a dimensÃo afetiva no processo de ensino aprendizagem…siaibib01.univali.br/pdf/carlos alberto...

88
CARLOS ALBERTO HARTWIG A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM: O OLHAR DO ACADÊMICO DE DIREITO ITAJAÍ (SC) 2012

Upload: doankhanh

Post on 08-Nov-2018

212 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

CARLOS ALBERTO HARTWIG

A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO

APRENDIZAGEM: O OLHAR DO ACADÊMICO DE DIREITO

ITAJAÍ (SC)

2012

Page 2: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

UNIVALI

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação, Extensão e Cultura - ProPPEC

Programa de Pós-Graduação em Educação – PPGE

Curso de Mestrado Acadêmico

CARLOS ALBERTO HARTWIG

A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO

APRENDIZAGEM: O OLHAR DO ACADÊMICO DE DIREITO

Dissertação apresentada ao colegiado do PPGE

como requisito à obtenção do Grau de Mestre

em Educação – área de concentração:

Educação – Linha de Pesquisa: Práticas

Docentes e Formação profissional – Grupo de

Pesquisa – Educação e Trabalho.

Orientadora: Profª. Dra. Tânia Regina Raitz.

ITAJAÍ (SC)

2012

Page 3: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

FICHA CATALOGRÁFICA

H259d

Hartwig, Carlos Alberto, 1967-

A dimensão afetiva no processo de ensino aprendizagem

[manuscrito] : o olhar do acadêmico de direito / Carlos Alberto

Hartwig. – 2012.

87 f. : il. Color. Cópia de computador (Printout(s)).

Dissertação (mestrado) – Universidade do Vale do Itajaí,

Programa de Mestrado Acadêmico em Educação, 2012.

“Orientadora: Profª. Drª. Tânia Regina Raitz ”.

Bibliografia: f. 82-85.

1. Professores - Formação. 2. Professores e alunos. 3. Ensino. 4.

Aprendizagem I. Universidade Luterana do Brasil. II. Fontanella,

Vânia. III. Título.

CDU: 378

Claudia Bittencourt Berlim – CRB 14/964

Page 4: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

2

UNIVERSIDADE DO VALE DO

ITAJAÍ

Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação, Extensão e Cultura - ProPPEC

Programa de Pós - Graduação Stricto Sensu em Educação – PPGE

CERTIFICADO DE APROVAÇÃO

CARLOS ALBERTO HARTWIG

A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO

APRENDIZAGEM: O OLHAR DO ACADÊMICO DE DIREITO

Dissertação avaliada e aprovada pela comissão

Examinadora e referida pelo colegiado do PPGE

como requisito à obtenção do grau de Mestre em

Educação.

Itajaí/SC, 15 de agosto de 2012.

Membros da comissão:

Orientadora:

Profª Dra. Tânia Regina Raitz

Membro Externo:

Profª Dra. Diva Spezia Ranghetti

Membro representante do colegiado:

Profª Dr. Antonio Fernando Silveira Guerra

Page 5: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

4

DEDICATÓRIA

Dedico esta obra primeiramente a DEUS (por Ele

sempre me dar forças e garra para prosseguir o

desafio) e as pessoas mais especiais que fazem parte

da minha vida: a minha esposa Debora, por estar

sempre ao meu lado, me incentivando e não

medindo esforços para que eu continuasse a

caminhada. Aos meus filhos Amanda, Fernanda,

Carlos Alberto e Leonardo, por compreenderem a

minha ausência em determinados momentos de suas

vidas, mas sempre com olhares de aprovação e

incentivo a prosseguir na luta.

Page 6: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

5

AGRADECIMENTOS

Agradeço a minha mãe Geny e a minha tia Nina pelo

carinho e por terem me apoiado nos momentos mais

difíceis para que eu pudesse chegar até aqui. A

minha orientadora pelo seu empenho e dedicação. A

professora Diva e ao professor Guerra por terem

aceitado com alegria em fazer parte da banca

examinadora. Aos meus coordenadores Paulo e

Maikon por terem acreditado em mim. Aos colegas

do grupo de pesquisa e aos colegas das aulas por

terem contribuído para o meu desenvolvimento e

crescimento tanto pessoal quanto profissional. Ao

meu sócio Dixon, por ter segurado a barra sozinho

nos momentos em que eu não podia estar no

escritório. As secretárias Núbia e Mariana, por

sempre terem me atendido prontamente todas às

vezes que necessitei de auxílio.

Page 7: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

6

REFLEXÃO

Para ir da oportunidade ao êxito é preciso enfrentar

os medos de mudança, romper com o mesmo e ter a

capacidade de se antecipar.

(Mário Sérgio Cortella, 2011, p. 44)

Page 8: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

7

RESUMO

Este estudo se insere na linha de Pesquisa “Práticas Docentes e Formação Profissional” e faz

parte do grupo Educação e Trabalho do Programa de Pós-Graduação em Educação da

Universidade do Vale do Itajaí (PPGE). O objetivo dessa dissertação foi verificar a dimensão

afetiva no processo de ensino/aprendizagem através do olhar do acadêmico de direito. Nos

eixos de pesquisa verifica-se como a afetividade na relação entre professor/aluno pode

contribuir no processo cognitivo, e como a afetividade pode influenciar no trabalho docente

como contribuição na formação profissional do aluno, bem como a influência desta no

desenvolvimento dos valores fundamentais da profissão, no exercício da profissão do

advogado, na mudança comportamental do discente e que aspectos devem ser mudados no

curso. Além de trabalhar a importância da dimensão afetiva na interação professor e aluno no

nível universitário, aborda-se também o processo de ensino/aprendizagem. Destaca-se que

esta dissertação se constitui num trabalho social, pois tem como escopo reconstituir novas

práticas políticas pedagógicas de grande valia para que os educadores possam construir um

caminho de melhor compreensão e de como o aprendizado pode ser obtido de uma forma

mais prazerosa e eficaz, sem se esquecer de que não estamos formando só profissionais para

atuarem no mercado de trabalho exigido pela sociedade, mas também profissionais que

possuam um olhar mais crítico e com capacidade de atuação mais humanística na profissão da

advocacia. Para a estruturação desta dissertação utiliza-se a metodologia do tipo qualitativa,

por entender ser esta metodologia a mais adequada para obtenção dos resultados, o uso de

questionários semiestruturados com questões abertas e fechadas foram aplicados em 70 alunos

do curso de direito de um Centro Universitário do município de Jaraguá do Sul. Piaget,

Vigotski e Wallon, foram os autores utilizados na fundamentação teórica e destacam que a

dimensão afetiva influencia no processo de ensino aprendizagem. Os resultados obtidos na

pesquisa apontam a importância da dimensão afetiva na relação docente/discente, bem como

no processo de ensino aprendizagem. Nos depoimentos dos acadêmicos é possível perceber

que além de quererem mudar a relação afetiva entre docente/discente, gostariam de mudar

também a interação entre professor/aluno, aluno/aluno, fases/fases e curso de direito com

outros cursos. Neste sentido, a maior preocupação será o diferencial e a excelência que cada

Instituição Educacional buscará para melhorar a qualidade de ensino, bem como a formação

de seus docentes no curso de direito.

Palavras-chave: Afetividade, Dimensão Afetiva, Formação Docente em Direito,

Relação Professor/Aluno.

Page 9: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

8

ABSTRACT

This study is part of the line of research “Teaching Practice and Professional Training” and

part of the research group Education and Work of the Postgraduate Program in Education of

the University of Vale do Itajaí (PPGE). The objective of this dissertation was to determine

the affective dimension in the process of teaching/learning from the perspective of law

students. The study seeks to determine how affectivity in the relationship between teacher and

student can contribute to the cognitive process, and how affectivity can influence the teacher's

work, as a contribution to the professional training of the student, as well as in the

development of core values of the profession, the exercise of the legal profession, the

behavioral change of the student, and aspects of the course that should be changed. Besides

analyzing the importance of the affective dimension in the teacher/student interaction at

university level, it also addresses the teaching/learning process. This dissertation consists of a

social work, in that its scope is to rebuild new pedagogical practices of great value that will

enable educators to build a route to a better understanding of how learning can be obtained in

a more pleasurable and effective way, without forgetting that we are not only training

professionals for the job market required by society, but also professionals with a more

critical outlook, and with the capacity for more humanistic action in the legal profession. A

qualitative methodology was used in the structuring of this dissertation, as it is believed that

this methodology is the most appropriate one for obtaining results. Semi-structured

questionnaires with open and closed questions were applied to seventy students of the Law

program of a University Center in the municipality of Jaraguá do Sul. The authors used for

theoretical background were Piaget, Vigotski and Wallon, who highlight that the affective

dimension influences the teaching-learning process. The results obtained in the research point

to the importance of the affective dimension in the teacher/student relationship, as well as in

the teaching/learning process. In the student’s reports, it is seen that besides having a desire to

change the affective relationship between teacher and student, they would also like to change

the teacher/student, student/student, phase/phase and law course/other courses interactions.

Thus, the main concern is the differential and excellence that each Educational Institution will

seek, to improve its teaching quality, as well as the training of their teachers in the law course.

Keywords: Affectivity, Affective Dimension, Teaching Training in Law,

Teacher/Student Relationship.

Page 10: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

9

LISTA DE APÊNDICES

APÊNDICE A Questionário.....................................................................................................81

APÊNDICE B Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.................................................85

APÊNDICE C Autorização......................................................................................................86

Page 11: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

10

LISTA DE GRÁFICO

Gráfico 1.......... ..........................................................................................................................87

Page 12: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

11

LISTA DE TABELA

Tabela 1........... .........................................................................................................................87

Page 13: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

12

LISTA DE QUADROS

Quadro 1.......... ..........................................................................................................................55

Quadro 2......... ..........................................................................................................................65

Page 14: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

13

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ANPEd Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação

CFE Conselho Federal de Educação

CRFB/88 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988

FSG Faculdade da Serra Gaúcha

HEM Habilitação Específica para o Magistério

IES Instituições de Educação Superior

INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira

LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei nº. 9.394/96

MEC Ministério da Educação

PABAEE Programa de Assistência Brasileiro-Americana ao Ensino Elementar

RADEP Rede Acadêmica de Desenvolvimento Profissional Docente

SINAES Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior

USAID United States Agency for International Development

Page 15: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

14

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.......................................................................................................................15

1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................ 26

1.1 Afetividade e emoção .................................................................................................. 26

1.2 A Afetividade na Educação no olhar de: Piaget, Vigotski e Wallon no século XXI .. 29

1.3 A importância da Afetividade na Prática Docente ...................................................... 33

1.4 As Mudanças na Prática Docente ................................................................................ 42

2 ITINERÁRIOS DA PESQUISA ... ............................................................................50

2.1 A abordagem qualitativa..............................................................................................50

2.2 Os sujeitos da Pesquisa................................................................................................52

2.3 Os instrumentos de coleta de dados.............................................................................52

2.4 Tratamento dos dados...................................................................................................53

3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO

PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM .................................................................. 55

3.1 A afetividade no desempenho cognitivo e na percepção dos valores éticos e morais.. 56

3.2 Concepção de afetividade.............................................................................................58

3.3 A influência da afetividade no trabalho docente como contribuição na formação

profissional do aluno.....................................................................................................60

3.4 A importância da afetividade no processo cognitivo e no desenvolvimento dos valores

fundamentais da profissão.............................................................................................62

3.5 A influência da afetividade na relação professor/aluno para o exercício da

profissão........................................................................................................................63

3.6 Aspectos que influenciaram na mudança do comportamento ou na escolha da

profissão........................................................................................................................64

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 69

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 74

APÊNDICES .............................................................................................................. 80

Page 16: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

15

INTRODUÇÃO

A afetividade se constitui em uma importante mediação educacional que acaba por

influenciar na relação de ensino aprendizagem (relação professor-aluno). Neste sentido,

Wadswortth (1995, p. 144) se manifesta:

Piaget considerou o desenvolvimento intelectual como um processo que

compreende um aspecto cognitivo e um aspecto afetivo. Durante os últimos

trinta anos, psicólogos e educadores ‘voltarão a atenção’ mais para o papel

dos conceitos cognitivos do que para os conceitos afetivos da sua teoria.

Explica ainda, que pelo menos três razões são aceitáveis e que podem servir de

amostra para explicar por que isto aconteceu. Dentre elas, destaca-se o fato de que o próprio

Piaget, do ponto de vista quantitativo, abordou os aspectos de conhecimento do

desenvolvimento intelectual, reconhecendo assim, o aspecto afetivo como peça chave,

contudo, centrou-se menos sobre este tópico dando mais ênfase ao aspecto cognitivo.

Interroga-se, porque Piaget, em algum momento, tenha pretendido fazer desta diferença uma

afirmação de valor. Discute-se que é bem provável que o aspecto cognitivo tenha

proporcionado para ele os maiores desequilíbrios e, por isso, acabou dando menor ênfase a

afetividade.

Observa-se que nos cursos de formação continuada dos docentes, as universidades

vêm discutindo como a afetividade influencia no desempenho do aluno em sala de aula. Por

esse motivo é relevante refletir sobre a afetividade e como esta pode auxiliar no trabalho

docente, bem como contribuir na formação da identidade profissional do aluno no curso de

direito. Nesta perspectiva, contemplam-se também os valores éticos e morais. Nesse prisma

Ranghetti (1999, p. 8) escreve:

Dialogando com as teorias, ficou transparente que é nas relações e interações

do cotidiano da sala de aula que a afetividade necessita estar imbricada para

que o processo de produção e recriação do conhecimento aconteça de forma

prazerosa e significativa.

Sendo assim, a aprendizagem deve abranger os aspectos cognitivos e os afetivos, para

obtenção de significados pessoais, com isso a aprendizagem acaba por envolver de forma

pessoal os professores e alunos. Em decorrência disso, nota-se que as Instituições

Educacionais não podem ficar alheias às necessidades de reestruturação acadêmica, ou seja,

Page 17: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

16

tem-se uma grande necessidade das universidades saírem das ostras e romperem com os

grilhões do passado e coligar-se com a sociedade, sociedade esta que se encontra em

constante mudança. Assim, conseguir-se-á discutir com seu corpo docente as mudanças

curriculares e compatíveis com os princípios educacionais. Nesse sentido, Saltini (1999, p.

50) manifesta-se:

Ao falarmos da inteligência e da aprendizagem precisamos nos referir

também, e sempre à emoção, às ligações e inter-relações afetivas. Seria

impossível entender o desenvolvimento da inteligência sem um

desenvolvimento integrado e convergente cada vez maior de nossos

interesses e amores por aquilo que olhamos, tocamos e que nos alimenta a

curiosidade.

O que o autor quer dizer com isso? Que a afetividade deve ser utilizada cada vez com

mais frequência, pois a aprendizagem e o conhecimento se convergem para um ponto único e

precioso “o aluno”, estes serão possíveis por meio da dedicação e empenho do professor.

Masetto (2003, p. 48) não destoa desse entendimento ao abordar em seu livro o seguinte:

A interação professor-aluno, tanto individualmente quanto com o grupo, se

destaca como fundamental no processo de aprendizagem e se manifesta na

atitude de mediação pedagógica por parte do professor, na atitude de

parceria e co-responsabilidade pelo processo da aprendizagem entre aluno e

professor e na aceitação de uma relação entre adultos assumida por professor

e aluno.

Alguns professores são indiferentes ou simplesmente ignoram a afetividade no

processo do ensino/aprendizagem; acredita-se que por um lado, é pelo fato de não se

encontrarem preparados para agirem desta forma, ou por outro, por se sentirem ameaçados,

acreditando que poderão perder o controle da turma e a autoridade frente à classe, ou

simplesmente estão em sala de aula para realização de certas ambições.

Justifica-se o parágrafo anterior, no discurso de Marchand (1985, p. 41) quando este

se manifesta da seguinte forma:

[...], o professor procura ignorar completamente o interesse e a vida íntima

da criança. O aluno não se justifica, mais ou menos conscientemente, a não

ser que se coloque a seu serviço. A coletividade escolar não tem outra

finalidade senão a de lhe proporcionar satisfações pessoais na busca do

proveito, de uma boa reputação, ou da realização de certas ambições

(grifo nosso).

Page 18: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

17

Vale ressaltar que na questão da afetividade temos dois importantes princípios que

norteiam este ato, um deles pode-se encontrar no Livro de Marcos capítulo 12 versículo 36

que diz: “E que amá-lo de todo o coração, e de todo o entendimento, e de toda a alma, e de

todas as forças, e amar o próximo como a si mesmo, [...]”, o outro princípio está prescrito na

Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, mais precisamente em seu art. 3º,

inciso I quando destaca: “construir uma sociedade livre, justa e solidária;”.

Diante disso, no primeiro capítulo, que trata da Fundamentação Teórica, abordou-se

num primeiro momento a diferença entre a afetividade e a emoção para que pudéssemos ter

uma melhor compreensão do que é realmente a afetividade ou dimensão afetiva e como está

imbricada na relação docente/discente, bem como no processo ensino aprendizagem.

Desenvolveu-se ainda sobre a afetividade na educação por meio de autores como: Piaget,

Vigotski e Wallon no século XXI, com o objetivo de demonstrar que há muito tempo já vêm

se tratando do tema em questão. Trouxemos a especificidade destas teorias e destacamos

também onde elas se convergem no sentido de se verificar a importância da dimensão afetiva

na interação entre professor e aluno, bem como no processo cognitivo.

Neste norte não destoa Marchand (1985, p. 42) quando através de três perspectivas

diferentes discorre sobre cada tipo existencial de professor, qual seja:

[...], a terceira perspectiva consistirá em conhecer a vida da criança para

respeitá-la e enriquecê-la, quer estabelecendo uma troca afetiva e intelectual

com ela, quer enriquecendo-a, com tudo o que o professor lhe traz,

generosamente, ao praticar a doação de si próprio sem exigir retorno. Este

será o “par educativo” caracterizado pela troca e a renúncia.

Através dos dois princípios acima mencionados, e a última perspectiva narrada por

Marchand, é possível verificar a importância do comprometimento que se deve ter com o

próximo (aluno). Sabe-se que os professores sempre foram e serão referenciais positivos ou

negativos. A afetividade entre professor/aluno pode contribuir na fase cognitiva, bem como

pode ser um facilitador no quesito do aprendizado.

Neste sentido, a afetividade compõe uma temática fundamental, pois se tenta resgatar

valores que outrora eram importantes. Evidentemente que encontramos problemas nas buscas

das respostas, haja vista estarmos tratando de sentimentos humanos, e nem sempre as

respostas serão sinceras, pois é intrínseco do ser humano não passar algo que seja negativo à

sua imagem.

Page 19: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

18

Contudo, através de questionários aplicados em um curso de direito no município de

Jaraguá do Sul, procuramos buscar subsídios para demonstrar a importância da afetividade na

relação docente/discente através das respostas dos alunos.

Esta pesquisa se justifica em decorrência da observação que fiz frente aos acadêmicos

do curso de direito de um Centro Universitário, do município de Jaraguá do Sul, em Santa

Catarina. Por ser professor da graduação e da pós-graduação, este é um campo de pesquisa

muito rico, e foi nesse campo que após uma apresentação constatei que a relação professor

aluno se distanciava em alguns momentos em sala de aula.

Percebi que cada aluno traz consigo uma bagagem pessoal e acadêmica que são

dificuldades oriundas dos ensinos anteriores, por este motivo passei a ter curiosidade em

descobrir o porquê destes problemas. Sendo assim me interessei em fazer a pesquisa no curso

de direito para verificar e compreender essas dificuldades. Diante dos fatos observa-se que

esses problemas pessoais afetam diretamente o processo cognitivo, estes poderiam ser

resolvidos em sala de aula através de uma atenção mais individualizada e atenciosa por parte

do professor. Isso resultaria em uma melhor humanização no ensino educacional,

proporcionando maiores níveis de aprovação, desta forma podemos relacionar que a

afetividade na relação professor/aluno ganha mais qualidade quando o professor se mostra

mais interessado nas dificuldades que estes alunos apresentam, seja ela de nível pessoal ou

acadêmico.

Constatei também certa aflição por parte dos alunos em determinadas matérias.

Instigando-os de forma profissional, aos poucos fui descobrindo que não havia entre os alunos

e estes professores uma dimensão afetiva na relação entre professor e aluno, por este motivo o

processo de ensino aprendizagem restava prejudicado.

Por esse motivo, houve a necessidade dessa investigação a qual acredito possa

contribuir para se discutir sobre a importância da dimensão afetiva no processo de ensino

aprendizagem do aluno. A relevância do tema proposto é um grande desafio. Reconstituir

novas práticas político pedagógicas é de grande valia para que os educadores possam

construir um caminho de melhor compreensão e de como o aprendizado pode ser obtido de

uma forma mais prazerosa e eficaz. Porém, sabe-se que toda abertura de uma trilha requer

esforço e abnegação de coisas que se consideram como verdadeiras e imutáveis. Por esse

motivo, justifica-se a relevância teórica, científica e social deste estudo.

Ao fazer a revisão da literatura, constatei nas dissertações e teses encontradas que a

Page 20: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

19

questão da dimensão afetiva na relação docente/discente se faz necessária. Desta feita,

compactuo com as pesquisas dos autores a seguir quando estes destacam que a falta da

dimensão afetiva na relação professor/aluno prejudica não só o processo de ensino

aprendizagem, mas também a vida profissional do acadêmico, pois a relação humana deste

restará prejudicada.

No estudo de caso de Finck (2003) sob o título: “Competência e habilidades

relevantes no corpo docente”, mostra que as reformas das estruturas e de programas são

legítimas, mas não dão fruto, a não ser que sejam substituídas por novas práticas. As reformas

podem ser do tipo que tangem às estruturas escolares no sentido restrito: habilitações,

organização do curso, ou as que transformam currículos. Hoje em dia é preciso atingir as

práticas, a relação pedagógica, o contrato didático, as culturas profissionais, a colaboração

entre os professores, pois são as práticas profissionais e o trabalho dos professores que devem

se transformar. Os valores, as atitudes, as representações, os conhecimentos, as competências,

a identidade e os projetos são, portanto, decisivos no trabalho docente.

