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A COSMOVISÃO TUPI

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Page 1: A COSMOVISÃO TUPI

A COSMOVISÃO

TUPI

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APRESENTAÇÃO

A sabedoria ancestral presente nesta apostila é uma pequena síntese de um longo período de estudos, pesquisas e experiências pessoais que já somam mais de duas décadas. O tema da primeira parte, que trata dos princípios filosóficos norteadores da cultura ancestral tupy-guarany, foi apresentado inicialmente como parte de uma conferência ocorrida na França, em 2001, na Fundacion Denis Guichard, em Montpellier, em uma mesa redonda com cientistas estudiosos da Física Quântica, da Matemática e da Antropologia, promovida pelo botânico Jean Marie Pelt. No ano seguinte foi apresentado na Índia, em Nova Delhi, por ocasião do II Congresso pela Preservação de Sabedorias Ancestrais que reuniu mestres estudiosos do Vedanta (uma filosofia ancestral hindu), representantes de tradições indígenas, religiosos e estudiosos de antigas tradições. O Congresso foi promovido por Swami Dayananda Saraswati e teve também a participação na ocasião de Sua Santidade o Dalai Lama.

Por fim, houve a oportunidade de ser apresentado em um congresso na cidade de Grasse, novamente na França, em 2004, como parte de um diálogo entre a sabedoria ancestral e a ciência contemporânea para, logo em seguida, já no Brasil, seu conteúdo, graças ao apoio e organização de Glória Sobrinho, coordenadora da UNIPAZ (Universidade da Paz) do Rio de Janeiro, transformar-se em um curso de extensão em pós-graduação, onde é realizado no Rio de Janeiro, com o título de Eco-Medicina Tupy.

A segunda parte deste trabalho traz ensinamentos que tempor objetivo o desenvolvimento pessoal pela via da tradição ancestral tupy-guarany, via esta que permite a auto-investigação e a expansão da consciência tendo por caminho o desvelamento dos mistérios da natureza. Trata da percepção das forças elementais que se movem dentro e fora do indivíduo e de como elas podem tolher ou impulsionar a evolução do indivíduo. Além disso, são oferecidas práticas para harmonizar e integrar os três aspectos que essa filosofia considera fundamentais: o corpo, a mente, o espírito, através da entoação de palavras formosas, de exercícios vibratórios, pelo desenvolvimento da Gratidão pela Mãe Terra, pela conexão com o Sagrado Mistério Divino e pela reverência aos ancestrais considerando três níveis de reconhecimento: o genealógico, o anímico e o divino.

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PRIMEIRA PARTE:

A SABEDORIA ANCESTRAL: INTRODUÇÃO

“O mundo possui muitas mentes brilhantes, mas hoje o mundo precisa de corações brilhantes.” Dalai Lama

“Observe a oração do mundo, a oração da natureza, porque o ser humano é o local ondeo Universo toma consciência de si mesmo, é o local onde o Universo, através do coração humano,se volta em direção ao seu Criador.” Pai Sérafin, Monte Athos

O índio foi imaginado pela mente ocidental de século XVI como uma cultura sem rei, sem fé, sem lei – assim registram alguns escritos da época. No século XX, a sociedade brasileira de maneira geral chama de índio o sujeito violento, bárbaro ou o miserável que mora em casas improvisadas. Chamam de índio também os representantes das etnias que ainda vivem dentro da proteção de um ecossistema, como o amazônico ou o mato-grossense. Costuma qualificar o índio pela aparência (preferencialmente nua e pintada), pelo exotismo e sobretudo pela dificuldade de comunicação com a sociedade vigente. Neste texto estamos mostrando uma visão de “índio” profundamente diferente, deixada pelos últimos grandes sábios da sociedade mais antiga desta terra que se estendia por todo o atual litoral brasileiro e mais Paraguai, Uruguai, Argentina e Bolívia. Trata-se do milenar tronco tupy-guarany. O valor da tradição do povo chamado índio está no fato de mostrar à atual sociedade que uma cultura ancestral destes lados da América teceu sistemas de vida auto-sustentáveis e relações fundadas na perspectiva de desenvolvimento e progresso de corações valorosos.

Tupã Tenondé(Primeiro capítulo da obra Tupã Tenondé: A criação do Universo, da

Terra e do Homem, São Paulo: Peirópolis, 2001, da tradição oral tupy-guarany, transcrita e comentada por KakáWerá.)

***

Nosso Pai Primeirocriou-se por si mesmo

na Vazia Noite iniciada.

As sagradas plantas dos pés,o pequeno assento arredondado

do Vazio Inicial,enraizou seu desdobrar (florescer).

Círculo desdobrado da sabedoria inaudível,fluiu-se divino Todo Ouvir.

As divinas palmas das mãos portando o bastão de poder.As divinas palmas das mãos feito ramas floridas

tramam o Imanifestado, na dobra de sua evolução,no meio da primeira Grande Noite.

Da divina coroa irradiadaflores-plumas adornadas em leque.

(Em meio às flores plumas florescem)A coroa-pássaro do pássaro futuro,luz veloz que paira em flor e beijo,

que voa não voando.

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Nosso Pai Primeiro criava futuro colibri, no curso de sua evolução, seu divino corpo.

Existia no entanto em meio aos primeiros Ventos Futuroscomo coruja dentro da Noite Primeira.

Olhava-se, revoandoseu futuro firmamento, sua futura terra:

brisas surgidas.Enquanto colibrizava vidas

dos ventos produzidas do Imanifestado que fora:Um colibri.

Nosso Pai, O Grande Mistério, o primeiro,antes de haver-se criado,no curso de sua evolução.

Sua futura morada,sustenta-se no Vazio.

Antes que existisse sol,ele existia pelo reflexo de seu próprio coração

e fazia-se servir de sol dentro de sua própria divindade.

O verdadeiro Grande Espírito, o primeiro,existia diante dos ventos primeirosde onde se ancorava no vazio-noitefeito coruja produzindo silêncios.

E fez que se girassem as manifestações desi diante da noite, vestido de espaço.

