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A dinâmica demográfica de Luanda no contexto do tráfico de escravos do Atlântico Sul, 1781-1844 José C. Curto e Raymond R. Gervais * T radicionalmente, demógrafos e historiadores têm lamentado que a quantidade de recursos necessários para reconstruir o passado da po- pulação africana não esteja disponível para o período anterior à virada do século XIX. Embora isto seja verdade para a maioria das regiões do interior do continente, está longe de ser correto frente aos centros urbanos costei- ros sob domínio imperial europeu. Na verdade, há maior quantidade de informação sobre a população destas cidades portuárias africanas no perío- do anterior a 1800 do que se tem conhecimento. 1 Um caso é o de Luanda, a capital colonial de Angola, para qual um número grande de censos, rela- tivos ao século XVIII e à primeira metade do século XIX, tem sido locali- zados no Arquivo Histórico Ultramarino (AHU), Lisboa. 2 Desde os primórdios de 1770 até meados de 1840, estes documentos constituem, do ponto de vista quantitativo, uma rica fonte de informação, fornecendo novas possibilidades de análise sobre a população de Luanda durante um período crucial de sua história. Primeiramente, eles nos per- mitem observar como a administração central de Lisboa controlava não somente a produção de dados demográficos da colônia, como também os residentes em distantes postos avançados no Atlântico Sul do Reino Portu- guês. Em segundo lugar, negligenciando quase que totalmente da história da população africana anterior ao século XIX, estes censos oferecem uma oportunidade inigualável para reconstruir a evolução geral dos habitantes deste centro urbano costeiro do Centro-oeste africano. Em terceiro lugar, porque a capital colonial de Angola era então uma das principais cidades portuárias exportadoras de escravos ao longo da costa ocidental da África. * Tradução de Betina Lorena Tolosa. Topoi, Rio de Janeiro, mar. 2002, pp. 85-138.

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Page 1: A dinâmica demográfica de Luanda no contexto do tráfico … • TOPOI ministro de colônias ultramarinas de Portugal. Sousa Coutinho herdou dois sérios problemas de seu predecessor:

A dinâmica demográfica de Luandano contexto do tráfico de escravos do

Atlântico Sul, 1781-1844

José C. Curto e Raymond R. Gervais*

Tradicionalmente, demógrafos e historiadores têm lamentado que aquantidade de recursos necessários para reconstruir o passado da po-

pulação africana não esteja disponível para o período anterior à virada doséculo XIX. Embora isto seja verdade para a maioria das regiões do interiordo continente, está longe de ser correto frente aos centros urbanos costei-ros sob domínio imperial europeu. Na verdade, há maior quantidade deinformação sobre a população destas cidades portuárias africanas no perío-do anterior a 1800 do que se tem conhecimento.1 Um caso é o de Luanda,a capital colonial de Angola, para qual um número grande de censos, rela-tivos ao século XVIII e à primeira metade do século XIX, tem sido locali-zados no Arquivo Histórico Ultramarino (AHU), Lisboa.2

Desde os primórdios de 1770 até meados de 1840, estes documentosconstituem, do ponto de vista quantitativo, uma rica fonte de informação,fornecendo novas possibilidades de análise sobre a população de Luandadurante um período crucial de sua história. Primeiramente, eles nos per-mitem observar como a administração central de Lisboa controlava nãosomente a produção de dados demográficos da colônia, como também osresidentes em distantes postos avançados no Atlântico Sul do Reino Portu-guês. Em segundo lugar, negligenciando quase que totalmente da históriada população africana anterior ao século XIX, estes censos oferecem umaoportunidade inigualável para reconstruir a evolução geral dos habitantesdeste centro urbano costeiro do Centro-oeste africano. Em terceiro lugar,porque a capital colonial de Angola era então uma das principais cidadesportuárias exportadoras de escravos ao longo da costa ocidental da África.

* Tradução de Betina Lorena Tolosa.

Topoi, Rio de Janeiro, mar. 2002, pp. 85-138.

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Dada a importância destes documentos, os mesmos permitirão mais tardedeterminar os efeitos que o comércio negreiro do Atlântico teve para umapopulação específica durante um período particular de tempo. Para tal, estetrabalho se impõe uma seqüência de tarefas. Começaremos com uma aná-lise dos fundamentos utilizados para o censo de Luanda. A segunda seçãoexamina a produção destas fontes quantitativas, destaca as informaçõescontidas nas mesmas, indica as áreas-problema destes dados, e oferece so-luções para sua utilização. Depois, forneceremos uma avaliação das gran-des mudanças demográficas que ocorreram. Finalmente, nossa discussãotermina com uma explicação para as transformações sofridas por esta po-pulação entre 1781 e 1844.

O contexto administrativo dos censos de Luanda

Com relação a Luanda, a produção de dados populacionais tem umalonga história. Fundada em 1576 como a cidade portuária a partir da qualos portugueses deveriam moldar a colonização de Angola, a administraçãocolonial em formação lá estabelecida rapidamente começou a gerar estatís-ticas sobre seus habitantes. A partir da última década do século XVI, ecle-siásticos começaram a registrar os batismos, casamentos e enterros por elescelebrados nesta nova cidade portuária situada no centro-oeste africano,de forma a que os eventos civis pudessem ser devidamente cadastrados.3

Ao mesmo tempo, o corpo de empregados do administrativo começou acontar os soldados do governo situados em Luanda, onde a maioria de tro-pas coloniais estava sediada,4 para que a força militar ou fraqueza da colô-nia emergente pudessem ser averiguadas. Última mas não menos impor-tante, a população crescente deste centro urbano costeiro também se tor-nou o objeto de estimativas agregadas,5 possivelmente com a finalidade dedeterminar suas responsabilidades fiscais. Estas estatísticas populacionais,no entanto, eram muito limitadas em seu âmbito. Deste modo, enquantoos eventos civis por definição pertencem exclusivamente à população cris-tã, a maioria das contagens de Exército e estimativas de população agrega-da esteve primeiramente mais preocupada com os europeus.6 Não foi an-tes do último terço do século XVIII que estatísticas mais abrangentes sobreos residentes de Luanda começaram a ser produzidas.

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Grandemente influenciado pela preocupação do Iluminismo comdados estatísticos, o marquês de Pombal desenvolveu, durante os últimosanos de seu período como governante de fato de Portugal (1750-1777),um interesse agudo por informações quantitativas precisas sobre as pessoasque residiam nos territórios portugueses ultramarinos. Tal como seus con-temporâneos imperiais britânicos, franceses e espanhóis, atrás da nova preo-cupação de Pombal residiam razões tanto militares quanto fiscais. No casoespecífico de Angola, não apenas era a colônia o objeto de crescente inva-são pela França e a Inglaterra, como também as rendas que a mesma geravapara a Coroa portuguesa, em contínuo declínio devido à queda na expor-tação de escravos. Para se preparar para os perigos associados à crescentepresença de poderes imperiais estrangeiros e para determinar a quantia deimpostos que poderiam ser cobrados dos habitantes sob domínio efetivoou nominal de Portugal, Pombal decidiu implementar um censo em An-gola.7

Em 1772, Pombal fez com que o ministro Martinho de Melo e Cas-tro — responsável pelas colônias portuguesas ultramarinas — redigisse umasérie de instruções para o governador Antônio de Lencastre, recentementenomeado para Angola, bastante diferentes daquelas dadas a pessoas nomea-das previamente. As novas diretivas especificamente ordenavam a produ-ção de censos nos centros urbanos costeiros do centro-oeste africano sobdomínio português.8 O governador Lencastre chegou à capital colonialAngola no final de 1772. Em um ano ele havia enumerado todos os habi-tantes de Luanda.9 Esta foi a primeira real contagem populacional admi-nistrada na colônia.

Após 1773, nenhuma outra contagem populacional foi realizada.Pombal foi destituído do cargo em 1777 e, a partir de então, o interessemetropolitano por informações quantitativas sobre os habitantes da capi-tal colonial de Angola se dissipou.10 Uma segunda contagem foi realizadaapenas em 1781.11 Ademais, dezesseis anos iriam decorrer antes que outrocenso fosse empreendido em Luanda.

Em 1796, Rodrigo de Sousa Coutinho — filho de Francisco Inno-cêncio de Sousa Coutinho, governador de Angola (1764-1772) duranteparte da era de Pombal — sucedeu Martinho de Melo e Castro como o

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ministro de colônias ultramarinas de Portugal. Sousa Coutinho herdou doissérios problemas de seu predecessor: primeiro, França e Inglaterra haviamavançado em sua invasão ao longo da costa angolana durante as duas últi-mas décadas do século XVIII; segundo, a necessidade de aumentar a rendada Coroa gerada pela colônia permanecia sem solução. A fim de se prepa-rar para a ameaça ocasionada pela invasão dos poderes imperiais estrangei-ros e para descobrir o quanto de impostos que poderia ser extraído da po-pulação sob domínio efetivo ou nominal português, ele não só decidiureavivar o censo em Angola, como também torná-lo uma operação anual.12

Em 14 de setembro de 1796, Sousa Coutinho expediu uma circularpara o Governador da Angola ordenando que daquele momento em dian-te os censos relativos à população de todo presídio, distrito e cidade por-tuária da colônia deveriam ser produzidos anualmente.13 Esta nova diretivafez com que em 1797 fosse realizada uma terceira contagem em Luanda,mais provavelmente para aferir a população no final de 1796.14 Uma quar-ta contagem foi feita em seguida ao fim de 1797.15 O censo foi entãoinstitucionalizado, com contagens a partir de então executadas, em umabase quase que anual, nesta cidade portuária do centro-oeste africano.

Na verdade, de 1798 até o final de 1832, foram constatados pelo menosvinte e cinco censos produzidos sobre os habitantes de Luanda.16 No en-tanto, apesar da institucionalização do censo, vários fatores, periodicamente,prejudicaram não só a produção de informações quantitativas demográfi-cas, mas também outros tipos de informações.17 Durante 1800-1801, porexemplo, a incerteza causada pela guerra na Europa e a intenção do gover-no colonial angolano de superar a resistência às reformas fiscais parece terinterrompido a produção da maioria dos dados administrativos. De formasemelhante, as alterações causadas pela mudança da corte portuguesa parao Brasil, com a maioria da nobreza, burocracia e comerciantes que os se-guiram, parece ter impedido as tentativas de compilar informações numé-ricas nos anos de 1808 e 1809. Os motins criados na metrópole para forçara corte portuguesa a retornar para Lisboa e a subseqüente declaração deIndependência do Brasil, por sua vez, parecem ter também paralisado aadministração colonial ao longo do início da década de vinte do séculoXIX.18 Para além disso, a ansiedade criada entre os funcionários públicos

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locais devido à iminente proibição do comércio escravo no atlântico-sul eà incerteza da existência de Luanda sem o seu único capital econômico (aexportação de escravos) explica, provavelmente, a produção esporádica dedados demográficos durante os finais da década de 1820.19

Se os censos realizados em Luanda foram apenas periodicamente in-terrompidos entre o final do século XVIII e o início da década de 1830,este processo foi totalmente paralisado entre 1833 e 1844. Este últimoperíodo foi particularmente complicado, caracterizado por um caos admi-nistrativo, resultando da sucessão de governos constitucionais em Lisboa esuas diferentes políticas coloniais, uma elevada, e pouca usual, mudançade governadores em Angola, e um cepticismo persistente em relação à pró-pria existência da colônia, que se implantou a seguir à independência doBrasil e à proibição do comércio escravo no atlântico-sul.20 Apesar destesproblemas, o governo central em Lisboa persistentemente continuou a exigira produção de dados demográficos aos governadores da Angola. Destemodo, em 1835, após a interrupção de 1833-1834, o governo central pe-diu ao triunvirato, que então governava a colônia, que empreendesse e ex-pedisse os censos.21 Esta diretiva, porém, não obteve os resultados deseja-dos. As instruções dadas a Lourenço Germack Possollo, que assumiu ocomando do governo de Angola no final de 1843, especificavam novamentea necessidade de retomada da realização dos censos.22 Todavia, em meadosde 1844, Lisboa estava ainda recomendando fortemente a Possollo que eleconcordasse com as diretivas de 1835, indicando desta forma que suas ins-truções acerca deste assunto ainda não haviam sido executadas.23 Muitoprovavelmente como resultado desta quantidade de diretivas, realizou-se,finalmente, uma última contagem antes de 1850, nos inícios de 1845.24

Depois de 1796, após os intermitentes censos realizados durante asduas décadas anteriores, o governo central em Lisboa passou a ter expecta-tivas quanto à contagem populacional anual em Luanda. Naturalmente, ogoverno devia estar ciente de que eventos, tanto na capital colonial de Angolaquanto em qualquer outro lugar no Atlântico, poderiam ocasionar a inter-rupção periódica do processo, como ocorrido durante a primeira e terceiradécadas do século XIX. No entanto, as diretivas de 1835 e 1843-1844 evi-denciam que tais interrupções eram inaceitáveis se durassem mais do que

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alguns anos. Nas mentes dos administradores do governo central, os habi-tantes de Luanda haviam-se tornado bens quantificáveis de forma a seremmais bem controlados para propósitos militares e fiscais.

A produção dos censos de Luanda: problemas e soluções

Entre 1773 e 1844, são realizados pelo menos trinta censos produzi-dos sobre a população de Luanda. Quem era responsável por esta produ-ção? Com respeito às primeiras contagens, atualmente, pouca informaçãoestá disponível para responder a tal pergunta. Tudo que se sabe é que nasinstruções de 1772, dadas ao governador de Lencastre, foi exigido espe-cificamente que ele utilizasse magistrados e padres de paróquias locais —as pessoas mais bem qualificadas na visão do governo central de Lisboa paragerar dados demográficos de forma confiável.25 No caso das contagens pós-1796, por outro lado, a documentação existente permite uma resposta maisadequada. De acordo com Jean Baptiste Douville, que viajou pela colôniade Angola durante 1828-1830, o censo realizado em Benguela foi de res-ponsabilidade direta do juiz local, o Ouvidor.26 Já que as contagens emBenguela resultaram da mesma diretiva de 1796 que ordenava a retoma einstitucionalização dos censos em Luanda, há razões para acreditar que esteprocesso estava, também ali, entregue aos seus ouvidores.

