a diferença que o cuidado faz - radis comunicação e saúde · a diferença que o cuidado faz...

20
A diferena que o cuidado faz Alex (com a mªe, DØbora): desenganado aos 12 dias, seis anos depois recebe alta no programa domiciliar do IFF-Fiocruz N” 32 ! Abril de 2005 Av. Brasil, 4.036/515, Manguinhos Rio de Janeiro, RJ ! 21040-361 www.ensp.fiocruz.br/radis SMULA: CURUMINS MORTE | PS-TUDO: O ESCONDERIJO DO RACISMO BIOSSEGURAN˙A Ambientalistas choram na festa pela aprovaªo da nova lei NESTA EDI˙ˆO StØdile sem censura Intelectuais orgnicos foram cooptados Hansenase Agora uma questªo de direitos humanos Rio em crise Intervenªo enfrenta sabotagem ao SUS

Upload: others

Post on 22-Jul-2020

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: A diferença que o cuidado faz - RADIS Comunicação e Saúde · A diferença que o cuidado faz Alex (com a mªe, DØbora): desenganado aos 12 dias, seis anos depois recebe alta no

A diferença queo cuidado fazAlex (com a mãe, Débora):desenganado aos 12 dias,seis anos depoisrecebe alta no programadomiciliar do IFF-Fiocruz

N º 3 2 ! A b r i l d e 2 0 0 5

Av. Brasil, 4.036/515, ManguinhosRio de Janeiro, RJ ! 21040-361

www.ensp.f iocruz.br/radis

SÚMULA: CURUMINS À MORTE | PÓS-TUDO: O ESCONDERIJO DO RACISMO

BIOSSEGURANÇAAmbientalistaschoram na festapela aprovação

da nova lei

NESTA EDIÇÃO

Stédile sem censura�Intelectuais orgânicosforam cooptados�

HanseníaseAgora uma questãode direitos humanos

Rio em criseIntervenção enfrentasabotagem ao SUS

Page 2: A diferença que o cuidado faz - RADIS Comunicação e Saúde · A diferença que o cuidado faz Alex (com a mªe, DØbora): desenganado aos 12 dias, seis anos depois recebe alta no

Revolta em exposição

Em 1904 a população do Rio de Ja-neiro foi às ruas protestar con-

tra a vacinação obrigatória impostapor Oswaldo Cruz, para combater asepidemias que assolavam a cidade.Os cariocas questionavam a inter-venção do Estado na vida do cida-dão, e o movimento ficou historica-mente conhecido como a Revolta daVacina (Radis nº 26).

No aniversário de seu centenário,a Casa de Oswaldo Cruz e o Institutode Tecnologia em Imunobiológicos/Biomanguinhos, unidades da Fiocruz,organizaram uma série de eventos, en-tre os quais a exposição itineranteRevolta da Vacina: Cidadania, Ciên-cia e Saúde. Entre 10 e 17 de abril, amostra, exibida no fim do ano passa-do no Centro Cultural dos Correios,foi integrada à programação do 4ºCongresso Mundial de Centros de Ci-ência, no RioCentro, Rio de Janeiro.Os interessados na exposição podementrar em contato com a organiza-ção pelo telefone (21) 2560-4114 oupelo e-mail [email protected].

Essas e outras imagens da mos-tra podem ser vistas na web no en-dereço www.ensp.fiocruz.br/radis/32-web-01.html

Os prêmios da fase nacional da 2ªOlimpíada Brasileira de Saúde e

Meio Ambiente, que recebeu quase800 trabalhos, serão entregues duran-te o 4º Congresso Mundial de Centrosde Ciência (4SCWC), no Rio de Janei-ro, neste mês de abril. Além de rece-berem o troféu, os alunos represen-tantes dos trabalhos selecionados nafase regional ganharão vivência comopesquisadores-amadores no campusde Manguinhos da Fiocruz e poderãovisitar a ExpoInterativa: Ciência paraTodos, evento paralelo ao 4SCWC.

A competição educacional é or-ganizada pela Fiocruz, pela Associa-ção Brasileira de Pós-Graduação emSaúde Coletiva (Abrasco) e pelo Insti-tuto Brasileiro do Meio Ambiente e

dos Recursos Naturais Renováveis(Ibama) com o objetivo de divulgartemas de saúde e meio ambiente, tor-nando o conhecimento científicomais próximo do cotidiano escolar. Osprofessores finalistas serão premiadoscom inscrição gratuita no 4SCWC.

Dirigida a estudantes dos ensi-nos fundamental e médio, a 2ª Olim-

Final olímpicapíada tem três modalidades depremiação: arte e ciência, produçãode textos e projeto de ciências. Naprimeira, concorreram trabalhos deintegração de conhecimentos cien-tíficos e tecnológicos com manifes-tações artísticas, como pintura, es-cultura, colagem, música e teatro. Asegunda é destinada a produções li-terárias em prosa ou poesia, e a ter-ceira a projetos de desenvolvimen-to que dinamizem o aprendizado dasdiversas disciplinas do ensino funda-mental e médio. Nesta segunda edi-ção foram inscritos 221 trabalhos namodalidade arte e ciência, 370 emprodução de textos e 201 em proje-tos de ciência.Os resultados estão disponíveis na pági-na do evento (www.olimpiada.fiocruz.br).

Page 3: A diferença que o cuidado faz - RADIS Comunicação e Saúde · A diferença que o cuidado faz Alex (com a mªe, DØbora): desenganado aos 12 dias, seis anos depois recebe alta no

editorialeditorialeditorialeditorialeditorial

O Padi e a Prefeitura

Comunicação e Saúde

! Revolta em exposição 2

! Final olímpica 2

Editorial

! O Padi e a Prefeitura 3

Cartum 3

Cartas 4

Súmula 5

Toques da Redação 7

Stédile no Politécnico da Fiocruz

! Pedagogia da terra 8

Terapias celulares

! Mais esperança na cura das doençasdo coração 10

! Nem todos festejam a nova Lei deBiossegurança 12

Cuidado no Instituto FernandesFigueira

! �É Deus no céu e Padi na terra� 14

Hanseníase

! Uma questão de direitos humanos 17

Serviço 18

Pós-Tudo

! Onde você guarda o seu racismo? 19

Capa e ilustrações Aristides Dutra

Cuidado e atenção integral à saúde,como bem sintetizam as ações do

pequeno Programa de Assistência Do-miciliar Interdisciplinar (Padi), realiza-do pelo Instituto Fernandes Figueira,da Fiocruz, serão sempre manchetesnesta revista. Não importa que o jor-nalismo de mercado só dê destaque aoque vai mal, como as inaceitáveis mor-tes na fila para cirurgias nos hospitaispúblicos do Rio, ao lado de belas pro-pagandas de resgate por helicópterode impagáveis planos de saúde, sem darao leitor condições de entender porque o sistema não está funcionando.Da mesma forma, a mídia valorizou abem-vinda aprovação das pesquisas comcélulas-tronco embrionárias, masminimizou o desastre da liberação dostransgênicos na Lei de Biossegurança.

O descaso da Prefeitura do Riocom a assistência à saúde da popula-ção é notícia aqui também. Mas comoexemplo de sabotagem ao Sistema Úni-co de Saúde, enfrentada, em boa hora,pela intervenção do Ministério da Saú-de. Essa intervenção é mais uma tenta-tiva de enfrentamento dos adversáriosda saúde pública, que em diferentespartes do Brasil aplicam no mercadofinanceiro, desviam para outras áreasou empregam mal o dinheiro da saúde.Sabotagem de máfias de venda de equi-

pamentos e distribuição de medicamen-tos, que, quando acuadas, chegam aameaçar de morte os servidores real-mente públicos.

São 15 anos de um SUS ainda in-completo, cuja origem está nos movi-mentos sociais pela Reforma Sanitária,como retrata o livro A democracia in-conclusa (ver página 18), e a esperançade dar certo, em milhares de bonsexemplos, como o trabalho do Padi,retratado em nossa matéria de capa.

A reportagem mostra criançascom doenças crônicas, incuráveis, sen-do atendidas fora do ambiente hospi-talar de forma digna, melhorando seuestado a ponto de freqüentar a esco-la, e famílias participando do tratamen-to, enquanto tocam as suas vidas. Sãodepoimentos emocionantes.

�Não há nenhuma vergonha emter um filho com uma doença grave,pode acontecer com qualquer um�,diz Liviam Damiele, mãe de uma dascrianças levadas a passeios ao Corco-vado e ao Pão de Açúcar, com seusaparelhos de respiração.

Vergonha é quando as autorida-des se mostram indiferentes à saúdeda população.

Rogério Lannes RochaCoordenador do Radis

ccccc ararararartututututummmmm

Nº 32 � Abril de 2005

Page 4: A diferença que o cuidado faz - RADIS Comunicação e Saúde · A diferença que o cuidado faz Alex (com a mªe, DØbora): desenganado aos 12 dias, seis anos depois recebe alta no

RADIS 32 ! ABR/2005

[ 4 ]

expedienteexpedienteexpedienteexpedienteexpediente

RADIS é uma publicação impressa e onlineda Fundação Oswaldo Cruz, editada peloPrograma RADIS (Reunião, Análise eDifusão de Informação sobre Saúde),da Escola Nacional de Saúde PúblicaSergio Arouca (Ensp).

Periodicidade mensalTiragem 43 mil exemplaresAssinatura grátis

(sujeita à ampliação do cadastro)

Presidente da Fiocruz Paulo BussDiretor da Ensp Antônio Ivo de Carvalho

PROGRAMA RADISCoordenação Rogério Lannes Rocha

Subcoordenação Justa Helena FrancoEdição Marinilda CarvalhoReportagem Jesuan Xavier (subeditor),

Katia Machado e WagnerVasconcelos (Brasília/Direb)

Arte Aristides Dutra (subeditor)Documentação Jorge Ricardo Pereira,

Laïs Tavares e Sandra SusanoSecretaria e Administração Onésimo

Gouvêa, Fábio Renato Lucas eCícero Carneiro

Informática Osvaldo José Filho e GeisaMichelle (estágio supervisionado)

EndereçoAv. Brasil, 4.036, sala 515 � ManguinhosRio de Janeiro / RJ � CEP 21040-361Tel. (21) 3882-9118Fax (21) 3882-9119

E-Mail [email protected] www.ensp.fiocruz.br/radisImpressãoEdiouro Gráfica e Editora SA

USO DA INFORMAÇÃO � O conteúdo da revista Radispode ser livremente utilizado e reproduzido em qual-quer meio de comunicação impresso, radiofônico,televisivo e eletrônico, desde que acompanhado doscréditos gerais e da assinatura dos jornalistas respon-

sáveis pelas matérias reproduzidas. Solicitamos aosveículos que reproduzirem ou citarem conteúdo denossas publicações que enviem para o Radis um exem-plar da publicação em que a menção ocorre, as refe-rências da reprodução ou a URL da Web.

CCCCC ARARARARARTTTTTASASASASAS

[ 4 ]

AMIANTO E INFORMAÇÃO

Estou fazendo curso de técnico emenfermagem, e fiquei impressio-

nada com a matéria sobre o amian-to (Radis nº 29). Assunto que, em-bora grave, não é do conhecimentoda população. Em meio a tecnologiastão avançadas, deveríamos ter maisinvestimento em informativos, paraque possamos poupar muitas pesso-as da morte.! Carmencira Dias, Maracanaú, CE

TRIUNFO CONTRA CHAGAS

Quero agradecer pela seriedadecom que recebem nossas infor-

mações e buscam resolver problemas.Estou me referindo à carta que saiuna edição de janeiro intitulada �Cha-

gas em Triunfo�. Quero informar quea Secretaria Estadual de Saúde pro-curou a Prefeitura de Triunfo (PE) epromoveu nova coleta de sangue dealguns dos pacientes para exame emlaboratório específico do estado. Apublicação da carta teve muita re-percussão na minha cidade, mas comocidadã senti muito orgulho por po-der ajudar aquelas pessoas. O agen-te de saúde que me procurou é mui-to competente e também já haviaencaminhado correspondência ao mi-nistro da Saúde sobre a situação.Graças à ajuda de vocês, a partir deagora todo caso suspeito de Chagasterá exame encaminhado ao labora-tório específico.! Mauriciana Pereira Ferreira, JoãoPessoa

FARMÁCIAS E CONSUMISMO

Parabéns à Radis pelo artigo �Porque tanta farmácia?� (Radis nº 29).

