a economia brasileira marcha forçada

27
f~-t. ~~ Q. \ Para os que sustentam que a rápida mudança das contas externas observada no biênio 1983-84 resulta da política econô- mica levada a efeito no período, a guina<:laque o governo anuncia à nação em_25 de outubro de 1982 constitui um marco. o texto então aprovado pelo Conselho Monetário Nacional afirma ser n--i-mpr-escindív~Labandonar---z '~ratégia 'de ajuste gradual" do Balanço de Pagamentos, em benefício de um processo mais rápid.o - , de combate ao déficit!. Mais precisamente o texto oficial faz saber •• que o objetivo fundamental da política econômica passa a ser '''reduz,ir drasticam"ente o déficit e,m,conta co,rrente do Balanço d,e) Pagamentos". Esta mudança teria se tornado um imperativo, em \!l decorrência da decisão, por parte dos bancos internacionais, de restriilgir 'a oferta de fundos ao Brasil, bem como a numerosos outros tomadores. Em última análise, o ajustamento cobrado ao país permitiria aos bancos internacionais reduzir "a participação 'relativa dos empréstimos ao Brasil, nos (seus) portfolios ... " A consecução do objetivo mais imediato - drástica redução 'do déficit de transações correntes - ficava a cargo da Balan~a Comercial, que através de violenta inflexão, saltaria de uma posi- ção de relativo equilíbrio, para um superávit de US~ 6 bilhões, L Integra do Documento "Programação do Setor Externo para 1983", Folha de S. Paulo, 26/10/82. 17 1. SUMÁRIA DISCUSSÃO DA POLíTICA DE AJUSTAMENTO \ t ,i; ", '1 \ " fItf:1 .~;~~ç' &.T; 4---.:- ~ ~b. ~ ~~~L~~ ~ ~ ~_\ 1.'3:t.<.>. ~ ... ~L ~~ ~~ f~-e-7 (l~ ~

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  • f~-t. ~~ Q. \

    Para os que sustentam que a rpida mudana das contasexternas observada no binio 1983-84 resulta da poltica econ-mica levada a efeito no perodo, a guina

  • j no ano entrante. Atravs deste caminho, dficit de transaescorrentes haveria de cair dos US$ 14 bilhes, previstos para 1982,para US$ 6,9 bilhes em 1983 e YS$ 5 bilhes em 1984. Seriaassim compatibilizada a necessidade de obteno de "dinheironovo", com a disponibilidade de recursos financeiros no mercadointernacional.

    Apontado o caminho para a imediata reduo das necessida-des de "dinheiro novo", o documento reconhece que no h muito

    !o que esperar das. exportaes, "cuja expanso est em grandeparte condicionada evoluo da conjuntura internacional". Assim

    \ sendo, "o supervit comercial em 1983 ser assegurado muito

    1mais, pela conteno das importaes (limitadas ao mximo deUS$ 17 bilhes) do que pelo comportamento esperado das expor-taes". .. Quanto aos mecanismos pelos quais as importaessero reduzidas, nada dito, sendo apenas assinalado em queproporo os setores pblico e privado tero reduzidas as suascompras no exterior. O documento ainda mais parcimonioso noque se refere s demais polticas. Acrescenta apenas, a esse res-peito, que "a exemplo do que vem ocorrendo nos ltimos doisanos, dar-sel" ntinuidade ao conjunto de polticas fIscal e m~netria, que devero contribuir para a sensvel desacelerao doprocesso inflacionrio, tendo im~cto adicional positivo, ainda ~& forma Illihreta, sore as contas externas, atravs da reduodo excesso de demanda agregada". "Por outro lado" - acrescen::-

    \\

    ta-odocumento - "ser mantido o realismo nas polticas de taxade juros, correo monetria e, especialmente, na poltica cambial".Quanto ao mais, evita-se falar no que ocorreria com o nvel geralde atividades. Pouco aps, no entanto, o documento do stall doFMI - nitidamente afinado com as diretrizes do CMN - iriaacenar com "um retorno ao crescimento econmico em 1984" 2,

    12. FMI - "Relatrio do staft para a consulta do Art. IV", 10 de fevereiro

    f I de 1983, publicado em anexo Exposio do Ministro de Estado da Fazenda

    i' no Senado Federal em 23/3/83,' Cabe talvez lembrar, a este propsito, que

    no dia seguinte resoluo do CMN, o Ministro da Fazenda declarou im-prensa: "no vai haver recesso nos prximos dois anos, e no poderia ser

    I de outra forma, porque as metas agora fixadas pelo governo para ~ setorexterno sero boas para o pas", ao que acrescentava: "O que bom para oJ Brasil bom para os trabalhadores" (Jornal do Brasil, 26/6/83). Este tipo

    de declarao, abundante poca, e que mais parece revelar sobre a pessoa

    18

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    .);

    Os objetivos anunciados pela programao para 83, recebidos poca com a mais completa incredulidade, foram alcanados eat mesmo ultrapassados - como se pode observar na Tabela 1. ~Alm disto, o retorno do crescimento em 84 completa um quadrode resultados positivos no Iront "real" (ao qual se contrapemas severas derrotas colhidas no combate inflao) que o Mi-nistro Delfim Netto iria celebrar em diferentes ocasies 3.

    Segundo ele, o ajustamento externo praticado no Brasil, emresposta s sucessivas "trombadas" recebidas pelo pas, no teria,porm, qualquer originalidade. Assim, referindo-se ao resto daAmrica Latina, diria enftico que "o processo de ajuste foi exa-tamente o mesmo em todos os outros pases". Ao que acrescenta,dirigindo-se aos que pretendam ressaltar o papel desempenhado pelacontrao das importaes, que "no caso brasileiro, em particular,a queda das importaes foi menor do que a dos nossoscompa-nheiros mais prximos - companheiros de sacrifcios, de sofri-mento" 4. A moral da histria salta aos olhos. O Brasil como muitos----- -E!:!.trospases - com ou sem petrleo, alguns mesmo da rbitasocialista - para assimilar a sucesso de choques externos queculminou com a fUtura financeira de setembro de 82; teve deadotar um programa convencional de ajustamento. Posto em r'-'ca o ro rama e estabilizao, desenha o elas toridades

    -.brasileiras e consagra o no aordo com o FMI, a economia, pelomenos no que se refere ao Balano de Pagamentos, respondeu ex-traordjnariamente bem. O xito assim alcanado, no obstante OS]juros externos mdios continuarem excepcionalmente eleva~os,' os IPcapitais de risco no terem voltado a ingressar no ritmo desejado,e o mercado financeiro internacional no ter se recuperado, per-mitiria, em breve, o retorno do crescimento.

    do Ministro, que sobre a' opo tomada pelo governo, ser sistematicamentedesconsiderado ao longo deste trabalho, o qual se interessa apenas pelas deci-ses que - erradas ou certas - paream afetar significativamente o cursodos acontecimentos .3. Vide, p. ex., "Mudnas Estruturais da Economia no Governo Figueire-do", palestra do Ministro na Escola Superior de Guerra, 13' de julho de1984, e "O Reencontro da Nao com o Crescimento". A. Delfim Netto,Folha de S. Paulo, 20/10/84.4. "Mudanas Estruturais na Economia do Governo Figueiredo", op. cit., pp.23 e 47.

    19

  • 21

    texto de Adroaldo Moura e Silva 6, para quem os "principaiselementos de instrumentalizao" da poltica de ajuste podem serassim resumidos.

