a ditadura militar (1964-1985)

11
O ESTADO AUTORITÁRIO (1964-1985) Em 31 de março, teve início o regime militar, que se estendeu até 1985, quando o país voltou à normalidade democrática. Foram 21 anos de AUTORITARISMO, pela adoção de um modelo econômico que se por um lado engendrou desenvolvimento graças aos investimentos em grandes obras públicas, por outro acentuou as desigualdades sociais. Além disso, o governo reabriu a economia ao capital estrangeiro. Governo Ranieri Mazzilli (1964) Ranieri Mazzilli, presidente da Câmara dos Deputados, assumiu e exerceu interinamente a Presidência da República a partir de 2 de abril de 1964 após a deposição de João Goulart. Durante seu curto governo, o comando das forças armadas editou o Ato Institucional Nº. 1 (AI – 1). Embora a Constituição assegurasse a realização de novas eleições diretas, o comando militar do movimento de 31 de março garantiu a eleição indireta, pelo Congresso Nacional, do Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, que assumiu no dia 15 de abril. GOVERNO CASTELO BRANCO (1964/67) Durante seu governo – o primeiro do ciclo militar – a “ameaça subversiva” ou “comunista” justificou a defesa da segurança nacional com a criação do SNI Serviço Nacional de Informações. Foram editados 3 Atos Institucionais e elaborada uma nova constituição. Na economia, com o PAEG, retomou a luta contra a inflação e, ao mesmo tempo, o desenvolvimento nacional. AI-1 (suspensão das garantias constitucionais, aumento dos poderes do Executivo, diminuição do poder Legislativo, cassação dos mandatos, suspensão dos O plano econômico do governo Castelo Branco foi o PAEG, Plano de Ação Econômica do Governo, tendo como responsáveis os ministros Roberto Campos (Planejamento) e Otávio de Bulhões (Fazenda). Seus objetivos eram atender às pressões dos credores internacionais e às necessidades do grande capital nacional e internacional, acelerar o ritmo do desenvolvimento econômico (previsão de 6% ao ano), diminuir a inflação, conter os salários, atrair capitais estrangeiros.

Upload: jorge-miklos

Post on 01-Jul-2015

4.820 views

Category:

Documents


3 download

TRANSCRIPT

Page 1: A Ditadura Militar (1964-1985)

O ESTADO AUTORITÁRIO (1964-1985)

Em 31 de março, teve início o regime militar, que se estendeu até 1985, quando o país voltou à normalidade democrática. Foram 21 anos de AUTORITARISMO, pela adoção de um modelo econômico que se por um lado engendrou desenvolvimento graças aos investimentos em grandes obras públicas, por outro acentuou as desigualdades sociais. Além disso, o governo reabriu a economia ao capital estrangeiro.

Governo Ranieri Mazzilli (1964)

Ranieri Mazzilli, presidente da Câmara dos Deputados, assumiu e exerceu interinamente a Presidência da República a partir de 2 de abril de 1964 após a deposição de João Goulart. Durante seu curto governo, o comando das forças armadas editou o Ato Institucional Nº. 1 (AI – 1). Embora a Constituição assegurasse a realização de novas eleições diretas, o comando militar do movimento de 31 de março garantiu a eleição indireta, pelo Congresso Nacional, do Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, que assumiu no dia 15 de abril.

GOVERNO CASTELO BRANCO (1964/67)

Durante seu governo – o primeiro do ciclo militar – a “ameaça subversiva” ou “comunista” justificou a defesa da segurança nacional com a criação do SNI – Serviço Nacional de Informações. Foram editados 3 Atos Institucionais e elaborada uma nova constituição. Na economia, com o PAEG, retomou a luta contra a inflação e, ao mesmo tempo, o desenvolvimento nacional.

AI-1 (suspensão das garantias constitucionais, aumento dos poderes do Executivo, diminuição do poder Legislativo, cassação dos mandatos, suspensão dos direitos políticos por 10 anos), passando a governar através de decretos-leis, Atos Institucionais (AIs), Atos Complementares e uma nova Constituição que foi outorgada em 1967.

