cincia Espiritual, e sua palavra,assim como tudo que irradia dele, deve receber sensibilidade, calor e sutilezas de sentimentomediante autntica atitude cientfico-espiritual. Dessa maneira se abre uma maravilhosaperspectiva para todo o ensino. Deixando-se fecundar pelas foras vivas da Cincia Espiritual, esteficar repleto de vida compreensiva, acabando com o tatear, to comum nesse campo. Todapedagogia, toda arte da educao rida e estril quando no recebe de tal raiz o afluxo contnuode seivas revigorantes. Para todos os segredos do Universo a Cincia Espiritual possui as imagensapropriadas, hauridas da essncia das coisas - no inventadas pelo homem, mas utilizadas pelasprprias foras csmicas em sua atividade criadora. Por esse motivo, a Cincia Espiritual constitui abase vvida para toda a arte pedaggica.

    Uma fora anmica que em nossa poca merece nfase especial a memria. Seudesenvolvimento est ligado transformao do corpo etrico. Ora, como essa transformaoconduz a uma libertao do corpo etrico entre a troca dos dentes e a puberdade, esse o perodoem que se deve cuidar conscientemente do desenvolvimento da memria. Negligenciando-se essatarefa na referida idade, a memria ter valor inferior ao que teria normalmente, pois no possvel recuperar mais tarde o que ento foi descuidado.

    Uma mentalidade materialista e racionalista pode causar muitos erros nesse sentido. Umapedagogia baseada em tais critrios facilmente ter preconceitos contra uma assimilao

    mnemnica, opondo-se at violentamente contra todo mero treino da memria. Ela recorre aosmtodos mais esdrxulos para impedir que o jovem assimile pela memria o que no entende. Ora,qual a natureza desse entendimento? O raciocnio puramente intelectual e materialista secompraz em acreditar que no se pode penetrar no mago das coisas seno por meio de conceitosabstratos; dificilmente admitir que, para esse fim, as outras foras anmicas sejam pelo menos tonecessrias quanto o intelecto. No se trata apenas de uma metfora quando afirmamos serpossvel compreender algo tanto com o sentimento e as emoes quanto com o intelecto. Osconceitos so apenas um dentre vrios meios que conduzem compreensao das coisas destemundo. E apenas mentalidade materialista parecem ser os nicos existentes. Existem, natural-mente, muitas pessoas que no se julgam materialistas e que, mesmo assim, consideram aconceituao racional a nica espcie de compreenso possvel. Tais indivduos podem professarcosmovises idealistas ou at mesmo espiritualistas, mas no fundo da alma sua atitude materialista, j que o intelecto no deixa de ser o instrumento para compreender o mbito

    material.Um trecho do excelente livro pedaggico de Jean Paul, j mencionado, ilustrar melhor anatureza mais profunda do ato de compreender. Essa obra, alis, contm excelentes idias emmatria de pedagogia, e merece ser melhor conhecida, pois sua importncia para o educadorultrapassa a de muitos livros famosos. O trecho que nos interessa aqui o seguinte:

    No tenhais medo da incompreensibilidade, at de sentenas inteiras! Vossa fisionomia, a entonaode vossa voz e o intuitivo desejo dos discpulos de compreender deixaro clara uma metade, e otempo far com que acabem compreendendo a segunda. Em crianas, como em chineses ou outrospovos de outras lnguas, a entonao j a metade da fala; lembrai-vos de que as crianascompreendem a lngua antes de fal-la, como acontece conosco em relao ao grego ou qualqueroutra lngua. Tende f no papel do tempo e do contexto. Uma criana de cinco anos entende aspalavras ora, com efeito, contudo, no obstante, decerto; procurai dar uma explicao dasmesmas no criana, mas ao pai dela. J na palavra ora reside um pequeno filsofo. Se um