Neste sentido, o estudo de Finck contribui e muito com minha pesquisa, pois ele

reafirma a importância da afetividade na relação professor/aluno.

De outra sorte, a pesquisa “A necessidade da prática da criatividade e da melhoria

dos relacionamentos interpessoais no processo ensino-aprendizagem” dissertação de Vidal

(2000), demonstra em seus resultados de pesquisa que os alunos clamam por aulas dinâmicas

e criativas, também por um maior relacionamento interpessoal com os seus professores. No

entanto, esses mesmos alunos demonstram falta de preparo para um trabalho voltado para a

reflexão, pesquisa, pensamento crítico e se conservam ainda muito presos à reprodução e

memorização de conhecimentos e noções já estruturados.

Por outro lado, alguns professores resistem à ideia de se adaptarem aos novos tempos,

receosos de ao se afastarem da sua forma habitual de trabalho podem perder o controle da

disciplina na turma e a autoridade frente à classe. Outro fato bastante interessante é que os

próprios professores que apontaram o tipo de aluno criativo como aquele que mais chances

possuem de vencer na vida futura não foi citado, de um modo geral, como aquele que

gostariam de ter em suas classes. Parece que ambos, professores e alunos, não têm um

conhecimento perfeito do que seja trabalhar com mais criatividade e competência

interpessoal, o que deixa clara a necessidade de uma formação continuada efetiva nesse

sentido, tanto para o corpo docente como para o discente.

Page 21: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

20

Os comentários feitos no estudo de caso abordado por Vidal (2000) nos leva a refletir

sobre a necessidade e a importância de pesquisas que tenham como preocupação aulas mais

criativas e um melhor relacionamento entre professores e alunos influenciados pela dimensão

afetiva.

Já na dissertação de Rodrigues (2006) “A representação do docente sobre a formação

do enfermeiro” teve como discussão dois grandes temas: o primeiro discorre sobre a

representação do perfil do enfermeiro formado pela instituição que possibilitou a composição

de três categorias: enfermeiro crítico reflexivo, enfermeiro humanista, enfermeiro autônomo;

e o segundo tema aborda a representação do docente sobre a sua contribuição para a formação

do enfermeiro, que por sua vez permitiu a identificação das categorias: da capacitação docente

e a da inserção política e profissional do docente.

Neste sentido, constatou-se que existe uma semelhança das características nos

discursos dos sujeitos. Entendeu-se que há clareza e compreensão dos docentes em relação ao

que preconiza a legislação do ensino de enfermagem e na pesquisa foi considerada estas falas

que caracterizam “o discurso do final do século XX”. Verifica-se que há consenso nas

representações dos docentes quanto à formação de enfermeiros autônomos, com capacidade

de buscar o conhecimento e transformar a realidade na qual estão inseridos. A identificação

do papel dos docentes na formação é marcada pela sua inserção nas instituições de ensino

superior, sua competência política e o modelo de atuação na prática a que estão ligados. A

aproximação deste estudo com minha dissertação está na identificação do papel do professor e

de como este pode influenciar na formação acadêmica do egresso, mais precisamente na

profissão do advogado.

Quando Ristow (2007) em sua dissertação sobre: “A formação humanística do médico

na sociedade do século XXI: uma análise curricular” tem como pretensão verificar as

modificações do pensamento humano, relacionando-o à formação médica e à sociedade de

forma geral, bem como refletir sobre a humanística na formação médica atual, como

facilitadora das relações humanas mediadas pela comunicação. Ainda, a busca pela análise

documental aspectos formais que expressassem a presença de conteúdos humanísticos na

formação médica, do Curso de Medicina, da Universidade Federal do Paraná.

Tanto a dissertação de Ristow (2007) como a minha pesquisa, trazem à tona a

importância da afetividade na relação professor/aluno, bem como no processo de

ensino/aprendizagem, destacando-se que no final do curso não estaremos formando só

Page 22: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

21

profissionais para atuarem no mercado de trabalho exigido pela sociedade, mas também

profissionais que possuam um olhar mais crítico e com capacidade de atuação mais

humanística em sua profissão.

Observamos na dissertação de Schneck (2008) intitulada: “Afetividade e motivação na

aprendizagem de língua estrangeira: inter-relações possíveis no caso dos estudantes de russo

na USP” traz como objetivo entender como se apresentam e se relacionam os estados afetivos

e motivacionais dos alunos ingressos e egressos do nível de graduação do curso de língua

russa da USP. Esta investigação contribui para destacar o quão é significativa a afetividade

não só na formação acadêmica, mas também profissional e social dos alunos, pois se tivermos

mais pessoas comprometidas com uma visão humanística, com certeza viveremos em um

mundo melhor.

Outra dissertação importante para refletirmos sobre a dimensão afetiva é de Santos

(2002) com o título: “A participação ativa e efetiva do aluno no processo ensino

aprendizagem como condição fundamental para a construção do conhecimento” onde o autor

deixa claro que a participação ativa e efetiva do aluno no processo ensino-aprendizagem só

acontece se for possível sua decisão a níveis de planejamento, de execução e de avaliação.

Desta forma, as dissertações acima mencionadas, bem como a dissertação de Castro

(1980) com o título: “Afetividade no ensino: um enfoque humanista” deixa claro que há uma

grande preocupação com a educação humanista. Castro (1980) procurou aprofundar um dos

aspectos da educação: a atuação do professor na integração da área afetiva com a cognitiva

em sala de aula por meio de humanização da aprendizagem. O referido estudo foi baseado nas

ideias de dois educadores humanistas: Lyon e Rogers; o primeiro com a teoria do "Aprender a

Sentir - Sentir para Aprender" e o segundo com a "Teoria da Facilitação da Aprendizagem".

Através da testagem dos pressupostos teóricos de Lyon e Rogers, objetivou-se contribuir para

a solução do problema da desumanização em sala de aula, procurando-se desta forma

despertar nos futuros professores (sujeitos da experiência) uma atitude humanizante. Estes

estudos acima referenciados mostram os avanços de algumas investigações que salientam a

dimensão afetiva na relação do processo de ensino aprendizagem, constituindo-se em estudos

que contribuem para definirmos melhor o foco desta dissertação.

Constatamos que a dissertação de Guimarães (2008) com o título: “A afetividade na

sala de aula: as atividades de ensino e suas implicações na relação sujeito-objeto”, teve

como objetivo aprofundar os estudos realizados pela autora em nível de graduação (Iniciação

Page 23: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

22

Científica), acerca da questão da afetividade no contexto escolar, focalizando as atividades de

ensino desenvolvidas pelo professor em uma sala de aula do Ensino Médio, mediante as

relações que se estabelecem entre sujeito (aluno) e objeto de conhecimento (conteúdos

escolares). O referencial teórico adotado baseou-se nos autores Vigotski e Wallon que

enfatizam os determinantes culturais, históricos e sociais da condição humana e consideram

que, no homem, as dimensões afetiva e cognitiva são inseparáveis.

Através deste estudo de caso, a autora observou aspectos das atividades -

planejamento, escolha do ponto de partida no processo de ensino-aprendizagem, seleção de

materiais, desenvolvimento (instruções, explicações, esclarecimento de dúvidas, feed-back),

estabelecimento de relação entre os conteúdos e o cotidiano dos alunos, respeito ao ritmo dos

alunos e avaliação do processo de ensino e aprendizagem - que, permeados pela afetividade,

contribuíram para que os alunos se apropriassem efetivamente dos conteúdos, bem como os

impactos positivos da mediação pedagógica e das atividades de ensino oferecidas aos alunos

para o estabelecimento de uma relação afetivamente positiva entre eles e o objeto de

conhecimento em questão. Este estudo se constituiu num importante referencial para as

reflexões desta pesquisa.

Medeiros (2008) traz uma investigação sobre: “As manifestações da afetividade na

prática educativa do pedagogo em formação”, em que investigou como a afetividade se

manifesta na prática educativa dos alunos do Curso de Pedagogia que atuam como professores

na sala de aula. Utilizou-se como fundamentação na pesquisa a teoria de Henri Wallon, pois

este considera a afetividade como sendo de fundamental importância, tanto na construção da

pessoa como do seu conhecimento, estaria intrínseca a relação entre os domínios afetivos e

cognitivos. Evidenciou-se que os alunos do Curso de Pedagogia consideram importante tratar

das questões da afetividade na formação teórico prática do professor, contudo existe a

dificuldade de reconhecimento desta dimensão na prática educativa.

A valorização do conhecimento, em relação às demais dimensões que envolvem o

processo ensino-aprendizagem, por vezes tem limitado a formação discente. Na tese de

doutorado de Oliveira (2005) intitulada: “Afetividade e Prática Pedagógica: uma proposta

desenvolvida em um curso de formação de professores de Educação Física” destaca em seu

escopo os estudos onde não raro encontram-se profissionais que restringem suas perspectivas

de contribuição ao processo educacional, ao desenvolvimento físico e motor. Especificamente

fundamentada nessa problemática – a falta de valorização da afetividade na prática docente –

Page 24: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

23

que a autora se motivou a realizar o presente estudo. Mais uma vez, utilizou-se como

referencial no que concerne a importância da afetividade na constituição e desenvolvimento

do ser humano, a teoria de Henri Wallon.

Na tese de doutorado Siluk (2006) com o título: “Desenvolvimento profissional do

docente do ensino superior em uma rede acadêmica virtual”, a autora discorre sobre as

mudanças ocorridas na contemporaneidade, em que estas têm colocado como uma das

questões centrais no ensino superior o desenvolvimento do profissional docente. Os estudos

acerca desse tema direcionam para novos contextos de formação e prática pedagógica,

ancorados por ambientes virtuais de aprendizagem, por meio de um estudo de caso.

Decorrente das análises, a conclusão acerca do problema estudado permitiu apresentar a Rede

Acadêmica de Desenvolvimento Profissional Docente (RADEP) Virtual como uma

ferramenta potencializadora de desenvolvimento profissional docente, a partir das categorias e

indicadores elencados e da aplicação do Programa de capacitação docente, de acordo com a

opinião dos docentes da Faculdade da Serra Gaúcha (FSG).

Nesta perspectiva fica evidenciado que a escola precisa desenvolver o germe da

participação, para que haja produção do conhecimento e para o desenvolvimento da

competência política do aluno enquanto cidadão. É fundamental à escola e aos/às

professores/as não só ensinar a participação e a democracia, mas ensinar pela participação e

pela democracia. Como podemos observar nas dissertações de mestrado e teses de doutorado,

independentemente do curso na graduação, constata-se uma grande preocupação nas questões

humanitárias, bem como a importância da dimensão afetiva na construção do processo

cognitivo do graduando e no desenvolvimento dos valores.

É neste norte que se justifica este estudo pelo fato da sociedade de uma forma geral

atribuir aos professores universitários uma responsabilidade essencial no ensino aprendizagem

dos alunos e de que forma este é influenciado em sua formação profissional. Entretanto, no

cotidiano da sala de aula observa-se uma realidade muito aquém daquela almejada pela

comunidade acadêmica. Nos dias atuais a realidade e particularidade de cada aluno são bem

diferentes dos alunos egressos. Com a acessibilidade facilitada nas faculdades, hoje se tem em

sala de aula os mais variados perfis psicológicos e níveis sociais.

De outra sorte que a presente dissertação toma proporções que têm repercussão do

contexto vivenciado no ensino superior em que o docente hoje deve e muito se preocupar com

a dimensão afetiva na relação professor/aluno dentro da sala de aula. A finalidade é buscar um

Page 25: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

24

caminho para uma nova didática, linguagens, espaços e tempos no processo cognitivo,

desenvolvendo assim a competência pedagógica do professor universitário. A perspectiva

pedagógica com afetividade deve estar inserida na trajetória pessoal e profissional do docente

do curso de direito, pois também se constitui num trabalho social. Este fator está cada vez

mais visível, uma vez que se nota o descompromisso de alguns docentes com a educação.

É partir desta revisita as pesquisas que formulamos a questão norteadora deste estudo:

Como se configura a dimensão afetiva no processo de ensino aprendizagem a partir do olhar

do acadêmico do Curso de Direito, de um Centro Universitário de Jaraguá do Sul? De que

forma esta dimensão poderá influenciar no processo cognitivo dos alunos? Como a dimensão

afetiva no trabalho docente poderá contribuir na formação profissional dos acadêmicos?

Diante do exposto e com base nas questões de pesquisa o objetivo geral trata-se de

analisar e compreender a dimensão afetiva do processo de ensino aprendizagem na percepção

dos alunos do Curso de Direito de um Centro Universitário de Jaraguá do Sul.

No que tange aos objetivos específicos, verificar-se-á se os professores do curso de

direito se utilizam ou não da afetividade em sala de aula a partir da percepção dos alunos, e

também se observará se a afetividade interfere no processo ensino aprendizagem no curso de

direito, e se através dela se consegue desenvolver sujeitos mais críticos, reflexivos e

analíticos.

Para poder responder aos questionamentos deve-se tentar conhecer as interações

afetivas entre mestres e alunos, para poderemos, assim, corrigi-las quando forem necessárias.

É por isso essa preocupação estudar os “pares educativos1” em sua vida concreta, com

objetivos mais remotos, quais sejam: uma possível classificação dos grandes tipos existenciais

de “pares educativos”, a apresentação de um “par educativo” ideal, e finalmente, uma

formação mais apropriada do futuro educador. Por esse motivo a importância de estudar a

dimensão afetiva para a construção de uma educação mais saudável e edificante.

Diante disso, no segundo capítulo se discutiu o percurso percorrido da pesquisa,

inicialmente sobre a abordagem qualitativa para demonstrar que a utilização desse

procedimento no desenvolvimento desta investigação foi o mais adequado para obtenção dos

resultados que se desejou alcançar, pois esta se caracteriza através da compreensão mais

minuciosa dos sentidos e características das situações exibidas pelos entrevistados. Na

1 Pares educativos, segundo Max Marchand (1985), são os pares formados pelos professores e alunos; em seu

livro “A afetividade do educador”, Marchand trabalha em sua pesquisa o método, os tipos, bem como os casos

dos pares educativos.

Page 26: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

25

sequência expõe-se sobre os sujeitos da pesquisa, seguido dos instrumentos de coleta de

dados, encerrando este capítulo com o tratamento dos dados.

Fechando a presente pesquisa com o terceiro e último capítulo, trabalhamos em sua

estrutura: “A dimensão afetiva na relação professor-aluno e no processo de ensino

aprendizagem”, tendo como finalidade da categorização a compreensão do olhar que os

acadêmicos do curso de direito possuem sobre a dimensão afetiva, a qual resulta em valores

éticos e morais no trabalho docente do referido curso.

Esta categorização tem como norte fornecer uma condensação da representação

simplificada dos dados “brutos” obtidos. Trabalhou-se nesse capítulo os seguintes eixos de

pesquisa: a) A afetividade no desempenho cognitivo e na percepção dos valores éticos e

morais; b) Concepção de afetividade; c) A influência da afetividade no trabalho docente como

contribuição na formação profissional do aluno; d) A importância da afetividade no processo

cognitivo e no desenvolvimento dos valores fundamentais da profissão; e) A influência da

afetividade na relação professor/aluno para o exercício da profissão; e f) Aspectos que

influenciaram na mudança do comportamento ou na escolha da profissão. Sendo que os

resultados obtidos nessa dissertação foram descritos de forma sintetizada nas considerações

finais.

Page 27: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

26

1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1.1 Afetividade e Emoção

Nas páginas seguintes, tentar-se-á mostrar as diferenças entre afetividade e emoção,

pois constata-se que alguns docentes são mais afetivos do que outros, cada um a sua maneira

de ser, mas é indubitavelmente incontestável que a dimensão afetiva é um facilitador no

processo de ensino/aprendizagem. Para que se possa entender melhor sobre a questão da

dimensão afetiva, faz-se necessário discorrer sobre a diferença entre afetividade e emoção.

Conforme explana Silva (2011) a afetividade em relação a emoção, ao sentimento e a paixão,

pode-se dizer que é abrangente estando sempre relacionada aos estados de bem-estar do

indivíduo. Assim, pode-se afirmar a existência de manifestações afetivas anteriores ao

aparecimento das emoções, dentre três aspectos da afetividade, as emoções são as que

exercem maior impacto corporal, possível de ser visualizado por quem observa.

Segundo Silva (2011), as emoções são manifestações de estados subjetivos, mas com

componentes orgânicos. Contrações musculares ou viscerais, por exemplo, são sentidas e

comunicadas através do choro. Ao defender o caráter biológico das emoções, destaca que

estas se originam na função tônica. Toda alteração emocional provoca flutuações de tônus

muscular. Corroboram nesse entendimento Silva e Schneider (2007) ao destacarem em seu

artigo que a afetividade é um tema que vem sendo muito debatido, tanto nos meios

educacionais quanto fora dele. Destacam que no meio educacional há uma convergência no

corpo docente no que tange as primícias da base fundante das principais teorias do

desenvolvimento sobre a importância da qualidade das primeiras relações afetivas do aluno.

Ressaltam ainda que a afetividade implica diretamente no desenvolvimento emocional e

afetivo, na socialização, nas interações humanas e, sobretudo, na aprendizagem, sendo esta

última objeto de nosso estudo.

Tardif (2002) reforça a veracidade das citações acima abordadas ao mencionar que os

professores não somente buscam a realização de objetivos, mas estes também atuam sobre um

objeto (o aluno), que são seres humanos individualizados e socializados ao mesmo tempo, e

isso ele chama de relações humanas. Vislumbra-se nos registros até aqui realizados que a

afetividade seria um mecanismo, uma ferramenta, um meio de se chegar ao processo do

Page 28: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

27

ensino-aprendizagem. Desta feita não há como se confundir com a emoção, pois esta é

posterior a relação afetiva.

Segundo Ranghetti (1999) as relações instituídas entre as pessoas faz com que elas

vivam a própria afetividade, se dispam por inteiro, isto é, se descubram, se enxerguem,

rasgando desta forma a camada envolvente, para buscar com o outro elementos que

complementem o seu «eu», possibilitando assim, compreender e entender as belezas que as

cercam, seja na natureza, na ciência, na cultura, ou na história, tornando desta feita nossa vida

harmoniosa e prazerosa. A autora continua ainda, destacando que cada sujeito é único,

portanto a percepção, o sentimento, a vivência são singulares, necessitando assim ter alguém

para que se possa ampliar, olhar e construir a sua própria identidade.

Afeto2, afetividade

3 e emoção

4, palavras que a primeira vista significam a mesma

coisa, porém uma está ligada a outra, donde pode-se compreender em uma análise mais

aprofundada que seus significados são diferentes, suas fases são diferentes, mas no final se

fundem com um único objetivo específico que é o bem estar do ser humano5.

Nós, seres humanos, na medida em que nós estamos sujeitos ao movimento de afetar e

ser afetado, somos tocados no mais íntimo de nosso ser. E esse movimento, de afetar e ser

afetado se materializa em sentimentos de alegria e tristeza, prazer e dor, medo e coragem.

Sentimentos estes que demonstram um grau de intensidade provocados e tocados em nosso

ser. Contudo, faz-se necessário não permitir que estas emoções não nos paralise, mas sim que

elas sejam instrumentos que possibilitem a abertura de um caminho para superação, na

construção do próprio eu, porém consciente de suas possibilidades (RANGHETTI, 1999).

Para Almeida (2008, p. 344) tem-se que,

[...], a afetividade tem na literatura significado diverso, revelando-se bastante

controversa quanto à sua delimitação conceitual em relação à emoção, ao

sentimento e à paixão. Esses aspectos – a emoção, o sentimento, a paixão e a

afetividade – não têm sido interpretados de maneira comum por diferentes

2 Afeto - s. m. 1. Impulso do ânimo; sua manifestação. 2. Sentimento, paixão. 3. Amizade, amor, simpatia.

Segundo consulta ao Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. 3 Afetividade - s. f. 1. Faculdade afectiva; qualidade do que é afectivo. 2. [Psicologia] Função geral, sob a qual

se colocam os fenómenos afectivos. Segundo consulta ao Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. 4 Emoção - s. f. 1. Acto de deslocar. 2. Agitação popular. 3. Comoção; perturbação moral. Segundo consulta ao

Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. 5 Bem Estar - Entende-se por bem-estar o conjunto de fatores de que uma pessoa precisa para gozar de

uma boa qualidade de vida (grifo nosso). Estes fatores levam o sujeito a gozar de uma existência tranquila e

num estado de satisfação. O bem-estar social engloba, portanto, as coisas que incidem de forma positiva na

qualidade de vida: um emprego digno, recursos económicos para satisfazer as necessidades, um lar para viver,

acesso à educação e a saúde, tempo para o lazer, etc. Definição obtida através da consulta no site conceito de.

Page 29: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

28

estudiosos, tanto que a terminologia revela-se problemática, sobretudo

porque a variedade de sentidos está mesclada entre si, restando suas

distinções pouco claras.

Afirma ainda a autora, que Wallon distingui a emoção, o sentimento, a paixão e

afetividade, e que esta última é mais ampla, pois engloba os três primeiros aspectos. Silva e

Schneider (2007) destacam que o afeto faz referência a qualquer espécie de sentimento6 ou

emoção sendo associadas à idéias ou a um complexo de idéias. Sendo assim, uma das

principais teorias do desenvolvimento humano atribui-se a uma grande importância sobre a

emoção e a afetividade, elaborando conceitos a partir do ato motor, da afetividade e da

inteligência. As interações são de via natural para o desenvolvimento e para a manifestação

das emoções. Ressaltam ainda que as emoções, assim como os sentimentos e os desejos, são

manifestações da vida afetiva. No senso comum costuma-se substituir a emoção por

afetividade, tratando-os como sinônimos. Por este motivo deve-se destacar que não são, pois a

afetividade é um conceito mais amplo no qual se inserem várias manifestações.