Antes de haver o verdadeiro Pai, o Uno,criado no curso de sua evolução, sua morada,

antes de haver criado a Terra Primeira,existia em meio aos primeiros ventos.

E o Vento Primeiro de nosso Paipodemos percebê-lo como espaço-tempo,

onde ao fim deste Vento,nomeou-lhe: época, era, (h)ora.

Orou, arando rios de tempo-espaço,desaguando novos ventos.

Os espaços novos, defloram e florescema flor de cada época.

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A ESSÊNCIA DE TUPÃ

Nhande-Ru Tenondé, embora seja uma expressão que significa literalmente “Nosso Pai Primeiro”, é um dos vários nomes que se atribuem à Suprema Consciência, cujo corpo é o espaço imanifestado e cuja essência manifestada é o ritmo, o Espírito-música.

O Grande Som Primeiro, também vislumbrado pelos grandes pajés como a Eterna Música, geradora de vidas é também chamado Tupã Tenondé, expressão desdobrada das palavras tu (“som”), pã (sufixo indicador de totalidade), tenondé (“primeiro, início”) – era como no século XVI onde os Tupynambás tentaram, explicar aos estrangeiros, quando eram interrogados, a respeito do conceito indígena de Deus. Por mais que os tamãi (velhos sábios) tentassem explicar, àqueles que vieram do outro lado das Grandes Águas, entenderam somente um aspecto superficial do Altíssimo, respeitosamente denominado Ser-Trovão.

A essência de Tupã Tenondé é Nhamandú, o Imanifestado tecido de vazio luminoso e de vazio de silêncio que são, na visão ancestral, a expressão máxima do Grande Mistério Criador das Coisas Vivas.

O colibri (beija-flor) traz em seu enredo o significado de ser a própria essência divina primeira e, de acordo como pensamento Guarany, cada ser humano tem uma alma-colibri que habita na morada do coração, território de Tupã.

O Ser emerge do Todo, mas não se desfaz do Todo. Da mesma forma que o Todo se desdobra em dimensões (sete) e mundos (três), o Ser acompanha.

No Mundo-Céu, o Ser e o Todo se manifestam como unidade; no Mundo-Terra, o Ser e o Todo se manifestam como diversidade; no Mundo-Intermediário, o Ser e o Todo se manifestam expressando a marca do masculino: jeguaka, e a marca do feminino: jasuka, e colocando a vida em movimento.

Esses três mundos acontecem de modo interdependente e fundamentam o Ser. As dimensões do Ser vibram em tom de sete notas ancestrais, incluindo-se o silêncio. Essas cordas vibrantes interpenetram-se, gerando a música da vida, totalizando o Ser.

Os Pais Primeiros, como são chamados, também se responsabilizam pela criação do ser humano. Tupã Tenondé, que se desdobrou em Seres-Trovões, que colaboram criando mundos e constelações, agora prepara um co-criador para a morada terrena. Desdobrará em Tupy.

A palavra tupy hoje está associada a uma etnia. No entanto, ela significa literalmente: tu = som e py = pé, assento (apy, apyka). Tupy quer dizer “som-de-pé”, ou seja, o ser humano. Uma tonalidade da Grande Música Divina colocada em pé, encarnada, dentro de um assento chamado corpo-carne, para entoar a criação no mundo terreno, para ser na Terra o que sua essência sagrada é no céu: escultor, tecelão, cantor e transformador da vida.

O NATURAL E O SIMPLES

SOMOS PARTE DA TERRA E ELA É PARTE DE NÓS

A Terra é a manifestação física do divino, de Deus, a Sua face feminina, através da qual Deus se realiza: a Grande Mãe, a Senhora da síntese que sustenta o nosso ser aqui na terra.

Também é Senhora da Matéria e, como Mãe, unidade e materialização, é a própria expressão do feminino que traz a Luz e lhe dá a Forma. Ela é a rainha regente de espíritos ancestrais divinos, seus auxiliares que cuidam de trazer a vida para uma estrutura de forma, através dos elementos: terra, água, ar e fogo. É o seu coração que os dirige e, por tudo isso, a Mãe Terra é muito reverenciada nas culturas de matriz ancestral para quem ela é a regente da Prosperidade, da Transformação, da Mudança, da Riqueza e da Saúde. Este é o profundo e verdadeiro significado do Sagrado Feminino, a marca do Jasuká, segundo a ancestral cultura tupy-guarany. A Mãe Terra é uma expressão de Deus em que cada um desses espíritos tem uma função: o fogo é o seu pensamento; as águas são os seus sentimentos vivos; a terra é o corpo astral que prepara o corpo físico; o ar é a sua presença sagrada, o ar que passa, que está dentro de nós, entrando e saindo através da respiração. Essas energias são dirigidas por consciências e não são meros fenômenos naturais. Essas e outras consciências ou espíritos formaram um grande conselho que vem acompanhando cada etapa da evolução ou involução do mundo físico. Eles participam silenciosamente do processo evolutivo da humanidade e, além de participar, também o regulam. Se por algum motivo acontecer algo que ponha em risco a harmonia, eles intervêm, atuando no mundo, para garantir o equilíbrio da vida. A base desse conselho é a própria Mãe Terra com seus espíritos auxiliares e os espíritos anciões da humanidade que, tendo passado inúmeras vezes pelo reino humano conseguiram sintetizar a soma de suas experiências em grande sabedoria, fundindo-se com a luz. Tal conselho foca sua luz a partir de quatro portais sagrados que, circundando o horizonte, podemos ver expressos em direções. Cada uma das quatro direções desse conselho gerou uma raça humana: o povo vermelho, o povo negro, o povo amarelo e o povo branco.

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Como filhas da Terra, embora com algumas características que as diferenciam, todas as raças foram formadas com os mesmos elementos da Grande Mãe e do Criador, o Grande Espírito que, na língua Tupy, temo nome de Nhamandú, cuja tradução literal é o Silêncio Luminoso, o Imanifestado.

Não se pode separar toda a linhagem que forma a árvore sagrada de cada ser humano daquilo que sustenta a sua árvore no mundo físico: a Mãe Terra.