    No que toca ao controle e reduo do dispndio interno:- o dficit pblico foi combatido, mediante reduo dos)

    .gastos de custeio, investimento e transferncia, e, por outro lado, )aumento da carga tributria;

    - o crdito bancrio interno foi violentamente restringido Je procurou-se reduzir o estoque real da moeda primria. Residemaqui alguns dos principais determinantes da brutal elevao dataxa de juros interna, responsvel, por sua vez, pela retrao nacompra de durveis (inclusive habitao) e nos investimentos;

    - a mudana da poltica salarial, combinada ao desempre-go, determinou grande contrao na folha real de salrios urba-no-industriais, restringindo, em conseqncia, a demanda de bensde consumo.

    No que se refere reorientao do gasto, mediante alteraodos .preos relativos:

    - a taxa de cmbio (real) sofr~u forte elevao, o que ~combinado com a compresso salarial, resultou em violenta altada relao cmbio-salrio;

    - o preo (real) de alguns.derivados de petrleo sofreu \significativa elevao, havendo tambm alguma alta (real) no )preo da energia eltrica.

    Encerrada a listagem das frentes de atuao da poltica deajuste, Adroaldo no se detm em especificar como elas teriamprovocado os resultados obtidos. H no seu texto, a esse respeito,to-somente:

    - uma aposta, segundo a qual a mudana cmbio-salrio a mais "importante medida de poltica econmica em resposta crise externa" 7;

    6. Do autor, "Ajuste e Desequilbrio: Exerccio Prospectivo sobre a Econo-mia Brasileira (80/84)". Mimeo., novembro, 1984.7. Idem, op. cit., p. 14. Delfim Netto, de sua parte, afirma que "Os resulta-dos conseguidos no comrcio exterior foram conseqncia da alterao deli.berada da taxa cambial" ("Mudanas" ... , op cit., p. 17). Para ele, no entanto,at mesmo a maxidesvalorizao de dezembro de 1979 foi eficaz. pormconsensual entre'os observadores do perodo, que a inflao e a poltica cam-bial de 1980 anularam os possveis efeitos positivos da mxi de 1979.

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    I< *

    o ltimo ponto merece destaque. J em dezembro de 1983o ministro havia declarado que o pas voltava a dispor de um"espao para crescer, no s porque ns temos capital e mo-de-obra desempregada, como porque ns temos uma possibldadede ampliar as importaes do setor privado em 15%". Posterior-mente, congratulando-se com a retomada em curso no ano de 1984,frisaria que o reincio do crescimento "sob liderana das expor-taes se dava na direo correta, que no colide com o equilbrioexterno" s.

    Acredito haver suficientemente sublinhado os resultados al-canados pela economia brasileira; que podem levar a crer que a

    p poltica de ajustamento posta em prtica em 1983 e 1984 foi unisucesso. Para que as mudanas observadas sejam justificadamenteatribudas poltica adotada preciso, no entanto, ir mais alm.H que indagar que medidas e instrumentos foram efetivamenteresponsveis pela promoo do ajustamento, e verificar se a formaem que o ajuste veio a ocorrer corresponde ao esperado comoresultado da ao destas medidas e instrumentos. Isto porquepodemos estar diante (em maior ou menor grau) de uma meracoincidncia entre polticas e resultados. Em tais casos - diver-sas 'vezes registrados em economia - a verdadeira explicaoreside em outra parte, e a poltica supostamente responsvel peloocorrido apenas corrobora - ou at mesmo prejudica - a aode outros determinantes.

    Tendo presente a advertncia anterior, tratemos de especificarno que segue as grandes linhas de poltica de conteno, para, aseguir, confront-las com as mudanas que compem a reviravoltaocorrida nas contas externas do pas. Estaremos assim, ainda quesumariamente, testando a suposta responsabldade das polticasde 1983 e 1984, na obteno de ajustamento externo.

    Comecemos pela especificao das polticas que integram oprograma de. ajustamento, valendo-nos para tanto de um recente

  • GRFICO 1

    -84

    importaes

    ..................

    83.

    82

    15

    17

    21

    13

    19

    25

    23

    10. Banco Central do Brasil, Boletim Mensal, Separata, agosto de 1984.

    27

    23

    contas externas, as importaes brasileiras no pareciam oferecerespao para novos cortes. Isto pode ser inferido de duas constata-es, A primeira, de natureza genrica, est espelhada na Tabela2, a qual nos indica que - ao contrrio do ocorrido nos demais

    , I' '1 d f' , d'. - (Imp ) .~palses aI assma a os - ~=u.~~~~J~~es PIB .~~

    i~~~~!~~tl~J:~~~w~~a~~~l~~tf~8~das importaes brasileiras em 1982 eram constitudos de Combus-tveis e Lubrificantes e Matrias-primas 10. Numa palavra,"as impor- Gtaes brasileiras encontravam-se "no osso", sendo tolice ou m fcomparar a reduo das importaes aqui _verificad com o ocor-rido na Argentina e no Chile, ao trmino do delrio consumistapatrocinado pelas respectivas ditaduras militares. Assim tambm,a galopante elevao das importaes oCQrrida no Mxico e na

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    - e a concluso, de acordo com a qual "a estrutura industrial ~brasileira demonstrou extraordinria capacidade de adaptao. aos)estmulos de poltica econmica" 8,

    Ficam.faltando os nexos. A menos que se aceite, com o autor,que ao caminhar "na direo de substituir mecanismos- tradicionaisde reserva~.de mercado por mecanismos mais propcios compe-tio atravs do cmbio real e tarifas aduaneiras", e ao "substituira generalizada inclinao do passado de proteger a acumulao docapital atravs de crdito subsidiado e expedientes fiscais, por me-canismos mais impessoais e menos cartorializados"... se estejapromovendo a obteno dos resultados alcanados, Isto, porm,no parece ser mais do que uma tortuosa profisso de f na "m~gica" do mercado. E continuamos sem saber como a poltica deajustamento explica o ajustamento externo realmente verificado. , .9

    22

    8. Ih., op. cit., p. 16. A concluso remete sua Tabela 4. Mas o que l encon-tramos to-somente um registro de dados confirmando o fato de que em1983 a queda das importaes prevalece sobre o aumento das exportaes, en-quanto o inverso se verifica em 1984. H tambm informaes a respeito daespetacular expanso do coeficiente de auto-abastecimento de petrleo. A elesAdroaldo se referir, realando "o dramtico processo de substituio deimportaes que estes nmeros encerram" (p. 18). Sr que o autor o atri-buiria s medidas da poltica que integram o programa de ajustamento?9. Voltaremos ao tema, ao comentar trabalhos de E. Baeha e M. C. Tavares.

    * * *

    Se pretendermos avanar na compreenso de como se deramas transformaes que culminaram no ajustamento externo aquiocorrido, h que perceber, antes de tudo, que o processo brasi-

    leiro de ajustamento difere profundamente no apenas do pre-visto pelas autoridades, co~o' do ocorrido em outros pases.

    O Grfico 1 mostra, em linhas tracejadas, a evoluo dasimportaes e das exportaes previstas pela Programao para83, e, em linhas contnuas, a evoluo efetivamente verificada.V-se ali que, enquanto as exportaes tiveram um comportamen-to prximo ao previsto, as importaes comportaram-se de formaabsqlutamente insuspeitada, Vejamos esta questo mais de perto,

    Ao ter incio, em 1982, a drstica mudana observada nas

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  • ~ w~ -24 , 25 ./1'~~ fC

    Venezuela nos anos que precedem o colapso financeiro interna-cional de 1982 criou uma margem de compresso, inexistenteno Brasil. No obstante tudo isto, as importaes brasileiras emdlares de 1982 caram nada menos de 33% entre 82 84. E,

    TABELA 2

    Importaes Totais PIB

    1973 1976 1979 1982 1973 1976 1979 1982.'

