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A Economia brasileira e a

dinâmica do setor elétrico

em 2007.

Nivalde J. de Castro1

Rubens Rosental2

Daniel Bueno3

1 Professor do Instituto de Economia da UFRJ e coordenador do GESEL – Grupo de Estudos do Setor Elétrico. [email protected] 2 Professor da UCAM e pesquisador do GESEL-IE-UFRJ 3 Pesquisador do GESEL-IE-UFRJ

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Índice

Introdução......................................................................................................................... 3

I – Expansão do Consumo de Energia Elétrica ................................................................ 4

II - Comportamento da Oferta de Energia Elétrica........................................................... 8

Conclusão ....................................................................................................................... 15

Referências Bibliográficas:............................................................................................. 16

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Introdução

No ano de 2007, a economia brasileira apresentou resultado bastante favorável na

dinâmica de expansão e evolução dos seus fundamentos macroeconômicos. Superando

todas as previsões formuladas no início de ano, o PIB apresentou crescimento de 5,4%.

Com este resultado em 2007, a economia brasileira firma um período de crescimento do

PIB de cinco anos, fato que não ocorria desde fins da década de 1970. Desta forma,

verifica-se uma maior capacidade de sustentabilidade assentada em duas variáveis:

aumento do consumo interno e da taxa de investimento. Conforme dados divulgados

pelo IBGE (2008), o consumo das famílias (que responde por 60% do PIB) e o

investimento, cresceram 6,5% e 13,4%, respectivamente. O forte avanço do consumo

das famílias foi impulsionado pelas altas taxas de ampliação da massa salarial que

atingiu 3,6%, na ampliação de crédito para pessoa física, que cresceu 28,8%, e no

aumento das importações, que aumentaram em 20,3%. Segundo Travaglini ( 2008), ao

contrário de outros períodos, a expansão verificada no crédito em 2007 não foi

acompanhada pelo aumento percentual da inadimplência, indicando assim maior

consistência desta variável. O saldo das operações de empréstimos cresceu 27,9%, nos

últimos doze meses. No mesmo período, a taxa de crédito em atraso há mais de 90 dias

ficou em 3,2% em janeiro, em relação aos 3,8% no mesmo mês do ano passado. Entre

as empresas, caiu de 2,8% para 2%. Entre as pessoas físicas, grande termômetro do

mercado para medir o comportamento futuro do crédito, essa relação caiu de 7,5% para

7,1%.

O aumento do investimento em máquinas, equipamentos e gastos em construção civil,

variáveis que determinam a formação bruta de capital fixo (FBCF), elevou a taxa de

investimento sobre o PIB para 17,6%, a maior dos últimos 12 anos. A importação de

bens de capital que impulsiona o investimento cresceu 19,3% enquanto a construção

civil cresceu 5,1%.

Pelo lado da oferta, o setor industrial cresceu 4,9%, liderado pela indústria de

transformação, cuja expansão da produção foi de 5,1%. O setor de serviços, com peso

de 60,5% na oferta, cresceu 4,7%. Neste segmento, a intermediação financeira foi a que

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mais se expandiu, com taxa de 13% refletindo assim o aumento do crédito no sistema

financeiro.

Dentro deste cenário de expansão, há fortes indícios de que a economia brasileira esteja

ingressando em um círculo virtuoso de crescimento sustentado, tendo como elemento

dinâmico a ampliação do mercado interno e o investimento das empresas.

A partir deste contexto macroeconômico, o objetivo deste artigo é analisar os impactos

sobre o consumo de energia elétrica e sobre a ampliação da capacidade geradora

instalada, buscando-se, ao final, um posicionamento sobre as reais perspectivas de

equilíbrio ou desequilíbrio entre a oferta e a demanda de energia elétrica para os

próximos anos.

I – Expansão do Consumo de Energia Elétrica

A dinâmica macroeconômica brasileira vem impondo ao setor de energia elétrica efeitos

e reflexos positivos. Esses efeitos apresentam, no entanto, intensidades diferenciadas

conforme o segmento do mercado e a região do País. Segundo a EPE (2008), o aumento

do consumo de energia elétrica, que compreende os consumidores livres e cativos

atendidos através do sistema elétrico brasileiro, atingiu uma expansão de 5,4% no ano

de 2007.

