a dinâmica do losango

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MARCO ANTÓNIO SANTOS E SILVA Porto 2009

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MARCO ANTÓNIO SANTOS E SILVA

Porto 2009

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A dinâmica do LOSANGO, enquanto geometria de organização funcional do jogo de Futebol. Estudo sobre o desempenho ofensivo do sector intermédio, através da análise sequencial.

Monografia realizada no âmbito da disciplina de Seminário do 5º ano da licenciatura em Desporto e Educação Física, na área de Alto Rendimento – Futebol, da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto

Orientador: Professor Doutor Júlio Manuel Garganta da Silva Marco António Santos e Silva Porto, 2009

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Silva, M. (2009). A dinâmica do LOSANGO, enquanto geometria de organização funcional do jogo de Futebol. Estudo sobre o desempenho ofensivo do sector intermédio, através da análise sequencial. Dissertação de Licenciatura. Porto: FADEUP.

Palavras-Chave: PROCESSO OFENSIVO; SECTOR INTERMÉDIO; PADRÕES DE JOGO; METODOLOGIA OBSERVACIONAL; FUTEBOL; ORGANIZAÇÃO TÁCTICA.

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AGRADECIMENTOS

Ao Professor Doutor Júlio Garganta, orientador deste trabalho

monográfico6 O conhecimento alargado sobre a temática e a humildade com

que se relaciona com as pessoas é de facto extraordinária6 Os seus

conselhos são uma fonte de entusiasmo para tentarmos ser MAIS E

MELHOR6 É um orgulho ter recebido as suas orientações neste estudo6

Tudo parece tornar-se mais simples aos seus olhos6

Aos meus pais e irmã6 que me proporcionaram tudo o que fosse

necessário para concluir este trabalho6 Dou-lhes RAZÃO6 A eles devo

TUDO!

À Liliana6 pois reconheço que foi sempre bastante compreensiva e

soube ULTRAPASSAR comigo as noites de maior trabalho6

Ao Toni6 que desde o primeiro ao último momento se disponibilizou

SEMPRE para ajudar! O seu entusiasmo quando se refere à análise sequencial

é cativante e deixa perceber que a sua paixão é mesmo o Futebol6

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ÍNDICE GERAL

AGRADECIMENTOS ................................................................................................................................... 5 ÍNDICE GERAL ............................................................................................................................................ 7 ÍNDICE DE FIGURAS .................................................................................................................................. 8

ÍNDICE DE QUADROS ........................................................................................................................... 9 RESUMO ................................................................................................................................................... 13 1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................................................... 17

1.1 Hipóteses ................................................................................................................................ 22 2. REVISÃO DA LITERATURA .................................................................................................................. 25

2.1 O ‘Jogo’ enquanto sistema multi-variável ........................................................................................ 25 2.2 Sobre a necessidade de partir para a ‘construção’ do Jogo que se quer e definição de princípios de actuação… ............................................................................................................................................ 28 2.3 Entender o Futebol numa perspectiva holística: relação de profunda intimidade entre os quatro momentos de jogo (‘Casamento perfeito’) ............................................................................................. 33 2.4 A posse de bola (princípio colectivo) como imperativo para se chegar a um Processo Ofensivo mais eficaz ............................................................................................................................................ 36 2.5 Princípios/indicadores tácticos específicos de qualidade no Processo Ofensivo ............................ 42

2.5.1 Qualidade na recepção e no passe ......................................................................................... 42 2.5.2 Posicionamento diagonal para passes com segurança ........................................................... 43 2.5.3 Construir triângulos e losangos posicionais para criar linhas de passe ................................... 44 2.5.4 Criação e aproveitamento de espaços livres ........................................................................... 44 2.5.5 Circulação da bola (em velocidade…) e jogo em ‘campo grande’ ........................................... 45 2.5.6 Variabilidade nas respostas dos jogadores e na utilização dos espaços de jogo.................... 45 2.5.7 Variação do ritmo de jogo ........................................................................................................ 46

2.6 A Organização Ofensiva do sector intermédio: Losango geometria na parte (sector) que está no todo (estrutura) ...................................................................................................................................... 48

3. MATERIAL E MÉTODOS ....................................................................................................................... 57 3.1 O Recurso à Metodologia observacional e proposta conceptual .................................................... 57 3.2 Desenho Observacional e Instrumento de Observação .................................................................. 63 3.3 Observação e registo dos dados ..................................................................................................... 78

3.3.1 Critérios taxonómicos da Metodologia Observacional ............................................................. 78 3.3.2 Procedimentos de observação ................................................................................................ 79 3.3.3 Procedimentos de registo ........................................................................................................ 79 3.3.3.1 Directrizes para o registo das sequências PO ...................................................................... 80 3.3.4 Fase exploratória ..................................................................................................................... 86 3.3.5 Análise da qualidade dos dados .............................................................................................. 86

3.4 Amostra de Observação .................................................................................................................. 89 3.4.1 Justificação da selecção da amostra ....................................................................................... 89 3.4.2 Selecção da Amostra Observacional ....................................................................................... 91

3.5 Análise dos dados ........................................................................................................................... 93 3.5.1 Análise sequencial ................................................................................................................... 93 3.5.2 Procedimento dos dados ......................................................................................................... 94

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................................................. 99 4.1 Análise sequencial ........................................................................................................................... 99

4.2.1 Padrões de jogo encontrados para as condutas de Desenvolvimento do Processo Ofensivo (DPO) ............................................................................................................................................. 100

5. CONCLUSÕES .................................................................................................................................... 129 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................. 133 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................................... 143

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ÍNDICE DE FIGURAS

Fig. 1 Losango.

Fig. 2 Formação dum losango no meio-campo da equipa do FC Barcelona.

Fig. 3 Interacção do processo de análise do jogo com o treino e a performance (Garganta, 1997).

Fig. 4 Proposta de Modelo de organização da dinâmica do jogo de futebol.

Fig. 5 Desenhos Observacionais em quadrantes definidos (Adaptado Anguera in Barreira, 2006:72.

Fig. 6 Momento de início do Processo Ofensivo.

Fig. 7 Desenvolvimento do Processo Ofensivo 1.

Fig. 8 Desenvolvimento do Processo Ofensivo 2.

Fig. 9 Desenvolvimento do Processo Ofensivo 3.

Fig. 10 Desenvolvimento do Processo Ofensivo 4.

Fig. 11 Desenvolvimento do Processo Ofensivo 5.

Fig. 12 Final do Processo Ofensivo.

Fig. 13 Losango no meio-campo do FC Barcelona.

Fig. 14 Losango no meio-campo do FC Barcelona.

Fig. 15 Losango no meio-campo do FC Barcelona.

Fig. 16 Padrões prováveis para a conduta DPpmlgcv

Fig. 17 Padrões prováveis para a conduta DPplat

Fig. 18 Padrões prováveis para a conduta DPplprcv

Fig. 19 Padrões prováveis para a conduta DPpllgcv

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ÍNDICE DE QUADROS

Quadro 4.1 Critério 1 do Formato de campo: Início do Processo Ofensivo (IPO)

Quadro 4.2 Critério 2 do Formato de campo: Desenvolvimento do Processo Ofensivo

Quadro 4.3 Critério 3 do Formato de campo: Final do Processo Ofensivo

Quadro 4.4 Critério 4 do Formato de campo: Ritmo de Jogo

Quadro 4.5 Critério 5 do Formato de campo: Espacialização do Terreno de Jogo

Quadro 4.6 Critério 6 do Formato de campo: Centro do Jogo

Quadro 4.7 O instrumento de observação: combinação formato de campo e sistema de

categorias

Quadro 4.8 Sessão de Observação para a análise da qualidade dos dados pela concordância

intra-observador

Quadro 4.9 Análise da qualidade de dados: resultados da fiabilidade para cada um dos

critérios de Formato de Campo (FC)

Quadro 4.10 Sentido prospectivo e retrospectivo utilizado para a análise sequencial de

retardos, tendo como condutas critério o catálogo de condutas de desenvolvimento e final do

Processo Ofensivo.

Quadro 5.1 Padrão de conduta ou “max lag” definitivo para a conduta critério de

Desenvolvimento do Processo Ofensivo por acção individual, tendo como condutas objecto as

condutas comportamentais (IPO, DPO, FPO); as condutas estruturais (ETJ) e as contextuais

(CJ e RJ).

Quadro 5.2 Padrão de conduta ou “max lag” definitivo para a conduta critério de

Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe curto em profundidade, tendo como

condutas objecto as condutas comportamentais (IPO, DPO, FPO); as condutas estruturais

(ETJ) e as contextuais (CJ, RJ).

Quadro 5.3 Padrão de conduta ou “max lag” definitivo para a conduta critério de

Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe curto em largura, tendo como condutas

objecto as condutas comportamentais (IPO, DPO, FPO); as condutas estruturais (ETJ) e as

contextuais (CJ, RJ).

Quadro 5.4 Padrão de conduta ou “max lag” definitivo para a conduta critério de

Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe médio atrasado, tendo como condutas

objecto as condutas comportamentais (IPO, DPO, FPO); as condutas estruturais (ETJ) e as

contextuais (CJ, RJ).

Quadro 5.5 Padrão de conduta ou “max lag” definitivo para a conduta critério de

Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe médio em profundidade sem variação de

corredor, tendo como condutas objecto as condutas comportamentais (IPO, DPO, FPO); as

condutas estruturais (ETJ) e as contextuais (CJ, RJ).

Quadro 5.6 Padrão de conduta ou “max lag” definitivo para a conduta critério de

Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe médio em profundidade com variação de

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corredor, tendo como condutas objecto as condutas comportamentais (IPO, DPO, FPO); as

condutas estruturais (ETJ) e as contextuais (CJ, RJ).

Quadro 5.7 Padrão de conduta ou “max lag” definitivo para a conduta critério de

Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe médio em largura com variação de corredor,

tendo como condutas objecto as condutas comportamentais (IPO, DPO, FPO); as condutas

estruturais (ETJ) e as contextuais (CJ, RJ).

Quadro 5.8 Padrão de conduta ou “max lag” definitivo para a conduta critério de

Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe longo atrasado, tendo como condutas

objecto as condutas regulares (IPO, DPO, FPO); as condutas estruturais (ETJ) e as contextuais

(CJ, RJ).

Quadro 5.9 Padrão de conduta ou “max lag” definitivo para a conduta critério de

Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe longo em profundidade sem variação de

corredor, tendo como condutas objecto as condutas regulares (IPO, DPO, FPO); as condutas

estruturais (ETJ) e as contextuais (CJ, RJ).

Quadro 5.10 Padrão de conduta ou “max lag” definitivo para a conduta critério de

Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe longo em profundidade com variação de

corredor, tendo como condutas objecto as condutas regulares (IPO, DPO, FPO); as condutas

estruturais (ETJ) e as contextuais (CJ, RJ).

Quadro 5.11 Padrão de conduta ou “max lag” definitivo para a conduta critério de

Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe longo em largura com variação de corredor,

tendo como condutas objecto as condutas regulares (IPO, DPO, FPO); as condutas estruturais

(ETJ) e as contextuais (CJ, RJ).

Quadro 5.12 Padrão de conduta ou “max lag” definitivo para a conduta critério de

Desenvolvimento do Processo Ofensivo por cruzamento, tendo como condutas objecto as

condutas regulares (IPO, DPO, FPO, RJ); as condutas estruturais (ETJ) e as contextuais (CJ).

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RESUMO O Futebol é um jogo de preponderância táctica que necessita de uma

continuada e eficaz resolução das situações de jogo, constrangendo os

jogadores a adaptar-se e readaptar-se a novas situações de jogo. Por se tratar

duma actividade não-linear, não é possível estabelecer-se um ciclo de

comportamento antecipadamente, pois cada situação de jogo tem diversas

formas de poder ser resolvida. No entanto, o estudo do fluxo de

comportamentos dos jogadores/equipas de Futebol permite um mais ajustado

conhecimento do jogo e, sobretudo, dos padrões táctico-técnicos que o

configuram que se descobrem e isso permite-nos melhor intervir sobre ele.

No presente estudo desenvolveu-se um instrumento de observação ad

hoc, no sentido de detectar os padrões de conduta do Processo Ofensivo de

equipas que colocavam quatro jogadores organizados em losango no sector

intermédio e procurou-se associá-los à eficácia do ataque. Foram codificados

10 jogos que se enquadram numa Filosofia de jogo orientada por um Futebol

positivo e de iniciativa, das quais saliento o FC Barcelona de Josep Guardiola.

Para o tratamento e análise dos dados recorreu-se ao Software SDIS-GSEQ de

Bakeman y Quera, devido à sua especificidade para analisar eventos múltiplos.

• Os resultados permitiram concluir que: durante o Desenvolvimento do

Processo Ofensivo, um contexto de interacção de superioridade numérica,

relacionado com um losango no Centro do Jogo, permite um Final do Processo

Ofensivo com eficácia; a utilização do passe médio em largura com variação de

corredor seguido dum passe médio em profundidade com ou sem variação de

corredor, associados a acções individuais activam a eficácia no Final do

Processo Ofensivo; a utilização da variação de corredores no decorrer do

Desenvolvimento do Processo Ofensivo é indispensável na criação de

situações de pré-finalização e de finalização; o Desenvolvimento do Processo

Ofensivo por passe curto em largura ou profundidade permite a continuidade

do ataque; Finais do Processo Ofensivo com eficácia são activados por zonas

do sector ofensivo e acções individuais em ritmo rápido; o Processo Ofensivo

termina frequentemente com a recuperação da posse de bola pelo adversário.

Palavras-chave: Futebol, Táctica, Ataque, Análise do Jogo, Análise

Sequencial, Observação.

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1. INTRODUÇÃO

É facilmente reconhecido por todos que, em equipas de Futebol de alto

rendimento, o único objectivo é vencer. Valoriza-se em grande medida o

resultado (produto), menosprezando muitas vezes a forma de o conseguir

(processo). Neste contexto, tratando-se dum objectivo, é ao mesmo tempo uma

necessidade de sobrevivência.

Existem várias formas de jogar e atingir resultados. Por vezes, observa-

se que Treinadores estão tão preocupados com o ganhar e o perder que se

esquecem do que é realmente importante: jogar. Ora, para se jogar duma

determinada forma é preciso treinar porque o Futebol é algo que se vai

construindo.

Os Treinadores deverão ter como preocupação comum recolher

informação do jogo e perceber como é possível intervir sobre os processos de

ensino-aprendizagem e de treino para os tornar mais eficazes/eficientes. Neste

sentido, será importante treinar para jogar e jogar para treinar. Van Gaal (citado

por Pacheco, 2005) refere mesmo que “Treinar é mais importante que jogar e é

nos treinos que se forma a base de todo o jogo”.

A análise do fenómeno do Futebol pode ser ambígua porque este tem

vários sentidos, múltiplas Filosofias e Concepções, permitindo interpretações

diversas e, por isso, está dependente do conhecimento que temos dele. Refira-

“O objectivo do ser humano: actualizar-se, alcançar o seu máximo potencial” Bruce Lee “Uma mente inteligente é uma mente INQUIETA. Não se sente satisfeita com explicações, com conclusões; nem se trata de una mente que crê, porque crer é outra forma de conclusão” Bruce Lee "Recomeça... se puderes, sem angústia e sem pressa e os passos que deres, nesse caminho duro do futuro, dá-os em liberdade, enquanto não alcances não descanses, de nenhum fruto queiras só metade" Miguel Torga “O Futebol parece-se com o ‘ópio do povo’. É um bom entretenimento comparado com o pão e circo que os políticos oferecem ao povo” J. M. Lillo

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se portanto a imprescindibilidade de investigar o Futebol, tornando-o objecto de

estudo.

O Futebol apresenta uma especificidade, uma essencialidade táctica

(Gréhaigne, 1989; Garganta, 1995) porque é nela e através dela que se

consubstanciam os comportamentos que ocorrem durante um jogo (Garganta,

1997). Sabe-se que a dimensão táctica ainda é pouco pesquisada face à

importância que lhe é atribuída no jogo, como resultado da dificuldade que

envolve o seu estudo. Estudar e definir categorias de observação na dimensão

táctica, através de análises quantitativas e qualitativas, é realmente uma tarefa

de enorme complexidade.

Garganta (2008) refere que a consciência de que os constrangimentos

tácticos assumem uma importância vital nos Jogos Desportivos (JD), fez com

que a partir da segunda metade da década de oitenta, a identificação de

padrões tácticos, conseguida com base nos comportamentos patenteados

pelos jogadores e pelas equipas, passasse a ocupar a agenda dos

investigadores. O estudo do fluxo conductural no Futebol é fundamental, no

sentido de ficarmos a conhecer melhor o jogo e tornar possível uma

intervenção mais direccionada no processo de treino.

O Futebol de Alto Rendimento exige cada vez mais dos jogadores e

mais propriamente das equipas, acções táctico-técnicas e procedimentos

colectivos que induzam o desequilíbrio defensivo na organização do

adversário, na perspectiva de contrariar o crescente equilíbrio entre as equipas.

Os Treinadores têm a missão de criar imagens e conhecimentos específicos

para que os jogadores saibam o que fazer, quando fazer, como fazer e porquê

fazer, apresentando uma determinada ordem e, dentro dela, possam expressar

a sua criatividade em prol do colectivo.

O objectivo primário do Futebol é marcar mais golos que o adversário e

isso só será possível tendo a posse de bola. Deve referir-se contudo que as

regras não atribuem golos apenas pelo tempo de posse de bola ou pelo

número de passes realizados. A equipa que tem a posse de bola tem a

iniciativa do jogo, podendo variar entre jogo interior/exterior ou

curto/médio/longo, circular a bola a diferentes velocidades, jogar em

amplitude/profundidade, com o objectivo de criar instabilidade e surpresa no

adversário e no final marcar golo(s).

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No Futebol actual, a ideia de que é preciso ‘encaixar’ no adversário cria

dificuldades acrescidas, sobrevalorizando os adversários em detrimento da

própria equipa e concedendo primazia à transpiração em detrimento da

inspiração (Galeano, 2006).

Os Treinadores que se preocupam em desenvolver uma boa dinâmica

com base nos princípios de jogo e coloquem novos desafios aos

jogadores/equipa no que diz respeito à utilização de variantes estruturais no

decorrer do jogo poderão, de alguma forma, criar mais problemas aos seus

adversários. Citando o exemplo dum Treinador de referência, podemos referir

que José Mourinho tem variado entre a utilização de duas estruturas: o 1-4-3-3

e o 1-4-4-2, sobressaindo a forma como se organizam no sector intermédio,

isto é, triângulo ou losango, respectivamente.

A partir dos anos 70 começou a falar-se de ‘Futebol do centro-

campismo’ (Lobo, 2007:148), começando a ouvir-se os treinadores assumir que

os jogos se ganham no meio-campo. No Futebol actual, percebe-se que os

treinadores têm necessidade de ocupar e dominar o meio-campo para

neutralizar o adversário no espaço onde se começam a congeminar, de forma

mais precisa, as jogadas de ataque (Lobo, 2007:148). Pensa-se que a

densidade de jogadores na zona intermédia está relacionada com o controlo e

domínio do jogo.

Prieto Castro (2009), a respeito dum jogo entre Real Madrid CF e FC

Barcelona mencionava que a equipa que conseguisse dominar a zona central

do terreno de jogo seria capaz de impor o seu estilo de jogo, um baseado na

recuperação e no contra-ataque e outro fundamentado em inúmeras

combinações e na velocidade de circulação da bola. Referia-se ainda ao facto

das características táctico-técnicas de cada um dos médios influenciarem

directamente na ideia e na Filosofia de jogo que propõem os respectivos

Treinadores.

A organização posicional em losango resulta do recuo dum dos

avançados do 1-4-3-3. No plano geométrico, o losango é um bom habitat para

um meio-campo pois toca em largura os seus vários pontos e dá vida a cada

espaço de relva (Lobo, 2007), permitindo uma ocupação mais racional no meio-

campo e mais segurança no momento ofensivo. A organização do sector

intermédio decorre de critérios pré-estabelecidos e dum processo de ensino-

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aprendizagem, relacionado com regularidades que se pretendem adquirir em

sintonia com o Modelo de Jogo do Treinador.

Num desporto de equipa como é o caso do Futebol, o estudo das suas

interacções (dinâmica) é uma tarefa árdua e extremamente complexa devido à

abundância de figuras interactivas que se apresentam nas diferentes posições

relativas de ambas equipas e à fugacidade que caracteriza esta modalidade

desportiva. Esta dificuldade é resultado da subjectividade normalmente

associada ao ‘jogo de opiniões’ em relação aos indicadores desencadeadores

do sucesso que se produz no Futebol.

Urge assim falar na metodologia observacional e nas técnicas de análise

sequencial enquanto modelo de análise adequado ao estudo dos

comportamentos, condutas e relações que se estabelecem num jogo de

Futebol. Esta análise deverá basear-se na utilização de um instrumento de

observação que permita canalizar toda esta ampla casuística de potenciais

relações interactivas (Villaseñor, López, Anguera, 2005). Procederemos à

definição duma ferramenta observacional que permita uma análise dos

Processos Ofensivos1 dentro da organização de jogo destas equipas e em

confronto com os adversários.

As competições são a fonte privilegiada de informação útil para o treino

(Cramer, 1987, citado por Garganta, 1997). É importante recorrer-se à

observação/análise das equipas mais representativas de um nível superior de

rendimento (Castelo, 1992), para que os dados recolhidos sejam relevantes.

Seleccionaram-se algumas equipas para a realização das

observações/análises. A escolha está relacionada com uma Filosofia de Jogo

com iniciativa e na qual ter a posse de bola é ponto fulcral no desenvolvimento

do jogo. Sendo assim seleccionamos o AFC Ajax de Louis Van Gaal � 1-3-4-3;

a Selecção Espanhola de Louis Aragonês � 1-4-4-2; o FC Barcelona de Josep

Guardiola � 1-4-3-3�1-4-4-2 e a Selecção Argentina orientado por Marcelo

Bielsa � 1-3-4-3 porque, como diria Galeano (2006), eu também sou um

“mendigo do bom futebol”.

Este trabalho está indubitavelmente muito associado ao modelo de

pensamento e paradigma de Josep Guardiola, actual Treinador do F.C.

1 O conceito de Processo Ofensivo é abordado no ponto 3.1 do capítulo 3, referente ao Material e Métodos.

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Barcelona, ‘cérebro’ do mítico Dream Team do FC Barcelona e considerado por

muitos como o médio-centro com melhor interpretação de jogo do mundo,

herdeiro da Filosofia de Johan Cruyff e do Método académico e sistemático de

Louis Van Gaal. Atentemos no seu paradigma, o seu pensamento sobre o jogo

quando abraçou a carreira de treinador: “Jogo de posição, abrir o campo pelos

corredores laterais, assumir riscos, jogar ao ataque (6).

O objectivo deste trabalho monográfico passa por estudar o

desempenho ofensivo do sector intermédio através da análise sequencial, no

sentido de identificar padrões de comportamento (regularidades) que os

jogadores/equipas adoptam em função dum determinado contexto (interacção

no Centro de Jogo) e dum espaço, para provocar ruptura ou desorganização no

equilíbrio defensivo do adversário e conduzam a um Processo Ofensivo eficaz.

Uma Monografia é um trabalho académico original sobre um

tema/problema que se pretende bem determinado e delimitado. A pertinência

deste estudo está relacionada com o conhecimento do jogo e com a realidade

prática do Futebol. Por outro lado, o conhecimento adquirido acerca da

Metodologia Observacional com base na análise sequencial será de extrema

utilidade no futuro. Considero um grande desafio e obviamente uma

responsabilidade, mas acredito piamente que os resultados proporcionar-me-

ão satisfação aquando da sua apresentação à comunidade científica.

Page 22: a dinâmica do losango

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1.1 Hipóteses

Depois de se definir os objectivos do estudo procedeu-se à formulação

das seguintes hipóteses:

Hipótese 1

- Existem comportamentos no Processo Ofensivo que, devido à sua elevada

regularidade e probabilidade, permitem afirmar que ocorrem para além do

acaso.

Hipótese 2

- A criação de superioridade numérica no centro de jogo (zona intermédia),

durante o Desenvolvimento do Processo Ofensivo, relaciona-se com um Final

com eficácia.

Hipótese 3

- A combinação do passe em largura com variação de corredor e do passe

médio em profundidade (com ou sem variação de corredor) durante o

Desenvolvimento do Processo Ofensivo no sector intermédio, tem como

consequência um ataque com eficácia.

Hipótese 4

- A utilização do passe curto (em largura e profundidade) e a variação de

corredores de jogo durante o Desenvolvimento do Processo Ofensivo no sector

intermédio e ofensivo potenciam a eficácia no Processo Ofensivo.

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2. REVISÃO DA LITERATURA

2.1 O ‘Jogo’ de Futebol enquanto sistema2 multi-variável

O Futebol tem a capacidade de nos colocar em contacto, como na

dança, com algo do nosso corpo que podemos chamar a pré-história dos

nossos movimentos (Dimitrijevic, 2007). É proibido – se és jogador de campo –

todo o uso da mão e do braço, ou seja, os órgãos com que habitualmente se

realizam todos os actos e nos quais se alcança o maior grau de precisão, de

rendimento e de destreza. Há de alguma forma uma necessidade absoluta

dum retorno às funções arcaicas, contrariando aquilo que é natural.

O Futebol está sujeito à mesma lógica do que vai acontecendo na

sociedade. Valdano (2007) refere que uma equipa é uma sociedade em

miniatura que ensina muito sobre a condição humana, constituindo-se como

um laboratório para analisar os comportamentos do ser humano. Uma equipa

de Futebol pode ser definida como um sistema social, caracterizado pela inter-

relação dos seus sujeitos integrantes e destes com o meio ambiente.

Valdano (2007) lembra a presença no Futebol de três maravilhas

humanas: “a memória (dos nossos ídolos, das pessoas que nos levaram ao

estádio pela primeira vez, da nossa infância vinculada ao jogo), a emoção (que

depende da incerteza dos resultados, do sentimento de pertença que provoca

a nossa equipa e da beleza) e os sonhos (pela capacidade que este desporto

tem de renovar as ilusões a cada semana).”

O Futebol constitui-se como um desporto de cooperação-oposição,

entre dois sistemas complexos, que tentam permanecer em equilíbrio e

desequilibrar o adversário. Seirul-lo (2009) afirma que o Futebol está numa

2 A Teoria dos Sistemas tem como principal objectivo: o esforço humano para prever o futuro. Segundo Bertalanffy (1975), sistema é um conjunto de unidades reciprocamente relacionadas, de onde decorrem dois conceitos: o de objectivo e o de totalidade. Estes dois conceitos retratam duas características básicas de um sistema.

“O Futebol é sempre o mesmo, aos olhos da sociedade é que mudou” Jorge Valdano “Para aprender necessitamos em primeiro lugar de compreender o que queremos aprender” J. A. Marina

Page 26: a dinâmica do losango

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sub-zona limite entre a ordem e o caos3 dissipativo, portanto pertencente ao

âmbito da complexidade, de tal modo que a informação e interacções são as

suas emergências mais notáveis. Segundo o mesmo autor, a informação refere

um nível próximo da zona da ordem e outro produtor de inesperados e às

vezes desconhecidos, padrões informacionais próximos do caos.

É óbvio que a ambição de qualquer Treinador é tentar ser o ‘Deus de

Laplace’ e conseguir prever com uma certeza infinitesimal a evolução do jogo,

controlar esse sistema multivariável. Neste contexto, é relevante fazer a

seguinte pergunta retórica: será que alguém consegue indicar previamente,

com exactidão, o produto de uma quantidade inumerável de interacções, se

estas estão em contínuo dinamismo?

Poder-se-á pensar que o Treinador talvez prefira substituir a

variabilidade pela estereotipia na expectativa de que as atitudes dos seus

jogadores sejam previstas e articuladas com a máxima certeza, de que as

propriedades topológicas do movimento que eles manifestam sejam as menos

variáveis. Ele deve, no entanto, aperceber-se que a máxima estereotipia,

correspondendo à mínima variabilidade, corresponde, também, à mínima

adaptabilidade (Cunha e Silva, 1995).