    menino de oito anos, com sua linguagem formada, compreendido por outro de trs anos, por que,em vossa maneira de falar-lhe, quereis descer a um balbucio? Estejai sempre alguns anos frente aofalar (os gnios, quando nos falam em seus livros, se nos adiantam em sculos); falai com a crianade um ano como se esta tivesse dois; e com esta como se tivesse seis, pois a diferena entre os grausde desenvolvimento decrescem na proporo inversa dos anos. Lembre-se o educador (que tende aatribuir, em escala excessiva, o mrito do aprendizado ao mestre) de que a criana j traz dentro desi a metade de seu mundo, ou seja, o espiritual (por exemplo, as idias morais e metafsicas), e deque a linguagem que opera com imagens fsicas no pode, com isso, fornecer as espirituais, masapenas esclarec-las. A alegria ou firmeza com que falamos s crianas deveriam existir antes de suaprpria alegria ou firmeza. Podemos ensinar-lhes uma lngua, mas tambm aprendemos deles umalinguagem cheia de neologismos ousados e ao mesmo tempo corretos como, por exemplo, ouvir decrianas de trs e quatro anos: o cervejista, o cordista, o garrafista (o fabricante de barris, decordas, de garrafas); o rato voador (sem dvida melhor do que o nosso morcego); a msica tocaviolino; dar uma virada na luz (por causa do facho de luz); eu sou o enxergador (atrs dotelescpio); eu queria ser contratado como comedor de broa ou broeiro; veja como j est noum (no relgio), etc.

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    verdade que este trecho se refere a um entendimento precedente conceituao intelectual,e isso num campo diferente do que aqui visamos. Mas, mesmo assim, as consideraes de Jean Paulsobre a linguagem aplicam-se ao nosso caso. Tal como a criana acolhe em seu organismo anmico aestrutura da linguagem sem usar suas leis lingsticas de maneira racional, o jovem precisaaprender, para o cultivo de sua memria, coisas que s mais tarde compreender intelectualmente.Aprende-se mais facilmente a conceituar o que, nessa idade, foi assimilado apenas pela memriada mesma forma como se aprende melhor as regras de uma lngua que j se sabe falar. A alegao

    de matria decorada e incompreendida no passa de preconceito materialista. Basta, por sinal, queo jovem aprenda as leis elementares da multiplicao mediante alguns exemplos em que no preciso usar mquina calculadora, e sim de preferncia os dedos; depois ele deve decorar orde-nadamente as tabuadas. Se procedermos assim, estaremos agindo de acordo com a natureza do serhumano em crescimento. Estaremos pecando contra essa natureza se exigirmos demais do intelectonuma poca em que o que se deve cultivar a memria. O intelecto uma fora anmica que nasceapenas com a puberdade, e sobre a qual, por isso, no seria conveniente atuar antes dessa idade.Antes da puberdade, o jovem deveria assimilar pela memria o acervo mental da humanidade; maistarde ele poder conceituar o que primeiro gravou na memria. O homem no deve apenasmemorizar o que compreendeu, mas compreender o que aprendeu, isto , o que memorizou, damesma forma como a criana se apossada lngua. Isto vlido de um modo geral: primeiro vem amemorizao de fatos histricos, depois sua compreenso conceitual; primeiro a gravao de fatosgeogrficos, depois seu inter-relacionamento, etc. Em certos aspectos, a conceituao deveriasempre haurir do que se acha armazenado na memria. Quanto mais o adolescente aprende pela

    memria antes de compreender conceitualmente, tanto melhor. Todavia, oportuno lembrarexpressamente que tudo isso se aplica apenas idade aqui focalizada, e no s idades maisavanadas. Se mais tarde aprendemos algo por recuperao ou de outro modo, o caminho a seguirpode ser o inverso, embora tudo dependa da configurao intelectual do indivduo. Contudo, noperodo que ora descrevemos o esprito no deve ser ressecado por excesso de conceitos puramenteintelectuais.

    Mas tambm um ensino visual excessivo apenas por meio dos sentidos corresponde a umamentalidade materialista.a Nessa idade, toda observao sensorial deve ser espiritualizada. Nodevemos, por exemplo, limitar-nos a apresentar uma planta, uma semente, uma flor observaomeramente sensria. Todo fenmeno deve ser encarado como a manifestao de algo espiritual.Um gro de semente no se reduz ao que visvel ao olho, pois abrange, de modo invisvel, toda aplanta futura. Devemos usar de nossa sensibilidade, fantasia e sentimentos para compreender deforma vvida que tal objeto ultrapassa o que os sentidos nos transmitem. E preciso termos comoque um pressentimento dos mistrios da existncia. No se objete que tal atitude turva a natureza

