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7/24/2019 A DIMENSO DO DIREITO CIDADE NA EXPANSO DO URBANO AMAZNICO: CONSTATAES EM CANA DOS CARAJ
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VIII CONGRESSO BRASILEIRO DE DIREITO URBANSTICOINFRAESTRUTURA, SERVIOS URBANOS E DIREITO CIDADE
A DIMENSO DO DIREITO CIDADE NA EXPANSO DO URBANOAMAZNICO: CONSTATAES EM CANA DOS CARAJSPA
Lucas Souto Cndido*
Mariana Souza Villacorta**
R!"#$%: O presente trabalho busca, por meio de uma releitura de autores que tratam da realidade amaznica edo direito cidade, assim como lanando mo de in!orma"es colhidas em campo, desen#ol#er um dia$n%sticoacerca da situao de e&panso urbana em cidades amaznicas e a pro#iso de in!raestrutura decorrente de tal
processo, tendo como principal ob'eto de an(lise a cidade de Cana dos Cara'(s, no )ar( Obser#ou+se que emum primeiro perodo as estrat-$ias de inter#eno no territ%rio amaznico, $uiadas por a"es de controle nombito !ederal, pouco le#aram em considerao o espao intra+urbano, a$indo de !orma a in#isibilizar atores e
pr(ticas tradicionais .tualmente, a entrada de um no#o a$ente no 'o$o das cidades / a saber, o capitalimobili(rio / cristaliza problem(ticas pret-ritas no que diz respeito a questo do direito cidade e a o!erta dein!raestrutura Conclui+se, por !im, que o distanciamento entre as a"es do 0stado e a realidade local ori$ina umurbano com alto $rau de precariedade e impro#isao, ne$ando ao cidado qualquer direito real cidade
P&'&()&"*+&(!: Cidades amaznicas1 crescimento urbano1 in!raestrutura1 2ireito Cidade
INTRODUO
2urante a se$unda metade do s-culo 33, a .maznia se con!ormou como ambiente
de !ortes inter#en"es a n#el !ederal que, por meio de estrat-$ias de plane'amento
macrorre$ional, #oltadas para a inte$rao territorial e econmica da re$io ao pas, criaram
um ambiente de !ortes mudanas no mbito das cidades 4 dentro deste conte&to, ori$inado de
um assentamento rural e palco de um $rande pro'eto de e&trao mineral, que sur$e o
municpio de Cana dos Cara'(s, utilizado aqui com o ob'eti#o de e&empli!icar a realidade das
cidades amaznicas e os impactos decorrentes do crescimento instantneo na o!erta de
in!raestrutura e no direito cidadeO arti$o se estrutura em duas partes5 primeiramente !az+se uma releitura hist%rica dos
processos en!rentados pela .maznia no mbito das a"es do 0stado desen#ol#imentista dos
**6ormando do curso de .rquitetura e 7rbanismo876)., bolsista do Laborat%rio Cidades na.maznia, candido9:;hotmailcom
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anos >?@A em diante 0m se$uida, apresenta+se o municpio de Cana dos Cara'(s que se, em
um primeiro momento, se estrutura sob uma l%$ica da produo a$ropecu(ria, #B sua
realidade mudar com a implantao de $randes pro'etos de minerao, a e&emplo do que
ocorreu nas cidades amaznica no s-culo passado)or !im, conclui+se que a insero de no#os a$entes, que carre$am consi$o um ritmo e
intensidade de trans!orma"es discordantes da realidade local, assim como a"es do 0stado
descone&as com esta realidade, cristalizam pr(ticas de construo de cidades sem
in!raestrutura adequada, e onde o direito cidade descrito por Le!eb#re - completamente
obliterado
-. O PROCESSO DE URBANIZAO E EXPANSO DA REDE URBANA
AMAZNICA
.s !issuras atuais no ambiente urbano amaznico somente se mostram #is#eis luz
de uma compreenso hist%rica dos di!erentes processos que perpassaram a re$io ida como
(rea de D#azio populacionalE at- meados do s-culo 33, a partir desse perodo, o territ%rio
passou por processos que alteraram pro!undamente as dinmicas re$ionais, trans!ormando+o
no principal palco das a"es de mudanas econmicas e espaciais do pas.t- os anos >?@A, a re$io amaznica era dominada por uma rede urbana dendrtica,
onde pre#aleciam pr(ticas e&trati#istas e transa"es de trocas entre pequenos produtores
