a dimensão antropológica da vocação

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  • 7/26/2019 A Dimenso Antropolgica Da Vocao

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    A dimenso antropolgica da vocao Ir JosSobrero Bosch sdb

    A criao do homem1

    Senhor Deus, Vs criastes todas as coisas.Destes-lhes o ser, assentaste-las em seus fundamentose xastes-lhes as mediadas.Esto cheias do vosso mistrio,!ue nos comove o corao, !uando se inclina "ara Vs.

    #am$m a ns, criaturas humanas,nos chamastes % exist&ncia, Senhor,e nos colocastes entre Vs e as coisas.'riaste-nos % vossa ima(eme tornastes-nos "artici"antes do vosso dom)nio.

    'olocastes o vosso mundo em nossas mos,"ara !ue ele nos sirva e reali*emos nele a nossa tarefa.

    +as devemos estar-Vos sueitos, e o nosso dom)niotransforma-se em revolta e latroc)nio!uando no nos inclinamos diante de Vs!ue sois o nico !ue leva na ca$ea a coroa eternae sois Senhor "or direito "r"rio.

    maravilhosa, Senhor, a vossa ma(nanimidade.

    /o temestes "ela vossa so$erania ao criardes seres!ue dis"0em de si mesmos e ao conardes a vossa vontade% sua li$erdade.

    Sois (rande, Senhor, e verdadeiramente real.Deixastes em minhas mos a honra da vossa vontade.

    'ada "alavra da vossa revelao re"ete !ue Vs me estimaise conais em mim, !ue me dais (rande*a e res"onsa$ilidade.

    Ensinai-me a com"reend&-lo.

    Dai-me a santa maioridade de alma ca"a* de rece$ero direito !ue concedeis e de tomar so$re elaa res"onsa$ilidade !ue lhe encar(ais.

    'onservai acordado o meu corao "ara !ue estea sem"re diante de Vs,e fa*ei !ue todos os meus atos se transformemnesta dominao e o$edi&ncia a !ue me chamastes.Amem.

    1. O ser hmano como vocao

    12A3D4/4, 3omano, Na tua Luz,5Editorial A.6.,7ra(a,1889:, ;

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    necess=rio !ue, ao reali*ar uma o"o to fundamental como a vocacional!ue, em "rinc)"io envolve toda a vida, seamos convidados a a"roximar-nos, a"er(untar-nos so$re o sentido e nalidade do nosso existir. >s !uest0esnormalmente colocadas como ?o !ue (osto de fa*er@, ?o !ue me d= "ra*erreali*ar@, ?o !ue sei fa*er@, ?com !ual "rosso me darei $em na vida@,

    devem ser acrescentadasB ?a !ue sou chamado@, ?!ue sentido "ode haver notra$alho !ue deseo reali*ar@, ?!ual a nalidade do meu existir@. Assim, no"rocesso de orientao vocacional, alm das dimens0es "sicossociol(icas,devem ser i(ualmente consideradas as dimens0es antro"ol(icas e loscas,!ue so fundamentais "ara o entendimento da vocao humana.

    A vocao no sentido mais "rofundo e radical envolve a "essoa em suatotalidade e sin(ularidadeB a vocao concreta nica, ri(orosamente "essoalC a vocao em !ue cada um consiste mais "ro"riamente, e coincide com o eude cada um.

    Dedicar um tem"o "ara falar da vocao uma necessidade $=sica, no m$itoantro"ol(ico, "or!ue ca"ta ra"idamente a direo da vida do ser humano. 4stosi(nica a"rofundar na tarefa tica !ue condu* a fa*er o $em, "or exem"lo.uando "ensamos nesta realidade essencial, achamos o sentido das nossasa0esB ns fa*emos o $em "or!ue um constitutivo da nossa "r"ria nature*a.De esta maneira, o $em "ara cada indiv)duo a corres"ondente reali*ao desi mesmo.

    Realizao de si mesmo com"orta conhecer-se, valori*ar-se e dar umares"osta. So os com"onentes da vocao.

    A vocao "essoal, de uno mesmo, dentro de cada ser humano, !ue temdireito a reali*ar-se.

    2m conceito !ue ca claro o se(uinteB desde o ponto de vista tico podemosafrmar que o bem a autorrealizao do ser humano acorde com a verdadeda sua natureza. Ainda, devemos su$linhar !ue esta autorreali*ao no autnoma, nem centrada so$re si mesmo. A lei fundamental da aut&nticaautorreali*ao, como a vocao, di* !ue a "essoa encontra-se a si mesma

    na medida em !ue sai dos seus "r"rios limites e se entre(a a sua tarefa, deforma !ue se reali*a na medida em !ue, es!uecendo-se de si mesma, cum"rea exi(&ncia !ue em cada momento se lhe "atenteia.

    Assim comeamos a falar da vocao, neste caso como resposta, tarea, atorealdo ser humano, no curso da vida. Foder)amos falar de destino, busca desentido ou de ocupar um lugar no mundo. +as todo isso audar-nos-= namedida !ue sai$amos a"rofundar o tema da vocao como ex"resso da aotica.

