a desarticulação dos problemas da metafísica kant

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  • 8/14/2019 A desarticulao dos problemas da metafsica Kant

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    (Des-)Articulao dos Problemas da Metafsica

    (Classificaes, Transformaes e Conseqncias da Teoria

    Silogstica de Kant)1.

    Daniel Omar Perez

    Departamento de Filosofia,

    Universidade Estadual do Oeste do Paran,

    Campus Toledo-Pr.

    [email protected]

    Este texto visa reconstruir a interpretao do silogismo,

    nas duas grandes etapas do pensamento de Kant, a fim

    de mostrar a sua importncia fundamental na

    formulao dos problemas necessrios da razo na

    Crtica da Razo Pura.

    .

    Introduo:

    Na distino das grandes etapas do pensamento kantiano(pr-crtico/crtico) podemos indicar, como de uso, alguns pontos de

    ruptura, que do origem novidade do pensamento crtico em relao

    ao racionalismo sustentado nos textos anteriores; mas tambm

    podemos elaborar algumas linhas de continuidade, que daro certa

    1

    Este trabalho forma parte de uma pesquisa mais abrangente sobre a questo daconstituio do Sentido em Kant. Alguns resultados tm sido publicados e outrosainda esto sendo elaborados.

    mailto:[email protected]:[email protected]
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    coerncia obra do autor2. Nossa tentativa aqui ser, antes que aderir

    ou rejeitar cortes ou genealogias, reconstruir a interpretao do

    silogismo em dois textos de Kant, a saber: Die falsche Spitzfindigkeit der

    vier syllogistischen Figuren (1762)3 e Kritik der reinen Vernunft (1781-87)4

    , utilizando como ponto de passagem a Logik Jsche5 . Esta

    reconstruo nos permitir:

    1- avaliar as mudanas de um texto para outro na questo

    especfica da interpretao do silogismo,

    2- apresentar o fio condutor que serve de fundamento para a

    efetivao da mudana,3- indicar a conseqncia fundamental com relao teoria

    dos problemas em Kant, especialmente os da metafsica.

    Neste sentido, procurar-se- reconhecer em que medida os

    problemas da metafsica estariam vinculados e veiculados com e por

    problemas da linguagem e, em que medida tambm, poderamos

    esclarecer a prpria atividade filosfica trabalhando sobre problemas da

    linguagem.

    O silogismo categrico como juzo estendido:

    No ano de 1762 Kant escreve um texto tematizando

    especificamente o problema do silogismo. O texto, titulado Acerca dafalsa subtileza das quatro figuras do silogismo, est dividido em seis

    2Existe um texto da minha autora que trabalha, em alguma medida, certos aspectosdesta questo a partir dos problemas de significao. Ver Perez,D (1998b).3 Ser usada a trad. de Alberto Reis Kant, I. (1983) .4 Ser usada a trad. de M. Pinto dos Santos e A. Fradique Morujo Kant, I. (1994).5 Ser utilizada a traduo castelhana de A.Garcia Moreno e J.Ruvira LgicaBsAs: Ed.Tor, e a traduo da Srie Estudos Alemes da Biblioteca Tempo Universitrio.

    * pertinente anunciar que em alguns momentos do nosso texto discutiremos edistanciar-nos-emos das tradues citadas em favor de uma melhor explicitao do

    problema. O texto em alemo utilizado o das Kant Werke; Darmstadt:Wissenschaftliche Buchgesellschaft, e o da Akademie. Nas citaes do texto kantiano seutilizar a paginao do original.

    2

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    pargrafos. Por ordem de exposio cada pargrafo tratar: 1- o

    conceito do silogismo; 2- as regras dos silogismos; 3- a distino,

    introduzida por Kant, segundo as regras anteriormente formuladas,

    entre silogismos puros e mistos; 4- o desenvolvimento da distino,

    figura por figura; 5- a concluso lgica especfica segundo os

    resultados da anlise; e finalmente, na ltima considerao, as

    conseqncias metafsicas que a pesquisa apresenta.

    No texto pr-crtico o conceito de silogismo definido por Kant

    a partir da anlise do juzo. Segundo a estrutura proposicional S-P Kant

    afirma que: julgar comparar algo como uma caracterstica ( Merkmal)com uma coisa6. Onde a coisa o sujeito S, a caracterstica o

    predicado P e a relao de comparao expressa pela cpula ou

    marca, sinal, signo de unio, reunio, relao (Verbindungszeichen)

    ser (sein). Assim, na proposio S P predicamos afirmativamente P

    de S. Com a introduo do sinal da negao S P predicamos

    negativamente P de S. Deste modo, dado um predicado qualquer

    possvel de afirma-lo ou nega-lo em relao a uma coisa. Esta relao

    deve ser imediata j que nela que se funda o ato de comparao do

    juzo.

    Na extenso desta operao surge o silogismo propriamente

    dito. A introduo de uma caracterstica mediata (ein mittelbares

    Merkmal), isto a caracterstica de uma caracterstica da coisa7, nos

    permite completar o juzo em um raciocnio. Deste modo, a definioreal (Realerklrung) de silogismo dada por Kant nos seguintes termos:

    Todo juzo estabelecido atravs de uma caracterstica mediata um

    silogismo; ou em outras palavras, um silogismo a comparao de uma

    caracterstica com uma coisa por meio de uma caracterstica

    intermediria8.

    6

    Op.cit.A3.7 Ver op.cit A48 Op.cit.A5.

    3

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    Assim, no silogismo, somos levados do predicado,

    caracterstica imediata ou intermediria, ao predicado do predicado, ou

    caracterstica mediata. Onde S-P-p seriam os elementos envolvidos na

    operao. Sendo que para conhecer claramente a relao entre S e p

    sirvo-me do terminus mediumP. No exemplo de Kant a alma humana

    um esprito se usa o termo mdio racional, formulando-se a operao

    do seguinte modo:

    Tudo o que Racional Esprito,

    a Alma do homem RacionalLogo, a Alma do homem Esprito.

    TUDO R------E

    A------RLOGO, A-----E

    Onde se Esprito uma caracterstica de Racional

    Racional uma caracterstica da Alma,

    ento, Esprito tambm uma caracterstica da Alma.

    No caso dos silogismos negativos se procede do mesmo modo

    com a introduo do sinal de negao. Seja o caso de demonstrar a

    proposio A durao de Deus no mensurvel atravs de tempo

    algum, entre o sujeito Deuse a caracterstica mediata no-mensurvel

    pelo tempo, introduz-se a caracterstica imediata imutvel.

    Sendo:

    Nada do que imutvel temporalmente mensurvel

    Deus imutvel,

    logo, Deus no-mensurvel.

    Deste modo enunciada a regra universal de todos os

    silogismos afirmativos e negativos, a saber:

    4

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    A caracterstica de uma

    caracterstica a caracterstica da

    prpria coisa.

    O que contradiz a caracterstica de

    uma coisa, contradiz a prpria

    coisa9.

    De acordo com Kant, estas regras servem de fundamento

    quilo que os lgicos da sua poca consideraram o fundamento

    supremo de todos os silogismos positivos e negativos:

    O que afirmado universalmente

    de um conceito, igualmenteafirmado para todo o que contido

    nele.

    O que negado universalmente

    em relao a um conceito, -oigualmente, em relao ao que

    compreendido nele10.

    A prova deste princpio estaria dada pelo procedimento de

    abstrao. O que pertence ou no pertence a um conceito obtido por

    meio da abstrao. A abstrao est ligada diretamente aos princpios

    de identidade e de contradio que esto na base de todas estas

    operaes. Assim, a identidade entre S e p se verifica ou rejeita com a

    introduo do termo intermedirio P, temos a um silogismo puro.

    Escreve Kant: Quando um silogismo contm, apenas, trs proposies

    inter-relacionadas segundo as regras que expusemos, chamo-lhe

    silogismo puro (ratiocinium purum)...11. o caso dos exemplos

    anteriores. Na interpretao de Kant, para demonstrar que a almahumana um esprito, devemos obter, por abstrao, do sujeito A, a

    caracterstica imediata C, e desta a caracterstica mediata B. atravs

    da identidade entre um elemento e outro que se conforma a operao

    silogstica.

    Assim:

    9

    Op.cit.A8.10 Op.cit.A8.11 Op.cit.A10.

    5

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    C (contm) B

    A (contm) C

    logo,A (contm) B

    A regra deste tipo de silogismos da primeira figura seria

    expressa nos seguintes termos: uma caracterstica B de uma

    caracterstica C de uma coisa A a caracterstica dessa mesma coisa12.

    Mas se o silogismo s possvel atravs da ligao de mais de trs

    juzos, chamar-lhe-ei -diz Kant- silogismo misto (ratiocinium

    hybridum)13

    . Em cada caso necessria a introduo de uma ou maisinferncias que explicitem aquilo que est implicitamente colocado na

    proposio anterior. Os exemplos de Kant ilustram esta distino.

