a criação do estado de israel e a fragmentação da palestina

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS- CCH Curso de História FADEL NAGM A CRIAÇÃO DO ESTADO DE ISRAEL E A FRAGMENTAÇÃO DA PALESTINA. Boa Vista-RR 2013

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS- CCH

Curso de História

FADEL NAGM

A CRIAÇÃO DO ESTADO DE ISRAEL E A FRAGMENTAÇÃO DA PALESTINA.

Boa Vista-RR 2013

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FADEL NAGM

A CRIAÇÃO DO ESTADO DE ISRAEL E A FRAGMENTAÇÃO DA PALESTINA.

Boa Vista-RR 2013

Monografia apresentada ao curso de História L/B, da Universidade Federal de Roraima, como pré-requisito para obtenção do título de Bacharel e Licenciado em História.

Orientador: Drº. Nelvio Paulo Dutra Santos

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FADEL NAGM

A CRIAÇÃO DO ESTADO DE ISRAEL E A FRAGMENTAÇÃO DA PALESTINA.

Monografia apresentada como pré-requisito para conclusão do Curso de Licenciatura e Bacharelado em História da Universidade Federal de Roraima, defendida em 24/04/2013 e avaliada pela seguinte banca examinadora

Banca Examinadora:

_______________________________________ Profº Drº Nelvio Paulo Dutra Santos (Orientador)

Curso de História - UFRR

.______________________________ Profº Drº Roberto Ramos Santos

Departamento de Ciências Sociais - UFRR

_______________________________________ Profº. Msc. Antônio Klinger da Silva Souza

Curso de História - UFRR

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DEDICATÓRIA

A minha querida esposa, que tanto amo e que sempre apoiou-me nesta caminhada,

Nadia Youssef Amad Nagm

Page 5: a criação do estado de israel e a fragmentação da palestina

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar a Deus e especialmente a minha esposa Nadia Youssef Amad Nagm, por todo amor e por estar ao meu lado nos momentos mais importantes da minha vida. Agradeço pelo apoio ao longo desses anos de estudos, incentivando me para que eu tivesse “garra” para continuar.

Aos meus filhos Lucy, Marcel e Soraya Nagm, pelo amor fraterno e pelas alegrias que me proporcionam.

Agradeço aos queridos colegas do curso de História e a todos os professores da UFRR, em especial aos do curso de História, pela dedicação, compreensão e conhecimento compartilhado, em especial a meu orientador, professor Nélvio Paulo Dutra Santos, pela colaboração e contribuição com seu conhecimento aperfeiçoado e precioso.

Page 6: a criação do estado de israel e a fragmentação da palestina

EPÍGRAFE

"O que está acontecendo na Palestina, não é justificável por nenhuma moralidade ou

código de ética. Certamente, seria um crime contra a humanidade reduzir o orgulho

árabe para que a Palestina fosse entregue aos judeus parcialmente ou totalmente

como o lar nacional judaico."

Gandhi.

A conquista da terra, que significa basicamente tomá-la

daqueles que têm pele diferente de nós ou narizes

ligeiramente mais achatados que os nossos,

não tem nada de bonito quando

examinada bem de perto.

(Joseph Conrad, Heart of Darkness).

“Não existe maior tristeza no mundo,

do que a perda de sua terra natal” Eurípides, 431 a.C.

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RESUMO

Neste trabalho temos como objetivo uma abordagem que visa configurar da forma

mais elucidadora possível, que a criação do Estado de Israel foi um dos fatores

determinantes para a intensificação do conflito na região da Palestina. Este estudo

aborda o conflito entre israelenses e palestinos com o intuito de promover uma

reflexão sobre o assunto, sem pretender exaurir essa temática, dada sua

complexidade e extensão. O conflito nesta análise, foi intensificado já partir do fim da

Primeira Guerra Mundial, permaneceu durante o Mandato Britânico (1922-1947) até

a criação do Estado de Israel, consolidando-se como uma forma de imposição de

poder que prejudicou ainda mais a relação entre esses dois povos. Essa forma de

política entre Israel e Palestina tem provocado milhares de mortes e é um dos

conflitos mais duradouros dos últimos séculos. O que pretendemos suscitar aqui é

uma reflexão sobre essa problemática mundial, pois se trata de um conflito que

envolve interesses conflitantes e de difícil solução.

Palavras-chave; Sionismo; Estado de Israel; Palestina; Refugiados.

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ABSTRACT

In this work we aim to set up an approach to the most elucidadora possible that the creation of Israel was one of predetermining factors for the intensification of the conflict in Palestine. This study addresses the conflict between Israelis and Palestinians, to promote a reflection on the matter, so as not to exhaust this issue, given its complexity and scope. The conflict in this analysis, we have intensified since the end of World War I, continued during the British Mandate (1922-1947) until the creation of the State of Israel, establishing itself as a way of imposing power that detracted further the relationship between these two people. This form of policy between Israel and Palestine has caused thousands of deaths and is one of the most enduring conflicts of the past centuries. What we want to raise here is a reflection on this issue worldwide, because it is a conflict that involves competing interests and difficult to solve.

Keywords; Zionism; State of Israel; Palestine; Refugees.

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LISTA DAS ILUSTRAÇÕES

Figura 01: Mapa do Imperio Otomano(1878-1914)...................................................20

Figura 02: Mapa da Império Britânico na Palestina (ANO) ........................................ 32

Figura 03: Mapa da Partilha da Palestina proposta pela ONU (1947)....................... 48

Figura 04: Mapa dos Territórios ocupados por Israel após a guerra de 1948-49 ...... 49

Figura 05: Mapas da evolução do território da Palestina de 1947 a 2000. ................ 50

Figura 06: Mapa a guerra dos seis dias 1967............................................................51

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SUMÁRIO

1.INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 101

2.CAPÍTULO I: A CONFIGURAÇÃO DA ANTIGA PALESTINA .............................. 15

2.1 A GÊNESE DO TERRITÓRIO PALESTINO ........................................................ 15

3.2 O MOVIMENTO SIONISTA E A CRIAÇÃO DO “LAR NACIONAL JUDEU”. ....... 20

3.CAPÍTULO II: A FRAGMENTAÇÃO DO ORIENTE MÉDIO..................................30

3.1 A DECADÊNCIA DO IMPÉRIO OTOMANO E A CRIAÇÃO DE ISRAEL ............ 31

3.2 A PARTILHA DO IMPÉRIO OTOMANO E O MANDATO BRITÂNICO NA

PALESTINA ............................................................................................................. 354

4.CAPÍTULO III: A FRAGMENTAÇÃO DA PALESTINA ....................................... 443

4.1 A PARTILHA DO TERRITÓRIO PALESTINO ................................................... 443

4.2 A GUERRA DE SEIS DIAS 1967....................................................................... 49

4.3 A CONDIÇÃO DOS PALESTINOS ................................................................... 532

5.CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 566

REFERÊNCIAS: ........................................................................................................ 59

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INTRODUÇÃO

A antiga Palestina é uma região que se localiza no Oriente Médio, mais

precisamente onde foi estabelecido o atual Estado de Israel. Esse território que há

milênios é conhecido por Palestina limita-se pelo Mar Mediterrâneo a oeste, o rio

Jordão e o Mar Morto a leste1, ao norte faz limite com a fronteira da atual República

Libanesa, a nordeste com as Colinas de Golã, território da atual República Árabe da

Síria. Ao sul faz fronteira com a Península do Sinai, território da atual República

Árabe do Egito. Tendo aproximadamente 27.000 Km2 de extensão, essa região

encontra-se atualmente sob ocupação israelense (HOUAT, 2006).

Além da localização no centro do mundo árabe, que comporta os maiores

produtores de petróleo, a Palestina é o centro e o berço da fé das três maiores

religiões monoteístas, a saber: Judaísmo, Cristianismo e Islamismo. Outro ponto a

ser levado em conta é a sua localização estratégica, passagem terrestre entre o

continente, asiático e africano, além da proximidade do canal de Suez, que liga o

Mar Vermelho ao mar Mediterrâneo. Isso faz com que a região seja de extrema

importância não só para os árabes, mas para o mundo. Esses são alguns dos

motivos que geram discórdia, ganância e cobiça por uma área tão pequena, mas

grande se a compararmos com seus problemas constantes e atuais.

Ao analisarmos atentamente os fatos histórico da região em discussão

percebemos que apesar dos muitos anos que já se passaram as disputas e conflitos

não mudaram muito. Sejam com maior ou menor intensidade, as tensas disputas

políticas e econômicas e os conflitos religiosos, que envolvem grandes potências

econômicas e militares de forma direta ou indireta, continuam predominando. No que

se refere à paz, parece que cada dia torna-se um sonho difícil de ser alcançado

naquela região.

A região árabe que permaneceu sob o domínio do império otomano de 1517 a

1917, portanto por 400 anos, era uma região relativamente calma e pacata até a

entrada dos ingleses em 1917. Juntamente com o movimento sionista, seu aliado, o

governo inglês deu voz à pretensão do povo judeu de ocupação do território

1 O que atualmente configura a fronteira com o Reino Hashemita da Jordânia (HOUAT, 2006).

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palestino com a Declaração Balfour2 que outorgava uma promessa de posse de

parte da Palestina ao povo e ao movimento.

Para justificar a ocupação da região, a propaganda do movimento sionista

justificava que a Palestina era uma terra vazia, sem moradores, sem indústrias,

fábricas ou comércios. De acordo com Houat (2006, p. 16) “a condensação desse

mito veio no famoso slogan sionista “uma terra sem povo para um povo sem terra3””.

Com a ocupação da Palestina após a criação do Estado de Israel em 1948, a

região passou a ser palco de grandes conflitos violentos e foram surgindo vários

campos de refugiados, causando precariedade na condição de vida da população

que ali já habitava.

As ações políticas e militares executadas pelo Movimento Sionista na

criação do estado de Israel trouxeram como consequência a criação de grandes

campos de refugiados e a expulsão dos palestinos de suas terras. Podemos

considerar que foi fator contribuinte para promover o desequilíbrio socioeconômico e

cultural da região, portanto transformando os palestinos em refugiados em suas

próprias terras. também promover uma reflexão sobre os ações aplicadas pelos

grupos armados sionistas na retirada dos palestinos da Palestina. Pretende-se

discutir do mesmo modo, sem o objetivo de exaurir a temática, o interesse inglês e

sua política em relação à Declaração Balfour e o movimento sionista envolvidos na

partilha da Palestina, pois essas ações tiveram grande importância nesse

acontecimento.

Esta pesquisa justifica-se não apenas por seu caráter inédito, em se tratando

da pesquisa cientifica abordando essa temática no campo da história na

Universidade Federal de Roraima, como também por sua relevância social, política e

cultural, dada a importância do assunto. O interesse por esta temática assenta-se no

fato de pertencer à comunidade árabe. Dessa forma, este estudo discute a questão

da Palestina sob a ótica de um aluno pesquisador que ainda adolescente presenciou

de perto a horrores das guerras e a situação do campo de refugiados. As

lembranças do passado marcaram pelas condições precárias a que aquela

população foi e ainda é submetida. Dessa forma, a verificação in loco daquela

2 Declaração feita em 1917, por Arthur James Balfour durante a primeira guerra mundial (HOUAT,

2006). 3 UNITED NATIONS. The Origins and Evolution of the Palestinian Problem. Tradução nossa. Disponível

em: www.un.org/Depts/dpa/ngo/history.html. Apud HOUAT (2006).

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realidade foi marcante e contribuiu como motivação para que este estudo pudesse

prosperar.

As reflexões sobre conflitos entre povos no âmbito das relações

internacionais, por exemplo, está presente desde os pensadores da antiguidade

grega, como é o caso de Tucídides. Nessa perspectiva é que se pretende suscitar

uma reflexão sobre o tema, com o objetivo de acrescentar mais discussões à

produção bibliográfica, neste que é sempre um tema dotado de levantes sempre

acalorados.

A documentação utilizada para realizar esta pesquisa foi plenamente

bibliográfica, tendo em vista a impossibilidade de trabalhar com fontes primárias,

dadas a multiplicidade de idiomas dos escritos sobre o tema, e o difícil acesso. Por

essa razão, a seleção de autores aqui escolhidos foi feita pela sua relevância na

complementação desse trabalho, devido às variadas perspectivas dadas ao assunto.

Os escritores adotados neste trabalho são jornalistas, historiadores e especialistas

no assunto; muitos se encontram direta ou indiretamente ligados ao conflito, outros

são autores de renome no meio acadêmico que procuram manter maior

distanciamento. Não poderíamos aqui, dispensar à utilização de autores de ambas

as partes, mesmo levando em consideração que cada um deles defende seu ponto

de vista abordando a questão com pouca ou nenhuma imparcialidade, dado o nível

de envolvimento que alguns mantêm com seu objeto de estudo.

Utilizaremos entre os principais trabalhos a obra de Finkelstein (2005), que ao

comparar os estudos de Morris (2004), trata de forma realista e coerente as

consequências geradas a partir da expulsão dos árabes palestinos de sua terra

natal. Também contribui com essa discussão Houat (2006), que afirma ser a

Palestina “a única região que não obteve a independência até o ano de 1947, devido

ao comprometimento britânico com o movimento sionista”. A escolha da obra de

Houat (2006) está amparada no fato de que este autor contribuir significativamente

para uma compreensão árabe do conflito em relação a outras obras que abordam o

mesmo tema, mas sob a ótica do sionismo.

A obra de Gomes (2003), por sua vez, foi escolhida pelo tratamento que

oferece sobre o protetorado britânico na região da palestina e o papel de destaque

do governo britânico na criação de Israel. Também procuraremos analisar a

importância dada à propaganda pelo movimento sionista, pois este possuía este

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como instrumento a seu poder e o colocava a serviço do movimento sionista para

incentivar a volta dos judeus do mundo todo à chamada “Terra Prometida”.

Neste sentido, este estudo apresenta-se configurado da seguinte forma: no

primeiro capítulo procuramos elaborar um histórico sobre a configuração territorial da

antiga região da Palestina, na tentativa de visualizar a configuração do seu território

nos moldes do passado, para uma possível comparação com a situação atual.