    A vocao "essoal, "orm, ter= este atrativo "r=tico !ue condu*ir= a "essoano com"romisso social.

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    !. "a din#mica da direo$ compreenso e e%plicao dosentido da vida

    6 sentido da vida constitui um !uestionamento losco a cerca do "ro"sito esi(nicado da exist&ncia humana. 6 si(nicado do sentido da vida ainter"retao do relacionamento entre o ser humano e seu mundo.

    G= uma !uantidade inumer=vel de "oss)veis res"ostas "ara Ho sentido davidaH, fre!uentemente relacionadas a convic0es reli(iosas ou loscas.6"ini0es so$re o sentido da vida "odem "or si "r"rias se distin(uir de "essoa"ara "essoa, $em como tam$m "odem variar no decorrer da vida de cada serhumano.

    Vivemos imersos nesta am"la "ers"ectiva, rece$endo mensa(ens desde oexterior. 'ontudo, camos desnorteados "or!ue a res"osta a este!uestionamento no se construi desde fora, seno desde dentro.

    A dinmica da direo, com"reenso e ex"licao do sentido da vida est= nanossa interioridade, no "rofundo do nosso ser.

    Da) !ue consideramos seriamente a totalidade da nossa "essoa !ue vive numcontexto determinado, com"rometida com a histria "essoal e coletiva,fa*endo um "ercurso inteli(ente, carre(ando esforos !uotidianos "ara

    reali*ar-se "lenamente, encarnando valores e vivendo em "a*. Ali=s devemosa"rofundar as"etos antro"ol(icos tais como a autenticidade, a li$erdade, ahistoricidade, a ex"eri&ncia, as rela0es humanas e efetivas.

    &. A vocao m apelo 'e e%ige ma resposta livre erespons(vel

    Nos des!gnios de "eus, cada homem chamado a desenvolver#se, porque

    toda a vida vocao. $ dado a todos, em germe, desde o nascimento, umcon%unto de aptid&es e de qualidades para as azer render' desenvolv(#las ser)ruto da educao recebida do meio ambiente e do esoro pessoal, e permitir)a cada um orientar#se para o destino que lhe prop&e o *riador. "otado deintelig(ncia e de liberdade, cada um respons)vel tanto pelo seu crescimentocomo pela sua salvao. +%udado, por vezes constrangido, por aqueles que oeducam e rodeiam, cada um, se%am quais orem as inu(ncias que sobre elese e-eram, permanece o art!fce principal do seu (-ito ou do seu racasso'apenas com o esoro da intelig(ncia e da vontade, pode cada homem crescerem humanidade, valer mais, ser mais/.

    2FA2I6 V4, 0opulorum 0rogressio, 5Ii$reria Editrice Vaticana, 18J

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    1 necess)rio promover um humanismo total 2por e-emplo, 3. 4aritain,L5humanisme intgral, 0aris, +ubier,6789:. ;ue vem ele a ser seno odesenvolvimento integral do homem todo e de todos os homens< 0oderiaaparentemente triunar um humanismo limitado, echado aos valores doesp!rito e a "eus, onte do verdadeiro humanismo. = homem pode organizar aterra sem "eus, mas >sem "eus s? a pode organizar contra o homem.

    @umanismo e-clusivo humanismo desumano> 2@. de Lubac A. 3., Le Brame del5humanisme athe, 8C ed., 0aris, Apes, 67DE, p.6F:. No h), portanto,verdadeiro humanismo, seno o aberto ao +bsoluto, reconhecendo umavocao que e-prime a idia e-ata do que a vida humana. = homem, longede ser a norma Gltima dos valores, s? se pode realizar a si mesmo,ultrapassando#se. Aegundo a rase, to e-ata de 0ascal' >= homem ultrapassainfnitamente o homem> 20enses, ed. Brunschviecg, n. D8D. *. 4. Hundeil,L5homme passe l5homme, Le *aire, $ditions du Lien,67DD:8.

    + constituio do ser humano composto de corpo e alma. = homem torna#se realmente ele mesmo, quando corpo e alma se encontram em !ntimaunidadeI o desafo do eros pode considerar#se verdadeiramente superado,quando se consegue esta unifcao. Ae o homem aspira a ser somenteesp!rito e quer re%eitar a carne como uma herana apenas animalesca, entoesp!rito e corpo perdem a sua dignidade. $ se ele, por outro lado, renega oesp!rito e consequentemente considera a matria, o corpo, como realidadee-clusiva, perde igualmente a sua grandeza. = epicurista Jassendi,grace%ando, cumprimentava "escartes com a saudao' K +lma. $"escartes replicava dizendo' K *arne 2R. "escartes, M uvres, editado por .*ousin, vol. 6/, 0aris 6O/D, pp. 7Ess:. 4as, nem o esp!rito ama sozinho, nem ocorpo' o homem, a pessoa, que ama como criatura unit)ria, de que azem

    parte o corpo e a alma. Aomente quando ambos se undem verdadeiramentenuma unidade, que o homem se torna plenamente ele pr?prio. A? destemodo que o amor P o eros P pode amadurecer at Q sua verdadeiragrandezaD.