O plano econômico do governo Castelo Branco foi o PAEG, Plano de Ação Econômica do Governo, tendo como responsáveis os ministros Roberto Campos (Planejamento) e Otávio de Bulhões (Fazenda). Seus objetivos eram atender às pressões dos credores internacionais e às necessidades do grande capital nacional e internacional, acelerar o ritmo do desenvolvimento econômico (previsão de 6% ao ano), diminuir a inflação, conter os salários, atrair capitais estrangeiros.

Serviço Nacional de Informação (SNI), órgão criado, em 1964, após o golpe militar, tinha por finalidade coordenar nacionalmente as atividades de informação e de contra-informação relativas ao interesse da segurança nacional (ver Movimento militar de 1964). Na prática transformou-se em um centro de poder quase tão importante quanto o Executivo, agindo por conta própria em muitos casos, principalmente no período de intensificação da repressão política promovido pelos governos militares. Seu principal idealizador e primeiro chefe foi o general Golbery do Couto e Silva, seguido de outros militares, dentre os quais dois futuros presidentes, Emílio Garrastazu Médici e João Baptista de Figueiredo. Foi extinto, em 1990, no governo de Fernando Collor de Mello e substituído pela Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE).

Page 2: A Ditadura Militar (1964-1985)

Ato Institucional nº. 227/10/65

Estabelecia eleição indireta para a Presidência da república e extinguia todos os partidos políticos, dando origem ao bipartidarismo. O sistema bipartidário era baseado num partido ao governo (ARENA - Aliança Renovadora Nacional), e outro de oposição (MDB – Movimento Democrático Brasileiro).

Ato Institucional nº. 35/2/1966

Estabelecia eleições indiretas para governadores dos estados, a serem realizadas pelas assembléias estaduais, bem como a nomeação dos prefeitos das capitais, mediante a aprovação do respectivo legislativo estadual.

Ato Institucional nº. 47/12/66

Convocava o Congresso Nacional, em recesso desde 20 de outubro, para votar uma nova Constituição, em substituição à de 1946.

Constituição de 1967

Promulgada pelo Congresso em 24 de Janeiro de 1967

Principais características: o Incorporação da legislação autoritária e centralizadora; o Eleição indireta para presidente e governadores; o Concentração dos poderes no Executivo (mandato de 4 anos, eleito indiretamente pelo Congresso

com voto a descoberto) podendo fazer decretos-lei, emendas à Constituição, intervenção nos Estado e exclusividade em decretar leis sobre segurança e orçamentos;

o Legislativo (número de deputados proporcional ao número de eleitores nos Estado) o Diminuição da autonomia dos Estados; o Lei de Greve;

Principais Realizações do Governo Castelo Branco

INPS INPS (Instituto Nacional de Previdência Social) que unificou vários órgãos previdenciários na prestação de assistência médica gratuita e na concessão de aposentadoria aos trabalhadores.

Banco CentralCriado em 1964, substituiu a antiga SUMOC (Superintendência da Moeda e do Crédito) Órgão executor da política monetária do país, o Banco Central do Brasil exerce ainda a função de regulamentar e fiscalizar todas as atividades de intermediação financeira.

Reforma Agrária Criação do IBRA - Instituto Brasileiro de Reforma agrária

FGTS

Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), fundo instituído, em 1966, para substituir a antiga legislação que garantia a estabilidade aos trabalhadores, com mais de dez anos no mesmo emprego, e que impunha aos empregadores pagamento de uma indenização aos empregados demitidos sem justa causa.

BNH Banco nacional de Habitação, com a função de financiar casa para os trabalhadores.

