a cultura da pupunha ufla

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CULTURA DA PUPUNHEIRA (Bactris gasipaes Kunth.) Elda Bonilha Assis Fonseca* Maria Aparecida Moreira** Janice Guedes de Carvalho*** 1 Perfil da Cultura A pupunheira (Bactris gasipaes Kunth.) é uma espécie tropical originária do continente americano, pertencente à família das Arecáceas (Palmáceas) e cultivada há séculos pelas popula- ções indígenas. No Brasil seu habitat natural é a Região Amazô- nica, e seus frutos fazem parte da dieta alimentar dos povos da Região Norte. Esta palmeira possui grande potencial econômico em virtude dos múltiplos usos de seus frutos e palmito. Plantios ra- cionais podem produzir 25 t/ha de frutos ou 1 t/ha de palmito. ______________________________________ * Pesquisadora da EMPAER-MT, Cuiabá/MT ** Eng a Agr a MSc Doutoranda da UFLA, Lavras/MG *** Professora da UFLA- Lavras/MG

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Page 1: A Cultura Da Pupunha Ufla

CULTURA DA PUPUNHEIRA

(Bactris gasipaes Kunth.)

Elda Bonilha Assis Fonseca*

Maria Aparecida Moreira**

Janice Guedes de Carvalho***

1 Perfil da Cultura

A pupunheira (Bactris gasipaes Kunth.) é uma espécie

tropical originária do continente americano, pertencente à família

das Arecáceas (Palmáceas) e cultivada há séculos pelas popula-

ções indígenas. No Brasil seu habitat natural é a Região Amazô-

nica, e seus frutos fazem parte da dieta alimentar dos povos da

Região Norte.

Esta palmeira possui grande potencial econômico em

virtude dos múltiplos usos de seus frutos e palmito. Plantios ra-

cionais podem produzir 25 t/ha de frutos ou 1 t/ha de palmito.

______________________________________ * Pesquisadora da EMPAER-MT, Cuiabá/MT ** Enga Agra MSc Doutoranda da UFLA, Lavras/MG *** Professora da UFLA- Lavras/MG

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Recentemente a pupunheira tornou-se a principal fonte

de matéria-prima para a exploração racional de palmito, devido

às seguintes características:

» precocidade: o primeiro corte é feito dos 18 aos 24 meses a-

pós o plantio em campo, de acordo com as condições climáti-

cas e tratos culturais.

» perfilhamento: a pupunheira lança perfilhos que garantem co-

lheitas consecutivas, sem necessidade de replantio de

uma mesma área. O perfilhamento pode ocorrer desde seis

meses após o plantio ou somente após o corte da planta-mãe.

» alta produtividade: a mínima produtividade que pode-se espe-

rar de um hectare de pupunha é de 5000 palmitos por ano.

Tratos culturais adequados e irrigação podem dobrar essa

produtividade.

» rusticidade: apesar de sua origem amazônica, a pupunha vem

se desenvolvendo bem em regiões com condições edafoclimá-

ticas diferentes, como a Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste.

» excelente qualidade de palmito: a qualidade do palmito de pu-

punha é comparável às espécies tradicionais, com a vantagem

de não oxidar (não escurecer) após o corte.

Nesse contexto, a pupunheira desponta como uma ex-

celente alternativa para o empresário rural, pois pode ser cultiva-

da racionalmente em áreas mecanizadas. É através do cultivo da

pupunheira que será possível produzir palmito de uma forma eco-

lógica e rentável.

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1.1 Aspectos Econômicos

Dados oficiais informam que o Brasil produziu, em

1985, 132105 t de palmito, evoluindo até 202440 t em 1989. Em

1990, a produção caiu para 27030 t, diminuindo para 21000 t em

1992 (AGRIANUAL, 2000). Não ocorreram causas naturais nem

variações no mercado que expliquem essa discrepância. É mais

plausível que tenha havido grandes falhas no sistema de infor-

mações da produção e/ou forte sonegação fiscal. Estima-se que

em 1996 a produção tenha sido de 70000 t de palmito de origem

extrativa (Morsbach, 1998).

Os mercados interno e externo têm um histórico de sig-

nificativa instabilidade, principalmente por causa dos inúmeras

deficiências na oferta, pois o fornecimento do produto extrativo é

irregular e de baixa qualidade. O mercado interno consome 90%

da produção nacional. O abastecimento do mercado mundial é

feito principalmente pelo Brasil (51%) e pela Costa Rica (24%). A

França e os Estados Unidos são os principais importadores (60 e

20% das importações mundiais, respectivamente). Excluindo-se

o Brasil, o mercado mundial consome cerca de 20000 t de palmi-

to anualmente. Por conta da baixa qualidade do produto ofertado,

o principal importador tem reduzido as compras do Brasil, que

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perde mercado para a Costa Rica, pois sua produção é de palmi-

to de pupunha cultivada, de boa qualidade (Morsbach, 1998).

O preço da lata de 400 g do produto envasado tem va-

riado significativamente, oscilando entre US$ 3,01 e US$ 8,43

entre 1992 e 1995, e US$ 7,24 a US$ 4,32 entre 1996 e 2000

(AGRIANUAL, 2000).

