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  • 7/24/2019 A DIMENSO DO DIREITO CIDADE NA EXPANSO DO URBANO AMAZNICO: CONSTATAES EM CANA DOS CARAJ

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    VIII CONGRESSO BRASILEIRO DE DIREITO URBANSTICOINFRAESTRUTURA, SERVIOS URBANOS E DIREITO CIDADE

    A DIMENSO DO DIREITO CIDADE NA EXPANSO DO URBANOAMAZNICO: CONSTATAES EM CANA DOS CARAJSPA

    Lucas Souto Cndido*

    Mariana Souza Villacorta**

    R!"#$%: O presente trabalho busca, por meio de uma releitura de autores que tratam da realidade amaznica edo direito cidade, assim como lanando mo de in!orma"es colhidas em campo, desen#ol#er um dia$n%sticoacerca da situao de e&panso urbana em cidades amaznicas e a pro#iso de in!raestrutura decorrente de tal

    processo, tendo como principal ob'eto de an(lise a cidade de Cana dos Cara'(s, no )ar( Obser#ou+se que emum primeiro perodo as estrat-$ias de inter#eno no territ%rio amaznico, $uiadas por a"es de controle nombito !ederal, pouco le#aram em considerao o espao intra+urbano, a$indo de !orma a in#isibilizar atores e

    pr(ticas tradicionais .tualmente, a entrada de um no#o a$ente no 'o$o das cidades / a saber, o capitalimobili(rio / cristaliza problem(ticas pret-ritas no que diz respeito a questo do direito cidade e a o!erta dein!raestrutura Conclui+se, por !im, que o distanciamento entre as a"es do 0stado e a realidade local ori$ina umurbano com alto $rau de precariedade e impro#isao, ne$ando ao cidado qualquer direito real cidade

    P&'&()&"*+&(!: Cidades amaznicas1 crescimento urbano1 in!raestrutura1 2ireito Cidade

    INTRODUO

    2urante a se$unda metade do s-culo 33, a .maznia se con!ormou como ambiente

    de !ortes inter#en"es a n#el !ederal que, por meio de estrat-$ias de plane'amento

    macrorre$ional, #oltadas para a inte$rao territorial e econmica da re$io ao pas, criaram

    um ambiente de !ortes mudanas no mbito das cidades 4 dentro deste conte&to, ori$inado de

    um assentamento rural e palco de um $rande pro'eto de e&trao mineral, que sur$e o

    municpio de Cana dos Cara'(s, utilizado aqui com o ob'eti#o de e&empli!icar a realidade das

    cidades amaznicas e os impactos decorrentes do crescimento instantneo na o!erta de

    in!raestrutura e no direito cidadeO arti$o se estrutura em duas partes5 primeiramente !az+se uma releitura hist%rica dos

    processos en!rentados pela .maznia no mbito das a"es do 0stado desen#ol#imentista dos

    **6ormando do curso de .rquitetura e 7rbanismo876)., bolsista do Laborat%rio Cidades na.maznia, candido9:;hotmailcom

    ****

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    anos >?@A em diante 0m se$uida, apresenta+se o municpio de Cana dos Cara'(s que se, em

    um primeiro momento, se estrutura sob uma l%$ica da produo a$ropecu(ria, #B sua

    realidade mudar com a implantao de $randes pro'etos de minerao, a e&emplo do que

    ocorreu nas cidades amaznica no s-culo passado)or !im, conclui+se que a insero de no#os a$entes, que carre$am consi$o um ritmo e

    intensidade de trans!orma"es discordantes da realidade local, assim como a"es do 0stado

    descone&as com esta realidade, cristalizam pr(ticas de construo de cidades sem

    in!raestrutura adequada, e onde o direito cidade descrito por Le!eb#re - completamente

    obliterado

    -. O PROCESSO DE URBANIZAO E EXPANSO DA REDE URBANA

    AMAZNICA

    .s !issuras atuais no ambiente urbano amaznico somente se mostram #is#eis luz

    de uma compreenso hist%rica dos di!erentes processos que perpassaram a re$io ida como