Fica mais claro e evidente as diferenças entre emoção e afetividade quando se lê o

artigo "vida afetiva e saúde" escrito por Di Flora (2000) ao destacar que as emoções têm uma

forte expressão corporal, uma base fisiológica inata, de acordo com alguns autores, estes são

sentimentos passageiros, pressionados pelos acontecimentos e pelas ansiedades que se

acumulam durante o transcorrer da convivência em grupo. Requerem um constante

esvaziamento ou expressão, podendo desencadear desestruturação ou alívio. Desta forma,

quando ocorre, por exemplo, uma explosão emocional como o choro, em decorrência de uma

repreensão ou discussão, em primeiro momento pode-se ter um alívioimediato, porém

passageiro, sendo que mais tarde tem-se um sentimento de culpa pela sensação de ter

"manchado" a imagem.

Por outro lado, quando analisa-se os sentimentos mais duradouros, como a afetividade,

por exemplo, significa dizer que um ser está implicado (envolvido) com algo ou com alguém,

este fato pode gerar desde emoções simples até os sentimentos mais complexos que

determinam a própria personalidade da pessoa.

Sendo assim, a forma do professor ser mais afetivo no processo de

ensino/aprendizagem esta cada vez mais em evidência, bastando para isso fazer a separação

6 Sentimento- s. m. 1. Ato ou efeito de sentir. 2. Aptidão para receber as impressões. 3. Sensação; sensibilidade.

4. Consciência íntima. 5. Faculdade de compreender; intuição; percepção. 6. Pesar; paixão; desgosto. 7.

Pressentimento. Segundo consulta ao Dicionário Priberam da Língua Portuguesa.

Page 30: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

29

entre a emoção e afetividade, pois, quando a afetividade é utilizada de forma eficaz os

resultados desejados pelo professor são alcançados neste processo.

Do resultado almejado e obtido tem-se três beneficiados, quais sejam: o professor, o

aluno e principalmente a sociedade, pois nesta última poder-se-á verificar um convívio mais

harmonioso e humano entre os envolvidos.

De acordo com Marchand (1985) a educação e a instrução de cada aluno podem ser

adaptadas às condições particulares de sua psique, e esta repousará sobre um ensino

individualizado. O conteúdo da psique afetiva do aluno é resultado da posição sentimental do

mestre, isso significa dizer que o autoritário provocará o temor inibitório, ao contrário, o mais

afetuoso levará a uma educação mais desejável.

1.2 A Afetividade na Educação no olhar de: Piaget, Vigotski e Wallon no século XXI

Muitos são os autores que se utilizam destes desbravadores para complementar suas

obras. Podemos começar, então, com Souza e Da Costa (2004) quando abordam que o

reconhecimento da individualidade da criança, de suas necessidades e vontade própria

implicou em um repensar na prática docente. Contou-se que por um longo período a

Psicologia tradicional preocupou-se em estudar o funcionamento psicológico, em especial o

funcionamento cognitivo fragmentadamente; isolando deste o aspecto afetivo,

negligenciando-o enquanto substrato da constituição humana.

Na perspectiva de Oliveira (1992) a separação do intelecto e do afetivo, de acordo

com Vygotsky, é uma das principais deficiências da Psicologia Tradicional, uma vez que esta

apresenta o processo de pensamento dissociados da plenitude da vida, das necessidades dos

interesses pessoais, das inclinações e dos impulsos daquele que pensa. Vigotski defendia a

tese de que diferentes culturas produzem modos diversos de funcionamento psicológico, e

desta forma rompe-se com as teses que relativizam o papel que a afetividade detém para a

promoção do desenvolvimento psicossocial do homem. Portanto há a necessidade de

reconhecer que a afetividade possui um caráter de ação volitiva7, e esta norteia toda atividade

humana.

7 Ação volitiva - ato que há determinação de vontade, segundo consulta ao Dicionário Priberam da Língua

Portuguesa.

Page 31: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

30

Souza e Da Costa (2004) ao interpretarem Piaget ressaltam que este não confia

fielmente na argumentação de que toda e qualquer relação interindividual supõe

desenvolvimento satisfatório; pois em seus estudos sobre estas, distingue dois tipos: a coação

e a cooperação, compreendidas igualmente a partir de reflexões sobre o desenvolvimento do

juízo moral na criança (aluno). Entabulando as devidas conceituações no processo ensino

aprendizagem, apreciando entre os demais elementos, o vínculo entre inteligência e

afetividade.

Para que se possa obter uma maior compreensão entre a relação através da coação e a

outra através da cooperação, faz-se necessário discorrer sobre cada uma destas relações,

salienta-se que ambas fazem parte do contexto diário da instituição escolar, seja dentro da sala

de aula, ou não. A primeira relação (coação8) é subsidiada pela unilateralidade, pela

imposição ao outro na forma de pensar, de princípios e valores tidos como verdades absolutas,

desta forma esse tipo de relação entra em conflito com o desenvolvimento intelectual, sócio-

afetivo e moral, pois não há uma reciprocidade entre os sujeitos.

Na segunda relação (cooperação9) observa-se o progresso moral, intelectual e afetivo,

por garantir a reciprocidade entre os indivíduos, tornando-os capazes de aceitar o ponto de

vista alheio e perceber-se nele. Ainda a respeito do conteúdo social determinante à formação

humana, donde de acordo com as explanações retro, se evidencia duas realidades distintas,

porém, complementares, igualmente responsáveis à dimensão do conhecimento enquanto

fonte de transmissão educativa e lingüística das contribuições culturais e à dimensão afetiva

como fonte de sentimentos específicos, em especial, os sentimentos morais.

De acordo com Souza e Da Costa (2004) o desenvolvimento cognitivo, afetivo e

social encontram-se tão interligados entre si, que a simples mudança – independentemente da

circunstância – em um dos aspectos ocasionará transformação nos demais, podendo ser esta

mudança positiva ou negativa, dependerá dos seus elementos constituintes. Desse modo, a

manifesta correspondência entre os aspectos afetivo e cognitivo, no que diz respeito as suas

evoluções, torna-se expresso o papel da afetividade nos períodos do transcurso do

desenvolvimento humano.

8 Coação - (latim coactio, - onis, recolha, ato de arrecadar) - s. f. - 1. Ato ou efeito de coagir. 2. Situação de

pessoa coata. 3. Imposição de vontade alheia. Confrontar: coação, cocção, segundo consulta ao Dicionário

Priberam da Língua Portuguesa. 9 Cooperação - (latim cooperatio, -onis) s. f. - Ato de cooperar. 1. Prestar cooperação. 2. Operar simultânea ou

coletivamente; colaborar, segundo consulta ao Dicionário Priberam da Língua Portuguesa.

Page 32: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

31

Sobre a afetividade no processo de formação de conceitos, as autoras acima

mencionadas, relatam que Vigotski estudou o processo de desenvolvimento cognitivo

relacionando este à estruturação dinâmica entre o que definiu como funções mentais e

consciência. Diante disso, têm-se duas questões, a primeira pertinente à consciência, donde

esta visa combater o reducionismo comportamentalista, a segunda o idealista, que em

determinado momento associa a consciência a processos elementares (como percepções

sensoriais e reflexos), e em outro a um estado interior preexistente – respectivamente.

Destacam ainda, os estudos de Vigotski sobre a dimensão social, donde a dimensão

individual é derivada e secundária. Com isso, pode-se dizer que a organização social é

observada através do comportamento dos seres humanos através da participação em práticas

socioculturais, pois estas se dão por sucessivos processos de internalização que não se

restringem à mera cópia da realidade externa num plano interior já existente. Assim, a

linguagem, esse sistema simbólico de mediação entre o sujeito e o objeto – que além do

intercâmbio social, torna-se um importante fator desencadeante da construção da própria

consciência humana. Esta a qual Vigotski confere papel central na concepção que possui das

relações entre afeto e intelecto.

Corroboram nesse entendimento Piaget e Inhelder (1990, p.24) quando se manifestam:

“esses dois aspectos são ao mesmo tempo, irredutíveis, indissociáveis e complementares, não

é, portanto, muito para admirar que se encontre um notável paralelismo entre suas respectivas

evoluções”. Quando Wallon - médico, filósofo e militante francês (1879-1962) - aborda a

“Teoria da Emoção”, Souza e Da Costa (2004) esclarecem que apesar da teoria vigotiskiana

estabelecer um claro embasamento sobre a temática da relação entre afetividade e

desenvolvimento cognitivo, em um encontro de paradigmas; aquele se justifica pelo prolífico

confronto teórico e aprofundamento analítico que, de fato, produziria. Portanto, contribuindo

inestimavelmente para uma maior cobertura e compreensão dos múltiplos aspectos

envolvidos; mediante a postulação da sua teoria da emoção, que o tornou destarte

indispensável também a qualquer estudo sobre afetividade que se venha empreender.

Wadsworth (1995), diz que o aspecto afetivo tem uma profunda influência sobre o

desenvolvimento intelectual, podendo acelerar ou diminuir o ritmo do desenvolvimento, bem

como determinar sobre quais conteúdos a atividade intelectual se concentrará.

Nesse prisma, a afetividade que impulsiona o desenvolvimento cognitivo dos sujeitos,

instaura vínculos imediatos com o meio social, desta forma se abstrai deste meio, o seu

Page 33: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

32

universo simbólico, culturalmente elaborado e historicamente acumulado pela humanidade.

Nesta sequência, os instrumentos que desenvolvem o aprimoramento intelectual são,

irremediavelmente, garantidos por estes vínculos, estabelecidos, portanto, pela consciência

afetiva.

De acordo com Piaget citado por Goulart (1996) a aprendizagem exige que o docente

tenha sensibilidade para compreender o pensamento do discente, e este ao lhe apresentar

problemas o professor possa lhe oferecer um resultado adequado ao caso concreto. Diante

disso, o professor ao conhecer seu aluno, poderá desenvolver um processo de

ensino/aprendizagem para ser aplicado em sala de aula. Diante do pensamento piagetiano,

podemos vislumbrar a existência de uma mediação pedagógica10

realizada pelo professor em

favor do aluno, pois se esta está presente à facilitação no aprendizado do aluno é constatada.

Na fala de Wallon (1986, p. 22) tem-se que: “A educação é um fato social. O homem

é um ser social e, mais ainda, é membro de uma dada sociedade. E é numa realidade social

concreta que ele vive, atua e procura até modificá-la.”. Destaca ainda o autor, que há um

conflito entre o indivíduo e a sociedade e que essa divergência faz parte da história humana

sendo esta inevitável e necessária, e através deste conflito surge o papel da escola.

Portanto para Vigotski (2001), o professor é figura essencial do saber por representar

um elo intermediário entre o aluno e o conhecimento disponível no ambiente, através da

orientação e de atividades dirigidas pelo professor que o aluno se educa, e adquire

conhecimentos e habilidades. O que o aluno pode fazer através da mediação do professor -

cria e desenvolve suas capacidades - poderá fazê-lo amanhã por si só, adquirindo assim

autonomia.

Neste norte Vigotski (2008, p. 97) se manifesta:

[...] o que nós chamamos a zona de desenvolvimento proximal11

. Ela é a

distância entre o nível de desenvolvimento rea12

l, que se costuma determinar

10

Mediação Pedagógica: atitude, comportamento do professor que se dispõe como um facilitador e incentivador

ou motivador da aprendizagem, que se apresenta como elo entre o aprendiz e sua aprendizagem. Conceito

extraído do livro “Competência Pedagógica do Professor Universitário”. (MASETTO, 2003, p.48) 11

A zona de desenvolvimento proximal define aquelas funções que ainda não amadureceram, mas que estão

presentemente em estado embrionário. Essas funções poderiam ser chamadas de “brotos” ou “flores” do

desenvolvimento, em vez de “frutos” do desenvolvimento. O nível de desenvolvimento real caracteriza o

desenvolvimento mental retrospectivamente, enquanto a zona de desenvolvimento proximal caracteriza o

desenvolvimento mental prospectivamente. Conceito extraído do livro “A formação social da mente: O

desenvolvimento dos processos psicológicos superiores”. (VIGOTSKI, 2008, p.98) 12

Nível de desenvolvimento real de uma criança define funções que já amadureceram, ou seja, os produtos finais

de desenvolvimento. Se uma criança pode fazer tal e tal coisa, independentemente, isso significa que as funções

Page 34: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

33

através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento

potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação

de um adulto (grifo nosso) ou em colaboração com companheiros mais

capazes.

Ainda de acordo com Vigotiski (2008) o aprendizado humano (no nosso caso aluno),

está intimamente conectado no meio em que o cerca. Portanto, com base no pensamento

walloniano, podemos dizer que o desenvolvimento do aprendizado do aluno surge através da

mediação do professor, proporcionando a aquele meios para que possa ser inserido na

sociedade de maneira a lhe assegurar sua plena realização.

Após discorrermos sobre Piaget, Vigotski e Wallon sobre suas pesquisas e

pensamentos a respeito da afetividade na educação, podemos constatar através de outros

autores acima descritos – os quais também trabalham Piaget, Vigotski e Wallon - que a

afetividade na educação em pleno século XXI tem sua importância destacada, e que por meio

desta podemos verificar a presença da mediação pedagógica realizada pelo corpo docente

dedicado e comprometido com a educação.

1.3 A Importância da Afetividade na Prática Docente

Quando Pino (2005) manifesta-se sobre o que nos permitiria pensar que a nossa

maneira de ser, de pensar e de agir tem a ver com a maneira como os outros são, pensam ou

agem em relação a nós, nos faz refletir a respeito das relações no plano pessoal e social.

Porque uma relação não existe pelo simples fato de pôr duas pessoas juntas, pois essa atitude

gera apenas agrupamento e não relação social.

Assim, percebe-se que há nas relações humanas algo a mais do que simplesmente

estar em grupo, é o convívio em grupo em que existe renúncia de um em favor do outro e isso

se pode dizer que é afetividade.

Para Silva e Schneider (2007), a afetividade é um tema que vem sendo muito debatido

nos meios educacionais, bem como fora dele. No âmbito escolar há uma congruência entre os

educadores com fundamento nas principais teorias do desenvolvimento, sobre a importância

da qualidade das primeiras relações afetivas da criança. A afetividade auxilia diretamente no

para tal e tal coisa já amadureceram nela. Conceito extraído do livro “A formação social da mente: O

desenvolvimento dos processos psicológicos superiores”. (VIGOTSKI, 2008, p.97)

Page 35: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

34

desenvolvimento emocional e afetivo, bem como na socialização, nas interações humanas e

finaliza na aprendizagem. Destacam ainda, que a efetividade é um elemento essencial nas

relações humanas e que esta na vida escolar, por exemplo, na relação professor/aluno,

contribui na construção cognitiva, no desenvolvimento da inteligência emocional e, por fim

no processo de avaliação da aprendizagem.

No livro Dicionário em construção – organizado por Fazenda (2002), a professora

Ranghetti (2002, p.89) não destoa a respeito da afetividade na educação, senão vejamos: “Na

ação de educar a afetividade é o pigmento que regula a intensidade e a profundidade das ações

dos sujeitos no processo educativo. Ela dá o brilho à relação pedagógica, desencadeando o

convívio da razão com a emoção num movimento da vida, [...].” Diante do exposto, é

necessário destacar do livro de Marchand (1985, p. 49) o seguinte trecho:

[...]. Mas, seu sentimento não tem senão uma origem profissional ou

pedagógica e carece de profundidade. Às vezes, ele perde a calma. Suas

cóleras não são motivadas pelas reações afetivas dos alunos, com as quais

pouco se importa, mas, pelas falhas intelectuais das crianças que trabalham

mal. Um aluno, o mais atrasado de sua classe, não acerta nenhum dos seus

exercícios, e aparece como um escândalo pedagógico aos olhos do professor,

que se exalta até o ponto de rasgar brutalmente a página do seu caderno ou

bater nele. Não se trata, para o professor, de manifestar qualquer hostilidade

para com o aluno, mas de exteriorizar o mesmo despeito e o mesmo

nervosismo que leva um operário a jogar longe, com violência, uma matéria-

prima demasiado resistente. Tampouco, neste caso, se pode falar em

vínculos afetivos entre o aluno e o professor (grifo nosso), pelo menos

neste último que, zelando apenas pela qualidade dos resultados dos quais

quer se orgulhar, continua a ignorar a vida interior do aluno. As relações

entre alunos e o professor se situam no plano bastante abstrato do trabalho

intelectual e revelam uma tonalidade afetiva bastante neutra que quase não

oferece variações.

De outra sorte vale ressaltar duas declarações de alunos que foram objeto de pesquisa

realizada por Marchand (1985, p. 81),

Pouco importa o aspecto físico de um professor. O que eu desejaria nele é,

principalmente, um esforço de aproximação com os alunos. Um professor

que exponha suas opiniões, mas, que não deixe de examinar as dos outros.

Que se coloque no nível dos alunos nas suas explicações. Rigoroso, se for

preciso, quanto à disciplina.

Page 36: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

35

Outro declara:

Desejaria um professor que fosse, antes de tudo, simpático, e que não se

importasse quando um aluno não pudesse responder a uma de suas

perguntas; um professor que soubesse conquistar a estima e a afeição

divertindo-se, moderadamente, aliás, com os alunos, que tentasse se colocar

no lugar deles, que não exibisse seus conhecimentos. Em suma, um

verdadeiro colega a quem deveríamos muito respeito.

Nesse sentido, observa-se que o afeto faz referência a qualquer espécie de sentimento

ou emoção associada à ideias ou a complexos de ideias. Desta forma, as escolas e os alunos

experimentam diversos afetos, desde o prazer em conseguir realizar uma atividade à raiva de

discutir com os colegas. Diante disso, conforme explanam os autores retro, o

desenvolvimento afetivo depende de alguns fatores, entre eles estão a qualidade dos estímulos

do ambiente para que sejam satisfeitas as necessidades fundamentais de afeto, apego,

desapego, segurança, disciplina e comunicação, pois é nessas situações que o ser humano

estabelece vínculos com outras pessoas.

Também Leite e Tassoni (2002) concordam com esse pensamento ao se manifestarem

que na área educacional a crença de que a aprendizagem é social e mediada por elementos

culturais, produz um novo olhar para as práticas pedagógicas. A preocupação que se tinha

com o "o que ensinar" (os conteúdos das disciplinas), começa a ser dividida com o "como

ensinar" (a forma de, as maneiras, os modos). A afetividade, no sentido latu senso, está

relacionada aos estados de bem-estar e mal-estar do indivíduo, desta feita pode-se constatar

que a existência de manifestações afetivas são anteriores ao aparecimento das emoções. Estas

manifestações, ainda em estágio primitivo, ficam em constante prontidão para serem ativadas

a qualquer hora, estas mantém uma relação estreita com a afetividade durante o processo de

desenvolvimento humano, pois essa iminência é a base de onde sucedem as reações afetivas,

conforme finaliza Almeida (2008).

É interessante como ocorre a complexidade da relação entre a emoção e o seu habitat

social, resultando na transformação das suas expressões. De um lado, a sociedade especializa

os meios de expressão da emoção, transformando-os em instrumentos de socialização, do

outro, essa especialização reprime as expressões emocionais. Portanto, constata-se que as

formas de expressão tornam-se cada vez mais socializadas, a ponto de não expressarem mais a

sua autenticidade. Como aparece a afetividade diante deste conflito? Sugere-se que a

afetividade no caso concreto em que se está trabalhando é considerada como respeito ao

Page 37: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

36

próximo – neste caso o aluno – entender seus sentimentos e definitivamente renunciar alguns

antigos paradigmas com o objetivo de facilitar e estreitar o convívio em sala de aula.

Silva (2008, p.92) em sua dissertação: “Memórias e identidades: trajetórias pessoais e

profissionais docente na educação de jovens e adultos de uma escola cooperativada” aborda

que tanto a afetividade quanto a racionalidade devem ser utilizadas como formas de

abordagem cognitiva, menção essa destacada após registro do relato de um aluno, “O ensino

[...] começa com o comprometimento de cada professor, de querer exercer a profissão e se

comprometer. Não é só ter um diploma que se acha apto para dar aula. É um compromisso de

que se está formando outras pessoas (já formadas - pela experiência) e isso envolve

diferenças, crenças”. A autora diz que os indivíduos são assim instigados a compreender o

outro em toda a sua complexidade e não como um representante de um estereótipo cultural.

Diante disso, constata-se uma congruência com a abordagem acima relatada, donde se devem

levar em consideração os múltiplos componentes e interações, conflitos e rupturas.

Esse entendimento também é compartilhado por Leite e Tassoni (2002) ao salientarem

que a afetividade, por sua vez, tem uma conceituação mais abrangente, pois envolve uma

escala maior de manifestações, envolvendo os sentimentos – estes são de origem psicológica,

e as emoções – estas são de origem biológica. Nesse prisma, Masetto (2003) demonstra que a

formação supera o aspecto cognitivo, pois o que se almeja é o aluno nos cursos superiores

desenvolver competências e habilidades que se esperam de um profissional capaz e de um

cidadão responsável pelo desenvolvimento de sua comunidade. Isso fez com que os

cronogramas curriculares viessem a recepcionar as atividades voltadas para as discussões

pertinentes aos valores éticos, sociais, políticos, e econômicos. Desta forma se estaria

abordando os valores humanos e ambientais.

