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A César o que é de César

Jesus foi Socialista?

Lawrence W. Reed

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Uma versão anterior deste ensaio foi publicada como parte da série

Clichês Progressistas em fee.org em janeiro de 2015 (no Brasil também

traduzido por mim e publicado no Mídia Sem Máscara-

http://www.midiasemmascara.org/artigos/cultura/15747-2015-04-01-21-18-

27.html.

A missão da FEE é inspirar, educar e conectar os futuros líderes com os

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Print ISBN: 978-1-57246-037-9

Ebook ISBN: 978-1-57246-036-2

Published under the Creative Commons Attribution 4.0

International License.

Cover design by Esther Moody

Tradução, Revisão e Edição Flávio Ghetti

[email protected]

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Nota do Editor: Como uma organização não afiliada a nenhuma fé em

particular, a FEE (Foundation for Economic Education) encoraja outras

perspectivas em tais matérias. O Sr Reed deseja que os leitores entendam

que sua perspectiva pessoal não tem intenção de fazer proselitismo para

nenhuma fé ou igreja em particular, mas simplesmente iluminar sua

interpretação da dimensão moral e econômica de Cristo.

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Em 16 de junho de 1992 o Daily Telegraph, de Londres,

publicou este audacioso e espantoso comentário do antigo líder

soviético Mikhail Gorbachev: “Jesus foi o primeiro socialista, o

primeiro a buscar uma vida melhor para a humanidade”1.

Talvez devêssemos pegar leve com Gorbachev aqui. Um

homem que ascendeu ao topo de um império estridentemente

ateísta, com uma trajetória lamentável nos registros a violações

dos direitos humanos, provavelmente não era um estudioso da

Bíblia. Mas obviamente ele sabia que se o socialismo é nada mais

do que a busca de “uma vida melhor para a humanidade”, então

Jesus dificilmente poderia ter sido seu primeiro defensor. Ele

seria, na verdade, apenas mais um entre bilhões.

Você não precisa ser um Cristão para apreciar os erros no

embuste de Gorbachev. Você pode ser uma pessoa de qualquer fé,

ou de nenhuma fé afinal. Você deve apenas apreciar fatos, história

e lógica. Você pode até mesmo ser um socialista (mas um com

olhos abertos) e perceber que Jesus não estava no seu “grupo”.

Vamos primeiro definir o termo socialismo, que o comentário

de Gorbachev apenas obscurece. Socialismo não se define por

pensamentos felizes, fantasias nebulosas, meras boas intenções ou

crianças compartilhando seus doces de Halloween. Num moderno

contexto político, econômico e social, socialismo não é uma

opção voluntária como um grupo de escoteiros. Sua característica

central é a concentração de poder para realizar à força um ou mais

1 London Daily Telegraph, 16 de Junho de 1992.

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destes propósitos (ou usualmente todos): planejamento central da

economia, posse governamental da propriedade e redistribuição

de riqueza. Nenhuma quantidade de retórica do tipo “fazemos

tudo por você” ou “é para o seu próprio bem” ou “estamos

ajudando pessoas” pode apagar isto. O que faz do socialismo

socialismo é o fato de que você não pode dizer não, uma questão

eloquentemente construída por David Boaz do Cato Institute:

“Uma diferença entre libertarianismo, um

sistema baseado na liberdade e em escolhas

pessoais, e socialismo é que uma sociedade

socialista não pode tolerar grupos de pessoas

praticando a liberdade, mas uma sociedade

libertária pode confortavelmente permitir que

pessoas escolham voluntariamente o socialismo.

Se um grupo de pessoas (mesmo um grupo

muito grande) desejasse adquirir terra e possuí-

la em comum, eles seriam livres pra isto. A

ordem legal libertária exigiria apenas que

ninguém fosse coagido a associar-se ou a

renunciar a sua propriedade2.

O governo, seja grande ou pequeno, é o único ente na sociedade

que possui o monopólio legal sobre o uso da força. Quanto mais

força ele implementa contra o povo, mais ele subordina as

escolhas dos governados aos caprichos dos governantes, isto é,

mais socialista ele se torna. Um leitor pode objetar a esta2 David Boaz, “The Coming Libertarian Age”, Cato Policy Report (Jan/Fev 1997).