    (rea de D#azio populacionalE at- meados do s-culo 33, a partir desse perodo, o territ%rio

    passou por processos que alteraram pro!undamente as dinmicas re$ionais, trans!ormando+o

    no principal palco das a"es de mudanas econmicas e espaciais do pas.t- os anos >?@A, a re$io amaznica era dominada por uma rede urbana dendrtica,

    onde pre#aleciam pr(ticas e&trati#istas e transa"es de trocas entre pequenos produtores

    ribeirinhos, al-m de um urbano caracterizado muito mais como ponto de apoio ao controle do

    territ%rio e o!erta de pequenos ser#ios do que como articulador do desen#ol#imento

    re$ional>. che$ada dos militares ao poder deu incio a uma s-rie de polticas pFblicas

    !ederais, que sob a sombra do discurso Dinte$rar para no entre$arE, dele$ou re$io Gorte o

    papel de absor#er os e&cedentes populacionais que mi$ra#am em massa para o Sudeste

    -poca, e que ser#iriam como mo de obra barata para o prop%sito de industrializar a

    .maznia por meio de $randes pro'etos de minerao, a$ropecu(rios e de $erao de ener$ia0m !uno disso, a re$io en!rentou um crescimento populacional sem precedentes,

    com o sur$imento de di#ersos nFcleos populacionais, al$uns deles em !orma de no#os

    municpios, al-m do en!raquecimento da populao rural 0m nFmeros, a re$io Gorte passou

    de >HI para JAI municpios entre >?@A e >?KA, sendo JI desses apenas no estado do )ar( J

    11C.2OSO, .na Cl(udia 2uarte or$N O R#)&' ! % U)/&0% 0& A$&1203&5 di!erentes olhares emperspecti#a

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    )ara se ter uma ideia mais $eral, o quadro a se$uir mostra uma comparao do crescimento

    populacional, nos meios urbano e rural, entre os nFmeros brasileiros, re$ionais e estaduais

    abela A> / )opulao total, por re$io e situao de domiclio

    Brasil Regio Norte Par

    Urbana Rural Urbana Rural Urbana Rural196

    0 2!""#!$1% $!&$%!'2( 1!"#1!21 1!$$$!%&2 ("!(%2 &2"!2(197

    0 '2!&"#!%## #1!("!$& 1!%$#!22 2!#"#!"&" 1!"%!#" 1!1'&!%2198

    0 $2!"1!%' &!1%!1&$ !&$!$&% !($!'2 1!%"2!#" 1!$"#!&"&199

    1 11"!$%'!$2( (!"#1!( '!&1!'(% #!2'!(&& 2!("&!%%% 2!'%1!%&200

    0 1%!'''!''" 1!$'!1# &!""2!&(2 !$&"!'&& #!11(!%$ 2!"%!1%26onte5 I, n >, p >>A+>I9, 'an8'ul >???

    # #

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    ais processos, pautados em desen#ol#er a re$io sem se importar com a sua

    identidade, caminham na contramo dos preceitos internacionais trazidos pela Go#a Carta de

    .tenas, que #aloriza a importncia da identidade local para a construo de uma cidade

    coerente e sustent(#el. identidade pessoal dos cidados est( muito relacionada com a identidade

    da sua cidade Ora, as dinmicas que resultarem do !enmeno da imi$rao urbanacontribuiro para no#as e mais !ortes identidades urbanas Cada cidade desen#ol#er(a sua pr%pria alquimia social e cultural / resultado da sua hist%ria e das !ormas doseu desen#ol#imento@

    2entre as a"es do =o#erno 6ederal para a re$io, encontram+se os )G2 e , o

    )OL.M.UG., o )ro'eto =rande Cara'(s, al-m de obras de in!raestrutura, como a

    construo das rodo#ias ransamaznica e Cuiab(+Santar-m, entre outras, e da hidrel-trica de

    ucuru, in#estimentos de base de apoio para as no#as indFstriasais elementos se caracterizaram como !ortes estmulos para a estruturao das

    cidades na re$io K So

    )aulo, maio8a$osto, >??I p :I+@I

    ((Carta de .tenas, JAAI

    %%

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    .maznia, por meio de bancos o!iciais, como o ?9A

    no incorpora#am o espao intra+urbano, tido apenas como um polo dentro do processo de

    re$ionalizao em #o$a -poca, aos processos de pro$resso e estruturao das redes urbanas[,