Também neste primeiro capítulo procuramos abordar a gênese do movimento

sionista e seu aparelhamento no intento de criar o Lar Nacional Judeu, este que foi o

objetivo maior desse movimento, ao estabelecer na Palestina o Estado de Israel,

apoiado por grandes potências da Europa e os EUA.

No segundo capítulo procuramos fazer uma abordagem sobre as mudanças

que ocorreram no Oriente Médio, o que se apresenta em nossa análise, como sendo

o que ocorreu a partir da decadência do Império Otomano, onde este se caracterizou

com o acontecimento que alterou as características geopolíticas da região e

desconfigurou, em particular a palestina.

Já no terceiro e último capítulo, tivemos como objetivo abordar a

fragmentação da Região Palestina, esta que teve a maior parte do seu território

partilhado entre Egito, Jordânia e o movimento sionista, que ficou com a maior parte

do território palestino, apoiado pelas potências detentoras do poder na Europa

naquele período. Ainda nesse último capítulo, procuramos enfocar a criação do

Estado de Israel e a situação dos refugiados árabes-palestinos, estes que tiveram

seu território expropriado.

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2. CAPÍTULO I: A CONFIGURAÇÃO DA ANTIGA PALESTINA

A Palestina sempre foi uma região em constante conflito, onde sempre esteve

permanentemente ocupada por povos de diferentes origens, instaurando desse

modo uma constante “onda” de inquietações religiosas e políticas que perduram até

os nossos tempos. Busca-se configurar sua formação territorial no passado e o que

se apresenta atualmente como sendo seu domínio espacial. Procuraremos

identificar ainda a gênese do movimento sionista no Oriente Médio e apontar as

consequências de seu surgimento para a chamada “causa Palestina” e a criação do

“Lar Nacional Judeu”.

2.1 A Gênese do território Palestino

Ao analisarmos a constituição da Palestina, convém retroceder historicamente

um longo período, pois assim podemos considerar um histórico de ocupação

importante dessa região palco de grandes conflitos. Acerca de sua formação política,

Braga nos assegura que: “A Palestina esteve organizada em cidades-estado sob a

hegemonia egípcia durante uma boa parte do II milênio a. C. Situação que mudou

nos últimos séculos desse milênio”. A Palestina foi ocupada por sucessivas levas de

imigrantes ou invasores vindos do norte e do noroeste, das ilhas da sua costa ou do

outro lado do Mediterrâneo. Segundo o autor “os historiadores costumam designá-

los com a expressão “povos do mar”“. (BRAGA, 2002. P.3)

Esses povos parecem ter-se fixado ao longo da costa e os mais conhecidos

entre eles, estão os Filisteus que ocuparam principalmente o sudoeste (costa oeste

do Neguev e Chefela). Esses povos fundaram vários pequenos reinos (Gaza, Asdod,

Ascalão, Gat e Ekron) e paralelamente aos reinos filisteus, constituíram-se primeiro

o reino de Israel no norte da Palestina e depois o reino de Judá, mais pequeno, na

zona das baixas montanhas do sul (BRAGA, 2002; HOUAT, 2006). Braga (2002 p.

2) ainda nos assegura que:

Talvez por causa da sua situação geográfica – faz parte do corredor entre a África e a Ásia e ao mesmo tempo fica às portas da Europa – a Palestina nunca foi sede de um poder que se estendesse para além das suas fronteiras. Pelo contrário, esteve quase sempre submetida a poderes

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estrangeiros, sediados na África, na Ásia ou na Europa. Em regra geral, foi só sob as potências estrangeiras que ela teve alguma unidade política.

Desse modo, para compreendermos a formação territorial da região da

Palestina é necessário perceber que esse processo se constituiu de forma não rara,

bastante conflituosa. Sobre sua localização, Houat (2006 p. 7) nos informa que:

O território onde foi estabelecido o atual Estado de Israel era chamado de Palestina, é limitado pelo Mar Mediterrâneo a oeste, o rio Jordão e o Mar Morto a leste (o que atualmente configura a fronteira com o Reino Hashemita da Jordânia). Ao norte limita-se pela fronteira com a atual República Árabe da Síria, que atualmente se encontra sob ocupação israelense. Ao sul faz fronteira com a Península do Sinai, território da atual República Árabe do Egito.

O território da Palestina tem aproximadamente 27.000 Km2 de extensão e o

que compreende a atual Palestina, localiza-se dentro do território de Israel4. Seu

território é formado, de um modo geral, por uma planície costeira, uma faixa de

colinas e uma cadeia de baixas montanhas cuja vertente oriental é mais ou menos

desértica (BRAGA, 2002).

Segundo Houat (2006 p. 7) “pesquisas arqueológicas, datam de cem mil anos

a presença humana na região da Palestina”. Ainda para o mesmo autor, as mesmas

pesquisas confirmam registros de que “povos nômades oriundos da África estiveram

ali há cerca de 50 a 80 mil anos deixarem o local, que foi posteriormente ocupado

pelos Neandertais e por volta de 45 mil anos retornaram para a Palestina”.

As primeiras comunidades não nômades constituíram-se por volta de 11.000

anos, e foram elas que ocuparam esse território de forma contínua e a cidade de

Jericó, famosa por suas muralhas, foi fundada por esses primeiros habitantes que se

fixaram de forma permanente na Palestina. Consta também que vários outros povos

passaram pela região, miscigenando-se com outros que lá já habitavam (BRAGA,

2002). Ainda o autor segue...

A região permaneceu sob a hegemonia Egípcia durante dois milênios a.C. e seus habitantes eram chamados de canineus ou fenícios, e ocuparam a costa dos atuais Líbano e Síria, formando as cidades-estados; porém o termo canineus é voltado para a comunidade que trabalhava no solo e o termo Fenícios sempre foi associado aos que trabalhavam com o comércio marítimo.

4 ALMANAQUE ABRIL – ano 31 – edição 2005. São Paulo: Editora Abril, 2005.

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Para Houat (2006 p. 7) “o povo judeu (também chamado de israelita ou

hebreu) teria sua origem em Ur, no atual Iraque”. Os judeus era um povo semita,

politeísta, até a revelação divina recebida pelo patriarca Abraão para abandonar o

politeísmo e também levar seu povo para a terra conhecida por Canaã por volta de

2.200 a.C., a atual Palestina afirma Houat. Desse modo, era inevitável que a disputa

entre os cananeus - que já habitavam a região - e os invasores, se desse pelo

controle de território. Nesse mesmo período, os Filisteus e os judeus construíram no

norte da Palestina, o Reino de Israel e pouco tempo depois foi criado o reino de

Judá em proporção menor na zona de baixas montanhas do sul (HOUAT, 2006).

A conquista da região pelo império Assírio em 722 a.C. acabou provocando o

desaparecimento do Reino de Israel, enquanto os reinos dos Filisteus e de Judá

permaneceram sobre domínio do Império Assírio, que representava entre o século

IX e o século VII a.C., uma grande potencia da região5.

No ano 539 a.C., quando o imperador persa Ciro tomou o poder da Babilônia, muitos hebreus puderam voltar à antiga Palestina. Depois da conquista do império persa pelo macedônio Alexandre, a antiga Palestina ficou submetida à influência helenística. No início do século II a.C. passou do domínio da dinastia ptolomaica, que governava então o Egito, para os selêucidas da Síria. Estes impuseram a helenização à força, provocando a reação armada dos hebreus mais conservadores. O país recuperou a independência sob a dinastia dos macabeus

6.

No final do século VII a.C o Egito e a Babilônia disputavam entre si a imensa

porção de terras do império Assírio. Finalmente os Babilônios conseguem dominar a

região e anexar a Palestina ao seu território, dominando-a por oito décadas,

expulsando os Impérios Persas Somente por volta de 63 a.C. a Palestina é anexada

ao Império Romano. Os judeus, moradores da região se revoltam contra o jugo

Romano e em resposta o império Romano reprime com violência expulsando-os da

região (BRAGA, 2002). Para Senna (2008 p. 33):

. Com o surgimento do Cristianismo, a Palestina tornou-se muito importante

no campo religioso, passando a ser palco de grandes eventos, como o nascimento

de Jesus, sua crucificação e ressurreição. Com a divisão do Império romano em

dois: o do Ocidente e o do Oriente, também chamado império Bizantino, a Palestina

ficou sob o domínio do último, tornando assim maior parte de sua população cristã.

5 BRAGA, Alfredo. A Palestina. Comissão Justiça e Paz CNIR/FNIRF. Portugal, 2002. Disponível em:

www.alfredo-braga.pro.br/discussoes/palestina.html. 6 ENCICLOPÉDIA BARSA, 2001, v. 11, p. 64.

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Ainda a respeito da sua constituição territorial, registros informam que ainda por

volta de 600 da idade cristã, ocorreu na Península Arábica (região que comporta os

atuais Reinos da Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Estado do Kuwait e

outros) uma revolução religiosa e política, como nos aponta Houat (2006 p. 9):

Com o surgimento do Islã na região, formou-se ali o Império Árabe-Muçulmano, de caráter tanto político quanto religioso, que levou a nova religião, a língua e a cultura árabe para além da península, conquistando e arabizando os antigos territórios da Assíria, Mesopotâmia, Egito, e demais regiões vizinhas. Em 638 d.C. toda a Palestina passou para o domínio arábe-muçulmano, onde a sua população original aos poucos foi adotando o islamismo como religião (porém alguns habitantes mantiveram o cristianismo adotado na época do Império Bizantino), e a língua árabe em substituição ao grego e ao aramaico, então correntes na região.

Como apontou o autor acima mencionado, “não houve uma troca de

populações, ou seja, os novos conquistadores árabes não expulsaram os habitantes

nativos, e nem sequer houve uma imigração em massa dos árabes da península

para a Palestina”. Ainda segundo o mesmo autor, o que ocorreu foi “uma troca

cultural”, onde tanto os nativos que ali habitavam quanto os conquistadores

“absorveram de forma recíproca aspectos da cultura do outro”. A primeira cruzada,

organizada na Europa em 1099, com o objetivo declarado de tirar a cidade sagrada

de Jerusalém do domínio islâmico e trazê-la para o domínio cristão conquistam a

cidade e, no ano seguinte, ocorre à criação do Reino Latino de Jerusalém (BRAGA,

2002). A partir daí, a cidade de Jerusalém ficou então sob domínio cristão-europeu

até ser novamente tomado por forças muçulmanas, comandadas pelo curdo

Saladino, fundador da dinastia aiúbida, que passou a governar a região7.

Devido a problemas internos, o Império Árabe-Muçulmano deu lugar ao

Império Turco-Otomano8, um Império fundado por Othman I no século XIX D.C. e

que recebeu o nome do seu fundador (HOUAT, 2006). Podemos observar no mapa

a seguir, como se constituía o Império Otomano.

7 BRAGA, Alfredo. A Palestina. Comissão Justiça e Paz CNIR/FNIRF. Portugal, 2002. Disponível em:

www.alfredo-braga.pro.br/discussoes/palestina.html. 8 Sobre a formação, trajetória e o colapso do Império Otomano ver: HOURANI, Albert H. Uma História

dos Povos Árabes. Tradução: Marcos Santarrita. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.

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Figura 01: Mapa do Império Otomano (1878 - 1918)

Fonte: http://wps.ablongman.com/wps/media/objects/419/429222/thumbs/ch27_653.html

O novo Império colocou sob sua soberania os territórios que compunham o

então Império Árabe-Muçulmano, passando a Palestina em 1517 para o seu

domínio, essa situação que durou até o fim da I Guerra Mundial. No período após a

Primeira Guerra Mundial, a Palestina e vários outros territórios turco-otomanos

passaram para o domínio do Império Britânico (como a Jordânia, o Iraque e outros),

sendo que outros territórios turco-otomanos passaram para o domínio francês

(Líbano, Síria), no acordo chamado de Sykes-Picot9, celebrado entre as duas

potências vencedoras.

Por ser uma região revisitada e habitada por vários povos, a Palestina sempre

foi considerada uma região conflituosa do ponto de vista político, assim

considerando suas características territoriais estratégicas, pois como já abordado, a

região situa-se num estreito trecho de favorável passagem entre a África e Ásia, e

sempre foi palco de grande número de conquistas, pelos mais variados povos, por

se constituir num corredor natural para os antigos exércitos. Quando nos referimos à

propriedade territorial da região da Palestina - a chamada terra prometida -, o

9 Acordo de 1916 chamado de Sykes-Picot, que recebeu o nome dos Secretários de Estado

responsáveis por ele: Mark Sykes (Inglaterra), e Georges Picot (França) Originalmente, o acordo Sykes-Picot previa que a Palestina ficaria sob controle francês, mas percebendo que a Inglaterra poderia ser a grande aliada desejada, o movimento sionista convenceu a França a abrir mão do seu controle em favor do país. HOUAT, Stephan Fernandes. A criação do Estado de Israel e um Estado único como solução dos conflitos. Centro Universitário do Pará. Belém/PA: CESUPA, 2006 p. 25/83.

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20

assunto suscita para muitos o grande questionamento como nos aponta Spohr

(2002, p. 3):

Mas então, de quem é a Terra Prometida, afinal? Os judeus se fixaram primeiro em Jerusalém, antiga cidade de Canaã, há pelo menos 4 mil anos. A invasão egípcia os obrigou ao exílio, de onde retornaram sob a liderança de Moisés. Durante a dominação romana, eles se dispersaram pelo mundo - a chamada diáspora. Em 635 d.C., com a expansão islâmica, os muçulmanos chegaram à região e lá permanecem até hoje. Somente em 1917, com a Declaração Balfour, e posteriormente após a Segunda Guerra Mundial, os judeus de todo o mundo começaram a retornar ao Oriente Médio.

Considerando esses apontamentos acerca da formação político-territorial da

palestina, devemos considerar que os judeus - que tanto reivindicam o território -,

apenas retornaram à Palestina após 1917 e que a mesma foi ocupada

sucessivamente por vários povos. Convém considerar ainda, que essa região, palco

de conflitos constantes, certamente não terá uma unidade quando o assunto se

tratar de direitos à sua propriedade territorial. O poder sobre o território Palestino é

invariavelmente o assunto mais discutido por sua população ao longo dos tempos, e

o que tem gerado tantos conflitos atuais naquela região e não temos como resolver

o impasse que permanece sobre essa questão, suscitando apenas o

questionamento sobre a propriedade da região, se é que podemos considerar tratar-

se de apenas um único povo.