Estima-se que o mercado mundial de palmito esteja ao

redor de US$ 500 milhões, com grande potencial de crescimento

(Coser Filho, 1997 citado por Morsbach, 1998). Para se ter uma

avaliação mais precisa deste potencial considere-se que o con-

sumo na França é de 160 g e nos Estados Unidos é de apenas 8

g per capita/ano. No Brasil, o consumo per capita/ano está em

torno de 660 g (Rodrigues et al., 1995 citado por Morsbach,

1998). Prevendo o aumento das restrições (legais, naturais e e-

conômicas) ao extrativismo e à expansão continuada dos merca-

dos internos e externos, produtores e agroindústrias em todo o

País, estão investindo em um número significativo de projetos de

palmito cultivado. As espécies predominantes são pupunha (Bac-

tris gasipaes), plantada comercialmente em quase todo o País, e

a palmeira-real (Archantophoenix alexandrae (F. Mueller) H.

Wendl. & Drude), plantada em menor escala, predominantemen-

te no Estado de Santa Catarina (Morsbach, 1998).

Page 5: A Cultura Da Pupunha Ufla

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1.2 Origem e Dispersão

Ainda não se determinou com exatidão o lugar de ori-

gem da pupunheira, pois nativos de vários países da América

Central e do Sul têm cultivado essa palmeira ao longo de cente-

nas de anos. O cultivo da pupunheira ocorre há vários séculos

por indígenas das Américas do Sul e Central, desconhecendo-se,

porém, a exatidão do local de origem. Como prováveis áreas de

origem, citam-se certas regiões do Panamá, Equador, Peru e

Bolívia.

A pupunheira (Bactris gasipaes) é uma palmeira com

ampla distribuição geográfica, estendendo-se nos trópicos úmi-

dos americanos, entre os paralelos 16º N e 17º S. Atualmente é

encontrada de Honduras até a Bolívia, ao longo da costa do A-

tlântico, na América Central, e do Sul até São Luiz do Maranhão,

no Brasil, e ao longo da costa do Oceano Pacífico no sul da Cos-

ta Rica ao norte do Peru. Na América Central, a pupunha parece

ter sido introduzida, não sendo encontrada no estado silvestre. É

amplamente utilizada na Costa Rica, Trinidad, Jamaica, Porto

Rico, Cuba e Malásia.

No Brasil, a pupunheira é encontrada em toda a Bacia

Amazônica, compreendendo os Estados de Rondônia, Acre, A-

mazonas, Pará, norte do Mato Grosso, Maranhão, Roraima e

Amapá. Foi introduzida nos Estados da Bahia, Espírito Santo e

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mais recentemente em São Paulo, onde vem se desenvolvendo

com relativo sucesso.

2 Características da Planta

2.1 Taxonomia e Descrição Botânica

Até 1981 foram reconhecidas 187 espécies de Bactris,

14 das quais apareceram com o nome genérico de Guilielma. A

pupunheira (Bactris gasipaes) é uma espécie da Família Areca-

ceae (ou Palmae).

Os estudos sobre as variedades dessa planta ainda não

estão bem definidos. A espécie apresenta grande variação no

número de caules (estipes) por touceira, no tamanho e forma de

sementes e frutos, no teor de fibra e óleo, na coloração dos fru-

tos, assim como em relação à ausência ou presença de espinhos

e ao comprimento destes nos estipes e folhas.

A pupunheira é uma palmeira ereta, chegando a atingir

20 m de altura e 15 a 25 cm de diâmetro. Possui ciclo perene e

perfilhamento abundante, e a partir de uma única planta, forma-

se uma touceira de vários indivíduos e quando adultos, é comum

encontrar de três a cinco indivíduos frutificando simultaneamente

(Figura 1).

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O sistema radicular é fasciculado e superficial, possuin-

do baixa resistência a seca. Cerca de 75% das raízes encontram-

se nos primeiros 20 cm do solo, o que implica em cuidados nos

tratos culturais. Ao redor do estipe, elas distribuem-se num raio

de 40 cm, o que determina a metodologia de distribuição de adu-

bos.

O estipe é cilíndrico e marcado por cicatrizes foliares

transversais deixadas pelas folhas que caem, podendo ser ou

não recoberto de espinhos (Figura 2). A parte terminal do estipe

apresenta um broto (meristema ou gema terminal) protegido por

bainhas de folhas jovens, constituindo o palmito.

As folhas são grandes (2,5 a 4,0 m de comprimento),

com 200 a 300 folíolos, recobertas ou não de espinhos de menor

tamanho. Plantas adultas apresentam 20 folhas em média.

A pupunheira é uma palmácea alógama com alto grau

de incompatibilidade e monóica com flores masculinas e femini-

nas na mesma inflorescência. A inflorescência possui de 50 a 80

cm de comprimento, 20 a 60 espigas que produzem de 50 a

1000 flores femininas e de 10000 a 30000 masculinas, apare-

cendo entre o 3o ao 4o ano após o plantio em campo.

Os frutos são drupas de forma, tamanho e cor variáveis.

Quando jovens, são verdes, quando maduros, são amarelos,

vermelhos e algumas combinações dessas cores. São encontra-

Page 8: A Cultura Da Pupunha Ufla

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dos frutos de 20 a 30 g até cerca de 200 g. Apresentam uma en-

zima que inibe a digestão de proteínas e um ácido (provavelmen-

te oxálico) que causa irritação na mucosa da boca; por isso, de-

vem ser consumidos cozidos. Os frutos podem ou não conter

sementes. As sementes são de cor café ou negra, possuindo

endocarpo duro, endosperma branco e oleaginoso semelhante

ao do coco quanto ao sabor e textura. Cada semente apresenta

três poros, sendo apenas um fértil (Figura 3).