    Brasil

  • exportador brasileiro. Tidos em conta estes fatores, percebe-se,alis, que a mudana da referida relao foi em parte compensadapela perda de outras vantagens.

    Por ltimo, mas nem por isto menos importante, h queadvertir que 1982 no deve ser tomado como base para a ava-liao do comportamento das exportaes. Naquele ano verificou-se, por motivos excepcionais e bem conhecidos, nica retrao

    1regis.trada nas exportaes br.'asHeira~nos ltimos 18 anos 12. Facea esta anomalia, o crescimento registrado em 1983 e 1984 contmum elemento "corretivo", de recuperao da tendnCia de longoprazo~3. .

    As conSideraes acima conduzem-nos a resultados que podemser assim resumidos. &W.uU~Wi.>!,>~~~nl~!1.~~~J,~tTl~i&~~-*W.~4 (e sob a influncia de mltiplos fatores) Q~~jBl~1h,~~f-~~i

    ~~~~'s~f~,~~~&ft:-~{~JftWt~~~~~~~f:!~t;f1!~~!g~~~~~r~-~N~Jt.tllti'FJY~~~~1l~~9ii4~~J#l?i:t,~~\~~:.,g9,~~j

  • .,

    TABELA 3Importaes (em US$ milhes)

    Importao de: 1972 1973 1974

    Bens de Consumo 463 720 973Matrias-Primas 1.565 2.560 5.588Combustveis e Lubrificantes 469 769 2.962Bens de Capital 1.734 2.142 3.119

    Importaes totais 4.232 6.192 12.641

    Exportaes Totais 3.991 6.199 7.951

    FONTE: Banco Central do Brasil, Boletim Mensal, separata de agosto de 1984.

    ~ mente:. ~o~'!L~~2,?'Jl.~.e.,s~~Jt,.g!5:;c~M~ji;\~~\}?;~,i9;~~.

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    aperfeioada) pelo governo empossado em 197418 Em tal caso,o novo g.o:erno teria endo~sado~J~~~t;"~~~~121,,,g~g;,:y~~r~im,~"tt9com epdWl9:a.men!9,.,a~r~AgYJ1A,.p:U~.,-lJlJj.ntlqas.c~.rtas precauC?es,a3r{1'dt=~~.~.>-

  • pectiva dos novos governantes, como aquilo que se dever fazerfrente s novas condies imperantes na economia mundial, paraassegurar a transio ao estgio superior do desenvolvimento. Asresponsabilidades da poltica econmica e, em particular, do plane-jamento, seriam enormes. Tanto mais que, relegada s reaes domercado, a economia no parecia tender a reagir crise comnovos avanos. Esta importante questo (mais adiante retomada),

    v,chego~ a ~er explicitada ,por V~12BA?"",.E4f.f"".s.g,r,m~~:~~,..;2z~~q~J1i-

    ~~ e..~Y-.,s.;~~.:~.~c.!....~ ..J~..:;...41.~.~.~d~.,"~j{,...'.J.\s.~.~~.,e.lJ'.s~.a.~>~1.~';.4."~.';C.;I.~o.'-.~".O,~-.~.!~.'~~"I ~ ~~~~q~~Ji~.'m,.r.~\~~~33

  • 34

    Q.e~~,,~~a.vt=r.~!'i'~"1'i' __ "-If~. 'li'.>.'.. ""Nopretenqo, porm, colocar a racionalidade econmica no lugarda yontade poltica, como fundamento da opo. Isto seria equi-vocdo emistificador. evidente, numa palavra, o primado davontade poltica nas decises tomadas a partir de 74. O gtle pre-t~~~~ m2~~;,..~o~fr~~,i9!~~.'ll!e,~q,~vi~~r ~pacJise ~~~9~t~i.~i,Wl2~sly.me~~?r.~7 "gr3;yi~age!>"e,., ~ol>r~t~

  • 37

    30,~I PND, p. 8;31. J. P. R. Velloso, Brasil: A Soluo Positiva, op. cit., p. 124.

    Contrariamente, se antes de ser detonada a reverso conjun-tural, tivesse incio o lanamento de um novo bloco de investimen-tos - a "safra de 74" - seria factvel evitar o desencadeamentode um processo cumulativo de retrao e, possivelmente, o esfria-triento do estado de nimo dos capitalistas. Alm do mais, preser-vado um ritmo de expanso da renda, digamos, razovel - como'resultado da progressiva entrada em cena dos novos investimentosT' a ampliao da capacidade produtiva (resultante da safra domilagre) poderia, com maior ou menor dificuldade, ser assimilada.. . Tendo presente as consideraes anteriores, percebe-se que 0'\'bloco de investimentos anunciado pelo II PND, destinado a "subs- \\'dtuir importaes e, se possvel, abrir novas frentes de exporta- ~_ /" 30, teria em princpio por efeito: ~tentar a cQ!luntura impe- orvqjiildo uma descontinuidade de conseqncias imprevisvel!'; ~e- f'/guraro~co necessrio absoro do surto anterio~i- imentos; e, claro, modificar, a 10n..8.0prazo, a estrutura produtiva. .J',J:~~dq-s pr~atiamn.~~:jmn,Q.~~t.~r~:9pJfr:a:..,~.,.~.ar;l.t.~;.J!QJJJg~nto

    , ~m-n~S':a:1r;~ai:iJiy~i[~~"t~E:'t)~trs'pllavras, a sorte&c~ta~'1ITtt~:""a~gr~1Ii'da"'~possibilidade de uma resposta"positiva" 29 crtica situao a que fora levada a economia.

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    ,~ 1f tendo que convocar (sic) as empresas para viabilizar alguns projetos. o caso do papel e celulose" 32.

    O governo contava, alm disto, para o cumprimento de algumasde suas principais metas, com as empresas de sua propriedade. Aeste respeito, alis, h um vasto silncio no 11 PND (bem como, emregra, nos demais documentos oficiais). No entanto, e como assina-lou Lessa, "Ainda que o 11 PND no o diga~', Looya goltica

    ~'~cava n,9.centro do Ralco da industrializao br~eira, a g~de empr~sa estatal" 33. O~.gigantescos investimentos, a cargo dosistem~J~lytrQRt~,_9a,.:e;t~roQr,,da Siderbrs, ..da Embratel e de~ir~s. ~IJlP~.e.~~~.,..p~qli~as,rarp.,~ rigor, ..sustentculo do progra-wa. E isto num duplo sentido: por sua funo estratgica e pelo

    ~ f~to de que, de suas encomendas, derivavam numerosos. projetoslevados a efeito pelo setor privado. Alm disto, alguns dos projetosa cargo das estatais, pelo seu perodo excepcionalmente longo dematurao, fariam com que a influncia da estratgia de 74 per-durasse muito alm do declnio dos investimentos privados a elaassociados - cujo arrefecimento parece datar de 197634 E isto(como veremos mais adiante), no obstante o explcito repdio daestratgia de 74, pela poltica econmica que comea a se implantar

    1 em fios de 1979. que a estas alturas (1979/80) a economia j se

    J-._~--,--_ .._.._~._ ,." ,'>'"~'- -~ .