    Vemos o caso da segunda figura silogstica que expressa na

    regra: o que contradiz caracterstica de uma caracterstica, contradiz

    prpria coisa. Esta proposio verdadeira -escreve Kant- porque

    aquilo que contradito por uma caracterstica contradiz igualmente

    essa caracterstica, mas o que contradiz uma caracterstica est em

    conflito com a prpria coisa e, consequentemente, o que contradito

    pela caracterstica de uma coisa est em conflito com a prpria coisa.

    Torna-se claro que apenas porque posso converter simplesmente a

    maior enquanto proposio negativa que posso deduzir a concluso

    atravs da menor14. O processo de converso dos termos da premissa

    maior, na introduo de uma quarta proposio, permite explicitaradequadamente o raciocnio, mas este deixa de ser puro. Assim, temos

    entre a premissa maior (nenhum esprito divisvel) e a concluso

    (nenhuma matria esprito), duas proposies, a saber, a converso

    lgica da maior e o termo mdio.

    12

    Op.cit.A14.13 Op.cit.A10/11.14 Op.cit.A14. O destaque nosso.

    6

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    Nenhum esprito divisvel

    nada do que divisvel esprito

    Toda matria divisvel;

    logo, nenhuma matria esprito

    Nenhum E contm D

    nenhum D contm E

    Todo M contm D

    nenhum M contm E

    Na terceira figura, (que funciona sob a seguinte regra o que

    compatvel ou incompatvel com uma coisa tambm compatvel ou

    incompatvel com algumas coisas que esto contidas numa outra

    caracterstica da coisa) tambm se introduz, por outro modo de

    converso, uma quarta proposio. Esta proposio -escreve Kantreferindo-se regra do silogismo- s verdadeira porque posso

    transpor, por converso (per conversionem logicam) o juzo no qual dito

    que uma outra caracterstica convm coisa; o que o torna conforme

    regra de todos os silogismos15.

    Exemplo:

    Todos os homens so pecadores

    Todos os homens so racionais

    alguns racionais so homens

    logo alguns racionais so

    pecadores

    Todo H contm P

    Todo H contm R

    alguns R contm H

    alguns R contm P

    No segundo e terceiro caso de silogismo as trs ltimasproposies conformam a figura do silogismo puro. Onde a maior

    contm o predicado da concluso. Mas isto d-se s com a introduo

    de uma nova operao. Assim a segunda proposio fica como a maior.

    Nos casos da quarta figura, tratada por Kant, afirma-se que j

    no possvel dar uma regra que subsuma essa operao. A forma de

    tirar concluses nesta figura to contrria natureza, e funda-se num

    15 Op.cit. A16.

    7

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    nmero to elevado de dedues intermdias, que devem ser pensadas

    como proposies intercaladas, que a regra universal que eu poderia

    extrair seria muito obscura e incompreensvel16. Neste tipo de

    operaes possvel utilizar converses ou contraposies para

    explicitar a cadeia de inferncias que conduz da premissa maior

    concluso.Note-se no exemplo:

    Nenhum homem estpido sbio;

    nenhum sbio estpido.

    Alguns sbios so piedosos;alguns piedosos so sbios.

    Alguns piedosos no so estpidos.

    Nenhum E contm S

    nenhum S contm E

    Alguns S contm PAlguns P contm S

    Alguns P contm no E.

    Na segunda e na quarta proposio so introduzidas as

    inferncias que permitem explicitar a passagem de uma sentena

    outra at chegar concluso.

    Com isto tudo, Kant quer mostrar que com a excepo do

    silogismo categrico (ou da primeira figura), todos os outros raciocnios

    introduzem concluses intermedirias para completar o conceito.

    Portanto, no so propriamente silogismos. Mas de modo algum

    significa que sejam falsos. A importncia desta distino, e aqui est o

    objetivo da tarefa kantiana neste texto, funda-se na tentativa de

    explicitar os passos em funo da clareza das concluses segundoregras lgicas. A meta (der Zweck) da lgica, no confundir, mas

    resolver (aufzulsen), expr alguma coisa, no de uma forma velada,

    mas com evidncia (augenscheinlich). por isso que essas quatro

    espcies de raciocnios (Schluarten) devem ser simples, sem misturas e

    sem inferncias auxiliares, feitas de uma forma escondida; se no for

    assim no lhe devemos dar o direito de aparecer numa exposio lgica

    16 Op.cit.A17.

    8

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    como sendo as frmulas da apresentao mais clara de um raciocnio17

    . o trabalho de esclarecimento da sintaxe lgica o que est em jogo,

    sua caracterizao e seu limite.

    O privilegio de Kant para a primeira figura baseia-se na

    afirmao que diz: um conceito claro (deutlicher Begriff) s possvel

    atravs do juzo, e um conceito completo (vollstndiger), s possvel

    atravs de um silogismo (Vernunftschlu)18. Na extenso do processo de

    abstrao passamos, em uma ordem de continuidade, do juzo para o

    silogismo. Deste modo, para que um conceito seja claro, necessrio

    que eu reconhea (erkenne)19

    , claramente, alguma coisa comocaracterstica de alguma coisa, o que um juzo20. E mais adiante Kant

    explicita: o juzo no o conceito claro em si mesmo, mas a operao

    (Handlung)21 pela qual ele se torna verdadeiro; pois a representao

    que surge da prpria coisa depois desta representao, que clara22.

    Se prolongarmos esta Handlung -operao- no silogismo chegaremos

    completude do conceito. de destacar como Kant hierarquiza a

    operao como aceso verdade. Uma operao baseada na sintaxe

    lgica fundamento de verdade de uma proposio.

    Entre clareza e completude, entre juzo e raciocnio, h uma

    relao de continuidade sustentada no mesmo fundamento; ... temos

    necessidade da mesma faculdade da alma (Grundkraft der Seele) para

    os conceitos claros e para os conceitos completos (visto que ,

    exatamente, a mesma faculdade que reconhece, imediatamente,qualquer coisa como caracterstica de uma coisa que serve tambm

    para representar de novo, nesta caracterstica, uma outra caracterstica

    17 Op.cit.A23.18 Op.cit.A29.19 Existe uma diferena importante em Kant entre os termos erkennene einsehenquegeralmente so traduzidos por reconhecersem qualquer advertncia.20 Op.cit.A29.21

    O termo Handlungpode ser traduzido por ao, mas na nossa lngua podemos deixaresta segunda acepo para nos referir a aes prticas.22 Op.cit.A29.

    9

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    e para assim pensar a coisa atravs de uma caracterstica afastada),

    assim, salta tambm aos olhos, que o entendimento (Verstand) e a razo

    (Vernunft), isto a capacidade de conhecer claramente (das Vermgen,

    deutlich zu erkennen) e a de efetuar silogismos (und dasjenige,

    Vernunftschlsse zu machen), no so, quanto ao seu fundamento,

    faculdades diferentes (keine verschiedene Grundfhigkeiten sein)23.

    nesse fundamento que se sustenta a unidade da distino lgica ou

    conhecimento, que Kant no diferencia, neste texto, seno apenas com

    relao s representaes sensveis. Distinguir logicamente,

    reconhecer (Logisch unterscheiden heit erkennen) que uma coisa A no B, o que sempre um juzo negativo; distinguir fisicamente (physisch

    unterscheiden) ser levado (getrieben werden) por representaes

    diferentes a cometer aes (Handlungen)24. Isto colocado por Kant

    para diferenciar um tipo de procedimento racional de um tipo no

    racional, como poderia ser o exemplo da conduta dos animais, onde

    tambm poderamos isolar um conjunto de representaes e operaes.

    Sem ter, por isto, uma elaborao conceitual.

    Mas o que de destacar, e neste ponto Kant apenas consegue

    enunciar a questo, o problema daquilo que torna possvel o juzo.

    Trata-se da indagao da fora (Kraft) ou capacidade (Fhigkeit) que

    no outra coisa que a faculdade (Vermgen) do sentido interno (des

    innern Sinnes) para constituir (zumachen) suas prprias representaes

    em objetos de pensamento25

    . O que aqui est em jogo a relao entrea distino fsica e a distino lgica. Trata-se de procurar a operao

    que permite passar das representaes sensveis s representaes

    lgicas, das sensaes ao pensamento.

    Por um lado, Kant desenvolve toda uma teoria do silogismo

    baseado no princpio de identidade e de no-contradio. Toda e

    23

    Op.cit.A30-1.24 Op.cit.A32.25 Op.cit.A33.O destaque meu.

    10

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    qualquer proposio deve ser considerada analtica, para que, a partir

    da anlise do conceito, possamos decidir sobre a sua relao com o

    predicado ou com o predicado do predicado. A distino lgica baseada

    no procedimento da abstrao funda-se na anlise de conceitos. No

    entanto, Kant afirma explicitamente, como temos j citado, que aquilo

    que torna possvel o juzo a operao de provocar (zu machem)

    representaes lgicas a partir de representaes de caracter sensvel.