O autor destaca que trabalhar com pesquisa, projetos e novas tecnologias, são

caminhos interessantes, ao mesmo tempo, incentivam a pesquisa, facilitam o desenvolvimento

da parceria e coparticipação entre professor e aluno. Incentivar essa participação resulta em

uma motivação e interesse do discente pela disciplina, bem como dinamiza a relação

professor e aluno, facilitando desta forma a comunicação entre eles. A área conhecimento

abrange além do aspecto mental, também o intelectual, ou seja, sua capacidade de pensar,

refletir, analisar, comparar, criticar, justificar, argumentar, inferir conclusões, generalizar,

buscar e processar informações, produzir conhecimentos, descobrir, pesquisar, criar, inventar,

imaginar, entre outros. Isso significa que a construção cognitiva não se esgota em assimilar

Page 38: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

37

algumas informações e posteriormente repeti-las (MASETTO, 2003). O autor discorre sobre a

afetividade, nos seguintes dizeres:

Desenvolvimento na área afetivo-emocional supõe crescente conhecimento

de si mesmo, dos diferentes recursos que se possui, dos limites existentes,

das potencialidades a serem otimizadas. Para as faculdades e universidades,

admitir essa dimensão de aprendizagem significa abrir espaços para que

sejam expressos e trabalhados aspectos como atenção, respeito, cooperação,

competitividade, solidariedade, segurança pessoal, superando as

inseguranças próprias de cada idade e de cada estágio, as novas vivências

profissionais, políticas, afetivas, o afastamento das famílias, a criação de um

novo círculo de amizades, valorização da singularidade e das mudanças que

venham a ocorrer, um relacionamento cada vez mais adequado com o

ambiente externo (MASETTO, 2003, p. 38).

O autor ainda quando faz referência ao desenvolvimento de atitudes e valores, em que

se encontra um aspecto um tanto quanto delicado o coração. Este é o menos trabalhado pelas

Instituições de ensino, significa dizer que se este não for trabalhado significativas

modificações na aprendizagem também não acontecerão. Masetto (2003) vai um pouco mais

além às questões da aprendizagem de atitudes e valores, ressalta a necessidade dos cursos

superiores se preocuparem com que seus educandos valorizem o conhecimento, a atualização

contínua, a pesquisa, o estudo dos mais diversos aspectos que cercam um problema, bem

como a cooperação, a solidariedade, a criticidade, a criatividade, e o trabalho em equipe.

Finaliza seu raciocínio ao destacar que nos cursos de ensino superior os valores tais como: a)

democracia; b) participação na sociedade; c) compromisso com sua evolução; d) edificar-se

no tempo e espaço de sua civilização; e e) ética em suas mais abrangentes concepções

(referentes tanto a valores pessoais quanto a valores profissionais, grupais e políticos)

precisam ser transmitidos aos acadêmicos.

No capítulo 5 sob o título “Relações de poder e suas influências no processo de

aprendizagem”, do livro Educação Sem Fronteiras, Braz (2003) mostra a importância da

afetividade na prática docente. De acordo com a autora a relação professor/aluno é de

fundamental importância para o processo de aprendizagem. Destaca, ainda, que as relações

baseadas na coerção pouco contribuem para uma aprendizagem significativa. Assim, finaliza

seu discurso que quanto mais autêntico, congruente, empático, compreensivo o professor,

maior a capacidade de facilitar a aprendizagem. Pois, isso significa aceitar o outro como uma

pessoa separada, digna de respeito por um mérito que lhe é próprio. Não se pretende

desconsiderar em hipótese alguma, as outras formas de didáticas que abarcam o processo de

Page 39: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

38

aprendizagem, entre elas estão: planejamento de aulas, definições claras de conteúdo do curso

e das aulas, utilização de diversas estratégias em sala de aula, processos avaliativos contínuos,

afinidade entre discurso e atitude do docente, bem como clareza e objetividade na transmissão

das informações.

Compartilha desse pensamento Ranghetti (1999) quando destaca a possibilidade de se

estar construindo um espaço em que os alunos aprendam nesta dimensão, independente do

grau de ensino em que se encontram, além do mais, é um espaço em que tanto o professor

quanto o aluno – enquanto sujeitos dessa relação – possam aprender e ensinar. Um espaço

educativo temperado pela afetividade. Convém salientar, que a autora destaca ainda que

quando o aluno percebe o professor estendendo a mão para auxiliá-lo na sua caminhada, sabe

que não está só, conseguirá, portanto, enfrentar os obstáculos e momentos difíceis

encontrados na aprendizagem, sendo impulsionado para a construção de um novo ser,

superando assim seus limites e conquistando novas possibilidades.

Em síntese, Ranghetti (1999) conclui essa ideia mencionando que as relações humanas

constituem-se por meio da linguagem que possibilita ao homem transcender os limites do seu

eu, tomando consciência das coisas que o rodeiam, pois estar aberto para perceber o outro é

estar inteiro, é ser presença, é acolher o outro para juntos renascer, reconstruir, ser. Estar

aberto é querer ser afetado e afetar, é amar.

Para Marchand (1985) não há de se olvidar que a educação apresenta um aspecto

geral, ou seja, a medida que se apoia em um agrupamento de concepções abstratas, nas quais

observa-se uma sociedade mais exigente e os princípios humanistas procuram o

desenvolvimento da pessoa humana. Salienta ainda que toda educação requer a figura de dois

seres concretos, o que dá e o que recebe, o professor e o aluno, estando estas figuras adstritas

a interações psicológicas recíprocas, que modificam, que impactam grandemente os

participantes desta relação.

Nessa atmosfera a respeito da relação professor e aluno, Ranghetti (1999) explica que

“paciência e consideração” são atitudes em que o sujeito manifesta no modo de “estar-sendo-

com-os-outros”. Na relação escolar, ter paciência significa acreditar que o aluno é capaz de

aprender e que tem seu tempo próprio para acordar e prosseguir no caminho da compreensão.

O aluno diferente requer maneiras específicas de entender, compreender e aprender o

conhecimento. Desta forma, o professor precisa dispor de uma variação de elementos capazes

de fazer com que o aluno possa ser afetado e produzir-se enquanto “ser-no-mundo”.

Page 40: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

39

Estas reflexões elaboradas por autores referenciados nesta dissertação mostram a

convergência da ideia de que a afetividade tem um papel muito importante na relação

docente/discente, pelo fato desta auxiliar no processo do ensino-aprendizagem. Viver esta

relação, na qual o professor não é mera peça ornamental do meio ambiente educacional, mas

sim um ser protagonista nesse processo de ensino-aprendizagem, o qual lhe proporciona a

possibilidade de sentir-se responsável pelo desenvolvimento do aluno como um todo.

Não se pode deixar de mencionar que os saberes experienciais dos professores são se

grande valia nessa relação professor/aluno. Tardif (2002) destaca que estes saberes

experienciais são um conjunto de saberes atualizados, adquiridos e necessários no âmbito da

prática da profissão e que não provêm das instituições de formação nem tampouco dos

currículos. Estes saberes não se encontram sistematizados em doutrinas ou teorias. São

saberes práticos (e não da prática: eles não se superpõem à prática para melhor conhecê-la,

mas se integram a ela e dela são partes constituintes enquanto prática docente) e formam um

conjunto de representações a partir das quais os professores interpretam, compreendem e

orientam sua profissão e sua prática cotidiana em todas as suas dimensões. Eles constituem,

por assim dizer, a cultura docente em ação.

Embora ensinem para grupos, os professores devem levar em consideração as

diferenças individuais, pois são indivíduos que participam do processo de ensino-

aprendizagem e não grupos. A afetividade do objeto e da relação com o objeto conforme diz

Tardif (2002, p. 130) trabalha como sendo uma terceira característica do objeto de trabalho

que decorre da dimensão afetiva,

Um componente emocional manifesta-se inevitavelmente, quando se trata de

seres humanos. Quando se ensina, certos alunos parecem simpáticos, outros

não. Com certos grupos, tudo caminha perfeitamente bem; com outros, tudo

fica bloqueado. Uma boa parte do trabalho docente é de cunho afetivo,

emocional. Baseia-se em emoções, em afetos, na capacidade não somente de

pensar nos alunos, mas igualmente de perceber e de sentir suas emoções,

seus temores, suas alegrias, seus próprios bloqueios afetivos.

Diante desta discussão é que o trabalho pedagógico do professor consiste em gerir

esses conflitos provenientes das relações sociais com seus alunos. Através da afetividade o

professor obterá condições de lidar com as tensões e dilemas, utilizando-se para tanto as

negociações e estratégias de interação. Segundo, ainda, Tardif (2002) a ética no trabalho

docente é hoje frequentemente deixada de lado, pois discorre-se muito de racionalização da

Page 41: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

40

organização do trabalho, discorre-se de cortes cada vez maiores no orçamento, discorre-se da

excelência e do sucesso, mas não se discorre de ética no trabalho. É como se a o universo da

ética habitasse exclusivamente nas grandes finalidades educativas e no sistema jurídico que

dita as regras dos serviços educacionais, para em seguida evaporar em favor das

considerações orçamentárias e administrativas.

Compactua neste entendimento Juliatto (2010) ao destacar que a ética acadêmica está

em declínio nas universidades do país. O desalento dominou certos ambientes, enquanto que o

nível de expectativas tem diminuído. Há acomodação entre muitos, e estes também deixaram

de remar contra a correnteza dos parcos méritos, que vem aumentando gradativamente. São

observados professores que não comparecem ao trabalho matando suas próprias aulas. Em

decorrência disto, acadêmicos não estudam, não comparecem as aulas e sem nenhum esforço

querem ser aprovados com louvor. Em algumas instituições reprovação é palavra de baixo

calão. Há uma conivência entre a cadeira docente e a carteira discente. Professores

cumpridores de suas obrigações são personas não gratas. Finaliza ressaltando que os

professores não podem desconhecer os seus compromissos éticos com os estudantes e com os

colegas, com a instituição e com a sociedade.

A crise a respeito do valor dos saberes profissionais, das formações profissionais, da

ética profissional e da confiança do público nas profissões e nos profissionais constitui um

pano de fundo do movimento de profissionalização do ensino e da formação para o

magistério. Diante disso tem-se a necessidade de se dar importância na afetividade na prática

docente, para que se possa resgatar os valores éticos e morais no ensino superior. Não destoa

deste entendimento o discurso de Isabel Alice Lelis em agosto 1987 na colação de grau das

licenciadas em Pedagogia do departamento de Educação da PUC/RJ, sob o título “A prática

do educador: compromisso e prazer”, transformado em artigo no livro: Rumo a uma nova

Didática, organizado por Candau (1999, p. 86) ao mencionar que: “por compromisso do

professor entende o envolvimento, o profundo engajamento com o aluno no plano intelectual

e afetivo, o qual deve ser perpassado por uma postura de “paixão”, de “prazer” pelo trabalho.”

Saavedra et al (2003, p. 35) no mesmo sentido, destacam: “os professores que gostam do seu

trabalho, são unânimes em fazer referência a afetividade como peça chave na relação com os

alunos em sala de aula.”

Na mesma linha de raciocínio, o professor sábio poderá enriquecer-se culturalmente

através da afetividade na prática docente, pois diante da diversidade cultural encontrada em

Page 42: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

41

sala de aula é essencial assegurar uma interação e convivência harmoniosa. As políticas que

favorecem a inclusão e a participação de todos os cidadãos garantem coesão social, a

vitalidade da sociedade civil e a paz. O pluralismo cultural favorece o intercâmbio cultural e o

florescimento das capacidades criativas que sustentam a vida pública. A defesa da diversidade

cultural é um imperativo ético, inseparável do respeito à dignidade da pessoa humana.

Finalizar-se-á esse capítulo com falas de Saltini (1999, p. 17) em seu discurso quando se

manifesta,

Conhecer é pensar, inventar, é descobrir e conectar as qualidades e atributos

dos objetos recompondo com a minha capacidade criadora o real externo

dentro de minha mente. Este é o significado do aprender. Não aprendo

aquilo que o outro me dá pronto. Aprendo em função daquilo que posso

trabalhar sobre o que o outro me diz, ou daquilo que o objeto me mostra ou

descubro. Construo, invento, sempre dentro de minhas necessidades e de

campo de possibilidades. Esta capacidade confere a chance – afetiva, por

meio do nível simbólico e, cognitiva por meio dos níveis técnicos-estruturais

– de sobreviver, adaptar-me e estar presente no meu mundo podendo

contribuir com meu saber. Portanto, a transformação do real em uma

realidade interna é uma obra feita com meu sistema biofisiológico, afetivo,

cognitivo, com minha mente, e assim procedo para aliviar minha dor.

Com base na citação acima, chega-se a uma ideia de que o ser humano é sempre o

resultado da ação de transformação da realidade e de sua adaptação a ela, seguido da

consciência de sua capacidade de transformá-la. Desta conjuntura precedem os princípios de

que educar é:

a) um processo em que ao ser humano é permitido chegar a ser o sujeito de sua

própria ação em sintonia com o “si mesmo” e não apenas um objeto de outros sujeitos;

b) um meio para que o ser humano possa se estruturar como pessoa em relação ao

“ser” e não ao “ter”; e finaliza com

c) uma iniciação criticista13

, interpretativa e capaz de transformar o mundo, inovando-

o para o seu próprio bem-estar e do seu próximo.

Quando se pergunta: - O que é a “Beleza da Vida”?

Pode-se dizer que é ter um objetivo e lutar por ele até alcançá-lo.

Relacionado a esse questionamento pode-se considerar que o professor que se utiliza

da afetividade na prática docente, vê em seu aluno a “Beleza da Vida”. Os ensinamentos

13

Criticista (crítica + -ista) s. 2 g.- 1. Pessoa partidária do criticismo. adj. 2. Do criticismo. CRITICISMO:

(inglês criticismo) - s. m. - Racionalismo que procura determinar os limites da razão humana, segundo consulta

ao Dicionário Priberam da Língua Portuguesa.

Page 43: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

42

pertinentes aos valores éticos e morais – acessórios do primeiro – farão do seu aluno um ser

mais humano, mais preparado, mais qualificado para exercer sua profissão com dignidade e

competência. “A afetividade é o fio condutor, é o suporte para se chegar ao conhecimento”

(SALTINI, 1999, p. 87). Compartilhando a ideia de Saltini e realizando uma pequena

modificação textual, pode-se fazer uma comparação entre os professores e os pais.

Os pais (professores) se lançam numa busca incessante, muitas vezes, infrutífera de

parâmetros que possam ajudá-los a discernir sobre a melhor forma de criar a base para o

desenvolvimento dos filhos (alunos). Por isto, quase sempre, eles (os professores) fazem

instintivamente, graças à capacidade especial de fazer o bebê (aluno) acreditar que aquilo que

ele (professor) cria realmente existe. Se esses pais (professores) forem bem sucedidos, terão

criado um estado de confiança com o seu filho (aluno), proporcionando-lhe um playground

(ambiente), isto é, “um espaço potencial que une a ambos” (sala de aula). Nesta perspectiva a

frase é reflexiva: “A falta que marca a existência humana jamais será preenchida com

objetos comprados, mas com sujeitos amados. (grifo nosso)” (SALTINI, 1999, p. 117).

Será necessário dizer mais alguma coisa?

1.4 As Mudanças na Prática Docente

Toegel (2009) destaca que há algum tempo vem se falando em conflitos de gerações:

“baby boomers”14

, “geração X”, “geração Y” e “geração Z”, suas diferenças no aprendizado e

no comportamento, dizem que os da geração Y possuem ideias novas e muita energia, entre

outros. Pode-se notar essa diferença também nas mudanças das práticas docentes, haja vista,

que nos dias de hoje há professores com novas ideias e didáticas, os quais estão cada vez mais

acompanhando os avanços tecnológicos e comportamentais. Isso não significa dizer que os

métodos antigos de ensinar devem ser considerados obsoletos e por esse motivo serem

completamente descartados. O que deveria ser feito, é uma união destas ideias novas com as

14

A geração dos baby boomers são pessoas nascidas após a segunda guerra mundial, dedicadas ao trabalho e

com grande facilidade em projetar cenários e planejar retomadas. Os profissionais da geração X alcançaram

crescimento profissional, vínculo e reconhecimento; deixaram de lado a qualidade de vida e o convívio familiar

para se dedicarem à organização e à estabilidade financeira. Já os profissionais da geração Y possuem grande

potencial para o trabalho em equipe; ambição; alto grau de instrução; falam mais de um idioma; dedicam-se aos

projetos da organização; possuem uma liderança nata e, além de buscarem reconhecimento e crescimento

profissional de maneira rápida e dinâmica, também priorizam a qualidade de vida no trabalho. A geração Z

são as pessoas nascidas a partir da metade da década de 90, nasceram sob o domínio da tecnologia e possuem

aptidão natural para trabalhar com objetos eletrônicos.

Page 44: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

43

antigas, e partir disso construir uma metodologia adequada, pois o que não se pode esquecer

são os valores éticos e morais que fazem parte do nosso comportamento. Valores esses que

mudam de geração para geração, contudo nem sempre de maneira correta.

Na exposição de Castellar (2011) em seu artigo: “Mudanças na prática docente:

espaços não formais e o uso da linguagem cartográfica” destaca que do ponto de vista da

inovação e da reorganização curricular vislumbra-se o uso didático dos diferentes espaços

formais e não formais de aprendizagem existentes na escola, com o intuito de auxiliar estes a

terem uma melhor compreensão da realidade. Além de se ter professores das mais variadas

gerações, os mesmos se deparam com uma grande diversidade de gerações em sua sala de

aula. Por esse motivo encontramos alguns desafetos em decorrência dos conflitos de gerações.

Não só de gerações, mas também por razões históricas, econômicas, ideológicas, entre outras,

conforme Stoer e Cortesão (1999, p.33) no artigo: “Acerca do trabalho do professor da

tradução à produção do conhecimento no processo educativo”, destacam que:

apesar de se estarem progressivamente alargando os efeitos sociais

igualitários decorrentes das globalizações, os que viveram em diferentes

países do planeta tais como: Europa, Américas, África entre outros, percebe

o confronto das múltiplas situações em que se é forçado a reconhecer que, a

par desses fenômenos de isonomia ainda há diversidades. Tem-se que

reconhecer também que, em diferentes partes do mundo, se convive com

essa diversidade de modo que são amplamente diversas, sejam por razões

históricas, econômicas, ideológicas ou muito provavelmente em resultado de

combinações destas e até de outras.

Neste sentido, vê-se a necessidade de mudanças na prática docente. Para o professor a

disciplina a qual leciona é fácil, muitas vezes, este tem conhecimento ou domínio de conteúdo

de frente pra trás e vice-versa. Contudo, o aluno ingressante às vezes nem sabe do que se

trata, é necessária muita dedicação e prática da dimensão afetiva para fazer com que aquele

aluno que está disperso seja inserido no grupo. Essa mudança comportamental do professor

no que diz respeito à prática docente se essencial, haja vista, que segundo se tem

conhecimento o professor é o espelho do aluno e esse reflexo poderá ser positivo ou negativo,

dependerá apenas de quem será o “espelho”.

Diante disso, a pergunta suscitada por Saltini (1999, p. 14) nos dá uma dimensão a

respeito da relação docente/discente quando questiona: “Nós, educadores, parecemos nada

entender do como se dá o desenvolvimento; o como a cognição e a afetividade estão

implicados nesse processo; ou nada temos a ver com isso?”

Page 45: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

44

Será mesmo que não temos nada a ver com isso? Saltini (1999) adverte ao refutar o

seu questionamento dizendo que as instituições educacionais deveriam procurar entender mais

de seres humanos e de amor ao invés de conteúdos programáticos e técnicas educacionais.

Afirma que este comportamento das escolas contribui fortemente para o nascimento de

pessoas com neuroses múltiplas por não entenderem de amor, de sonhos, de fantasias, de

símbolos e de dores.

Não destoam desse entendimento, Stoer e Cortesão (1999), ao destacarem que quanto

maior é a distância que separa o nível sociocultural dos alunos do tipo de saberes que a escola

arbitrariamente impõe como únicos aceitáveis, maior será a violência simbólica exercida por

este instituto educacional em face dos acadêmicos. Diante dos fatos, se o professor não

possuir a sensibilidade de destacar essa diversidade sociocultural em sala de aula, poder-se-á

prever a iminência de um conflito, seja esse identidário decorrente das variações dos valores,

seja cultural, bem como econômico.

No artigo 6º da Constituição da República Federativa do Brasil de 1998 (CRFB/88),

que trata dos Direitos Sociais, destaca que são direitos sociais a educação (grifo nosso), a

saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a

proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta

Constituição. Quando se lê no artigo 205 do mesmo diploma legal: “A educação, direito de

todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da

sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da

cidadania e sua qualificação para o trabalho”.

No destaque, é dever do Estado, com a colaboração da sociedade, considerar o

trabalho do professor, pois esse também é parte integrante da sociedade, com o objetivo de

preparar o aluno para o exercício da cidadania e sua qualificação profissional. Conforme

Perrenoud (1999) as sociedades se transformam, se fazem e se desfazem. As tecnologias

mudam o trabalho, a comunicação, a vida cotidiana e até mesmo o pensamento. As

desigualdades se deslocam, se agravam e se recriam em novas terras.

Os atores estão ligados a múltiplos campos sociais, a modernidade não permite a

ninguém proteger-se das contradições do mundo. Na pergunta formulada pelo autor: Quais as

lições que daí podem ser tiradas para a formação de professores? Ele destaca que certamente

convém reforçar a preparação do docente para uma prática reflexiva, para a inovação e a

cooperação. Talvez importe, sobretudo, favorecer uma relação menos temerosa e

Page 46: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

45

individualista com a sociedade. Se os professores não chegam a ser os intelectuais, no sentido

estrito do termo, são ao menos os mediadores e intérpretes ativos das culturas, dos valores e

do saber em transformação.