No Brasil, em geral, a saúde estácomercializada. As farmácias, os ca-pitalistas, os farmacêuticos, práticose alunos de Farmácia precisam sermais bem trabalhados, orientados,fiscalizados devidamente para umamudança de filosofia, e isto só seráconseguido a longo prazo. Como mé-

dico, vi nos Estados Unidos a extre-ma dificuldade (com razão) paracomprar uma caixa de eritromicina,para um colega de curso. Foi umótimo aprendizado, e parabéns aofarmacêutico local. A Escandináviae a Inglaterra têm responsabilidadesanitária. (...)

Mas não são só os remédios in-dustriais. Há que se fazer algo tam-bém quanto aos remédios manipula-dos. Não nos esqueçamos de que oHomo brasiliensis está se tornandocada vez mais consumista, pois o sis-tema econômico permite. É o Homooeconomicus. E a periferia sofre...! Carlos Luiz Campana, Ribeirão Pre-to, SP

REVISTA ÚTIL

Eu não sabia que existia uma revis-ta tão útil.

! Maria Izabel do Nascimento Silva,São Vicente Férrer, PE

REVISTA ATUAL

Obrigada por produzirem uma re-vista tão atual e conscienciosa.

! Lorena Costa Corrêa, estudante deMedicina, João Pessoa

LEIGOS E PROFISSIONAIS

Sou auxiliar de enfermagem e doConselho Municipal de Saúde da

minha cidade. Trabalho com movi-mento comunitário. Conheci a re-vista Radis, que chega à Câmara Mu-nicipal, e gostei muito da forma comque trata os temas, atendendo tan-to à linguagem dos profissionais desaúde quanto ao entendimento dosleigos.! Aécio Dias de Arruda, Poconé, MT

ILU

STR

ÃO

: C

AR

MEN

CIR

A D

IAS

Você pode atualizarseus dados cadastraispela internet. Acessewww.ensp.fiocruz.br/radis � esco-lha a opção �Assinaturas� e infor-me seu código de assinante (queconsta da etiqueta).

A senha para o primeiro aces-so é 9999, que você pode alterarposteriormente.

Aviso ao leitor

Page 5: A diferença que o cuidado faz - RADIS Comunicação e Saúde · A diferença que o cuidado faz Alex (com a mªe, DØbora): desenganado aos 12 dias, seis anos depois recebe alta no

RADIS 32 ! ABR/2005

[ 5 ]

A Radis solicita que a correspondên-cia dos leitores para publicação (car-ta, e-mail ou fax) contenha identifi-cação completa do remetente: nome,endereço e telefone. Por questões deespaço, o texto pode ser resumido.

NORMAS PARA CORRESPONDÊNCIA

MUTIRÃO SOCORRE A SAÚDE DO RIO

No ano em que o SUS completa15 anos, o governo federal viu-

se obrigado a intervir no sistema desaúde da cidade do Rio de Janeiro,mergulhado no caos. Decreto do pre-sidente Lula, de 11 de março, decla-rou estado de calamidade pública edeterminou intervenção federal emseis dos mais importantes hospitais dacidade: Lagoa, Ipanema, Andaraí, Car-doso Fontes, Miguel Couto e SouzaAguiar (os primeiros são hospitais fe-derais municipalizados, os dois últi-mos pertencem à rede municipal). Asdemais unidades do Rio passam à res-ponsabilidade da Secretaria Estadualde Saúde. "Continuar do jeito queestava seria a desmoralização da saú-de, pois o Rio não manteve a execu-ção da gestão plena", disse o secre-tário estadual, Gilson Cantarino.

A crise era antiga: havia um nú-mero crescente de denúncias na im-prensa sobre o caos no atendimen-to, a falta de pessoal, remédios eequipamentos, a presença de lixo,insetos e até gatos nos hospitais. Emfevereiro, o prefeito César Maia (PFL)culpou o governo federal por nãorepassar verbas suficientes. O Minis-tério da Saúde refutou as acusações,mas abriu negociações com o secre-tário de Saúde, o ex-banqueiroRonaldo Cezar Coelho (PSDB).

Não houve resultado. Com a in-tervenção, a Prefeitura do Rio acabouperdendo o status de gestora plenado SUS e a autonomia para adminis-trar recursos anuais de R$ 740 milhões.Gilson Cantarino esclareceu que,como mandam a Constituição e a LeiOrgânica 8.080/90, a que criou o SUS,a prefeitura continua responsável pe-las ações de saúde. "O estado não as-sumiu nenhum hospital municipal, fi-cou apenas como gestor financeirodos recursos do SUS", disse.

A Advocacia Geral da União, queem caráter de emergência estudouas medidas legais da intervenção, in-formou que não há prazo para revo-gação de uma declaração de calami-dade pública. O ministro da Saúde,Humberto Costa, afirmou em marçoque o ministério ficará a frente doshospitais "até que seja restabelecidoum funcionamento normal".

Convocados, os profissionais desaúde do Rio, dos diretores ao pes-

SÚMULASÚMULASÚMULASÚMULASÚMULA

soal terceirizado, muitos com até doismeses de salários atrasados, se apre-sentaram para trabalhar no primeirofim de semana após a intervenção,13/3, numa demonstração de solida-riedade e espírito de cooperação.

Na segunda-feira, 14/3, a respos-ta do prefeito: um decreto exone-rando 285 servidores de cargos comis-sionados, entre eles quatro diretores.O MS conseguiu liminar na Justiça anu-lando o decreto. O ministro comen-tou que não esperava que a prefeituracolaborasse, mas também não achouque atrapalharia. Pois foi o que maisaconteceu: na mesma segunda-feira,funcionários da prefeitura tentaramdesconectar o sistema de informáticadas unidades. "Identificamos esse pro-blema nos hospitais da Lagoa, deIpanema e no Souza Aguiar", contou omédico Sérgio Côrtes, que coordena aintervenção. "Os computadores só nãoforam desligados porque ameaçamoschamar a Polícia Federal". Depois, CésarMaia tentou suspender a entrega deremédios e recorreu ao Supremo con-tra a intervenção.

"Enquanto profissionais se mobili-zaram para salvar vidas, mais uma vez oprefeito mostra que não tem nenhuminteresse em que vidas sejam salvas",disse o secretário de Atenção à Saúdedo MS, Jorge Solla. Para ele, o prefeitopode ter se aborrecido porque as pes-soas cumpriram sua responsabilidade."Ontem, no Miguel Couto, os profissio-nais em função de direção deram plan-tão, ajudando a deslocar pacientes ea receber medicamentos. No SouzaAguiar, da mesma forma", contou. "A si-tuação dos hospitais só não ficou ain-da pior porque o Rio tem um grandepatrimônio na área da saúde, que sãoseus profissionais."

EMBRIÃO CONGELADO EM CASA

Dos 720 casais que fazem ou já fize-ram tratamento para engravidar

no Centro de Fertilização AssistidaFertility, clínica particular de SãoPaulo, 20% gostariam de levar seusembriões congelados �para casa�,porque os consideram �filhos�; 28%os descartariam após três anos, 19%permitiriam sua destruição e 33% osdoariam (a outro casal ou a algumapesquisa). Atualmente, os embriõesestão armazenados num tanque de ni-trogênio em temperaturas inferiores

FIOCRUZ E ORGULHO

Gostaria de manifestar a minha sa-tisfação em ter acesso a esta re-

vista de extraordinárias qualidades. Oconteúdo traz importantes informa-ções aos seus leitores. E aqueles quemilitam na área da saúde pública ouáreas afins podem se orgulhar de terno Brasil uma instituição como aFiocruz.! Alexandre Freire Pinto, farmacêuti-co-bioquímico, mestrando da FCFRP-USP, Ribeirão Preto, SP

A RADIS AGRADECE

Fico impressionado com a qualida-de das reportagens desta grande

revista.! José Sálvio de Moura, servidor daFunasa, Bocaiúva, MG

NA SALA DE AULA

Muito obrigado pelo envio daRadis, ela é muito importan-

te para minhas aulas de Saúde Co-letiva na Universidade Federal doPará. Parabéns pela qualidade domaterial. A Radis é referência nacio-nal para nós, os profissionais de saú-de no Brasil.! Izamir Carnevali de Araújo, Belém

EDUCAÇÃO POPULAR

Parabéns pela excelente qualida-de da informação produzida por

vocês. Somos do núcleo de comuni-cação da Articulação das Práticas eMovimentos de Educação Popular emSaúde (Aneps) e gostaríamos de re-ceber a revista para subsidiar nossostrabalhos em comunicação. Atualmen-te, temos um projeto de comunica-ção que inclui produção de um jor-nal bimestral, vinhetas de rádio epágina na internet.! André Caldas Cervinskis, Olinda, PE

Page 6: A diferença que o cuidado faz - RADIS Comunicação e Saúde · A diferença que o cuidado faz Alex (com a mªe, DØbora): desenganado aos 12 dias, seis anos depois recebe alta no

RADIS 32 ! ABR/2005

[ 6 ]

a 190ºC negativos. �Ficou claro que oconceito de vida é muito singular�,disse o diretor da clínica, EdsonBorges Júnior. �Sem uma lei precisaé impossível tomar uma decisão.�

Com a aprovação da Lei de Biosse-gurança (página 12), a Sociedade Bra-sileira de Reprodução Assistida co-meçou a fazer um censo entre asclínicas de fertilização para saber aquantidade de embriões congeladosdisponíveis para pesquisas. Somenteno Centro de Medicina ReprodutivaHuntington, com sedes em São Paulo,Curitiba, Vitória e Rio de Janeiro, há 2mil embriões, 60% por período acimade três anos, pertencentes a casaisque não sabem o que fazer com eles,informou a Folha de SP em 5/3.

OUTRO SERGIPE DESMATADO

Aministra do Meio Ambiente, MarinaSilva, estima que o desmatamento

de 2004 seja semelhante ao de 2003:uns 24 mil km² (a área de Sergipe). Seconfirmados, os números deixam malo governo Lula, avalia o Estado deS.Paulo (16/3): a média em 2001/2002do governo FHC, �que já era consi-derada alta, ficou em 20.695 km²�.

O grosso da destruição ocorre nochamado �arco do desflorestamento�,que cobre sete estados, do Acre aoMaranhão. Os desmatadores abriramnova frente na Terra do Meio (PA),onde foi executada a missionáriaDorothy Stang. Segundo Marina, o mi-nistério montou nas áreas sensíveisgigantesca estrutura de combate aodesmatamento, com um sistema de in-formações em tempo real que permitedeslocamento imediato de fiscais. �Nos-sa expectativa é de queda significativano desmatamento este ano�, disse.

ABANDONO MATA CURUMINS

Amorte por desnutrição de seis cri-anças guaranis-caiovás da Reserva

Indígena de Dourados, a 220 quilôme-tros de Campo Grande, indicou falhagrave na gestão da saúde dos índiosbrasileiros.

