a doutrina das Últimas coisas

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5/11/2018 ADOUTRINADASLTIMASCOISAS-slidepdf.com http://slidepdf.com/reader/full/a-doutrina-das-ultimas-coisas 1/63 A DOUTRINA DAS ÚLTIMAS COISAS _ Louis Berkoff ESCATOLOGIA INDIVIDUAL Capítulo Introdutório. A Escatologia na Filosofia e na Religião. B. A Escatologia na História da Igreja Cristã C. Relação da Escatologia com o Restante da Dogmática. D. O Nome “Escatologia”. E. Conteúdo da Escatologia: Escatologia Geral e Individual. I. Morte Física A. Natureza da Morte Física. B. Relação Entre o Pecado e a Morte. C. Significado da Morte dos Crentes. II. A Imortalidade da Alma A. Diferentes Conotações do Termo “Imortalidade”. B. Testemunho da Revelação Geral Quanto à Imortalidade da Alma. C. Testemunho da Revelação Especial Quanto à Imortalidade da Alma. D. Objeções à Doutrina da Imortalidade Pessoal e Seus Modernos Substitutos. III. O Estado Intermediário A. Conceito Bíblico de Estado Intermediário. B. A Doutrina do Estado Intermediário na História. C. A Construção Moderna da Doutrina do Sheol-Hades. D. A Doutrina Católica Romana a Respeito do Domicilio da Alma Depois da Morte. E. O Estado da Alma Depois da Morte, Um Estado de Existência Consciente. F. O Estado Intermediário não é um Estado de Provação ou Prova Posterior. ESCATOLOGIA GERAL I. A Segunda Vinda de Cristo A. A segunda Vinda, um Evento Único. B. Os grandiosos Eventos que Precederão a Parousia. C. A Parousia ou a Segunda Vinda Propriamente Dita. II. Correntes Milenistas A. Premilenismo B. Pós-Milenismo III. A Ressurreição dos Mortos A. A Doutrina da Ressurreição na História. B. Prova Bíblica da Ressurreição. C. A Natureza da Ressurreição. D. A Ocasião da Ressurreição. IV. O Juízo Final A. A Doutrina do Juízo Final na História. B. Natureza do Juízo Final. C. Conceitos Errôneos a Respeito do Juízo. D. O Juiz e os Seus Assistentes E. As Partes que Serão Julgadas F. A Ocasião do Juízo. G. O Padrão do Juízo.

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A DOUTRINA DAS ÚLTIMAS COISAS _ Louis Berkoff

ESCATOLOGIA INDIVIDUAL

Capítulo Introdutório.

A Escatologia na Filosofia e na Religião.B. A Escatologia na História da Igreja CristãC. Relação da Escatologia com o Restante da Dogmática.D. O Nome “Escatologia”. E. Conteúdo da Escatologia: Escatologia Geral e Individual.

I. Morte FísicaA. Natureza da Morte Física.B. Relação Entre o Pecado e a Morte.C. Significado da Morte dos Crentes.

II. A Imortalidade da AlmaA. Diferentes Conotações do Termo “Imortalidade”. B. Testemunho da Revelação Geral Quanto à Imortalidade da Alma.

C. Testemunho da Revelação Especial Quanto à Imortalidade da Alma.D. Objeções à Doutrina da Imortalidade Pessoal e Seus Modernos Substitutos.

III. O Estado IntermediárioA. Conceito Bíblico de Estado Intermediário.B. A Doutrina do Estado Intermediário na História.C. A Construção Moderna da Doutrina do Sheol-Hades.D. A Doutrina Católica Romana a Respeito do Domicilio da Alma Depois da Morte.E. O Estado da Alma Depois da Morte, Um Estado de Existência Consciente.F. O Estado Intermediário não é um Estado de Provação ou Prova Posterior.

ESCATOLOGIA GERAL

I. A Segunda Vinda de CristoA. A segunda Vinda, um Evento Único.B. Os grandiosos Eventos que Precederão a Parousia.C. A Parousia ou a Segunda Vinda Propriamente Dita.

II. Correntes MilenistasA. PremilenismoB. Pós-Milenismo

III. A Ressurreição dos MortosA. A Doutrina da Ressurreição na História.B. Prova Bíblica da Ressurreição.C. A Natureza da Ressurreição.

D. A Ocasião da Ressurreição.IV. O Juízo Final

A. A Doutrina do Juízo Final na História.B. Natureza do Juízo Final.C. Conceitos Errôneos a Respeito do Juízo.D. O Juiz e os Seus AssistentesE. As Partes que Serão JulgadasF. A Ocasião do Juízo.G. O Padrão do Juízo.

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H. As Diferentes Partes do Juízo.

V. O Estado FinalA. O Estado Final dos Ímpios.B. O Estado Final dos Justos.

Sexta Parte: A DOUTRINA DAS ÚLTIMAS COISAS

ESCATOLOGIA INDIVIDUAL

Capítulo Introdutório.A Escatologia na Filosofia e na Religião.

1. A QUESTÃO DA ESCATOLOGIA É UMA QUESTÃO NATURAL. Alguma doutrinadas últimas coisas não é coisa peculiar à religião cristã. Onde quer que as pessoastenham refletido seriamente sobre a vida humana, seja no indivíduo, seja na raça, nãoinquiriram apenas donde ela surgiu e como veio a ser o que é, mas também para ondeestá destinada. Elas levantaram a questão, Qual é o fim ou o destino final do indivíduo, equal a meta rumo à qual a raça humana está se movendo? O homem perece na morte, ouentra noutro estado de existência, quer de bem-aventurança, quer de infortúnio? Asgerações dos homens virão e passarão, numa sucessão interminável e finalmentesucumbirão no esquecimento, ou a raça dos filhos dos homens e toda a criação estarão amover-se para algum telos divino, para um fim que lhe foi designado por Deus? E se araça humana está se movendo para alguma condição final, ideal, as gerações que vêm epassam participarão disso de algum modo, e, se for assim, como participarão? Ouservirão elas apenas como uma passagem que leva ao grandioso clímax? Naturalmente,só os que crêem que, assim como a história do mundo teve um princípio, também terá umfim, podem falar de uma consumação e podem ter uma doutrina da escatologia.

2. A QUESTÃO DA ESCATOLOGIA NA FILOSOFIA. A questão do destino final doindivíduo e da raça ocuparam importante lugar nas especulações dos filósofos. Platãoensinava a imortalidade da alma, isto é, sua existência continuada após a morte, e estadoutrina persistiu como um importante dogma da filosofia até à época presente. Spinozanão teve lugar para ela em seu sistema panteísta, mas Wolff e Leibnitz a defenderam comtoda sorte de argumentos. Kant dava ênfase à insustentabilidade desses argumentos,mas, não obstante, conservou a doutrina da imortalidade como um postulado da razãoprática. A filosofia idealista do século dezenove a rejeitou. De fato, como diz Haering, “Opanteísmo de todos os tipos limita-se a um definido modo de contemplação, e não leva anenhuma realidade „última‟”. Os filósofos não refletiam somente sobre o futuro doindivíduo; também pensavam profundamente no futuro do mundo. Os estóicos falavam desucessivos ciclos de mundos, e os budistas, de eras de mundos, em cada uma das quais

um novo mundo aparece e volta a desaparecer. Até mesmo Kant especulava sobre onascimento e a morte dos mundos.3. A QUESTÃO DA ESCATOLOGIA NA RELIGIÃO. Contudo, é especialmente na

religião que encontramos concepções escatológicas. Mesmo as religiões falsas, tanto asmais primitivas como as mais evoluídas, têm sua escatologia. O budismo tem o seunirvana, o maometanismo o seu paraíso sensual, e os índios americanos os seus felizescampos de caça. A crença na permanente existência da alma aparece em toda parte esob diversas formas. Diz J. T. Addison: “A crença em que a alma do homem sobrevive àsua morte, tão perto está de ser universal que não temos nenhum registro confiável de

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alguma tribo, nação ou religião em que ela não esteja em destaque”.1 Pode manifestar-sena convicção de que os mortos continuam pairando nos arredores e por perto, no cultoaos antepassados, na busca de comunicação com os mortos, na concepção de ummundo subterrâneo habitado pelos mortos, ou na idéia da transmigração das almas; mas,numa ou noutra forma, está sempre presente. Nessas religiões, porém tudo é vago eincerto. É somente na religião cristã que a doutrina das últimas coisas recebe maior

precisão e traz consigo uma segurança que só pode ser divina. Naturalmente, os que nãose contentam em descansar sua fé exclusivamente na Palavra de Deus, mas a fazemdepender da experiência e das produções da consciência cristã, estão em grandedesvantagem aqui. Embora possam experimentar um despertamento espiritual, ailuminação divina, o arrependimento e a conversão, e possam observar os frutos da graçaem suas vidas, não podem experimentar nem ver as realidades do mundo futuro. Terãoque aceitar o testemunho de Deus a respeito delas, ou que continuar andando àsapalpadelas no escuro. Se não desejam construir a casa da sua esperança em vagas eindeterminadas aspirações, terão que retornar ao firme fundamento da Palavra de Deus.B. A Escatologia na História da Igreja Cristã

Falando em termos gerais, pode-se dizer que o cristianismo nunca olvidou asgloriosas predições concernentes ao seu futuro do cristão individual. Nem o cristãoindividual nem a igreja puderam deixar de pensar nelas e de nelas achar consolação. Àsvezes, porém, a igreja, subjugada pelas preocupações da vida ou enredada em seusprazeres pouco pensou no futuro. Além disso, sucedeu repetidamente que ora pensavamais num elemento particular da sua esperança futura, ora noutro. Nas épocas deapostasia, a esperança cristã às vezes ficava obscurecida e incerta, mas nunca seextinguiu completamente. Ao mesmo tempo, deve-se dizer que jamais houve um períododa história da igreja em que a escatologia fosse o centro do pensamento cristão. Osoutros loci ou pontos da dogmática tiveram desenvolvimento, mas não se pode dizer istoda escatologia. Pode-se distinguir três períodos na história do pensamento escatológico.

1. DA ERA APOSTÓLICA AO INÍCIO DO QUINTO SÉCULO. Já no primeiro período,a igreja estava perfeitamente cônscia dos elementos distintos da esperança cristã, como,

por exemplo, que a morte física não é ainda a morte eterna, que as almas dos mortoscontinuam vivendo, que Cristo virá outra vez, que haverá uma bendita ressurreição dopovo de Deus, que esta será seguida por um julgamento geral no qual a condenaçãoeterna será pronunciada contra os ímpios, mas o fiéis serão recompensados com asglórias eternas do céu. Mas estes elementos eram simplesmente visto como outras tantaspartes separadas da esperança futura, e ainda não tinham sido elaboradasdogmaticamente. Embora fossem bem compreendidos os vários elementos, não se viaclaramente a sua interrelação. A princípio, parecia que a escatologia estava no caminhocerto para se tornar o centro da elaboração da doutrina cristã, pois nos dois primeirosséculos o quiliasma era muito proeminente, conquanto não tão proeminente como algunsgostariam de fazer-nos acreditar. Todavia, como veio a ser, a escatologia não sedesenvolveu neste período.

2. DO INÍCIO DO QUINTO SÉCULO À REFORMA. Sob a direção do Espírito Santo,a atenção da igreja voltou-se do futuro para o presente, e o quiliasma aos poucos foisendo esquecido. Especialmente sob a influência de Orígenes e Agostinho, conceitosantiquiliásticos se tornaram dominantes na igreja. Mas embora estes conceitos fossemconsiderados ortodoxos, não foram ponderados exaustivamente, nem desenvolvidossistematicamente. Havia uma crença geral na vida após a morte, mas volta do Senhor, naressurreição dos mortos, no juízo final e no reino da glória, mas muito pouca reflexão

1 Life Beyond Death, p.3.

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sobre o modo de sua ocorrência. A idéia de um reino material e temporal abriu caminhopara as da vida eterna e da salvação futura. Com o transcorrer do tempo, a igreja foicolocada no centro das atenções, a igreja hierárquica foi identificada com o reino deDeus. Ganhou terreno a idéia de que fora dessa igreja não há salvação, e a de que aigreja determina o adequado treinamento pedagógico para o futuro. Muita atenção foidada ao estado intermediário e, particularmente, à doutrina do purgatório. Em conexão

com isto, a mediação da igreja foi trazida para o primeiro plano  – as doutrinas da missa,das orações pelos mortos e das indulgências. Como um protesto contra esteeclesiasticismo, o quiliasma apareceu em várias seitas. Em parte, isto constituiu umareação de natureza pietista contra o externalismo e a mundaneidade da igreja.

3. DA REFORMA AOS DIAS ATUAIS. O pensamento da Reforma centralizou-seprimariamente em torno da idéia da aplicação e apropriação da salvação, e procuravadesenvolver a escatologia segundo este ponto de vista. Muitos dos antigos teólogosreformados (calvinistas) trataram dela apenas como um adjunto da soteriologia,focalizando a glorificação dos crentes. Conseqüentemente, só uma parte da escatologiafoi estudada e levada a uma maior desenvolvimento. A Reforma adotou o que a Igrejaeterna, e pôs de lado a crassa forma de quiliasma que apareceu nas seitas anabatistas.Em sua oposição a Roma, também refletiu bastante sobre o estado intermediário erejeitou os diversos dogmas desenvolvidos pela Igreja Católica Romana fizeram muitopelo desenvolvimento da escatologia. No pietismo o quiliasma reapareceu. O racionalismodo século dezoito conservou da escatologia apenas a simples idéia duma imortalidadeincolor, da mera sobrevivência da alma após a morte. Sob a influência da filosofia daevolução, com sua idéia de um progresso interminável, aquela doutrina se tornou, se nãoobsoleta, ao menos obsolescente. A teologia”liberal” ignorou inteiramente os ensinosescatológicos de Jesus e deu toda a ênfase aos Seus preceitos éticos. Como resultado,ela não tem uma escatologia que mereça este nome. O interesse pelo mundo além abriualas para o interesse pelas coisas deste mundo; a bendita esperança da vida eterna foisubstituída pela esperança social de um reino de Deus exclusivamente deste mundo; e aanterior segurança quanto à ressurreição dos mortos e à glória futura, foi suplantado pelavaga confiança em que Deus pode ter em depósito coisas ainda melhores para o homem

do que as bênçãos que ele desfruta agora. Diz Gerald Birney Smith: “Em nenhuma esferaas mudanças de pensamento foram mais marcantes que na parte da teologia que trata davida futura. Onde os teólogos continuavam falando pormenorizadamente a respeito das„últimas coisas‟, agora eles expõem em termos algo gerais a barata base para umaconfiança otimista na continuação da vida além da morte física.”2 Contudo, há nopresente alguns sinais de uma mudança para melhor. Uma nova onda de premilenismoapareceu, e este não se limita às seitas, mas também achou entrada nalgumas dasigrejas dos nossos dias, e os seus defensores propõem uma filosofia cristã da história,baseada particularmente no estudo de Daniel e Apocalipse, e ajuda a fixar mais uma veza atenção no final dos séculos. Weiss e Schweitzer chamaram a atenção para o fato deque os ensinos escatológicos de Jesus foram muito mais importantes, em Seu esquemade pensamento, do que os Seus ensinos éticos, os quais representam, afinal de contas,apenas uma “Interimsethik” (“ética do ínterim”). E Karl Barth também salienta o elementoescatológico da revelação divina.C. Relação da Escatologia com o Restante da Dogmática.

1. CONCEPÇÕES ERRÔNEAS QUE OBSCURECEM ESTA RELAÇÃO. QuandoKliefoth escreveu sua Escatologia (Eschatologie), queixou-se do fato de que até entãonunca aparecera um compreensivo e adequado tratado de escatologia de maneira

2 A Guide to the Study of the Christian Religion, p. 538. 

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completa; e depois chamou a atenção para o fato de que nas obras dogmáticas aparecemuitas vezes, não como uma das principais divisões e uniforme em relação a estas, masapenas como um apêndice fragmentário e tratado com negligência, enquanto quealgumas das suas questões são discutidas noutros loci isto é, noutras partes. Havia boasrazões para as suas reclamações. Em geral se pode dizer que, mesmo agora, aescatologia é o menos desenvolvido de todos os loci  da dogmática. Além disso, com

freqüência se lhe dá um lugar muito subordinado no tratamento sistemático da teologia.Coccejus (Cocceio) cometeu o erro de dispor o conjunto global da dogmática segundo oesquema das alianças, e assim a tratou como um estudo histórico, e não como umaapresentação sistemática de todas as verdades da religião cristã. Nesse esquema, aescatologia só poderia aparecer como “finale” da história, e de modo nenhum como umdos elementos constitutivos de um sistema de verdade. Uma discussão histórica dasultimas coisas pode fazer parte da historia revelationis (história da revelação), mas, comotal, não pode ser apresentada como parte integrante da dogmática. A dogmática não éuma ciência descritiva, e, sim, normativa, na qual visamos à verdade absoluta, e não auma simples verdade histórica. Os teólogos reformados (calvinistas) em geral viam esteponto com muita clareza, e, portanto, discutiam as últimas coisas de maneira sistemática.Todavia, nem sempre lhe fizeram justiça como uma das principais divisões da dogmática,

mas lhe deram um lugar subordinado num dos outros loci. Vários deles a concebiamcomo tratando apenas da glorificação dos santos ou da consumação do governo deCristo, e a introduziam na conclusão da sua discussão da soteriologia objetiva e subjetiva.O resultado foi que algumas partes da escatologia receberam a devida ênfase, ao passoque outras partes foram pouco menos que negligenciadas. Nalguns casos, o conteúdo daescatologia foi repartido entre diferentes loci. Outro erro, que alguns cometeram, é queperderam de vista o caráter teológico da escatologia. Não podemos subscrever a seguintedeclaração de Pohle (católico romano) em sua obra sobre A Escatologia, ou a DoutrinaCatólica das Últimas Coisas (Eschatology, or the Catholic of the Last Things): “Aescatologia é antropológica e cosmológica, antes que teológica: pois, embora trate Deuscomo o Consumador e Juiz Universal, estritamente falando, o seu assunto é o universocriado, isto é, o homem e o cosmos”.3 Se a escatologia não fosse teologia, não teria lugar

próprio na dogmática.2. O CONCEITO CORRETO DESTA RELAÇÃO. Estranhamente, o mesmo escritor

católico romano diz: “A escatologia é a coroa e o selo da teologia dogmática”, o que estáperfeitamente certo. É o único lócus  ou ponto da teologia no qual todos os outros loci  chegam a um ponto culminante, a uma conclusão final. O doutor Kuyper assinalacorretamente que cada um dos outros loci deixa alguma questão sem resolver, a que aescatologia deve dar uma resposta. Na teologia propriamente dita a questão é sobrecomo Deus é final e perfeitamente glorificado na obra das Suas mãos, e como se realizaplenamente o conselho de Deus; na antropologia, a questão sobre como a ruinosainfluência do pecado é dominada completamente; na cristologia, a questão sobre como aobra de Cristo é coroada com a vitória perfeita; na soteriologia, a questão sobre como aobra do Espírito Santo por fim resulta na completa redenção e glorificação do povo de

Deus; e na eclesiologia, a questão da apoteose final da igreja. Todas essas questõesdevem encontrar em sua resposta no derradeiro lócus  da dogmática, fazendo deste overdadeiro selo da teologia dogmática. Haering atesta o mesmo fato, quando diz: “De fato,ela (a escatologia) derrama calara luz sobre cada segmento doutrinário particular. Auniversalidade do plano divino de salvação, a comunhão pessoal com um Deus pessoalasseverada sem reserva, a significação permanente do Redentor sustentada, o perdão do

3 P. 1.

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pecado entendido como unido à vitória sobre o poder do pecado  – sobre estes pontos aescatologia deve tirar toda dúvida, mesmo quando exposições indefinidas, feitas naspartes anteriores, não possam ser logo reconhecidas como tais. Tampouco é difícildescobrir a razão disto. Na doutrina das últimas coisas, a comunhão entre Deus e ohomem é exposta como completada, e, daí, a idéia de nossa religião, o princípio cristão, éapresentado em sua pureza; não, porém, como uma simples idéia no sentido de um ideal

 jamais concretizado completamente, mas como uma realidade perfeita – e é evidente, quedificuldades estão implícitas nisso! Portanto, dever-se-á no fim, na apresentação daescatologia, senão mais cedo, que a realidade desta comunhão com Deus recebeu o quelhe é devido irrestritamente.”4D. O Nome “Escatologia”. 

Vários nomes têm sido aplicados ao último lócus  da dogmática, dos quais o maiscomum é de novissimis (das últimas coisas) ou escatologia. Kuyper emprega a expressãoconsummatione saeculi  (da consumação dos séculos). O nome “escatologia” baseia-senas passagens da Escritura que falam sobre “os últimos dias” (eschatai hemerai), Is 2.2;Mq 4.1, os “últimos tempos” (eschatos ton chronon), 1 Pe 1.20, e “a última hora” (eschate hora), 1 Jo 2.18. É verdade que estas expressões às vezes se referem a toda adispensação do Novo Testamento, mas mesmo assim incorporam uma idéia escatológica.A profecia do Velho Testamento distingue somente dois períodos, quais sejam, “esta era”(olam hazzeh, gr. Aion houtos), e “a era vindoura” (olam habba’, gr. Aion mellon). Vistoque os profetas descrevem a vinda do Messias e o fim do mundo como coincidentes, os“últimos dias” são os dias imediatamente anteriores à vinda do Messias e ao fim domundo. Em parte alguma eles traçam uma clara linha de distinção entre uma primeira euma segunda vinda do Messias. No Novo Testamento, porém, é mais que evidente que avinda do Messias é dupla, e que a era messiânica inclui dois estágios, a presente eramessiânica e a consumação futura. Conseqüentemente, a dispensação do NovoTestamento pode ser considerada sob dois aspectos diferentes. Se se fixar a atenção navinda futura do Senhor, e se tudo que a precede for considerado pertencente a “esta era”,se considerará que os crentes neotestamentários estão vivendo nas vésperas desseimportante evento – a volta do Senhor em glória e a consumação final. Se, por outro lado,a atenção for centralizada na primeira vinda de Cristo, será natural considerar os crentesdesta dispensação como já vivendo na era futura, embora somente em princípio. Estadescrição da condição deles não é incomum no Novo Testamento. O reino de Deus jáestá presente, a vida eterna já se realizou em princípio, o Espírito é o penhor dasprimícias da herança celestial, e os crentes já estão sentados nos lugares celestiais comCristo. Mas, conquanto algumas das realidades escatológicas sejam assim projetadaspara o presente, não se realizarão plenamente, até ao tempo da consumação futura. Equando falamos de “escatologia”, temos em mente mais particularmente os fatos eeventos que estão relacionados com a segunda vinda de Cristo e que marcarão o fim dapresente dispensação e penetrarão nas glórias eternas do futuro.E. Conteúdo da Escatologia: Escatologia Geral e Individual.

1. ESCATOLOGIA GERAL. O nome “escatologia” chama a tenção para o ato de quea história do mundo e da raça humana finalmente chegará à sua consumação. Não é umprocesso indefinido e infindável, mas uma história que se move em direção a um fimdeterminado. Segundo a Escritura, esse fim virá com uma tremenda crise, e os fatos eeventos associados a esta crise compõem o conteúdo da escatologia. Estritamentefalando, também determinam os seus limites. Mas, uma vez que outros elementos podemser incluídos sob o título geral, é costume falar da série de eventos ligados ao retorno de

4 The Christian Faith, p. 831.

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Jesus Cristo e ao fim do mundo como constituindo a escatologia geral  – uma escatologiaque diz respeito a todos os homens. Os assuntos que requerem consideração nestadivisão são o retorno de Cristo, a ressurreição geral, o juízo final, a consumação do Reinoe a condição final dos justos e os ímpios.

2. ESCATOLOGIA INDIVIDUAL. Além dessa escatologia geral, há também umaescatologia individual, que deve ser levada em consideração. Os eventos citados podemconstituir a escatologia completa, no sentido estrito da palavra; todavia, não podemosfazer justiça a isto sem mostrar como as gerações que morreram participarão nos eventosfinais. Para o indivíduo, o fim da presente existência vem com a morte, que o transferecompletamente da era presente para a futura. Na medida em que é removido da presenteera, com o seu desenvolvimento histórico, é introduzido na era futura, que é a eternidade.Na mesma medida em que há uma mudança de localidade, há também uma mudança deera. As coisas referentes à condição do indivíduo, entre a sua morte e a ressurreiçãogeral, pertencem à escatologia pessoal ou individual. A morte física, a imortalidade daalma e a condição intermediária requerem discussão aqui. O estudo destes assuntosatenderão ao propósito de relacionar a condição dos que morrem antes da parousia coma consumação final.

I. Morte FísicaA idéia escriturística da morte inclui a morte física, a morte espiritual e a morte eterna.

Naturalmente, a morte física e a espiritual são discutidas em conexão com a doutrina dopecado, e a morte eterna é considerada mais particularmente na escatologia geral. Poressa razão, uma discussão da morte em qualquer sentido da palavra poderia parecer forade lugar na escatologia individual. Todavia, dificilmente se poderia deixar totalmente forade consideração, ao se fazer a tentativa de relacionar as gerações passadas com a

consumação final.A. Natureza da Morte Física.A Bíblia contém algumas indicações instrutivas quanto à natureza da morte física.

Fala desta de várias maneiras. Em Mt 10.28 e Lc 12.4, fala-se dela como a morte docorpo, em distinção da morte da alma (psyche). Ali o corpo é considerado como umorganismo vivo, e a psyche é evidentemente o pneuma do homem, o elemento espiritualque constitui o princípio da sua vida natural. Este conceito da morte natural também estásubjacente à linguagem de Pedro em 1 Pe 3.14-18. Noutras passagens é descrita como otérmino da psyche, isto é, da vida animal, ou como a perda desta., Mt 2.20; Mc3.4; Lc 6.9;14.26; Jo 12.25; 13.37, 38; At 15.26; 20.24, e outras passagens.5 E, finalmente, tambémé descrita como separação de corpo e alma, Ec 12.7 (comp. Gn 2.7); Tg 2.26, idéiatambém básica em passagens como Jo 19.30; At 7.59; Fp 1.23. Cf. também o emprego

de êxodos  (“partida”) em Lc 9.31; 2 Pe 1.15, 16. Em vista disso tudo, pode-se dizer que, de acordo com a Escritura, a morte física é o

término da vida física pela separação de corpo e alma. Jamais uma aniquilação, apesarde algumas seitas descreverem a morte dos ímpios como tal. Deus não aniquila coisaalguma de Sua criação. A morte não é uma cessação da existência, mas uma disjunçãodas relações naturais da vida. A vida e a morte não são antagônicas entre si como ocorre

5 Cf. Bavinck, Bijb. En Rel. Psych, p. 34.

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com a existência e a não existência, mas são mutuamente opostas somente comodiferentes modos de existência. É deveras impossível dizer exatamente o que é a morte.Falamos dela como a cessação da vida física, mas então surge imediatamente apergunta: O que é precisamente a vida? E não temos resposta. Não sabemos o que é amorte em sua essência, mas a conhecemos somente em suas relações e ações. E aexperiência nos ensina que, onde estas são separadas e cessam, a morte entra. A morte

é um rompimento das relações naturais da vida. Pode-se dizer que o pecado é per se (porsi mesmo) morte, porque representa um rompimento das relações vitais do homem,criado à imagem de Deus, com o seu Criador. Significa a perda dessa imagem e,conseqüentemente, perturba todas as relações da vida. Este rompimento também se dána separação de corpo e alma, chamada morte física.B. Relação Entre o Pecado e a Morte.

Os pelagianos e os socinianos ensinam que o homem foi criado mortal, nãomeramente no sentido de que ele poderia cair presa da morte, mas no sentido de que ele,em virtude da sua criação, estava sob a lei da morte, e, no transcurso do tempo, estavadestinado a morrer. Isto significa que Adão não era somente suscetível de morte, masestava realmente sujeito à morte antes de cair. Os defensores deste conceito erammovidos primariamente pelo desejo de fugir da prova do pecado original extraída dosofrimento e morte das crianças. A ciência dos dias atuais parece dar apoio a essaposição acentuando o fato de que a morte é lei da matéria organizada, visto que esta trazconsigo a semente da decadência e da dissolução. Alguns dos chamados pais primitivosda igreja e alguns teólogos mais recentes, como Warbuton e Laidlaw, assumem a posiçãode que Adão de fato foi criado mortal, isto é, sujeito à lei da dissolução mas que, no casodele, a lei só foi efetiva porque ele pecou. Se tivesse comprovado a sua obediência, teriasido exaltado a um estado de imortalidade. Seu pecado não produziu nenhuma mudançaem seu ser constitucional, nesse aspecto, mas, sob a sentença de Deus, fê-lo sujeito à leida morte e o privou da dádiva da imortalidade, que poderia ter tido sem experimentar amorte.

Naturalmente, neste conceito a entrada fatual da morte continua tendo caráter penal.

É um conceito que encaixaria muito bem na posição supralapsária, mas não é exigido poresta. Na realidade, essa teoria procura apenas enquadrar os fatos revelados na Palavrade Deus nos pronunciamentos da ciência, mas mesmo estes não a consideramimperativa. Suponhamos que a ciência provasse conclusivamente que a morte reinava nomundo vegetal e animal antes da entrada do pecado; mesmo então não se seguirianecessariamente que ela também prevalecia no mundo dos seres racionais e morais. Eainda que ficasse estabelecido sem sombra de dúvida que todos os organismos físicos,os humanos inclusive, trazem dentro de si as sementes da dissolução, isto ainda nãoprovaria que o homem não foi uma exceção à regra, antes da Queda. Diremos nós que oabsoluto poder de Deus, pelo qual o universo foi criado, não era suficiente para manter ohomem com vida indefinidamente? Além disso devemos ter em mente os seguintes dadosda Escritura: (1) O homem foi criado à imagem de Deus, e isto, em vista das perfeitas

condições em que a imagem de Deus existiu originariamente, por certo exclui apossibilidade de que trouxesse consigo as sementes da dissolução e da mortalidade. (2)A morte física não é apresentada na Escritura como resultado natural da continuidade dacondição original do homem, devido ao seu fracasso em não conseguir subir às alturas daimortalidade pelo caminho da obediência; mas, sim, como resultado da sua morteespiritual, Rm 6.23; 5.21; 1 Co 15.56; Tg 1.15. (3) As expressões bíblicas certamenteindicam a morte como uma coisa introduzida no mundo da humanidade pelo pecado, ecomo uma punição positiva pelo pecado, Gn 2.17; 3.19; m 5.12, 17; 6.23; 1 Co 15.21; Tg1.15. (4) A morte não é descrita como algo natural na vida do homem, mera falha de um

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ideal, e sim assaz decisivamente como algo alheio e hostil à vida humana: é umaexpressão da ira divina, Sl 90.7, 11, um julgamento, Rm 1.32, uma condenação, Rm 5.16e uma maldição, Gl 3.13, e enche os corações dos filhos dos homens de temor e tremor,

 justamente porque é tida como uma coisa antinatural.Tudo isso não significa, porém, que não poderia ter havido morte nalgum sentido da

palavra no mundo da criação inferior, independentemente do pecado, mas, mesmo ali, éevidente que a entrada do pecado trouxe um cativeiro de corrupção que era estranho àcriatura, Rm 8.20-22. Por estrita justiça, Deus poderia ter imposto a morte ao homem nomais completo sentido da palavra imediatamente após a sua transgressão, Gn 2.17. Mas,por Sua graça comum, restringiu a operação do pecado e da morte, e, por Sua graçaespecial em Cristo Jesus, venceu estas forças hostis, Rm 5.17; 1 Co 15.45; 2 Tm 1.10; Hb2.14; Ap 1.18; 20.14. A morte realiza agora plenamente a sua obra só nas vidas querecusam a libertação do seu jugo, libertação oferecida em Cristo Jesus. Os que crêem emCristo estão livres do poder da morte, foram restaurados à comunhão com Deus, e foramrevestidos de uma vida sem fim, Jo 3.36; 6.40; Rm 5.17-21; 8.23; 1 Co 15.26, 51-57; Ap20.14; 21.3, 4.C. Significado da Morte dos Crentes.