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Figura 1. Pupunheira (Bactris gasipaes Kunth.).

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Figura 2. Estipes com e sem espinhos. Figura 3. Cacho de frutos; fruto em corte longitudinal; sementes

em corte transversal. 2.2 Variedades

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Apesar de existirem algumas características marcantes

entre diferentes populações, observam-se variações considerá-

veis dentro de cada população, o que não permite defini-las co-

mo variedades.

Existem basicamente dois tipos de material genético pa-

ra implantação da cultura, os com espinho no estipe e pecíolo, e

os sem espinho. Regiões como Yurimaguas (Peru) e Benjamin

Constant (Brasil) possuem populações nativas sem espinhos que

têm se comportado muito bem em regiões onde vêm sendo estu-

dadas ou cultivadas.

No Brasil tem-se preferido o cultivo de raças sem espi-

nho por causa das facilidades de tratos culturais. Entretanto, na

Costa Rica, foram desenvolvidas populações de características

boas para produção de palmito, mas que possuem espinhos em

maior ou menor quantidade.

Sementes adquiridas diretamente nos locais de origem

devem ser observadas por algum tempo (quarentena) para evitar

a introdução e disseminação de pragas e patógenos a esta e a

outras plantas tropicais. Essas sementes colhidas de plantas na-

tivas, sem nenhum melhoramento, apresentam grande variabili-

dade, necessitando de seleção na sementeira, viveiro e campo.

A maior parte da semente comercializada no Brasil é

importada, pois a produção interna ainda é pequena, não suprin-

Page 12: A Cultura Da Pupunha Ufla

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do o mercado atual. O período de comercialização se dá entre

fevereiro e maio. Em decorrência da dificuldade de aquisição de

sementes, é recomendável obtê-las de fornecedores idôneos que

garantam sua procedência. Material selecionado para produção

de palmito pode ser adquirido por intermédio da Universidade da

Costa Rica, e, no Brasil, pode-se obter sementes, em pequena

quantidade, de material selecionado sem espinho no IAC, CE-

PLAC e INPA.

3 Ecologia

3.1 Clima

A pupunheira é uma espécie que vem sendo implantada

em diversas condições climáticas e apresentando boa adapta-

ção. Entretanto, como uma espécie amazônica requer temperatu-

ra, umidade e luz suficientes, as condições ideais são as regiões

de clima quente e úmido, com temperatura média anual acima de

22°C e precipitação acima de 1700 mm/ano bem distribuídos.

Estresse hídrico acentuado e prolongado causa redução no cres-

cimento das plantas e seca precoce das folhas, com queda na

produção de palmito.

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A pupunheira não tolera geadas, desde a fase de vivei-

ro até completar um ano de campo. Devem-se evitar áreas com

ventos fortes, pois o sistema radicular das plantas é muito super-

ficial, correndo-se o risco de tombamento de plantas. Altitudes

acima de 850 m normalmente apresentam temperaturas noturnas

mais baixas, prejudicando a exploração desta cultura.

3.2 Solos

Os solos preferenciais são os arenosos ou areno-

argilosos, ou seja, leves e bem drenados, pois a pupunheira não

tolera solos encharcados. O cultivo da pupunheira vem tendo

bom comportamento em solos ácidos e de baixa fertilidade, mas

tecnicamente é aconselhável que esses sejam corrigidos e adu-

bados adequadamente.

Quanto à topografia, deve-se preferir áreas planas ou

levemente onduladas, o que facilita o plantio, manejo, colheita e

transporte do palmito.

4 Propagação

A propagação pode ser feita por sementes ou por bro-

tações (perfilhos, filhos ou filhotes) que surgem espontaneamen-

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te na base do caule da planta-mãe. Este método é trabalhoso e o

número de mudas obtido é pequeno.

4.1 Obtenção de Sementes

As sementes devem ser retiradas de frutos maduros

mas não em estádio avançado de maturação, pois sua polpa

propicia o desenvolvimento de fungos que prejudicam a germina-

ção. Deve-se retirar frutos de plantas matrizes sadias, vigorosas

e com muitos perfilhos. Os frutos são lavados e imersos em água

por 36 a 72 h, trocando-se a água a cada 24 h para evitar fer-

mentação excessiva. Após raspá-los em superfície áspera (pe-

neira grossa), retira-se o resto da polpa e, em seguida, tratam-se

as sementes com solução de hipoclorito de sódio de 1 a 1,5% ou

água sanitária a 50% por 10 a 15 minutos. As sementes devem

secar à sombra por 24 h, antes de serem colocadas para germi-

nar.

As sementes podem ser ainda adquiridas de fornecedo-

res idôneos que garantam sua procedência. Devem ser semea-

das logo após o recebimento, pois, com a armazenagem, perdem

rapidamente sua viabilidade. Caso seja necessário o armazena-

mento durante alguns dias, recomenda-se não abrir os sacos de

ráfia utilizados para o transporte das sementes, mantendo-os em

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ambiente fresco e úmido, molhando-os superficialmente em dias

alternados.