O coordenador regional da Funa-sa, Jossy Soares, provocou espanto aodeclarar, sobre a morte dos curumins,que �a questão é cultural�, porque�o primeiro a se alimentar é sempreo pai, depois a mãe e, por último, osfilhos, que ficam com as sobras�. Opediatra Zelik Trajber, de 58 anos,que há quatro trabalha com osguaranis-caiovás em Dourados, MatoGrosso do Sul, afirmou em entrevis-ta ao Globo: �Quem diz isto tentajogar a culpa da tragédia indígenanos próprios indígenas�. Segundoele, quando têm o que comer, todoscomem. Quando não têm, não co-mem. �O que acontece é que os adul-tos comem alimentos que as criançasnão usam, como mandioca dura. Fal-ta-lhes lenha para cozinhar. A culpadisso é da sociedade branca�.

Responsável pela saúde indíge-na, a Funasa vem sendo duramentecriticada. �Esta situação de miséria,com índios morrendo de fome, é re-cente, desde que a Funasa se arvo-rou em cuidar da saúde dos indíge-nas, contra a vontade da Funai�,disse num artigo de 8 de março ojornalista Paulo França, da Comissãode Amigos da Casa do Índio do Riode Janeiro. �Muito dinheiro já foigasto pela Funasa, com mobiliário,veículos e até computadores paraos índios, mas o atendimento é pés-simo e, quando atendem, o fazemmal, um horror para os índios quese encontram dependentes destainstituição pública.�

Paulo escreveu no texto: �Oscurumins que chegaram em estadode desnutrição protéica à Casa doÍndio/RJ não sucumbiram porqueforam auxiliados pela comunidade daIlha do Governador, pois, por diver-sas vezes, a Funasa deixava de enviaros alimentos�.

Zelik Trajber disse na entrevistaque não adianta dar cesta básica comsardinha em lata a quem sempre co-meu peixe fresco e perdeu os rios naexpansão do plantio de soja. �EmMato Grosso do Sul, eles enfrentamo maior conflito fundiário e a maiorconcentração humana do país, com11 mil índios para três mil hectaresde terras�, disse. �É pouco espaço,com a expansão do agronegócio. Acada dia eles são mais expulsos.�

O anúncio da Funasa de que vaiincentivar as mães a levarem os filhosao médico também é inútil. �É preci-so que o médico faça uma convivên-cia e aceite as comunidades�, disseZelik Trajber. �O médico, não o ín-dio, precisa aceitar a diferença cul-tural, não adianta chegar com sua

sabedoria. Não há receita médica quesirva�. Trajber adverte: �É precisoolhar de frente para a realidade. Elesestão sendo massacrados. Não adian-ta a solução de cima para baixo, opaternalismo de sempre.�

REMÉDIOS VENDIDOS SEM RECEITA

Repórteres do Globo percorreramfarmácias do Rio de Janeiro e

compraram caixas de psicotrópicos eantidepressivos sem receita médica� alguns deles podem causar depen-dência e até morte em caso desuperdosagem. Numa das farmácias,um remédio de tarja preta foi vendi-do sem receita por quase 30% acimado preço normal. Várias farmáciasvenderam os medicamentos contro-lados por telefone. A reportagem édo dia 3/3.

PARTO ACOMPANHADO NO SUS

OPlenário da Câmara dos Deputa-dos aprovou em 10/3/2005 o Pro-

jeto de Lei 2.915-B/04, originário doSenado Federal, que altera a Lei8.080/90 (a que criou o SUS há 15anos). Depois que for sancionadapelo presidente Lula, as maternida-des próprias ou conveniadas do SUSterão que permitir que a parturien-te tenha acompanhante escolhidopor ela durante todo o trabalho departo e no pós-parto. Os procedi-mentos ainda serão regulamentados,mas o descumprimento da nova leiserá crime de responsabilidade e su-jeitará os infratores às penalidadesprevistas na legislação, informou aAgência Câmara.

MALÁRIA SUBESTIMADA

Em 2002, o mundo teve 515 milhõesde casos clínicos de malária

causados pelo parasita Plasmodiumfalciparum (uma das três espéci-es que afetam o Brasil), revelou nodia 9 de março a revista Nature(www.nature.com). O número é 50%maior do que os dados oficiais da OMS.Para recalcular os casos clínicos demalária no mundo e constatar quemetade deles não é notificada, pes-quisadores liderados por RobertSnow, trabalhando na Inglaterra eno Quênia, desenvolveram novaabordagem empírica para o trata-mento das informações: misturaramdados epidemiológicos, geográficose demográficos para chegar ao novo

IMA

GE

M:

CN

Pq

Page 7: A diferença que o cuidado faz - RADIS Comunicação e Saúde · A diferença que o cuidado faz Alex (com a mªe, DØbora): desenganado aos 12 dias, seis anos depois recebe alta no

RADIS 32 ! ABR/2005

[ 7 ]

RADIS 32 ! ABR/2005

[ 7 ]

SÚMULA é produzida a partir do acom-panhamento crítico do que é divulgadona mídia impressa e eletrônica.

TRISTES TRÓPICOS � Trecho doemocionado discurso contra a libe-ração dos transgênicos do deputa-do Fernando Gabeira (PV-RJ), na vo-tação da Lei de Biossegurança, em2/3 (página 12):

�(...) Passou por aqui nos anos1930 um homem chamado Claude Lévi-Strauss e viu que o país se destruíaprogressivamente. Hoje não vemosmais a decadência, mas a decompo-sição. Aprovar um projeto desse tipono Brasil é aceitar a decomposição,porque podemos fazer melhor, comoo Canadá (como os Estados Unidos,como a Inglaterra), que gastou 9 mi-lhões de dólares em pesquisa sobreum só produto.

Não queremos isso, queremospura e simplesmente aprovar. E acha-mos que estamos entrando no Primei-ro Mundo. (...) Votei com orgulho nacélula-tronco, mas não partilho dessedeslumbramento em relação à ciên-cia. Sou da geração que soube deHiroxima e Nagasaki. Sei que a ciêncianão é algo que se coloque num pe-destal, pura e simplesmente. Ela me-rece e tem de ter permanentementeavaliação crítica da sociedade.�

A propósito da famosa frase doantropólogo Lévi-Strauss, 96 anos: éuma citação, que muitos atribuem aopoeta irlandês Oscar Wilde (1854-1900), quando parece ser do escri-tor americano John O´Hara (1905-1970) � �Um espírito maliciosodefiniu a América como uma terraque passou da barbárie à decadên-cia sem conhecer a civilização. Po-deríamos, com maior justeza, aplicara fórmula às cidades do Novo Mun-do: vão do frescor à decrepitude,sem se deter na Antigüidade.� Do li-vro Tristes trópicos (1955); Companhiadas Letras.

ROUNDUP, O PERIGO � Estudo feitona Universidade de Caen (França)publicado na revista EnvironmentalHealth Perspectives (do NationalInstitute of Environmental HealthSciences) aponta os riscos, entreeles de aborto espontâneo, dosherbicidas mais usados nas lavourastransgênicas, informa o agrônomo

Gabriel Fernandes, da campanha Porum Brasil Livre de Transgênicos.

Um amplo espectro de herbicidasà base de glifosato, comumente ven-didos na forma comercial Roundup(nome do produto usado nas semen-tes Roundup Ready, da empresaMonsanto), tem sido empregado des-de os anos 1970. Roundup é umacombinação do glifosato com outrosquímicos, inclusive um surfactante(�espalhante� que aumenta a adesãodo produto às folhas da planta). Ouso do Roundup expandiu-se nos paí-ses que cultivam plantas genetica-mente modificadas.

O estudo mostrou que o glifosatoé tóxico para as células da placentahumana, destruindo grande porçãodelas após 18 horas de exposição emconcentrações inferiores às utilizadasna agricultura. E o Roundup é no mí-nimo duas vezes mais tóxico do que oglifosato, seu ingrediente ativo: osoutros componentes da fórmula au-mentam o acúmulo de glifosato nascélulas. O efeito se intensificou como tempo � e foi obtido com concen-trações do Roundup 10 vezes meno-res do que as usadas na agricultura.Mais informações (em inglês)! Íntegra do estudo na EHPhttp://ehp.niehs.nih.gov/members/2005/7728/7728.pdf! Comentários no ISISwww.i-sis.org.uk/GTARW.php

VIA CAMPESINA � Assim como asmultinacionais do setor agrícola se or-ganizam globalmente, camponeses de87 países também vêm se articulandopara resistir às pressões das grandesmultinacionais que produzem princi-palmente as sementes transgênicas.Para isso foi criada a Via Campesina,informou João Pedro Stédile (página8). �Os inimigos são internacionais,utilizam táticas globais�, diz. �Nos-sos companheiros no México, nas Fi-lipinas, no Canadá ou na Argentinapassam pelos mesmos problemas quea gente, e precisamos juntar forçaspara combatê-los.� Segundo ele, asmultinacionais querem o monopóliodas sementes. �O interesse final de-les é sempre o lucro�. A 4ª Conferên-cia da Via Campesina será em São Pau-lo, de 12 a 19 de junho.

Site www.viacampesina.org/welcome_pt.php3

mapa, informou a Agência Fapesp(www.agencia.fapesp.br). Mesmo su-bestimando a infestação, a OMS nãosubestima a doença: segundo a orga-nização, a malária é de longe a doen-ça tropical e parasitária que mais cau-sa problemas sociais e econômicos nomundo, e só é superada em númerode mortes pela Aids.

ÁREAS DE CONHECIMENTORECLASSIFICADAS

Uma Comissão Especial de Estudosvai propor uma nova tabela de

classificação das áreas do conheci-mento. O grupo foi criado por por-taria conjunta do Conselho Nacio-nal de Desenvolvimento Científico eTecnológico (CNPq), da Financiadorade Estudos e Projetos (Finep) e daCoordenação de Aperfeiçoamento dePessoal de Nível Superior (Capes), eterá nove meses para apresentar oresultados do trabalho. O vice-presi-dente do CNPq, Manuel DomingosNeto, preside a comissão.

MEXA-SE!, IMPLORA O HAMBÚRGUER

Levada à Justiça sob a acusação deprovocar obesidade e problemas

cardíacos em duas adolescentes ame-ricanas com sua comida gordurosa, arede de lanchonetes McDonald�s re-solveu apelar ao marketing: lançoucampanha publicitária conclamandoo consumidor a fazer exercícios e apassar menos tempo diante da TV. Nosanúncios, até os hambúrgueres fazemginástica. Veja a radiografia da redeno documentário Super size me � Adieta do palhaço (2004) e leia o diag-nóstico (dez/2004) de Philippe Froguele Catherine Smadja em �Os gordoslucros do Big Mac e a obesidade comosobremesa� (www.coleguinhas.jor.br/coleguinhas/diplo_bigmac.htm).

IMA

GE

M:

MC

DO

NA

LD

�S

Page 8: A diferença que o cuidado faz - RADIS Comunicação e Saúde · A diferença que o cuidado faz Alex (com a mªe, DØbora): desenganado aos 12 dias, seis anos depois recebe alta no

RADIS 32 ! ABR/2005

[ 8 ]

Auditório lotado: tanta gente se inscreveu para perguntas que o debate tomou mais tempo do que a palestra de Stédile

SSSSSTÉDTÉDTÉDTÉDTÉDILE No POILE No POILE No POILE No POILE No POLITÉLITÉLITÉLITÉLITÉCNICNICNICNICNICo DCo DCo DCo DCo DA FIA FIA FIA FIA FIOCROCROCROCROCRUZUZUZUZUZ

Jesuan Xavier

Oauditório da Escola Poli-técnica de Saúde JoaquimVenâncio, na Fiocruz doRio de Janeiro, ficou pe-

queno para a aula inaugural de 2005proferida pelo coordenador nacionaldo Movimento dos Trabalhadores Ru-rais Sem Terra (MST), João PedroStédile. Cerca de 100 pessoas se es-premeram para ouvi-lo falar sobre otema �Trabalho, saúde e a questão agrá-ria no Brasil�, no dia 15 de fevereiro.