    '

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    paradi$ma pro#eniente da !ra$ilidade das estruturas $o#ernamentais locais como instncias

    polticas, que se resumiam a e&ecutoras de pro$ramas pouco e!icientes

    .s mudanas no modelo econmico tamb-m tampouco se caracterizaram em

    melhorias no territ%rio O car(ter e&plorat%rio do capitalismo industrial no tomou o espao

    intra+urbano amaznico como locusde aplicao do capital que a$ora circula#a na re$io / os

    centros de deciso, assim como a destinao dos lucros, eram e&ternos / nem como ala#anca

    para o desen#ol#imento local, con#er$indo para a coe&istBncia entre espaos de !orte

    acumulao capitalista e&5 cidades sedes da ati#idade de mineraoN e ambientes tradicionais

    de bai&o acFmulo de capital e&5 comunidade ribeirinhaN, caracterizando+se dentro do

    processo de e&panso dos #alores de produo industriaisK

    Gesse sentido, MachadoIaponta dois tipos de ordem para o sur$imento da rede urbanaamaznica do perodo 0m primeiro lu$ar, teramos uma organizao intencional, direcionada

    por inter#en"es $o#ernamentais, de empresas e institui"es, e por outro, tem+se a ordem

    espontnea, suscitada por a"es do mercado de terras, de trabalho, de bens e ser#ios etcN,

    pela ao das estruturas sociais coleti#as e dos pr%prios indi#duos

    )or essa perspecti#a e trazendo o #i-s da coerBncia econmica da Go#a Carta de

    .tenas, entende+se a correlao entre especializao e $lobalizao, por meio de tecnolo$ias e

    in#estimentos na re$io amaznica )ode+se, para tanto, reconhecer o 0stado e a abertura das!ronteiras tradicionais amaznicas para o capitalismo industrial como os principais !atores de

    induo das precariedades na e&panso urbana da .maznia O resultado - a produo de um

    espao urbano que se$ue a tendBncia capitalista, comportando+se de maneira !ra$mentada e

    articulada, ao mesmo tempo que se con!i$ura como um produto social?, e #ai na contramo a

    re!erBncia do documento de JAAI, que aponta o sucesso das cidades que tiram #anta$em

    econmica cultural de suas razes e tradi"es

    rata+se, nesse amaznico, de um espao pro!undamente desi$ual e mut(#el, no qual aao de di!erentes a$entes se espacializa de !orma desequilibrada, normalmente conduzida

    pelos interesses do a$ente dominante, dentro de um marco 'urdico que as re$ula, mas que, no

    entanto, no a$e de !orma neutra op citN Geste conte&to, Cardoso[ re!ora que5

    $$

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    .s no#as ]cidades] no despertam o en#ol#imento a!eti#o de seus habitantes, nempossuem uma identidade local, toda#ia tornaram+se lu$ar de concentrao de mo+de+obra para a no#a produo rural indFstria madeireira, a$roindFstriaN ou local deoportunidade para o trabalhador rural e&pulso do campo e para os !orasteirosa#entureiros atrados pelas !rentes de trabalho p @9N

    .s cidades amaznicas e, em especial, as paraenses que se !ormam nesse perodo

    se$uem em oposio aos ensinamentos de Le!eb#re>A, que de!ende a ideia de cidades como

    or$anismos com caractersticas, ob'eti#os e identidades distintas 0, por conta disso, o

    crescimento saud(#el desse urbano depende do reconhecimento de cada um desses aspectos,

    sob pena de se produzir uma cidade que cresce sem qualquer li$ao entre seu entorno e

    aqueles que ali habitam

    . respeito do que enuncia Galini>> quando diz que Qa .dministrao )Fblica tem

    obri$ao de restituir a cidade ao cidadoQ, busca+se aqui repensar o conceito de plani!icao

    urbana, a !orma como se molda a cidade e o controle social a ser reconhecido na re$io em

    questo, uma #ez que a cidade de#e ser#ir s pessoas e no apenas o capital que lhe deu

    ori$em

    #! & +34&4! !">#!+!#.So )aulo5 0ditora e#ista dosribunais, JA>>

    1212C.2OSO, .na Cl(udia 2uarte O problema das escalas e o desa!io do urbano na .maznia Oriental n5