    da contemplao sensorial: do contrrio, a verdade ficaria prejudicada se nos limitssemos exclu-sivamente percepo sensorial, pois a realidade total de um objeto constituda tanto pelamatria quanto pelo esprito, e uma observao fiel no precisa ser menos cuidadosa quando feitapor todas as foras anmicas, e no apenas por meio dos sentidos fsicos. Se os homens pudessemver, a exemplo do ocultista, o quanto um ensino ministrado apenas por intermdio da observaosensorial faz atrofiar-se o corpo e a alma, decerto insistiria menos em tal ensno.b Qual ser a utili-dade de se mostrar ao jovem minerais, plantas, animais e toda espcie de experincias fsicas, seisto for aproveitado para fazer pressentir, nas metforas, os mistrios espirituais? Certamente umindivduo dotado de um sentido materialista no saber o que pensar de tudo o que aqui se afirma;e isso, para o pesquisador espiritual, muito compreensvel. Mas este tampouco ignora que umaarte pedaggica realmente prtica nunca pode nascer de uma mentalidade materialista. Por maisprtica que se julgue, na realidade ela o menos quando se trata de ter uma compreenso viva davida. Diante da verdadeira realidade, a mentalidade materialista to cheia de fantasia e iluso

    quanto lhe parece ser a Cincia Espiritual com suas explicaes objetivas. No h dvida de quemuitos obstculos ainda devem ser superados at que os princpios da Cincia Espiritual, que soum fruto da vida prtica, penetrem na arte pedaggica. Isso, porm, natural, pois no momentoatual essas verdades so, necessariamente, incomuns para muitos. Contudo, se representam mesmoa verdade, sero incorporadas vida cultural.

    Somente por meio de uma clara conscincia de como as vrias medidas pedaggicas atuamsobre o jovem que o educador encontrar, com o tato necessrio, a soluo correta em cada casoindividual. , pois, preciso saber qual o tratamento a ser dispensado s vrias foras anmicas, ouseja, ao pensar, ao sentir e ao querer, para que seu desenvolvimento tenha, por sua vez, efeitoretroativo sobre o corpo etrico, enquanto este se for aperfeioando devido s influncias

    a Comentrio aplicvel tambm ao moderno ensino audivisual, evidentemente desconhecido na poca daelaborao deste livro. (N.T.)bEm acordo com a nota precedente, esta observao aplicvel atodo ensino audiovisual. (N.T.)

    b

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    exteriores recebidas entre a poca da segunda dentio e a puberdade.Quando corretamente aplicados durante os primeiros sete anos de vida, os aludidos princpios

    pedaggicos criam o fundamento de uma vontade sadia e vigorosa. Com efeito, tal vontade deveter um esteio na estrutura bem desenvolvida do corpo fsico. A partir da troca dos dentes, ocorpo etrico, ora em pleno desenvolvimento, que deve proporcionar ao fsico as foras capazes detornar suas formas slidas e firmes. Aquilo que mais atua sobre o corpo etrico retroage com maisvigor sobre a firmeza do fsico. Os mais fortes impulsos que se exercem sobre o corpo etricoprovm das experincias religiosas, isto , daquelas emoes e vivncias que fazem o indivduosentir sua posio em relao origem do Universo. Nunca pode haver um desenvolvimento sadioda vontade e, portanto, do carter se o homem no recebe profundos impulsos religiosos naqueleperodo de sua vida. A organizao volitiva unitria reflete a maneira como o homem se senteintegrado no Cosmo. Se o homem no se sentir unido a algo divino-espiritual por meio de laosseguros, sua vontade e seu carter permanecero inseguros, desintegrados e doentios.