O primeiro ancestral que cada ser humano deve reverenciar é a sua árvore, como síntese daquilo que sustenta o seu ser na terra, o mesmo acontecendo com a Grande Mãe. Dessa forma, cada ser humano é um microcosmo do Céu e da Terra. Isto se reflete na alma de cada indivíduo, como qualidades psíquicas potenciais, temperamentos, tendências de personalidade, formando a natureza pessoal de cada semente humana. Assim, algumas questões se põem: “Qual é a sua natureza? Que linhas de forças naturais o influenciam? Como aproveitar-se de sua natureza pessoal para atingir os objetivos do espírito?”

O QUE ACONTECE À TERRA ACONTECE AOS FILHOS DA TERRA

A cultura tupy, a primeira a fazer parte da formação do povo brasileiro, é vivencial e se expressa através da arte, inclusive os grafismos que antecipam uma forma de escrita; da dança; de dramatizações que reproduzem a história da cultura, cosmovisão e ancestralidade; dos cantos que transmitem ensinamentos e dos rituais que, além de estabelecerem a conexão como sagrado, também são formadores do caráter e da ética de um povo. Ou seja, ela não se limita a uma tradição oral como normalmente é reconhecida. Além disso, o que é chamado de tradição é um conjunto de valores universais, inspirados pela natureza e fruto de uma audição profunda dos ensinamentos do Sagrado Espírito da Terra que são repassados de geração a geração através de um sistema denominado – Ayvu Rapyta: “Os fundamentos do Ser” – que ensina sobre a origem e a formação do guerreiro, do caçador, do xamã e do artesão, levando as pessoas a conhecerem a sua origem, o Ser e as leis que regem o ser, assim como o início do universo e o início da humanidade.

O ser, do ponto de vista desta cultura, é um som (uma vibração energética) que ocupa o corpo físico que o envolve e este é a casa viva tecida pela Mãe Terra. Esse som que somos se manifesta como luz – Endy – e sopro – Ayvu. A nossa verdadeira identidade é a luz-som, denominada Tu.

De Nhamandú , o Grande Silêncio-luz onde tudo é desde sempre, se originou Kuaracy, a Mãe-Luz, que gerou Tupã, o Criador (Tu é o som e Pã a emanação ou desdobramento do som) que, emanando a vibração dessa luz, criou tudo (tudo é vibração luminosa autoconsciente). Assim, a vibração de uma mesma origem explica porque tudo está ligado, conexo, unido a uma fonte irradiadora sendo, portanto, parte do todo. Ou seja, se toda a matéria se reduz à mesma substância tudo é igual ou está inter-relacionado. Fragmentos infinitesimais desta vibração luminosa autoconsciente é o Ser que foi plasmado pela Terra através de suas quatro qualidades: a terra, o ar, a água e o fogo, que são desdobramentos divinos da Própria Divindade que permanentemente floresce de si mesma.

A qualidade Terra gera o temperamento do ser que responde pela afetividade, emoção, sentimento. O ser também tem uma qualidade do Céu, que é a capacidade de criar. O ser humano utiliza a qualidade do céu criando vibrações com o pensamento e a qualidade da terra, com os seus sentimentos e emoções. Assim, a qualidade do que o ser cria, com os seus pensamentos e sentimentos, fica preso à sua luz áurica, e em algum momento irá cristalizar-se e materializar na efêmera realidade tridimensional. Todos os seres são regidos por leis da Natureza que foram estabelecidas pela Divina Sabedoria do Grande Mistério. A primeira dessas leis diz que aquilo que nós vibramos ou entoamos atrai as vibrações correspondentes. Se os pensamentos (criação), sentimentos, desejos, vindos do consciente ou subconsciente, forem maus, podem gerar uma energia que fica agarrada ao Endy (a aura que é a irradiação da luz do ser), sujando-a. Daí, é preciso prestar atenção às palavras. Deve-se buscar entoar palavras “formosas”, Nhen-porã.

A MENTE CRISTALINA DE TUPÃ

A natureza ensinou aos antigos sábios tupy os poderes do silêncio e do som com o propósito de alinhar a mente humana com a Mente Divina. É através do silêncio e do som que a Mãe Terra, cria todas as formas de vida que iluminam as diversas paisagens que vemos. Inclusive a paisagem da sua vida pessoal, que lê este parágrafo, é resultado das imagens, crenças e padrões que sua mente povoou ao longo da sua vida, pois como filho da Terra, possui o mesmo dom da Mãe.

Na Tradição Tupy, o silêncio é o Grande Espírito, ou seja, o Silêncio e Deus são uma coisa só, a respiração é o corpo do Grande Espírito. Depois do Silêncio foram geradas as vibrações das vogais e, quando se emite uma vogal está se saindo do Silêncio Criador e entrando no mundo da

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manifestação. Isso é o que significa o aspecto de Tupã – o Som Criador. Na língua tupy, Avanembô – as quatro mentes do ser – é formada por três palavras, cujos significados são: Ava é Ser; nem é ser; e bô é ser. Três palavras diferentes significando a mesma coisa em níveis diferentes. Ava é o Ser no sentido espiritual; nem é o ser, referindo-se à alma da pessoa, e bô refere-se à pessoa física. Então, Avanembô significa: o ser físico, o ser anímico e o ser espiritual.

Uma vez que na língua tupy não se desenvolveu um conceito oral e escrito que corresponda à palavra mente, a palavra mais próxima dela é reko que significa estado de ser. Cada ser humano possui um Nhandereko: Nhande quer dizer nosso e reko, estado de ser. Então, cada um de nós possui uma mente – reko – no sentido de estado de ser.