ribeirinhos, al-m de um urbano caracterizado muito mais como ponto de apoio ao controle do
territ%rio e o!erta de pequenos ser#ios do que como articulador do desen#ol#imento
re$ional>. che$ada dos militares ao poder deu incio a uma s-rie de polticas pFblicas
!ederais, que sob a sombra do discurso Dinte$rar para no entre$arE, dele$ou re$io Gorte o
papel de absor#er os e&cedentes populacionais que mi$ra#am em massa para o Sudeste
-poca, e que ser#iriam como mo de obra barata para o prop%sito de industrializar a
.maznia por meio de $randes pro'etos de minerao, a$ropecu(rios e de $erao de ener$ia0m !uno disso, a re$io en!rentou um crescimento populacional sem precedentes,
com o sur$imento de di#ersos nFcleos populacionais, al$uns deles em !orma de no#os
municpios, al-m do en!raquecimento da populao rural 0m nFmeros, a re$io Gorte passou
de >HI para JAI municpios entre >?@A e >?KA, sendo JI desses apenas no estado do )ar( J
11C.2OSO, .na Cl(udia 2uarte or$N O R#)&' ! % U)/&0% 0& A$&1203&5 di!erentes olhares emperspecti#a
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)ara se ter uma ideia mais $eral, o quadro a se$uir mostra uma comparao do crescimento
populacional, nos meios urbano e rural, entre os nFmeros brasileiros, re$ionais e estaduais
abela A> / )opulao total, por re$io e situao de domiclio
Brasil Regio Norte Par
Urbana Rural Urbana Rural Urbana Rural196
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ais processos, pautados em desen#ol#er a re$io sem se importar com a sua
identidade, caminham na contramo dos preceitos internacionais trazidos pela Go#a Carta de
.tenas, que #aloriza a importncia da identidade local para a construo de uma cidade
coerente e sustent(#el. identidade pessoal dos cidados est( muito relacionada com a identidade
da sua cidade Ora, as dinmicas que resultarem do !enmeno da imi$rao urbanacontribuiro para no#as e mais !ortes identidades urbanas Cada cidade desen#ol#er(a sua pr%pria alquimia social e cultural / resultado da sua hist%ria e das !ormas doseu desen#ol#imento@
2entre as a"es do =o#erno 6ederal para a re$io, encontram+se os )G2 e , o
)OL.M.UG., o )ro'eto =rande Cara'(s, al-m de obras de in!raestrutura, como a
construo das rodo#ias ransamaznica e Cuiab(+Santar-m, entre outras, e da hidrel-trica de
ucuru, in#estimentos de base de apoio para as no#as indFstriasais elementos se caracterizaram como !ortes estmulos para a estruturao das
cidades na re$io K So
)aulo, maio8a$osto, >??I p :I+@I
((Carta de .tenas, JAAI
%%
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.maznia, por meio de bancos o!iciais, como o ?9A
no incorpora#am o espao intra+urbano, tido apenas como um polo dentro do processo de
re$ionalizao em #o$a -poca, aos processos de pro$resso e estruturao das redes urbanas[,
'
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paradi$ma pro#eniente da !ra$ilidade das estruturas $o#ernamentais locais como instncias
polticas, que se resumiam a e&ecutoras de pro$ramas pouco e!icientes
.s mudanas no modelo econmico tamb-m tampouco se caracterizaram em
melhorias no territ%rio O car(ter e&plorat%rio do capitalismo industrial no tomou o espao
intra+urbano amaznico como locusde aplicao do capital que a$ora circula#a na re$io / os
centros de deciso, assim como a destinao dos lucros, eram e&ternos / nem como ala#anca
para o desen#ol#imento local, con#er$indo para a coe&istBncia entre espaos de !orte
acumulao capitalista e&5 cidades sedes da ati#idade de mineraoN e ambientes tradicionais
de bai&o acFmulo de capital e&5 comunidade ribeirinhaN, caracterizando+se dentro do
processo de e&panso dos #alores de produo industriaisK
Gesse sentido, MachadoIaponta dois tipos de ordem para o sur$imento da rede urbanaamaznica do perodo 0m primeiro lu$ar, teramos uma organizao intencional, direcionada