Pode-se destacar nesse caso, a dimensão afetiva utilizada como mecanismo ou

ferramenta pelos docentes com o objetivo de transmitir aos discentes os valores éticos e

morais, pertencentes ao meio em que vivem. Outro fator que pode intervir no sistema

educativo são as novas tecnologias, a modernização dos currículos, a renovação das ideias

pedagógicas, o trabalho dos professores que evolui lentamente, pois depende pouco do

progresso técnico. Nesse norte, a relação educativa obedece a uma trama estável entre as

condições de trabalho e sua cultura profissional instaladas pelos professores as suas rotinas. E

é por isso que a evolução dos problemas e dos contextos sociais não se traduz ipso facto15

por

uma evolução das práticas pedagógicas.

Perrenoud (1999) ainda se auto declara idealista, e chama a atenção aos que alegam

que o progresso da escola está intimamente conectado com a profissionalização crescente dos

docentes. Que seja claro o suficiente para verificar que esse paradigma é uma consequência

direta já demonstrada em termos de estatuto, de ganhos, de nível de formação, de atitude

reflexiva, de empowerment16

, de mobilização coletiva, de gestão de estabelecimentos e de

pensamento crítico, longe estão de obter unanimidade, mesmo entre aqueles a quem o status

quo17

não satisfaz. Que fique esclarecido que os referenciais da profissionalização, prática

reflexiva e participação crítica, não correspondem: a) nem à identidade ou ao ideal da maioria

dos professores em função; e b) nem ao projeto ou à vocação da maioria daqueles que se

dirigem para o ensino. Pois, tais questões vão além do “saber fazer” profissional de base, mas

supõem sua aquisição prévia.

Nas palavras de Tanuri (2000) a instituição escolar destinada ao preparo específico

dos docentes para o labor de suas funções está ligada à institucionalização da instrução

pública no mundo moderno, ou melhor, à colocação prática das ideias liberais seculares e de

extensão do ensino primário a todas as camadas da população. É bem verdade que os

movimentos da Reforma e Contra-Reforma, ao darem os primeiros passos para a posterior

publicidade da educação, contemplaram anteriormente iniciativas pertinentes à formação de

15

Em latim original. Significa “por esse fato”.

16 Em inglês, no original. Significa “investimento de poder”.

17 Em latim original. Significa “estado de origem”.

Page 47: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

46

professores. A autora salienta que a partir de 1868/70 ocorreram transformações de ordem

ideológica, política e cultural acompanhadas de intensa movimentação de ideias, precedidas

de intensas repercussões no setor educacional, assumindo então, uma importância não

observada até o presente momento.

No dito popular: “um país é o que a sua educação o faz ser”, Barros (1959, apud,

TANURI, 2000, p. 66) menciona que de forma genérica entre os homens de diferentes

partidos e ideologias e a difusão do ensino ou das “luzes”, como se dizia frequentemente

nesse período, era tida como indispensável ao desenvolvimento social e econômico da nação.

Com vistas à maior divulgação do ensino, tornaram-se objeto de frequentes cogitações

algumas teses, entre elas: a obrigatoriedade da instrução elementar, a liberdade de ensino em

todos os níveis e a cooperação do Poder Central no âmbito da instrução primária e secundária

nas províncias.

Nos dizeres de Tanuri (2000), em 1939 (Século XX), surgia o curso de Pedagogia,

inicialmente criado na Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil (Decreto

1.190, de 4/4/1939), objetivando uma dupla função na formação dos bacharéis, para atuar

como técnicos de educação e licenciados, destinados à docência nos cursos normais. Estes

iniciavam num estudo de licenciatura que passou a ser conhecido como “3 + 1”, ou seja, três

anos dedicados às disciplinas de conteúdo – no caso da Pedagogia, os próprios “fundamentos

da educação” – e um ano do curso de Didática, para a formação do licenciado.

Iniciava-se então, mudanças, inovações nas práticas docentes. Segundo Tanuri (2000,

p. 78), ocorreu uma grande preocupação com a metodologia do ensino – herdada do ideário

escolanovista18

– continuava a se fazer presente. No auge desenvolvimentista dos anos 50, as

tentativas de “modernização” do ensino, que ocorriam na escola média e na superior,

atingiram também o ensino primário e a formação de seus professores. Deve-se dar merecido

destaque na atuação desenvolvida pelo Programa de Assistência Brasileiro-Americana ao

Ensino Elementar (PABAEE), de 1957 a l965 – resultante do acordo estabelecido entre o

Ministério da Educação (MEC) / Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais

Anísio Teixeira (INEP) e a United States Agency for International Development (USAID) –

tendo como premissa a instrução de professores das escolas normais, abrangendo as

18

O ideário da Escola Nova veio para contrapor o que era considerado “tradicional”. Os seus defensores

lutavam por diferenciar – se das práticas pedagógicas anteriores. No fim do século XIX, muitas das mudanças

que seriam afirmadas como originais pelo “escolanovismo” da década de 20, já eram levantadas e colocadas em

prática. (LAGE, 2006)

Page 48: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

47

metodologias de ensino e com base na psicologia. Teve como objetivo estender ao campo da

supervisão e do currículo, com o intuito de abranger os ocupantes de cargos de liderança, os

quais se imaginavam que poderiam atuar de forma multiplicadora e de maior alcance. No que

diz respeito ao currículo da Habilitação Específica para o Magistério (HEM), Tanuri (2000, p.

81) discorre,

que este deveria apresentar um núcleo comum de formação geral, obrigatório

em âmbito nacional – composto de disciplinas da área de comunicação e

expressão, estudos sociais e ciências – e uma parte de formação especial.

Esta, conforme explicita o Parecer CFE19

349/72, seria constituída de

fundamentos de educação (aspectos biológicos, psicológicos, sociológicos,

históricos e filosóficos da educação), estrutura e funcionamento do ensino de

1º grau, bem como didática, incluindo prática de ensino. Assim, com

exceção de estrutura e funcionamento do ensino de 1º grau, que acrescentava

ao conjunto o cognitivo das questões concernentes ao ensino de primeiro

grau no contexto da realidade da educação do Brasil, donde as demais

matérias não trouxeram praticamente qualquer modificação em termos de

conteúdo a ser contemplado no currículo.

Na dimensão da inscrição histórica da educação anteriormente abordada, Paiva (2010)

suscita que a questão da qualidade da educação é destaque na atualidade e a sua promoção

tem sido objeto de políticas de educação em diversos países do mundo, inclusive no Brasil.

Pesquisadores e estudiosos voltam-se ao levantamento e análise minuciosa da realidade, na

incansável busca pela identificação de fatores que determinam a qualidade da educação.

Nesse sentido, Paiva (2010) menciona que um docente qualificado e compromissado

com o aprendizado dos alunos é componente de escola eficaz ou de boa qualidade,

relacionando diretamente a qualificação do corpo docente e o desempenho dos estudantes.

Na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) – Lei nº. 9.394, de 20 de

dezembro de 1996 (BRASIL, 1996), em seu artigo 66 estabelece que: "a preparação para o

exercício do magistério superior far-se-á em nível de pós-graduação, prioritariamente em

programas de mestrado e doutorado". De acordo com o INEP, a avaliação institucional

externa, desenvolvida no âmbito do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior

(SINAES), trata a titulação docente da educação superior como aspecto imprescindível às

universidades e centros universitários, quando especifica a atribuição de conceitos segundo

padrões mínimos de titulação na composição do quadro docente.

19

Conselho Federal de Educação

Page 49: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

48

Sendo assim, muitas Instituições de Educação Superior (IES), com a objetivação de

assegurar conceitos elevados na avaliação desenvolvida no âmbito do SINAES, dedicam

especial atenção à titulação do docente, deixando em segundo plano a sua qualificação. Para

Paiva (2010) a manutenção no quadro docente de número representativo de mestres e

doutores pode favorecer a IES que, muitas vezes, utiliza essa decisão e potencialidade própria,

tornando pública a composição do quadro docente, na tentativa de assegurar a captação de

clientela para os seus cursos de graduação. Contudo, a qualificação do corpo docente para o

exercício da educação superior deve ter maior relevância do que o número de portadores de

títulos de mestre e doutor.

Nesta perspectiva, esta investigação pretende analisar sobre o desenvolvimento da

dimensão afetiva que culmina também nos valores éticos e morais do trabalho docente no

curso de direito. Desta forma, trazer em seu bojo a importância da dimensão afetiva no

processo de ensino aprendizagem, bem como refletir sobre a qualificação do docente que vai

além da sua titulação, pois de acordo com o exposto há uma necessidade de unificação,

associação entre: a) titulação – exigida pelos órgãos competentes – e b) a afetividade que diz

respeito a relação docente/discente.

As mudanças na formação docente são necessárias, contudo não se podem abandonar

por completo os métodos didáticos anteriores que deram resultados e ainda continuam

demonstrando eficácia nas relações entre os professores e alunos na busca do conhecimento.

Nesta busca Juliatto (2012, p. 41) expõe,

[...]. Embora não sejamos apenas mentes ambulantes, pois há dimensões

humanas que completam nossa existência, o conhecimento é o ponto de

partida para o nosso acesso ao mundo. Ele influencia tudo o que fazemos:

pensamentos, emoções, vida social, trabalho e transcendência. [...].

Não destoa desse entendimento Lane (1999) quando destaca,

O indivíduo, na sua relação com o ambiente social, interioriza o mundo

como realidade concreta, subjetiva, na medida em que é pertinente ao

indivíduo em questão, e que por sua vez se exterioriza em seus

comportamentos. [...]. Assim, a capacidade de resposta do homem decorre

de sua adaptação ao meio no qual se insere, sendo que as atividades tendem

a se repetir quando os resultados são positivos para o indivíduo, fazendo com

que estas atividades se tornem habituais.

Page 50: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

49

Sobre esta relação, entende-se a fundamental importância da dimensão afetiva na

relação professor/aluno, bem como no processo de ensino/aprendizagem, pois desta forma o

ser humano conseguirá ser afetivo em decorrência do seu ambiente harmonioso (sala de aula),

e isso será passado adiante, ou seja, em cada ambiente em que este aluno se encontre a

afetividade sempre estará presente.

Page 51: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

50

2. ITINERÁRIOS DA PESQUISA

Segundo Bastos e Keller (1998), a história da humanidade desenvolveu-se através das

lutas pelo cognitivo acerca da mãe natureza com o objetivo de interpretá-la e dominá-la. Desta

feita cada geração recebe informações das gerações passadas. E toda essa história é construída

por interpretações místicas, proféticas, filosóficas, científicas e ideológicas. De acordo com os

autores cada ser humano que vem ao mundo já o encontra pensado e pronto através das regras

comportamentais e morais estabelecidas pela sociedade. O homem não vive isolado, mas

cercado pelas circunstâncias. O ser humano não pode se desvincular do seu meio ambiente20

em que vive, pois necessita dele.

Ainda de acordo com os autores, a pesquisa científica trata-se de uma investigação

metódica pertinente a um determinado tema com o intuito de esclarecer aspectos do objeto em

estudo. E tais soluções são buscadas através de pesquisas com métodos apropriados. Na

construção do saber científico Carvalho (2010, p. 77) manifesta-se,

[...]. Podemos dizer que filósofos e cientistas em geral sempre buscaram

alcançar uma compreensão adequada do que vem a ser o saber científico,

como ele procede em que consistem seus métodos, como a ciência atinge

seus resultados, qual a sua credibilidade etc.

De outra sorte essa dissertação foi realizada por meio da abordagem qualitativa com o

objetivo de analisar a dimensão afetiva na relação docente/discente, bem como a influência

desta no processo de ensino/aprendizagem.

2.1 A abordagem qualitativa

De acordo com Carvalho (2010) as investigações teóricas tangentes a um determinado

fenômeno a ser investigado, ao longo dos anos obteve diversas denominações entre elas estão:

epistemologia21

, teoria da ciência, filosofia da ciência e, também metodologia. Esta última

20

Meio Ambiente - conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica,

que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas, segundo a definição do inciso I, artigo 3º da Lei nº

6.938, de 31 de agosto de 1981 que dispõe sobre a Política Nacional de Meio Ambiente. 21

Epistemologia - Ramo da filosofia que se ocupa dos problemas que se relacionam com o conhecimento

humano, refletindo sobre a sua natureza e validade. = Filosofia do conhecimento, teoria do conhecimento,

segundo consulta ao Dicionário Priberam da Língua Portuguesa.

Page 52: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

51

seria uma parte mais restrita da epistemologia – investigação dos métodos – para que o

pesquisador tenha seu ideal exitoso, que significa a produção do saber.

Para a estruturação deste presente trabalho utilizou-se a metodologia do tipo

qualitativa, por entender ser esta metodologia a mais adequada para obtenção dos resultados

que se desejou alcançar. Conforme Richardson (1999), a pesquisa qualitativa caracteriza-se

como uma tentativa de compreensão mais minuciosa dos sentidos e características das

situações exibidas pelos entrevistados, ao invés de medidas quantitativas de características ou

comportamentos. Neste entendimento, Chizzotti (2010, p. 79) menciona,

[...]. A abordagem qualitativa parte do fundamento de que há uma relação

dinâmica entre o mundo real e o sujeito, uma interdependência viva entre o

sujeito e o objeto, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a

subjetividade do sujeito. O conhecimento não se reduz a um rol de dados

isolados, conectados por uma teoria explicativa; o sujeito-observador é parte

integrante do processo de conhecimento e interpreta os fenômenos,

atribuindo-lhes um significado.

Esse tipo de pesquisa nos permite uma maior abertura e nos dá uma possibilidade de

explicação do objeto investigado, bem como a verificação da subjetividade. Nada é deixado

de fora, pois cada item tem sua importância no processo investigativo. Desta feita a pesquisa

qualitativa permite ao investigador fazer uso de todos os dados colhidos e cada dado terá sua

significância, ou seja, nenhum dado é mais relevante do que o outro. Na visão de Chizzotti

(2010) o pesquisador contempla diretamente os significados das ações e das relações que se

escondem nas organizações sociais. Complementa essa ideia Juliatto (2010, p. 104) quando se

manifesta,

[...]. Considerando que a educação é experiência pessoal, os pesquisadores

valem-se desse tipo de abordagem, porque o considera importante para

permitir que a pessoa descreva a sua própria experiência e teça os

comentários sobre o que para ela tem mais significado e importância.

Ainda para o autor, a utilização de pesquisas qualitativas nos trazem inúmeros

benefícios tais como: possibilidade de capturar alguns aspectos subjetivos da qualidade,

excepcionalmente os vinculados aos valores, sempre menos quantificáveis pela sua natureza e

a possibilidade de incluir na avaliação da qualidade conceitos pessoais dos participantes

Page 53: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

52

diretamente envolvidos na experiência acadêmica (JULIATTO, 2010). Desta feita, como

inicialmente destacado, para a realização desta dissertação em educação a pesquisa mais

apropriada no caso em tela foi a qualitativa.

2.2 Os sujeitos de pesquisa

Conforme explica Chizzotti (2010, p. 83) “Na pesquisa qualitativa, todas as pessoas

que participam da pesquisa são reconhecidas como sujeitos que elaboram conhecimentos e

produzem práticas adequadas para intervir nos problemas que identificam.” Este estudo foi

desenvolvido após um diálogo com os alunos em sala de aula a respeito da dimensão afetiva

entre o corpo docente e discente do curso de direito. Os sujeitos de pesquisa foram os alunos

do curso de Direito noturno, da 4ª fase, 5ª fase e 6ª fase. Ressalta-se que os discentes

participantes da pesquisa foram acadêmicos de Direito de um Centro Universitário do

município de Jaraguá do Sul. Destaca-se que todos os alunos envolvidos na pesquisa

assinaram o “Termo de consentimento livre e esclarecido” – (modelo Apêndice “B”).

A autorização (modelo Apêndice “C”) para a realização da presente pesquisa fora

consentida pelo coordenador do curso de Direito com o aval da reitoria da Instituição

Educacional. Vale destacar que apenas o corpo discente participou como sujeitos da pesquisa

para que se obtivesse uma maior fidelidade nas respostas.

2.3 Instrumentos de coleta de dados

Na coleta de dados foi utilizado um questionário semiestruturado com questões

abertas e fechadas como instrumental de coleta de dados. Chizzotti (2010, p. 89) a respeito da

coleta dos dados e do seu tratamento registra muito bem nesta passagem como deve ser um

processo mais adequado,

Os dados são colhidos, interativamente, num processo de idas e voltas, nas

diversas etapas da pesquisa e na interação com seus sujeitos. [...]. No

desenvolvimento da pesquisa, os dados colhidos em diversas etapas são

constantemente analisados e avaliados. Os aspectos particulares novos

Page 54: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

53

descobertos no processo de análise são investigados para orientar uma ação

que modifique as condições e as circunstâncias indesejadas.

Para uma coleta mais apropriada foi aplicado um total de 70 (setenta) questionários,

contendo 6 (seis) perguntas abertas e 10 (dez) perguntas fechadas (modelo - Apêndice “A”),

cujo o olhar dos acadêmicos do curso de Direito foi de fundamental importância para a análise

o objeto de estudo que é a dimensão afetiva na relação professor- aluno. Justifica-se a

aplicação nas fases escolhidas por estes terem sido meus alunos e estes se sentiram mais a

vontade para responder as perguntas do questionário quando inquiridos a participar da

pesquisa. De acordo com Chizzotti (2010, p. 90) os dados qualitativos terão validade se seguir

alguns critérios quais sejam,

[...]: fiabilidade (independência das análises meramente ideológicas do

autor), credibilidade (garantia de qualidade relacionada à exatidão e

quantidade das observações efetuadas), constância interna (independência

dos dados em relação a acidentalidade, ocasionalidade etc) e

transferibilidade (possibilidade de estender a outros contextos).

Por esse motivo, mais uma vez se ratifica a aplicabilidade do questionário nas 4ª, 5ª e

6ª fases, para a obtenção de respostas mais fidedignas, ou seja, livres de qualquer vício que

levasse a resultados errôneos ou incertos.

2.4 Tratamento dos dados

De acordo com Chizotti (2010, p. 98) análise de conteúdo é: “[...] um método de

tratamento e análise de informações, colhidas por meio de técnicas de coleta de dados,

consubstanciadas em um documento.” Compartilha desse entendimento Bardin (1999, p. 46)

ao destacar que:

[...]. A análise de conteúdo, por seu lado, visa o conhecimento de variáveis

de ordem psicológica, sociológica, histórica, etc., por meio de mecanismo de

dedução com base em indicadores reconstruídos a partir de uma amostra de

mensagens particulares.

Portanto, a análise de conteúdo busca realizar o tratamento dos dados através das

significações do conteúdo, ou seja, o que está por detrás das palavras. Bardin (1999) diz que

Page 55: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

54

os dados são tratados de forma que estes sejam significativos e válidos. Destaca ainda que o

pesquisador ao ter a sua disposição resultados expressivos e fidedignos poderá propor

conclusões e antecipar leituras dos dados com respostas previstas ou outras inesperadas.

Ainda de acordo com a autora, a análise de conteúdo se fundamenta na ideia de que a

categorização22

(passagem de dados brutos para dados organizados) não induz a erros, nem

tampouco a desvios desses dados, contudo nos dá a possibilidade de constatar dados invisíveis

quando estes estão no estado bruto.

Diante disso, na análise de conteúdo optamos pelo tratamento dos dados através da

divisão de categorias, quais sejam: a) A afetividade no desempenho cognitivo e na percepção

dos valores éticos e morais; b) Concepção de afetividade; c) A influência da afetividade no

trabalho docente como contribuição na formação profissional do aluno; d) A importância da

afetividade no processo cognitivo e no desenvolvimento dos valores fundamentais da

profissão; e) A influência da afetividade na relação professor/aluno para o exercício da

profissão; e f) Aspectos que influenciaram na mudança do comportamento ou na escolha da

profissão. Ressalta-se que as categorias acima mencionadas serão tratadas no capítulo a

seguir.

22

A categorização é uma operação de classificação de elementos constitutivos de um conjunto por diferenciação

e, seguidamente, por reagrupamento segundo o gênero (analogia), com os critérios previamente definidos.

Conceito extraído do livro “Análise de Conteúdo”. (BARDIN, 199-, p. 145)

Page 56: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

55

3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

DE ENSINO APRENDIZAGEM

O escopo da análise dos dados é assimilar criticamente a direção das comunicações,

seu conteúdo manifesto ou não manifesto, bem como as significações claras ou latentes

(CHIZZOTTI 2010). Após a aplicação dos questionários foi analisado pergunta a pergunta

para posterior categorização das palavras com maiores índices nas respostas. O objetivo da

categorização é compreender qual o olhar que os alunos têm sobre a dimensão afetiva que

resulta em valores éticos e morais no trabalho docente no curso de direito. Segundo Bardin

(2010) quando se começa a se analisar os conteúdos então se decide codificar o seu material,

para isso deve-se produzir um sistema de categorias. Esta categorização tem como premissa

fornecer uma condensação, uma representação simplificada dos dados “brutos” obtidos. Os

quadros e gráficos das perguntas 1 a 4 dos questionários aplicados nas fases de direito noturno

encontram-se no anexo “A”.

As perguntas 1 a 4 tiveram um caráter socioeconômico, podemos constatar que dos 70

(setenta) alunos pesquisados, 52,9% são do sexo masculino e 47,1% do sexo feminino, as

informações sobre o estado civil destes alunos 15,7% são casados e 84,3% solteiros. Também

foi possível verificar que deste universo de alunos pesquisados, 12,9% moram sozinhos, ao

passo que 87,1 moram com a família. A respeito da escolaridade destes alunos pode-se

observar que 88,6% dos alunos estavam fazendo a primeira graduação, já 7,1% segunda

graduação e 4,3% responderam que já possuíam uma pós-graduação.

As demais tabelas produzidas e analisadas a partir das perguntas fechadas 6, 8, 9, 12,

13, e 15 poderão ser observadas no texto a seguir. Estas foram desenvolvidas em valores

percentuais para um melhor entendimento da significância dos dados.