Os Juízes de Coroa da capital colonial angolana parecem ter divididoem quatro muito distintas, porém potencialmente simbióticas, operaçõesde contagem final de ano:

(i) Os funcionários públicos de níveis baixo e médio eram encarregadosde estabelecer uma lista nominal dos ocupantes de todo fogo ou resi-dência em cada um dos bairros ou vizinhanças que compunham acidade;27

(ii) Os funcionários responsáveis pelos setores administrativo, militar eeclesiástico eram responsáveis pelo fornecimento do número de indi-víduos em cada destas ramificações do governo colonial;28

(iii) Aos demais funcionários públicos estava atribuída a tarefa de reunirestatísticas de emigração e imigração a partir de duas fontes da admi-nistração colonial: o registro de passaportes — contendo os passes con-

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cedidos a indivíduos em Luanda para ir além-mar ou para o interior,e o registro de entradas — listando o número das pessoas que chega-vam de além-mar (Brasil e o Portugal, principalmente) e do interiorde capital colonial Angolana.29

(iv) Em quarto lugar, os padres das paróquias tinham de fornecer resumosdo número de nascimentos, casamentos e óbitos ocorridos, a partirdos registros de eventos civis que mantinham.30

Uma vez que estes diferentes conjuntos de dados demográficos che-gavam às mãos dos Ouvidores, eles eram então repassados para um oficialmilitar de alto escalão que tornava-se responsável pelo acompanhamentoda compilação e transformação destes dados em um censo ao início de cadaano novo.31

No entanto, a informação quantitativa produzida pelos indivíduosresponsáveis pelos censos em Luanda estava longe de ser uniforme. O tipode dados produzidos para os censos, nos finais do século XVIII, era prede-terminado pelo governo central de Lisboa. A maioria das diretivas gover-namentais, que informavam os ouvidores das classificações demográficasque deviam ser utilizadas, não foi localizada. Contudo, pressupondo que ainformação contida em cada censo foi na realidade produzida para ir deencontro às regras específicas da metrópole, podem-se identificar cincoetapas sucessivas na produção de dados demográficos como se poder verna Tabela II. O relatório de 1773 forneceu informações numéricas sobre:brancos, mulatos livres e escravizados, e negros livres e homens escravoscapazes de portar armas (i.e., aqueles entre quinze e cinqüenta anos de ida-de); brancos, mulatos livres e mulheres negras livres; e as tropas do gover-no por cor.32 Dois grupos de indivíduos, porém, estavam totalmente ex-cluídos da contagem: mulatos escravizados e mulheres negras, que teriamrepresentado uma significativa porção da população total; e homens civisabaixo de quinze e acima de cinqüenta anos de idade.33 A contagem de 1781foi ao mesmo tempo mais completa e mais abrangente: não só foramretificadas as exclusões dos censos parciais de 1773, como também foramfeitas inovações importantes. Este segundo censo incluiu números da po-pulação total por gênero, grupos etários alargados (0-7, 7-15, 15-60, e >60para os homens; e 0-7, 7-15, 15-40, e >40 para as mulheres), cor e condi-ção social, bem como dados sobre óbitos e nascimentos por cor e gênero.34

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O censo de 1797, por outro lado, apresenta pouca semelhança com oanterior. Nenhum dos dados sobre amplas faixas etárias, nem sobre nasci-mentos e óbitos — as duas mais importantes inovações do censo de 1781— foi obtido. Todavia, a população civil e o pessoal administrativo foramcontados separadamente pela primeira vez:35 o pessoal administrativo, in-divíduos que faziam parte do governo colonial foram divididos em buro-cratas, tropas e eclesiásticos;36 a população civil e habitantes livres e escra-vizados que não faziam parte do governo colonial, foram listados de acor-do com gênero, cor e condição social.37 As contagens finais de 1797 e de1798 provaram, uma vez mais, serem razoavelmente diferentes. Ambaslistavam o número de civis por gênero, cor, e condição social, e dividiramo pessoal administrativo em burocratas, tropas do governo e eclesiásticos.Mas, o mais importante, não apenas foram incluídos no total geral os nas-cimentos e óbitos, mas também informações quantitativas sobre duas to-talmente novas categorias: migrantes e residências.38 A partir daquela data,os dados demográficos contidos em cada censo foram finalmente unifor-mizados. Todos os censos pós-1798 foram divididos em duas tabelas dife-rentes: um para civis e outro para o pessoal administrativo. Os númerosdos civis diziam respeito a pessoas solteiras, casadas e viúvas, nascimentos,casamentos e óbitos, emigrantes e imigrantes, ordenados por cor, gênero econdição social, enquanto os dados sobre pessoal administrativo diziamrespeito a burocratas, tropas governamentais e eclesiásticos, com referên-cia, normalmente, ao seu estatuto marital. Por último mas não menos im-portante, todos estes censos continham caixas separadas com informa-ção quantitativa sobre os domicílios e a distribuição ocupacional de parteda população civil.39 As mutantes categorias demográficas do final do sé-culo XVIII indicam claramente que, enquanto o processo de realização doscensos germinava, o governo central de Lisboa buscava contagens sempremais completas e abrangentes, não apenas para os civis, mas também parao pessoal administrativo colonial.40

No fim do século XVIII, a administração metropolitana implantoucom sucesso uma organização bem estruturada para executar a contagempopulacional em Luanda e padronizou as informações demográficas. Ape-sar disto, o processo de realização dos censos apresentava muitos proble-

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mas. Padres de paróquia, em particular, nem sempre podiam prover as in-formações exigidas para os censos anuais. Por exemplo, no que diz respeitoaos eventos civis de 1797, eles apenas forneceram dados relativos aos últi-mos cinco meses desse ano.41 Durante 1798-1801, por outro lado, as mor-tes de crianças, escravos ou pessoas cujos parentes fossem tão pobres quenão pudessem pagar as despesas do funeral, cobradas pelos padres das pa-róquias, não foram registradas.42 Estas irregularidades levaram, por fim, ogovernador Melo a queixar-se aos seus superiores sobre o grande númerode nascimentos, casamentos e óbitos não registrados e a solicitar que as me-didas, aplicadas noutras colônias portuguesas do Ultramar para corrigir estasituação fossem também implementadas em Luanda.43 Estas medidas fo-ram decretadas em maio de 1802 através de duas cartas pastorais remetidaspelo Bispo de Angola, Luis de Brito Homem, para cada padre na colônia.44

Estas continham instruções precisas sobre o registro de eventos civis e pa-recem ter obtido os efeitos desejados. Como se vê na Tabela III, as estatís-ticas vitais apresentadas nos censos de 1802 até 1812 parecem ser as maiscompletas da série inteira. Mas as aparências nem sempre refletem a reali-dade. Entre 1806 e 1807, por exemplo, a população de Luanda sofreu umaredução de 1967 pessoas. Destes, de acordo com o compilador dos dadosdo censo, Antônio de Faria, pelo menos 1967 indivíduos haviam sido víti-mas da epidemia de varíola que assolou Luanda em 1807.45 No entanto,para todo esse ano, os padres das paróquias apenas registraram 128 mortes.

Quaisquer que sejam o méritos das estatísticas vitais de 1802 a 1812,não tardou para que os padres das paróquias deixassem, novamente, decolaborar no processo dos censos. Tanto em 1813 como em 1814, elesnegligenciaram totalmente a atualização do número de nascimentos ocor-ridos. Com exatidão, eclesiásticos reportaram 7 nascimentos em 1817, 53em 1823, e 93 em 1832. No entanto, estes números eram relativos a umapopulação geral de 4.490, 6.256e 5.058 indivíduos, respectivamente. E nocaso dos óbitos o registro não era melhor. Em 1814, os padres registraramapenas 31 óbitos numa população com 4.947 indivíduos. Três anos depois,registraram apenas 81 óbitos ocorridos num total de 4.490 residentes. Em1830, os padres das paróquias registraram somente um óbito numa popu-lação com um total de 5.345 almas!46 É óbvio que se as estatísticas mais

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precisas de 1802-1812 não são de confiança, as dos anos subseqüentes osão menos ainda.

Para além disso, a falta de colaboração destes padres não era o únicoobstáculo que afetava o registro dos eventos civis. À semelhança de outrasinstituições que cuidavam dos doentes, na altura, o único hospital de Lu-anda era um lugar onde uma grande percentagem dos pacientes acabavapor morrer.47 Isto aplicava-se especialmente às tropas do governo que cons-tituíam o grosso da sua clientela, apesar do hospital ser, teoricamente, tam-bém responsável pela prestação de cuidados médicos a outro pessoal admi-nistrativo e civis.48 Mas as mortes ocorridas dentro desta instituição nãoeram registradas pelos padres das paróquias. Ao invés disso, o hospital eraobrigado a catalogá-las em um registro separado e a enviar este dado paraLisboa ao final de cada ano.49 Estes números, todavia, nunca eram acres-centados àqueles fornecidos pelos padres aos ouvidores para os censos. Comoresultado, os dados dos censos sobre mortalidade estavam muito abaixo dosnúmeros reais.

Os enumeradores também não conseguiam incluir a totalidade dapopulação urbana nas suas contagens. Os comentários apensos aos censos,realizados durante os últimos anos da década de 1790 e início da década de1800, afirmavam, especificamente, que enquanto poucos moradores (che-fes de família brancos) forneciam dados verdadeiros sobre as suas famílias,outros como os mulatos não sabiam a composição exata das mesmas.50 Nãoestá esclarecido o porquê dos chefes de família sonegarem informação aosenumeradores. A verdade é que no Brasil, na altura a colônia ultramarinaportuguesa mais importante, os habitantes também resistiam passivamen-te ao processo de enumeração. No seu ponto de vista, estas contagens leva-riam a futuras cobranças fiscais e a um aumento no recrutamento dos seusfilhos na impopular milícia.51 Uma vez que a prática dos censos foiimplementada no Brasil pelo governo central português por motivos fis-cais e militares semelhantes, é mais do que provável que os chefes de famí-lia em Luanda resistissem pelas mesmas razões. Assim, estas tentativas deenganar afetaram, provavelmente, a contagem dos homens mais do que adas mulheres. O que é certo é que a informação sonegada pela populaçãoenumerada produziu efeitos negativos sobre os censos.

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Três outros problemas adicionais prejudicaram o processo de realiza-ção do censo. Como visto anteriormente, os indivíduos responsáveis pelacoleta de dados de registros de passaporte classificou migrantes em apenasduas categorias, imigrantes e emigrantes, sem especificar se sua origem ouse destino era ultramarino ou o interior. Como resultado, movimentos in-ternacionais e da população interna não foram diferenciados, tornandoimpossível medir cada tipo de migração. Mais importante ainda, em ter-mos quantitativos, os números obtidos através de registros de passaporteomitiram completamente os milhares de escravos que — entra ano, sai ano— passaram através de Luanda vindos do interior para a exportação atra-vés do Atlântico.52 Em segundo lugar, apesar da máquina administrativaem Luanda ser suficientemente grande, os funcionários públicos careciamde formação na maioria dos empregos, incluindo o da realização dos cen-sos. Não deverá, por isso, constituir uma surpresa que muitas das opera-ções aritméticas de cada censo sejam defeituosas. Na realidade, existempoucos censos nos quais os subtotais fornecidos estejam de acordo com ostotais absolutos.53 E por último, mas não menos importante, embora ascategorias por cor encontradas nos censos fossem projetadas pelo governocentral de Lisboa para fornecer informações quantitativas específicas sobrecada um dos três grupos raciais que formavam a população, estes dados nãorelatam exclusivamente raça ou grupo étnico. Neste aspecto, até meadosdo século XIX, o fator biológico esteve sempre associado ao econômico noque dizia respeito à determinação do estatuto da cor. Como assinalado cor-retamente por Joseph Miller, “as mulheres designadas “brancas” no censode 1773 eram ... provavelmente as influentes filhas de famílias luso-africa-nas evidentes em suas raízes, cuja riqueza clareou sua aparência social e le-gal não menos que no Brasil, onde, como é bem conhecido, “dinheiroembranquece”.54 Lopes de Lima, em prosa similar, francamente reconhe-ceu em 1845 que “...negros, assim que lhes for permitido o uso de sapatos,serão considerados como brancos, especialmente se forem agentes do co-mércio...”.55 Ao longo do período considerado, Luanda foi uma sociedadefluida onde o dinheiro, não a biologia, determinava a cor do grupo ondecada um se encaixava.56 Como resultado, em vez de assegurar dados sobregrupos raciais distintos, o que o governo central de Lisboa realmente obte-ve foram informações quantitativas sobre classes socioeconômicas.

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As dificuldades à volta da produção de dados demográficos levaramos oficiais militares, responsáveis pela supervisão da sua compilação emrelatórios, a avisar constantemente o governo central português sobre aqualidade destes números. No seu ponto de vista, os números eram maisaproximados do que reais. António Jozé de Faria, por exemplo, informoucom toda a franqueza os seus superiores que:

“...este censo de 1807, extraído de informações arbitrariamente fornecidaspor cada indivíduo para as listas nominais, é mais o resultado de um cálculoprudente e aproximado do que de um infalível e exato problema...”.57

Isto significa que os censos de 1781-1844 de Luanda não podem serutilizados para reconstruir a sua história de população? Seria um anacro-nismo esperar que a administração colonial dos século XVIII e XIX asse-gurassem a coesão dos dados demográficos que eles estavam criando e dis-seminando. A harmonização dos registros das estatísticas vitais e de migra-ção com os dados de censo em residências, em particular, é um produto deséculo XX e não devia ser esperado de uma parte periférica de um império.Como o governador Fernando de Noronha com perspicácia assinalou em1805, estas fontes não eram menos valiosas do que os censos produzidosao mesmo tempo em Portugal, os quais eram também baseados em contasaproximadas.58

Na realidade, as subcontagens detectadas nos censos de Luanda nãoinvalidam, necessariamente, uma análise da dinâmica da sua população.Os resumos dos dados da Tabela III clarificam alguns dos problemas rela-cionados com o registro de acontecimentos demográficos. De fato, a rela-ção entre os censos dos domicílios, realizados pelos funcionários públicoscoloniais, e o registro das estatísticas vitais, feitos pelos padres nas suas pa-róquias, é muito contraditória.59 Como já vimos anteriormente, existe umaclara falta de registros de nascimentos e, especialmente, de óbitos, com aexclusão de grandes segmentos da população.60 Este problema não pareceter afetado as estatísticas do censo residencial, mais provavelmente devidoao processo exaustivo. Como acontece, em termos de análise demográfica,falhas nas taxas de cobertura de censos domésticos são menos significativasdo que nos registros civis e de migração. Além disso, estes materiais censi-

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tários rendem mais informações por causa do grande número de categoriasclassificatórias utilizado. Finalmente, no caso de uma série de censos cro-nologicamente tão abrangente quanto esta, o todo pode compensar os er-ros das partes se recorrermos à análise de tendências. Deste modo, nossainvestigação dependerá mais dos censos domiciliares — tendo em menteque as tendências são mais importantes que números individuais — e menosdos resumos de registros civis e migração, sem esquecer que por vezes estespoderão ser úteis para assinalar o impacto de epidemias, secas, e/ou crisesde abastecimento.

Grandes mudanças demográficas: uma avaliação

Os dados da série de censos entre 1781-1844 mostram que estavam aocorrer três grandes mudanças demográficas na sociedade de Luanda. Aprimeira é um declínio significativo no total da população e na maioria dosgrupos socioeconômicos que a constituíam, uma tendência particularmenteacentuada até aos finais da década de 1810, mostrando depois uma peque-na recuperação. A segunda, que esta importante descida era selectiva e afe-tava sobretudo os civis, sendo que as modificações mais intensas envolviamsobretudo os habitantes pretos e, em particular, as mulheres. E por último,que a população civil escrava, esmagadoramente preta, e em especial, asmulheres escravas, estava no centro destas transformações demográficas.

Ao longo do período considerado, como pode ser visto no Gráfico I,a tendência geral da evolução da população de Luanda era de declínio ab-soluto.61 Apesar das oscilações periodicamente significativas — como osdados da Tabela IV e do Gráfico I indicam —, os números totais de resi-dentes caiu de 9.755 para 5.605 entre 1781 e 1844. Traduzindo isto parauma taxa média anual de crescimento (neste caso de decréscimo) de –0,88%,esta foi uma redução demográfica importante. A descida mais importanteocorreu durante 1799-1817, com diminuições muito acentuadas em 1799(–19,96%), 1807 (–24,98%), e 1812 (–10,92%). O número de habitan-tes desceu de 8.013 para 6.414, entre 1798 e 1799, e de 8.243 para 6.184,durante 1806-1807, e de 6.051, em 1811, para 5.390 no ano seguinte. Apartir daí, um declínio constante veio substituir estas flutuações, tendo a

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população da capital colonial de Angola atingido o seu nível mais baixoem 1817, quando apenas 4.490 indivíduos foram contados pelosorganizadores dos censos. Neste período de trinta e seis anos assistiu-se àperda impressionante de 5.265 habitantes (54% do total do primeiro cen-so da nossa série), com uma taxa de crescimento anual de –2,13%. A se-guir a 1817, deu-se uma ligeira recuperação devido a um aumento da po-pulação em 1819 (26,05%), 1823 (2,44%), 1825 (7,35%), e 1831 (6,79%).Contudo, este crescimento demográfico foi até um certo ponto negado poruma outra descida durante os finais da década de 1820 (–5,49%, em 1826,e –6,66%, em 1829) e no início da década de 1830 (–3,54%, em 1830,e –11,39%, em 1832). Em conseqüência, entre 1817 e 1844, a populaçãode Luanda aumentou de apenas 4.490 para 5.605 indivíduos, ou a umataxa de crescimento anual de 0,82%. Sejam quais forem as opiniões que sepossa ter da qualidade geral dos dados, o declínio geral foi real, mostrandouma sociedade que tinha permanentes dificuldades em manter taxas de cres-cimento compatíveis com o desenvolvimento social.