A classe de consumo que apresentou maior crescimento foi a comercial. No somatório

das cinco regiões, a expansão foi de 6,6 % com destaque para 8,4 % na região Sul e

7,2% para região Norte (ver Tabela nº.1). Este maior crescimento do segmento

comercial reflete, em última instância, uma característica que se consolidou na

economia brasileira, que é a maior participação e crescimento do setor de serviços em

relação aos outros setores no âmbito do PIB. Esta tendência se verifica somente no

Brasil, pois é determinante nos países desenvolvidos. Ao nível mais específico,

inúmeros são os fatores que explicam o maior crescimento do segmento comercial, no

entanto o de maior peso foi que a atividade de comércio strictu sensu foi aqui muito

influenciada pelo crescimento do poder aquisitivo. Merecem destaque duas pontas deste

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mercado: os shoppings center e grandes supermercados dos centros urbanos com maior

densidade populacional e, na outra ponta, o consumo das classes C e D.

Os Shoppings e as grandes plantas de supermercados são intensivas unidades produtivas

de consumo em energia elétrica. Guardadas as devidas proporções, pode-se recorrer a

analogia com as usinas de alumínio, na medida em que operam em ambientes

completamente fechados necessitando de luz e refrigeração intensa e contínua. Com a

ampliação da participação dos Shoppings no total do comércio para as classes A e B, o

impacto sobre a demanda de energia elétrica reflete as taxas verificadas pelo segmento

comercial.

O comércio das classes C e D vêm sendo influenciados por dois importantes fatores. O

primeiro está diretamente associado aos ganhos reais de rendimentos, devido ao

aumento do salário mínimo e do emprego formal. O segundo deve-se ao Programa

Social Bolsa Família. Como resultado derivado deste programa social, está ocorrendo

um aumento da massa de renda destas classes e melhorando a posição na estrutura da

distribuição de renda. Por outro lado, estes segmentos sociais apresentam uma

propensão à poupança negativa, já que tendem a se endividar. Ou seja, os aumentos de

renda são canalizados para o consumo, normalmente de alimentos e de bens de consumo

duráveis. Para este último tipo de consumo, a ampliação da oferta de crédito ao

consumidor, com menores taxas de juros e prazos maiores, tem exercido um forte

estímulo ao maior consumo destes bens que impactam diretamente a demanda de

energia elétrica, conforme será analisado em seguida (CASTRO, ROSENTAL &

BUENO, 2008).

O segmento da classe residencial apresentou uma expansão da ordem de 6,0% em

relação ao ano de 2006 para todo o Brasil. A região com maior consumo de energia

elétrica foi Nordeste (7,9%), seguida da região Norte e Sul (ambas com 6,9%). Este

desempenho reflete, grosso modo, a elevação do consumo de eletrodomésticos e

eletroeletrônicos nos domicílios, derivado diretamente do aumento do poder aquisitivo,

do aumento do nível de endividamento das famílias e do aumento do universo de

consumidores atendidos. Um dado que explica, em parte, o crescimento do consumo

residencial é a incorporação de mais 1,9 milhões de novos consumidores ao sistema

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elétrico em 2007, valor bem superior à média dos últimos anos. Neste número estão

incluídos cerca de 500 mil novas ligações do Programa Luz para Todos.

No segmento industrial, a expansão da atividade econômica permitiu aumento de 5,0%

no consumo de energia, resultando, conforme assinalado por Castro e Rosental (2008),

uma elasticidade-renda do consumo de energia elétrica igual a 1. A causa deste menor

consumo relativo do segmento com maior participação no consumo total está

diretamente associada à ação de dois “efeitos” que agem simultaneamente e em direção

convergente à redução do consumo: “efeito apagão” e “efeito preço”.

O “efeito apagão” é reflexo direto da insuficiência de oferta de energia elétrica que

ocorreu em 2001. As empresas, principalmente de grande porte e que atuam em setores

onde a energia elétrica é um bem insubstituível, passaram a ter receio de enfrentar

restrições na produção. Entre estas, destacam-se as eletro-intensivas, com grande

parcela da produção voltada para exportação e amarrada a contratos de fornecimento de

maior prazo.

O “efeito preço” é o impacto que o aumento das tarifas tem sobre a estrutura de custos e

conseqüentemente sobre a competitividade. Desde meados dos anos de 1990, verificou-

se um processo de aumento real das tarifas que, para o segmento industrial, tem se

mostrado mais significativo com o fim do subsidio cruzado verificado a partir de 2004.