por inter#en"es $o#ernamentais, de empresas e institui"es, e por outro, tem+se a ordem
espontnea, suscitada por a"es do mercado de terras, de trabalho, de bens e ser#ios etcN,
pela ao das estruturas sociais coleti#as e dos pr%prios indi#duos
)or essa perspecti#a e trazendo o #i-s da coerBncia econmica da Go#a Carta de
.tenas, entende+se a correlao entre especializao e $lobalizao, por meio de tecnolo$ias e
in#estimentos na re$io amaznica )ode+se, para tanto, reconhecer o 0stado e a abertura das!ronteiras tradicionais amaznicas para o capitalismo industrial como os principais !atores de
induo das precariedades na e&panso urbana da .maznia O resultado - a produo de um
espao urbano que se$ue a tendBncia capitalista, comportando+se de maneira !ra$mentada e
articulada, ao mesmo tempo que se con!i$ura como um produto social?, e #ai na contramo a
re!erBncia do documento de JAAI, que aponta o sucesso das cidades que tiram #anta$em
econmica cultural de suas razes e tradi"es
rata+se, nesse amaznico, de um espao pro!undamente desi$ual e mut(#el, no qual aao de di!erentes a$entes se espacializa de !orma desequilibrada, normalmente conduzida
pelos interesses do a$ente dominante, dentro de um marco 'urdico que as re$ula, mas que, no
entanto, no a$e de !orma neutra op citN Geste conte&to, Cardoso[ re!ora que5
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.s no#as ]cidades] no despertam o en#ol#imento a!eti#o de seus habitantes, nempossuem uma identidade local, toda#ia tornaram+se lu$ar de concentrao de mo+de+obra para a no#a produo rural indFstria madeireira, a$roindFstriaN ou local deoportunidade para o trabalhador rural e&pulso do campo e para os !orasteirosa#entureiros atrados pelas !rentes de trabalho p @9N
.s cidades amaznicas e, em especial, as paraenses que se !ormam nesse perodo
se$uem em oposio aos ensinamentos de Le!eb#re>A, que de!ende a ideia de cidades como
or$anismos com caractersticas, ob'eti#os e identidades distintas 0, por conta disso, o
crescimento saud(#el desse urbano depende do reconhecimento de cada um desses aspectos,
sob pena de se produzir uma cidade que cresce sem qualquer li$ao entre seu entorno e
aqueles que ali habitam
. respeito do que enuncia Galini>> quando diz que Qa .dministrao )Fblica tem
obri$ao de restituir a cidade ao cidadoQ, busca+se aqui repensar o conceito de plani!icao
urbana, a !orma como se molda a cidade e o controle social a ser reconhecido na re$io em
questo, uma #ez que a cidade de#e ser#ir s pessoas e no apenas o capital que lhe deu
ori$em
#! & +34&4! !">#!+!#.So )aulo5 0ditora e#ista dosribunais, JA>>
1212C.2OSO, .na Cl(udia 2uarte O problema das escalas e o desa!io do urbano na .maznia Oriental n5
.lmir eis Or$N A)>#36!6#)&, U)/&034&4! ! M!3% &$/3!06! >ed 6lorian%polis5 0ditora da 7S6C, JA>>, #>, p @9+K9
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re$ional Cidades hist%ricas, como ucuru, que #iu sua populao aumentar em mais de KAZ
entre os anos de >?9A e >?KA, e )arauapebas, que '( nas in!orma"es do seu primeiro censo,
em >??>, apresenta#a uma populao de H> mil habitantes, so !ortes e&emplos disso
2entro desse conte&to de $randes trans!orma"es re$ionais sur$e o municpio de
Cana dos Cara'(s, recorte de estudo deste trabalho )ro#eniente de um desmembramento do
municpio de )arauapebas, o sur$imento o!icial de Cana dos Cara'(s !oi outor$ado em H de
outubro de >??:, por meio da Lei 0stadual n^ HK@A 0le se situa na poro sudeste do 0stado
do )ar( !i$ura >N, inte$rando a microrre$io de )arauapebas, localizada na mesorre$io
Sudeste )araense
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6onte5 pt_iWipediaor$
6onte5 2ia$onal 7rbana, JA>> .daptao5 Lucas Cndido
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empre$os / $era uma e&pectati#a de desen#ol#imento de alto teor especulati#o e, a e&emplo