A Bíblia fala da morte física como punição, como “o salário do pecado”. Dado, por ém,que os crentes estão justificados e não estão mais na obrigação de prestar qualquersatisfação penal, surge naturalmente a questão: Por que eles têm que morrer? É maisque evidente que, quanto a eles, o elemento penal e retirado da morte. Não se achammais sob a lei, quer como exigência da aliança das obras, quer como poder condenatório,visto haverem obtido completo perdão por todos os seus pecados. Cristo se fez maldiçãopor eles, e, assim, removeu a pena do pecado. Mas, se é assim, por que Deus ainda julganecessário faze-los passar pela dolorosa experiência da morte? Por que simplesmentenão os transfere de uma vez para o céu? Não se pode dizer que a destruição do corpo éabsolutamente essencial para uma perfeita santificação, uma vez que isso é contraditadopelos exemplos de Enoque e Elias. Tampouco é satisfatório dizer que a morte liberta ocrente dos males e sofrimentos da presente vida e dos estorvos do pó, livrando o espírito

do grosseiro e carnal corpo atual. Deus poderia também realizar esta libertação por umatransformação súbita, como a que os santos vivos experimentarão por ocasião daparousia. É evidente que a morte dos crentes deve ser considerada como a culminaçãodos corretivos que Deus ordenou para a santificação do Seu povo. Conquanto a morte,em si mesma, continue sendo um verdadeiro mal natural para os filhos de Deus, umacoisa antinatural que, como tal, é temida por eles, na economia da graça se fazsubserviente ao seu progresso espiritual e aos melhores interesses do reino de Deus. Aprópria idéia da morte, as aflições que cercam a morte, o sentimento de que as doençassão prenúncios da morte, e a consciência da aproximação da morte  – tudo isso tem umefeito benéfico sobre o povo de Deus. Serve para humilhar os orgulhosos, para mortificara carnalidade, para refrear o mundanismo e para fomentar a mentalidade espiritual. Naunião mística com o seu Senhor, os crentes são levados a participar das experiências de

Cristo. Justamente como Ele entrou em Sua glória pelo caminho dos sofrimentos e morte,eles também só podem tomar posse da sua herança eterna por meio da santificação.Muitas vezes a morte é a prova suprema do vigor da fé que há neles, e com freqüênciaprovoca extraordinárias manifestações da consciência de vitória precisamente na hora daderrota aparente, 1 Pe 4.12, 13. Ela completa a santificação das almas dos crentes, desorte que eles passam imediatamente a ser “espíritos dos justos aperfeiçoados”, Hb12.23; Ap 21.27. Para os crentes, a morte não é o fim, mas o inicio de uma vida perfeita.Eles adentram a morte com a certeza de que o seu aguilhão já foi retirado, 1 Co 15.55, ede que ela é para eles a porta do céu. Eles dormem em Jesus, 1 Ts 4.14 (Almeida, Rev. e

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Corrigida; cf. também Ap 14.13), e sabem que até os seus corpos serão finalmentearrebatados do poder da morte, para estarem para sempre com o Senhor, Rm 8.11; 1 Ts4.16, 17. Disse Jesus: “Quem cr ê em mim, ainda que morra, viverá” (Jo 11.25). E Paulotinha a bem-aventurada consciência de que, para ele, o viver é Cristo, e o morrer eralucro. Daí, pôde ele entoar com jubilosas notas, no fim de sua carreira: “Combati o bomcombate, completei a carreira, guardei a fé. Já agora a coroa da justiça me está

guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mastambém a todos quantos amam a sua vinda”, 2 Tm 4.7, 8. 

QUESTIONÁRIO PARA PESQUISA: 1. Qual a idéia fundamental da concepçãobíblica da morte? 2. A morte é apenas resultado natural do pecado, ou é uma positivapunição pelo pecado? 3. Se é punição, como se pode provar isto pela Escritura? 4. Emque sentido o homem, como foi criado por Deus, era mortal? Em que sentido era imortal?5. Como se pode reprovar a posição dos pelagianos? 6. Em que sentido a morterealmente deixou de ser morte para os crentes? 7. A que propósito a morte atende emsuas vidas? 8. Quando se põe fim total ao poder da morte para eles?

BIBLIOGRAFIA PARA CONSULTA: Dick, Lect. On Theol., p. 426-433; Dabney, Syst.and Polemic Theol., p. 817-821; Litton, Introd. to Dogm. Theol., p. 536-540; Pieper, Christl.Dogm. III, p. 569-573; Schmid, Dogm. Theol. of the Ev. Luth. Church, p. 626-631; Pope,Chr. Theol. III, p. 371-376; Valentine, Chr. Theol. II, p. 389-391; Hovey, Eschatology, p.13-22; Dahle, Life After Death, p. 24-58; Kennedy, St. Paul’s Conception of the Last Things, p. 103-157; Strong, Syst. Theol., p. 982, 983; Pohle-Preuss, Eschatology, p. 5-17.

II. A Imortalidade da AlmaNo capítulo anterior foi assinalado que a morte física é a separação de corpo e alma,

e marca o fim da nossa presente existência física. Necessariamente envolve e resulta nadecomposição do corpo. Marca o fim da nossa presente vida e o fim do “corpo natural”.

Mas agora surge a questão: Que acontece com a alma? A morte física dá fim à sua vida,ou ela continuará a existir e a viver após a morte? Sempre foi firme convicção da igreja deJesus Cristo que a alma continua a viver depois da sua separação do corpo. Esta doutrinada imortalidade da alma requer breve consideração nesta altura.A. Diferentes Conotações do Termo “Imortalidade”. 

Numa discussão da doutrina da imortalidade, deve-se ter em mente que o termo“imortalidade” nem sempre é empregado no mesmo sentido. São indispensáveis certasdistinções para evitar confusão.

1. No sentido mais absoluto da palavra, só se atribui imortalidade a Deus. Paulo faladele em 1 Tm 6.15, 16 como o “bendito e único Soberano, o Rei dos reis e Senhor dossenhores: o ú nico que possui imortalidade” . Isto não significa que nenhuma de Suascriaturas seja imortal nalgum sentido da palavra. Entendida naquele sentido irrestrito, estapalavra de Paulo ensinaria também que os anjos não são imortais, e certamente não éesta a intenção do apostolo. O sentido evidente da sua afirmação é que Deus é o únicoser que possui imortalidade “como uma qualidade original, eterna e necessária”. Seja qualfor a imortalidade que se possa atribuir a quaisquer criaturas suas, é dependente davontade divina, é-lhes conferida, e, portanto, teve um começo. Deus, por outro lado, énecessariamente livre de todas as limitações temporais.

2. A imortalidade, no sentido de uma existência continuada ou sem fim, também éatribuída a todos os espíritos, a alma humana inclusive. Uma das doutrinas da religião ou

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filosofia natural é que, quando o corpo é dissolvido, a alma não comparte a suadissolução, mas retém a sua identidade como um ser individual. Esta idéia daimortalidade da alma está em perfeita harmonia com o que a Bíblia ensina acerca dohomem, mas a Bíblia, a religião e a teologia não estão interessadas primariamente nestaimortalidade puramente quantitativa e incolor  – a pura e simples existência contínua daalma.

3. Ainda, o termo “imortalidade” é empregado na linguagem teológica para designar oestado do homem no qual ele está inteiramente livre das sementes da decadência e damorte. Neste sentido da palavra, o homem era imortal antes da Queda. Esse estadoevidentemente não excluía a possibilidade do homem se tornar sujeito à morte. Embora ohomem, no estado de retidão, não estivesse sujeito à morte, estava propenso a essasujeição. Era inteiramente possível que, mediante o pecado, ele se tornasse sujeito à leida morte; e o fato é que ele caiu vítima dele.

4. Finalmente, a palavra “imortalidade” designa, especialmente na linguagemescatológica, o estado do homem no qual ele é impérvio à morte e não tem a mínimapossibilidade de se tornar sua presa. Neste supremo sentido da palavra, o homem nãoera imortal em virtude da sua criação, apesar de ter sido criado à imagem de Deus. Estaimortalidade seria o resultado, se Adão tivesse cumprido a condição da aliança das obras,mas agora só pode resultar da obra de redenção, quando se completar na consumação.B. Testemunho da Revelação Geral Quanto à Imortalidade da Alma.

A pergunta de Jó, “Morrendo o homem porventura tornar á a viver?” (Jó 14.14) é deinteresse perene. E com ela sempre se repete a pergunta se os mortos voltarão a viver. Aresposta a essa indagação sempre foi afirmativa. Conquanto os evolucionistas nãopossam admitir que a fé na imortalidade da alma é uma qualidade original do homem, nãose pode negar que esta fé é pouco menos que universal e se encontra até nas formasinferiores de religião. Sob a influência do materialismo, muitos se inclinam a duvidar, e atéa negar a vida futura do homem. Todavia, esta atitude negativa não é a que prevalece.Num recente simpósio sobre “imortalidade”, que inclui as idéias de cerca de cem homensrepresentativos, as opiniões são praticamente unânimes em favor de uma vida futura. Os

argumentos históricos e filosóficos em prol da imortalidade da alma não sãoabsolutamente conclusivos, mas certamente são testemunhos importantes da existênciacontinuada, pessoal e consciente do homem. São os seguintes:

1. ARGUMENTO HISTÓRICO. O consensus gentium  (consenso dos povos) é tãoforte com relação à imortalidade da alma, como com referencia à existência de Deus.Sempre houve eruditos descrentes que negavam a existência permanente do homem,mas em geral se pode dizer que a crença na imortalidade da alma se acha em todas asraças e nações, não importa seu estágio de civilização. Vê-se que uma noção tão comumsó pode ser considerada como um instinto natural ou como algo envolvido na própriaconstituição da natureza humana.

2. ARGUMENTO METAFÍSICO. Este argumento se baseia na simplicidade(ontológica) da alma humana, e desta se infere a sua indissolubilidade. Na morte amatéria se dissolve em suas partes. Mas a alma, como uma entidade espiritual, não secompõe de várias partes, e, portanto, é incapaz de divisão ou dissolução.Conseqüentemente, a decomposição do corpo não leva consigo a destruição da alma.Mesmo quando aquele perece, esta permanece intacta. Este argumento é muito antigo, e

 já utilizado por Platão.3. ARGUMENTO TEOLÓGICO. A impressão que se tem é que os seres humanos

são dotados de capacidades quase infinitas que nunca se desenvolvem plenamente nestavida. É como se, na maioria, os homens mal tenham começado a realizar algumas das

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grandes coisas às quais aspiram. Há idéias que não se concretizam, apetites e desejosnão satisfeitos nesta existência, anseios e aspirações frustrados. Pois bem, argumenta-seque Deus não teria conferido aos homens essas habilidades e talentos só para faze-losfracassar em suas realizações, não teria dado aos corações esses desejos e aspiraçõessó para decepciona-los. Ele deve ter providenciado uma existência futura, na qual a vidahumana alcançara fruição real.

4. ARGUMENTO MORAL. A consciência humana atesta a existência de umGovernante do universo que exerce justiça. Todavia, as exigências da justiça não sãosatisfeitas na presente vida. Há uma distribuição desigual e aparentemente injusta do beme do mal. Muitas vezes os ímpios prosperam, aumentam suas riquezas, e gozamabundantemente dos prazeres da vida, enquanto que, freqüentemente, os justos vivem napobreza, enfrentam penosos e humilhantes contratempos e padecem muitas aflições. Daí,deverá haver um futuro estado de existência no qual a justiça reinará suprema e asdesigualdades do presente serão retificadas.C. Testemunho da Revelação Especial Quanto à Imortalidade da Alma.

As provas históricas e filosóficas da sobrevivência da alma não são absolutamentedemonstrativas e, portanto, a ninguém compelem à crença. Para maior segurança nesta

matéria, pe necessário dirigir os olhos da fé para a Escritura. Aqui também devemosfirmar-nos na voz da autoridade. Ora, a posição da Escritura com respeito a esta questãopode, a princípio, parecer um tanto dúbia. Ela fala de Deus como o único que temimortalidade (1 Tm 6.15), e nunca afirma isso a respeito do homem. Não há nenhumamenção explícita da imortalidade da alma, e muito menos qualquer tentativa de provarisso de maneira formal. Daí, os russelitas ou os da aurora do milênio freqüentementedesafiam os teólogos a indicarem uma única passagem em que a Bíblia ensine que aalma do homem é imortal. Mas, mesmo que a Bíblia não afirme explicitamente que a almado homem é imortal, e não procure provar isso de maneira formal, como tampoucoprocura apresentar prova formal da existência de Deus, não significa que a Escritura onegue ou o contradite ou o ignore. Ela pressupõe claramente em muitas passagens que ohomem continua sua existência consciente após a morte. De fato, ela trata da verdade da

imortalidade do homem de modo muito parecido ao modo como trata de existência deDeus, isto é, ela a pressupõe como um postulado incontestável.1. A DOUTRINA DA IMORTALIDADE NO VELHO TESTAMENTO. Repetidamente se

assevera que o Velho Testamento, particularmente o Pentateuco, não ensina, de modonenhum, a imortalidade da alma. Ora, é mais que certo que essa grande verdade érevelada com menor clareza no Velho Testamento que no Novo; mas os fatos a respeitonão autorizam a asserção de que ela está completamente ausente do Velho Testamento.É um fato bem conhecido e geralmente reconhecido que a revelação de Deus naEscritura é progressiva e aumenta gradativamente em clareza; e é evidente que adoutrina da imortalidade, no sentido de uma vida eterna e bem-aventurada, só poderia serrevelada em todos os seus aspectos depois da ressurreição de Jesus Cristo, que “trouxeà luz a vida e a imortalidade” 2 Tm 1.10. Mas, embora tudo isso seja verdade, não se

pode negar que o Velho Testamento dá a entender a existência continuada e conscientedo homem, quer no sentido de uma pura imortalidade ou sobrevivência da alma, quer node uma bem-aventurada vida futura. Isso está implícito:

a. Em sua doutrina de Deus e do homem. As próprias raízes da esperança de Israelquanto à imortalidade estavam e sua crença em Deus como o seu Criador e Redentor, oDeus da Aliança, que nunca falharia com ele. Ele era para os israelitas o Deus vivo,eterno e fiel, em cuja comunhão eles encontravam alegria, vida, paz e perfeita satisfação.Teriam eles palpitado por Ele como palpitaram, ter-se-iam confiado a Ele completamente,na vida e na morte, e O teriam exaltado em seus cânticos como sua porção para sempre,

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se achassem que tudo que Ele lhes oferecia era apenas uma breve fração de tempo?Como poderiam auferir real consolo da redenção prometida por Deus, se considerassema morte como o fim de sua existência? Além disso, o Velho Testamento descreve ohomem como criado à imagem de Deus, criado para a vida, e não para a mortalidade. Emdistinção dos animais irracionais, ele possui uma vida que transcende o tempo e jácontém em si uma garantia de imortalidade. Foi criado para comunhão com Deus, é

pouco menor do que os anjos, e Deus pôs a eternidade no seu coração, Ec 3.11.b. Em sua doutrina do sheol. O Velho Testamento nos ensina que os mortos descem

ao sheol . A discussão desta doutrina pertence ao capítulo subseqüente. Mas, seja qual fora interpretação válida do sheol veterotestamentário, e o que quer que se possa dizer dacondição dos que descem para esse lugar, certamente este é descrito como um estadode existência mais ou menos consciente, embora não de bem-aventurança. O homem sóentra no estado de perfeita bem-aventurança se libertado do sheol . Nesta libertaçãochegamos ao verdadeiro âmago da esperança veterotestamentária de uma imortalidadebem-aventurada. Isso é ensinado claramente em diversas passagens, como Sl 16.10;49.14, 15.

c. Em suas freqüentes advertê ncias contra a consulta aos mortos ou a “espíritos familiares”  (segundo a versão utilizada pelo Autor, em todas as passagens abaixocitadas), isto é, pessoas que podiam invocar os espíritos dos mortos e comunicar as suasmensagens aos consulentes, Lv 19.31; 20.27; Dt 18.11; Is 8.19; 29.4. Não diz a Escrituraque é impossível consultar os mortos, mas, antes, parece pressupor a possibilidade,condenando a prática.6

d. Em seus ensinamentos a respeito da ressurreição dos mortos. Esta doutrina não éensinada explicitamente nos livros mais antigos do Velho Testamento. Contudo, Cristoassinala que ela foi ensinada implicitamente na declaração, “Eu sou o Deus de Abraão, oDeus de Isaque e o Deus de Jacó”, Mt 22.32, cf. Êx 3.6, e repreende os judeus por nãocompreenderem as Escrituras sobre este ponto. Alem disso, a doutrina da ressurreição éensinada explicitamente em passagens como Jó 19.23-27; Sl 16.9-11, 17.15; 49.15;73.24; Is 26.19; Dn 12.2.

e. Em certas passagens notáveis do Velho Testamento, que falam da alegria do crente em comunhão com Deus depois da morte. Estas são, no mais importante, idênticasàs passagens citadas no item anterior, quais sejam Jó 19.25-27; Sl 16.9-11; 17.15; 73.23,24, 26. elas exalam a confiante expectação de venturas na presença de Jeová.7*

2. A DOUTRINA DA IMORTALIDADE NO NOVO TESTAMENTO. No NovoTestamento, depois que Cristo trouxe à luz a vida e a imortalidade, naturalmente asprovas de multiplicam. Outra vez as passagens que as contêm podem ser divididas emvárias classes como referentes:

a. À sobrevivência da alma . Ensina-se claramente uma existência continuada dos  justos e dos ímpios. Que as almas dos crentes sobreviverão, vê-se de passagens comoMt 10.28; Lc 23.43; Jo 11.25, 26; 14.3; 2 Co 5.1; e várias outras passagens evidenciam

** Note-se, porém, que o fato de se proibir a prática não equivale a reconhecer a sua realidade. Quando Deusordena, “Não terás outros deuses”, não está afirmando que existem outros deuses reais. Por isso mesmoBerkof não fala em termos categóricos, dogmáticos. Nota do tradutor.

*** Observem-se as expressões relacionadas com a morte de Abraão, Isaque e Jacó (Gn 25.8, 9; 35.29; 49.33e 50.13). Depois de morrerem e antes de serem sepultados, foram reunidos ao seu povo. Haverá necessidadede expressão mais vívida da certeza da vida após a morte, na comunhão com outros do mesmo povo? Nota dotradutor.

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muito bem que se pode dizer a mesma coisa das almas dos ímpios, Mt 11.21-24; 12.41;Rm 2.5-11; 2 Co 5.10.

b. À ressurreição pela qual o corpo também é levado a participar da existência futura. Para os crente, a ressurreição significa a redenção do corpo e a entrada na perfeita vidade comunhão com Deus, na plena bem-aventurança da imortalidade. Esta ressurreição éensinada em Lc 20.35, 36; Jo 5.25-29; 1 Co 15; 1 Ts 4.16; Fp 3.21, e noutras passagens.Para os ímpios, a ressurreição também significará uma renovada e continuada existênciado corpo, mas isto dificilmente poderá chamar-se vida. A Escritura a denomina morteeterna. A ressurreição dos ímpios é mencionada em Jo 5.29; At 24.15; Ap 20.12-15.

c. À vida bem-aventurada dos crentes, na comunhão com Deus. Há numerosaspassagens no Novo Testamento que acentuam o fato de que a imortalidade dos crentesnão é uma simples existência sem fim, mas uma encantadora vida de felicidade nacomunhão com Deus e com Jesus Cristo, a pela fruição da vida que é implantada na almaenquanto ainda na terra. Dá-se clara ênfase a isso em passagens como Mt 13.43; 25.34;Rm 2.7, 10; 1 Co 15.49; Fp 3.21; 2 Tm 4.8; Ap 21.4; 22.3, 4.D. Objeções à Doutrina da Imortalidade Pessoal e Seus Modernos Substitutos.

1. A PRINCIPAL OBJEÇÃO. A crença na imortalidade da alma sofreu declínio por

algum tempo, sob a influencia de uma filosofia materialista. O principal argumento contraela foi forjado nas oficinas da psicologia fisiológica, e corre mais ou menos como segue: Amente ou a alma não tem existência substancial independente, mas é simples produto oufunção da atividade cerebral. O cérebro humano é a causa produtora dos fenômenosmentais, exatamente como o fígado é a causa produtora da bílis. A função não podepersistir quando o órgão decai. Quando o cérebro deixa de agir, o fluxo da vida mentalpára.

2. SUBSTITUTOS DA DOUTRINA DA IMORTALIDADE PESSOAL. O desejo deimortalidade está implantado tão profundamente na alma humana que, mesmo os queaceitam os ditames de uma filosofia materialista, procuram algum tipo de substituto para arejeitada noção da imortalidade pessoal da alma. Sua esperança quanto ao futuro assumeuma das seguintes formas:

a. Imortalidade racial. Há os que se consolam com a idéia de que o individuocontinuará a viver nesta terra em sua posteridade, em seus filhos e netos, até geraçõesintermináveis. O individuo busca compensação para a sua falta de esperança numaimortalidade pessoal na noção de que ele contribui com sua parte para a vida da raça econtinuará vivendo nela. Mas a idéia de que o homem continua a viver em sua progênie,seja qual for a porção de verdade que contenha, dificilmente poderá servir de substitutoda doutrina da imortalidade pessoal. Certamente não faz justiça aos dados da Escritura, enão satisfaz aos anseios mais profundos do coração humano.

b. Imortalidade de comemoração. De acordo com o positivismo, esta é a únicaimortalidade que devemos desejar e buscar. Cada qual deve ter em vista fazer algumacoisa para estabelecer um nome para si mesmo e que passe para os anais da história. Se

o fizer, continuará a viver nos corações e mentes de uma posteridade agradecida. Issotambém fica aquém da imortalidade pessoal que a Escritura nos leva a esperar. Alémdisso, é uma imortalidade da qual uns poucos participam. Os nomes da maioria doshomens não ficam registrados nas páginas da história, e muitos dos que estão registradosnas páginas da história, e muitos dos que estão registrados logo são esquecidos. E numagrande extensão se pode dizer que os melhores e os piores participam igualmente dela.

c. Imortalidade de influencia. Esta se relaciona de perto com a imediatamenteanterior. Se o homem deixar sua marca na vida e realizar alguma coisa de valorduradouro, sua influencia continuará por muito tempo depois de sua partida. Jesus e

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Paulo, Agostinho e Tomaz de Aquino, Lutero e Calvino – todos eles estão bem vivos nainfluencia que até hoje exercem. Embora isto seja perfeitamente verdadeiro, estaimortalidade de influencia é apenas um pobre substituto da imortalidade pessoal. Todasas objeções levantadas contra a imortalidade de comemoração aplicam também a estecaso.

3. RECUPERAÇÃO DA FÉ NA IMORTALIDADE. No presente, a interpretaçãomaterialista do universo está dando caminho a uma interpretação mais espiritual: e oresultado é que a fé na imortalidade pessoal voltou a obter apoio. Embora o doutorWilliam James subscreva a fórmula, “O pensamento é uma função do cérebro”, nega queisto nos force logicamente a descrer da doutrina da imortalidade. Ele sustenta que estaconclusão dos cientistas se baseia na equivocada noção de que a função da qual aquelafórmula fala é necessariamente uma função produtiva, e assinala que também pode seruma função permissiva ou transmissiva. O cérebro pode simplesmente transmitir, e natransmissão da cor, o pensamento, justamente como um vidro colorido, um prisma ouuma lente refratária, pode transmitir luz e ao mesmo tempo pode determinar sua cor edireção. A luz existe independentemente do vidro ou da lente; assim também opensamento existe independentemente do cérebro. James chega à conclusão de que,pela estrita lógica, é possível crer na imortalidade. Alguns evolucionistas agora baseiam adoutrina da imortalidade condicional na luta pela existência. E cientistas como WilliamJames, Sir Oliver Lodge e James H. Hyslop, atribuem grande significação às supostascomunicações com os mortos. Com base nos fenômenos psíquicos, o primeiro inclinou-sea crer na imortalidade, enquanto que os outros dois a abraçaram como um fatoestabelecido.

QUESTIONÁRIO PARA PESQUISA: 1. A doutrina da imortalidade se acha noPentateuco? 2. Que explica a relativa escassez de provas em seu favor no VelhoTestamento? 3. Em que Platão baseou sua crença na imortalidade da alma? 4. ComoKant julgava os argumentos naturais comumente usados em prol da doutrina daimortalidade? 5. Há algum lugar para a crença na imortalidade pessoal, quer nomaterialismo, quer no panteísmo? 6. Por que a doutrina da “imortalidade social”, assimchamada, não satisfaz? 7. A imortalidade da alma, no sentido filosófico, é a mesma coisaque a vida eterna? 8. Como devemos julgar as supostas comunicações espíritas com osmortos?

BIBLIOGRAFIA PARA CONSULTA: Bavinck, Geref. Dogm. IV, p. 645-655; Kuyper,Dict. Dogm., De Consummatione Saeculi, p. 3-24; Hodge, Syst., Theol. III, p. 713-730;Dabney, Syst. and Polem. Theol., p. 817-823; Dick, Lect. On Theol., Lectures  LXXX,LXXXI; Litton, Introd. to Dogm. Theol., p. 535-548; Heagle, Do the Dead Still Live? ; Dahl,Life After Death , p. 59-84; Salmond. Christian Doctrine of Immortality , cf. Índice;Mackintosh, Immortality and the Future , p. 164-179; Brown, The Christian Hope , cf. Índice;Randall, The New Light on Immortality ; Macintosh, Theology as an Empirical Science , p.72-80; Althaus, Die Letzten Dinge , p. 1-76; A.G. James, Personal Immortality , p. 19-52;Rimmer, The Evidences for Immortality ; Lawton, The Drama of Life After Death ; Addison,

Life Beyond Death , p. 3-132.

III. O Estado IntermediárioA. Conceito Bíblico de Estado Intermediário.

1. DESCRIÇÃO BÍBLICA DOS CRENTES ENTRE A MORTE E A RESSURREIÇÃO.A posição usual das igrejas reformadas (calvinistas) é que as almas dos crentes,

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imediatamente  após a morte, ingressam nas glórias do céu. Em resposta à pergunta,“Que consolo te dá a ressurreição do corpo?”, o Catecismo de Heidelberg  diz: “Que minhaalma, após esta vida, não somente é levada de imediato a Cristo, sua Cabeça, mastambém que este meu corpo, ressuscitado pelo poder de Cristo, se unirá de novo à minhaalma e virá a ser como o corpo glorioso de Cristo”.8 A Confissão de Westminster fala como mesmo espírito quando afirma que, na morte, “As almas dos justos, sendo ent ão

aperfeiçoadas na santidade, são recebidas no mais alto dos céus, onde vêem a face deDeus em luz e glória, esperando a plena redenção dos seus corpos”.9 De modo similar, aSegunda Confissão Helvética  declara: “Cremos que os fiéis, depois da morte física, vãodiretamente para Cristo”.10 Vê-se que este conceito encontra ampla justificação naEscritura, e é bom tomar nota disto, visto que durante o ultimo quarto do século11 algunsteólogos reformados (calvinistas) assumiram a posição de que os crentes, ao morrerem,entram num lugar intermediário e ali permanecem até o dia da ressurreição.

Todavia, a Bíblia ensina que a alma do crente, quando separada do corpo, entra napresença de Cristo. Diz Paulo, “estamos em plena confiança, preferindo deixar o corpo ehabitar com o Senhor”, 2 Co 5.8. Aos filipenses ele escreve que o tem “o desejo de partir e estar com Cristo”, Fp 1.23. E Jesus deu ao malfeitor arrependido a jubilosa certeza,“Hoje estar ás comigo no paraíso”, Lc 23.43. E estar com Cristo é também estar no céu. Àluz de 2 Co 12.3, 4, “paraíso” só pode ser um designativo do céu. Além disso, Pauloafirma que, “se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos da parte deDeus um edifício, casa não feita por mãos, eterna, nos céus”, 2 Co 5.1. E o escritor deHebreus anima os corações dos seus leitores com este pensamento, entre outros, queeles chegaram “à universal assembléia e igreja dos primogênitos arrolados nos céus ”, Hb12.22, 23. Que o estado futuro dos crentes, após a morte, merece muito maiorpreferência, comparado com o estado presente, vê-se claramente nas asserções dePaulo em 2 Co 5.8 e Fp 1.23, acima citadas. É um estado no qual os crentes estãoverdadeiramente vivos e plenamente conscientes, Lc 16.19-31; 1 Ts 5.10; um estado derepouso e felicidade sem fim, Ap 14.13.

2. DESCRIÇÃO BÍBLICA DO ESTADO DOS ÍMPIOS ENTRE A MORTE E ARESSURREIÇÃO. Diz a Confissão de Westminster que as almas dos ímpios, após amorte, “soa lançadas no inferno, onde ficarão, em tormentos e em trevas espessas,reservadas para o juízo do grande dia f inal”. Ademais, acrescenta: “Além destes doislugares (céu e inferno) destinados às almas separadas de seus respectivos corpos, asEscrituras não reconhecem nenhum outro lugar”.12 E a Segunda Confissão Helvética  prossegue, depois da citação acima feita: “De modo semelhante, cremos que osincrédulos são precipitados no inferno, do qual não há retorno aberto para os ímpios, poiscoisa alguma que os que vivem façam”.13 A única passagem que realmente pode serfocalizada aqui é a parábola do rico e Lázaro, em Lucas 16, onde hades denota inferno, olugar de tormento eterno. O rico achou-se no lugar de tormento; sua condição é descritacomo fixa para sempre; e ele estava cônscio da sua condição miserável, procurou lenitivopara a dor que estava sentindo, e mostrou desejo de que os seus irmãos fossem

8 Perg. 57.

9 Cap. XXXII, I.

10 Cap. XXVI.

** Segundo quarto deste século. Nota do tradutor.

12 Cap. XXXII.

13 Cap. XXVI.

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advertidos, para que evitassem semelhante condenação. Em acréscimo a essa provadireta, há também uma prova mediante dedução. Se os justos entram em seu estadoeterno imediatamente, a pressuposição é que isso é igualmente verdadeiro quanto aosímpios também. Deixamos fora de consideração aqui um par de passagens, deinterpretação incerta, a saber, 1 Pe 3.19 e 2 Pe 2.9.B. A Doutrina do Estado Intermediário na História.

