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IV Encontro Nacional da Anppas4,5 e 6 de junho de 2008Brasília - DF – Brasil
A Educação Ambiental apresentada como conceito subjacente nas dissertações do Mestrado em Geografia
da UFMS
Marilyn A. Errobidarte de Matos (UFMS)Bióloga, Economista e Mestranda do Programa de Ensino de Ciências
Ilza Alves Pacheco (UFMS)Pedagoga e Mestranda do Programa de Ensino de Ciências
Áurea da Silva GarciaTurismóloga e Mestranda do Programa de Ensino de Ciências
Ângela Maria Zanon (UFMS)Bióloga e Professora Doutora do Programa de Mestrado em Ensino de Ciências
ResumoO objetivo desta pesquisa é apresentar o resultado da análise de 33 resumos de dissertações defendidas no Mestrado de Geografia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campus Aquidauana, entre os anos 2000 e 2007. A análise dos resumos das dissertações, seguiu os pressupostos teóricos e metodológicos da Análise de Conteúdo de Bardin, verificamos nestes a presença de enfoque ambiental que direta ou indiretamente pudesse instrumentalizar a Educação Ambiental. Os resumos analisados nos remetem a ferramentas, produtos e ações de Educação Ambiental, muitos deles explícitos nos textos.
Palavras-chaveGeografia, Educação Ambiental, Pós-Graduação
Introdução
A Educação Ambiental (EA) é um componente essencial e permanente da educação nacional,
devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em
caráter formal e não –formal. (Lei Nº 9.795, de 27 de abril de 1999, Cap. I, Art. 2º apud Vaitsman 2006).
Assim, a EA deve estar presente em atividades de pesquisa e ensino e a questão ambiental não é o
que se convencionou chamar natural, nem social ou cultural, segundo Gonçalves (1990), ela exige um outro
paradigma que seja capaz de dar conta da sua complexidade histórico-natural. Se a realidade é fragmentada
em partes pela departamentalização cartesiana da universidade, o que a prática da extensão universitária
coloca é exatamente o professor/pesquisador em contato com a realidade tal como ela é, isto é, um todo
complexamente estruturado onde o natural e o social não estão dissociados.
Por outro lado, as representações sociais estão basicamente relacionadas às pessoas que atuam fora
da comunidade científica (embora possam também aí estar presentes). Nas representações sociais são
encontrados os conceitos científicos aprendidos e internalizados pelas pessoas. Neste contexto, a Educação
Ambiental tem sido realizada a partir da concepção que se tem de meio ambiente (REIGOTA, 1994).
Para a EA ( Educação Ambiental), meio ambiente pode ser:
“o lugar determinado ou percebido, onde os elementos naturais e sociais estão em relações
dinâmicas e interação. Essas relações implicam processos de criação cultural e tecnológica e
processos históricos e sociais de transformação do meio natural e construído.” (REIGOTA, 1994)
Mundialmente, a questão ambiental teve grande repercussão com a Conferência das Nações Unidas
sobre o Meio Ambiente, realizada em Estocolmo, em 1972. Nesta conferência também foi abordada o tema:
“Educação para o Meio Ambiente” (GUIMARÃES, 1995).
No Brasil, a Educação Ambiental tornou-se mais profícua a partir de trabalhos acadêmicos
realizados na década de 1980. Em um contexto político de transição para um regime mais democrático, a
sociedade brasileira apresentou maior envolvimento com a temática ambiental.
A partir da década de 1990, com a realização da Conferência das Nações Unidas sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento, a ECO 92, no Rio de Janeiro, a expressão “Educação Ambiental” se
massificou. Todavia, este tema ainda é pouco difundido entre os educadores e, principalmente, entre a
população em geral, além de ser frequentemente confundido com o ensino de Ecologia.
Diante do exposto, a Educação Ambiental pode ser conceituada como:
“um processo de aprendizagem, longo e contínuo, que procura esclarecer conceitos e fomentar
valores éticos, de forma a desenvolver atitudes racionais, responsáveis e solidárias entre os
homens. Tem por objetivo instrumentalizar os indivíduos, dotando-os de competência para agir
consciente e responsavelmente sobre o meio ambiente, por meio da interpretação correta da
complexidade que encerra a temática ambiental e da relação existente entre essa temática e os
fatores políticos, econômicos e sociais.” (GONÇALVES, 1990)
Com caráter:
“eminentemente interdisciplinar, orientada para a resolução de problemas locais. É participativa,
comunitária, criativa e valoriza a ação. É uma educação crítica da realidade vivenciada,
formadora da cidadania. É transformadora de valores e atitudes por meio da construção de novos
hábitos e conhecimento. Criadora de uma nova ética, sensibilizadora e conscientizadora para as
relações integradas ser humano/sociedade/natureza, objetivando o equilíbrio local e global, como
forma de obtenção da melhoria da qualidade de todos os níveis de vida.” (GUIMARÃES, 1995)
A educação não é um fim em si mesma, e sim um direito fundamental e instrumento-chave para
mudar valores, comportamentos e estilos de vida. Para alcançar um futuro sustentável é necessário fomentar,
entre a população, a consciência da importância do meio ambiente. Uma das maneiras das pessoas
adquirirem esta consciência, conhecimentos e habilidades necessárias à melhoria de sua qualidade de vida se
dá por meio da Educação Ambiental.