Um exame rápido dos critérios de classificação mais importantes per-mite-nos isolar os grupos que estiveram mais sujeitos aos efeitos da flutua-ção por todo este período (Tabela IV). Se excluirmos os primeiros núme-ros disponíveis, os de 1796, que são muito baixos, indicando provavelmenteuma contagem defeituosa, a população administrativa sofreu, comparati-vamente, menores transformações. De fato, apesar de a tendência geral ser,também aqui, negativa, este grupo teve sempre, com algumas exceções(1798, 1805, 1823, 1829 e 1832), uma estabilidade relativa. Todavia, sãovisíveis também duas tendências de médio prazo. A primeira, abrangendoo período de 1797 a 1819, é de subida, com o número do pessoal adminis-trativo a aumentar de 1.033 para 1.385, isto é, a uma taxa anual de 1,34%.A segunda tendência, que vai de 1819 a 1844, é claramente de descida,com um declínio no pessoal administrativo a uma taxa de –2,12% por ano,de 1385 a 811. Cada uma destas tendências demográficas é radicalmentediferente, tanto do total como da população civil, como se verá a seguir. Acausa deste acontecimento no período de 1797-1819 permanece incerta.Mas na era pós-1822 a instabilidade que reinava tanto em Lisboa comoem Luanda, resultante da independência do Brasil, deverá, certamente, ter

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afetado o recrutamento de burocratas, soldados e eclesiásticos (Tabela V).Seja como for, o fato é que, entre 1797 e 1844, esta parte da populaçãodiminuiu apenas 0,51% por ano.

Diferentemente, a população civil sofreu transformações quantitati-vas mais significativas do que a população administrativa. A tendência delongo prazo aqui, à semelhança do total da população, foi de um declínioacentuado. Mas esta tendência também aparece aqui dividida em duas dis-tintas tendências a médio prazo. A primeira vai de 1797 a 1818, com onúmero de civis a descer consideravelmente de 6.890 para um mínimo his-tórico de 3.192. Isto foi um declínio enorme, de cerca de 54%, represen-tando uma taxa anual de –3,44%, que contrasta grandemente com a situa-ção vivida entre a população administrativa durante o mesmo período detempo. A segunda tendência de médio prazo, de 1818 a 1844, mostra umaumento da população civil, de 3.192 para 4.794, ou a uma taxa de 1,58%por ano. Mais uma vez esta tendência vai na direção oposta daquela encon-trada entre o pessoal administrativo. Contudo, esta pequena recuperaçãonão foi suficiente para compensar as perdas dramáticas ocorridas antes dosfinais da década de 1810. Na generalidade, a população civil diminuiu deum total de 6.890, em 1796, para 47.94, em 1844. Isto traduz-se numataxa de –0,75% por ano, uma percentagem muito superior à da populaçãoadministrativa. Uma vez que os civis, que constituíam o grosso da popula-ção de Luanda, sofreram mudanças quantitativas mais importantes que osadministrativos, é nas várias categorias do grupo dos civis que temos de nosconcentrar, de forma a compreendermos as transformações demográficasgerais que foram ocorrendo.

As perdas não afetaram, evidentementes, todos os setores da popula-ção civil de forma uniforme. O mais notável ocorreu dentro da populaçãofeminina (Tabela VI e Gráfico II), um grupo então excluído do censo civil.Aqui, também, a tendência global era de declínio absoluto. Mas, como nocaso dos outros grupos da população analisados até então, duas diferentestendências a médio prazo são também prontamente notadas. A primeira écaracterizada por uma queda descendente e abrupta, na qual as mulheresviram seu número cair nitidamente de 4.225 em 1796 para apenas 1.749vinte anos mais tarde (uma taxa de –4,31% ao ano). Isto era um declínio

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extremamente severo, particularmente intenso entre 1806 e 1816, cominterrupções ocorrendo apenas através de oscilações ascendentes temporá-rias durante 1803-1806 e 1811. Depois de 1816, por outro lado, iniciou-se um período de leve recuperação. Esta melhoria demográfica se tornourelativamente significativa após 1819, alcançando seu ponto alto em 1825,sendo então este processo totalmente interrompido. Deste modo, entre 1816e 1844, as mulheres viram seu número subir de 1.749 para 2.501. Tradu-zindo isto para um aumento de 1,28% ao ano, esta era uma taxa muitomodesta para compensar o declínio extremamente abrupto de 1796-1816.Como resultado, o número total de mulheres sofreu uma redução de 4.225para 2.501 (uma taxa anual de –1,09% entre 1796 e 1844).62 No caso dehomens civis, estas transformações demográficas não eram de igual signifi-cado quantitativo. Entre 1796 e 1818, este grupo da população civil redu-ziu-se de 2.665 para 1.391 indivíduos, ou seja, –2,91% ao ano, uma taxamais baixa que a feminina. Os 1.391 homens civis em 1818 então aumen-taram significativamente durante 1819-1825 e em 1844, e, após sofreremas violentas oscilações durante o fim da década de vinte e o início da déca-da de trinta do século XIX, totalizaram 2.293. Representando um aumen-to na ordem de 1,94% ao ano, isto era radicalmente diferente das tendên-cias a médio prazo vivenciadas pelas mulheres, o que permitiu que os ho-mens civis recuperassem a maioria das perdas de 1796-1818. Ao longo de1796-1844, então, as perdas quantitativas (2.665 para 2.293 indivíduos)sofridas por homens civis era de apenas –0,31% ao ano, uma taxa dois ter-ços mais baixa do que a das mulheres.

Como nem a população masculina civil nem a população administra-tiva tiveram perdas tão significativas como as da população feminina, arelação entre os gêneros foi grandemente alterada. Os dados anuais doscensos disponíveis, anteriores a 1800 (Tabela VI), apesar de escassos, mos-travam que, naquela altura, as mulheres constituíam mais de 50% do totalda população. Entre 1802 e 1818, por outro lado, elas tendiam a consti-tuir menos de metade da população, e, em alguns anos, significativamen-te, muito menos de metade (1807, 1810, e 1816). Dois fatores se conjuga-ram para produzir esta situação: o primeiro foi o declínio real do númeroabsoluto das mulheres até 1816, uma diminuição especialmente acentua-

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da depois de 1806; e o segundo foi, simultaneamente, a tendência de subidada população administrativa, particularmente a população militar, em con-junção com uma taxa de diminuição mais baixa entre os homens civis. Comovimos anteriormente, após o final da década de 1810, a população femini-na aumentou realmente. Contudo, isto não foi suficiente para compensarou ultrapassar a diferença entre a diminuição, pós-1818, no pessoal admi-nistrativo, e o aumento da população civil masculina. Conseqüentemente,a seguir à década de 1810, a razão de masculinidade da população totalapenas retomou uma espécie de equilíbrio (isto é, índice 100), mas não oseu padrão anterior.63 No geral, a subida dos militares,64 um abrandamen-to da taxa de diminuição da população civil masculina, e o decréscimo nonúmero de mulheres transformaram, a partir daí, Luanda de uma socieda-de dos finais do século XVIII, onde a presença das mulheres era muito sig-nificativa, numa sociedade pós-1800, onde o número de homens ultrapas-sava o número de mulheres. Isto provocou um impacto naquilo a que osdemógrafos chamam o mercado matrimonial, a razão de masculinidade paraa formação de casais.

De igual modo, no interior da população civil, nem todas as classessocioeconômicas definidas nos censos por cor sofreram o mesmo tipo detransformações demográficas.65 Como nos demonstram os dados apresenta-dos na Tabela VII para 1799-1832, a tendência geral dos grupos de civispretos, mulatos e brancos foi também de declínio. A taxa anual foi de–0,55% para os civis pretos, –1,08% para os brancos, e –1,23% para osmulatos. Porém, este esgotamento demográfico não se deu da mesma for-ma durante todos estes anos, nem em todos estes grupos. De um total de443 civis brancos e 797 mulatos em 1799, os números destes grupos subi-ram consideravelmente, durante o início da década de 1800, mas foramdiminuindo a uma taxa anual de –2,05% e –2,97%, respectivamente, paramínimos de 238 e 332, em 1829. Os dois grupos tiveram, então, uma pe-quena recuperação demográfica, tendo o número de brancos atingido os309 e os mulatos chegado aos 530, em 1832, o que se traduz em taxas anuaisde crescimento elevadas, na ordem dos 9,09% e 18,07%, respectivamente.No caso dos civis pretos, foram contados 3.902 indivíduos, em 1799, masestes diminuíram a uma taxa de –2,60% por ano, até 1818, altura em que

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os organizadores dos censos contaram um mínimo histórico de 2.365. Apartir daí, este grupo teve quase uma década de total recuperação, com au-mentos particularmente significativos em 1819, 1823, e 1825, antes deiniciar uma curta queda até 1832, quando foram enumerados 3.254 civispretos. Entre 1818 e 1832, o seu número aumentou a uma taxa de 2,30%por ano. Abrangendo um período de catorze anos, isto permitiu aos civispretos recuperarem parte das perdas obtidas de 1799 a 1818. Por contras-te, as muito mais elevadas taxas de crescimento de 1829-1832, nos gruposbranco e mulato não-administrativos, ocorreram dentro de um período de-masiado curto para serem quantitativamente significativas. Estas mudan-ças demográficas divergentes, por seu lado, tiveram um impacto direto nacomposição da população civil, e, dada a preponderância geral deste gru-po, no total da população. Do total da população não-administrativa entre1799-1818, os civis brancos eram aproximadamente 10%, os mulatos 16%,e os pretos 74%. Mas de 1819 a 1832, a proporção de civis brancos e mulatoscaiu para 8% e 11%, respectivamente, enquanto a de civis pretos subiu para81%. O ano de 1819 representa, desta forma, um ponto de viragem nacomposição socioeconômica da sociedade de Luanda, com a população atornar-se cada vez mais pobre e, provavelmente, mais preta que antes.

De todas as mutações demográficas ocorridas em Luanda, a mais dra-mática aconteceu dentro do grupo de habitantes escravizados, onde a grandemaioria era negra e exclusivamente encontrada na população civil.66 Comoos dados da Tabela VIII demonstram, o número de escravos reduziu-se deum total de 5.583 em 1781, a mais alta em nossa série, para apenas 2.749em 1844, o que representa uma taxa anual de crescimento na ordem de–1,12%. Mas, uma vez mais, esta tendência geral pode ser dividida em duassubtendências com características distintas. No primeira tendência a mé-dio prazo, a população de 1.781 escravos reduziu-se rapidamente a umataxa de –3,31% até que alcançou 1.604 indivíduos em 1818. Deste míni-mo histórico, a população escrava subiu, substancialmente, durante 1819-1826, antes de começar a diminuir para um total de 2.749 escravos conta-dos pelos censos em 1844, o que se traduz numa taxa anual de crescimentode 2,09%. Para fins de comparação, a população livre durante 1781-1844decaiu a uma taxa anual de apenas –0,6%, sendo que com uma taxa de

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–0,98% ao ano no período de 1781-1818 (4.172 a 2.902 indivíduos) ecom uma taxa de –0,06% ao ano no período 1818-1844 (2.902 a 2.856pessoas). No geral, o declínio evidenciado no grupamento dos escravos(–2.834 indivíduos) foi ligeiramente mais que o dobro do que foi encon-trado no grupo de pessoas livres (–1.316 pessoas). Mas, devido à taxa decrescimento pós-1818, o número de escravos disparou em relação ao nú-mero de pessoas livres, sendo que os escravizados viram sua representaçãono segmento civil subir cerca de 57% para 66,5% e na população total irde aproximadamente 46% para 55,5%. Em resumo, não só as mais signi-ficativas flutuações quantitativas aconteceram no meio dos escravos, comotambém sua recuperação demográfica pós-1818 tornou a escravidão emLuanda uma instituição ainda mais importante.

No interior da população escrava, as mulheres, que se encontravamapenas nos grupos de mulatos e, em especial, pretos civis, sofreram maistransformações demográficas do que os homens. O número total de mu-lheres escravas caiu para mais de metade, de 3.419, em 1781, para 1.667,em 1844, isto é, a uma taxa anual de –1,13%. Só até 1818, quando o seunúmero atingiu um mínimo histórico de apenas 768, o decréscimo entreas mulheres escravas tinha sido extremamente acentuado, com uma taxade –3,96% por ano. Pouco mais de três quartos da população escrava fe-minina desapareceram durante este período de trinta e sete anos, com que-das particularmente significativas a ocorrerem durante 1781-1802, e, no-vamente, entre 1806 e 1818. É verdade que o número de mulheres escra-vas subiu consideravelmente durante 1819-1826, mas a isto seguiu-se umoutro período de declínio até atingir, por fim, as 1.667, em 1844. A taxade crescimento em 1818-1844 foi, contudo, muito positiva com 3,03%por ano. Diferentemente, o número de escravos masculinos diminuiu de2.164, em 1781, para 1.082, em 1844, o que representa uma taxa de cres-cimento de –1,09% por ano. Divididas em períodos de médio prazo, astaxas anuais de crescimento dos escravos masculinos traduziram-se em–2,54%, para 1781-1818, e 1,00% para 1818-1844. Em cada um dos ca-sos, estas percentagens eram muito mais baixas do que as das mulheres es-cravas durante os mesmos períodos de médio prazo. Conseqüentemente, onúmero de mulheres escravas perdeu inicialmente terreno vis-à-vis o total

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da população civil, recuperando depois desta perda. Entre 1799 e 1806, asmulheres escravas constituíam cerca de um terço da população civil. Estaproporção baixou para um quarto durante o período de 1807-1818. Desteponto baixo, a percentagem de mulheres escravas no interior da populaçãocivil flutuou, daí em diante, entre o um terço original e picos de 42%, em1825, e 44%, em 1829.

Para uma explicação das perdas populacionais de Luanda

Entre 1781 e 1844, a população de Luanda sofreu perdas significati-vas, sendo os civis pretos e as mulheres, e em especial, as mulheres escravas,os grupos mais afetados. Que fatores justificam este declínio demográfico?

Vários estudiosos do passado angolano afirmam que o Centro-Oesteera uma região propensa a secas periódicas e a suas conseqüências: fome,doença e, em última instância, morte.67 Ao longo da maioria do períodoem consideração, Luanda não era nenhuma exceção. Entre o início da dé-cada de oitenta do século XVIII e meados da década de quarenta do séculoXIX, como a Tabela IX demonstra, este centro urbano costeiro vivenciousignificativos períodos de seca, fome e/ou doença. A freqüência destas con-dições era particularmente intensa até o fim da primeira década do séculoXIX, ocorrendo problemas graves quase incessantemente durante 1782-1794, 1799-1803, 1805, 1807-1808, 1811 e 1814-1817. Depois disso, ocapital colonial de Angola entrou em um relativamente longo período derepouso, com casos intermitentes de seca, fome e/ou doença reportadosapenas em 1822, 1825-1826, 1835, 1838 e 1841. Sempre que estas con-dições prevaleciam, tal como os governadores da Angola e outros adminis-tradores coloniais repetidamente lembravam a seus superiores em Lisboa,a mortalidade aumentava substancialmente.68 A partir das estatísticas vi-tais encontradas nos censos, é impossível estabelecer uma correlação rígidaentre as informações qualitativas e os dados quantitativos sobre óbitos.69

Os censos, tal como nos mostra a Tabela III, só registram taxas elevadas demortalidade para 1812, sugerindo que a epidemia de varíola de 1811, comos seus efeitos mortais, se refletiu no ano seguinte, e para 1825, um outroano de seca e fome em Luanda. Não obstante, existe pouca razão para acre-ditar que um estreito vínculo não existia entre os desastres que golpearam

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a capital da colônia e as flutuações de sua população. Basta lembrarmos quea alta diminuição demográfica (2.059 pessoas) sofrida pela população deLuanda, durante 1806-1807, foi atribuída por António Jozé de Faria qua-se exclusivamente à epidemia de varíola que na altura atingiu a cidade. Ofrágil ambiente epidemiológico da capital angolana teve seguramente umimpacto no número da sua população, apesar de ser difícil medir a relaçãocausal.