    Aqui surge um primeiro conflito no texto kantiano. Se a

    conexo entre os termos de um silogismo deve ser explcita ou

    implicitamente analtica, quer dizer, as premissas e concluses devemser proposies analticas (e isto est sustentado pelo princpio que diz:

    todos os juzos ou so idnticos ou so contraditrios), ento Kant no

    precisaria de fazer referncia efetividade das coisas. No teria porque

    se incomodar em procurar a capacidade que torna possvel o juzo em

    relao com representaes sensveis. Se o simples esclarecimento

    analtico do conceito na forma do juzo e do raciocnio for suficiente,

    ento as trs pginas nas quais Kant fala sobre a conduta de um boi

    perante sua cavalaria, a relao entre o assado e o cachorro, seria

    pura literatura, no sentido pejorativo das palavras, pertenceria a esse

    barroquismo kantiano que tantas vezes foi julgado como artificial por

    alguns comentadores ingleses. A questo que estas afirmaes sobre a

    distino lgica e a distino fsica no parecem ser ornamentais,

    localizam-se na Considerao Final (Schlussbetrachtung), no momentoem que Kant deve mostrar para que que serve tudo esse trabalho, que

    no a mera ginstica dos eruditos (Athletik der Gelehrten). Mas, por

    outro lado, se no mero ornamento, para que introduzir esse

    problema? ... logo aps de uma quase apologia da analiticidade dos

    conceitos. A estrutura da argumentao do texto parece se quebrar,

    justo no momento decisivo, no momento em que Kant deveria ser

    consequentemente leibniziano.

    11

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    Parece surgir um mal-estar em Kant na hora de aceitar

    incondicionalmente a tese de que todas so representaes do mesmo

    tipo, s que algumas so confusas. Se ele tivesse optado por essa

    proposta nada teramos a dizer acerca da sua concluso, a no ser que

    ele apreendeu e at melhorou os ensinamentos do mestre. Mas no.

    Parece estar anunciando outra coisa, algo que no foi suficientemente

    elaborado.

    Se Kant fosse mais um racionalista, e especificamente um

    leibniziano, no teria qualquer motivo para se perguntar pela fora

    (Kraft) que permite constituir (zu machen) as representaes em objetosdo pensamento. A resposta clara para qualquer leibniziano. No

    podemos afirmar apressadamente que Kant j tenha diferenciado

    sensibilidade e entendimento ao modo crtico, mas tambm no est

    aderindo teoria leibniziana de representaes claras e representaes

    confusas. Ele as denomina representaes fsicas e nada tem a ver

    com qualquer conceitualizao confusa.

    Sem rodeios enunciaremos nossa proposio. Existe uma

    estreita relao entre: 1- a tentativa do esclarecimento analtico dos

    silogismos; 2- a questo de marcar essa relao entre representaes

    fsicas e o pensamento; e 3-a mudana da concepo do silogismo

    elaborada na Crtica da Razo Pura. Esta mudana est direcionada por

    aquele mal-estar que irrompe no texto.

    Kant est nos indicando o alcance e o limite da formulao eresoluo de problemas atravs da anlise conceitual. Uma anlise que

    desenvolvida segundo operaes sintticas, a saber: quando tenho um

    juzo, formulo um conceito claro; quando tenho um silogismo, formulo um

    conceito completo. Este seria um modo de estender o meu conhecimento

    da coisa, quer dizer, uma espcie de predicao obtida por anlise.

    Onde, na medida em que seja confirmada, segundo uma coerncia

    sinttica, podemos dizer que obtemos uma concluso verdadeira, que

    12

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    alcanamos a verdade. Mas, no momento de reafirmar essa convico

    analtica, Kant chama a ateno para a relao entre o pensamento e a

    sensibilidade, as representaes lgicas e as representaes fsicas, as

    palavras e as coisas. a que est marcado o limite, a que a

    interpretao deveria entrar em crise.

    Aqum de constituir o trabalho aqui apresentado em uma

    ginstica de eruditos (Athletik der Geleherten), e antes de passar a

    concluses pressurosas, tentaremos a prometida reconstruo do texto

    crtico, onde trata-se dos silogismos, e, logo de alguns rodeios

    necessrios, que esclarecero alguns pontos, abordaremos o problemade forma radical (ou quase). Nesse momento de nossa tarefa o confronto

    com a tese de Nussbaum26 permitir, sob outra perspectiva, elucidar o

    sentido da mudana da concepo lgica para, deste modo, aprofundar

    naquele mal-estar que fico em aberto na nossa leitura do texto

    anterior.

    Da operao silogstica teoria das idias

    No Uso lgico da razo, na Crtica da razo pura, Kant

    distingue entre aquilo que conhecido imediatamente (unmittelbar

    erkannt) e o que s deduzido (was nur geschlossen wird). Conhece-se

    imediatamente (wird unmittelbar erkannt) que h trs ngulos numafigura limitada por trs linhas retas; mas s deduzido (ist nur

    geschlossen) que estes ngulos so iguais a dois retos(A303/B359).

    Temos, assim, procedimentos diretos e indiretos, inferncias e

    raciocnios.

    Em funo disto, e para definir ainda mais acuradamente os

    termos, podemos dizer que: Em todo raciocnio (Schlusse) h uma

    26 Nussbaum,Ch (1992).

    13

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    proposio que serve de princpio (Grunde) e outra, a concluso

    (Folgerung) que dela extrada e, por fim, a deduo (Schlufolge) (a

    conseqncia), pela qual a verdade da ltima est indissoluvelmente

    ligada verdade da primeira(A303/B360). Assim sendo, as inferncias

    podem ser imediatas ou mediatas. As primeiras denominam-se

    inferncias do entendimento (Verstandsschlu), onde o juzo inferido j

    se encontra no primeiro, de tal modo que dele pode ser extrado sem

    intermdio de uma terceira representao.... Por exemplo, da

    proposio : todos os homens so mortais, possvel inferir

    imediatamente que alguns homens so mortais, nada do que imortal um homem; mas no que todos os sbios so mortais. Para

    deduzir esta ltima concluso daquele princpio ser necessria a

    interveno de um juzo intermedirio que possibilite a passagem

    adequadamente. a introduo do juzo intermedirio entre o princpio

    e a concluso o que define o conceito do silogismo, ou inferncia da

    razo. Sendo esta a definio, a regra que funda a operao silogstica

    ser a seguinte:

    1- (maior) concebo uma regra pelo entendimento.

    2- (menor) subsumo um conhecimento na condio dessa

    regra mediante a faculdade de julgar.

    3- (conclusio) determino o conhecimento pelo predicado da

    regra pela razo.

    O exemplo:

    Todos os Homens so Mortais

    os Sbios so Homens

    logo, os Sbios so Mortais

    Todo H------M

    S------H

    logo, S------M

    Na concluso do silogismo, restringimos um predicado a

    determinado objeto, aps t-lo pensado na premissa maior em toda a

    14

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    sua extenso, sob certa condio. Mas o que realmente importante

    destacar nesta nova formulao o conceito de regra. sob a

    extenso da regra universal que subsumo um conhecimento

    particular para chegar concluso. J no se trataria da analiticidade

    de um conceito e de um processo de abstrao que captaria a

    identidade entre o Sujeito e o predicado. a afirmao da maior tida

    como verdadeira, que assegura a verdade da concluso, entanto que

    aplicao de uma regra universal ao caso particular. Que todos os

    homens sejam mortais aqui uma regra e no apenas uma relao de

    identidade entre mortal e homem. Por outra palavras, necessrio queseja mortal para que seja homem.

    Se lembrarmos o texto pr-crtico, observaremos que a regra

    ltima, ou princpio de todos os silogismos, estava enunciada em

    termos de caracterstica, enquanto que agora aparece em termos de

    regra. A passagem se daria da anlise do conceito para a aplicao da

    regra. Um esquema das duas concepes apresenta-se na Lgica

    Jsche, que do 41 a 93 ambas desenvolvem-se sem aparente soluo

    de continuidade. Por exemplo, no 57 o princpio geral de todos os

    raciocnios expresso nos seguintes termos: Aquilo que est sob a

    condio de uma regra (Was unter der Bedingung einer Regel steht,),

    est tambm sob a prpria regra (das steht auch unter der Regel selbst).

    Assim, o raciocnio estabelece uma regra geral e uma subsuno

    condio da regra. Donde se deduz que a concluso no est contida apriorino singular, mas no geral, e que necessria sob certa condio.

    Em funo disto, a regra definida como uma assero submetida a

    uma condio geral. E mais adiante se afirma que o conhecimento a

    subsuno27. O procedimento de subsumir sob torna-se

    conhecimento. Mas no 63 enuncia-se a seguinte regra: Aquilo que

    convm caracterstica de uma coisa (Was dem Merkmale einer Sache

    27Logik Jsche sec. 58

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    zukommt), convm tambm coisa mesma (das kommt auch der Sache

    selbst zu); e o que contradiz caracterstica de uma coisa(und was dem

    Merkmale einer Sache widerspricht) contradiz tambm a coisa mesma

    ( das widerspricht auch der Sache selbst). Sendo assim, teramos,

    aparentemente, duas regras contrapostas para os silogismos. Uma a

    partir da subsumso, outra a partir da abstrao. Nesse sentido

    orienta-se o pensamento de Nussbaum.