Nos primeiros anos da igreja cristã pouco se pensou num estado intermediário. Aidéia de que Jesus logo voltaria como Juiz fazia o intervalo parecer pouco importante. Oproblema do estado intermediário surgiu quando se evidenciou que Jesus não voltaria deimediato. O verdadeiro problema que incomodava os chamados pais primitivos era sobrecomo conciliar o juízo e a retribuição na morte com o juízo geral e a retribuição após aressurreição. Atribuir demasiada importância àqueles parecia privar estes da suasignificação, e vice-versa. Não havia unanimidade entre os chamados pais primitivos daigreja, mas a maioria deles procurava resolver a dificuldade supondo um estado distinto eintermediário entre a morte e a ressurreição. Diz Addison: “Durante muitos séculos, foigeralmente aceita a conclusão geral de que num hades subterrâneo os justos gozamcerta medida de recompensa, não igual ao seu futuro céu, e os ímpios sofrem certo graude punição, não igual ao seu futuro inferno. Assim, o estado intermediário era uma versãoligeiramente reduzida da retribuição ultima”.14 Este conceito foi defendido, embora comalgumas variantes, por homens como Justino Mártir, Irineu, Tertuliano, Novaciano,Orígenes, Gregório de Nyssa, Ambrósio e Agostinho. Na escola Alexandrina, a idéia doestado intermediário cedeu passo à de uma gradual purificação da alma, isto é, notranscurso do tempo, preparou o caminho para a doutrina católica romana do purgatório.Havia, porém, alguns que apoiavam a idéia de que, na morte, as almas dos justosentravam imediatamente no céu; entre eles estavam Gregório de Nazianzo, Eusébio eGregório, o Grande.

Na Idade Média a doutrina de um estado intermediário foi conservada, e, em conexãocom ela, a Igreja Católica Romana desenvolveu a doutrina do purgatório. A opiniãodominante era que o inferno recebia imediatamente as almas dos ímpios, mas que

somente as dos justos que estivessem livres de toda mácula do pecado eram admitidosimediatamente na bem-aventurança do céu, para desfrutarem o visio Dei (visão de Deus).Os mártires eram geralmente contados entre os poucos favorecidos. Os que precisavamde ulterior purificação eram, segundo o conceito predominante, detidos no purgatório porum menor ou maior período de tempo, conforme o exigisse o grau de pecado restante, eeram purgados do pecado por meio de um fogo purificador. Outra idéia, que também sedesenvolveu em conexão com a noção do estado intermediário, era a do limbus patrum (limbo dos pais), onde os santos do Velho Testamento ficaram retidos até à ressurreiçãode Cristo. Os Reformadores, sem exceção, rejeitaram a doutrina do purgatório, e tambémtoda a idéia de um real  estado intermediário, que levava consigo a idéia de um lugarintermediário. Eles sustentavam que os que morriam no Senhor ingressavamimediatamente na bem-aventurança do céu, ao passo que os que morriam em seus

pecados desciam imediatamente para o inferno. Contudo, alguns teólogos do período daReforma admitiam uma diferença de grau entre a felicidade dos primeiros e o julgamentodos últimos, antes do juízo final, e sua felicidade e punição finais, depois do grandetribunal. Entre os socinianos e ao anabatistas houve alguns que reviveram a antigadoutrina, sustentada por alguns da Igreja Primitiva, de que a alma do homem dormedesde a hora da morte até à ressurreição. Calvino escreveu um tratado para combateressa idéia. A mesma noção é defendida por algumas seitas adventistas e pelos da aurora

14 Life Beyond Death, p. 202.

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do milênio. Durante o século dezenove, vários teólogos, principalmente na Inglaterra, naSuíça e na Alemanha, abraçaram a idéia de que o estado intermediário é um estado denova prova (ou de segunda oportunidade) para os que não aceitam a Cristo nesta vida.Este conceito é defendido por alguns até aos dias atuais, e é uma das doutrinas favoritasdos universalistas.C. A Construção Moderna da Doutrina do Sheol-Hades.

1. EXPOSIÇÃO DA DOUTRINA. Há diversas representações da concepção bíblica dosheol-hades  na teologia atual, e é deveras impossível considerar cada uma delasseparadamente. Predomina no presente a idéia de que a concepção veterotestamentáriado sheol, à qual se supõe que a do hades do Novo Testamento corresponde, foi copiadada noção gentílica do mundo subterrâneo. Afirma-se que, de acordo com o VelhoTestamento, tanto os fiéis como os ímpios, ao morrerem, entram na lúgubre morada dassombras, na terra do esquecimento, onde estão condenados a uma existência que nãopassa de um fantasioso reflexo da vida na terra. O mundo subterrâneo não é, em simesmo, um lugar de recompensa, nem de punição. Não está dividido em diferentescompartimentos para os bons e os maus, mas é uma região sem distinções morais. É umlugar de consciências enfraquecidas e sonolenta inatividade, onde a vida perdeu os seusinteresses e a alegria da vida se transformou em tristeza. Alguns são de opinião que oVelho Testamento apresenta o sheol como habitação permanente de todos os homens,enquanto outros acham que ele oferece uma esperança de fuga aos fiéis.Ocasionalmente encontramos uma apresentação um tanto diversa da concepçãoveterotestamentária, na qual o sheol e descrito como dividido em dois compartimentos,quais sejam, o paraíso e a geena, aquele contendo todos os judeus, ou unicamenteaqueles que observaram fielmente a lei, e esta abrangendo os gentios. Os judeus serãolibertados do sheol quando da vinda do Messias, enquanto que os gentios permanecerãopara sempre na habitação das trevas. A contraparte neotestamentária dessa concepçãodo sheol  acha-se em sua descrição do hades . Não se afirma apenas que os hebreusagasalhavam a noção desse mundo subterrâneo, nem que os escritores bíblicosocasionalmente se acomodavam formalmente, em suas exposições, aos conceitos dosgentios, a respeito dos quais falavam; mas, sim, que este é o conceito escriturístico doestado intermediário.

2. CRÍTICA DESSA APRESENTAÇÃO MODERNA. No abstrato é possível,naturalmente, que a idéia dessa localidade separada, que não é céu nem inferno, na qualos mortos são reunidos e onde permanecem, ou permanentemente, ou até que ocorraalguma ressurreição comunal, fosse mais ou menos corrente no pensamento popularhebraico, e pode ter dado surgimento a algumas descrições figuradas do estado dosmortos; mas, dificilmente isso pode ser considerado, pelos que crêem na inspiraçãoplenária da Bíblia, como um elemento dos ensinos positivos da Escritura, desde quecontradiz francamente a apresentação escriturística segundo a qual os justos entramimediatamente na glória, e os ímpios descem imediatamente para um lugar de puniçãoeterna. Além disso, podem ser feitas as seguintes considerações contra essa idéia:

a. Surge a questão sobre se o conceito do sheol-hades, tão geralmente consideradoagora como escriturístico, é fiel aos fatos ou não. Se foi fiel aos fatos na ocasião em queos livros da Bíblia foram escritos, mas não é mais fiel aos fatos atuais, levanta-senaturalmente a questão, Que foi que produziu a diferença? E se não foi fiel aos fatos, masera um conceito decididamente falso  – e esta é a opinião dominante  – surge logo oproblema de como essa idéia errônea pôde ser protegida e sancionada, e até ensinadapositivamente pelos escritores inspirados da Escritura. O problema não é abrandado pelaconsideração, feita por alguns, de que a inspiração da Escritura não leva consigo asegurança de que os santos do Velho Testamento estavam certos quando diziam que,

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quando morrem, os homens entram num lugar subterrâneo, porque não somente essessantos, mas também os escritores inspirados da Escritura empregavam linguagem que,em si mesma e independentemente doutros ensinos claros da Escritura, podia serinterpretada dessa maneira, Nm 16.30; Sl 49.15, 16; 88.3; 89.48; Ec 9.10; Is 5.14; Os13.14. Esses escritores inspirados laboravam em erro quando falaram que tanto os justoscomo os ímpios desciam para o sheol ? Pode-se dizer que houve um desenvolvimento da

revelação a respeito do destino do homem, e não temos motivos para duvidar de queneste ponto, como em muitos outros, aquilo era obscuro, aos poucos foi ganhandodefinição e clareza; mas certamente isto não significa que o verdadeiro resultou dodesenvolvimento do falso. Como poderia? O Espírito Santo consideraria válido que ohomem recebesse primeiro impressões falsas o obtivesse noções errôneas e depois, como transcorrer do tempo, as trocasse por uma percepção correta da condição dos mortos?

b. Se, conforme a exposição bíblica, o sheol-hades é um lugar neutro, sem distinçõesmorais, sem bem-aventurança por um lado, mas também sem positivo sofrimento poroutro, lugar ao qual todos descem igualmente, como pode o Velho Testamento falar dadescida dos ímpios ao sheol  em termos de advertência, como o faz em diversaspassagens, como Jó 21.13; Sl 9.17; Pv 5.5; 7.27; 9.18; 5.24; 23.4? Como pode a Bíbliafalar da ira de Deus ardendo ali, Dt 32.22, e empregar o termo sheol como sinônimo deabaddon , isto é destruição, Jó 26.6; Pv 15.11; 27.20? Este termo é um forte, aplicado aoanjo do abismo em Ap 9.11. Alguns procuram escapar desta dificuldade concedendo ocaráter neutro de sheol e supondo que este era concebido como um mundo subterrâneocom duas divisões, chamadas no Novo Testamento paraíso e geena , aquele sendo ahabitação destinada aos justos, e esta, aos ímpios; mas essa tentativa só pode resultarem desapontamento; pois o Velho Testamento não contém nenhum vestígio de taldivisão, conquanto fale do sheol como um lugar de punição para os ímpios. Além disso, oNovo Testamento identifica claramente o paraíso como o céu em 2 Co 12.2, 4. E,finalmente, se hades  é o designativo neotestamentário de sheol , e tudo converge paraisto, em que fica a condenação especial de Cafarnaum, Mt 11.23, e como pode ele serretratado como um lugar de tormento, Lc 16.23? Alguém poderia estar inclinado a dizerque as ameaças contidas nalgumas das passagens mencionadas se referem a uma

rápida descida ao sheol , mas não há indicação dito o texto em nenhum lugar, exceto emJó 21.13, onde a afirmação disto é explícita.

c. Se uma descida ao sheol fosse a sombria perspectiva do futuro, não somente dosímpios mas também dos justos como poderíamos explicar as expressões de jubilosaexpectativa, ou de alegria em face da morte, como as que vemos em Nm 23.10; Sl 1.9,11; 17.15; 49.15; 73.24, 26; Is 25.8 (comp. 1 Co 15.54)? A expressão do Sl 49.15 podeser interpretada no sentido de que Deus livrará o poeta do sheol ou do poder do sheol .Observe-se também o que o escritor de Hebreus diz dos heróis da féveterotestamentários, em Hb 11.13-16. Naturalmente, o Novo Testamento fala muitasvezes da jubilosa perspectiva que os crentes têm do futuro, e ensina sobre a suafelicidade consciente no estado desencarnado, Lc 16.23, 25; 23.43; At 7.59; 2 Co 5.1, 6,8; Fp 1.21,23; 1 Ts 5.10; Ef3.14, 15 (“família... no céu”, não no “hades ”); Ap. 6.9, 11;14.13. Em 2 Co 12.2, 4 “paraíso” é empregado como sinônimo de “terceiro céu”. Emconexão com esta clara apresentação dada pelo Novo Testamento, tem-se sugerido queos crentes neotestamentários são mais privilegiados que os veterotestamentários porterem acesso imediato à bem-aventurança do céu. Mas bem se pode perguntar: Qual abase para se pressupor essa diferença?

d. Se a palavra sheol sempre denota a sombra região na qual descem os mortos, enunca tem outro significado, então o Velho Testamento, enquanto tem uma palavra paraindicar o céu como a bendita habitação de Deus e dos santos anjos, não tem uma palavra

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referente ao inferno, o lugar de destruição e de castigo eterno. Mas é somente com baseno pressuposto de que nalgumas passagens sheol  designa um lugar de punição paraonde os ímpios vão, em distinção dos justos, que as advertências anotadas no item (b)têm alguma razão de ser. De fato, sheol às vezes é contrastado com shamayim (céus),como em Jó 11.8; Sl 139.8; Am 9.2. A Escritura fala também do sheol mais profundo ouinferior em Dt 32.22. A mesma expressão se acha também no Sl 86.13, mas é evidente

que nesta passagem é empregada figuradamente.e. Finalmente, deve-se notar que havia diferenças de opinião entre os eruditos quanto

ao sujeito exato da descida ao sheol  e, de alguma forma obscura, continua a suaexistência num mundo de sombras, onde as relações da vida ainda refletem as da terra.Esta descrição parece estar em maior harmonia com as afirmações da Escritura, Gn37.35; Jó 7.9; 14.13; 21.13; Sl 139.8; Ec 9.10. Há alguns que assinalam o fato de que ocorpo está incluído. Há perigo de que as “cãs” de Jacó sejam baixadas ao sheol , Gn42.38; 44.29, 31; Samuel é visto subir como um ancião envolto numa capa, 1 Sm 28.14; eas “cãs” de Simei dever ão ser baixadas ao sheol, 1 Rs 2.6,9. Mas, se o sheol é um lugarpara onde vão todos os mortos, corpo e alma, o que então é posto no túmulo, que sesupõe ser outro lugar? Esta dificuldade é evitada por aqueles eruditos que afirmam quesomente as almas descem ao sheol , mas dificilmente se pode dizer que isso está emharmonia com as descrições do Velho Testamento. É verdade que há umas poucaspassagens que falam de almas indo para o sheol ou estando lá, Sl 16.10; 30.3; 86.13;89.48; Pv 23.14, mas é um fato bem conhecido que em hebraico a palavra nephesh  (alma), com o sufixo pronominal, é muitas vezes equivalente ao pronome pessoal,principalmente na linguagem poética. Alguns teólogos conservadores adotaram estaelaboração da apresentação veterotestamentária, e encontraram nela um ponto de apoiopara a sua idéia de que as almas dos homens estão nalgum lugar intermediário (todavia,um lugar com distinções morais e divisões separadas), até o dia da ressurreição.

3. INTERPRETAÇÃO DE SHEOL-HADES AQUI SUGERIDA. De maneira nenhuma éfácil interpretar estes termos, e, ao sugerir uma interpretação, não queremos dar aimpressão de que estamos falando com absoluta segurança. Um estudo indutivo daspassagens nas quais se encontram, logo dissipa a noção de que os termos sheol e hades  são empregados sempre no mesmo sentido e em todos os casos podem ser traduzidospela mesma palavra, seja mundo inferior, estado dos mortos, sepultura ou inferno. Issotambém se reflete claramente nas várias traduções da Bíblia. A Versão de Holland traduzo termo sheol por sepultura nalgumas passagens, e por inferno noutras. A Versão do ReiTiago, ou Versão Autorizada (King James ou Authorized Version) emprega três palavraspara a sua tradução, a saber, sepultura, inferno e cova (grave, hell e pit). Os revisoresingleses, deveras incoerentemente, conservaram sepultura ou cova no texto dos livroshistóricos, colocando sheol  na margem. Mantiveram somente em Is 14. Os revisoresamericanos evitaram a dificuldade simplesmente mantendo os vocábulos originais sheol e hades em sua tradução.15 Embora tenha alcançado ampla circulação a opinião de que osheol  é simplesmente o mundo inferior ao qual os homens descem, de modo nenhumesta idéia é unânime. Alguns dos eruditos mais antigos identificavam o sheol  com asepultura; há outros que o consideram como o lugar onde são retidas as almas dosmortos; e ainda outros, dentre os quais podemos mencionar Shedd, Vos, Aalders e De

** É o que faz a Tradução Brasileira. A Versão de Almeida, Revista e Atualizada no Brasil, emprega váriaspalavras para traduzir sheol, como sepultura (Jó 7.9), morte (Sl 16.10), cova (Sl 30.3a), abismo (Sl 139.8),além (Ec 9.10), inferno (Dt 32.22; Sl 116.3). Na Edição Revista e Corrigida, nas passagens dadas nesta notacomo exemplos, aparecem as seguintes palavras, respectivamente: sepultura, inferno, sepultura, Seol,sepultura e inferno. Nota do tradutor.

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Bondt, afirmam que a palavra sheol nem sempre tem o mesmo sentido. Parece-nos queesta ultima opinião merece preferência, e que se pode dizer o seguinte, a respeito dosseus diferentes sentidos:

a. Nem sempre as palavras sheol e hades denotam uma localidade, na Escritura, masmuitas vezes são empregadas num sentido abstrato, para designar o estado de morte, oestado de separação de corpo e alma. Com freqüência, este estado é concebidolocalmente como constituindo os domínios da morte, e às vezes é retratado como umafortaleza guarnecida de portas que somente quem lhes possui as chaves pode fechar eabrir, Mt 16.18; Ap. 1.18. Com toda a probabilidade, esta descrição local se baseia numageneralização da idéia do sepulcro, ao qual o homem desce quando entra no estado demorte. Desde que tanto os crentes como os descrentes, ao término da sua vida, entramno estado de morte, bem se pode dizer, figuradamente, que eles estão, sem distinção, nosheol  ou no hades . Estão igualmente no estado de morte. O paralelismo demonstraclaramente o que se quer dizer numa passagem como 1 Sm 2.6: “O Senhor é o que tira avida, e a dá; faz descer à sepultura (ao sheol ), e faz subir”. CF. também Jó 14.13, 14;17.13, 14; Sl 89.48; Os 13.14, e várias outras passagens. Evidentemente, a palavra hades  é empregada mais de uma vez no sentido não local de estado dos mortos no NovoTestamento, At 2.27, 31; Ap. 6.8; 20.28. Nestas duas ultimas passagens temos umapersonificação. Visto que os termos podem denotar o estado de morte, não é necessárioprovar que nunca se referem a algo concernente igualmente aos justos e aos ímpios, massomente que não denotam um lugar onde as almas de uns e de outros são reunidas. DeBondt chama a atenção para o fato de que em muitas passagens o termo sheol  éempregado no sentido abstrato de morte, poder da morte e perigo da morte.

b. Quando sheol  e hades  designam uma localidade no sentido literal da palavra,referem-se, ou àquilo que geralmente denominamos inferno, ou à sepultura. A descida aosheol é apresentada como uma ameaça de perigo e como um castigo para os ímpios, Sl9.17; 49.14; 55.15; Pv 15.11; 15.24; Lc 16.23 (hades). A advertência e a ameaça contidasnestas passagens ficarão completamente anuladas, se se conhecer sheol como um lugarneutro para onde todos vão. Destas passagens também se infere que não pode serconsiderado como um lugar de duas divisões. A idéia de um tal sheol dividido é copiadada concepção gentílica do mundo subterrâneo e não encontra suporte na Escritura. Ésomente do sheol como estado de morte que podemos falar que tem duas divisões, masentão falamos figuradamente. Mesmo o Velho Testamento atesta que os que morrem noSenhor entram num gozo mais completo das bênçãos da salvação e, portanto, nãodescem a nenhum mundo subterrâneo, no sentido literal da palavra, Nm 23.5, 10; Sl16.11; 17.15; 73.24; Pv 14.32. Enoque e Elias foram levados para cima, e não descerama algum mundo inferior, Hb 11.5 e segtes. Ademais, sheol , não meramente como umestado, mas também como um lugar, é considerado como estando na mais estreitarelação com a morte. Se a concepção bíblica da morte for compreendida em suasignificação profunda, em sua significação espiritual, prontamente se verá que o sheol  não pode ser a morada das almas dos que morrem no Senhor, Pv 5.5; 15.11; 27.20.

Há também diversas passagens nas quais sheol  e hades  parecem designar asepultura. Nem sempre é fácil determinar, porém, se as palavras se referem à sepulturaou ao estado dos mortos. As seguintes passagens são algumas das que entram emconsideração aqui: Gn 37.25; 42.38; 44.29; 29.31; 1 Rs 2.6, 9; Jó 14.13; 17.13; 21.13; Sl6.5; 88.3; Ec 9.10. Mas, embora o nome sheol  também seja empregado para sepultura,não se segue necessariamente que este é o sentido original da palavra, do qual o seuemprego para designar o inferno é copiado. Com toda a probabilidade, a verdade é ooposto. A sepultura é chamada sheol  porque simboliza a ida para baixo, que érelacionada com a idéia de destruição. Quanto aos crentes, o simbolismo bíblico é

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mudado pela própria Escritura. Paulo afirma que eles são sepultados quando morrem,como uma semente é semeada na terra, da qual brota uma vida nova, mais abundante,mais gloriosa.

No Velho Testamento a palavra sheol é utilizada mais freqüentemente no sentido desepultura e menos no de inferno, enquanto que no uso correspondente de hades no NovoTestamento dá-se o contrário.D. A Doutrina Católica Romana a Respeito do Domicilio da Alma Depois da Morte.

1. PURGATÓRIO. De acordo com a igreja de Roma, as almas dos que sãoperfeitamente puros por ocasião da morte são imediatamente admitidos no céu ou navisão beatífica de Deus, Mt 25.46; Fp 1.23; mas os que não se acham perfeitamentepurificados, que ainda levam sobre si a culpa de pecados veniais e não sofreram o castigotemporal devido aos seus pecados  – e esta é a condição da maioria dos fiéis quandomorrem – têm que se submeter a um processo de purificação, antes de poderem entrarnas supremas alegrias e bem-aventurança do céu. Em vez de entrarem imediatamente nocéu, entram no purgatório.

O purgatório não é um lugar de prova (ou de segunda oportunidade), mas depurificação e de preparação para as almas dos crentes que têm a segurança de uma

entrada final no céu, mas ainda não estão prontas para apossar-se da felicidade da visãobeatífica. Durante a estada dessas almas no purgatório, elas sofrem a dor da perda, istoé, a angústia resultante do fato de que estão excluídas da bendita visão de Deus, etambém padecem “castigo dos sentidos”, isto é, sofrem dores positivas, que afligem aalma. A extensão da sua permanência no purgatório não pode ser determinada deantemão. A duração, como também a intensidade dos seus sofrimentos, variam de acordocom o grau de purificação ainda necessitado. Elas podem ser abreviadas e aliviadaspelas orações e boas obras dos fiéis na terra, e especialmente pelo sacrifício da missa. Épossível que alguém fique no purgatório até ao dia do juízo final. Supõe-se que o papatem jurisdição sobre o purgatório. É sua prerrogativa peculiar conceder indulgências,abrandar os sofrimentos purgatoriais e até acabar com eles.

O principal apoio para esta doutrina acha-se em 2 Macabeus 12.42-45, e, portanto,

num livro não reconhecido como canônico pelos protestantes.16 Mas esta passagemprova demais, isto é, mais do que os próprios católicos romanos podem admitircoerentemente, a saber, a possível libertação do purgatório, de soldados que tinhammorrido no pecado mortal da idolatria.

Também se supõe que certas passagens favorecem essa doutrina, como Is 4.4; Mq7.8; Zc 9.11; Ml 3.2, 3; Mt 12.32; 1 Co 3.13-15; 15.29. Contudo, é mais que evidente queessas passagens só podem ser levadas a dar suporte à doutrina do purgatório medianteuma exegese forçada. A doutrina não acha suporte nenhum na Escritura, e, além disso,firma-se em várias premissas falsas, tais como: (a) que devemos acrescentar algo à obrarealizada por Cristo; (b) que as nossas boas obras são meritórias no sentido estrito dapalavra; (c) que podemos realizar obras de supererrogação, obras que excedem o que odever manda; e (d) que o poder das chaves, que a igreja detém, é absoluto, num sentido

  judicial. Segundo esse poder, a igreja pode encurtar, suavizar e até mesmo terminar ossofrimentos do purgatório.

2. O LIMBUS PATRUM. A palavra latina limbus (orla, borda) era empregada na IdadeMédia para denotar dois lugares na orla ou na borda do inferno, a saber, o limbus patrum  

** Igualmente não reconhecido pelos católicos romanos até à época do Concílio de Trento, que o declarou deigual autoridade à dos livros canônicos (juntamente com outros livros apócrifos) –  e isso três décadas após aeclosão da Reforma Protestante do Século XVI. Nota do tradutor.

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(dos pais) e o limbus infantum  (das crianças). Aquele era o lugar onde, segundo osensinos de Roma, as almas dos santos do Velho Testamento ficaram detidos, num estadode expectativa, até a ressurreição do Senhor dentre os mortos. Supõe-se que, após Suamorte na cruz, Cristo desceu ao lugar de habitação dos pais para livra-los do seuconfinamento temporário e levá-los em triunfo para o céu. Esta é a interpretação católicaromana da descida de Cristo ao hades . O hades é considerado como o lugar de habitação

dos espíritos dos mortos, tendo duas divisões, uma para os justos e a outra para osímpios. A divisão habitada pelos espíritos dos justos era o limbus patrum, que os judeusconheciam como seio de Abraão, Lc 16.23, e paraíso, Lc 23.43. Afirma-se que o céu nãofoi aberto para nenhum homem, enquanto Cristo não realizou a propiciação pelo pecadodo mundo.

3. O LIMBUS INFANTUM. Este é o lugar de habitação das almas de todas ascrianças não batizadas, independentemente de sua descendência, que de pagãos, querde cristãos. De acordo com a Igreja Católica Romana, as crianças não batizadas nãopodem ser admitidas no céu, não podem entrar no reino de Deus, Jo 3.5. Sempre houvenatural repugnância, porém, pela idéia de que essas crianças devem ser torturadas noinferno, e os teólogos católicos romanos procuraram um meio de escapar da dificuldade.Alguns achavam que tais crianças talvez sejam salvas pela fé dos pais, e outros, queDeus pode comissionar os anjos para batiza-las. Mas a opinião predominante é que,embora excluídas do céu, é-lhes destinado um lugar situado nas bordas do inferno, aondenão chegam as chamas terríveis. Elas permanecem nesse lugar para sempre, semnenhuma esperança de livramento. A igreja de Roma jamais definiu a doutrina do limbus infantum , e as opiniões dos teólogos variam quanto às precisas condições das crianças aliconfinadas. Todavia prevalece a opinião de que elas não sofrem nenhuma puniçãopositiva, nenhuma “dor dos sentidos”, mas simplesmente estão excluídas das bênçãos docéu. Elas conhecem e amam a Deus pelo uso das suas faculdades naturais, e gozamcompleta felicidade natural.E. O Estado da Alma Depois da Morte, Um Estado de Existência Consciente.

1. O ENSINO DA ESCRITURA SOBRE ESTE PONTO. Tem-se levantado a questão

dobre se, após a morte, a alma continua ativamente consciente e é capaz de açãoracional e religiosa. Por vezes isso tem sido negado, sobre a base geral de que a alma,em sua atividade consciente, depende do cérebro e, portanto, não pode continuar afuncionar quando o cérebro é destruído. Mas, como já foi assinalado anteriormente (III.D),a validade desse argumento pode ser posta em dúvida. “Ele se baseia”, para usar aspalavras de Dahle, “no erro de confundir o oper ário com a sua máquina”. Do fato de que aconsciência humana, na presente vida, transmite os seus efeitos pelo cérebro, não sesegue necessariamente que não possa agir de nenhum outro modo. Ao argumentarmos afavor da existência consciente da alma depois da morte, não nos apoiamos nosfenômenos do espiritismo dos dias atuais, e nem mesmo dependemos de argumentosfilosóficos, embora estes não sejam destituídos de força. Buscamos nossas provas naPalavra de Deus, e particularmente no Novo Testamento. O rico e Lázaro participam de

uma conversação, Lc 16.19-31. Paulo descreve o estado desencarnado como “habitar com o Senhor”, e como uma coisa prefer ível à vida presente, 2 Co 5.6-9; Fp 1.23. Decertoque dificilmente ele falaria dessa maneira acerca de uma existência inconsciente, queseria uma virtual não existência. Em Hb 12.23 se diz que os crentes têm chegado “aosespíritos dos justos aperfeiçoados ”, o que certamente implica sua existência consciente.Além disso, os espíritos debaixo do altar clamam por vingança contra os perseguidores daigreja, Ap 6.9, e se afirma que as almas dos mártires reinam com Cristo, Ap 20.4. Estaverdade da existência consciente da alma depois da morte tem sido negada em mais deuma forma.

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2. A DOUTRINA DO SONO DA ALMA (PSICOPANIQUIA).a. Exposição da doutrina. Esta é uma das formas em que a existência consciente da

alma depois da morte é negada. Ela afirma que, depois da morte, a alma continua a existircomo um ser espiritual individual, mas num estado de repouso inconsciente. Eusébio fazmenção de uma pequena seita da Arábia que tinha esse conceito. Durante a Idade Médiahavia bem poucos dos chamados psicopaniquianos, e na época da Reforma esse erro eradefendido por alguns anabatistas. Calvino chegou a escrever um tratado contra eles,intitulado Psychopanychia. No século dezenove esta doutrina era propugnada por algunsdos irvingitas17 da Inglaterra, e nos nossos dias é uma das doutrinas favoritas dosrusselitas ou dos sectários da aurora do milênio nos Estados Unidos. Segundo estesúltimos, o corpo e a alma descem à sepultura, a alma num estado de sono que de fatoequivale a um estado de não existência. O que é chamado ressurreição, na realidade éuma nova criação. Durante o milênio os ímpios terão uma segunda oportunidade, mas, seeles não mostrarem um assinalado melhoramento durante os cem primeiros anos, serãoaniquilados. Se nesse período evidenciarem alguma correção da vida, continuarão emprova, mas somente para acabar na aniquilação, se permanecerem impenitentes. Nãoexiste inferno, não existe nenhum lugar de tormento eterno. A doutrina do sono da almaparece exercer peculiar fascínio sobre os que acham difícil acreditar na continuidade davida consciente fora do organismo corpóreo.

b. Suposta base bíblica desta doutrina. A prova escriturística desta doutrina acha-seespecialmente no seguinte: (1) Muitas vezes a Escritura descreve a morte como um sono,Mt 9.24; At 7.60; 1 Co 15.51; 1 Ts 4.13. Este sono, dizem, não pode ser sono do corpo, e,portanto, só pode ser sono da alma. (2) Certas passagens da Escritura ensinam que osmortos estão inconscientes, Sl 6.5; 30.9; 115.17; 146.4; Ec 9.10; Is 38.18, 19. Isto vaicontra a idéia de que a alma continua sua existência consciente. (3) A Bíblia ensina queos destinos dos homens serão determinados por um julgamento final e que haverásurpresa para alguns. Conseqüentemente, é impossível imaginar que a alma entra emseu destino imediatamente após a morte, Mt 7.22, 23; 25.37-39, 44; Jo 5.29; 2 Co 5.10;Ap 20.12, 13. (4) nenhum dos que ressuscitaram dentre os mortos jamais deu algumrelato das suas experiências. Pode-se entender melhor isso com a suposição de que asalmas estavam inconscientes, em seu estado desencarnado.

c. Consideração dos argumentos apresentados. Os argumentos supra mencionadospodem ser respondidos como segue, na ordem em que foram expostos: (1) Deve-se notarque a Bíblia nunca diz que a alma cai no sono, nem que o corpo cai no sono, massomente que a pessoa que morre o faz. E esta descrição escriturística baseia-sesimplesmente na similaridade existente entre um corpo e um corpo dormente. Não éimprovável que a Escritura empregue esta expressão eufemística a fim de lembrar aoscrentes a consoladora esperança da ressurreição. Além disso, a morte é um rompimentocom a vida do mundo que nos rodeia e, neste sentido, é sono, é repouso. Finalmente, nãodevemos esquecer que a Bíblia retrata os crentes como desfrutando vida consciente nacomunhão com Deus e com Jesus imediatamente após a morte, Lc 16.19-31; 23.43; At

7.59; 2 Co 5.8; Fp 1.23; Ap 6.9; 7.9; 20.4. (2) As passagens que parecem ensinar que osmortos estão inconscientes visam claramente a salientar o fato de que , no estado demorte, o homem não pode mais tomar parte nas atividades do presente mundo. DizHovey: “A obra do artista é interrompida, a voz do cantor é silenciada, o cetro do rei cai. Ocorpo volta ao pó, e o louvor de Deus neste mundo cessa para sempre”. (3) às vezes sefaz descrição como se o destino eterno do homem dependesse de um julgamento no

** Seguidores de Edward Irving (1792-1834), teólogo escocês, exonerado do ministério presbiteriano em1830 por questões doutrinárias, e fundador da Santa Igreja Católica Apostólica. Nota do tradutor.