Este diferencial incluso foi um fator de estímulo à transferência para o mercado de

contratação livre.

Como resultante da convergência destes dois “efeitos”, os consumidores industriais

buscam métodos, processos e equipamentos produtivos poupadores de energia elétrica,

ou seja, eficiência energética. Neste movimento, merecem destaque o aumento da

autoprodução e da participação do Ambiente de Contratação Livre, o chamado mercado

livre. Em suma, os consumidores industriais, que representam quase 50% do consumo

nacional, buscam reduzir o peso da energia elétrica no custo total.

Os dados apresentados a seguir, permitem visualizar a expansão do consumo de energia

elétrica em percentagem por subsistema elétrico.

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Tabela n° 1 Brasil e Regiões.

Consumo de Energia Elétrica por Sub-Sistemas: 2006-2007 (em %)

∆% BRASIL 5,4 Residencial 6,0 Industrial 5,0 Comercial 6,6 Outros 4,5 NORTE 5,4 Residencial 6,9 Industrial 3,8 Comercial 7,2 Outros 7,8 NORDESTE 6,2 Residencial 7,9 Industrial 5,8 Comercial 6,6 Outros 4,8 SUDESTE 5,0 Residencial 5,2 Industrial 4,9 Comercial 5,9 Outros 4,3 SUL 5,3 Residencial 6,9 Industrial 4,9 Comercial 8,4 Outros 1,8 CENTRO-OESTE 6,9 Residencial 5,2 Industrial 6,3 Comercial 7,6 Outros 9,3

Fonte: EPE (2008)

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Neste sentido, a dinâmica da demanda de energia elétrica foi influenciada pela maior e

mais consistente atividade econômica, determinando, em paralelo, uma maior

distribuição de renda. A distribuição de renda ocorreu derivada do aumento do salário

mínimo, da maior oferta de empregos no mercado de trabalho e dos efeitos dos

programas sociais. O aumento da renda real, maior massa salarial e diminuição da

inflação permitiram expansão do crédito. De forma simplificada, esta nova dinâmica fez

com que o crescimento da demanda de energia elétrica apresentasse taxas maiores nos

segmento residencial e comercial.

II - Comportamento da Oferta de Energia Elétrica

Tendo em vista o desafio contínuo de buscar o equilíbrio dinâmico entre a demanda e a

oferta de energia elétrica, a utilização de instrumentos de planejamento e

acompanhamento da expansão da capacidade instalada de energia elétrica se faz cada

vez mais necessária, em particular frente às elevadas taxas de expansão do PIB. Em

suma, a alta no consumo de energia elétrica é reflexo do próprio crescimento

econômico, sinalizando uma necessidade premente e contínua de garantir a oferta de

energia elétrica para os próximos anos.

Neste sentido, é importante observar a evolução da capacidade instalada no Setor

Elétrico Brasileiro – SEB - durante o ano de 2007. Para tal, serão analisados os dados

referentes à matriz de energia elétrica, disponibilizados pela Aneel (2007), que

apresentam os empreendimentos instalados e em operação no país, classificados por

fonte de abastecimento. Também serão analisados os resultados dos Leilões de Energia

Nova, realizados em 2007, e o provável impacto na matriz brasileira a partir do início

do suprimento da energia contratada.

A matriz energética brasileira, no final de 2007, registrou uma capacidade instalada de

aproximadamente 100,3 GW4. Este montante se refere à capacidade total instalada das

1.679 usinas em operação na matriz brasileira, conforme a tabela nº. 2. Na comparação

com os dados de 2006, observa-se a incorporação de 85 novas usinas geradoras ao

4 Não inclui a energia importada dos países vizinhos da América do Sul (Argentina, Venezuela, Uruguai e Paraguai), que soma cerca de 8,1 GW. O Paraguai é o maior fornecedor, totalizando 5.650 MW de energia enviada, referente à cota paraguaia do volume gerado pela Usina Binacional de Itaipu.

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longo do ano de 2007, representando acréscimo de 4,1 GW, representando um aumento

de 4,3%.

De acordo com os dados coletados, as usinas hidroelétricas – UHE – são responsáveis

por 76,6% do total, somando 76,8 GW de capacidade instalada. Durante 2007,

verificou-se acréscimo de 34 novas usinas hidroelétricas, totalizando 3,3 GW, o que

representou aumento de 4,5%. Esta expressiva participação de uma energia renovável

na matriz brasileira é um fator de diferenciação mundial que dá ao Brasil uma posição

impar no cenário de crise energética que o mundo vem atravessando e que só tende a se

agravar.

