a cultura como meio de resgate da autoestima e saúde

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A cultura como meio de resgate da autoestima e saúde. Maria Margareth Escobar Ribas Lima

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Page 1: A cultura como meio de resgate da autoestima e saúde

 

   

A  cultura  como  meio  de  resgate  da  autoestima  e  saúde.  

Maria  Margareth  Escobar  Ribas  Lima  

Page 2: A cultura como meio de resgate da autoestima e saúde

 

   

A  gente  não  quer  só  comida.  A  gente  quer  comida,  diversão  e  arte.    

(Titãs)    

 A   cultura   é   tida   como   a   somatória   de   costumes,   tradições   e   valores   aliados   à  

expressão  de  um  jeito  próprio  de  ser,  estar  e  sentir  o  mundo.  Daí  o  fato  de  a  cultura  

ser   um   forte   agente   e   continente   de   identificação   pessoal   e   social,   embasando  

modelos  de  comportamento  que   integram  segmentos  sociais  e  gerações.  Ela  atua  

como  uma  terapia  efetiva  que  desperta  recursos  internos  do  indivíduo  e    expande  

suas  potencialidades  ao  mesmo  tempo  que  fomenta  sua  interação  com  o  grupo.  A  

cultura  proporciona  a  promoção  de  valores  e  princípios  norteadores  no  processo  de  

conquista   do   desenvolvimento   social   para   o   bem   comum,   para   a   saúde   e   a  

qualidade   de   vida,   no   sentido   de   um   completo   bem   estar   fisico,  mental   e   social,  

através   da   identificação   de   aspirações,   necessidades   e   formas   de   modificar  

favoravelmente  o  meio  ambiente.  

Nesse   contexto,   a   formação   e   o   reforço   da   identidade   do   individuo   passa   a   ser  

ferramenta   fundamental  para  a  expressão,   sobrevivência  e   sucesso  do  mesmo  no  

grupo  social.  Sua   formação  se  dá  a  partir  da  história,  da  articulação  e  da  troca  de  

conhecimentos,   com   os   quais   estão   envolvidos   os   diversos   setores   sociais   e   a  

realidade  de  vida  vivida  em  cada  comunidade.    

A  formação  cultural  de  um  grupo  estabelece-­‐se  nos  fatores  climáticos  e  geográficos,  

inicialmente,  passando  pelas  atividades    e  táticas  de  sobrevivência  mais  adequadas  

aquele   grupo,   pelo   tipo   de   alimento   disponível,   pela   religião   e   pelas   atividades  

culturais  e  de  lazer.      A  forma  de  vida  do  grupo  do  altiplano  na  Bolívia,  por  exemplo,  

que   vive  em  um  contexto  geográfico  e   social   próprio,   diferencia-­‐se,  por  exemplo,  

dos   povos   que   vivem   no   pantanal.   Essa   afirmação   está   alicerçada   na   percepção  

Page 3: A cultura como meio de resgate da autoestima e saúde

 

   

coletiva  das  capacidades,  dos  significados  e  valores  que  modelam  e  modulam  a  vida  

de  todos  os  grupos  sociais  e  de  cada  povo.  

 Os   povos   evoluem   através   de   mudanças   significativas   em   sua   cultura   e   tais  

mudanças,   vem   acontecendo   de   forma   cada   vez   mais   acelerada,   facilitadas   pela  

comunicação   sem   limites.   As   grandes   transformações   no  mundo,   decorrentes   da  

globalização,   têm   levado   as   organizações   à   realocar   a   importância   das   questões  

culturais.  Enquanto  as  fronteiras  entre  as  sociedades  são  diluídas  através  dos  meios  

de  comunicação,  revela-­‐se  cada  vez  mais  a  demanda  da  valorização  da  diversidade  

cultural  como  uma  tarefa  emergente  e  primordial.  Porque  é  somente  reconhecendo  

a   sua   identidade   cultural,   ou   seja,   de   onde   ele   vem,   que   elementos   simbólicos   e  

valores  ele  adquiriu  desse  ambiente  geográfico,  social  e  ritualístico,  que  o  indivíduo  

passa  a  valorizar  e  preservar  tudo  que  compõe  o  contexto  onde  ele  vive  e  interage.  

E   o   reconhecido,   em   contrapartida,   lhe   confere   identidade   e   sentimento   de  

pertença,  o  que  dá  uma  sensação  de  conforto  e  favorece  o  desenvolvimento  de  sua  

autoestima.  

A  percepção  da  necessidade  de  valorização  dos  símbolos  e  signos,  saberes  e  fazeres  

de  cada  comunidade,  contudo,  traz  desafios  a  serem  enfrentados  pelas  instituições  

e  programas  de  ação  e  desenvolvimento  social.  Os  esforços  institucionais  de  resgate  

e   a   preservação   do   Patrimônio   Cultural   tem   demonstrado   ser   uma   ferramenta  

motivadora  para  a  atitude  de  cidadania  indispensável  para  transformação  social.  O  

Ministério   da   Saúde   e   o  Ministério   da   cultura   têm   trabalhado  no  Brasil   com  essa  

noção.   Um   bom   exemplo   é   o   Programa   Saúde   da   Família,   que   visa   prevenir   as  

doenças   em   vez   de   apenas   tratá-­‐las   ou   o   Programa   de   resgate   do   patrimônio  

cultural   local   em   comunidades   longínquas   e   discriminadas   pela   falta   de   acesso   à  

tecnologia  da  era  digital.  