Um segundo fator pode ser encontrado numa das características maisimportantes desta população. Luanda era uma sociedade escravocrata.Como tal, era sempre assolada com fugas de escravos, com os cativos a ten-tarem, continuamente, obter a sua liberdade através da fuga para regiõesvizinhas (sob o controle ou de sociedades de escravos fugidos, ou de chefesafricanos), ou para o seu lugar de origem bem no interior da África centralocidental. Embora não contabilizado, de acordo com fontes contemporâ-neas, o número destes fugitivos era significativo.70 Conseqüentemente, afuga de escravos deve ter desempenhado um papel relativamente impor-tante na redução da população cativa desta cidade portuária.

Uma terceira e quantitativamente mais significativa causa era prova-velmente o comércio de escravos no Atlântico. De 1780 até 1830, Luandapermaneceu como o mais importante exportador do centro-oeste africanode escravos para as Américas, especialmente para seus portos irmãos brasi-leiros.71 Embora esta função comercial tenha diminuído após a aboliçãodo tráfico ao sul do Equador em 1830, um grande número de escravoscontinuou a ser exportado ilegalmente da capital colonial de Angola para oBrasil.72 Conseqüentemente, não só esta cidade portuária possuía umapopulação permanente, mas também recebia milhares e milhares de cati-vos provenientes das regiões do interior produtoras de escravos para remessasatravés do Atlântico (Gráfico VI). Se a demanda de cativos do Atlânticoera baixa, o fluxo anual de milhares de escravos entrando em Luanda nemsempre achava uma pronta saída de mercado no Brasil. Isto fez com que osexportadores de escravo retivessem os cativos não desejados que chegavamdo interior como parte de sua própria população de escravos permanente.Ao contrário, quando a demanda do Atlântico por novos escravos era par-ticularmente alta, um atraso de um a dois anos era exigido para que os pro-

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dutores no interior da capital colonial de Angola pudessem produzir asquantidades necessárias de cativos. A fim de atender à demanda crescente,a única alternativa que restava aos exportadores de escravos para proverrapidamente o número exigido de cativos era utilizar sua própria popula-ção de escravos permanente.73 Deste modo, após o súbito lucro gerado peladescoberta de ouro e diamantes em Minas Gerais (1695-1750), a deman-da brasileira por escravos da capital colonial de Angola caiu vertiginosa-mente durante a década de sessenta do século XVIII para uma média anualde 8.304, caindo novamente para uma média de 7.574 por ano durante adécada seguinte.74 A muito reduzida procura de novo trabalho escravo peloBrasil, os exportadores de escravos em Luanda responderam retendo oscativos em excesso produzidos no interior e os incorporando em sua pró-pria população de escravos permanente. Não surpreendentemente, os pri-meiros dos censos de Luanda indicam a população de escravos anual maisalta (5.583) de todo período consideração.

Depois do início da penúltima década do século XVIII, as plantaçõesbrasileiras começaram se recuperar lentamente, gerando um aumento nademanda de novo trabalho escravo.75 Deste modo, a exportação de escra-vos de Luanda aumentou de acordo com uma média de 9.463 na décadade oitenta do século XIX e então aumentou novamente para uma médiaanual de 10.260 na década seguinte. Em contraste, por volta de 1797-1799,apenas uma média de 3.988 escravos permaneciam na população de capi-tal colonial de Angola. Durante a primeira década do século XIX, as ex-portações de escravos aumentaram ainda mais para um média de 12.300por ano para atender à continuamente crescente demanda brasileira portrabalho escravo. A população escrava de Luanda, por outro lado, reduziu-se para uma média anual de 3.374 indivíduos de 1802 até 1807. Já que arelação entre as intensas demandas brasileiras por escravos e a utilização dapopulação cativa permanente dos exportadores de escravos de Luanda ain-da permanece em dúvida, é apenas necessário prestar atenção ao fato deque durante a primeira década do século XIX, particularmente após a abo-lição da escravidão ao norte do Equador em 1815, a demanda brasileirapor operários escravizados atingiu ápices ainda maiores, tal como as mé-dias anuais de 13.292 cativos que foram embarcados a partir desta cidade

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portuária. O número médio de escravos que vivia em Luanda, em contras-te, atingiu o seu valor mais baixo (uns escassos 2.145) precisamente duran-te este período.

Apesar da exportação de escravos ter permanecido elevada durante oinício da década de vinte do século XIX, com uma média anual de 18.387embarques, a demanda por cativos na capital colonial de Angola subita-mente sofreu outra baixa. Após a Declaração de Independência do Brasilem 1822, os então comerciantes de escravos estrangeiros no Brasil perde-ram os privilégios de taxas de importação-exportação que desfrutavam entreos nacionais portugueses, forçando-os a seguir para portos livres de impos-tos ao norte de Luanda. De 1823 até 1825, apenas uma média de 11.765escravos foram anualmente exportados a partir deste centro urbano costei-ro. Como resultado, os exportadores de escravos retinham os cativos nãocomercializados produzidos no interior como parte de seus próprios escra-vos permanentes. Conseqüentemente, não deveria ser surpresa que a se-gunda mais alta população total de escravos (4.178) tenha sido registradano censo de 1825.

O número de escravos exportados de Luanda continuou a decrescerao longo do fim da década de 1820. De 1826 até 1830, estes atingiramuma média ligeiramente mais baixa que 11.647. Porém, porque a deman-da brasileira havia se direcionado para portos isentos de impostos ao norte,muitos dos cativos produzidos no interior foram então redirecionados paralonge da capital colonial de Angola. Sem um fluxo anual de escravos tãogrande, a população escrava de Luanda sofreu assim um outro declínio sig-nificativo, com uma média de 2.842 por ano, durante 1829-1832.

O comércio de escravos no Atlântico negociados ao sul do Equadorfoi finalmente abolido em 1830. Todavia, um tráfico ilegal rapidamentesurgiu em seu lugar. Embora muitos dos cativos produzidos anualmenteno interior ainda chegassem em Luanda a fim de suprir o comércio de con-trabando, a maioria continuava a ser exportada ao norte a bordo de naviosnegreiros. Como resultado, as condições prevalecentes no fim da décadade 1820 persistiram ao longo das duas décadas subseqüentes. No ano de1844, a população escrava permanente de Luanda tinha diminuído para2.749.

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Torna-se claro, então, que os requisitos brasileiros para novos cativostiveram um profundo impacto no fluxo e refluxo da população escrava deLuanda. Neste caso, ao invés do que ocorria devido a desastres naturais ouepidemiológicos, é possível visualizar o entrelaçamento de relações causais— Gráfico VI. Pode-se identificar claramente os anos nos quais mudançasno volume de exportações de escravos tiveram um impacto primeiramentenas estimativas de população total e secundariamente sobre os valores dapopulação de escravos de Luanda.

Será que a especificação de gênero desta demanda sofreu mudançasentre 1781 e 1844, deste modo afetando as perdas particularmente signifi-cativas que ocorreram entre as mulheres escravas? A evidência é, nitidamente,circunstancial. Contudo, existem indicações que atestam esta relação.

Os censos existentes indicam que a relação entre gêneros da popula-ção escravizada sofreu mudanças profundas durante o período em consi-deração. De uma razão média de 80,1 durante 1781-1807, o número dehomens versus mulheres cativas subiu significativamente para 118,8 noinício do século XIX, antes de decrescer para 91,1 no período de 1823 até1844. Vale a pena ressaltar que a década de 1820 apresentou as mais altasdemandas brasileiras por novos cativos. Esta demanda elevada era o resul-tado de dois desenvolvimentos importantes.

O primeiro ocorreu em 1808, quando a corte portuguesa, como tam-bém grande parte da nobreza, burocracia e comerciantes ricos (cerca de4.000 apenas na primeira frota), fugiram dos exércitos de Napoleão eaportaram no Rio de Janeiro, o mais importante destino brasileiro paraescravos exportados de Luanda. Estes, porém, não eram imigrante comuns.Eles vieram dos mais altos escalões da sociedade portuguesa e não tinhamo costume de realizar trabalhos manuais. Deste modo, foram rapidamenteutilizados escravos, particularmente mulheres, para o trabalho doméstico.76

Isto por sua vez levou os comerciantes do Rio de Janeiro a retirar mais ca-tivos de Luanda, que tinha o seu próprio reservatório de escravas, com expe-riência em vários ofícios e acostumadas à vida numa colônia urbana portu-guesa.77 O segundo desenvolvimento aconteceu em 1815, quando foi abo-lido o comércio escravo no norte do Equador. Os comerciantes do Rio deJaneiro depararam-se então com a incerteza no fornecimento de escravos

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da África ocidental. Mais uma vez voltaram-se, cada vez mais, para Luan-da, mantendo uma procura elevada de mulheres, sentindo talvez que o co-mércio escravo a sul do Equador estava também em perigo.

Conclusão

O desejo de estabelecer uma forma de controle fiscal e militar sobre assuas colônias trouxe Portugal para a era das estatísticas. As decisões toma-das pelas autoridades coloniais portuguesas, desde o final do século XVIIIaté meados do século XIX, produziram um importante conjunto de dadosdemográficos como raramente é encontrado na história de África. A par-cialidade encontrada nos dados dos censos não conseguiu reduzir a signifi-cativa importância total das estatísticas dos domicílios produzidas pelaadministração colonial. O conjunto de censos de Luanda, entre 1781 e1844, quando examinados como uma série através de uma minuciosa aná-lise interna completada pelo recurso à análise de tendência, permanece umafonte preciosa de dados relativos a transformações demográficas ocorridasnesta cidade portuária. Os dados valiosos sobre as categorias sociais acres-centados aos dados do comércio escravo permitem-nos compreender me-lhor esta sociedade escravocrata.

Os dados nos permitem compreender melhor o entrelaçamento dasrelações causais entre a principal atividade econômica deste porto exporta-dor de escravos e as mutações em seu tecido social. Existe claramente umvínculo entre a população de escravos (homens e mulheres) e o fluxo e re-fluxo do número de escravos exportados. Isto pode também ter ocasiona-do um impacto em outros grupos, como os mulatos. O significado sócio-demográfico de tudo isto é muito abrangente. Em primeiro lugar, levantamuitas questões relativas aos meios de controle social de uma sociedade capazde exportar, por ano, um número de escravos superior ao da sua popula-ção. Podemos colocar a hipótese de que o poder da estrutura social de Lu-anda está intimamente relacionado com a continuação do comércio escra-vo mas que podem ter ocorrido modificações importantes quando as con-dições econômicas se alteraram. Em segundo lugar, tudo aponta para umarelação próxima entre a sociedade exportadora (Luanda) e o seu mercadoprincipal (Rio de Janeiro) no Brasil. Podemos compreender melhor agora

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que esta proximidade estruturou as duas sociedades e redesenhou a confi-guração social das mesmas, à medida que as flutuações no comércio modi-ficaram as suas composições sexuais e raciais.

De 1781 a 1844, a população de Luanda não esteve apenas em declínioabsoluto, como também sofreu perdas catastróficas. A maior parte destasperdas deram-se entre os civis, em especial entre os escravos pretos, e maisem precisamente ainda, entre as mulheres escravas. Esta situação pode serexplicada pelo fato de que o número de óbitos registrados representa umasubcontagem, e de que um número relativamente grande de cativos fugiuda sua vida de escravatura em Luanda. Porém, estes fatores não justificam,por si sós, o declínio. A principal razão pela qual um grande número depessoas, especialmente de escravas pretas, simplesmente desapareceu doscensos de Luanda deve ser procurada noutro sítio. Como explicamos ante-riormente, a causa principal foi uma crescente procura brasileira por novostrabalhadores escravos, em especial mulheres escravas com experiência,necessárias para o trabalho doméstico no Rio de Janeiro. Resumindo, oscensos de Luanda mostram uma história demográfica que estava depen-dente do que se passava no Rio de Janeiro: isto é, o impacto do comércioescravo atlântico não foi unidirecional (os escravos a serem exportados àforça para o Brasil), mas atingiu simultaneamente a sociedade exportadorae a sociedade importadora de escravos. Os dois lados deste coeso ambienteeconômico sul-atlântico estavam organicamente interligados.

Tabela I. Censos disponíveis no AHU sobreLuanda, 1773-1844

ANO DATA DE COMPILADOR LOCALIZAÇÃO

COMPILAÇÃO (AHU, Angola)

1773[a] 03 Março 1773 n.d. Cx. 57 - Doc. 341781 1781 Jozé de Silva Rego Cx. 64 - Doc. 631796 31 Janeiro 1797 Jozé de A. Castelo Branco Cx. 86 - Doc. 61797 06 Janeiro 1798 Ibid Cx. 91 - Doc. 411798 04 Janeiro 1799 Ibid Cx. 91 - Doc. 41

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1799 01 Janeiro 1800 Ibid Cx. 94 - Doc. 1

1802 01 Janeiro 1803 António Jozé de Faria Cx. 105 - Doc. 441803 15 Janeiro 1804 Ibid Cx. 105 - Doc. 44

1804 15 Janeiro 1805 Ibid Cx. 112 - Doc. 47

1805 01 Março 1806 Ibid Cx. 117 - Doc. 27

1806 15 Março 1807 Ibid Cx. 118 - Doc. 21

1807 15 Janeiro 1808 Ibid Cx. 119 - Doc. 6

1810 15 Janeiro 1811 Ricardo da Silva Rego Cx. 122 - Doc. 1

1811 15 Janeiro 1812 Ibid Cx. 124 - Doc. 9

1812 15 Janeiro 1813 Ibid Cx. 127 - Doc. 1

1813 15 Janeiro 1814 Ibid Cx. 128 - Doc. 26

1814 15 Janeiro 1815 Ibid Cx. 130 - Doc. 30

1815 15 Janeiro 1816 Ibid Cx. 131 - Doc. 14

1816 15 Janeiro 1817 Joaquim A. de Oliveira Cx. 132 - Doc. 32

1817 10 Janeiro 1818 Ibid Cx. 134 - Doc. 37

1818 01 Janeiro 1819 Ibid Cx. 136 - Doc. 19

1819 Janeiro 1820 Ibid Cx. 138 - Doc. 3

1823 Janeiro 1824 Manuel do N. Pereira Cx. 144 - Doc. 9

1825 Janeiro 1826 Joaquim A. de Oliveira Cx. 151 - Doc. 84

1826[b] 20 Julho 1827 n.d. Cx. 156 - Doc. 16

1828[c] n.d.

1829 Janeiro 1830 António D. da Silva Cx. 167 - Doc. 33

1830 Janeiro 1831 Ibid Cx. 170 - Doc. 1

1831 27 Fevereiro 1832 Ibid Cx. 174 - Doc. 21

1832 Janeiro 1833 João A. de Moraies Faião Cx. 176 - Doc. 17

1844[d] n.d.

[a] Censo parcial.[b] Apenas disponível o resumo.[c] Número total de habitantes por gênero e condição social em Jean Baptiste Douville,Voyage au Congo et dans l’intérieur de l’Afrique équinoxale...1828, 1829, 1830 (Paris,1832) vol. 1, 9 e 258.[d] Apenas disponível o resumo em José Lopes de Lima, Ensaios Sobre a Statistica dasPossessões Portuguezas (Lisboa, 1846) vol. 3, parte 1, 4-A.