Tabela n° 2

Brasil. Capacidade Instalada na Matriz Energética Brasileira por Fonte de Energia: 2006 - 2007

(em n.º de usinas e MW)

2006 2007 Variação 2007- 2006 FONTE N.° de

Usinas (MW) N.° de Usinas (MW) N.° de

Usinas (MW)

Hidro 633 73.558 667 76.869 34 3.311

Gás 101 10.798 108 11.344 7 546

Natural 74 9.860 78 10.194 4 334 Processo 27 938 30 1.151 3 213

Petróleo 567 4.530 597 4.389 30 -142

Óleo Diesel 547 3.123 575 2.919 28 -204 Óleo Residual 20 1.407 22 1.470 2 63

Biomassa 269 3.691 282 4.075 13 384

Bagaço de Cana 226 2.656 238 3.017 12 361 Licor Negro 13 785 13 795 0 10

Madeira 26 224 26 224 0 0 Biogás 2 20 2 20 0 0

Casca de Arroz 2 6 3 19 1 13

Nuclear 2 2.007 2 2.007 0 0

Carvão Mineral 7 1.415 7 1.415 0 0

Eólica 15 236 16 247 1 11

TOTAL 1.594 96.235 1.679 100.346 85 4.111

Fonte: ANEEL, 2007. Elaboração do GESEL-IE-UFRJ OBS (1): Os dados apresentados de 2006 e 2007 são referentes aos disponibilizados no site da ANEEL, datados de 2 de janeiro de 2007 e 2008, respectivamente.

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Em fins de 2006, as usinas termoelétricas que utilizam o gás (natural ou processado)

como combustível detinham capacidade instalada de 10,2 GW, ou 10,2% do total.

Durante 2007, sete novas usinas a gás natural foram inseridas no sistema brasileiro, com

capacidade total de 0,54 GW, representando aumento de 5,05% em comparação com o

total registrado em 2006 (ANEEL, 2007). Desta forma, em fins de 2007 as usinas a gás

natural detinham 11,3% da matriz, totalizando 11,3 GW de capacidade instalada.

Neste sentido, o gás natural se configura, portanto, como a segunda maior fonte de

energia do país, atrás somente da fonte hídrica. Do total das usinas a gás natural, mais

da metade da capacidade geradora de 11,3 GW é de produtores independentes de

energia (PIE). O problema que este tipo de fonte de energia elétrica vem se deparando é

a disponibilidade efetiva do insumo gás natural para o seu acionamento. Nem todas as

usinas que estão incluídas na relação de ordem de despacho de carga do ONS têm

condições de operar e gerar energia elétrica por falta de gás natural. Durante a segunda

metade de 2007, em especial em novembro e dezembro, este problema ficou

evidenciado. Sua origem está nas características de oferta e demanda de GN que

estavam impondo sérios prejuízos à Petrobrás: contratos take or pay com a Bolívia

versus contratos flexíveis. A Petrobrás, frente ao consumo pequeno e irregular das

usinas termoelétricas, ampliou a oferta do gás natural para as distribuidoras estaduais

que, por seu lado, aumentaram a oferta para o setor industrial. Assim, quando o ONS

determinou o despacho das usinas a gás natural devido à redução do nível de chuvas,

não havia gás disponível.

As demais fontes de energia dos empreendimentos instalados tiveram e mantiveram

participações menores na matriz nacional. As usinas térmicas que utilizam biomassa

como combustível têm capacidade instalada total de aproximadamente 4 GW, ou 4,1%

da matriz. Este segmento apresentou aumento de 10,4% na capacidade instalada durante

o ano de 2007, graças à incorporação de 13 novas usinas que totalizaram 384 MW. Foi

o maior crescimento registrado entre todas as fontes energéticas da matriz brasileira.