4.2. Semeadura e Germinação

Para a semeadura de sementes adquiridas, é recomen-

dado primeiramente mergulhá-las em um tanque com água em

abundância. Por essa prática simples, o produtor já tem uma i-

déia da qualidade das sementes que adquiriu, pois aquelas que

sobrenadam são sementes velhas ou danificadas mecanicamen-

te e, via de regra, não germinam. Caso a porcentagem dessas

sementes seja muito alta, recomenda-se contactar o fornecedor e

exigir a troca das sementes ou a devolução do capital. Em segui-

da, as sementes são tratadas por imersão em uma solução de

água sanitária.

O período de germinação das sementes de pupunheira

é longo e irregular e, por isso, não devem ser semeadas direta-

mente nos saquinhos. A escolha do sistema mais adequado para

a semeadura das sementes será função da quantidade de mudas

a serem formadas, das condições locais e do material disponível.

O sistema tradicional utiliza canteiros com 1 m de largu-

ra, 15 a 20 cm de altura e comprimento variável, de acordo com

o volume de sementes. O substrato mais adequado é a serragem

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curtida que, apesar de requerer irrigações mais freqüentes, per-

mite uma melhor repicagem. A serragem retém água apenas su-

perficialmente e, por isso, no enchimento do canteiro, deve-se

molhar fartamente camadas finas de serragem, até completar-se

20 cm de altura. Pode-se utilizar também um leito de areia ou

terra arenosa ou ainda uma mistura de terra, areia e esterco cur-

tido.

A semeadura é feita espalhando-se cerca de 3 kg de

sementes/m2 de leito da sementeira, a lanço ou em sulcos espa-

çados de 5 cm. As sementes podem ficar próximas umas das

outras, mas não devem se encostar ou sobrepor. Em seguida,

são cobertas com 3 a 5 cm de serragem curtida ou uma mistura

de terra e serragem. Nas regiões de clima mais ameno, com me-

nor temperatura e luminosidade, a sementeira pode ser conduzi-

da a pleno sol. Em regiões mais quentes e com alta luminosida-

de, recomenda-se conduzir a sementeira e o viveiro com som-

breamento de aproximadamente 30 a 50%, que poderá ser feito

com palhas de palmeiras nativas, ripas, tela de sombrite ou qual-

quer outro material disponível.

O controle da umidade dos canteiros deve ser criterioso.

As regas devem ser periódicas, pois não pode faltar água e o

excesso promove o desenvolvimento de fungos que causam o

apodrecimento das sementes. A germinação ocorre entre 30 a

120 dias, devendo-se descartar as plântulas que germinarem

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após esse período. A porcentagem média de germinação é de 70

a 80 %.

Para a produção de mudas em larga escala, Haack

(1988) descreveu um método prático para promover a germina-

ção de sementes de pupunheira de forma rápida e segura, por

meio do qual pode-se obter 95% de germinação num período de

20 a 30 dias. O método consiste em lavar as sementes e tratá-las

com fungicidas à base de Benomyl, Oxicloreto de Cobre ou água

sanitária. Após o tratamento as sementes não precisam secar,

apenas escorrer antes de serem colocadas sobre uma superfície

lisa, firme e ensolarada pela manhã. Essa superfície deverá estar

forrada com uma lona plástica, de polietileno transparente, bem

esticada, de forma a evitar-se irregularidades no plástico. As se-

mentes são espalhadas numa única camada, em apenas metade

do comprimento da lona, deixando uma borda de 20 cm nos ou-

tros três lados. Regar as sementes com água para deixá-las bem

molhadas, porém sem ter água empossada na lona. Dobrar a

metade vazia da lona sobre as sementes. As bordas também são

dobradas e fixadas com pesos, visando vedar os lados e fechar o

ambiente externo. Por cima desse conjunto coloca-se uma se-

gunda lona plástica, porém de polietileno preto, dessa vez de

forma irregular, sem pressioná-la, deixando uma bolsa de ar en-

tre os dois plásticos. Após 12 dias abre-se a bolsa para verificar a

umidade e germinação. As sementes germinadas são retiradas e

repicadas para sacos plásticos previamente preparados no vivei-

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ro. Reumedecer as sementes e fechar novamente a bolsa. Repe-

tir esta operação aos 15, 18, 21, 24, 27 e 30 dias, não esquecen-

do de reumedecer a bolsa cada vez que voltar a fechá-la.

Quando o número de mudas a serem formadas for pe-

queno, pode-se utilizar sacos de plástico transparente com capa-

cidade para 3 kg, sem substrato no interior. De posse das se-

mentes tratadas e escorridas por 30 minutos, coloca-se um quilo

de sementes em dois sacos de plástico transparente, sendo um

dentro do outro. Retira-se o ar e amarra-se com barbante. Após a

arrumação homogênea das sementes dentro dos sacos, estes

são dispostos na horizontal sobre superfície lisa, em local que

receba apenas a insolação da manhã. Diariamente, viram-se os

sacos, visando a distribuir a umidade interna, que é o principal

fator a ser controlado, pois não pode ser excessiva nem deficitá-

ria. Uma maneira prática para verificar se o teor de umidade está

correto é observar a formação de gotas de água na parte superi-

or do plástico, antes de virá-lo diariamente. Se não houver essas

gotas, deve-se abrir os sacos, borrifar água e fechá-los novamen-

te. Entretanto, se for observado escorrimento de gotas de água

até a face inferior dos sacos, deve-se abri-los para evaporar um

pouco de água. Caso apareçam sementes com proliferação de

fungos, recomenda-se retirá-las com cuidado para evitar a dis-

seminação, lavá-las em água corrente e colocá-las em sacos se-

parados. As sementes germinadas são retiradas e transferidas

para saquinhos com substrato, sob sombreamento.