    Segundo o nosso comentador, a longa carreira de Kant teria

    comeado como filsofo racionalista, mais precisamente aderindo

    escola de Leibniz e Wolff, e finalizado como o criador da filosofia crtica.Esta afirmao no dita, apenas, para repetir o que aparentemente

    todo o mundo sabe, mas para destacar os dois pontos que definem as

    mudanas na filosofia da lgica de nosso autor; tpico este que no

    teria sido to documentado nas pesquisas histricas quanto o que

    aconteceu no mbito da metafsica, teoria do conhecimento, filosofia da

    cincia e matemtica. Deste modo, afirma-se que Kant teria comeado

    por sustentar uma concepo da lgica que s pode ser consistente em

    relao com a concepo leibniziana, de que toda proposio categrica

    verdadeira analtica, para, mais tarde, passar a uma lgica crtica que

    tem relao com a filosofia crtica como uma totalidade. Mas, de acordo

    com nosso comentador, esta passagem no teria transcendido

    inteiramente seus origens pr-crticos28. Com efeito, na etapa pr-

    crtica teria se dado um privilegio do silogismo categrico a partir deuma determinada concepo da lgica, enquanto na etapa crtica

    propor-se-ia uma equivalncia e coordenao entre os trs tipos de

    figuras silogsticas em questo. Segundo Nussbaum, a mudana de

    concepo lgica, elaborada por Kant, no teria conseguido dar conta

    da tentativa crtica de j no privilegiar a figura categrica29. Isto ,

    teramos o mesmo privilegio do silogismo categrico sob duas

    28 Nussbaum,Ch (1992) p. 280.29 Nussbaum,Ch (1992) p. 293.

    16

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    concepes da lgica. E Nussbaum d elementos para sustentar essa

    afirmao dizendo, que se compararmos a operao da inferncia

    silogstica na CRP com a dos textos pr-crticos observaremos as

    diferenas fundamentais entre ambas as concepes, mas logo

    poderamos conferir sua deficincia em relao ao privilegio do

    categrico. Na CRP Kant tenta reconhecer trs tipos de silogismo como

    coordenados e igualmente importantes (categricos, hipotticos e

    disjuntivos). No texto pr-crtico observa-se o silogismo categrico como

    central. Na CRP a formulao do princpio est baseado na regra como

    conceito central, no texto pr-crtico na caracterstica. Em ambos oscasos estaria sendo afirmada uma relao de conteno.

    Mas o problema seria saber como deve ser interpretada essa

    conteno. Que significa conter? isso o que est em jogo na

    formulao das duas regras. Nussbaum cita Russell para dizer que

    tradicionalmente houve uma diferena de opinio em relao natureza

    desta conteno. Quando enunciamos um silogismo estamos dizendo

    que se a classe dos humanos parte da classe dos mortais, e se a

    classe dos gregos parte da classe dos humanos, ento a classe dos

    gregos parte da classe dos mortais? Ou estamos dizendo que se o

    conceito mortal parte do conceito humano, e se o conceito humano

    parte do conceito grego, ento o conceito mortal deve ser parte do

    conceito grego30. Em cada caso a incluso varia de significao. A

    etapa pr-crtica seria intensional e a crtica seria extensional e nomeio dessa distino encontrar-se-ia a Lgica Jsche. ai que

    Nussbaum afirma: Descobrimos neste ltimo trabalho uma mistura

    inconsistente das concepes, crtica e pr-crtica, um estado de fatos

    que no em si mesmo surpreendente, dado o fato que estas leituras se

    estendem por toda a carreira de ensino de Kant. Mas isto pode, ao

    menos em parte, dar conta da reputao de incerto (unreliability) que

    30 Nussbaum,Ch (1992) pp 281-2.

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    este trabalho tem adquirido entre os estudiosos de Kant31. Finalmente

    esta colocada a controvrsia. Ou no s o texto da lgica

    inconsistente, mas tambm a tentativa de no privilegiar o silogismo

    categrico na crtica pouco slida e, portanto, s teramos

    inconsistncias, insolvncias e ambigidades em Kant; ou possvel dar

    uma leitura diferente, que mesmo encontrando rupturas e

    continuidades, possa dar conta de algum tipo de coernciaao labor de

    Kant. No que pretendamos restaurar Kant, trata-se simplesmente

    de arriscar uma abordagem que nos permitir no s achar um Kant

    preocupado com tecnicismos lgicos, mas tambm, e sobre tudo, comquestes de sentido e significao que permitam dilucidar os problemas

    da metafsica. Aproximar-nos-emos leitura do texto da Lgica para

    verificar a inconsistncia de Kant e, logo, trataremos da insuficincia

    de sua empresa, segundo Nussbaum.

    A estrutura do silogismo

    Abordemos o texto da lgica na sua estrutura. Como temos

    dito, entre os pargrafos 41 e 93 Kant trata dos raciocnios (von den

    Schlssen). Comea com uma definio geral, do mesmo modo que na

    crtica, diferenciando as inferncias mediatas das imediatas. Os

    raciocnios imediatos pertencem ao entendimento e denominam-setambm Verstandesschlsse. Os raciocnios mediatos (e aqui introduz

    uma distino a mais) so ou da razo ou da faculdade de julgar

    (Urteilskraft)32. Do pargrafo 44 a 55 so desenvolvidos os raciocnios

    imediatos. Do pargrafo 81 a 93 trata dos raciocnios do juzo. Os

    raciocnios da Razo, que so os que esto aqui em questo, so

    tematizados entre os pargrafos 56 e 80, e ai onde vamos a nos deter.

    31 Nussbaum,Ch (1992) pp 281-2.32 Ver Logik Jschesec.43.

    18

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    No 56 formula-se o conceito do silogismo, no 57 o princpio

    geral baseado na regra e na condio da regra. Assim, uma regra

    geral denominada premissa maior, a proposio que subsume um

    conhecimento (o sujeito da concluso ou termo menor) e a condio (o

    termo mdio) a premissa menor, e a proposio que afirma o nega, do

    conhecimento subsumido, o predicado da regra, a concluso. As

    premissas constituem a matria e a concluso a forma do

    silogismo33. Uma vez apresentado o procedimento geral do raciocnio da

    razo podemos abordar as suas distintas figuras. A relao que a

    premissa maior representa, como regra, entre um conhecimento e a suacondio, constitui as diversas espcies de inferncias da razo. por

    isso que, de acordo a como seja efetuada essa relao, pode haver trs

    espcies de raciocnios, a saber: categricos, hipotticos e disjuntivos

    (CRP A 304/ B 361). A diviso dos raciocnios racionais baseia-se na

    relao entre o sujeito e o predicado da premissa maior. Escreve Kant:

    Todas as regras (juzos) exprimem a unidade objetiva da conscincia da

    diversidade do conhecer, contm, portanto, uma condio sob a qual

    pertence um conhecimento, em unio de outro, a uma conscincia

    nica. Concebem-se trs condies desta unidade: 1- como sujeito da

    inerncia, 2- como razo da dependncia de um conhecer com relao a

    outro, 3- como unio das partes em um todo. Kant esclarece que os

    raciocnios no podem ser divididos, como os juzos34, em relao sua

    quantidade, porque toda maior uma regra e, porm, universal; emrelao sua qualidade, porque seu enunciado afirma ou nega

    indistintamente; em relao sua modalidade porque a concluso

    deve ser sempre necessria. Por esta razo, o princpio de diviso est

    baseado na relao. Assim apresentado por Kant o fundamento da

    diviso dos silogismos em categricos, hipotticos e disjuntivos. O

    sentido da interpretao do silogismo deve ser dada a partir da extenso

    33 Ver Logik Jschesec.59.34Logik Jschesec. 60.

    19

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    da regra em qualquer das suas trs possveis formas. Kant muda seu

    privilegio pela caractersticaem favor da relaodos elementos da regra.

    Deste modo, a regra do categrico deve ser interpretada sob o princpio

    da subsuno da condio da regra. Desenvolvamos cada caso.

    O silogismo dito categrico quando sua premissa maior, na

    forma de regra, pensada sob a condio de sujeito da inerncia das

    caractersticas. Assim, no 62 so enunciados seus conceitos

    fundamentais, a saber:

    1) o predicado na concluso; cujo conceito se chama termo

    maior (terminus maior), porque ele tem uma esfera maior35

    do que osujeito;

    2) o sujeito (na concluso), cujo conceito se chama termo

    menor (terminus minor);

    3) uma caracterstica intermediria (nota intermdia), que se

    chama termo mdio (terminus medius), porque por meio dele que um

    conhecimento subsumido na condio da regra.

    Se levarmos em conta a extenso da esfera do conceito do

    predicado da concluso, ento a interpretao, neste caso, deve ser

    extensional. Comparemos ambas as interpretaes.