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ultimo dia, mas evidentemente isso é um engano. O dia do juízo não é necessário parachegar-se a uma decisão a respeito da recompensa ou da punição de cada homem, massomente para o solene anúncio da sentença, e para a revelação da justiça de Deus napresença dos homens e dos anjos. A surpresa evidenciada por algumas passagens temque ver com a base sobre a qual o julgamento repousa, e não com o julgamentopropriamente dito. (4) É verdade que não lemos que algum dos que ressuscitaram dentre

os mortos alguma vez tenha contado as experiências pelas quais passou entre a suamorte e a sua ressurreição. Mas este é um simples argumento extraído do silêncio,argumento completamente sem valor neste caso, desde que a Bíblia ensina claramente aexistência consciente dos mortos. Todavia, pode muito bem ser que as pessoas semantivessem caladas acerca das experiências, mas isto pode ser prontamente explicadopartindo-se do pressuposto de que não lhes foi permitido falar delas, ou que não podiamrelatá-las com linguagem humana. Cf. 2 Co 12.4.

3. AS DOUTRINAS DO EXTINCIONISMO E DA IMORTALIDADE CONDICIONAL.a. Exposição destas doutrinas. De acordo com estas doutrinas, não há existência

consciente, se é que há alguma existência, dos ímpios após a morte. Ambas estão unidasem sua concepção do estado dos ímpios após a morte, mas divergem num par de pontosfundamentais. O extincionismo ensina que o homem foi criado imortal, mas que a alma,que continua em pecado, está privada, por um ato positivo de Deus, do dom daimortalidade e, finalmente, é destruída, ou (segundo alguns), para sempre é despojada daconsciência, o que equivale praticamente a ser reduzida à não existência. Por outro lado,segundo a doutrina da imortalidade condicional, a imortalidade não é um dote natural daalma, mas um dom de Deus em Cristo aos que crêem. A alma que não aceita a Cristo,finalmente deixa de existir, ou perde toda a consciência. Alguns dos defensores destasdoutrinas ensinam uma duração limitada de sofrimentos conscientes para os ímpios navida futura, e, assim, conservam algo da idéia de punição positiva.

b. Estas doutrinas na história. A doutrina do extincionismo foi ensinada por Arnóbio epelos primeiros socinianos, como também pelos filósofos Locke e Hobbes, mas não foipopular em sua forma originária. No século anterior ao nosso, porém, a antiga idéia da

aniquilação foi revivida com algumas modificações, com o nome de imortalidadecondicional, e em sua nova forma encontrou considerável apoio. Foi defendida por E.White, J. B. Heard, pelos prebendados Constable e Row, na Inglaterra, por Richard Rothena Alemanha, por A. Sabatier em França, por E. Petavel e Ch. Secretan na Suíça, e porC. F. Hudson, W. R. Huntingon, L.C. Baker e L.W. Bacon em nosso país (Estados Unidosda América), e, portanto, merece atenção especial. Nem todos colocam a doutrina namesma forma, mas todos concordam na posição fundamental de que o homem não éimortal em virtude da sua constituição original, mas é feito imortal por um ato ou domespecial da graça. No que se refere aos ímpios, alguns afirmam que eles conservam meraexistência, embora com total perda da consciência, enquanto outros asseveram que elesperecem completamente, como os animais, conquanto isto possa ocorrer depois deperíodos mais longos ou mais curtos de sofrimento.

c. Argumentos aduzidos em favor desta doutrina. Acha-se suporte para esta doutrina,em parte na linguagem de alguns dos chamados pais primitivos da igreja, que parecetambém nalgumas das mais recentes teorias da ciência, que negam que haja algumaprova científica da imortalidade da alma. Contudo, o principal suporte para ela éprocurado na Escritura. O que se diz é que a Bíblia: (1) ensina que somente Deus éinerentemente imortal, 1 Tm 6.16; (2) nunca fala da imortalidade da alma em geral, masapresenta a imortalidade como um dom de Deus aos que estão em Cristo Jesus, Jo10.27, 28; 17.3; Rm 2.7; 6.22, 23; Gl 6.8; e (3) ameaça os pecadores com a “morte” e com“destruição”, afirmando que eles “perecer ão”, termos que devem ser entendidos no

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sentido de que os descrentes serão reduzidos à não existência, Mt 7.13; 10.28; Jo 3.16;Rm 6.23; 8.13; 2 Ts 1.9.

d. Consideração destes argumentos. Não se pode dizer que os argumentos em favordesta doutrina são conclusivos. A linguagem dos chamados pais primitivos da igreja nemsempre é exata e coerente, e admite outra interpretação. E, no geral, o pensamentoespeculativo dos séculos tem sido favorável à doutrina da imortalidade da alma, ao passoque a ciência não tem sucesso ao reprová-la. Os argumentos escriturísticos podem serrespondidos em ordem, como segue: (1) Deus é de fato o único ser que tem imortalidadeinerente. A imortalidade do homem é derivada, mas isto não é o mesmo que dizer que elenão a possui em virtude da sua criação. (2) No segundo argumento, a mera imortalidadeou existência continuada da alma é confundida com a vida eterna, quando esta constituium conceito muito mais rico. A vida eterna é, na verdade, dom de Deus em Jesus Cristo,dom que os ímpios não recebem, mas isto não significa que eles não continuarãoexistindo. (3) O último argumento pressupõe arbitrariamente que os termos “morte”,“destruição” e “perecer” denotam uma redução à não existência. Só o literalismo mais crupode afirmar isto, e, neste caso, unicamente em conexão com algumas das passagenscitadas pelos defensores desta teoria.

e. Argumentos contra esta doutrina. A doutrina da imortalidade condicional éclaramente contraditada pela Escritura onde esta ensina: (1) que os pecadores, como ossantos, continuarão a existir para sempre, Ec 12.7; Mt 25.46; Rm 2.8-10; Ap 14.11; 20.10;(2) que os ímpios sofrerão punição eterna, o que significa que estarão para semprecônscios de uma dor que reconhecerão como seu justo prêmio, e, portanto, não serãoaniquilados, cf. as passagens recém-mencionadas; e (3) que haverá graus na puniçãodos ímpios, enquanto que a extinção do ser ou da consciência não admite graus, masconstitui uma punição igual para todos, Lc 12.47, 48; Rm 2.12

As seguintes ponderações também são decididamente opostas a esta doutrinaparticular: (1) A aniquilação seria contrária a toda analogia. Deus não aniquila a Sua obra,por mais que possa mudar-lhe a forma. A idéia bíblica da morte não tem nada em comumcom a aniquilação ou extinção. A vida e a morte são opostos exatos na Escritura. Se a

morte significasse a continuação destes; mas o fato é que significa muito mais que isso,cf. Rm 8.6; 1 Tm 4.8; 1 Jo 3.14. O termo tem uma conotação espiritual, o mesmoacontecendo com a palavra morte. O homem está espiritualmente morto antes de cairpresa da morte física, mas isso não envolve perda do ser ou da consciência, Ef 2.1, 2; 1Tm 5.6; Cl 2.13; Ap 3.1. (2) Dificilmente se pode dizer que a aniquilação é uma punição,desde que esta implica consciência de sofrimento e demérito, ao passo que, quandotermina a existência, cessa também a consciência. Poder-se-ia dizer, no máximo, que omedo da aniquilação é uma punição, mas esta punição não seria proporcional àtransgressão. E, naturalmente, o medo do homem que nunca teve dentro de si a centelhada imortalidade, jamais será igual ao daquele que tem a eternidade em seu coração, Ec3.11. (3) Muitas vezes sucede que as pessoas consideram a extinção do ser e daconsciência uma coisa muito desejável, quando se cansam da vida. Para elas, essa

punição seria na realidade uma bênção.F. O Estado Intermediário não é um Estado de Provação ou Prova Posterior.1. EXPOSIÇÃO DA DOUTRINA. A teoria da “segunda prova”, assim chamada,

encontrou considerável apoio no mundo teológico do século dezenove. Ela é defendidaalém de doutros, por Mueller, Dorner e Nitzsch na Alemanha, por Godet e Gretillat naSuíça, por Maurício, Farrar e Plumptre na Inglaterra, e por Newman Smythe, Munger,Cox, Jukes e vários outros teólogos de Andover nos Estados Unidos. Essa teoriapretende que a salvação mediante Cristo é possível no estado intermediário para certasclasses de pessoas, ou talvez para todas; e que é oferecida nos mesmos termos como no

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presente, a saber, a fé em Cristo como Salvador. Cristo é dado a conhecer a todos os queainda necessitam dele para a salvação, e todos são instados a aceita-lo. Ninguém écondenado sem ser submetido a esta prova, e só são condenados os que resistem a estaoferta da graça. O estado eterno do homem não será fixado irrevogavelmente enquantonão chegar o dia do juízo. A decisão tomada entre a morte e a ressurreição decidirá se apessoa será salva ou não. O principio fundamental sobre o qual repousa essa teoria é que

nenhum homem perecerá sem receber o oferecimento de uma oportunidade favorávelpara conhecer e aceitar a Jesus. O homem só é condenado por sua obstinada recusa aaceitar a salvação oferecida em Jesus Cristo. Contudo, as opiniões diferem quanto àspessoas às quais a graça divina oferecerá a oportunidade de aceitar a Cristo no estadointermediário. A opinião geral é que certamente será estendida a todas as criançasfalecidas na infância e aos pagãos adultos que nesta vida não ouviram falar de Cristo. Amaioria sustenta que será concedida até mesmo aos que, tendo vivido em terras cristãs,na presente vida nunca consideraram apropriadamente as reivindicações de Cristo. Há,ainda, grande diversidade de opiniões quanto à instrumentalidade e aos métodos pelosquais essa obra salvadora será levada a efeito no futuro. Além disso, enquanto algunsalimentam as maiores esperanças quanto aos resultados dessa ora, outros são menosentusiasmados em suas expectativas.

2. FUNDAMENTO EM QUE SE BASEIA ESTA DOUTRINA. Essa teoria se funda, emparte, em considerações gerais daquilo que se poderia esperar do amor e da justiça deDeus, e num desejo facilmente compreensível de dar à obra da graça de Cristo Jesusamplitude tão inclusiva quanto possível, e não nalgum sólido alicerce escriturístico. Suaprincipal base bíblica acha-se em 1 Pe 3.19 e 4.6, com o entendimento de que estaspassagens ensinam que Cristo, no período compreendido entre a Sua morte e a Suaressurreição, pregou aos espíritos no hades. Mas estas passagens dão um fundamentoassaz precário, visto que permitem uma interpretação completamente diferente.18 Emesmo que estas passagens ensinassem que Cristo de fato foi ao mundo subterrâneopara pregar, Seu oferecimento de salvação se estenderia somente aos que tinhammorrido antes da Sua crucificação. Eles se referem também a passagens que, em suaopinião, apresentam a incredulidade como a única base para a condenação, tais como, Jo

3.18, 36; Mc 16.15, 16; Rm 10.9-12; Ef 4.18; 2 Pe 2.3, 4; 1 Jo 4.3. Mas estas passagenssó provam que a fé em Cristo é o único meio de salvação, o que de modo nenhumequivale a provar que uma consciente rejeição de Cristo é a única base da condenação. Aincredulidade é, sem dúvida, um grande pecado, pecado que sobressai em proeminentedestaque nas vidas daqueles a quem Cristo é pregado, mas não é a única forma derevolta contra Deus, nem a única base da condenação. Os homens já estão sobcondenação quando Cristo lhes é oferecido. Outras passagens, como Mt 13.31, 32; 1 Co14.24-28; Fp 2.9-11, são igualmente inconclusivas. Algumas delas provam demais e,portanto, nada provam.

3. ARGUMENTOS CONTRA ESTA DOUTRINA. As seguintes considerações podemser dirigidas contra essa teoria: (a) A Escritura descreve o estado dos descrentes após amorte como um estado fixo. A passagem mais importante a considerar aqui é Lc 16.19-31. Outras passagens são Ec 11.3 (de interpretação incerta); Jo 8,21, 24; 2 Pe 2.4, 9; Jd7.13 (comp. 1 Pe 3.19). (b) Invariavelmente descreve também o juízo final vindouro comodeterminado pelas coisas feitas na carne, e nunca fala dele como de algum mododependente do ocorrido no estado intermediário, Mt 7.22, 23; 10.32, 33; 25.34-46; Lc12.47, 48; 2 Co 5.9, 10; Gl 6.7,8; 2 Ts 1.8; Hb 9.27. (c) o principio fundamental dessa

18 Cf. especialmente Hovey, Eschatology, p. 97-113, e Vos, artigo “Eschatology of the New Testament”, na

 International Standard Bible Encyclopaedia.

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teoria, segundo o qual unicamente a consciente rejeição de Cristo e Seu Evangelho levaos homens a perecerem, é antibíblico. O homem está perdido por natureza, e mesmo opeado original, bem como os pecados atuais, o torna digno de condenação. A rejeição deCristo é, indubitavelmente, um grande pecado, mas nunca é apresentada como o únicopecado que leva à destruição do pecador. (d) A Escritura nos ensina que os gentiosperecem, Rm 1.32; 2.12; Ap. 21.8. Não há na Escritura nenhuma evidencia em que

possamos basear a esperança de que gentios adultos, ou mesmo crianças gentílicas quenão chegaram aos anos da discrição, serão salvos. (e) A teoria da prova futura leva àextinção de todo o fervor missionário. Se os gentios podem decidir quanto à aceitação deCristo no futuro, isso só pode resultar num juízo mais rápido e maior para muitos, se sãopostos ante a escolha agora. Por que não deixa-los na ignorância pelo Maximo de tempopossível?

QUESTIONÁRIO PARA PESQUISA: 1. É sustentável a posição de que o sheol-hades  sempre designa um mundo subterrâneo para onde vão todos os mortos? 2. Por que éobjetável a crença em que a Bíblia, em suas afirmações sobre o sheol e hades, simplesmente reflete as noções populares da época? 3. Devemos supor que, por ocasiãoda morte, os justos e os ímpios entram nalguma habitação temporária e provisória, e nãoimediatamente em seu destino eterno? 4. Em que sentido o estado intermediário éapenas transitivo? 5. Como surgiu a noção do purgatório? 6. Como os católicos romanosconcebem o fogo purgatorial? 7. Esse fogo é meramente purificador, ou também penal? 8.Que bom elemento alguns luteranos vêem na doutrina do purgatório? 9. Que mescla deheresias encontramos na seita conhecida como “aurora do milênio”? 10. O estadointermediário, de acordo com a Escritura, representa um terceiro aion entre o aion houtos e o aion ho mellon ? 11. a ênfase escriturística ao presente como “o dia da salvação” estáem harmonia com a doutrina de uma prova futura?

BIBLIOGRAFIA PARA CONSULTA: Bavinck, Geref. Dogm. , p. 655-711; Kuyper, Dict.Dogm., De Consummatione Saeculi , p. 25-116; Vos, Geref. Dogm. V, Eschatologie , p. 3-14; Hodge, Syst., Theol. III, p. 713-770; Shedd, Dogm. Theol. II, p. 591-640; Dabney, Syst.and Polem. Theol., p. 823-829; Litton, Introd. to Dogm. Theol., p. 548-569; Valentine, Chr.Theol. II, p. 392-407; Pieper, Christ. Dogm. III, p. 574-578; Miley, Syst. Theol. II, p. 430-439; Wilmers, Handbook of the Chr. Rel., p. 385-391; Schaff, Our Father’s Faith and Ours,p. 412-431; Row, Future Retribution , p. 348-404; Shedd, Doctrine of Endless Punishment ,p. 19-117; King, Future Retribution ; Morris, Is There Salvation After Death? ; Hovey,Eschatology , p. 79-144; Dahle, Life After Death , p. 118-227; Salmond, Chr. Doct. Of Immortality , cf. Índice; Mackintosh, Immortality and the Future , p. 195-228; Addison, Life Beyond Death , p. 200-214; De Bondt, Wat Leert Het Oude Testament Aangaande Her Leven Na Dit Leven? , p. 40-129; Kliefoth, Christl. Eschatologie , p. 32-126.

ESCATOLOGIA GERAL

I. A Segunda Vinda de CristoEnquanto os profetas não distinguem claramente uma dupla vinda de Cristo, o próprio

Senhor e os apóstolos deixam mais que claro que à primeira vinda seguir-se-á umasegunda. Jesus se referiu ao Seu retorno mais de uma vez, para o fim do Seu retornomais de uma vez, para o fim do Seu ministério público, Mt 24.30; 25.19, 31; 26.64; Jo14.3. Ao tempo da Sua ascensão, anjos apontaram para o Seu regresso, At 3.20, 21; Fp3.20; 1 Ts 4.15, 16; 2 Ts 1.7, 10; Tt 2.13; Hb 9.28.

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Vários termos são empregados para denotar este grande evento, dos quais osseguintes são os mais importantes: (1) apocalypsus  (desvendamento, revelação), queindica a remoção daquilo que agora obstrui a nossa visão de Cristo, 1 Co 1.7; 2 Ts 1.7; 1Pe 1.7, 13; 4.13; (2) epiphaneia (aparecimento, manifestação), termo referente à vinda deCristo, saindo Ele de um substrato oculto com as ticas bênçãos da salvação, 2 Ts 2.8; 1Tm 6.14; 2 Tm 4.1, 8; Tt 2.13; e (3) parousia (literalmente, presença), que assinala a vinda

que precede a presença ou que resulta na presença, Mt 24.3, 27, 37; 1 Co 15.23; 1 Ts2.19; 3.13; 4.15; 5.23; 2 Ts 2.1-9; Tg 5.7, 8; 2 Pe 1.16; 3,4, 12; 1 Jo 2.28.A. A segunda Vinda, um Evento Único.

Os dispensacionalistas dos dias atuais distinguem duas vindas futuras de Cristo,embora às vezes procurem preservar a unidade da idéia da segunda vinda falando delacomo dois aspectos daquele grande evento. Mas, desde que as duas são, na realidade,apresentadas como dois eventos diferentes, separados por um período de vários anos,cada qual com seu propósito, dificilmente poderão ser consideradas como um eventoúnico. A primeira é a paurosia , ou simplesmente “a vinda”, e resulta no arrebatamento dossantos, às vezes descrito como um arrebatamento secreto. Esta vinda é iminente, isto é,pode ocorrer a qualquer momento, visto que não há eventos preditos que devam precedersua ocorrência. A opinião dominante é que, nesse tempo, Cristo não descerá à terra, maspermanecerá nas alturas. Os que morrem no Senhor ressuscitarão dos mortos, os santosvivos serão transfigurados, e juntos recolhidos para encontrar-se com o Senhor nos ares.Daí, esta vinda é também denominada “vinda para  os Seus santos”, 1 Ts 4.15, 16. Seguir-se-á um intervalo de sete anos, durante o qual o mundo será evangelizado, Mt 24.14,Israel se converterá, Rm 11.26, ocorrerá a grande tribulação, Mt 24.21,22, e o anticristoou homem do pecado será revelado, 2 Ts 2.8-10.

Depois destes eventos, haverá outra vinda do Senhor com os seus santos, 1 Ts 3.13,chamada “revelação” ou “dia do Senhor”, no qual Ele descer á à terra. Esta vinda nãopode ser iminente, porque terá que ser precedida por diversos eventos preditos. Quandodesta vinda, Cristo julgará as nações existentes, Mt 25.31-46, e introduzirá o reinomilenar. Assim, temos duas vindas distintas do Senhor, separadas por um período de sete

anos, das quais, uma é iminente e a outra não, uma é seguida pela glorificação dossantos, e a outra pelo julgamento das nações e pelo estabelecimento do reino. Estaelaboração da doutrina da segunda vinda é muito conveniente para osdispensacionalistas, visto que os habilita a defender a idéia de que a vinda do Senhor éiminente, mas não tem base na Escritura e traz implicações antibíblicas. Em 2 Ts 2.1. 2.,8 as expressões parousia  e “dia do Senhor” são empregadas uma pela outra, e de acordocom 2 Ts 1.7-10, a revelação mencionada no versículo 7 não se ajusta sincronicamente àparousia de que fala o versículo 10. Mt 24.19-31 apresenta a vinda do Senhor por ocasiãoda qual os eleitos serão reunidos como sucedendo imediatamente após a grandetribulação mencionada no contexto, ao passo que, de acordo com a teoria em foco,deverá ocorrer antes da tribulação. E, finalmente, segundo esta teoria, a igreja nãopassará pela grande tribulação, que é apresentada em Mt 24.4-26 em sincronia com a

grande apostasia, mas a descrição bíblica em Mt 24.22; Lc 21.36; 2 Ts 2.3; 1 Tm 4.1-3; 2Tm 3.1-5; Ap 7.14 é completamente diferente. Com base na Escritura, deve-se afirmarque a segunda vinda do Senhor será um único evento. Felizmente, alguns premilenistasnão concordam com esta doutrina de uma dupla segunda vinda de Cristo, e se referem aela dizendo que é uma novidade sem fundamento. Diz Frost: “Não é um fato sabido emgeral, e, não obstante, é incontestável que a doutrina da ressurreição e do arrebatamentoanteriores à tribulação é uma interpretação moderna – sou tentado a dizer, uma invenção

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moderna”.19 De acordo com o citado autor, ela tem sua origem nos dias de Irving eDarby. Outro premilenista, a saber, Alexander Reese, apresenta um argumento muitoforte contra toda esta idéia em sua obra sobre O Impendente Advento de Cristo (TheApproaching Advent of Christ).B. Os grandiosos Eventos que Precederão a Parousia.

De acordo com a Escritura, importantes eventos deverão ocorrer antes do retorno doSenhor, e, portanto, não se lhe pode chamar iminente. À luz da Escritura, não de podeafirmar que não há eventos preditos que ainda não devam acontecer antes da segundavinda. Como se poderia esperar em vista do que foi dito na seção anterior, Frost, adespeito do seu dispensacionalismo, rejeita a doutrina da iminência. Ele prefere falar davinda de Cristo como “impendente”. Acha-se apoio para a doutrina da iminência da voltade Cristo nas declarações bíblicas de que Cristo virá “dentro de pouco tempo”, Hb 10.37;ou “sem demora”, Ap 22.7; nas exortações para que vigiemos e esperemos por Suavinda, Mt 24.42; 25.13; Ap 16.15; e no fato de que a Escritura condena a pessoa que diz,“Meu Senhor demora-se” (ou, “retarda a sua vinda”), Mt 24.48. De fato Jesus ensinavaque a Sua vinda estava próxima, porém isto não é o mesmo que ensinar que eraiminente.

Em primeiro lugar, deve-se ter em mente que, ao falar de Sua vinda, Ele nem sempreestá pensando na vinda escatológica. Às vezes Ele se refere à Sua vinda em poderespiritual no dia de Pentecoste; às vezes à Sua vinda em julgamento, na destruição deJerusalém. Em segundo lugar, Ele e os apóstolos nos ensinam que terão que ocorrervários eventos importantes antes do Seu retorno físico no ultimo dia, Mt 24.5-14, 21, 22,29-31; 2 Ts 2.2-4. Portanto, Cristo não poderia descrever com muita propriedade a Suavinda como iminente. Também é evidente que, quando Ele falava da Sua vinda comopróxima, não tencionava retrata-la como imediatamente às portas. Na parábola dostalentos Ele ensina que o senhor dos servos voltou para ajustar contas com eles “depoisde muito tempo”, Mt 25.19. e a par ábola dos talentos foi contada justamente com opropósito de corrigir a noção de “que o reino de Deus havia de manifestar -seimediatamente”, Lc 19.11. Na par ábola das dez virgens se faz referência à demora do

noivo – “tardando o noivo”, Mt 25.5. Isso está em harmonia com o que Paulo diz em 2 Ts2.2. Pedro predisse surgiriam escarnecedores dizendo: “Onde está a promessa da suavinda?” (ou, na versão utilizada pelo Autor, “onde está o dia da sua vinda?”). E ensina osseus leitores a compreenderem as predições da proximidade da segunda vinda conformeo ponto de vista divino, segundo o qual um dia é como mil anos, e mil anos como um dia,2 Pe 3.3-9. Ensinar que Jesus considerava a segunda vinda como imediatamente àsportas seria dizer que Ele errou, visto que já se passaram quase dois mil anos desdeaquele tempo.

Agora, pode-se levantar a questão: Como então podemos ser concitados a velar pelavinda? Jesus nos ensina em Mt 24.32, 33 a vigiar por Sua vinda pelos sinais: “quandovirdes todas estas cousas, sabei que está próximo, às portas”. Além disso, nãoprecisamos interpretar a exortação à vigilância como uma exortação a esquadrinhar os

céus em busca de sinais imediatos do aparecimento do Senhor. Antes, devemos ver nelauma admoestação para estarmos despertos, alerta, preparados, ativos na realização daobra do Senhor, para não sermos surpreendidos por repentina calamidade. Os seguinteseventos grandiosos devem preceder a vinda do Senhor.

1. O CHAMAMENTO DOS GENTIOS. Várias passagens do Novo testamentoassinalam o fato de que o Evangelho do Reino deverá ser pregado a todas as nações

19 The Second Coming of Christ , p. 203.

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antes da volta do Senhor, Mt 24.14; Mc 13.10; Rm 11.25. Muitas passagens atestam queos gentios entrarão no Reino em grande número, durante a nova dispensação, Mt 8.11;13.31, 32; Lc 2.32; At 15.14; Rm 9.24-26; Ef 2.11-20, e outras passagens. Mas os textosacima indicados referem-se claramente à evangelização de todas as nações como a metada história. Ora, dificilmente funcionará dizer que o Evangelho já foi proclamado entretodos os povos, nem tampouco que os labores de um único missionário em cada uma das

nações do mundo preenchem todos os requisitos da afirmação de Jesus. Por outro lado, éigualmente impossível sustentar que as palavras do Salvador requerem a pregação doEvangelho a todos os indivíduos das diferentes nações do mundo. Contudo, eles exigemque essas nações, como nações, sejam completamente evangelizadas, de modo que oEvangelho se torne um poder na vida do povo, um sinal que reclama decisão. Deve serpregado a elas para testemunho, para poder-se dizer que lhes foi dada uma oportunidadepara se decidirem pró ou contra Cristo e Seu reino. Essas palavras implicam claramenteque a grande comissão deve ser levada a cabo em todas as nações do mundo, a fim dese fazerem discípulos de todas as nações, isto é, dentre o povo de todas as nações.Todavia, elas não justificam a expectação de que todas as nações, de maneira total ecompleta, aceitarão o Evangelho, mas somente que se encontrarão adeptos em todas asnações e, assim, essa proclamação servirá de instrumento para chegar-se à plenitude dos

gentios. No final dos tempos será possível dizer que a todas as nações foi dado conhecero Evangelho, e o Evangelho testificará contra as nações que não o aceitaram.

Do que acima foi dito se compreenderá prontamente que muitos dispensacionalistastêm um conceito muito diferente desta matéria. Não acreditam que a evangelização domundo precisa ser, nem que será completada antes da parousia, que é iminente. Deacordo com eles, ela realmente começará naquela ocasião. Eles assinalam que oEvangelho indicado em Mt 24.14 não é o Evangelho da graça de Deus em Jesus Cristo,mas o Evangelho do Reino, que é completamente diferente, as boas novas de que oReino mais uma vez está às portas. Depois que a igreja for removida deste cenárioterreno, e com ela retirar-se o Espírito Santo que nela habita  – o que realmente significa,após terem sido restauradas as condições do Velho Testamento  – só então o Evangelhocom o qual Jesus começou o seu ministério tornará a ser pregado. A princípio será

pregado pelos que foram convertidos pelo própria remoção da igreja, e mais tarde, talvezpor Israel convertido e um mensageiro especial,20 ou, particularmente durante a grandetribulação, pelo remanescente fiel de Israel.21 Essa pregação será maravilhosamenteeficaz, muitíssimo mais eficaz que a pregação do Evangelho da graça de Deus. Serádurante esse período que os 144.000 e a grande multidão que ninguém poderá contar, deAp 7, se converterão. E dessa maneira se cumprirá a predição de Jesus registrada em Mt24.14. Devemos lembrar que esta formulação os premilenistas mais antigos nãoaceitavam, e mesmo agora é rejeitada por alguns dos premilenistas atuais, e, certamente,não se recomenda a nós. A distinção entre um duplo Evangelho e uma dupla vinda doSenhor é insustentável. O Evangelho da graça de Deus em Jesus Cristo é o únicoEvangelho que salva e que dá entrada no reino de Deus. E é absolutamente contrário àhistória da revelação, que um regresso às condições do Velho Testamento, incluída a

ausência da igreja e do Espírito santo que nela habita, seja mais eficaz que a pregação doEvangelho da graça de Deus em Jesus Cristo e do que o dom do Espírito Santo.

2. CONVERSÃO DO PLEROMA DE ISRAEL. Tanto o Velho Testamento como oNovo falam de uma futura conversão de Israel, Zc 12.10; 13.1; 2 Co 3.15, 16, e Rm 11.25-

 20 Blackstone, Jesus is Coming, p. 233.

21 Scofield’s Bible, p. 1033, 1036; Rogers, The End from the Beginning, p. 144; Feinberg, Premillennialism

or Amilleannialism, p. 134, 135.

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29 parece relacionar isto com o fim dos tempos. Os premilenistas têm explorado esteensinamento escriturístico para os seus propósitos particulares. Eles afirmam que haveráuma restauração e uma conversão nacionais de Israel, que a nação judaica serárestabelecida na Terra Santa, e que isso terá lugar imediatamente antes ou durante oreino milenar de Jesus Cristo. É muito duvidoso, porém, que a Escritura dê base para aexpectação de que Israel, nesses tempos finais, será restabelecido como nação,22 e,

como nação, se converterá ao Senhor. Algumas profecias parecem predizer isso, maselas devem ser lidas à luz do Novo Testamento. O Novo Testamento justifica aexpectação de uma futura restauração e conversão de Israel? Isto não é ensinado, nemsequer implicitamente, em passagens como Mt 19.28 e Lc 21.24, freqüentemente citadasem seu favor.