Page 19: A Cultura Da Pupunha Ufla

23

4.3 Repicagem

Repicagem é a operação de transplantio da muda da

sementeira para sacos plásticos. A repicagem deve ser realizada

quando a parte aérea possuir no mínimo 2 cm e no máximo 2

folhas (Figura 4). É importante não atrasar muito a repicagem, o

que pode causar estresse para as plântulas que, se deixadas por

muito tempo na sementeira, terão o sistema radicular muito de-

senvolvido, prejudicando e reduzindo o pegamento.

As operações de peneiramento e enchimento dos sa-

quinhos são relativamente demoradas, exigindo-se mão-de-obra

eficiente. Recomenda-se o planejamento de um cronograma de

atividades, de forma que, por ocasião da repicagem, os sacos já

estejam devidamente cheios e encanteirados.

Deve-se fazer a seleção das mudas considerando a

presença de espinho e o vigor vegetativo, e colocá-las em cantei-

ros mais homogêneos. Assim, mudas mais desenvolvidas serão

encanteiradas separadamente das menos desenvolvidas. As

mudas que apresentarem espinho também deverão ser agrupa-

das separadamente daquelas sem espinho.

Recomenda-se uma farta irrigação antes da retirada da

muda da sementeira, visando a reduzir a quebra das raízes. De-

Page 20: A Cultura Da Pupunha Ufla

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ve-se dar preferência aos dias mais nublados e sem ventos para

efetuar-se a repicagem.

A utilização de um chucho pressionado verticalmente

sobre a superfície do substrato do saquinho abre o espaço ne-

cessário para o recebimento da muda. A semente deve perma-

necer ligada à muda, e ser coberta por 2 cm de substrato, fican-

do exposta somente a parte aérea. Efetuar uma boa irrigação

logo após a repicagem para retirar o ar nas proximidades das

raízes. Os sacos devem ser de plástico, preto, perfurados e san-

fonados, com dimensões entre 12 a 15 cm de diâmetro e 20 a 25

cm de altura.

A muda também pode ser formada em tubete tipo jum-

bo, de 300 a 350 mL de volume, com ou sem adubo de liberação

lenta. Entretanto, a muda obtida nessas condições é inferior à

obtida em sacos plásticos, que tem desenvolvimento sempre

superior e menor porcentagem de replante.

O substrato mais adequado é terra de boa fertilidade,

peneirada e misturada a esterco de curral curtido ou outra fonte

de matéria orgânica (compostos, tortas, palha de café), numa

proporção de 3:1. Não é necessário utilizar nenhum tipo de adu-

bação química no substrato, mas a matéria orgânica é indispen-

sável, pois é fonte de macro e micronutrientes, além de ajudar na

formação do torrão.

Page 21: A Cultura Da Pupunha Ufla

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Os sacos devem ser colocados em forma de canteiros

com 1 m de largura (10 a 12 sacos) e amparados nas laterais por

madeira, ripas, roletes ou arame liso.

A irrigação é um dos fatores mais importantes nessa fa-

se e deve ser suficiente mas sem exageros, pois o excesso de

água é extremamente prejudicial às mudas. No período seco,

recomendam-se regas diárias ou a cada dois dias.

4.4 Tratos Culturais no Viveiro

A partir da verificação do pegamento das mudas (7 a 10

dias após a repicagem), o produtor poderá iniciar um programa

de adubações nitrogenadas feitas quinzenalmente, regando 200

mudas com uma solução feita com 40 g de uréia dissolvidos em

20 L de água, seguida de irrigação com água pura.

Sessenta dias após a repicagem, recomenda-se utilizar

80 g de uréia + 180 g de superfosfato simples + 20 g de cloreto

de potássio + 20 g de sulfato de magnésio dissolvidos em 20 L

de água, a cada 15 dias. No terceiro mês de viveiro, acrescentar

à solução anterior 10 g de sulfato de cobre, 10 g de sulfato de

zinco e 5 g de ácido bórico. É importante irrigar as plantas logo

após cada adubação para evitar queimaduras nas folhas.

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As ervas daninhas devem ser retiradas manualmente

visando a reduzir a competição por nutrientes e água. As irriga-

ções deverão ser freqüentes, evitando-se, porém, o encharca-

mento.

A praga mais importante que surge nessa etapa é uma

broca bem pequena, de difícil visualização, que corta o colo das

plântulas, matando-as. Deve-se controlá-la utilizando-se insetici-

das à base de Monocrotofós e Endosulfan. Formigas, gafanhotos

e ácaros também deverão ser controlados com iscas, inseticidas

e acaricidas específicos. Deve-se observar a presença de ratos

ou outros roedores nas imediações da sementeira e viveiro, pois

eles comem as sementes.

As doenças mais comuns, nem sempre presentes, são

a antracnose e a helmintosporiose. Essas doenças deverão ser

combatidas inicialmente pela redução da irrigação e fungicidas

cúpricos. Caso persistam, usar fungicidas à base de Benomyl

(250 g de benlate/200 L de água) e Mancozeb (1 kg de manza-

te/200 L de água) misturados e aplicados a cada 15 dias.