Antes do início da palestra, foirespeitado um minuto de silêncio emhomenagem à missionária DorothyStang, assassinada em Altamira, no Pará.�O que justifica que um madeireiro,por causa de três árvores, mande ma-tar uma freira de 70 e poucos anos?�,questionou Stédile, inconformadocom o crime.

Após a emoção do momento, ocoordenador do MST deu seqüên-cia à aula, e começou traçando umparalelo entre o movimento pela re-forma agrária no Brasil e a Fiocruz.�Assim como aconteceu com a gen-te, os pesquisadores daqui tambémforam muito perseguidos durante aditadura�. Ele aproveitou para con-tar uma história curiosa. �Antigamen-te, quando passava pela Avenida Bra-sil, eu sempre me perguntava: quemserá o ricão que construiu aquelacasa no meio do mato?�, disse, aos

risos, referindo-se ao famoso caste-lo da Fiocruz.

Hoje, contou, o MST deseja de-senvolver algumas parcerias com a Fun-dação Osvaldo Cruz. �A nossa escolatécnica, que funciona em Veranópolis,no Rio Grande do Sul, conta com cer-ca de 700 alunos. Desenvolvemos bonstrabalhos lá e temos interesse em fa-zer intercâmbio com a Fiocruz, em di-versas áreas� � o movimento já temparceria com a Fundação na produ-ção de hortas medicinais e assinou con-vênios com 42 universidades espalha-das por todo o Brasil.

LARANJAS E GALINHASStédile disse que o MST, atualmen-

te, dá muita importância à educação eà prevenção de doenças em seus as-sentamentos. �O movimento evoluiumuito ao longo desses anos. Hoje, alémde lutar pela democratização da ter-ra, lutamos pela educação, a amplitu-de do conhecimento�, afirmou. �Ocamponês pode até ter terra, ter umtrator, mas não será um cidadão ple-no se continuar semi-analfabeto�.

Ainda sobre essa nova fase doMST, que vê como um importanteamadurecimento, ele detalhou o pro-jeto �Pedagogia da terra�, que reú-ne nos assentamentos professoresque trabalham com a matéria-prima aseu alcance. �Por exemplo, ensinama contar com laranjas, galinhas, tudoaquilo que servirá para o futuro da-quelas pessoas�.

Pedagogia da terra

Stédile contou que pôde apren-der muito com ex-líderes de movimen-tos rurais. �Felizmente tive a oportu-nidade de conhecer pessoas comoLindolfo Silva, padre Lages, de MinasGerais, Francisco Julião, de Pernam-buco, e Pureza, aqui do Rio, que foramexilados durante a ditadura militar, masque ainda voltaram ao país depois. Elespuderam transmitir suas experiências naslutas pela reforma agrária�.

O líder do MST comentou a �gra-ve crise� que enfrentam hoje os mo-vimentos sociais de massa no Brasil.Segundo ele, os trabalhadores estãodesarticulados e, por conta disso, mui-to enfraquecidos. �A luta de classefunciona como uma espiral: há momen-tos em que passa por um acúmulo deforças e outros de total desânimo�,disse. Para ele, a classe trabalhadoraviveu seu auge entre 1979 e 1989. �Delá para cá, apenas descenso.�

LIDERANÇAS COOPTADASStédile aproveitou o grande inte-

resse de alunos e professores da esco-la no assunto para aprofundar a análi-se desse processo. Para ele, a ditaduramilitar e os 15 anos de neoliberalismoprovocaram grave problema ideológi-co nos movimentos sociais e na es-querda como um todo. �Se a ditaduraprendeu e matou os intelectuais or-gânicos, o neoliberalismo cooptou-os�.

Para Stédile, tudo isso fez partede uma grande estratégia traçada nosgabinetes do alto escalão dos Esta-

FO

TO

S: H

ÉL

IO N

OG

UE

IRA

Page 9: A diferença que o cuidado faz - RADIS Comunicação e Saúde · A diferença que o cuidado faz Alex (com a mªe, DØbora): desenganado aos 12 dias, seis anos depois recebe alta no

RADIS 32 ! ABR/2005

[ 9 ]

dos Unidos. �O que é essemovimento de proliferaçãode ONGs pelo Brasil e portodo o Terceiro Mundo? Issofoi uma tática planejada emWashington para tirar os in-telectuais dos movimentossociais�, afirmou. �Hoje, ocara sai de uma universida-de e vai direto para umaongzinha qualquer: é muitocômodo para ele, que temhorário de trabalho, não secompromete com nada, nãoé cobrado, e ainda ganha emdólar no fim do mês�.

O líder do MST apresen-tou números que impressio-nam: �No Brasil, hoje em dia,temos oito mil ONGs funcio-nando. Na África, esse núme-ro chega a 12 mil. Na Colôm-bia, bate em 15 mil. Isso éum absurdo, tudo financia-do pelo Banco Mundial�.

Por causa disso, segun-do ele, o movimento socialcarece de líderes, e a clas-se trabalhadora leva muitomais tempo para interpretarsua própria realidade. �Opapel do intelectual orgâni-co era usar seu conheci-mento científico para expli-car a natureza do problema.O camponês e o trabalhadornão aprendem a causa doproblema por si só, é o in-telectual quem faz essa aná-lise�. Então, como é que nósficamos? �Ficamos ferrados�,resumiu, muito aplaudido.

A OMISSÃO DASOCIEDADE

Na segunda parte desua palestra, Stédile res-pondeu às perguntas da platéia. Onúmero de inscritos foi tão grandeque o líder do MST levou mais tem-po respondendo do que na própriaapresentação. �As perguntas foramtão instigantes e provocativas que eudeveria ter falado bem menos na mi-nha exposição inicial�, brincou.

Muito bem-humorado, ele nãofugiu de nenhuma delas. Questionadose os integrantes do MST se sentiamtraídos pela política econômica nogoverno Lula, negou de pronto. �Deforma alguma. Dois meses antes da elei-ção, o PT divulgou carta pública [a�Carta ao povo brasileiro�, de 22 dejunho de 2002, cuja íntegra pode serlida no site do PT (www.pt.org.br/site/assets/carta_ao_povo_brasileiro.pdf)] secomprometendo a honrar os compro-

missos firmados nos governos anterio-res�, disse. �Ou seja, não enganou nin-guém, estava claro que continuaríamosreféns dos FMIs da vida�.

O problema, segundo ele, é queo MST apostou numa retomada dosmovimentos de massa. �Tínhamos asensação de que, com a vitória deLula, a sociedade voltaria a lutar porseus direitos. E isso não aconteceu�.

Para Stédile, o atual governo tematé vontade de fazer mudanças maisradicais, mas precisa ser pressionadopela sociedade. �Infelizmente, nãohouve mudanças significativas nessesdois anos, mas alguém pode dizer queo Lula não quer fazer reforma agrá-ria? Que é contra o nosso movimen-to? Sem luta social não haverá mu-dança na nossa sociedade�.

Stédile entende queLula, muitas vezes, está comas mãos atadas. Em sua ava-liação, o governo petistafez perigosa aliança com aburguesia na campanhaeleitoral. �E a burguesiaimpõe condições�. Ele lem-brou que a campanha deLula foi a terceira mais carado mundo. �Só perdeu paraas da França e dos EstadosUnidos�.

UMA FORMADE GENOCÍDIOApesar das críticas ao

governo atual, Stédile acre-dita que Lula vive o legado dapolítica neoliberal aplicadanos oito anos de FernandoHenrique. Ao fim do governoFHC, tínhamos 18 milhões dedesempregados, disse, e decada cinco pessoas econo-micamente ativas, uma nãotrabalhava. �Isso é uma for-ma de genocídio�. Segundoele, essa política econômi-ca esvaziou o meio rural, au-mentando a desigualdadesocial e diminuindo as opor-tunidades de trabalho nocampo.

Apesar de tudo, ressal-vou, desde a chegada de Lulaao governo o MST ampliou onúmero de famílias acampadas.Quando Fernando Henriquedeixou a presidência, segun-do ele, havia 37 mil famíliasacampadas. �Hoje, temos 200mil, ou seja, é um povo lutan-do para que a reforma agrá-ria se realize�.

O problema, segundoStédile, é que esse movi-

mento de luta por direitos nãoaconteceu nas outras camadas dasociedade. �Imaginávamos que issoaconteceria também com os sem-teto, com os sindicalistas, com osbancários etc�.

Ele terminou a palestra pedindo aestudantes e professores em geral quenão esmoreçam nunca. �Enquanto nãohouver a retomada do movimento demassas será muito difícil recuperar otempo perdido�, observou. �Mas te-nho esperança num país melhor, quepriorize a produção de alimentos e adistribuição de renda.�

Mais informações! Vídeo da palestra www.redefiocruz.fiocruz.br/demanda.php#! Site do MST www.mst.org.br

Se a ditaduraprendeu e matouos intelectuais

orgânicos, oneoliberalismo

cooptou-os.(João Pedro Stédile)

Page 10: A diferença que o cuidado faz - RADIS Comunicação e Saúde · A diferença que o cuidado faz Alex (com a mªe, DØbora): desenganado aos 12 dias, seis anos depois recebe alta no

RADIS 32 ! ABR/2005

[ 1 0 ]

TERAPIAS CELULARESTERAPIAS CELULARESTERAPIAS CELULARESTERAPIAS CELULARESTERAPIAS CELULARES

Mais esperança na curadas doenças do coração

Katia Machado

As terapias celulares estão naordem do dia. Muitos brasi-leiros, entre pesquisadorese pacientes com deficiências

ou doenças degenerativas, festejarama aprovação em março da Lei deBiossegurança pela Câmara dos Deputa-dos, que permite pesquisas com célu-las-tronco embrionárias � um grandepasso no estudo das terapias celula-res. E, desde fevereiro, o Brasil é sedede uma pesquisa inédita no mundo,o Estudo Multicêntrico Randomizadode Terapia Celular em Cardiopatias,patrocinado pelo Ministério da Saú-de e coordenado pelo Instituto Na-cional de Cardiologia do Rio de Ja-

neiro (INCL). A finalida-de do programa é com-provar a eficácia dascélulas-tronco adultasno tratamento de do-enças do coração.

Antes, é precisoesclarecer: o entusi-asmo é grande, prin-cipalmente entre ospacientes, porque ascélulas-tronco têm acapacidade de gerartecidos e órgãos hu-manos, possibilitando acura de grande núme-ro de doenças. Essascélulas, como vêm de-monstrando pesquisasrealizadas no mundointeiro, têm grandepotencial de auto-re-novação e capacidadede originar outras cé-lulas com diferentesfunções. Por isso, sãocapazes de recomportecidos danificados ouregenerar órgãos quenão funcionam.

Há dois tipos decélulas-tronco, as em-brionárias e as madu-

ras ou adultas. No Brasil, apenas ascélulas-tronco adultas podiam ser usa-das para estudos e pesquisas com fi-nalidade de cura. Com a aprovaçãoda Lei de Biossegurança (ver página12), estão autorizados tam-bém os estudos com as em-brionárias.

A diferença entreuma e outra é que as em-brionárias existem apenasnos primeiros dias de for-mação de um embrião. Porserem ainda imaturas, sãocapazes de originar todosos tecidos e órgãos huma-nos. Já as maduras, encontradas emtecidos de crianças e adultos, nor-malmente retiradas da medula óssea,são capazes de originar apenas de-

terminados tipos de células. Pode-se dizer que são mais limitadas eespecializadas.

A pesquisa é pioneira no mundopor envolver grupos de pacientes comquatro diferentes cardiopatias: infartoagudo do miocárdio, doença isquêmicacrônica do coração, cardiomiopatiadilatada e cardiopatia chagásica.Pode-se também dizer que é únicadevido à quantidade de casos queserão avaliados e comparados. São aotodo 1.200 pacientes � 300 de cadacardiopatia �, submetidos à aplica-ção de células-tronco adultas no or-ganismo. Nesse projeto, o MS inves-tiu R$ 13 milhões.