2.2 O Movimento Sionista e a Criação do Lar Nacional Judeu.

Com a dispersão dos judeus pelo mundo, feita pelo Império Romano, muitos

deles alimentaram o desejo de retornar à Palestina, porém esse desejo permaneceu

de forma mais utópica do que prática (estando mesmo presente na fé judaica, que o

Messias levará todos os judeus para a Palestina), até que essa idéia começou a se

concretizar com o surgimento do sionismo político. Apesar dessa dispersão dos

judeus pelo mundo, alguns deles permaneceram na Palestina, sendo que na época

do Império-Turco Otomano a estimativa é que eles formavam 10% da população

local, enquanto os outros 90% eram árabes palestinos, de maioria muçulmana, mas

também havendo uma minoria de cristãos (HOUAT, 2006).

Page 21: a criação do estado de israel e a fragmentação da palestina

21

Desse modo, o sionismo ganha propagação no centro e no leste europeu no

final do século XIX, em grande parte por causa das perseguições, que os judeus

sofriam nos países em que habitavam na Europa, por conta do antissemitismo

(nome criado na Alemanha para o racismo contra judeus pelo fato deles serem um

povo semita, como os árabes, os cananeus, os filisteus e outros). Essas

perseguições eram feitas na forma de depredação das suas casas e de seus

estabelecimentos comerciais, ataques a pessoas que caminhavam nas ruas, dentre

outras. Isso ocorria por uma série de fatores, como por exemplo, o pensamento de

que os judeus eram os responsáveis pela morte de Jesus (durante muito tempo foi

alimentada pela Igreja Católica), além da culpa que os governantes lançavam contra

eles para justificar os problemas sociais, e assim poder mascarar a sua própria

ineficiência, e a idéia de que os judeus eram estrangeiros em solo europeu e outras

predominantemente negativas .

Sobre a ideia que propulsionou o surgimento do sionismo, Houat (2006 p. 10)

acrescenta que:

Partindo da idéia de que os judeus ao redor do mundo, através de ligações religiosas, étnicas, culturais e ancestrais formavam uma única nação e como tal precisariam de um Estado para onde essa nação pudesse convergir para escapar do anti-semitismo e preservar a cultura judaica, foi criado o movimento sionista.

A que deu origem ao chamado nacionalismo judaico. Na sua obra, Herzl

apresenta os objetivos para a criação de um Estado habitado exclusivamente por

judeus, que segundo ele, seria a única forma de os protegerem do anti-semitismo

que tomava corpo na Europa no período, em especial na Rússia czarista. Em seu

manifesto, Herzl assim referia: “... as tentativas de colonização, feitas por homens

verdadeiramente bem intencionados, não deram até aqui, os resultados que eram de

esperar, com quanto, tenham construído experiências bem interessantes”. De acordo

com Bartel (2006, p. 18) Herzl afirmava que “a questão judaica não era nem social,

nem política e sim nacional”, pois “o anti-semitismo só seria resolvido através da

criação de um estado Nacional Judaico”. Desse modo, Herzl10 “conclamava todos os

10

Herzl criou o sionismo político motivado pelo conhecido caso de antissemitismo francês: o caso

Dreyfus (1894), oficial do exército francês acusado de repassar informações para o exército alemão. Fonte: BARTEL, (2006).

Page 22: a criação do estado de israel e a fragmentação da palestina

22

judeus a participarem do movimento, transformando o problema judaico numa

questão política” (BARTEL, 2006).

Entre os aspectos que contribuíram para que o movimento sionista pudesse

expandir-se favoreceram o cenário favorável e o apoio judeu que ganhou o

movimento. Para isso foram utilizados diversos meios para sua propagação. Do

ponto de vista econômico o cenário favorável ao movimento formava-se, pois como

nos informa Toledo (2001 p. 4):

O pano de fundo da irrupção do movimento sionista foi a rápida capitalização da economia russa depois da reforma de 1863, que tornou insustentável a situação das massas judaicas das pequenas cidades. No Ocidente, as classes médias, trituradas pela concentração capitalista, começam a se voltar contra o elemento judeu, cuja competição agrava sua situação.

A respeito da construção da ideologia sionista, Schvartzman (2005 p. 35)

considera que esta se constitui desse modo:

A ideologia sionista foi erigida sobre o mito de retorno a Sion. A pátria recebeu o nome de Sion, o Movimento de Libertação Nacional recebe o nome de sionismo, e a história transformou-se num novo retorno a Sion. A renovação da nacionalidade judaica obrigou um retorno a símbolos, ritos e mitos da nacionalidade, da religião e da história judaicos.

Para compreendermos a ideologia nacionalista do movimento sionista, sem

muito aprofundamento nessa temática para não incorrermos em redundâncias ou

simplificações, devemos também considerar os apontamentos de Bitan (1997) apud

Schvartzman (2005 p. 35), quando nos assegura que:

O sacrifício pessoal com objetivos nacionalistas deve ser entendido como um valor supremo em todos os movimentos nacionais. Nessas sociedades, o mito serve para interpretar o cotidiano e fortalece a consciência individual e coletiva, instiga sentimentos, direciona um caminho e uma forma de atuação sem necessariamente ter uma exatidão histórica.

De acordo com Houat (2006 p. 11), no dia 29 de agosto de 1897, aconteceu o

primeiro congresso sionista na cidade de Basiléia na Suíça, “oficializando” o

nascimento do sionismo político moderno. Esse evento, que contou com a presença

de 197 participantes e inicialmente estava programado para ocorrer em Munique, na

Alemanha, pelo fato do local ter restaurantes de comida kosher (alimento preparado

Page 23: a criação do estado de israel e a fragmentação da palestina

23

de acordo com as leis judaicas). Porém, os líderes das comunidades judaicas da

cidade não quiseram ser anfitriões desse congresso.

Uma das diretrizes estabelecidas nesse congresso foi buscar o consentimento

das potências mundiais para concretizar os objetivos do sionismo. Nesta reunião foi

formada uma comissão de vários rabinos cuja missão era examinar a viabilidade da

ideia de Herzl e alguns deles foram até à Palestina verificar se era uma alternativa

viável edificar um Estado Judeu. Após a reunião, Herzl escreveu em seu diário “Na

Basiléia fundei o Estado Judeu” (HOUAT, 2006). Ao mesmo tempo era formada uma

comissão para partir rumo à Palestina e ver a possibilidade de edificar o Estado

Judeu. Passado algum tempo, a comissão envia um telegrama com a seguinte

mensagem: “A noiva é bela, mas está casada com outro homem”. Essa foi a

metáfora usada por Herzl para dizer que aquela terra já era habitada por outro povo

(HOUAT, 2006). A respeito da escolha do local para a instalação do chamado “Lar

Nacional Judeu”, Braga (2002 p. 13) que aqui nos assegura aqui:

Os nacionalistas judaicos não tardaram a optar pela Palestina. Essa escolha, embora não fosse necessária, era natural e particularmente mobilizadora, por causa da ligação do judaísmo à Palestina e da atração que ela exerce mesmo sobre muitos judeus que não são religiosos ou originários desse país. O nacionalismo judaico tomou assim o nome de sionismo, palavra que deriva de Sião, um dos nomes de Jerusalém na Bíblia.

Segundo Houat (2006 p. 12), com o “objetivo de levar o plano sionista

adiante”, foi criado em 1901, o Fundo Nacional Judaico, que tinha como objetivos

“levantar uma grande soma de recursos de doadores e iniciar uma compra de

grandes extensões de terra na Palestina por pessoas comuns, depois transformar

essas terras em comunidades agrícolas que seriam os núcleos iniciais do Estado de

Israel”. Essas mesmas terras que eram consideradas propriedades inalienáveis dos

judeus e, portanto, os árabes não podiam arrendá-las, comprá-las ou trabalhar

nelas11. Segundo o autor palestino Said (1990)12 “essa regra permanece até os dias

atuais em Israel, sendo que as terras da Palestina continuam sendo propriedade do

11 GOMES, Aura Rejane. A Questão da Palestina e a Fundação de Israel - Dissertação de Mestrado

na USP. São Paulo, 2001, p. 27. Disponível em: www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8131/tde-24052002- 163759. 12

SAID, Edward. Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente. São Paulo: Cia. das Letras,

1990 apud HOUAT, Stephan Fernandes. A criação do Estado de Israel e um Estado único como solução dos conflitos. Belém Centro Universitário do Pará. Belém/PA: CESUPA, 2006 p. 12.

Page 24: a criação do estado de israel e a fragmentação da palestina

24

Fundo Nacional Judaico”. Essa foi possivelmente uma estratégia pensada para

forçar os palestinos a sair do seu território e ir para os países vizinhos, como forma

de deixar vago o território que seria objeto de futura imigração judaica.

O objetivo primário era trazer um grande contingente de judeus para povoar

as terras como colônia, expandindo-se com o tempo por todo o resto da Palestina, a

fim de formar o Estado Nacional Sionista dos judeus. Mas para realizar esse objetivo

era necessário a expulsão dos palestinos das suas terras, o que ficou conhecido

como êxodo Palestino.

Além dessas metas do movimento, também existia um planejamento

estratégico de ações específicas, que visavam atingir as metas conforme seus

próprios objetivos que eram: Manter as comunidades judaicas fora de Israel, vivendo

em guetos para impedir a mistura com outras raças, assim não perderiam a sua

identidade e sua lealdade ao Estado de Israel, para isso, utilizaram meios de

persuasão para com as grandes potências, aproveitando o momento de

transformação provocado pela Primeira Guerra Mundial em todo mundo (HOUAT,

2006).

Após a Primeira Guerra Mundial e no período entre guerras, a fuga em massa

da Europa temendo o nazismo e suas atrocidades também fez aumentar o fluxo

migratório de judeus para a Palestina. Nesse aspecto, Ishibashi (2009 p. 30)

considera que:

Tanto a Inglaterra quanto os Estados Unidos permitiram que desde 1933, Hitler perseguisse os judeus, além de terem fechado suas fronteiras aos milhares de refugiados que escapavam buscando asilo. A Inglaterra, que naquele momento detinha o poder político e militar sobre o território palestino, fez um acordo com colonos sionistas para garantir que estes pudessem expulsar os palestinos de suas terras, confiscarem seus bens e obrigar, antes mesmo da votação da ONU, a expulsão de mais de 1 milhão e meio de pessoas. Essa política respondia à orientação, ratificada na reunião sionista de Baltimore em 1942, de estabelecer na Palestina um Estado essencialmente judeu.

Desse modo, podemos considerar que o sionismo foi um movimento

concebido para criar um Estado político com características religiosas, para manter a

união dos grupos judeus oriundos de varias regiões do mundo. Os judeus que eram

uma pequena minoria da população que habitava a Palestina chegaram retirando os

habitantes nativos e levando para lá pessoas do mundo inteiro. Quem contribui com

essa discussão é Gomes (2001, p. 21) que assim nos assegura:

Page 25: a criação do estado de israel e a fragmentação da palestina

25

É interessante notar a especificidade desta empresa, inédita na história, que objetivou a criação de um Estado nacional distante geograficamente do povo em questão, “disperso pela Europa, que deveria constituir a nação”.

Ainda para Gomes (2001 p. 13) “seria bastante difícil supor que o sionismo

pudesse obter o apoio tanto de judeus como o de não-judeus, já que dificilmente um

grande número de pessoas aprovaria uma troca de populações de tamanha

dimensão”. O movimento sionista, ao perceber que a idéia da expropriação das

terras palestinas não seria bem aceita e que não teriam seus apelos garantidos de

forma democraticamente, também “lançou uma série de argumentos baseados em

distorções históricas, que até os dias atuais continuam sendo propagados” (GOMES,

2001). Segundo Palumbo (1998)13 apud Gattaz (2003):

(...) dos principais obstáculos para implementação das metas sionistas foram as seguintes: como convencer o povo judeu a uma mudança em massa para a Palestina, já que mantinham laços muito fortes com a sociedade européia e exerciam cidadania plena; segundo: as populações nativas da Palestina, ausentes das discussões poderiam ser alvo de marginalização, despejo e perda da identidade; e último: como acomodar o maior número possível de Judeus na “terra prometida” pois estes representavam apenas 10 % da população nativa e de origem árabe.

Podemos assim considerar que o movimento originou-se com um plano

arquitetado por seus líderes para a tomada de toda a Palestina, expulsando a

população local para fora de seus lares de forma indiscriminada. O objetivo final do

movimento sionista era a aquisição da Palestina e de toda Cisjordânia e,

possivelmente algumas áreas de sul do Líbano e sul da Síria (MORRIS, 2004).

Neste sentido, Ishibashi (2009 p. 30) nos aponta:

Assim, financiados pelo imperialismo britânico e depois pelo norte-americano, os sionistas se utilizaram de diversas medidas para favorecer a imigração judia para o território palestino, incluindo imensas facilidades econômicas. A administração britânica na Palestina lançou um decreto que concedia a propriedade da terra a todo judeu que construísse uma simples torre, estimulando a ocupação de terras pelos judeus e a imigração, e consequentemente a expulsão e expropriação das terras palestinas. Assim, as aldeias palestinas foram cortadas por um número cada vez maior de propriedades judias, enquanto se formavam bandos paramilitares de sionistas que se dedicavam a aterrorizar os camponeses palestinos protagonizando diversos crimes, como o massacre de Kibiya em 1936, Deir Yassin em 1948 etc. Esses bandos foram comandados por Ariel Sharon e Menahem Begin, formando a base do Estado sionista e de seus atuais partidos políticos.

13

PALUMBO, Michael. The Palestinian Catastrophe: the 1948 expulsion of a people of their homeland. Londres, 1998. Tradução Fadel Nagm

Page 26: a criação do estado de israel e a fragmentação da palestina

26

Essas ações planejadas do movimento sionista apanharam um povo com

muita ingenuidade do ponto de vista de defesa militar e desorganizado socialmente;

além do mal preparo da força de defesa árabe, o que acabou facilitando a vitória do

grupo armado sionista haganah14, que soube aproveitar a situação militar

enfraquecida da população local e provocar a derrota desastrosa total dos árabes.