    .lmir eis Or$N A)>#36!6#)&, U)/&034&4! ! M!3% &$/3!06! >ed 6lorian%polis5 0ditora da 7S6C, JA>>, #>, p @9+K9

    %

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    re$ional Cidades hist%ricas, como ucuru, que #iu sua populao aumentar em mais de KAZ

    entre os anos de >?9A e >?KA, e )arauapebas, que '( nas in!orma"es do seu primeiro censo,

    em >??>, apresenta#a uma populao de H> mil habitantes, so !ortes e&emplos disso

    2entro desse conte&to de $randes trans!orma"es re$ionais sur$e o municpio de

    Cana dos Cara'(s, recorte de estudo deste trabalho )ro#eniente de um desmembramento do

    municpio de )arauapebas, o sur$imento o!icial de Cana dos Cara'(s !oi outor$ado em H de

    outubro de >??:, por meio da Lei 0stadual n^ HK@A 0le se situa na poro sudeste do 0stado

    do )ar( !i$ura >N, inte$rando a microrre$io de )arauapebas, localizada na mesorre$io

    Sudeste )araense

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    6onte5 pt_iWipediaor$

    6onte5 2ia$onal 7rbana, JA>> .daptao5 Lucas Cndido

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    empre$os / $era uma e&pectati#a de desen#ol#imento de alto teor especulati#o e, a e&emplo

    do que ocorreu durante o =o#erno Militar, en$endra altas ta&as de crescimento,

    principalmente no que diz respeitos s popula"es de bai&a renda e sem quali!icao

    pro!issional, que mi$ram em busca de melhores condi"es de #ida Se$undo dados do AN, o municpio passou de >A?JJ habitantes em JAAA para J@9>@ em apenas dez anos

    . despeito das semelhanas com processos de crescimento urbano pret-ritos, essa

    no#a !ase de desen#ol#imento - marcada pela entrada de um no#o a$ente na dinmica urbana5

    o capital imobili(rio Os lati!undi(rios, que durante a d-cada de >??A se dedicaram pecu(ria,

    resol#em di#ersi!icar seus in#estimentos e, apostando na bolha especulati#a que recobre a

    cidade, apostam no ramo da produo !undi(ria espera de suprir a demanda habitacional dos

    no#os moradoresKO rebatimento disso no plano material - a ampliao prematura da mancha urbana

    atra#-s de $randes loteamentos residenciais, sem, contudo, a de#ida ocupao necess(ria para

    se custearem as despesas de manuteno da in!raestrutura )or outro lado, a populao de

    bai&a renda, sem condi"es de arcar com o alto preo da terra !ormal, se instala nas (reas

    preteridas pelo capital / historicamente, (reas de #ulnerabilidade ambiental, tais como

    mar$ens de c%rre$os e encostas de morros / intensi!icando processos de de$radao

    ambiental e quest"es de saFde pFblicaCom o crescimento da especulao imobili(ria e os custos crescentes ad#indos dessas

    pr(ticas, a ile$alidade acaba por ter um rano institucional>> Or$anizada e espontnea, a

    tendBncia de ocupao de re$i"es peri!-ricas ou de (reas #ulner(#eis - se apossar daquele

    terreno sem ttulo de propriedade Como 2a#is>:esclarece, Q. terra peri!-rica ]sem custo] tem

    sido muito discutida como se$redo m($ico do urbanismo do erceiro Mundo5 um imenso

    subsdio no plane'ado aos paup-rrimosQ

    6i$ura I / elao permetro urbano & mancha urbana 6i$ura : / elao mancha urbana & (reas de bai&a