TRATAMENTOSEM TRANSPLANTE

A pesquisa patrocinada pelo MStem como objetivo comprovar os re-sultados já obtidos em outros traba-lhos isolados e verificar a viabilidade dasubstituição dos tratamentos cardíacostradicionais, inclusive o transplante decoração, pela terapia com células-tron-co. �Se após os três anos de traba-lho, tempo previsto de duração da pes-quisa, alcançarmos bons resultados,estaremos evitando muito transplan-tes e os pacientes passarão a ter me-lhor qualidade de vida�, diz o médicoAntônio Carlos Campos de Carvalho,coordenador do Departamento de En-sino e Pesquisa do Instituto Nacionalde Cardiologia de Laranjeiras e coor-denador-geral da pesquisa.

O Ministério da Saúdeprevê que, com a compro-vação da eficácia da terapiacelular na cardiopatia, cer-ca de 200 mil vidas poderãoser salvas, visto que hoje háem torno de 4 milhões depessoas com problemas deinsuficiência cardíaca grave.Além disso, poderão ser re-duzidos significativamente os

custos do Sistema Único de Saúde(SUS), hoje de aproximadamente R$37 milhões por mês, com o tratamen-to de doenças do coração. Conside-

FO

TO:

KAT

IA M

AC

HA

DO

Terapia cardíaca comcélulas-tronco1) Retirada de amostra demedula óssea da crista ilíaca

2) Isolamento das células-tronco por centrifugação

3) Introdução por cateterna região afetada

Page 11: A diferença que o cuidado faz - RADIS Comunicação e Saúde · A diferença que o cuidado faz Alex (com a mªe, DØbora): desenganado aos 12 dias, seis anos depois recebe alta no

RADIS 32 ! ABR/2005

[ 1 1 ]

rando consultas, internações, cirur-gias e transplantes cardíacos, o sis-tema gastou R$ 500 milhões em 2003,segundo o MS.

Se os benefícios poderão ser re-ais, tanto para o paciente quanto parao SUS, pergunta-se: por que apenasquatro tipos de cardiopatia foram in-cluídos no estudo? Segundo o coor-denador do trabalho, porque são asmais comuns no país (e no mundo), eporque evoluem quase sempre parainsuficiência cardíaca. �Em especialfoi escolhida a cardiopatia chagásica�,esclarece Antônio Carlos, �por serespecífica da América Latina�. É acardiopatia provocada pela Doençade Chagas, controlada apenas à basede remédios: provocada pelo inse-to barbeiro, afeta as populaçõesdesfavorecidas do interior do Brasil.

Ficam de fora da pesquisa ape-nas os doentes com a cardiopatia deorigem valvar, que geralmente resul-tam em dilatação do coração, quasesempre porque o paciente não faz atempo a cirurgia para correção dedefeitos de válvula. Nesses casos, sãosuficientes tratamento e cirurgia, quenão são tão caros e complicados.

SUS E INTERNETOs pacientes são selecionados,

segundo Antônio Carlos, a partir daspróprias unidades do SUS que pres-tam atendimento a doentes do cora-ção, muitos deles na fila de transplan-tes: ou seja, cada unidade de saúdeparticipante do estudo poderá incluirpacientes que já venha assistindo. Etambém pela internet: o interessadopoderá fazer sua inscrição pelo sitedo INCL (www.incl.rj.saude.gov.br).�Já se inscreveram pela internet cer-ca de 70 pessoas�, diz.

Em vista do grande número depacientes assistidos, participam des-se trabalho cerca de 40 instituiçõescoordenadas por quatro centros-ân-cora, cada um responsável por umadas quatro doenças: o Instituto Na-cional de Cardiologia de Laranjeiras(no Rio de Janeiro) abriga os pacien-tes com cardiomiopatia dilatada, alémde exercer a função de coordenaçãodo estudo; o Instituto do Coração daUniversidade de São Paulo (USP) fica res-ponsável pela doença isquêmica crôni-ca do coração; o Instituto de CiênciasBiomédicas da Universidade Federal doRio de Janeiro (UFRJ), em colaboraçãocom o Hospital Pró-Cardíaco do Rio,abriga pacientes com infarto agudo domiocárdio; e o Hospital Santa Isabel, como Centro de Pesquisa Gonçalo Muniz,da Fiocruz na Bahia, encarrega-se doestudo da cardiopatia chagásica.

O estudo, que foi avaliado pelaComissão Nacional de Ética em Pesquisa(Conep), ganha visibilidade ainda mai-or porque são muito poucas as pes-quisas com uso de células-tronco paratratamento de doenças do coração.

As expectativas, portanto, são asmelhores, tanto por parte dos pesqui-sadores e profissionais de saúde envol-vidos no projeto quanto dos pacien-tes. �Mas lembramos que é um estudo,por isso o que queremos primeiro éanalisar se a terapia com células-tron-co trará ou não benefícios aos paci-entes�, ressalta Antônio Carlos.

MAIS QUALIDADE DE VIDAApesar de todo o cuidado em não

causar falsas esperanças, ele acredi-ta que a pesquisa favorecerá de fatoos pacientes. �Essa pesquisa poderátrazer contribuições importantes atémesmo à cardiopatia isquêmica agu-da, estudada no mundo inteiro. Nachagásica, nem se fala, por ser doen-ça específica da América Latina�, diz.

Para os pacientes, os benefíci-os são a recuperação da qualidadede vida, a diminuição do número deinternações e outras alternativas quenão o transplante. �Essa é uma opera-ção muito complexa e cara, que envol-ve conseguir-se doador, ser compatí-vel, entre outros procedimentos�, diz.

Devidamente selecionado peloscentros-âncora, o paciente é subme-tido a exames que determinam se está

apto a participar do estudo e a rece-ber a injeção de células-tronco. O pro-cedimento consiste em retirar de 50ml a 100 ml de medula óssea, a partirde punção na crista ilíaca (bacia). Essematerial passa por um processo decentrifugação, quando são isoladas ascélulas mononucleares. �Ou seja, éseparado de todo o material retiradoo que chamamos de fração de célulasmononucleares, num total de 30 a 600milhões. Dessa fração são retiradas ascélulas-tronco, cerca de 10 mil, que,em seguida, são introduzidas por ca-teter na região afetada�, detalha An-tônio Carlos.

Todo o procedimento dura emtorno de duas horas. �Nos casos decardiomiopatia dilatada, infarto agudodo miocárdio ou cardiopatia chagásica,as células são injetadas na circulaçãocoronariana através do cateterismo. Sefor a cardiopatia isquêmica crônica, os

O temor das falsas promessas

Aliberação das pesquisas com cé-lulas-tronco embrionárias pela

Lei de Biossegurança cria enormeexpectativa e também grandes dú-vidas. Em carta enviada no dia 4 demarço aos jornais O Globo e Jor-nal do Brasil, a pesquisadora Cláu-dia Batista, professora-adjunta doDepartamento de Histologia eEmbriologia da UFRJ e especialistano uso de células-tronco para tra-tamento de doenças degenerativas,diz temer o excesso de euforia emrelação às células-tronco embrio-nárias.

Ela explica no texto que, emtodo o mundo, as células-troncomaduras são as únicas com resul-tados comprovados, enquanto asembrionárias �geraram tumores esão rejeitadas pelo organismotransplantado�.

Embora o projeto que coor-dena use células-tronco adultas, e

não embrionárias, Antônio CarlosCarvalho, do INCL, diz que é real apossibilidade de uma célula embri-onária indiferenciada, ou seja,aquela que ainda não tem uma fun-ção específica no organismo, cau-sar tumor. Isso porque, podendogerar todos os tipos celulares en-contrados no organismo adulto,podem também gerar tumores.

Para evitar esse problema, omédico destaca a necessidade dapré-diferenciação dessas células invitro, para só depois injetá-las noorganismo. Isso significa separar ascélulas e injetar apenas as que têmfunção de reconstrução de teci-dos e órgãos danificados e menorrisco de formação de tumores.�Obviamente, tudo isso precisapassar por experimentos em ani-mais primeiro, para depois seguir-mos com as pesquisas em sereshumanos�, alerta.

Nos Estados Unidos cresceu em86% o uso de herbicidas na sojatransgênica.

Radis adverte

Page 12: A diferença que o cuidado faz - RADIS Comunicação e Saúde · A diferença que o cuidado faz Alex (com a mªe, DØbora): desenganado aos 12 dias, seis anos depois recebe alta no

RADIS 32 ! ABR/2005

[ 1 2 ]

Esperança, a marca da festa nas galerias da Câmara; a liberação dos transgênicos barrou na porta os ambientalistas

Marinilda Carvalho *

Anova Lei de Biossegurança, apro-vada por 352 votos a 60 na noite de

2 de março na Câmara dos Deputados,foi muito festejada no plenário e nasgalerias. À espera de sanção presiden-cial, a lei autoriza a pesquisa com célu-

las-tronco embrionárias humanas, des-de que 1) seja feita com embriões frutode fertilização in vitro e congelados hápelo menos três anos; 2) haja permissãodos doadores; 3) seja submetida a co-mitê de ética. Esse tipo de pesquisa,como vimos no texto anterior, traz es-perança de cura aos que sofrem dedeficiências ou doenças degenerativas.

Nem todos festejam anova Lei de Biossegurança

pacientes são primeiramente subme-tidos a cirurgia de revascularização,quando então o cirurgião injeta as cé-lulas-tronco diretamente no músculocardíaco durante a colocação das pon-tes de safena�, esclarece.

EM BREVE, OS RESULTADOSJá receberam células-tronco 30

pessoas com cardiopatia chagásica, 30com cardiopatia isquêmica crônica,perto de 20 pacientes com infartoagudo e três com cardiopatia dilata-da. Antônio Carlos prevê que o tempode conclusão do trabalho seja abrevi-ado. �Alguns pacientes devem apre-sentar algum sinal de melhora no pra-zo de dois meses após o tratamento�.

Na mesma data do lançamento doprograma foi inaugurado, no INCL, o

primeiro Laboratório Multidisciplinarde Terapia Celular, essencial para arealização do estudo, com investimen-tos de R$ 530 mil na construção e nacompra de equipamentos do labora-tório. Além disso, o número de salasdo Centro Cirúrgico do INCL, que re-cebeu modernos equipamentos, pas-sou de dois para quatro (três paraadultos e uma para crianças). Nisso oMS gastou R$ 2,7 milhões. �Com a re-forma, as cirurgias no instituto po-dem chegar a 1.600, neste ano. Em2004, foram cerca de 1.200�, informaa assessoria de comunicação do MS.

Além das cardiopatias, o Ministé-rio da Saúde, em parceria com o Fun-do Setorial de Biotecnologia (CT-Biotec), do Ministério da Ciência eTecnologia, apoiará novos estudos com

Mas a lei também estabelece nor-mas de segurança (poucas) e meca-nismos de fiscalização (reduzidos) paraos organismos geneticamente modifi-cados (os transgênicos). Proíbe a en-genharia genética em célula germinal,zigoto e embrião humanos, além daclonagem humana, mas permite plan-tio e venda de transgênicos sem res-

células-tronco retiradas de cordãoumbilical e também de pacientes adul-tos, para uso no tratamento de lesõesde medula espinhal, além de diabetes,doenças neurodegenerativas (comomal de Alzheimer e esclerose lateralamiotrófica), regeneração de tecidoósseo, dentes e pele, doenças auto-imunes (como lúpus) e doenças ge-néticas, entre outras.

Os estudos voltados para essasdoenças serão iniciados em animais ain-da em 2005. Se os resultados forem po-sitivos passarão, em 2006, à fase em se-res humanos. O projeto prevê recursosde R$ 5 milhões (R$ 2,5 milhões proveni-entes do Departamento de Ciência eTecnologia do Ministério da Saúde e R$2,5 milhões do CT-Biotec do Ministérioda Ciência e Tecnologia).