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descrição pela insistência de que “socializar” algo é simplesmente

“compartilhar” e “ajudar pessoas” no processo, mas isto é

conversa para bebês. É como você faz que define o sistema. Fazê-

lo pelo uso da força é socialismo. Fazê-lo através de persuasão,

livre arbítrio e respeito aos direitos de propriedade, é algo

inteiramente diferente.

Então, Jesus foi realmente um socialista? Em relação ao foco

principal deste ensaio, Ele pediu ao estado que redistribuísse

renda seja para punir os ricos ou para ajudar os pobres?

Ouvi pela primeira vez que “Jesus foi um socialista” e que

“Jesus foi redistribucionista” há cerca de quarenta anos. Fiquei

perplexo. Sempre tinha entendido a mensagem de Jesus como

sendo a decisão mais importante que uma pessoa faria em seu

tempo de vida terrestre, era aceitá-lo ou rejeitá-lo como um

Salvador. Esta decisão é claramente uma escolha muito pessoal,

uma escolha individual e voluntária. Ele constantemente destacou

a renovação espiritual interior como mais crítica para o bem estar

do que coisas materiais. Perguntei-me: “Como poderia o mesmo

Jesus defender o uso da força para tomar coisas de alguns e dá-las

a outros”? Eu apenas não conseguia imaginá-lo apoiando uma

sentença de multa ou prisão para pessoas que não desejam

entregar seu dinheiro para programas de alimentação.

“Espere um momento!” você diz. “Jesus não respondeu “Dai a

César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” quando os

Fariseus tentaram pegá-lo no truque de denunciar os impostos

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Romanos”? Sim, de fato ele disse isto. É encontrado no

Evangelho de Mateus 22:15-22, e depois no Evangelho de

Marcos, 12: 13-17. Mas observe que tudo depende apenas do que

realmente pertence a César e o que não, o que é verdadeiramente

uma adesão bastante poderosa aos direitos de propriedade. Jesus

não disse nada como “isto pertence a César se César

simplesmente disser que pertence, não importa quanto ele queira,

como ele obtém ou como ele escolhe gastar”.

O fato é que alguém pode passar um pente fino nas Escrituras e

não encontrará nenhuma palavra de Jesus que apoie a

redistribuição forçada de riqueza por autoridades políticas.

Nenhuma sentença.

“Mas Cristo não disse que veio confirmar a lei?” Você pergunta.

Sim, em Mateus 5:17-20, Ele declara, “Não pensem que Eu vim

para abolir a lei dos Profetas. Não vim para aboli-los, mas para

levá-los à perfeição”. Em Lucas 24:44, Ele esclarece quando diz

“... Isto é o que vos dizia quando ainda estava convosco: era

necessário que se cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei

de Moisés, nos Profetas e nos Salmos”. Ele não estava dizendo:

“Qualquer lei que o governo aprove, Eu apoio”. Ele estava

falando especificamente da Lei de Moisés (primeiramente os Dez

Mandamentos) e das profecias de Sua vinda.

Considere o oitavo dos Dez Mandamentos: “Não roubarás”.

Observe o período após a palavra “roubarás”. Esta admonição não

é lida como “Não roubarás a menos que a outra pessoa tenha mais

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que você”, ou “Não roubarás a menos que você esteja

absolutamente certo de poder gastar melhor que a pessoa de quem

você roubou”. Nem se diz “Não roubarás mas tudo bem se

empregar alguém, como um político, para fazer isso por você”.

No caso das pessoas ainda estarem tentadas a roubar, o

décimo mandamento corta o mal pela raiz num dos principais

motivos para o roubo (e para redistribuição): “Não cobiçarás a

casa de teu próximo, não cobiçarás a mulher de teu próximo, nem

o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento,

nem coisa alguma de teu próximo”. Em outras palavras: se não é

seu, mantenha suas mãos longe.

Em Lucas 12:13-15, Cristo é confrontado com uma

solicitação de redistribuição. Um homem com uma queixa

aproxima-se Dele e reclama, “Mestre, fale com meu irmão e faça-

o dividir sua herança comigo”. O Filho de Deus, o mesmo

Homem que realizou curas milagrosas e acalmou as ondas,

respondeu deste modo: “Homem, quem fez de mim juiz ou árbitro

entre vós? Tenha cuidado e abstenha-se de controvérsias, a

riqueza de um homem não consiste na abundância material que

ele possui”. Uau! Ele poderia ter igualado a riqueza dos dois

homens com um movimento de Suas mãos, mas em vez disso, Ele

escolheu denunciar a inveja.