É importante entender esse primeiro princípio porque falamos de quatro mentes mas elas são desdobramentos do mesmo reko, ou seja, do mesmo estado de ser. E este por sua vez se manifesta de modo tríplice. O reko, a mente, é uma coisa só, a mesma unidade que, na visão tupy-guarany, atravessa e se diferenciam em três estados, o Avanembô, que são também chamados os três mundos: Ava diz respeito ao Mundo Superior, nem, ao Mundo Intermediário e bô, ao Mundo Inferior. São esses três mundos que atuam sobre a mente em seus três níveis e dos quais, resulta o quarto, que é a aparência física, ou o mundo da Manifestação. Então, o quarto estado do ser é resultado, ou seja, a expressão aparente dos três níveis anteriores. Podemos também chamar esses quatro estados de:• Estado Supra consciente• Estado Consciente• Estado Subconsciente• Estado da Manifestação.

O estado Supra consciente é o Ava, o Eu Superior; o estado Intermediário é o estado da Consciência e o estado Inferior é chamado Subconsciente. Esses três estados andam juntos e são desdobramentos dos três níveis de vibração, lembrando o conceito tupy de Ser, pois mente e ser estão correlacionados nesta tradição.

No Mundo Superior, o Ser, na tradição tupy, é o Som, o estado genuíno de um Ser, uma expressão vibracional, um tom. Esse Som tem um corpo original que é a Luz, é o nosso primeiro e genuíno Corpo- Luz. Somos vibração e luz e esse estado de pura vibração de Luz é o primeiro nível, o Supra consciente, o Ava, uma Consciência Luminosa. O Mundo Intermediário da nossa consciência, de nosso reko, é o estado Consciente, o nem que é uma passagem entre esse momento da Clara Luz e o momento em que é formada uma imagem, uma expressão, momento em que sai de uma percepção abstrata para uma percepção que se procura objetivar, se concentrar num ponto. Essa passagem é sutil, o pensamento vem como um lampejo que, de repente, assume uma imagem. Quando assume essa imagem é o estado Consciente.

No Mundo Inferior, com o resultado da emoção, a intensidade desse sentido baixa a vibração e a forma começa a assumir uma densidade. Por exemplo, uma Luz Pura é uma coisa, quando peço para imaginá-la numa forma esférica foi dado um sentido; quando digo que é uma forma esférica e quente foi colocado um intento.

No nível da manifestação, essa luz esférica tem uma textura, ela tem, além de forma, uma presença, é o nível da densificação que passa por dois estágios: um interno e um externo. Este é a manifestação, aquela forma que pode se manifestar, é o bô, o Mundo Físico. Então, depois do Silêncio Criador, foram geradas as vibrações das vogais. De acordo com a Tradição Tupy, quando há emissão da vibração de uma vogal ocorre a passagem da Clara Luz, para o nível intermediário, o nível da pura emoção, entrando no mundo da manifestação. O silêncio e o respiração correspondem ao mundo Superior, ao primeiro estado de Ser, ao primeiro Reko, à primeira Mente. Depois que se emite um som já estamos saindo desse nível e entrando no nível da forma, não da forma densa mas da forma da coisa criada. O som das vogais representa essa passagem de mundos– do mundo incriado para o mundo criado. É pela vogal que o mundo da pura emoção, o mundo intermediário agregado à Clara Luz pode assumir uma forma.Cada um dos mundos possui uma determinada vibração e essa expressão vibracional é representada pelas vogais:

I > Mundo Superior, A> Mundo Intermediário, e O> Mundo Inferior

Como é muito importante manter esses três mundos em equilíbrio porque dele depende o nosso equilíbrio, ao entoarmos “I – A - O”, estamos equilibrando esses três mundos dentro de nós.

A ARTE DE CURAR

Enquanto a doença está no nível sutil ou até mais próximo do nível denso, o trabalho terapêutico pode ajudar a dissolver energias que geraram os desequilíbrios. O trabalho terapêutico atua em três aspectos, ou seja, nos três mundos. É extremamente importante disponibilizar para aquele que busca a cura, a sabedoria que existe no interior de si mesma tornando-a consciente de que a energia da vida segue o pensamento (Mundo Superior),o

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sentimento (Mundo Intermediário) e a crença (Mundo Inferior); e que tal energia assume a qualidade do que ela pensa, sente e crê.

A IMPORTÂNCIA DOS RITUAIS

O ritual em determinados momentos é necessário porque as cristalizações em qualquer dos quatro níveis estão nos corpos, e de alguma forma o corpo físico reproduz em gestos essas mentalizações. Assim, por exemplo, em uma pessoa muito rígida, o corpo vai refletir essa questão e um ritual de cura pode mudar esse padrão vibracional arraigado. Dançar em círculos, por exemplo, um movimento com propósito de rompimento de padrões negativos cristalizados, muda o “gesto arraigado” no corpo, e propor um novo “gesto”, também limpa as cristalizações negativas.

Há também as doenças coletivas, raciais, que são causadas pela mente coletiva. Por exemplo, uma mente coletiva de promiscuidade manifesta uma doença pela lei de causa e efeito, com a missão de reequilibrar aquele povo. Assim também ocorre com doenças que são concentradas numa mesma época. Em parte, isso ocorre por um mesmo tipo de pensamento coletivo e, em parte, pelos problemas relacionais da época, em função do tempo que está sendo vivido, em que toda a terra está sendo curada.

O PODER DA NATUREZA DA CURA

O nosso padrão vibratório original, genuíno, veste um primeiro corpo que é Luz, não exatamente a mesma luz que vem do fogo. Então, essa luz é vivificada pelo elemento fogo, insuflada pelo elemento ar, ganha sensibilidade através do elemento água e tem concretude através do elemento terra. No nível do fogo há uma correspondência com a palavra, com o som; no nível do ar com a expressão, a luz se expressando dentro da vida da palavra; no nível da água com o sentir e na terra com a concretude. Não dá para separar a mente da presença dos elementos desde os seus níveis mais sutis porque esses elementos constroem os sentidos da luz, do caminho que a mente faz até a manifestação ou expressão. Da mesma maneira que a luz é a “cola”, é o entrelaçamento da mente interagindo comas vibrações dos quatro elementos que a vida acontece. É esta a razão porque, para descristalizar, é necessário usar a força dos próprios elementos.