    1#1#2.VS, MiWe P'&0!6& F&(!'&.So )aulo5

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    demanda de in!raestrutura

    6onte5 =oo$le Maps JA>HN, le#antamento de 6onte5 =oo$le Maps JA>HN, le#antamento de

    campo JA>HN 0laborao5 autores campo JA>HN 0laborao5 autores

    . espacializao e quanti!icao dos dados nos permite apreender que al-m de um

    permetro urbano e&acerbado em relao mancha urbana !i$ura IN / problem(tica deri#ada

    do interesse econmico dos lati!undi(rios na trans!ormao de terras rurais em urbanas que, a

    !im de se adequar s e&i$Bncias da le$islao no que tan$e o parcelamento da terra >H

    e&erceram, portanto, !orte presso sobre o poder poltico para sucessi#as re#is"es do

    permetro urbano / que, por sua #ez, se e&pande sob a l%$ica especulati#a do capitalimobili(rio, #isto que as (reas #azias ou de bai&a ocupao, em $rande parte !rutos de

    loteamentos pri#ados, representam cerca de :JZ do total da mancha urbana !i$ura :N 0m

    suma, trata+se de quase metade de uma cidade que no trabalha de maneira or$nica na

    reno#ao dos recursos para manuteno dos bens comuns

    . an(lise dos #alores !undi(rios $r(!ico >N ap%s a entrada da mineradora corrobora

    essa situao Runtamente com a ine!iciBncia da $esto municipal em $erir tais processos, a

    dilatao do preo da terra restrin$e acessos a espaos pFblicos, ser#ios e condi"es dein!raestrutura de boa qualidade ao circuito superior e a !ronteira corporati#a, e&cluindo a

    maior parte da populao, e rele$ando a o!erta desses bens escala pri#ada, indo totalmente

    na contramo do estabelecido no )lano 2iretor da cidade que estabelece o Qdireito cidade

    para todos, compreendendo o direito terra, moradia, ao saneamento ambiental,

    in!raestrutura, ao transporte, aos ser#ios pFblicos, ao trabalho e ao lazerQ art J, N

    =r(!ico > / Cur#a com o crescimento do preo m-dio dos lotes urbanos para o perodo de JAAA a JA>:

    1'1')rt! e seguintes a +ei n! 1(2,2""%- .ue institui o Plano /iretor e 0ana

    os 0aras!

    11

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    6onte5 :

    . despeito dos discursos das empresas e dos $o#ernantes interessados, a ati#idade

    mineradora cria um mercado monopsnico, ou se'a, !ortemente dependente de uma Fnica!onte, criando um ciclo #icioso de ine!iciBncia das municipalidades em o!ertar ser#ios

    pFblicos 0m Cana dos Cara'(s, esses processos atrelaram Vale o papel de principal

    pro#edora de in!raestrutura urbana

    2entre as primeiras a"es da mineradora no ambiente intra+urbano do municpio,

    quando da implantao do pro'eto de e&trao de cobre da Mina do Sosse$o, a partir de JAAJ,

    est( a implantao de um bairro in!raestruturado para os seus trabalhadores, o Rardim das

    )almeiras Contudo, ao contr(rio dos modelos das company-town recorrentes nos $randespro'etos da d-cada de >?9A, a empresa decidiu por articular esse no#o nFcleo ao tecido urbano

    '( e&istente Se por um lado e#itou o isolamento da (rea, por outro, criou premissas para a

    acelerao de processos de #alorizao !undi(ria, restrin$indo a ao do 0stado a estas (reas

    de interesse polticoK, re!orando processos de in'ustias sociais em #o$a desde o sur$imento

    do municpio

    Se$undo relat%rio emitido pela Vale em razo dos dez anos de presena da empresa no

    municpio, em JA>:, os in#estimentos so inFmeros So cerca de `I> milh"es emmelhorias no !ornecimento de ener$ia1 `H,Hmi de in#estimentos na se$urana1 `? mi em

    no#as #erbas para a educao1 al-m de `H mi para a saFde, assim como para obras e pro'etos

    de saneamento na cidade

    . an(lise dos dados corrobora o !ato de que a entrada da mineradora no municpio

    acarretou em melhorias nos indicadores de pro#iso de in!raestrutura, re!letindo inclusi#e no

    aumento do 2P municipal de A,:H@ em JAAA para A,@9I em JA>A>@, passando de um #alor

    considerado bai&o para um #alor m-dio

    1(1(PNU/ Progra3a as Na45es Unias 6ara o /esen7ol7i3ento- 2"1"