O Senhor falou com muita clareza da oposição dos judeus ao espírito do Seu reino, eda certeza de que eles, que num sentido podiam ser chamados filhos do Reino, perderiamo seu lugar nele, Mt 8.11, 12; 21.28-46; 22.1-14; Lc 13.6-9. Ele informa os judeus ímpiosque o Reino será tirado deles e dado a uma nação que produz frutos dignos do Reino, Mt21.43. E mesmo quando fala das diversas formas de corrupção que, com o correr dotempo, se insinuariam na igreja, das dificuldades que ela enfrentaria, e da apostasia quefinalmente lhe sobreviria, Ele não dá a entender nenhuma prospectiva restauração econversão do povo judeu. Este silêncio de Jesus é muito significativo. Ora, pode-sepensar que Rm 11.11-32 certamente ensina a futura conversão da nação de Israel. Muitoscomentadores adotam esta idéia, mas mesmo que a corrupção dela está sujeita aconsiderável dúvida. Nos capítulos 9-11 o apóstolo discute a questão sobre como aspromessas de Deus a Israel podem ser conciliadas com a rejeição da maior parte deIsrael. Primeiramente, ele assinala nos capítulos 9 e 10 que a promessa se aplica, não aIsrael segundo a carne, mas ao Israel espiritual; e, em segundo lugar, que Deus aindatem os seus eleitos no seio de Israel, que ainda há nele um remanescente conforme aeleição da graça, 11.1-10. E mesmo o endurecimento da maior parte de Israel ainda não éo derradeiro fim para Deus, mas, antes, um meio em Suas mão para levar a salvação aosgentios, a fim de que estes, por sua vez, pelo gozo das bênçãos da salvação, provoquema inveja de Israel. O endurecimento de Israel sempre será parcial, pois, através dos

sucessivos séculos, sempre haverá alguns que aceitam o Senhor. Deus continuaráreunindo os Seus eleitos remanescentes dos judeus durante toda a nova dispensação,até à plenitude (pleroma, isto é, o número total dos eleitos) dos gentios, e, assim (destamaneira), todo o Israel (seu pleroma, isto é, o número total dos verdadeiros israelitas)será salvo. “Todo o Israel” deve entender -se como um designativo, não da nação toda,mas do número total dos eleitos, do povo da antiga aliança. Os premilenistas tomam oversículo 26 no sentido de que, após Deus ter completado o Seu propósito com osgentios, a nação de Israel será salva. Mas, no início da sua discussão do assunto, disse oapóstolo que as promessas eram para o Israel espiritual; não há evidência de mudançado pensamento na seção intermediária, de sorte que esta viria como uma surpresa em11.26; e o advérbio houtos  não pode significar “depois disso”, mas unicamente “destamaneira” (“assim”). Com a plenitude dos gentios se entraria também na plenitude de

Israel.3. A GRANDE APOSTASIA E A GRANDE TRIBULAÇÃO. Estas duas podem ser

mencionadas juntas, porque estão entrelaçadas no discurso escatológico de Jesus, Mt

** A primeira edição da Teologia Sistemática de L. Berkhof data de agosto de 1938. Dez anos depois deIsrael foi restabelecido na Palestina, sem que se tenha estabelecido o reino milenar nos termos apregoadospelos premilenistas em foco. E continua de pé a questão sobre se as profecias bíblicas prometem a conversãode Israel como nação. Nota do tradutor.

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24.9-12, 21-24; Mc 13.9-22; Lc 21.22-24. As palavras de Jesus indubitavelmenteencontraram cumprimento parcial nos dias que precederam a destruição de Jerusalém,mas é evidente que terão cumprimento maior no futuro, numa tribulação que sobrepujarátudo quanto já foi experimentado, Mt 24.21; Mc 13.19. Paulo também fala da grandeapostasia em 2 Ts 2.3; 1 Tm 4.1; 2 Tm 3.1-5. Ele já via algo desse espírito de apostasiaem seus próprios dias, mas se vê claramente que ele quer calcar em seus leitores que

essa apostasia assumirá proporções muito maiores nos últimos dias.Aqui, de novo, os dispensacionalistas dos dias presentes divergem de nós. Eles não

consideram a grande tribulação como precursora da vinda de Jesus (paousia ), masacreditam que se dará em seguida à “vinda” e que, portanto, a igreja não passará pelagrande tribulação. O que supõem é que a igreja será “arrebatada” para estar com oSenhor, antes de sobrevir a tribulação, com todos os seus terrores, aos habitantes daterra. Eles preferem falar da grande tribulação como “o dia da aflição de Jacó”, visto queserá um dia de grande angústia para Israel, e não para a Igreja. Mas os fundamentos queeles aduzem para este conceito não são muito convincentes. Alguns deles extraem todaforça que podem da sua própria noção preconcebida de uma dupla segunda vinda deCristo, e, portanto, não tem nenhum sentido para os que estão convictos de que não háprova dessa dupla vinda na Escritura.

Jesus, por certo, menciona a grande tribulação como um dos sinais da Sua vinda edo fim do mundo, Mt 24.3. É dessa vinda (parousia ) que Ele está falando através de todoesse capítulo, como se pode ver pelo emprego repetido da palavra paurosia , versículos3,37, 39. É simplesmente razoável supor que Ele está falando da mesma vinda noversículo 29, vinda que se seguirá imediatamente à tribulação. Essa tribulação afetará oseleitos também: correrão perigo de extraviar-se, Mt 24.24; por amor deles esses diasserão abreviados, versículo 22; serão reunidos dos quatro cantos do mundo por ocasiãoda vinda do Filho do homem, vers. 31; e serão encorajados a erguer as cabeças quandovirem acontecer essas coisas, visto estar próxima a sua redenção, Lc 21.28. Não há basepara limitar esses eleitos de Israel, como fazem os premilenistas. Paulo descreveclaramente a grande apostasia como anterior à segunda vinda, 2 Ts 2.3, e lembra aTimóteo o fato de que tempos difíceis sobrevirão nos últimos dias, 1 Tm 4.1, 2; 2 Tm 3.1-5. Em Ap 7.13, 14 se diz que os santos no céu saíram da grande tribulação, e em Ap 6.9vemos esses santos orando por seus irmãos que ainda estavam sofrendo perseguição.23

4. A FUTURA REVELAÇÃO DO ANTICRISTO. O termo antichristos só se encontranas epístolas de João, a saber, em 1 Jo 2.18, 22; 4.3; 2 Jo 7. No que se refere à forma dapalavra, ela pode descrever (a) alguém que toma o lugar de Cristo, neste caso, “anti” éentendido no sentido de “em lugar de”; ou (b) alguém que, embora assumindo a aparênciade Cristo, opõe-se a Ele; neste caso, “anti” é empregado no sentido de “contra”. Esteúltimo está em maior harmonia com o contexto em que ocorre a palavra. Pelo fato deJoão empregar o singular em 2.18 sem artigo, fica evidente que o termo “anticristo” j á eraconsiderado um nome técnico. É incerto se, ao usar o singular, João tinha em mente umAnticristo superior ou supremo, do qual os outros a que se refere eram apenas

precursores, ou se simplesmente quis personificar o princípio incorporado em diversosanticristos, o princípio do mal militando contra o reino de Deus. É evidente que o anticristorepresenta um certo princípio, 1 Jo 4.3. Se tivermos isto em mente, perceberemos que,embora João tenha sido o primeiro a empregar o termo “anticristo”, o princ ípio ou espíritoindicado por esse termo é claramente mencionado em escritos anteriores. Assim como há

23 Para mais ampla defesa da posição de que a igreja passará pela tribulação, remetemos o leitor às obras dedois premilenistas, quais sejam, Frost, The Second Coming of Christ, p. 202-227; Reese, The Approaching

 Advent of Christ, p. 199-224.

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na Escritura um desenvolvimento claramente assinalado no delineamento de Cristo e doreino de Deus, também há uma revelação progressiva do anticristo. As representaçõesdiferem, mas vão se tornando cada vez mais definidas, conforme avança a revelação deDeus.

Na maioria dos profetas do Velho Testamento vemos o princípio da injustiçaoperando nas nações ímpias que se mostram hostis para com Israel e são julgadas porDeus. Na profecia de Daniel vemos algo mais específico. A linguagem ali empregadaforneceu muitas características da descrição que Paulo faz do homem do pecado em 2Tessalonicenses. Daniel vê o ímpio, iníquo, encarnado no “pequeno chifre”, Dn 7.8, 23-26,e o descreve com muita clareza em 11.35 e segtes. Ali, nem mesmo o elemento pessoalestá faltando, conquanto não seja inteiramente certo que o profeta está pensando nalgumrei particular, a saber, em Antíoco Epifânio, como um tipo de Anticristo. Naturalmente, avinda de Cristo revela esse princípio em sua forma especificamente anticristã, e Jesus odescreve como encarnado em várias pessoas. Ele fala dos pseudoprophetai  e dospseudichristoi , que tomam posição contra Ele e contra o Seu reino, Mt 7.15; 24.5, 24; Mc13.21, 22; Lc 17.23. Com o fim de corrigir o conceito errôneo dos tessalonicenses, Paulochama a atenção para o fato de que o dia de Cristo não pode vir “sem que primeiro venhaa apostasia, e seja revelado o homem da iniqüidade, o filho da perdição”. Ele descreve

esse homem do pecado como aquele que “se opõe e se levanta contra tudo que sechama Deus, ou objeto de culto, a ponto de assentar-se no santuário de Deus,ostentando-se como se fosse o próprio Deus”, 2 Ts 2.3, 4. Esta descrição nos lembra Dn11.36 e segtes., e claramente aponta para o Anticristo. Não há boa razão para duvidar daidentidade do homem da iniqüidade (ou do pecado) de que fala Paulo, com o Anticristomencionado por João. O apóstolo Paulo vê “o ministério da iniqüidade” já em ação, masgarante aos seus leitores que o homem da iniqüidade não poderá vir enquanto não forafastado do caminho aquilo ou “aquele que” o detém. Quando esse obstáculo, seja estequal for (há várias interpretações), for retirado, aparecerá o homem do pecado “segundo aeficácia de Satanás, com todo poder, e sinais e prodígios da mentira”, versículos 7-9.Nesse capítulo o elemento pessoal é pressuposto do começo ao fim. O Livro deApocalipse encontra o princípio ou poder anticristão nas duas bestas que saíram do mar e

da terra, Ap. 13. Geralmente se pensa que a primeira se refere a governos, poderespolíticos, ou a algum império mundial; a segunda, embora não com a mesmaunanimidade, à religião falsa, à falsa profecia e à falsa ciência, particularmente às duasprimeiras. A este princípio oponente, ou de oposição, João chama finalmente Anticristo,em suas epístolas.

Historicamente, há diferentes opiniões a respeito do Anticristo. Na igreja antiga,muitos afirmavam que o Anticristo seria um judeu com a pretensão de ser o Messias egovernando em Jerusalém. Muitos comentadores são de opinião que Paulo e outrospensavam, equivocadamente, que um imperador romano seria o Anticristo, e, de que,evidentemente, João tinha Nero em mente, ao escrever Ap 13.18, visto que as letras daspalavras hebraicas para “imperador Nero” equivalem exatamente a 666, em Ap 13.18.Desde os tempos da Reforma, muitos, entre os quais também eruditos reformados(calvinistas), consideravam a Roma papal e, nalguns casos, até mesmo algum papa emparticular, como Anti-Cristo. E, na verdade, o papado revela várias características doAnticristo, como este vem descrito na Escritura. Todavia, dificilmente poderíamosidentifica-lo com o Anticristo. É melhor dizer que há elementos do Anticristo no papado.Positivamente, só podemos dizer: (a) que o espírito anticristão já estava em ação nos diasde Paulo e de João, segundo o próprio testemunho deles; (b) que ele alcançará o seupoder supremo nas proximidades do fim do mundo; (c) que Daniel retrata a sua facetapolítica, Paulo a eclesiástica, e João, em Apocalipse, retrata ambas as facetas: ambas

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podem ser revelações sucessivas do poder anticristão; (d) que, provavelmente, essepoder afinal se concentrará num só indivíduo, vindo a ser a encarnação da iniqüidade.

A questão do caráter pessoal do Anticristo ainda está sujeita a debate. Algunsafirmam que as expressões “anticristo”, “homem da iniqüidade” (ou “do pecado”), “o filhoda perdição”, e as figuras de Daniel e de Apocalipse são apenas descrições do princípioímpio e anticristão, que se manifesta na oposição do mundo a Deus e a Seu reino,através de toda a história desse reino, oposição ora mais fraca, ora mais forte, mas aindamais forte nas proximidades do fim dos tempos. Eles não estão em busca de nenhumAnticristo pessoal. Outros acham que é contrário à Escritura falar do Anticristo meramentecomo um poder abstrato. Estes sustentam que tal interpretação não faz justiça aos dadosda Escritura, que não somente fala de um espírito abstrato, mas também de pessoasreais. Segundo eles, “Anticristo” é um conceito coletivo, o designativo de uma sucessãode pessoas a manifestar um espírito ímpio ou anticristão, tais como os imperadoresromanos que perseguiram a igreja e os papas que se engajaram numa similar obra deperseguição. Mesmo estes não pensam num Anticristo pessoal que será em si mesmo aconcentração de toda a iniqüidade. Contudo, a opinião mais geral no seio da igreja é que,em última análise, o termo “Anticristo” denota uma pessoa escatológica, que será aencarnação de toda a iniqüidade e, portanto, representa um espírito que sempre estápresente no mundo, ora mais, ora menos, e que tem diversos precursores ou tipos nahistória. Este conceito prevaleceu na Igreja Primitiva e, ao que parece, é o conceitoescriturístico. Pode-se dizer o seguinte, em seu favor: (a) O esboço do Anticristo em Dn11 é mais ou menos pessoal, e pode referir-se a uma pessoa definida como um tipo deAnticristo. (b) Paulo fala do Anticristo como “o homem da iniqüidade” e como “o filho daperdição”. Devido ao peculiar emprego hebraico dos termos “homem” e “filho”, estasexpressões , em si mesmas, podem não ser conclusivas, mas o contexto favorece a idéiade pessoa. Ele se levanta contra, ostenta-se como se fora Deus, tem uma revelaçãodefinida, é o iníquo, e assim por diante. (c) Embora João fale de muitos anticristos como

 já presentes, fala também do Anticristo no singular, como alguém que ainda virá no futuro,1 Jo 2.18. (d) Mesmo no Livro de Apocalipse, onde a apresentação é grandementesimbólica, não falta o elemento pessoal, como por exemplo, em Ap 19.20, que fala do

Anticristo e seu subordinado como sendo lançados no lago de fogo. E (e), desde queCristo é uma pessoa, é simplesmente natural entender que o Anticristo também será umapessoa.

5. SINAIS E PRODÍGIOS. A Bíblia fala de vários sinais que precederão o fim domundo e a vinda de Cristo. Ela menciona (a) guerras e rumores de guerras, fomes eterremotos em diversos lugares, coisas descritas como o princípio das dores de parto,sendo que o parto é, por assim dizer, o renascimento do universo por ocasião da vinda deCristo; (b) a vinda de falsos profetas, que levarão muitos a desviar-se, e de falsos Cristos,que exibirão grandes sinais e prodígios para desencaminhar, se possível, até os eleitos; e(c) terríveis portentos nos céus, envolvendo o sol, a lua e as estrelas, quando os poderesdos céus serão abalados, Mt 24.29, 30; Mc 13.24, 25; Lc 21.25,26. Dado que algunsdesses sinais são tais que ocorrem repetidamente na ordem natural dos acontecimentos,surge naturalmente a questão sobre como poderão ser reconhecidos como sinaisespeciais do fim. Geralmente se chama a atenção para o fato de que eles serãodiferentes das ocorrências anteriores em intensidade e extensão. Mas, por certo, isso nãosatisfaz inteiramente porque os que vêem esses sinais nunca poderão saber, se nãohouver outras indicações, se aos sinais que estão testemunhando não se seguirão outrossinais parecidos, de ainda maior extensão e intensidade. Portanto, deve-se chamar aatenção para o fato de que, ao se aproximar o fim, haverá uma extraordinária conjunçãode todos esses sinais, e de que as ocorrências naturais serão acompanhadas por

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fenômenos sobrenaturais, Lc 21.25,26. Disse Jesus: “quando virdes todas estas cousas,sabei que está próximo, às portas”. Mt 24.33. C. A Parousia ou a Segunda Vinda Propriamente Dita.

Imediatamente após os portentos recém-mencionados, “aparecer á no céu o sinal doFilho do Homem ... e verão o Filho do homem vindo sobre as nuvens do céu”, Mt 24.30.

Com relação a isto, os seguintes pontos devem ser observados.1. DATA DA SEGUNDA VINDA. Não se sabe a ocasião exata da vinda do Senhor, Mt24.36, e todas as tentativas dos homens para determinar a data exata evidenciaram-seerrôneas. A única coisa que se pode dizer com certeza, com base na Escritura, é queCristo voltará no fim do mundo. Os discípulos perguntaram ao Senhor: “que sinal haver áda tua vinda e da consumação do século”?, Mt 24.3. Eles ligaram os dois fatos, e denenhum modo o Senhor deu a entender que isso é um erro, mas, ao contrário, admitiu emSeu discurso que está certo. Cristo apresenta os dois fatos em sincronia, em Mt 24.29-31,35-44; comp. Mt 13.39, 40. Paulo e Pedro também falam dos dois como coincidentes, 1Co 15.23, 24; 2 Pe 3.4-10. Um estudo dos concomitantes da segunda vinda leva aomesmo resultado. A ressurreição dos santos será um dos concomitantes 1 Co 15.23; 1 Ts4.16, e Jesus nos assegura que Ele os ressuscitará no ultimo dia, Jo 6.39, 30, 44, 54. De

acordo com Thayer, Cremer-Koegel, Walker, Salmond, Zahn e outros, isto só podesignificar o dia da consumação  – o fim do mundo. Outro dos seus concomitantes será o julgamento do mundo, Mt 25.31-46, particularmente, também, o julgamento dos ímpios, 2Ts 1.7-10, que os premilenistas colocam no fim do mundo. E, finalmente, junto com asegunda vinda ocorrerá a restauração de todas as coisas, At 3.20,21.

A forte expressão “restauração de todas as cousas” é forte demais para referir-se aalgo menos que o perfeito restabelecimento do estado de coisas anterior à queda dohomem. Ela indica o restabelecimento de todas as coisas à sua condição antiga, e istonão se verá no milênio dos premilenistas. Até o pecado e a morte continuarão a destruiras suas vítimas durante aquele período.24 Como foi assinalado acima, várias coisas terãoque ocorrer antes do retorno do Senhor. Deve-se ter isto em mente ao se fazer a leituradas passagens que falam da vinda do Senhor ou dos últimos dias como próximos, Mt

16.28; 24.34; Hb 10.25; Tg 5.9; 1 Pe 4.5; 1 Jo 2.18. Elas encontram sua explicação, emparte no fato de que, considerada na perspectiva de Deus, para quem um dia é como milanos, e mil anos como um dia, a vinda sempre está próxima; em parte, na apresentaçãoque a Bíblia faz dos tempos do Novo testamento como constituindo os últimos dias ou osúltimos tempos; em parte, no fato de que o Senhor, ao falar da Sua vinda, nem sempretem em mente o Seu regresso físico no fim dos tempos, mas pode referir-se à Sua vindano Espírito Santo; e em parte, no característico escorço profético, em que não se faz claradistinção entre a vinda próxima do Senhor, na destruição de Jerusalém, e Sua vinda final,para julgar o mundo. Várias seitas muitas vezes têm feito para fixar a data exata dasegunda vinda, mas essas tentativas sempre são enganosas. Jesus disse explicitamente:“Mas a respeito daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho,senão somente o Pai”, Mt 24.36. A declaração a respeito do Filho provavelmente significa

que este conhecimento não estava incluído na revelação que Ele, na qualidade deMediador, tinha que realizar.2. O MODO DA SEGUNDA VINDA. Os seguintes pontos merecem ênfase aqui:a. Será uma vinda pessoal. Isto se deduz da afirmação feita pelos anjos aos

discípulos no Monte da Ascensão: “Esse Jesus que dentre vós foi assunto ao céu, assimvirá do modo como o vistes subir”, At 1.11. A pessoa de Jesus os estava deixando, e a

24 Cf. Thayer, Cremer-Koegel, Weiss, Bib. Theol. of the N.T., p. 194, nota.

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pessoa de Jesus voltaria. No sistema do modernismo dos dias atuais não há lugar paraum retorno pessoal de Jesus Cristo. Douglas Clyde Macintosh vê o regresso de Cristo no“progressivo domínio sobre os indivíduos e sobre a sociedade exercido pelos princípiosmorais e religiosos do cristianismo, isto é, pelo Espírito de Cristo”.25 William NewtonClarke diz “Não se deve esperar nenhum retorno visível de Cristo à terra, mas, sim, olongo e constante progresso do Seu reino espiritual. ... Se nosso Senhor tão somente

completar a vinda espiritual que iniciou, não haverá necessidade de um advento visívelpara tornar perfeita a Sua glória na terra”.26 Segundo William Adams Brown, “Nãomediante uma catástrofe abrupta, poderá ser, como na esperança cristã primitiva, maspelo método mais lento e mais seguro da conquista espiritual, o ideal de Jesus aindaobterá a aquiescência universal que Ele merece, e o Seu espírito dominará o mundo. Estaé a verdade pela qual a doutrina do segundo advento permanece de pé ”.27 WalterRauschenbusch e Sailer Mathews falam da segunda vinda em termos similares. Estes eaqueles interpretam as vívidas descrições da segunda vinda de Cristo comorepresentações figuradas da idéia de que o espírito de Cristo será uma crescente epenetrante influência na vida do mundo. Mas não se pode negar que essasrepresentações não fazem justiça às descrições que se acham em passagens como At1.11; 3.20, 21; Mt 24.44; 1 Co 15.22; Fp 3.20; Cl 3.4; 1 Ts 2.19; 3.13; 4.15-17; 2 Tm 4.8;

Tt 2.13; Hb 9.28. Os próprios modernistas admitem isso quando dizem que estaspassagens representam o antigo modo judaico de pensar. Eles têm uma nova e melhorluz sobre o assunto, mas é uma luz que se obscurece cada vez mais, em vista dosacontecimentos mundiais dos presentes dias.

b. Será uma vinda física. Que a volta do Senhor será física se deduz de passagenscomo At 1.11; 3.20, 21; Hb 9.28; Ap 1.7. Jesus voltará corporalmente á terra. Há algunsque identificam a predita vinda do Senhor com a Sua vinda espiritual no dia dePentecoste, e entendem que a parousia  significa a presença espiritual do Senhor naigreja. Segundo a descrição que fazem, o Senhor voltou no Espírito Santo no dia dePentecoste, e agora está presente (daí parousia ) na igreja.Dão ênfase especial ao fato deque a palavra parousia  significa presença.28 Ora, é mais que evidente que o NovoTestamento fala de uma vinda espiritual de Cristo, Mt 16.28; Jo 14.18, 23; Ap 3.20; mas

esta vinda, quer à igreja no dia de Pentecoste, quer ao indivíduo em sua renovaçãoespiritual, Gl 116, não pode ser identificada com o que a Bíblia apresenta como a segunda vinda de Cristo. É verdade que a palavra parousia  significa presença, mas odoutor Vos demonstrou acertadamente que, em seu emprego religioso e escatológico,também significa chegada, e que no Novo Testamento a idéia de chegada ocupa oprimeiro plano. Além disso, devemos ter em mente que existem outros termos no NovoTestamento que servem para designar a segunda vinda, a saber, apokalypsis, epiphaneia e phanerosis, cada um dos quais indica uma vinda que se pode ver. E, finalmente, nãodevemos esquecer que as epístolas se referem repetidamente à segunda vinda como umevento ainda futuro, Fp 3.20; 1 Ts 3.13; 4.15, 16; 2 Ts 1.7-10; Tt 2.13. isto não seenquadra na idéia de que a vinda já é um evento do passado.

c. Será uma vinda visível. Isto se relaciona intimamente com o item anterior. Pode-sedizer que, se a vinda do Senhor será física, também será visível. Isto parece seguir-se

25 Theology as na Empirical Science, p. 213.

26 Outline of Christian Theology, p. 444.

27 Christian Theology in Outline, p. 373.

28 Esta interpretação se acha na obra intitulada The Parousia of Christ, de Warren, e na J.M. Campbell, The

Second Coming of Christ.

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como um fato lógico, mas os russelitas ou sectários da aurora do milênio não pensamassim. Afirmam eles que o retorno de Cristo e a inauguração do milênio deram-seinvisivelmente em 1874, e que Cristo teria vindo com poder em 1914 com o propósito deremover a igreja e derribar os reinos do mundo. Quando passou o ano de 1914 sem oaparecimento de Cristo, eles buscaram um meio de escapar da dificuldade naconveniente teoria de que Ele permaneceu oculto porque o povo não manifesta

arrependimento suficiente. Portanto, Cristo veio, e o fez invisivelmente. Todavia, aEscritura não nos deixa em dúvida quanto à visibilidade da volta do Senhor. Numerosaspassagens a atestam, como Mt.24.30; 26.64; Mc 13.26; Lc 21.27; At 1.11; Cl 3.4; Tt 2.13;Hb 9.28; Ap 1.7.

d. Será uma vinda repentina. Embora de um lado a Bíblia ensine que a vinda doSenhor será precedida por diversos sinais, ensina, de outro lado, que, de maneiraigualmente enfática, a vinda será repentina, será inesperada, tomando de surpresa opovo, Mt 24.37-44; 25.1-12; Mc 13.33-37; 1 Ts 5.2, 3; Ap 3.3; 16.15. Isto não écontraditório, pois os sinais preditos não são de molde a designar o tempo exato. Osprofetas indicaram certos sinais que precederiam a primeira vinda de Cristo e, contudo,Sua vinda tomou a muitos de surpresa. A maioria do povo não deu atenção aos sinais,fossem estes quais fossem. A Bíblia dá a entender que a medida da surpresa que haveráquando da vinda de Cristo será na razão inversa à medida da vigilância das pessoas.

e. Será uma vinda gloriosa e triunfal. A segunda vinda de Cristo, conquanto pessoal,física e visível, será todavia muito diferente da Sua primeira vinda. Ele não voltará nocorpo da Sua humilhação, mas num corpo glorificado e com vestes reais, Hb 9.28. Asnuvens do céu serão Sua carruagem, Mt 24.30, os anjos Seu corpo de guarda, 2 Ts 1.7,os arcanjos Seus arautos, 1 Ts 4.16, e os santos de Deus serão o Seu glorioso séqüito, 1Ts 3.13; 2 Ts 1.10. Ele virá como Rei dos reis e Senhor dos Senhores, triunfante sobretodas as forças do mal, havendo posto todos os Seus inimigos debaixo dos Seus pés, 1Co 15.25; Ap 19.11-16.

3. O PROPÓSITO DA SEGUNDA VINDA. Cristo voltará no fim do mundo com opropósito de introduzir a era vindoura, o estado eterno de coisas, e o fará inaugurando e

completando dois eventos formidáveis, quais sejam, a ressurreição dos mortos e o juízofinal, Mt 13.49, 50; 16.27; 24.3; 25.14-46; Lc 9.26; 19.15, 26, 27; Jo 5.25-29; At 17.31; Rm2.3-16; 1 Co 4.5; 15.23; 2 Co 5.10; Fp 3.20, 21; 1 Ts 4.13-17; 2 Ts 1.7-10; 2.7, 8; 2 Tm4.1, 8; 2 Pe 3.10-13; Jd 14, 15; Ap 20.11-15; 22.12. Na descrição da Escritura, como já foidado a ver no item anterior, o fim do mundo, o dia do Senhor, a ressurreição física dosmortos e o juízo final coincidem. Esse grande ponto decisivo trará também a destruiçãode todos os poderes malignos hostis ao reino de Deus, 2 Ts 2.8; Ap 20.14. Pode-seduvidar disto, caso se leiam as passagens pertinentes doutra maneira, se Ap 20.1-6 nãotivesse sido estabelecido por alguns como o padrão pelo qual todo o restante do NovoTestamento deve ser interpretado. De acordo com os premilenistas, a segunda vinda deCristo atenderá primariamente ao propósito de estabelecer o reino visível de Cristo eSeus santos na terra, e de inaugurar o real dia da salvação para o mundo. Isto envolverá

o arrebatamento, a ressurreição dos justos, as bodas do Cordeiro, e os juízos sobre osinimigos de Deus. Mas as outras ressurreições e os outros juízos se seguirão a diversosintervalos, e a ultima ressurreição e o juízo final estarão separados da segunda vinda pormil anos. As objeções a este conceito foram dadas acima, em parte, e em parte serãomencionadas nos capítulos subseqüentes.

QUESTIONÁRIO PARA PESQUISA: 1. Por que o termo parousia  não pode sertraduzido simplesmente por “presença” onde quer que se encontre? 2. Em que diferentessentidos a Bíblia fala da vinda de Cristo? 3. Como devemos interpretar Mt 16.28; 24.34?4. O discurso de Jesus registrado em Mt 24 fala de uma única vinda? 5. A doutrina da

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restauração nacional dos judeus envolve necessariamente a doutrina do milênio? 6. Mt23.39; Lc 13.35; 21.24; At 1.6, 7 ensinam tal restauração? 7. Em Dn 11.36 e segtes.Daniel se refere a Antíoco Epifânio como um tipo do Anticristo? 8. Como as bestas de Ap13 se relacionam com o Anticristo? 9. Deve-se identificar o homem do pecado, de quePaulo fala, como o Anticristo? 10. Qual é o poder restringente mencionado em 2 Ts 2.6,7? 11. Os apóstolos ensinam que o Senhor poderia voltar durante a existência deles na

terra? 12. O Novo Testamento autoriza a idéia de que a frase “o fim” ou “o fim do mundo”significa simplesmente “o fim da era”?

BIBLIOGRAFIA PARA CONSULTA: Bavinck, Geref. Dogm. IV, p. 712-753; Kuyper,Dict. Dogm., De Consummatione Saeculi , p. 117-245; Vos, Geref. Dogm. V, Eschatologie ,p. 22,23; id., Pauline Eschatology, p. 72-135;Hodge, Syst., Theol. III, p. 790-836; Pieper,Christ. Dogm. III, p. 579-584; Valentine, Chr. Theol. II, p. 407-411; Schmid, Doct. Theol. of the Ev. Luth. Church,p. 645-657; Strong, Syst. Theol., p. 1003-1015; Pope, Chr. Theol. III,p. 387-397; Hovey, Eschatology , p23-78; Kliefoth, Eschatologie , p. 126-147, 191-225;Mackintosh, Immortality and the Future , p. 130-148; Kennedy, St. Paul’s Conceptions of the Last Things, p. 158-193; Salmond, Chr. Doct. Of Immortality ,p. 241-251; Snowden,The Coming od the Lord, p. 123-171.

II. Correntes MilenistasHá alguns que relacionam com o advento de Cristo a idéia de um milênio, quer

imediatamente antes, quer imediatamente depois da segunda vida. Embora esta idéia nãoseja parte integrante da teologia reformada (calvinista), não obstante merececonsideração aqui, visto haver-se tornado bem popular em muitos círculos. A teologiareformada não pode permitir-se ignorar os generalizados conceitos milenistas dos diasatuais, mas deve definir a sua posição com respeito a esses conceitos. Alguns queesperam um milênio no futuro afirmam que o Senhor voltará antes do milênio e, portanto,são chamados premilenistas; ao passo que outros acreditam que a Sua segunda vindaocorrerá após o milênio, e, daí, são conhecidos como posmilenistas. Numerosos são,porém, os que não crêem que a Bíblia autoriza a expectação de um milênio, sendocostume falar deles como amilenistas.

Como o nome indica, o conceito amilenista é puramente negativo. Afirma que não hásuficiente base para a expectação de um milênio e está firmemente convencido de que aBíblia favorece a idéia de que à presente dispensação do reino de Deus seguir-se-áimediatamente o reino de Deus em sua forma consumada e eterna. Está ciente do fato deque o reino de Jesus Cristo é apresentado como eterno, e não temporal, Is 9.7; Dn 7.14;Lc 1.33; Hb 1.8; 12.28; 2 Pe 1.11; Ap 11.15; e de que entrar no reino do futuro é entrarnum estado eterno, Mt 21.22, é entrar na vida, Mt. 18.8.9 (cf. o contexto anterior), e sersalvo, Mc 10.25, 26. Alguns premilenistas dizem que o amilenismo é um conceito novo e

uma das novidades mais recentes, mas o certo é que isso não se harmoniza com otestemunho da história. O nome é de fato novo, mas o conceito ao qual é aplicado é tãoantigo como o cristianismo. Teve pelo menos o mesmo numero de defensores que teve oquiliasma29 entre os chamados pais da igreja do segundo e do terceiro séculos, tidoscomo o apogeu do quiliasma. Sempre foi o conceito mais amplamente aceito, é o único

** Caldas Aulete registra “quiliasma”, Aur élio, “quiliasmo”. O termo é derivado do grego “quilias”, mil, um

milhar. Nota do tradutor.