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1 1 2 • T O P O I

Tabela II. Tabela Tópico dos Censos deLuanda, 1781-1844

1797 1799 1826ANO(S) 1781 1796 - - &

1798 1832 1844

Sexo X X X X XGrupos etários alargados XCor X X X X XCivis X X XNão-civis X X XNascimentos X X XCasamentos XÓbitos X X XCondição social X X X X XEstado marital XDomicílios X X X XProfissões XImigrantes X XEmigrantes X X

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1781

9755

584

182

402

– –

– –

– –

1782

-179

5 –

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– –

– –

– –

– –

1796

7204

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– –

– –

– –

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1797

7976

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116

340

867

184

-117

291

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1798

8013

245

184

6145

123

-78

-17

* *

*

1799

6414

127

143

-16

266

109

157

141

8154

-174

0-2

7.1

1800

-180

1 –

– –

– –

– –

– –

– –

1802

6925

551

132

419

491

392

9951

8 –

– –

1803

6907

574

138

436

276

8319

362

975

54-6

47-9

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1804

6939

635

140

495

326

8923

773

276

39-7

00-1

0.1

1805

8112

611

202

409

435

6736

877

777

1639

64.

9

1806

8243

547

220

327

449

228

221

548

8660

-417

-5.1

1807

6184

655

128

527

369

200

169

696

8939

-275

5-4

4.6

1808

-180

9 –

– –

– –

– –

– –

– –

1810

5908

727

5667

130

317

812

579

6 –

– –

1811

6051

400

101

299

519

604

-85

214

6122

-71

-1.2

1812

5390

683

1522

-839

1102

228

874

3560

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781-

1844

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1351

40 –

259

–29

226

428

– –

– –

1814

4947

–31

–29

338

2-8

9 –

– –

1815

4648

3217

5-1

4387

208

-121

-264

– –

1816

4689

8411

2-2

817

172

9971

4719

-30

-0.6

1817

4490

781

-74

214

5915

581

4770

-280

-6.2

1818

4506

1283

-71

209

5515

483

4573

-67

-1.5

1819

5680

404

371

3346

111

734

437

748

8379

714

.0

1820

-182

2 –

– –

– –

– –

– –

– –

1823

6256

5310

4-5

176

930

646

341

2 –

– –

1824

– –

– –

– –

– –

– –

1825

7209

5349

8-4

4586

575

710

8-3

37 –

– –

1826

6813

– –

– –

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– –

– –

1827

-182

8 –

– –

– –

– –

– –

– –

1829

5541

223

195

2831

777

6-4

59-4

31 –

– –

1830

5345

151

1415

9793

965

867

262

13-8

68-1

6.2

1831

5708

213

177

3670

418

152

355

959

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96-3

.4

1832

5058

9311

9-2

656

281

8-2

56-2

8254

26-3

68-7

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1833

-184

3 –

– –

– –

– –

– –

– –

1844

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– –

– –

– –

– –

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Tabela IV. População Civil e Pessoal Administrativo:Luanda, 1781-1844

ANO POPULAÇÃO TAXAS PESSOAL TAXAS CIVIS TAXAS

DE FINAL ANUAIS DE ADMINIS- ANUAIS DE ANUAIS DE

DE ANO CRESCI- TRATIVO CRESCI- CRESCI-MENTO MENTO MENTO

% % %

1781 9755 – – – – –1782-1795 – – – – – –

1796 7204 -2.00 314 – 6890 –1797 7976 10.72 1033 228.98 6943 0.771798 8013 0.46 1406 36.11 6607 -4.841799 6414 -19.96 1272 -9.53 5142 -22.17

1800-1801 – – – – – –1802 6925 2.59 1223 -1.30 5702 3.511803 6907 -0.26 1237 1.14 5670 -0.561804 6939 0.46 1227 -0.81 5712 0.741805 8112 16.90 1052 -14.26 7060 23.601806 8243 1.61 1265 20.25 6978 -1.161807 6184 -24.98 1367 8.06 4817 -30.97

1808-1809 – – – – – –1810 5908 -1.51 1363 -0.10 4545 -1.921811 6051 2.42 1325 -2.79 4726 3.981812 5390 -10.92 1312 -0.98 4078 -13.711813 5140 -4.64 1293 -1.45 3847 -5.661814 4947 -3.75 1281 -0.93 3666 -4.701815 4648 -6.04 1278 -0.23 3370 -8.071816 4689 0.88 1338 4.69 3351 -0.561817 4490 -4.24 1291 -3.51 3199 -4.541818 4506 0.36 1314 1.78 3192 -0.221819 5680 26.05 1385 5.40 4295 34.56

1820-1822 – – – – – –

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1 1 6 • T O P O I

1823 6256 2.44 1075 -6.14 5181 4.80

1824 – – – – – –

1825 7209 7.35 1542 19.77 5667 4.59

1826 6813 -5.49 – – – –

1827-1828 – – – – – –

1829 5541 -6.66 980 -10.71 4561 -5.28

1830 5345 -3.54 1038 5.92 4307 -5.57

1831 5708 6.79 1066 2.70 4642 7.78

1832 5058 -11.39 965 -9.47 4093 -11.83

1833-1843 – – – – – –

1844* 5605 0.86 811 -1.44 4794 1.33

Taxas1781-1844: -0.88Taxas

1796-1844: -0.52 2.00 -0.75

NOTAS:– = Não disponível

* = Censo incompleto: 811 pessoas administrativas incluem apenas os militares

Tabela V. Pessoal Administrativo dividido pelasCategorias dos Censos: Luanda, 1796-1844

ANO MILITARES % DO TOTAL ECLESIÁSTICOS FUNCIONÁRIOS TOTAL

PÚBLICOS

1796 240 76.4 44 30 314

1797 931 90.1 52 50 1033

1798 1302 92.6 48 56 1406

1799 1154 90.7 37 81 1272

1800-1801 – – – – –

1802 1099 89.9 38 86 1223

1803 1111 89.8 32 94 1237

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A D I N Â M I C A D E M O G R Á F I C A D E L U A N D A • 1 1 7

1804 1118 91.1 27 82 1227

1805 927 88.1 44 81 1052

1806 1155 91.3 45 65 1265

1807 1238 90.6 50 79 1367

1808-1809 – – – – –

1810 1251 91.8 36 76 1363

1811 1206 91.0 43 76 1325

1812 1185 90.3 47 80 1312

1813 1167 90.3 45 81 1293

1814 1157 90.3 46 78 1281

1815 1153 90.2 40 85 1278

1816 1210 90.4 43 85 1338

1817 1168 90.5 40 83 1291

1818 1182 90.0 47 85 1314

1819 1268 91.6 33 84 1385

1820-1822 – – – – –

1823 948 88.2 42 85 1075

1824 – – – – –

1825 1419 92.0 46 77 1542

1826 – – – – –

1827-1828 – – – – –

1829 894 91.2 23 63 980

1830 948 91.3 24 66 1038

1831 973 91.3 27 66 1066

1832 875 90.7 20 70 965

1833-1843 – – – – –

1844 811 – – – –

NOTA: – = Não disponível

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1 1 8 • T O P O I

Tabela VI. População de Luanda por Género, 1781-1844

PESSOAL

TOTAL DA POPULAÇÃO CIVIS ADMINIS-ANO TRATIVO

HOMENS MULHERES RAZÃO DE HOMENS MULHERES RAZÃO DE HOMENS**MASCULI- MASCULI-

NIDADE* NIDADE*

1781 4108 5647 72.7 – – – –1782-1795 – – – – – – –

1796 2979 4225 70.5 2665 4225 63.1 3141797 3558 4418 80.5 2525 4418 57.2 10331798 3620 4393 82.4 2214 4393 50.4 14061799 2912 3502 83.2 1640 3502 46.8 1272

1800-1801 – – – – – – –1802 3785 3140 120.5 2562 3140 81.6 12231803 3530 3377 104.5 2293 3377 67.9 12371804 3539 3400 104.1 2312 3400 68.0 12271805 4334 3778 114.7 3282 3778 86.9 10521806 4612 3631 127.0 3347 3631 92.2 12651807 3975 2209 179.9 2608 2209 118.1 1367

1808-1809 – – – – – – –1810 4140 1768 234.2 2777 1768 157.1 13631811 3544 2507 141.4 2219 2507 88.5 13251812 3064 2326 131.7 1752 2326 75.3 13121813 2981 2159 138.1 1688 2159 78.2 12931814 2983 1964 151.9 1702 1964 86.7 12811815 2780 1868 148.8 1502 1868 80.4 12781816 2940 1749 168.1 1602 1749 91.6 13381817 2682 1808 148.3 1391 1808 76.9 12911818 2705 1801 150.2 1391 1801 77.2 13141819 3560 2120 167.9 2175 2120 102.6 1385

1820-1821 – – – – – – –1823 3650 2606 140.1 2575 2606 98.8 1075

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A D I N Â M I C A D E M O G R Á F I C A D E L U A N D A • 1 1 9

1824 – – – – – – –1825 3985 3224 123.6 2443 3224 75.8 15421826 3631 3182 114.1 – –

1827-1828 – – – – – – –1829 2525 3016 83.7 1545 3016 51.2 9801830 3153 2192 143.8 2115 2192 96.5 10381831 3419 2289 149.4 2353 2289 102.8 10661832 2732 2326 117.5 1767 2326 76.0 965

1833-1843 – – – – – – –1844 3104 2501 124.1 2293 2501 91.7 811

NOTAS:– = Não disponível* = Número de homens por 100 mulheres

** = Não há indicação nos censos da presença de mulheres na categoria de pessoal administrativo

Tabela VII. População Civil por Cor: Luanda, 1799-1832

ANO POPULAÇÃO BRANCOS % MULATOS % PRETOS % MULATOS

CIVIL E PRETOS

%

1799 5142 443 8.6 797 15.5 3902 75.9 91.41800-1801 –

1802 5702 710 12.5 1060 18.6 3932 69.0 87.51803 5670 512 9.0 1009 17.8 4149 73.2 91.01804 5712 521 9.1 1022 17.9 4169 73.0 90.91805 7060 660 9.3 1244 17.6 5156 73.0 90.71806 6978 661 9.5 1285 18.4 5032 72.1 90.51807 4817 487 10.1 869 18.0 3461 71.8 89.9

1808-1809 –1810 4545 406 8.9 1150 25.3 2989 65.8 91.11811 4726 444 9.4 656 13.9 3626 76.7 90.61812 4078 363 8.9 575 14.1 3140 77.0 91.11813 3847 382 9.9 474 12.3 2991 77.7 90.1

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1 2 0 • T O P O I

1814 3666 347 9.5 469 12.8 2850 77.7 90.51815 3370 376 11.2 379 11.2 2615 77.6 88.81816 3351 361 10.8 388 11.6 2602 77.6 89.21817 3199 355 11.1 472 14.8 2372 74.1 88.91818 3192 355 11.1 472 14.8 2365 74.1 88.91819 4295 443 10.3 438 10.2 3414 79.5 89.7

1820-1822 –1823 5181 348 6.7 473 9.1 4360 84.2 93.31824 –1825 5667 372 6.6 604 10.7 4691 82.8 93.4

1826-1828 –1829 4561 238 5.2 332 7.3 3991 87.5 94.81830 4307 403 9.4 658 15.3 3246 75.4 90.61831 4642 504 10.9 564 12.1 3574 77.0 89.11832 4093 309 7.5 530 12.9 3254 79.5 92.5

NOTA:

– = Não disponível

Tabela VIII. População Civil e População Escrava:Luanda, 1781-1844

ANO LIVRES POPULAÇÃO ESCRAVOS POPULAÇÃO POPULAÇÃO

LIVRE COMO HOMENS MULHERES TOTAL ESCRAVA ESCRAVA

% DO TOTAL COMO % DO COMO %

DA POPULAÇÃO TOTAL DA DOS CIVIS

POPULAÇÃO

1781 4172 42.8 2164 3419 5583 57.2 –1782-1795 – – – – – – –

1796 2783 38.6 – – 4421 61.4 64.21797 3637 45.6 – – 4339 54.4 62.81798 3651 45.6 – – 4362 54.4 66.01799 3150 49.1 1410 1854 3264 50.9 63.5

1800-1801 – – – – – –

Topoi4.p65 17/08/04, 00:44120

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A D I N Â M I C A D E M O G R Á F I C A D E L U A N D A • 1 2 1

1802 4093 59.1 1361 1471 2832 40.9 49.71803 3560 51.5 1371 1976 3347 48.5 59.01804 3587 51.7 1366 1986 3352 48.3 58.71805 4133 50.9 1754 2225 3979 49.1 56.41806 4206 51.0 1818 2219 4037 49.0 57.91807 3487 56.4 1411 1286 2697 43.6 56.0

1808-1809 – – – – – – –1810 3520 59.6 1444 944 2388 40.4 52.51811 3295 54.5 1532 1224 2756 45.5 58.31812 2981 55.3 1285 1124 2409 44.7 59.11813 3120 60.7 1044 976 2020 39.3 52.51814 2929 59.2 1059 959 2018 40.8 55.01815 2853 61.4 972 823 1795 38.6 53.31816 2814 60.0 1062 813 1875 40.0 56.01817 2879 64.1 836 775 1611 35.9 50.41818 2902 64.4 836 768 1604 35.6 50.31819 2708 47.7 1573 1399 2972 52.3 69.2

1820-1822 – – – – – – –1823 2502 40.0 1951 1803 3754 60.0 72.51824 – – – – – – –1825 3031 42.0 1779 2399 4178 58.0 73.71826 2587 38.0 1802 2424 4226 62.0 –

1827-1828 – – – – – – –1829 2378 42.9 1161 2002 3163 57.1 69.31830 2791 52.2 1407 1147 2554 47.8 59.31831 2748 47.8 1607 1353 2960 52.2 63.81832 2368 46.8 1395 1295 2690 53.2 65.7

1833-1843 – – – – – – –1844 2856 51.0 1082 1667 2749 49.0 57.3

NOTA:

– = Não disponível

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1 2 2 • T O P O I

Tabela IX: Anos de Fome, Epidemias ou Secas,Luanda, 1782-1841

ANOS TIPO DE DESASTRE

1782-1783 colheita fraca1785 falta de chuva1786 falta de chuva/falta de alimento/varíola1787 falta de chuva/falta de alimento1788 falta de chuva/falta de alimento/doenças1789 fome1790-1792 seca/fome1793-1794 seca/falta de alimento/varíola/vaga de refugiados vindos

do interior1797 falta de alimento/ vaga de refugiados vindos do interior1799 seca/falta de alimento/varíola/mortalidade elevada1800 seca/falta de alimento/varíola1801-1802 seca/falta de alimento1803 doenças1805 varíola1807-1808 varíola1811 varíola1814 varíola1815 falta de chuva1816-1817 seca/fome1822 varíola1825 seca/falta de alimento/doenças/mortalidade elevada1826 seca/falta de alimento/mortalidade elevada1835 praga de gafanhotos1838 varíola1841 praga de gafanhotos

Fontes: A maioria destes desastres naturais estão documentados em Joseph C. Miller, “The

Significance of Drought, Disease, and Famine in the Agriculturally Marginal Zones of West-Cen-

Topoi4.p65 17/08/04, 00:44122

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A D I N Â M I C A D E M O G R Á F I C A D E L U A N D A 1 2 3

tral Africa,” Journal of African History 22 (1982) 17-61 e Jill R. Dias, “Famine and Disease in the

History of Angola, c. 1830-1930,” Journal of African History 21 (1981) 349-378. As excepções, 1803,

1807-1808, e 1838, estão documentadas em, respectivamente: Governador Fernando António de

Noronha para Visconde de Anadia, 17 Junho 1803, in Carlos D. Coimbra, ed., Ofícios para o Reino

(1801-1819): Códices (Lisboa, 1965) 38; as observações incluídas no “Mappa de toda a Povoação

da Cidade de São Paulo de Assumpcção de Loanda em 1807,” AHU, Angola, Cx. 119, Doc. 6; e

Anónimo, Exame dos Actos do Ex-Governador de Angola Manuel Bernardo Vidal em Resposta a Expo-

sição Assignada por José António de Miranda Vieira (Lisboa, 1839) 15.

Fonte: Tabela 4

Fonte: Tabela 6

Gráfico I. PoLua

0

2

4

6

8

10

1780 1790 1800

Milhares

Civis Não-Civis Pop

Gráfico II. Razão d Lua

0

50

100

150

200

250

1780 1790

Percentagem

Total

Topoi4.p65 17/08/04, 00:44123

1780

Milhares

Percentagem

Civis Não-Civis

Total da população População civil

Populações não-especificadas Tendência 1796-1844

Gráfico I. População Civil e Não-Civil:Luanda, 1781 - 1844.