“E a respeito da história do bom samaritano? Ela não

representa um exemplo de programa de bem estar governamental,

senão diretamente de redistribuição?” você pergunta. A resposta é

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um enfático NÃO! Considere os detalhes da estória, como

descrita em Lucas 10:29-37: Um viajante encontra um homem

caído às margens da estrada. O homem tinha sido surrado,

roubado e deixado semimorto. O que o viajante fez? Ajudou o

homem, ele próprio, no local, com seus próprios recursos. Ele não

disse “escreva uma carta ao imperador” ou “vá procurar sua

assistente social” e foi embora. Se ele tivesse feito isso, ele seria

conhecido hoje como o “bom pra nada samaritano”, se ele fosse

de fato lembrado.

A história do Bom Samaritano defende a ajuda voluntária a uma

pessoa necessitada por amor ou compaixão. Não há nenhuma

sugestão de que o Samaritano “devesse” qualquer coisa ao

homem em necessidade ou que fosse obrigação de um político

distante ajudar com o dinheiro de outras pessoas.

Além do mais, Jesus nunca proclamou pela igualdade de

riqueza material, muito menos o uso de força política para realizá-

la, mesmo em situações de terrível necessidade. Em seu livro,

Biblical Economics, o teólogo R. C. Sproul Jr. observa que Jesus

“deseja que os pobres sejam ajudados” mas não sob a mira de

uma arma, o que é essencialmente do que se trata a força do

governo:

“Estou convencido de que medidas políticas e

econômicas envolvendo distribuição forçada de

riqueza via intervenção governamental não são

corretas nem seguras. Tais medidas são anti

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éticas e ineficazes... Na superfície pareceria que

estes socialistas estão ao lado de Deus.

Infelizmente, seus programas e seus meios

provocam grande pobreza apesar de seus

corações permanecerem fiéis à eliminação da

pobreza. A trágica falácia que invade o

pensamento socialista é que exista uma conexão

causal necessária entre a riqueza dos ricos e a

pobreza dos pobres. Os socialistas assumem que

a riqueza de um homem seja baseada na pobreza

de outro, portanto para impedir a pobreza e

ajudar o homem pobre, devemos ter

socialismo”.

Ao comentário de Sproul eu acrescentaria um adendo: algumas

vezes uma pessoa torna-se rica inteira ou parcialmente devido a

suas conexões políticas. Assegura favores especiais e subsídios do

governo, ou utiliza o governo para desabilitar seus competidores.

Nenhum pensador consistentemente lógico que defenda a

liberdade e os direitos de propriedade, seja Cristão ou não, apoia

tais práticas. Elas são formas de roubo, e sua origem é o poder

político, a coisa verdadeiramente debilitante, e que os

progressistas e socialistas defendem mais e mais.

A riqueza legítima é obtida voluntariamente. Provém da criação

de valor, benefício mútuo e trocas voluntárias. Ela não surge de

poder político que redistribui ao contrário, tomando do pobre e

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dando ao rico. Empreendedores econômicos são uma benção para

a sociedade, empreendedores políticos são, unicamente, um outro

animal. Todos nos beneficiamos quando Steve Jobs inventa um

iPhone, mas quando o Festival de Poesia Cowboy em Nevada

obtém subsídio federal devido ao Senador Harry Reid, ou quando

o Goldman Sachs obtém resgate financeiro às custas dos

pagadores de impostos (no Brasil os equivalentes são a Lei

Rouanet e as empresas “amigas” dos políticos), milhões de nós

sofremos danos e temos que pagar por isso.

E a respeito da referência, nos Atos dos Apóstolos, dos

primeiros Cristãos vendendo seus bens mundanos e

compartilhando este procedimento comunitariamente? Isto soa

como uma utopia socialista. Analisando de perto, entretanto, fica

claro que aqueles Cristãos não venderam tudo que tinham e não

foram obrigados a fazer isso. Eles continuaram encontrando-se

em suas próprias casas, por exemplo. Em seu capítulo de

contribuição ao livro “For the Least of These: A Biblical Answer

to Poverty” de 2014, Art Lindsey do Institute for Faith, Work and

Economics escreve:

“Novamente, na passagem dos Atos dos

Apóstolos, não há menção ao estado sob

qualquer condição. Estes primeiros crentes

contribuíram com seus bens livremente, sem

coerção, voluntariamente. Alhures nas

Escrituras nós vemos que os Cristãos são

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instruídos a doar somente desta maneira,

livremente, “Dê cada um conforme o impulso

de seu coração, sem tristeza nem

constrangimento. Deus ama o que dá com

alegria” (2 Coríntios 9:7). Há abundância de

indicação de que os direitos de propriedade

ainda estavam valendo...”