GOVERNO COSTA E SILVA (1967/69)

Eleito indiretamente pelo Colégio eleitoral, o marechal Arthur da Costa e Silva representava “linha dura” do Exército e tinha como vice-presidente Pedro Aleixo, um

O AI- 5

Ato Institucional nº 5 ou AI-5, decreto governamental de 13 de dezembro de 1968, assinado pelo presidente Artur da Costa e Silva, suspendendo garantias constitucionais e fortalecendo a repressão aos que se opunham ao Movimento Militar de 1964.O recrudescimento do movimento estudantil contra o governo, bem como o início de atividades terroristas, em 1968, foram invocados como motivos para colocar em recesso o Congresso Nacional, as Assembléias Legislativas e as Câmaras Municipais, e realizar novas cassações de mandatos e direitos políticos, além de aposentar funcionários públicos, sobretudo professores universitários, tidos como contrários ao regime, atingindo, entre outros, o ex-governador Carlos Lacerda. Concedeu ao presidente poder para governar por meio de decretos e estabeleceu a censura.Nos meses que se seguiram, instalou-se o clima de terror que se prolongaria pelos anos afora, silenciando os meios estudantis, sindicais, artísticos e intelectuais. As cassações e aposentadorias atingiram muitos parlamentares e professores. Centenas de prisões foram feitas e a tortura corria solta. A partir da experiência da OBAN (Operação Bandeirante) em SP, a máquina da repressão aperfeiçou-se, recebendo financiamento de empresários e multiplicando os centros especializados em torturas como os DOI-CODI. O Serviço Nacional de Informações e o Conselho de Segurança Nacional aumentaram ainda mais os seus poderes.O ato vigorou até 1979, quando foi revogado no processo de abertura política impulsionado no governo de Ernesto Geisel.

Page 3: A Ditadura Militar (1964-1985)

civil. Seu governo foi marcado pela reorganização das oposições e pelo afastamento das lideranças civis que haviam apoiado o golpe militar. Estudantes e operários iriam ocupar as ruas em grandes manifestações contra o regime. O governo reagiu intensificando a repressão, cujo ponto culminante foi a edição do Ato Institucional nº. 5 no dia 13 de dezembro de 1968. Em agosto de 1969, o presidente foi afastado da presidência por enfermidade.

O PED

O programa econômico de Costa e Silva chamou-se PED (Programa Estratégico de Desenvolvimento), sob a direção dos ministros da Fazenda/ Delfim Neto e do Planejamento/ Hélio Beltrão.

Passeata dos cem mil,

Um dos exemplos de manifestações estudantis contra o regime militar na gestão do presidente Costa e Silva foi a passeata dos Cem Mil. Ocorrida no Rio de Janeiro, no contexto do movimento político e estudantil de contestação ao governo e ao Movimento Militar de 1964. O assassinato do estudante Edson Luís, em 28 de março de 1968, pela polícia, durante manifestação no restaurante “Calabouço”, aumentou a tensão então existente, seguida de um período agitado, sobretudo, em São Paulo e no Rio de Janeiro. Nos dias 18 e 21 de junho ocorreram novas passeatas no Rio de Janeiro, ambas com forte repressão policial. A 26 de junho foi organizada a “passeata dos cem mil”, reunindo estudantes, intelectuais, religiosos e trabalhadores, liderada pelo então estudante Vladimir Palmeira. Sem confronto policial, a passeata afirmou o movimento estudantil e abriu caminho para um entendimento preliminar com o governo, posteriormente interrompido.

Principais Realizações do Governo Costa e Silva

Rio Niterói

Teve início a construção da Ponte Rio - Niterói. Iniciada em 1969 e inaugurada em 1974, a Ponte Rio - Niterói constitui um importante marco de capacitação da engenharia nacional - por suas dimensões, audaciosa concepção e criatividade nos processos construtivos. Foi uma das maiores obras do Regime Militar

Funai Fundação Nacional do Índio, órgão estatal criado em 1967, pela lei 5.371, para substituir o Serviço de Proteção ao Índio (SPI).

Mobral

Movimento Brasileiro de Alfabetização criado pelo governo Costa e Silva em 1967, vinculado ao Ministério da Educação, com o objetivo de alfabetizar adolescentes e adultos das camadas populares mais desfavorecidas, procurando, assim, fornecer-lhes condições de trabalho.Quando foi instituído, a taxa de analfabetismo no Brasil era de 33,6%; em 1977, havia caído para 13,8%; e, em 1982, chegava a 10%, porcentagem meta na data da criação do programa. Em 1985 o Mobral foi extinto.