    A vida sentimental desenvolve-se acertadamente por meio das metforas e smbolos jdescritos, em particular por meio de imagens de homens caractersticos, extrados da Histria oude outras fontes. A vida dos sentimentos aperfeioa-se tambm quando o jovem se aprofunda nosmistrios e nas belezas da natureza. O importante cultivar o sentido do belo e despertar asensibilidade artstica. O elemento musical comunicar ao corpo etrico aquele ritmo que ocapacitar a sentir o ritmo oculto em todas as coisas. Muito faltar ao jovem, em toda a sua vidafutura, se ficar privado, nessa poca, do cultivo to benfico de sua sensibilidade musical. Se esse

    sentido lhe faltasse completamente, certos aspectos do Universo lhe ficariam totalmente ocultos.Isso no significa que as outras artes devam ser negligenciadas. O despertar da sensibilidade paraformas estilsticas na arquitetura, para figuras plsticas, para o contorno, para o desenho e aharmonia das cores - nada disso deveria faltar no plano de ensino. Tudo poderia ser realizado demaneira muito simples, de acordo com as circunstncias, mas nunca se deveria objetar que ascircunstncias nada permitem nesse sentido. Muito pode ser feito mesmo com os recursos maislimitados, desde que o educador tenha o sentido correto a esse respeito. A alegria de viver, o amorpela existncia, a fora para o labor, tudo isso nasce do sentido esttico e artstico. Quanto essesentido enobrece e embeleza as relaes entre os homens! O sentimento moral criado nesses anospelas imagens da vida e pelas autoridades exemplares adquire sua segurana quando, pelo sentidoesttico, o bom percebido como belo, o mau como feio.

    O pensar, com sua estruturao prpria, como vida interior dentro de conceitos abstratos,ainda deve ficar, nessa poca da vida, em segundo plano. Deve desenvolver-se como que

    espontaneamente, sem estmulos externos, enquanto a alma assimila as metforas e imagens davida e dos mistrios da natureza. dessa maneira que o intelecto deve desenvolver-se entre os seteanos de idade e a puberdade, em meio a outras expenencias anmicas: o juzo deve amadurecer demodo que o indivduo esteja capaz de formar, depois da puberdade e com plena independncia,sua opinio acerca dos fatos da vida e da cincia. Quanto menor a influncia prvia exercida sobreo juzo, e quanto melhor exercida indiretamente pelo desenvolvimento de outras foras anmicas,mais benfica ser sobre toda a vida posterior.

    A Cincia Espiritual constitui uma base apropriada no somente para o lado espiritual daeducao, mas tambm para o fsico. Mencionemos, a ttulo de exemplo caracterstico, a ginsticae os jogos juvenis. Assim como o amor e a alegria devem permear o ambiente dos primeiros anos devida, o corpo etrico, ora em pleno desenvolvimento, deve vivencar em si prprio, pelos exercciosfsicos, a sensao do crescimento e de seu vigor sempre maior. Os exerccios de ginstica devemser tais que o adolescente sinta dentro de si, a cada movimento, a cada passo, uma foracrescente. Tal sensao deveria dominar a vida interior com um prazer sadio e um bem-estar. Para

    se conceberem exerccios desse tipo, preciso algo mais do que um conhecimento anatmico, efisiolgico meramente intelectual do corpo humano. E necessrio ter conscincia ntima e intuitivade como certos movimentos e posies do corpo acarretam uma sensao de bem-estar. Queminventa tais exerccios deve ser capaz de vivenciar pessoalmente a sensao de conforto e vigor quedeterminado movimento ou posio dos membros lhe proporciona, enquanto outros lhe causam umaperda de fora, etc. Para poder cultivar, nesse sentido, a ginstica e os exerccios fsicos, oeducador deve possuir o que somente a Cincia Espiritual e, sobretudo, uma mentalidade espiritualpodem proporcionar-lhe. No que para isso seja necessria a prpria viso dos mundos espirituais;basta querer aplicar na vida o que decorre da Cincia Espiritual. Se os resultados dessa cinciafossem aplicados em domnios prticos como a pedagogia, logo cessariam as objees fteissegundo as quais tais resultados deveriam primeiro ser comprovados. Quem os aplicar corretamentecomprovar, pela prpria vida, que eles o tornaro saudvel e forte. Sua verdade ficarcomprovada e, por esse fato, melhor do que por meio de todos os argumentos lgicos e

    supostamente cientficos. Reconhecem-se melhor as verdades espirituais por seus frutos, e nopor uma prova pretensamente cientfica que, na realidade, no passa de escaramua lgica.O corpo astral s nasce com a puberdade. Com seu livre desenvolvimento para o exterior, pela