Mas   há   dificuldade   em   integrar   o   conhecimento   das   áreas   envolvidas,   integrar   o  

trabalho   das   corporações   envolvidas,   integrar   as   ações   dos   diversos   níveis   de  

governo,   integrar   recursos   de   diversas   áreas   quando   a   lógica   predominante   é  

Page 4: A cultura como meio de resgate da autoestima e saúde

 

   

justamente   separá-­‐los   e   vinculá-­‐los   a   fim   de   garantir   níveis   mínimos   de  

investimentos  em  cada  área.  

Para fomentar a valorização da identidade e do patrimônio cultural no processo de

desenvolvimento social global necessário para a melhora da qualidade de vida é

imprescindível sair do padrão da educação tradicional que, de modo geral, é

excludente e deprecia e invalida o conjunto de valores e símbolos locais.

A atuação cultural permite compreender e estimular o exercício da cidadania, da

importante inclusão social e a recuperação da autoestima. É no âmbito cultural que se

tornam eficazes as estratégias de promoção da saúde e da qualidade de vida. É a

partir dos símbolos, valores e do patrimônio culturais que as mazelas

socioeconômicas locais e mundiais podem ser superadas, pois a cultura interfere na

autoestima de maneira surpreendente, atribuindo valor, identidade, e motivação para

mudar e viver. A cultura proporciona prazer em SER, FAZER e PERTENCER,

sendo este o prazer sadio do bem viver, força capaz de contrapor-se à inércia do

descaminho de autodestruição para que se dirigem os excluídos sociais.

Este  é  –  ou  deveria  ser  –  o  objetivo  da  sociedade  humana:  o  bem  estar  do  grupo  

alicerçado   no   reconhecimento   do   seu   ser   e   de   seu   meio,   buscando   valorizar   a  

articulação  da  cultura  com  os  setores  da  educação,  da  saúde  e  da  economia.  Essa  

articulação   deve   ser   feita   nos   moldes   da   visão   sistêmica,   onde   o   resultado   das  

partes  em  inter-­‐relação  e  interação  é  maior  e  melhor  que  o  resultado  das  partes  em  

separado.  Nesse  sentido,  faz-­‐se  necessário  a  inserção  dos  conceitos  de  identidade,  

memória   e   cultura.   Isto   fornece   subsídios   para   a   implementação   de   ações   de  

reconhecimento   de   cada   cultura   e   propõe   a   reflexão   sobre   a   importância   da  

etnicidade   –   entendida   como   o   reconhecimento   dos   valores,   dos   símbolos,   dos  

costumes  que  individualizam  e  identificam  um  grupo  social  e  no  qual  cada  indivíduo  

se  reconhece  pertencendo.    

Page 5: A cultura como meio de resgate da autoestima e saúde

 

   

Portanto,  os  elementos  da   identidade  constituem  o   insumo   fundamental  de  onde  

partem   as   transformações   necessárias   que   a   valorização   da   cultura,   em   todos   os  

seus   aspectos,   artísticos   ou   outros,   tanto   de   criação,   quanto   de   admiração   e  

divulgação,   assim   como   a   busca,   o   reconhecimento   e   a   inserção   dos   elementos  

tradicionais  nos  projetos  que   tem  como   resultado  o   fortalecimento  da   identidade  

pessoal,   de   sua   segurança   e   assertividade   individual   e   do   grupo   social   a   que  

pertence,  unindo-­‐os  e  melhorando  sua  capacidade  de  mobilização  e  de  expressão  

em  torno  das  reivindicações  que  entendem  como  necessárias.    

Esses pressupostos consistem, definitivamente, em elementos norteadores para todas

as ações e intervenções do INSTITUTO ALEEMA – Saúde e Consciência que tem

a intenção de contribuir com o exercício pleno da cidadania e para conquista de

melhor qualidade de vida para todos os segmentos sociais com vistas de ser a saúde

um recurso para a vida, e não como objetivo de viver.

O Instituto Aleema está convencido de que somente a partir da cultura de cada povo,

de cada grupo social é possível vislumbrar a transformação social requerida para a

promoção da saúde, onde cada indivíduo desperta como ator social que assume a

responsabilidade de defender a sua saúde, o seu ambiente, o seu meio e sua cultura,

de forma a estabelecer um modelo que auxilie na formação de uma base sólida da

cidadania cultural, resgatando com isso sua autoestima e sua saúde corporal e mental.

A certeza é que o maior valor de uma comunidade é o seu povo que tem uma forma

peculiar de viver, divertir, morar e se expressar nas suas danças e crenças, pois o

reconhecimento da identidade, do patrimônio e da cultura não é apenas olhar para o

passado, mas pensar nas coisas que devem fazer parte do futuro.

 

  Arquiteta  Maria  Margareth  Escobar  Ribas  Lima