    No caso da intensionalidade a

    interpretao era:

    S P P

    No caso da extensionalidade a

    interpretao :

    P P S

    Onde:

    S era o sujeito da concluso e da premissa menor, P o predicado da

    35 O destaque no parfrase

    20

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    premissa menor e o sujeito da premissa menor, e P o predicado da

    premissa maior e da concluso

    No h contradio ou inconsistncia, mas aprofundamento

    na interpretao do silogismo. Para diferenciar ambas as interpretaes

    podemos utilizar a sugesto de Nussbaum, a partir da concepo de

    Russell, de intensionalidade e extensionalidade, e nem por isso achar

    qualquer inconsistent mixture. E ainda, dando um passo a mais,

    podemos tambm desenvolver, a partir daqui, a explicao da prpria

    teoria das idias na CRP.

    O tratamento dos raciocnios na Logiktem asindicaes suficientes para, junto com aquele texto de 1762 e a CRP,

    poder realizar um trabalho esclarecedor sobre a origem lgica das Ideias

    da Razo. O texto de Nussbaum limita-se a tomar nota do enunciado da

    regra sem atender ao estatuto da mesma. Agora, o que convm

    caracterstica de uma coisa tambm convm coisa ....sob a condio

    da regra . Kant explica na observao do 57 que a inferncia da

    razo toma como premissa uma regra universal e uma subsuno

    condio da regra. Devemos levar em conta a concepo da regra

    introduzida na nova interpretao. Assim, os componentes do silogismo

    so:1- uma regrauniversal ou premissa maior.; 2- uma proposio que

    subsume um conhecimento na condio da regraou premissa menor.;

    3- uma proposio que afirma ou nega do conhecimento subsumido o

    predicado da regra ou concluso. (Destaque-se o termo regra naformulao).

    deste modo que Kant define Regra, a saber: como uma

    assero sob uma condio universal. destacando o papel da regra,

    no raciocnio, que ele consegue incluir as duas outras inferncias

    (hipotticas e disjuntivas) como sendo operaes da razo.

    O caso das inferncias hipotticas da razo o mais polmico.

    nesse ponto que Nussbaum apoia sua afirmao de que Kant, mesmo

    21

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    com a nova interpretao, estaria privilegiando o silogismo categrico.

    No 75 Kant diz que: uma inferncia hipottica uma inferncia que

    tem por maior uma proposio hipottica; at aqui estaria se marcando

    o caracter da inferncia a partir da relao dos componentes na

    premissa maior, mas nas observaes declara que: 1- as inferncias

    hipotticas da razo no tm, pois, terminus medium, mas nelas a

    conseqncia de uma proposio a partir de outra apenas indicada.

    Com efeito, na maior delas indica-se a conseqncia de duas

    proposies uma da outra, das quais a primeira uma premissa, a

    segunda uma concluso. A minor uma transformao da condioproblemtica em uma proposio categrica. 2- a partir do fato de que a

    inferncia hipottica s consiste de duas proposies, sem ter um termo

    mdio, pode-se perceber: que ela no seria (sei) propriamente uma

    inferncia da razo, mas antes to-somente uma inferncia

    imediata a ser demonstrada segundo a matria ou a forma a partir

    de um antecedente e um conseqente. (...) Toda inferncia da razo

    deve ser uma prova. Ora, a inferncia hipottica traz consigo apenas o

    fundamento da prova. Conseqentemente fica claro a partir daqui

    tambm que no poderia ser uma inferncia da razo (da er kein

    Vernunftschlu sein knne)36. Aqui no temos outra sada a no ser

    aplicar o princpio do terceiro excludo. Ou no uma inferncia da

    razo, e ento Nussbaum tem razo em considerar o texto como

    inconsistente, e at poderamos dizer auto-contraditrio; ou umainferncia da razo, e ento devemos considerar a ltima citao como

    uma comparao entre o silogismo categrico e o hipottico a modo de

    esclarecimento, sem por isso restar importncia ao estatuto da regra

    enquanto princpio de todas as inferncias da razo. Isto , mesmo

    tendo duas proposies a inferncia continua a ser da razo por estar

    fundada em uma premissa maior enquanto regra, e a partir da qual

    36 O destaque meu.

    22

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    podemos operar por modus ponensou modus tollens. A rigor, se for o

    caso, no teramos nem mesmo duas, mas uma proposio. Outro

    detalhe a levar em conta o cuidado de Kant em redigir esses

    enunciados usando sei ou sein knne. Detalhe que nem todas as

    tradues conservam, passando assim de uma proposio que

    poderamos colocar entre aspas como uma relao de comparao, para

    uma sentena afirmativa sobre o carter da operao lgica37.

    De modo anlogo acontece com as inferncias disjuntivas,

    onde a premissa maior uma proposio disjuntiva da qual se infere,

    segundo modus ponensou tollens, a verdade de um membro a partir dafalsidade dos outros ou vice-versa. No nos deteremos na explicao

    tcnica.

    Alm destes tipos de inferncias da razo, tambm temos os

    falsos silogismos ou inferncias mistas e os dilemas ou inferncias

    hipottico-disjuntivas. As inferncias mistas seriam casos impuros do

    silogismo categrico, e os dilemas uma combinao de hiptese e

    disjuno. A apresentao do quadro completo das inferncias da razo,

    desenvolvido na Lgica, permite-nos aprofundar na compreenso da

    mudana de interpretao, saber qual a dimenso da nova formulao

    e em que sentido est orientada. Com estes elementos podemos

    ingressar no texto crtico.

    Da silogstica metafsica

    Do mesmo modo que as formas lgicas do nosso

    conhecimento (no entendimento) podem conter a origem dos nossos

    37 A traduo da Logikda Editora Biblioteca, Tempo Universitrio 93, da Srie EstudosAlemes, tem, entre outras, essa dificuldade. Citamos os dois textos do pargrafo 75

    destacando a conjugao do verbo ser: ...pode-se perceber que ela no propriamente uma inferncia da razo...; da er eigentlich kein Vernunftschlusei,... .

    23

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    conceitos puros a priori, -procedimento este, que o prprio Kant se

    encarrega de mostrar-nos na Analtica Transcendental da primeira

    crtica, deduzindo as categorias da tbua dos juzos-, assim tambm, a

    forma dos raciocnios contm a origem dos nossos conceitos da razo

    (CRP A 321/ B 378). A operao pode ser formulada da seguinte

    maneira: na concluso do silogismo, restringimos um predicado a

    determinado objeto, aps t-lo pensado na premissa maior em toda a

    sua extenso, sob certa condio. Esta quantidade completa da

    extenso, com referncia tal condio, chama-se universalidade, que,

    na sntese das intuies, corresponde totalidade das condies. til, neste ponto, lembrar a diferena da concepo do

    silogismo em relao ao texto de 1762. A distino entre intensional e

    extensional no (como j demonstrei) uma indicao meramente

    tcnica, o segundo caso no um procedimento de simples anlise,

    seno que se refere a uma composio da extenso mediante uma

    regra. E essa composio da extenso a que est em jogo na Idia.

    Assim sendo, o conceito transcendental da razo (idia)

    definido como o conceito da totalidade das condies relativamente a

    um condicionado dado (Erscheinung). Como, porm, s o

    incondicionado possibilita a totalidade das condies e, reciprocamente,

    a totalidade das condies sempre em si mesma incondicionada, um

    conceito puro da razo (idia) pode ser definido como o conceito do

    incondicionado, na medida em que contm um fundamento da sntesedo condicionado (CRPA 322/ B 379). Trata-se de uma composio da

    extenso como fundamento da sntese atravs de uma regra como

    premissa do silogismo.

    Uma vez apresentado o procedimento geral do raciocnio da

    razo podemos abordar as suas distintas figuras. Cada raciocnio, ou

    seja, cada espcie de relao tenta procurar um conceito puro da razo

    diferente:

    24

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    1) um incondicionado da sntese categrica em um sujeito;

    2) um incondicionado da sntese hipottica dos membros de

    uma srie;

    3) um incondicionado da sntese disjuntiva das partes em um

    sistema;

    (sntese predicativa, conjuntiva e disjuntiva respectivamente).

    Assim sendo, para encontrar tal conceito, cada raciocnio

    progride para o incondicionado por meio de pro-silogismos. Quer dizer:

    1) para um sujeito que j no predicado;

    2) para uma pressuposio que j nada pressupe; e,3) para um agregado de elementos ao qual j nada mais

    exigido.

    Do mesmo modo que no caso das categorias (para o

    entendimento), preciso compreender isto como uma operao da

    razo, uma operao lgico-discursiva. Cada operao no ,

    meramente, um tecnicismo lgico, uma operao de composio de

    uma srie de elementos. Cada relao uma relao de composio

    ininterrupta at o absoluto, mas s idealmente, s no mbito lgico do

    discurso. A este respeito, Kant nos diz: ...a razo, no seu uso lgico,

    procura a condio geral do seu juzo (da concluso) e, deste modo, o

    raciocnio no tambm mais que um juzo obtido, subsumindo a sua

    condio em uma regra geral (a premissa maior). Ora, como esta regra,

    por sua vez, est sujeita mesma tentativa da razo e assim (medianteum pro-silogismo) se tem de procurar a condio da condio, at onde

    for possvel, bem se v que o prprio princpio da razo em geral (no seu

    uso lgico) encontrar para o conhecimento do condicionado, o

    incondicionado pelo qual se lhe completa a unidade. Esta mxima lgica

    s pode converter-se em princpio da razo pura, se admitirmos que,

    dado o condicionado, tambm dada (isto , contida no objeto e na sua

    25

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    ligao) toda a srie das condies subordinadas, srie que , portanto,

    incondicionada (CRPA 307/B 364).