do que ocorreu durante o =o#erno Militar, en$endra altas ta&as de crescimento,
principalmente no que diz respeitos s popula"es de bai&a renda e sem quali!icao
pro!issional, que mi$ram em busca de melhores condi"es de #ida Se$undo dados do AN, o municpio passou de >A?JJ habitantes em JAAA para J@9>@ em apenas dez anos
. despeito das semelhanas com processos de crescimento urbano pret-ritos, essa
no#a !ase de desen#ol#imento - marcada pela entrada de um no#o a$ente na dinmica urbana5
o capital imobili(rio Os lati!undi(rios, que durante a d-cada de >??A se dedicaram pecu(ria,
resol#em di#ersi!icar seus in#estimentos e, apostando na bolha especulati#a que recobre a
cidade, apostam no ramo da produo !undi(ria espera de suprir a demanda habitacional dos
no#os moradoresKO rebatimento disso no plano material - a ampliao prematura da mancha urbana
atra#-s de $randes loteamentos residenciais, sem, contudo, a de#ida ocupao necess(ria para
se custearem as despesas de manuteno da in!raestrutura )or outro lado, a populao de
bai&a renda, sem condi"es de arcar com o alto preo da terra !ormal, se instala nas (reas
preteridas pelo capital / historicamente, (reas de #ulnerabilidade ambiental, tais como
mar$ens de c%rre$os e encostas de morros / intensi!icando processos de de$radao
ambiental e quest"es de saFde pFblicaCom o crescimento da especulao imobili(ria e os custos crescentes ad#indos dessas
pr(ticas, a ile$alidade acaba por ter um rano institucional>> Or$anizada e espontnea, a
tendBncia de ocupao de re$i"es peri!-ricas ou de (reas #ulner(#eis - se apossar daquele
terreno sem ttulo de propriedade Como 2a#is>:esclarece, Q. terra peri!-rica ]sem custo] tem
sido muito discutida como se$redo m($ico do urbanismo do erceiro Mundo5 um imenso
subsdio no plane'ado aos paup-rrimosQ
6i$ura I / elao permetro urbano & mancha urbana 6i$ura : / elao mancha urbana & (reas de bai&a
1#1#2.VS, MiWe P'&0!6& F&(!'&.So )aulo5
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demanda de in!raestrutura
6onte5 =oo$le Maps JA>HN, le#antamento de 6onte5 =oo$le Maps JA>HN, le#antamento de
campo JA>HN 0laborao5 autores campo JA>HN 0laborao5 autores
. espacializao e quanti!icao dos dados nos permite apreender que al-m de um
permetro urbano e&acerbado em relao mancha urbana !i$ura IN / problem(tica deri#ada
do interesse econmico dos lati!undi(rios na trans!ormao de terras rurais em urbanas que, a
!im de se adequar s e&i$Bncias da le$islao no que tan$e o parcelamento da terra >H
e&erceram, portanto, !orte presso sobre o poder poltico para sucessi#as re#is"es do
permetro urbano / que, por sua #ez, se e&pande sob a l%$ica especulati#a do capitalimobili(rio, #isto que as (reas #azias ou de bai&a ocupao, em $rande parte !rutos de
loteamentos pri#ados, representam cerca de :JZ do total da mancha urbana !i$ura :N 0m
suma, trata+se de quase metade de uma cidade que no trabalha de maneira or$nica na
reno#ao dos recursos para manuteno dos bens comuns
. an(lise dos #alores !undi(rios $r(!ico >N ap%s a entrada da mineradora corrobora
essa situao Runtamente com a ine!iciBncia da $esto municipal em $erir tais processos, a
dilatao do preo da terra restrin$e acessos a espaos pFblicos, ser#ios e condi"es dein!raestrutura de boa qualidade ao circuito superior e a !ronteira corporati#a, e&cluindo a
maior parte da populao, e rele$ando a o!erta desses bens escala pri#ada, indo totalmente
na contramo do estabelecido no )lano 2iretor da cidade que estabelece o Qdireito cidade
para todos, compreendendo o direito terra, moradia, ao saneamento ambiental,
in!raestrutura, ao transporte, aos ser#ios pFblicos, ao trabalho e ao lazerQ art J, N
=r(!ico > / Cur#a com o crescimento do preo m-dio dos lotes urbanos para o perodo de JAAA a JA>:
1'1')rt! e seguintes a +ei n! 1(2,2""%- .ue institui o Plano /iretor e 0ana
os 0aras!