Para o movimento sionista a derrota dos árabes foi uma vitória histórica e o

nascimento de um novo Estado Nacional Judaico com tendências ocidentais, em

uma região de maioria mulçumana conservadora, um marco em termos de

mudanças político-religiosas naquela região. A respeito das mudanças políticas na

região, Morris (2004 p. 112) acrescenta que aqui:

As austeridades contra o povo Palestino acontecem quando o Haganah utiliza o Dalet

15 contra a esperada invasão árabe após 15 de maio de 1948.

O aumento das ações militares de ambos os lados provocou o que é conhecido por êxodo dos árabes, aumentando o número de refugiados.

De acordo com Finkelstein (2005, p. 135) “no plano Dalet, os grupos sionistas

dissidentes lançaram uma série de ataques militares que tiveram como resultado a

fuga dos árabes da Palestina”. Os ataques foram resultado da expansão do conflito.

Ainda neste período, o braço armado do movimento sionista, o Haganah, usou

várias táticas de guerra para obrigar os palestinos a partirem em fuga deixando suas

casas. Ainda segundo Finkelstein (2005 p. 138), esses grupos armados utilizaram de

meios indiscriminados e invariavelmente cruéis para expulsar e amedrontar a

população da palestina, como nos informa aqui:

Eles utilizavam jipes para percorrer os vilarejos e transmitir por alto-falante sons de horror, entre eles gritos, lamentos e gemidos angustiados de mulheres árabes, toque de sirenes e alertas sonoros de incêndio interrompido por uma voz sepulcral dizendo em língua arábica: “salvem suas almas, ó fieis! “Fujam para salvar as suas vidas” além de incendiadas

14 Organização paramilitar judaica, que constituiu a base do exército israelense. Embora ilegal para

os mandatários da região, o grupo constituía a maior força militar dos sionistas. Sem dúvida, foi a base do exército israelense formado oficialmente no final da década de 1940, tendo o inicio de suas atividades na década de 1930. Fonte: LIMA, Robson da Silva Dutra. A Formação do Estado de Israel: a influência britânica no conflito Árabe – Sionista. 2006. Disponível em: www.fapa.com.br/monographia. Acesso em 20 de março de 2011.

15 Plano de segurança emergente do estado judeu junto aos blocos de assentamentos fora do

território do seu domínio.

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27

as colheitas. Todas essas ações tiveram por objetivo de levar ao exílio os povos palestinos, por um modo de expulsão de seu território. Relato de um oficial da Haganah, testemunha ocular. (FINKELSTEIN, 2005, p. 138 apud Palumbo, p. 64).

A respeito da “expulsão” dos palestinos, Finkelstein (2005 p.131) nos informa

dessa maneira aqui:

(...) a fuga dos árabes palestinos divide-se basicamente em duas etapas: novembro de 1947, até a declaração de independência de Israel em maio de 1948 e, a segunda refere-se ao período de junho de 1948 até a assinatura dos acordos de armistício em meados de 1949.

É necessário considerar que os palestinos abandonaram suas casas em

épocas diferentes, o que tem tornado os dados do período imprecisos sobre a

quantidade desses refugiados, pois a região da Palestina encontrava-se em

constante “estado de guerra”, além de um censura rigorosa. A esse respeito Morris

(2004, p.120) discorre que aqui:

(...) Os discursos, debates, diário e memorandos produzidos pelos burocratas sionistas passavam invariavelmente pelo crivo da censura política antes de chegar à publicação; boa parte era desaparecia ou eram distorcidos aos historiadores e estudantes que utilizam estas fontes (...)

Podemos ainda considerar que, as idéias de formação do movimento sionista

moderno, se é que podemos chamá-lo assim, do ponto de vista do viés religioso,

teve início na parte oriental da Europa, e se espalhou mais tarde para outras

regiões, tendo como base também a questão religiosa extraída do Velho Testamento

(SENNA, 2008). Como consta na citação bíblica no Livro de Gênesis, capítulo doze

versículo sete interpretadas pelo movimento.

Ora, o Senhor disse a Abrão: Sai-te da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai para a terra que eu te mostrarei. E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei e engrandecerei o teu nome; e tu serás uma bênção. E abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra. Assim partiu Abrão como o Senhor lhe tinha dito, e foi Ló com ele; e era Abrão da idade de setenta e cinco anos quando saiu de Harã. E tomou Abrão a Sara, sua mulher, e a Ló, filho de seu irmão, e todos os bens que haviam adquirido, e as almas que lhe acresceram em Harã; e saíram para irem à terra de Canaã; e chegaram à terra de Canaã. E passou Abrão por aquela terra até ao lugar de Siquém, até ao carvalho de Moré; e estavam então os Cananeus na terra. E apareceu o Senhor a Abrão, e disse: A tua descendência darei esta terra. E edificou ali um altar ao Senhor, que lhe aparecera. E moveu-se dali para a

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28

montanha do lado oriental de Betel, e armou a sua tenda, tendo Betel ao ocidente, e Ai ao oriente; e edificou ali um altar ao Senhor, e invocou o nome do Senhor. Depois caminhou Abrão dali, seguindo ainda para o lado do sul (BIBLIA, 2006. gênesis 12 p.34, LLC publicação Revista Senna eletrônica, tradução de João Ferreira de Almeida )

Ainda de acordo com a publicação da Revista Senna com base neste trecho

da Bíblia Sagrada, nasce a questão religiosa sionista, cuja missão “é criar um lar

nacional sionista, para os judeus espalhados pelo mundo, tendo como local

escolhido a Palestina“. Pode-se considerar que a apropriação do território foi feita de

maneira equivocada, pois se havia um objetivo coerente para a criação do estado

judeu, antes de tudo deveria ser constituída uma sociedade ou Estado Judeu em

1948, com suas instituições civis: relação exterior, economia, indústria, comércio e

defesa (SENNA, 2008, p.11).

Após isso é que poderia ser formado um exército oficial do Estado. Isso não

ocorreu. Pelo contrario, começou-se constituindo o Haganah, o Irgun e o Stern16,

nomeação de três braços armados do movimento sionista. Esses três grupos tiveram

a missão de deflagrar a guerra de 1948 e expulsar os palestinos.

A criação do Estado de Israel em 1948 (assunto que será analisado de forma

mais aprofundada adiante) teve a contribuição direta do sionismo, e após a

declaração de sua criação, os grupos sionistas passaram a ser uma só unidade,

formando o exército de defesa de Israel nos moldes atuais (PAPPE, 2007). A

questão do militarismo e superioridade militar israelense permaneceu no novo

Estado recém criado. A comparação mais exata, sem recair no erro pode ser

explicitada: o Estado de Israel assemelha-se a um quartel com potencial para alistar

acima de 50% de sua população para entrar em combate no prazo de 48 horas nas

linhas de frente. Essa é uma característica exclusiva do estado de Israel (RACHID,

1999).

Considerando as características a respeito do implemento sionista para a

região da Palestina e sua participação direta na criação do Estado de Israel, não se

poderia esperar consequências promissores na região, pós 1948.

16 O Stern (ou Stern Gang) foi formado a partir de uma dissidência dentro do Irgun, e contou com a participação

de Yitzhak Shamir, que depois viria a ser Ministro das Relações Exteriores do governo de Menachen Begin, e algum tempo depois, Shamir viria a ser ele próprio Primeiro-Ministro de Israel. Fonte: HOUAT, (2006).

Partisan é um membro de uma tropa irregular formada para se opor à ocupação e ao controle estrangeiro de uma determinada área.

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29

Conforme Schvartzman (2000, p.27) os conflitos com o mundo árabe

continuaram e, em 1956, iniciou-se a Campanha do Sinai, um enfrentamento que

envolveu Israel e o Egito que tinha nacionalizado o Canal de Suez, impedindo a

navegação de navios israelenses. Israel voltou a enfrentar-se com os países árabes

em 1967 na decisiva Guerra dos Seis Dias, quando diante da iminente ameaça da

aniquilação proferida pelo mundo árabe, Israel lançou ao ataque e, em seis dias,

infligiu uma derrota esmagadora aos exércitos da Síria e do Egito conquistando toda

a Península do Golan, a Cisjordânia e a Faixa de Gaza, e finalmente reunificando

sob seu domínio a cidade de Jerusalém sua capital. (SCHVARTZMAN, 2000, p.27)

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30

3. CAPÍTULO II: A FRAGMENTAÇÃO DA PALESTINA

Neste capítulo temos como objetivos configurar o processo de desintegração

e decadência do Império turco Otomano a partir do fim da Primeira Guerra Mundial

em 1917/1918 e a criação do Estado de Israel em 1948. Pretendemos analisar esse

assunto de forma a não esgotar esse tema, dada a sua complexidade e extensão,

pois os múltiplos fatores envolvidos não permitem uma análise esgotada e sim mais

uma reflexão sobre o assunto. Também procuramos abordar neste capítulo, a

partilha do Império Otomano, esta foi uma ação que descaracterizou territorialmente

a região e que jamais retrocederia ao que era no passado. Também procuramos

abordar o que ficou conhecido como o “Mandato Britânico na Palestina”, este que

contribuiu para a fragmentação da região.

3.1. A Decadência do Império Otomano

No século XIII surge o império Turco-Otomano (ou Osmanli), fundado por

cavaleiros falantes de turco e convertidos ao islã. Seu nome vem do Osman, um

ghazi (guerreiro da fé muçulmana) das fronteiras, nascido no século XIII, que fez sua

campanha nos limites do Império Romano do Oriente (ou Bizantino) na Anatólia

(FROMKIN, 2008). Aqui o autor destaca que “os sucessores de Osman,

conquistaram e substituíram o Império Bizantino e rumaram cavalgando a novas

conquistas em todas as direções como: ao norte até Criméia, a leste até Bagdá e

Basra, ao sul até os litorais da Arábia Saudita e do Golfo, a oeste até o Egito e a

África do Norte”.

Mas apesar de terem conquistado territórios por todo Oriente Médio, Europa e

África, nos aponta Fromkin (2008 p. 40) que “os otomanos nunca evoluíram o

suficiente para ultrapassar suas origens como um bando de guerreiros

saqueadores”. Os otomanos perceberam que a sua forma de governar não iria durar

por muito tempo, pois as transformações que estavam ocorrendo em todo o mundo

tendiam a retirar-lhes de sua poltrona confortável de mandatários daquele Império.

Durante os séculos XV e XVI, quando as conquistas já não representavam uma

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31

realidade para os turcos otomanos, estes perceberam tardiamente, como nos

informa Fromkin (2008 p. 40) “que haviam dominado a arte da guerra, mas não as

de governo”. Ainda segundo Fromkin (2008 p. 40):

No século XIX os otomanos tentaram realizar reformas extensas, como a tentativa de centralizar o governo e estabelecer o comando do grão-vizir, o ministro-chefe do sultão; tentaram racionalizar a tributação e o alistamento, estabelecer garantis constitucionais; fundar escolas públicas seculares que oferecessem treinamento técnico, vocacional e outros cursos; e assim por diante. Um início – não muito mais do que isso – foi feito nessa linha. A maioria das reformas nunca saiu do papel. Uma espécie de anacronismo do mundo moderno, o periclitante regime otomano estava fadado a desaparecer.

Ainda em 1517 os otomanos conquistam a região da Palestina,

permanecendo até o fim da Primeira Guerra Mundial em 1917, onde a região passa

para o domínio Britânico, que ficou conhecido como o Mandato Britânico (1918-

1948), pois até antes da eclosão da Primeira Guerra Mundial, em 1914, o império

Turco-Otomano era outro império (FROMKIN, 2008).

Page 32: a criação do estado de israel e a fragmentação da palestina

32

Figura 02 : Mapa do mandato Britânico na Palestina

Palestina bajo el Mandato Británico, 1923 -1948

Fonte:http://www.palestina.int.ar/mapas.html .acesso 18/04/2013

No início do século XX a Europa era considerada a força política e econômica

dominante e acreditava que por muitos anos ainda iria permanecer com esse status.

Seria fácil supor que o poder da Europa, dominante em grande parte do mundo,

poderia um dia ser retirado de cena. E a Europa percebeu que estaria carecendo

aproximar-se do Oriente Médio, pois esta região não havia sido moldada social,

cultural e politicamente ao modelo imperialista, ainda que tivesse despertado

interesse de diplomatas e políticos ocidentais durante o século XIX, (FROMKIN,

2008).

Page 33: a criação do estado de israel e a fragmentação da palestina

33

Até o final do século XIX, não havia o interesse Europeu em alterar o cenário

político daquela região dominada pelo Império Otomano. As críticas do início do

século XX ao império do sultão, não provocavam até aquele período nenhuma

alteração política no Oriente Médio. Fromkin (2008 p. 28) nos aponta que:

Poucos europeus da geração de Churchill se preocupavam com o que ocorria nos debilitados impérios do sultão otomano ou do xá da Pérsia. Um massacre ocasional de armênios pelos turcos levava a um clamor público no Ocidente, mas evocava uma inquietação semelhante à dos massacres de judeus pelos russos. Estadistas experimentados, que acreditavam que nada havia a fazer, examinavam petições que pediam reformas ao sultão, e assim a questão encerrava.

Esse cenário foi alterado principalmente com a inserção de personagens

políticos ingleses interessados em alterar a configuração geopolítica da região.

Nesse processo, desempenharam papel decisivo na criação do Oriente Médio

moderno, Churchill, Asquith e alguns membros do Conselho de Ministros, como Sir

Edward Grey, secretário de Relações Exteriores, David Lloyd George, ministro da

Fazenda e, mais tarde, Lorde Kitchener, ministro da Guerra, todos políticos ingleses

de renomada importância no período (FROMKIN, 2008). As políticas adotadas pelo

próprio Winston Churchill (Ministro das Colônias Britânicas), um jovem político

inglês, emergente e controvertido, sem nenhum interesse particular pela Ásia

muçulmana, causariam grande alteração no cenário geopolítico da região

(FROMKIN, 2008). Com relação à configuração da política da região, nos acrescenta

Fromkin (2008 p. 29) que aqui:

O cenário do Oriente Médio tinha outra aparência. Israel, Jordânia, Síria, Iraque e Arábia Saudita não existiam. A maior parte da região permanecia há séculos sob dominação negligente e relativamente tranquila do Império Otomano. A história como todo o mais, movia-se lentamente.