Galeano (2006) menciona que, por muito que o Futebol se mecanize,

por muito que se torne previsível e enfadonho, o jogo terá sempre lugar para

jogadores como o Cristiano Ronaldo, o Deco, o Eto. Leitão (2004) acrescenta

que o jogo de Futebol deixaria de ser jogo se não houvesse a variável

imprevisibilidade e todas as outras variáveis fossem controladas. Neste caso, a

criatividade terá sempre o seu lugar reservado num campo de Futebol, pois o

detalhe é, realmente, o que confere espectacularidade ao jogo.

Na impossibilidade de abordar o Futebol na sua total expressão, é

importante perceber de que forma a entrada por uma ‘porta principal’ de

acesso ao conhecimento do fenómeno do jogo, pode contribuir para clarificar o

seu entendimento e viabilizar uma intervenção mais eficaz (Garganta, 1997).

Neste sentido, a Análise do Jogo pode ajudar a perceber um pouco do que

3 O Caos é a teoria que explica o funcionamento de sistemas dinâmicos não lineares (complexos). Trata-se do chamado caos determinístico, pois existe uma equação (atractor) que define o seu comportamento. O caos pode ser definido como um processo complexo qualitativo e não-linear – caracterizado pela imprevisibilidade de comportamento e pela grande sensibilidade a pequenas variações nas condições iniciais de um sistema dinâmico (Gleick, 1989).

Page 27: a dinâmica do losango

27

‘esconde’ o Futebol, entendendo o que acontece, onde, como, quando e

porquê e identificando padrões e sistemas complexos no jogo.

Ao retirar informação pertinente dos jogos pode tornar-se os processos

de ensino-aprendizagem mais específicos. A sistematização destas

informações permite configurar modelos da actividade de jogo (Godik & Popov,

1993, citado por Garganta, 1997), que possibilitam, não só construir métodos

de treino mais eficazes (Franks e tal., 1983, Talaga, 1985, citados por

Garganta, 1997) e estratégias de trabalho mais profícuas (Olsen, 1988, citado

por Garganta, 1997), mas também indiciar tendências evolutivas (Franks &

Goodman, 1986, citados por Garganta, 1997).

A imprevisibilidade e aleatoriedade presentes no Futebol colocam aos

jogadores uma exigência de avaliação, antecipação e adaptação constantes e

isto treina-se. Aliás, o Futebol é uma escola de superação pessoal que ensina

a procurar a recompensa: o jogador treina para dar uma melhor versão de si

mesmo no dia do jogo porque a prática ajuda a assimilar extremos tão simples

como ganhar e perder (Valdano, 2007). Neste campo deve referir-se que as

acções específicas do Futebol só fazem sentido quando executadas em

ambientes contextualizados de jogo.

Em termos globais, a defesa tem ganho uma evidente preponderância

em relação ao ataque e como consequência disso é cada vez mais relevante

estudar o Processo Ofensivo para perceber como é que este pode tornar-se

mais objectivo, através da criação de oportunidades de finalização e

concretização das mesmas.

Page 28: a dinâmica do losango

28

2.2 Sobre a necessidade de partir para a ‘construção’ do Jogo

que se quer e definição de princípios de actuação'

A prática do Futebol ao mais alto nível de rendimento, impõe aos

jogadores e às equipas uma forte disciplina táctica, aliada a uma sólida

automatização das habilidades. Por outro lado reclama comportamentos

criativos, que, através da surpresa, do inesperado, provoquem rupturas na

lógica organizativa do adversário (Garganta, 1997). A identificação e o registo

de variáveis de qualidade através da análise dos comportamentos dos

jogadores em contexto de jogo são imprescindíveis para a evolução do

Futebol.

Neste sentido, refira-se que a pertinência do estudo dos problemas

inerentes ao jogo e ao jogador deverá situar-se mais ao nível da interacção

dos factores do que em cada um deles per se (Garganta & Gréhaigne, 1999).

A abordagem sistémica do jogo de Futebol constitui uma importante referência

a considerar nos processos de ensino e treino no Futebol, na medida em que

oferece a possibilidade de identificar e avaliar acções/sequências de jogo que,

pela sua frequente ocorrência, ou por induzirem desequilíbrios (ofensivos e

defensivos) importantes, se afiguram representativos da dinâmica das partidas

(Garganta & Gréhaigne, 1999).

Garganta (1998) refere que as análises de jogo focando os

comportamentos da equipa e jogadores, através da identificação das

“A bola é redonda em todos os sítios, mas em alguns países é tratada

melhor. O Futebol holandês é uma escola ambulante à qual se deve

roubar exemplos” Jorge Valdano

“Este Barça é de Guardiola porque foi quem marcou o caminho, mas é

de todos porque foi o primeiro a insistir que nada é mais importante que

nada. Guardiola foi fundamental na mudança de mentalidade”

“Partimos de uma ideia comum. Crescemos dum conceito comum. Esta

equipa, acima de tudo, é uma ideia. Defendemos uma maneira de jogar

e acreditamos nela desde o início” Andrés Iniesta

"O Treinador tem de ser um guia, um condutor que põe a andar uma ideia” Jorge Valdano

Page 29: a dinâmica do losango

29

regularidades e variações das acções de jogo, bem como a eficácia e

eficiência ofensiva/defensiva são mais profícuas em relação à recolha de

dados quantitativos relativos a acções terminais não contextualizadas. Estas

análises devem tentar assinalar os padrões de comportamento mais eficazes e

representativos dos diferentes momentos/fases de jogo, com base na

identidade da equipa e de acordo com o seu Modelo de Organização

preconizado (regularidades).

No Futebol, a ideia central, o ponto de partida é a Concepção. Tal como

defende Cruyff (2002) é preciso ter uma cultura própria, um ideal, que tem a

ver com saber o que queres jogar e com quem queres fazê-lo. O Treinador

deve ter um corpo de ideias concretas acerca de como quer que o jogo seja

praticado. De seguida torna-se importante elaborar e conceber Modelos,

construções simbólicas com a ajuda das quais se pode definir projectos de

acção, avaliar os seus processos e a sua eficácia (Le Moigne, 1990). Por isso,

o Modelo de Jogo orientador é imperial no sentido de criar um contexto comum

de significados, conhecimentos partilhados, normas de conduta e proporcionar

aos seus membros uma identidade colectiva e um âmbito claramente

delimitado que estes sentem como seu (Fritjof Capra, 2009).

A identificação com o Projecto de Jogo é decisiva para que esse jogo

possa chegar a ser profundamente significativo para a totalidade do conjunto e

assentar num corpo particular de conhecimento (Cano, 2009). Morcillo (2009),

citando Cano (2004), revela que o conhecimento não é uma meta, não é um

espaço onde chegar, não é um porto onde atracar, mas sim uma espiral onde

se ingressa, impulsionado por uma ignorância assumida, que se manifesta

uma e outra vez, propulsionado pelo motor da preocupação.

Neste contexto, qualquer grupo orientado por um objectivo comum inicia

o seu processo de transformação para a equipa ao nível das suas metas,

tarefas, responsabilidades, deveres e direitos (Noguera, 2005). Messi (2009)

em entrevista ao ‘El Mundo Desportivo’ a propósito da Liga dos Campeões

mencionava que “6o que mais importa é que façamos o nosso Futebol, que

cheguemos à final com a nossa Filosofia de Futebol6”

Deve ocorrer uma clara identificação entre as ideias do Treinador e as

características dos jogadores que dispõe. Por exemplo, um Treinador pode

entender que a ocupação da zona intermediária se torna mais racional através

Page 30: a dinâmica do losango

30

dum meio-campo organizado em losango, mas depois não ter jogadores que

possuam características para esta forma de organização.

Portanto, a partir do momento em que o Modelo está bem definido, o

Treinador tenta operacionalizar o Projecto de Jogo num contexto de

crescimento (treino/competição), modelando as relações e interacções dos

jogadores duma forma sempre contextualizada pelo jogar que se pretende.

Carvalhal (2001) refere que o guião de todo o processo de treino deverá ser o

Modelo de Jogo Adoptado, estando este dependente de um sistema de

relações que vai articular uma determinada forma de jogar, subjacente a uma

estrutura específica.

As tomadas de decisão dos jogadores não podem acontecer de forma

casual, mas baseadas nos Princípios orientadores do Modelo que, em conjunto

com determinadas regras de acção, farão com que a equipa actue com uma

lógica interna de funcionamento. Representam a fonte de acção e definem as

propriedades invariáveis sobre as quais se realizará a estrutura fundamental de

desenvolvimento dos acontecimentos (Bayer, 1986). Um Princípio de Jogo é o

início de um comportamento que o Treinador pretende que a equipa assuma

em termos colectivos bem como os jogadores em termos individuais

(Guilherme Oliveira, 2006). É fundamental definir os Princípios de Jogo que

balizem os comportamentos colectivos, visto que o jogo pelo seu carácter

imprevisível não permite acções planeadas na sua plenitude, pois vai sendo

construído conforme as respostas que os jogadores vão oferecendo

pontualmente naquelas situações. Estas respostas surgem da interacção dos

jogadores com a equipa, com o adversário, com a posição da bola e de muitas

outras variáveis.

Os comportamentos exteriorizados pelos futebolistas durante o jogo

traduzem, em grande parte, o resultado das adaptações provocadas pelo

processo de treino (Garganta, 1997). Neste campo, o Treinador tem a

responsabilidade de operacionalizar os Princípios tácticos de interacção,

desenvolvendo regularidades na desordem do jogo e solidez à dinâmica da

equipa e avaliar constantemente se o jogo corresponde ao que foi idealizado.

O processo de treino tem como objectivo o desenvolvimento de

respostas às exigências desportivas e sua aplicação na competição (Marques,

1983 e Lehnert, 1986, citado por Leitão, 2004). Amieiro (2005) refere que

Page 31: a dinâmica do losango

31

“treinar é fabricar o jogar que se pretende”. É por esta razão que o Futebol é

considerado um fenómeno construído (Frade, 2002 citado por Amieiro, 2004).

No treino desenvolve-se a familiaridade (intimidade) nas relações que se

estabelecem entre os jogadores e a continuidade destas interacções ajuda-os a

reconhecer as respostas mais adequadas ao contexto, através da cumplicidade

comportamental que se vai adquirindo.

O líder de todo o processo deve ser dominador táctico do jogo (ao nível

do conhecimento e cultura táctica) e ter inteligência emocional para gerir os

problemas que a equipa vai apresentando, exercitando e valorizando mais uns

Princípios de Jogo num determinado momento em detrimento doutros. É

importante que se seleccionem exercícios que, pela sua estrutura e

funcionalidade, promovam de forma não consciente comportamentos e

conhecimentos adequados ao pretendido, em consonância com os Princípios

do Modelo de Jogo do Treinador.

Durante a sua realização, o Treinador deve funcionar como catalisador

positivo dos comportamentos desejados, associando-lhes emoções positivas

e/ou marcadores somáticos positivos e inibindo os comportamentos

inadequados (Oliveira, 2004), promovendo uma descoberta guiada aos

jogadores. A automatização das condutas apenas acontece através duma

repetição intencional dos gestos correctos (Armental, 2004). Vamos supor um

exemplo apresentado por Oliveira (2004): uma equipa cuja disposição dos

jogadores do seu sector do meio-campo é em losango. O Treinador propõe um

exercício de posse/circulação da bola entre duas equipas de quatro jogadores,

com o objectivo de fazer chegar a um quinto jogador. Se a disposição dos

jogadores é em losango, as adaptações, os comportamentos e as imagens

mentais/conhecimentos criados estão relacionados com o pretendido. Pelo

contrário se a disposição dos jogadores fosse em quadrado isso já não se

verificava.

Através dos dados recolhidos no jogo, o Treinador faz uma avaliação

constante dos comportamentos e interacções que necessitam de ser

melhoradas e direcciona a atenção dos jogadores para o que se pretende

potenciar no treino/competição.

A impossibilidade de identificar a totalidade dos condicionalismos e de

constrangimentos fundamentais que induzem alterações importantes no

Page 32: a dinâmica do losango

32

decurso dos acontecimentos (Garganta, 1997), está relacionada com uma

‘irregularidade regular’, uma ‘imprevisibilidade previsível’ e uma ‘desordem

ordenada’ que se manifesta no fenómeno do Futebol.

A evolução positiva nos meios de análise tem permitido melhorar: i) o

conhecimento da organização do jogo e dos factores que concorrem para o

sucesso desportivo; ii) o planeamento e a organização do treino, tornando os

seus conteúdos mais objectivos e específicos; e iii) a regulação da

aprendizagem, do treino e da competição (Garganta, 1998).

Page 33: a dinâmica do losango

33

2.3 Entender o Futebol numa perspectiva holística: relação de

profunda intimidade entre os quatro momentos de jogo

(‘Casamento perfeito’)

O Futebol tem, na sua essência, quatro momentos que estão presentes

em qualquer partida que seja disputada:

• Momento de Organização Defensiva;

• Momento de Transição defesa-ataque;

• Momento de Organização ofensiva;

• Momento de Transição ataque-defesa.

A natureza complexa e não-linear do jogo não permite que seja prevista

a ordem em que esses quatro momentos irão ocorrer, não se conseguindo

antever uma linha de progressão única, pois esta vai sendo desenhada de

acordo com as respostas colectivas dos jogadores e das equipas aos estímulos

do jogo. Chamam-se momentos (e não fases) pelo facto da ordem de

apresentação ser arbitrária e não sequencial (Oliveira, 2004).

Os diversos momentos do jogo (ataque, defesa, transição para ataque e

transição para defesa) não podem ser vistos como estanques em si mesmos,

isto é, eles dependem-se mutuamente e na construção dos Princípios de cada

um deles temos de ter em conta a ligação com os restantes sob pena de haver

uma desarticulação comprometedora da qualidade do jogo” (Frade, 2004a, in

Campos, 2008).

No Futebol é preciso entender o Processo Ofensivo como o momento

em que a equipa tem a posse da bola e o Processo Defensivo como o

momento em que a posse de bola é do adversário. A Transição ataque-defesa

“É sabido que a água (H2O) é um meio essencial para apagar o fogo, no entanto, se separarmos as suas componentes, hidrogénio e oxigénio, qualquer uma destas ao invés de apagar o fogo, incandesce-o ainda mais” Karl Popper “Não podes tapar um olho e jogar só uma coisa: Defender ou Atacar!” J. M. Lillo “Temos ainda que caminhar bastante no entendimento, nasistematização destas coisas, no sentido de perceber as suas conexões e de entender o Jogo como um fluxo contínuo” Júlio Garganta

Page 34: a dinâmica do losango

34

corresponde ao momento de perda da bola e a Transição defesa-ataque

corresponde ao momento de ganho da posse de bola. Estes processos estão

intrinsecamente tão interligados que seria impensável tanto analisá-los como

treiná-los de forma isolada.

O momento de Organização Defensiva caracteriza-se pelos

comportamentos assumidos pela equipa quando não tem a posse da bola com

o objectivo de se organizar de forma a impedir a equipa adversária de preparar,

criar situações de golo e de marcar golo (Oliveira, 2004). A recuperação da

posse de bola é uma tarefa que pode tornar-se mais ou menos complicada

dependendo do nível de operacionalização nos Princípios Defensivos de jogo,

ao nível organizacional, operacional e estrutural. E está também ligada ao jogo

posicional do adversário, à sua capacidade de circular a bola e de progredir em

direcção ao campo e baliza do adversário.

Segundo Amieiro (2005), a Organização Defensiva só conseguirá ser

verdadeiramente colectiva se as acções táctico-técnicas realizadas por cada

um dos onze jogadores forem perspectivadas em função de uma ideia comum,

respeitando um referencial colectivo, em que as tarefas individuais dos

jogadores se relacionam e regulam entre si. O autor ainda afirma que apenas

assim o ‘todo’ (equipa que defende) conseguirá ser maior que a soma das

partes que o constituem (comportamentos táctico-técnicos de cada jogador).

Frade (2002) afirma que para uma equipa atacar com muitos jogadores

sem tornar-se desequilibrada deve “dar particular atenção aos timings de

transição”. Para se treinar as Transições Defensivas e Ofensivas são

necessários Princípios de Jogo bem estabelecidos. O momento de Transição

ataque-defesa é caracterizado pelos comportamentos que se devem assumir

durante os segundos após se perder a posse de bola (Oliveira, 2004). Ao

perder a bola, deve-se definir referências para pressionar o portador da bola

rapidamente, reorganizar-se em linhas mais recuadas ou coordenar as duas

respostas numa análise rápida da situação. Portanto, no momento da perda da

bola, a equipa passa por um período de desequilíbrio, na procura incessante de

novo equilíbrio.

O momento de Transição defesa-ataque é caracterizado pelos

comportamentos que se devem ter durante os segundos imediatos ao ganhar-

se a posse de bola. Quando recupera a bola, a equipa deve saber se é o

Page 35: a dinâmica do losango

35

momento de contra-atacar, tirar a bola da zona de pressão ou alternar entre

ambos de acordo com o comportamento do adversário. Numa situação de

contra-ataque, a equipa que recupera a posse de bola tenta aproveitar o facto

do adversário ainda não ter conseguido o equilíbrio defensivo.

O momento de Organização Ofensiva é caracterizado pelos

comportamentos que a equipa assume aquando da posse de bola com o

objectivo de preparar e criar situações ofensivas de forma a marcar golo. Uma

equipa que tem a posse de bola procura organizar-se para ter equilíbrio

ofensivo, na tentativa de destabilizar o equilíbrio defensivo do adversário.

Sabe-se que o Futebol é, dentro dos Jogos Desportivos Colectivos,

aquele que tem menor índice de concretização/finalização dos ataques. Bate

(1988, in Laranjeira, 2009) considera que as equipas que tiverem maior posse

de bola, terão maiores hipóteses de aumentar o número de entradas no último

terço de terreno e assim obter situações de marcação de golo e a diminuição

do número de entradas na zona defensiva por parte da equipa adversária.

Cruyff (2009) conta que a equipa do FC Barcelona, pela sua maneira de

jogar, corre menos do que parece porque os jogadores se divertem com a bola,

fazendo com que os adversários sejam obrigados a correr atrás dela. O mesmo

autor refere-se ao estilo ofensivo desta equipa, caracterizando-o pelo “toque, a

posição, o meinho6”. O autor sempre defendeu que é possível ganhar jogando

bonito, dando espectáculo e por isso quando se joga bem e se ganha, tudo

custa menos. Acrescenta dizendo que o ponto de partida é que a equipa

mande em campo, que tenha a iniciativa, que tente atacar sempre – “atacar

bem para defender melhor” (Cruyff, 2009), garantindo que se a equipa em

posse de bola fizer bem os movimentos ofensivos defenderá melhor.

Quando a equipa joga bem está mais perto de marcar golos e ter

resultados positivos. Fernandez (2003, citado por Laranjeira, 2009) expõe que

a Organização Ofensiva de uma equipa deve englobar um conjunto de acções

relacionadas com o equilíbrio defensivo, com o qual se procura que a equipa

esteja preparada e organizada perante uma perda de bola, ou seja, que a

equipa antecipe estes momentos.

Page 36: a dinâmica do losango

36

2.4 A posse de bola (princípio colectivo) como imperativo para

se chegar a um Processo Ofensivo mais eficaz

A elevação do jogo a objecto de estudo constitui um imperativo,

porquanto o conhecimento da sua lógica e dos seus Princípios tem implicações

importantes nos planos de ensino, treino e controlo da prestação dos

jogadores e das equipas (Garganta & Gréhaigne, 1999).

A planificação conceptual da Organização da equipa estabelecida a

partir de um determinado Modelo de Jogo, deverá fundamentar-se na base de

um sentido unitário que é expresso pela seguinte noção objectiva: a posse ou

não da bola Correia (2003, citado por Laranjeira, 2009).

No Futebol, tal como nos outros Jogos Desportivos Colectivos (JDC),

face a situações de oposição dos adversários, os jogadores devem coordenar

as acções com a finalidade de recuperar, conservar e fazer progredir o móbil

de jogo (bola), tendo como objectivo criar situações de finalização e marcar

golo (Gréhaigne & Guillon, 1992, citado por Garganta & Gréhaigne, 1999).

Um dos grandes problemas do jogo de Futebol consiste em conseguir

oportunidades de finalização (Castelo, 1992) e, quando concede ênfase ao

Processo Ofensivo, estamos a retirar do jogo partes do mesmo (momentos e

princípios), decompondo-o e articulando-o em acções também elas complexas,

não no sentido de o partir, mas sim de privilegiar as relações e os hábitos

(Carvalhal, 2001).

“A posse de bola é um objectivo parcial do jogo” “Desde que colocaram as balizas no campo de futebol, vence o que consegue meter a bola lá dentro e não o que mais a tem” J. M. Lillo “Também o futebol foi atacado pela necessidade de eficácia e há quem se atreve a perguntar para que serve jogar bem. É tentador contar que um dia ousaram perguntar a Borges para que serve a poesia e este contestou com mais perguntas: Para que serve um amanhecer? Para que servem as carícias? Para que serve o odor do café? Cada pergunta soava como uma sentença: serve para o prazer, para a emoção, para viver” “Toda a equipa que trata bem a bola, trata bem o espectador” Jorge Valdano

Page 37: a dinâmica do losango

37

Gréhaigne (1989) sustenta que é possível caracterizar os

traços/comportamentos determinantes e as situações desencadeantes dos

momentos de ruptura produzida no sistema ataque-defesa aquando da

marcação de um golo.

Para se estudar esses momentos chave, é necessário analisar o

Processo Ofensivo que se inicia quando a equipa entra em posse de bola e,

sem infringir as leis de jogo, através de acções individuais e colectivas, criar

situações de finalização para obter golo (Queiroz, 1983). Garganta (1997)

defende que uma equipa se encontra em posse de bola, quando qualquer um

dos seus jogadores respeita, pelo menos, uma das seguintes situações: a)

realiza pelo menos três contactos consecutivos com a bola; b) executa um

passe positivo (permite manter a posse de bola); c) realiza um remate

(finalização).

Num jogo de Futebol, o objectivo principal é marcar mais golos que o

adversário e só será possível se essa equipa encontrar soluções para a

resolução prática dos problemas que se lhe apresentam durante a competição.

Sabe-se que apenas 1% dos ataques terminam com a obtenção de golo

(Dufour, 1993).

A necessidade imperial de tornar o Processo Ofensivo mais objectivo e

concretizador, conduzindo à criação de um maior número de oportunidades de

golo, tem sido uma preocupação de todos aqueles que pretendem ver

aumentada a qualidade e espectacularidade deste JDC (Luhtanen, 1993).

Estes factos justificam que a procura de traços e de variações

comportamentais, individuais e colectivas, tenha sido maioritariamente dirigida

para as acções ofensivas (Luhtanen, 1993).

Nesta procura incessante da eficácia, é indispensável que os jogadores

conheçam os Princípios gerais que regem as suas condutas no ataque:

assegurar e conservar a posse de bola, progredir e atacar de forma

permanente a baliza adversária e concretizar em golo os ataques (Antón,

2003).

Observamos com muita frequência a inexistência duma relação directa

entre as equipas com mais posse de bola e os melhores resultados

desportivos. No entanto, a equipa que tem a posse da bola tem também a

iniciativa, sendo condição ‘sine qua non’ para poder ganhar um jogo.

Page 38: a dinâmica do losango

38

No Processo Ofensivo é preciso conservar e proteger a posse da bola,

tanto desde uma perspectiva individual – que se traduz na qualidade técnico-

táctica de controlo da bola, na sua protecção, na sua condução, no seu drible,

no passe, como na qualidade da coordenação colectiva – expressa na prática

pela distribuição e organização dos apoios em cada momento, o dinamismo

colectivo (Antón, 2003).

A posse de bola pode fazer-se em várias zonas do campo, o que, por

vezes, impede a tentativa de conseguir golo de forma imediata, obrigando a

equipa a levar a bola para zonas mais próximas da baliza adversária.

Cruyff (2009) lembra que cada passe, cada movimento, tem de ter um

sentido, ou seja, se fazes ‘posse por posse’ e se estás em zona de perigo, mais

cedo ou mais tarde um jogador comete um erro e a equipa torna-se vulnerável

aos contra-ataques dos adversários. É importante que os jogadores/equipas

saibam o que fazer quando têm a bola, pois quanto menos uma equipa perder

a bola menos vezes precisa de se organizar para a recuperar.

A posse de bola, para além da concretização do objectivo de jogo,

permite que as equipas (Castelo, 1994): controlem o ritmo de jogo;

surpreendam a equipa adversária através da mudança contínua do centro de

jogo; obriguem os adversários a passar por longos períodos sem a posse de

bola, levando-os a entrar em crise de raciocínio.

Ao longo da história do Futebol, as defesas foram-se reforçando

progressivamente (inclusão de maior número de jogadores inseridos na fase

defensiva), com o intuito de resistirem a ataques cada vez mais fortes e

organizados, tendo como consequência a supremacia da defesa em relação ao

ataque. Neste sentido, é sublinhada a necessidade de descobrir automatismos

no Processo Ofensivo para surpreender, criar desordem/desequilíbrio e

ultrapassar as defesas adversárias.

Determinados Modelos de Jogo privilegiam os passes curtos com

predominância para as ‘lateralizações’, outros passes longos e em

profundidade, e ainda outros combinam estas duas características, passes

curtos integrados com acções de ‘desencaixe’, que se tornam selectivamente

efectivas consoante a situação ou conjectura do momento do jogo (Dias, 2000,

citado por Laranjeira, 2009).

Page 39: a dinâmica do losango

39

Na actualidade, o FC Barcelona é um exemplo do Futebol positivo, pela

beleza geométrica coloca nos lances ofensivos, que normalmente se traduz

em muitos golos. Guardiola, actual Treinador do FC Barcelona, herdeiro da

Escola de Cruyff e da Metodologia geométrica de Van Gaal, enquanto jogador

era considerado o ‘arquitecto no centro do terreno’, pela forma simples e

elegante com que delineava todas as jogadas e tornava o jogo colectivo. Só se

pode transmitir aquilo que se sente e Guardiola transmite aos seus jogadores a

sua ideia de jogo, falando-lhes de posição, desequilíbrio, circulação, desejo de

ganhar, trabalhar para ser melhor.

Portanto, para que se possa avaliar correctamente a eficácia do

Processo Ofensivo, é importante considerar todas as situações que permitem

perceber o nível de produção de jogo ofensivo das equipas e não apenas

aqueles que conduzem à obtenção de golo (Garganta, 1997).

Um estudo sobre o Mundial de Futebol de 2006 na Alemanha (Bueno,

2006) chegou a conclusão que as zonas de maior pressão e densidade de

jogadores correspondem a zona de meio-campo. Cruyff (2002) refere que, no

seu tempo, colocava 4 médios que sabiam dominar a bola nesta zona,

posicionados em losango. Guardiola aquando da sua passagem pela equipa B

do FC Barcelona também utilizou uma estrutura com 4 médios em losango,

subindo um dos defesas para integrar a posição de médio-centro.

O estudo refere igualmente algumas formas de combater este aspecto

no treino, aconselhando a utilizar situações que propiciem uma rápida

circulação da bola no centro do terreno e mudanças de orientação do jogo, de

forma a combater a pressão dos adversários nestas zonas do campo. Outra

das conclusões desse estudo menciona a imprescindibilidade de dominar um

amplo repertório de ‘estilos’ de jogo de ataque.