Gráfico II. Razão da Masculinidade da População de Luanda, 1781-1844.

0

2

4

6

8

10

1790 1800 1810 1820 1830 1840

17800

50

100

150

200

250

1790 1800 1810 1820 1830 1840

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1 2 4 O P O I

Fonte: Tabela 7

Fonte: Tabela 8

Fonte: Tabela 8

Gráfico III. DistribLua

0%

25%

50%

75%

100%

1798 1803 1808

Gráfico IV. Distribuição doLua

0%

25%

50%

75%

100%

1780 1790 1800

Gráfico V. PopLua

0

1

2

3

4

5

6

1780 1790 1800

Milhares

Homens

Topoi4.p65 17/08/04, 00:44124

Mulatos

Livres

Pretos

Escravos

Brancos

Gráfico III. Distribuição da População Civil por Cor: Luanda, 1799-1832.

Gráfico IV. Distribuição do Total da População por Condição Social: Luanda, 1781-1844.

1798

1780

0%

0%

25%

25%

50%

50%

75%

75%

100%

100%

1803

1790

1808

1800

1813

1810

1818

1820

1823

1830

1828

1840

1833

1780

Milhares

Homens Mulheres Não-especificados

Gráfico V. População Escrava por Gênero:Luanda, 1781 - 1844.

0

21

43

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1790 1800 1810 1820 1830 1840

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Fontes: todas as tabelas acima

Notas

1 Veja, em particular, Raymond F. Betts, “Dakar: Ville Impériale (1857-1960)” em R.Ross e G.J. Telkamp, ed. Colonial Cities: Essays on Urbanism in a Colonial Context.Dordrecht, 1985, pp. 193-206; Antônio Carreira, “Um Evolução Demográfica de CaboVerde” Boletim Cultural da Guiné Portuguesa. Vol. 24, 1969, pp. 474-500; idem, “A Ilhade Maio — Alguns Aspectos Sociais e Demográficos”. Revista do Centro de EstudosDemográficos. Vol. 18, 1970, pp. 145-168; idem, “A Ilha de Maio — Demografia e Pro-blemas Sociais e Econômicos”. Revista do Centro de Estudos de Demográficos. Vol. 19, 1971,pp. 31-73; idem, Cabo Verde: Formação e Extinção de Uma Sociedade Escravocrata (1460-1878). Lisboa, 1983 (2a edição originalmente publicada em 1972); idem, “O primeiro‘Censo’ de População da Capitania das Ilhas do Cabo Verde (1731)”. Revista de Históriae Economia Social. No. 13, 1984, pp. 51-66; Henry J. Dubester, Population Census andOther Officila Demographic Statistics of Africa (não incluindo Africa Britânica): An AnnotatedBibliography. Washington, 1950; Marie Hélène-Baylac, “La compete à Gorée de 1677 à1798”. Revue française d’Histoire d’Outre-Mer. Vol. LVII, 1970, pp. 377-420; Robert R.Kuczynski, Demographic Survey of the British Colonial Empire. Vols. 1 e 2. Londres, 1948-1949; John R. Pinfold, African Population Cesus Reports: A Bibliography and Checklist.Munich, 1985; Robert Ross, “The White Population of South Africa in the EighteenthCentury ”. Population Studies. Vol. 29, 1975, pp. 217-230; idem, “Cape Town (1750-1850): Synthesis in the Dialectic of Continents” em R. Ross e G.J. Telkamp, ed. ColonialCities: Essays on Urbanism in a Colonial Context. Dordrecht, 1985, pp. 105-121; Universityof Texas, Population Research Center, International Census Bibliography: África. Austin,1965; e José C. Venâncio, “Espaço e Dinâmica Populacional em Luanda no Século XVIII”.Revista de História Econômica e Social. no 14, 1984, pp. 67-97.2 Estes documentos fazem parte uma coleção de alguns dos 350 censos populacionaisabrangendo Luanda, Benguela e as subdivisões militares-administrativas internas em

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Gráfico VI. Exportações Legais de Escravos,Total da População e População Escrava:

Luanda, 1781 - 1844.

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Angola sob domínio efetivo ou nominal português de 1773 até a metade de 1840. Osprimeiros detalhes sobre esta coleção apareceram em José C. Curto, “The AngolanManuscript Collection of the Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa: Toward a WorkingGuide”. History of Africa. Vol. 15, 1988, pp. 163-189; e idem, “Demografia histórica e osefeitos faz tráfico de escravos na África: uma análise dos principais estudos quantitativos”Revista de Estudos Africanos. Nos 14/15, 1991, pág. 274. Uma descrição completa destescensos populacionais angolanos é também encontrado em, “Sources for the Pre-1900Population History of Sub-Saharan Africa: The Case of Angola, 1773-1845”. Annales dedémographie historique. 1994, pp. 319-338.3 Em Portugal, a produção de registros de paróquias sobre estatísticas vitais requerido peloConselho de Trent em 1563 foi institucionalizado pelo Constituições de Coimbra de 1591.Mais tarde naquela mesma década, requisito foi estendido para as colônias portuguesas.Veja Maria L. Marcílio, “Dos Registos Paroquiais À Demografia Histórica no Brasil”. Anaisde História. Vol. 2, 1971, pp. 85-86 e M. Felix, “Les registres paroissiaux et l ‘état civil auo Portugal”. Archivum. Vol. 8, 1958, pp. 89-94. No caso de Luanda, porém, os registrosconhecidos mais antigos em batismos, casamentos, e enterros datam por volta do final de1730s. Veja Carlos Pacheco, José da Silva Maia Ferreira: o homem e uma sua época. Luan-da, 1990, pág. 273. Com respeito a registros batismais, mais especificamente, documen-tação existe com certeza partes do Reino vizinho de Kongo desde o início do 1600s emdiante. Veja Thornton, “Demografia e História”.4 A primeira contagem era realmente feita por Jesuítas em 1594. Veja “História da Resi-dência de Padres da Companhia de Jesus, 1-05-1594” em António Brásio, ed. MonumentaMissionaria Africana. 1as séries. Vol. IV, 1954, pág. 565. Com o século XVII, por outrolado, esta informação se tornou responsabilidade de cada governador recentemente de-signado, veja “Regimento do Governador de Angola (Manuel Pereira Forjaz) 26-03-1607”em Brásio, Monumenta Missionaria Africana. 1as séries. Vol. V, 1955, pp. 266-267 e a“Relação da gente de guerra, artilharia e munições da Angola (agosto e setembro 1625?)”em Beatrix Heintze, ed. Fontes para um XVII de História de Angola do Século XVII: Memó-rias, Relações, e outros Manuscritos da Coletânea Documental de Fernão de Sousa, 1622-1635. Stuttgart, 1985. Vol. eu, pp. 165-169.5 O anônimo “Estabelecimento e Resgates Portugueses na Costa Ocidental da África, 1607”em Luciano Cordeiro, ed. Viagens, Explorações e Conquistas dos Portugueses: Coleção deDocumentos, Lisboa, 1881, pág. 22, menciona mais ou menos 300 residentes europeusem 1607; Garcia Repara Castello Branco, “Da Mina ao Cabo Negro: 1574-1620” emibid, pág. 31, lista cerca de 400 em 1620; Diogini de Carli da Piancenza e Michel da Reggio,“A Voyage to Congo in the years 1666 e 1667” em John Churchill, ed. Uma Coleção deViagens e Viaja. Londres, 1732, Vol. I, pp. 485-519, fornece 3.000 em meados de 1660;Giuseppe da Modena, em Evaristo Gatti, Sulle Terre e sui Mari. Parme, 1931, pág. 111,mostra 5.000 em 1711; e Rosario Del Parco em L. Jadin, “ Aperçu Situação de la situationau Royaume du Congo”. Bulletin de l’Institut Historique Belge de Roma. Vol. XXXV, 1963,pág. 359, registra 500 por volta de 1760.

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6 No caso específico de estimativas agregadas de população existem três exceções. O nãoassinado “Mapa das regiões circunvizinhas de Luanda com uma minuciosa descrição” emHeintze, Fontes para a História de Angola do Século. Vol. eu, pp. 163-164, atinge um nãoplausível grande total de 40.000 pessoas em 1622. Esta mesma quantidade improvávelestá também publicada por um missionário no final de 1670. Veja a carta de Fra PaoloFrancesco Del Porto-Mauricio, 8-05-1679, em E. de Jonghe e Th. Simar, eds. ArquivosCongolaises, Bruxelas, 1919, pág. 100. Finalmente, Antonio Zuchelli, Relazione DelViaggio e Missione di Congo. Veneza, 1712, pág. 102, indica 50.000 residentes no fimde 1690, dos quais 40.000 são listados como pretos, 6.000 como mulatos e 4.000 comobrancos.7 Para motivos principais que ocasionaram a implementação de censo em Angola ver Curto,“Sources for the Pre-1900 Population History of Sub-Saharan Africa”, pág. 322.8 Veja Carlos de Couto, Os Capitães-Mores em Angola no Século XVIII: Subsídio para oEstado de Sua Actuação. Luanda, 1972, pág. 110.9 “Mappa das pessoas que Rezidem nesta Cidade de São Paulo d’Assumpção, R. no deAngolla, nas quaes senão comprehendem Mellitares [1773]” Arquivo Histórico Ultra-marino, Angola, Cx. 57, Doc. 34. Conforme a terminologia usada no AHU, Cx. denotacaixa ou box, enquanto Doc. se refere a documento10 Note que em 1777 e 1778, as enumerações relacionadas às colônias eram realizadas emAngola: “Mappa de todos de Moradores, e Habitantes deste Reyno de Angola, e suasconquistas ... 1777” AHU, Angola, Cx. 61, Doc. 87; e “Mappa de todos de Moradores,e Habitantes deste Reyno de Angola, e suas conquistas ... 1778” AHU, Angola, Cx. 62,Doc. 67. Estes censos estão disponíveis em Arquivos das Colônias. Vol. 3, 1918, pp. 176e 178, respectivamente. Teoricamente, cada um cobriu Luanda e seu interior. Veja Curto,“Demografia histórica e os efeitos faz tráfico de escravos na África” pág. 255. Uma análisedas contagens de população de 1777-1778 é encontrada em John K. Thornton, “TheSlave Trade in Eighteenth Century Angola: Efects on Demographic Structures”. CanadianJournal of African Studies. Vol. 14. 1980. pp. 417-427.11 “Relação dos Habitantes desta Cidade de São Paulo d ‘Assumpção do Reyno de Angollano ano de 1781” AHU, Angola, Cx. 64, Doc. 64. O diretivas que ordenavam esta produ-ção, porém, não foram localizadas no meio da documentação angolana do AHU.12 Para os motivos atrás da reativação do censo em Angola ver Curto, “Sources for the Pré-1900 Population History of Sub-Saharan Africa” 327.13 Sousa Coutinho para o Governador Manuel de Almeida e Vasconcelos. 14-09-1796,Arquivo Histórico Nacional de Angola (a seguir de AHN), Códice 253, fls. 102v-104v.Veja também Governador Miguel de Melo para Sousa Coutinho, 3-12-1797 e 21-10-1797, Arquivos de Angola. 2a série. Vol. XVI, nos 66-67, 1959, pág. 151 e 2a série. Vol.IVS, nos 37-40, 1938, pp. 19-23, respectivamente. Caio Prado, Jr., The Colonial Backgroundof Modern Brazil. Berkeley, 1967, pág. 26, informa que em torno da mesma época, seme-lhantes, se não exatamente, instruções estavam também remetidas para os Governadoresdo Brasil. A diretivo de 1796 representou deste modo uma tentativa para reavivar os cen-sos no reino português do Atlântico Sul.

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14 “Mappa das 10 Companhias de que se compoem o Terço da Ordenança desta Cidadede São Paulo d’Assumpção ... em observencia das Reaes de Sua Magestade de que ele Sar-gento Mor, & Commandante de Abreu Castello Branco Pimentel, demonstrando-se igual-mente todos de fogos um elle respectivos [1796]” AHU, Angola, Cx. 86, Doc. 6.15 “Mappa do Estado actual das 10 Companhias de que se compoem o Terço da Orde-nança desta Cidade [São Paulo d ‘Assumpção, 1797] bem como dos Indevidos que Ser-vem nas Tropas pagas desta mesma Cidade a final a demonstracção que produzio a Revis-ta passada em 1o de Janeiro do Corrente anno por que Ordem do Ilmo. e Exmo. Snr.Dom de Mello” AHU, Angola, Cx. 91, Doc. 41.16 Veja tabela I. Uma dos extraordinários achados no Arquivo Histórico da BibliotecaMunicipal de Luanda (em seguida AHBML), Códice 45, contém os censos anual perti-nentes à 6a vizinhança da cidade, Nossa Senhora do Rosario, entre 1822 e 1832. Isto sugereque os censos de grande abrangência de Luanda foram também empreendidos em 1822,1824, 1827, e 1828. Veja também a nota de rodapé em seguida.17 Certas contagens estão disponíveis para alguns dos anos perdidos. Raimundo da Cu-nha Matos. Compendio Histórico das Possessões da Coroa de Portugal nos Mares e Continen-tes da África Oriental e Ocidental. Rio de Janeiro, 1963 (mas escritas durante meados dosanos 30 — séc. XIX), pág. 332, baseia-se em um relatório da Comissão Ultramarina dacorte portuguesa, fornecendo informações quantitativas sobre a população de brancos emulatos de Luanda em 1821. Porém, estas contagens são exatamente as mesmas que asencontradas para o censo de 1819. Fundamentado em informações fornecidas por Con-tam António de Saldanha da Gama, Governador da Angola durante 1807-1810, T. EdwardBowdich. An Account of the Discoveries of the Portuguese in the Interior of Angola andMozambique, London,1824, pág. 8, por outro lado, coloca a população de Luanda emaproximadamente 8.000, incluindo 1.500 tropas do governo. Cunha Matos. CompêndioHistórico das Possessões da Coroa de Portugal, pág. 333, fornece também dados na popula-ção de capital colonial de Angola em 1828: 5.128 habitantes. Outras contagens para 1.828são fornecidas por Jean Baptiste Douville, Voyage au Congo et dans I’Interieur de I’Afriqueéquinoxale...1828, 1829, 1830, Paris, 1832, Vol. I. Na pág. 39 ele lista uns total de 5152habitantes. Mas na pág. 258, Douville fornece números razoavelmente diferentes: popu-lação total 5.200, inclusive 2.050 homens e 3.150 mulheres, dos quais 1.700 são dadoscomo escravizados. O quase idênticos totais globais apresentados por Cunha Matos eDouville para 1.828 estavam provavelmente retirados de um censo não é mais existentenos arquivos de Portugal ou Angola. No entanto, outras contagens relativas a 1833-1834,são fornecidas por Joaquim de Carvalho e Menezes, um mulato de Luanda exilado nametrópole, em sua Memoria Geografica e Politica das Possessões Portuguezas n’Ocidental daÁfrica, que diz Respeito aos Reinos de Angola, Benguela e suas Dependencias. Lisboa, 1834,pág. 8. De acordo com esta fonte, o capital colonial da Angola tinha uma população entre11.000 e 12.000 habitantes. Destes, 2.000 eram brancos e 2.000 a 3.000 eram mulatos,enquanto o remanescente era, provavelmente , formado por negros. Esta estimativa estátotalmente fora das figuras de censo apresentadas na tabela III abaixo para 1830-1832. Arazão para esta diferença pode ser porque Carvalho e Menezes incluíram em sua estima-