4.5 Seleção de Mudas

As mudas permanecerão no viveiro por oito a dez me-

ses. O transplantio deverá ser feito após estabilização do período

Page 23: A Cultura Da Pupunha Ufla

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chuvoso, quando as mudas deverão apresentar 5 a 6 folhas e 20

a 30 cm de altura. No Esquema 1 é apresentado o fluxograma de

produção de mudas mostrando as épocas de seleção. Entretan-

to, antes do plantio, deve-se proceder a uma última seleção,

considerando as seguintes características:

» Ausência de espinhos no caule ou folhas.

» Maior diâmetro da base da planta (colo ou coleto) e maior

número de folhas vivas, pois estão relacionados diretamente

com a precocidade da planta e, portanto, com a produção de

palmito.

» Classes de tamanhos: mudas maiores deverão ser plantadas

em lotes separados das menores.

» Mal-formação e pigmentação (albinismo): mudas com essas

características deverão ser descartadas.

Esquema 1. Fluxograma de formação de mudas.

Plantas matrizes

↓ Frutos maduros/retirada da polpa (1ª seleção)

↓ Lavagem

↓ Imersão em água (2ª seleção)

↓ Retirada da polpa aderida (atrito)

↓ Tratamento (água sanitária)

↓ Secagem à sombra (1 dia)

Page 24: A Cultura Da Pupunha Ufla

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Germinador ↓

Repicagem (3ª seleção) ↓

Viveiro

Saco Plástico Tubete

Plantio (4ª seleção)

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5 Plantio

Bovi (1998) não recomenda a cultura da pupunheira em

consórcio com culturas anuais ou perenes, pois pode-se diminuir

a quantidade de luz e prejudicar o sistema radicular em função

de capinas necessárias à outra cultura. Quando sombreada,

mesmo que levemente, a planta cresce em altura e não em diâ-

metro, além de florescer e frutificar pouco. Se o objetivo for a

produção de frutos/sementes, o consórcio pode ser feito desde

que as outras plantas não exijam capinas e não sombreiem a

pupunha.

A pupunheira é uma opção excelente para os sistemas

agroflorestais do pequeno produtor porque é extremamente rústi-

ca, oferece frutos com várias alternativas de uso, além do palmi-

to, e compõe o sistema agroflorestal de forma harmoniosa com

outras espécies de menor porte.

O plantio deverá ser realizado somente após a estabili-

zação do período chuvoso, em dias nublados e sem vento. Quan-

to mais cedo for realizado, maior será a precocidade do corte do

palmito. Caso o viveiro tenha sido conduzido sob sombreamento,

deve-se promover a aclimatação das mudas ao sol, pela retirada

gradativa da cobertura. Um mês antes do plantio em campo, as

mudas deverão estar totalmente a pleno sol, evitando-se, assim,

queimaduras nas folhas e morte de plantas.

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30

Três dias antes do plantio deve-se suspender a irriga-

ção no viveiro. As mudas a serem utilizadas deverão ter de 8 a

10 meses de idade ou 20 cm de altura, 5 a 6 folhas e não possuí-

rem espinho no estipe (Figura 5). Deve-se proceder à seleção de

mudas quanto ao tamanho e plantá-las em lotes mais homogê-

neos (talhões). Não é recomendado plantar mudas de idades

diferentes numa mesma área, pois não alcançarão o tamanho

adequado para colheita ao mesmo tempo, e como as lavouras

são adensadas, o desenvolvimento das plantas menores só ocor-

rerá quando forem cortadas as plantas vizinhas.

É importante salientar que no primeiro ano no campo o

crescimento é lento, pois as plantas permanecem de 6 a 8 meses

formando o sistema radicular.

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Figura 4. Plântulas no ponto de repicagem.

Figura 5. Mudas prontas para o plantio. 5.1 Preparo da Área

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32

A escolha do local para plantio definitivo deve conside-

rar a declividade, sendo preferidos os terrenos planos ou com

ondulação suave, e próximos a uma fonte d’água para uma pos-

sível irrigação em épocas muito secas.

Em solos preferenciais, leves e bem drenados, uma a-

ração e uma gradagem normalmente são suficientes para um

bom preparo. Caso a estrutura do solo seja mais pesada ou este-

jam compactados em virtude de muitos anos de cultivos anterio-

res, recomenda-se maior atenção, pois o preparo tradicional tal-

vez não seja suficiente para permitir o desenvolvimento das raí-

zes da pupunha. Nesses casos, deve-se estudar a necessidade

de uma subsolagem. Deve-se lembrar que solos encharcados ou

sujeitos à encharcamento devem ser evitados, pois a cultura não

os tolera.

As covas devem ser abertas com dimensões entre 30 a

40 cm3. A muda deverá ficar de 1 a 3 cm abaixo do nível do ter-

reno original, evitando-se plantios superficiais. Por cauda da alta

densidade de plantas por hectare, recomenda-se o plantio em

sulco, deixando o plantio em covas para áreas que não permitam

o uso de máquinas.

A pupunheira não se desenvolve na presença de mato,

principalmente braquiária. Em áreas que possuam gramíneas ou

em pastagens antigas, recomenda-se um preparo com diversas

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33

gradagens, rotação de cultura com alguma leguminosa (puerária,

feijão-de-porco, guandu) e herbicidas.

A pupunheira deve ser plantada a pleno sol, não reque-

rendo sombreamento nem no início de desenvolvimento.