Daqui se percebe a imprescindibilidade de estudar e analisar os

Métodos de Jogo Ofensivo. Estes evidenciam a forma de organização das

acções dos jogadores na fase ofensiva, com o intuito de concretizar um

conjunto de Princípios implícitos no Modelo de Jogo da equipa, garantindo a

racionalização do processo, desde a recuperação da bola até à

progressão/finalização e/ou manutenção da posse de bola (Garganta, 1997). O

referenciado autor apresenta três Métodos de Jogo Ofensivo no seu estudo:

Page 40: a dinâmica do losango

40

• CONTRA-ATAQUE – A bola é recuperada no meio campo

defensivo e a equipa adversária apresenta-se avançada no

terreno de jogo e desequilibrada defensivamente; utilizam-se

preferencialmente passes longos e para a frente; a circulação da

bola é realizada mais em profundidade do que em largura, com

desmarcações de ruptura; realizam-se passes em número

reduzido (igual ou inferior a 5); há uma rápida transição da zona

de conquista da bola para a zona de finalização, baixo tempo de

realização do ataque, em regra, igual ou inferior a 12’’; o ritmo de

jogo é elevado (elevada velocidade de circulação da bola e de

jogadores).

• ATAQUE RÁPIDO – A bola é recuperada no meio campo

defensivo ou ofensivo e a equipa adversária apresenta-se

equilibrada defensivamente; a circulação da bola é realizada em

profundidade e em largura, com passes rápidos, curtos e longos

alternados e desmarcações de ruptura; o número máximo de

passes realizados não ultrapassa os 7; o tempo de realização do

ataque não ultrapassa, em regra, os 18’’; o ritmo de jogo é

elevado (elevada velocidade de circulação da bola e dos

jogadores).

• ATAQUE POSICIONAL – A bola é recuperada no meio campo

defensivo ou ofensivo e a equipa adversária apresenta-se

equilibrada defensivamente; a circulação da bola é realizada mais

em largura do que em profundidade, com passes curtos e

desmarcações de apoio; número de passes acima dos 7; o tempo

de realização do ataque é elevado (superior a 18’’); o ritmo de

jogo é lento relativamente aos dois métodos anteriores (menor

velocidade de circulação da bola e dos jogadores).

Um Ataque Posicional só pode ser realizado havendo variabilidade de

acções e ritmos de intervenção, domínio da bola e a colaboração com os

colegas de equipa (Antón, 2003). Através da análise da táctica grupal das

equipas participantes no Mundial de futebol de 2006 na Alemanha (Bueno,

2006) veio a constatar-se que estilos de ataque posicionais mais elaborados

Page 41: a dinâmica do losango

41

também são eficazes para combater os ‘sistemas defensivos’ das melhores

selecções do campeonato.

O FC Barcelona de Guardiola veio dar força a esta constatação, pois a

partir do seu jogo percebeu-se que a posse/circulação da bola com critério

também pode ser um meio importante para conseguir entrar nos espaços

criados.

No contexto actual, parece que muitas equipas se sentem mais

confortáveis sem a bola, procurando esperar pelos erros dos adversários. O

mesmo estudo (Bueno, 2006) chegou à conclusão que estilos de jogo

baseados no contra-ataque e ataques rápidos, que tanto êxito tiveram em

edições anteriores dos Mundiais, não tiveram tanta importância como seria

esperado.

Page 42: a dinâmica do losango

42

2.5 Princípios/indicadores tácticos específicos de qualidade no

Processo Ofensivo

Os princípios específicos do jogo colectivo ajudam a precisar mais

detalhadamente os comportamentos do jogador e a melhorar a organização

racional da equipa.

Durante o Processo Ofensivo é necessário o desenvolvimento de

determinadas acções que permitam a concretização dos princípios gerais do

ataque.

A finalidade de qualquer acção ofensiva é provocar efeito surpresa, no

sentido de criar e explorar o desequilíbrio induzido no dispositivo adversário.

2.5.1 Qualidade na recepção e no passe

Garganta (1997) observou que o tipo de passe e de ritmo de jogo estão

associados à eficácia ofensiva das equipas de futebol.

O Futebol é, na sua essência, um ‘jogo de passes’ e nesse sentido, um

ponto imperial para que o jogo seja fluído e tenha alguma continuidade é a

qualidade na recepção-passe. Neste sentido, a segurança no passe implica

que o jogador que passa eleja adequadamente e o jogador que recebe se

desmarque oportunamente (Antón, 2003).

Cruyff (2009) relata que quando se realiza um passe é importante não

colocar em problemas o colega a quem este pretende endereçar a bola. Há, na

realidade, jogadores que se destacam pela qualidade técnico-táctica no

controlo e passe. Guardiola destaca a velocidade de execução do primeiro

controlo (recepção) de Iniesta pelo facto de permitir dar continuidade ao jogo.

A missão do Treinador é reforçar a consecução de hábitos, de

conteúdos, de condutas, através da tomada de decisões no Processo Ofensivo

“Há muitas maneiras de jogar futebol, mas quando escolhes um estilo, uma ideia, em que se tenta unir a beleza do jogo com a vitória, sempre que ela acontece, sentes mais prazer, desfrutas e sentes mais felicidade que os demais” Johan Cruyff

Page 43: a dinâmica do losango

43

e Defensivo e ainda nos momentos de Transição, em função das

circunstâncias que se apresentam.

Segundo Garganta (1997), o desenvolvimento do comportamento dos

jogadores num jogo decorre da relação entre a permanência de invariantes, da

manifestação de regularidades e da produção de novidade.

No decorrer dum jogo, o observador não consegue aferir sobre o

processo interno de tomada de decisão, mas pode tentar perceber o nível de

adequação à situação e contexto. Expõe que o processo de interpretação e

reflexão sobre o jogo decorre em primeira análise da natureza dos modelos

(representações) do observador.

Cruyff (2002) subiu várias vezes de escalão etário porque os seus

Treinadores acharam conveniente que houvesse um incremento de

dificuldade/complexidade na sua formação, o que o obrigou a desenvolver o

raciocínio táctico, no sentido que conseguisse ver o campo mais rápido e

passasse a bola mais cedo, tomando decisões mais eficazes.

2.5.2 Posicionamento diagonal para passes com segurança

Um outro indicador que permite assegurar a qualidade é a realização

dos passes em trajectórias diagonais. Os jogadores sem bola devem

posicionar-se como receptores em diagonal e entrelinhas em relação ao

jogador que tem a bola, já que assim possibilitam que os passes se façam de

forma a ir eliminando zonas de configuração espacial adversária ou pelo menos

de alguns jogadores (Silva, 2004). Na opinião de Guardiola (2009), quando

uma equipa está em fase defensiva é muito mais difícil controlar uma bola em

diagonal.

Para que haja uma visão mais ampla do terreno de jogo, o jogador deve

ainda tentar receber a bola com a posição do corpo de “perfil” em relação ao

portador da bola.

Page 44: a dinâmica do losango

44

2.5.3 Construir triângulos e losangos posicionais para criar linhas

de passe

A exacerbação do posicional e a ocupação racional do espaço da parte

dos jogadores são também factores muito importantes. Na perspectiva de

Antón (2003), cada jogador deve ocupar espaços que permitam assegurar

apoios em largura e profundidade, independentemente do dispositivo táctico

elegido.

Em cada momento de jogo, o jogador com bola deve dispor de

jogadores que o apoiem na sua acção, sempre que seja possível, pela frente,

por trás e em ambos os lados. A ajuda da parte dos jogadores que não

possuem a bola manifesta-se através de apoios, de desmarcações, de criação

de espaços, do ‘fixar’ e arrastamento de defesas para ampliar o espaço.

A tentativa de construir triângulos e losangos, a um nível sectorial ou

inter-sectorial, proporciona uma ocupação racional do espaço e um equilíbrio

na ocupação de todos os sectores do campo.

Segundo a opinião de Antonio Cortés Inês (2009), esta disposição

permite ter o controlo do jogo a partir da posse de bola.

A existência de jogadores de linhas atrasadas (jogador-janela), em

posição de passe de segurança funciona no sentido de ‘descongestionar’ o

jogo.

2.5.4 Criação e aproveitamento de espaços livres

A criação e exploração dos espaços livres são procedimentos tácticos

essenciais para a persecução dos objectivos do ataque.

Os movimentos sem bola, acompanhados pela criação de zonas de

incerteza, provocam intencionalmente a libertação dum espaço de jogo e

consequente desorganização na estrutura defensiva do adversário, para depois

a bola entrar num jogador que ocupa esse espaço, permitindo progredir na

direcção da baliza adversária (Pereira, 2006).

Page 45: a dinâmica do losango

45

2.5.5 Circulação da bola (em velocidade;) e jogo em ‘campo

grande’

Uma equipa, quando ataca, deve procurar ‘clarear’ o jogo, deve procurar

fazer ‘campo grande’, ocupando corredores, dando profundidade e largura ao

jogo (Frade, 2002 citado por Amieiro, 2004).

A circulação da bola só será possível através da mobilidade dos

jogadores, com bom jogo posicional e jogando em ‘campo grande’ (com os

jogadores afastados em largura e profundidade6).

Cruyff (2009) lembra a importância de circular a bola rápido para que o

adversário chegue atrasado na pressão.

No F.C. Barcelona encontra-se o melhor exemplo disto mesmo. Esta

equipa realça a necessidade de impor um ritmo alto na circulação da bola para

se conseguir esse meio metro de vantagem que nunca se conseguirá ganhar

se não se fizer circular a bola velozmente. Se o passe é feito com uma bola

tensa e com velocidade, quem recebe sente essa energia e tenta igualmente

colocar ritmo ao jogo.

2.5.6 Variabilidade nas respostas dos jogadores e na utilização dos

espaços de jogo

Garganta (1997) considera a estruturação do espaço de jogo uma

componente fundamental no processo de construção de uma equipa desde o

nível individual, manifestada na compreensão e ocupação de espaços mais

interessantes por parte do atleta a cada situação-problema que o jogo

apresenta e na gestão colectiva do espaço de jogo, onde a equipa se estrutura

em campo com o intuito de obter vantagem espacial e numérica pelo maior

tempo possível nas mais variadas zonas do campo.

Este autor estudou a Organização Ofensiva de equipas profissionais de

Futebol e observou que a variabilidade das acções ofensivas está directamente

relacionada com a eficácia das mesmas nos jogos.

Page 46: a dinâmica do losango

46

Cruyff (2002) menciona que o imprevisível se produz quando se muda

de ângulo, com diagonais ou passes em profundidade, procurando a

verticalidade, com mudanças de um lado ao outro.

A variabilidade e alternância de respostas permite evitar a

adaptação/antecipação dos adversários e a mecanização do jogo de ataque

porque normalmente as forças defensivas concentram-se na zona onde está a

bola (Antón, 2003). O mesmo autor diz ainda que a equipa que ataca deve

mudar frequentemente de espaços, movendo com rapidez o jogo desde um

extremo ao outro, pois com isso facilitará a penetração de jogadores,

aproveitando o facto da defesa ter menor densidade e obrigar os defesas a

realizar um maior desgaste físico e psíquico ao aumentar os seus

deslocamentos.

2.5.7 Variação do ritmo de jogo

A variação do ritmo de jogo parece tratar-se um dos aspectos ao qual os

Treinadores atribuem mais relevância na actualidade.

Para que o adversário seja verdadeiramente colocado à prova, a equipa

deve aprender a controlar o ritmo do seu jogo, evitando risco exagerado que

leve à perda de bola.

Em alguns períodos do jogo, o essencial é acelerar e dar ritmo ao jogo,

mas noutros o mais importante é baixar. Por vezes, a melhor forma de construir

um estilo de jogo é jogar com o tempo e até travar. Por exemplo, é óbvio que

seria muito difícil a uma equipa manter um ritmo de jogo com muitos contra-

ataques ou ataques rápidos. Algumas equipas que se encontram em vantagem

no marcador optam por baixar o ritmo de jogo e fazer ‘posse pela posse’.

Segundo Cruyff (2009), o ritmo de circulação da bola só aumenta com

jogo a um ou dois toques. Defende que se deve começar a construir desde

trás, dizendo que se o jogo for rápido, o adversário não tem tempo para se

organizar. O próprio refere que se pode tentar aproveitar esta desorganização

pela via directa, isto é, através do passe longo, mas se o jogo for contra

Page 47: a dinâmica do losango

47

equipas com os dez jogadores atrás da bola, a via para conseguir os espaços é

outra.

É importante identificar estes indicadores apresentados, a partir de

análises qualitativas e quantitativas dos comportamentos dos jogadores em

situação de jogo. Esta análise da Táctica4 pressupõe o estudo das interacções

e das intenções.

A informação recolhida, uma vez sistematizada, permite racionalizar os

designados padrões de jogo e por extensão os modelos de jogo, que no

contexto do Futebol constituem importantes utensílios, na medida em que

funcionam como referenciais para concretização dos objectivos e para

avaliação e elaboração das situações de ensino e treino do jogo. Assim

permitem não só articular e organizar o conhecimento, mas também verificar e

corrigir a acção (Garganta, 1997).

4 Táctica é entendida como um conjunto de Princípios ou padrões de comportamento representativos dos diferentes momentos / fases do jogo, que se articulam entre si, conferindo à equipa uma identidade própria.

Page 48: a dinâmica do losango

48

2.6 A Organização Ofensiva do sector intermédio: Losango

geometria na parte (sector) que está no todo (estrutura)

A evolução do jogo, ao longo dos tempos, pode ser resumida em torno

de três grandes fases:

I. O ataque como elemento dominante;

II. A defesa é o elemento dominante;

III. O reforço do meio-campo é o elemento dominante dos sistemas

de jogo modernos. A disposição geométrica dos jogadores pode

ser caracterizada por um losango (Garganta & Gréhaigne,

1999).

É uma evidência do futebol actual a proeminência que é atribuída ao

meio-campo. Todos os Treinadores pretendem reforçar esta zona do campo

porque entendem que é aí que se decidem os jogos.

No entanto, uma equipa de Futebol deve ser encarada como um ‘todo’

unificado deve entender-se à luz da complexa trama de relações das diversas

partes que o compõem, partes que não podem ser entendidas isoladas e que

devem ser definidas através das suas inter-relações, as quais se expressam

em termos probabilísticos e são determinadas pela dinâmica de todo o sistema”

(Kapra, 1998 cit. por Kolar, 2005). É imprescindível que se estude estas

relações, na tentativa de identificar sub-sistemas que, relacionados entre si,

operem a optimização de todo o sistema (Garganta, 1997).

"O meio do campo parece-se com as pequenas cidades: todomundo sabe e ninguém se atreve a contestar a coisa certa" “Estando a casa em ordem todos se sentem livres para mover-se” “A velocidade técnica vai do individual ao colectivo. Se controlo a bola apenas com um toque sou rápido, se passo com um toque, faço com que a minha equipa seja rápida” Jorge Valdano “O pivô deve ser muito mais um farol do que um pirilampo” Vítor Frade

Page 49: a dinâmica do losango

49

As propriedades características reais de todo o sistema (estrutura) são

produzidas pela especificidade das interacções entre as partes do mesmo

(sectores), ou seja, são propriedades do conjunto, que nenhuma das partes

tem por si só (Capra, 1998).

É nesta perspectiva de abordagem sistémica que deve ser realizada a

análise das dinâmicas em losango no sector intermédio, ou seja, percebendo

sempre a sua interligação e comunicação com os outros sectores da equipa.

Óscar Cano (2009) explorando o estilo do FC Barcelona refere que

prolongar a posse, demorar na progressão, até haver condições favoráveis

para a efectuar, dar tempo para que a equipa se aproxime, está presente na

conduta dos jogadores do Barcelona e cada passe, a forma como os jogadores

se relacionam, leva consigo o processo completo. Cada intervenção dum

jogador leva implícita a acção posterior para quem recebe a bola. Seidou Keita

expunha que Iniesta levava o jogo do FC Barcelona nas veias (Luís Martin,

2009).

Portanto, podemos concluir que “a articulação de diferentes partes

organiza o todo, que ‘retroactua’ sobre as diversas partes para lhe conferir

qualidades que antes não possuía” e que se trata dum “processo

autoregulador, onde efeito e causa têm uma relação circular e em nenhum

caso linear” (Óscar Cano, 2009).

Será importante aprofundar a

figura geométrica – losango. Ao fazer

uma pesquisa na Diciopédia foi

encontrada a seguinte definição:

“Losango é um quadrilátero cujos lados

são de igual comprimento. Traçando-se

suas diagonais é possível dividi-lo em

quatro triângulos rectângulos simétricos.

Através destes triângulos é possível perceber que a área do losango é metade

da área de um rectângulo cujos lados possuem o mesmo tamanho das

diagonais do losango”. No entanto, devemos pensar que um losango

organizado deve ser mais do que a soma dos triângulos.

Guardiola (2008) defende um Futebol sempre muito geométrico e como

consequência apoiado e portanto para que os atacantes criem ocasiões de

Fig. 1 Losango

Page 50: a dinâmica do losango

50

golo, os médios têm que lhes passar a bola e estes têm que a receber dos

defesas.

Esta interacção está relacionada com a definição de ‘sistema’, segundo

a qual a acção de um jogador influencia a dinâmica do sistema e portanto, nas

intenções e decisões dos demais. Tratando-se de um fenómeno colectivo, a

acção é colectiva pelo que provoca nos outros e nas suas relações (Kaufmann

& Quéré, 2001). Vítor Frade (1990) corrobora desta ideia, afirmando que o

Futebol é um jogo de dinâmicas cuja invariante estrutural é a interacção.

Portanto, quando analisamos um duelo ao nível estrutural, entre um

losango e um triângulo, não podemos atribuir vantagem a nenhum deles

simplesmente pelo facto de, à primeira vista, haver superioridade numérica do

primeiro. Realmente, o losango tem mais um lado em comparação ao triângulo,

mas nenhum dos dois vive sozinho em campo e ambos têm a ajuda, para

ganhar largura no terreno dos jogadores dos outros sectores, (Lobo, 2007).

O domínio da zona de criação de uma equipa deve medir-se a partir da

análise de golos obtidos, das ocasiões criadas, da profundidade, do jogo

penetrante e das intervenções frequentes do guarda-redes adversário (Cortés

Ines, 2009).

No FC Barcelona de Guardiola (2009), o papel que os médios

desempenham é decisivo, tal como menciona o próprio Treinador: “Xavi e

Iniesta são vitais porque no nosso sistema (modelo), a bola tem sempre de

passar pelos médios para que tudo tenha sentido e se organize6”.

Na perspectiva de Garganta & Gréhaigne (1999), no Futebol moderno

mantém-se a denominação dos jogadores segundo o seu posicionamento no

terreno de jogo (defesa, médios, atacante), mas dadas as exigências actuais, a

actividade dos jogadores, ao longo do jogo, transcende largamente o limite

imposto por esta denominação. Garganta (1997) refere que o Futebol actual

exige, cada vez mais, que o jogador seja capaz de cumprir todas as funções,

para além do espaço que predominantemente ocupa no terreno de jogo. É

notório que cada vez mais se esbatem as fronteiras entre os papéis de

defensor, médio e avançado (Garganta & Gréhaigne, 1999).

Guardiola é adepto da utilização duma estrutura de 1-3-4-3 nas partes

finais dos jogos, aparecendo quatro jogadores no meio-campo dispostos em

losango. O médio-centro era um jogador da linha defensiva que subia até ao

Page 51: a dinâmica do losango

51

sector intermédio para construir um losango. É evidente que, conhecer o

dispositivo táctico não implica conhecer o modo como ele funciona (Gréhaigne,

1989). Até porque há sempre o objectivo da organização de uma equipa

reflectir o desejo de desorganizar da outra.

Aguado Gil (2006) considera que esta organização estrutural permite

uma boa ocupação do terreno de jogo, proporcionando um Futebol com

iniciativa, de ataque constante. Esta estrutura possibilita a ocorrência de mais

triangulações, conseguindo com facilidade superioridades numéricas, tanto

defensivas como ofensivas.

Como o próprio autor refere, nem todos os Treinadores utilizam a forma

losango no centro do campo, optando por organizar os quatro médios em linha.

No entanto, com os jogadores organizados desta forma eliminam-se

possibilidades de passe e há quase uma obrigação de jogar na horizontal.

Como já foi enunciado anteriormente, o centro do campo é uma zona

vital, que requer jogadores com recursos técnicos e tácticos, que joguem com

poucos toques e que ofereçam muita velocidade ao jogo durante as acções de

passe. É uma zona onde a bola deve sair muito rápido dos pés dos

futebolistas, procurando a simplicidade e facilitando a construção de jogo

ofensivo da equipa” (Cortés Ines, 2009).

No centro do campo forma-se portanto um losango: um médio-centro no

vértice mais recuado do losango, dois médios interiores e um médio-centro no

vértice mais adiantado do losango. Num modelo de jogo com ênfase no

Processo Ofensivo, atribuem-se normalmente algumas características

ofensivas a cada uma destas posições do sector intermédio.

A posição de médio-centro marca normalmente a identidade duma

equipa. É o centro neurológico da coluna vertebral da equipa, tratando-se dum

jogador chave na fase de início e construção de jogo. Deverá distribuir o jogo e

estar situado por trás da linha da bola, revelando-se como a referência para os

jogadores de outras linhas, concedendo apoios de ‘perfil’, fundamentais para a

criação de espaços aos seus companheiros. Terá de ser possuidor duma

grande capacidade de passe em todas as suas formas (Aguado Gil, 2006).

Quando baixa em apoio e pressionado pelas costas, enquanto comprova

a intenção do seu companheiro de não efectuar passe, pode realizar

Page 52: a dinâmica do losango

52

movimentos de arraste para uma zona que permita a intervenção de outro

companheiro ou o apoio próprio por trás da bola (Etxarri e Zamora, 2003).

Cortés (2009) revela ainda que um médio-centro do FC Barcelona é

dominador do espaço aéreo, sendo importante na organização dos lances de

estratégia. Sublinha a necessidade deste jogar fácil, com poucos toques e sem

riscos, evitando sobretudo perdas de bola em zonas de construção.

Cruyff (2008) revela que Sérgio Busquets (médio-centro do FC

Barcelona) torna fácil o difícil: ajuda na saída a um e dois toques.

Os médios interiores devem possuir um grande sentido táctico,

mantendo-se na sua linha posicional (Aguado Gil, 2006).

Constituem-se normalmente como jogadores dinâmicos e de excelente

qualidade técnica, com grande capacidade para jogar por dentro e entrelinhas,

realizando rotações e trocas de posição. Pela sua qualidade táctico-técnica

tentam atacar os espaços entre o lateral e central da linha defensiva

adversária, mediante penetrações de ruptura ou em condução pelos

corredores, mostrando habilidade na resolução de situações de ‘um contra um’

e capacidade de oferecer cruzamentos precisos. O alto coeficiente de golos

dos avançados resulta, em grande parte, da excelente visão de jogo destes

jogadores na realização do último passe (Cortés Ines, 2009).

A participação dos médios interiores em jogo possibilita apoios ao

avançado que vai ao corredor lateral ou ao médio mais adiantado (Etxarri e

Zamora, 2003).

Na posição mais avançada do losango está outro médio-centro que

pode ser um jogador mais ou menos posicional. Deve manter o equilíbrio entre

a linha anterior (pivô e médios interiores) e a posterior (avançados). Será

importante que tenha bom toque de bola porque a zona de jogo exige grande

nível técnico e terá que ter, não só a capacidade de realização do último passe

(Etxarri e Zamora, 2003), como também aparecer a finalizar as jogadas.

Deve ser capaz de aparecer em zonas de remate desde posições

atrasadas devido à sua situação espacial (Aguado Gil, 2006).

Page 53: a dinâmica do losango

53

A equipa do F.C. Barcelona joga à partida com um meio-campo

organizado em triângulo, mas pode transfigurar-se e formar rapidamente um

losango com o aparecimento

do Messi ou outro jogador no

corredor central, como é

possível observar na figura

2. Tenta-se formar um

losango no centro do

terreno, com um dos três

avançados a descer ao

meio-campo para completar

o vértice mais adiantado. Os

outros dois avançados

permanecem bem abertos

nos corredores laterais. O princípio é utilizar esse baixar de posição dum

avançado para tentar abrir espaços na linha defensiva, desposicionando-a e

permitir que os jogadores que se encontram nos corredores laterais recebam a

bola em situação privilegiada. Neste sentido, cria-se superioridade no meio-

campo, ganhando vantagem numérica, espacial e temporal, desde que se

circule a bola com velocidade.

Prieto Castro (2009) resume bem os princípios relacionados com o

meio-campo do FC Barcelona referindo que na zona de elaboração, a

qualidade técnica e a capacidade táctica dos médios alcançam um grau de

efectividade e preciosismo. As rotações que acontecem entre os jogadores do

meio-campo são contínuas para oferecer linhas de passe, tanto aos anteriores

como aos posteriores. A equipa joga com critério, velocidade e sem riscos

desnecessários, sendo capaz de progredir tanto por fora (amplitude), como por

dentro (profundidade) para chegar ao último terço do campo.

Neste sentido, os jogadores que jogam no centro do campo devem

garantir à equipa os seguintes aspectos:

1. Recursos técnicos e tácticos para jogar e organizar o jogo da equipa.

2. Chegar a zonas de finalização.

3. Golos.

4. Jogo entrelinhas.

Fig. 2 Formação dum LOSANGO no meio-campo da equipa do FC Barcelona.

Page 54: a dinâmica do losango

54

5. Mudar a orientação do jogo (variação de corredores de jogo).

6. Profundidade e último passe.

7. Consistência e recuperação da bola.

8. Pressão colectiva na fase defensiva do jogo.” (Cortés Ines, 2009).

Page 55: a dinâmica do losango

55

Page 56: a dinâmica do losango

56

Page 57: a dinâmica do losango

57

3. MATERIAL E MÉTODOS

3.1 O Recurso à Metodologia observacional e proposta

conceptual

O Estudo do jogo a partir da observação do comportamento dos

jogadores e das equipas tem vindo a constituir um forte argumento para a

organização e avaliação dos processos de ensino e treino nos jogos

desportivos colectivos (Franks & Goodman, 1986; Gréhaigne, 1989;

Grosgeorge, 1990; Dufour, 1989, 1993; Latishkevitch & Dudin, 1992; Oliveira,

1993; Garganta, 1996; Hughes, 1996, citados por Garganta, 1997).

Face ao crescente interesse pelo estudo e análise dos JDC, a valência

análise do jogo (AJ) tem vindo a constituir um argumento de crescente

importância (Garganta, 1997).

No desporto actual, especialmente no alto rendimento, cada vez mais os

treinadores recorrem à estatística com o intuito de tentarem potenciar e/ou

rentabilizar a performance das suas equipas. O objectivo dos técnicos passa

por fazerem uma análise estatística para poderem recolher o máximo de dados

dos jogos que permitam dar informações pertinentes de forma objectiva e

quantificável. Nesta análise estatística, fruto da observação recolhida verifica-

se, por exemplo, o número de faltas, posições, remates, durações das jogadas,

acções técnicas, etc. Conclui-se portanto que a regulação da prestação

competitiva é fundamental como se pode comprovar na figura seguinte.

ANÁLISE DO JOGO: • Observação • Notação • Interpretação

PERFORMANCE

PLANIFICAÇÃO

TREINO

Fig. 3 Interacção do processo de análise do jogo com o treino e a performance (Redesenhado de Garganta, 1997)

Page 58: a dinâmica do losango

58

No entanto, a busca de meios de análise que melhorem o conhecimento

dos JDC é uma das questões mais complexas que se observa na literatura

específica (Silva; Bañuelos; Garganta; Anguera; 2004).

A multiplicidade de factores que influenciam este tipo de desportos torna

complexa a observação dos jogadores, na medida em que estes estão em

constante movimento.

Os estudos iniciais nos JDC foram relacionados com aspectos

fisiológicos, técnicos e técnico-tácticos, mas o reconhecimento da importância

da dimensão Táctica na prestação dos jogadores e das equipas foi decisivo

para uma abordagem mais adequada (Prudente, 2006, citado por Prudente,

2009).