Este fato demonstra o potencial de crescimento deste segmento, o que deve ser ainda

mais acelerado nos próximos anos, tendo como ponto de partida a realização do Leilão

de Reserva de Energia, previsto para maio de 2008. As autoridades do SEB (EPE, ONS,

Aneel e MME) estão muito empenhadas no sentido de converter o potencial energético

da biomassa da cana em capacidade instalada efetiva. Segundo Castro e Dantas (2008) o

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potencial estimado pode ultrapassar 10 GW. A ainda baixa participação deste insumo

energético na matriz deve-se, basicamente, ao preço-teto determinado pela EPE nos

leilões de energia nova realizados e no PROINFA, criando um diferencial de taxa de

retorno entre a produção de álcool - açúcar e de energia elétrica. Pelas regras do leilão

de energia de reserva, há condições efetivas de superar este diferencial, o que

determinará uma crescente participação da biomassa na matriz energética brasileira.

O Petróleo, utilizado para a geração de energia na forma de óleo, registra uma

participação de 4,4% do total instalado em 2007. São 4,3 GW de capacidade instalada,

sendo 2,9 GW provenientes das termoelétricas abastecidas por óleo diesel, e 1,4 GW

por óleo residual. Este segmento registrou redução de 3,1% em comparação com o ano

anterior, mesmo com a instalação de 30 novas usinas, a maioria (28) abastecida por óleo

diesel. Esta tendência de redução absoluta e residual deve acelerar nos próximos anos,

derivada de dois movimentos. O primeiro é o avanço da fronteira elétrica em direção à

região Amazônica, diminuindo o sistema isolado onde o consumo se dá, basicamente,

com base em usinas termoelétricas a óleo. Aqui, merece destaque, conforme assinalado

por Castro e Gomes (2008), a resistência dos governos estaduais que recebem subsídios

para a diminuição das tarifas, via o encargo CCC (Conta de Consumo de

Combustíveis). Como os governos estaduais cobram ICMS sobre a venda do

combustível que operam as usinas térmicas, haverá uma perda de arrecadação

tributária expressiva. O segundo movimento é que as crescentes restrições

ambientais estão impondo prioridades do planejamento energético para outras fontes.

As duas usinas nucleares instaladas no país – Angra 1 e 2 – são responsáveis por 2,0%

da energia total instalada, referente a uma capacidade de geração de 2 GW. Não houve

acréscimo de capacidade instalada neste tipo de fonte. A tendência é de aumento da

capacidade nos próximos anos, inicialmente com Angra 3 que, em 2008, deverá receber

autorização para reiniciar a sua construção. Esta decisão está assentada em duas

premissas. A primeira é que este tipo de usina opera na base, constituindo-se em uma

energia firme que, no período da seca, atua como fator de economia da energia

armazenada. Esta característica tende a ganhar maior valorização dado que as novas

usinas hidroelétricas que entrarão em operação serão a fio d’água. A segunda premissa é

de cunho tecnológico e produtivo. O Brasil não pode ficar ausente no processo de

desenvolvimento tecnológico desta energia, em especial porque detém a sexta maior

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reserva de urânio do Mundo. O acordo de cooperação no campo da energia nuclear,

assinado recentemente com a Argentina, aponta nesta direção.

As usinas termoelétricas abastecidas por carvão mineral fecharam o ano de 2007 com

1,4% da capacidade instalada total. Não houve aumento da capacidade instalada,

mantendo-se as 7 usinas a carvão, capacidade de geração de 1,4 GW, aproximadamente.

A perspectiva para os próximos anos é de aumento do número de usinas a carvão

mineral, conforme será constado a seguir na análise dos resultados dos leilões de

energia nova.

Completando o quadro das fontes energéticas utilizadas na matriz elétrica brasileira, as

16 usinas eólicas instaladas possuem capacidade de 0,2 GW, o que significa uma

participação ínfima de 0,25% da capacidade instalada no país. Uma nova usina eólica

foi agregada ao sistema de geração, com pequena capacidade instalada de 11 MW, o

que gerou aumento de 4,7% na capacidade de geração de energia.

Nestes termos, pode-se concluir que a matriz energética brasileira mantém a sua forte

característica e vocação de hidroeletricidade, com 76,6% da capacidade instalada total.

As usinas termoelétricas em geral – abrangendo as que utilizam gás, carvão, biomassa e

petróleo - respondem por 21,1% do total instalado. As usinas nucleares e eólicas

representam, respectivamente, 2% e 0,25% da capacidade de geração total do país, em

2007.