Essa aparência política iria se alterar consideravelmente, pois como nos

aponta Hourani (1994, p. 34), “a partir da Primeira Guerra Mundial, consolida-se a

desintegração do Império Otomano e o surgimento de novas e importantes

potências econômicas no cenário internacional”. A partir da desintegração do

Império Otomano, configura-se a formulação dos elementos necessários para a

criação do Estado de Israel, que foram constituídos principalmente com o advento

da 1ª Guerra Mundial, que foi o elemento decisivo para que esse projeto pudesse

Page 34: a criação do estado de israel e a fragmentação da palestina

34

vingar. A Primeira Guerra foi capaz de transformar drasticamente o Oriente Médio,

que jamais voltaria a ter a mesma configuração sob o domínio do Império Otomano.

Quem contribui a esse respeito é Braga (2002 p. 10), que acrescenta o seguinte:

A Primeira Guerra Mundial teve consequências decisivas para a Palestina. As potências aliadas não esperaram pelo fim da guerra para preparar o desmantelamento e a liquidação do Império Turco, aliado da Alemanha. Procurando aproveitar-se do nacionalismo árabe, a Grã-Bretanha prometeu ao cherife Hussein de Meca o seu apoio para a criação de um estado árabe independente tendo por fronteira ocidental o mar Vermelho e o Mediterrâneo, em troca da revolta árabe contra a Turquia. De fato, a Palestina, que faz parte do território do anunciado estado árabe, era cobiçada ao mesmo tempo pela Grã-Bretanha e pela França, mas as duas potências admitiram o princípio da sua internacionalização nos acordos secretos de Sykes-Picot de 16 de Maio de 1916.

Dessa forma, após a Primeira Guerra o Oriente Médio inicia um processo de

transformação territorial que jamais iria retroceder ao modelo do passado, que se

consolidou após 1948. Podemos considerar que a alteração nos ânimos políticos da

região foi provocada principalmente por essas transformações territoriais ocorridas

após 1948 com a criação do Estado de Israel. A respeito dessas transformações no

Oriente Médio após 1948, Hobsbawm (1995 p. 185) discorre da seguinte forma:

O mundo colonial fora tão completamente transformado numa coleção de Estados nominalmente soberanos depois de 1945 que retrospectivamente pode parecer que isso não só era inevitável como aquilo que os povos coloniais sempre haviam querido. Isso é com certeza verdadeira nos países que tinham atrás de si uma longa história como entidade política, como os grandes impérios asiáticos — China, Pérsia, os otomanos — e talvez um ou dois outros países como o Egito; sobretudo quando eram construídos em torno de um substancial staatvolk, ou Estados do povo, a exemplo dos chineses Han ou dos crentes no islamismo xiita como religião nacional do Irã.

O mundo após as duas grandes guerras já não mais seria o mesmo, sendo

sua reversão ao modelo do passado praticamente impossível, pois o mapa mundial

havia sido transformado já na Primeira Guerra Mundial e com o fim da Segunda

Guerra, o mundo já não era mais o mesmo. As grandes potências mundiais

procuravam estender seus poderes onde seus tentáculos pudessem alcançar. A

respeito da criação de Estados e instituições políticas e do conceito de território

imposto às regiões com populações árabes, Hobsbawm (2005 p. 186), nos

apresenta a concepção de que:

Page 35: a criação do estado de israel e a fragmentação da palestina

35

Com mais frequência, o próprio conceito de uma entidade política permanente, com fronteiras fixas separando-a de outras entidades idênticas, e sujeita exclusivamente a uma autoridade permanente, ou seja, a idéia do Estado soberano independente que temos como certa, não fazia sentido para as pessoas, pelo menos (mesmo na área de agricultura permanente e fixa) acima do nível da aldeia. Na verdade, mesmo onde existia um "povo" que claramente se tinha ou era reconhecido como tal, e que os europeus gostavam de descrever como uma "tribo", a idéia de que ele podia ser territorialmente separado de outro povo com o qual coexistia se misturava e dividia funções era difícil de captar, porque fazia pouco sentido. Nessas regiões, a única base para tais Estados independentes do tipo do século XX eram os territórios nos quais a conquista e a rivalidade imperial os haviam dividido, em geral sem qualquer respeito às estruturas locais. O mundo pós-colonial está assim quase inteiramente dividido pelas fronteiras do imperialismo.

Contrariamente ao que representou no passado sob o domínio do Império

Otomano – entenda-se espaçadamente amplo e relativamente calmo -, após 1948 o

Oriente Médio começa um processo de transformação territorial e político que iria se

apresentar futuramente com um aspecto totalmente diferente do que havia sido no

passado. Há muito, já não mais sob o domínio do Império Otomano, após 1948, a

região da Palestina se tornou palco de constantes conflitos, sendo considerado o

lugar do mundo menos tranquilo em se tratando de conflitos políticos.

As alianças políticas com as principais potências mundiais do período,

principalmente com a Inglaterra, visando à implementação do projeto sionista, foi

capaz de criar um Estado dentro de um território já ocupado. Aliança essa que se

sobrepôs ao próprio interesse palestino que era o de não ter seu território invadido.

3.2. A partilha do Império Otomano e o mandato Britânico na Palestina

O laço de interesse principal da política britânica pró-sionista foi simbolizado

pela Declaração de Balfour, onde cedia a terra da Palestina como promessa para

posteriormente criar um Estado, “um lar nacional” dos judeus (GOMES, 2003).

Nesse sentido Houat (2006, p. 36) acrescenta que:

O apoio oficial britânico ao movimento sionista ocorreu em 1917, através da Declaração Balfour, onde o governo britânico se obrigava a estabelecer um “lar nacional” para os judeus na Palestina. À Grã-Bretanha, na realidade, interessava o apoio internacional da comunidade judia, como também os ganhos na partilha do Império Otomano.

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36

A declaração de Balfour foi o primeiro documento oficial que explicitava o

objetivo de criar um lar nacional judaico na Palestina. A declaração foi redigida pelo

governo da Inglaterra, sobre o solo inglês. Vale relembrar a importância do império

inglês naquele período, pois os ingleses eram considerados grande potência

econômica mundial (GOMES, 2003; HOUAT, 2006).

O Movimento sionista conseguiu extrair essa declaração por razões

econômicas e políticas, pois o império inglês exercia grande poder naquela época e

isso garantia a possibilidade de sucesso nesse plano de ocupação da Palestina.

Cabem algumas considerações sobre a configuração territorial do mundo, pois em

1921 o Império Britânico dominava ¼ da área total do globo terrestre e estava em

plena ascensão política e econômica. O poder inglês acentuava-se de tal maneira

que foi cunhada frase no período que dizia: “O sol nunca se põe no Império

Britânico“, esta frase representava seus domínios territoriais por todo mundo

(HOUAT, 2006). A respeito do poderio inglês do período, Fromkin (2008 p. 36), nos

informa ainda que aqui:

a Inglaterra produzia 2/3 do carvão mundial, mais de 40% da produção de bens manufaturados e a metade da produção industrial mundial estava na mão da Grã-Bretanha. Em 1914 o país realizava 40% do investimento internacional.

Fatores militares também estavam envolvidos nesse poder dominante no

mundo no início do século XX e o desenvolvimento da estrada de ferro contribuiu

para alterar radicalmente o equilíbrio estratégico entre as potências terrestres e

marítimas. Isso deixou os líderes do movimento interessados na tal declaração

Balfour, que prometia criar um lar nacional judaico, o que de certo modo era algo

formidável para o sionismo (SPOHR, 2002; HOUAT, 2006; GOMES, 2003).

Com o fim da Primeira Guerra Mundial (1918), veio a recessão do pós-guerra,

o que levou ao abalo econômico nas colônias, que buscaram mudanças na estrutura

social e política de seus países, pois estavam ocorrendo grandes mudanças na

geopolítica mundial e estas deveriam acompanhar o que impunha o contexto. Os

impérios derrotados foram extintos ou divididos, tendo como grande exemplo o

Império Otomano (HOBSBAWM, 1995). A região mais transformada foi a Palestina,

que ficou sob o domínio dos ingleses e iniciou um processo de retração territorial

que jamais retrocederia às dimensões que eram no passado quando estava sob o

Page 37: a criação do estado de israel e a fragmentação da palestina

37

domínio do Império Otomano (SCHVARTZMAN, 2005; HOBSBAWM, 1995). A

respeito dessa transformação no cenário mundial, Hobsbawm (1995 p. 188) nos

informa que:

A Primeira Guerra Mundial foi o primeiro conjunto de acontecimentos que abalou seriamente a estrutura do colonialismo mundial, além de destruir dois impérios (o alemão e o otomano, cujas antigas possessões foram divididas entre os britânicos e os franceses), e derrubar temporariamente um terceiro, a Rússia (que recuperou suas dependências asiáticas dentro de poucos anos).

Ao tempo da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), os ingleses buscavam

alianças com os árabes para obter o apoio contra os turcos e faziam alianças com

judeus para obter o apoio contra os alemães. Esses acordos se tornaram

insustentáveis no percurso da Primeira Guerra. Os ingleses estavam dispostos a

dominar a Palestina de forma direta e não permitir que os árabes e judeus tivessem

as promessas anteriores concretizadas (FROMKIN, 2008).

O poder econômico inglês naquele momento, certamente favorável aos ideais

sionistas, foi fator considerado mais importante do que os acordos feitos com os

árabes palestinos na Primeira Guerra e no Pacto da Sociedade de Nações17, que

garantiam os acordos sobre a independência da Palestina, o que acabou gerando

sérios problemas para os interesses ingleses para com a Palestina (GOMES, 2001

p. 81).

A Grã-Bretanha ainda no início da Primeira Guerra, em 1914, já estava

presente nas regiões do Egito, Sudão, Yêmen, Irã e Afeganistão. Com estratégia,

dominava as regiões em volta do Império Otomano, o regime dominante do Oriente

Médio há quatro séculos. A Inglaterra naquele momento era uma grande potência

seguida pelo Império Otomano, já em decadência. Com sua ruína, por sua vez, a

Inglaterra tratou de selar três acordos sobre a partilha do Império Otomano.

17

Terminada a 1ª Guerra Mundial, durante a conferência de paz de Paris, firmou-se o Pacto da Sociedade das Nações, em junho de 1919, como parte integrante do Tratado de Versalhes. O pacto introduziu em seu artigo 22, o Sistema de Mandatos, fundado sobre o conceito de que o desenvolvimento dos territórios sob tutela das “nações mais adiantadas” constituía uma “missão sagrada da civilização”. O grau de tutela dependia do grau de maturidade política do território interessado. Classificaram-se os mais desenvolvidos como mandatos da classe “A”, os menos desenvolvidos como da classe “B” e os mais atrasados como da classe “C”. Os territórios árabes foram classificados como mandatos da classe “A”. Fonte: GOMES, 2001 p. 23.

Page 38: a criação do estado de israel e a fragmentação da palestina

38

No acordo de Sykes-Picot (1916), foi estabelecida a divisão do território

pertencente ao império otomano em zonas de influências das duas potências

Inglaterra e sua aliada França. Além disso, seguindo sua estratégia de dominação

do territorial no Oriente Médio, a Grã-Bretanha principal potência do período, estava

pressionando o Império Otomano. A esse respeito Fromkim, (2008 p. 39) considera

que:

Os reinos dos xeiques árabes ao longo da rota da costa do Golfo, de Suez até a Índia, tinham sido submetidos à influência britânica; Chipre e o Egito, apesar de ainda formalmente anexados à Turquia, estavam de fato ocupados e administrados pela Grã-Bretanha. O acordo Anglo-Russo de 1907 trouxe o Afeganistão para a esfera britânica e dividiu a maior parte da Pérsia entre a Grã-Bretanha e a Rússia. No oriente Médio muçulmano, apenas o Império Otomano manteve-se de fato independente.

Essa independência que ainda se mantinha no Império Otomano era

relativamente precária, considerando que as grandes potências europeias já

desejavam aproximar-se dessa área do planeta e as fronteiras dos xeiques estavam

constantemente pressionadas por países desejosos por conquistar esses territórios.

Com relação ao interesse Europeu sobre o Império Otomano, Sporh (2002 p. 8) nos

informa que:

Em fins do século XIX, os tentáculos das potências europeias já estavam estendidos sobre a África e Ásia, mas a maioria das nações do Oriente Médio estavam nas mãos dos turcos otomanos. Mas quando o século XX chegou, as coisas começaram a mudar drasticamente. As disputas por áreas de influência tornaram-se insustentáveis e a Europa lançou-se em uma guerra de proporções jamais vistas anteriormente.

Em fins de 1914, os otomanos tomaram o lado da Tríplice Entente e suas

fronteiras se viram espremidas por ofensivas russas e britânicas. No fim da Primeira

Guerra Mundial, o glorioso e outrora poderoso Império Otomano estava reduzido à

região da Anatólia. Os ingleses ocuparam os seus territórios, e isso inclui Jerusalém.

Nessa época, a Grã-Bretanha tinha em mãos três propostas para o futuro da

Palestina. O acordo Sykes-Picot, de 1916, previa uma administração internacional

para a região. Um outro documento, a Correspondência Hussein-MacMahon,

propunha que Jerusalém e arredores fossem incluídos dentro da zona de

independência árabe. Por fim, a famosa declaração de Balfour (1917), elaborada

pelo Lorde Balfour, incentivava a colonização judaica, sob proteção do Reino Unido.