Um jogo de Futebol é um fenómeno extremamente complexo e

necessita obrigatoriamente de ferramentas fiáveis e rigorosas de

observação/avaliação das diversas componentes. Segundo Anguera (2001), a

utilização da observação na avaliação implica a manutenção de um equilíbrio

entre a percepção (habitualmente substituída por um meio técnico com o

objectivo de obter uma maior precisão), a interpretação (que implica completar

de conteúdo as imagens ou sons percebidos), e o conhecimento prévio ou

contextualização (que possibilita interpretar adequadamente o percebido em

função do marco teórico que se sustenta, e de critérios contextuais, como

físico, de conduta, social e organizativo ou institucional)”.

Garganta (1997) afirmou que a observação do jogo e análise do jogo

referem-se a diferentes fases de um mesmo processo, isto significa, que

quando se pretende analisar o conteúdo de um jogo é preciso observá-lo, para

notar ou registar as informações consideradas mais importantes.

Procura-se analisar o jogo (competição) através da observação, notação

e interpretação dos factos, promovendo uma avaliação dos comportamentos

dos jogadores e das equipas para depois ajustar/adaptar os processos de

treino, numa perspectiva de optimização (incremento de qualidade). Esta

análise decorre do interesse dos investigadores e treinadores em perceber o

tipo de acções que se associam à eficácia das equipas: uns, com o intuito de

aumentar os conhecimentos acerca do conteúdo do jogo e da sua lógica;

outros, com o objectivo de modelar as situações de treino na procura da

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59

eficácia competitiva (Garganta, 1997). Este autor diz igualmente que a

construção do treino deverá, em larga medida, decorrer da informação retirada

do jogo (estrutura do movimento, estrutura da carga, natureza das tarefas,

zonas de intervenção predominantes, funções prevalentes, modelo e

concepção de jogo, 6etc).

Nos últimos anos, os estudos mediante a utilização da Metodologia

Observacional sofreram um incremento significativo. A utilização desta

Metodologia como método, com recurso às técnicas de Análise Sequencial

com transições e de Coordenadas Polares, oferecem novas possibilidades na

observação e análise dos comportamentos dos jogadores e das equipas

(Prudente, 2009). Deste modo, é possível a captação de informação relativa às

condutas ocorridas que permitem uma análise das regularidades, bem como,

perceber como induzem ou inibem outras condutas, com base numa leitura

probabilística da ocorrência dos eventos.

A Metodologia Observacional, pelas suas características, constitui um

exemplo vivo da complementaridade entre o qualitativo e quantitativo (Anguera,

2004) e portanto a sua utilização garante a qualidade do registo, da análise dos

dados e a investigação de padrões de conduta.

Constitui-se como uma das opções de estudo científico do

comportamento humano que reúne características especiais no seu perfil

básico (Anguera; Villaseñor; Losada; Mendo, 2000): a espontaneidade do

comportamento, que implica a ausência da preparação da situação em análise;

que este tenha lugar em contextos naturais, estando garantida a ausência de

alterações de forma intromissiva e sem interferência da metodologia

seleccionada e sabendo que: a) a conduta é extremamente sensível às

condições iniciais, b) a conduta e o contexto implicam diversas interacções de

variáveis, c) a conduta, analisada em blocos amplos, tende a presentear ciclos

ou tendências repetitivas; que se trate de um estudo prioritariamente

ideográfico; a elaboração de instrumentos ad hoc que passa por construir

sistemas de categorias adaptados e, por último, que se garanta uma

continuidade temporal que ofereça a base na qual actuará o nível inter-

sesssional da amostra observacional.

Caracteriza-se como as duas faces da mesma moeda, ou seja, por um

enorme rigor e uma grande flexibilidade (6) e quer-se que não se ajustem

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60

unicamente aos mínimos requeridos mas que abram portas a novos estudos

(Anguera; Villaseñor; Losada; Mendo, 2000).

Sendo assim, podemos dizer que o objecto de estudo do nosso trabalho

será uma unidade de observação (equipa), inserido em qualquer dos seus

âmbitos de actuação habitual (campo de Futebol), do qual iremos tentar captar

a riqueza dos seus comportamentos no desempenho das suas

responsabilidades ao nível do Processo Ofensivo, mediante um instrumento ad

hoc.

É importante que este instrumento de observação permita a canalização

das relações interactivas desejadas e consideradas relevantes para o estudo

em causa. Será apresentada uma proposta conceptual para um mapeamento

dinâmico do jogo de futebol (fig. 4).

Como foi supracitado, pretende-se analisar o Processo Ofensivo e sabe-

se que para que o ataque seja mais eficaz, havendo um maior número de

situações de finalização é importante, quer para a investigação quer para o

treinador, conhecer não apenas o ponto culminante (o golo), como também

todo o processo que lhe deu origem (Luhtanen, 1993; Basto & Garganta, 1996).

Este processo tem como objectivos, a progressão e finalização, e a

manutenção da posse da bola; englobando três fases que são a da construção

Final da posse de bola Início da posse de bola

Desenvolvimento da posse de bola

Transição def-ataq

Transição ataq-def

Desenvolvimento da não posse de bola

Final da posse de bola Início da posse de bola

Fig. 4 Proposta de Modelo de organização da dinâmica do jogo de futebol.

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61

das acções ofensivas, criação de situações de finalização e a finalização;

respeitando os princípios gerais de não permitir a inferioridade numérica, evitar

a igualdade numérica e provocar a superioridade numérica; tendo como

princípios específicos a penetração, a cobertura ofensiva, a mobilidade e o

espaço; utilizando os seguinte factores: técnicas individuais (técnicas de

remate, passe, condução, recepção, controlo e domínio, drible, finta e

simulação, desmarcação, lançamento de linha lateral e princípios ofensivos),

acções colectivas elementares (desmarcações, combinações, Princípios

Ofensivos, permutas, compensações e desdobramentos e esquemas tácticos)

e acções colectivas complexas (tarefas e funções, esquemas tácticos,

circulações tácticas, sistemas tácticos, Métodos de Jogo Ofensivo) (Queiroz,

1983).

Formas de organização de base como o contra-ataque e o ataque rápido

são caracterizadas pela rápida transição da zona de recuperação da posse da

bola para as zonas de finalização, criando assim, continuamente condições de

instabilidade do processo defensivo adversário (Castelo, 1996; Garganta,

1997).

Enquanto que o Ataque Posicional “é uma forma de ataque em que a

fase de construção se revela mais demorada e elaborada e na qual a transição

defesa-ataque se processa com predominância dos passes curtos,

desmarcações de apoio e coberturas ofensivas” (Garganta, 1997:214).

Neste contexto, uma equipa inicia o Processo Ofensivo quando há uma

recuperação da posse de bola, de forma directa (pressupõe a manutenção da

fase dinâmica do jogo) ou indirecta (pressupõe a recuperação da posse de bola

através da fase estática do jogo).

A posse de bola começa quando um jogador dessa mesma equipa

mantém, de forma controlada, em termos táctico-técnicos, a posse da mesma e

está em disposição de dar continuidade ou finalizar o processo ofensivo

(Suárez, 1998). Logo, qualquer uma das intervenções dum jogador neste

contexto será considerado uma acção ofensiva e como consequência fará

parte do processo ofensivo.

O Desenvolvimento do Processo Ofensivo desenrola-se quando um

jogador e companheiros da mesma equipa (colectivo) realizam um conjunto de

Page 62: a dinâmica do losango

62

intervenções motoras que permitam manter a posse de bola, estando em

disposição de dar continuidade ao Processo Ofensivo.

O Final do Processo Ofensivo ocorre quando se concretiza umas

situações definidas no Critério de Formato de Campo 3 (ver mais à frente),

quer tenha uma finalização eficaz ou não.

Page 63: a dinâmica do losango

63

3.2 Desenho Observacional e Instrumento de Observação

Ao utilizarmos a análise sequencial procura-se identificar a probabilidade

de transição entre condutas que ocorrem para além do determinado pela sorte

ou acaso (Sacket, 1979, citado por Silva, 2003), sem implicar uma relação

linear entre os dois eventos que se sucedem no tempo.

Um jogo de futebol confere uma extraordinária diversidade de situações

susceptíveis de serem sistematicamente observadas, obrigando por isso à

elaboração de instrumentos de observação “ad hoc” adaptados à realidade que

pretendemos estudar, em detrimento dos instrumentos standard (Anguera et al,

2000).

A sua elaboração é a primeira de quatro grandes fases a seguir na

metodologia observacional. Tratando-se duma Metodologia Observacional

implica uma estruturação em quatro fases (Anguera; Villaseñor; Losada;

Mendo, 2000):

I. Correcta delimitação da(s) conduta(s) e situação de observação

– delimitar cuidadosamente a actividade (futebol), os

comportamentos a estudar (condutas comportamentais

ofensivas6), os indivíduos/unidades a serem estudados (6

quatro médios em losango) e o contexto situacional (em posse

de bola) determinam em grande medida o êxito do estudo e

facilitam a tomada de decisões.

II. Recolha e optimização de dados – o fluxo de conduta em

qualquer situação de observação é muito mais rico do que

parece inicialmente, porque, uma vez delimitado o objectivo,

será preciso proceder à codificação das condutas que

interessam, fixar quais são as unidades de conduta e construir

um instrumento ad hoc.

III. Análise e tratamento dos dados – elaborar um desenho em

função do estudo que interessa e analisar os dados.

IV. Interpretação dos resultados – os resultados devem ser

interpretados à luz do problema e serão o ponto de partida para

iniciar uma intervenção ou adoptar uma série de decisões.

Page 64: a dinâmica do losango

64

Ao construirmos um instrumento próprio poderemos analisar o problema,

face aos aspectos metodológicos e objectivos definidos. Proceder-se-á à

combinação do ‘formato de campo’ e ‘sistema de categorias’ e esta ferramenta

mista de observação reúne todos os requisitos metodológicos exigíveis.

A elaboração de um instrumento deste tipo é importante por envolver a

construção de um sistema de categorias que permite um duplo ajuste:

responde em simultâneo a um marco teórico e à especificidade do estudo

(Anguera, 1991; cit. Mendo e al, 2000).

O sistema de categorias (SC) necessita dum suporte teórico prévio e

devidamente sustentado, caracterizando-se por ser um sistema fechado, de

codificação única e não auto-regulável. As categorias têm que definir-se de

forma que se contemplem todas as suas nuances, assim como acompanhar-se

de exemplos e contra-exemplos para que a sua especificação seja maior

(Anguera; Villaseñor; Losada Lopez; Mendo, 2000).

Por outro lado, o formato de campo (FC) constitui um instrumento mais

flexível especialmente adequado a situações empíricas de elevada

complexidade como as que ocorrem num jogo de futebol, tratando-se portanto

dum sistema aberto e auto-regulável.

Será importante seguir os seguintes passos:

1. Estabelecimento de critérios em função dos objectivos do estudo.

2. Elaboração duma lista de condutas correspondentes a cada um dos

critérios.

3. Selecção de códigos para cada uma das condutas e situações que

surgem de cada critério.

4. Elaboração da lista de configurações, indispensável para um registo

exaustivo do fluxo das condutas e análise dos dados.

A correcta delimitação da(s) conduta(s) e da situação de observação

determinam em grande medida o êxito do estudo e facilitam a tomada de

decisões (Anguera et al, 2000).

Neste sentido, o propósito deste estudo será particularizar (‘reduzir sem

empobrecer’) e analisar a organização ofensiva no sector de meio-campo,

numa dimensão geométrica de losango, aplicando um instrumento “ad hoc” que

permita estimar padrões sequenciais de conduta dos jogadores que aí actuam,

com a intenção de modelar a eficácia da equipa.

Page 65: a dinâmica do losango

65

O desenho de um estudo deve ser entendida como uma estratégia que o

permite desenvolver, estruturando-o de acordo com os objectivos a que se

propõe (Anguera, 1992, citado por Laranjeiro, 2009).

Na última década, a Metodologia Observacional tem desenvolvido uma

proposta que se fundamenta no cruzamento de três dimensões propostas por

Losada (1997). Esta proposta parece cruzar a dicotomia ideográfica (unidade) /

nomotético (pluralidade de unidades); registo pontual / seguimento e

unidimensional / multidimensional, dando origem a um conjunto de desenhos

observacionais resultantes das combinações entre critérios.

A partir da observação da figura 5 pode verificar-se que o eixo vertical se

refere às unidades de observação, o eixo horizontal corresponde à

temporalidade da análise e que os círculos correspondem à dimensionalidade

do estudo.

O desenho observacional adequado ao nosso estudo é:

• Na dimensão temporal – de seguimento/sequencial porque os

dados são registados de forma contínua no tempo;

Quadrante II Sem Desenho

Quadrante I Desenhos

Diacrónicos

Quadrante IV

Desenhos Lag - Log

Quadrante III Desenhos Sincrónicos

Ideográfico

Nomotético

Unidimensional

Multidimensional

Pontual

Seguimento

Fig. 5 Desenhos Observacionais em quadrantes definidos (Adaptado Anguera in Barreira, 2006:72)

Page 66: a dinâmica do losango

66

• Na dimensão sujeito – nomotético porque se registam os

comportamentos dos jogadores/equipa em interacção contínua

com o adversário;

• Na dimensão conductural – multidimensional (observação

sequencial heterocontingente porque é constituída por diferentes

condutas representadas em sistemas de categoria).

Para a realização do nosso estudo optamos por construir um

instrumento de observação “ad hoc”, que resulta da combinação de

características do sistema de categorias (SC) e do formato de campo (FC).

O presente estudo baseia-se nos trabalhos de Anguera (1999),

Hernandez Mendo e tal (2000), Castellano Paulis (2000), António Silva (2004),

Daniel Barreira (2006) e José Laranjeira (2009).

Procedemos inicialmente à fixação das dimensões ou critérios

vertebradores (segundo os formatos de campo) e, para cada um destes,

construímos um sistema de categorias, para posterior registo dos dados a partir

de configurações dispostas diacronicamente.

O instrumento de observação foi organizado em categorias exaustivas e

mutuamente exclusivas (E/ME) – critérios 5 e 6 – e de carácter aberto –

critérios de 1 a 4. Tal implicou que qualquer comportamento que se

encontrasse dentro do âmbito considerado como objecto de estudo pudesse

ser sempre registado em uma das categorias (exaustividade), e cada

comportamento dos anteriormente referidos apenas pudesse ser assinalado

em uma, e só uma, das categorias (mútua exclusividade).

Foram então definidos seis (6) critérios que delimitam a observação das

condutas em cada sequência ofensiva:

• Critério 1 – Início do Processo Ofensivo

• Critério 2 – Desenvolvimento do Processo Ofensivo

• Critério 3 – Final do Processo Ofensivo

• Critério 4 – Ritmo de jogo

• Critério 5 – Espacialização do terreno de jogo

• Critério 6 – Centro de jogo

Page 67: a dinâmica do losango

67

A fase seguinte consistiu na atribuição de um conjunto de condutas que

correspondesse a cada um dos critérios, formando uma listagem denominada

de catálogo.

Quadro 3.1 Critério 1 do Formato de campo: Início do Processo Ofensivo (IPO)

Critério de formato de campo 1

Recuperação da posse de bola: Início do Processo Ofensivo (IPO) Definição conceptual:

Consideramos que se inicia uma posse de bola sempre que um dos jogadores da equipa observada a

consegue recuperar passando a estar na posse da mesma. O início do processo ofensivo acontece

através da recuperação da posse de bola, de forma directa (a bola permanece dentro do espaço de jogo

regulamentar; não são cometidas infracções às leis do jogo) ou indirecta (por infracção às leis de jogo da

parte do adversário), quando se respeita pelo menos uma das seguintes acções:

1) Realiza pelo menos três contactos consecutivos com a bola;

2) Executa um passe positivo (permite a manutenção da posse de bola);

3) Realiza um remate (finalização) (Garganta, 1997).

A recuperação da posse de bola de forma directa pressupõe:

1) Intercepção do remate ou do passe do adversário;

2) Desarme, intervindo sobre a bola, a uma situação de luta directa com um atacante adversário, que a

procura conservar (Garganta, 1997); terão ainda de ser cumpridas as seguintes directivas: a bola

permanece dentro do espaço de jogo regulamentar; não são cometidas infracções às leis do jogo (contra

ou a favor). Propomos 14 categorias possíveis para o início do processo ofensivo.

Catálogo Código Descrição

Pontapé de saída IPs - O PO tem (re) início através dum pontapé de saída, correspondendo ao princípio do jogo, após o intervalo ou depois de ter sofrido um golo.

Recuperação indirecta IPind

- O PO tem início depois duma infracção às leis do jogo (por falta atacante ou fora-de-jogo) ou erro (bola para fora do terreno de jogo ou remate mal orientado). O início do PO é realizado com pontapé de baliza, lançamento de linha lateral, pontapé livre ou canto a favor da EObs (equipa observada). É indicada a zona ou subespaço onde ocorre.

Recuperação da posse de bola pelo

guarda-redes IPgr

- O PO inicia-se através da conquista da posse de bola por acção do guarda-redes (como por exemplo agarrar a bola após cruzamento ou remate, etc.). É particularizada a zona onde sucede.

Recuperação directa por acção

individual IPi

- O PO tem início através da conquista da posse de bola, sem qualquer infracção às leis, com saída por acção individual (o jogador que recupera a bola inicia o desenvolvimento do processo ofensivo). A acção defensiva pode ser uma intercepção, uma disputa de bola ou um desarme. É indicada a zona onde ocorre.

Page 68: a dinâmica do losango

68

Re

cu

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bo

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sa

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po

r

Passe curto

Pro

fun

did

ad

e

IPpcpr

- O PO inicia-se através de uma acção defensiva de um jogador da EObs, sem que exista interrupção do jogo, que é de imediato seguida por passe curto (dentro da mesma zona - jogo apoiado) e em profundidade (para a frente da linha da bola). É indicada a zona onde ocorre.

La

rgu

ra

IPpclg

- O PO inicia-se através de uma acção defensiva de um jogador da EObs, sem que exista interrupção do jogo, que é de imediato seguida por passe curto (dentro da mesma zona - jogo apoiado) e em largura (paralelo ou atrasado em relação à linha da bola. É indicada a zona onde ocorre.

Passe médio

Atr

as

ad

o

IPpmat

- O PO inicia-se através de uma acção defensiva de um jogador da EObs, sem que exista interrupção do jogo, que é de imediato seguida por passe médio (para uma zona contígua), atrasado relativamente à linha da bola e sem variação de corredor. É indicada a zona onde ocorre.

Pro

fun

did

ad

e

s/

va

riaç

ão

de

c

orr

ed

or

IPpmprsv

- O PO inicia-se através de uma acção defensiva de um jogador da EObs, sem que exista interrupção do jogo, que é de imediato seguida por passe médio (para uma zona contígua), em profundidade (para a frente da linha da bola) e sem variação de corredor. É indicada a zona onde ocorre.

Pro

fun

did

ad

e c

/ va

ria

ção

d

e c

orr

ed

or

IPpmprcv

- O PO inicia-se através de uma acção defensiva de um jogador da EObs, sem que exista interrupção do jogo, que é de imediato seguida por passe médio (para uma zona contígua), em profundidade (para a frente da linha da bola) e com variação de corredor. É indicada a zona onde ocorre.

La

rgu

ra c

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ari

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e

co

rre

do

r

IPpmlgcv

- O PO inicia-se através de uma acção defensiva de um jogador da EObs, sem que exista interrupção do jogo, que é de imediato seguida por passe médio (para uma zona contígua), em largura (paralelo ou atrasado em relação à linha da bola) e com variação de corredor. É indicada a zona onde ocorre.

Passe longo

Atr

as

ad

o

IPplat

- O PO inicia-se através de uma acção defensiva de um jogador da EObs, sem que exista interrupção do jogo, que é de imediato seguida por passe longo (para lá de duas zonas contíguas), atrasado relativamente à linha da bola e sem variação de corredor. É indicada a zona onde ocorre.

Pro

fun

did

ad

e s

/ va

ria

ção

d

e c

orr

ed

or

IPplprsv

- O PO inicia-se através de uma acção defensiva de um jogador da EObs, sem que exista interrupção do jogo, que é de imediato seguida por passe longo (para lá de duas zonas contíguas), em profundidade (para a frente da linha da bola) e sem variação de corredor. É indicada a zona onde ocorre.

Pro

fun

did

ad

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ria

ção

d

e c

orr

ed

or

IPplprcv

- O PO inicia-se através de uma acção defensiva de um jogador da EObs, sem que exista interrupção do jogo, que é de imediato seguida por passe longo (para lá de duas zonas contíguas), em profundidade (para a frente da linha da bola) e com variação de corredor. É indicada a zona onde ocorre.

Page 69: a dinâmica do losango

69

La

rgu

ra c

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ari

ão d

e

co

rre

do

r

IPpllgcv

- O PO inicia-se através de uma acção defensiva de um jogador da EObs, sem que exista interrupção do jogo, que é de imediato seguida por passe longo (para lá de duas zonas contíguas), em largura (paralelo ou atrasado em relação à linha da bola) e com variação de corredor. É indicada a zona onde ocorre.

Page 70: a dinâmica do losango

70

Quadro 3.2 Critério 2 do Formato de campo: Desenvolvimento do Processo Ofensivo

Critério de formato de campo 2

Desenvolvimento do Processo Ofensivo (DPO) Definição conceptual:

São todas intervenções motoras que um jogador e companheiros da mesma equipa (colectivo), realizam

para manter de forma controlada, em termos táctico-técnicos, a posse de bola e estar em disposição de

dar continuidade ao processo ofensivo, para: a) conservar a bola; b) progredir com a bola para a baliza

adversária; c) desequilibrar a defesa adversária e tentar marcar golo (Bayer, 1994). Propomos 12

categorias possíveis para o desenvolvimento do processo ofensivo.

Catálogo Código Descrição

Desenvolvimento por acção individual

DPi

- Sempre que o portador da bola, controle a bola e por condução ou drible (1x1) mantém a posse de bola ou ganha posição no terreno de jogo face aos adversários.

De

se

nv

olv

ime

nto

da

po

ss

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ola

atr

avé

s d

e

Passe curto

Pro

fun

did

ad

e

DPpcpr

- Sempre que o médio portador da bola realiza um passe curto (passe dentro da mesma zona topográfica) para um dos companheiros com o intuito de dar continuidade ao PO.

La

rgu

ra

DPpclg

- Sempre que o processo ofensivo se desenvolve através de passe curto (dentro da mesma zona - jogo apoiado) e em largura (paralelo ou atrasado em relação à linha da bola), para um dos companheiros com o intuito de dar continuidade ao PO.

Passe médio

Atr

asa

do

DPpmat

- Sempre que o processo ofensivo se desenvolve através de passe médio (para uma zona contígua), atrasado relativamente à linha da bola e sem variação de corredor, para um dos companheiros com o intuito de dar continuidade ao PO.

Pro

fun

did

ad

e

s/

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riaç

ão

de

c

orr

ed

or

DPpmprsv

- Sempre que o processo ofensivo se desenvolve através de passe médio (para uma zona contígua), em profundidade (para a frente da linha da bola) e sem variação de corredor, para um dos companheiros com o intuito de dar continuidade ao PO.

Pro

fun

did

ad

e c

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ria

ção

d

e c

orr

ed

or

DPpmprcv

- Sempre que o processo ofensivo se desenvolve através de passe médio (para uma zona contígua), em profundidade (para a frente da linha da bola) e com variação de corredor, para um dos companheiros com o intuito de dar continuidade ao PO.

La

rgu

ra c

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e

co

rre

do

r

DPpmlgcv

- Sempre que o processo ofensivo se desenvolve através de passe médio (para uma zona contígua), em largura (paralelo ou atrasado em relação à linha da bola) e com variação de corredor, para um dos companheiros com o intuito de dar continuidade ao PO.

Passe longo

Atr

as

ad

o

DPplat

- Sempre que o processo ofensivo se desenvolve através de passe longo (para lá de duas zonas contíguas), atrasado relativamente à linha da bola e sem variação de corredor, para um dos companheiros com o intuito de dar continuidade ao PO.

Page 71: a dinâmica do losango

71

Pro

fun

did

ad

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ria

ção

d

e c

orr

ed

or

DPplprsv

- Sempre que o processo ofensivo se desenvolve através de passe longo (para lá de duas zonas contíguas), em profundidade (para a frente da linha da bola) e sem variação de corredor, para um dos companheiros com o intuito de dar continuidade ao PO.

Pro

fun

did

ad

e c

/ va

ria

ção

d

e c

orr

ed

or

DPplprcv

- Sempre que o processo ofensivo se desenvolve através de passe longo (para lá de duas zonas contíguas), em profundidade (para a frente da linha da bola) e com variação de corredor, para um dos companheiros com o intuito de dar continuidade ao PO.

La

rgu

ra c

/ v

ari

ão d

e

co

rre

do

r

DPpllgcv

- Sempre que o processo ofensivo se desenvolve através de passe longo (para lá de duas zonas contíguas), em largura (paralelo ou atrasado em relação à linha da bola) e com variação de corredor, para um dos companheiros com o intuito de dar continuidade ao PO.

Cruzamento aéreo para a

área DPcrz

- O jogador em penetração, situado num dos corredores laterais e no último terço ofensivo, envia a bola para o corredor central em trajectória aérea, criando uma situação de finalização no PO. Se a bola for rasteira será uma conduta de passe.

Page 72: a dinâmica do losango

72

Quadro 3.3 Critério 3 do Formato de campo: Final do Processo Ofensivo

Critério de formato de campo 3

Final do Processo Ofensivo (FPO) Definição conceptual:

Entende-se por sequência ofensiva finalizada (SOF) uma acção de ataque, constituída por uma ou várias

acções individuais unidas e encadeadas de acordo com uma lógica organizacional própria, desenvolvida

pela equipa em posse de bola. Consideramos que uma equipa finaliza uma SOF quando concretiza uma

das situações do presente catálogo, apresente um final com eficácia ou não. Propomos 8 categorias

possíveis para o final do processo ofensivo.

Catálogo Código Descrição

Fin

al d

o P

O c

om

efi

cáci

a

Remate fora Frf - O PO finaliza com remate que sai pela linha de baliza e/ou para fora do terreno de jogo sem atingir o alvo (baliza adversária).

Remate dentro Frd - O PO finaliza com remate efectuado por um jogador da equipa em PO que atinge o alvo (baliza adversária, incluindo os postes e a barra), sem que resulte golo.

Remate contra adversário Frad

- O PO finaliza com remate contra adversário que é interceptado por um adversário no sector ofensivo dando origem ao final da posse de bola.

Remate com obtenção de

golo Fgl

- O PO finaliza com a obtenção de um golo a favor, devidamente validado pelo árbitro do jogo.

Atingir o quarto

ofensivo de forma

controlada

Fof

- O PO finaliza quando a bola atinge (por passe ou condução) o SO (SD da equipa adversária) devido a falta ou corte para fora do adversário, tendo o condutor/receptor da bola sido impedido de dar continuidade ao jogo ofensivo nesse sector de jogo, por falta ou corte para fora do terreno de jogo, mas mantendo a posse de bola.

Fin

al d

o P

O s

em e

ficá

cia

Recuperação da posse de

bola pelo adversário

Fbad

- O PO finaliza pela recuperação da posse de bola pela equipa adversária através de um desarme, intercepção, duelo, etc., no sector ofensivo (zona 10, 11 e 12).

Recuperação de bola pelo

GR adv Fgra

- O PO finaliza por recuperação da posse de bola pelo GR da equipa adversária. Deve ser excluída a acção de defesa após remate à baliza (esta situação deverá ser uma conduta atribuída a Frd).

Final por Infracção às

leis de jogo ou perda de bola

no SO

Finf

- O PO finaliza devido a uma infracção às leis do jogo cometida pela equipa atacante no sector ofensivo, por um passe errado ou má recepção da equipa em PO, com saída da bola do terreno de jogo.

Page 73: a dinâmica do losango

73

Quadro 3.4 Critério 4 do Formato de campo: Ritmo de Jogo

Critério de formato de campo 4

Ritmo de jogo (RJ) Definição conceptual:

Tarefas realizadas com bola, registando-se o ritmo de execução relativamente às acções desencadeadas

por cada jogador que contactou com a bola no PO. Propomos 2 categorias possíveis para o ritmo de jogo.