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que vem expresso ou implícito nas grandes confissões históricas da igreja , e sempre foi oconceito predominante nos círculos reformados.A. Premilenismo

Visto que o premilenismo nem sempre assume a mesma forma, talvez seja bomindicar resumidamente a forma geralmente assumida no passado (deixando de lado toda

sorte de aberrações), e depois prosseguir, dando uma descrição mais pormenorizada dateoria premilenista predominante nos dias atuais.1. O PREMILENISMO DO PASSADO. a idéia de Irineu pode ser dada como a que

reflete a melhor dos primeiros séculos cristãos. O mundo atual durará seis mil anos,correspondentes aos seis dias da criação. Para o fim deste período, os sofrimentos eperseguições dos fiéis aumentarão grandemente, até que, por fim, a encarnação de todaa iniqüidade aparecerá na pessoa do Anticristo. Depois que ele tiver completado a suaobra destruidora e se estabelecer atrevidamente no templo de Deus, Cristo aparecerá emglória celestial e triunfará sobre todos os Seus inimigos. Isto será acompanhado pelaressurreição física dos santos e pelo estabelecimento do reino de Deus na terra. Operíodo de ventura milenar, que portanto durará mil anos, corresponderá ao sétimo dia dacriação – ao dia de repouso. Jerusalém será reedificada, a terra dará seu fruto com rica

abundância; e prevalecerão a paz e a justiça. No fim dos mil anos, sobrevirá o juízo final,e aparecerá uma nova criação, na qual os remidos viverão para sempre na presença deDeus.

Em seus contornos gerais, esta descrição é típica dos conceitos escatológicos dosprimeiros séculos cristãos, por mais que possam diferir nalgumas minúcias. Durante todosos séculos subseqüentes e no século dezenove, o pensamento milenista permaneceu omesmo, embora ocorrendo estranhas aberrações nalgumas seitas. Estudos continuados,porém, levaram a maior desenvolvimento e a maior clareza na apresentação de algumasdas suas particularidades. As principais características do conceito comum podem serexpostas mais ou menos como segue: O vindouro advento de Cristo ao mundo estápróximo, e será visível, pessoal e glorioso. Contudo, será precedido por certosacontecimentos, tais como a evangelização de todas as nações, a conversão de Israel, a

grande apostasia e a grande tribulação, e a revelação do homem do pecado. Tempostrevosos e penosos estão portanto reservados para a igreja, visto que ela terá que passarpela grande tribulação. A segunda vinda será um evento grandioso, único, extraordinárioe glorioso, mas será acompanhado por vários outros, impostos à igreja, a Israel e aomundo. Os santos que já faleceram serão ressuscitados, e os que vivem serãotransformados, e juntos serão trasladados para encontrar-se com o Senhor em Sua vinda.O Anticristo e os seus aliados perversos serão mortos; e Israel, o antigo povo de Deus, searrependerá, será salvo e será restabelecido na Terra Santa. Então o reino de Deus,predito pelos profetas, será estabelecido num mundo transformado. Os gentios seconverterão a Deus, em grande número, e serão incorporados no Reino. Prevalecerá emtoda a terra uma condição de paz e justiça. Depois de haver-se expirado o governoterreno de Cristo, os mortos restantes ressurgirão; e esta ressurreição será seguida pelo

 juízo final e pela criação de novos céus e nova terra. Falando em termos gerais, pode-sedizer que este é o tipo de premilenismo defendido por homens como Mede, Bengel,Auberlen, Christlieb, Ebrard, Godet, Hofmann, Lange, Stier, Van Osterzee, Van Andel,Alford, Andrews, Ellicott, Guinnes, Kellog, Zahn, Moorehead, Newton, Trench e outros.Não esquecendo que estes homens divergem nalguns pormenores.

2. O PREMILENISMO DA ATUALIDADE. No segundo quartel do século dezenove, foiintroduzida uma nova forma de premilenismo, sob a influência de Darby, Kelly, Trotter eseus seguidores na Inglaterra e na América, um premilenismo entrelaçado com o

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dispensacionalismo. Os novos conceitos foram popularizados em nosso país30principalmente pela Bíblia de Scofield, e se disseminaram amplamente por meio de obrasde homens como Bullinger, F.W.Grant, Blackstone, Gray, Haldeman, os dois Gaebelein,Brookes, Riley, Rogers e uma hoste doutros mais. Eles apresentam realmente uma novafilosofia da história da redenção, na qual Israel desempenha o papel principal, e a igrejanão passa de um interlúdio. Seu princípio orientador os move a dividir a Bíblia em dois

livros, o Livro do Reino e o Livro da Igreja. Ao ler as suas descrições dos procedimentosde Deus para com os homens, a gente se perde num desnorteante labirinto de alianças edispensações, sem o fio de Ariadne que ofereça direção segura. Sua tendência divisivatambém se revela em seu programa escatológico. Haverá duas segundas vindas, duas outrês (se não quatro) ressurreições, e também três juízos. Além disso, haverá também doispovos de Deus que, segundo alguns, estarão separados eternamente, Israel habitando naterra, e a igreja no céu.

Os seguintes pontos darão uma idéia do esquema premilenista que goza a maiorpopularidade hoje em dia:

a. Sua visão da história . Deus trata o mundo da humanidade no transcurso da históriacom base em diversas alianças e conforme os princípios de sete dispensações diferentes.Cada dispensação é distinta, e cada uma delas representa uma diferente prova para ohomem natural; e desde que o homem não consegue vencer nas sucessivas provas, cadadispensação acaba num juízo. A teocracia de Israel, fundada no Monte Sinai, ocupa umlugar especial na economia divina. Ela foi a forma inicial do reino de Deus ou do reino doMessias, e teve a sua idade de outro nos dias de Davi e Salomão. Se seguisse o caminhoda obediência, poderia ter crescido em poder e glória, mas, em resultado da infidelidadedo povo, foi finalmente derrotado, e o povo foi levado para o exílio. Os profetaspredisseram essa derrota, mas também trouxeram mensagens de esperança e inspirarama expectativa de que nos dias do Messias Israel tornaria ao Senhor com veroarrependimento, o trono de Davi seria restabelecido com inexcedível glória, e até osgentios participariam das bem-aventuranças do reino futuro. Mas quando o Messias veioe se ofereceu para estabelecer o Reino, os judeus deixaram de mostrar o requeridoarrependimento. O resultado dói que o Rei não estabeleceu o Reino, mas se retirou deIsrael e foi para um país distante, pospondo o estabelecimento do Reino, até o Seuregresso. Contudo, antes de deixar a terra, fundou a igreja, que nada tem em comum como Reino, e da qual os profetas nunca falaram. A dispensação da lei abriu alas para adispensação da graça de Deus. Durante esta dispensação, a igreja se compõe de judeuse gentios, e forma o corpo de Cristo, que agora participa dos Seus sofrimentos, maschegará o tempo em que a noiva do Cordeiro participará da Sua glória. Desta igreja Cristonão é Rei, mas a Cabeça divina. Tem ela a gloriosa tarefa de pregar, não o Evangelho doreino,mas o Evangelho da livre graça de Deus, em todas as nações do mundo, para juntardelas os eleitos e, por cima, ser um testemunho ante elas. Este método se evidenciará umfracasso; não efetuará conversões em grande escala. No fim desta dispensação, Cristovoltará subitamente e efetuará uma conversão muito mais universal.

b. Sua escatologia . A volta de Cristo agora é iminente, isto é, Ele pode vir a qualquermomento, pois não há eventos preditos que devam precede-la. Contudo, Sua vindaconsiste de dois eventos distintos, separado um do outro por um período de sete anos. Oprimeiro deles será a parousia , quando Cristo aparecerá nos ares para encontrar-se comos Seus santos. Todos os justos falecidos ressurgirão então, e os que estiverem vivosserão transformados. Juntos serão arrebanhados nos ares, celebrarão as bodas doCordeiro e estarão para sempre com o Senhor. A trasladação dos santos vivos é

** No país do Autor (EUA), e também no do Tradutor (Brasil). Nota do tradutor.

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chamada “rapto” ou “arrebatamento”, às vezes, “arrebatamento secreto”. Enquanto Cristoe Sua igreja estiverem ausentes da terra, e mesmo o Espírito presente nos crentes tiverpartido com a igreja, haverá um período de sete anos ou mais, com freqüência divididoem duas partes, em que sucederão várias coisas. O Evangelho do reino tornará a serpregado, principalmente, ao que parece, pelos remanescentes crentes dentre os judeus, eresultarão conversões em larga escala, apesar de muitos continuarem a blasfemar contra

Deus. O Senhor retomará as Suas relações com Israel e, provavelmente, nesse tempo(embora alguns digam que será mais tarde), este se converterá.

Na segunda metade desse período de sete anos, haverá um período de tribulaçãosem igual e cuja duração ainda é assunto em discussão. O Anticristo será revelado e ofrasco da ira de Deus será derramado sobre a raça humana. No fim do período de seteanos, dar-se-á a “revelação”, isto é, a vinda do Senhor, agora não para os Seus santos,mas com eles. As nações existentes serão então julgadas (Mt 25.31), e as ovelhas serãoapartadas dos cabritos; os santos que morreram durante a grande tribulação serãoressuscitados; o Anticristo será destruído; e Satanás será preso por mil anos. Seráestabelecido então o reino milenar, um reino concretamente visível, terrestre e material,reino dos judeus, a restauração do reino teocrático, incluindo o restabelecimento darealeza davídica. Nesse reino os santos reinarão com Cristo, os judeus serão os cidadãosnaturais, e muitos gentios serão cidadãos adotivos. O trono de Cristo será estabelecidoem Jerusalém, que também voltará a ser o local central de culto. O templo seráreconstruído no Monte Sião, e o altar exalará de novo o cheiro do sangue dos sacrifícios,sim, das ofertas pelos delitos e pecados. E conquanto o pecado e a morte aindareclamem suas vítimas, serão dias de grande frutificação e prosperidade, quando a vidados homens será prolongada e o deserto florescerá como um roseiral. Nesse tempo omundo se converterá rapidamente, segundo alguns, pelo Evangelho, mas, segundo amaioria, por meios totalmente diferentes, tais como a aparecimento pessoal de Cristo, ainveja provocada pela bem-aventurança dos santos, e, acima de tudo, grandes e terríveisprejuízos. Após o milênio, Satanás será solto por breve lapso de tempo, e as hordas deGogue e Magogue juntarão forças contra a cidade santa. Todavia, os inimigos serãodevorados pelo fogo do céu, e Satanás será lançado numa cova sem fundo, precedido

pela besta e pelo falso profeta. Depois desse curto período de tempo, os ímpiosressuscitarão e comparecerão a juízo, perante o grande trono branco, Ap 20.11-15. eentão haverá novos céus e nova terra.

c. Algumas variantes desta teoria. De modo algum os premilenistas estão todos deacordo quanto às particularidades do seu esquema escatológico. Um estudo da sualiteratura revela grande variedade de opiniões. Há indefinição e incerteza sobre muitospontos, o que prova que a sua elaboração minuciosa é de valor muito duvidoso. Embora amaioria dos premilenistas dos dias atuais creia num vindouro governo visível de JesusCristo, mesmo na atualidade alguns antecipam apenas um governo espiritual, e não têmem vista uma presença física na terra. Conquanto os mil anos de Ap 20 sejam em geralinterpretados literalmente, há uma tendência, da parte de alguns para considera-los comoum período indefinido de maior ou menor duração. Alguns acham que os judeus seconverterão primeiro, de depois serão levados para a Palestina,31 ao passo que outrossão de opinião que esta ordem será invertida. Há aqueles que crêem que os meiosusados para a conversão do mundo serão idênticos aos empregados agora, masprevalece a opinião de que esses meios serão substituídos por outros. Também hádiferença de opiniões quanto ao lugar em que os santos ressurretos vão habitar durante o

** É bom lembrar que esta obra foi produzida antes de 1948, ano em que foi restabelecida a nação de Israel naPalestina. Nota do trdutor.

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seu reinado milenar com Cristo, na terra ou no céu, ou em ambos. As opiniões diferemmuito também com respeito à continuidade da propagação da raça humana durante omilênio, ao grau de pecado que prevalecerá nesse tempo, à vigência da morte e a muitosoutros pontos.

3. OBJEÇÕES AO PREMILENISMO. Na discussão do segundo advento, o conceitopremilenista já foi submetido a pesquisas e críticas especiais, e os subseqüentescapítulos, sobre a ressurreição e o juízo final, oferecerão outra ocasião mais para umaconsideração crítica da formulação premilenista desses eventos. Daí, as objeçõeslevantadas neste ponto serão de natureza mais geral, e, mesmo assim, só poderemos daratenção a algumas das mais importantes.

a. A teoria se baseia numa interpretação literal dos delineamentos proféticos do futurode Israel e do reino de Deus, o que é inteiramente insustentável. Isso tem sidorepetidamente assinalado em obras sobre profecia, como as de Fairbairn, Riehm eDavidson, na esplêndida obra de David Brown sobre O Segundo Advento (The Second Advent), no importante livro de Waldegrave sobre o Milenismo Neotestamentário (New Testament Millennarianism), e nas obras do doutor Aalders, mais recentes, sobre OsProfetas da Velha Aliança, e A Restauração de Israel Segundo o Velho Testamento (De Profeten dês Ouden Verbonds, e Het Herstel van Israel Volgens het Oude Testament). Oúltimo citado é dedicado inteiramente a um minucioso estudo exegético de todas aspassagens do Velho Testamento que, de algum modo, falam da futura restauração deIsrael. É um obra exaustiva, que merece estudo cuidadoso. Os premilenistas afirmam quenada menos que uma interpretação e um cumprimento literais satisfarão as exigênciasdessas previsões proféticas; mas os próprios livros dos profetas já contêm indicações queapontam para um cumprimento espiritual, Is 54.13; 61.6; Jr 3.16; 31.31-34; Os 14.2; Mq6.6-8. A alegação de que os nomes “Sião” e “Jerusalém” nunca são empregados noutrosentido que no sentido literal de que o primeiro sempre denota uma montanha, e osegundo uma cidade, é claramente contrária aos fatos. Há passagens nas quais ambosos nomes são empregados para designar Israel, a igreja de Deus veterotestamentária, Is49.14; 51.3; 52.1,2. E este emprego dos termos passa direto para o Novo testamento, Gl4.26; Hb 12.22; Ap 3.12; 21.9. É notável que o Novo Testamento, que é cumprimento doVelho Testamento, não contém nenhum tipo de indicação do restabelecimento dateocracia do Velho Testamento por Jesus, nem tampouco uma única predição positiva eincontestável da sua restauração, ao passo que contém abundantes indicações documprimento espiritual das promessas feitas a Israel, Mt 21.43; At 2.29-36; 15.14-18; Rm9.25, 26; Hb 8.8-13; 1 Pe 2.9; Ap 1.6; 5.10.

Para mais pormenores sobre a espiritualização que se vê na Escritura, pode-seconsultar a obra do doutros Wijngaarden sobre O Futuro do Reino (The Future of the Kingdom). O Novo Testamento certamente não favorece o literalismo dos premilenistas.Além disso, esse literalismo os larga em toda sorte de absurdidades, pois envolve arestauração futura de todas as antigas condições históricas da vida de Israel: os grandespoderes mundiais do Velho Testamento (egípcios, assírios e babilônicos) e as nações

vizinhas de Israel (moabitas, amonistas, edomitas e filisteus) deverão reaparecer emcena, Is 11.14; Am 9.12; Jl 3.19; Mq 5.5, 6; Ap 18. O templo terá que ser reconstruído, Is2.2; Mq 4.1,2; Zc 14.16-22; Ez 40-48, os filhos de Zadoque terão que servir de novo comosacerdotes, Ez 44.15-41; 48.11-14, e até as ofertas pelos pecados e delitos terão que serlevadas outra vez ao altar, não para comemoração, (como o querem algunspremilenistas), mas para expiação, Ez 42.13; 43.18-27. E em acréscimo a isso tudo, asituação modificada tornaria necessário a todas as nações visitarem Jerusalém anos apósano, para celebrar a festa dos tabernáculos, Zc 14.16, e mesmo após a semana, paraprestar culto a Jeová, Is 66.23.

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b. A teoria da posposição, assim chamada, que constitui um elo de ligação noesquema premilenista, é desprovida de toda base escriturística. Segundo ela, João eJesus proclamaram que o Reino, isto é, a teocracia judaica, estava às portas. Mas,porque os judeus não se arrependeram e não creram, Jesus pospôs o seuestabelecimento até à Sua segunda vinda. O pivô da mudança é colocado por Scofieldem Mt 11.20, por outros em Mt 12, e por outros, mais tarde ainda. Antes desse ponto

decisivo Jesus não se preocupava com os gentios, mas pregava o Evangelho do Reino aIsrael; e depois disso Ele não pregou mais o Reino, mas somente predizia a sua vindafutura e oferecia descanso aos cansados de Israel e dos gentios. Mas não se podeafirmar que Jesus não se preocupava com os gentios antes do suposto ponto decisivo, cf.Mt 8.5-13; Jo 4.1-42, nem que depois Ele deixou de pregar o Reino, Mt 13; Lc 10.1-11.Não há absolutamente prova nenhuma de que Jesus pregou dois evangelhos diferentes,primeiro o do Reino e depois o da graça de Deus; à luz da Escritura, esta distinção éinsustentável. Jesus nunca teve em mente o restabelecimento da teocraciaveterotestamentária, mas, sim, a introdução da realidade espiritual da qual o reino doVelho Testamento era apenas um tipo, Mt 8.11, 12; 13.31-33; 21.43; Lc 17.21; Jo 3.3;18.36, 37 (comp. Rm 14.17). Ele não pospôs a tarefa para a qual tinha vindo ao mundo,mas de fato estabeleceu o Reino e se referiu a ele mais de uma vez como uma realidade

presente, Mt 11.12; 12.28; Lc 17.21; Jo 18.36, 37 (comp. Cl 1.13).Toda essa teoria de posposição é uma ficção relativamente recente, e deveras

passível de objeção, porque destrói a unidade da Escritura e do povo de Deus de modoinjustificável. A Bíblia apresenta a relação entre o Velho e o Novo Testamento como a detipo e antítipo, de profecia e cumprimento; mas essa teoria sustenta que, embora fossepropósito do Novo Testamento ser o cumprimento do Velho Testamento, veio realmente aser uma coisa inteiramente diferente. O Reino, isto é, a teocracia do Velho Testamento,foi predito e não foi restaurado, e a igreja não foi predita mas foi estabelecida. Assim, osdois ficam separados, e um deles vem a ser o livro do Reino, e o outro, com exceção dosevangelhos, o livro da igreja. Além disso, temos dois povos de Deus, um natural, e o outroespiritual, um terreno, e o outro celestial, como se Jesus não tivesse falado de “umrebanho e um pastor”, Jo 10.16, e como se Paulo não tivesse dito que os gentios foram

enxertados na oliveira, Rm 11.17.c. Essa teoria também está em flagrante oposição à descrição escriturística dos

grandes eventos do futuro, a saber, a ressurreição, o juízo final e o fim do mundo. Comose mostrou anteriormente, a Bíblia apresenta esses grandes eventos como sincronizados.Não há mais a leve indicação de que estão separados por mil anos, à exceção do que sevê em Ap 20.4-6. Está patente que eles coincidem, Mt 13.37-43, 47-50 (separação dobem e do mal no fim, “na consumação do século”, e não mil anos antes); 24.29-31; 25.31-46; Jo 5.25-29; 1 Co 15.22-26; Fp 3.20, 21; 1 Ts 4.15, 16; Ap 20.11-15. Todos elesocorrem quando da vinda do Senhor, que é também o dia do Senhor. Em resposta a estaobjeção, muitas vezes os premilenistas insinuam que o dia do Senhor pode ter mil anosde duração, de maneira que a ressurreição dos santos e o juízo das nações têm lugar namanhã desse longo dia, e a ressurreição dos ímpios e o juízo do grande trono brancoocorrem no entardecer desse mesmo dia. Eles apelam para 2 Pe 3.8 “para com o Senhor,um dia é como mil anos, e mil anos como um dia”. Mas, dificilmente isso poderá provar oponto, pois facilmente o feitiço poderia virar contra o feiticeiro aqui. Poder-se-ia usar amesma passagem para provar que os mil anos de Ap 20 são apenas um só dia.

d. Não há qualquer fundamento bíblico para o conceito premilenista de uma dupla ouaté tripla ou quádrupla ressurreição, como a sua teoria requer, nem para espalhar o juízofinal por um período de mil anos, dividindo-o em três juízos. É, para dizer o mínimo, muitoduvidoso que as palavras. “Esta é a primeira ressurreição”, em Ap 20.5, se refiram a uma

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ressurreição física. O contexto não requer, e nem mesmo favorece esta idéia. O quepoderia favorecer a teoria de uma dupla ressurreição é o fato de que os apóstolos muitasvezes falam unicamente da ressurreição dos crentes, e de modo nenhum se referem àdos ímpios. Mas isto se deve ao fato de que eles estão escrevendo para as igrejas deJesus Cristo, aos contextos em que levantam o assunto da ressurreição, e ao fato de quedesejam dar ênfase ao seu aspecto soteriológico, 1 Co 15; 1 Ts 4.13-18. Outras

passagens falam claramente da ressurreição dos justos e dos ímpios num só fôlego, Dn12.2; Jo 5.28, 29; At 24.15. Voltaremos a considerar esta matéria no próximo capitulo.

e. A teoria premilenista se enreda em todas as espécies de dificuldades insuperáveis,com a sua doutrina do milênio. É impossível entender como uma parte da velha terra e dahumanidade pecadora poderá coexistir com uma parte da nova terra e de umahumanidade já glorificada. Como poderão os santos em corpos glorificados ter comunhãocom pecadores na carne? Como poderão os santos glorificados viver nesta atmosferasobrecarregada de pecado e em cenário de morte e decadência? Como poderá o Senhorda glória, o Cristo glorificado, estabelecer o Seu trono na terra enquanto esta não forrenovada? O capítulo vinte e um de Apocalipse nos informa que Deus e a igreja dosremidos tomarão como seu lugar de habitação a terra depois que forem feitos novos céuse nova terra; então, como se pode afirmar que Cristo e os santos habitarão ali mil anosantes dessa renovação? Como poderão os santos e os pecadores na carne manter-se napresença do Cristo glorificado, sabendo-se que mesmo Paulo e João foramcompletamente esmagados pela visão dele. At 26.12-14; Ap. 1.17? Diz com verdadeBeet: “Não podemos conceber misturados no mesmo planeta uns que ainda terão quemorrer e outros que já passaram pela morte e não morrerão mais. Tal confusão da eraatual com a era por vir é extremamente improvável”.32 E Brown exclama: “Que confusoestado de coisas é este! Que detestável mistura de coisas totalmente incoerentes umascom as outras!”33

f. A única base escriturística para essa teoria é Ap 20.1-6, depois de se ter despejadoaí um conteúdo veterotestamentário. É uma base muito precária, por várias razões. (1)esta passagem ocorre num livro eminentemente simbólico e é reconhecidamente muitoobscura, como se pode inferir das diferentes interpretações dela feitas. (2) A interpretaçãoliteral desta passagem, como dada pelos premilenistas, leva a uma conceituação que nãoencontra suporte em nenhum outro lugar da Escritura, mas é até contraditada pelorestante do Novo Testamento. Esta é uma objeção fatal. Uma boa exegese requer que aspassagens obscuras da Escritura sejam lidas à luz doutras mais claras, e não vice-versa.(3) Mesmo a interpretação literal dos prémilenistas não é coerentemente literal, poisentende a corrente do versículo 1 e também, conseqüentemente, a prisão do versículo 2figuradamente, muitas vezes concebe os mil anos como um longo mas indefinido período,e transforma as almas do versículo 4 em santos ressurretos. (4) Estritamente falando, apassagem não diz que as classes referidas (os santos mártires e os que não adoraram abesta) ressuscitaram dos mortos, mas simplesmente que viveram e reinaram com Cristo.E se declara que este viver e reinar com Cristo constitui a primeira ressurreição. (5) Nãohá absolutamente nenhuma indicação nestes versículos de que Cristo e os Seus santosestão exercendo governo na terra. À luz de passagens como Ap 4.4 e 6.9, é muito maisprovável que a cena se passa no céu. (6) Também merece nota que a passagem não fazmenção nenhuma da Palestina, de Jerusalém, do templo e dos judeus, os cidadãosnaturais do reino milenar. Não há nenhuma insinuação de que esses elementos estejamde algum modo relacionados com este reinado de mil anos. Para uma interpretação

32 The Last Things, pg. 88.

33 The Second Advent, p. 384.

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minuciosa desta passagem, do ponto de vista amilenista, remetemos o leitor a Kuyper,Bavinck, De Moor, Dijk, Greydanus, Vos e Hendriksen.B. Pós-Milenismo

A posição do pós-milenismo é completamente oposta à tomada pelo premilenismo,respeitante à data da segunda vinda de Cristo. Ele afirma que o retorno de Cristo será

depois do milênio, que se pode esperar para durante e no fim da dispensação doEvangelho. Imediatamente após, Cristo virá para introduzir a ordem eterna de coisas. Nadiscussão do pós-milenismo será necessário distinguir duas formas da teoria, uma dasquais espera que o milênio será realizado pela influência sobrenatural do Espírito Santo, ea outra espera que ele advirá por um processo natural de evolução.

1. DIFERENTES FORMAS DE PÓS-MILENISMO.a. A forma antiga.Durante os séculos dezesseis e dezessete, diversos teólogos

reformados (calvinistas) da Holanda ensinaram uma forma de quiliasma agoradenominada pós-milenismo. Entre eles havia homens bem conhecidos como Coccejus,Alting, os dois Vitringa, d‟Outrein, Witsius, Hoornbeek, Koelman e Brakel, alguns dosquais consideravam o milênio como pertencente ao passado, outros o julgavam presente,e ainda outros o buscavam no futuro. A maioria o esperava para as proximidades do fim

do mundo, imediatamente antes da segunda vinda de Cristo. Estes homens rejeitavam asduas idéias diretoras dos premilenistas, quais sejam, que Cristo voltará fisicamente parareinar na terra por mil anos, e que os santos serão ressuscitados por ocasião da Suavinda, e então reinarão com Ele no reino milenar. Embora suas exposições diferissemnalguns pormenores, a idéia predominante era que o Evangelho, que se propagarágradativamente pelo mundo todo, no fim se tornará imensuravelmente mais eficiente doque no presente, e introduzirá um período de ricas bênçãos espirituais para a igreja deJesus Cristo, uma idade de ouro em que os judeus também compartirão as bênçãos doEvangelho de maneira sem precedentes. Em anos mais recentes, um tipo desse pós-milenismo foi defendido por D. Brown, J. Berg, J.H.Snowden, T.P.Stafford e A.H.Strong.Diz o ultimo teólogo mencionado que o milênio será “um per íodo dos últimos dias daigreja militante, quando, sob a influência especial do Espírito Santo, o espírito dos

mártires reaparecerá, a verdadeira religião será grandemente revigorada e revivida, e osmembros das igrejas de Cristo tomarão tal consciência do seu poder em Cristo que, numaextensão jamais conhecida antes, triunfarão sobre os poderes do mal dentro e fora”.34 Aidade de outro da igreja, segundo se diz, será seguida por um breve período de apostasia,um terrível conflito entre as forças do bem e do mal, e pela ocorrência simultânea doadvento de Cristo, da ressurreição geral e do juízo final.

b. A forma recente. Grande parte do pós-milenismo dos dias atuais é de um tipointeiramente diverso, e tem muito pouco a ver com os ensinos da Escritura, exceto comouma indicação histórica daquilo em que outrora o povo cria. O homem moderno tempouca paciência com as esperanças milenísticas do passado, com sua completadependência de Deus. Ele não acredita que a nova era será introduzida pela pregação doEvangelho, acompanhada pela obra do Espírito Santo; nem que será resultado de uma

mudança cataclísmica. De um lado, crê-se que a evolução trará aos poucos o milênio, ede outro lado, que o próprio homem introduzirá a nova era, adotando uma políticaconstrutiva de melhoramento do mundo. Diz Walter Rauschenbush: “Nosso principalinteresse num milênio é o desejo de uma ordem social em que o valor e a liberdade detodos os seres humanos, mesmos do menor deles, sejam honrados e protegidos, em quea fraternidade do homem seja expressa na posse comum dos recursos da sociedade; e

34 Syst. Theol.,p. 1013.

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em que o bem espiritual da humanidade seja posto muito acima dos interesses de lucroprivado de todos os grupos materialistas. . . .Quanto ao modo pelo qual o ideal cristão dasociedade deverá vir – devemos substituir a catástrofe pelo desenvolvimento”.35

Shirley Jackson case interroga: “Continuaremos buscando a Deus para introduzir umanova ordem por meios catastróficos, ou assumiremos a responsabilidade de produzir onosso próprio milênio, crendo que Deus está operando em nós e em nosso mundo oquerer e o fazer para o Seu beneplácito?” E ele mesmo dá a resposta, nos seguintesparágrafos: “O curso da história exibe um longo processo de luta de evolução pelo qual ahumanidade como um todo eleva-se cada vez mais na escala da civilização e daconsecução, melhorando sua condição de quando em quando mediante sua maiorhabilidade e engenho. Vista segundo a longa perspectiva das eras, a carreira do homemtem sido de real ascensão. Em vez de piorar, vê-se que o mundo melhoraconstantemente. ...Desde que a história e a ciência mostram que o melhoramento ésempre resultado de esforços de realização, o homem acaba imaginando que os malesainda não vencidos haverão de ser eliminados por estrênuos esforços e reforma gradual,e não pela intervenção catastrófica da Divindade. ... As moléstias devem ser curadas ouevitadas pela habilidade do médico, os males da sociedade devem ser remediados pelaeducação e pela legislação, e as desgraças internacionais devem ser impedidas peloestabelecimento de novos padrões e novos métodos de tratamento medicinal, e não poruma aniquilação repentina”.36 Estas citações são deverás características de uma grandeparte do pós-milenismo dos nossos dias, e não é de admirar que os premilenistas reajamcontra ele.