Funrural Fundo de Assistência e Previdência do trabalhador Rural

GOVERNO JUNTA MILITAR (28/9/69 a 30/10/69)

Em 28 de agosto de 1969, com a doença de Costa e Silva (morreu em dezembro/69), o vice presidente Pedro Aleixo foi impedido de tomar posse pelos ministros militares (Lira Tavares/Exército, Augusto Rademaker/Marinha, Márcio de Souza Mello/Aeronáutica) que assumiram o poder formando uma Junta Militar (Ato Institucional 12).

Decretou o AI-14, outorgou a Emenda Constitucional de 17/10/1970 e garantiu a eleição indireta de Emílio Garrastazu Médici.

Instituía a pena de morte e a prisão perpétua para casos de “guerra revolucionária e subversiva”

GOVERNO GARRASTAZU MÉDICI (1969/74)

Page 4: A Ditadura Militar (1964-1985)

O binômio Segurança e Desenvolvimento constituiu a base de seu governo e justificou a sistemática destruição das oposições: a luta contra “comunistas” e “subversivos” foi intensificada; os meios de comunicação e a produção artística sofreram os rigores da censura, e as liberdades, os direitos e garantias individuais conheceram grandes limitações. No governo Médici começou o MILAGRE BRASILEIRO, exaltado na publicidade oficial e reforçado pelas conquistas nos esportes.

O governo Médici correspondeu ao período mais repressivo do regime militar. Governava baixando decretos-leis (inclusive decretos secretos), apoiado no Conselho de Segurança Nacional e utilizando largamente o AI-5, a censura e o aparelho repressivo.

Neste período o cerco às esquerdas fechou-se completamente, principalmente às organizações da luta armada, alvos de verdadeiras operações de caça e extermínio. Prisões, torturas, mortes - os assassinatos eram encobertos com versões falsas divulgadas pelos meios de comunicação sob censura..

O desenvolvimento econômico foi retomado com o apoio do Estado (definido no I PND – Plano Nacional de Desenvolvimento) e a partir de empréstimos externos. O setor industrial voltou a crescer mais empregos foram gerados, o nível de consumo aumentou e o governo deu início a grandes obras públicas

Médici tomou posse herdando as condições econômicas e políticas que permitiram que o seu governo ficasse associado ao chamado “milagre econômico” e ao período mais fechado e mais autoritário da ditadura militar.

O “milagre econômico”

Milagre econômico brasileiro, termo utilizado para designar o período de 1968 a 1974 quando o desenvolvimento acelerou-se e diversificou-se no Brasil. A disponibilidade externa de capital e a determinação dos governos militares de fazer do Brasil uma “potência emergente” viabilizaram pesados investimentos em infra-estrutura (rodovias, ferrovias, telecomunicações, portos, usinas hidrelétricas, usinas nucleares), nas indústrias de base (mineração e siderurgia), de transformação (papel, cimento, alumínio, produtos químicos, fertilizantes), em equipamentos (geradores, sistemas de telefonia, máquinas, motores, turbinas), em bens duráveis (veículos e eletrodomésticos) e na agroindústria de alimentos (grãos, carnes, laticínios). Em 1973, a economia apresentou resultados excepcionais: o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 14% e o setor industrial, 15,8%.

Principais Realizações do Governo Médici

EstradasConstrução da Rodovia Transamazônica.

Petróleo Inauguração da Refinaria de Paulínia (SP)Hidrelétrica Inauguração da Usina Hidrelétrica de Ilha Solteira (SP)

A Aerp Assessoria Especial de Relações Públicas do governo do presidente Emílio Garrastazu Médici utilizou a vitória da seleção brasileira de futebol, conquistando o título de tricampeão mundial na Copa do Mundo, realizada no México, em 1970, para estimular o nacionalismo e aumentar a popularidade do então presidente. Os grandes projetos econômicos e a luta do regime militar contra a subversão também foram utilizados nesta campanha ufanista. Slogans como “Brasil, ame-o ou deixe-o” e músicas como Prá frente Brasil são exemplos da estratégia do governo Médici.