Na Tradição Tupy é usada a fogueira, a Luz do próprio fogo para transmutar as vibrações negativas que se densificaram. Também o jeroky, a dança sagrada, para purificar os males, através de o movimento circular em torno do fogo sagrado. Além disso, a seiva das folhas, os aromas das plantas, as cascas das raízes e até mesmo os frutos que o reino vegetal nos oferece, possuem uma profunda dimensão curadora, que devemos respeitar, reverenciar e utilizar quando necessário

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SEGUNDA PARTE

AS ORIENTAÇÕES DE TUPÃ

DA COSMOVISÃO E ANTROPOLOGIA

Nhanderú Nhamandú tenondé-guáO yva ra oguero-jera ey mboyve i

Pytu Ae ndoechaiKuaray oiko ey ramo jepe

O pya jechaka ra ae oiko oikovyO yvara py mbaekuá-a py

Onembo-kuaray i oiny

Nosso Pai, O GrandeMistério, o primeiro,Antes de haver-se criado, no curso de sua evolução,

Sua futura morada, sustenta-se no Vazio.Antes que existisse sol

Ele existia pelo reflexo de seu próprio coraçãoE fazia servir-se de sol dentro de sua própria divindade.

(canto 6 do capítulo 1 de Tupã Tenondé)

O Colégio Internacional dos Terapeutas propõe uma antropologia que seja igualmente uma cosmologia, pois não percebe o Homem como algo separado do universo. Diz também que esta antropologia deve ser uma ontologia, pois não distingue o Homem como separado de uma origem que continuamente lhe escapa e continuamente o sustenta. No Ayvu Rapyta, os fundamentos do ser, segundo a tradição ancestral guarani, o Homem é um desdobramento do Todo, e não uma separação deste. A palavra em tupi oguerojera, nos convida a perceber o ente humano como uma pétala desdobrada da mesma flor.

Pytu yma mbyte re,Mbae jekuaá cy re,

Ayvu rapyta ra i guero-jera,Oguero- yvara Nhamandú ru-ete tenondé guá

Antes de existir a Terra, em meio á Noite Primeira,Antes de ter-se conhecimento das coisas,

Criou o fundamento da linhagem-linguagem humanaQue viria a tornar-se alma-palavra

E assim fez o Grande Espírito, que se formara parte e Todo.(trecho do canto 2, capítulo 2, de Tupã Tenondé)

De acordo com a visão ancestral, a essência matricial do ser é luz desdobrada do Todo, assim como o raio do sol é parte indissociável do sol, que se expressa por meio de da mesma luz-fonte, por meio de íntima vibração (expressão). Tal expressão (vibração), a tradição ancestral chama de alma-palavra: O ser é um som.

Este som vestiu-se das forças naturais (terra, água, fogo e ar) e corporificou-se. Estas forças naturais são também níveis dimensionais que estruturam a existência material. Elas são regidas pelo princípio feminino, chamado Cy, na percepção dos antigos sábios tupi-guarani. Estas são as premissas antropológicas de Tupã. Estas quatro forças estruturam o corpo material do Homem, quando estão alinhadas e harmônicas, resultam na saúde física, emocional, psíquica, espiritual. Quando, por sua vez, estão desalinhadas, cabe ao ser, por vezes com a ajuda do terapeuta, de por em ordem, em harmonia, e restabelecer a saúde em quatro níveis.

Devemos lembrar que para a harmonia, o som essência deve estar ressoando também notas e timbres harmônicos, ou seja, a essência que sustenta as quatro forças deve estar desperta e clarificada pela íntima conexão da parte no Todo e do Todo na parte.

DA ÉTICA

A partir deste pressuposto antropológico, o indivíduo sendo um microcosmo do Grande Mistério, e este por sua vez se expressando do modo múltiplo, em inúmeros seres e coisas, cada ser e cada coisa é um si , uma extensão e um espelho-reflexo do Todo. Isto implica emuma ética profunda que parte do reconhecimento da unidade na diversidade. Os maias dizem, “eu sou o outro você”. Os tupis dizem, “eu e você somos o som do Criador corporificado na carne, mas em essência somos um, nosso pai é o Céu e nossa mãe é a Terra, que por sua vez são os nossos

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primeiros ancestrais em comum, e honrando os através da reverência e gratidão, nos mantemos ligados á unidade primordial”.

A sabedoria guarani diz que, embora cada indivíduo tenha o seu nhandereko, ou seja, o seu jeito particular de ser, de se manifestar na existência material, em essência as mesmas forças e energias nos sustentam, polarizadas pelo poder da lua e pelo poder do sol. Por isso esta ética profunda resulta em uma segunda consideração: por meio da inclusão e respeito, honrar todas as nossas relações, pois elas se revelam como extensões de nós mesmos. Pela convivência, gerando complementaridade, oposição ou conflito elas nos aperfeiçoam e mantêm assim a dinâmica evolutiva da parte no Todo, e do Todo na parte.

DO SILÊNCIO

A fonte do Grande Mistério Criador, a fonte de onde o poder da palavra criadora se manifesta, a fonte do trovão... é indiscutivelmente o silêncio. Nhamandú, é o silêncio luminoso. O som inaudível. A essência de Tupã é Nhamandú, o Imanifestado, tecido de vazio e silêncio. Na mitologia guarani o vazio e o silêncio são carne e unha. No Tupã Tenondé é representado as vezes como vazio. Seu símbolo maior são os olhos da coruja, que são um par de espelhos da vida transcendente. Por isso a coruja representa mistério e sabedoria. Ela traz a qualidade da percepção do existir material e imaterial, ela percebe a existência e seu fluir, que na língua se diz oguerojera, o desdobramento da fonte em seu eterno desabrochar. Esse desdobrar refere-se ás sete dimensões á qual a existência se manifesta, somente perceptíveis ao arguto olho do silêncio, que vê além da treva provocada pela noite, filha da dimensão material. O escuro, neste caso, representa as limitações de percepção que o mundo material nos proporciona, podendo ser rompido pela claridade do silêncio.