Quadro 1

PERGUNTA

6

PERGUNTA

8

PERGUNTA

9 PERGUNTA 12

PERGUNTA

13

PERGUNTA

15

1ª 67 1ª 68 1ª 7 SIM 65 NÃO 3 1ª 4 1ª 5

2ª 0 2ª 2 2ª 16 1ª 4 2ª 6 2ª 28

3ª 0

3ª 50 2ª 27 3ª 41 3ª 0

4ª 3

4ª 0 3ª 23 4ª 5 4ª 28

4ª 3 5ª 17 5ª 13

Page 57: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

56

5ª 8 6ª 6 6ª 13

6ª 15 7ª 18

7ª 35

8ª 9

Fonte: Elaborado pelo próprio pesquisador com dados obtidos na pesquisa realizada.

3.1 A afetividade no desempenho cognitivo e na percepção dos valores éticos e morais

Quando se analisa a questão se a afetividade influencia no desempenho cognitivo do

aluno em sala de aula, 95,7% dos alunos responderam a primeira alternativa que corresponde

afirmativamente, pois desta forma haverá uma maior interação entre professor e aluno,

consequentemente, há uma maior facilitação no aprendizado. Neste prisma Ranghetti (2002,

p. 88) chama a atenção ao escrever: “Sentir-se bem no ambiente de aprendizagem, ser aceito e

valorizado como ser que pensa, sente, conhece, apresenta-se como alicerce de uma relação

educativa em que a afetividade se faz presente”. Diante das evidências não há como negar que

a dimensão afetiva é importante no processo de ensino/aprendizagem.

Da mesma forma, pode-se refletir quando perguntados sobre a percepção que estes

alunos têm sobre os valores éticos e morais desenvolvidos quando ocorre afetividade entre o

professor e aluno. Dos 70 pesquisados, 97,1% dos acadêmicos responderam a primeira

alternativa que equivale afirmativamente, pois dizem que a afetividade contribui para

reafirmar a importância dos valores éticos e morais. Portanto, trazemos Tardif (2000) que

destaca que se os valores orientadores do agir profissional não são mais significativos, então a

prática profissional pressupõe uma reflexão sobre os fins desejados em contraposição ao

pensamento tecnoprofissional localizado somente no âmbito dos meios. Por, isso as respostas

dos alunos confirmam que a dimensão afetiva se faz necessária na relação docente/discente e

que esta é de fundamental importância nesta relação.

No olhar dos acadêmicos do curso de Direito quando perguntados sobre a percepção

que têm se o corpo docente deste curso em um Centro Universitário de Jaraguá de Sul23

desenvolve os valores éticos e morais em sala de aula, as respostas com maiores incidências

foram: 71,4% dos alunos optaram por mencionar que “os professores que possuem maior

afetividade em sala de aula desenvolvem frequentemente os valores morais e éticos”, por

23

O nome da Instituição foi omitido em decorrência do compromisso assumido pelo pesquisador de que todos os

dados coletados e o nome da instituição seriam mantidos em sigilo.

Page 58: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

57

acharem ela mais significativa em seu ponto de vista, 22,86% das respostas foi na opção

“Não, são poucos os professores que se preocupam em passar estes valores”. Apesar de

aparentemente a 2ª alternativa possuir um percentual baixo e a primeira vista não ser tão

significativa, vale destacar que não se pode desprezá-la, haja vista que esta resposta

complementa a intenção da maioria dos alunos que optaram pela 3ª alternativa. Diante dos

fatos é incontestável que o professor que possui maior afetividade na relação docente/discente

tem maior facilidade em transmitir aos alunos os valores tão importantes na profissão do

operador de direito.

Tardiff (2000) a respeito desta premissa se manifesta destacando que as práticas do

docente quando envolvem emoções podem suscitar questionamentos e surpresas, diante disso

– de forma involuntária – se perguntas se as suas intenções, os seus valores e as suas

maneiras de trabalhar estão corretos? Tal comportamento a respeito dessas indagações sobre a

maneira de ensinar, de relacionar-se com os outros, bem como sobre os resultados de suas

ações e sobre os valores nos quais se fundamentam, exigem deste professor uma grande

disponibilidade afetiva (grifo nosso). Também uma capacidade de avaliação e separação das

reações interiores para que possa continuar seu trabalho docente, com a certeza de que está

fazendo seu melhor e sem se arrepender quando as surpresas e questionamentos surgirem a

respeito de sua ação.

Quando se interpreta a percepção que os alunos têm, no curso de Direito, se já tiveram

aula com professor que não demonstra afetividade, 92,86% dos alunos responderam que sim

e apenas 4,3% responderam não. Em decorrência disso, as alternativas com maiores

incidências que identificam as respostas dos acadêmicos foram: 50% dos alunos entendem

que “Reforçou meu entendimento de que é necessária a afetividade para contribuir no

processo de ensino/aprendizagem”; 38,6% dos alunos optaram em responder “Meu

aprendizado ficou prejudicado”; 32,9% dos acadêmicos entendem que “A relação docente-

discente ficou prejudicada”. Compactua desse entendimento Masetto (2003) que ressalta a

interação entre professor/aluno, seja ela de forma individualizada ou coletiva, se evidencia no

processo cognitivo e se enaltece na mediação pedagógica (já anteriormente conceituada no

subtítulo 1.2) por parte do professor, em um comportamento de parceria e corresponsabilidade

pelo processo de aprendizagem, entre aluno e professor, e assumida de forma adulta por estes.

Diante destas evidências percebe-se que o professor possui uma responsabilidade imensurável

em sala de aula.

Page 59: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

58

Quando se interpreta do que o desenvolvimento afetivo depende, as respostas dos

acadêmicos do Curso de Direito revelam que 58,6% dos alunos acham que a afetividade

depende de ambos, professores e alunos. Desta forma, podemos verificar que 25,7% dos

discentes manifestaram que o desenvolvimento da afetividade depende, em ordem de

preferência, “Da empatia entre professor e aluno”; 25% dos acadêmicos alegam que a

afetividade depende “Da segurança que o professor passa ao aluno”. De acordo com as

respostas acima descritas, Ranghetti (2002) tem razão quando destaca que a afetividade é um

processo de afetar e ser afetado, a uma ativação do “eu” para a ação, isso só se consegue

através da humildade, da parceria e da reciprocidade.

Finalizando as perguntas fechadas foi perguntado também se na opinião do aluno o

que seria necessário para facilitar a afetividade entre professor e aluno no curso de direito? A

partir das respostas dos alunos podem-se observar semelhanças em alternativas que foram

mencionadas como opções. Das alternativas 2ª e 4ª, que corresponde a 40% da intenção dos

alunos, estes responderam que como facilitador da afetividade entre professor/aluno seria

necessário: “Cursos de formação continuada que abordem a importância da afetividade no

processo ensino/aprendizagem” e “Uma ouvidoria, para que o aluno pudesse relatar a postura

do professor em sala de aula, assim a Instituição pudesse tomar as atitudes cabíveis e que

houvesse retorno aos alunos”. Já nas alternativas 5ª e 6ª, 18,57% dos discentes escolheram

responder que como facilitador da afetividade na relação docente/discente era necessário:

“Que na avaliação Institucional tivesse uma pergunta que tratasse do tema” e “Temática que

deveria estar salientada no Projeto Político Pedagógico do curso”. Verifica-se nas respostas

que há uma preocupação dos alunos em que os professores sejam mais afetivos em sala de

aula, isso resulta uma maior interação na relação professor/aluno e, consequentemente um

resultado positivo no processo de ensino/aprendizagem.

3.2 Concepção de afetividade

Nesta parte da pesquisa serão analisadas as categorias eleitas a partir das informações

das questões abertas do questionário aplicado aos alunos do curso de Direito. Estes eixos

desenvolvidos contribuem para a compreensão dos objetivos desta investigação que é analisar

e compreender a dimensão afetiva na relação docente/discente no olhar do acadêmico do

Page 60: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

59

curso de Direito. Assim, segue-se a sequência da análise realizada por meio dos arranjos,

pontes e conexões com os pressupostos teóricos desenvolvidos na dissertação, bem como a

relação entrevistador-entrevistado como uma mediação necessária na postura metodológica

assumida. Convém ressaltar, que na análise das perguntas abertas, como foram 70 sujeitos

pesquisados, optou-se utilizar o conteúdo das falas que na categorização nos pareceu mais

expressivas para trazermos significados, inferências, valores, etc., que dessem conta dos

objetivos deste estudo. A seguir, observam-se em relação à concepção da afetividade algumas

falas dos alunos24

,

Afetividade é possuir um relacionamento bom, onde possa existir troca de

experiências, opiniões, onde haja respeito. Com isso ser alcançado um

objetivo, uma amizade (Ana Catarina).

A afetividade é o comportamento no qual se dá a relação das pessoas. Pode

ser com ou sem sucesso (Carla).

São princípios e valores aplicados ao cotidiano. O afeto em si, demonstrado

ao ser humano. É compreender o ser, como único, com defeitos e

qualidades, como alguém humano (Débora).

Afetividade é uma forma de aproximação entre pessoas, na qual estas

trocam experiências e preocupações, de modo que se alcance a

convergência entre ideias e objetos, buscando um melhor relacionamento

(Leonardo).

Entendo que se trata de um conceito ou relação na qual estão presentes o

respeito de várias formas, assim como se zela o bem estar, a preocupação

propriamente dita, e o esforço mútuo visando a satisfação de ambos.

(Alexander).

A afetividade para mim é ter boa convivência com as pessoas, ser aceito do

jeito que sou e aceitar os outros do jeito deles. (Valmor)

Estes depoimentos sobre a concepção da afetividade vista pelos alunos do curso de

Direito, nos levam a refletir sobre o entendimento de Ranghetti (2002, p. 88/89) ao discorrer

que “A afetividade diz da disposição do ser para com o outro, da abertura para perceber o

outro, ocolhê-lo para, juntos, renascer, reconstruir, ser.” Compactua desta compreensão

24

Vale destacar que os nomes dos alunos nos depoimentos são fictícios em virtude do compromisso assumido

pelo pesquisador de que iria manter sigilo com relação aos seus nomes.

Page 61: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

60

Saltini (1999) quando se manifesta alegando que a educação é feita com duas mãos, ou seja,

uma mão que fornece aconchego, prazer e amor, enquanto que a outra mão frustra desafia e

impõe limites. Se ocorrer um desequilíbrio nessa dosagem, a educação estará fadada ao

fracasso, isso significa dizer que o professor está cometendo um erro na proposta que tinha

para fazer. Diante disso, como pesquisador e também professor acredita-se que o último não

pode frustrar demais o aluno, nem tampouco aconchegá-lo demais, mas buscar o equilíbrio

nesta relação.

Neste sentido percebe-se que a afetividade expressa um sentimento de valorização

humana, em que um respeita o outro na sua forma de ser e de agir, e as diferenças são

utilizadas para um crescimento mútuo, sem apontamentos de defeitos, mas sim de qualidades,

sem que haja desequilíbrio nas limitações de regras, bem como no afeto.

3.3 A influência da afetividade no trabalho docente como contribuição na formação

profissional do aluno

Este eixo está relacionado como a opinião que o aluno tem sobre a afetividade no

trabalho do professor e como pode contribuir na formação profissional do aluno. Far-se-á o

mesmo procedimento anterior para realizar a análise comparativa das respostas dos alunos e

dos conceitos dos autores supramencionados nesse trabalho. De acordo com a resposta dos

acadêmicos,

Faz com que o acadêmico veja a profissão não só como mais um meio de

obter lucros, mas que é necessário ganhar, mas desenvolver um trabalho

ético e moral, pegar causas que sejam sim para melhorar a situação de seus

clientes, sem que venha a prejudicar a outra parte. Venham a proporcionar

uma satisfação pessoal em ganhar e ver o cliente e a parte contrária

satisfeita. (Demóstenes).

Acredito que a afetividade tem poder de “quebra-gelo”, pois torna o

ambiente mais casual, menos impessoal, consequentemente há uma maior

participação dos alunos nas aulas, pois há uma grande parcela de alunos

que se sentem inibidos ou simplesmente são tímidos. Assim, mais alunos são

encorajados a dirimir suas dúvidas, contribuindo para um melhor

aprendizado (Ângelo).

Page 62: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

61

Sim, pois ao receber uma formação com afetividade o indivíduo desenvolve

melhor suas potencialidades, devido a uma maior interação professor x

aluno, acarretando uma melhor formação profissional (Cassiano).

A afetividade faz com que o aluno tenha vontade de vir à aula, de

compartilhar conhecimento, de debater, de questionar. Um professor que

não se abre, que não interage com a turma, que apenas impõe sua opinião,

não motiva o aluno o aluno a estudar, a pesquisar e muito menos assistir as

aulas. É desperdício de tempo que pode gerar “decoreba”, mas dificilmente

aprendizado (Cristina).

Com certeza, tudo se torna mais agradável, com a afetividade os alunos tem

mais interesse, contribuem mais com as aulas o aprendizado é maior,

tornando a formação do aluno excelente (Paula).

O curso de direito tem como a maior importância a vida, as pessoas, com a

afetividade podemos transformar caráter, valores éticos e morais. (Tereza).

As informações contidas nas respostas dos alunos convergem às reflexões realizadas

por Brito (2003) quando diz que não é apenas agora que se faz necessário conhecer as

necessidades sociais e as expectativas individuais dos alunos (grifo nosso), em que as

instituições educacionais estão preocupadas com a qualidade total, mas sim em qualquer

modelo pedagógico que se adote. Agindo desta forma estaremos proporcionando aos

professores possibilidades de traçarem metas viáveis e realistas, bem como poder assumir

responsabilidade pelos resultados desejados. Nesse sentido discorre Masetto (2003) quando

destaca que há entre o professor e o aluno uma atitude de parceria e corresponsabilidade, esta

surge através do acordo entre as partes envolvidas, para que se possa buscar de forma

harmoniosa e eficaz a aprendizagem, consagrando-se desta feita o desenvolvimento pessoal e

profissional do aluno.

Nessa análise observa-se que a afetividade no trabalho do professor pode e muito

contribuir com a formação profissional do acadêmico de direito, tendo em vista a explanação

dos autores acima citados, pois se o professor se preocupa com as necessidades sociais e as

expectativas individuais, este estará sem dúvida praticando a dimensão afetiva de forma

positiva. Isso com certeza influirão e muito na formação deste aluno, seja ela profissional ou

pessoal.

Page 63: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

62

3.4 A importância da afetividade no processo cognitivo e no desenvolvimento dos valores

fundamentais da profissão

Esta categorização está associada à pergunta sobre a importância deste fator para os

acadêmicos do curso de Direito, bem como a importância da afetividade na construção do

processo cognitivo do aluno e do desenvolvimento de valores fundamentais para a prática

profissional. Nas falas dos alunos pode-se observar,

É muito importante, pois demonstra que na prática jurídica não é, ou não

deve ser, apenas fria e calculista. Nos mostra que, apesar de tudo, quando

advogamos lidamos também com a vida alheia (Sônia).

Muito mais do que interpretar leis, nosso trabalho gira em torno de pessoas

e em prol destas pessoas. Sendo assim, extrema é a importância em se

demonstrar afetividade para com as pessoas as quais nos relacionamos, pois

assim, conseguiremos também adquirir a confiança destas pessoas.

(Solange)

Meu aprendizado foi baseado na afetividade, e quando a percebo em algo,

quando me sinto bem com algo, isso me faz querer cada vez mais

proximidade com aquilo. Assim, a importância da afetividade é permitir-me

uma formação mais humana, mais próxima da realidade e baseada em

valores morais e éticos (Tabata).

É importantíssimo, pois trata o bem maior que são os valores cotidianos de

convívio no meio acadêmico e profissional, trazendo a tona o respeito e a

relação social decente (Júlio César).

Individualmente falando, acredito que não é possível notarmos se esse valor

deixa de existir em uma pessoa (aluno) em sala de aula, mas se abordarmos

uma turma inteira e verificarmos o comportamento dela que foi instruído

por um professor que se utiliza no seu dia-a-dia a afetividade, “mostrando”

na prática a ética e a moral, teremos resultados positivos nos futuros

profissionais (Alfredo).

Muitas pessoas não recebem de casa instruções ou princípios básicos de

convivência em sociedade; como o professor é de certa forma um líder,

muitos o seguem e dependendo a forma que o professor passa as lições, será

a forma que os alunos seguirão em suas vidas (Ingo).

Estes depoimentos demonstram que princípios norteadores como a convivência, o

relacionamento com os pares, a formação humana estão associados à dimensão afetiva. Neste

aspecto, é importante a passagem de Ranghetti (2002, p. 88), no livro Dicionário em

construção, em que a autora escreve que é “no acolhimento, na valorização da expressão, no

Page 64: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

63

gesto, no olhar, na escuta, na sensibilidade em perceber o outro como um ser diferente,

entretanto, semelhante, por constituir-se como ponto de referência para nossa própria

composição.”. Portanto, podemos observar que a dimensão afetiva é um sentimento que faz

com que o aluno se preocupe mais com o seu próximo. Desta feita, tornar-se-á um

profissional mais humano e preocupado com as questões sociais.

3.5 A influência da afetividade na relação professor/aluno para o exercício da profissão

Este outro eixo ou categoria desenvolvida na pesquisa traz a percepção dos alunos de

como a afetividade entre professor e aluno influencia no exercício da profissão do futuro

advogado. Abaixo alguns depoimentos,

Tornando profissionais capacitados, com a capacidade de tornar um mundo

melhor, fazendo aquilo que gosta e não aquilo que dá mais dinheiro

(Gregório)

Pode ser que sim, pelo motivo de que aquele professor que ensina de forma

afetiva, passa o conteúdo base no que já ocorreu na profissão dele, ou seja,

ajudará o aluno, futuro profissional a não cometer o mesmo erro que ele

(Mário)

Sim, nos espelhamos na postura do professor, e com isso podemos ser

profissionais afetivos no futuro (Sérgio).

A afetividade está ligada e podem ser expressos os direitos fundamentais da

pessoa humana como a dignidade. Esses valores são importantes para a

formação da moral e ética do aluno que poderá expressá-los em sua

profissão, inclusive no tratamento com seus clientes (Márcia).

Como respondido no item 10, a afetividade influencia a maneira como

enxergamos as outras pessoas, nos ensina vê-las não só como parte de um

processo, mas como o professor acaba vendo a pessoa e não somente o

aluno, acabamos vendo o ser humano e não somente o cliente (Demítria).

Cada pessoa já possui sua própria personalidade, mas, assim como

adquirimos conhecimento, um professor também nos ensina o

comportamento. Se lidarmos com professores “rudes” ou “secos” pode ser

que adotemos tal posicionamento perante situações. Assim como, se

lidarmos com professores humildes e preocupados com o próximo, tais

atitudes serão adotadas pelos alunos (Jocasta).

Page 65: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

64

Estes depoimentos são extremamente relevantes para se considerar aquilo que Tardif

(2002) coloca sobre a atuação do professor, que ele não atua só, pois vive em constante

interação com pessoas, a começar pelos alunos. Se pensarmos na relação professor aluno, o

trabalho docente não é realizado sobre um objeto, sobre um fenômeno a ser reconhecido ou

sobre uma obra a ser produzida, mas sim sobre uma rede de interações com outros seres

humanos, donde estarão presentes símbolos, valores, sentimentos, atitudes, os quais são

possíveis de serem interpretadas e posteriormente decididas através da mediação de certos

canais tais como: discurso, comportamentos, maneiras de ser, etc. Essa interação

professor/aluno se dá através da dimensão afetiva. Segundo Saltini (1999, p. 81) encontram-se

nesta passagem alguns dizeres que reforçam a fala de Tardif,

A educação é uma arte. Não é mera profissão ser educador. Manipulamos a

educação com as duas mãos: do afeto e da lei e das regras. Enganam-se

aqueles que veem na educação construtivista, uma educação caótica. O afeto

buscando o prazer se transforma em interesse e este por sua vez provoca

a interação com o meio (grifo nosso).

Observa-se então que mais uma vez a dimensão afetiva na relação professor/aluno

influencia no exercício da profissão do futuro advogado como um ensaio para advogar,

utilizando-se para isso os valores obtidos no aprendizado. Estes interagem constantemente em

sala de aula, destaca-se ainda que alguns professores “trabalham” com estes alunos por um

longo período e é impossível dizer que ambos os lados não são afetados. Diante disso, sem

medo de errar, pode-se dizer que a dimensão afetiva na relação que se estabelece entre

professor e aluno tem uma forte influência para que o acadêmico se torne um profissional

mais humano e preocupado com o próximo, bem como no sentido de contribuir para que este

seja mais confiante no exercício da profissão, neste caso a advocacia, tomando decisões justas

e mais corretas.

3.6 Aspectos que influenciaram na mudança do comportamento ou na escolha da

profissão

Quando se analisou a opinião dos acadêmicos sobre os aspectos da afetividade que

influenciaram na mudança de seu comportamento ou se influenciaram na escolha da vida

Page 66: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

65

profissional. Pelo fato da pergunta 14 solicitar aos acadêmicos que descrevessem os três

principais motivos por ordem de preferência, a análise dos dados obtidos teve um tratamento

diferenciado. Nos 70 questionários aplicados a soma das palavras que mais apareceram em

ordem de preferência serão apresentadas abaixo; contudo faz-se um breve destaque de que

apenas as palavras com incidências maiores ou iguais a 4 (quatro) foram utilizadas para

representar as opiniões dos pesquisados pelo fato. Diante disso, tem-se:

Quadro 2

PALAVRAS INCIDÊNCIAS

RESPEITO 14

AUXÍLIO AO PRÓXIMO 10

COMUNICAÇÃO 9

RELAÇÃO PESSOAL 8

VALORES 6

AMIZADE 5

COMPREENSÃO 5

CARINHO 5

ÉTICA 5

INTERATIVIDADE 5

AFETO 4

ATENÇÃO 4

COMPROMETIMENTO 4

EDUCAÇÃO 4

MORAL 4

RECONHECIMENTO 4

RELAÇÃO PROFISSIONAL 4

VONTADE 4 Fonte: Elaborado pelo próprio pesquisador com dados obtidos na pesquisa realizada.