A Educação Ambiental não substitui ou ultrapassa as disciplinas acadêmicas; pode estar
contemplada e é pertinente a todas elas. Frente a um problema ambiental qualquer, é provável que
precisemos de subsídios de história, economia, biologia, geografia, geologia, engenharia, estatística, ciência
política e sociologia. E os profissionais envolvidos podem contribuir com idéias, combinando-as de forma
criativa, integrando-as, considerando-as sob novas perspectivas e dando-lhes novas aplicações, assim, muitas
pessoas de diversos segmentos da sociedade fazem EA sem saber.
Nesse contexto, investigou-se a contribuição da Geografia para instrumentalizar a Educação
Ambiental, já que esta é vista como a ciência que se ocupa da interação entre o homem em sociedade e o seu
meio ambiente, onde a geografia física analisa os fatores do meio ambiente com as suas variações e a
geografia política demonstra as relações que existem entre a sociedade e as variações locais do seu meio. A
Geografia tem uma dimensão teórica (o ensino, a pesquisa pura) e uma outra prática e inseparável (a sua
utilidade para o Estado e para as atividades mercantis), e se auto-denomina uma das Ciências Ambientais.
Considerando as interfaces entre as questões geográficas, de meio ambiente e as linhas de pesquisa
do Mestrado em Geografia da UFMS, além da necessidade de a EA estar presente em todos os níveis de
ensino, decidimos analisar os resumos das dissertações apresentadas no Mestrado de Geografia da UFMS,
Campus de Aquidauana para verificarmos a existência de pesquisas com enfoque ambiental que direta ou
indiretamente possam conduzir à Educação Ambiental.
Para tanto realizamos uma análise de 33 resumos de dissertações do Mestrado de Geografia da
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campus Aquidauana, defendidas entre os anos 2000 e 2007,
apontando nos textos, a presença das questões ambientais, sua abordagem, abrangência e a contribuição para
o desenvolvimento da EA.
Metodologia
Para a realização da pesquisa, optou-se por uma abordagem qualitativa, porque sendo ela
interpretativa e subjetiva, responde melhor à questão investigada. A análise dos resumos das dissertações,
seguiu os pressupostos teóricos e metodológicos da Análise de Conteúdo de Bardin (2004), pois sendo uma
técnica muito significativa para as pesquisas qualitativas, auxilia o pesquisador na retirada do texto escrito
seu conteúdo manifesto ou latente.
As unidades de registro foram organizadas nas seguintes categorias: 1. Educação Ambiental; 2.
Cidades Pesquisadas (permitindo visualizar se a produção do conhecimento geográfico está voltada para a
região Centro-Oeste) e 3. Foco da Pesquisa, e estas divididas em subcategorias: a) referências à expressão
EA, b) abordagens diretas sobre o tema de EA, c) abordagens indiretas sobre o tema de EA, d) municípios
estudados em MS, e) municípios estudados em outros Estados, f) estudos realizados em fronteiras, g)
trabalhos desenvolvidos em escolas, h) trabalhos sobre turismo, i) envolvimento com comunidades
indígenas, j) desenvolvimento sustentável e l) mídia.
De um total de 66 dissertações defendidas no período de 2000 a 2007, desde o primeiro ano de
funcionamento do mestrado, foram analisados 33 resumos disponíveis na página do curso
(www.ufms.br/posgraduacao) e nenhum deles apresentam palavras-chave, impossibilitando uma análise mais
precisa. Destacamos que apenas cinqüenta por cento das dissertações defendidas estão disponíveis na página
do curso.
O procedimento metodológico teve dois momentos distintos: um primeiro, em que se interagiu com a
produção acadêmica através da quantificação e de identificação de dados bibliográficos, com o objetivo de
mapear essa produção no período delimitado, em anos, locais, áreas de produção, dados objetivos e concretos
localizados nas indicações bibliográficas que remetem à pesquisa. Um segundo momento foi aquele em que
se perguntou sobre a possibilidade de inventariar essa produção, ou seja, há referências a Meio Ambiente e
Educação Ambiental nas pesquisas defendidas e presentes nesses resumos?
Resultados e Comentários
O Mestrado em Geografia da UFMS existe desde 2000, e visa atender a produção do conhecimento
geográfico, voltada particularmente para as especificidades regionais do Centro-Oeste. Assim, a "Produção
do Espaço Regional" - área de concentração do Programa - configura-se como objetivo principal, tendo
como linhas de pesquisa: Desenvolvimento Regional, Planejamento e Gestão Ambiental. Apresentamos
abaixo um quadro com os dados da pesquisa realizada.