    12

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    abela J / )ro#iso de in!raestrutura

    2omiclios com acesso a

    rede de ($ua ZN

    2omiclios com acesso ao sistema de

    es$oto ZN2omiclios com acesso coleta de li&o ZN

    JAAA JA>A JA>A JAAA JA>A

    ede =eral ede =eral ede $eral Outra !ormaGo

    aplic(#elColetado

    Outrodestino

    ColetadoOutro

    destino

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    0laborao5 autores

    Ga tabela J podemos perceber nFmeros bem e&pressi#os quanto in!raestrutura

    b(sica, e nos mapas acima percebemos que o nFmero de escolas e equipamentos de saFde '(

    suprem a demanda atual da populao as (reas que aparecem no atendidas con!i$uram+se

    como (reas de bai&a densidade8#azios8empreendimentos no implantadosN 0ntretanto, os

    crit-rios adotados pelo

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    6onte5

    Le#antamento de campo, JA>H

    )ercebe+se, ento, uma realidade totalmente oposta aos preceitos e&istentes na Carta

    Ma$na de >?KK, que possui como um de seus !undamentos principais a diminuio das

    desi$ualdades sociais 2esta !eita, - de#er da poltica de desen#ol#imento urbano, e&ecutada

    pel )oder )Fblico Municipal o desen#ol#imento das !un"es da cidade e o bem+estar de seus

    habitantes art >KJ, C68KKN>9

    CONCLUSO

    O presente trabalho buscou in#esti$ar a respeito do direito cidade e da pro#iso de

    in!raestrutura decorrentes da e&panso urbana, utilizando como ob'eto de estudo os di!erentes

    processos hist%ricos que constituem o espao urbano de Cana dos Cara'(s ais processos se

    constituem como uma sntese do que #em ocorrendo na estruturao da rede urbana

    amaznica desde que 0stado tomou as r-deas do Ddesen#ol#imentoE . e&cepcionalidade do

    municpio em questo ad#em da #elocidade e&traordin(ria com que a e#oluo campo+cidade

    1%1%8s re9erios 6receitos 7:3 escritos e esen7ol7ios no Estatuto a 0iae-ocu3ento atao e 1" e ul;o e 2""1 .ue esen7ol7e seu tetica e esen7ol7i3ento urbano! ) 6erceber o tetica urbana te3 6or obeti7o orenar o 6leno esen7ol7i3ento as 9un45essociais a ciae e a 6ro6rieae urbana- 3eiante as seguintes iretri=es gerais? I garantia o ireito a ciaes sustent7eis- entenio co3o o ireito @ terra urbana- @3oraia- ao sanea3ento a3biental- @ in9raestrutura urbana- ao trans6orte e aos ser7i4os6Ablicos- ao trabal;o e ao la=er- 6ara as 6resentes e 9uturas gera45es II gestoe3ocrtica 6or 3eio a 6artici6a4o a 6o6ula4o e e associa45es re6resentati7as os

    7rios seg3entos a co3uniae na 9or3ula4o- e

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    ocorreu5 a cidade en!rentou di#ersos ciclos de mudanas sucessi#as em apenas J> anos de

    e&istBncia o!icial do municpio

    . construo de um territ%rio sobre a base de polticas pFblicas ine!icientes, que

    desconsideram a escala intra+urbana se'a sob o ponto de #ista da $esto territorial, ou da

    perspecti#a socioambiental, assim como a introduo de atores e&ternos, com pr(ticas

    econmicas discordantes da realidade local, menos de uma d-cada ap%s a o!icializao do

    municpio, constituiu um espao de e&plorao de recursos naturais e dinmicas de e&trao

    de riquezas, sem, contudo, con#erso dessas ben-!icies em pro#eito de condi"es urbanas

    mais adequadas populao

    O produto disso - a dependBncia crnica da municipalidade local em obras de

    compensao pelos impactos da mineradora Vale S8., ser#indo aquela mais como interm-diopara aplica"es diretas dentro do espao urbano do que pro#edora de bens e ser#ios pFblicos