Como se pode verificar, as cinco primeiras palavras com maiores índices de

visualização foram: a) Respeito; b) Auxílio ao próximo; c) Comunicação; d) Relação pessoal;

e e) Valores. Sugere-se de que estas opiniões refletem a veracidade do caso concreto, ou seja,

que através da dimensão afetiva entre professor/aluno consegue-se respeito mútuo, o auxílio

ao próximo (pode ser em relação ao professor/aluno ou vice-versa), destacando-se a

importância da comunicação entre os pares educativos, contextualiza-se que por meio desta

relação pessoal (docente/discente) consegue-se se transmitir os valores pertinentes a formação

profissional do aluno, ou seja, no exercício da advocacia.

Page 67: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

66

Nesse prisma, discorre Reale (2002) ao comentar que certos valores se destacam de

forma imperativa em algumas ocasiões, fazendo com que indivíduos e povos vençam algumas

tendências “naturais”, ou seja, aquilo em que o instinto diz que deveria ser feito, para-se e

reflete-se sobre o acontecido de forma ponderada e com equidade. Desta feita, percebe-se que

o ser humano colocou em prática o seu autodomínio, superando assim as inclinações naturais

instintivas, bem como os estímulos rudimentares da vida afetiva, que pertencem ao seu

mundo valioso. Diante disso, constata-se verdadeiramente que o mundo do valioso é do

superamento ético.

Estas reflexões levam em consideração que a comunicação é um elemento importante

na relação professor- aluno, a interação com o professor e os valores transmitidos na relação

docente/discente deve ocorrer por meio da dimensão afetiva que acaba contribuindo para

modificar seu comportamento, bem como contribui na própria escolha da profissão. Na

pergunta 16 do questionário: “Se você pudesse mudar algum aspecto no curso, o que

mudaria?” Alguns alunos deram sua opinião,

Aulas mais dinâmicas, verificação da opinião dos alunos e a

postura/didática de alguns professores (Carmem).

A relação entre professor aluno, motivação de alguns professores e

interesse/preocupação do professor ao aprendizado do aluno (Alexia).

Empatia dos professores, didática dos professores e Instalações adequadas

(Bernadete).

Frieza em sala de aula, distância aluno/professor e uma maior afetividade

(Leandro).

Maior integralidade com outras fases, colocaria disciplinas que objetivasse

as emoções como psicologia e maior integralidade com outros cursos

(Daniel).

Interação entre alunos, interação entre os professores e Interação entre

alunos e professores (Danilo).

Nos depoimentos é possível perceber que além de mudarem a relação afetiva entre

docente/discente, mudariam também a interação entre professor/aluno, aluno/aluno,

fases/fases e curso de Direito com outros cursos. O objetivo seria quebrar o paradigma de que

o curso de Direito é diferente dos demais. Com as mudanças também se observaria: a empatia

entre as partes envolvidas (professor/aluno); a motivação, ou seja, um maior estímulo por

Page 68: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

67

parte do professor para que o aluno não desista e prossiga adiante apesar das dificuldades; a

frieza, pois haveria uma maior interação e integração em sala de aula por parte dos envolvidos

e por último, a didática, peça chave do sistema, sem ela é difícil, porque não dizer impossível

concluir o objetivo traçado pelo professor, que é o processo de ensino/aprendizagem. Neste

norte, André e Mediano (1999, p. 191) discorrem a respeito da atuação do professor da

seguinte forma,

O ensino precisa estar calcado na experiência social concreta dos alunos,

exigindo também uma atuação fundamental do professor que vai transformar

a massa de conhecimentos existentes numa matéria preparada, ordenada e

simplificada para ser assimilada pelo aluno. Aí é que se encontra o cerne do

trabalho pedagógico: no confronto da prática social do aluno com o

conhecimento organizado trazido pelo professor, o que propicia o

desenvolvimento de novas formas de atuação sobre a realidade.

As autoras destacam que é neste vai e volta – da prática para a teoria e retornando para

a prática – que as partes envolvidas (professores e alunos) examinam suas próprias vidas para

entenderem como as ideologias da massa da sociedade afetam sua própria história. Este é o

marco da superação, ou seja, verifica-se o que é preciso fazer para transpor as limitações e

desenvolver a ação transformadora. É nessa troca de experiências de conteúdos culturais que

se propõe a construção de uma nova sociedade. Diante do exposto, constata-se que os alunos

gostariam que houvesse maior comprometimento com o ensino por parte dos professores, que

houvesse mais afetividade na relação professor/aluno, que as aulas fossem mais dinâmicas e

por fim que os professores tivessem mais criatividade e postura didática. Com isso, teríamos

três vencedores, o professor, o aluno e principalmente a sociedade, pois desta, estariam

fazendo parte cidadãos mais afetivos e comprometidos com o social.

Refletindo por meio da análise realizada das informações que se obteve na divisão das

categorias como pesquisador constatei que a mediação pedagógica realizada através da

dimensão afetiva, tanto na relação professor/aluno, quanto no processo de

ensino/aprendizagem que é necessária e foi ressaltada pelos alunos do curso de direito. Ao

realizar uma conexão das informações ou resultados encontrados nesta pesquisa com as

reflexões engendradas pelos autores na fundamentação teórica como, Piaget, Vigotski e

Wallon – com amparo em seus dizeres – ressalto que a afetividade impulsiona o

desenvolvimento cognitivo dos sujeitos, instaurando vínculos imediatos com o meio social,

abstraindo deste meio o seu universo simbólico, culturalmente elaborado e historicamente

acumulado pela humanidade.

Page 69: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

68

Na manifestação de Wallon (1986) quando ignoramos as grandezas sociais e políticas

da educação, estamos realizando uma obra artificial e limitada, pois a educação é um fato

social, assim como o homem é um ser social. Por este motivo os métodos pedagógicos não

podem ser desvinculados das propostas da educação, nem tampouco do sistema social que a

institui.

Foi possível constatar a importância da dimensão afetiva no processo de

ensino/aprendizagem quando comparou-se as opiniões dos alunos acima descritas com a fala

de Piaget e Inhelder (1990) quando estes destacam que há uma relação entre a afetividade e o

cognitivo, e que são irredutíveis, indissociáveis e complementares, compactuando desta forma

com o entendimento de Vigotski. Diante disso, Vigotski (2008) ressalta que os alunos podem

realizar inúmeras ações, as quais vão além dos seus limites e de suas próprias capacidades,

quando estiverem em sala de aula mediante a orientação do professor. Em virtude disto, mais

uma vez percebe-se a importância da afetividade na relação docente/discente, bem como no

processo de ensino e aprendizagem.

Page 70: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

69

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante da relevância científica e social do estudo apresentado e da complexidade do

tema pesquisado, destaco o quão foi desafiador e gratificante, ao mesmo tempo, realizar esta

investigação e estudo sobre a dimensão afetiva no processo de ensino aprendizagem a partir

do olhar do acadêmico de Direito. Ressalto que durante o curso de mestrado e no transcorrer

da pesquisa, desde a aplicação dos questionários para a coleta dos dados e, posteriormente às

análises dos eixos de pesquisa propostos, minhas concepções e opiniões foram mudando.

Digo sem medo de errar que houve um enorme crescimento tanto profissional quanto pessoal.

Destacamos também a importância da afetividade na prática docente, pois entendemos

que esta se constitui numa facilitadora do aprendizado do aluno. Constatamos nesta

investigação que se esta efetividade estiver presente em sala de aula as partes envolvidas são

afetadas de uma forma ou de outra, seja o professor pelos alunos, ou estes pelo professor. Os

pressupostos teóricos contribuíram para ressaltar as mudanças na prática docente, à

visibilidade destas mudanças pode ser vista em sala de aula, desde idades diversas, culturas

diferentes, bem como gerações diferentes, isto ocorre tanto com os alunos como com os

professores.

Nesta premissa é que se dão as mudanças na prática docente, tendo em vista que os

professores mais velhos encontraram alunos muito jovens e alguns alunos mais velhos

encontraram professores mais jovens. Neste antagonismo de gerações vêm as divergências,

motivo que se faz necessária às alterações na didática do professor.

Neste sentido, destaca-se o método utilizado por meio da pesquisa qualitativa, método

mais apropriado ao caso concreto. Esta investigação proporcionou através da relação

entrevistador-entrevistados momentos de muita gratificação e de um melhor conhecimento do

perfil dos alunos que fazem parte desta Instituição Educacional de Nível Superior do

Município de Jaraguá do Sul, local em que ministro aulas já há algum tempo e foi por meio de

observações realizadas dentro da sala de aula é que me interessei em desbravar o tema no

curso de Direito. Até o presente momento percebi que muito se tem pesquisado em outras

áreas e são raras as investigações sobre a temática na área do Direito.

Na coleta dos dados, obtida através da aplicação de um questionário pode-se observar

que a dimensão afetiva é uma premissa básica para o processo de ensino aprendizagem, seja

desde o jardim de infância até a pós-graduação. Nós professores temos uma grande

Page 71: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

70

responsabilidade com relação ao processo de aprendizagem dos alunos, pois nos tornamos

exemplos a serem seguidos. E se não formos um referencial toda a magia do ensino não

atingirá seu objetivo.

A análise dos dados foi dividida em 6 (seis) categorias, as quais proporcionaram

estabelecer uma melhor configuração e estruturação para se chegar aos objetivos propostos e

dar conta de forma mais assertiva ao objeto de estudo. Os achados revelaram que a partir do

olhar dos acadêmicos a dimensão afetiva se constitui numa relação estreita entre os seres

humanos, em que um aceita o outro do seu jeito, com suas diferenças e suas qualidades, com

suas diferenças culturais, etc. Isto significa que este processo deve acontecer no interior da

sala de aula, o professor deve entender o aluno em suas necessidades individuais, como

também por meio da diversidade encontrada em sala de aula. Ter o discernimento quando

deve tratar o coletivo e o individual no sentido de não perder as potencialidades que este

aluno irá desenvolver.

Na primeira categoria foi abordado sobre: “A afetividade no desempenho cognitivo e

na percepção dos valores éticos e morais”, a maioria dos alunos destacou que: “os professores

que possuem maior afetividade em sala de aula desenvolvem frequentemente os valores

morais e éticos”, diante das análises dos dados obtidos é incontestável que o professor que

possui maior afetividade na relação docente/discente tem maior facilidade em transmitir aos

alunos os valores tão importantes na profissão do operador de direito.

Na segunda categoria onde foi estruturada a: “Concepção de afetividade”, as respostas

foram surpreendentes, todas elas levam a conclusão de que a dimensão afetiva é um veículo

que tem a capacidade de “transportar” as necessidades sociais e as expectativas individuais

dos alunos para o professor, para que este possa diante dos fatos agir de forma mais humana e

justa.

Já na terceira categoria: “A influência da afetividade no trabalho docente como

contribuição na formação profissional do aluno” pode-se observar que é difícil desvincular a

afetividade na relação do professor/aluno, pois se existir na sala de aula um professor que

consiga transmitir aos seus alunos os valores fundamentais na profissão do advogado, estes

além de lidarem com a interpretação de leis, também terão competência para se relacionarem

com seus clientes de forma mais humana e justa, pois hoje vivemos em uma sociedade

altamente complexa e de valores distorcidos. Se este aluno não tiver o ensinamento calcado na

afetividade que tipo de profissional será?

Page 72: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

71

Quando tratamos: “A importância da afetividade no processo cognitivo e no

desenvolvimento dos valores fundamentais da profissão” na quarta categoria, verificamos na

análise dos dados que os depoimentos dos acadêmicos demonstram que os princípios

norteadores como a convivência, o relacionamento com os pares (professor/aluno), e a

formação humana, estão associados à dimensão afetiva.

Na penúltima categoria onde tratamos: “A influência da afetividade na relação

professor/aluno para o exercício da profissão”, esta tratou de abordar os valores fundamentais

no exercício da profissão do advogado. Quando ficamos sabendo através da mídia televisiva,

escrita e falada, que o advogado fulano de tal está envolvido com formação de quadrilha, com

desvios de dinheiro público, tráfico de drogas entre outras ilicitudes, tais notícias nos deixa

frustrados e diante disso nos perguntamos: - onde foi que erramos? Por este motivo é que

devemos urgentemente unir esforços para repensar a forma de atuação dentro da sala de aula e

a consequente necessidade de interação entre o professor e o aluno, para que este aluno, de

acordo com Reale, tenha domínio próprio e possa anular seus instintos primitivos e considerar

que o mais importante é o “ser” e não o “ter”.

Os “Aspectos que influenciaram na mudança do comportamento ou na escolha da

profissão”, tratados na última categorização, os alunos destacam que a comunicação, a

interação com o professor e os valores transmitidos nessa relação docente/discente através da

afetividade modificaram seu comportamento, bem como a escolha da profissão.

Os acadêmicos também destacam que além da importância da afetividade na interação

entre o professor e o aluno, deveria existir um estreitamento entre as fases do curso, bem

como uma maior integração do curso de direito com os outros cursos. Diante das evidências

constatadas na investigação acredita-se que se conseguiu observar claramente a relevância da

dimensão afetiva na relação docente/discente, bem como no processo de ensino e

aprendizagem. E não é só isso, a influência que tem a afetividade no trabalho docente e na

formação profissional do acadêmico de direito influencia no comportamento deste e em suas

escolhas profissionais.

Portanto, a dimensão afetiva deve ser colocada em prática, externalizada pelos

professores, sem receio ou medo de se expor, pois na medida em que o aluno percebe a

verdadeira intenção do seu professor também se abrirá para um diálogo, diminuindo a

distância que possa haver entre o professor e o aluno. Desta forma, o ambiente em sala de

aula, bem como a interação humana será mais sadia e prazerosa. É por meio da paixão pelo

Page 73: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

72

ensinar, de uma preocupação com o próximo que faremos a diferença, ao transmitir para o

aluno que o professor se preocupa sim com seu futuro, portanto, o maior prêmio que este

professor poderá receber é ver que seu aluno pode conquistar o sucesso na profissão e ele

colaborou com isso.

Neste trecho do poema “Mar Português” escrito por Fernando Pessoa, vislumbramos a

dimensão afetiva na relação entre o professor e o aluno, senão vejamos:

(...) Valeu a pena? Tudo vale a pena

Se a alma não é pequena.

Quem quer passar além do Bojador

Tem que passar além da dor.

Deus ao mar o perigo e o abismo deu,

Mas nele é que espelhou o céu.

Vale destacar que tudo vale a pena, quando a vocação é grande. Nesta perspectiva,

outros resultados encontrados nesta pesquisa merecem alguns destaques desenvolvidos por

meio das respostas dos alunos como: o afeto e a empatia geram um vínculo emocional,

através do carinho, amor e essa relação pessoal aproximada com o respeito, e atenção devida,

proporciona nesta relação harmoniosa entre o professor e o aluno um bem estar entre as partes

envolvidas, fazendo com que a compreensão fortaleça o companheirismo.

Considerando a diversidade das respostas apresentadas pelos sujeitos da pesquisa,

indubitavelmente não se pode olvidar de que a preocupação dos discentes a respeito da

afetividade no Curso de Direito é de fundamental importância, haja vista, que o curso é

voltado às ciências humanas.

Convém ressaltar, que se o professor fizer uso da dimensão afetiva no processo de

ensino e aprendizagem, sem sombra de dúvidas, o professor conseguirá conduzir os alunos

com maior tranquilidade, pois de acordo com as respostas dos mesmos a afetividade estreita a

relação entre o professor/aluno no Curso de Direito.

Neste sentido, Castro (1980 p. 152) manifesta-se que,

O professor deverá conhecer e fazer esforços para assumir as atitudes que,

segundo Rogers, facilitam a aprendizagem. Deverá se apresentar aos alunos

tal qual como é, sem máscara; deverá aceitar aos alunos como pessoa

separada, cujo valor próprio é direito seu e, aceitar sentimentos e opinião do

mesmo; deverá procurar compreender as reações íntimas do aluno e para isto

é necessário que, antes de tudo, ele seja preciso em relação aos seus

sentimentos, capaz de ter consciência deles. Isso tudo não é fácil. Deverá

Page 74: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

73

atuar com afetividade, com amor e amizade (grifo nosso). (CASTRO,

1980 p. 152)

Quiçá se os professores que ainda possuem certo distanciamento ou pré-conceito da

necessária dimensão afetiva relação docente/discente, pudessem através desta pesquisa, vê-la

com outros olhos. Desta feita, se se esforçassem em compreender melhor os sentimentos e

opiniões dos alunos, desta forma iriam contribuir na construção de um ensino de excelência.

A partir do momento em que percebo que há pessoas se preocupando com meu bem

estar, com meu aprendizado, certamente farei o mesmo quando tiver a oportunidade de fazê-

lo. Por essa razão se consegue perceber que a afetividade, além de facilitar a aprendizagem,

também faz com que nos tornemos pessoas mais humanas e preocupadas com o bem estar do

próximo.

Em síntese, tem-se a consciência que esta pesquisa não se finda por aqui, há muito

ainda por ser investigado em relação a esta temática, que no momento deixa-se para um

doutorado ou para outros pesquisadores que venham a estudar este assunto.

Uma possibilidade é ampliar para futuros estudos um acompanhamento do

aprendizado destes alunos que fizeram parte desta investigação para confrontar a veracidade

dos trabalhos realizados nesta dissertação.

De outra sorte, através do compartilhamento desta pesquisa na formação continuada

dos professores da graduação, conseguiremos disseminar a importância da afetividade na

relação professor/aluno, bem como a facilitação do ensino/aprendizagem por meio da

afetividade.

Page 75: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

74

REFERÊNCIAS

ALMEIDA. Ana Rita Silva. A afetividade no desenvolvimento da criança. Contribuições de

Henri Wallon. Inter-Ação: Revista Faculdade de Educação – UFG – v. 33, n. 2 - jul./dez.

2008, p. 343-357. Disponível em:

<http://www.revistas.ufg.br/index.php/interacao/article/view/5271/4688>. Acesso em 18 de

jun. de 2011.

BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. ed. rev. e actual. Lisboa: Edições 70, [1999].

BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. ed. rev. e atual. Lisboa [Portugal]: 70, 2010.

BASTOS, Cleverson Leite; e KELLER, Vicente. Aprendendo a Aprender: Introdução à

Metodologia Científica – 11. ed. – Petrópolis: Editora Vozes, 1998.

BÍBLIA e HARPA CRISTÃ. rev. e corrig. ed. 1995 – Barueri, SP: Sociedade Bíblica do

Brasil; Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembléias de Deus, 2003.

BRASIL. LEI Nº 6.938, DE 31 DE AGOSTO DE 1981 - Dispõe sobre a Política Nacional

do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras

providências. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6938.htm>. Acesso

em 24 de jun. de 2012.

BRAZ, Ana Lúcia Nogueira. Educação Sem Fronteiras: em discussão o ensino superior /

organização Ana Gracinda Queluz; revisão Janet Yunes Elias. – São Paulo: Pioneira Thomson

Learning, 2003. (vários autores, vários comentários. 1. reimpr. da 1. ed. De 1996. ISBN 85-

221-0048-9)

CANDAU, Vera Maria (Org.). Rumo a uma nova didática – 10. ed. – Petrópolis: Editora

Vozes, 1999.

CARVALHO, Maria Cecília Maringoni de. Construindo o saber: Metodologia científica –

Fundamentos e técnicas / Maria Cecília Maringoni de Carvalho organização – 22. ed. rev. e

atual. – Campinas, SP: Papirus, 2010. (vários autores. ISBN 978-85-308-0911-9).

CASTELLAR, Sonia Maria Vanzella. Mudanças na prática docente: espaços não formais e

o uso da linguagem cartográfica. Disponível em:

<http://egal2009.easyplanners.info/area03/3056_Castellar_Sonia_Maria_Vanzella.pdf>.

Acesso em: 05 de jun. de 2011.

CASTRO, Maria das Neves Cezar de. Afetividade no ensino: um enfoque humanista. 1980.

205 f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade Estadual

de Campinas, São Paulo, 1980.

CLT e Constituição Federal – obra coletiva de autoria da Editora Saraiva com a colaboração

de Antônio Luiz de Toledo Pinto, Márcia Cristina Vaz dos Santos Windt e Lívia Céspedes –

38. ed. atual. e aum. – São Paulo: Saraiva, 2011. – (Legislação brasileira).

Page 76: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

75

CORTELLA, Mário Sérgio. Qual é a tua obra? : inquietações sobre gestão, liderança e

ética – 17. ed. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.

Dicionário em construção: interdisciplinaridade / organização Ivani C.A. Fazenda – 2. ed.

– São Paulo: Cortez, 2002. (vários autores. ISBN 85-249-0757-6)

DICIONÁRIO PRIBERAM DA LÍNGUA PORTUGUESA. Afetividade. Disponível em:

<http://www.priberam.pt/DLPO/default.aspx?pal=PROLEG%u00d3MENOS>. Acesso em:

12 de abr. de 2010.

DI FLORA, Marilene Cabello. Vida afetiva e saúde. Programa de Doutorado do Curso de

Pós-Graduação em Comunicação da FAAC/UNESP, disciplina Comunicação em Saúde, 2000.

Disponível em: <http://www.faac.unesp.br/pesquisa/nos/alegria/vid_afe_sau.htm#1>. Acesso

em: 24 de abr. de 2011.

FERREIRA, Thaís Mustafé Schneck. Afetividade e motivação na aprendizagem de língua

estrangeira: inter-relações possíveis no caso dos estudantes de russo na USP. 2008.