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6onte5 :
. despeito dos discursos das empresas e dos $o#ernantes interessados, a ati#idade
mineradora cria um mercado monopsnico, ou se'a, !ortemente dependente de uma Fnica!onte, criando um ciclo #icioso de ine!iciBncia das municipalidades em o!ertar ser#ios
pFblicos 0m Cana dos Cara'(s, esses processos atrelaram Vale o papel de principal
pro#edora de in!raestrutura urbana
2entre as primeiras a"es da mineradora no ambiente intra+urbano do municpio,
quando da implantao do pro'eto de e&trao de cobre da Mina do Sosse$o, a partir de JAAJ,
est( a implantao de um bairro in!raestruturado para os seus trabalhadores, o Rardim das
)almeiras Contudo, ao contr(rio dos modelos das company-town recorrentes nos $randespro'etos da d-cada de >?9A, a empresa decidiu por articular esse no#o nFcleo ao tecido urbano
'( e&istente Se por um lado e#itou o isolamento da (rea, por outro, criou premissas para a
acelerao de processos de #alorizao !undi(ria, restrin$indo a ao do 0stado a estas (reas
de interesse polticoK, re!orando processos de in'ustias sociais em #o$a desde o sur$imento
do municpio
Se$undo relat%rio emitido pela Vale em razo dos dez anos de presena da empresa no
municpio, em JA>:, os in#estimentos so inFmeros So cerca de `I> milh"es emmelhorias no !ornecimento de ener$ia1 `H,Hmi de in#estimentos na se$urana1 `? mi em
no#as #erbas para a educao1 al-m de `H mi para a saFde, assim como para obras e pro'etos
de saneamento na cidade
. an(lise dos dados corrobora o !ato de que a entrada da mineradora no municpio
acarretou em melhorias nos indicadores de pro#iso de in!raestrutura, re!letindo inclusi#e no
aumento do 2P municipal de A,:H@ em JAAA para A,@9I em JA>A>@, passando de um #alor
considerado bai&o para um #alor m-dio
1(1(PNU/ Progra3a as Na45es Unias 6ara o /esen7ol7i3ento- 2"1"
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abela J / )ro#iso de in!raestrutura
2omiclios com acesso a
rede de ($ua ZN
2omiclios com acesso ao sistema de
es$oto ZN2omiclios com acesso coleta de li&o ZN
JAAA JA>A JA>A JAAA JA>A
ede =eral ede =eral ede $eral Outra !ormaGo
aplic(#elColetado
Outrodestino
ColetadoOutro
destino
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0laborao5 autores
Ga tabela J podemos perceber nFmeros bem e&pressi#os quanto in!raestrutura
b(sica, e nos mapas acima percebemos que o nFmero de escolas e equipamentos de saFde '(
suprem a demanda atual da populao as (reas que aparecem no atendidas con!i$uram+se
como (reas de bai&a densidade8#azios8empreendimentos no implantadosN 0ntretanto, os
crit-rios adotados pelo
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6onte5
Le#antamento de campo, JA>H
)ercebe+se, ento, uma realidade totalmente oposta aos preceitos e&istentes na Carta
Ma$na de >?KK, que possui como um de seus !undamentos principais a diminuio das
desi$ualdades sociais 2esta !eita, - de#er da poltica de desen#ol#imento urbano, e&ecutada
pel )oder )Fblico Municipal o desen#ol#imento das !un"es da cidade e o bem+estar de seus
habitantes art >KJ, C68KKN>9
CONCLUSO
O presente trabalho buscou in#esti$ar a respeito do direito cidade e da pro#iso de
in!raestrutura decorrentes da e&panso urbana, utilizando como ob'eto de estudo os di!erentes
processos hist%ricos que constituem o espao urbano de Cana dos Cara'(s ais processos se
constituem como uma sntese do que #em ocorrendo na estruturao da rede urbana
amaznica desde que 0stado tomou as r-deas do Ddesen#ol#imentoE . e&cepcionalidade do
municpio em questo ad#em da #elocidade e&traordin(ria com que a e#oluo campo+cidade