Page 5: A Ditadura Militar (1964-1985)

Usina Nuclear Início da construção da Usina Nuclear de Angra dos Reis (Angra I ) RJ

Ernesto Geisel (1974-1979)

Governou em meio aos problemas que afetaram o Brasil nos anos 70 e que encerraram a era do Milagre Brasileiro. Nesse contexto, Geisel deu início ao processo de abertura “lenta gradual e segura” do regime, isto é, conduzida pelo próprio governo.

O presidente Geisel montou um plano militar para gerir a economia brasileira: o Plano Nacional de Desenvolvimento. Nele havia previsão para construir tudo que o país precisava para tornar-se uma grande potência: usinas nucleares, empresas petroquímicas, siderúrgicas, mineradoras de cobre, indústria pesada, ferrovias, rodovias, energias alternativas ao petróleo, hidrelétricas, centros de pesquisa – e tudo mais que a imaginação permitia colocar numa folha de papel. Como todos os planos ousados, o PND deixava de lado custos exatos, viabilidade, disposição de pessoal. Num regime ditatorial, tudo isso não passava de detalhe.

Principais Realizações do Governo Geisel

Energia Proálcool (1975)Sociedade Aprovada a Lei do Divórcio em 1977Hidrelétrica Início da construção das usinas de Itaipu e Tucuruí

Usina Nuclear Acordo Nuclear Brasil-Alemanha prevendo a construção de novas usinas nucleares: a continuação das obras da USINA Angra

Avanços e Recuos

Apesar de ter iniciado a abertura política, o governo Geisel procurou obstruir a atuação das oposições. Assim, a vitória do MDB na eleições de 1974, aumentando o número de seus deputados e senadores, teve como respostas a LEI FALCÃO e o PACOTE DE ABRIL. Entre 1975 e 1977, vários mandatos de parlamentares foram cassados e, nas prisões, ainda se praticava a tortura.

Aumento da dívida externaInflaçãoArrocho salarialCrise Mundial do petróleo

Os militares da “linha dura” foram afastados do governo;Os órgãos de repressão foram gradualmente desativados;O AI-5 foi extintoA Lei de Segurança Nacional foi abrandada;A Censura aos meios de comunicação foi suspensa;Os atos de banimento, revogados;

Lei FalcãoProposta pelo Ministro da Justiça Armando Falcão, essa lei foi aprovada em 24 de junho de 1974, estabelecendo fortes restrições à propaganda eleitoral no rádio e na televisão. Os candidatos ficavam proibidos de se dirigir diretamente aos eleitores, ficando limitados à apresentação de sua foto e de um breve currículo.

Em abril de 1977, o Congresso Nacional foi fechado, para que se decretassem mudanças nas regras eleitorais; a composição das bancadas na Câmara dos Deputados foi reajustada, criaram-se os senadores biônicos (um em cada três senadores passava a ser eleito indiretamente) e o mandato presidencial foi ampliado para seis anos.

Page 6: A Ditadura Militar (1964-1985)

JOÃO FIGUEIREDO (1979-1985)

Deu continuidade ao processo de abertura política. Uma tentativa de reeditar o milagre brasileiro agravou ainda mais a crise econômica. Com isso as greves se multiplicaram e vários setores da sociedade civil se uniram exigindo reformas e o fim do regime militar.

Foi no governo Figueiredo que se completou a redemocratização do país.

Em 1979, foram aprovadas a LEI DA ANISTIA e a reforma partidária que acabou com o bipartidarismo e restabeleceu o PLURIPARTIDARISMO. Em 1980, a figura do senador biônico foi extinta e os GOVERNADORES estaduais voltaram a ser escolhidos por meio de eleições diretas.