Dissertação (Mestrado em Educação) - Unidade Faculdade de Educação (FE) – Universidade

de São Paulo, São Paulo, 2008.

FINCK, Nelcy Teresinha Lubi. Competência e habilidades relevantes no corpo docente.

2003. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) - Universidade Federal de Santa

Catarina, Florianópolis/Santa Catarina, 2003.

GARCIA, Ana Gracinda Queluz. Educação sem fronteiras: em discussão o ensino superior.

In: ______. rev. Janet Yunes Elias – São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003.

GOULART, Iris Barbosa. PIAGET: Experiências Básicas para Utilização pelo Professor –

11. ed. – Petrópolis/RJ: Vozes, 1996.

GUIMARÃES, Daniela Cavani Falcin. A afetividade na sala de aula : as atividades de

ensino e suas implicações na relação sujeito-objeto. 2008. 154 f. Dissertação (Mestrado em

Educação) - Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, São Paulo, 2008.

JULIATTO, Clemente Ivo. A universidade em busca da excelência: um estudo sobre a

qualidade da educação – 2. ed. rev. e atual. – Curitiba: Champagnat, 2010.

JULIATTO, Clemente Ivo. Ciência e transcendência: duas lições a aprender – Curitiba:

Champagnat, 2012.

LAGE, Ana Cristina Pereira. Verbete - pedagogia escolanovista. Campinas, SP: Graf. FE:

HISTEDBr / UNICAMP, 2006 (Navegando na História da Educação Brasileira). Disponível

em:

<http://www.histedbr.fae.unicamp.br/navegando/glossario/verb_c_pedagogia_escolanovista.ht

m>. Acesso em: 05 de jun. de 2011.

Page 77: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

76

LANE, Silvia T. M.; CODO, Wanderley (Orgs). Psicologia Social: O homem em

movimento – 13. ed. 2. reimp. – São Paulo: Editora Brasiliense S/A, 1999. (vários autores)

LA TAILLE, Yves de; OLIVEIRA, Martha Kohl de; e DANTAS, Heloysa. Piaget, Vygotsky

e Wallon: teorias psicogenéticas em discussão – São Paulo: Summos, 1992.

LEITE, Sérgio Antônio da Silva e TASSONI, Elvira Cristina Martins. A afetividade em sala

de aula: As condições de ensino e a mediação do professor. In: Azzi, Roberta e Sadalla,

Ana Maria. (Org.). Psicologia e Formação docente. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2002, v. p.

113-141. Disponível em: <http://www.fe.unicamp.br/alle/textos/SASL-

AAfetividadeemSaladeAula.pdf>. Acesso em: 18 de jun. de 2011.

MARCHAND, Max. A afetividade do educador. trad. Maria Lúcia Hldorf Barbanti e

Antonieta Barini; direção da coleção Fanny Abramovich – São Paulo: Summus, 1985.

MASETTO, Marcos Tarciso. Competência Pedagógica do Professor Universitário. 3.

reimp. – São Paulo: Summus, 2003.

MEDEIROS, Danuza Luz. As manifestações da afetividade na prática educativa do

pedagogo em formação. 2008. 156 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade

Tuiuti do Paraná, Paraná, 2008.

OLIVEIRA, Greice Kelly de. Afetividade e Prática Pedagógica: uma proposta

desenvolvida em um curso de formação de professores de Educação Física. 2005. 406 f.

Tese (Doutorado em Educação: Psicologia da Educação) – Pontifícia Universidade Católica

de São Paulo, São Paulo, 2005.

PAIVA, Giovanni Silva. Recortes da formação docente da educação superior brasileira:

aspectos pedagógicos, econômicos e cumprimento de requisitos legais. Ensaio: Avaliação e

Políticas Públicas em Educação versão ISSN 0104-4036 - Ensaio: aval. pol. públ. Educ.

vol.18 n. 66 Rio de Janeiro jan./mar. 2010 - doi: 10.1590/S0104-40362010000100009.

Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-

40362010000100009&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 17 de jun. de 2011.

PIAGET, J. & INHALDER, B. A psicologia da criança - 11. ed. – Rio de Janeiro: Editora

Bertrand Brasil S/A, 1990.

PINO, Angel. As Marcas do Humano – Às origens da constituição cultural da criança na

perspectiva de Lev. Vigotski – São Paulo: Cortez, 2005.

PERRENOUD, Philippe. Formar professores em contextos sociais em mudança Prática

reflexiva e participação crítica. Trad. Denice Barbara Catani - Revista Brasileira de

Educação Set/Out/Nov/Dez 1999 - n. 12. Disponível em:

<http://www.anped.org.br/rbe/rbedigital/RBDE12/RBDE12_03_PHILIPPE_PERRENOUD.p

df>. Acesso em 05 de jun. de 2011.

PESSOA, Fernado. Fernando Pessoa – ele mesmo. Disponível em: <

http://www.culturabrasil.pro.br/fernandopessoa.htm#ipse>. Acesso em: 19 de fev. de 2012.

Page 78: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

77

PRETTO, Nelson De Luca. Formação de professores exige rede! Revista Brasileira de

Educação MAI/JUN/JUL/AGO 2002 n. 20. Disponível em:

<http://www.anped.org.br/rbe/rbe/rbe.htm>. Acesso em 05 de jun. de 2011.

RANGHETTI, Diva Spezia. O conceito da afetividade numa educação interdisciplinar.

1999. 116 f. (Dissertação de Mestrado em Educação) – Pontifícia Universidade Católica de

São Paulo, São Paulo, 1999.

REALE, Miguel. Filosofia do direito – 20. ed. – São Paulo: Saraiva, 2002.

RICHARDSON, R. G. (Org.). Pesquisa social. Metodos e técnicas. 3. ed. São Paulo: Atlas,

1999.

RISTOW, Aline Maria. A formação humanística do médico na sociedade do século XXI:

uma análise curricular. 2007. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal

do Paraná – Curitiba/Paraná, 2007.

RODRIGUES, Juliana. A representação do docente sobre a formação do enfermeiro.

2006. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) – Universidade Federal do Paraná,

Curitiba/Paraná, 2006.

SAAVEDRA, Anita. et al, Vera Maria Candau (Coord.). Somos tod@s iguais? Escola,

discriminação e educação em direitos humanos – Rio de Janeiro: DP&A editora, 2003.

SALTINI, Cláudio João Paulo. Afetividade & Inteligência. v. 1: a emoção na educação. 3.

ed. – Rio de Janeiro: DP&A, 1999.

SANTOS, Josivaldo Constantino dos. A participação ativa e efetiva do aluno no processo

ensinoaprendizagem como condição fundamental para a construção do conhecimento.

2002. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Faculdade de Educação, Rio Grande do Sul, 2002.

SILVA, Jamile Beatriz Carneiro e SCHNEIDER, Ernani José. Aspectos socioafetivos do

processo de ensino e aprendizagem - v. 3 n. 11 - jul.-dez./2007 - ISSN 1807-2836 - Revista

de divulgação técnico-científica do ICPG.

SILVA, Jocileia izidoro Paiva. Pedagogia da afetividade – WebArtigos.com – 2011.

Disponível em: <http://www.webartigos.com/articles/58422/1/Pedagogia-da-

afetividade/pagina1.html>. Acesso em 24 de jun. de 2011.

SILVA, Márcia Cristine Furtado da. Memórias e identidades: trajetórias pessoais e

profissionais docente na educação de jovens e adultos de uma escola cooperativada:

Dissertação (mestrado) – Universidade do Vale do Itajaí, Curso de Pós-Graduação Stricto

Sensu em Educação, 2008.

SILUK, Ana Claudia Pavão. Desenvolvimento profissional do docente do ensino superior

em uma rede acadêmica virtual. 2006. 250 f. Tese (Doutorado: Informática na Educação) -

Page 79: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

78

Faculdade de Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Rio Grande do Sul,

2006.

SOUZA, Rose Keila Melo de; e COSTA, Keyla Soares da. O aspecto sócio-afetivo no

processo ensino-aprendizagem na visão de piaget, vygotsky e wallon – Educação on-line –

2004. Disponível em: <

http://www.educacaoonline.pro.br/index.php?option=com_content&view=article&id=299:o-

aspecto-socio-afetivo-no-processo-ensino-aprendizagem-na-visao-de-piaget-vygotsky-e-

wallon&catid=4:educacao&Itemid=15>. Acesso em: 19 de jun. de 2011.

STOER, Luiza; e CORTESÃO Stephen R. Acerca do trabalho do professor da tradução à

produção do conhecimento no processo educativo. Revista Brasileira de Educação.

Mai/Jun/Jul/Ago 1999 – n. 11. Disponível em:

<http://www.anped.org.br/rbe/rbedigital/RBDE11/RBDE11_05_LUIZ_E_STEPHEN.pdf>.

Acesso em 05 de jun. de 2011.

TANURI, Leonor Maria. História da formação de professores. Revista Brasileira de

Educação. Mai/Jun/Jul/Ago 2000 n. 14 - Número especial - 500 anos de educação escolar

(Dermeval Saviani, Luiz Antônio Cunha e Marta Maria Chagas de Carvalho - organizadores).

Disponível em:

<http://www.anped.org.br/rbe/rbedigital/RBDE14/RBDE14_06_LEONOR_MARIA_TANUR

I.pdf>. Acesso em 05 de jun. de 2011.

TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional – 2. ed. – Petrópolis: Editora

Vozes, 2002.

TARDIF, Maurice. Saberes profissionais dos professores e conhecimentos universitários -

Elementos para uma epistemologia da prática profissional dos professores e suas

conseqüências em relação à formação para o magistério – Revista Brasileira de Educação -

Jan/Fev/Mar/Abr 2000 n. 13. Disponível em: <http://www.anped.org.br/rbe/rbe/rbe.htm>.

Acesso em 19 de jun. de 2011.

TOEGEL, Ginka. Será Que A Diferença Entre Gerações Permanece No Ambiente De

Trabalho? Disponível em: <http://www.artigonal.com/recursos-humanos-artigos/sera-que-a-

diferenca-entre-geracoes-permanece-no-ambiente-de-trabalho-1447140.html>. Acesso em 05

de jun. de 2011.

VIDAL, Dione Estrela. A necessidade da prática da criatividade e da melhoria dos

relacionamentos interpessoais no processo ensino-aprendizagem. 2000. Dissertação

(Mestrado em Engenharia de Produção) – Universidade Federal de Santa Catarina, Santa

Catarina, 2000.

VIGOTSKI, Lev Semenovich. A formação social da mente: O desenvolvimento dos

processos psicológicos superiores. org. Michel Cole...[et al]; trad. José Cipolla Neto, Luís

Silveira Menna Barreto, Solange Castro Afeche - 7. ed. 2. tir. – São Paulo: Martins Fontes,

2008.

Page 80: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

79

VIGOTSKI, Lev Semenovich; LURIA, Alexander Romanovich; e LEONTIEV, Alexis N.

Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. trad. Maria da Penha Villalobos. 7. ed. – São

Paulo: Ícone Editora, 2001.

WADSWORTH, Barry J. Inteligência e afetividade da criança na teoria de Piaget - trad.

Esméria Ruvai; superv. ed. Maria Regina Maluf – 3. ed. – São Paulo: Pioneira, 1995.

WALLON, Henri. Henri Wallon - Psicologia – org. Maria José Garcia Werebe, Jaqueline

Nadel-Brulfert. coord. Florestan Fernandes – São Paulo: Editora Ática, 1986.

Page 81: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

80

APÊNDICES

Page 82: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

81

APÊNDICE A – Questionário

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

Programa de Mestrado Acadêmico em Educação

www.univali.br/pmae • e-mail: [email protected]

Fone: (47) 3341 7516 - fone/Fax: (47) 3341 7822

Rua Uruguai,458 - Bloco 29 - 4° piso CEP: 88302-202 Itajaí - SC.

PESQUISADOR: CARLOS ALBERTO HARTWIG

ORIENTADORA: Profª Dra. TÂNIA REGINA RAITZ

QUESTIONÁRIO REALIZADO COM OS DISCENTES DO CURSO DE DIREITO

NOTURNO DAS 4ª, 5ª E 6ª FASES DO CENTRO UNIVERSITÁRIO DE JARAGUÁ DO

SUL – UNERJ/PUC-PR.

1. Data de aplicação do questionário: _____/____/____

Local da aplicação: Centro Universitário de Jaraguá do Sul – UNERJ/PUC-PR

Curso: DIREITO – Fase (_____ª)

2. Nome do entrevistado:_______________________________________________________

Data de nascimento:_____/_____/_____.

Estado civil:______________________.

Sexo: feminino ( ) masculino ( )

Situação atual de moradia: ( ) mora sozinho ( ) mora com a família

3. Qual sua escolaridade?

( ) primeira graduação

( ) já é graduado

( ) possui pós-graduação

( ) Especialização ( ) Mestrado ( ) Doutorado ( ) Pós-Doutorado

4. Qual sua situação de trabalho atual?

( ) trabalha ( ) não trabalha ( ) nunca trabalhou

5. O que você entende por afetividade?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________.

Page 83: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

82

6. Você acredita que a afetividade influencia no desempenho cognitivo do aluno em sala de

aula?

( ) Sim, porque desta forma haverá uma maior interação entre professor e aluno,

consequentemente, há uma maior facilitação no aprendizado.

( ) Não, pois o aprendizado depende exclusivamente do aluno.

( ) Talvez, pois depende muito da disciplina

( ) Poucos professores possuem afetividade com os alunos, e em decorrência disto o

aprendizado da disciplina torna-se improdutivo.

7. Em sua opinião, como a afetividade no trabalho do professor pode contribuir na formação

profissional do aluno no curso de direito?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________.

8. Você percebe que os valores éticos e morais são desenvolvidos quando ocorre afetividade

entre o professor e aluno?

( ) Sim, a afetividade contribui para reafirmar a importância dos valores éticos e morais.

( ) Não, a afetividade entre professor e aluno não interfere no desenvolvimento dos valores

éticos e morais.

9. Você acha que o corpo docente do curso de direito da UNERJ/PUC desenvolve os valores

éticos e morais em sala de aula?

( ) Sim, todos os professores nos passam estes valores, pois fazem parte da profissão.

( ) Não, são poucos os professores que se preocupam em passar estes valores.

( ) Os professores que possuem maior afetividade em sala de aula desenvolvem

frequentemente os valores morais e éticos.

( ) Os professores só estão preocupados em repassar o conteúdo, sem a preocupação com os

valores morais e éticos.

10. Qual é a importância da afetividade na construção do seu processo cognitivo e no seu

desenvolvimento de valores fundamentais para a prática profissional?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________.

Page 84: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

83

11. Em sua opinião como a afetividade entre professor e aluno influencia no exercício da

profissão do futuro advogado?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________.

12. Você já teve aula com professor que não demonstra afetividade?

( ) Sim ( ) Não

Se sim, responda:

( ) Não houve influência em meu aprendizado

( ) Meu aprendizado ficou prejudicado

( ) A relação docente-discente ficou prejudicada

( ) A relação docente-discente não ficou prejudicada

( ) Os valores éticos e morais ficaram prejudicados

( ) Ocorreu influência negativa no meu conceito de seus valores

( ) Reforçou meu entendimento de que é necessária afetividade para contribuir no

processo de ensinoapredizagem.

( ) Ocorreu influência na minha escolha da área do direito a ser trabalhada.

13. O desenvolvimento afetivo depende:

( ) Do aluno

( ) Do professor

( ) De ambos

( ) Da qualidade dos estímulos do ambiente

( ) Da segurança que o professor passa ao aluno

( ) Da disciplina e comunicação

( ) Da empatia entre professor e aluno

14. Em sua opinião, quais os aspectos da afetividade que influenciaram na mudança de seu

comportamento ou se influenciaram na escolha da vida profissional. (descreva três principais

motivos por ordem de preferência)

1) _________________________________________________________________________

2) _________________________________________________________________________

3.) ________________________________________________________________________

15. Em sua opinião, o que seria necessário para facilitar a afetividade entre professor e aluno

no curso de direito?

( ) Nada, pois isso depende de cada professor.

( ) Cursos de formação continuada que abordem a importância da afetividade no processo

Page 85: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

84

Ensinoaprendizagem.

( ) A profissão de advogado não trabalha com afetividade, pois somente interpreta as leis

( ) Uma ouvidoria, para que o aluno pudesse relatar a postura do professor em sala de aula,

assim a Instituição pudesse tomar as atitudes cabíveis e que houvesse retorno aos

alunos.

( ) Que na avaliação Institucional tivesse uma pergunta que tratasse do tema.

( ) Temática que deveria estar salientada no Projeto Político Pedagógico do curso.

16. Se você pudesse mudar algum aspecto no curso, o que mudaria? Escreva três destes

aspectos por ordem de preferência.

1) _______________________________________________________________

2) ________________________________________________________________

3) ________________________________________________________________

Sua contribuição e participação são essenciais para que se possa refletir acerca do

DESENVOLVIMENTO DA AFETIVIDADE E DOS VALORES ÉTICOS E MORAIS NO

TRABALHO DOCENTE NO CURSO DE DIREITO. Pedimos por gentileza que deixe

registrado seu e-mail ou telefone para que possamos entrar em contato se necessário for

posteriormente.

E-mail:_____________________________________________________________________

Telefone para contatos/recados: (_____)___________________________________________

Muito Obrigado!

Page 86: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

85

APÊNDICE B - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

Programa de Mestrado Acadêmico em Educação

www.univali.br/pmae • e-mail: [email protected]

Fone: (47) 3341 7516 - fone/Fax: (47) 3341 7822

Rua Uruguai,458 - Bloco 29 - 4° piso CEP: 88302-202 Itajaí - SC.

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome: ________________________________________________________________

Fui informado(a) detalhadamente sobre a pesquisa intitulada: “DESENVOLVIMENTO DA

AFETIVIDADE E DOS VALORES ÉTICOS E MORAIS NO TRABALHO DOCENTE

NO CURSO DE DIREITO”, do Mestrando Carlos Alberto Hartwig, do Programa de

Mestrado Acadêmico em Educação, Área de concentração Educação, da Universidade do

Vale do Itajaí – UNIVALI, sob a orientação da Professora Doutora Tânia Regina Raitz.

Confirmo que fui plenamente esclarecido(a) sobre os objetivos da pesquisa que ora se

apresenta e confirmo também que, pelo fato dessa pesquisa ter única e exclusivamente,

interesse científico, esta foi aceita por mim espontaneamente. No entanto, posso desistir a

qualquer momento, inclusive sem nenhum motivo, bastando para isso informar da maneira

que achar conveniente, a minha desistência. Por ser voluntária e sem interesse financeiro, não

terei direito a nenhuma remuneração.

Estou ciente de que os dados coletados são sigilosos e que a identidade dos participantes será

resguardada.

___________________________________________

Assinatura do Pequisado(a)

Jaraguá do Sul/SC, ______ de _____________ de 2010.

Page 87: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

86

APÊNDICE C – Autorização

AUTORIZAÇÃO

O Centro Universitário de Jaraguá do Sul – UNERJ/PUC, na figura do Coordenador do Curso

de Direito Prof. MSc. Maikon Cristiano Glasenapp, autoriza a realização da pesquisa com o

titulo “DESENVOLVIMENTO DA AFETIVIDADE E DOS VALORES ÉTICOS E

MORAIS NO TRABALHO DOCENTE NO CURSO DE DIREITO” a ser realizado pelo

Mestrando Carlos Alberto Hartwig sob orientação da Prof. ª Dr. ª TANIA REGINA RAITZ.

Durante o desenvolvimento da pesquisa, o Mestrando e sua orientadora estão autorizados a

freqüentar a instituição para a realização do questionário que será respondido pelos

acadêmicos do curso de Direito da 4ª, 5ª e 6ª fases. Os horários e aplicação do questionário

serão negociados previamente com o coordenador do Curso de Direito. Todos os dados

coletados e o nome da instituição serão mantidos em sigilo e utilizados somente para os

objetivos desta pesquisa. O mestrando e sua orientadora estarão disponíveis para

esclarecimentos de dúvidas a respeito da pesquisa, sempre que for necessário.

Orientadora Prof. ª Dr.ª Tânia Regina Raitz (48) 99911810; (47) 33417516 sub ramal 8010

Local de pesquisa: Centro Universitário de Jaraguá do Sul – UNERJ/PUC

Validade desta autorização: novembro de 2010 a julho de 2011.

Jaraguá do Sul/SC,_____/_____________/______.

_______________________________

Coordenador Curso de Direito

Page 88: A DIMENSÃO AFETIVA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM…siaibib01.univali.br/pdf/Carlos Alberto Hartwig.pdf · 3 A DIMENSÃO AFETIVA NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E NO PROCESSO

87

Tabela e Gráfico das 4ª, 5ª e 6ª fases de Direito Noturno

A tabela e o gráfico demonstram: o sexo, a idade, o estado civil, se o acadêmico

reside sozinho ou com a família, qual a escolaridade e se trabalha, não trabalha ou nunca

trabalhou.

Tabela 1

Idade Sexo Estado Civil Reside Escolaridade Trabalha

masc. fem. casado(a) solteiro(a) sozinho(a) família 1ª Grad. 2ª Grad. Pós Sim Não Nunca

< ou = 20 13 17 1 29 1 28 30 0 0 26 3 1

> 20 < ou = 25 16 10 1 25 3 22 23 2 1 23 3 0

> 25 < ou = 30 2 1 2 1 1 2 2 1 0 3 0 0

> 30 < ou = 35 2 4 4 2 2 4 3 1 2 6 0 0

> 35 < ou = 40 1 0 0 1 1 2 1 0 0 1 0 0

> 40 3 1 3 1 1 3 3 1 0 2 2 0

Fonte: Elaborado pelo próprio pesquisador com dados obtidos na pesquisa realizada.

Gráfico 1

Fonte: Elaborado pelo próprio pesquisador com dados obtidos na pesquisa realizada.