DO ESTUDO

A importância do estudo é fundamental como apoio para a visão que busca ver além da noite da existência fenomênica. Na cultura ancestral o estudo prevê recolhimento, introspecção, auto-observação, desvendamento e alinhamento de si, como primeira fase. O estudo auxilia na expressão, atitude e comportamento de acordo com a riqueza interior ao qual cada indivíduo é portador. Os verdadeiros pajés recolhem-se em grutas para a ‘auto-investigação', para a observação de seus medos, anseios, crenças, convicções. Para perceber aquelas que se sustentam na árvore da verdade e aquelas que não possuem raízes verdadeiras. Para um terapeuta, quanto mais profundamente ele desvenda a si mesmo, mais preparado ele se torna para cuidar do outro, pois, como sabemos, o outro e eu somos portadores da mesma essência e dos mesmos potenciais.

DO SERVIÇO

Uma das maneiras mais eficientes de se combater o egoísmo e o egocentrismo que a noite da existência nos propicia é através do serviço, que é a arte de servir. O serviço é o ato sagrado da doação de si, de suas habilidades, conhecimentos, maturidades, para o apoio ou suporte do outro, conhecido ou anônimo, em nome da divina harmonia, que se manifesta como saúde, qualidade de vida, equilíbrio social, ecológico, pessoal.

Servir não é assumir a carga do outro, mas impulsioná-lo, de acordo com situações ou necessidades prementes, à restabelecer o seu centro, o seu eixo, a sua conexão sagrada entre o céu e a terra. Impulsioná-lo a descobrir, recobrar, ou seguir, o caminho sagrado de sua expressão interior. Essa é a missão do terapeuta.

DA RECICLAGEM

A natureza se renova de tempos em tempos. Seus ciclos nos ensinam a preciosidade deste comportamento.

Existe a pequena renovação diária sob os auspícios do sol e da lua, do dia e da noite. Existe a renovação setenária, sob os cuidados da semana. Existe a renovação mais profunda e longa, sob a regência das estações. E assim sucessivamente. A dança da criação se renova para que possamos também nos renovar de acordo com seu ritmo e sua harmonia.

Tupã se expressa em quatro ciclos de renovação. Arayma – o tempo primeiro, o caos inicial, o seco, o inverno. Arapoty – as flores que se abrempara o céu, a primavera. Arakuá, o outono, que remaneja e purifica. E Arapyau, o verão, a divina graça em expressão.

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DO RECONHECIMENTO

O mais velho cuida do mais novo.O ciclo se faz por um círculo, mas um círculo que não se fecha. O mais velho já foi o mais novo e por isso conhece o caminho e os descaminhos. O mais velho é aquele que permanece no reconhecimento da memória de que o ser emerge do Todo, mas não se desfaz do Todo. Da mesma forma, ele permanece com a convicção de que o Todo se desdobra em sete dimensões e em três mundos que se enlaçam divinamente. O mundo-céu, onde o ser e o Todo se manifesta como divindade. O mundo-terra, onde o ser e o Todo se manifesta como diversidade. O mundo intermediário, onde o ser e o Todo se manifesta como polaridade, trazendo a marca do feminino e do masculino, organizando-se em complementaridade. O mais novo muitas vezes escapa da complementaridade provocando a oposição, a recusa, a expulsão, a exclusão de si do Todo. O mais velho refaz o círculo observando os ciclos, re-integrando-os ao Todo.

Assim é a música da vida, pois cada dimensão vibra sua nota própria, seu tom, sua vogal, sustentada pelo silêncio, interpenetrando cada espaço de cada timbre da manifestação na expressão da vida de um indivíduo. Para isso deve haver o reconhecimento do mais novo para com o mais velho.

RODA DO SONHO E ANAMNESE

Anotar sonhos e utopias significantes, assim como acontecimentos que testemunhem a presença do Ser em uma vida e em especial, em sua vida, e um treinamento para o aprimoramento da vida interior.

A vida interior é a causa da vida exterior. Aquilo que estiver povoado no mundo interior, conseqüentemente se manifestará no mundo exterior. Por isso a diária vistoria, a diária vigília, a diária reflexão é tão importante. O mundo material é feito da energia dos sonhos. Não diz o mestre que pelos frutos conhecereis a árvore. A árvore é a vida interior, com seus medos e coragens, ocupações e pré-ocupações, padrões e crenças, cosmovisões e visões. Fazer uma faxina diária nos educa ao aprimoramento desta vida interior que sustenta as diversas realidade aparentes que se mostram na paisagem interior.

EVOCAÇÃO DA PRESENÇA: POR A FALA EM MOVIMENTO

A essência do ser é interna. A essência do ser é potência. Esta essência potência não foi alojada no coração da existência material á toa. Ela deve ser cultivada. E uma vez cultivada, ela deve ser evocada como presença.

Mais precisamente como sagrada presença. Uma semente não se aloja na terra á toa. A pequenina semente do jequitibá atravessa a dormência da terra, e quando se torna muda rompe a sombra que impõem as árvoresmaiores buscando o sol. Ela é fortalecida pelas quatro energias, através da água, da luz, do ar e da própria terra e se ergue. As dificuldades lhe dão uma personalidade própria, mas ela se ergue pela silenciosa evocação de sua divina presença.

Penetrar no silêncio é um meio, não um fim em si, para evocar a presença. Essa é a meta. E a partir da presença, deve-se por a palavra em movimento, ou seja, deve-se manifestar através de um comportamento adequado á esta presença sagrada.

FRATERNIDADE

Em todas as sabedorias ancestrais reconhece-se a ignorância como origem do mal. Existe na mitologia tupi uma fábula de que quando os primeiros ancestrais humanos foram gerados na Terra, os espíritos da noite distorceram as palavras de Tupã de que eles dominariam os campos e as paisagens pelo poder criador do sonho e da palavra em ação. Os espíritos da noite entenderam que os humanos eram inimigos e passaram a interferir na mente humana, criando perturbações, demônios maléficos, e incitações pela discórdia, inveja, e toda sorte de malefícios. Por isso, desenvolver o espírito da fraternidade é um remédio eficaz contra as distorções causadas pelos rastejantes espíritos da ignorância que foram gerados desde a noite dos tempos.

