a ditadura militar argentina
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Projeto Memória Sindicato dos Padeiros
de São Paulo
Presidente: Francisco Pereira de Sousa Filho (Chiquinho Pereira) Coordenador: Aparecido Alves Tenório (Cidão)
Curador: Claudio Blanc www.padeirosspmemoria.com.br
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A Ditadura Argentina
A ditadura perpetrada pelas Forças Armadas argentinas está
entre as mais sangrentas do hemisfério Ocidental. As perseguições,
os métodos imorais, a covardia dos militares fez com que a repres-
são que eles protagonizaram contra o povo argentino no período de
1976 a 1984 fosse chamada de Guerra Suja. Os militares pareciam
ter enlouquecido, tomados por um frenesi sanguinário. A mínima
oposição era punida com a mais severa punição. Histórias como a
dos jovens mal saídos da infância que foram sequestrados, tortura-
dos e assassinados por participarem de protestos contra a tarifa de
ônibus, ou os relatos sobre as milhares de mulheres e meninas que
foram estupradas e estripadas simplesmente por serem suspeitas
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são manchas impossíveis de se remover, eternas marcas a depor
contra a probidade das instituições que as promoveram.
Isabel Peron presta juramento como presidente da Argentina
Os militares tomaram o poder na Argentina como resultado
da instabilidade política que se seguiu à morte de Perón. Em 1973,
Juan Perón voltou do exílio para encontrar uma Argentina dividida.
A esquerda e a direita rivalizavam. Nessa época, vários grupos guer-
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rilheiros entraram em cena. O maior e mais ativo era o Exército
Revolucionário do Povo. Perón morreu em 1974, deixando em seu
lugar a viúva, Isabel Martinez Perón. Manobrada pelos militares,
Isabel assinou uma série de decretos colocando mais poder nas
mãos das Forças Armadas. Entre esses documentos estavam os “de-
cretos de aniquilação”, através dos quais Isabel autorizava o exter-
mínio dos grupos subversivos de esquerda. Sem saber, a viúva de
Perón acendia o pavio de uma das piores repressões da história
recente.
Jorge Videla: perseguidor do seu próprio povo
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Em 1976, Isabel foi destituída do poder por um golpe de Es-
tado consumado pelas Forças Armadas, e a Argentina passou a ser
governada por uma junta militar. Num primeiro momento, de 1976
a 1981, a junta foi comandada por Jorge Videla, seguido de Roberto
Viola e Leopoldo Galtieri, responsável por lançar o país contra a Grã-
Bretanha na desmiolada Guerra das Malvinas. Nesse período, a
ditadura da Argentina perseguiu injustificadamente o próprio povo
argentino. Videla, sob cujo comando a repressão foi mais insana,
chamava o inexplicável ataque aos cidadãos de “Processo de Reor-
ganização Nacional”, através do qual os militares buscavam obedi-
ência incontestável e submissão absoluta da população.
Para justificar seus atos, os militares sustentavam que estava
havendo uma guerra civil na Argentina. Por isso, métodos extremos,
como o sequestro e a tortura, tinham de ser empregados para ga-
rantir a ordem. A própria junta se referia às suas ações como Guerra
Suja. No entanto, apesar de diversos ataques de grupos insurgentes
a alvos militares, as organizações rebeldes foram prontamente
desmanteladas. Não havia ameaça factual de guerra interna. E na
falta de inimigos verdadeiros, o alvo das Forças Armadas foi a pró-
pria sociedade civil, a população em geral. Qualquer um que fizesse
a menor oposição política, sindicalistas – os quais, aliás, constituí-
ram metade das vítimas –, estudantes – até os do ensino médio –,
jornalistas e mesmo esposas, maridos e filhos das vítimas era deti-
dos. Quando, depois de muito torturar – o que, no caso das mulhe-
res, frequentemente incluía o estupro – descobriam que o suspeito
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não tinha qualquer ligação com o suposto movimento “terrorista”,
assassinavam a vítima, num processo de “queima de arquivo”. De
acordo com Julio Strassera, promotor público no julgamento das
juntas, em 1985, o termo “guerra” não passava de um “eufemismo
para esconder atividades criminosas” dos militares.