Page 39: a criação do estado de israel e a fragmentação da palestina

39

Nesse contexto da primeira Guerra Mundial é que se dá a partilha do Império

Otomano, a partir de alianças e acordos entre as potências europeias aliadas, que

há muito estavam ansiosos por dividir essa parte do mundo entre si. Quem contribui

com essa discussão é Hobsbawm (1995 p. 188). Segundo ele o remapeamento do

Oriente Médio se deu ao longo de linhas imperialistas, divisão entre Grã-Bretanha e

França com exceção da Palestina, onde o governo britânico, ansioso por apoio

internacional judeu durante a guerra, tinha de maneira incauta e ambígua, prometido

estabelecer um lar nacional para os judeus. (WORDPRESS, 02/2010).

Mas ao que tudo indica que os ingleses estavam muito ansiosos por essa

ocupação há muito e não quiseram esperar ao fim da Primeira Guerra Mundial para

enfim fazer acordos com os xeiques de Meca, cuidando desse modo para o

desmantelamento da região da Palestina e a fragmentação do Oriente Médio,

dividindo seu território com os aliados, pois como nos informa Braga (2002 p. 12):

As potências aliadas não esperaram pelo fim da guerra para preparar o desmantelamento e a liquidação do império turco, aliado da Alemanha. Procurando aproveitar-se do nacionalismo árabe, a Grã-Bretanha prometeu ao cherife Hussein de Meca o seu apoio para a criação de um estado árabe independente tendo por fronteira ocidental o mar Vermelho e o Mediterrâneo, em troca da revolta árabe contra a Turquia.

Com a tomada da Palestina do Império Otomano pelos ingleses, nesse

primeiro momento, havia a intenção de estabelecer na Palestina, um regime

internacional por ser um lugar sagrado para as três religiões, mas acabou ficando

posteriormente somente sob o controle britânico. O objetivo que a França e a Grã-

Bretanha tinham era a continuação da guerra no oriente médio contra a ambição da

Alemanha e seus aliados. Também deve ser considerado o compromisso Britânico

assumido com o movimento sionista (HOUAT, 2006).

Após o fim da Primeira Guerra Mundial em 1918, conforme os acordos

anteriores, a Inglaterra e a França dividiram o território que era dominado pelo

Império Otomano entre si, com a Palestina sob o domínio inglês. Segundo Houat

(2006):

Antes da Primeira Guerra Mundial a França e Inglaterra, percebendo a forte tendência ao nacionalismo pelos países que estavam sobre o domínio Otomano, prometeram aos lideres locais que caso eles lutassem ao seu lado contra o Império Turco Otomano lhes seria assegurada a independência logo após a mesma.

Page 40: a criação do estado de israel e a fragmentação da palestina

40

Continuaram a fazer a mesma afirmação ao fim do combate. Em uma

declaração em sete de novembro de 1918, os dois países afirmavam que “apoiavam

de forma completa e definitiva a emancipação dos povos Árabes” (HOUAT, 2006 p.

25). Para Hobsbawm (1995 p. 30):

O remapeamento do Oriente Médio se deu ao longo de linhas imperialistas entre Grã-Bretanha e França com exceção da Palestina, onde o governo britânico, ansioso por apoio internacional judeu durante a guerra, tinha, de maneira incauta e ambígua, prometido estabelecer um lar nacional para os judeus.

Como havia sido idealizado anteriormente pelos ingleses, a Palestina não

estava nas áreas que se tornaram independente como foi prometido ainda na

Primeira Guerra Mundial, pois o movimento sionista estava ainda buscando ajuda

inglesa para esse planejamento. Chaim Weizmann (Secretário do Estado Britânico)

após vários encontros com o próprio Mark Sykes (Secretário Assistente do Gabinete

de Guerra do Império Britânico) nas suas palavras disse: “foi um dos nossos maiores

achados” (...) “não podemos dizer suficiente no que concerne aos serviços prestados

a nós por Sykes, foi ele quem guiou nossos trabalhos para os canais mais oficiais”

(HOUAT, 2006).

Os lideres sionistas convenceram os ingleses como seria vantajoso um

Estado judeu na Palestina. Alegando Weizmann que a Inglaterra teria nos judeus os

melhores interprete das ideias nacionais dos países ocidentais. Além de adotarem a

ideia de ter um Estado aliado que contivesse o nacionalismo árabe, teria a função de

facilitar a entrada dos ingleses no trabalho da exploração do petróleo no Oriente

Médio.

É importante também mencionar que a Inglaterra já sabia que havia petróleo

naquela região. Ressaltem-se de igual forma, algumas das vantagens que a

Inglaterra poderia ter ao dominar aquela região. Incentivar a emigração dos judeus

em massa da Inglaterra para a palestina para agradar os lideres antissemitas; retirar

a mão-de-obra judaica vinda da Europa oriental; agradar aos judeus americanos,

que possuíam grande influência econômica e política no governo americano, em

induzir os Estados Unidos a entrar na Primeira Guerra o lado da Inglaterra,

garantindo assim uma possível vitoria sobre a Tríplice Aliança e assegurar

passagem às rotas marítimas para suas colônias no Extremo Oriente e a Índia,

mantendo as grandes potências afastadas da área enquanto durasse a supremacia

Page 41: a criação do estado de israel e a fragmentação da palestina

41

inglesa. Assim, a Inglaterra ainda conseguiria deter a expansão Russa pelo leste do

mediterrâneo e o Golfo Pérsico. Considerando ainda esse território de extrema

importância para manter um Estado aliado no meio dessa rota conflituosa (HOUAT,

2006).

Podemos considerar que a Inglaterra teve papel preponderante na arquitetura

desse plano de ocupação do Oriente Médio – principalmente do território da

Palestina - e foi grande responsável pelos conflitos gerados pela disputa territorial do

pós 1948 na Palestina. Nesse aspecto, Lima considera que:

A realidade árabe não é homogênea, dentro dessa lógica modernizante e estruturante. Enquanto as demais regiões de predomínios árabes conseguiram se organizar em Estados nacionais, a Palestina encontrava-se resistente e mergulhada no retrocesso político e administrativo agravado pela liderança britânica na região. A Inglaterra beneficiou-se com o mandato da Palestina onde governou até 1948. Sob a desculpa que os povos nativos não tinham condições de se autogovernarem, os britânicos, através da Liga das Nações, administraram a região. Obviamente, o mandato da Palestina é um meio de colonialismo, pois os britânicos necessitavam do controle político e econômico da região, principalmente da extração de petróleo e do domínio do Canal do Suez (2006 p. 3).

Sempre palco de interesses preponderantemente econômicos, a região da

Palestina vive atualmente uma celeuma emaranhada no caos social, onde sua

população vive em completo estado de miséria, sem condições de vislumbrar uma

solução pacífica e favorável ao conflito iniciado ainda no século XX, tendo como

principal mentora a Inglaterra, assim podemos considerar.

O papel que a Inglaterra exerceu no Oriente médio na primeira metade do

século XX, foi fundamental no direcionamento da política regional, pois os ingleses

atuaram em duas frentes. Enquanto o Rei Inglês George VI prometia aos Árabes um

Estado independente em troca do seu apoio contra o Império Otomano na Primeira

Guerra Mundial, seu Ministro das relações exteriores Arthur James Balfour, em 02

de novembro de 1917, emite a conhecida como Declaração Balfour (GOMES, 2001;

HOUAT, 2006). A Declaração Balfour assegurava no Lorde Rothschild, um rico

banqueiro inglês judeu, o apoio total Britânico a questão sionista, e utilizava os

seguintes termos:

Prezado Lorde Rothschild: Tenho muito prazer em transmitir-lhe, em nome do governo de Sua Majestade, a seguinte declaração de simpatia com as aspirações judaico-sionistas, as quais foram apresentadas e aprovadas pelo Gabinete: “O Governo de Sua Majestade vê-se favorável ao estabelecimento

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42

na Palestina de um lar nacional para o povo judeu, e empreenderá seus melhores esforços para facilitar a conquista desse objetivo, ficando claramente entendido que nada deve ser feito que possa prejudicar os direitos religiosos e civis das comunidades não judaicas existentes na Palestina ou os direitos e condições políticas dos judeus em qualquer outro país”. Agradeceria que o senhor levasse essa declaração ao conhecimento da Federação Sionista. Atenciosamente, Arthur James Balfour. (HOUAT, 2006).

A declaração de Balfour caiu em contradição com as inglesas feitas aos

árabes para apoiá-los na criação de uma nação independente. Essa declaração de

Balfour afirmava abertamente seu apoio para a criação de um lar nacional para o

povo judeu (GOMES, 2001; HOUAT, 2006). Toledo (2001 p. 5) acrescenta dizendo

que:

Com a Primeira Guerra Mundial, chegara a hora da repartição da Palestina. Para apressá-la, a Inglaterra se serviu do movimento nacional dos árabes que havia começado a despertar. Por outro lado, firmou um acordo com a França, de repartição da zona, além de assinar a chamada Declaração Balfour (2/11/1917), que ficou conhecida como a "aliança de casamento" entre o sionismo e o imperialismo inglês. Assim começava a segunda etapa do sionismo, que culminaria com a criação do Estado de Israel.

A Declaração Balfour ainda deixou margem para que muitas distorções

viessem a ocorrer posteriormente na criação do Estado de Israel e na criação do “lar

nacional” para os dos Palestinos das suas terras. Sobre esse assunto Grinberg

aponta que:

Assim, no que se refere à Palestina, a política britânica acabou sendo extremamente dúbia: numa sucessão de acordos e declarações secretas (eles só seriam tornados públicos alguns anos depois), os ingleses conseguiram se comprometer tanto com Husseini e seus seguidores, quanto com os sionistas, apoiando as pretensões nacionais dos dois, no entanto, sem entrar em detalhes sobre os limites geográficos das futuras nações. (2002, p.104).

Os palestinos eram 90% da população local e eram tratados como minoria,

mas 10% representavam o povo judeu, tratados como maioria. Uma negociata entre

o governo Britânico e o movimento sionista, também apoiado pelo governo

Americano, mas com uma ressalva no trecho “lar nacional para o povo judeu, e não

Estado judeu” (GOMES, 2001). O motivo era evitar a revolta do povo árabe. Sobre a

declaração Balfour, Gomes (2001, p. 26) acrescenta ainda que:

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43

(...) a declaração do governo britânico se dirige ao Lord Rothschild, aparentando ser uma resposta a alguma reivindicação dele. Tratando-se de um dos homens mais ricos do mundo, financiador, inclusive, de governos, parece legítimo supor que a Declaração de Balfour não foi uma simples gentileza do governo britânico aos Rothschild e à Organização Sionista, mas pode ter se tratado de uma "troca de favores" de altíssimo preço, visto a importância desse documento, objeto de negociações com outros Estados. O barão Edmond Rothschild foi um dos principais patrocinadores do estabelecimento de judeus na Palestina.

Em 1917, quando esta declaração foi proferida, a Primeira Guerra Mundial

estava em pleno curso. A Palestina, portanto, estava sob o domínio do Império

Turco Otomano e o governo Britânico não possuía a legitimidade para fazer

concessão do território palestino. A Inglaterra jamais poderia instituir partilhas em

uma região que não lhe pertencia, nem manter sob seu domínio a população.

Suponha-se que, para criar o Lar Nacional Judaico, a Inglaterra só poderia fazê-lo

em seu próprio território. A partir dessa ação - diga-se desastrosa -, foi possível criar

mecanismos para que a região da Palestina fosse cada vez mais desapropriada

territorialmente, gerando assim um dos conflitos mais duradouros dos últimos

séculos.

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44

4. CAPÍTULO III: A DIVISÃO DA PALESTINA

Neste capítulo elaborou-se um estudo sobre a partilha do território Palestino

entre Árabes e Judeus, fator agravante para a intensificação dos conflitos na região.

Buscou-se levantar os fatos envolvidos nesse acontecimento e seus efeitos para

provocar a revolta dos Palestinos e a intensificação dos conflitos. Elementos

constituidores do movimento que deu origem ao conflito na atual Palestina e que

causou a “expulsão” dos Palestinos de seus lares principalmente a partir da criação

do Estado de Israel em 1948.

4. 1. A partilha do território palestino pela ONU

A permissão para a partilha da Palestina e a posterior criação do Estado de

Israel em 1948, foi aprovada pela Resolução 181 da ONU em 1947, que pôs fim ao

Mandato Britânico na região. Tudo isso garantido pela Carta das Nações Unidas e

pelo Pacto da Sociedade das Nações18, estes, fontes do Direito Internacional. Houve

a proposta apresentada em reunião da UNSCOP19, apoiada pela maioria de seus

membros (Canadá, Tchecolosváquia, Guatemala, Países Baixos, Perú, Suécia e

Uruguai) e a apresentada pela minoria (Índia, Irã e Yugoslávia). A minoria teve sua

proposta vencida e a Austrália não aprovou nenhuma das duas propostas. Ainda

houve várias discussões para decidir e ouvir os envolvidos na questão, mas a

proposta que prevaleceu foi a defendida pela maioria e apoiada principalmente pela

URSS (Antiga União Republicas Soviética Socialistas), Estados Unidos e Grã-

Bretanha. (GOMES, 2001). Sobre as propostas apresentadas para a partilha da

Palestina, quem contribui é ainda Gomes (2001 p. 86) que nos assegura aqui:

A proposta apresentada pela maioria dos países integrantes da UNSCOP

defendia, em síntese, a partilha da Palestina em um Estado árabe

independente e um Estado judeu independente, com unidade econômica,

além da internacionalização de Jerusalém, após um período de transição de

18

HOUAT, Stephan Fernandes. A criação do Estado de Israel e um Estado único como solução dos

conflitos. Belém Centro Universitário do Pará. Belém/PA: 19

Comissão Especial das Nações Unidas para a Palestina. Fonte: Houat, 2006

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45

dois anos. De acordo com esta proposta, uma parte da população árabe

deveria permanecer dentro do Estado judeu e uma parte da população

judaica dentro do Estado árabe, por ser inviável transferir milhares de

pessoas espalhadas por todo território. A nacionalidade e cidadania seriam

judaica ou árabe, de acordo com o local de residência. A proposta

apresentada pela minoria dos integrantes da UNSCOP recomendava a

fundação de um Estado Federal da Palestina independente, após um

período de transição de no máximo três anos, e que esse se compusesse

de um Estado árabe e outro Estado judeu, havendo uma só nacionalidade

e cidadania palestina reconhecidas aos árabes, judeus e outras pessoas.