O quadro abaixo mostra as categorias: 1. Educação Ambiental; 2. Cidades Pesquisadas (permitindo
visualizar se a produção do conhecimento geográfico está voltada para a região Centro-Oeste) e 3. Foco da
Pesquisa, suas subcategorias e suas respectivas quantificações em unidades e porcentagem.
Quadro 1. Quantificação dos dados provenientes dos resumos
Citada 03 9 %
Explicita 11 33 %
Implícita 15 46 %
Educação Ambiental
Não aparece 04 12 %
Do Mato Grosso do Sul 26 79 %
Outros estados 03 9 %
Cidades pesquisadas
Fronteira* 04 12 %
Ensino formal 01 3 %
Turismo 09 27 %
Comunidade indígena 05 15 %
Desenvolvimento sustentável 17 52 %
Foco da pesquisa
Mídia 01 3 %
* divisa Brasil/Paraguai
A Educação Ambiental não se configura como uma linha de pesquisa dentro do programa, mas
percebemos que ela aparece em 88% dos resumos, sendo citada em 9% (referência a expressão EA),
explicita em 33% (abordagem direta sobre o tema EA) e implícita (abordagem indireta sobre o tema EA) em
46% (Gráfico 1).
3
11
15
4
0
2
4
6
8
10
12
14
16
Quantidades
Citada Explicita Implicita Nãoaparece
Gráfico 1. Educação Ambiental
Dos trabalhos analisados, 79% desenvolveram suas pesquisas em cidades do Estado do Mato Grosso
do Sul, apesar de o programa contemplar toda a Região Centro-Oeste (Gráfico 2), 9% em cidades de outros
estados, curiosamente da Região Sudeste e Região Sul e 12% em cidades de fronteira Brasil-Paraguai (Ponta
Porã e Pedro Juan Caballero).
26
34
0
5
10
15
20
25
30Quantidades
1Cidades
Gráfico 2. Cidades Pesquisadas
Do Mato Grosso do Sul Outros estados Fronteira
Os resumos analisados apontam fortemente para uma das linhas de pesquisa do programa que é
Desenvolvimento Sustentável, sendo 52% das dissertações desenvolvidas sobre esse foco, o ensino formal
aparece em apenas um dos 33 resumos analisados. As abordagens relacionadas às comunidades indígenas,
são 4 referentes a localidades em Mato Grosso do Sul (Gráfico 3) e uma em São Paulo.
Gráfico 3. Foco dos Resumos
1
9
5
17
1
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
1
Qu
an
tid
ad
e
Ensino formal Turismo Comunidade indígena Desenvolvimento sustentável Mídia
Ingenuamente pode-se pensar que a Educação Ambiental, adjetivando a Educação, remete
diretamente à escola, no entanto, mais do que um segmento da Educação, é a Educação em sua
complexidade e completude, não restringindo seu olhar à proteção e uso sustentável de recursos naturais,
mas incorporando fortemente a proposta de construção de sociedades sustentáveis.
4. Considerações Finais
Uma das linhas de pesquisa do Programa de Mestrado em Geografia da UFMS é Gestão Ambiental,
da qual a EA é naturalmente, um dos componentes não necessitando para isso estar contemplada de forma
explicita, portanto, os resumos analisados nos remetem a ferramentas, produtos e ações de Educação
Ambiental, muitos deles explícitos nos textos.
Sendo Gestão Ambiental sinônimo de Ação Preventiva e de compromisso com a melhoria contínua,
esperava-se uma maior aplicabilidade da Educação Ambiental nas pesquisas do curso de mestrado em
Geografia, pois a EA é uma ferramenta extremamente importante para a efetivação da Gestão Ambiental e
Desenvolvimento Regional.
É possível que os próprios autores não tenham consciência que eles contribuem para a Educação
Ambiental com seus textos, pois segundo Jacobi (2005), um dos desafios da EA é o de "enfrentar a
multiplicidade de visões", e isto implica a preparação do indivíduo para fazer as conexões e articular os
processos cognitivos com os contextos da vida. O outro desafio é o de "superar a visão do especialista", e
para tanto o caminho é a ruptura com as práticas disciplinares, como propõe a Educação Ambiental.
Referências Bibliográficas
BARDIN, Laurence. Análise do Conteúdo. Edições 70, LDA, 3ª edição: 2004.
GONÇALVES, D.R.P. Educação Ambiental e o ensino básico. Anais do IV Seminário Nacional sobre
Universidade e Meio Ambiente, p. 125-146. Florianópolis, 1990.
GUIMARÃES, M. A dimensão ambiental na educação. Campinas: Papirus Editora,1995.
JACOBI, Pedro Roberto. Environmental education: the challenge of constructing a critical, complex
and reflective thinking. Educ. Pesqui, São Paulo, v. 31, n. 2, 2005. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-97022005000200007&lng=en&nrm=iso>.
REIGOTA, M. O que é Educação Ambiental. São Paulo: Brasiliense, 1994.
VAITSMAN, Enice Pereira & Delmo Santiago Vaitsman. Química e Meio Ambiente: Ensino
Contextualizado. Rio de Janeiro, Editora Interciência 2006.