5.2 Espaçamento

Os espaçamentos mais utilizados para produção de

palmito dependem da topografia da área, fertilidade do solo, dis-

posição da plantação, tipo de mecanização, manejo e outras

condições que a propriedade possa ter. Para solos férteis ou

bem adubados, recomenda-se o espaçamento 2 × 1 m (5000

plantas/ha) ou 1,5 × 1,5 m. Em solo pobre ou não adubado, re-

comenda-se 2,0 x 1,5 m (3330 plantas/ha). Para lavouras meca-

nizadas, recomenda-se o 3 × 1 m.

Se o objetivo for a produção de frutos, deve-se utilizar

espaçamentos bem maiores, uma vez que a pupunha atinge até

20 m de altura. Na Costa Rica, recomenda-se para solos pobres,

5 × 5 m (400 plantas/ha). Para solos férteis ou bem adubados, 6

× 6 m (278 plantas/ha) ou plantar em fileiras duplas de 4 × 4 × 8

m (416 plantas/ha).

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5.3 Calagem e Adubação

Os estudos sobre nutrição da pupunheira ainda não es-

tão totalmente concluídos, mas pode-se recomendar uma cala-

gem na área toda, de forma a elevar o pH para 5,0 a 5,5 e a sa-

turação de bases para 60%. Devem ser feitas análises de solo a

cada três anos, aplicando-se calcário sempre que a saturação de

bases for inferior a 50 %.

5.3.1 Adubação de Plantio

Caso haja disponibilidade, pode-se utilizar esterco de

curral curtido (5 a 20 t/ha ou 5 a 10 kg/cova), compostos ou tor-

tas. A adubação química é feita em função da fertilidade do solo

(Tabela 1). Utilizando adubos formulados, recomenda-se dividir

as doses em três vezes. Se optar por adubos simples, parcelar

apenas a uréia e o cloreto de potássio. O superfosfato simples

deve ser aplicado de uma só vez no plantio.

Tabela 1. Adubação de plantio, em g/planta, para pupunha em

função da fertilidade do solo.

Fertilidade do solo Adubo Baixa Média Alta 4-14-8 4-30-10 5-20-5

170 100 150

120 70 100

70 45 60

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U-SS-KCl (1) 10-160-20 10-110-10 10-80-0 (1) U: uréia SS: superfosfato simples KCl: cloreto de potássio

5.3.2 Adubação de Produção

A adubação de produção deverá ser realizada todos os

anos a partir do primeiro ano após o plantio, considerando-se

além dos níveis de fertilidade, a produtividade esperada.

A adubação com nitrogênio e potássio deve ser efetua-

da da mesma forma como o recomendado para adubação de

plantio na área correspondente à projeção da copa.

Se o plantio for irrigado, é conveniente o fracionamento

durante todo o ano. É uma prática que exige gasto com

mão-de- obra, mas que se justifica pelo crescimento contínuo da

planta ao longo do ano, atingindo-se o ponto de corte mais rapi-

damente.

Recomenda-se aplicar 0,2 a 0,4 g/planta de boro (2 a 4

g/planta de bórax) todos os anos junto com a primeira aplicação

dos adubos de produção.

A Tabela 2 apresenta recomendações de adubação,

considerando-se uma produtividade média de 2 a 3 t/ha.

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Tabela 2. Adubação de produção para pupunha, em g/planta, em

função da fertilidade do solo.

Fertilidade do solo

Adubo Baixa Média Alta 20-5-20 20-5-15

U-SS-KCl (1)

210 240

100-70-60

160 180

100-35-35

120 140

100-0-15 (1) U: uréia SS: superfosfato simples KCl: cloreto de potássio

5.4 Tratos Culturais

5.4.1 Controle de Invasoras

O trato cultural mais importante e delicado é o controle

do mato. Em função do sistema radicular da pupunheira ser su-

perficial, a competição com outras plantas é muito grande. A ca-

pina tradicional não é recomendada, pois há corte das raízes e

depauperamento da planta. O uso de roçadeiras é limitado pelo

espaçamento reduzido. Dessa forma, resta a opção de roçadas

periódicas visando à eliminação do mato maior e a recomenda-

ção de manter-se a área sempre coberta por alguma espécie le-

guminosa não-trepadeira, como o amendoim-bravo ou rasteiro

(Arachis pintoi A. Krapovickas & W.C. Gregory), a centrosema ou

caupi. A leguminosa abafa o mato, protege o solo e fornece N

para a pupunheira. Após o primeiro ano de cultivo em campo, a

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37

necessidade de controle do mato é menor devido ao sombrea-

mento que a própria cultura produz.

A aplicação de herbicidas ainda está sendo estudada.

Alguns agricultores tem usado Roundup a 0,75 % e 2,4-D a 0,30

% com sucesso. Aplica-se com 'chapéu de Napoleão' adaptado

ao pulverizador, usando-se 0,5 L/ha.

5.4.2 Pragas e Doenças

Há poucos relatos sobre pragas e doenças relevantes

para a pupunheira. Há citações de presença de ácaros e diversos

fungos nas folhas da pupunheira, porém sem causarem danos

significativos.

No campo pode ocorrer o ataque de um coleóptero

grande do gênero Rhyncophorus. O controle é feito através de

iscas feitas com tronco seccionado de bananeira, sobre o qual se

espalha uma mistura de melado de cana e inseticida específico.