Jerusalém deveria ser a capital do Estado federal, compreendendo duas

municipalidades separadas, uma incluindo os setores árabes, incluindo a

parte interna aos muros e outra incluindo setores judaicos.

A proposta da maioria foi aprovada, sendo que a partilha ocorreu nos moldes

desejado pelos sionistas. Devemos considerar que na elaboração desse projeto, não

foi levado em consideração o direito dos palestinos ao seu território, pois mesmo

sendo a população árabe palestina mais de 70% em 1947, não tiveram suas

aspirações respeitadas.

Logo após a decisão da partilha da Palestina inicia-se um processo que

acabou gerando um grande número de conflitos e que se agravou de forma

permanente com o passar dos anos. Os números apresentam 869 mortos e 1901

feridos logo após os dos primeiros três meses da declaração de partilha da Palestina

(HOUAT, 2001). Tudo isso foi provocado pela idéia de expulsão que a criação de

Estado de Israel originou e que deu uma espécie de ultimato aos palestinos para

que saíssem de seu território, e assim dar lugar aos judeus que estavam migrando

em massa para a Palestina.

A criação do Estado de Israel em 1948 acabou instaurando uma guerra que

envolveu o Egito, Jordânia, Síria, Iraque, Líbano, os palestinos e Israel. Gomes

(2001 p. 100) nos assegura que “essa guerra, já era desejada pelos sionistas, que

foram financiados pesadamente pelos americanos, pois aqueles ansiavam pelo

redesenhamento do Estado Israel recém-criado”. A criação de novo estado

provocou o surgimento de leis favoráveis à expulsão dos palestinos, que acabaram

contribuindo para o agravamento do conflito na região. Em 1949, eram 726.000

refugiados palestinos (GOMES, 2001). A respeito das leis criadas após a criação de

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46

Israel e que favoreceram para a expulsão dos palestinos, Jardim (2003, p. 10) nos

informa que:

Depois da guerra de 1948-4920

, o primeiro parlamento do Estado de Israel (Knesset) define duas leis que irão atuar de modo complementar, redefinindo a ocupação territorial da Palestina. A primeira lei, formulada em março de 1950, visava negar, às massas palestinas que haviam evadido na guerra, a permanência em Israel. A "Absentees Property Law" era o mecanismo para a apropriação de vastas áreas rurais e urbanas dentro de um novo Estado. Também em julho de 1950 é promulgada a Lei de Retorno, que garantia a todo e qualquer judeu do mundo o direito de imigrar e povoar de forma desimpedida, tornando-se automaticamente um cidadão de Israel. As duas leis agiram de forma combinada no sentido de classificar os refugiados palestinos como ausentes, como não-pessoas, sem direitos às suas propriedades, à residência e à cidadania em Israel.

A imposição dessas leis contribuiu para a exclusão dos palestinos de seu

território, que se viram obrigados a migrar para outros países vizinhos na esperança

de um dia terem de volta seus lares. Quem nos assegura que a criação do Estado

de Israel foi um evento que transformou a vida dos Palestinos é ainda Jardim (2003

p. 8) que assim discorre:

A criação do Estado de Israel impunha uma redefinição de lugares para permanecer e viver empunha a necessidade de definir perspectivas quanto à residência, se em campos de refugiados ou em áreas agora sob o domínio de Israel, assumindo a condição de residente. A condição de "refugiado palestino", assim definida pela UNRWA (Nações Unidas), recaía sobre aquelas pessoas que tinham residência na Palestina por um mínimo de dois anos, e que em função do conflito de 1948 tinham perdido sua casa e os meios de vida, estando refugiada nos países em que as Nações Unidas prestavam assistência.

Outro aspecto que deve ser observado na ocupação da Palestina é o fato de

que vários povos árabes reivindicam essa região, causando assim um embate

conflituoso sobre quem a teria como sua “propriedade” por direito. Essa parece ser

uma causa com difícil solução, pois é muito difícil afirmar quais dos povos ali se

estabeleceram de forma perene, o que leva-nos a crer que esse conflito ainda

permanecerá por longo período, haja vista que essa região está sempre em conflitos

que envolvem discussões sobre o direito de propriedade sobre seu território e sobre

a religiosidade. Jardim (2003 p. 14) trata desse aspecto da seguinte forma:

20

Guerra que envolveu o Egito, a Síria, a Jordânia, o Iraque, o Líbano, os palestinos e Israel. (Gomes, 2001 p. 100).

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47

Versões sobre a origem da questão palestina e das populações que evadiram daquele território a partir da criação do Estado de Israel, em 1948, têm sido produzidas e difundidas amplamente. Até 1952, a Assembléia Geral da ONU a tratava como a "Questão da Palestina"; a partir de então, foi substituída pelo título "Relatório Anual do Comissariado Geral do Serviço de Socorro e de Trabalhos das Nações Unidas" (UNRWA – United Nations Relief and Works Agency). No Conselho de Segurança, a "Questão da Palestina" será renomeada em 1967 de "Situação no Oriente Médio".

De acordo com Jardim (2003 p. 7) “a forma de tratamento da questão revela

os condicionantes históricos, um determinado momento político dos conflitos no

Oriente Médio, bem como a centralidade do território palestino nessas disputas”. O

território palestino como já foi citado, estava em uma rota de comércio que era de

interesse da Europa, há muito, pois seu território faz parte do corredor entre a África

e a Ásia e ao mesmo tempo fica às portas da Europa, devendo ser considerado

motivo de grande interesse das nações capitalistas do período.

Esse interesse das grandes potências foi capaz de fazer com que o território

palestino fosse diminuído cada vez mais ao longo dos anos e que sua problemática

fosse inserida no contexto mundial de forma invariavelmente sob a ótica dos judeus,

justificando que seria uma boa saída a diminuição cada vez maior do território

palestino para que deixe as terras que, segundo os judeus, seriam de sua

propriedade. A respeito da emergência da situação dos palestinos no cenário

internacional, Jardim nos informa que aqui:

A emergência dos palestinos no cenário internacional refere-se inicialmente a um território que é gradativamente incorporado como pertencente ao Estado de Israel, seja pela guerra, seja pela via diplomática – tendo como avalistas os países mandatários europeus (2003 p. 7).

Essa incorporação gradativa do território palestino ao do Estado de Israel não

corresponde ao apresentado na partilha proposta pela ONU em 1947, pois na

proposta inicial, o território palestino era consideravelmente maior, como podemos

observar no mapa adiante. Essa incorporação do território palestino ao Estado judeu

provocou o descontentamento palestino e intensificou o conflito na região.

Page 48: a criação do estado de israel e a fragmentação da palestina

48

Figura 03: Mapa da Partilha da Palestina proposta pela ONU (1947)

Fonte: HOUAT (2006).

Tudo leva a crer, e os mapas da atual Palestina comprovam, que a partilha

proposta pela ONU em 1947 não permaneceu com a mesma configuração original

por muito tempo, pois os limites em 1949 já se apresentavam de forma bem

diferente. O território do recém-criado Estado de Israel, permaneceu avançando

sobre o território palestino. Dessa forma, a Palestina teve seu território

gradativamente ocupado por Israel, como que numa tentativa de fazer com que essa

região “desapareça” do mapa do mundo. Podemos observar nos mapas a seguir,

como o território de Israel foi avançando sobre o palestino após a guerra de 1948/49

Os conflitos com o mundo árabe continuaram em 1959, iniciou-se a

Campanha do Sinai, um enfrentamento que envolveu Israel e o Egito que tinha

nacionalizado o Canal de Suez, impedindo a navegação de navios israelenses.

Israel voltou a enfrentar-se com os países árabes .(SCHVARTZMAN, 2000, P.27)

.

Page 49: a criação do estado de israel e a fragmentação da palestina

49

Figura 04: Mapas dos Territórios ocupados por Israel após a guerra de 1948-49

Fonte: www.monde-diplomatique.fr/cartes/taba. Acesso em 9 junho de 2012.

Esse avanço israelense sobre o território palestino permaneceu desta forma

até 2009, quando Israel decidiu construir um muro em Jerusalém, que separou o

território palestino e acabou gerando uma situação de segregação ainda maior entre

palestinos e israelenses. Essa é uma realidade que permanece, pois podemos

confirmar que a configuração territorial atual da Palestina em nada se assemelha

com o modelo original proposto pela ONU em 1947. Podemos observar nos mapas a

seguir, a evolução do território israelense e a diminuição gradual da Palestina. O

território palestino consta a parte azul do mapa enquanto o israelense apresenta-se

como sendo a parte cinza. No primeiro mapa, em 1947 percebemos que a Palestina

compõe praticamente toda área, sendo que a proposta da ONU de 1947 já diminui

consideravelmente esse território. Em 1949 e 2000, como percebemos nos mapas

seguintes, ocorrem novos avanços sobre os domínios geográficos palestinos.

Page 50: a criação do estado de israel e a fragmentação da palestina

50

Figura 05: Mapas da evolução do território da Palestina de 1947 a 2000.

Fonte: BRAGA (2002).

4.2 A guerra dos seis dias, 1967.

Na decisiva Guerra dos Seis Dias, quando diante da iminente ameaça de

aniquilação proferida pelo mundo árabe, Israel lançou-se ao ataque e, em seis dias

infligiu uma derrota esmagadora aos exércitos da Síria , Egito e da Jordânia

conquistando toda a Península do Sinai, as Colinas de Golan, Cisjordânia e a Faixa

de Gaza, finalmente reunificando sob seu domínio a cidade de Jerusalém como sua

capital (SCHVARTZMAN, 2000, P.27

Segundo Geraldo J. A. Coelho Dias, a nova guerra resultou das apertadas

medidas de Nasser sobre a passagem no Canal de Suez de bens para Israel e

sobre a retirada das tropas da ONU, fazendo alinhar seu exército na fronteira de

Israel. Deu-se então uma Blitz-Krieg, em que, num repente, a força aérea de Israel

aniquilou no solo toda a aviação militar egípcia e, por mar, desbloqueou a entrada

Page 51: a criação do estado de israel e a fragmentação da palestina

51

do Suez. Por terra, o exército israelense ocupou todo o Sinai até ao Suez, a parte

oriental de Jerusalém e os montes Golan. Nasser reconheceu a derrota e aceitou o

cessar-fogo proposto pelo Conselho das Nações Unidas, quadruplicando Israel o

seu território de 20.800 km2 para 89.859 km2, embora a Rússia cortasse relações

diplomáticas com Israel. Mais de 1.000.000 de palestinos ficou sujeitos a Israel e

muitos outros foram obrigados a viver em campos de refugiados, dentro e fora da

Palestina. Assim nasce, o que as Nações Unidas classificam como de territórios

ocupados por Israel. O Conselho da ONU aprovou a Resolução 242 (22/11/1967)

exigindo a retirada israelita dos territórios ocupados durante a Guerra dos Seis Dias

e garantindo a liberdade de navegação em águas internacionais da região. (DIAS,

Geraldo).

Figura 06 Mapa a guerra dos seis dias , Israel conquista novas terras .

http://www.mundovestibular.com.br/articles/4378/1/A-GUERRA-DOS-SEIS-DIAS/Paacutegina1.html acesso em 18/04/2013

Com esse avanço sobre o território palestino, podemos considerar que às

populações locais da Palestina, foi proclamada uma “ordem de despejo”, pois esses

territórios já estavam ocupados há muito tempo e abandoná-los seria como deixar o

próprio filho abandonado à própria sorte. Sobre essa “ordem de despejo” alguns

Page 52: a criação do estado de israel e a fragmentação da palestina

52

autores, a maioria israelenses, questionam a veracidade de tal afirmativa, pois

segundo eles, não houve uma expulsão declarada por parte dos sionistas contra a

população originária da Palestina. Entretanto, segundo Houat (2006 p. 61) “autores

israelenses como Avi Shlaim, Benny Morris e Amnon Kapeliouk já escreveram que

os refu*giados foram obrigados a sair e mesmo algumas autoridades israelenses

estão se inclinando para esse entendimento”. Controvérsias à parte, o historiador

Benny Morris, um ex-correspondente diplomático do Jerusalem Post nos informa

como ocorreu esse empreendimento dos refugiados palestinos:

O problema dos refugiados palestinos foi decorrência da guerra, e não de um plano, judaico ou árabe. Foi em grande medida um subproduto dos medos árabes e judaicos e da luta prolongada e encarniçada que caracterizou a primeira guerra árabe-israelense; em menor grau, foi também uma criação deliberada dos comandantes militares e dos políticos judeus e árabes (Morris apud Houat, 2006, p. 61).

Para Spohr (2002) “o início de vários campos de refugiados na própria

Palestina e uma migração em massa além das fronteiras, onde os árabes

refugiaram-se nos países vizinhos a partir de 1947”, teve como um dos motivos “a

política de impedir a independência Palestina para favorecer o sionismo”. Com isso,

os palestinos arcaram com danos materiais e perda de muitos soldados além de

criar uma “bomba relógio” na região que viria a explodir em 1948 (SPOHR, 2002;

MORRIS, 2004; HOUAT, 2006).

Desde a criação de Israel, as políticas externas para a região da Palestina

sempre foram do sentido de expropriar cada vez mais o seu território, sendo este

reduzido de maneira gradual ao longo dos anos. A Palestina não presenciou um dia

de paz *após 1948. No que se refere à interferência externa na região do Oriente

Médio, os países Europeus e os EUA sempre tiveram interesses de domínio dessa

região. Quem contribui sobre esse assunto é Pecequilo (2009 p.160):

Esta presença européia, a partir do encerramento da Segunda Guerra Mundial e do processo de descolonização dos anos 1960 e 1970, passaram a ser contrabalançada pela norte-americana, consolidando a posição dos EUA como principal poder externo no Oriente Médio. As iniciativas autônomas da região como o Movimento dos Não Alinhados, o Nacionalismo Árabe, do Terceiro Mundismo, o cartel petrolífero da OPEP e a revolução Iraniana de 1979 são outros componentes deste quadro complexo que, com o fim da Guerra Fria, oscila entre tendências de progresso e profunda fragmentação.