    0 ora, se temos um espao urbano que se con!i$ura dentro da l%$ica de e&panso da

    acumulao do capital, - e#idente que a pro#iso de bens comuns a$e de !orma seleti#a,

    resultando na coe&istBncia de espaos pFblicos estruturados, como - o caso do bairro do

    Rardim das )almeiras, com localidades onde a ausBncia do 0stado se mostra na !orma da

    p-ssima qualidade urbana

    2essa !orma, obsta concluir que o e!eti#o direito cidade se !az ausente no conte&toda construo e do desen#ol#imento urbano e&istente no dia$n%stico apresentado ao lon$o do

    presente arti$o sso ocorre uma #ez que o crescimento pautado em alimentar as necessidades

    econmicas da re$io por conta da e&plorao mineradora no acontece de !orma ordenada

    P( uma clara especulao imobili(ria localizada em uma determinada re$io da cidade

    + bairro Rardim das )almeiras + que acaba por se$re$ar o espao urbano 0, se o direito

    cidade nasce a partir do seu reconhecimento como or$anismo, como ensina Le!eb#re, isso no

    ocorre em Cana, pois esta no possui qualquer identidade pr%pria a no ser a de abri$ar ostrabalhadores dos pro'etos desen#ol#idos pela Vale S8.

    Outro ponto importante - a ausBncia paup(#el das diretrizes apresentadas nas

    le$isla"es #i$entes acerca das cidades e seus plane'amentos O plane'amento urbano de

    Cana - inteiramente inte$rado s necessidades da mineradora e no, necessariamente, ao

    conte&to urbano e s necessidades de sua populao, traduzindo+se em uma carBncia de

    in!raestrutura e ser#ios pFblicos em $rande parte da cidade

    .l-m disso, h(, tal#ez, a 'usti!icati#a da !alta de in#estimentos em maquin(rio pFblico

    nas re$i"es mais carentes por estas serem em sua maioria irre$ulares, mas a !alta de qualquer

    plano para re$ularizao da (rea tamb-m no - encontrado Se #isitado o site o!icial do

    1(

  • 7/24/2019 A DIMENSO DO DIREITO CIDADE NA EXPANSO DO URBANO AMAZNICO: CONSTATAES EM CANA DOS CARAJ

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    municpio, toda e qualquer in!ormao acerta de plane'amento, urbanizao e a!ins -

    direcionado para uma p($ina que aponta o contato do respons(#el, sem maiores

    esclarecimentos, demonstrando uma ausBncia de proati#idade nas quest"es urbanas

    2ireito cidade, al-m de identidade, in!raestrutura e ser#ios pFblicos, tamb-m -

    inte$rao das quatro !un"es da cidade5 moradia, trabalho, circulao e lazer nte$rao essa

    no #ista e nem reconhecida no municpio de Cana, que parece #i#er apenas da !uno

    trabalho

    . REFERENCIAL BIBLIOGRFICO

    J:p

    ?@@. L!3 4! +)3&7?% 4& S#!)306!040+3& 4!D!"!0(%'(3$!06% 4& A$&1203& SUDAMK.

    ed6lorian%polis5 0ditora da 7S6C, JA>>, # >, p @9+K9

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  • 7/24/2019 A DIMENSO DO DIREITO CIDADE NA EXPANSO DO URBANO AMAZNICO: CONSTATAES EM CANA DOS CARAJ

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    C.. 20 .0G.S, JAAI 2ispon#el em5http588pa$inas!euppt8construcaoJAA:8cJAA:8docs8S.AJcartaZJAatenaspd!Visto em A98A@8JA>H

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