Outro besouro que ataca a cultura é o Strategus aloeus Linn,

1658, que penetra na região do coleto formando galerias no esti-

pe. As lagartas das folhas em altas populações podem destruir

totalmente as folhas. Para o controle, pode-se utilizar produtos à

base de Bacilus thuringiensis ou defensivos químicos específicos

(Trichlorfon ou Piretróides).

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38

Os cupins subterrâneos também podem atacar plantas

mais novas, causando o amarelecimento generalizado e morte

da folha central.

Como principais doenças, incluem-se a antracnose

(causada por fungo do gênero Colletotrichum) e a helmintospori-

ose (causado por Helminthosporium sp), que devem ser controla-

das a partir da formação de mudas no viveiro e no início da flora-

ção com produtos à base de cobre. Outros produtos poderão ser

usados como mancozeb, benomyl, chlorotalonil, ziran, chlorota-

lonil + tiofanato metílico.

5.4.3 Manejo de Perfilhos

Não se recomenda manejo de perfilhos em função da

falta de informações sobre o assunto, exigência de mão-de-obra

habilitada (para não danificar a planta) e transmissão de doen-

ças. Acredita-se que cada planta estabelece sua própria dinâmi-

ca de crescimento, não havendo necessidade de desbaste de

perfilhos. Entretanto, o excesso de perfilhos (mais que 8) pode

prejudicar o desenvolvimento da planta-mãe, e caso resolva-se

pelo desbaste, recomenda-se que, por ocasião da colheita da

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planta-mãe, eliminem-se os mais fracos, deformados e mal loca-

lizados deixando-se 4 a 6 perfilhos, com mais de 25 a 30 cm de

altura e bem distribuídos na touceira.

Quando o objetivo é a produção de frutos ou sementes,

o manejo de perfilhos não é feito. Deixa-se a planta crescer sem

desbaste, cortando-se eventualmente alguns estipes em excesso

e utilizando-os para produção de palmito.

6 Colheita

O clima, fertilidade do solo, adubação e espaçamento

irão determinar o início da colheita do palmito de pupunha. De

uma maneira geral, a colheita ocorre entre 18 e 36 meses após o

plantio em campo.

Por ocasião do primeiro corte, nota-se freqüentemente

o formato cônico tanto do estipe quanto do palmito. Essa ocor-

rência é normal e tende a desaparecer com os cortes

subseqüentes, pois os perfilhos apresentam-se com o formato

mais cilíndrico. O primeiro corte é o menos produtivo.

A produtividade esperada é de 1500 a 1700 kg de pal-

mito inteiro/ha e 2500 kg de picadinho e rodelas/ha. De acordo

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40

com o diâmetro desejado para o palmito, efetua-se de 1 a 3 cor-

tes/planta/ano.

Estarão prontas para serem colhidas as plantas que

possuírem diâmetro entre 7 e 9 cm, medido a 80 cm do solo, o

que garante palmitos com o diâmetro ideal (2,5 cm). Estipes mais

grossos normalmente possuem palmitos também mais grossos, o

que dificulta o envasamento do palmito inteiro em vidros peque-

nos, mas não causam problema quando utilizam-se embalagens

destinadas à comercialização no atacado ou quando o palmito for

cortado em rodelas ou picadinho.

A colheita deve ser feita por pessoal treinado, visando

principalmente a não danificar os perfilhos e a aumentar o rendi-

mento. Primeiramente efetua-se um corte abaixo da terceira folha

aberta, contando-se de cima para baixo e retirando-se a copa da

pupunheira. Em seguida, mede-se 70 cm abaixo do ponto corta-

do, secionando-se pela segunda vez, obtendo-se o tolete. Des-

casca-se então o palmito, deixando-se as duas últimas bainhas.

Os toletes devem ser arrumados em feixes e levados à fábrica. O

intervalo entre a colheita do palmito e o seu processamento deve

ser o mais curto possível, sendo o armazenamento feito em local

fresco, seco e arejado.

O resíduo do corte deve, de preferência, permanecer no

próprio local, cobrindo o solo das entrelinhas. Esse material irá se

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41

decompor naturalmente, protegendo o solo do sol e chuva diretos

e devolvendo os nutrientes para os perfilhos.

A colheita deve ser escalonada com base no diâmetro

da planta (entre 10 e 14 cm, a 50 cm de altura). Em condições

normais, plantas em primeiro corte alcançam esse diâmetro

quando a haste principal está entre 160 a 180 cm. Nos cortes

subseqüentes, o diâmetro de corte será alcançado quando a has-

te do perfilho a ser colhido tiver de 180 a 210 cm de altura. A pe-

riodicidade de colheita por planta é variável, e em nossas condi-

ções e para o tipo de palmito de maior aceitação (acima de 2,5

cm de diâmetro), corta-se um palmito na mesma touceira a cada

8 meses.

7 Custo de Produção

Pela Tabela 3 pode-se verificar o custo de produção pa-

ra pupunha cultivada em área mecanizável, em vários tipos de

solo e com 5 000 plantas por hectare. Considerou-se plantio com

mudas compradas. Os componentes de custo são estimativas

que devem ser ajustadas às condições específicas de cada

região.

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42

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44

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45

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46

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48

Conteúdo

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49

1 Perfil da Cultura....................................................................... 05

2 Características da Planta......................................................... 10

3 Ecologia................................................................................... 16

4 Propagação ............................................................................. 18

5 Plantio...................................................................................... 29

6 Colheita .................................................................................. 39

7 Custo de Produção.................................................................. 42

8 Referências Bibliográficas ....................................................... 46