    ). *oment(rios do +O,*A-sobre a pessoa hmana

    A criao do ser humano nitidamente distinta da criao dos outrosseres vivos. 6 ser humano "essoa, isto , ele "ode, "ela vontade e "elainteli(&ncia, decidir-se "elo amor ou contra ele.

    6 ser humano no al(o, mas al(um. Assim como di*emos !ue Deus "essoal, di*emos o mesmo do ser humano. 2m ser humano lo(ra "ensar"ara alm do seu hori*onte imediato e estimar toda a am"litude do serBele at conse(ue, a uma distncia cr)tica, conhecer-se a si "r"rio etra$alhar em si mesmoC en!uanto "essoa, ele "ode "erce$er os outros,com"reend&-los na sua di(nidade e am=-los. Entre todas as criaturas

    34dem, L;.47E/#6 MV4, "eus *aritas est, 5Ii$reria Editice Vaticana, ;NNK:, K.5O62'A#, *atecismo %ovem da gre%a *at?lica, 5Faulus, Iis$oa, ;N11:, KJ, KP,J;,J9.

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    vis)veis a"enas o ser humano ca"a* de conhecer e amar o seu 'riador.6 ser humano est= orientado a viver em ami*ade com Ele.

    6s seres humanos so cor"orais e es"irituais. 6 es")rito do ser humano mais !ue uma funo do cor"o eno se com"reende a "artir dacom"osio material do ser humano. A ra*o di*-nos !ue tem de haver

    um "rinc)"io es"iritual !ue estea unido ao cor"o, em$ora no lhe seaid&ntico, e !ue desi(namos "or QalmaR. Em$ora a alma no se "ossaQcom"rovarR "ela ci&ncia natural, o ser humano no se conse(ueentender en!uanto ente es"iritual sem a admisso deste "rinc)"ioes"iritual, !ue excede a matria.

    A alma de uma "essoa no "ode ser "roduto de um desenvolvimentoevolutivo da matria nem o resultado de uma fuso (entica do "ai e dame. Ao ser humano 5"essoa nica e es"iritual: Deus d= uma almaimortal, ainda !ue ele, "ela morte, "erca o seu cor"o, "ara o reencontrar

    na ressurreio. Di*er Q#enho uma almaR si(nica armarB QDeus crio-meno a"enas como um ente, mas como "essoa, e chamou-me a umarelao com Ele !ue nunca mais terminaR.

    . As dimens/es da 0ormao valores e atitdes2

    H'ada um de ns chamado "or Deus a fa*er "arte da sociedade salesianarece$e dEle dons "essoais e, res"ondendo elmente, encontra o caminho dasua "lena reali*ao em 'ristoH

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    For outro lado, a formao "ermanente e dinmica. As dimens0es de !ue setrata e os elementos !ue as constituem no devem considerar-se de formaest=tica, como se !uase fossem condi0es !ue se cum"rem ou metas !ue sealcanam de uma ve* "ara sem"re. Devem ser vistos no dinamismo e se(undoo desenvolvimento de cada "essoa, na "ers"ectiva de uma res"ostacontinuada, estimulada e re!uerida "ela evoluo de cada um, "elas

    exi(&ncias da situao, e "elas circunstncias !ue marcam a vida.

    a tica do carisma salesiano !ue constitui o "onto de s)ntese e a "ers"ectiva"eculiar de onde so vistas as dimens0es. E a "artir dela !ue nelas seevidenciam conota0es e as"etos es"ec)cos.

    A verdadeira relao do homem com DeusP

    Senhor Deus, Vs criastes o homeme fundastes maravilhosamente a sua nature*a.

    uisestes !ue ele vivesse no meio das o$ras da vossa sa$edoria,!ue desenvolvesse a) as suas foras em encontro sem"re renovados com elase !ue se tronasse senhor da sua "r"ria li$erdade.

    +as as rela0es com as coisas deste mundodevem "re"arar o encontro convosco.

    Vs sois a!uele !ue CSois "ara cada um de ns o 6utro su"remo,o nico !ue "lenamente nos satisfa*.

    Estamos orientados "ara Vs, e em Vs somente!ue se reali*a o nosso ser se(undo a vossa vontade.

    Sois a verdade !ue d= a sua cauo a toda verdade nita.Sois a santidade !ue torna intan()vel tudo o !ue $om.

    Sois o corao !ue ns "rocuramosB Q"ara Vs nos criastese o nosso corao anda in!uieto at "oder descansar em VsR.

    /a estima !ue me tendes, meu Deus, se funda a minha di(nidade.

    na vossa honra !ue re"ousa a minha honra.

    Se Vos a$andonar, sou como o homem de !uem fala o vosso a"stoloBQ6lho o es"elho e viu o seu rostoC de"ois "artiu e es!ueceu o !ue eraR.

    Sois o nico es"elho santo onde co se(uro do meu eterno rostoe consciente da minha res"onsa$ilidade.

    uando me afasto de Vs, fuo de mim mesmoe os "oderes deste mundo !ue me deveriam servirexercem so$re mim o seu dom)nio.

    82A3D4/4, 3omano o". 'it., 9J.6

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