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  • 41

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    43

    Prospeco de PetrleoExpanso da SiderurgiaTransportes UrbanosSaneamento BsicoFerrovia do AoTelecomunicaes111 Plo PetroqumicoPrograma RodovirioPrograma NuclearItaipu

    Segundo Ministros

    ".46. Consulte-se, a esse respeito, Fernando Fajnzylber, La lndustrializacinT:ruTjcade America Latina, op. cit., pp. 57 a 64.47~Revista Exame, 13/10/76. Foram consultados 12 empresrios, dirigentesd~ empresas: Bergamo, Brown Boveri, C.B.P.Q., Cobrasma, Confab, Con-fQrjlJ" Construtora Alcindo Vieira, Ecisa, Heleno & Fonseca, Santa Matildee pltra, e trs ministros, cf. Carlos Lessa, "A Estratgia de Desenvolvimento1974-1976. Sonho e fracasso", op. cit., pp. 163 e 164.

    Segundo Empresrios

    Il~ipuFerrovia do AoE~panso da SiderurgiaPteispeco de PetrleoPtggrama Nuclear,~I1~amento Bsico{pansportes UrbanosllPlo PetroqumicoPrograma Rodoviriotelecomunicaes

    PRIORIDADES DE GOVERNO

    Terceiro Mundo e, em particular, para a OPEP 46. Estes foramde Jato os nicos mercados (fora o do petrleo) que se revelaramc~pazes de engendrar vultosos recursos adicionais' no perodops-74. Intil acrescentar, tal tipo de resposta requer o desenvol-vimento prvio das referidas indstrias e isto, por sua vez, supeUlll elevado grau de capacitao tecnolgica - estando pois, ~ppca, fora do alcance da economia brasileira. No creio, em suma,que existisse, para o Brasil, soluo capaz de evitar o endividamen-,to externo e o redirecionamento forado dos investimentos.

    Resta no entanto indagar se foram corretamente escolhidasas prioridades e, concretamente, se no teria sido melhor confiarno tirocnio dos empresrios privados. Pelo que conheo daspiesses e sugestes feitas poca por interesses privados, creioq4e no. A ttulo de curiosidade, seguem abaixo, sob a forma deescalas de prioridade, as recomendaes feitas ao governo por umgr4po de empresrios e alguns ministros de Estado em outubrode 1976 47.

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    44. Editorial de O Estado de S. Paulo, 5/3/75, de acordo com CharlesFreitas Pessanha, op. cit., p. 90. No mesmo tom, veja-se "O Gigantismo dasEmpresas do Estado", de Eugenio Gudin, o qual alerta para as aes sub-reptcias dos "melancias", in Pessanha, op. cit., p. 115.45. J. P. R. Velloso, entrevista a Viso, 19/4/76.

    42

    ciso despertar o governo para essa realidade. preciso conclamarnossas Foras Armadas, os homens de negcio, todos os que seinteressam pelo futuro da nao" ... (idem, p. 152).

    Nesta primeira fase da campanha (aquela propriamente refe-rida ao 11 PND) prevalece um tom de denncia, st';ndo, inclusive,bastante freqente apontar como responsveis pelo avano da es-tatizao aqueles "ideologicamente engajados na tese marxista-*' leninista", que longe de terem desaparecido lograram xito em "in~filtrar-se no chamado segundo escalo do aparelho estatal" 44.

    No discutirei aqui estas alegaes, - que seriam reedita-das, com mais sutileza, nos anos subseqentes. Pretendo apenassublinhar gue o avano da ao reguladora do Estado, medianteolticas de est~o e orient~o das _de.,ises privadas, bem

    como a ocupao de novos espa.QS..-p.el1!L~.resas p.j,lic.as,~ era aI inerente deciso ~\!:a~nte o_~ol-

    vimento em meio Lcrise e resp'onder-.Q.. estr.angYill....lllent~L~,ger-J!-9~vs da reestruturao do aparelho produtivo. Em suma,diante da crtica: situao com que se defrontava a economia em1974, o governo que acabava de ser empossado negou-se a delegarao mercado a conduo das decises econmicas. Isto posto, haviaque lanar em campo todas as foras e instrumentos direta ouindiretamente comandados pelo Estado. Havia, em particular, quereforar a capacidade dos poderes pblicos de direcionar recursos.

    l~Assim, por exemplo, a transferncia de fundos como o PIS e o~ PASEP para o controle do BNDE visava assegurar que eles vies-, sem a financiar investimentos (e no o consumo de durveis) e,mais, que as reas de aplicao fossem aquelas "vitais para o de-senvolvimento econmico do Brasil e para resolver o dficit dobalano de comrcio" 45.

    No fcil imaginar o que teria ocorrido com a economiabrasileira, caso a acomodao crise houvesse sido entregue sreaes do mercado. A resposta encontrada pelos pases desenvol-vidos, para pagar a conta do petrleo, foi uma grande expansodas vendas de mquinas, equipamentos e armas, para os pases do

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    Como se v, nas respostas dos empresrios, a Prospeco dePetrleo surge como quarta prioridade, abaixo mesmo da Ferroviado Ao (!), qual conferida a segunda prioridade, s superadapor Itaipu. Quanto ao Programa Nuclear, surge logo aps a Pros-peco de Petrleo, e acima dos Transportes Urbanos ... 48. Asrespostas dos ministros, como seria de se esperar, conferem com asopes do governo, que seriam, alis, logo a seguir reafirmadas.

    Os despropsitos contidos na listagem anterior dispensamcomentrios. Igualmente disparatadas seriam, por exemplo, certaspropostas e atitudes de representantes das montadoras no ps-74.Dentre elas destaquemos: introduo do motor a diesel para carrosde passeio; resistncia em cessar a produo de veculos de seiscilindros; resistncia ao motor a lcool; previses, como a do Sr. ,.Sanchez da GM do Brasil, de um mercado interno de dois milhesde veculos em 1985, etc.49

    * * *Volto-me agora para um outro gnero de crtica, representado

    pela j referida tese de Carlos Lessa.Lessa no cr que o II PND pretenda dar uma resposta crise

    externa. Para ele "o II PND faz da 'crise do petrleo' ( qual oautor sempre se refere entre aspas) a justificativa para -a proclama-o serena e no traumtica do projeto de potncia' nascida nointerior do aparelho do Estado" (op. Clt., p. 115, parntesis acres-centados). O prprio "equilbrio das contas externas seria um obje-tivo ttico" (idem, p. 115). Para Lessa, enfim, "o diagnstico expl-cito (vale dizer, a crise do petrleo, etc.) apenas a ponta do ice-berg" ... (ib., p. 53, parntesis acrescentado), havendo que partirem busca do no dito: s assim poderemos entender este documen-to que "anuncia Sociedade o destino, os encargos e as benessesdos anos vindouros que o Estado-Prncipe consultando suas razeshouve por bem proclamar" (ib., p. 2).

    48. A Ferrovia do Ao e, em especial, o Acordo Nuclear, j eram entoobjeto de cerrada crtica por parte de tcnicos e cientistas.49. Os atritos de representantes da indstria automobilstica com a novaadministrao comearam cedo e se agravaram rapidamente. Segundo arevista Viso de 23/9/74 (p. 66) o Sr. Wolfgang Sauer, presidente daVolkswagen, teria confidenciado "ou sou um bobo ou est tudo errado entrens e o governo". Cf. Carlos Lessa, "A Estratgia de Desenvolvimento 1974.1976. Sonho e Fracasso", op. cit., pp. 188 a 197.