FO

TO

: R

OSE

BR

ASI

L/A

Br

Page 13: A diferença que o cuidado faz - RADIS Comunicação e Saúde · A diferença que o cuidado faz Alex (com a mªe, DØbora): desenganado aos 12 dias, seis anos depois recebe alta no

RADIS 32 ! ABR/2005

[ 1 3 ]

trições. Foi nesses termos, aliás, quejornais estrangeiros anunciaram láfora: �Brasil libera transgênicos�. Porisso, ambientalistas e todos os quese preocupam com o impacto dostransgênicos no ambiente e na saú-de não tiveram motivo para festejar.

Católico praticante, o procurador-geral da República, Claudio Fonteles, jáavisou que poderá questionar no Supre-mo o capítulo da lei sobre as células-tronco, por ferir, segundo ele, a Cons-tituição. Do outro lado, o deputadoEdson Duarte (PV-BA) pedirá ao PartidoVerde que prepare contra a lei açãode inconstitucionalidade também, maspor conceder superpoderes à Comis-são Técnica Nacional de Biossegurança,a CTNBio. �A lei subordina três ministé-rios (Meio Ambiente, Saúde e Agricultu-ra) à CTNBio�, disse ele à Radis emBrasília. �É irresponsável porque põe apopulação brasileira numa situação decobaia de experimentos transgênicos,para atender aos interesses econômi-cos da Monsanto� (multinacional de se-mentes transgênicas).

O agrônomo Gabriel Fernandes, daAS-PTA (www.aspta.org.br), promotorada campanha Por Um Brasil Livre deTransgênicos, diz que colocar a CTNBioacima dos ministérios é justamente ogrande problema da lei. Para ele, estecolegiado de 27 pesquisadores �faz maispromoção da biotecnologia do que dabiossegurança�. (A biotecnologia é ocampo de conhecimento que aplicaprocessos biológicos na produção desubstâncias para uso industrial, agríco-la, medicinal, farmacêutico; já abiossegurança é o conjunto de estu-

dos e procedimentos que visam evitarou controlar eventuais problemas sus-citados por pesquisas biológicas e/oupor suas aplicações.)

�Então, é uma contradição queuma entidade como a CTNBio avaliesozinha a questão�, diz Gabriel. �Pelohistórico da comissão, a tendênciadessas pessoas, ligadas ao desenvol-vimento dos transgênicos, é liberar�.O agrônomo cita o exemplo recentede vacina transgênica para frangos.Representados na comissão, o Minis-tério do Meio Ambiente rejeitou e aAnvisa, do Ministério da Saúde, se abs-teve. Mas, como as decisões são apro-vadas por maioria simples, a vacina foiliberada. �A CTNBio sempre atuou emfavor da biotecnologia�, diz.

RURALISTAS PELO PROGRESSOA bancada ruralista do Congres-

so, pró-transgênicos, claro, sempre viuna CTNBio um aliado, lembra ele � daía festa no plenário. Por sinal, quemassistiu à votação pela TV ficou espan-tado: nunca se viu tanto ruralista (gru-po historicamente associado ao atra-so, no campo ou nas questões sociais)falando em favor �do progresso�.

Gabriel observa que ao lado de�argumentos absurdos�, como o deque os críticos querem a moratóriados produtos transgênicos (�o quequeremos é cautela, é estudar o im-pacto disso�, diz), o discurso fervoro-so pró-ciência fez parte de eficientelobby, liderado pelas multinacionaiscom apoio entusiasta dos ruralistase ajuda da grande imprensa. O ver-de Edson Duarte detalhou a estraté-

Deputados na tribunaEstranha-me muito, Sr. presidente,a posição de alguns que preferemdeixar essas células morrerem. Tra-ta-se de eutanásia, aquela célulaque está congelada seguramente vaipara o lixo. (Leonardo Mattos, PV-MG � A favor)

O PSDB vota com muito orgulho,fazendo nesta noite uma homena-gem ao ex-presidente FernandoHenrique, que defende a tese afavor da evolução da pesquisa. OPSDB vota a favor dos agricultoresdo nosso país! Eles, sim, estão se-gurando a economia nacional!(Xico Graziano, PSDB-SP � A favor)

Concluo dizendo que o meu voto épela vida e não pela morte! O Se-

nhor Jesus, um dia, entrou em Je-rusalém e muitos aplaudiram; co-locaram Sua roupa e disseram a Ele:Hosana o que vem em nome deDavi. Uma semana depois disseram:Crucifica-o! Crucifica-o! Crucifi-ca-o! Cuidado com seu voto! (Pas-tor Amarildo, PMDB-TO � Contra)

Quero registrar meu voto contrá-rio a esta matéria, porque reconhe-ço que o embrião é um ser vivo,tanto é que se fazem leilões deembriões bovinos, caprinos etc. Senão fosse vivo, ninguém compraria.(Josué Bengtson, PTB-PA � Contra)

O mundo todo assistiu à entrega doOscar. O filme Menina de Ouro ven-ceu nas categorias de melhor fil-

me, melhor diretor e melhor atriz,porque mostra cenas realmentechocantes. O filme fala de uma ga-rota que praticava boxe e que fi-cou tetraplégica. A esperança dadaa ela é algo que nós, católicos, re-jeitamos. O recurso foi a eutaná-sia. Nós não queremos a eutanásia,nós queremos a esperança. (JoséCarlos Aleluia, PFL-BA � A favor)

Senhores, o que na verdade estácomeçando a passos largos, e algunscolegas com lucidez já chamaram aatenção para isso, é um processode eugenia, neomalthusianismo, éseparar um indivíduo de outro: oque tem direito à vida daqueleque não o tem. (Enéas, Prona-RJ� Contra)

gia no texto �Como surgiu a LeiMonsanto�, divulgado após a votação:

�Foi ela [a Monsanto] quem coman-dou o processo no Congresso (...) con-seguiu um aliado inesperado mas fun-damental: os deficientes físicos, queacreditam nas pesquisas com células-tronco. Então, a liberação dessas pes-quisas, que não tem nada a ver comtransgênicos, estrategicamente foi in-corporada ao projeto por sugestão damultinacional. Funcionou: o tema foium dos principais argumentos emocio-nais e científicos para a aprovação daproposta. Ao final, já não se discutiatransgênico, mas célula-tronco. (...) Àsvésperas de cada votação os corredo-res do Congresso eram ocupados pelastransgenetes: garotas contratadas emagências de modelo para distribuir car-tazes, folders, brindes aos parlamenta-res. Na votação final, ardilosamente, es-sas modelos estavam em defesa não maisde transgênicos, mas de células-tronco.�

Cabe registrar que o deputado AldoRebelo (PCdoB-SP), quando líder dogoverno na Câmara, teve a iniciativa dejuntar as duas matérias num mesmo pro-jeto. A ciência agora festeja a permis-são para as pesquisas com células-tron-co embrionárias, como não poderiadeixar de ser. A Monsanto também.

Mais informações�Como surgiu a Lei Monsanto�, deEdson Duarte: íntegra no endereçoda web www.ensp.fiocruz.br/radis/32-web-02.html

* Colaborou Wagner Vasconcelos, de Brasília

Page 14: A diferença que o cuidado faz - RADIS Comunicação e Saúde · A diferença que o cuidado faz Alex (com a mªe, DØbora): desenganado aos 12 dias, seis anos depois recebe alta no

RADIS 32 ! ABR/2005

[ 1 4 ]

CUIDCUIDCUIDCUIDCUIDADO NADO NADO NADO NADO NO INO INO INO INO INSSSSSTITUTTITUTTITUTTITUTTITUTO FERNO FERNO FERNO FERNO FERNANDANDANDANDANDEEEEES FIS FIS FIS FIS FIGUEIRGUEIRGUEIRGUEIRGUEIRAAAAA

É Deus no céu ePadi na terra

Jesuan Xavier

Rafaela Ana Gabriela CamposSilva Mendes. Mas podechamar de Rafa. É assim quea tratam as famílias de sete

crianças atendidas em casa por essa�fisioterapeuta respiratória� � o nomeda profissão da Rafa. �Um anjo que caiudo céu�, sintetiza Elaine da Silva Ra-mos, mãe de Matheus, 4 anos, que nas-ceu com má-formação cardíaca, segui-da de paralisia cerebral. Criançatotalmente dependente de �oxigeno-terapia�. Ou seja, está ligada 24 horaspor dia a um tubo de oxigênio.

Graças ao Programa de Assistên-cia Domiciliar Interdisciplinar, o Padi,do Instituto Fernandes Figueira (IFF-Fiocruz), Matheus pode ser tratado

em casa. �Nos dois primeiros anos davida dele, a gente teve que se desdo-brar para ir diariamente ao hospital,que fica no Flamengo (Zona Sul doRio)�, conta Elaine. �Você pode ima-ginar o transtorno que isso causa,né?�, pergunta. Ela mora emPedra de Guaratiba, a cer-ca de 70 quilômetros do IFF.

Em parceria com aONG Refazer, o Padi montatoda a estrutura necessá-ria para que seus (no mo-mento) sete pacientes �dependentes de equipa-mentos para sobrevivência� sejam atendidos em casa.�As internações prolongadas levam auma desestruturação familiar�, afir-ma o médico Almiro Filho, um doscoordenadores do Padi. �É comum

os pais se separarem ou mesmo per-derem os empregos�.

DESGASTE BEM MENORDo ponto de vista clínico, os

benefícios também são enormes.�De imediato, a criançaque volta para casa elimi-na o risco de uma infec-ção hospitalar�, diz Almiro.Além disso, ressalta, libe-ra um leito para outro pa-ciente. A psicóloga Môni-ca Rolo, que tambémcompõe a equipe do Padi,observa que as criançastendem a apresentar recu-

peração melhor quando estão emcasa. �O ambiente hospitalar desgas-ta muito, não só a família, como o pró-prio paciente�.

Elaine e Matheus:tratamento em casaajuda a superar osdois longos anosde transtornos

FO

TO

S: A

RIS

TID

ES

DU

TR

A

Page 15: A diferença que o cuidado faz - RADIS Comunicação e Saúde · A diferença que o cuidado faz Alex (com a mªe, DØbora): desenganado aos 12 dias, seis anos depois recebe alta no

RADIS 32 ! ABR/2005

[ 1 5 ]

Matheus é a prova viva. O pai dele,Robério Mendes Nunes, diz que o filhonão pode ver jaleco branco. �É impres-sionante, ele começa a chorar�. Aospoucos, a família tenta dar a volta porcima. �Mas a vida não tem sido fácil. Játeve momento em que eu pensei emdesistir de tudo�, revela a mãe, Elaine,com lágrimas nos olhos.

Ela diz que hoje conta mais como �pessoal do Padi� do que com seuspróprios parentes. �Muitos chegamaqui em casa e perguntam: por quevocê não desliga esses aparelhos?Mas como é que vou fazer isso? Soumãe, respondo�. Antes de a equipedeixar sua casa, após mais uma ses-são de fisioterapia, Elaine acrescen-ta: �Pra gente, é Deus no céu e oPadi na terra�.

Criado em abril de 2001, o Pro-grama de Assistência DomiciliarInterdisciplinar do IFF já atendeu 21crianças. Dessas, três tiveram alta,nove morreram. �São pacientes comdoenças crônicas, incuráveis�, escla-rece Rafaela, que está na equipe doPadi desde o início. O objetivo doprograma, segundo ela, é melhorara qualidade de vida dos pacientes eda família. O Padi, conta, começoucom três pessoas. �Eu e os dois co-ordenadores (a enfermeira LuizaVachod e Almiro)�. Hoje, o programatem 10 profissionais � dois médicos,uma enfermeira, uma técnica de en-fermagem, dois fisioterapeutas, umfonoaudiólogo, uma nutricionista, umapsicóloga e uma assistente social.