Catálogo Código Descrição

Ritmo rápido RJr

- Sempre que o portador da bola, através da sua intervenção, originou ou manteve um ritmo de jogo rápido, desencadeando acções rápidas/intensas, cíclicas ou acíclicas: remate, passe longo, condução de bola com corrida rápida ou sprint, passe rápido, controlo da bola em velocidade, drible em velocidade, tackle ofensivo, procurar recolocar rápido a bola em jogo num lançamento de linha lateral ou num livre.

Ritmo lento/médio RJl

- Sempre que o portador da bola através da sua intervenção originou ou manteve um ritmo de jogo lento/médio, desencadeando acções lentas e pouco intensas, cíclicas ou acíclicas; condução de bola a trote, controlo da bola parado, em marcha ou em corrida lenta, passe lento.

Page 74: a dinâmica do losango

74

Quadro 3.5 Critério 5 do Formato de campo: Espacialização do Terreno de Jogo

Critério de formato de campo 5

Espacialização do terreno de jogo (ETJ) Definição conceptual:

Com vista ao registo espacial das condutas comportamentais do(s) jogador(es) em cada critério definido,

foi seguida a divisão de Garganta (1997),em doze zonas de igual dimensão, a que se atribui a designação

de Campograma. A cada zona corresponde uma categoria diferente, ou seja, um campo de jogo é

constituído por doze unidades categoriais que formam um sistema de categorias exaustivo e mutuamente

excluente (E/ME).

Categoria Código Descrição

Zona 1 1 - As condutas do(s) jogador(es) da equipa em PO ocorrem na zona 1, de acordo com o campograma acima.

Zona 2 2 - As condutas do(s) jogador(es) da equipa em PO ocorrem na zona 2, de acordo com o campograma acima.

Zona 3 3 - As condutas do(s) jogador(es) da equipa em PO ocorrem na zona 3, de acordo com o campograma acima.

Zona 4 4 - As condutas do(s) jogador(es) da equipa em PO ocorrem na zona 4, de acordo com o campograma acima.

Zona 5 5 - As condutas do(s) jogador(es) da equipa em PO ocorrem na zona 5, de acordo com o campograma acima.

Zona 6 6 - As condutas do(s) jogador(es) da equipa em PO ocorrem na zona 6, de acordo com o campograma acima.

Zona 7 7 - As condutas do(s) jogador(es) da equipa em PO ocorrem na zona 7, de acordo com o campograma acima.

Zona 8 8 - As condutas do(s) jogador(es) da equipa em PO ocorrem na zona 8, de acordo com o campograma acima.

Zona 9 9 - As condutas do(s) jogador(es) da equipa em PO ocorrem na zona 9, de acordo com o campograma acima.

Zona 10 10 - As condutas do(s) jogador(es) da equipa em PO ocorrem na zona 10, de acordo com o campograma acima.

Zona 11 11 - As condutas do(s) jogador(es) da equipa em PO ocorrem na zona 11, de acordo com o campograma acima.

Zona 12 12 - As condutas do(s) jogador(es) da equipa em PO ocorrem na zona 12, de acordo com o campograma acima.

Campograma da Espacialização do terreno de jogo em doze zonas/categorias – formado a partir de uma divisão longitudinal em três corredores (lateral direito, lateral esquerdo e central) e quatro sectores (defensivo; médio-defensivo; médio-ofensivo, ofensivo).

(Garganta, 1997; Silva, 2004)

SD 3

SMD 6

SMO 9

SO 12

SD 2

SMD 5

SMO 8

SO 11

SD 1

SMD 4

SMO 7

SO 10

CORREDOR LATERAL ESQUERDO

CORREDOR CENTRAL

CORREDOR LATERAL DIREITO

Sentido do ataque

Page 75: a dinâmica do losango

75

Quadro 3.6 Critério 6 do Formato de campo: Centro do Jogo

Critério de formato de campo 6

Centro do Jogo (CJ) Definição conceptual:

Define-se Centro do Jogo como a zona onde a bola se movimenta num determinado instante (Castelo,

1996), isto é, através do contexto de cooperação e de oposição dos jogadores influentes no jogo na zona

do campograma onde se encontra o portador da bola. Tendo por base o número, a zona e a possível

participação dos jogadores da equipa em processo ofensivo e da equipa adversária na zona do

campograma onde se encontra o portador da bola, distinguem-se 2 categorias da EObs no processo

ofensivo:

- Sem pressão;

- Pressão.

O conceito de Pressão encontra-se directamente relacionado com factores táctico-estratégicos inerentes

ao contexto de cooperação e a oposição dos subsistemas ou níveis de organização «equipa»; «confronto

parcial e «confronto individual», que transformam a cada momento o fluxo acontecimental do jogo

(Gréhaigne, 2001), sendo fundamental compreender qual a influência do contexto de interacção no CJ o

fluxo conductural do jogo. Este sistema de categorias é exaustivo e mutuamente excluente (E/ME). São

propostas 6 categorias.

Categoria Código Descrição

Pre

ssã

o (

P)

Inferioridade numérica Pinf

- No Centro do Jogo, o portador da bola está pressionado pelo menos por um jogador e a EObs encontra-se numa relação numérica de inferioridade com a equipa adversária. Ex.: situação 1x2, 2x3, 3x4.

Igualdade numérica Pig

- No Centro do Jogo, o jogador portador da bola está pressionado por um adversário em contenção e a EObs se encontra numa relação numérica de igualdade com a equipa adversária. Ex.: situação 1x1, 2x2, 3x3 nas zonas 1/2/3/4/5/6/7/8/9

Superioridade numérica Psup

- No Centro do Jogo, o portador da bola está pressionado e a EObs encontra-se numa relação numérica de superioridade com a equipa adversária. Esta superioridade corresponde à EObs ter no Centro do Jogo mais jogadores que a equipa adversária. Ex.: situação 2x1, 3x1, 4x2.

Se

m P

res

são

(S

P)

Inferioridade numérica SPinf

- No Centro do Jogo, a EObs encontra-se numa relação numérica de inferioridade com a equipa adversária. Esta inferioridade corresponde à EObs ter no CJ menos jogadores que a equipa adversária. O portador da bola não está pressionado. Ex.: Situação 1x2, 1x3, 2x3.

Igualdade numérica SPig

- No Centro do Jogo a EObs encontra-se numa relação numérica de igualdade com a equipa adversária, sem que o portador da bola esteja pressionado. Ex.: Situação 1x1, 2x2, 3x3 nas zonas 7/8/9/10/11 ou 12.

Page 76: a dinâmica do losango

76

Superioridade numérica

SPsup

- No Centro do Jogo, o portador da bola não está pressionado e a EObs encontra-se numa relação numérica de superioridade com a equipa adversária. Esta superioridade corresponde à EObs ter no CJ mais jogadores que a equipa adversária. Ex.: Situação 2x0, 2x1, 3x1.

Page 77: a dinâmica do losango

77

No quadro seguinte é possível observar o catálogo em resumo: Quadro 3.7. O instrumento de observação: combinação formato de campo e sistema de

categorias

COMBINAÇÃO FORMATO DE CAMPO SISTEMA DE CATEGORIAS

Inicio do Processo

Ofensivo (IPO)

Desenvolv. do Processo

Ofensivo (DPO)

Final do Processo

Ofensivo (FPO) Ritmo de Jogo

(RJ) Espacialização

(ETJ) Centro do Jogo

(CJ)

Catálogo

Início pontapé de

saída (IPs) Início por

recuperação ind (IPind)

Início por recuperação pelo

GR (IPgr) Início por

recuperação em acção indiv (IPi) Início por passe

curto prof (IPpcpr)

Início por passe curto larg (IPpclg)

Início por passe médio atras

(IPpmat) Início por passe

médio prof s/ variaç corred (IPpmprsv)

Início por passe médio prof c/ variaç corred (IPpmprcv)

Início por passe médio larg c/ variaç corred (IPpmlgcv)

Início por passe longo atrás

(IPplat) Início por passe

longo prof s/ variaç corred

(IPplprsv) Início por passe

longo prof c/ variaç corred

(IPplprsv) Início por passe

longo larg c/ variaç corred

(IPpllgcv)

Catálogo

Desv. por acção

ind (DPi) Desv. por passe

curto prof (DPpcpr)

Desv. por passe curto larg (DPpclg)

Desv. por passe médio atras (DPpmat)

Desv. por passe médio prof s/ variaç corred (DPpmprsv)

Desv. por passe médio prof c/ variaç corred (DPpmprcv)

Desv. por passe médio larg c/ variaç corred (DPpmlgcv)

Desv. por passe longo atrás

(DPplat) Desv. por passe

longo prof s/ variaç corred (DPplprsv)

Desv. por passe longo prof c/ variaç corred (DPplprsv)

Desv. por passe longo larg c/ variaç corred

(DPpllgcv) Desv por

cruzamento (DPcrz)

Catálogo

Finalização com remate para fora

(Frf) Finalização com remate dentro

(Frd) Finalização com remate contra advrs. (Frad)

Finalização com obtenção de golo

(Fgl) Final ao atingir o quarto ofensivo

(Fof) Final por recup.

da bola pelo advrs. (Fbad)

Final por recup. da bola pelo GR

advrs. (Fgra) Final por

infracção (Finf)

Repertório

Ritmo de Jogo Rápido (RJr)

Ritmo de Jogo lento/médio (RJl)

Repertório

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

Repertório

Pressão/Inf

numérica (Pinf) Pressão/Igual numérica (Pig) Pressão/Sup

numérica (Psup) Sem Pressão/Inf numérica (Spinf)

Sem Pressão/Igual

numérica (Spig) Sem

Pressão/Sup numérica (Spsup)

Page 78: a dinâmica do losango

78

3.3 Observação e registo dos dados

3.3.1 Critérios taxonómicos da Metodologia Observacional

São quatro os critérios taxonómicos básicos inerentes à Metodologia

Observacional (Hernández Mendo e tal, 2000):

1. O primeiro critério é o grau de cientificidade, ao qual cabe

distinguir a observação passiva da observação activa.

2. O segundo critério é o grau de participação do observador

existente na díade observador-observado.

3. O terceiro critério é o grau de perceptividade ao nível da

observabilidade em causa, diferenciando entre observação directa

e indirecta, embora de ambas resultam dados pertinentes.

4. O quarto e último critério diz respeito aos níveis de resposta,

correspondendo aos diversos sectores do comportamento

perceptível.

Relativamente aos critérios taxonómicos da metodologia observacional

podemos considerar a nossa observação inicialmente passiva, por ser levada a

cabo uma fase exploratória ou pré-científica, para depois se tornar activa ou

científica, com um elevado controlo externo e com hipóteses exploratórias.

Tratou-se também de uma observação não participante, pois o nosso

papel será neutro e em contexto natural, por se tratar duma metodologia não

interventiva e por conseguinte não reactiva. Neste estudo foi utilizada uma

observação directa, na medida em que houve uma transcrição da realidade em

tempo real, havendo a descrição da situação e do contexto e, ao mesmo

tempo, indirecta porque foram utilizados meios audiovisuais (DVD).

Esta forma de observação permite reduzir o índice de erros na análise e

no registo. No que diz respeito aos níveis de resposta foram utilizadas

condutas não-verbais, que se referem às expressões motoras que fazem parte

da dinâmica dum jogo de Futebol.

Page 79: a dinâmica do losango

79

3.3.2 Procedimentos de observação

Sendo o Futebol um jogo de ambiente instável, variável, aleatório e

volátil, com um número grande de jogadores envolvidos num terreno de

grandes dimensões e ainda levando em conta o número de acções, fica

dificultado o seu registo em tempo real, propiciando a ocorrência de erros, quer

de observação, quer de notação (Garganta, 1997).

Como já foi referido anteriormente, recorreu-se a uma observação

indirecta, através de meios audiovisuais, para que o observador pudesse

sentir-se mais seguro e confiante na codificação do fluxo conductural do

Processo Ofensivo da equipa observada e tivesse oportunidade de ver e rever

várias vezes a mesma sequência de jogo e à velocidade que entendesse.

Neste contexto, as funções “slow motion” e “pause” foram frequentemente

utilizadas no sentido de retirar todas as dúvidas.

Os jogos seleccionados foram retirados da internet, em formato DVD. A

visualização dos jogos e respectivas tarefas de observação foram efectuadas

num computador portátil TSUNAMI, com processador Intel (R) Core (TM) 2

CPU 2.00GHz, através do programa Cyberlink PowerDVD 6. A respectiva

codificação esteve sempre a cabo do mesmo observador.

3.3.3 Procedimentos de registo

O registo dos dados observados é realizado de forma sequencial.

Baseia-se no registo dos códigos de cada conduta ou comportamentos

concorrentes observados e ordenados na medida em que ocorrem, ou seja, na

ordem em que sucedem ao longo de cada Processo Ofensivo. Assim, tendo

por base o instrumento FC, procedeu-se à codificação das condutas

conductuais que foram emergindo do processo de observação, registando-se

num pequeno bloco A5.

Durante a codificação foram seguidos os seguintes passos:

• Em primeiro lugar, a jogada foi visionada sem que houvesse

qualquer tipo de registo.

• De seguida, a jogada foi novamente visionada, havendo registo

dos parâmetros.

Page 80: a dinâmica do losango

80

• Por último, viu-se novamente a jogada e foram confirmados os

dados previamente registados. Uma vez codificada a jogada

passou-se para os mesmos procedimentos na seguinte.

3.3.3.1 Directrizes para o registo das sequências PO

Para o tratamento e análise dos dados neste estudo recorreu-se ao

software SDIS (Sequential Data Interchange Standard) - GSEQ (Generalized

Sequential Querier) 4.2 (versão actualizada para window – Fevereiro de 2008)

de Bakeman e Quera (1996), pela sua especificidade para analisar eventos

múltiplos. Logo, todo o processo de registo dos dados teve por base a

linguagem do referido programa.

O GSEQ é um programa de propósito geral que analisa as sequências

de comportamento interactivo. Representa, analisa, codifica e recodifica

sequências comportamentais parcelares e complexas.

Para a notação dos dados da observação utilizou-se um arquivo com

extensão SDS, no qual foram registados os códigos dos comportamentos

observados. É importante explicitar a forma de sinalizar o registo da

observação, segundo a linguagem própria do programa SDIS -GSEQ:

a) No final do registo duma conduta foi utilizado um ponto final (.),

para sinalizar a passagem para a conduta seguinte da mesma

sequência.

b) No final duma sequência foi colocado um ponto e vírgula (;).

c) No final duma sequência PO e também do registo duma sessão

de observação foi utilizado o sinal (/).

d) Cada sequência recolhida diz respeito a um PO, pois um novo PO

implicou a passagem para a linha seguinte.

A título de exemplo do registo, é apresentado a seguir uma das

sequências ofensivas do jogo entre o FC Barcelona e o Manchester United,

durante a final da Liga dos Campeões, na época 2008/09, a qual termina em

golo (Processo Ofensivo é finalizado com eficácia).

Page 81: a dinâmica do losango

81

� Início do Processo Ofensivo (IPO):

Como já foi mencionado anteriormente, o Início do Processo Ofensivo

acontece através da recuperação da posse de bola, de forma directa (a bola

permanece dentro do espaço de jogo regulamentar; não são cometidas

infracções às leis do jogo) ou indirecta (por infracção às leis de jogo da parte do

adversário), quando se respeita pelo menos uma das seguintes acções: a)

Realiza pelo menos três contactos consecutivos com a bola; b) Executa um

passe positivo (permite a manutenção da posse de bola); c) Realiza um remate

(finalização).

Na sequência exemplificativa, o Início do Processo Ofensivo dá-se

através dum passe médio (entre duas zonas contíguas) em largura (atrasado

em relação à linha da bola), com variação de corredor de jogo, com ritmo de

jogo rápido (passe rápido), na zona 7 do campograma, num contexto de

interacção de pressão sobre o portador da bola e em igualdade numérica.

IPpmlgcv RJr 7 Pig

Fig. 6 Momento de início do Processo Ofensivo

Conduta para o Início do

Processo Ofensivo (IPO)

Ritmo de Jogo Zona do campograma

onde se dá o IPO

Contexto de interacção

no Centro do Jogo onde

tem lugar o IPO

Page 82: a dinâmica do losango

82

� Desenvolvimento do Processo Ofensivo (DPO):

Depois passamos para o critério 2 do Formato de Campo – o

Desenvolvimento do Processo Ofensivo – registando os respectivos códigos. O

Processo Ofensivo desenvolve-se quando um jogador e colegas de equipa

(colectivo) realizam intervenções motoras para manter de forma controlada, em

termos táctico-técnicos, a posse de bola e estar em disposição de dar

continuidade ao processo ofensivo, para: a) conservar a bola; b) progredir com

a bola para a baliza adversária; c) desequilibrar a defesa adversária e tentar

marcar golo.

No caso abordado, o Processo Ofensivo desenrola-se, inicialmente,

através dum passe curto em profundidade, com ritmo de jogo rápido, na zona 8

do campograma, com o jogador portador da bola sem pressão e num contexto

de interacção em igualdade numérica no centro do jogo.

DPpcpr RJr 8 SPig

De seguida, o jogador da

equipa observada (EObs)

realiza um passe curto em

largura (atrasado em relação à

linha em que se encontra a

bola), com um ritmo de jogo

rápido, na zona 8 do

Fig. 7 Desenvolvimento do Processo Ofensivo 1

Fig. 8 Desenvolvimento do Processo Ofensivo 2

Page 83: a dinâmica do losango

83

campograma, num contexto de pressão sobre o portador da bola e em

igualdade numérica.

DPpclg RJr 8 Pig

No exemplo seleccionado, o Processo Ofensivo continua através duma

acção individual (o jogador portador da bola conserva a posse de bola e

progride no terreno de jogo, com um ritmo de jogo rápido, a partir da zona 8 do

campograma, num contexto de pressão e em inferioridade numérica no centro

do jogo.

DPi RJr 8 Pinf

Posteriormente, o jogador que entrou em condução realiza agora um

passe médio em profundidade sem variação de corredor, com um ritmo de jogo

igualmente rápido, na zona 7 do campograma e num contexto de interacção de

pressão e em inferioridade numérica.

DPpmprsv RJr 7 Pinf

Fig. 9 Desenvolvimento do Processo Ofensivo 3

Fig. 10 Desenvolvimento do Processo Ofensivo 4

Page 84: a dinâmica do losango

84

O jogador que recebe a bola entra em drible 1x1 (acção individual) para

tentar ultrapassar o adversário directo, com um ritmo de jogo rápido (condução

rápida), a partir da zona 10 do campograma, com um contexto de interacção de

pressão sobre o portador da bola em inferioridade numérica no centro do jogo.

DPi RJr 10 Pinf

� Final do Processo Ofensivo (FPO):

A forma como o Processo Ofensivo é finalizado é a etapa seguinte.

Nesta última codificação não serão registados os critérios Centro do Jogo, o

Ritmo de Jogo e o Contexto de Interacção no Centro do Jogo. Uma equipa

finaliza uma SOF quando concretiza uma das situações presentes no catálogo,

apresente um final com eficácia ou não:

� Remate fora;

� Remate dentro;

� Remate contra um adversário;

� Remate com obtenção de golo;

� Atingir o quarto ofensivo do terreno de jogo;

� Recuperação de bola pelo adversário no quarto ofensivo da equipa

observada;

� Recuperação de bola pelo GR adversário;

� Final por infracção ou perda de bola no quarto ofensivo do terreno de

jogo.

Fig. 11 Desenvolvimento do Processo Ofensivo 5

Page 85: a dinâmica do losango

85

No exemplo apresentado, o Final do Processo Ofensivo acontece

através dum remate que termina em golo (Fgl), a partir da zona 10 do

campograma.

Fgl 10

A sequência do Processo Ofensivo foi finalizada com eficácia e

registada da seguinte forma:

Todas as opções e critérios adoptados no decurso dos processos de

construção do instrumento, de observação e de registo das sequências PO

realizaram-se no sentido de que o resultado da recolha dos dados amostrais

surgisse sob a forma da linguagem SDIS-GSEQ de Bakerman e Quera (1996).

Assim, depois de uma análise da qualidade dos dados pudemos submetê-los a

uma análise sequencial, utilizando a técnica de retardos ou de Transições (Lag

Method).

Fig. 12 Final do Processo Ofensivo

Conduta pela qual

acontece o final do PO

Zona do campograma

onde se dá o final do PO

IPpmlgcv RJr 7 Pig. DPpcpr RJr 8 SPig. DPpclg RJr 8 Pig. DPi RJr 8 Pinf. DPpmprsv RJr 7 Pinf. DPi RJr 10 Pinf Fgl 10/

Page 86: a dinâmica do losango

86

3.3.4 Fase exploratória

Antes do início da recolha dos dados, como deve acontecer em qualquer

estudo, é imprescindível desenvolver um planeamento adequado a partir da

definição do problema e delimitação dos objectivos. Depois, e para reduzir em

grande medida a probabilidade de ocorrerem erros convém desenvolver uma

fase exploratória, que é de carácter assistemático ou casual. Esta deve

prolongar-se o suficiente para a concretização dos objectivos desta fase, ou

seja, para que o observador possa adquirir conhecimentos que lhe permitam

tomar decisões mais acertadas na fase do registo propriamente dito. Sendo

assim são consideráveis as vantagens que se obtêm ao levar a cabo esta

observação passiva:

• Adequada delimitação do problema.

• Aumentar a identificação e melhorar o nível de treino do

observador em relação ao instrumento.

• Fornecer bagagem de informações várias que ajudarão o

observador nas tomadas de decisões em etapas posteriores

(registo propriamente dito).

Nesta etapa, optou-se por realizar a observação e o registo de

sequências da primeira parte do jogo relativo à final da Liga dos Campeões

entre o FC Barcelona e o Manchester United, da época 2008/09. Procedeu-se

à observação e registo de 49 sequências do Processo Ofensivo (PO) da equipa

do FC Barcelona.

3.3.5 Análise da qualidade dos dados

É indispensável que se verifique se os dados observados são

interpretáveis ou se são o resultado de flutuações aleatórias introduzidas pelo

instrumento de observação utilizado (Blanco e Anguera, 2000).

A fiabilidade é decisiva e para isso as sequências só poderão ser

registadas com a realização primeiro de uma fase exploratória. O registo dos

dados não será possível no caso de não haver igualdade numérica de onze

jogadores entre as equipas (ex: lesão ou expulsão dum jogador) ou em

Page 87: a dinâmica do losango

87

situações de impossibilidade de observação (ex.: ruptura temporária da

imagem).

Associado à fiabilidade está o conceito de validade. Este consiste em

perceber se estamos a medir aquilo que pretendemos medir. A concordância

entre observadores independentes (concordância inter-observador) pode

reflectir a consistência necessária para que um sistema de observação directa

seja válido. Se o mesmo observador realiza a observação e o registo em dois

momentos diversos então estamos a falar de concordância intra-observador.

Optamos por analisar a qualidade dos dados através desta última, verificando a

partir do índice de fiabilidade de Kappa.

Portanto, procedeu-se ao registo das sequências conducturais numa

sessão de observação de uma equipa da amostra (FC Barcelona), recorrendo

ao programa SDIS-GSEQ de Bakeman e Quera (1996) e à sua função

“Calcular Kappa”. A sessão de registo teve um intervalo de duas semanas.

Quadro 3.8 Sessão de Observação para a análise da qualidade dos dados pela

concordância intra-observador

CRITÉRIOS JOGO UTILIZADO SESSÃO DE

OBSERVAÇÃO

Vitória 1.ª Parte FC Barcelona Manchester U 9’30’’ – 45’

O índice de fiabilidade de Kappa indica que para existir estabilidade

entre observações, o valor de Kappa deve ser superior a 0,75 para todos os

critérios (Bakeman e Gottman, 1989). Neste caso, quanto mais o Kappa for

próximo de 1 maior é também o grau de concordância intra-observador.

Page 88: a dinâmica do losango

88

Quadro 3.9 Análise da qualidade de dados: resultados da fiabilidade para cada um dos

critérios de Formato de Campo (FC)

Critérios de Formato de Campo

Kappa de Cohen Índice concordância

Intra-observador

Início do Processo Ofensivo (IPO)

0,9580 98,51%

Desenvolvimento do Processo Ofensivo

(DPO) 0,9755 98,44%

Final do Processo Ofensivo (FPO)

0,9644 99,22%

Ritmo de Jogo (RJ) 0,9691 99,28%

Espacialização do Terreno de Jogo (ETJ)

0,9454 95,90%

Centro do Jogo (CJ) 0,9172 93,33%

Pela análise do Quadro 2.2 podemos concluir que os dados traduzem

grande estabilidade entre observações e portanto garantem a sua qualidade,

prevalecendo a ausência de ‘desejo’ do observador e de idiossincrasia do

mesmo.

Repare-se que, conforme era esperado, o critério com o Kappa mais

baixo é o Centro do Jogo (CJ), devido à subjectividade e dificuldade que

encerra o nível de interpretação da situação contextual de jogo.

De seguida, aparece o critério Espacialização do Terreno de Jogo (ETJ)

com um índice de concordância intra-observador de 95,90%.

Page 89: a dinâmica do losango

89

3.4 Amostra de Observação

3.4.1 Justificação da selecção da amostra

Em primeiro lugar, a selecção das equipas a serem observadas tem a

ver com o facto de qualquer uma destas equipas estruturar o seu sector

intermédio em losango, ora ao nível sectorial (apenas com os médios6), ora

ao nível inter-sectorial (com a inclusão

dum jogador vindo de outra linha para

construir um losango).

Depois porque qualquer uma

destas equipas obedece a uma

Filosofia de Futebol de ataque, tendo

o seu jogo uma vertente muito

atractiva relacionada com a

posse/circulação da bola, de forma

colectiva, para criar e aproveitar os

espaços.

Optei por observar

equipas/selecções que se

evidenciaram nas competições que

participaram com esta organização no

meio-campo e enquanto referências

decisivas no desenvolvimento do

paradigma de Guardiola, actual

Treinador do FC Barcelona.

Seleccionei esta equipa porque

apesar de utilizar um ‘sistema’

(unidades estáticas dispostas no

campo) de 1-4-3-3 à partida, a sua

dinâmica funciona muito à base da

construção dum losango no sector

intermédio, no sentido de criar

Fig. 13 Losango no meio-campo do FC Barcelona

Fig. 14 Losango no meio-campo do FC Barcelona

Fig. 15 Losango no meio-campo do FC Barcelona

Page 90: a dinâmica do losango

90

superioridade numérica nessa zona do terreno, como é possível observar nas

figuras 13, 14 e 15.

O número de jogos seleccionados parece-nos suficiente para realizar o

estudo a que nos propusemos, uma vez que um jogo de qualquer uma destas

equipas nos permite recolher muitos Processos Ofensivos.

Neste contexto, a amostra observacional utilizada na recolha dos dados

correspondeu à análise dos 90 minutos de cada uma das partidas

seleccionadas:

I. Final da Liga dos Campeões entre AFC Ajax-1 e AC MIlan-0, na

época 1995/96;

II. Final da Liga dos Campeões entre AFC Ajax-1 e Juventus FC-1

(2-4 após penaltis), na época 1996/97;

III. Fase de Grupos do Mundial 2002 entre a Selecção da Suécia-1

e a Selecção da Argentina-1;

IV. Fase de Grupos da Liga dos Campeões entre o FC Barcelona-5

e o Olympique de Lyon-2, na época 2008/09;

V. Final da Liga dos Campeões entre FC Barcelona-2 e

Manchester United FC-0, na época 2008/09;

VI. Liga Espanhola (8.ª Jornada) entre FC Barcelona-5 e UD

Almeria-0, na época 2008/09;

VII. Liga Espanhola (32.ª Jornada) entre FC Barcelona-4 e Sevilha

FC-0, na época 2008/09;

VIII. Meia-Final do Europeu 2008 entre a Selecção da Espanha-3 e a

Selecção da Rússia-0;

IX. Fase de Grupos da Liga dos Campeões entre o FC Inter Milan-0

e o FC Barcelona-0, na época 2009/10;

X. Fase de Grupos da Liga dos Campeões entre o FC Barcelona-2

e o FC Dínamo de Kiev-0, na época 2009/10.