    44

    o nosso autor v, em suma, no episdio II PND, um caso'extremo de descolamento do Estado de suas bases de sustentao."O prprio fortalecimento do capital nacional, repetidamente enfa-tizado no II PND, seria apenas o primeiro momento de uma Estra-tgia que aponta a Nao-Potncia" (ib., p. 23). M~s, Qill.

  • 53. Veja-se, adiante, seo "O Ganho de Divisas decorrente dos GrandesProgramas Setoriais", pp. 56 a 60.54. 11 PND, p. 61.

    47

    l!129io(~_.muit9)lll:mOSa mobilizao) de uma sociedade, que noparticipou de sua elaborao e no tinha como,cpntrolar_a..suaexe-c'ti: Estfali' de respaldo poltico e participao social deve tercusfado muito. E isto no apenas pela razo trivial de que qualquerplano ou poltica ganha em vigor quando discutido e aceito pelasociedade, mas, concretament{:, pela carncia de apoio frente a inte-resses menores ou mesmo escusos que ameaavam mutilar a estra-tgia. Acrescente-se a isto o fato de que a corrupo e a impuni- '4(dade, to caractersticas do ambiente fechado das ditaduras, impu-seram severos estragos consecuo de diversas metas. Nada disto,porm, impediu que - a um custo seguramente superior ao neces-srio - a transformao da estrutura produtiva almejada pelo 11PND tenha, em grande medida, se realizado.53 O que fracassou foi

    .""~,,,.,1'- .~,':,1.~-:'!#.

    achamada "estratgia social", de acordo com a qul-seria neces-s02-~iiiii~t~B9i!lcas' redistributivas enquanto o bolo cr~sc~;'.54

    jii;"'J,~'ii1,l: '

    Espero haver deixado claro que, segundo penso,.,Q,.,q1.!,J1*.~~~.cQJ}Qenvel.no, perodo em foco llo decorre das. diretrizes" econ-.ii.;~~ibi!~i.~sem.J]:zJ::e :~lm::~stjiiiiii~:::P9Im~9:Y1e~';fs claro, no entanto, que as taras do regime contaminaram, em maiorou menor medida, tudo o que ocorreu no perodo. No que se refereao plano propriamente dito, o 11 PND cumpriu toda a sua contur-bada trajetria, como um produto de. gabinete, incapaz de obter o

    52. Veja-se a propsito as crticas - no nosso entender procedentes - deJos Serra a Guilhermo O'Donnell em "Trs Teses Equivocadas Relativas Ligao entre Industrializao e Regimes Autoritrios", in DaVid Collier(org.), O Novo Autoritarismo na Amrica Latina, Rio de Janeiro, Paz e Ter-ra, 1982.

    46

    * * *

    liI~III antes que nada, a economia, ou se se quiser, o mercado. O equ-

    voco seguramente provm de que naquele momento o Estado tam-bm era - ostensivamente - o sujeito no plano poltico. E, aquisim, o objeto era a sociedade. Mas, o 11 PND, enquanto estratgiade superao da crise e consolidao dos interesses de longo prazoda economia brasileira, que rejeita e redireciona os impulsos proce-dentes do mercado, poderia haver sido adotado atravs dos maislmpidos processos democrticos. Em outras palavras, a perversopoltica reside nos mtodos atravs dos quais o 11 PND foi definidoe implementado. Isto posto, admita-se que as democracias euro-pias, frente reconstruo do ps-guerra, tomaram tambm deci-ses que pouco ou nada tinham a ver com os interesses capitalistasde curto prazo - e exigiam grande presena e intensa atuao doEstado sobre a economia. Por outro lado, convm no esquecer, oregime seria autoritrio, com ou sem 11 PND. . . &~.~,lH!~W~~,..Latina, asditaduras_.tm~reyelado maior afinidade com o liberalis-1V9.i9n9_mi~~t-$"o:,~.ati~id~d~;,p;i~~uri~~~~p-o~tado~~;,-.que':.~Qj1opl,g!(lHPtmt9.l::- industriali~o. 52

    .inalizaEdo ~.~i~~C:E~2~~9.-tl!;~..5lJ1R}'{U~.!}b~Jr~PJ;tJ~r' ,--...,.~

  • 49

    requeria, mais uma vez, uma resposta por parte do pas. A escolhacoerente com o II PND deveria combinar, no nosso entender, umareviso, face s novas circunstncias, dos programas e projetos defi-nidos em 74, acrescida de medidas extraordinrias do tipo: raciona-mento do consumo de combustveis; controle das importaes, porempresas (medida que veio a ser adotada em 1980, aps a queimadas reservas do pas); programa de emergncia de substituio deimportaes; e, claro, fomento redobrado s exportaes. A estacorreo e intensificao do processo de ajuste deveria ainda seracrescentada uma poltica industrial e tecnolgica impondo normase especificando limites para o consumo de energia em setores taiscomo: veculos automotores, eletrodomsticos, construo civil, etc.Teria com isto (praticamente) incio uma poltica mais "fina" deadaptao era da energia cara, atuando-se agora, ainda que tar-diamente, sobre processos' e produtos.. Mais que uma estratgia alternativa, esta poltica representariaum derradeiro esforo (e sacrifcio) visando abreviar o caminho emdireo s transformaes visadas pelo II PND. Afinal, as novasdificuldades - a includa a recesso mundial de 1980 e 82, e ocolapso do mercado financeiro internacional - vinham comprovara validade do empenho assumido no sentido da internalizao dasfontes de energia, dos insumos estratgicos, e dos bens de capital.

    fundamental ressaltar ainda que desta feita - em 1979 -uma poltica de conteno do crescimento teria resultados penosos, 1.mas, sem dvida, nem sequer comparveis s desastrosas conse-qncias que era de se esperar de uma freada em 1974. Neste lti-mo ano, insistimos, travar uma economia que havia no ano ante- \rior crescido espantosa taxa de 14%, que havia recentemente ,d~flagrado um grande surto de investimentos (em maior ou menor

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    medida colocado em questo pela quadruplicao do preo do pe-trleo), e, num momento em que era crucial preservar o estado denimo dos empresrios, para poder engaj-los no program de rees-truturao do aparelho de oferta, equivaleria a promover o desmo-ronamento do presente e o comprometimento - talvez irremedivel.-'. do futuro. Em 79, por contraste: a velocidade da economia era lmuito inferior; os investimentos oriundos do milagre (dada a sus- Itentao do crescimento nos anos anteriores) j haviam sido emmaior ou menor medida digeridos; a safra de investimentos de 74j se encontrava em adiantado estgio de maturao; e, o que tam-bm importante, no se pretendia deslanchar uma nova onda deinvestimentos. Em resumo, os efeitos negativos do desaquecimento

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    No ano de 1977, como reflexo do rgido controle das impor-taes (parte integrante da estratgia adotada), da queda do ritmode crescimento da economia e da evolo excepcionalmente fav-rvel dos termos de intercmbio - que saltam de' um ndice 76em 1975, para 100 em 1977 -, foi momentaneamente atingida umasituao de equilbrio das transaes comerciais. No ano seguinte,com os principais programas e projetos oriundos do 11 PND aindaem pleno andamento, o pas foi alcanado pelo segundo choque dopetrleo. A nova alta, que faria o valor das importaes de com-bustveis lquidos saltar do patamar de US$ 4 bilhes, para valores

    : prximos a US$ 10 bilhes entre 1980 e 82, se seguiriam a explo-j so dos juros - principal fator determinante do salto da conta de'I juros lquidos pagos ao exterior, de US$ 2,7 bilhes em 1978, para

    o US$ 9,2 bilhes j em 1981 - e, a ela associada, a derrocada dospreos de importantes produtos primrios exportados pelo pas.Outras adversidades, como bem sabido, viriam a se somar: a lon-ga recesso dos pases industrializados e o colapso do sistema inter-nacional- de crdito privado.