VIZINHOS RICOS PARTICIPAMAlmiro faz importante ressalva: o

Padi só atende à demanda interna doIFF. �Tentamos prover o recursoterapêutico em casa, um modelo deatendimento que consideramos maispositivo, quando a família do pacientetem condições para isso�. No fim de 2004,o Padi ganhou dois veículos novos, doa-dos pela Associação dos Moradores doMorro da Viúva � trecho do Flamengomuito chique em que se localiza o IFF,em frente ao Pão de Açúcar.

�Antigamente fazíamos as visitasnuma Kombi velha�, diz Rafaela. O ar-condicionado aplaca o calor de 40graus: no dia em que a equipe da Radisacompanhou a ronda do Padi, a vanrodou mais de 300 quilômetros. �Já co-nheço o Rio de Janeiro inteiro�, gaba-se. Mestranda, pós-graduada, mas comsalário de R$ 400 por mês numa coope-rativa contratada (deficiência aindamuito presente no SUS),Rafaela é daquelas pessoasque fazem. Após tantos anosvisitando crianças em suascasas, é muito difícil não seenvolver. �Acabo fazendoparte da família, vivencio osproblemas particulares, virouma amiga mesmo�.

Afirmação comprovadana chegada a mais umacasa. No bairro de Irajá, bem distan-te do IFF, a mãe da menina Ana Clara,Liviam Damiele, recepciona a fisiote-rapeuta como a uma irmã. Sua filha,de 1 ano e 7 meses, tem uma ence-

falopatia crônica. �A Ana já está aquiem casa com a gente há um mês, epercebo uma grande melhora. Estábem mais animada�, diz a mãe.

Na visita, Ana Clara foi submeti-da a exame de medição da quantida-de de oxigênio no sangue. Pela pri-meira vez desde que voltou para casa,a menina apresentou taxa de 100% �belo resultado! Rafaela fica conten-te. �Temos ainda muitas dificuldades,muitas limitações, mas o programa fun-ciona, não é uma utopia�.

�UMA CONQUISTA ENORME�Além das visitas domiciliares, o

Padi organiza reuniões bimestrais comas famílias das crianças atendidas emcasa. �É quando os pais percebem quenão são os únicos, que os problemasexistem e que precisam ser encara-dos de frente�, diz Rafa. �Uma mãeacaba dando força à outra�.

O programa tambémpromove passeios trimestraiscom as crianças. Por causados tubos, as pessoas olhamcom estranheza. Não faz mal.�Os passeios são importantesporque demonstram que agente pode e deve convivernormalmente com a socieda-de. Não há nenhuma vergo-nha em ter um filho com uma

doença grave, pode acontecer comqualquer um�, lembra Liviam.

Segundo a psicóloga Mônica Rolo,as �aventuras� melhoram a auto-esti-ma dos meninos. �São crianças que,

Ana Clara na sessãode fisioterapia com Rafa:a mãe, Liviam, percebea filha mais animada, eos exames de sanguejá indicam umaoxigenação de 100%

Page 16: A diferença que o cuidado faz - RADIS Comunicação e Saúde · A diferença que o cuidado faz Alex (com a mªe, DØbora): desenganado aos 12 dias, seis anos depois recebe alta no

RADIS 32 ! ABR/2005

[ 1 6 ]

por causa dos aparelhos, acabam fi-cando em casa o tempo todo�, diz.�A cada saída sentimos que o ânimodeles se eleva�. Nos últimos meses, oPadi organizou passeios a parques, aoCorcovado e ao Pão de Açúcar.

Luiza Vachod, enfermeira e co-ordenadora do Padi, diz que um dosprincipais objetivos do pro-grama é a reinserção soci-al. �Temos um menino quehoje assiste a aulas�, con-ta. �Na escola, tem até umequipamento de oxigênioà disposição dele. Isso éuma conquista enorme�. Oatendimento em casa, se-gundo ela, proporcionamaior interação mãe-crian-ça-equipe. �Quando os meninos es-tão internados no hospital, a relaçãoé meio complicada; o ambiente, porsi só, é estressante�.

DESENGANADO TEM ALTAO maior exemplo do que este

modelo pode representar na qualida-de de vida do pequeno paciente eda família é Alexsandro Silva de Oli-veira, 6 anos. Desenganado pelosmédicos ao nascer, foi internado noIFF aos 12 dias de vida, diagnosticadocom hipertrofia do sistema linfáticodo pulmão. Doença raríssima, de difí-cil diagnóstico, que mata antes dos 2anos. Mas o IFF descobriu a doença atempo. �Hoje, Alex leva uma vida qua-se normal e até freqüenta a escola�,conta a mãe, Débora Ferreira da Sil-

va. Alex é o garoto da capa da Radis,e tinha alta prevista para abril.

Pela simpatia, o menino foi pra-ticamente adotado pela equipe doIFF. Rafaela conta, emocionada, queajudou a família na festa de aniver-sário de Alexsandro, no segundo anode vida. �Sabíamos que a doença era

muito grave e que, talvez,ele nem chegasse aos 3anos�. Mas a recuperaçãodele, que faz tratamentoem casa há quatro anos, foisurpreendente. Resultado:Rafa é madrinha do meni-no. Na casa de Alex, em San-ta Cruz (Zona Oeste doRio), a fisioterapeuta é re-cebida com gritos de ale-

gria. �Tenho três mães: ela (apon-

tando Débora), a minha avó e a Rafa�,diz o menino, correndo para os bra-ços da �dinda�.

A rotina da fisioterapia segueentre risos e beijos. �Quando é quevocê vai me levar pra sua casa outravez?�, pergunta Alex, que só precisado equipamento de oxigênio à noi-te. Rafaela confessa: �Dói ter quedar alta. Por mim, ficaria cuidandodele pro resto da vida. Mas o Padiprecisa abrir vaga a crianças mais ne-cessitadas�.

Alex continuará suas sessões defisioterapia numa clínica perto decasa: os exercícios são fundamentaisna recuperação. Perguntado sobreo que quer ser quando crescer, res-ponde de pronto: �Enfermeiro�. Adinda ri.

�Quando eu crescer,quero ser enfermeiro.�

(Alexsandro Silva de Oliveira)

Alexsandro, umavitória do programa:visita de Rafaela,a partir de agora,só como madrinha

Page 17: A diferença que o cuidado faz - RADIS Comunicação e Saúde · A diferença que o cuidado faz Alex (com a mªe, DØbora): desenganado aos 12 dias, seis anos depois recebe alta no

RADIS 32 ! ABR/2005

[ 1 7 ]

Sasakawa, Rosa, Yokota e Artur: visão inédita da hanseníase em encontro no Rio

HanseníaseHanseníaseHanseníaseHanseníaseHanseníase

Uma questão de direitos humanos

Oque a hanseníase tem dediferente de outras tantasdoenças? �Esse mal carre-ga dois aspectos que pre-

cisam ser curados logo: a doença emsi e o preconceito e a discriminaçãoem torno dela�, resume o presiden-te da Nippon Foundation, YoheiSasakawa, que também é embaixadorda Organização Mundial da Saúde(OMS) para a Eliminação da Hanseníase.

Ele participou do 1º Seminário In-ternacional Hanseníase e Direitos Hu-manos, que reuniu no Rio de Janeiroa Subcomissão de Direitos Humanosda Organização das Nações Unidas(ONU), o Ministério da Saúde (MS), oMovimento de Reintegração das Pes-soas Atingidas pela Hanseníase(Morhan) e o Núcleo de Estudos daViolência da Universidade de São Pau-lo (USP) entre 27 de fevereiro e 1º demarço. Yohei Sasakawa lembrou quea doença foi esquecida e negligenci-ada durante anos. �Embora estejasendo controlada, a preocupação ain-da resiste, pois milhões de pessoas,mesmo depois de curadas, não têmoportunidade de estudo e de traba-lho�, disse. �Elas não estão conseguin-do realizar um retorno pacífico ao seulocal de origem�. Para o embaixador,foi dada ênfase ao controle do nú-mero de casos da doença, mas o mun-do esqueceu do aspecto social.

VISÃO INÉDITAEssa visão da hanseníase como

questão de direitos humanos é inédi-ta. Como informou Yozo Yokota, da

Subcomissão de DH da ONU, o assun-to foi posto em pauta há apenas umano e meio, quando Sasakawa solici-tou que a subcomissão incluísse ahanseníase na agenda de prioridades.�Pela primeira vez o comitê da ONUtomou noção da importância desseassunto�, disse.

Como primeira iniciativa, asubcomissão apresentará relatório atéagosto deste ano sobre a situação dedesrespeito em torno dos pacientesde hanseníase. Encaminhará ainda al-gumas propostas do evento para aná-lise da ONU. Entre elas, que as Na-ções Unidas promovam um encontrode debates em Genebra, sede daSubcomissão de Direitos Humanos,estimulem e apóiem pesquisas, cam-panhas e políticas públicas de elimi-nação da hanseníase, como tambémações antidiscriminatórias.

Embora acredite que ainda se-jam necessários muito tempo e es-forço para acabar com o atraso naforma com que os governos lidam coma hanseníase, Yozo Yokota elogia asações de alguns países, como o Bra-sil. �Saio desse seminário com umaimpressão muito otimista�, disse. Emsua opinião, o governo brasileiro temdisposição para eliminar a doença,toma algumas boas iniciativas e contacom o esforço de organizações não-governamentais como o Morhan.

No Brasil, onde surgem 50 milnovos casos de hanseníase anualmen-te, o MS admite que há muito a serfeito. Até 2004, o país apresentavaíndices de 4,5 casos para cada 10 milhabitantes. Em números absolutos,

isso representou 79.908 casos, atrásapenas da Índia, que tem populaçãoquase seis vezes maior. Em 2005, se-guindo critérios estabelecidos pelaOMS, retirando do cadastro ativo ospacientes tratados e curados, essataxa passou para 1,7 pessoa em cadagrupo de 10 mil habitantes.

CRIANÇA DOENTE,FALÊNCIA DO SISTEMAIsso, porém, ainda não é sufici-

ente: a OMS recomenda menos deum caso para 10 mil habitantes. �Te-mos dívidas sociais muito importantesa serem pagas�, disse Rosa Castália,coordenadora da área de hanseníaseda Secretaria de Vigilância em Saú-de, do MS.

A meta do ministério, segundoRosa, é atingir tais índices até o fimdeste ano. �Isso deve acontecer ape-nas no Sul e no Sudeste, pois os níveisde prevalência nos municípios dasoutras regiões ainda são muito altos�.O pior indicador é o de Mato Grosso,onde a doença atinge 7,85 pessoas emcada grupo de 10 mil habitantes, ouseja, média quase cinco vezes maiordo que a nacional. O MS prevê alcan-çar a meta em todo o país até 2010.

Outra preocupação do MS dizrespeito às crianças, cerca de 10%dos novos casos. �Uma criança doen-te significa uma falência do sistemade saúde e também que há adultosnão-tratados ao redor delas�, alertouRosa. Em sua opinião, não há comoaceitar um país que erradicou a poli-omielite e o sarampo, dependendopara isso de ações complexas, e tercrianças com hanseníase. Diante des-te quadro, Rosa propôs aos represen-tantes da ONU e da OMS que o Unicef,o fundo das Nações Unidas para a in-fância, seja envolvido na luta pela eli-minação da doença entre as crian-ças e da prevenção de novos casos.

Na opinião do coordenador doMorhan, Artur Custódio, um grandeobstáculo para eliminar a doença dizrespeito à falta de informação e de in-teresse da sociedade. Por isso, uma dasmedidas aprovadas no evento, que de-verá ser adotada pelo governo federal,é a inclusão de informações acerca dadoença no currículo obrigatório dasescolas públicas. (K. M.)