2. OBJEÇÕES AO PÓS-MILENISMO. Há algumas sérias objeções à teoria pós-milenista.

a. A idéia fundamental da doutrina segundo a qual o mundo inteiro serágradativamente ganho para Cristo, a vida de todas as nações será transformada peloEvangelho no transcurso do tempo, a justiça e a paz reinarão supremas, e as bênçãos doEspírito serão derramadas mais copiosamente que antes, de sorte que a igrejaexperimentará um período de prosperidade sem par imediatamente antes da vinda do

Senhor – não está em harmonia com o retrato do fim do século que se vê na Escritura. Naverdade a Escritura ensina que o Evangelho se espalhará pelo mundo todo e exerceráuma influencia benéfica, mas não nos leva a esperar a conversão do mundo, nem nestanem numa era vindoura. Ela salienta o fato de que a época imediatamente anterior ao fimserá uma época de grande apostasia, de tribulação e perseguição, uma época em que afé se esfriará a muitos, e em que os que são leais a Cristo serão submetidos a cruéissofrimentos, e nalguns casos até selarão com seu sangue a sua confissão, Mt 24.6-14,21, 22; Lc 18.8; 21.25-28; 2 Ts 2.3-12; 2 Tm 3.1-6; Ap 13. Naturalmente os pós-milenistasnão podem ignorar por completo o que se diz acerca da apostasia e da tribulação quemarcarão o fim da história, mas eles o subestimam e o descrevem como se predissesseuma apostasia e uma tribulação em pequena escala, que não afetarão o fluxo principal davida religiosa. Sua expectação de uma gloriosa condição da igreja no fim se baseia em

passagens que contêm uma descrição figurada, quer da dispensação do Evangelho comoum todo, quer da perfeita ventura do reino externo de Jesus Cristo.b. A idéia correlata de que a presente era não acabará numa grande mudança

cataclísmica, mas passará numa transição quase imperceptível para a era vindoura, éigualmente antibíblica. A Bíblia nos ensina de maneira muito explícita que uma catástrofe,

35 A Theology for the Social Gospel, p. 224, 225.

36 The Millennial Hope, p. 229, 238, 239.

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ou uma intervenção especial de Deus, dará cabo do governo de Satanás sobre a terra eintroduzirá o Reino que não poderá ser abalado, Mt 24.29-31, 35-44; Hb 12.26,27; 2 Pe3.10-13. haverá uma crise, uma transformação tão grande, que pode ser chamada“regeneração”, Mt 19.28. Assim como os crentes não se santificam progressivamentenesta existência até estarem praticamente prontos para, sem muita mudança mais, entrarno céu, o mundo também não será purificado gradativamente, aprontando-se deste modo

para entrar no estágio subseqüente. Justamente como os crentes ainda terão quesubmeter-se a uma grande mudança a operar-se na morte, assim o mundo sofrerá umatremenda mudança quando chegar o fim. Haverá novos céus e nova terra, Ap 21.1.

c. A idéia moderna de que a evolução natural e os esforços do homem no campo daeducação, da reforma social e da legislação produzirão gradativamente o reinado perfeitodo espírito cristão, entra em conflito com tudo quanto a palavra de Deus ensina sobre esteponto. Não é a obra do homem, mas, sim, a de Deus que introduz o glorioso reino deDeus. Este reino não pode ser estabelecido pelos meios naturais, mas somente por meiossobrenaturais. É o reinado de Deus, estabelecido e reconhecido nos corações do Seupovo, e este reinado jamais o podem tornar efetivos os meios puramente naturais. Acivilização sem a regeneração, sem uma transformação sobrenatural do coração, jamaisproduzirá um milênio, um governo eficaz e glorioso de Jesus Cristo. Dá para ver que asexperiências do segundo quartel deste século devem ter imposto esta verdade ao homemmoderno. O tão decantado desenvolvimento do homem ainda não nos levou a vislumbraro milênio.

QUESTIONÁRIO PARA PESQUISA: 1. Qual é a origem histórica do premilenismo? 2.Foi ele de fato o conceito dominante no segundo e no terceiro séculos? 3. Qual foi oconceito de Agostinho sobre o reino de Deus e o milênio? 4. O reino de Deus e a igrejasão distintos ou idênticos na Escritura? 5. Será aquele natural e nacional, e esta espirituale universal? 6. Lucas 14.14 e 20.35 ensinam uma ressurreição parcial? 7. Será quealguma parte de Israel constitui uma parte da noiva de Cristo? 8. Estará completa a noiva,quando Cristo voltar? 9. Os pós-milenistas são necessariamente evolucionistas? 10. Aexperiência justifica o otimismo dos pós-milenistas, segundo o qual o mundo está ficandocada vez melhor? 11. A Bíblia prediz progresso contínuo para o reino de Deus, até ao fimdo mundo? 12. È necessário presumir uma transformação cataclísmica no fim?

BIBLIOGRAFIA PARA CONSULTA: Bavinck, Geref. Dogm. IV, p. 717-769; Kuyper,Dict. Dogm., De Consummatione Saeculi , p. 237-279; Vos, Geref. Dogm. V, Eschatologie ,p. 36-40; id., Pauline Eschatology, p. 226-260;Hodge, Syst., Theol. III, p. 861-868;Warfield, The Millennium and the Apocalypse in Biblical Studies, p. 643-664; Dahle, Life After Death, p. 354-418; D. Brown, The Second Advent;  Ch. Brown, The Hope of His Coming;  Hoekstra, Het Chiliasme;  Rutgers, Premillennialism in America;  Merril, Second Coming of Christ; Eckman, When Christ Comes Again; Heagle, That Blessed Hope; Case,The Millennial Hope; Rall, Modern Premillennialism and the Christian Hope; Fairbaim, The Prophetic of the Jews (by Pieters); Berkhof, Premillennialisme; Riley, The Evolution of the Kingdom;  Bultem, Maranatha;  Berkhof, De Wederkomst van Christus;  Brookes,

Maranatha; Haldeman, The Coming od the Lord;  Snowden, The Second Coming of the Lord; Blackstone, Jesus is Coming; Milligan, Is the Kingdom Age at Hand?; Peters, The Theocratic Kingdom; West, The Thousand Years in Both Testaments; Silver, The Lord’sReturn;  Bullinger, How to Enjoy the Bible;  Waldegrave, New Testament Millenarianism;  Feinberg, Premillennialism and Amillennialism;  Gaebelein, The Hope of the Ages; Hendriksen, More Than Conquerors;  Dijk, Het Rijk der Duizend Jaren;  Aalders, Het Herstel van Israel Volgens het Oude Testament;  Mauro, The Gospel of the Kingdom, e The Hope of Israel; Frost, The second Coming of Christ; Reese, The Approaching Advent of Christ; Wyngaarden, The Future of the Kingdom.

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III. A Ressurreição dos MortosA discussão do segundo advento de Cristo leva naturalmente a uma consideração

dos seus concomitantes. O primeiro deles é a ressurreição dos mortos, ou, como àsvezes se lhe chama, “a ressurreição da carne”. A. A Doutrina da Ressurreição na História.

No tempo de Jesus havia uma diferença de opiniões entre os judeus, a respeito daressurreição. Enquanto que os fariseus criam nela, os saduceus não criam, Mt 22.23; At23.8. Quando Paulo falou a seu respeito em Atenas, enfrentou zombaria, At 17.32. Algunsdos coríntios a negavam, 1 Co 15, e Himeneu e Fileto, considerando-a como algopuramente espiritual, asseveravam que ela já era coisa pertencente à história, 2 Tm 2.18.Celso, um dos mais antigos opositores do cristianismo, fazia especialmente desta doutrinaobjeto de escárnio; e os gnósticos, que consideravam a matéria como inerentemente má,naturalmente a rejeitavam. Orígenes defendeu a doutrina contra os gnósticos e contraCelso, mas todavia, não acreditava que é o corpo depositado no túmulo que ressuscita.Ele descrevia o corpo ressureto como um corpo, purificado e espiritualizado. Emboraalguns dos chamados pais cristãos primitivos compartilhassem o seu conceito, a maioriadeles acentuava a identidade do corpo atual com o da ressurreição. Já na sua ConfissãoApostólica, a igreja expressou a sua crença na ressurreição da carne (sarkos).

Agostinho a princípio estava inclinado a concordar com Orígenes, masposteriormente adotou o conceito predominante, embora não julgasse necessário crer queas atuais diferenças de forma e estatura continuarão na vida por vir. Jerônimo insistiavigorosamente na identidade do corpo atual com o futuro. O Oriente, representado porhomens como os dois Gregórios, Crisóstomo e João de Damasco, manifestava atendência de adotar um conceito mais espiritual da ressurreição do que o Ocidente. Osque acreditavam num milênio futuro falavam de uma dupla ressurreição, a dos justos no

princípio do reino milenar, e a dos ímpios no fim dele. Durante a Idade Média, osescolásticos especulavam muito sobre o corpo ressureto, mas as suas especulações sãosumamente fantasiosas e de pequeno valor. Principalmente Tomaz de Aquino pareciaespecialmente informado sobre a natureza do corpo ressureto, e sobre a ordem e o mododa ressurreição. Os teólogos do período da Reforma geralmente estavam de acordo emque o corpo da ressurreição será idêntico ao atual. Todas as grandes confissões da igrejaapresentam a ressurreição geral como simultânea com a segunda vinda de Cristo, o juízofinal e o fim do mundo. Elas não fazem separação entre quaisquer desses eventos, taiscomo entre a ressurreição dos justos e a dos ímpios, e entre a vinda de Cristo e o fim domundo, com um período de mil anos. Por outro lado, os premilenistas insistem em talseparação. Sob a influência do racionalismo e com o avanço das ciências físicas,acentuaram-se algumas das dificuldades que pesavam sobre a doutrina da ressurreição,

e, como resultado, o “liberalismo” religioso moderno nega a ressurreição da carne eexplica as descrições que dela faz a Escritura como sendo uma representação figuradada idéia de que a personalidade humana completa continuará a existir após a morte.B. Prova Bíblica da Ressurreição.

1. NO VELHO TESTAMENTO. Às vezes se diz que o Velho Testamento nada sabeda ressurreição dos mortos, ou só mostra algum conhecimento dela nos seus últimoslivros. É deveras comum a opinião de que Israel tomou por empréstimo dos persas a suacrença na ressurreição. Diz Mackintosh: “Forte evidência existe em favor da hipótese de

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que a idéia da ressurreição entrou na mente hebraica vinda da Pérsia”.37 Brown fala emtom algo similar: “A doutrina da ressurreição individual aparece pela primeira vez emIsrael depois do cativeiro, e pode ser que se deva à influência persa”.38 Salmond tambémmenciona essa idéia, mas afirma que ela não é   justificada suficientemente. Diz ele: “Adoutrina veterotestamentária de Deus é, de si mesma, suficiente para explicar toda ahistória da concepção veterotestamentária de uma vida futura”.39 De Bondt chega à

conclusão de que não há um só povo, dentre aqueles com os quais Israel teve contato,que tivesse uma doutrina da ressurreição que pudesse servir de modelo para aapresentação dela que era corrente entre os israelitas; e de que a fé na ressurreição queacha expressão na religião do Velho Testamento não se baseia nas religiões dos gentios,mas, sim, na revelação do Deus de Israel.40 É verdade que não encontramosdeclarações claras a respeito da ressurreição dos mortos antes do tempo dos profetas,embora Jesus fosse de parecer que já estava implícita em Ex 3.6; cf. Mt 22.29-32, e oescritor de Hebreus dá a entender que até mesmo os patriarcas anelavam à ressurreiçãodos mortos, Hb 11.10, 13-16, 19. O certo é que não faltam provas de que havia umacrença na ressurreição muito antes do cativeiro. Essa crença está implícita naspassagens que falam numa libertação do sheol, Sl 49.15; 73.24, 25; Pv 23.14. Elaencontra expressão na declaração de Jó 19.25-27. Sobretudo a vemos ensinada

claramente em Is 26.19 (passagem tardia, segundo os críticos), e em Dn 12.2, eprovavelmente está implícita igualmente em Ez 37.1-14.

2. NO NOVO TESTAMENTO. Como se podia esperar, o Novo Testamento tem maisque dizer sobre a ressurreição dos mortos do que o Velho Testamento, porque coloca oclímax da revelação de Deus sobre este ponto na ressurreição de Jesus Cristo. Contra anegação dos saduceus, Jesus argumenta em favor da ressurreição dos mortos com baseno Velho Testamento, Mt 22.23-33 e paralelas; cf. Ex 3.6. Além disso, Ele ensina essagrande verdade com muita clareza em Jo 5.25-29; 6.39, 30, 44, 54; 11.24, 25; 14.3; 17.24.A passagem clássica do Novo testamento para a doutrina da ressurreição é 1 Co 15.Outras passagens importantes são: 1 Ts 4.13-16; 2 Co 5.1-10; Ap 20.4-6 (deinterpretação dúbia), e 20.13.C. A Natureza da Ressurreição.

1. É OBRA DO DEUS TRIÚNO. A ressurreição é obra realizada pelo Deus triúno.Nalguns casos se nos diz simplesmente que Deus ressuscita os mortos, sem seespecificar pessoa alguma, Mt 22.29; 2 Co 1.9. Mais particularmente, porém, a obra daressurreição é atribuída ao Filho, Jo 5.21, 25, 28, 29; 6.38-40, 44, 54; 1 Ts 4.16.Indiretamente, também é apontada como obra realizada pelo Espírito Santo, Rm 8.11.

2. É RESSURREIÇÃO FÍSICA, OU CORPORAL. Nos dias de Paulo havia alguns queconsideravam a ressurreição como espiritual, 2 Tm 2.18. E nos dias atuais há muitos quesó acreditam numa ressurreição espiritual. Mas a Bíblia é muito explicita ao ensinar aressurreição do corpo. Cristo é chamado “primícias” da ressurreição, 1 Co 15.20, 23 e “oprimogênito de entre os mortos”. Cl 1.18; Ap 1.5. Isto implica que a ressurreição do povode Deus será semelhante à do seu celestial Senhor. Sua ressurreição foi corporal, e a dos

Seus será da mesma natureza. Além disso, também se diz que a ressurreição realizadapor Cristo inclui o corpo, Rm 8.23; 1 Co 6.13-20. Em Rm 8.11 se nos diz explicitamenteque Deus, por Seu Espírito, ressuscitará nossos corpos mortais. E evidentemente é o

37 Immortality and the Future, p. 34.

38 Christian Theology in Outline, p. 251, 252.

39 The Christian Doctrine of Immortality, p. 221, 222.

40 Wat Leert het Oude Testament Aangaande het Leven na dit Leven, p. 263, 264.

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corpo que está proeminentemente na mente do apóstolo em 1 Co 15; cf. especialmenteos versículos 35-49.

Segundo a Escritura, haverá uma ressurreição do corpo, isto é, não uma criaçãointeiramente nova, mas um corpo que será, num sentido fundamental, idêntico ao corpoatual. Deus não vai criar um novo corpo para cada ser humano, mas vai ressuscitar opróprio corpo que foi depositado na terra. Sito se pode inferir apenas do termo“ressurreição”, mas é declarado expressamente em Rm 8.11 e 1 Co 15.53, e ademaisestá implícito na figura da semente semeada no solo, figura que o apostolo emprega em 1Co 15.36-68. Além disso, Cristo, as primícias da ressurreição, prova conclusivamente aidentidade do Seu corpo aos Seus discípulos. Ao mesmo tempo, a Escritura deixaperfeitamente evidente que o corpo passará por grande mudança. O corpo de Cristoainda não fora plenamente glorificado durante o período de transição entre a ressurreiçãoe a ascensão; contudo, já sofrera notável transformação. Paulo se refere à transformaçãoque terá lugar, quando diz que ao semearmos a semente, não semeamos o corpo quevirá a existir; não tencionamos retirar a mesma semente da terra. Todavia, esperamoscolher uma coisa que, no sentido fundamental, é idêntica à semente depositada no solo.Conquanto haja uma certa identidade entre a semente semeada e as sementes que delase desenvolvem, todavia há também uma diferença notável. Nós seremos transformados,diz o apóstolo, “porque é necessário que este corpo corruptível se revista daincorruptibilidade, e que o corpo mortal se revista da imortalidade”. Também diz: “Semeia-se o corpo na corrupção, ressuscita na incorrupção. Semeia-se em desonra, ressuscitaem glória. Semeia-se em fraqueza, ressuscita em poder. Semeia-se corpo natural,ressuscita corpo espiritual”. Transformação não é incoerente com retenção da identidade.É-nos dito que, mesmo agora, cada partícula dos nossos corpos muda a cada sete anos,mas, ao passar por isso tudo, o corpo conserva a sua identidade. Haverá certa conexãofísica entre o corpo antigo e o novo, mas não nos é revelada a natureza dessa conexão.Alguns teólogos falam num germe remanescente do qual se desenvolve o novo corpo;outros dizem que o princípio organizador do corpo permanece. Orígenes tinha algo dessaespécie em mente; a mesma coisa Kuyper e Milligan. Se tivermos tudo isso em mente, aantiga objeção contra a doutrina da ressurreição, a saber, que é impossível que um corpo

ressuscite com as mesmas partículas que o constituíam na ocasião de sua morte, vistoque essas partículas passam para outras formas de existência, e talvez para centenas deoutros corpos, perde completamente a sua força.

3. É RESSURREIÇÃO DOS JUSTOS E DOS ÍMPIOS. De acordo com Josefo, osfariseus negavam a ressurreição dos ímpios.41 A doutrina do extincionismo e a daimortalidade condicional, ambas as quais, ao menos nalgumas de suas formas, negam aressurreição dos ímpios e ensinam a sua aniquilação, doutrina abraçada por muitosteólogos, também encontrou guarida em seitas como o adventismo e a “aurora domilênio”. Acreditam na extinção total dos ímpios. Às vezes se faz a asserção de que aEscritura não ensina a ressurreição dos ímpios, mas isso é patentemente errôneo, Dn12.2; Jo 5.28, 29; At 24.15; Ap 20.13-15. Ao mesmo tempo, deve-se admitir que aressurreição deles não ocupa lugar proeminente na Escritura. Claramente se vê que oaspecto soteriológico da ressurreição está em primeiro plano, e esta pertence unicamenteaos justos. Estes, em contraste com os ímpios, são os únicos que tirarão proveito daressurreição.

4. É RESSURREIÇÃO DE IMPORTÂNCIA DESIGUAL PARA OS JUSTOS E PARAOS INJUSTOS. Breckenridge cita 1 Co 15.22 para provar que a ressurreição de santos ede pecadores foi adquirida por Cristo. Mas, dificilmente se pode negar que o segundo

41 Ant. XVIII, 1, 2; Wars II, º14.

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“todos” nessa passagem só é geral no sentido de “todos os que estão em Cristo”. Aressurreição é ali descrita como resultante de uma união vital com Cristo. Mas,certamente, só os crentes estão nessa relação viva com Ele. A ressurreição dos ímpiosnão pode ser considerada como uma bênção merecida pela obra mediatária de Cristo,embora esteja relacionada indiretamente com ela. É um resultado necessário daposposição da execução da sentença de morte dada ao homem, o que tornou possível a

obra de redenção. A posposição resultou na relativa separação entre a morte temporal e amorte eterna, e na existência de um estado intermediário. Sob estas circunstâncias, énecessário ressuscitar os ímpios dos mortos, a fim de que a morte, em sua máximaextensão e com todo o seu peso, lhes possa ser imposta. Sua ressurreição não é um atode redenção, mas, sim, de soberana justiça, da parte de Deus. A ressurreição dos justose dos injustos tem isto em comum  – que em ambos os casos os corpos e as almas sãoreunidas. Mas, no caso daqueles, isso resulta na vida perfeita, ao passo que no casodestes, redunda na extrema penalidade da morte, Jo 5.28, 29.D. A Ocasião da Ressurreição.

1. O CONCEITO PREMILENISTA CONCERNENTE À OCASIÃO DARESSURREIÇÃO. É opinião comum entre os premilenistas que a ressurreição dos santosestará separada da dos ímpios por um período de mil anos. Ao que parece, quaseconsideram como verdade axiomática que essas duas classes não têm a mínimapossibilidade de ressurgir ao mesmo tempo. E não somente isso, mas o tipo depremilenismo dominante hoje em dia, com a sua teoria de uma dupla segunda vinda deCristo, sente necessidade de admitir uma terceira ressurreição. Todos os santos dasdispensações anteriores e da atual dispensação serão ressuscitados na paurosia , ou seja,na vinda do Senhor. Os que ainda viverem nesse tempo serão transformados numinstante, num piscar de olhos. Mas nos sete anos que se seguirão à paurosia, muitosoutros santos morrerão, especialmente na grande tribulação. Estes também deverãoressuscitar, e a sua ressurreição ocorrerá quando se der a revelação do dia do Senhor,sete anos após a parousia. Mas, nem neste ponto os premilenistas podem parar. Desdeque a ressurreição que se dará no fim do mundo está reservada para os ímpios, terá quehaver outra ressurreição dos santos que morreram durante o milênio, a qual precederá ados ímpios, pois, segundo eles, santos e ímpios não podem ressuscitar ao mesmo tempo.

2. INDICAÇÕES ESCRITURÍSTICAS QUANTO À OCASIÃO DA RESSURREIÇÃO.Segundo a Escritura, a ressurreição dos mortos coincidirá com a paurosia , com arevelação do dia do Senhor e com o fim do mundo, e precederá imediatamente o juízogeral e final. A Bíblia certamente não favorece as distinções premilenistas a respeito destadoutrina. Em diversos lugares ela apresenta a ressurreição dos justos e a dos ímpioscomo contemporâneas, Dn 12.2; Jo 5.28, 29; At 24.15; Ap 20.13-15. Todas essaspassagens falam da ressurreição como um único evento, e não contêm a mais ligeiraindicação de que a ressurreição dos justos e a dos ímpios estarão separadas por umperíodo de mil anos.

Mas isto não é tudo que se pode dizer em favor da idéia de que ambas coincidem.

Em Jo 5.21-29 Jesus combina o pensamento sobre a ressurreição, incluindo aressurreição dos justos, com o pensamento sobre o juízo, incluindo o juízo dos ímpios.Alem disso, 2 Ts 1.7-10 apresenta claramente a paurosia  (versículo 10), a revelação(vers. 7) e o juízo dos ímpios (vers. 8 e 9) como coincidentes. Se não for este caso, alíngua terá perdido o seu sentido. Ademais, a ressurreição dos crentes  está ligadadiretamente à segunda vinda do Senhor em 1 Co 15.23; Fp 3.20, 21 e 1 Ts 4.16, mastambém é apresentada como ocorrendo no fim do mundo, Jo 6.39, 40, 44, 54, ou noúltimo dia. Quer dizer que os crentes serão ressuscitados no ultimo dia, e que o ultimo diaé também o dia da vinda do Senhor. Sua ressurreição não precederá o fim por um

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período de mil anos. Felizmente, há vários premilenistas que não aceitam a teoria de trêsressurreições, mas que, não obstante, apegam-se à doutrina de duas ressurreições.

3. CONSIDERAÇÃO DOS ARGUMENTOS A FAVOR DE DUAS RESSURREIÇÕES.a. Grande ênfase é dada ao fato de que a Escritura, apesar de geralmente falar da

ressurreição ton nekron , isto é, “dos mortos”, repetidamente se refere à ressurreição dos

crentes como uma ressurreição ek nekron , isto é, “saída dos mortos”. Os premilenistastraduzem esta expressão por “dentre os mortos”, de modo que implica que muitos mortosainda permaneceriam no túmulo. Lightfoot também afirma que esta expressão se refere àressurreição dos crentes, mas Kennedy diz: “Não há absolutamente nenhuma prova afavor desta asserção definida”. Também é esta a conclusão a que chega o doutor Vos,depois de um cuidadoso estudo das passagens pertinentes. Em geral se pode dizer que asuposição de que a expressão he anastasis ek nekron  deve ser vertida para “aressurreição dentre os mortos” é inteiramente gratuita. Os léxicos clássicos desconhecemessa versão; e Kremer-Koegel interpreta a expressão dando-lhe este sentido: “do estadodos mortos”, e esta parece ser a interpretação mais natural. Deve-se notar que Pauloemprega as expressões uma pela outra em 1 Co 15. Apesar de estar falando somente daressurreição dos crentes, é vidente que ele não procura salientar o fato de que esta é decaráter específico, pois emprega a expressão mais geral repetidas vezes, 1 Co 15.12, 13,21, 42.42

b. Os premilenistas recorrem também a certas expressões específicas, tais como“superior ressurreição”, Hb 11.35, “ressurreição da vida”, Jo  5.29, “ressurreição dos

  justos”, Lc 14.14, e “e os mortos em Cristo ressuscitar ão primeiro”, 1 Ts 4.16 – todas asquais se referem unicamente à ressurreição dos crentes. Essas expressões parecemcolocar essa ressurreição à parte, como algo diferente. Mas essas passagens provamapenas que a Bíblia distingue entre a ressurreição dos justos e a dos ímpios, e nãofornecem nenhuma prova de que haverá duas ressurreições, separadas uma da outra porum período de mil anos. A ressurreição do povo de Deus difere da dos incrédulos em seuprincípio motriz, em sua natureza essencial e em seu desfecho final, e, portanto, podemuito bem ser apresentada como uma coisa distinta e como uma experiência muitíssimo

mais desejável do que a ressurreição dos ímpios. Aquela liberta os homens do poder damorte; esta não. A despeito da sua ressurreição, os incrédulos permanecerão no estadode morte.

c. Um dos principais textos-prova dos premilenistas, a favor de duas ressurreições,acha-se em 1 Co 15.22-24: “Porque assim como em Adão todos morrem, assim tambémtodos serão vivificados em Cristo. Cada um, porém, por sua própria ordem. Cristo, asprimícias; depois os que são de Cristo, na sua vinda. E então virá o fim, quando eleentregar o reino ao Deus e Pai...”. Nesta passagem eles vêem três estágios daressurreição indicados, quais sejam, (1) a ressurreição de Cristo; (2) a ressurreição doscrentes; e (3) o fim (como eles o interpretam) da ressurreição, isto é, a ressurreição dosímpios. Silver faz uma colocação pitoresca: “Na ressurreição, Cristo e muitos santos queressurgiram em Jerusalém e ao redor dela aparecem como o primeiro grupo. Mais de

1900 anos depois, „os que são de Cristo, na sua vinda‟ aparecer ão como o segundogrupo. „E então‟ (mas não imediatamente), „vir á o fim‟ (vers. 24), o derradeiro e grandebloco de gente, com um grupo de criaturas esquecidas, completando o cortejo”.43 É de senotar que a idéia “não imediatamente” é introduzida no texto. O argumento é que, umavez que epeita (depois) do versículo 23 se refere a um tempo ao menos 1900 anos mais

42 Cf. também Waldegrave, New Testament Millenarianism, p. 575, 576.

43 The Lord’s Return, p. 230

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tarde, a palavra eita (então) do versículo 24 se refere a um tempo 1000 anos mais tarde.Mas isto é mera suposição, destituída de qualquer prova. As palavras epeita  e eita  significam de fato a mesma coisa, mas nenhuma delas implica necessariamente a idéiade um longo período intermediário. Observe-se o emprego de epeita  em Lc 16.7 e Tg4.14, e o de eita  em Mc 8.25; Jo 13.5; 19.27; 20.27. Ambas as palavras podem serutilizadas para indicar algo que ocorrerá imediatamente, e para algo que só ocorrerá

depois de algum tempo, de maneira que é pura suposição pensar que a ressurreição doscrentes estará separada do fim por um longo período de tempo. Outra suposição gratuitaé a de que “o fim” significa “o fim da ressurreição”. De acordo com a analogia da escritura,aquela expressão aponta para o fim do mundo, a consumação, o tempo em que Cristoentregará o Reino ao pai e porá todos os inimigos debaixo dos Seus pés. Este é oconceito adotado por comentadores como Alford, Godet, Hodge, Bachmann, Findley,Robertson & Plummer, e Edwards.44

d. Outra passagem a que os premilenistas recorrem é 1 Ts 4.16, “Porquanto o Senhor mesmo, dada a sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo, e ressoada a trombeta deDeus, descerá dos céus, e os mortos ressuscitarão primeiro”. Disto eles inferem queaqueles que não morrem em Cristo ressuscitarão em data posterior. Mas é mais queevidente que não é essa a antítese que o apostolo tem em mente. A declaraçãosubseqüente não é, “depois os mortos que não estão em Cristo ressuscitarão”, mas“depois nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles, entrenuvens, pra o encontro do Senhor nos ares, e assim estaremos para sempre com oSenhor”. Biederwolf admite isso francamente.45 Tanto nesta passagem como na anteriorPaulo está falando somente da ressurreição dos crentes; a dos ímpios não está em seuescopo, de modo nenhum.

e. A passagem mais importante a que se referem os premilenistas é Ap 20.4- 6: “... eviveram e reinaram com Cristo durante mil anos. Os restantes dos mortos não reviveramaté que se completassem os mil anos. Esta é a primeira ressurreição”. Aqui os versículos5 e 6 fazem menção de uma primeira ressurreição, e isto, é o que se diz, implica quehaverá uma segunda. Mas a suposição de que o escritor está falando de umaressurreição corporal é extremamente duvidosa. Evidentemente o cenário dos versículos4 a 6 está no céu, e não na terra. E os termos não sugerem uma ressurreição corporal. Ovidente não fala de pessoas ou corpos que foram ressuscitados, mas de almas que“viveram” e “reinaram”. E ele denomina esse viver e reinar com Cristo “a primeiraressurreição”. O doutor Vos opina que as palavras, “Esta (enf ática) é a primeiraressurreição”, podem até ser “uma assinalada desaprovação de uma interpretação maisrealista (quiliástica) da mesma frase”.46 Com toda a probabilidade, a expressão se refereà entrada das almas dos santos na gloriosa condição de vida com Cristo na morte. Aausência da idéia de uma dupla ressurreição bem pode fazer-nos hesitar em afirmar a suapresença nesta passagem de um livro tão cheio de simbolismos, como o Apocalipse deJoão. Onde quer que a Bíblia mencione juntas a ressurreição dos justos e a dos ímpios,como em Dn 12.2; Jo 5.28, 29; At 24.15, inexiste a mais ligeira insinuação de que ambasestarão separadas uma da outra por um período de mil anos. Por outro lado, ela ensinaque a ressurreição terá lugar no último dia, e imediatamente será seguida pelo juízo final,Mt 25.31, 32; Jo 5.27-29; 6.39,40, 44, 54; 11.24; Ap 20.11-15.

44 Para mais ampla discussão desta questão toda, cf. Salmond,Christian Doctrine of Immortality, p. 414,415; Milligan, The Ressurrection of the Dead , p. 64 e segtes.; Vos, Pauline Eschatology, p. 241 e segtes.

45 Millennium Bible, p. 472.

46 ISBE, Artigo Esch. Of the N.T.

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QUESTIONÁRIO PARA PESQUISA: 1. a Confissão Apostólica fala da ressurreiçãodo corpo, ou da ressurreição da carne? 2. Como explicar a mudança de uma para aoutra? 3. Os premilenistas não têm que acrescentar outra ressurreição dos justos às queocorrerão na paurosia e na revelação, segundo eles? 4. Como os premilenistas elaboramum argumento em favor de uma dupla ressurreição utilizando até Dn 12.2? 5. Comoencontram eles um argumento para isso em Fp 3.11? 6. Qual é o principal argumento dos“liberais” modernos contra a doutrina de uma ressurreição física? 7. Que quer dizer Pauloquando fala, em 1 Co 15.44, do corpo ressureto como um soma pneumatikon? 

BIBLIOGRAFIA PARA CONSULTA: Bavinck, Geref. Dogm. IV, p. 755-758,770-777;Kuyper, Dict. Dogm., De Consummatione Saeculi , p. 262-279; Vos, Geref. Dogm. V,Eschatologie , p. 14-22; id., Pauline Eschatology, p136-225;Hodge, Syst., Theol. III, p. 837-844; Dabney, Syst. and Polem. Theol., p. 829-841; Shedd, Dogm. Theol., p. 641-658;Valentine, Chr. Theol. II, p. 414-420;Dahle, Life After Death, p. 358-418; Hovey,Eschatology , p23-78; Mackintosh, Immortality and the Future , p. 164-179; Snowden, The Coming of the Lord, p. 172-191; Salmond, Chr. Doct. Of Immortality , p. 262-272, 437-459;Kennedy, St. Paul’s Conceptions of the Last Things, p. 222-281; Kliefoth, Eschatologie , p.248-275; Brown, The Chr. Hope, p. 89-108; Milligan, The Ressurrection of the Dead, p.61-77.