    A brutal queda da capacidade de importar - que de um ndice236 alcanado em 1978 cai, j em 1979, para o valor 161 55

    48

    3. VICISSITUDES DO II DELFINA TO

    55. ndice com base 100, em 1970, calculado a partir de daqos do BancoCentral.

    Introduo

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  • no se abateriam sobre uma conjuntura voltil - e. nem tampoucose pretendia obter, como em 74, a adeso dos capitais privados aum novo salto adiante da economia. Por fim, o amplo comprometi-mento direto e indireto dos poderes pblicos em projetos associa-dos ao 11 PND facilitaria a sustentao -. durante o desaqueci-mento- -'--'-dos empreendimentos integrantes da safra de 74. Alis,ameaados talvez no curto prazo, eles haviam se tornado ainda maisvlidos numa perspectiva de longo prazo. Este ltimo ponto pare-ce-me crucial. Significa que a economia no mais se encontravaameaada - como em 74 - por uma crise de ajustamento do Jfestoque de capital.

    O aprofundamento da opo de 74, aliado - na medida doindispensvel - ao esfriamento da economia, era, pois, no meuentender, uma possibilidade a ser seriamente considerada em 1979.A esta posio talvez tenha tendido o Ministro Simonsen, ao defen-

    . der, em julho de 1979, a implantao de uma "economia de guer-ra" 56. Aps sua queda, vozes isoladas continuaram, vez por outra,a propor este tipo de soluo. Como bem sabido, este no seria,porm, o caminho adotado. Muito pelo contrrio.

    Confronto de opes

    J foi diversas vezes dito que a poltica econmica, mais umavez sob o comando de Delfim Netto, a partir de agosto de 1979,caracterizou-se ~inconsist~. Que Delfim disse e desdisse~apontou numa direo e logo a seguir noutra, at mesmo contrria,no cabe dvida. Acredito, porm, que sob este ziguezague hopes bsicas que vo adquirindo crescente consistncia. Maisadiante trataremos de identific-las. Antes, porm, convm fazerunia breve referncia fase inicial da nova poltica, por muitosimpropriamente apontada como um desastrado en~aio de hetero-doxia. .

    Passados os eufricos pronunciamentos que acompanharam aapotetica posse do novo Ministro do Planejamento,. sua polticaveio a tomar corpo com o chamado "pacote" de dezembro. A algunsobservadores no passou desapercebido o fato de que, se por umlado o novo ministro se negava a admitir a recesso - donde a

    56. Diretrizes para a Comisso Nacional de Energia, Jornal do Brasil,9/7/79.

    50

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    suposta heterodoxia -, por outro comeava a definir uma estra-tgia visando levar o pas "de volta economia de mercado" 57.Mais precisamente, diversas medidas tomadas por Delfim estavamafinadas com o receiturio ortodoxo. Dentre elas destaquemos: o 1-fim do subsdio s exportaes; a extino do depsito prvio; orelaxamento dos critrios de similaridade; o incio do desmantela-mento do mecanismo dos juros subsidiados e a desvalorizaocambial.

    bem verdade que algumas destas medidas haviam sido con-cebidas (em regra no binio 1974/75) como "de exceo", j exis-tindo compromissos no sentido da sua gradual extino. Ocorre,porm, que a situao havia se tornado, mais uma vez, "de emer-gncia". E o sinal de alerta havia partido do prprio MinistroSimonsen que - insuspeito no seu afinco em debelar as pressesinflacionrias - havia declarado: "~ inflao pssima, mas o im-p,asse ext~no mortal" 58. Delfim ignorou o alerta, desfez-se dos ins-trumentos heterodoxos de controle do comrcio exterior, desvalo-rizou. .. e voltou atrs, restabelecendo - e at mesmo intensifi-cando - certos controles, pouco depois. Permaneceram, no entanto,o "choque inflacionrio", e outras conseqncias negativas da ma-xidesvalorizao.59 Restou tambm uma situao externa profunda-mente agravada pela dilapidao das reservas e o crescimentoexplosivo da dvida de curto prazo.60

    Findo o episdio, na segunda metade de 1980, os contrastesentre a nova concepo e a estratgia de 74 iro se tornar paten-tes. A grandes rasgos, o confronto pode ser estabelecido comosegue.

    57. Consulte-se, a propsito, o suplemento da Gazeta Mercantil de 10/12/79,dedicado ao pacote. Veja-se, em particular, os artigos intitulados "Os novosrumos para crescer", "Uma parte da receita do FMI", "No exterior reaoimediata dever ser favorvel ao pacote", e "Para os banqueiros, magnfico".Como muitos podero lembrar, o "pacote de dezembro" recebeu o apoio decorrentes bastante diversas. Destondo do clima predominante, Jos Serrafaria dura crtica s novas medidas, em "Remdio para piorar doente",Folha de S. Paulo, 12/12/79.-. Diretrizes para a Comisso Nacional de Energia, Jornal do Brasil,9/7/79.59. Como j foi assinalado, a poltica de prefixao das desvalorizaes seencarregou de reconstituir, em poucos meses, a paridade cambial anterior maxidesvalorizao.60. Paulo Nogueira Batista Jr., Mito e Realidade na Dvida Externa Brasi-leira, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1983, pp. 22 e 23.

    51

  • A interpretao do desequilbrio observado nas transaesexternas brasileiras sofre, com Delfim, uma profunda alterao. Aoobservador menos atento isto pode passar desapercebido, seja por-que Delfim evita explicitar a mudana de diagnstico, seja porqueele responsabiliza enfaticamente o exterior pelo ressurgimento dodesequilbrio externo. Esta viso dos fatos - o pas teria levadouma nova "trombad" - no apenas se assemelha de 74, comodiscrepa, inegavelmente, da viso do FMI. Cessam a, porm, oselementos de continuidade. Quanto mudana em curso na percep-o dos problemas enfrentados pela economia brasileira, revela-se;antes que nada, no realce atribudo magnitude do gasto (global)interno. Para Delfim, os pases produtores de petrleo haviam colo-cado em 1973 um imposto sobre "a economia nacional". E acres-centa: "isto implicaria uma reduo ou a nvel de consumo, ou anvel de investimento. Como no fizemos isto, entramos no cami-nho de ampliar o endividamento externo".61 No preciso realara discrepncia entre esta viso - to caracterstica da comunidadefinanceira internacional - e a percepo do problema que im-pregna o 11 PND. Neste ltimo caso, no se perde jamais de vistaque a economia enfrenta uma situao de estrangulamento externo.A curto prazo, a situao podia ser contornada mediante uma com-binao de freios e estmulos aplicados, respectivamente, a impor~taes e exportaes, e captao de emprstimos externos. Mas oeixo da poltica econmica residiria nos meios e medidas destinadosa recondicionar o aparelho produtivo. Para Delfim, no entanto,"um tratamento de choque, em 73, certamente teria produzido resul-tados".62 Ao invs disto o governo optou por "um programa queestava muito acima de nossa capacidade de poupana." ... "nsinvestimos muito mais do que a Sociedade est disposta a pou-par" 63. Alm disto, acrescenta Delfim, em outra parte, o prprioconsumo foi mantido acima das possibilidades do pas: "Se tomar-mos um pas europeu, o Estado brasileiro j desempenha o papel

    61. A. Delfim Netto, "Manter o Desenvolvimento e Reduzir a DependnciaExterna", palestra na ESG, maio de 19S0, p. 6. Veja-se tambm, no mesmosentido, A. Delfim Netto: "Abertura poltica no combina com a recesso".Entrevista ao Panorama Econmico de O Globo, 30/5/S0.62. Palestra na ESG, maio de 19S0, p. 19.63. A. Delfim Netto, "Mudanas Estruturais na Economia do GovernoFigueiredo", op. cit., p. 75.

