_a economia está um bagaço_, diz arminio

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  • 7/23/2019 _A Economia Est Um Bagao_, Diz Arminio

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    04/12/2015 - 05:00

    "A economia est um bagao", diz ArminioPor Claudia Safatle

    Uma das duas grandes incertezas que atormentavam os mercados foi dirimida com a deciso do presidente da Cmara, deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ),

    de acatar o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff.

    A primeira era sobre se haveria ou no um processo de impeachment. Ele comeou. A segun da dv ida sobre se o ministro da Fazenda , Joaquim Levy, p ermanecer

    ou no no comando da economia. Ele tem dito a interlocutores que s pretende continuar se o governo fixar a meta de supervit de 0,7% do PIB para 2016. Caso

    contrrio, deixar o cargo.

    O recado que os mercados deram ontem foi "ou o governo muda ou muda o governo", na interpretao de fontes da rea econmica. A mera permanncia de Levy sem

    um programa fiscal firme e o incio do processo de impeachment, no entanto, no resolvem os problemas dramticos que tornam opaco o futuro do pas. H muito a

    acontecer nos prximos dias para ficar claro se o pedido de impeachment seguir seu curso ou se acabar no nascedouro, com deciso do Supremo Tribunal Federal

    contra a ao de Cunha.

    evy quer supervit de 0,7% do PIB para permanecer no cargo

    Ontem, o PT protocolou mandado de segurana no Supremo contra a deciso de Cunha, mas desistiu assim que a escolha do relator recaiu sobre o ministro Gilmar

    Mendes. O ministro, porm, negou o pedido de desistncia do PT e a suspenso do processo e tornou-se o relator de eventuais futuros questionamentos.

    Os desdobramentos da crise poltica, que se mistura e se realimenta das investigaes da Operao Lava-Jato, ocorrem no momento em que o governo corre contra o

    tempo. A economia afunda em ritmo acelerado - os dad os de retrao do PIB divulgados p elo IBGE esta semana so apavorantes. O pas caminha para uma

    depresso jamais vista na histria contempornea e, diferentemente de outras situaes em que houve recesso, esta se instala depois de quatro anos de baixo

    crescimento.

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    Setores do governo veem a chance de Dilma renascer das cinzas, com renovado poder poltico, caso o STF aborte o impeachment, ou se ela for vitoriosa na obteno

    dos votos necessrios para barrar o processo na Cmara. Essa, porm, uma avaliao que pode no corresponder realidade de um governo que nasceu fraco e

    permanecer assim at os seus ltimos dias por vrias razes, sobretudo pela inapetncia para fazer um ajuste fiscal necessrio e inadivel, sem o qual o futuro ser

    sombrio.

    bom que fique claro: no h opo boa sem um ajuste, porque, dentre outras coisas, a dinmica da dvida para os prximos anos insustentvel. No existe a

    escolha entre fazer sacrifcios ou ser feliz, como tenta vender o PT. "O cardpio que existe hoje fazer o ajuste e reorganizar a economia (para retomar o crescimento e a

    prosperidade) ou no reorganizar a economia e ter mais sacrifcios e o caos", resumiu Arminio Fraga

    a esta coluna. Para o ex-presidente do Banco Central e scio da Gvea Investimentos, escolhido como ministro da Fazenda do candidato Acio Neves, derrotado nas

    eleies de 2014, a questo clara: "Esgotaram-se as opes. No h mais band-aid, esparadrapo ou CPMF que resolva. A realidade outra e temos que encar-la".

    Com baixo crescimento e supervit primrio das contas pblicas insuficiente, a dvida bruta crescer seis pontos percentuais ao ano e chegar em 2018 prxima a 90%

    do PIB, indica. Isso pressupondo juros reais constantes, PIB de -3% em 2016 e zero nos dois anos seguintes e dficit primrio de 0,7% do PIB no ano que vem e de

    0,5% em 2017 e 2018.

    "A dinmica da dvida absolutamente avassalad ora", adv erte Armnio. "E da produtividade, tambm", completa. "A economia est um bagao. O desemprego est

    subindo, o investimento cai 20% e a eventual aprovao da CPMF no ajuda coisa alguma. O pas precisa dar uma parada, abrir a caixa-preta do Estado e zerar o

    ogo", sugere ele, que recentemente escreveu uma sntese do que seria um programa econmico compatvel com a gravidade da situao.

    Pesquisa feita com base na carteira de emprstimos do BNDES para os prximos quatro anos indica uma queda de 20% dos investimentos at 2018. Ou seja, no se

    trata mais de discutir uma suposta piora no futuro. "O problema j aconteceu e gravssimo", alerta Arminio. " preciso uma coalizo poltica forte para abrir a caixa-

    preta do Estado e para fazer as reformas necessrias, de forma bem feita e abrangente. Sem o que, no h opo," Por tudo isso, a abertura do processo de

    impeachment, ainda que pelas mos do deputado Eduardo Cunha - que est sob suspeita de corrupo - pode ser o incio de uma soluo, acredita.

    Se o caminho for o vice-presidente Michel Temer assumir a Presidncia da Repblica, tambm no ser fcil para ele formar uma coalizo dada a fragmentao

    partidria com 30 legendas no Congresso. Nesse sentido, o ex-presidente Lula, mesmo exposto a atos de suspeio, um fator de desequilbrio na formao de um

    grande

    acordo poltico.

    No h no pas um grupo poltico organizado que tenha preocupao com o longo prazo. No h, na viso de Arminio, um "dono", entendido como um conjunto de

    foras hegemnicas com legitimidade suficiente para fazer as reformas necessrias, no para evitar os problemas, pois eles, como reiterou, "j aconteceram e so

    gravssimos".

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    Talvez Temer, se no for candidato em 2018, consiga imprimir avanos nas reformas como est no programa recm-divulgado do PMDB, "Uma Ponte Para o Futuro".

    O programa, pensado como instrumento de transio, converge ao pensamento dominante dos economistas e tem vasta gama de asp ectos que constam tam bm do

    programa que Arminio escreveu h poucos meses. Coincide, ainda, com a viso do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, mas no com a de Dilma.

    Arminio preconizava como medidas emergenciais a adoo de metas d e saldo prim rio de 1%, 2% e 3% do PIB para os prximos trs anos ap rovao da idad e mnima

    de 65 anos para a aposentadoria de homens e mulheres (para geraes futuras) e reaprovao do fator previdencirio desvinculao do piso da Previdncia do salrio

    mnimo teto para a dvida bruta/PIB, reformas do PIS/Cofins e do ICMS mudana das regras trabalhistas e aumento da integrao do Brasil ao mundo, dentre

    outras.

    Claudia Safatle diretora adjunta de Redao e escreve s sextas-feiras

    E-mail: [email protected]