    A regra de funcionamento lgico passa a ser princpio

    transcendental, e assim, a gerar os problemas necessrios da razo,

    enquanto este seja tomado subjetivamente. Quer dizer, por outras

    palavras, que deve ser compreendido como um requerimento de

    sistematicidade (uma petio: a de seguir avanando), mas, fora disto,

    no possvel fazer qualquer uso emprico, objetivo, desse princpio que

    seja considerado legtimo. Nesse caso estaramos atuando de modo

    transcendente. O proceder da razo por raciocnios no depende daexperincia, apenas do seu prprio funcionamento, no entanto, tambm

    no constitutiva daquela, apenas tem uma funo regulativa.

    De acordo com o procedimento da razo, qualquer srie cujo

    expoente dado, pode se prolongar indefinidamente. Isto , o mesmo

    ato da razo conduz ratiocinatio polysyllogistica, que uma srie de

    raciocnios, que pode ser prosseguida indefinidamente, quer pelo lado

    das condies (per prosyllogismus), quer pelo lado do condicionado (per

    episyllogismus) (CRP A 311/ B 387). Pelo primeiro ato gerada a

    sntese regressiva, pelo segundo a sntese progressiva. A primeira diz

    respeito s condies, a segunda, respeito ao condicionado. Esta ltima

    sntese, gera problemas arbitrrios38. Ou seja, problemas sobre as

    conseqncias do condicionado, e potencialmente aberta; enquanto a

    primeira, gera problemas necessrios da razo pura sobre a condiodo dado. So problemas necessrios enquanto que carecemos de

    princpios para a compreenso integral do que dado no fenmeno, e

    no de conseqncias que podem ser prolongadas indefinidamente

    (CRP A 411/ B 438). Com efeito, no caso da progresso teramos,

    virtualmente, a possibilidade de incorporar sempre mais um elemento

    38 A diferena entre problemas arbitrrios e necessrios tratada em Loparic,Z. (1982)Cap VII.

    26

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    srie, no obstante, no caso da regresso deveramos poder estabelecer

    um princpio, ou primeiro termo.

    Estes conceitos puros da razo (idias, ou primeiros termos

    das snteses regressivas), aos quais chegamos pelo pensamento e s so

    concebidos por ele, so necessrios, na medida em que nos prescrevem

    a tarefa de fazer progredir, tanto quanto possvel, a unidade do

    entendimento at o incondicionado (CRP A 323/ B 380). De fato, a

    diversidade das regras e a unidade dos princpios uma exigncia da

    razo para levar o entendimento ao completo acordo com sigo mesmo

    (CRPA 305/ B 362).Neste sentido, a razo relaciona-se apenas com o uso do

    entendimento, na medida em que lhe prescreve a orientao (die

    Richtung) para uma certa unidade de todos os seus atos com respeito a

    cada objeto ( CRP A 326/ B 383) a partir de operaes lgico-

    discursivas. Um princpio de unidade tal, no prescreve aos objetos

    nenhuma lei constitutiva e no contm o fundamento da possibilidade

    de os conhecer e de os determinar como tais (empiricamente),

    simplesmente, uma lei subjetiva, de carter heurstico, isto , no-

    algortmico, que permite a sistematizao do nosso conhecimento. A

    razo no contm o fundamento constitutivo da experincia dita

    possvel (CRP A 306/ B 362), seno que funciona discursivamente,

    contornando, atravs de uma sintaxe e uma semntica prprias, sua

    esfera de influncias. apenas e nada menos que no interior destequadro onde a razo (esse lado discursivo do nosso aparelho cognitivo)

    opera e formula problemas. assim ento, como as idias servem ao

    entendimento s de cnone, que lhes permite estender o seu uso ao

    mximo e torn-lo homogneo; por meio delas o entendimento no

    conhece, mas ganha sistematicidade (CRPA 329/ B 386).

    27

  • 8/14/2019 A desarticulao dos problemas da metafsica Kant

    28/41

    Algumas concluses prvias

    Como vemos, a teoria dos problemas necessrios da razo

    est baseada na interpretao extensional do silogismo. Lembremos

    mais uma vez o texto pr-crtico de 1762 tratado na primeira parte

    deste trabalho. Ali Kant compreende a dificuldade de relacionar o que

    possvel de se dizer em um raciocnio logicamente correto com o que

    realmente acontece na experincia. Na tentativa de cuidar

    adequadamente do problema, ele diferencia entre silogismos puros e

    mistos, acreditando que mais uma regra sinttica acabaria com asconseqncias indevidas dos raciocnios na ampliao do

    conhecimento. Mas, como observamos, no era por esse lado que ele

    conseguiria desenvolver a fundo o problema. O que deveria mudar era

    justamente a prpria interpretao do silogismo e passar da abstrao

    subsuno. Se Kant continuasse a ver o silogismo na sua

    interpretao intensional (tal como no texto de 1762) jamais haveria

    conseguido formular sistematicamente os problemas da razo e teria

    ficado no domnio da mera iluso. No teria conseguido diferenciar os

    operadores do discurso mstico ( la Swedenborg), como o faz nos

    Sonhos de um Visionrio.., e do discurso metafsico ( la Leibniz). Teria

    ficado no nvel do questionamento, e ento sim, qui, poderamos

    afirmar que a elaborao kantiana seria mais uma figura da repetio

    metafsica ou apenas um discurso contra a metafsica.Kant assume de fato a metafsica como uma operao que

    produz uma regio de problemas que independem da particularidade da

    obra de um escritor. A metafsica, enquanto regio de problemas

    necessrios da razo, vai alm de uma mera disciplina universitria e

    dos manuais de Wolff e Baumgarten. Surge pelo prprio funcionamento

    dos nossos dispositivos de conhecimento, de nossas operaes

    discursivas e da nossa linguagem. Kant mostra como na modernidade

    28

  • 8/14/2019 A desarticulao dos problemas da metafsica Kant

    29/41

    esse tipo de problemas se apresenta naturalmente na medida em que

    tentemos nos colocar problemas de ordem cognitiva. Por isso, a

    metafsica enquanto problema ela mesma, no pode ser resolvida nem

    com a elaborao de mais um tratado, elaborando uma questo

    especfica, nem com a rejeio direta. Acreditar que se acaba com a

    metafsica por que simplesmente no se fala mais dela to

    questionvel como acreditar na resoluo dogmtica de seus problemas.

    Ambas as alternativas fundamentam-se dicotomicamente na

    interpretao da metafsica como mera disciplina. Esta interpretao

    desconsidera a necessariedade da sua emergncia caindo assim emuma verdadeira iluso. O que est em jogo no texto kantiano que a

    questo da metafsica propriamente dita no apenas um ato da

    vontade, mais uma deciso a ser tomada do tipo fazer ou no fazer

    metafsica, seno que so as prprias operaes da razo, os prprios

    mecanismos da nossa discursividade, que articulam e desarticulam

    essa classe de discursos.

    As operaes da iluso

    Uma vez estabelecido o carter "necessrio e natural" dos

    problemas da metafsica, segundo o prprio funcionamento do aparelho

    cognitivo, possvel agora obter uma avaliao mais precisa daoperao que est no fundo do modo tradicional de tratar estes

    problemas, e detectar, desta maneira, o erro do dogmatismo metafsico.

    Erro, este, tambm gerado a partir do prprio funcionamento do

    aparelho cognitivo. Sendo assim, tornar-se- indispensvel voltar a

    considerar o funcionamento da razo com vistas a avaliar o erro

    criticamente, e no mais simplesmente rejeitar o dogmatismo como

    29

  • 8/14/2019 A desarticulao dos problemas da metafsica Kant

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    acontece no ceticismo. Por tal motivo acompanharei a reflexo kantiana

    sobre o erro da razo.

    Os sentidos no erram -diz Kant-, no podem errar porque

    no julgam. Kant define o erro do juzo em relao ao objeto. S se erra

    julgando. Deste modo, temos um tipo de erro que surge da aparncia

    transcendental (der transzendentale Schein), ...na nossa razo

    (considerada subjetivamente como faculdade humana de conhecimento)

    h regras fundamentais e mximas relativas ao seu uso, que possuem

    por completo o aspecto de princpios objetivos, pelo qual sucede que, a

    necessidade subjetiva de uma certa ligao dos nossos conceitos, emfavor do entendimento, passa por uma necessidade objetiva da

    determinao das coisas em si. Iluso esta, que inevitvel... (CRPA

    297/ B 353). Trata-se de uma iluso natural e inevitvel que toma

    princpios subjetivos por objetivos, nisso consiste a aparncia

    transcendental. Aquela necessidade de unidade e ordem do

    entendimento, efetuado por um procedimento da razo, que permite

    sistematizar os fenmenos que o prprio entendimento determinou na

    experincia, acaba se tornando determinao dos objetos. A idia do

    incondicionado concebida como setivesse a mesma realidade objetiva

    que o condicionado.