    52

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    II1

    do Estado em 1980, e a economia brasileira est em 1950 ... Pro-duzimos como se estivssemos em 1950 e distribumos, realmente,em 1980" 64.

    O anterior assinala, sem dvida, uma profunda mudana napercepo das dificuldades enfrentadas pela economia. ~estrangulamento externo, o vilo da histria passa a ser a deficin- *Cla de poupana, tendo por coadjuvante o excesso de consumo. O ,colapso da capacidade de importar que constitui, no caso, a verda- ~"-deira questo - e no apenas a "origem" das dificuldades -dilui-se como problema. Numa palavra, o desequilbrio passa a serconcebido como interno. No diagnstico de 74 tambm se reconhe-cia a existncia de um problema interno - mas ele era de natu-reza setorial, envolvendo base energtica e estrutura produtiva.

    Quanto ao dficit de transaes correntes - idntico por defi-nio poupana externa - entendido por Delfim como a me-dida da "contribuio dos outros pases para o nosso desenvolvi-mento" 65. A adoo desta perspectiva contradiz obviamente a tesede que o pas havia sido vtima de uma "trombada". Alm do mais- e ao contrrio do ocorrido nos anos 70 - estava-se justamenteingressando numa fase em que a carga, explosivamente crescentede juros passava a explicar uma elevada proporo do dficit detransaes correntes - tornando entre errneo e ridculo afirmarque o referido dficit mede a "contribuio" externa para o desen-volvimento.

    Mais que um mero deslocamento da problemtica, a versoagora adotada pelo governo subestimava ou mesmo ignorava oesforo de mudana em que se encontrava engajada a economiabrasileira. Omitido aquilo que havia de especfico, Delfim desco-brir (no se cansando desde ento de proclamar) que a situaobrasileira era idntica ee qualquer outro devedor, e que o pro-cesso de ajuste trar consigo os mesmos resultados.

    O anterior nos conduz mais importante conseqncia prticada mudana de diagnstico: a aceitao da terapia convencional.A partir desta perspectiva, Delfim anuncia como um caso exemplarde "ajuste" o ocorrido no Brasil em 1981. Assim, referindo-se

    64. Panorama Econmico, O Globo, 30/5/S0.65. A. Delfim Netto, "Manter o desenvolvimento ... ", ESG, so, p. 26, e A.Delfim Netto, "Mudanas", ESG, S4, p. lS.

    53

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    experincia daquele ano, afirma: "Era preciso, portanto, fazer esseI enorme ajustamento. Ele foi feito. E com bastante sucesso. Reivin-

    Idica isso". Ao que acrescenta, no mesmo tom: "To logo tnhamospromovido o ajuste, pusemos de novo em marcha o sistema produ-tivo e rapidamente o ndice de desemprego voltou para os nveisanteriores, mostrando que realmente a economia responde aoscomandos" 66.

    Cerca de um ano mais tarde, o governo iria ainda mais longe,na aceitao do receiturio ortodoxo. Alm de "aumentar signifi-cativamente'a poupana interna" h que "tornar a economia maiseficiente". Este novo objetivo "ser alcanado atravs de alinha-mento nos preos relativos entre os vrios setores, eliminao de

    \Ao subsdios e reduo da interveno direta e indireta do governo nall\\. economia" 67. Mais uma vez, no preciso frisar a completa mu-

    dana de perspectiva, face s propostas que caracterizam a polticade 74. Ali tambm se perseguia a maior eficincia, mas ela seriaobtida atravs da correo dos flagrantes desbalanceamentos doaparelho produtivo, e do alcance de um outro "patamar tecnol-gico" 68.

    Retornando aos contrastes, focalizemos, por um momento, asempresas pblicas.

    As estatais, que haviam assumido posies hegemnicas nastransformaes desencadeadas pelo 11 PND, passam a ser vistascomo "um dos problemas mais complicados da economia brasi-leira" 69. O contraste das vises pode talvez ser evidenciado daseguinte maneira. Na poltica de 74, bem como na nova poltica dosanos 80, sobre elas recai "o maior peso do esforo de ajustamen-to" 70. S que no primeiro caso isto significa assumir e exercer aliderana no recondicionamento da economia, enquanto no segundo

    66. A. Delfim Netto, "Brasil 82: A Grande Luta para Manter o Espao paraCrescer". Escola de Guerra Naval, 15/9/82, pp. 6 elO.67. Carta ao Sr. Jacques de Larosiere, de 6 de janeiro de 1983, assinada porEmane Galvas e C. Geraldo Langoni.68. A expresso de Marcos Vianna, citado em Charles Freitas Pessanha,"O Estado' e Economia no Brasil: a Campanha Contra a Estatizao 1974-76", op. cit., p. 127.69. A. Delfim Netto, "Brasil 82: a Grande Luta para Manter o Espaopara Crescer", op. cito70. "A Crise Mundial e a Estratgia Brasileira do Ajustamento do Balanode Pagamentos", Exposio do Ministro Emane Galvas no Senado Federal,em 23/3/83, p. 66.

    54

    isto quer dizer que a elas cabem os maiores sacrifcios. Sua funo, numa palavra, regressiva: cabe-lhes "ceder espao" empresaprivada. Quanto aos grandes projetos, direta ou indiretamente sobsua responsabilidade, sero referidos como contrapartida da dvi-da 71; o >que, alm de falso 72, equivale a apont-los execraopblica.

    No que se refere s grandes opes, assinalemos que a partirde 1979 /80 diferente~ fontes,_g.oye!nament~is~.cme.~.~~..Q.~:R\l.lkciar a "industriJi!'2-"4t

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    59

    nos plausvel ignorar efeito preo - que no entanto teria certamente con-tribud paraacnteno do consumo de certos derivados do petrleo, aps1980. Por outro lado, .teramos que ter descontado as importaes desti-nlidas opero ,da capacidade acrescida de produo. Como ser dito maisadiante; no que toca aospriineiros estgios da produo (como por exem-plo, n() campo mineral), isto no constitui problema. Na qumica orgnica,p.or~ haveria sem dvida que subtrair o correspondente ao valor da mat-na-pruna. Em alguns setores (como siderurgia e celulose), em compensao,a substituio de impottaes havia comeado antes de 1979, o que sugerea Ocorrncia de uma subestimao' do valor total substitudo.

    ;,;,;.d.~.