A amostra foi constituída por todos os processos ofensivos que

permitiam observar a totalidade das condutas que deles fizeram parte. No total,

a amostra do presente estudo engloba 4829 multieventos.

Page 91: a dinâmica do losango

91

3.4.2 Selecção da Amostra Observacional

As decisões relativas à amostra observacional devem ser entendidas

com base em dois níveis amostrais: inter-sessional e intra-sessional, a partir do

qual se tomaram uma série de medidas.

O nível amostral inter-sessional corresponde a decisões relativas ao

período de observação, à periodicidade das sessões de observação e aos

critérios de início e final de cada sessão.

O nível amostral intra-sessional refere-se aos procedimentos de registo

da informação dentro de cada sessão de observação.

• Nível Amostral Inter-Sessional

As decisões relativas ao nível amostral inter-sessional foram

estabelecidas com base nos seguintes objectivos:

- Selecção de equipas de rendimento superior, sobre as quais serão realizadas

as sessões de observação, em jogos Internacionais (no caso de se tratar duma

Selecção), da Liga dos Campeões e da Liga Espanhola.

- Recolha dos dados amostrais (sequências de conduta em Processo Ofensivo)

das equipas, que possibilitam a concretização dos objectivos propostos.

O nível amostral inter-sessional estabeleceu-se a partir das seguintes

decisões:

Período de observação – jogos de várias épocas desportivas (1995/96,

1996/97, 2001/02, 2008/09 e 2009/10.

Número de sessões – dez (10).

Critério de início e fim de sessão – tempo que vai desde o sinal dado pelo

árbitro para início e final das duas partes que compõem o jogo. Quando uma

das equipas fica em inferioridade numérica permanente, por motivo disciplinar

(expulsão) ou lesão de um jogador sem que mais substituições possam ser

realizadas, acaba imediatamente a sessão de observação.

Page 92: a dinâmica do losango

92

• Nível Amostral Intra-Sessional

As decisões a nível amostral intra-sessional referem-se aos

procedimentos de registo da informação relativa ao que é relevante recolher no

nosso estudo.

É realizado um registo contínuo da sessão, mas onde apenas é

registada a informação relevante que se adeqúe aos objectivos do estudo.

Sendo assim, são registadas as sequências de conduta em Processo Ofensivo,

seguindo o que entendemos por Processo Ofensivo e em que foi possível

observar a totalidade das condutas que a compõem.

Page 93: a dinâmica do losango

93

3.5 Análise dos dados

A análise dos dados observados e registados realizar-se-á através de

uma das modalidades da análise quantitativa que se pode aplicar aos dados

observacionais: a análise sequencial, em particular através da técnica de

retardos ou de transições (lag method).

3.5.1 Análise sequencial

Os estudos que têm presente a sequencialidade aproximam-nos de uma

forma mais pertinente à compreensão diacrónica geral ou mais particular do

jogo, contribuindo para melhorar a sua descrição. Esta técnica permite estimar

acontecimentos do jogo que se produzem, com maior probabilidade, para além

da sorte ou acaso ou se repetem com uma certa frequência ou ainda como

certas condutas são excitatórias ou inibitórias com respeito a outras que as

antecedem ou sucedem.

Portanto, a análise sequencial tem como objectivo a procura de relações

de associação significativa entre condutas registadas, a detecção de padrões

de conduta e o extracto de lista serial. O termo análise sequencial refere-se a

um conjunto de técnicas que têm como objectivo evidenciar as relações,

associações e dependências sequenciais entre unidades de conduta.

Este tipo de análise consiste em averiguar as probabilidades de

ocorrência de determinadas condutas, em função da prévia ocorrência de

outras. Como meta procura-se a comprovação de uma ordem sequencial, isto

é, uma certa estabilidade na sucessão de sequências, que se encontre acima

das probabilidades que são explicáveis pelo mero acaso (Anguera 1992:192).

Seguimos o mesmo procedimento dos estudos de Silva (2004) e

Barreira (2006), utilizando nesta investigação a técnica de retardos5 ou de

transições (lag method) enquanto forma de abordagem da análise sequencial.

Na análise sequencial deve considerar-se dois tipos de conduta: a

critério (CC), que é a categoria a partir da qual, na sequência de dados, se

contabilizam as transições, ou retardos, de forma prospectiva (para a frente),

5 Retardo é o número de ordem que ocupa cada conduta registada a partir de cada ocorrência da conduta critério.

Page 94: a dinâmica do losango

94

ou retrospectiva (para trás); e a objecto (CO), que é a categoria até onde, na

sequência de dados, se contabilizam as transições/retardos.

A análise pode ter um carácter prospectivo (análise da sequência de

condutas que se seguiram à conduta critério: 1, 2,...), ou retrospectivo (análise

da sequência de condutas que antecederam a conduta critério: -1, -2,...).

No presente trabalho pretendemos fazer uma análise desde o retardo -5

até ao retardo 5, de forma retrospectiva e prospectiva.

Na análise dos dados e definição do retardo máximo do padrão de

conduta é preciso ter em conta certas regras:

1. Um padrão de conduta termina de forma natural quando não há

mais retardos excitatórios. No presente estudo, o padrão de

conduta só irá até ao retardo 5, de forma prospectiva e

retrospectiva.

2. Um padrão de conduta em que há dois retardos consecutivos

vazios (sem condutas excitatórias) termina em consequência

destes.

3. Quando num padrão de conduta há dois retardos consecutivos com

várias condutas excitatórias, o primeiro deles denomina-se “max-

lag”, e considera-se o ultimo retardo interpretativo do padrão de

conduta. Define-se o Padrão de Conduta primário através do valor

(força de coesão). A partir deste carácter de primariedade pode-se

ordenar os diferentes padrões de conduta obtidos, em ordem da

maior para a menor força de coesão entre os diferentes retardos

3.5.2 Procedimento dos dados

Os dados recolhidos foram introduzidos no programa SDIS-GSEQ para

Window (versão 4.1.2), criando um ficheiro SDS. Através das funções do

programa «verificar sintaxis solamente» e «compilar arquivo SDS», foram

corrigidos todos os erros no processo de digitalização dos dados. Em seguida

foi criado um ficheiro MDS, a parir do qual se realiza a análise sequencial, pela

técnica de retardos ou de transições (lag method), utilizando para tal as

condutas critério que se afiguravam necessárias para o estudo. Neste sentido,

Page 95: a dinâmica do losango

95

foi elaborado o Quadro 2.3, onde são definidas as condutas critério e as

objecto. Foram seguidos alguns preceitos para o processo de determinação da

excitatoriedade e da relação entre as CC e as CO:

• As cadeias de retardo serão tão longas quanto maior for a existência

de continuidade excitatória entre as CC e as CO, nunca excedendo os 5

retardos, quer retrospectiva como prospectivamente.

• Só foram consideradas as transições cujo valor de z fosse igual ou

superior a 1,96, pois este é o que representa uma maior probabilidade

de transição que o esperado pelo mero conceito de sorte ou acaso,

existindo assim uma dependência excitatória ou positiva. Se o valor é

menor que 1,96, a dependência torna-se inibitória ou negativa (Barreira,

2006:121).

• Quando num retardo existem duas ou mais condutas excitadas,

considera-se como primária aquela cuja diferença entre a probabilidade

condicional e incondicional for superior.

Page 96: a dinâmica do losango

96

Quadro 3.10 Sentido prospectivo e retrospectivo utilizado para a análise sequencial de

retardos, tendo como condutas critério o catálogo de condutas de desenvolvimento e

final do Processo Ofensivo.

CONDUTAS CRITÉRIO

CONDUTAS OBJECTO

Análise prospectiva-retrospectiva

Condutas de Desenvolvimento do Processo Ofensivo (DPO):

DPi,

DPpcpr,

DPpclg,

DPpmat,

DPpmprsv, DPpmprcv, DPpmlgcv,

DPplat,

DPplprsv,

DPplprcv,

DPpllgcv,

DPcrz

Condutas de Início do Processo Ofensivo (IPO):

IPs, IPind, IPgr, IPi, IPpcpr, IPpclg, IPpmat, IPpmprsv, IPpmprcv, IPpmlgcv, IPplat, IPplprsv, IPplprcv, IPpllgcv

Condutas de Desenvolvimento do Processo Ofensivo (DPO):

DPi, DPpcpr, DPpclg, DPpmat, DPpmprsv, DPpmprcv, DPpmlgcv, DPplat, DPplprsv, DPplprcv, DPpllgcv, DPcrz

Condutas de Final do Processo Ofensivo (FPO):

Frf, Frd, Frad, Fgl, Fof, Fbad, Fgra, Finf

Ritmo de Jogo (RJ):

RJl, RJl

Espacialização (ETJ):

1,2,3,4,5,6,7,8,9,10,11 e 12

Centro do Jogo (CJ):

Pinf, Pig, Psup, SPinf, SPig, SPsup

Page 97: a dinâmica do losango

97

Page 98: a dinâmica do losango

98

Page 99: a dinâmica do losango

99

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Optamos por efectuar apenas uma análise sequencial por darmos

preferência aos dados qualitativos. A análise descritiva dos dados quantitativos,

correspondentes às frequências relativas e absolutas, tem o valor que tem,

mas no meu modo de ver/sentir as coisas, não será tão relevante para a

compreensão do jogo. No início dum jogo de futebol, pressupõe-se uma

igualdade de forças entre os adversários, e, com o seu decorrer acontecem

acções individuais/colectivas que fazem ou não pender a ‘balança’ para um dos

lados. Portanto, mais do que a quantidade de passes ou conduções, sente-se a

necessidade de perceber como é que essas acções táctico-técnicas são

efectuadas, o seu contexto, a interacção do jogador com bola com os colegas

de equipa e com os adversários. Isto leva-nos para o campo conductural da

análise sequencial.

Recolhemos medidas de sequencialidade para a análise de transições

do fluxo conductural ao longo do processo ofensivo mediante a técnica

analítica de retardos, o que permitiu conhecer se havia regularidade e

probabilidade de ocorrência de certas condutas em função da ocorrência de

outras para além do mero acaso.

4.1 Análise sequencial

Este ponto do trabalho consta da apresentação dos padrões de conduta do

Processo Ofensivo, identificados mediante a utilização da técnica de retardos.

Através da técnica sequencial utilizada, as relações estabelecidas não devem ser

entendidas sob um ponto de vista determinista, mas sim através de uma

perspectiva probabilística (Pereira, 2005), pois como referem Castellano Paulis &

Mendo (2002 cit. por Silva, 2004), este tipo de análise procura identificar a

probabilidade de transição entre condutas para além do determinado pela sorte ou

acaso. Isto significa que o primeiro evento não é mais do que o antecedente e o

segundo o consequente, com um determinado grau de probabilidade de transição

de carácter associativo, o que não implica qualquer relação linear directa entre

dois eventos seguidos no tempo.

Page 100: a dinâmica do losango

100

A forma de apresentar os resultados consiste em isolar cada conduta

critério e agrupar em cada retardo as condutas objecto associadas. Para cada

conduta critério e em cada retardo em que se observe um padrão de conduta (e

até se atingir o retardo máximo), será possível observar as condutas

regulares/comportamentais, bem como a situação relativa aos critérios estruturais

e contextuais.

4.2.1 Padrões de jogo encontrados para as condutas de

Desenvolvimento do Processo Ofensivo (DPO)

Antes de discutirmos os dados obtidos convém referir, tal e qual é

referido no estudo de Silva (2004), dos cerca de noventa (90) processos

ofensivos que uma equipa tem, em média, num jogo, só uma percentagem

muito reduzida termina com remate à baliza, e destes, apenas um número

irrisório termina em GOLO!

Algumas condutas de Desenvolvimento do Processo Ofensivo

possibilitam a continuidade do PO e são activadas, excitando essencialmente

as zonas do sector defensivo e do sector intermédio defensivo; e outras estão

ligadas ao processo de criação de situações de finalização e/ou finalização,

sendo activadas e excitando principalmente zonas do sector médio ofensivo e

ofensivo.

Page 101: a dinâmica do losango

101

CONDUTA CRITÉRIO: Desenvolvimento do Processo Ofensivo por acção

individual (DPi)

Quadro 4.1 Padrão de conduta ou “max lag” definitivo para a conduta critério de Desenvolvimento do Processo Ofensivo por acção individual, tendo como condutas objecto as condutas comportamentais (IPO, DPO, FPO); as condutas estruturais (ETJ) e as contextuais (CJ e RJ).

Desenvolvimento do Processo Ofensivo por acção individual (DPi)

CONDUTA CRITÉRIO

Desenvolvimento do Processo Ofensivo por acção individual (DPi)

R -5 R -4 R -3 R -2 R -1 Análise

Retrospectiva-Prospectiva

R +1 R +2 R +3 R +4 R +5

IPpcpr (2.32)

IPplprsv (2.23)

Condutas comportamentais

Início (IPO)

DPpclg (2.29)

DPpmprcv (2.05)

DPi (11.48)

DPpmprcv (11.1)

DPpcpr (7.24)

DPpmprsv (10.72)

Desenvolvimento (DPO)

DPpmprcv (7.13)

DPpmlgcv (5.71)

DPpmprsv (5.43)

DPi (12.44) DPcrz (2.11)

DPi (3.05)

Finalização (FPO) Fof (4.52) Fgl (2.82)

Fgra (2.21)

1 (2.38) 7 (3.23)

Condutas estruturais 10 (5.33)

12 (4.37) 11 (5.08)

11 (2.41) 12 (2.19) 10 (2.13)

11 (2.01) Espacialização

(ETJ)

Pinf (2.67) - Psup (2.58)

Condutas contextuais

Pinf (6.2) Pinf (6.1) - Pinf (2.46) Centro do Jogo

(CJ)

RJr (2.56)

- RJr (8.43) Ritmo de Jogo (RJ)

A partir da análise do Quadro 4.1 podemos verificar que a conduta de

Desenvolvimento do Processo Ofensivo por acção individual apresenta uma

grande expressão tanto retrospectiva como prospectivamente, no que diz

respeito às condutas regulares/comportamentais, estruturais e contextuais.

Através da análise dos dados observa-se também que após a

recuperação da posse de bola com passes em profundidade (sem variação de

corredor), a condução e o drible são condutas que permitem a progressão da

bola para zonas de maior ofensividade até se chegar ao sector ofensivo.

A utilização de acções individuais em zonas de início/construção (1)

poderá estar relacionada com o facto de haver respeito das equipas

adversárias em relação às equipas analisadas, concedendo-lhes a iniciativa de

jogo e baixando o seu bloco defensivo, permitindo que estas tenham algum

espaço/tempo para progredir.

Page 102: a dinâmica do losango

102

Por vezes o passe longo em profundidade associado a acções

individuais no sector médio-ofensivo (7) e sobretudo no sector ofensivo (10, 11

e 12) é aproveitado no sentido de beneficiar da desorganização defensiva do

adversário aquando da perda da posse de bola. Poderá ter a ver com

recuperações efectuadas pelo Guarda-redes e sabemos que apesar de se

atribuir maior importância/relevância ao jogo com os pés nesta posição

específica, ainda há uma tendência grande de se recorrer ao pontapé longo na

longitudinal, efectuado muitas vezes sem qualquer critério. Contudo, se for

utilizado num contexto ajustado pode ser uma “arma” importante, provocando

ruptura da dinâmica organizativa defensiva dos adversários.

Segundo Silva (2004), a condução de bola (e por inerência o drible) é

uma conduta que pelas suas características facilita a progressão longitudinal

no espaço de jogo e a superação de contextos menos favoráveis do ponto de

vista ofensivo, transformando-os em situações de pré-finalização e/ou

finalização.

Durante o Desenvolvimento do Processo Ofensivo, há uma forte relação

excitatória entre as condutas por acção individual e as condutas de passe curto

e médio em profundidade com ou sem variação de corredor de jogo (nos

retardos -1 e +1). No fundo, isto poderá ser consequência do Princípio que

refere que um jogador deverá passar se tiver um colega melhor colocado, mas

se não tem deverá conduzir até que se crie uma nova possibilidade de passe.

As acções individuais podem acontecer também seguidas por um passe

médio em largura com variação de corredor, como consequência da utilização

das linhas de passe de segurança, sobretudo do médio-centro (pivô), quando o

espaço de progressão está fechado num corredor lateral na zona média-

ofensiva ou ofensiva. As equipas observadas têm um processo muito

inteligente na posse/circulação da bola, pois antes que os adversários

consigam fechar as linhas de passe mais próximas, mudam a orientação do

jogo, transportando a bola para outras zonas e corredores.

Este processo poderá ser facilitado pela estruturação do losango no

corredor central, o que permite que o jogo seja mais fluído, havendo sempre

várias linhas de passe. Por vezes conseguem dar uma referência de marcação

aos defesas centrais adversários e noutros momentos retiram-lhes essa

Page 103: a dinâmica do losango

103

referência, gerando confusão e levando à desorganização da estrutura

defensiva.

As condutas de Desenvolvimento do Processo Ofensivo por acção

individual são ainda activadas por mais acções individuais, tanto em termos

retrospectivos como prospectivos. Daqui se percebe a importância de se

perceber que o Desenvolvimento do Processo Ofensivo deve evoluir em termos

longitudinais, de mais ordem para menos ordem, de menos criativo para mais

criativo, de maior rigor e disciplina táctica para menos rigor e liberdade táctica,

de maior solidez técnica para maior repertório técnico (Silva, 2004).

As acções individuais como a condução e drible possuem ligações

excitatórias com condutas de Final do Processo Ofensivo (retardo+1), tais

como atingir o sector ofensivo com a bola controlada (Final do Processo

Ofensivo com eficácia), o final por recuperação da posse de bola pelo Guarda-

redes adversário (Final do Processo Ofensivo sem eficácia) e com a obtenção

de golo (Final do Processo Ofensivo com eficácia).

Se o Processo Ofensivo não for interrompido (há alguma probabilidade

da sua interrupção!), desenvolve-se por acção individual fundamentalmente no

quarto de campo ofensivo, ou seja, nas zonas 10, 11 e 12, zonas associadas à

criação de situações de finalização. No entanto, a relações excitatórias mais

fortes acontecem nas zonas laterais mais ofensivas (10 e 12), associadas à

presença de avançados fortes em situações de “um contra um” e na condução

da bola, e também como resultado do repetido aparecimento de jogadores

vindos de outras linhas/sectores para apoiar o Processo Ofensivo, tais como os

laterais ou médios interiores.

Se pegarmos no exemplo da equipa do FC Barcelona constatamos que,

tanto o Xavi como o Iniesta, concedem bastante profundidade ao seu jogo

através de penetrações em condução pelos corredores laterais, demonstrando

grande habilidade para resolver situações de ‘um contra um’ e criando várias

situações de cruzamentos precisos para os seus companheiros. Esta condução

de bola acontece muitas vezes em progressão para o corredor central (11) ou

então seguida de cruzamento. Normalmente expressa-se a necessidade de

reduzir a condução e o drible no jogo, mas, na nossa opinião, é importante que

se incentive a sua utilização essencialmente no quarto de campo ofensivo e em

Page 104: a dinâmica do losango

104

situações de igualdade numérica de menor complexidade (ex: 1x1, 2x2, até ao

4x46).

Estas acções individuais são contudo efectuadas com o jogador portador

da bola pressionado e em contexto de interacção de inferioridade numérica. É

fácil constatar e perceber que as equipas cada vez se desorganizam menos e

atacam com menos jogadores, o que reflecte as grandes preocupações

defensivas. Por outro lado, as equipas conseguem fazer as “basculações”

defensivas de forma cada vez mais rápida e preparam o momento de

organização defensiva mesmo antes de o enfrentarem.

Estes aspectos podem estar relacionados com as dificuldades de

progressão no espaço longitudinal, originando ataques do tipo posicional e com

inferioridade numérica em relação às equipas adversárias.

CONDUTA CRITÉRIO: Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe curto em

profundidade (DPpcpr)

Quadro 4.2 Padrão de conduta ou “max lag” definitivo para a conduta critério de Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe curto em profundidade, tendo como condutas objecto as condutas comportamentais (IPO, DPO, FPO); as condutas estruturais (ETJ) e as contextuais (CJ, RJ).

Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe curto em profundidade (DPpcpr)

CONDUTA CRITÉRIO

Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe curto em profundidade (DPpcpr)

R -5 R -4 R -3 R -2 R -1 Análise

Retrospectiva-Prospectiva

R +1 R +2 R +3 R +4 R +5

IPi (5.12)

IPind (3.65)

Condutas comportamentais

Início (IPO)

DPpcpr (2.27)

- DPi (2.94) DPpllgcv

(3.6) DPi (4.14)

Desenvolvimento (DPO)

DPpclg (7.92)

DPi (7.18)

Finalização (FPO)

5 (3.12) -

Condutas estruturais 7 (2.31)

9 (2.09)

Espacialização (ETJ)

Psup (2.15) Psup (2.27)

SPig (2.02)

Condutas contextuais

Pig (2.18) SPinf (3.21) - SPig (2.55) Centro do Jogo

(CJ)

Ritmo de Jogo (RJ)

Pela análise do retardo-1 no Quadro 4.2, podemos inferir que o passe

curto em profundidade é activado através de recuperações da posse de bola

Page 105: a dinâmica do losango

105

por acções individuais e no seguimento da fase estática do jogo, isto é, utiliza-

se após uma infracção ou perda de bola dum adversário (a bola sai do terreno

de jogo). A utilização deste tipo de passe após a recuperação da posse de bola

terá a ver com o princípio de ‘olhar primeiro para a frente’ e fazer progredir a

bola no terreno de jogo em segurança. É óbvio que o passe é tanto mais

seguro e preciso quanto mais curta for a distância para o seu receptor.

Poderão ocorrer incursões em condução do Defesa central pelo seu

corredor no ataque, de forma a criar situações pontuais de superioridade

numérica. Por outro, o médio-centro (pivô), sempre que encontra a equipa

adversária desequilibrada defensivamente, ou seja, com espaços entre os seus

jogadores e sectores, joga ao primeiro toque preferencialmente em

profundidade.

Durante o Desenvolvimento do Processo Ofensivo, a combinação entre

os passes curtos em profundidade, com os passes curtos em largura e acções

individuais reflecte uma tendência do jogo das equipas analisadas.

Ao contrário do que apresenta Laranjeiro (2009), neste estudo parece

que o Processo Ofensivo não é condicionado pelo facto da bola permanecer na

mesma zona. Isto terá a ver com um excelente jogo posicional e qualidade na

recepção-passe. Note-se que apesar da bola permanecer na mesma zona, isto

não acontece durante grandes períodos temporais, havendo frequentes

mudanças nos corredores de jogo.

Quando se fala numa Filosofia de posse/circulação, é preciso que os

jogadores estejam perto para que haja sempre muitas linhas de passe e o jogo

se torne apoiado. As rotações e trocas de posição entre os jogadores do sector

intermédio, formando um losango, facilitam o ‘carrocel’ que é criado e o qual é

muito difícil contrariar pelos adversários porque a bola ‘viaja’ ao primeiro toque

até que se crie espaços para conduzir a bola ou então os jogadores utilizam o

drible para ultrapassar adversários e depois voltam a passar.

A criação dum losango no sector intermédio permite que haja sempre

pelo menos três linhas de passe para o jogador portador da bola. As

desmarcações entre-linhas e intra-linhas do adversário permitem que a bola

possa progredir tanto por dentro como por fora no terreno de jogo até zonas de

maior ofensividade. A circulação da bola deve ser encarada como um meio

para poder chegar à outra baliza, provocando na equipa adversária situações

Page 106: a dinâmica do losango

106

de ‘crise táctica’ e espaços criados na ‘basculação’ defensiva que pode atrasar-

se no fecho dos espaços vitais.

O passe curto em profundidade tem relações de excitação

fundamentalmente com as zonas laterais 7 e 9 (zona média ofensiva). Quando

se fala em jogo curto normalmente associamos a jogar ‘fácil’, sem riscos

desnecessários e o passe é a forma mais rápida de progressão da bola para

zonas mais avançadas.

A zona média é vital no jogo e requer jogadores com recursos técnicos e

tácticos, que joguem com poucos toques e que ofereçam muita velocidade ao

jogo durante as acções de passe. Normalmente, as equipas colocam muitos

jogadores no centro do terreno, o que pode complicar a progressão pelo meio e

isso direcciona o jogo para os corredores laterais, nomeadamente após

circulação da bola com mudanças de corredor.

Em relação aos contextos de interacção no centro do jogo os dados não

são explícitos.

Page 107: a dinâmica do losango

107

CONDUTA CRITÉRIO: Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe curto em

largura (DPpclg)

Quadro 4.3 Padrão de conduta ou “max lag” definitivo para a conduta critério de Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe curto em largura, tendo como condutas objecto as condutas comportamentais (IPO, DPO, FPO); as condutas estruturais (ETJ) e as contextuais (CJ, RJ).

Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe curto em largura (DPpclg)

CONDUTA CRITÉRIO

Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe curto em largura (DPpclg)

R -5 R -4 R -3 R -2 R -1 Análise

Retrospectiva-Prospectiva

R +1 R +2 R +3 R +4 R +5

IPind (2.63)

Condutas comportamentais

Início (IPO)

DPplprcv

(2.42)

DPpcpr (6.87)

DPi (3.84)

Desenvolvimento (DPO)

DPpmat (3.12)

DPpcpr (2.96)

DPi (2.8)

Finalização (FPO)

11 (2.99) - 8 (2.11) - 7 (4.32)

9 (2.97)

Condutas estruturais 7 (4.53)

9 (4.1)

Espacialização (ETJ)

Pinf (3.3) Pinf (2.83)

Condutas contextuais SPig (4.14)

SPinf (3.92)

Pig (2.6)

Pig (2.21) Centro do Jogo

(CJ)

RJl (2.64) Ritmo de Jogo (RJ)

Conforme se pode observar a partir do Quadro 4.3, a conduta de passe

curto em largura é utilizada pelas equipas para iniciar o Processo Ofensivo de

forma indirecta.

Por aquilo que foi possível analisar, os jogadores deram preferência a

este tipo de conduta, na medida em que as equipas adversárias recuavam,

esperando que a bola fosse colocada através dum passe médio/longo em

zonas do último quarto de campo ofensivo. É um sinal de que há uma opção no

sentido da segurança do passe e da continuidade do Processo Ofensivo.

Principalmente no retardo -1 (análise retrospectiva), mas também no

retardo +1 (análise prospectiva) é, mais uma vez possível conferir a relação

excitatória entre o passe curto em largura e o passe curto em profundidade no

Desenvolvimento do Processo Ofensivo. Esta ligação poderá estar relacionada

com as triangulações entre os médios, uma vez que a bola tem de passar por

Page 108: a dinâmica do losango

108

estes jogadores para que tudo tenha sentido e estas equipas organizam-se

através das suas missões tácticas em campo.

Depois da conduta de passe curto em largura há

probabilidade/regularidade na continuidade do atraso no Centro de Jogo,

activando a conduta de Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe

médio atrasado.

Constata-se que o passe curto em largura surge na sequência dum ritmo

de jogo mais lento nos corredores laterais (zonas médio-ofensivas 7 e 9), num

contexto que é desfavorável ao portador da bola (inferioridade numérica),

sendo utilizado como meio para colocar a bola num jogador sem pressão

(SPig/SPinf), mudando-se depois o Centro de Jogo para outro espaço através

do passe médio atrasado. Nas equipas observadas e principalmente na equipa

do FC Barcelona é visível o prolongar da posse, demorando na progressão até

haver boas condições para a bola entrar nos espaços criados e para isso por

vezes a bola tem de ir atrás para fazer ‘rodar’ o jogo para outro corredor. A

utilização dos jogadores-janela, situados atrás do jogador com bola,

funcionando como cobertura ofensiva e como libertadores de jogo adequam-se

a este contexto.