A fraternidade é a ação do reconhecimento de que somos verdadeiramente um, este um desdobrado multiplamente do Todo, vivendo cada um a sua experiência como parte. Assim é!

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AeAe oguerojera ramo katu

Nhande yvy py remondo va-eNheng porá imopyro vyGui rami reroavy porá-i

Jevy ta jevyNhen-i, ere o ta nhandé Nhamandú ra-y i

Opa mbaé jorami gua cyEy opuá avaete ramo jepeErero-py aguachu va-era

Vá amigo, desdobrado de Mim,Vá amigo, filho, irmão:

Desdobrarás como palavra-alma boaPara que te encarne,

E quando se tornar formaNhamandú em silêncio aconselhar-te-á discretamente:

Fique bem, filhinho do Grande Espírito,Considera como fortaleza a morada terrena,

E mesmo que todas as coisas em sua diversidadeApresentarem-se por vezes horrorosas,

Deves enfrentá-las com valentiaSimplesmente recordando de Mim em teu coração.

Vá.

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TERCEIRA PARTE

NHENPORÃ

O AMBÁ, O MANTO, E O TRABALHO SAGRADO

Nos tempos antigos, os aprendizes de pajés, que são os curadores tradicionais do povo tupy-guarany, se retiravam em determinados períodos em grutas, cavernas, ou clareiras solitárias no interior da floresta e buscavam o silêncio para o aprimoramento interior. Nestes lugares, após traçar um círculo no solo e estabelecer as quatro direções demarcando-as com pedras no chão, colocavam nos ombros um manto de plumas rosadas que iam até os pés. Eram penas do pássaro guará, e fazia parte da prática de recolhimento (ni), um retiro individual e voluntário. Assim os tupy-aprendizes fortaleciam ou restabeleciam seus vínculos sagrados ao ambá (altar) do coração, pelas práticas purificadoras da mente e da alma, no círculo do silêncio.

Quando fui acolhido no Colégio Internacional dos Terapeutas, pelos queridos padrinhos e companheiros De missão, Glória Sobrinho e Roberto Crema, ganhei um manto de linho branco, que é o instrumento sagrado para a reclusão, o acolhimento dentro de si mesmo, a renovação interior, a meditação e os estudos íntimos. Percebi imediatamente que entre o manto de plumas tupynambá da ancestral cultura tupy-guarany e o manto dos antigos terapeutas não havia diferença de propósito. E assim passei a utilizá-lo desde então nas minhas práticas pessoais de estudos, auto-observação e silêncio. Toda vez em que me ponho em reclusão, apoiado pelo acolhimento do manto, tenho o hábito de praticar também a anamnese através da escrita, colocando alguns temas em auto-avaliação para buscar compreensão mais profunda, para a partir daí tomar atitudes apropriadas para mim mesmo e para com as minhas relações.

A vida exterior, cheia de estímulos, conflitos e experiências, por vezes nos distância da essência que somos, e também por vezes, a todos nós, de maneira indistinta, temos a necessidade do recolhimento para despoluir a mente, re-organizar o eixo interno e integrar determinados aprendizados.

Reconheço que é um trabalho árduo, o da auto-observação, muitos pequenos eus habitam em nós, cheio de truques, que vão nos distanciando dos aspectos que procuramos transcender para avançar no caminho evolutivo. Intuitivamente ia anotando orientações, inspirações, orações. Entre um lapso de silêncio e outro. Depois as relia e procurava absorver a qualidade dos conteúdos que surgiam. Na tradição tupy-guarany são reconhecidos, quando somos inspirados a expressar pela intuição ou sonho a fala imaterial que passa pela alma, por Nhen-porã e porá-hei, que significa algo como palavras formosas e orações.

Ofereço estas orientações e rezas a ti, amigo de jornada por esta Amada Mãe Terra! E ofereço com carinho, não como doutrina ou sentimento de que tenha sido qualquer tipo de canal especial, uma vez que na verdade todos nós temos em nossa mente as mesmas antenas receptoras da inspiração divina e criativa. Ofereço como contribuição para inspiração, reflexão ou estímulo ao vosso próprio ser interno, cuja casa é o coração e o veiculo de expressão é a mente, a quem humildemente reverencio.Aguijeretë!!!

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TUPÃ

Eu Sou Tupã, durante muito tempo, dentro da escala de medida terrestre, permaneci adormecidona mente de cada um de vocês, que são, na verdade, aspectos de minha própria expressão.Houve uma época em que bastava olhar o nascente ou o poente e vislumbrar as tonalidades profundas e pacíficas que emergem do horizonte, para que imediatamente vossas presenças me reconhecessem.Depois, o foco de vossa mente foi mudando de atenção e ao chegar a este nível de densidade emque vocês se encontram atualmente, minha presença adormeceu na memória de vossas células.Eu Sou aquele que se expressa através do vento e da brisa, do silencio e do som, das águas dos rios e dos raios do trovão. Eu sou a mente perfeita, criativa e curadora que traz a luz da qual a matéria é forjada.Eu Sou o poder que se manifesta em cada flor que desabrocha, a cada mudança de lua, em cada emanação de cada palavra pensada ou falada.No entanto, preciso ser despertado em cada coração que bate.Além do sagrado som e do sagrado ritmo que palpita a vida a partir do centro cardíaco do vosso corpo físico, é necessário acender o fogo luminoso do coração!Inspire a luz do silêncio e acenda o fogo da paz em vosso coração!Eu sou aquele que lhe inspira hoje e sempre a manifestação de tudo que necessitas, de tudo que desejas e de tudo que aspiras!Eu Sou Tupã, eu falei!