    Por fim, sendo o nosso intuito avaliar, unicamente, os ganhosde divisas atribuveis aos grandes projetos setoriais deslanchadosem 1974/75, deixamos de considerar aqui a substituio de impor-taesrealizada no varejo por empresas nacionais e estrangeiras. ~No cabe dvida, porm, que a reao das empresas asfixiaexterna (especialmente de fins de 1982 a fins de 1984) foi alta-mente criativa. De acordo com informaes colhidas na CACEX, aproduo local de peas e componentes permitiu uma reduo. dovalor das importaes no inferior a US$ 1,5 bilho, no ano de1984.

    Retornemos aos ganhos de divisas promovidos por grandesprogramas setoriais.

    A Tabela 4 permite tecer as seguintes consideraes sobre oajuste externo procedido nos anos de 1983 e 84. Para conseguir o(mesmo) saldo comercial obtido nestes anos, mas sem contar com 1f"os ganhos advindos dos programas setoriais, seria necessrio com-primir, adicionalmente, o gasto lquido de divisas, de US$ 4,9 bi-lhes e US$ 7,4 bilhes, respectivamente, em 1983 e 1984.

    Isto significa que mediante polticas de compresso (adicional)do gasto interno, desvalorizao cambial, ou atravs de expedientestiterbdoxos (intensificao do controle s importaes, aumentogs subsdios s exportaes, etc.), as importaes totais teriam ques,er r~duzidas e/ou as exportaes ampliadas, no correspondentequeles valores. Caso os instrumentos heterodoxos se encontras-sem banidos, por presso da comunidade financeira internacional,restarimapenas a compresso do gasto interno e a desvalorizaocambial. Alm disto, se as importaes se mostrassem inelsticas,e' o 'merc~do interncional permanecesse estagnado, dificultandoseriamente' a amplio das exportaes (quadro prximo reali-

  • rpeito convm fazer breve recapitulao, visando contrastar a faseclssica da substituio de importaes, situada entre o imediatops-guerra e o ipcio dos anos 60, com a atual experincia.

    No grande surto de substituio de importaes dos anos 50,mereceu grande destaque no Brasil e nos demais pases da AmricaLatina a implantao de atividades produtoras de durveis deconsumo. Tratava-se, como j foi tantas vezes assinalado, de umprocesso ddIVersifica o do aparelho produtivo. nacional situa(fc;- predominantemen~ - nos ...ltimos estgios da produo. Asubstituio se referia, a rigor, a uma parcela, maior ou menor, dovalor correspondente ao bem final. Vale dizer, feita a "substitui-o", a produo internalizada requeria a aquisio no exterior dedeterminadas matrias-primas, peas e componentes.

    Seja porque o consumo dos bens a serem "substitudos" se00 yncontrasse em plena fase de difuso, seja porque a sua demandaohouvesse sido refreada antes da "substituio", o mercado desteso00 bens tendia a crescer aceleradamente aps o incio da produoo'nacional. Em tais condies, os vazamentos (correspondentes si~portaes) faziam, no raro, aumentar - ao invs de diminuir

    ,/.0 gasto em divisas. Na medida em que isto ocorresse, a prpria$i.thstituio de importaes se encarregaria de repor - e talvez,lUysmo, agravar - o estrangulamento externo, renovando-se comisi6 .o impulso substituio. neste sentido que a substituiofo~concebida como um "processo" que, dentro de certos limites,se, realimenta a si mesmo 81.

    * * *Arnacia substituio de importaes recentemente verificada

    h' Brastl apresenta caractersticas muito diversas. Antes de maisn~~.a,oela se verifica, pre?ominantemente, ~~~s.. l:!,slc9.soe;em menor medIda, no setor de bens~. No que'se i'e~" ..~(j~i1~~4fl&~~i'~~ttffl~11fufoS;~ncontran-do'-senbsprimeiros estgios da produo, praticamente s tm en-cadeamento a. jusante. Como, tipicamente, as plantas de processa-mento j se encontram em operao no pas, no surgem impor-~antes vazamentos (importaes), e nem tampouco estimulada alUternalizao de outros elos oit estgios produtivos. Some-se a isto

    ~~l:Maria da C6nceio Tavares, Da Substituio de Importaes ao Capita-ISrno Fin o. .ancelro, RIO de Janeiro, Zahar, 1972, pp. 41 a 58.

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    . Outras avaliaes do processo de ajustamento externo

    No que resta deste trabalho cuidarei, primeiramente, de exami-nar os argumentos daqueles que, discrepando em maior ou menormedida do receiturio ortodoxo, atribuem no entanto o ajustamentoexterno s polticas implementadas de 1981 a 84. Posteriorment-e;retomaremos a avaliao da estratgia de 74, no mais no estreitomarco em que ela foi at aqui apreciada, e sim numa perspectivahistrica - nica capaz de apreciar o seu verdadeiro significado.

    * * *E. Bacha, no trabalho a seguir comentado 90, procura estabe-

    lecer os fatores determinantes da evoluo observada nas contascorrentes do Brasil, desde meados da dcada de 70. Estes fatores,ou razes explicativas do comportamento do saldo de transaescorrentes "so divididos em trs grupos: choques externos, nus dadvida externa e polticas internas" (idem, p. 584). A ao destestrs grupos de fatores dever explicar a variao observada nodficit de transaes correntes, a cada' ano - e face ao ano tomadocomo base. O exerccio particularmente estimulante para ns, jque se trata de uma avaliao do efeito das diversas polticas ado-tadas nos ltimos dez anos, visando superar o desajuste externoda economia.

    H duas ordens de concluses no trabalho de Bacha. Uma serefere propriamente ao seu objeto de anlise. A esse respeito con-clui o autor que, contrariamente ao presumido pela ortodoxia, asrazes efetivas da acumulao da dvida externa brasileira poucotm "a ver com excessos reais de despesa domstica. A dvidaexterna acumulou-se ao longo do perodo rinci a1mente por causa~ detenoraao as re a~ troca, dos chogues de juros e darecesso mundial" (16., p. 613). Estamos, a este propsito, de plenoi"cordo. Mas Baha discorre tambm, longamente, acerca da res-posta brasileira ao chamado desajuste externo. A esse respeito, osresultados por ele encontrados so - e que isto seja dito de parti-da - desconcertadamente diferentes, quando no mesmo opostos

    90. Edmar Bacha, "Choques Externos e Perspectivas de Crescimento: o Casodo Brasil - 1973/89", in Pesquisa e Planejamento Econmico, dezembro de1984. .

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    aos aqui apresentados. No que segue, sucintamente, e tratando desublinhar contrastes, busco apont-los.~ 0s anos 1974 e 75 representam para Bacha um perodo de

    "tumulto e indeciso", do ponto de vista da poltica interna.~De 1976 a 1978, o ajuste " brasileira colocado em prtica.

    As importaes so reprimidas e mantm-se taxas relativamentealtas de crescimento do PIB" (ib., p. 586), Nestes anos, "o.grosso do ajuste deu-se atravs da substituio de importaes",movimento que teria tido incio em 1975 {ib., p. 590).

    - Em 1979 e 80 "o Brasil considera uma desacelerao com Si-monsen, mas um curso expansionista favorecido sob Delfim

    ;".Netto" (ib., p. 586).ffUe 1981 a 83, por fim, e "uma vez forados ao por uma~

    '....po..sio de reservas internacionais em rpida deteriorao, os'responsveis pela poltica econmica do governo demonstraram

    ........ma capacidade considervel de deter a economia e ainda mais".CIe expandir a sua competitividade externa". i,A reao doms-