Leopoldo Gualtieri
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Em 1981, Videla passou o poder ao general Roberto Eduardo
Viola, que ficou poucos meses à testa da junta. Por motivos de saú-
de, foi substituído por Leopoldo Galtieri. Numa tentativa impensada
de levantar o patriotismo da nação, Galtieri buscou desviar a insatis-
fação interna gerando um conflito externo e declarou guerra a uma
das maiores potências militares modernas, a Grã-Bretanha. Como
resultado da insensatez, a junta perdeu a Guerra das Malvina, e a
Argentina foi humilhada. Não restou outra saída a não ser a renún-
cia.
Ditadores: Viola entre Videla (esq.) e Strossner, do Paraguai
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Nunca Mais
Depois de ter sido eleito por meio de eleições democráticas, o
presidente Raul Alfonsin criou, em dezembro de 1983, a Comissão
Nacional de Pessoas Desaparecidas (CONADEP). A comissão, chefia-
da pelo escritor Ernesto Sabato, tinha como missão levantar evidên-
cias sobre a Guerra Suja. Os detalhes das investigações, que incluí-
am documentos sobre o desaparecimento de cerca de nove mil
pessoas chocaram o mundo. No prólogo do relatório da CONADEP,
adequadamente intitulado Nunca Más, Sabato escreveu que, “a
partir do momento em que eram sequestradas, as vítimas perdiam
todos os seus direitos. Destituídas de toda a comunicação com o
mundo exterior, mantidas em locais desconhecidos, submetidas a
torturas bárbaras, ignorando seu destino imediato ou futuro, corri-
am o risco de serem jogadas ao mar ou em algum rio, presas a blo-
cos de cimento ou cremadas. Não eram, porém, meros objetos e
possuíam todos os atributos humanos: sentiam dor, lembravam de
suas mães, filhos ou esposas ou sentiam a infinita humilhação de
serem estupradas em público...”
O relatório produzido em 1984 concluía que cerca de nove
mil pessoas “desapareceram” entre 1976 e 1983. Esse número, po-
rém, é subestimado. O próprio Serviço de Segurança da Argentina
estimava que nesse período cerca de 22 mil pessoas sumiram. Al-
gumas organizações de direitos humanos calculam em 30 mil o nú-
mero de vítimas da ditadura militar argentina.
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Manifestantes cobram justiça para os militares argentinos
Frente aos fatos, o presidente Alfonsin determinou que nove
membros da junta militar fossem processados judicialmente. Entre
eles estava Jorge Videla, o homem sob quem a junta cometeu os
maiores abusos. Em 1985, Videla foi sentenciado à prisão perpétua.
A pena começou a ser cumprida na prisão militar de Magdalena. No
entanto, em 29 de dezembro de 1990, temendo provocar os milita-
res, o presidente Carlos Menem anistiou Videla e outros militares.
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Menem justificou o perdão afirmando a necessidade de superar os
conflitos do passado.
Mas Videla ainda voltaria à prisão, acusado, dessa vez, de par-
ticipar do sequestro de bebês das vítimas do regime. Essas crianças
eram adotadas por militares. Videla passou 38 dias na cadeia, mas
teve sua pena comutada para prisão domiciliar por conta de pro-
blemas de saúde. Ironicamente, Videla ficou realmente incapaz de
sair de sua casa, pois cada vez que saía era ofendido e atacado. Uma
vez, a rua onde morava o ex-ditador apareceu pichada com setas
enormes apontando para a casa de Videla, com os dizeres: Trinta
mil desaparecidos, assassino à solta. Os argentinos não esquecem.
A situação do antigo líder da junta militar tornou a se agravar
depois da eleição de Nestor Kirchner, em 2003. Um esforço genera-
lizado foi promovido no sentido de demonstrar a ilegalidade do
regime que ele chefiou. Desde então, muitos oficiais acusados de
violar os direitos humanos durante a Guerra Suja foram processa-
dos. Em setembro de 2006, um juiz determinou que o perdão ou-
torgado por Menem a Videla era inconstitucional.