    A realidade transcendental(subjetiva, no emprica) das idias

    da razo, funda-se, como temos explicado, em que, por um raciocnio

    necessrio, por um silogismo, somos levados a tais idias. Mas quandoinferimos mais alguma outra coisa que uma mera idia e lhe

    outorgamos realidade objetiva, ento estamos operando com raciocnios

    dialticos. Assim sendo, do mesmo modo que o anterior, temos trs

    espcies de raciocnios dialticos, a saber:

    a) o primeiro assenta-se no conceito transcendental de sujeito,

    do qual infiro a unidade absoluta deste sujeito;

    30

  • 8/14/2019 A desarticulao dos problemas da metafsica Kant

    31/41

    b) o segundo assenta-se no conceito transcendental da

    totalidade absoluta da srie de condies de um fenmeno dado em

    geral; e

    c) o terceiro na totalidade das condies necessrias para

    pensar objetos em geral.

    A primeira contm a unidade absoluta do sujeito pensante, a

    segunda contm o conjunto de todos os fenmenos e a terceira a

    unidade absoluta da condio de todos os objetos do pensamento em

    geral. Deste modo, o sujeito pensante objeto da psicologia, o conjunto

    de todos os fenmenos objeto da cosmologia, e a condio de todas ascoisas, o ente de todos os entes, objeto da teologia (CRP A 334/ B

    391). Cada idia, tomada objetivamente, fornece o objeto (alma,

    mundo, Deus) da metafsica especial. Isto permite que os metafsicos

    misturem as idias com os conceitos e confondam a unidade sinttica

    incondicionada com a sntese do condicionado. A razo, diz Kant, parte

    de princpios, cujo uso inevitvel no decorrer da experincia e ao

    mesmo tempo, suficientemente garantidos por esta. Ajudada por estes

    princpios eleva-se cada vez mais alto (como de resto lho consente a

    natureza) para condies mais remotas. Porm, logo se apercebe de que,

    desta maneira, a sua tarefa h de ficar sempre inacabada, porque as

    questes nunca se esgotam; v-se obrigada, por conseguinte, a refugiar-

    se em princpios, que ultrapassam todo o uso possvel da experincia...

    Este o erro semntico fundamental que possibilita o saltometafsico.Esta indistino de objetos (sensveis e ideais) a origem da iluso de

    pod-los conhecer com os mesmos princpios. Continuemos ainda mais

    com a citao: os princpios de que se serve (a razo), uma vez que

    ultrapassam os limites de toda experincia, j no reconhecem nesta

    qualquer pedra de toque. O campo de batalha (Kampfplatz) destas

    disputas infindveis chama-se Metafsica (CRPA VII-VIII).

    31

  • 8/14/2019 A desarticulao dos problemas da metafsica Kant

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    Com efeito, a metafsica, constitui uma regio de problemas

    da razo, e at a mais importante. Mas, tal como o dogmatismo a

    desenvolvia, s conseguia entrar em contradies e obscuridades e criar

    um verdadeiro Kampfplatz (campo de batalha). Esta tentativa de

    perfazer a srie de todas as condies at chegar sua unidade

    completa leva alm da experincia. Isto, diz Kant existe como

    disposio natural (metaphysica naturalis), pois a razo humana,

    impelida por exigncias prprias, (...), prossegue irresistivelmente para

    esses problemas que no podem ser solucionados pelo uso emprico da

    razo nem por princpios extrados da experincia (CRP B 21). Aindicao essencial. Os problemas metafsicos, mesmo sendo

    originados pelas exigncias prprias do desenvolvimento cognitivo, no

    so possveis de serem solucionados cognitivamente no mbito da

    experincia. Surgem do cognitivo, mas no pertencem ao mbito do

    cognitivo. A metafsica desta maneira, e s desta maneira,

    compreendida como disposio natural, quer dizer: metafsica enquanto

    regio de problemas surgidos do prprio funcionamento da razo,

    originados a partir do funcionamento sinttico e semntico da nossa

    discursividade.

    Uma vez alcanada esta definioe no interior desse esquema

    de operaes cabe, depois, decidir sobre a validade da formulao e

    resoluo de tais problemas. Ou seja, dada a definio daquilo que se

    interpreta como uma operao metafsica, estamos em condies de umposicionamento (dogmtico ou crtico) frente desta questo.

    Os trs problemas (sobre a alma, o mundo e Deus) se

    originam naturalmente, como se explicou, na procura da extenso do

    nosso conhecimento emprico sobre as aparncias ou aparecimentos

    (Erscheinung), de acordo com as trs relaes lgicas bsicas nas quais

    podemos tentar essa ampliao, a saber: a relao sujeto-predicado

    (raciocnio categrico), a relao antecedente-consequente (raciocnio

    32

  • 8/14/2019 A desarticulao dos problemas da metafsica Kant

    33/41

    hipottico), a relao parte-agregado (raciocnio disjuntivo) (CRPB 379).

    por isso que a naturalidade da disposio metafsica estaria tanto

    na base do dogmatismo como na da crtica. O que est em jogo, e pelo

    qual se estabelece a diferena entre ambas as tendncias, no

    rejeitar a disposio, mas sim denunciar os falsos problemas criados a

    partir dela. O conceito de naturalidade dos problemas metafsicos no

    visa naturalizar e, portanto neutralizar o significado da metafsica,

    como se se procurasse uma justificativa diante a qual resignar-se.

    Muito pelo contrrio, o conceito de naturalidade permite assumir o

    problema da metafsica como problema. Isto , pesquisando o modonatural em que as operaes da nossa discursividade so feitas. Essa

    operao dita metafsica torna-se problema e no adianta nem um

    gesto da indiferena nem uma declarao de guerra, a operao

    continua a estar a, no texto, no discurso, e por isso que o

    posicionamento crtico no um trabalho sobre livros ou autores,

    um trabalho no texto sobre a desarticulao da operao.

    Neste sentido, coincidindo com Greier (1993)39 entre outros

    comentadores, possvel observar que a Dialtica Transcendental uma

    crtica s trs disciplinas da metafsica especial. Tambm em Torretti

    (1980) podemos ler uma interpretao semelhante. Ele diz que, em

    Kant, o entendimento constri a experincia incorporando seus objetos

    em uma rede de relaes, assim, cada objeto fica condicionado pelos

    outros que tambm so condicionados. Entretanto, a razo procuraencontrar o incondicionado para cada srie de condies, representado

    em uma idia que no pode corresponder a nenhum objeto emprico. No

    entanto, a iluso transcendental, consiste em tomar essas idias como

    representaes de objetos efetivamente existentes. Essa iluso

    possibilita a tentativa da metafsica especial de pretender conhecer os

    39 Greier,G. (1993) Em Lebrun, G.(1970) o problema demonstrar em que sentido setrata de uma crtica metafsica especial.

    33

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    objetos supra-sensveis40, produz o salto metafsico do sensvel para o

    supra-sensvel. Nesse salto tudo sucede como se do mesmo modo que

    apresentado o sensvel tambm apresentado o supra-sensvel, mas

    nesta relao de oposio sensvel/supra-sensvel o segundo termo,

    hierarquicamente superior, determina o primeiro. O faz ser enquanto

    tal. (Todo criado deve ter uma causa: o seu criador; ento: porque

    existe o Criador que existe o criado). justamente esta operao a que

    Kant desorganiza no texto crtico. E no somente ali, lembremos

    tambm, por exemplo, no texto pr-crtico de 176341 o questionamento

    da prova ontolgica. Em ambos os casos se procura uma desarticulaoda operao que ordena o texto. O que est em jogo o estatuto do

    predicado, se que ainda podemos utilizar esse termo para nos referir

    ao elemento P da proposio relacionado com S atravs da cpula.

    As operaes da eutansia.

    Mas, para complicar ainda mais as coisas, no segundo

    raciocnio apresenta-se um novo fenmeno, trata-se da antittica. Esta

    antittica caracterizada por Kant como um escndalo da filosofia,

    como a eutansia da razo (CRPA 407/ B 434). A razo, aqui, entra

    em conflito consigo mesma. Neste caso a razo no produz

    propriamente, conceito algum, apenas liberta o conceito doentendimento das limitaes inevitveis da experincia possvel, e tenta

    alarg-lo para alm dos limites do emprico (CRPA 409/ B 435). Isto

    acontece de acordo com o mesmo princpio que j explicamos, mas,

    desta vez, aplicado s categorias do entendimento. A razo, para um

    condicionado dado, exige a absoluta totalidade da parte das condies,

    fazendo da sntese emprica uma integridade absoluta, e progredindo

    40Torretti,R. (1980). Ver especialmente pag. 524.41 Kant,I. (1763).