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tiva escravos transientes e prisioneiros esperando para serem embarcados através do Atlân-tico. Outra fonte contemporânea, Tito Omboni, Viaggi nell’a África Occidentale: Médicode Già di Consiglio Nel Regno d’a Angola e Sue Dipendenze Membro Della R. AccademiaPeloritana di Messina. Milan, 1855, pág. 107, apresenta a população permanente de Lu-anda, em 1834, em aproximadamente 6000, uma contagem relativamente semelhante àsencontradas nos censos do início da década.18 Para melhores informações sobre estes desenvolvimentos, vejam especialmente JosephC. Miller, “Imports at Luanda, Angola, 1785-1823” em G. Liesegang, H. Pasch, e A.Jones, eds. Figuring African Trade: Proceedings of the Symposium on the Quantification andStructure of the Import and Export and Long Distance Trade of Africa in the 19th Century (c.1800-1913). Berlim, 1983, pp. 180-183.19 Veja, por exemplo, Maria de Morais Gomes, “Angola no Tempo do Governador Nicolaude Abreu Castelo Branco (1824-1830)” M. A. não publicada, tese, Universidade de Lis-boa, 1964; e Manuel dos A. Silva Rebelo, Relações Entre Angola e Brasil, 1808-1830. Lis-boa, 1970, pp. 221-306. A proibição da escravidão no Atlântico Sul tornou-se efetiva emmarço de 1830.20 Os estudos chave para este período são: Mário de Oliveira, Alguns Aspectos da Adminis-tração de Angola em Época de Reformas (1834-1851). Lisboa, 1981, especialmente pp. 67-102; e Anne Stamm, “L’Angola À ONU Tournant de Filho Histoire 1838-1848,” disser-tação de doutorado não publicada, École Pratique des Hautes Études (Paris), 196?21 Veja a sinopse desta diretiva, datada 30-11-1835, em de Oliveira, Alguns Aspectos daAdministração de Angola, pág. 322.22 “Instruções com que veiu o Senhor Governador Geral Lourenço Germack Possollo”,28-10-1843, Arquivos de Angola, 1st series, no 15, 1936, pp. 708 e 712.23 Veja a sinopse desta carta, datada 19-08-1844, em de Oliveira, Alguns Aspectos da Ad-ministração de Angola, pág. 329.24 Veja José C. Curto, “The Anatomy of a Demographic Explosion: Luanda, 1844-1850,”International Journal of African Historical Studies, Vol. 32, 1999, pág. 385. Esta últimaconta de população pré-1850 é agora encontrada exclusivamente em forma impressa comoparte de um resumo dos censos que foram executados em cada cidade portuária, presídioe distrito da colônia durante o início de 1845. O resumo primeiramente apareceu sob otítulo de “Mappa da População de Angola [1845]” em José de Lima, Ensaios Sobre aStatistica das Possessões Portuguezas. Lisboa, 1846, Vol. III, Parte I, pág. 4-A. Foi subse-qüentemente reproduzido em Tito Omboni, Viaggi Nell ‘África Occidentale: Gia Médicodi Consiglio Nel Regno d’a Angola e Sue Dipendenze Membro Della R. Accademia Peloritanadi Messina. Milan, 1855, pág. 409. Uma reprodução mais prontamente disponível e re-cente está incluída em René Pélissier, Les Guerres Grises: résistance et révoltes en Angola(1845-1941). Montamets, 1977, pág. 32.25 Veja as instruções do Governador António de Lencastre, 10-07-1772, em Couto, OsCapitães-Mores em Angola no SéculoXVIII. pág. 110 e a carta de Rodrigo de Sousa Coutinho

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para o Governador Miguel António de Mello, 21-10-1797, AHN, Códice 254, fls. 27v-31, publicado em Arquivos de Angola, 1st series, nos 37-40, 1938, pp. 19-23.26 Veja Douville, Viagem au Congo, Vol. I., pág. 13.27 Estas listas nominais não são geralmente encontradas entre os censos existentes emLuanda. As exceções são: a contagem parcial de 1773 e “Alistamento do 6o Bairro (mappade fogos, habitantes, etc.) 1823-32,” AHBML, Códice 45. Outras informações indicamclaramente que aquelas listas nominais estavam na mesma base das contagens população.Veja, por exemplo, os comentários anexados por António de Faria para “Mappa de todaa Povoação da Cidade de São Paulo de Assumpcção de Loanda e de suas diferentes Cor-porações, de Empregos, Estados, e Condições das Pessoas ... em todo o Anno de 1802”,“Mappa de toda um Povoação da Cidade de São Paulo de Assumpcção de Loanda e desuas diferentes Corporações, de Empregos, Estados, e Condiçoes das Pessoas ... em todoo Anno de 1803”, “Mappa de toda um Povoação da Cidade de São Paulo de Assumpcçãode Loanda e de suas diferentes Corporações, de Empregos, Estados, e Condiçoes das Pes-soas ... em todo o Anno de 1805”, “Mappa de toda um Povoação da Cidade de São Paulode Assumpcção de Loanda e de suas diferentes Corporações, de Empregos, Estados, eCondiçoes das Pessoas ... em todo o Anno de 1806”, e “Mappa de toda um Povoação daCidade de São Paulo de Assumpcção de Loanda e de suas diferentes Corporações, deEmpregos, Estados, e Condiçoes das Pessoas ... em todo o Anno de 1807” em AHU,Angola: Cx. 105, Doc. 44; Cx. 109, Doc. 49; Cx. 117, Doc. 27; Cx. 118, Doc. 21; e Cx.119, Doc. 6, respectivamente. As listas nominais foram também a base de contagem depopulação contemporânea no Brasil. Para o caso de São Paulo, veja Maria L. Marcílio,“Tendências e Estruturas dos Domicílios na Capitania de São Paulo (1765-1828) Segun-do as Listas Nominativas de Habitantes,” Estudos Econômicos (Universidade de São Pau-lo). Vol. 2, 1978, pp. 132-133.28 Como é claro nas informações fornecidas sobre o pessoal pertencente aos setores deadministração, eclesiástico e militar. Veja tabela V.29 Á todos indivíduos que viajavam no Atlântico Sul Português de 1720 em diante e atodos que viajavam dentro da colônia de Angola a partir de 1761, era exigidos a apresen-tação de passaportes. Veja Dauril Alden, “Manuel Luís Vieira: An Entrepreneur in Rio deJaneiro during Brazil’s Eighteenth Century Agricultural Renaissence,” Historical AmericanHispanic Review. Vol. 39, 1959, pp. 528-529; e Pacheco, José da Silva Maia Ferreira, pp.72-74, 257-258, e 277. O registro de passaportes em Luanda, porém, apenas se tornouuma operação administrativa distinta depois da meados da década de quarenta do séculoXIX. Anteriormente, os passaportes eram registrados em duas séries de registros: Portari-as (documentos contendo ordens do governo ou instruções) e Bandos (proclamações pú-blicas emitidas pelo governo). Veja Joseph C. Miller, “The Archives of Luanda, Angola”International Journal of African Historical Studies. Vol. 7, 1974, pp. 579-580. Com res-peito ao registro de pessoas que desembarcavam em Luanda, o sistema pode ter sido se-melhante ao em operação no Rio de Janeiro onde, de acordo com Corcino Medeiros dosSantos, “Passageiros em Trânsito pelo Porto do Rio de Janeiro,” Estudos Históricos (Marília).No11, 1972, pág. 83, do capitão de qualquer navio entrando o porto era exigida a decla-

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ração, para o chefe da embarcação encarregada do registro, o número de passageiros a bordo,como também sua cidadania, lugar de residência e idade. Nenhuma informações veio atona sobre como os indivíduos vindos do interior que entravam em Luanda era realmen-te registrado.30 Comentários anexados ao “Mappa do Estado da Povoação da Cidade de São Paulo deAssumpção, Capital faz Reyno de Angola, [1798] o qual tirou por Ordem do Illmo. eExmo. Snr. Governador e Cappam. Geral faça dito Reyno, Dom de Mello” AHU, Ango-la, Cx. 91, Doc. 41; a “Mappa de toda um Povoação da Cidade de São Paulo da Assumpção,Capital faz Reino de Angola, e de suas differentes Corporações, Empregos, Estados eCondiçoes das Pessoas em todo o Anno de 1799” AHU, Angola, Cx. 94, Doc. 1; e a“Mappa de toda um Povoação da Cidade de São Paulo de Assumpcção de Loanda e desuas diferentes Corporações, de Empregos, Estados, e Condiçoes das Pessoas ... em todoo Anno de 1802” AHU, Angola, Cx. 105, Doc. 44, todos mencionam padres de paró-quia como os compiladores dos dados em nascimentos, casamentos e óbitos. Veja tam-bém a correspondência a seguir do Governador Melo: para Sousa Coutinho, 14-04-1800;para idem, 17-08-1801; para a Coroa, 28-08-1801; e para Visconde de Anadia, 16-07-1802 em, respectivamente, Arquivos de Angola. 2as séries, Nos 66-67, 1959, pág. 175 e nos

103-106, 1969, pp. 47, 56-58, e 147. Para o registro de batismos contemporâneos, casa-mentos e enterros disponíveis em Luanda ver Pacheco, José da Silva Maia Ferreira, pág. 273.31 Veja Tabela I.32 “Mappa das pessoas que Rezidem nesta Cidade ... nas quaes senão comprehendemMellitares [27-03-1773]” e a lista de tropas do governo com a mesma data em AHU,Angola, Cx. 57, Doc. 34. Os dados sobre mulheres excluídas, a informação gerada sobremilitares e homens civis com porte de arma estava especificada nas 1772 instruções dadasa Governador de Lencastre. Veja de Couto, Os Capitães-Mores em Angola no Século XVIII.pág. 110.33 Estas omissões não foram detectadas em todas as discussões publicadas sobre este cen-so: Couto, Os Capitães-Mores em Angola no Século XVIII, pág. 109; Herbert S. Klein, “ThePortuguese Slave Trade from Angola in the 18th Century ”. Journal of Economic History.Vol. 32, 1972, pág. 909; Venâncio, “Espaço e Dinâmica Populacional” pp. 71, e 85-86;e Joseph C. Miller, Way of Death: Merchant Capitalism and the Angolan Slave Trade, 1730-1830. Madison, 1988, pp. 271 e 292-293. Note também que os dados para um dos gru-pos enumerados, mulheres livres, são altamente suspeitos. Apenas 73 mulheres livres eramentão encontradas residindo em Luanda, representando 3,4% das 612 tropas do governoe das 1519 dos civis livres e escravizados contabilizados. Destes, 37 estavam listados comobrancos, 32 como mulatos e apenas 4 como negros. Contando mulatos e mulheres livresnegras, somente, formavam 8,8% e 8,4%, respectivamente, das 9755 pessoas enumera-das em 1781, logo nós pode-se concluir seguramente que a contagem de 1773 de mulhe-res livres era extremamente parcial. Como resultado, este censo não pode estar em nossaanálise subseqüente.34 Veja “Relação dos Habitantes desta Cidade ... no anno de 1781” AHU, Angola, Cx.64, Doc. 64. Estas categorias demográficas são exatamente as mesmas que as encontradas

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nos censos de larga abrangência de 1777-1778. Veja “População de Angola, 1778” Ar-quivos das Colonias. Vol. 3, 1918, pp. 175-177 e “População de Angola, 1779” Ib., pp.177-178. Conseqüentemente, contagens em 1781 podem bem ter seguido as diretivasorganizacionais escritas cinco anos antes.35 “Mappa das 10 Companhias de que se compoem o Terço da Ordenança desta Cidade... demonstrando-se igualmente todos de fogos um elle respectivos [1796]” AHU, Ango-la, Cx. 86, Doc. 6.36 Embora ambas realidades sócias-políticas e profissionais tenham sido cobertas, esteagrupamento ilustra as ambigüidades do tipo de classificação de censo atribuiudo parapopulação colonial da Luanda.37 Obviamente estas categorias excluíam os escravos exportados de Luanda, bem comoseus números, com a exceção de 1781, que excedida muito o total populacional ao longodo período.38 Veja “Mappa do Estado real das 10 Companhias de que se compoem o Terço da Orde-nança ... bem como dos Indevidos que Servem nas Tropas pagas desta mesma Cidade eum final um demonstracção que produzio uma Revista passada [1797]” e “Mappa daPovoação da Cidade de São Paulo de Assumpção [1798]”, ambos em AHU, Angola, Cx.91, Doc. 41. As diretivas organizacionais para estes censos estão anexadas ao aviso doRodrigo de Sousa Coutinho (notificação oficial) de 21-10-1797 para governador Melo,Arquivos de Angola, 1a série, nos 37-40, 1938, pp. 19-23, mas ainda precisam ser encon-tradas.39 Note que no caso dos censos de 1826 e 1844, os dados estão atualmente disponíveisapenas sob forma de resumo. Conseqüentemente, as categorias demográficas contidasnestes resumos não são como detalhadas como os outros retornos pós-1796. Veja Tabela II.40 Um caminho semelhante para mais completo e periódico estavam também foi impostonos censos realizados no Brasil durante o fim da década de XVIII. Veja Maria L. Marcílio,“ Les Origens des Recensements du Brésil,” em Stefan Pascu, ed., Populatie si Societate IV.Cluj-Napoca, 1980, pp. 26-32.41 Veja Tabela III.42 Observações que acompanham os censos citados na nota de rodapé # 30 acima. Vejatambém o resumo de carta do governador Melo para Sousa Coutinho, 14-04-1800, Ar-quivos de Angola. 2a série, nos 66/67, 1959, pág. 175.43 Governador Melo para Sousa Coutinho, 17-08-1801, Arquivos de Angola. 2a Série. Nos

103-106, 1969, pág. 47 e idem para the King, 25-08-1801, em ibid., pp. 56-58. Estesproblemas não eram peculiares a Luanda nem a outras partes do império. Eles existiamtambém na metrópole. Veja Albert Silbert, Le Portugal Mediterranéen uma Barbatana deLa de l ‘Regime de Anncien: XVIIIe — début du XIXe Siècle. Paris, 1966, Vol. eu, pp.106-113.44 Arquivo da Arquidiocese de Luanda, Bispado de Angola, Provisões e Oficios, Manda-dos, Pastorais, Livro 10. Veja também governador Melo para Visconde de Anadia, 16-07-

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1802, Arquivos de Angola. 2a Série, nos 103-106, 1969, pág. 147 e Freiras de ManuelGabriel, Angola de Cristianismo. Queluz, 1978, pág. 180.45 “Mappa de toda um Povoação da Cidade de São Paulo de Assumpcção de Loanda e desuas diferentes Corporações, de Empregos, Estados, e Condiçoes das Pessoas ... em todoo Anno de 1807” em AHU, Angola, Cx. 119, Doc. 6.46 Veja Tabela III.47 Com relação à alta mortalidade ocorrida neste Hospital veja: Francisco Damião Cosme,“Tractado das Queixas Endemicas e Mais Fats Nesta Conquista (Loanda 14 Agosto 1770)”Studia, nos 20-22, 1967, pág. 218; e José de Azeredo, Ensaios sobre Algumas Enfermida-des d ‘a Angola. Luanda, 1967, (originalmente publicada em Lisboa, 1799) pp. viii-ix.Cosme era o médico chefe da colônia de Angola na 1760s, enquanto Azeredo ocupou omesmo posto na última década do século XVIII. De acordo com os números encontradosem Stamm, “L ‘a Angola à un Tournant de Son Histoire,” pág. 48, a taxa de mortalidadeno Hospital de L uanda durante 1836-1838 era de 34 para 1.000 pacientes.48 António Brasio, “Como Misericórdias de Angola” Studia. Vol. 4, 1959, pág. 121. Noprincípio de 1805, por exemplo, cerca de mais de 200 soldados doentes estavam receben-do cuidados nesta instituição, mas havia a expectativa de que apenas alguns iriam se recu-perar. Veja a carta de Governador Fernando de Noranha, 7-02-1805, para Visconde deAnadia, em Arquivos de Angola. 2a série, nos 75-78, 1962, pp. 113-114.49 Veja o resumo da carta do Governador Melo para Sousa Coutinho, 15-04-1799, emCoimbra, Ofícios para o Reino (1726-1801), pág. 162 e as observações anexadas ao: “Mappada Povoação da Cidade de São Paulo de Assumpção [1798]” AHU, Angola, Cx. 91, Doc.41; “Mappa de toda um Povoação da Cidade de São Paulo da Assumpção em 1799” AHU,Angola, Cx. 94, Doc. 1; e “Mappa de toda um Povoação da Cidade de São Paulo deAssumpcção de Loanda em 1802” AHU, Angola, Cx. 105, Doc. 44.50 Veja “Mappa da Povoação da Cidade de São Paulo de Assumpção [1798]” AHU, An-gola, Cx. 91, Doc. 41; “Mappa de toda a Povoação da Cidade de São Paulo da Assumpçãoem 1799” AHU, Angola, Cx. 94, Doc. 1; e “Mappa de toda a Povoação da Cidade de SãoPaulo de Assumpção de Loanda em 1802” AHU, Angola, Cx. 105, Doc. 44.51 Veja Dauril Alden, “The Population of Brazil in the Late Eighteenth Century: Apreliminary study ” Hispanic American Historical Review. Vol. 43, 1963, pág. 181; Thalesde Azevedo, Povoamento da Cidade do Salvador. Sãõ Paulo, 1969, 2a edição, pág. 185; eMary C. Karasch, Slave Life in Rio de Janeiro, 1808-1850. Princeton, 1987, pp. 63-64.52 Seus números podem ser deduzidos somando uma taxa de mortalidade hipotética co-brindo a mortalidade de cativos enquanto estes esperaram remessa para exportação anualde escravos, para o que uma grande quantidade de documentação existe. A mais recenteavaliação da exportação anual de escravos é encontrado em José C. Curto, “A QuantitativeRe-assessement of the Legal Portuguese Slave Trade from Luanda, 1710-1830”. AfricanEconomic History. Vol. 20, 1992, pp. 1-25.53 Para que os dados em cada retorno fosse internamente coerente, todas os números de-vem ser conferidos novamente.