Como já referimos anteriormente a variabilidade na utilização dos

espaços evita a mecanização do jogo de ataque, contrariando as forças

defensivas do adversário que normalmente se concentram na zona onde está a

bola. A conduta de passe curto em largura é o início dessa tentativa de

mudança de ângulo pelas linhas de passe atrasadas (de segurança).

Page 109: a dinâmica do losango

109

CONDUTA CRITÉRIO: Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe médio

atrasado (DPpmat)

Quadro 4.4 Padrão de conduta ou “max lag” definitivo para a conduta critério de Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe médio atrasado, tendo como condutas objecto as condutas comportamentais (IPO, DPO, FPO); as condutas estruturais (ETJ) e as contextuais (CJ, RJ).

Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe médio atrasado (DPpmat)

CONDUTA CRITÉRIO

Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe médio atrasado (DPpmat)

R -5 R -4 R -3 R -2 R -1 Análise

Retrospectiva-Prospectiva

R +1 R +2 R +3 R +4 R +5

IPpmprsv

(2.24)

IPind (2.66)

IPpmprsv (2.57)

Condutas comportamentais

Início (IPO)

DPpmprsv

(2.45) DPpmprsv

(3.06) Desenvolvimento

(DPO)

DPplprsv (3.22)

DPplprcv (2.38)

DPi (2.33)

DPpmat (2.34)

DPplprcv (2.7)

DPpmprsv (2.24)

DPplprcv (2.34)

Finalização (FPO) Finf (3.42)

Fbad (3.02)

8 (2.68)

9 (2.23)

12 (2.16)

Condutas estruturais

1 (7.4)

4 (6.16)

6 (5.64)

Espacialização

(ETJ)

SPig (2.77) - Pig (4.25) Pig (4.25)

Condutas contextuais

SPsup (5.72)

SPig (3.57)

Psup (2.99)

SPsup (4.56)

Centro do Jogo

(CJ)

Ritmo de Jogo (RJ)

O Quadro 4.4 permite confirmar que as saídas para o ataque através de

passes médios em profundidade sem variação de corredor induzem a conduta

de Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe médio atrasado (sem

variação de corredor). Provavelmente, depois do passe em profundidade (para

a frente da linha da bola), o seu receptor foi imediatamente colocado sob

pressão intensa, obrigando-o a jogar para trás novamente para que o Processo

Ofensivo pudesse ter continuidade em zonas mais recuadas.

A recuperação da posse de bola de forma indirecta (depois duma

infracção às leis de jogo ou bola para fora do terreno de jogo) também pode

excitar a conduta de passe médio atrasado, sendo a justificação semelhante à

que demos anteriormente em relação ao passe curto em largura.

Ao nível do Desenvolvimento do Processo Ofensivo, é igualmente o

passe médio em profundidade sem variação de corredor de jogo que excita o

passe médio atrasado, que por sua vez numa análise prospectiva activa

Page 110: a dinâmica do losango

110

sobretudo o passe longo em profundidade com ou sem variação do corredor de

jogo e as acções individuais.

Ora, no mesmo retardo +1 observa-se que há uma interrupção do

Processo Ofensivo através da recuperação da posse de bola pela equipa

adversária ou através duma perda da posse de bola por infracção às leis de

jogo cometida pela equipa atacante no sector ofensivo, ou passe errado no

qual a bola sai do terreno de jogo.

O Final do Processo Ofensivo poderá ter a ver com o menor grau de

precisão que acontece quando se executa um passe de longo alcance.

Sabemos que em equipas de rendimento superior como as

seleccionadas, os jogadores possuem uma qualidade táctico-técnica muito

acima da média, mas ainda que seja pouco utilizado, um passe longo é quase

sempre uma conduta que acarreta consigo muito risco de êxito. Ainda assim, a

mudança frequente de espaços e a variabilidade de respostas obriga os

adversários a um maior desgaste físico e psíquico porque aumenta os seus

deslocamentos.

Há uma primazia pela adopção de soluções tácticas pelo lado da

segurança, isto é, executando acções que não induzam a perda extemporânea

da posse de bola.

Em relação à conduta objecto de espaço refira-se que

retrospectivamente é activada pelas zonas de sector intermédio-ofensivo (8 e

9) e ofensivo (12) e prospectivamente, esta conduta excita com elevada força

de coesão as zonas do sector defensivo (1) e do sector intermédio-defensivo (4

e 6).

Isto quer dizer que sobretudo na zona intermédia, onde há usualmente

uma grande densidade de jogadores de ambas as equipas, é sentida uma

necessidade imperial de fazer atrasar a bola para encontrar os espaços de

entrada na organização defensiva do adversário.

No que diz respeito ao Centro do Jogo, a conduta do passe médio

atrasado, é excitada, retrospectivamente, em contexto de interacção de

pressão sobre o portador da bola e em igualdade numérica, sendo utilizada no

sentido de evitar que as forças defensivas se concentrem na zona da bola e

para que o Processo Ofensivo possa continuar noutras zonas do terreno de

jogo.

Page 111: a dinâmica do losango

111

Na realidade, esta conduta critério de Desenvolvimento do Processo

Ofensivo provoca de seguida contextos favoráveis de superioridade numérica,

maioritariamente sem pressão sobre o jogador portador da bola.

Se dedicarmos alguns minutos de atenção sobre os adversários das

equipas observadas percebemos que estes defendem com o seu bloco

defensivo muito baixo, ainda que haja um indicador para subir ligeiramente

após um passe para trás e fundamentalmente aquando a bola entrar num

corredor lateral. Esta acção de pressing que se desenvolve nos corredores

laterais está relacionada com a utilização do passe médio atrasado.

CONDUTA CRITÉRIO: Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe médio

em profundidade sem variação de corredor (DPpmprsv)

Quadro 4.5 Padrão de conduta ou “max lag” definitivo para a conduta critério de Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe médio em profundidade sem variação de corredor, tendo como condutas objecto as condutas comportamentais (IPO, DPO, FPO); as condutas estruturais (ETJ) e as contextuais (CJ, RJ).

Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe médio em profundidade sem variação de

corredor (DPpmprsv)

CONDUTA CRITÉRIO

Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe médio em profundidade sem variação de

corredor (DPpmprsv)

R -5 R -4 R -3 R -2 R -1 Análise

Retrospectiva-Prospectiva

R +1 R +2 R +3 R +4 R +5

IPgr (2.22)

IPpmlgcv (2.55)

IPgr (2.62) -

Condutas comportamentais

Início (IPO)

DPpmprcv

(2.77) DPi (5.99)

Desenvolvimento (DPO)

DPi (8.55)

DPpmat (3.15)

Finalização (FPO) Finf (3.42)

Fbad (3.02)

4 (3.65) 5 (2.88) 2 (3)

1 (2.15) 2 (4.8)

1 (3.58)

3 (2.59)

4 (2.42)

Condutas estruturais

10 (5.99)

12 (4.65)

8 (3.44)

Espacialização

(ETJ)

SPsup (4.68)

SPsup (2.93)

Condutas contextuais

Pinf (7.42) Pinf (3.44) Pinf (2.61) - SPsup (2.27) Centro do Jogo

(CJ)

Ritmo de Jogo (RJ)

Como é visível a partir do Quadro 4.5, a recuperação da posse de bola

pelo Guarda-redes da equipa observada (na zona 2), associada a uma saída

curta pelo defesa mais próximo (lateral ou central) é facilitada pelo facto das

Page 112: a dinâmica do losango

112

equipas adversárias fazerem recuar as linhas mais adiantadas para trás da

linha da bola quando a perdem.

Quando o Guarda-redes recupera a bola deve analisar se a equipa

adversária se encontra recuada no terreno de jogo e organizada/equilibrada

sob o ponto de vista defensivo e, como tal acontecia sistematicamente, este

optava pelo método de jogo ofensivo de ataque posicional.

Habitualmente no início do Processo Ofensivo, os defesas laterais

‘abrem’ para a linha lateral no sentido de aumentar o espaço de jogo em

largura e profundidade e nesse caso, a bola entrava mais frequentemente no

defesa central, mas chegava ao defesa lateral do lado contrário à recuperação

da posse de bola. O defesa central/lateral que recebia a bola do Guarda-redes

iniciava condução de bola sem pressão nenhuma para avançar no terreno de

jogo em contextos de superioridade numérica.

O Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe médio em

profundidade sem variação de corredor de jogo é uma procura incessante da

verticalidade que permite a progressão da bola para zonas do quarto de campo

ofensivo, designadamente as zonas 10 e 12, onde ocorrem muitas acções

individuais de seguida ou então a bola é atrasada através dum passe médio se

o espaço estiver fechado.

Quando há uma recuperação da posse de bola é notório que o jogador

tenta alargar de imediato o campo de visão, orientando-se para a baliza

adversária e tentando encontrar uma linha de passe em profundidade

(transição ofensiva vertical da bola).

No retardo +1 é visível que, depois da bola entrar no sector ofensivo, é

difícil manter lá a bola, excitando o Final do Processo Ofensivo devido não só à

perda de bola no sector ofensivo (e saída do terreno de jogo) ou infracção às

leis de jogo (Finf), mas também através da recuperação da posse de bola pela

equipa adversária (Fbad). Neste sector de jogo, o contexto é de pressão sobre

o jogador portador da bola e em inferioridade numérica em relação ao

adversário.

Page 113: a dinâmica do losango

113

CONDUTA CRITÉRIO: Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe médio

em profundidade com variação de corredor (DPpmprcv)

Quadro 4.6 Padrão de conduta ou “max lag” definitivo para a conduta critério de Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe médio em profundidade com variação de corredor, tendo como condutas objecto as condutas comportamentais (IPO, DPO, FPO); as condutas estruturais (ETJ) e as contextuais (CJ, RJ).

Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe médio em profundidade com variação de

corredor (DPpmprcv)

CONDUTA CRITÉRIO

Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe médio em profundidade com variação de

corredor (DPpmprcv)

R -5 R -4 R -3 R -2 R -1 Análise

Retrospectiva-Prospectiva

R +1 R +2 R +3 R +4 R +5

IPgr (9.27)

Condutas comportamentais

Início (IPO)

DPi (7.32)

DPpmlgcv (5.09)

Desenvolvimento (DPO)

DPi (10.15) DPpmprsv

(2.31)

Finalização (FPO) - Fof (2.89) Frad (1.97) Fbad (3.21)

RJr (2.773) RJl (3.14) Ritmo de Jogo (RJ)

2 (2.65) -

4 (2.72)

8 (2.11)

3 (1.97)

11 (2.14)

2 (7.82)

5 (2.94)

8 (2.71)

Condutas estruturais 6 (3.59)

3 (2.47) 12 (2.51) - 12 (2.64)

Espacialização (ETJ)

Pig (2.18) SPsup (8)

Condutas contextuais

SPsup (3.9) - SPig (2.89) Centro de Jogo (CJ)

Há alguma semelhança nas relações de excitatoriedade com o “Max lag”

anterior. Assim sendo, a recuperação da posse de bola dá-se maioritariamente

pelo Guarda-redes em zona defensiva (2), seguido de condução pelo corredor

central, em ritmo lento, para levar a bola para o sector Intermédio (5 e 8), em

contextos de interacção nos quais o jogador com bola não se encontra

pressionado e está em superioridade numérica.

As equipas observadas jogam frequentemente com o seu bloco ofensivo

instalado no meio-campo do adversário e face à forte pressão sobre o

adversário com bola que desenvolvem após a sua perda e à utilização do ‘fora-

de-jogo’, é normal que se verifiquem muitos passes errados e o Guarda-redes

recupere muitas vezes a bola.

Ainda durante o Desenvolvimento do Processo Ofensivo, a utilização do

passe médio em largura com variação de corredor de jogo, de forma

retrospectiva em relação ao passe médio em profundidade com variação de

Page 114: a dinâmica do losango

114

corredor, poderá ser consequência da tentativa de “ligar” o jogo com os

jogadores que se encontram nos corredores laterais. Houve uma tentativa de

tirar a bola da zona de pressão do adversário, fazendo profundidade defensiva

e rodar a bola para o lado contrário através dum passe horizontal e

posteriormente vertical para chegar à baliza adversária.

Quando a equipa adversária se encontra recuada no terreno de jogo e

equilibrada defensivamente (com grande densidade de jogadores próximos da

sua baliza), as equipas analisadas privilegiaram a execução de passes entre

diferentes corredores de jogo, na procura de situações de ruptura na

organização defensiva do adversário.

Foi visível a preocupação destas equipas em retirar a bola de zona de

maior pressão (centro do terreno), onde existe um maior fluxo de jogadores e

fazê-la rodar para o corredor contrário, através de passes diagonais (para a

frente ou para trás).

As condutas por acção individual são activadas em termos prospectivos

em zona intermédia, ainda sem pressão sobre o portador da bola e estas

excitam o Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe médio em

profundidade sem variação de corredor no último quarto de campo (zona 12).

O passe médio em profundidade com variação de corredor tem como

propósito “profundizar” o jogo mas com segurança, procurar os ângulos na

diagonal, mudando o corredor de jogo para que de seguida se jogue nesse

corredor, tentando criar situações de finalização. Nesta circulação da bola é

muito importante que se criem linhas de passe perto para o jogo apoiado e

também linhas de passe para a mudança na orientação do jogo. A mobilidade

dos jogadores é imprescindível para que se mude de espaços, facilitando

posteriormente a penetração dos jogadores no outro corredor.

Depois há uma relação de excitação do passe em profundidade com

variação de corredor com as condutas de Final do Processo Ofensivo em zona

ofensiva (12), podendo ocorrer a interrupção deste por recuperação da bola

pelo adversário (Fbad), após um remate contra um adversário (Frad) ou pelo

facto do Processo Ofensivo ter sido interrompido por falta ou corte para fora

depois de se ter atingido o sector ofensivo com a bola controlada (Fof).

Page 115: a dinâmica do losango

115

CONDUTA CRITÉRIO: Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe médio

em largura com variação de corredor (DPpmlgcv)

Quadro 4.7 Padrão de conduta ou “max lag” definitivo para a conduta critério de Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe médio em largura com variação de corredor, tendo como condutas objecto as condutas comportamentais (IPO, DPO, FPO); as condutas estruturais (ETJ) e as contextuais (CJ, RJ).

Deseolvimento do Processo Ofensivo por passe médio em largura com variação de corredor

(DPpmlgcv)

CONDUTA CRITÉRIO

Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe médio em largura com variação de

corredor (DPpmlgcv)

R -5 R -4 R -3 R -2 R -1 Análise

Retrospectiva-Prospectiva

R +1 R +2 R +3 R +4 R +5

IPpcpr (2.11)

-

Condutas comportamentais

Início (IPO)

DPi (6.41)

DPpclg (2.02)

Desenvolvimento (DPO)

DPpmprcv (5.79)

DPplprsv (2.86)

DPpmprcv (4.12)

-

DPplprsv (2.35)

DPpmlgcv (2.24)

Finalização (FPO)

11 (2.34) - 8 (2) -

Condutas estruturais

5 (9.53)

2 (7.14)

8 (6.25)

Espacialização

(ETJ)

Pinf (2.69)

Condutas contextuais

SPsup (9.05)

Psup (2.68)

Centro do Jogo

(CJ)

Ritmo de Jogo (RJ)

No Quadro 4.7 e na Figura 16

podemos observar que as saídas

com passe curto em profundidade a

partir da zona 8 excitam o

Desenvolvimento do Processo

Ofensivo por acção individual.

O receptor deste passe

poderá ser o pivô mais avançado do

losango criado ao nível

sectorial/inter-sectorial (ou um dos

avançados) e deverá recepcionar a

bola de costas sob forte pressão, sendo possivelmente obrigado a conduzir ou

a utilizar o drible para dar continuidade ao Processo Ofensivo, deslocando-se

lateralmente e, na impossibilidade de se voltar para a baliza adversária e dar

profundidade, serve-se do passe médio em largura com variação de corredor

Figura 16 Padrões prováveis para a conduta DPpmlgcv

Page 116: a dinâmica do losango

116

para circular e manter a posse de bola em zonas intermédias do terreno de

jogo.

Os jogadores mais avançados da equipa, que preparam a transição

defesa-ataque, e percebendo o desequilíbrio ofensivo momentâneo, procuram

manter a posse de bola, aguardando pela chegada de mais unidades, para que

depois possam dar continuidade ao ataque. A bola será portanto endereçada a

um jogador duma linha mais atrasada que acompanha o Processo Ofensivo em

linha de passe de segurança (cobertura ofensiva), que poderá ser um médio

centro por exemplo.

Os jogadores de linhas atrasadas (jogador-janela), em posição de passe

de segurança funcionam no sentido de ‘descongestionar’ o jogo. Note-se que

nestas equipas há uma grande preocupação da parte do jogador sem bola criar

um posicionamento em diagonal em relação ao jogador que tem a bola.

Como já referimos anteriormente, para que haja uma visão mais ampla

do terreno de jogo, é necessário que a recepção da bola aconteça com o corpo

“perfilado” em relação ao jogador que tem a posse de bola.

Pode referir-se que as equipas analisadas procuram controlar o jogo

através da posse de bola, tentando manter/circular a bola num corredor e

depois o jogo é direccionado para outro corredor. Para a concretização deste

pressuposto, os jogadores têm uma mobilidade constante com o objectivo de

abrir linhas de passe à frente, dos lados e atrás.

Ora, podemos afirmar que a formação de triângulos e losangos permite

uma ocupação racional do espaço e fundamentalmente conservar a posse de

bola na zona intermédia do terreno, local onde normalmente se torna difícil

fazê-lo pelo congestionamento de jogadores das duas equipas.

Logo, a opção pela utilização do passe médio em largura com variação

de corredor de jogo reflecte uma situação de lateralização, excitando zonas de

baixa ofensividade e portanto sem qualquer tipo de ligação com as situações

de finalização, na perspectiva de conduzir a um contexto de interacção

favorável às equipas analisadas, ou seja, o portador da bola não terá pressão e

estará em superioridade numérica no Centro do Jogo. Conclui-se que esta

conduta não está ligada à eficácia no Processo Ofensivo, mas também não

provoca a interrupção deste.

Page 117: a dinâmica do losango

117

CONDUTA CRITÉRIO: Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe longo

atrasado (DPplat)

Quadro 4.8 0 Padrão de conduta ou “max lag” definitivo para a conduta critério de Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe longo atrasado, tendo como condutas objecto as condutas regulares (IPO, DPO, FPO); as condutas estruturais (ETJ) e as contextuais (CJ, RJ).

Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe longo atrasado (DPplat)

CONDUTA CRITÉRIO

Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe longo atrasado (DPplat)

R -5 R -4 R -3 R -2 R -1 Análise

Retrospectiva-Prospectiva

R +1 R +2 R +3 R +4 R +5

IPind (5.3)

Condutas comportamentais

Início (IPO)

Desenvolvimento

(DPO) -

DPplprcv (9.56)

Finalização (FPO)

10 (2.87) 9 (2.31)

Condutas estruturais

Espacialização

(ETJ)

Condutas contextuais

Psup (2.46) Psup (2.62) Centro do Jogo

(CJ)

Ritmo de Jogo (RJ)

A primeira ilação que

podemos retirar do Quadro 5.8 é que

a conduta de Desenvolvimento do

Processo Ofensivo por passe longo

atrasado (sem variação de corredor

de jogo) tem uma expressão

diminuta, tanto retrospectiva como

prospectivamente, no que diz

respeito às condutas

comportamentais, estruturais e

contextuais.

Do Quadro 4.8 pode ainda retirar-se dados que nos permitem referir que

a conduta de passe longo atrasado é excitada, no comportamento precedente,

por uma recuperação da posse de bola depois duma infracção às leis de jogo

Figura 17 Padrões prováveis para a conduta DPplat

Page 118: a dinâmica do losango

118

ou bola para fora do adversário no sector intermédio ofensivo (zona 9) ou no

sector ofensivo (zona 10).

É preciso compreender que todas as equipas observadas utilizam

Métodos de Jogo que promovem principalmente ataques posicionais baseados

na circulação da bola em velocidade. Por sua vez, as equipas adversárias

sentem bastantes dificuldades para realizar a pressão, pois quando chegam

perto já a bola não está lá e por isso cometem muitas faltas na zona

intermédia.

Como refere Cruyff (2009), a circulação rápida da bola faz com que o

adversário chegue atrasado na pressão. As fortes mudanças de atitude nos

momentos de transição ataque-defesa (após perda da posse de bola) das

equipas seleccionadas também implicam que os adversários sejam obrigados a

colocar a bola fora do terreno de jogo.

O passe longo atrasado é portanto empregado como uma espécie de

‘chamariz’ porque as equipas adversárias jogam muito recuadas, tentando

reduzir ao máximo os espaços no seu meio-campo defensivo, relacionado com

o reforço sistemático das zonas atrasadas ou linhas de defesa. Consistem

normalmente a atrasos aos Guarda-redes ou aos defesas das respectivas

equipas para tentar que os adversários subam um pouco no terreno de jogo e

se abram mais espaços nos seus meios-campos defensivos.

O Guarda-redes executa normalmente os passes longos e aéreos para

os corredores laterais, no sentido de efectuar ataques directos à baliza

adversária. Após a conduta critério, o retardo +1 está vazio, no entanto, o

retardo +2 activa uma conduta de passe longo em profundidade com variação

de corredor. Percebe-se que o atraso ao Guarda-redes ou defesa terá sido

acompanhado pela pressão dum adversário (Psup), obrigando-o a servir-se do

passe longo. Depois da subida das linhas defensivas das equipas adversárias,

esta conduta poderá fazer a bola progredir rapidamente para zonas de maior

ofensividade.

Apesar disso, a conduta de passe longo atrasado não é excitatória em

relação a condutas de Final do Processo Ofensivo.

Page 119: a dinâmica do losango

119

CONDUTA CRITÉRIO: Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe longo

em profundidade sem variação de corredor (DPplprsv)

Quadro 4.9 Padrão de conduta ou “max lag” definitivo para a conduta critério de Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe longo em profundidade sem variação de corredor, tendo como condutas objecto as condutas regulares (IPO, DPO, FPO); as condutas estruturais (ETJ) e as contextuais (CJ, RJ).

Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe longo em profundidade sem variação de

corredor (DPplprsv)

CONDUTA CRITÉRIO

Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe longo em profundidade sem variação de

corredor (DPplprsv)

R -5 R -4 R -3 R -2 R -1 Análise

Retrospectiva-Prospectiva

R +1 R +2 R +3 R +4 R +5

IPi (2.39)

IPpmlgcv (3.72)

IPgr (2.26) IPgr (2.01)

Condutas comportamentais

Início (IPO)

DPpmat (2.7)

DPpmlgcv (2.46)

Desenvolvimento (DPO)

- DPcrz (5.75)

Finalização (FPO) Fbad (8.6) Frf (3.52) Fbad (2.44) Frd (6.26)

5 (2.99) 2 (2.39) 5 (2.13) 6 (2.9) 1 (3.11)

6 (2.33)

Condutas estruturais 10 (4.59)

8 (2.73) - 11 (2.24)

Espacialização (ETJ)

Condutas contextuais

Centro do Jogo

(CJ)

Ritmo de Jogo (RJ)

A partir da análise do Quadro 4.9 é possível perceber que há uma forte

relação de força entre a conduta de Desenvolvimento do Processo Ofensivo

por passe longo em profundidade sem variação de corredor de jogo e as

condutas de Final do Processo ofensivo: sem eficácia, provocando a

recuperação da posse de bola pela equipa adversária (Fbad) e com eficácia,

através de remates a atingir o alvo ou para fora do terreno de jogo (Frd e Frf).

Realce-se por isso uma elevada força de coesão sobretudo com a

recuperação da posse de bola pelo adversário (Z=8.6) e pelos remates na

direcção da baliza (Z=6.26).

As perdas da posse de bola e consequente término do Processo

Ofensivo ocorrem nas zonas 8 e 10. Portanto, o passe longo em profundidade

sem variação de corredor de jogo (DPplprsv) é uma conduta que exige grande

mestria e precisão do jogador que a realiza, sob pena da bola se perder para o

adversário.

Page 120: a dinâmica do losango

120

Precedendo a conduta de passe longo em profundidade sem variação

de corredor, ocorre uma mudança de corredor através dum passe médio em

largura ou então acções de condução para preparar esta conduta.

A conquista da posse de bola pode também ser efectuada pelo Guarda-

redes em zona defensiva.

No retardo -1, o passe longo em profundidade sem variação de corredor

aparece após um passe médio atrasado ou um passe médio em largura com

variação do corredor de jogo.

Se analisarmos bem percebemos que estes passes atrasados são na

realidade ‘manobras’ para fazer subir a última linha defensiva das equipas

adversárias, que tendem a recuar para blocos ultra-defensivos. A tentativa de

utilizar o jogo directo é também uma boa estratégia de deixar para trás algumas

linhas de pressão do adversário, sendo importante ter jogadores fortes na

análise de trajectórias nas bolas aéreas.

No plano prospectivo, no retardo+2 e após um retardo vazio, o passe

longo em profundidade sem variação de corredor excita a conduta de

Desenvolvimento do Processo Ofensivo por cruzamento aéreo para a zona 11.

Da análise dos resultados obtidos podemos inferir que os cruzamentos

aéreos das zonas laterais do campo excitam os remates para fora e ainda a

recuperação da posse de bola pelo adversário na zona ofensiva (11).

Castellano Paulis (2000) também chegou a esta conclusão, referindo

que os ataques eficazes, entendendo por ataque eficaz aqueles que contém

um remate ou atingir o quarto de campo ofensivo com a bola controlada, são

criados e finalizados pelo centro do terreno de jogo, o que permite desmistificar

um pouco algumas noções erradas no universo do Futebol.

Em relação às condutas contextuais do Centro do Jogo (CJ), não

existem dados, ficando na dúvida se não existem excitações com nenhum

comportamento ou se acontecem tantas relações que não é possível dizer

quais.

Page 121: a dinâmica do losango

121

CONDUTA CRITÉRIO: Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe longo

em profundidade com variação de corredor (DPplprcv)

Quadro 4.10 Padrão de conduta ou “max lag” definitivo para a conduta critério de Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe longo em profundidade com variação de corredor, tendo como condutas objecto as condutas regulares (IPO, DPO, FPO); as condutas estruturais (ETJ) e as contextuais (CJ, RJ).

Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe longo em profundidade com variação de

corredor (DPplprcv)

CONDUTA CRITÉRIO

Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe longo em profundidade com variação de

corredor (DPplprcv)

R -5 R -4 R -3 R -2 R -1 Análise

Retrospectiva-Prospectiva

R +1 R +2 R +3 R +4 R +5

IPind (2.28) IPgr (2.5) IPi (2.23) -

IPgr (3.45)

IPpmat (2.06)

Condutas comportamentais

Início (IPO)

Desenvolvimento

(DPO) DPi (2.93)

Finalização (FPO) Finf (2.62) Fbad (3.13)

2 (2.65) - 4 (2.78)

3 (4.7)

1 (3.29)

4 (2.64)

Condutas estruturais

10 (4)

8 (2.8)

7 (2.61)

Espacialização

(ETJ)

SPsup (2.04)

Condutas contextuais

Centro do Jogo

(CJ)

Ritmo de Jogo (RJ)

Dos dados disponíveis no

Quadro 4.10 pode inferir-se que o

emprego do passe longo (para lá de

duas zonas contíguas) em

profundidade (para a frente da linha

da bola) com variação do corredor

de jogo, associado a acções

individuais como a condução ou

dribe (prospectivamente – retardo

+1), contribui para que aconteça o Final do Processo Ofensivo, por infracção às

leis de jogo ou perda de bola com saída do terreno de jogo no sector

intermédio (zonas 7 e 8) ou no sector ofensivo (zona 10).

A interrupção do Processo Ofensivo pode igualmente acontecer devido à

recuperação da posse de bola pelo adversário no sector ofensivo (Fbad),

especialmente no corredor lateral. A presença de avançados/extremos bem

Figura 18 Padrões prováveis para a conduta DPplprcv

Page 122: a dinâmica do losango

122

abertos e encostados às linhas laterais, nos corredores laterais, permite que a

bola seja lá colocada mas o adversário vai lá chegar quebrando a continuidade

no Processo Ofensivo.