IV. O Juízo FinalOutro importante concomitante da volta de Cristo é o juízo final, que será de natureza

geral. O Senhor voltará justamente com o propósito de julgar os vivos e de consignar acada indivíduo o seu destino eterno.A. A Doutrina do Juízo Final na História.

Desde os mais primitivos tempos da era cristã, a doutrina de um juízo geral e finalesteve ligada à da ressurreição dos mortos. A opinião geral era que os mortos

ressuscitariam para serem julgados segundo as obras praticadas enquanto no corpo.Como solene advertência, dava-se ênfase à certeza desse juízo. Esta doutrina já´faziaparte do conteúdo da Confissão Apostólica: “Donde vir á para julgar os vivos e os mortos”.A idéia predominante era que esse juízo seria acompanhado pela destruição do mundo.De modo geral, os chamados pais primitivos da igreja não especulavam muito acerca danatureza do juízo final, embora Tertuliano constitua uma exceção. Agostinho procurouinterpretar algumas das declarações figuradas da Escritura a respeito do juízo. Na IdadeMédia, os escolásticos discutiram o assunto com maiores minúcias. Eles tambémacreditavam que a ressurreição dos mortos seria seguida imediatamente pelo juízo geral,e que este marcaria o fim dos tempos para o homem. O juízo será geral no sentido de quetodas as criaturas racionais comparecerão nele, e de que trará uma revelação geral dosfeitos de cada um, tanto dos bons como dos maus. Cristo será o Juiz, embora outros

estejam associados a Ele no julgamento; não, porém, como juizes no sentido estrito dapalavra. Imediatamente após o juízo, haverá uma conflagração universal. Deixamos demencionar algumas outras particularidades aqui.

Os Reformadores compartiam essa idéia, em geral, mas pouco ou nadaacrescentaram ao conceito predominante. O mesmo conceito se acha em todas asconfissões protestantes, as quais afirmam explicitamente que haverá um dia de juízo nofim do mundo, mas não entram em detalhes. Tem sido esse o conceito oficial das igrejasaté os dias atuais. Isto não significa que não houve outros conceitos que achassemexpressão. Kant inferiu do imperativo categórico a existência de um Juiz supremo que

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aplicaria a justiça a todos os erros numa vida futura. Schelling, com o seu famoso dito, “Ahistória do mundo é o julgamento do mundo”, evidentemente considerava o juízo apenascomo um processo imanente atual. Alguns não estavam inclinados a admitir a constituiçãomoral do universo, não acreditavam que a história se move rumo a uma terminação moral,e, assim, negavam o juízo futuro. A esta idéia foi dada uma formulação filosófica por VonHartmann. Na teologia “liberal” moderna, com sua ênfase ao fato de que Deus é imanente

em todos os processos da história, é forte a tendência para considerar o juízo primária,senão exclusivamente, como um processo imanente atual. Diz Beckwith: “Em Seuprocedimento (de Deus) para com os homens, nada se susta, não há suspensão denenhum atributo do Seu ser. O juízo não é, pois, mais verdadeiramente futuro do quepresente. Na medida em que Deus é o seu autor, é tão constante e perpétuo como a Suaação na vida humana. Pospor o juízo para uma hora publica e futura é ter um falsoconceito da justiça, como se esta estivesse dormente ou suspensa, totalmente presa acondições externas. Ao contrário, a esfera da justiça deve ser procurada, não fora,primeiro, mas dentro, na vida interior, no mundo da consciência”.47 Osdispensacionalistas crêem de todo o coração no juízo futuro, mas falam em juízos, noplural. Segundo eles, haverá um juízo na parousia , outro na revelação de Cristo, e aindaoutro no fim do mundo.

B. Natureza do Juízo Final.O juízo final do qual a Bíblia fala não pode ser considerado como um processo

espiritual invisível e infindável, idêntico à providência de Deus na história. Isto nãoequivale a negar o fato de que há um julgamento providencial de Deus nas vicissitudes deindivíduos e nações, embora nem sempre se reconheçam como tais. A Bíblia nos ensinaclaramente que, ainda na presente vida, Deus visita o mal com castigos e recompensa obem com bênçãos, e que estes castigos e recompensas são positivos nalguns casos, masnoutros aparecem como resultados providenciais naturais do mal cometido ou do bempraticado, Dt 9.5; Sl 9.16; 37.28; 59.13; Pv 11.5; 14.11; Is 32.16,17; Lm 5.7. A consciênciahumana também atesta este fato. Mas também é manifesto na Escritura que os juízos deDeus no presente não são finais. Às vezes o mal prossegue sem a devida punição, e obem nem sempre sé recompensado nesta existência com as bênçãos prometidas. Osímpios dos dias de Malaquias tiveram a coragem de gritar: “Onde está o Deus do juízo?”,Ml 2.17. A queixa que se ouvia naqueles dias era; “Inútil é servir a Deus; que nosaproveitou termos cuidado em guardar os seus preceitos, e em andar de luto diante doSenhor dos Exércitos? Ora, pois, nós reputamos por felizes os soberbos; também os quecometem impiedade prosperam, sim, eles tentam ao Senhor e escapam”, Ml 3.14, 15. Jóe seus amigos lutaram com o problema dos sofrimentos dos justos, e a mesma coisa fezAsafe no Salmo 73. A Bíblia nos ensina a ter os olhos postos no futuro, no juízo final,vendo neste a resposta decisiva de Deus para todas essas interrogações, a solução detodos esses problemas e a remoção de todas as discrepâncias aparentes da era atual, Mt25.31-46; Jo 5.27-29; At 25.24; Rm 2.5-11; Hb 9.27; 10.27; 2 Pe 3.7; Ap 20.11-15. Estaspassagens não se referem a um processo, mas, sim a um evento bem definido do fim dostempos. Ele é descrito como acompanhado por outros eventos históricos, tais como avinda de Jesus Cristo, a ressurreição dos mortos e a renovação de céus e terra.C. Conceitos Errôneos a Respeito do Juízo.

1. JUÍZO PURAMENTE METAFÓRICO. De acordo com Schleiermacher e muitosoutros eruditos alemães, as descrições bíblicas do juízo final devem ser entendidas comoindicações simbólicas do fato de que o mundo e a igreja finalmente se separarão. Estaexplicação serve para fazer evaporar toda a idéia de um julgamento forense quanto à

47 Realities of Christian Theology, p. 362, 363.

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determinação pública do estado final do homem. É uma explicação que certamente nãofaz justiça às vigorosas afirmações da escritura a respeito do juízo final, de que será umadeclaração formal, publica e final .

2. JUÍZO EXCLUSIVAMENTE IMANENTE. A máxima de Schelling, de que “a históriado mundo é o julgamento do mundo”, sem dúvida contém um elemento de verdade. Comoacima foi assinalado, há manifestações da justiça retributiva de Deus na história dasnações e dos indivíduos. As recompensas e os castigos podem ser de caráter positivo, oupodem ser o resultado do bem ou do mal praticado. Mas quando muitos eruditos “liberais”afirmam que o julgamento divino é totalmente imanente e é inteiramente determinado pelaordem moral do mundo, certamente não fazem justiça às apresentações da Escritura. Aidéia que eles têm do juízo como “agindo por si mesmo” faz de Deus um ser ocioso, queapenas vê e aprova a distribuição de recompensas e castigos. Destrói completamente aidéia do juízo como um evento externo e visível a ocorrer nalgum tempo definido dofuturo. Além disso, esse conceito não pode satisfazer os anseios do coração humano pela

  justiça perfeita. Os juízos históricos são sempre e somente parciais, e às vezes são aoshomens a impressão de serem disfarces da justiça. Sempre houve e ainda há ocasiãopara a perplexidade de Jó e de Asafe.

3. O JUÍZO NÃO SERÁ UM SÓ EVENTO. Os premilenistas dos nossos dias falam detrês diferentes juízos futuros. Eles distinguem: (a) Um juízo para os santos ressurretos epara os santos vivos, quando da parousia ou da vinda do Senhor, para vindicação públicados santos, para dar recompensa a cada um segundo as suas obras e para determinar osseus respectivos lugares no reino milenar vindouro. (b) Um juízo por ocasião da revelaçãode Cristo (no dia do senhor), imediatamente após a grande tribulação, no qual, conformeo conceito predominante, as nações gentílicas serão julgadas como nações, de acordocom a atitude que elas assumiram para com o evangelizante remanescente de Israel (osirmãos menores do Senhor). A entrada dessas nações no reino dependerá do resultadodo julgamento. Este é o juízo mencionado em Mt 25.31-46. estará separado do anteriorpor um período de sete anos. (c) Um julgamento dos ímpios mortos, perante o grandetrono branco descrito em Ap 20.11-15. Os mortos serão julgados segundo as suas obras,e estas determinarão o grau da punição que eles receberão. Este juízo ocorrerá mais demil anos depois do juízo das nações.

Devemos notar, porém, que a Bíblia sempre fala do juízo futuro com um só evento.Ela nos ensina a aguardar, não dias, mas o dia do juízo, Jo 5.28, 29; At 17.31; 2 Pe 3.7,também chamado “aquele dia”, Mt 7.22; 2 Tm 4.8, e “o dia da ira e da revelação do justo

 juízo de Deus”, Rm 2.5. Os premilenistas sentem a for ça deste argumento, pois replicamque esse pode ser um dia de mil anos. Além disso, há passagens da escritura queevidenciam abundantemente que os justos e os ímpios comparecerão juntos no juízo parauma separação final, Mt 7.22, 23; 25.31-46; Rm 2.5-7; Ap 11.18; 20.11-15. Ademais,deve-se notar que o julgamento dos ímpios é descrito como um concomitante da parousia  e também da revelação, 2 Ts 1.7-10; 2 Pe 3.4-7. E, finalmente, deve-se ter em mente queDeus não julga as nações como nações quando estão em jogo questões eternas, mas

somente indivíduos; e que uma separação final dos justos e dos ímpios não tem a menorpossibilidade de ser feita antes do fim do mundo. É difícil ver como alguém pode fazeruma interpretação tolerável e coerente de Mt 25.31-46, a não ser partindo do pressupostode que o juízo a que o texto se refere é o juízo universal de todos os homens, e de queestes serão julgados, não como nações, mas como indivíduos. Até Meyer e Alford, elespróprios premilenistas, consideram que esta é a única explanação sustentável.

4. O JUÍZO FINAL É DESNECESSÁRIO. Alguns consideram inteiramentedesnecessário o juízo final, porque o destino de cada ser humano é determinado na horada sua morte. Se um homem dormir firmado em Jesus, estará salvo; se morrer em seus

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pecados, estará perdido. Desde que a questão está resolvida, não é necessário fazer-semais um inquérito judicial, e, portanto, um juízo final é completamente supérfluo. Mas acerteza do juízo futuro não depende da nossa concepção de sua necessidade. Deus nosensina claramente em Sua palavra que haverá um juízo final, e isto põe fim à questãopara todos os que reconhecem a Bíblia como o padrão final da fé. Além disso, opressuposto subjacente, do qual procede o argumento, a saber, que o juízo final tem o

propósito de definir qual seria o estado futuro do homem, é inteiramente errôneo. Seupropósito é, antes, expor diante de todas as criaturas racionais a glória declarativa deDeus num ato formal e forense que, por um lado, engrandecerá a Sua santidade e justiça,e, por outro lado, engrandecerá a Sua graça e misericórdia. Ademais, devemos ter emmente que o juízo do ultimo dia será diferente daquele que ocorre na morte de cadaindivíduo em mais de um aspecto. Não será secreto, mas público; não terá referência aum só individuo, mas a todos os homens.D. O Juiz e os Seus Assistentes

Naturalmente, o juízo final, como todas as opera ad extra (obras externas) de Deus, éobra realizada pelo trino Deus, mas a Escritura a atribui particularmente a Cristo. Cristo,em Sua capacidade mediatária, será o futuro Juiz, Mt 25.31, 32; Jo 5.27; At 10.42; 17.31;Fp 2.10; 2 Tm 4.1. Passagens como Mt 28.18; Jo 5.27; Fp 2.9, 10, tornam mais queevidente que a honra de julgar os vivos e os mortos foi conferida a Cristo como Mediadorcomo recompensa por Sua obra expiatória e como parte de Sua exaltação. Esta pode serconsiderada como uma das honras culminantes da Sua realeza. Também em Suacapacidade de Juiz, Cristo está salvando o Seu povo de forma suprema: Completará aredenção deles, justificá-los-á publicamente, e removerá as últimas conseqüências dopecado. De passagens como Mt 13.41, 42; 24.31; 25.31, pode-se inferir que os anjos Oassistirão nesta grande obra. Evidentemente, os santos, nalgum sentido, vão assentar-see julgar com Cristo, Sl 149.5-9; 1 Co 6.2, 3; Ap 20.4. É difícil dizer o que isto envolve.Tem-se interpretado no sentido de que os santos condenarão por sua fé o mundo, assimcomo os ninivitas teriam condenado as cidades incrédulas dos dias de Jesus. Ou que elesmeramente estarão presentes ao julgamento presidido por Cristo. Mas o argumento dePaulo em 1 Co 6.2, 3 parece exigir mais do que isso, pois nenhuma das duasinterpretações sugeridas provariam que os coríntios eram capazes de julgar as questõessurgidas na igreja. Embora não se possa esperar que os santos conheçam todos os quehaverão de comparecer no juízo e distribuam as penas impostas, todavia, terão algumaparte ativa no juízo de Cristo, embora seja impossível dizer precisamente o que será isso.E. As Partes que Serão Julgadas

A Escritura contém claras indicações de pelo menos duas partes serão julgadas. Émais evidente que os anjos decaídos comparecerão perante o tribunal de Deus, Mt 8.29;1 Co 6.3; 2 Pe 2.4; Jd 6. Satanás e seus demônios verão sua ruína final no dia do juízo.Também se vê com toda a clareza que todos os indivíduos da raça humana terão quecomparecer às barras da justiça, Sl 50.4-6; Ec 12.14; Mt 12.36, 37; 25.32; Rm 14.10; 2 Co5.10; Ap 20.12. Estas passagens certamente não dão lugar ao conceito dos pelagianos e

dos que seguem sua esteira, de que o juízo final se limitará aos que gozam os privilégiosdo Evangelho. Tampouco favorecem a idéia daqueles sectários que afirmam que os  justos não serão chamados a juízo. Quando Jesus diz, em Jo 5.24, “Em verdade, emverdade vos digo: Quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou, tem a vidaeterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida ”, claramente quer dizer,como se vê do contexto, que o crente não entrará em juízo condenatório. Às vezes,porém, se objeta que os pecados dos crentes, pecados perdoados, certamente não serãotrazidos a público naquele dia; mas a Escritura nos leva à certeza de que o serão,embora, naturalmente, sejam revelados como pecados perdoados . Os homens serão

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  julgados por “toda palavra fr ívola”, Mt 12.36, e pelos “segredos dos homens”, Rm 2.16; 1Co 4.5, e não há a mínima indicação de isto se restringirá aos ímpios. Além disso,passagens como Mt 13.30, 40-43, 49; 25.14-23, 34-40, 46 evidenciam que os justoscomparecerão ao tribunal de Cristo. Mais difícil é decidir se os anjos bons serãosubmetidos ao juízo final em algum sentido. O doutor Bavinck mostra-se inclinado a inferirde 1 Co 6.3 que serão; mas esta passagem não prova o ponto. Poderia fazê-lo se a

palavra angelous fosse precedida pelo artigo, o que não acontece. Lemos simplesmente:“Não sabeis que havemos de julgar os próprios anjos...?” (no original grego, sem artigo).Dada a incerteza ligada a esta questão, é melhor silenciar a respeito. Mais ainda quandonos lembramos de que os anjos sé são apresentados como ministros de Cristo emconexão com a obra de julgamento, Mt 13.30, 41; 25.31; 2 Ts 1.7, 8.F. A Ocasião do Juízo.

Conquanto não se possa determinar em termos absolutos a ocasião do juízo futuro,pode ser fixada relativamente, isto é, com relação a outros eventos escatológicos. Éevidente que será no fim do presente mundo, pois será um julgamento sobre toda a vidade todos os homens, Mt 13.40-43; 2 Pe 3.7. Além disso, será concomitante com a vinda(parousia) de Jesus Cristo, Mt 25.19-46; 2 Ts 1.7-10; 2 Pe 3.9, 10, e se seguiráimediatamente à ressurreição dos mortos, Dn 12.2; Jo 5.28, 29; Ap 20.12, 13. A questãosobre se o juízo precederá imediatamente a renovação de céus e terra, ou se serácoincidente com ela, ou se será imediatamente após, não pode ser resolvidaconclusivamente com base na Escritura. Ap 20.11 parece indicar que a transformação douniverso se dará ao iniciar-se o juízo; 2 Pe 3.7, que ambos ocorrerão sincronicamente; eAp 21.1, que a renovação dos céus e da terra será em seguida ai juízo. Só podemos falardeles, de maneira geral, como concomitantes.

É igualmente impossível determinar a exata duração do juízo: A Escritura fala em “odia do juízo”, Mt 7.22; 2 Ts 1.10; 2 Tm 1.12, e “o dia da ira”, Rm 2.5; Ap 11.8. Nãoprecisamos inferir destas passagens e doutras semelhantes que será precisamente umdia de vinte e quatro horas, dado que a palavra “dia” também é empregada num sentidomais indefinido na Escritura. Por outro lado, porém, a interpretação feita por alguns

premilenistas, de que se trata de um designativo de todo o período milenar, não pode serconsiderada plausível. Quando a palavra “dia” é empregada para denotar um período,denota em geral um período totalmente caracterizado por alguma peculiaridadeextraordinária, normalmente indicada pelo genitivo que acompanha a palavra. Assim, “odia da aflição” é o período totalmente caracterizado por aflições, e “o dia da salvação” é operíodo em sua inteireza notório por sua proeminente manifestação do favor ou graça deDeus. E certamente não se pode dizer que o período milenar dos premilenistas, emboraacabando num juízo, é totalmente um período de julgamento. É, antes, um período dealegria, retidão e paz. A característica proeminente desse período, certamente não é de

 julgamento.G. O Padrão do Juízo.

O padrão pelo qual os santos e os pecadores serão julgados, evidentemente será a

vontade revelada de Deus. Esta não é a mesma para todos. Alguns têm sido maisprivilegiados que outros, e isto naturalmente aumenta a sua responsabilidade, Mt 11.21-24; Rm 2.12-16. Isto não significa que haverá diferentes condições de salvação paradiferentes classes de gente. Para todos os que comparecerão ao juízo, a entrada no céu,ou a exclusão dele, dependerá da questão se estão revestidos da justiça de Jesus Cristo.Mas haverá diferentes graus, tanto de ventura no céu como de castigo no inferno. E essesgraus serão determinados pelo que é feito enquanto na carne, Mt 11.22, 24; Lc 12.47, 48;20.47; Dn 12.3; 2 Co 9.6. Os gentios serão julgados segundo a lei da natureza, escritanos seus corações, os israelitas da antiga dispensação segundo a revelação do Velho

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testamento, e somente segundo esta, e os que gozaram a luz do Evangelho, além da luzda natureza e da revelação do velho Testamento, serão julgados de conformidade com amaior luz que receberam. Deus dará a cada um o que lhe é devido.H. As Diferentes Partes do Juízo.

Aqui devemos distinguir:

1. A COGNITIO CAUSAE (O CONHECIMENTO DA CAUSA). Deus tomaráconhecimento do estado de coisas, da vida passada completa do homem, incluindo-se atéos pensamentos e os intentos secretos do coração. Isso é descrito simbolicamente naEscritura como a abertura dos livros, Dn 7.10; Ap 20.12. Os fiéis dos dias de Malaquiasfalavam de um memorial escrito diante do senhor, Ml 3.16. É uma descrição figuradaacrescentada para completar a idéia do juízo. Geralmente o juiz tem o livro da lei e oregistro daqueles que compareceram perante ele. Com toda a probabilidade, a figuraneste caso se refere simplesmente à onisciência de Deus. Alguns falam do livro daPalavra de deus como do livro dos estatutos, e do memorial como o livro dapredestinação, o registro privado de Deus. Mas é muito duvidoso que devamosparticularizar os pontos dessa maneira.

2. A SENTENTIAE PROMULGATIO (A PROMULGAÇÃO DA SENTENÇA). Haverá

promulgação da sentença. O dia do juízo é o dia da ira e da revelação do justo juízo deDeus, Rm 2.5. Tudo terá que ser revelado ante o tribunal do Juiz supremo, 2 Co 5.10. Osenso de justiça exige isto. A sentença pronunciada sobre cada pessoa não será secreta,não será conhecida apenas pela pessoa, mas será proclamada publicamente, de maneiraque pelo menos aqueles que de algum modo estão envolvidos a conhecerão. Assim, a

 justiça e a graça de Deus refulgirão em todo o seu esplendor.3. A SENTENTIAE EXECUTIO (A EXECUÇÃO DA SENTENÇA). A sentença dos

 justos comunicará bem-aventurança eterna, e a dos ímpios, miséria eterna. O Juiz dividiráa humanidade em duas partes, como o pastor separa dos cabritos as ovelhas, Mt 25.32 esegtes. Em vista do que se dirá sobre o seu estado final no próximo capítulo, não épreciso acrescentar nada mais aqui.

V. O Estado FinalO juízo final determinará o estado final dos que comparecerão perante o tribunal, e a

esse estado os levará.A. O Estado Final dos Ímpios.

Há especialmente três pontos que requerem consideração aqui:1. O LUGAR PARA O QUAL OS ÍMPIOS SERÃO ENVIADOS. Na teologia dos dias

atuais há uma evidente tendência, nalguns círculos, de eliminar a idéia de punição eterna.Os extincionistas, que ainda estão representados em seitas como o adventismo e a

“aurora do milênio”, e os defensores da imortalidade condicional, negam a existênciaperpétua dos ímpios e, com isso, tornam desnecessário um lugar de punição eterna. Nateologia “liberal” moderna, a palavra “inferno” é geralmente considerada como umdesignativo figurado de uma condição puramente subjetiva, na qual os homens podemachar-se mesmo enquanto na terra, e a qual pode tornar-se permanente no futuro.

Mas essas interpretações certamente não fazem justiça aos dados da escritura. Nãopode haver dúvida razoável quanto ao fato de que a Bíblia ensina a existênciapermanente dos ímpios, Mt 24.5; 25.30, 46; Lc 16.19-31. Além disso, em conexão com otema do “inferno”, a Bíblia emprega expressões indicativas de lugar o tempo todo. Ela dá

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ao lugar de tormento o nome de geena , nome derivado do hebraico ge (terra, ou vale) ehinnom  ou beney hinnom , isto é, Hinnom ou filhos de Hinnom. Este nome foi aplicadooriginariamente a um vale sito a sudoeste de Jerusalém. Era o lugar em que os ímpiosidólatras sacrificavam seus filhos a Moloque, fazendo-os passar pelo fogo. Daí eraconsiderado impuro e, em tempos mais recentes, era denominado “vale de tophet ”(escarro), como uma região completamente desprezada. Fogueiras ardiam ali

constantemente, para consumir o lixo de Jerusalém. Como resultado, veio a ser umsímbolo do lugar de tormento eterno. Mt 18.9 fala de tem geenan tou pyros, a geena defogo, e esta expressão forte é empregada como um sinônimo de to pyr to aionion, o fogoeterno, que aparece no versículo anterior. A Bíblia fala também de uma “fornalha acesa”,Mt 13.42, e de um “lago de fogo” (ou “do fogo”), Ap 20.14, 15, que se contrasta com o“mar de vidro, semelhante ao cristal”, Ap 4.6. Os termos “prisão”, 1 Pe 3.19, “abismo”, Lc8.31 e “tártaro”, 2 Pe 2.4 (margem), também são empregados. A Escritura se refere aosexcluídos do céu dizendo que estão fora (nas trevas exteriores) e que são lançados noinferno. A descrição registrada em Lc 16.19-31 é, por certo, inteiramente descritiva delugar.

2. O ESTADO NO QUAL CONTINUARÃO SUA EXISTÊNCIA. É impossíveldeterminar precisamente o que constituirá a punição eterna dos ímpios, e nos convémfalar mui cautelosamente sobre o assunto. Positivamente se pode dizer que consistirá em(a) ausência total do favor de deus; (b) uma interminável perturbação da vida, resultantedo domínio completo do pecado; (c) dores e sofrimentos positivos no corpo e na alma; e(d) castigos subjetivos, como agonias da consciência, angústia, desespero, choro eranger de dentes, Mt 8.12; 13.50; Mc 9.43, 44, 47, 48; Lc 16.23, 28; Ap 14.10; 21.8.Evidentemente, haverá graus na punição dos ímpios. Isto se deduz de passagens comoMt 11.22, 24; Lc 12.47, 48; 20.17. Sua punição será proporcional ao seu pecado contra aluz que receberam. Mas, não obstante, será punição eterna para todos eles. Esta verdadeé exposta claramente na Escritura, Mt 18.8; 2 Ts 1.9; Ap 14.11; 20.10. Alguns negam quehaverá fogo literal, porque este não poderia afetar espíritos como satanás e seusdemônios. Mas, como podemos sabe-lo? Nosso corpo certamente age em nossa alma dealgum modo misterioso. Haverá alguma punição positiva correspondente aos nossos

corpos. É indubitavelmente certo, porém, que uma grande parte da linguagem referenteao céu e ao inferno deve ser entendida figuradamente.

3. DURAÇÃO DA SUA PUNIÇÃO. Contudo, a questão da eternidade da puniçãofutura mercê consideração mais especial, por ser freqüentemente negada. Dizem que aspalavras empregadas na escritura para “sempiterno” e “eterno” podem denotar simplesmente uma “era” ou uma “dispensação”, ou algum outro longo per íodo de tempo.Ora, não se pode negar que são empregadas desse modo nalgumas passagens, mas istonão prova que sempre tenham este sentido limitado. Não é este o sentido literal dessestermos. Sempre que são empregados assim, o são empregados figuradamente, e, nessescasos, o seu uso figurado é geralmente esclarecido pelo contexto. Além disso, há razõespositivas para se pensar que essas palavras não têm aquele sentido limitado naspassagens a que nos referimos. (a) Em Mt 25.46 a mesma palavra descreve a duração,tanto da bem-aventurança dos santos como da penalidade dos ímpios. Se esta não for,propriamente falando, interminável, tampouco o será aquela; e, todavia, muitos dos queduvidam da punição eterna, não duvidam da felicidade eterna. (b) São empregadas outrasexpressões que não podem ser postas de lado pela consideração mencionada acima. Ofogo do inferno é chamado “fogo inextinguível”, Mc 9.43; e dos ímpios se diz que “nãolhes morre o verme”, Mc 9.48. Além disso, o abismo que separará santos e pecadores nofuturo é descrito como fixo e intransponível, Lc 16.26.B. O Estado Final dos Justos.

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1. A NOVA CRIAÇÃO. O estado final dos crentes será precedido pelo passamento dopresente mundo e pelo surgimento de uma nova criação. Mt 19.28 fala da “regeneração” eAt 3.21, da “restauração de todas as cousas”. Em Hb 12.27 lemos: “Ora, esta palavra:Ainda uma vez por todas, significa a remoção dessas cousas abaladas (céus e terra),como tinham sido feitas, para que as cousas que não são abaladas (o reino de Deus)permaneçam”. Diz Pedro: “Nós, porém, segundo a sua promessa, esperamos novos céus

e nova terra, nos quais habita justiça”, 2 Pe 3.13, cf. vers. 12; e João teve uma visãodessa nova criação, Ap 21.1. Somente depois que a nova criação estiver estabelecida éque a nova Jerusalém descerá dos céus, da parte de Deus, o tabernáculo de Deus serámontado entre os homens e os justos adentrarão o seu gozo eterno. Muitas vezes élevantada a questão sobre se essa criação será inteiramente nova ou se será umarenovação da presente criação. Os teólogos luteranos apóiam fortemente a primeiraposição acima, recorrendo a 2 Pe 3.7-13; Ap 20.11 e 21.1, ao passo que os teólogosreformados (calvinistas) preferem a segunda idéia, para a qual encontram apoio em Sl102.26,27 (Hb 1.10-12) e Hb 12.26-28.

2. A HABITAÇÃO ETERNA DOS JUSTOS. Muitos concebem também o céu comouma condição subjetiva, que os homens podem desfrutar no presente e que, seguindo a

  justiça, naturalmente se tornará permanente no futuro. Mas aqui também se deve dizerque a Escritura apresenta o céu como um lugar. Cristo ascendeu ao céu, o que só podesignificar que ele foi de um lugar para outro. O céu descrito como a casa de nosso Pai,onde há muitas mansões, Jo 14.1, e esta descrição dificilmente seria válida para umacondição. Além disso, diz a Escritura que os crentes estão dentro, enquanto que osincrédulos estão fora, Mt 22.12, 13; 25.10-12. A Escritura nos dá motivos paraacreditarmos que os justos herdarão, não somente o céu, mas a nova criação inteira, Mt5.5; Ap 21.1-3.

3. A NATUREZA DA SUA RECOMPENSA. A recompensa dos justos é descrita comovida eterna, sito é, não apenas uma vida sem fim, mas a vida em toda a sua plenitude,sem nenhuma das imperfeições e dos distúrbios da presente vida, Mt 25.46; Rm 2.7. Aplenitude dessa vida é desfrutada na comunhão com Deus, o que é realmente a essênciada vida eterna, Ap 21.3. Eles verão a Deus em Jesus Cristo face a face, encontrarãoplena satisfação nele, alegrar-se-ão nele e O glorificarão. Contudo, não devemos pensarque as alegrias do céu são exclusivamente espirituais. Haverá alguma coisacorrespondente ao corpo. Haverá reconhecimento e relações sociais num plano elevado.Também é evidente na Escritura que haverá graus na bem-aventurança do céu, Dn 12.3;2 Co 9.6. Nossas boas obras serão a medida da recompensa que receberemos pelagraça, embora elas não a mereçam. Apesar disso, porém, a alegria de cada indivíduoserá perfeita e completa.

QUESTIONÁRIO PARA PESQUISA: 1. Por que o senso moral da humanidade exigeum juízo futuro? 2. A quais precursores históricos do juízo final a Escritura se refere? 3.Onde se realizará o juízo final? 4. Que encorajamento há para os crentes no fato de queCristo será o Juiz? 5. A expressão segundo a qual aquele que crê no Filho “não entrará

em condenação” (ou “não entra em juízo”), Jo 5.24, não prova que os crentes não serão julgados? 6. Segundo a Escritura, que obras entrarão em consideração no juízo final? 7.Se todos os crentes herdam a vida eterna, em que sentido a sua recompensa serádeterminada por suas obras? 8. O propósito do juízo é dar a Deus um melhorconhecimento dos homens? 9. Qual o seu propósito? 10. Os homens se perderãodefinitivamente só pelo pecado de rejeitar conscientemente a Cristo?

BIBLIOGRAFIA PARA CONSULTA: Bavinck, Geref. Dogm. IV, p. 777-815; Kuyper,Dict. Dogm., De Consummatione Saeculi , p. 280-327; Vos, Geref. Dogm. V, Eschatologie ,p. 32-50; Hodge, Syst., Theol. III, p. 844- 880; Shedd, Dogm. Theol., p. 659-754; ibid.,

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Schilder, Wat is de Hemel;  Vos, The Pauline Eschatology, p. 261-316; Kliefoth,Eschatologie , p. 275-351.