Este perfil da matriz tende a apresentar alterações a partir do ano de 2010, quando está

prevista a entrada em operação das primeiras usinas arrematadas nos leilões de energia

nova, realizados durante o ano de 2007. Foram organizados três leilões:

i. de energia nova na modalidade A-3, com previsão de início de suprimento

em 2010;

ii. de energia nova A-5, com início de suprimento em 2012; e

iii. leilão especial para a Usina Hidroelétrica de Santo Antônio do complexo

do Rio Madeira, realizado em dezembro, cuja energia deve entrar em

operação a partir de janeiro de 2012, segundo cronograma do MME.

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A capacidade instalada total arrematada nos três leilões foi de 9.234 MW de potência.

Desse total, 5.483 MW correspondem a empreendimentos de fonte hídrica,

representando 59,3% do total. Os projetos de fonte térmica arrematados registraram

capacidade instalada de 3.751 MW, ou 40,7% do total. Os números apontam, portanto,

para uma participação maior de fontes térmicas em relação ao quadro atual da matriz

energética brasileira para o horizonte até 2012.

Este fato se deve, principalmente, pelo resultado ocorrido no leilão de energia de A-3,

realizado em julho, quando apenas empreendimentos termoelétricas abastecidos por

óleo combustível, totalizando 12 usinas, foram arrematados, somando 1.781 MW de

potência. Mesmo sendo um leilão direcionado para usinas termoelétricas, já que uma

usina hidroelétrica de porte demanda mais de 3 anos para sua construção, o fato de só

terem ganhado usinas movidas a óleo não era esperado. Este resultado deve-se a vários

fatores, destacando-se, principalmente, a incapacidade da Petrobrás de garantir oferta de

gás natural, e às regras do leilão que dão maior competitividade para usinas

termoelétricas flexíveis com previsão de entrarem em funcionamento raramente, o que

as torna mais competitivas, pelo seu baixo custo fixo. Mesmo assim, este resultado

indica que a modelagem do Novo Modelo, via leilões, está apta a garantir equilíbrio

dinâmico entre oferta e demanda mesmo com energia mais poluente e relativamente

mais cara. Aqui, o que importa assinalar é que a demanda estimada pelas distribuidoras

a partir de 2010 está contratada.

No segundo leilão de energia nova, realizado em outubro de 2007, na modalidade A-5

com fornecimento somente a partir de 2012, a capacidade total arrematada foi de 4.353

MW de potência. Foram cinco usinas hidroelétricas, totalizando 2.383 MW, e cinco

termoelétricas, com capacidade total de 1.970 MW. No caso específico destes últimos,

foram vendidas 2 usinas abastecidas por carvão mineral (1.050 MW de capacidade

total), 2 usinas a óleo combustível (420 MW) e uma usina a gás natural (500 MW).

Aqui, novamente a surpresa foram as cinco usinas termoelétricas, em especial as usinas

a carvão mineral e a óleo combustível, mais caras e poluidoras. Prevaleceu, novamente,

a regra do baixo nível de despacho destas usinas, colocando-as em competição no leilão

basicamente pelo seu custo fixo. A entrada de uma usina a gás natural foi um bom

indicador de que os atuais e conjunturais desequilíbrios na oferta deste insumo,

analisados anteriormente, tendem a ser superados em 2012 com a maior produção

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nacional deste insumo e, principalmente, pela possível consolidação da operação das

plantas de regazeificação de GNL, que devem iniciar operação em 2008, com

capacidade para cerca de 20 milhões de metros cúbicos, o equivalente a cerca de 4 mil

MW de potencia.

O último leilão do ano, realizado em dezembro, para a construção e venda de energia da

UHE Santo Antônio, a primeira usina do Complexo do Rio Madeira, permitirá a

ampliação da capacidade instalada em 3.100 MW de potência. Um dado que

surpreendeu o setor elétrico foi o valor da tarifa derivada do leilão, que se situou em R$

78,00, que será analisado em seguida. Por se tratar de uma usina de fio d’água a energia

firme disponível para o sistema elétrico será bem inferior e com operação mais

concentrada no período úmido da região norte. Assim, esta usina expõe mais o sistema

ao risco hidrológico, dada a pouca contribuição relativa desta usina ao nível de

reservatórios.

Do ponto de vista da modicidade tarifária, a regra dos leilões de maior competição com

preço-teto vem garantindo uma trajetória tarifária dentro dos parâmetros e contribuindo

para a estabilidade da moeda. Neste aspecto merecem destaque uma questão e um fato.