Isto pode frustar os socialistas a aprender que as palavras e

feitos de Cristo, repetidamente sustentadas desta maneira

criticamente importante, referem-se às virtudes do capitalismo

como contrato, lucro e propriedade privada. Por exemplo,

considere a “Parábola dos Talentos”. Dos muitos homens na

história, o único que pega o dinheiro e o enterra é repreendido,

enquanto o que investiu e gerou maior retorno é aplaudido e

recompensado.

Ainda que não seja central à história, boas lições de oferta e

demanda bem como a santidade do contrato, são evidentes em

Cristo na “Parábola dos Trabalhadores na Vinícola”. Um

proprietário de terras oferece salário para atrair trabalhadores para

um dia de trabalho urgente na colheita de uvas. Próximo ao fim

do dia, ele percebe que precisa rapidamente empregar mais gente,

e oferece por uma hora de trabalho o que havia previamente

oferecido pagar aos primeiros trabalhadores por um dia de

serviço. Quando um dos que tinham trabalhado o dia todo

queixou-se, o proprietário de terras respondeu: “eu não estou

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sendo injusto com você, amigo. Você não concordou em trabalhar

por um denário? Pegue seu pagamento e vá. Eu quero dar ao que

foi empregado por último o mesmo que dei a você. Eu não tenho

o direito de fazer o que quero com meu dinheiro? Ou você está

com inveja porque estou sendo generoso?”

A bem conhecida “Regra de Ouro” veio dos lábios do

próprio Cristo, em Mateus 7:12. “Então em tudo, faça aos outros

o que você gostaria que fizessem a você, porque esta é a lei dos

profetas”. Em Mateus 19:18, Cristo diz: “... ame a teu próximo

como a ti mesmo”. Em nenhuma outra parte Ele remotamente

sugeriu que você repugnasse seu próximo por sua riqueza, ou que

procurasse tomar a riqueza dele. Se você não deseja que sua

propriedade seja confiscada (e muitas pessoas não desejam, e não

precisariam de um ladrão à disposição para dividir com ele de

maneira alguma), então claramente você não deveria querer

confiscar a propriedade de outros.

A doutrina Cristã adverte contra a ganância. Como o faz em

nossos dias o economista Thomas Sowell: “eu nunca entendi

porque é “ganância” possuir o dinheiro que você mereceu mas

não é ganância querer tirar o dinheiro de outros”. Utilizar o poder

do governo para roubar a propriedade de outra pessoa não é

exatamente altruístico. Cristo nunca sugeriu que acumular riqueza

através do comércio pacífico era de alguma forma errado. Ele

simplesmente suplicou às pessoas que não permitissem que a

riqueza os dominasse ou corrompesse seu caráter. Por isto seu

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grande Apóstolo Paulo não disse que o dinheiro era mal na

famosa referência em 1Timóteo 6:10. Aqui vai o que Paulo

verdadeiramente disse: “Porque a raiz de todos os males é o amor

ao dinheiro. Acossados pela cobiça, alguns se desviaram da fé e se

enredaram em muitas aflições”. De fato, os próprios socialistas

não abandonaram o dinheiro de modo abnegado, eles estão

clamando é pelo dinheiro de outras pessoas, especialmente o dos

“ricos”.

Em Mateus 19:23, Cristo diz: “Em verdade vos digo, é

difícil para um rico entrar no Reino dos Céus”. Um socialista

poderia dizer: “Eureka! Aqui está! Ele não gosta de pessoas ricas”

e então distorce a observação depois de reconhecer a justificativa

de qualquer esquema “roube Pedro para pagar Paulo” que põe a

montanha abaixo. Mas este conselho é inteiramente consistente

com tudo que Cristo falou. Não é um convite para invejar os

ricos, para tomar dos ricos e dar celulares “grátis” aos pobres. É

um conselho para o caráter. É uma observação de que muitas

pessoas deixam-se dominar pela riqueza, tanto quanto por outros

meios em torno. É um alerta contra tentações (as quais vêm de

muitas formas, não só pela riqueza material). Todos nós já não

notamos que entre os ricos, como igualmente entre os pobres,

existem boas e más pessoas? Todos nós já não vimos celebridades

corrompidas por sua fama e fortuna, enquanto outros, entre os

ricos, levam vidas dignas? Todos nós já não temos visto pessoas

que permitem que a pobreza as desmoralize e debilite, enquanto

outros, entre os pobres, veem a pobreza como um incetivo para

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melhorar suas vidas e a de suas comunidades?