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53

Há que considerar também diversos fatores que influenciaram no processo

dos refugiados palestinos, pois também as ações dos grupos sionistas armados

transformaram os palestinos em refugiados, que atualmente vivem de forma

provisória há mais de 60 anos. A pequena parte dos refugiados que permanecem

em seu território, caso tenham que ausentar-se do seu domicílio são obrigados a

retornar à Palestina a cada dois anos para que não percam sua cidadania, além de

serem tratados como cidadãos de segunda classe em seu próprio país.

4.3. A condição dos Palestinos

Com a diminuição cada vez mais do seu território, os palestinos tiveram que

encontrar um local para residir, sendo esta a forma encontrada por eles, de resgatar

sua dignidade, uma vez que suas terras foram praticamente toda ocupada por outros

povos: novos migrantes sionistas que reivindicavam sua propriedade. Desde o fim

da Primeira Guerra Mundial, os palestinos tiveram que dividir espaço com a

população de judeus, que imigrava para a Palestina. Essa imigração sionista21

desde o século XIX22, estimulada durante Mandato Britânico na Palestina e

intensificada após a criação do Estado de Israel foi capaz de intensificar os conflitos

na região. A chamada “causa palestina”, como ficou conhecida a migração dos

palestinos para outras regiões, provocou uma série de ressignificação do conflito

entre Israel e Palestina. Sobre essa intensificação imigratória dos sionistas, quem

nos descreve a respeito é Chemeris (2002 p. 35) que acrescenta:

A imigração sionista é de fundamental importância para a análise das causas referentes ao conflito árabe-israelense, pois foi através dela que a população judia na Palestina aumentou consideravelmente. Em meio às populações árabes que lá existiam a mais de um milênio e que conviviam muito bem com as minorias judias nativas, os sionistas iriam de encontro à resistência árabe contra o invasor europeu.

Após essa intensa imigração inicia o processo de “expulsão” dos palestinos,

como já nos referimos neste trabalho. Mas há quem questione que não houve uma

expulsão de forma declarada, mas devemos considerar que a forma de ocupação do

21 Chamou-se de imigração sionista toda a imigração judia que objetivava o retorno à “Terra

Prometida” (no Monte Sião). Por essa razão, será observada a imigração antes mesmo da formação do movimento sionista político de 1897. Fonte: CHEMERIS, 2002 p. 35. 22

Fonte: op. cit.

Page 54: a criação do estado de israel e a fragmentação da palestina

54

território palestino não é perfeitamente compreensível do ponto de vista político, pois

nenhum país ou povo tem o direito de reivindicar um território já ocupado, com a

justificativa de que anteriormente os pertencia. Não existirá consenso com relação a

essa discussão, sendo este o tema mais espinhoso da relação israelense palestina.

O fato é que o problema existiu e que não apresentou até o momento uma solução

pacificada, tendo sim, gerado um grande número de refugiados que vivem em

campos, na própria Palestina ou em países próximos.

Em junho de 1967, foram adotadas várias resoluções na ONU, que estendem

críticas à política israelense na Palestina, principalmente no que diz respeito à forma

de ocupação adotada pelos judeus. As resoluções, em síntese condenam Israel por

ataques a alvos palestinos e pelo desrespeito aos direitos humanos (resoluções 592,

605), pela ilegalidade da ocupação e dos assentamentos construídos em Gaza e na

Cisjordânia (resoluções 242, 446, 452, 465), pela ocupação de Jerusalém

(resoluções 250, 251, 252, 267, 271), pela deportação forçada de palestinos

(resoluções 468, 484, 607, 636, 641, 681, 694, 726, 799), e por Israel não permitir o

retorno dos refugiados palestinos (resolução 237) (CHEMERIS, 2002 p. 114). Para

Chemeris (2002 p. 114):

Tais resoluções apoiam-se basicamente no direito à autodeterminação dos povos, consagrado na Carta das Nações Unidas (artigo 1º, inciso 2º, de junho de 1945), nos princípios relativos à Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), e nos direitos das populações civis em tempos de guerra, assegurados pela Quarta Convenção de Genebra (1949).

Mesmo fundamentadas de acordo com o Direito Internacional, essas

resoluções não foram consideradas por Israel, sendo que seus líderes adotam

medidas sempre em desacordo com os anseios dos palestinos, como exemplo,

criando assentamentos israelenses em território palestino. Sobre esse assunto apud

Chemeris (2002 p. 115) nos diz:

Para os palestinos, que se fundamentam no direito internacional com vistas a reivindicar a posse sobre a Palestina, os assentamentos israelenses constituem-se numa tentativa ilegal de ocupar a terra confiscada na guerra de junho de 1967. Além disso, assentamentos são vistos pelos palestinos e por outros acordos internacionais como “uma violação do direito palestino à autodeterminação e também aos princípios de direitos humanos como definidos pelas Resoluções das Nações Unidas”.

Page 55: a criação do estado de israel e a fragmentação da palestina

55

Várias instituições internacionais já reconheceram o direito dos palestinos a

ter seu território de volta, mas Israel permanece criando os empecilhos para que isso

ocorra e ao que tudo indica isso está muito distante de acontecer. Para apud

Chemeris (2002 p. 115), “as justificativas para a resistência Palestina foram

reconhecidas ou endossadas por inúmeras instituições internacionais, como a Liga

Árabe, a Organização da Conferência Islâmica, o Movimento dos Não Alinhados e a

ONU”. Para o mesmo autor, “o reconhecimento de que a ocupação israelense da

Faixa de Gaza e da Cisjordânia em 1967 é ilegal, pode ser lida claramente nas

resoluções 242 e 338, do Conselho de Segurança da ONU”.

Apesar desses reconhecimentos até por parte da ONU, os avanços não tem

sido grandiosos, onde se pode perceber interesses cada vez mais conflitantes e que

não intencionam chegar a nenhum consenso. Esse reconhecimento por parte da

ONU acaba por legitimar a resistência palestina contra o domínio de Israel, o que

corrobora diretamente, para fomentar o do conflito e incapacidade de formar um

Estado com unidade política. A respeito dessa unidade necessária à constituição de

um Estado árabe, Chemeris (2002 p. 117) acrescenta que:

Para os países árabes, o conflito com Israel sempre teve como base a questão da unidade árabe. A noção de que Israel encontra-se localizado em território árabe apresentou-se como o empecilho central para a formação de um mundo árabe unido. Em razão disso, a causa Palestina passou a ser abraçada pelos países árabes, que visavam, com isso, legitimar sua liderança no Oriente Médio. É nesse sentido, que algumas lideranças árabes passaram a apoiar a formação de organizações palestinas de resistência armada.

O apoio dos países árabes, à causa Palestina, tem intensificado o conflito,

pois algumas dessas lideranças árabes têm apoiado a formação de grupos armados,

na tentativa de legitimar suas lideranças na região, o que de certa forma tem piorado

a situação dos palestinos em conseguir iniciar um processo de paz consolidado.

Pois há assim uma intensificação dos embates na disputa principalmente por instituir

seus territórios. O número de refugiados resultantes da “expulsão” após a criação do

Estado de Israel foi estimado pela UNISPAL23 em 726.000 no final do ano de 1949, o

que representava 75% da população nativa da Palestina, enquanto 32.000

permaneceram dentro das linhas de armistício. Entretanto, dos 800.000 palestinos

originalmente situados na área que se tornou Israel, apenas 150.000 permaneceram

23

UNITED Nations Information System on the Question of Palestine

Page 56: a criação do estado de israel e a fragmentação da palestina

56

em suas casas, tornando-se, assim, uma minoria árabe no Estado de Israel

(GOMES, 2001). Tudo indica que Israel pretenda continuar avançando sobre o

território palestino, pois como foi apresentada nas propostas israelenses durante as

discussões em Camp David24 em julho de 2000 e em Taba25 em janeiro 2001, a

ideia era aumentar território sob o domínio de Israel, pois este parece ser ainda a

aspiração dos governantes Israelenses

24

Cúpula para a Paz no Oriente Médio realizada em Camp David (EUA) em julho de 2000, entre o Presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, o Primeiro-ministro de Israel, Ehud Barak e o presidente da Autoridade Palestina, Yasser Arafat. Foi uma tentativa infrutífera para negociar um "acordo final" para o conflito israelo-palestiniano. Fonte: SENNA, Lorena Estrela de (2008 p. 36). 25

Estação balneária no Golfo de Aqaba, início de 2001. Representantes israelenses e palestinos estão reunidos desde 21 de janeiro, para tentar “salvar a paz”. Fonte:

Page 57: a criação do estado de israel e a fragmentação da palestina

57

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O conflito entre os árabes e os judeus, aqui tidos como representantes os

povos palestinos e israelenses, respectivamente, ocupa os noticiários quase que

diariamente. Embora as informações sobre o assunto sejam muitas e existam muitas

obras sobre, percebe-se a falta de um conhecimento sobre o contexto histórico no

qual ele se dá, seja pelo grande público em geral, seja pelos alunos em particular.

As transformações ocorridas no Oriente Médio e as tensões permanentes,

que ocorrem na Palestina podem ser consideradas como o pano de fundo principal

dos conflitos de uma região que foi cobiçada e colonizada por vários impérios desde

quando mencionada na bíblia (tomando esta obra sagrada como a referência devida

do ponto de vista científico, pois é o que reza uma pesquisa histórica). Por envolver

a questão da religiosidade, essa região ganhou uma importância de dimensão

imensurável, principalmente para a religião judaica, tornando-se assim, um palco de

disputas muito recentes.

O povo árabe, com sua crença em expansão no século VII, propagou sua Fé

nos quatro cantos do Oriente Médio. Este que sempre foi um local estratégico

desde a Idade Média, banhado pelo mar mediterrâneo, foi cenário de muitas

batalhas no passado. Muito antes disso, durante o Império Romano, teria lá nascido

e morrido Jesus Cristo, santidade da religião cristã, e como se não bastasse, o

território palestino também foi o local de surgimento do judaísmo e do islamismo.

Dadas essas considerações, não se pode esperar que essa região seja um local

pacato do globo terrestre, considerando os interesses políticos de outros países, sua

formação territorial e as características religiosas do seu povo.

Com a criação do Estado de Israel no ano de 1948 consideramos ser o

elementos decisivos para ampliação dos conflitos na região Oriente Médio, já que a

sua fundação desencadeou de pronto, uma guerra com os países vizinhos e outras

quatro foram travadas posteriormente, despontando como alteradoras do cenário

político e geográfico da região, além de formar uma grande leva de refugiados de

guerra. O atual modelo do Estado de Israel, um Estado criado para ser o “lar

nacional judaico” na Palestina é baseado no ideário sionista e consideramos ser

essa a causa do seu fracasso em atingir a paz quase sessenta anos após a sua

fundação. Percebemos que à medida que as idéias sionistas tinham por escopo

privilegiar uma única etnia quando tentou criar para ela um Estado em uma região

Page 58: a criação do estado de israel e a fragmentação da palestina

58

multiétnica, a etnia desvalorizada reagiu com violência e somente uma mudança

nesse modelo poderá trazer a paz, o que nos parece pouco provável pelo menos

num curto espaço de tempo.

A ideia predominante é a ocupação da área, devido à existência de um

projeto maior sionista em buscava a criação de um Estado judeu com fim e meio,

pois havia um povo sem terra para uma terra sem povo, negando assim a existência

dos Palestinos e seu direito a sua terra natal. Com esse implemento, os palestinos

estavam prestes a perder seus direitos essenciais, como a identidade, a terra, a sua

história e costumes (o que ocorreu de fato), que facilitou a entrada dos grupos

sionista, depois da deflagração das guerras e tomada da palestina.

Este trabalho procurou mostrar a versão árabe do conflito sob o ponto de vista

do conflito na palestina. O curioso é que a parte mais interessada na questão foi a

mais prejudicada, outro ponto é que não existe uma ponte de atendimento entre o

mundo árabe e o ocidente, o que acaba prejudicando o povo palestino com a visão

do problema refletido na ótica de autores ocidentais, com uma visão complexa do

conflito. Isso tem contribuído para o prolongamento da problemática desse conflito

há várias décadas e vem afetando de forma negativa a vida diária dos moradores de

todo o Oriente Médio.

Podemos dizer que seja pouco provável uma solução pacífica no contexto

atual. Há vários interesses envolvidos que impedem a solução do conflito, como

interesses políticos, econômicos, religiosos de ambas as partes ( Judeus e

Palestinos) que dificultam um acordo de paz definitivo. Manter o estado de guerra na

região é interesse máximo para a indústria bélica, apoiada, muitas vezes por

parlamentares que trabalham como lobistas defendendo seus interesses e não do

povo. Outro ponto é a localização da Palestina, que se encontra em um ponto

estratégico para controlar a região.

O Estado de Israel tem muitos problemas para manter a união da sua

população em torno da unidade nacional, essa unidade não existe em si e a principal

dificuldade é a origem da população israelense. Cada grupo é oriundo de lugares

distintos como a Etiópia, Rússia, EUA, Europa e de muitos outros países. Essa

unidade nacional em si não existe por causa das grandes diferenças sociais,

culturas e econômicas, capazes de formar uma nação e um estado nacional

homogêneo.

Page 59: a criação do estado de israel e a fragmentação da palestina

59

O conflito entre israelenses e palestinos provavelmente é o conflito mais

duradouro dos últimos séculos. Perspectivas de que essa situação tenha solução

consensual certamente sempre foi o desejo da população mundial, ou pelo menos

daqueles que sempre desejaram a paz. Deve-se desejar a paz levando-se em

consideração o grande número de vidas arruinadas. Esse tema que sempre assusta

de forma impactante a comunidade de povos pacíficos do planeta, cada vez que

surge no noticiário informações sobre a Palestina não deve perdurar, pois se isso

ocorrer, mais vidas serão perdidas.

O desejo que fica é que esse conflito termine de forma pacífica, sem

exterminar mais vidas, sejam de judeus ou palestinos, ou qualquer que seja sua

origem, pois a paz mundial tão desejada é o ponto de partida para que conflitos

como esse não tenham mais espaço na política de nações em todo mundo.

Page 60: a criação do estado de israel e a fragmentação da palestina

60

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