A questão é quanto às diretrizes de operação do sistema elétrico. Conforme assinalado

por Castro e Brandão (2008), estas diretrizes objetivam, por um lado, economizar água e

por outro minimizar o custo de operação através do uso mais restrito das termoelétricas.

Estas diretrizes trazem uma variável de risco financeiro e tarifário para as distribuidoras

que tende a aumentar com a maior instabilidade do sistema elétrico derivada do risco

hidrológico (UHE de fio d’água), assinalado anteriormente. O leilão de energia de

reserva, caso resulte no ingresso efetivo de novas usinas termo de biomassa de bagaço

de cana, mitigará estes riscos.

O fato foi o resultado surpreendente do leilão da UHE de Santo Antônio. Graças a uma

aplicação de uma lógica que está presente no Novo Modelo, de estimular a competição

através de parcerias estratégicas entre agentes públicos e privados, participaram do

leilão três grandes consórcios, tendo em cada um deles uma subsidiária do Grupo

Eletrobrás. O deságio de 38% em relação ao preço-teto foi surpreendente, abrindo

assim uma nova trajetória de tendência para o custo da energia elétrica para usinas da

região Amazônica. Por outro lado, o comprometimento de 30 % da energia para ser

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comercializado exclusivamente no mercado livre, não só permitiu o deságio para o

mercado cativo, como passou a incluir a demanda deste mercado, antes sem

comprometimento de oferta, na ampliação da capacidade instalada. (Ver CASTRO;

BRANDÃO, 2007 e CASTRO; FERNANDEZ & DUTRA, 2008)

O resultado final dos leilões, no que se refere à maior participação de usinas

termoelétricas, não deve se repetir no futuro próximo, em função da finalização dos

estudos do potencial das bacias hidrográficas. Estes estudos ficaram paralisados desde o

inicio da década de 1990, por conta da mudança do modelo de energia elétrica

direcionado para a “privatização total” (Ver CASTRO & BUENO, 2007). Com criação

da EPE em 2004, estes estudos foram retomados e os primeiros resultados começarão a

ficar prontos em 2008. Além disto, os leilões da usina de Jupia, do complexo do Rio

Madeira e de Belo Monte, tendem a garantir maior oferta de energia nova de fonte

hidroelétrica

Conclusão O cenário macroeconômico nacional estável e favorável para 2008, mesmo com as

turbulências derivadas da economia dos EUA, garante e sustenta previsões positivas

para o crescimento do PIB entre 4,5 e 5%. Este crescimento determinará, por

conseqüência, uma maior demanda de energia elétrica. Os problemas de redução de

chuvas verificados no início do período úmido de 2007-2008 aparentemente foram

superados, mas ainda podem gerar algum tipo de desajuste, em função do risco

hidrológico estrutural do sistema elétrico brasileiro.

No entanto, as perspectivas são de manutenção do equilíbrio entre oferta e demanda de

energia elétrica para 2009, aguardando-se a posição dos reservatórios em novembro de

2008 para se avaliar o grau de exposição ao risco hidrológico. Uma posição mais

prudente, através da operação de usinas termoelétricas na base, contribuiria muito para

mitigar o risco hidrológico para o próximo biênio 2009-2010, que tende a ser um

período relativamente crítico. Esta posição mais conservadora no uso da

hidroeletricidade impactaria as tarifas, em especial das distribuidoras contratadas com

as usinas termoelétricas que fossem acionadas (possivelmente as que estão usando o GN

do novo gasoduto ES-RJ), contrariando o principio da modicidade tarifária. No entanto,

a energia mais cara é aquela quando não se tem energia. Merece destaque um elemento

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de aumento da demanda que está associada à pressão da Argentina sobre a nossa

energia.

Contudo, e este é um ponto importante, através do mecanismo de leilão e das parcerias

estratégicas público-privado, agora com a possibilidade do Grupo Eletrobrás atuar em

nível de igualdade, as duas premissas centrais do Novo Modelo - expansão com

modicidade tarifária - no médio prazo, ou seja, a partir de 2011, estão assentadas em

fundamentos sólidos, como o resultado do leilão de Santo Antônio demonstrou. O

único risco de crise de oferta tem como origem uma variável inerente e estrutural ao

setor elétrico, que é o risco de exposição à hidrologia. Mas justamente ai está o

diferencial brasileiro: energia renovável, mas barata e menos poluidora.

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