Quando a primeira versão deste ensaio surgiu em janeiro de

2015, diversos amigos “progressistas” levantaram Romanos 13:1-

7 como evidência contrária a minha tese. (Sentimentos similares

são expressos em 1 Pedro 2:13-20 e Tito 3: 1-3). Na passagem 13

de Romanos o Apóstolo Paulo encoraja a submissão às

autoridades governamentais e aconselha contra a rebelião. Ele

também diz que se você deve impostos, pague seus impostos.

Então um socialista ou “progressista” de hoje pode dizer que isto

abençoa todo tipo de coisas incluindo redistribuição, um estado de

bem estar social, ou tudo o mais que o estado deseje fazer, seja

por você ou apesar de você. Isto é inteiramente uma extrapolação.

Aqui, como em outras partes da Bíblia, o contexto é importante.

Paulo estava falando para os primeiros Cristãos num ambiente

que fervia de sentimento anti Romano. Ele indubitavelmente não

desejava que o crescimento do Cristianismo fosse desviado pela

violência ou outras provocações aos Romanos, que seriam

brutalmente reprimidas. Ele estava tentando fixar a visão das

pessoas naquilo que ele considerou como as coisas mais elevadas,

de maior importância imediata.

Mas é um grande erro extrapolar o que Paulo disse para

justificar uma perspectiva particular da função do governo, a

saber, um “progressista” ou “socialista”. Suponha que as

“autoridades governamentais” aprovassem um estado mínimo

com restrição Constitucional e garantias de liberdades pessoais e

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propriedade privada. Suponha, além disso, que as regras deste

arranjo claramente informasse aos governados: “Nós protegemos

vocês de agressões contra seus direitos e propriedades, mas por

outro lado nós não damos a vocês coisas grátis. Vocês têm direito

a suas liberdades, para dedicarem-se a caridade e comércio

privado e voluntário, para negociarem entre si pacificamente, para

viver como escolherem desde que não causem danos a outros.

Mas nós no governo não roubaremos Pedro para dar a Paulo”.

Não há nada em Romanos 13:1-7 que diga que estas “autoridades

governamentais” devam ser menos respeitadas do que se fossem

redistribucionistas do estado de bem estar social.

Logo, os versos de Romanos 13:1-7 afirmam a legitimidade do

governo per si, mas não ordenam o que demandam progressistas e

socialistas de hoje. A Bíblia, na verdade, é cheia de histórias sobre

pessoas que resistiram bravamente e justificadamente a exageros

de governos. Alguém realmente acredita que se Jesus estivesse

pregando imediatamente antes do êxodo dos Judeus do Egito ele

teria declarado: “O faraó exige que vocês fiquem, logo desfaçam

a bagagem e voltem ao trabalho”?

Norman Horn, um engenheiro químico, cientista pesquisador e

fundador do LibertarianChristians.com observa que ambos, Novo

e Velho Testamento, proveem numerosos exemplos elogiosos de

desobediência ao estado:

“Os Hebreus resistindo aos decretos do Faraó

para assassinarem seus recém-nascidos (Êxodo

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1); Rahab mentindo ao Rei de Jericó a respeito

dos espiões Hebreus (Josué 2); Ehud enganando

os ministros do rei e assassinando o rei (Juízes

3); Daniel, Sadraque, Mesaque e Abednego

recusando-se a cumprir o decreto do rei, e sendo

miraculosamente salvos duas vezes por fazerem

isto (Daniel 3 e 6); o Mago do Oriente

desobedecendo às ordens diretas de Herodes

(Mateus 2); e Pedro e João escolhendo obedecer

a Deus em vez de obedecer aos homens (Atos

5).