1%1%8s re9erios 6receitos 7:3 escritos e esen7ol7ios no Estatuto a 0iae-ocu3ento atao e 1" e ul;o e 2""1 .ue esen7ol7e seu tetica e esen7ol7i3ento urbano! ) 6erceber o tetica urbana te3 6or obeti7o orenar o 6leno esen7ol7i3ento as 9un45essociais a ciae e a 6ro6rieae urbana- 3eiante as seguintes iretri=es gerais? I garantia o ireito a ciaes sustent7eis- entenio co3o o ireito @ terra urbana- @3oraia- ao sanea3ento a3biental- @ in9raestrutura urbana- ao trans6orte e aos ser7i4os6Ablicos- ao trabal;o e ao la=er- 6ara as 6resentes e 9uturas gera45es II gestoe3ocrtica 6or 3eio a 6artici6a4o a 6o6ula4o e e associa45es re6resentati7as os
7rios seg3entos a co3uniae na 9or3ula4o- e
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ocorreu5 a cidade en!rentou di#ersos ciclos de mudanas sucessi#as em apenas J> anos de
e&istBncia o!icial do municpio
. construo de um territ%rio sobre a base de polticas pFblicas ine!icientes, que
desconsideram a escala intra+urbana se'a sob o ponto de #ista da $esto territorial, ou da
perspecti#a socioambiental, assim como a introduo de atores e&ternos, com pr(ticas
econmicas discordantes da realidade local, menos de uma d-cada ap%s a o!icializao do
municpio, constituiu um espao de e&plorao de recursos naturais e dinmicas de e&trao
de riquezas, sem, contudo, con#erso dessas ben-!icies em pro#eito de condi"es urbanas
mais adequadas populao
O produto disso - a dependBncia crnica da municipalidade local em obras de
compensao pelos impactos da mineradora Vale S8., ser#indo aquela mais como interm-diopara aplica"es diretas dentro do espao urbano do que pro#edora de bens e ser#ios pFblicos
0 ora, se temos um espao urbano que se con!i$ura dentro da l%$ica de e&panso da
acumulao do capital, - e#idente que a pro#iso de bens comuns a$e de !orma seleti#a,
resultando na coe&istBncia de espaos pFblicos estruturados, como - o caso do bairro do
Rardim das )almeiras, com localidades onde a ausBncia do 0stado se mostra na !orma da
p-ssima qualidade urbana
2essa !orma, obsta concluir que o e!eti#o direito cidade se !az ausente no conte&toda construo e do desen#ol#imento urbano e&istente no dia$n%stico apresentado ao lon$o do
presente arti$o sso ocorre uma #ez que o crescimento pautado em alimentar as necessidades
econmicas da re$io por conta da e&plorao mineradora no acontece de !orma ordenada
P( uma clara especulao imobili(ria localizada em uma determinada re$io da cidade
+ bairro Rardim das )almeiras + que acaba por se$re$ar o espao urbano 0, se o direito
cidade nasce a partir do seu reconhecimento como or$anismo, como ensina Le!eb#re, isso no
ocorre em Cana, pois esta no possui qualquer identidade pr%pria a no ser a de abri$ar ostrabalhadores dos pro'etos desen#ol#idos pela Vale S8.
Outro ponto importante - a ausBncia paup(#el das diretrizes apresentadas nas
le$isla"es #i$entes acerca das cidades e seus plane'amentos O plane'amento urbano de
Cana - inteiramente inte$rado s necessidades da mineradora e no, necessariamente, ao
conte&to urbano e s necessidades de sua populao, traduzindo+se em uma carBncia de
in!raestrutura e ser#ios pFblicos em $rande parte da cidade
.l-m disso, h(, tal#ez, a 'usti!icati#a da !alta de in#estimentos em maquin(rio pFblico
nas re$i"es mais carentes por estas serem em sua maioria irre$ulares, mas a !alta de qualquer
plano para re$ularizao da (rea tamb-m no - encontrado Se #isitado o site o!icial do
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7/24/2019 A DIMENSO DO DIREITO CIDADE NA EXPANSO DO URBANO AMAZNICO: CONSTATAES EM CANA DOS CARAJ
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municpio, toda e qualquer in!ormao acerta de plane'amento, urbanizao e a!ins -
direcionado para uma p($ina que aponta o contato do respons(#el, sem maiores
esclarecimentos, demonstrando uma ausBncia de proati#idade nas quest"es urbanas
2ireito cidade, al-m de identidade, in!raestrutura e ser#ios pFblicos, tamb-m -
inte$rao das quatro !un"es da cidade5 moradia, trabalho, circulao e lazer nte$rao essa
no #ista e nem reconhecida no municpio de Cana, que parece #i#er apenas da !uno
trabalho
. REFERENCIAL BIBLIOGRFICO
J:p
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