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54 Miller, Way of Death, pág. 292.55 Lima, Ensaios Sobre uma Statistica das Possui Portuguezas, Vol. III, pág. 63.56 Neste ponto crucial, veja também: Pacheco, José da Silva Maia Ferreira, pág. 174; deOliveira, Alguns Aspectos da Administração de Angola, pág. 36; e Manuel de Almeida,“Migrações Forçadas e Dinâmica Demográfica (O Caso Particular da Angola),” disserta-ção de Ph. D não publicada., Universidade de Lisboa, 1993, pág. 415.57 “Mappa de toda a Povoação da Cidade de São Paulo de Assumpcção de Loanda e desuas diferentes Corporações, de Empregos, Estados, e Condiçoes das Pessoas ... em todoo Anno de 1807” AHU, Angola: Cx. 119, Doc. 658 Governador de Noronha para Conselho Ultramarino, 28-03-1805, Arquivos de Ango-la. 2a série, Vol. XIX, nos 75-78, pág. 118. Sobre a natureza aproximada dos censos portu-gueses sobre o fim do século XVIII e o início do século XIX veja: José de Barros, “Memó-rias sobre como Causas da Differente de Portugal em Diversos Tempos da Monarchia”em Memórias da Academia Real das Sciências de Lisboa. Vol. 1, pp. 43-47; Adrien Balbi,Essai Statistique sur le Royaumme de Portugal et d’Algarve. Paris, 1822, Vol. eu, pág.187; Silbert, Le Portugal Mediterranéen, Vol. eu, pp. 106-113. e Joel Serrão, Fontes dedemografia Portuguesa, 1800-1862. Lisboa, 1973, pp. 9-161.59 Isto aparece quando analisando o “Erro de fechamento” coluna na tabela e seus índicesrelacionados (porcentagem dos resultados prévios do censo, média, divergência normal ecoeficiente de variação). Esta medida, usado para avaliar a cobertura de censos modernos,relaciona os resultados de censos (neste caso o “Fim de população de ano”) com a popu-lação esperada (figuras de população prévio + aumento líquidas durante o período entrecensos).60 Os padres de paróquia responsáveis por manter registros de nascimentos e óbitos co-brou uma taxa para batismos e enterros, que os pobres de Luanda não puderam pagar.Veja “Angola no fim do século XVIII: Documentos”, Boletim da Sociedade de Geografia deLisboa. Vol. 6, 1886, pp. 298; e Jean Baptiste Douville, Viagem au o Congo et dansl’intérieur de l’Afrique équinoxale...1828, 1829, 1830. Paris, 1832, Vol I. pp. 15-16. Podemuito bem ser que estas taxas sejam a raiz do preconceito.61 Uma avaliação recente da população do Centro-oeste africano sugere que não existianenhum declínio durante este período. Veja Miller, Way of Death. pp. 140-169. Outrosdemógrafos e historiadores, por outro lado, concluíram que a população da região estavarealmente decrescendo: John Fage, “The Efect of the Export Slave Trade on AfricanPopulations” em R.J.A.R. Rathbone e R.P. Moss, eds. The Population Factor in AfricanStudies. Londres, 1975, pp. 15-23; John K. Thornton, “The Demographic Effect on theSlave Trade on Western Africa, 1500-1850” em C. Fyfe e D. McMaster, eds. AfricanHistorical Demography, II: Procedings of a Seminar Held in the Center of African Studies,University of Edinburgh, 24 e 25 de abril, 1981. Edinburgh, 1981, pp. 691-720; John C.Caldwell, “The Social Repercussions of Colonial Rule: Demographic Aspects”, UNESCO,The General History of Africa. Berkeley, 1985, Vol. VII, pp. 458-486; e Patrick Manning,“The Impact of Slave Trade Exports on the Population of the Western Coast of Africa,

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1700-1850” em S. Daget, ed. De la traite à l ‘esclavage: Actes du Colloque Internacional surla traite des noirs, Nantes 1985. Nantes, 1988, Vol. II, pp. 111-134. Em cada caso, po-rém, os cálculos feitos por estes estudiosos são todos baseados em hipotéticas taxas anuaispositivas de aumento: Fage adotou 1.6, Thornton 2, Miller 2.5, Caldwell 3.5, e Manning5 por mil. Conseqüentemente, quando lidos em comparação com as conclusões variadasbaseadas nestas taxas hipotéticas, nossos dados não só documentam o despovoamento emLuanda por de um longo período de tempo, mas também estabelecem que as perdas eramde proporções notáveis.62 Esta perda da população feminina é ainda mais apreciável se nós tomarmos o valor de1781 como nossa base. Fazendo isto, eleva-se a a taxa anual de crescimento para –1,28%ao ano ao longo do período inteiro.63 A razão de masculinidade é o índice da relação numérica entre homens e mulheres emqualquer sociedade. Dá-nos o número de homens por cada 100 mulheres.64 Em 1815, por exemplo, o exército formava 90 % do pessoal administrativo ou 25% dapopulação total.65 Note que diferentemente da população civil, o pessoal administrativo não está divididonos censos de acordo com classes sócio-econômicas definidas por cor.66 Negros, que durante a primeira década do início do século XIX já constituia 90% dapopulação de escravos, viu sua representação dentro deste grupo aumentar para quase 100%no início da década de trinta do respectivo século, devido ao desaparecimento virtual demulatos escravizados, cuja proporção caiu para correspondentemente de 10% para ape-nas 0,2%, na capital colonial de Angola. Além disso, de acordo com uma lista detalhadade funcionários públicos e eclesiásticos em 1799, os escravos não estavam presentes den-tro de qualquer um destes dois grupos de residentes da Luanda. Veja, “Angola no Fim doSéculo XVIII ”, pp. 281-294. Semelhantemente, embora cativos foram usados comopessoal militar pela administração colonial portuguesa em guerras contra autoridadespolíticas africanas ao longo do interior, escravos não parecem ter sido parte dos soldadossediados neste Centro Urbano Costeiro do Centro-oeste Africano. Veja Carpinteiro derodas de Douglas L., “The Portuguese Army in Angola”, Journal of Modern African Studies.Vol. 7, 1969, pp. 426-427.67 Veja Douglas L.Wheeler, “A note on Smallpox inAngola, 1670-1875” Studia, nos 13-14, 1964, pp. 351-362; Jill R. Dias, “Famine and Disease in the History of Angola, c.1830-1930”. Journal of African History. Vol. 22, 1982, pp. 349-378; Joseph C. Miller,“The Significance of Drought, Disease and Famine in the Agriculturally Marginal Zonesof West-Central Africa”. Journal of African History. Vol. 23, 1982, pp. 17-61; e DaurilAlden e Joseph C. Miller, “Unwanted Cargoes: The Origins and Dissemintation ofSmallpox via the Slave Trade from Africa to Brazil, c. 1560-1830” em Kenneth F. Kiple,ed. The African Exchange: Toward a Biological History of Black People. Durham, 1988, pp.35-109.68 Veja Miller, “The significance of Drought, Disease and Famine”, pp. 33-59.

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69 Compare, por exemplo, as informações qualitativas em Miller The significance ofDrought, Disease and Famine ”, pp. 51-59 com o número anual de mortes encontradana Tabela III abaixo. Os censos só listam anormais altas taxas de mortalidade durante 1812e 1825. Semelhantemente, em uma carta para a Coroa portuguesa, 3-10-1818, Arquivosde Angola. Vol XVIII, Nos. 71/74, 1961, pp. 218-219, Governador Luiz da Motta Fêo eTorres informava que o número de mortes diminuiu significativamente em Luanda de-pois da chegada de José de Mello como o médico-chefe. Uma vez mais, porém, isto nãoé sustentado pelos dados de registro vital nos censos.70 Entre as numerosas referências sobre fugas de escravos ver: Governador Francisco deSousa Coutinho para Francisco de Mendonça Furtado, 5-12-1769, Biblioteca de Lisboa,Códice 8553, fls. 27-33; Governador Barão de Mossamedes para Jaga Cassange, 26-07-1789, Arquivos de Angola. Vol. II, no 14, 1936, pág. 568; Governador Fernando de Noronhapara Visconde de Anadia, 8-11-1803, AHU, Angola, Cx. 108, Doc. 33; a requisição dosdonos de escravos de Luanda não datada do início do século XIX exigindo que o Gover-nador da Angola tomasse os passos necessários para eliminar uma sociedade exiladas en-tre os rios Bengo e Dande, AHU, Angola, Cx. 180, Doc. 49; e a atestação do ConselhoMunicipal de Luanda, 15-09-1817, em João de Castello Branco e Torres, Memórias Con-tendo uma Biographia faz Vício Almirante da Motta Feo e Torres, uma História dos Governa-dores e Gêneros de Capitaes da Angola desde 1575 até 1825, e uma Descripção Geográphicae Politica de Angola e Benguella. Paris, 1825, pág. 56. Estudos deste problema endêmicoem Luanda, e em outro lugar em Angola, inclua: Beatrix Heintze, “Asiles toujours menacés:fuites d’esclaves en a Angola au XVIIe siècle,” em Katia de Queiros Mattoso, ed. Esclavages:Histoire d’une diversité de l’océan Indien à l’Atlantique sud. Paris: L’Harmattan, 1997, pág.101-122; Aida Freudenthal, “Os quilombos da Angola nenhum XIX de século: um recu-sa da escravidão,” Estudos afro-asiáticos (Centro de Estudos Afro-Asiáticos, Rio de Janei-ro), No 32, 1997, pp. 109-34; e W.G. Clarence-Smith, “Runaway Slaves and Social Banditsin Southern Angola, 1875-1913,” em G. Heuman, ed. Out of the House of Bondage,Ronaways, Resistence and Marronage in África and the New World. Londres: Frank Cass,1986, pág. 23-33.71 Joseph C. Miller, “The Slave Trade in Congo and Angola” em M.L. Kilson e R.I. Rotberg,eds. The African Diaspora: Interpretive Essays. Cambridge, Mass., 1976, pp. 75-113; idem,Way of Death; e Curto, “Re-assessment of the Legal Slave Trade from Luanda” pp. 3-25.72 Mary C. Karasch, “The Brazilian Slavers and the Illegal Slave Trade, 1836-1851,” tesede M. A. Inédito, Universidade de Wisconsin, 1967; e, Roquinaldo Amaral Ferreira, “DosSertões ao Atlântico: Trafico de Escravos e Comercio Licito na Angola, 1830-1860,” tesede M. A. Inédito, Universidade Federal faz Rio de Janeiro, 1996. Veja também: PhilipCurtin, The Atlantic Slave Trade: A Census. Madison, 1969, pp. 231-264; e, com os dadosmais recentes, David Eltis, “The Volume and Structure of the Transatlantic Slave Trade:A Reassessment,” William e Mary Trimestral, a se tornar acessível.73 Karasch, Slave Life in Rio de Janeiro, pp. 5, 9, 19, e 200; Henry Koster, Travels in Brazil.Londres, 1816, pág. 418; F. Friedrich von Weech, Riesen über a Inglaterra und o Portu-gal nach Brasilien und guarida vereiningten Staaten des La Plata Stromes während guari-

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da Jahren 1823 bis 1827. Munich, 1831, Vol. 2, pág. 92; e “a Angola nenhum XVIII deFim do Século”, pág. 298.74 Curto, “Re-assessment of the Legal Portuguese Slave Trade from Luanda”. Todo os dadossobre a exportação de escravos em seguida listada é tirados desta mesma fonte.75 Sobre a retomada da economia de plantação brasileira ver Dauril Alden, “Late colonialBrazil, 1750-1808,” em Bethell, ed., Colonial Brazil, pp. 310-336; Lang, Portuguese Brazil,pp. 185-187; Caio Prado Jr., História Econômica do Brasil. São Paulo, 1970, pp. 79-87; eSimonsen, História Econômica do Brasil, pp. 363-364.76 Veja Karasch, Slave Life in Rio de Janeiro, pp. 5, 9, 19, e 200; Koster, Travels in Brazil,pág. 418; John Luccock, Notes on Rio de Janeiro and the Southern Parts of Brazil: Takenduring a Residence of Tem Years in that Country, from 1808 to 1818. Londres, 1820,pág. 106; e von Weech, Riesen über a Inglaterra und Portugal nach Brasilien, Vol. 2, pág. 92.77 A existência de tais escravos em Luanda tem sido omitida. Conhecidos como ladinos,os cativos experientes não apenas eram trabalhadores experimentes em diversos tipos decomércios, mas ao invés de escravos vindos do interior, eram também educados para falaro Português, Luso-africano ou estilo de vida colonial. Para uma breve discussão sobre estegrupo de residentes ver Miller, Way of Death, pp. 270-273.

Resumo

Este artigo objetiva, em primeiro lugar, reconstruir a história demográfica de Luandaentre 1781 e 1844, por meio do manejo de um grande número de censos coevos, apon-tando, em última instância, para a possibilidade de reconstituir a história da popula-ção de certas regiões do continente africano para o período anterior a 1900. Em segun-do lugar, no caso específico deste centro urbano, o maior exportador de escravos da costaocidental, indica-se que a sua história populacional não pode ser apreendida unica-mente por meio do manejo de variáveis como os altos graus de mortalidade, resultantesdas secas, das vagas de fome, das epidemias e do próprio processo de escravização. Deve-se levar em conta, ainda, a dinâmica demográfica dos portos escravistas no âmbitomaior do sistema do Atlântico Sul, particularmente a economia política de seu maiormercado, o Rio de Janeiro.

Abstract

The objective of this article is two-fold. First, to reconstruct the demographic history ofLuanda from 1781 to 1844 by drawing upon a relatively large number of censuses,thereby showing that it is indeed possible to reconstruct the pre-1900 population history

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of certain areas of the African continent. Second, in the case of this urban centre, thepremier port along the whole western coast of Africa for the export of slaves to theAmericas, its population history can not be explained solely by factors such as high levelsof mortality resulting from drought, famine, and disease, or slave flight. Rather, thedemographic dynamics of this slaving port need to be understood within the broadercontext of the South Atlantic complex, particularly the political economy of its majormarket, Rio de Janeiro, on the opposite side of the ocean.

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