Com o risco de abusar do assunto neste ponto, compartilho

estes comentários perspicazes de uma conversa com meu colega

Jeffrey Tucker da Foundation for Econimic Education:

“Maria, Jesus e José fugiram de Belém ao

invés de submeterem-se às ordens de Heródoto

para que se matassem todos os recém-nascidos.

Se Romanos 13 significasse que todos devem se

submeter sempre, Jesus teria sido assassinado

nas semanas após seu nascimento... Resistência,

é claro, pode ser moral. O Cristianismo tem

inspirado resistência ao estado através da

história e nos tempos modernos, da Revolução

Americana aos protestos pelos direitos civis, na

resistência Polonesa contra o Comunismo. O

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próprio Jesus deu o exemplo: Ele evitou o

governo quando pôde, resistiu de maneira

prudente quando foi possível, e finalmente

obedeceu quando teve que obedecer”.

A evidência empírica esmagadora hoje é de que, como

observou Montesquieu há dois séculos: “Países bem cultivados

não são os férteis, mas os livres”. As Nações que possuem mais

liberdade econômica (e governos menores) têm taxas de

crescimento econômico e prosperidade no longo prazo mais

elevadas do que aquelas envolvidas em práticas socialistas e

redistributivas. Os países com menores níveis de liberdade

econômica também têm os padrões de vida mais baixos. Países

livres e seus povos são os maiores doadores para caridade,

enquanto que, no saldo líquido, os socialistas são decisivamente a

ponta receptora. Por que isto é relevante? Porque você não pode

redistribuir nada a ninguém se não houver sido criado por alguém

em primeiro lugar, e a evidência indica, fortemente, que a única

coisa durável que arranjos socialistas e redistributivos fazem pelas

pessoas pobres é dar a elas um monte de companheiros.

Nos ensinamentos de Cristo e em muitas outras partes do novo

testamento, os Cristãos, de fato todas as pessoas, são

aconselhados a serem “espíritos generosos”, a cuidar da família

de alguém, a ajudar os pobres, assistir as viúvas e os órfãos, a

revelar bondade e manter altivez de caráter. Como tudo isso pode

ser traduzido no negócio sujo de coerção, compra de votos e

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esquemas de redistribuição politicamente dirigidos é um problema

para prevaricadores com agenda. Não é um problema para

estudiosos do que a Bíblia verdadeiramente diz ou não diz.

Examine sua consciência. Considere as evidências. Seja

atento aos fatos. E pergunte-se: “Desejando ajudar os pobres,

Cristo preferiria doar livremente seu dinheiro ao Exército da

Salvação (ou a qualquer outra instituição de caridade) ou, na mira

de uma de arma, ao departamento de assistência social?

Cristo não era estúpido. Ele não estava interessado em

profissionais públicos da caridade, atividades nas quais Fariseus

legalistas e hipócritas estavam engajados. Ele repudiou sua

conversa fiada interesseira. Ele sabia que ela era sempre fingida,

raramente indicativa de como eles conduziam seus afazeres

pessoais, e sempre um fim de linha com abundância de enganos e

desilusões pelo caminho. Dificilmente faria sentido para Ele

defender os pobres apoiando políticas que minam o processo de

criação de riqueza, processo necessário para ajudá-los. Numa

análise final: Ele nunca endossaria um esquema que não funciona

e é orientado pela inveja e pelo roubo. A despeito das tentativas

dos socialistas modernos em transformá-lo num redistribucionista

do bem estar social, Ele nunca foi desse tipo.

Lawrence W. Reed

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Leituras Recomendadas:

Bandow, Doug. Beyond Good Intentions: A Biblical View of

Economics.Westchester, IL: Crossway Books, 1988.

Bandow, Doug. “Biblical Foundations of Limited

Government.” Work & Economics.

http://tifwe.org/resources/biblical-foundations-of-limited-

government/.

Bradley, Anne and Art Lindsley, eds. For the Least of These:

A Biblical Answer to Poverty.Bloomington, IN: Westbow

Press, 2014.

Hendrickson, Mark W. “Christian Charity and the Welfare

State.” Vision and Values Paper (April 13, 2011). http://

www.visionandvalues.org/2011/04/christian-charity-andthe-

welfare-state/ .

Horn, Norman. “Theology Doesn’t Begin and End With

Romans 13.” LibertarianChristians.com, April 2, 2013. http://

libertarianchristians.com/2013/04/02/theology-doesnt-begin-

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