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    primeira vez vem ao encontro do ser humano tudo o que aperfeioa as representaes abstratas, ojuzo e o intelecto autnomo. J dissemos que essas faculdades anmicas devem desenvolver-se atento sem qualquer influncia, dentro da correta aplicao das demais medidas pedaggicas, damesma maneira como os olhos e os ouvidos devem desenvolver-se sem influncia dentro do orga-nismo materno. Com a puberdade, chega o momento em que o homem tambm est maduro paraformar pessoalmente um juzo sobre o que aprendeu no passado. No se pode causar a algum umprejuzo maior do que ao se lhe despertar prematuramente seu prprio juzo. S se pode julgardepois de ter acumulado matria para juzo e comparao. Se, antes disso, algum forma juzosautnomos, estes carecem de fundamento. Erros pedaggicos cometidos nesse sentido so a causade toda a unilateralidade e de todos os dogmas estreis que, esteados em algumas migalhas dacincia, pretendem sobrepor-se s experincias mentais da humanidade, corroboradas atravs delongos perodos. Para se ter maturidade mental preciso primeiro ter adquirido o respeito pelo queos outros j pensaram. No h pensar sadio que no tenha sido precedido por um senso de verdadebaseado no indiscutvel respeito autoridade. Se esse princpio pedaggico fosse seguido, no severiam jovens que muito cedo se consideram bastante maduros para emitir juzos, tirando aoportunidade para que a vida atue multilateral e imparcialmente sobre eles. Todo julgamento queno esteja alicerado num fundamento anmico apropriado joga pedras no caminho de quem oemite. Quem faz um juzo sobre qualquer assunto sempre influenciado por ele, sendo impedidode aceitar uma experincia da forma como a teria aceito se no tivesse logo formado uma opinio aseu respeito. O adolescente deve ter a tendncia a primeiro aprender para depois julgar. O

    intelecto s deveria opinar sobre qualquer assunto depois de terem falado todas as outras forasanmicas; antes disso, ele deveria desempenhar apenas um papel mediador. O intelecto s deveriaservir para captar e assimilar livremente o que o indivduo viu e sentiu, sem que o juzo imaturologo se apoderasse do assunto. Por esse motivo, seria indicado poupar ao jovem todas as teoriasantes da idade mencionada, ressaltando-se a importncia do fato de ele enfrentar as experinciasda vida para acolhlas em sua alma. O adolescente pode, evidentemente, familiarizar-se com o queoutros opinaram a respeito disso ou daquilo, mas convm impedir que se engaje numa opinio pormeio de um juzo prematuro. Ele deveria aceitar tais opinies com o sentimento e escutar o que uniou outro disse a respeito de algo, sem logo tomar partido. Para cultivar essa atitude, mestres eeducadores devem, naturalmente, dar prova de muito tato, mas justamente a mentalidadecientfico-espiritual que pode gerar esse tato.

    S podemos desenvolver aqui uns poucos critrios para uma educao segundo a CinciaEspiritual. Nossa inteno era apenas apontar a tarefa cultural que essa cincia tem para realizar.

    Sua capacidade de faz-lo depender da compreenso que encontrar em crculos sempre maisamplos. Para que isso possa acontecer, existem duas condies: em primeiro lugar, necessrioque se abandonem os preconceitos existentes em relao Cincia Espiritual. Quem a estudaseriamente ver logo que no se trata daquela coisa fantstica, como muitos ainda hoje a vem.No lhes ser feita aqui censura alguma, pois tudo o que serve aos meios culturais de nossa pocadeve produzir, primeira vista, a opinio de que os cientistas espirituais so fantasistas esonhadores. Uma observao superficial simplesmente no permite chegar a outro juzo, poisparece reinar a discrepncia mais absoluta entre a Antroposofia, que se manifesta como CinciaEspiritual, e tudo o que a formao de nossa poca proporciona ao homem como base de urnaconcepo sadia da vida. Revela-se apenas, a urna observao mais proftinda, quo cheias decontradies as opinies atuais devem ficar enquanto carecem do fundamento da CinciaEspiritual, e como essas teorias exigem esse fundamento, no podendo prescindir dele.