Caso Herzog

Um dos problemas do governo era o gigantesco aparato de repressão. Operando à margem da lei, ganhou autonomia suficente para gerar suas próprias políticas. Uma delas era a necessidade de obter dinheiro. No início, era fácil convencer industriais a dar dinheiro para o combate a inimigos que pareciam poderosos. Mas, uma vez dizimados os adversários, não havia como justificar a arrecadação.

Criou-se assim a necessidade de manter aceso o fantasma que alimentava o caixa paralelo do sistema. Se não havia mais assaltos e atentados, restava a possibilidade de inventar inimigos para explorar.

Para o governo, a atividade de perseguir terroristas devia chegar ao fim. O problema era que a máquina de repressão não estava sob seu controle direto. Essa diferença de interesses acabou explicitando-se em 1975, quando o jornalista Wladimir Herzog, diretor da TV Cultura, foi convocado para depor no DOI-CODI, o órgão mais visível da repressão paralela. Apresentou-se voluntariamente e muita gente sabia de sua convocação. Mas foi morto no mesmo dia, durante uma sessão de tortura. Desta vez, não havia como negar a prisão, prática usual em outros tempos. Foi preciso apresentar uma versão pública – a de que o jornalista teria se suicidado.

O governo acabara de perder uma eleição e não tinha como impedir a reação popular. Mesmo com a censura à imprensa, a versão da morte na tortura ganhou corpo. O cardeal de São Paulo, dom Paulo Evaristo Arns, organizou uma missa na catedral da cidade. O evento transformou-se num protesto contra o governo. Milhares compareceram ao ato público, apesar do rigoroso policiamento feito na cidade. Semanas depois, o operário Manoel Fiel Filho foi morto no mesmo local. Desta vez, o presidente Geisel demitiu o general que deveria manter sob controle os aparelhos paralelos. A partir daí, os órgãos de repressão começaram a ser desativados.

LEI DA ANISTIA

Provada em 28/8/1979, essa lei libertou presos políticos e permitiu a volta de muitos exilados. Além disso, beneficiou os agentes dos órgãos de repressão, pois os mesmos não poderiam ser processados pelas torturas e assassinatos praticados na época dos “anos de chumbo”PLURIPARTIDARISMO

Com a reorganização partidária, A ARENA e o MDB transformaram-se, respectivamente, no PDS (Partido Democrático Social) e no PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro). Em 1980 surgiram ainda o PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), o PDT (Partido Democrático Trabalhista) e o PT (Partido dos Trabalhadores)

Page 7: A Ditadura Militar (1964-1985)

Principais Realizações do Governo Figueiredo

Hidrelétrica Inauguração da Usina de ItaipuEstradas Construção da Estrada de Ferro CarajásCampo Extensão do FGTS para os trabalhadores rurais

DIRETAS JÁ E FIM DO REGIME MILITAR

A constituição de 1967 determinava a eleição indireta do presidente da República, por um colégio eleitoral, mas a pressão da opinião pública e dos partidos de oposição foi feita no sentido de reformá-la, para se permitir a eleição presidencial de forma direta. Foi então organizado um movimento suprapartidário em favor da emenda do deputado Dante de Oliveira, apresentada em 1984. A campanha em favor das eleições diretas mobilizou milhões de pessoas que se manifestaram em passeatas e comícios em todo o país. O empenho do então deputado Ulysses Guimarães foi tal que chegou a ser chamado de “Senhor Diretas”. O Congresso Nacional, entretanto, rejeitou a proposta em 25 de abril e a eleição para o período 1985-1991 foi realizada por meio de eleição indireta. Esta foi a última eleição indireta e marcou o fim do regime, iniciado pelo Movimento Militar de 1964. O então governador de Minas Gerais, Tancredo Neves, foi eleito presidente, mas morrendo antes de tomar posse, foi substituído pelo vice-presidente José Sarney.

Com as eleições diretas de 1982, o mapa político foi profundamente alterado. As Oposições elegeram 10 dos 22 governadores estaduais (entre eles São Paulo Minas Gerais e Rio de Janeiro) e a maioria da câmara dos deputados