Em zonas intermédias ofensivas é importante o jogo combinativo, a

condução, as tabelas, a criatividade dos jogadores. Ora, sabendo que a

progressão demorada é um grande princípio das equipas analisadas, quando

há um passe longo a tendência é para haver poucos jogadores junto à zona de

recepção desse passe, por não terem tempo suficiente para chegar em apoio

ao portador da bola, perdendo-se a bola como consequência deste aspecto.

Refira-se até que muitas equipas têm como indicador de pressão a bola entrar

num corredor lateral e portanto a perda da bola pode também ser devido a este

ponto. Ainda assim percebe-se que a transição da bola de zonas defensivas

para zonas mais avançadas no terreno de jogo acontece de forma muito mais

rápida.

Ao contrário de outros estudos, nomeadamente o de Laranjeiro (2009),

neste, não há portanto qualquer relação excitatória entre a aplicação do jogo

directo e as condutas de Final do Processo Ofensivo com eficácia (Frf, Frd,

Frad, Fgl ou Fof). Conclui-se que esta conduta não excita situações de remate.

A variabilidade de respostas é crucial num jogo de Futebol porque não permite

que o adversário faça a antecipação do que vai acontecer a seguir e, à

imprevisibilidade que o próprio jogo tem, acresce este aspecto, isto é, a

alternância entre o jogo de passes curtos e médios/longos.

Reconhecendo que o passe longo é a forma mais rápida de aproximar a

bola de zonas mais ofensivas (próximas da baliza do adversário), pode também

referir-se que não é um gesto muito frequente na rotina das equipas

analisadas.

As saídas acontecem após a recuperação da posse de bola pelo

Guarda-redes ou então após um passe médio atrasado para este mesmo

jogador. Refira-se que o contexto de interacção é obviamente favorável, uma

vez que a equipa adversária tem as suas linhas recuadas e como tal coloca o

jogador portador da bola sem pressão e em superioridade numérica.

Page 123: a dinâmica do losango

123

CONDUTA CRITÉRIO: Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe longo

em largura com variação de corredor (DPpllgcv)

Quadro 4.11 Padrão de conduta ou “max lag” definitivo para a conduta critério de Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe longo em largura com variação de corredor, tendo como condutas objecto as condutas regulares (IPO, DPO, FPO); as condutas estruturais (ETJ) e as contextuais (CJ, RJ).

Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe longo em largura com variação de

corredor (DPpllgcv)

CONDUTA CRITÉRIO

Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe longo em largura com variação de corredor

(DPpllgcv)

R -5 R -4 R -3 R -2 R -1 Análise

Retrospectiva-Prospectiva

R +1 R +2 R +3 R +4 R +5

IPpmat (3.13)

Condutas comportamentais

Início (IPO)

DPpclg (2.72)

Desenvolvimento (DPO)

DPi (3) DPpcpr

(4.1) DPpclg (1.98)

-

DPpmat (2.64)

DPpllgcv (2.1)

Finalização (FPO)

6 (1.96) - 7 (3.61) 7 (3.45) -

Condutas estruturais 6 (3.19)

4 (2.49) 9 (2.52)

7 (2.37)

9 (2.01) - 3 (3.38)

Espacialização (ETJ)

Condutas contextuais SPsup

(5.06)

Centro do Jogo (CJ)

RJl (3.23) RJl (3.88) Ritmo de Jogo (RJ)

Como é natural, a conduta de

Desenvolvimento do Processo

Ofensivo por passe longo em largura

com variação de corredor de jogo é

normalmente associada a ritmos de

jogo mais baixos.

Note-se que as equipas

observadas são bastante

consistentes no controlo do ritmo do

seu jogo, evitando risco exagerado que leve à perda de bola. A gestão do ritmo

de jogo, acelerando num momento e travando noutro, é um ponto essencial

para os Treinadores no contexto do Futebol actual.

O Início do Processo Ofensivo por passe médio atrasado excita o

Desenvolvimento por passe longo em largura com variação de corredor.

Figura 19 Padrões prováveis para a conduta DPpllgcv

Page 124: a dinâmica do losango

124

Ao nível do Desenvolvimento do Processo Ofensivo, a conduta de passe

longo em largura com variação de corredor é activada imediatamente antes

pelo passe curto em largura. Esta tendência pensamos que esteja relacionada

com a incapacidade de criar desequilíbrios na defensiva adversária, optando

por fazer recuar o Centro de Jogo para as zonas do sector intermédio-

defensivo (4 e 6).

Outro aspecto que poderá estar relacionado com a utilização do passe

longo em largura com variação de corredor tem a ver com o facto da equipa

observada se encontrar em vantagem no marcador sentir necessidade de

‘acalmar’ o ritmo de jogo e escolher de forma criteriosa os momentos para

atacar no meio-campo ofensivo.

Enquanto o marcador está igualado, compete-se para manter um certo

equilíbrio entre as funções ofensivas e defensivas, mas quando uma das

equipas ganha vantagem há, por natureza, uma tendência para acontecerem

desequilíbrios nesta ordem/organização. Esta conduta pode ser associada a

temporizações ofensivas. Na realidade, quando as equipas observadas se

encontram em vantagem não renunciam ao ataque, mas mudam um pouco o

estilo de jogo de ataque, optando por algo menos arriscado e que não

desequilibre tanto a equipa.

Prospectivamente, quando a bola se encontra nestas zonas laterais são

excitadas condutas de condução em contexto favorável sem pressão no

portador da bola e em superioridade numérica. Contextualizando,

provavelmente a equipa observada encontra-se em bloco avançado no meio-

campo ofensivo e não conseguindo entrar na organização defensiva do

adversário recua o Centro do Jogo, muda de corredor e coloca a bola num

jogador que não se encontra pressionado e por tal facto avança até às zonas 7

e 9.

Não existe qualquer tipo de envolvimento desta conduta com situações

de Final do Processo Ofensivo para além do acaso.

Page 125: a dinâmica do losango

125

CONDUTA CRITÉRIO: Desenvolvimento do Processo Ofensivo por cruzamento

(DPcrz)

Quadro 4.12 Padrão de conduta ou “max lag” definitivo para a conduta critério de Desenvolvimento do Processo Ofensivo por cruzamento, tendo como condutas objecto as condutas regulares (IPO, DPO, FPO, RJ); as condutas estruturais (ETJ) e as contextuais (CJ).

Desenvolvimento do Processo Ofensivo por cruzamento (DPcrz)

CONDUTA CRITÉRIO

Desenvolvimento do Processo Ofensivo por cruzamento (DPcrz)

R -5 R -4 R -3 R -2 R -1 Análise

Retrospectiva-Prospectiva

R +1 R +2 R +3 R +4 R +5

Condutas comportamentais

Início (IPO)

DPi (3.27)

DPplprsv (2.47)

Desenvolvimento (DPO)

- DPpmlgcv

(2.11)

Finalização (FPO)

Fbad (9.78)

Frf (7.42)

Fof (6.6)

RJr (3.22) Ritmo de Jogo (RJ)

10 (2.29) 10 (2.53)

12 (2.21) 12 (4.45)

12 (13.32)

10 (5.98)

Condutas estruturais 11 (17.58)

12 (3.87) 11 (7.02)

11 (3.17)

10 (2.11) 10 (2.24) 10 (3.03)

Espacialização (ETJ)

Pinf (3.8) Pinf (3.19)

SPinf (2.98) Pinf (7.18)

Condutas contextuais

Pinf (4.43) Pinf (2.36) Pinf (2.73) SPinf (3.47) Centro do Jogo

(CJ)

Como é referido no instrumento de observação ad-hoc, o

Desenvolvimento do Processo Ofensivo por cruzamento aéreo para a área

acontece quando o jogador em penetração, situado num dos corredores

laterais e no último quarto de campo, envia a bola para o corredor central em

trajectória aérea, criando uma situação de finalização no Processo Ofensivo.

Atente-se que quando a trajectória da bola foi rasteira considerou-se

como conduta de passe. Os jogadores são obrigados a responder aos

problemas de ordem táctico-estratégica que se colocam no jogo e portanto, o

papel do Treinador é fundamental na elucidação da utilização criteriosa do

cruzamento.

Esta conduta deverá ser considerada apenas mais um meio utilizado

com o propósito de desorganizar a cooperação que acontece entre os

diferentes elementos da equipa adversária. Segundo Silva (2004), o Processo

Ofensivo culmina habitualmente com uma recuperação da bola pelo adversário

Page 126: a dinâmica do losango

126

e apenas 13% das posses da bola terminam com um remate à baliza, e destes,

apenas 4,5% atingem a baliza e 0,6% resultam em golo. Se atentarmos que

esta conduta acontece na zona ofensiva podemos referir que esta tem forte

relação excitatória com os corredores laterais (zonas 10 e 12),

retrospectivamente e uma elevadíssima força de coesão (Z=17.58 no retardo

+1) com o corredor central (zona 11).

Esta conduta tem uma forte componente excitatória com contextos de

interacção desfavoráveis de pressão sobre o jogador com bola e colocados em

situação de inferioridade numérica, tanto de forma retrospectiva como

prospectiva. No nosso estudo, a conduta de cruzamento aéreo para a área tem

três fortíssimas relações de coesão com o Final do Processo Ofensivo com

eficácia como é o caso do remate para fora (Frf) e atingir o sector ofensivo

(Fof) e também sem eficácia resultando na recuperação da posse de bola pela

equipa adversária (Fbad).

Precedendo a conduta de cruzamento aéreo acontecem acções

individuais de condução e até de drible em ritmo rápido, no sentido de

ultrapassar os adversários directos e preparar esta acção táctico-técnica.

Passando para o contexto do jogo, é fácil perceber que os jogadores dos

corredores laterais devem dispor de várias ‘armas’ para desequilibrar os

adversários que se lhe deparam pela frente.

A criatividade e a variação de respostas do ‘driblador’ vai fazer toda a

diferença na altura de enfrentar o adversário directo e ganhar o tão almejado

espaço, deixando-os para trás. Se tivermos em linha de conta que a maior

parte das equipas reforça as suas linhas defensivas mais atrasadas, fazendo

deslocar o seu bloco defensivo para a zona da bola e colocando coberturas

defensivas próximas do jogador que faz a contenção, então também podemos

entender que esta pode ser mais uma solução para o problema que é contornar

essas ‘muralhas’ defensivas.

Relativamente ao critério comportamental e conforme é possível

observar no Quadro 2.14 as condutas de Desenvolvimento do Processo

Ofensivo são prospectivamente activadas no retardo +2 depois de haver uma

excitação das condutas de Final do Processo Ofensivo no retardo +1. De

qualquer forma temos de pensar que há processos ofensivos mais demorados

e que propiciam várias condutas de Desenvolvimento do Processo Ofensivo.

Page 127: a dinâmica do losango

127

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128

Page 129: a dinâmica do losango

129

5. CONCLUSÕES

Os resultados obtidos no nosso estudo através da análise sequencial

permitem retirar algumas conclusões pertinentes para responder ao problema

que se colocou no início do trabalho e possibilitando a confirmação ou negação

das hipóteses colocadas. Assim sendo, os resultados permitiram concluir que:

• Existem padrões de jogo ofensivo nas equipas estudadas que

acontecem para além do mero acaso, devido fundamentalmente ao seu

elevado grau de regularidade e probabilidade. Assumindo que o

comportamento dos jogadores varia ao longo do Processo Ofensivo,

encontramos uma relação excitatória que certas condutas mantém entre si,

condutas que podem aumentar a probabilidade de interromper o Processo

Ofensivo e condutas que permitem a sua continuidade e activam situações de

pré-finalização ou mesmo de finalização (ex: remates e golos). Confirma-se

portanto a hipótese 1 do nosso estudo.

• No que diz respeito à hipótese 2, os resultados permitem confirmar que,

durante o Desenvolvimento do Processo Ofensivo no sector intermédio

(especificamente nas zonas 5,6, 7 e 8), um contexto de interacção que coloque

a equipa observada em condições de superioridade numérica no Centro do

Jogo, está relacionado com a eficácia no Final do Processo Ofensivo.

Associadas a este contexto favorável para a equipa observada estão algumas

condutas de Desenvolvimento do Processo Ofensivo: a) as acções individuais

como a condução e o drible (DPi), b) o passe curto em profundidade (DPpcpr),

c) o passe médio em profundidade sem e com variação de corredor (DPpmprsv

e DPpmprcv), d) o passe médio em largura com variação de corredor

(DPpmlgcv). O jogador portador da bola pode ou não estar com a pressão dum

adversário directo. A criação de superioridade numérica no sector intermédio

excita condutas de Final do Processo Ofensivo com eficácia quando a bola

atinge o sector ofensivo com a bola controlada (Fof), por remates contra um

adversário (Frad) e com a obtenção de golo (Fgl). Estas configurações

espaciais de interacção relacionam-se com a dinâmica das equipas analisadas,

que tentam jogar com toque de bola, organizando um losango sectorial/inter-

Page 130: a dinâmica do losango

130

sectorial no sector intermédio do campo, o que lhes permite usufruir da

vantagem numérica no Centro do Jogo.

• A hipótese 3 é parcialmente confirmada, na medida em que, a utilização

do passe médio em largura com variação de corredor de jogo seguido dum

passe médio em profundidade com ou sem variação de corredor de jogo,

apenas induz Finais de Processo Ofensivo com eficácia em determinados

contextos. Estas duas condutas terão que se relacionar com acções individuais

para que se active a eficácia no Processo Ofensivo. Caso este contexto não se

proporcione, o Processo Ofensivo continua a desenvolver-se, prolongando-se

no tempo.

• A utilização da variação de corredores no decorrer do Desenvolvimento

do Processo Ofensivo é indispensável na criação de situações de pré-

finalização e de finalização. O Desenvolvimento do Processo Ofensivo por

passe curto em largura ou profundidade não está directamente relacionado

com condutas de interrupção do ataque, mas permite a sua continuidade.

Portanto, a hipótese 4 confirma-se de forma parcial.

• O Final do Processo Ofensivo com eficácia é activado pelas zonas do

sector ofensivo (10, 11 e 12) e por condutas comportamentais individuais e

colectivas efectuadas em ritmo de jogo rápido. Chegou-se à conclusão que o

Processo Ofensivo termina frequentemente com a recuperação da posse de

bola pela equipa adversária.

• As condutas critério de Desenvolvimento do Processo Ofensivo que

mais se associam à eficácia ofensiva são as acções individuais, o passe médio

em profundidade com variação de corredor de jogo, o passe longo em

profundidade sem variação de corredor de jogo e o cruzamento aéreo para a

área.

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131

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132

Page 133: a dinâmica do losango

133

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Futebol é um jogo de preponderância táctica que necessita de uma

continuada e eficaz resolução das situações de jogo, constrangendo os

jogadores a adaptar-se e readaptar-se a novas situações de jogo. Por se tratar

duma actividade não-linear, não é possível estabelecer-se um ciclo de

comportamento antecipadamente, pois cada situação de jogo tem diversas

formas de poder ser resolvida. No entanto, o estudo fluxo de comportamentos

dos jogadores/equipas de Futebol, permite um mais ajustado conhecimento do

jogo e, sobretudo, dos padrões táctico-técnicos que o configuram que se

descobrem e isso permite-nos melhor intervir sobre ele.

O Futebol revela-se como um desporto de situação que exige que os

jogadores interajam e tenham a capacidade de responder de forma adequada e

eficaz face à grande variabilidade de situações que ocorrem no contexto do

jogo. A cultura táctica que o jogador possui depende das experiências

anteriores e dos seus conhecimentos sobre o jogo e é isso que vai influenciar a

adopção de uma determinada atitude táctico-estratégica.

Se repararmos, em todas as equipas escolhidas para se desenvolver

este estudo, está presente uma Filosofia, um estilo de jogo próprio que as

define e no qual todos os jogadores se sentem confortáveis. Ora, sendo o

Futebol um jogo de equipa que requer máxima capacidade de comunicação e

cooperação entre os seus elementos, o indivíduo só se expressa da melhor

forma no contexto da equipa.

No treino e no jogo, o jogador deve ser encorajado a ter um sentido

colectivo, a ser solidário, cooperante, a ter consciência que é importante

subordinar os interesses pessoais à colectividade para poder vencer-se a

oposição dos rivais.

Note-se que tanto FC Barcelona como AFC Ajax são clubes que sempre

foram associados a uma grande aposta em jogadores provindos do seu

departamento de formação, onde se mantêm os princípios e o estilo que

caracteriza as primeiras equipas, reduzindo assim o tempo de adaptação

quando chegam ao plantel profissional. O facto de serem acompanhados por

Treinadores que estiveram com alguns jogadores nas etapas de formação,

Page 134: a dinâmica do losango

134

permite que se saltam várias etapas de adaptação. Convenhamos que quando

chegam novos jogadores a um clube é preciso tempo para que estes se

adaptem, independentemente de serem grandes jogadores. Precisam de

tempo para que se criem hábitos de relacionamento em torno de algo de

significado comum, para saber como é que o jogador mais próximo prefere

receber a bola.

Desenvolver cultura táctica nos jogadores é portanto um indicador

imprescindível para o sucesso. A Táctica constitui-se como um conjunto de

referências que o jogador tem para decidir e responder face a um determinado

contexto, determinado pela posição da bola, dos companheiros, dos

adversários, do espaço de jogo, da proximidade da baliza, pelas experiências

vividas anteriormente e pelo talento que cada jogador tem.

O Futebol está numa sub-zona limite entre a ordem e o caos, portanto

pertencente ao âmbito da complexidade. Tacticamente, é importante que se

compreenda que não há ataque e defesa em separado. Há sim um equilíbrio

que tem que se produzir na equipa e a forma como se defende influencia e

condiciona os movimentos no ataque e vice-versa. Os momentos de transição

entre os dois momentos têm cada vez mais preponderância no Futebol.

Hoje em dia emerge uma grande obsessão por colocar muitos jogadores

a defender atrás da linha da bola e uma maior capacidade de Organização

Defensiva das equipas. Cada vez se nota mais as dificuldades em provocar

surpresa nos adversários para criar situações de finalização e em finalizar. Em

termos globais, a defesa tem ganho uma evidente preponderância em relação

ao ataque e como consequência disso é cada vez mais relevante estudar o

Processo Ofensivo para perceber como é que este pode tornar-se mais

objectivo, através da criação de oportunidades de finalização e concretização

das mesmas.

No fluxo comportamental das equipas analisadas podem encontrar-se

traços ou características que se identificam com uma determinada Filosofia e

estilo de jogo. A partir da análise atenta e dos resultados obtidos relativamente

aos padrões comportamentais podemos identificar os princípios e sub-

princípios de jogo mais marcantes dos quatro momentos de jogo nestas

equipas.

Page 135: a dinâmica do losango

135

Apresentamos de seguida essas regularidades e juntamos algumas

recomendações em relação ao processo de ensino-aprendizagem e a aspectos

ligados à metodologia de treino.

Na Organização Ofensiva:

� As equipas organizam-se através da bola; a posse/circulação da bola é

a primeira consigna. Este aspecto permite-lhes assumir o jogo (riscos),

isto é, ter a iniciativa.

� Todos os jogadores estão conscientes das suas missões em campo,

procurando apoiar-se num bom jogo posicional (disciplina de posição!),

no jogo de apoios constantes, no movimento da bola a 2 toques.

� Começam normalmente a construir pela sua linha defensiva (saídas

curtas), acontecendo uma progressão lógica da bola que faz com que

passe pelos médios antes de chegar aos avançados. Sobem

rapidamente para bloco alto a atacar. Utilizam diferentes

comportamentos e formas de actuar em função da zona do campo em

que se encontram.

� A ocupação da zona intermediária através dum meio-campo organizado

em triângulo/losango permite que haja um ritmo veloz da bola durante a

circulação, possibilitando aos médios a criação de espaços.

� Utilizam toda a largura do campo para atacar, colocando nos corredores

laterais jogadores muito fortes em recursos para a resolução de

situações de “um contra um”.

Na Transição ataque-defesa:

� Embora se reconheçam algumas nuances tácticas no desenvolvimento

das transições após perda da posse de bola, no global, os princípios e

sub-princípios que orientam o comportamento individual/colectivo nestes

momentos são coincidentes, essencialmente no que diz respeito a

mudanças de atitude.

� Há uma pressão (ataque-aceleração) imediata ao portador da bola por

parte dum jogador.

Page 136: a dinâmica do losango

136

� Acontece uma aceleração por parte dos jogadores mais próximos,

dando coberturas defensivas, para fechar os espaços que rodeiam a

zona da bola.

� Verifica-se uma aproximação/fecho de linhas por parte de toda a equipa,

tanto em termos de largura como profundidade, para não haver

possibilidade da bola ser jogada entre espaços. A linha defensiva realiza

um movimento de aproximação na direcção da zona da bola, utilizando o

‘fora-de-jogo’ para contrariar o espaço em profundidade nas suas

costas.

Na Organização Defensiva:

� Defendem com as linhas juntas, normalmente em bloco alto, ou seja, a

linha defensiva adianta-se constantemente para fazer ‘campo pequeno’

e poder ter superioridade numérica no centro do campo e situar-se no

meio-campo adversário. Podem também defender em bloco médio ou

baixo, de forma mais esporádica.

� A última linha defensiva joga portanto quase sempre adiantada, com

muita profundidade nas suas costas, ajudando este aspecto no ganho

de segundas bolas pelos médios.

� Defendem avançando as suas linhas para o meio-campo adversário,

tentando provocar o erro, reduzindo os espaços de forma que este não

tenha situações de vantagem.

� É notória a boa definição dos princípios e sub-princípios no sentido dos

jogadores identificarem as alturas de avançar no terreno, de temporizar

ou mesmo de recuar.

Na Transição defesa-ataque:

� Quando ganham a posse de bola preferem jogar em segurança,

preferindo evitar os jogos de transição que, como se sabe, são difíceis

de controlar, podendo pender para qualquer um dos lados. Preferem

utilizar linhas de passe mais próximas para que a equipa tivesse

possibilidade de continuar a jogar apoiado.

Page 137: a dinâmica do losango

137

� Tentam retirar a bola da zona de pressão (pela frente, pelo lado ou por

detrás) para um jogador em 2º estação livre que esteja sempre de frente

para o jogo. Normalmente este jogador recebe em contextos de

interacção favorável dispondo de mais tempo para fazer a ‘leitura de

jogo’ e decidir em função disso.

� Podem utilizar passes de ‘1.ª estação’ e, mesmo assim, conseguem

continuar o Processo Ofensivo na maior parte das vezes. A capacidade

de utilizar o primeiro toque para passar e depois desmarcar, atrasava a

pressão do adversário e permitia que houvesse continuidade no

Processo Ofensivo por Ataque Posicional.

� Por vezes correm risco, utilizando passes de médio/longo alcance em

profundidade para colocar a bola em posições mais vantajosas para o

atacante.

Para que estes comportamentos sejam regulares é preciso recorrer ao

treino. A missão dum Treinador é desenvolver um modelo de treino que

acompanhe as necessidades do jogo e que permita que os jogadores/equipa

se apresentem com níveis óptimos de prestação durante a competição.

Segundo Seirul-lo (2001), o melhor treino é aquele que consegue

reproduzir fielmente uma situação para que o jogador que participe nela

optimize certos sistemas que são reconhecidos inequivocamente como de

participação necessária para resolver essa situação proposta.

A concretização deste processo está dependente do uso duma

Metodologia apropriada, específica, que sustente os Princípios do Modelo de

Jogo do Treinador e deve começar a ser apresentada desde a base da

pirâmide (nas primeiras etapas de formação dos jogadores).

Neste tópico é preciso chamar à atenção para os plágios que acontecem

dos Modelos de Jogo de equipas de excelência. Esses Treinadores esquecem-

se que o processo de ‘descoberta guiada’ depende do contexto cultural, do

trauma de relações que existem no grupo de jogadores em questão e das suas

características.

O processo ensino-aprendizagem começa por ensinar os jogadores a

interpretar (percepção), a decidir e a executar as situações de jogo adequadas

Page 138: a dinâmica do losango

138

porque o jogador quer conhecer melhor o jogo (conhecimento declarativo +

cultura táctica), quer perceber o porquê das coisas para poder ‘integrar’ os

conteúdos.

O exercício é o meio táctico por excelência para criar hábitos em função

do jogo que se quer implementar, mas é precisa alguma sensibilidade e

cuidado para que se desenvolva numa perspectiva sistémica e holística, ou

seja, sem perder em nenhum momento a noção do ‘todo’ e preservando as

relações que existem entre as partes.

Os exercícios deverão seguir uma linha metodológica, relacionando o

presente com a exercitação anterior e com o que será realizado a posteriori,

iniciando-se em tarefas menos complexas e de menor dificuldade e passando

para tarefas mais difíceis e complexas.

Por exemplo, nestas equipas, há uma dinâmica muito grande na

posse/circulação da bola. Para que isso aconteça no jogo é preciso que: a) os

jogadores estejam bastante comprometidos e acreditem/sintam o que estão a

fazer; b) se desenvolvam actividades no treino que cultivem a tomada de

decisões de forma rápida (contexto de superioridade numérica significativa); c)

a equipa tenha a iniciativa de jogo porque isso está relacionado com a posse

de bola.

O facto da equipa jogar em terreno próprio e se encontrar bem

posicionada na tabela classificativa ou ter bons desempenhos na competição

pode igualmente ajudar.

No treino estas situações de posse/circulação (Organização Ofensiva)

deverão ser exercitadas, tendo sempre em linha de conta a lógica do jogo, isto

é, as tarefas deverão colocar os jogadores em situação de Transição Defensiva

quando perdem a bola e de Organização Defensiva se não a conseguirem

recuperar nos instantes imediatos. A utilização de balizas nestas actividades

ajudará os jogadores a criar o hábito de defender e atacar algo.

O Processo Ofensivo é diverso no que diz respeito ao aspecto

comportamental, dependendo da zona onde a bola se encontre e portanto é

importante também que a intervenção do Treinador seja no sentido da

orientação dos jogadores, partindo de situações mais programadas perto da

baliza que defendem, passando para situações ainda de alguma ordem no

sector intermédio e terminando em situações que provoquem comportamentos

Page 139: a dinâmica do losango

139

mais criativos e inesperados em zonas de sector ofensivo (perto da baliza do

adversário).

As acções individuais nos corredores laterais (zonas 10 e 12) foram a

conduta critério que excitou a obtenção do golo e no treino deverá ser atribuída

séria atenção a estas condutas. Para os jogadores que actuam nestas zonas

do campo é decisivo o domínio de situações básicas como o 1x1, 1x2, 2x1, 2x2

e 2x3.

Durante as tarefas, o Treinador deve observar, ter critério e capacidade

de diagnóstico para saber o que o jogador e a equipa necessitam. Portanto,

todos os exercícios propostos devem promover a criação de sinergias entre os

jogadores, concentrando-se no essencial que é a componente táctica

(cognitivo-decisional), que arrasta consigo as outras.

Ainda há quem pense que treinar muito é treinar bem, com receio que a

opinião pública classifique a equipa como estando mal ‘fisicamente’, apostando

em sessões duplas e triplas, quando o mais importante é que se aproveite os

períodos de maior predisposição dos jogadores para o trabalho.

Todas as actividades apresentadas deverão fomentar mais as

capacidades de antecipação em relação às reactivas. Os exercícios em

espaços reduzidos são de imperial importância pois obrigam os jogadores a

estar juntos para defender e proporciona o jogo apoiado quando se ataca.

Permite colocar os jogadores ante perdas e recuperações de bola constantes,

incidindo nas mudanças de atitude e obrigando a uma maior

concentração/motivação no exercício.

O Treinador é um observador de condutas, que analisa os

desempenhos dos jogadores e avalia o rendimento da equipa, percebendo se

pode avançar para a introdução de novos conceitos tácticos.

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Page 158: a dinâmica do losango

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