    O segundo ponto est relacionado com uma evoluo sadia da prpria Cincia Espiritual. AAntroposofia encontrar uma aceitao compreensiva desde que os prprios crculos antroposficos

    se compenetrem da necessidade de tornar suas doutrinas fecundas em todas as situaes da vida,em vez de apenas emitir teorias a seu respeito. Caso contrrio, o mundo continuar a ver naAntroposofia uma espcie de sectarismo religioso praticado por uns curiosos visionrios. Mas se elase dedicar a uma atividade espiritual til e positiva, no ser negado por muito tempo, aomovimento antroposfico, um consentimento compreensivo.

    Notas complementares

    1. No se deve compreender essa frase no sentido de que a Cincia Espiritual pretenda dedicar-se

    apenas aos problemas mais gerais da vida. A verdade que ela se julga capacitada a fornecer asbases das solues desses problemas; mas tambm verdade que ela pode constituir para

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    qualquer pessoa, seja qual for a posio que ocupe na vida, a fonte em que ela pode encontrarrespostas aos problemas mais corriqueiros, consolo, fora e confiana na vida e no trabalho. Elapode constituir uma ajuda no s para os grandes problemas da existncia, mas tambm para asnecessidades mais imediatas do momento, nas situaes aparentemente mais insignificantes davida cotidiana.

    2. O leitor encontrar esses artigos em meu livro O conhecimento dos mundos superiores (A

    iniciao). [Edio brasileira em traduo de Erika Reimann (3 ed. So Paulo, Antroposfica,1991).]

    3. Convm insistir nisso, pois reina atualmente grande confuso sobre esse assunto. Muitas pessoasno compreendem a diferena entre a planta e um ser sensvel, porque lhes escapa o sentidoexato da sensao. O fato de um ser ou um objeto reagir a um impulso exterior ainda no jus-tifica afirmar que ele seja capaz de sentir esse impulso. Essa alegao estaria correta se tal servivenciasse o impulso dentro de si; em outras palavras, se ocorresse uma espcie de reflexointerior, do impulso exterior, Os grandes progressos da Cincia Natural, objeto de admirao porparte do pesquisador esotrico, trouxeram alguma confuso quanto a certos conceitos maisamplos. Alguns bilogos no sabem o que realmente a sensibilidade, atribuindo-a a seres queno a possuem. O que eles entendem por sensao pode, com razo, ser atribudo tambm aseres insensveis; mas o que a Cincia Espiritual entende por sensao coisa totalmentediferente.

    4. preciso fazermos uma distino entre a vivncia do corpo das sensaes dentro de nsprprios e a percepo desse corpo pelo vidente treinado. Estamo-nos referindo ao que serevela viso espiritual deste ltimo.

    5. Que o leitor no esteja chocado pelo uso da palavra corpo do eu. Isso nada significa,naturalmente, de material. possvel, porm, usar na Cincia Espiritual os termos da linguagemcomum. Como estes so normalmente usados para designar coisas materiais, ao us-los naCincia Espiritual devemos primeiro transport-los a esse mbito.

    6. O exposto no estaria claramente compreendido se algum objetasse que a criana possuimemria, etc. antes da segunda dentio, e as aptides relacionadas com o corpo astral antesda puberdade. Lembremo-nos de que tanto o corpo etrico como o astral existem desde o incio,embora encobertos por um envoltrio protetor. precisamente este ltimo que permite aocorpo etrico aparentar as qualidades da memria de um modo todo especial antes da troca dos

    dentes. Na realidade, os olhos fsicos existem tambm no embrio, sob o envoltrio protetor dame. Assim como a luz solar exterior no deve atuar sobre esses olhos protegidos, tampouco apedagogia exterior deveria atuar sobre a formao da memria antes da troca dos dentes.Observamos, ao contrrio, que a memria se desenvolve espontaneamente nessa poca,bastando, para tal, dar-lhe um alimento correto em vez de forar seu desenvolvimento por meiode influncias exteriores. O mesmo se d, antes da puberdade, com as foras vinculadas aocorpo astral. Estas devem ser alimentadas, mas sempre devemos levar em conta que o corpoastral ainda se acha dentro de um envoltrio protetor. Uma coisa atuar antes da puberdadesobre as disposies para o futuro desenvolvimento, as quais j existem no corpo astral; outra expor o corpo astral, depois da puberdade, s influncias do mundo exterior, as quais, nessaaltura, podem ser assimiladas sem que exista proteo. Essa diferena , decerto, sutil; massem dar-lhe nfase no se pode compreender a essncia da educao.

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