    34

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    essa sntese at ao incondicionado (que nunca atingido na

    experincia, mas apenas na idia). A razo exige-o em virtude do

    seguinte princpio: se dado o condicionado, igualmente dada toda a

    soma das condies, e, por conseguinte, tambm o absolutamente

    incondicionado, mediante o qual era possvel aquele condicionado (CRPA

    411/ B 438). As idiascosmolgicasocupam-se da totalidade da sntese

    regressiva e procedem in antecedentia e por isso que tambm so

    problemas necessrios da razo (CRPA 411/ B438). Essa regresso, do

    condicionado para a condio, esse alargamento para o transcendental,

    acontece com aquelas categorias que permitem gerar a srie regressiva,a saber: quantidade, realidade, causalidade e necessidade.

    H, ento, quatro idias cosmolgicas:

    1) a partir da sntese regressiva da quantidade surge a idia

    baseada na integridade absoluta da composio do total dado de todos

    os fenmenos,

    2) a partir da sntese regressiva da realidade surge a idia

    baseada na integridade absoluta da diviso de um todo dado no

    fenmeno,

    3) a partir da sntese regressiva da causalidade surge a idia

    baseada na integridade absoluta da gnese de um fenmeno em geral,

    4) a partir da sntese regressiva da necessidade surge a idia

    baseada na integridade absoluta da dependncia da existncia do

    mutvel no fenmeno.A idia de integridade absoluta reside na razo

    independentemente da possibilidade ou impossibilidade de lhe ligar

    conceitos empricos adequados (CRPA 417/ B 444) na experincia. Esta

    tambm uma operao que depende somente do funcionamento da

    razo, isto , depende apenas de nossa discursividade e sem qualquer

    necessidade de se ligar com fenmenos da experincia de um modo

    direto. Muito pelo contrrio, essa a sua impossibilidade. O

    35

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    procedimento o seguinte: dados os fenmenos a razo exige a

    integridade absoluta das condies da sua possibilidade, na medida em

    que estas constituem uma srie e, portanto, exige uma sntese

    absolutamente completa (CRPA 415-6/ B443). A operao da razo

    prope-se estender a srie at a sua completude absoluta achando o

    incondicionado. O incondicionado procurado pela razo pode conceber-

    se de duas maneiras: ou como consistindo na srie total, neste caso a

    regresso infinita; ou o incondicionado absoluto uma parte da srie

    a que os restantes membros esto subordinados. No primeiro caso a

    srie virtualmente infinita, no segundo h um primeiro termo, que:1) em relao ao tempo se chama incio do mundo, em relao

    ao espao, limite do mundo;

    2) em relao s partes de um todo dado em seus limites,

    simples;

    3) em relao s causas, espontaneidade absoluta (liberdade);

    4) em relao existncia de coisas mutveis, necessidade

    natural absoluta (CRPA 417/ B 445).

    Sobre cada um destes casos, de problemas de cosmologia

    clssica, a razo entra em conflito consigo mesma. Um jogo de

    argumentaes contrapostas surge a partir do prprio funcionamento

    da razo. Podem se fornecer, deste modo, provas negativas do incio ou

    no do mundo, da simplicidade ou no da matria, da questo da

    afirmao ou no liberdade, ou mesmo, da existncia ou no de Deus. Todas elas tero apenas o valor da contra-argumentao. Embora

    nenhuma se possa afirmar em si mesma.

    Muitas dessas demonstraes foram tratadas, em maior ou

    menor medida, como casos particulares, nos trabalhos pr-crticos. O

    resultado desses ensaios manifestou o surgimento do problema

    semntico na formulao de tais questes42. Mas, s o tratamento

    42 Ver Perez,D. (1997-8).

    36

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    crtico vai retomar essa problemtica a partir da sua prpria raiz. Quer

    dizer, a partir da operao que as torna possveis e, assim, dar, de

    algum modo, uma resposta. Deste modo, temos que as duas primeiras

    antinomias, ditas matemticas, podem ser consideradas, ambas as

    suas partes, como falsas, desde que seja impossvel lhes reportar algum

    objeto que constate efetivamente aquilo que afirmam; por outro lado, as

    duas seguintes antinomias, ditas dinmicas, podem ser consideradas,

    ambas as partes, como verdadeiras, desde que sejam reportadas a

    campos semnticos diferentes, por um lado terico e, por outro lado,

    prtico.

    Algumas consideraes finais

    Com efeito, o problema da razo aqui exposto reside em que

    ao estar alm da experincia no temos um fundamento a partir do qual

    possamos afirmar com certeza alguma coisa acerca de tais questes.

    Diz Kant: Como, porm, at agora todas as tentativas para dar

    resposta a essas interrogaes naturais, como seja, por exemplo, se o

    mundo tem um comeo ou existe desde a eternidade, etc..., sempre

    depararam com contradies inevitveis, no podemos dar-nos por

    satisfeitos com a simples disposio natural da razo pura para a

    metafsica (...); pelo contrrio, tem que ser possvel, no que se lhe refere,atingir uma certeza: a do conhecimento ou ignorncia dos objetos, por

    outras palavras, uma deciso quanto aos objetos das suas

    interrogaes ou quanto capacidade ou incapacidade da razo para

    formular juzos que se lhes vinculem; conseqentemente, para estender

    com confiana a nossa razo ou para lhe pr limites seguros e

    determinados (CRP B 22). Assim sendo, de um lado temos uma

    disposio natural, uma naturalidade para os problemas necessrios

    37

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    da razo, produto da operatividade, do prprio funcionamento, do

    aparelho cognitivo; e do outro lado, a iluso inevitvel, como o resultado

    de outra operao, que surge quando tentamos responder a tais

    problemas. Isto coloca a razo como aparelho problematizante, mas

    tambm como limitado na sua capacidade de (problematizar)

    funcionamento de acordo com determinados requisitos, do contrrio a

    problematizao da razo deixa de ser tal para tornar-se resposta

    dogmtica.

    A metafsica dogmtica esquece (o carter finito da nossa

    razo43

    ) qualquer restrio, pretendendo alcanar com o conhecimentoainda aquilo que inatingvel na experincia. Com efeito, as prprias

    restries do nosso conhecimento permitem observar que as iluses

    transcendentais no so o produto de um simples erro tcnico ou de

    medio que poderia ser solucionado com um ajuste de observao na

    experincia. Isto , a pergunta pela origem do Universo ou a diviso da

    matria no poderia ser respondida objetivamente apenas com o

    melhoramento do nosso instrumental de pesquisa. Neste sentido, a

    metafsica (como disciplina cognitiva) tambm no adiantaria a resposta

    que deveria ser confirmada ou refutada pelo procedimento cientfico.

    Quer dizer, a metafsica tambm no um acervo de hipteses a testar.

    Kant, na sua empresa crtica, nos mostra que o modo de

    abordagem dos problemas necessrios da razo por parte da metafsica

    tradicional carece da certeza da cincia. Embora queira imit-la, sconsegue, de fato, confundir seu objeto, o modo de conhecimento e os

    seus limites44. Pareceria haver sido pelos xitos alcanados pela razo

    na matemtica que os metafsicos acharam-se estimulados nessa

    tentativa de imitar a cincia e ir alm da experincia. A confiana

    desmesurada da razo em si mesma teria dado o impulso para o salto

    43 Kant utiliza o conceito de razo em dois sentidos, um amplo, indicando a totalidade

    do nosso aparelho cognitivo, outro estreito, designando a razo propriamente dita.Neste caso utilizo o termo na sua primeira significao.44 Porleg. 265.

    38

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    metafsico. Uma interpretao errada da matemtica por parte dos

    metafsicos somada ao uso irrestrito da lgica formal poderia ter

    oferecido a iluso de rigor na argumentao dogmtica45. assim como,

    a metafsica, no seu af de conhecer objetivamente os seus objetos,

    afirma suas proposies sem nenhuma base real. Tal como explicamos

    anteriormente, no tratamento dos textos pr-crticos, esse procedimento

    foi questionado em cada caso. Agora, o labor crtico, consiste em

    compreender o problema na sua totalidade. E unicamente deste modo

    que a iluso da razomostrar o infundado da formulao dogmtica.

    Na Dialtica Transcendental, especialmente, mas tambmmuitos outros textos, se coloca em questo o sentido da enunciao

    atravs de seu modo de operar. No se ataca esta ou aquela resposta,

    seno que se aponta para a operao que possibilita essa ou qualquer

    resposta. assim como aquele modo de abordagem dos problemas de

    acordo com a metafsica tradicional, questionado por Kant, gera a sua

    imagem oposta, como em um espelho. Isto , a confiana dogmtica

    gera a revolta ctica, e assim como dois estados da razo do inicio

    sua histria. Para desvelar isso preciso voltar ao ponto de partida46.

    Abstract: In this paper I reconstruct the interpretation of

    the syllogism, in the two great stages of the thought of

    Kant, in order to show its importance in the formulation of

    45 Essa interpretao pode se lr nos Progressos da Metafsica.... Especificamente emAK. XX pag 262.46 Os manuscritos de Os Progressos da Metafsica desde Leibniz e Wolff so uma

    tentativa de tratar tematicamente aqueles problemas. A leitura desses textos nospermite colocar o problema da metafsica e da sua histria em termos decididamentefilosficos e no apenas historiogrficos.

    39

  • 8/14/2019 A desarticulao dos problemas da metafsica Kant

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    the necessary problems of the reason in the Critic of the

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