FO

TO:

KAT

IA M

AC

HA

DO

Page 18: A diferença que o cuidado faz - RADIS Comunicação e Saúde · A diferença que o cuidado faz Alex (com a mªe, DØbora): desenganado aos 12 dias, seis anos depois recebe alta no

RADIS 32 ! ABR/2005

[ 1 8 ]

SSSSSERERERERERVIÇVIÇVIÇVIÇVIÇOOOOO

EVENTOS

3º CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIASSOCIAIS E HUMANAS EM SAÚDE

Promovido pela Abrasco em parce-ria com a Universidade Federal de

Santa Catarina, o evento está organi-zado em seis eixos temáticos, dividi-dos em 48 diferentes assuntos. Sãoeles: Estado, instituições e políticaspúblicas; Sociedade civil, movimentossociais e cultura; Ciência, saber etecnologia; Trabalho, profissões e for-mação profissional; Subjetividade,corpo e pessoa; e Práticas corporais,atenção e cuidado à saúde. Com otema central �Desafios da fragilidadeda vida na sociedade contemporâ-nea�, o encontro objetiva proporci-onar uma reflexão entre as ciênciassociais e humanas, a saúde e a quali-dade de vida das populações.Data 9 a 13 de julhoLocal Florianópolis (SC)Mais informaçõesTel. (48) [email protected] www.sociaisehumanas.com.br

CONGRESSO DE ECONOMIA DA SAÚDE2005

Promovido pela International HealthEconomics Association (IHEA), o even-to debaterá temas como obesidade,epidemias e pobreza, desigualdadesna saúde, tecnologia, crescimento emudança e serviços de saúde, entreoutros. As inscrições poderão ser fei-tas pela internet.Data 10 e 13 de julhoLocal Barcelona (Espanha)Mais informaçõese-mail [email protected] www.healtheconomics.org

1º ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO DEPATOLOGIAS ANTIGAS NA AMÉRICA DO SUL

Oencontro (em inglês, Paleopatho-logy Association Meeting in South

América) focalizará o impacto da mi-gração e do contato entre diferentesgrupos humanos nas Américas e comoeles trouxeram doenças nativas, dis-seminando-as ao longo dos anos. Oevento tem organização da Escola Na-

cional de Saúde Pública Sergio Arouca(Ensp) da Fiocruz e apoio do MuseuNacional da UFRJ e do Instituto deBiociências da USP. A PaleopathologyAssociation é uma instituição tradici-onal que há décadas reúne pesquisa-dores para debater sobre a históriae a evolução das doenças nas popu-lações antigas, através de estudosarqueológicos.Data 27 a 29 de julhoLocal ENSP, Rio de Janeiro (RJ)Mais informaçõesSite http://intranet.ensp.fiocruz.br/informe/materias.cfm?mat=5298E-mail [email protected]

14º CONGRESSO CIENTÍFICOINTERNACIONAL (CNIC 2005)

Promovido pelo Centro Nacional deInvestigações Científicas (CNIC),

instituição cubana fundada em 1965que formou mais de 25 mil especia-listas em diversas áreas do conhe-cimento, o evento terá como temacentral �40 anos a serviço da ciên-cia e da tecnologia�, e debateráos avanços mais recentes nas áre-as de ciências naturais, biomédicase tecnológicas.Data 27 a 30 de junhoLocal Havana, CubaMais informaçõesSite www.cnic.edu.cu/14Congreso/principal.htmE-mail Rafael Vigoa (Brasil)[email protected]

PRÊMIO

OConselho Nacional de Desenvol-vimento Científico e

Tecnológico (CNPq) está aceitandoinscrições para os prêmios Destaquedo Ano na Iniciação Científica e ÉricoVannucci Mendes e José Reis de Di-vulgação Científica, distribuindo umtotal de R$ 30 mil aos ganhadores. O25º Prêmio José Reis de DivulgaçãoCientífica (US$ 4.500), para profissi-onais da comunicação e inscriçõesaté 11 de maio, é concedido às ini-ciativas que contribuem para tornara ciência, a tecnologia e a inovaçãoconhecidas do grande público.

Também com inscrições até 11/5,o Prêmio Érico Vannucci Mendes (R$ 5mil) é destinado a estudos e pesqui-

sas sobre a cultura brasileira e a pre-servação da memória nacional, espe-cialmente as tradições populares e ostraços culturais das minorias étnicase sociais. O 3º Prêmio Destaque do Anona Iniciação Científica, que aceita ins-crições até 26 de agosto, incentivabolsistas de iniciação científica doCNPq que se destacaram pela relevân-cia e qualidade do relatório final.Mais informaçõesSite www.cnpq.br/sobrecnpq/premios

PUBLICAÇÕESLANÇAMENTOS � EDITORA FIOCRUZ

A democracia incon-clusa � Um estudoda Reforma Sanitáriabrasileira, de SilviaGerschman, apre-senta a trajetória eo papel dos movi-mentos sociais emsaúde na ReformaSanitária. A partir de pesquisa minu-ciosa, a autora desvela as conexõesentre a política de saúde e a forma-ção de estruturas políticas democrá-ticas no Estado e na sociedade.

O recém-nascido dealto risco: teoria eprática do cuidar,organizado por Ma-ria Elisabeth LopesMoreira, José Mariade Andrade Lopes eManoel de Carva-lho, retrata a im-portante contribuição do InstitutoFernandes Figueira (IFF) da Fiocruzno campo da saúde da mulher e dacriança. O livro aborda a experiên-cia do berçário do IFF que tem re-sultado em uma das menores taxasde letalidade hospitalar entre bebês,como também a atuação do institu-to voltada para a assistênciahumanizada, respeitosa e qualifica-da. São ao todo 22 artigos sobre cui-dado com recém-nascido.

Mais informaçõesEditora Fiocruz, Av. Brasil, 4.036, sala 112,Manguinhos, Rio de Janeiro, RJCEP 21040-361Tel. (21) 3882-9039E-mail [email protected] www.fiocruz.br/editora

Page 19: A diferença que o cuidado faz - RADIS Comunicação e Saúde · A diferença que o cuidado faz Alex (com a mªe, DØbora): desenganado aos 12 dias, seis anos depois recebe alta no

Onde você guarda o seu racismo?

* Pesquisador do Ibase

PÓS-TUDOPÓS-TUDOPÓS-TUDOPÓS-TUDOPÓS-TUDO

RADIS 32 ! ABR/2005

[ 19 ]

torna as pessoas melhores ou pioresdo que outras.

A equipe da campanha foi a diver-sos locais do Rio de Janeiro � shoppings,praias, Feira de São Cristóvão, LagoaRodrigo de Freitas � e perguntou a maisde 200 pessoas onde guardavam seuracismo. As respostas foram transfor-madas em comerciais de TV e tambémserviram de base para a preparaçãode cartazes, folhetos e outdoors.

As reações à pergunta seguiramquase todas o mesmo roteiro. Come-çaram com olhos arregalados e umaexpressão de surpresa. Em seguida, apessoa entrevistada garantia que nãoera racista, de jeito nenhum. Às ve-zes, até mostrava sua indignação como problema da discriminação racial.Graças à habilidade da jornalista He-lena Rocha, que conduziu as entre-vistas, essa fachada de frases politi-camente corretas ruiu diante dosexemplos concretos. O que você fa-ria se estivesse numa rua escura eaparecesse um negro? E se seu filhonamorasse uma negra? Ahn, bem... (...)

Algumas respostas à pergunta�Onde você guarda o seu racismo?�! �Nas piadas.�! �Não sou racista, mas a sociedademe obriga a ser.�! �No passado, isso é algo da escravi-dão, não existe mais.�! �Como é que vou ser racista se mi-nha noiva é morena?�! �No medo.�! �Eles são muito piores. Quando con-seguem um bom emprego, pisam nagente.�! �No inconsciente.�! �Não sou racista. Talvez eu simples-mente não goste de gente que fazcoisas erradas.�

O mote da campanha é tão pro-vocador que estimulou um debate en-tre as pessoas da equipe coordena-dora. Nas reuniões de organização enos bastidores das filmagens dos co-merciais, nós nos perguntávamos ondeguardamos nosso racismo � afinal, nãosomos melhores do que as pessoas queentrevistamos. Dessas discussões sur-giu a idéia de fechar os anúncios e oscartazes com a frase �Jogue fora seuracismo�, pois ninguém gosta de guar-dar uma coisa ruim.

Texto publicado na revista DemocraciaViva nº 24 (out/dez 2004). Íntegra:(www.ibase.br/pubibase/media/ibasenet_dv24_opiniaoibase.pdf)

Maurício Santoro *

�Uma campanha contra o racismo?Mas você acha que esse é um

problema sério no Brasil? A questão éa desigualdade econômica, não a corda pele.� Ouvi muita coisa desse tipoao longo dos últimos meses, sempreque comentava com amigos e amigasque estava trabalhando com o temada discriminação racial. A maior par-te das pessoas que me diziam isso eracomposta de cientistas sociais, jor-nalistas e economistas que tinham pre-ocupações com relação à sociedadebrasileira e impecáveis credenciaisprogressistas.

Por que a dificuldade em enca-rar o racismo? O movimento negro fazduras � e merecidas � críticas à elitepolítica do Brasil pela recusa em en-carar o racismo como um dos princi-pais problemas nacionais. Durantemuito tempo, essa questão foi enco-berta pelo mito da democracia raciale pela crença de que o desenvolvi-mento econômico geraria emprego eoportunidades para todas as pessoas,independentemente da cor da pele.Felizmente, esse quadro de auto-ilu-são já começou a mudar. O governoLula inovou ao criar uma secretariapara a promoção da igualdade racial,e a discussão sobre cotas e ação afir-mativa está no centro do debate pú-blico. O Ibase se junta a esse movi-mento participando do grupo Diálogoscontra o Racismo e preparando umacampanha contra o racismo.

É uma história que remonta a2001. Durante os debates que ante-cederam a Conferência Mundial con-tra o Racismo, a Discriminação Raci-al, a Xenofobia e Formas Correlatasde Intolerância, formou-se no Brasiluma rede de organizações da cidada-nia ativa que pretendia discutir es-ses temas. O grupo foi batizado como

Diálogos contra o Racismo e realizouquatro encontros desde então.

Uma das principais preocupaçõesdesse grupo é destacar que o com-bate ao racismo é importante para apopulação não-negra e não pode fi-car restrito ao movimento negro.Dessa perspectiva, surgiu a idéia dacriação de uma campanha contra adiscriminação racial que tivesse comopúblico-alvo essa população.

O sociólogo Florestan Fernandes,pioneiro dos estudos sobre o tema,observou que, no Brasil, as pessoasnão se acham preconceituosas. Defato, uma recente pesquisa da Fun-dação Perseu Abramo (�Discrimina-ção racial e preconceito de cor noBrasil�: pesquisa realizada em setem-bro e outubro de 2003 e disponívelem www.fpa.org.br/nop/racismo/preconceito.htm) mostrou que 87% dapopulação brasileira acreditam queexiste racismo no país, mas apenas4% da população admitem que é ra-cista. O problema é sempre alheio ou,então, é atribuído à sociedade, demaneira abstrata.

Seríamos um país de �racismo semracistas�? Como abordar um proble-ma que ninguém sequer admite quetem? A opção foi criar uma campanhaprovocadora, para incomodar e fazerpensar. O mote � �Onde você guar-da o seu racismo?� � parte do pres-suposto de que todas as pessoas sãoum pouco racistas. Podemos não teratitudes que mostrem isso abertamen-te, mas, por alguma razão, mantemosa bizarra crença de que a cor da pele

Page 20: A diferença que o cuidado faz - RADIS Comunicação e Saúde · A diferença que o cuidado faz Alex (com a mªe, DØbora): desenganado aos 12 dias, seis anos depois recebe alta no

www.canalsaude.fiocruz.br