A SAGRADA LUZ DO ARCO-ÍRIS

Eu sou Tupã, o Logos Divino encarnado na expressão da natureza. Sou o complemento da MãeTerra. Eu sou a respiração que se apresenta através das quatro direções e faz surgir as quatro estações à renovar a cada momento a vida material, aperfeiçoando-a com o apoio de miríades de seres a quem muitas vezes são chamado de elementais.Eu sou o ritmo sagrado que renova a vida!Venho anunciar-vos os raios do arco-íris ao qual eu parto como um cocar e oferecer-vos a gama vibratória desses raios. Ele estimula a cooperação entre os seres e ilumina a capacidade de amar-vos uns aos outros. Ele guarda o a sabedoria dos sete potenciais, sete caminhos, sete atributos divinos por onde a árvore humana pode crescer, florescer e frutificar.Caros filhos e filhas da Terra Mãe e do Grande Mistério Luminoso do Altíssimo!!! Absorvam as luzes dos sagrados raios! Inspirem! Infundindo-os em si mesmos através do alto de vossas cabeças, como um cocar multicolorido e depositem a soma dessas luzes em vosso coração.Inspirem e retenha no coração o poder sagrado destes raios em silêncio meditativo.Depois ajam de acordo com a lei do Amor que cria a todo instante todas as condições da existência.Com firmeza, ritmo e determinação! Sejam na Terra as luzes que vibra incandescente em vossos corações!Eu Sou Tupã, eu falei!

DE NHAMANDÚ

Nhamandú é a fonte que sustenta todos os silêncios que se irradia de seu próprio coração. É a fonte que faz trazer á expressão o trovão criador.Esta essência expande em inúmeros raios como o Sol, em todas as direções e vivifica toda a criação.Este sol entoa umritmo cósmico que se expressa como harmonia, como ação e repouso, como despertar e descanso, como dia e noite.A Mãe Terra integra este ritmo em todos os seus corpos e o traduz em diversas formas de vida e qualidades luminosas.Tupã entoa e impulsiona cada batida, cada pausa, e pelo poder da vontade complementa a manifestação da vida no tempo e no espaço!Esta inspiração e expiração cósmica e sutil ocorre ao mesmo tempo em cada corpo humano que se põe de pé, em cada ave, em cada animal, em cada mineral e em cada planta. O coração reproduz no organismo físico toda esta ação.É um trabalho permanente e sagrado, responsável pelo surgimento damais ínfima idéia e pela mais leve vibração de vosso pensamento.

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Produz uma seiva tênue que é reconhecida como emoção! E externa-se como palavra!Este é o segredo de Tupã: a consciência do que é a palavra.Cada vibração emanada de cada vogal possui uma irradiação. Cada consoante possui uma qualidade.Unidas formam a força da vibração emanada. E assim a realidade se manifesta!Qual realidade queres manifestar em vossa vida?

MBORAY(DO AMOR QUE É COMO O FOGO)

A causa da vida já foi dita por inúmeros mestres, profundos sábios, antigas tradições. As mais diversas possíveis, nas mais variadas línguas. A mais ancestral das sabedorias também confirma.A causa da vida é o Amor!Não a vida no sentido da existência passageira, cujo propósito é o aperfeiçoamento do ser em todos os níveis, mas a vida infinita, além de todas as aparências.Por isso, amem!Amem a si mesmos, cuidando de vosso corpo, mente e espírito, a cada manhã que nasce e a cada noite que renova os vossos corpos tecidos da terra, da água, do ar e do fogo.Amem a si mesmos honrando as palavras que emanam de vossa fonte criadora que é a mente.Amem a si mesmos agradecendo a luz que sustenta vossos ossos, órgãos, pele, e poder criador.Amem a si mesmos emanando somente palavras formosas, ao amigo e ao inimigo, ao próximo e ao distante, á si mesmos e á todas as suas relações.Amem!Amem reconhecendo em humildade e serviço que sois o poder divino em ação!!!

DO PODER DA NATUREZA DO SER

As águas descem do alto e vivificam a superfície da terra, e formam rios, lagos, cachoeiras, riachos.Elas também percorrem o interior da terra, como artérias, disseminando sua líquida luz pelas quatro direções.Os raios do sol, como um cocar celestial, entram em ação e ativam a vida, plenificada pelas águas e integrada ao misterioso poder da terra.O solo, que acolheu as luzes líquidas e celestiais, faz brotar as mais belas e diferentes formas minerais e vegetal, que por sua vez servem ao reino animal e humano.Em um dado momento as águas se elevam, em vapor, seguindo o caminho da luz. Explodem em chuvas prateadas e por vezes dourados raios ligam a terra e o céu. É o êxtase divino! Tupã. Assim a vida germina, materializa-se e expande.Assim como ocorre em toda a natureza, assim também ocorre no interior de cada serhumano.Do alto de vossa cabeça deve o sol do espírito irradiar sobre as suas águas para elevá-las.O corpo físico é a vossa terra vivificada pela luz das águas do sentimento, que, sob o comando dopensamento solar do espírito, se eleva, formando uma egrégora poderosa de pensamentos e sentimentos que germinará exatamente a qualidade da emoção e da crença que irradias.O que plantares em vosso mundo interior colherás em vossa realidade exterior.

DOS RAIOS DO TROVÃO

Tudo é de acordo com o que eu sou.Tudo é de acordo com o que és.A vida é incomensurável!!! Fantasticamente maravilhosa e simples! Mas há quem, ao ver a ação transmutadora e regeneradora da vida semanifestar como morte ou degradação, crer piamente que viver pode ser um ato desgraçado! Ou seja, sem a graça divina.As forças da dissolução agem pela graça divina!

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Através delas a luz se renova e possibilita as ações transformadoras e fornecedoras de novos ciclos, e é a passagem para outras dimensões da vida.Mas há quem viva da própria desgraça e da desgraça alheia para justificar a sua percepção limitadora desta imensa paisagem chamada vida, ou simplesmente para chamar a atenção para si.Não sóis a situação que muitas vezes imaginas que és!Sois portadores dos raios da criação!Preste atenção onde lança vossos raios!Sóis filhos do Trovão!Sóis Tupã em ação!

FILHOS DO TROVÃO

No amargo é que se sustenta o doce. Os sabores ruins refinam-se e estimulam a aprimorar o bom sabor.A noite é extensão do dia e no entanto, ela mesma, enquanto escuro, não existe.E o que é a perturbação: Uma energia efêmera, que o sistema nervoso temporariamente não controlou.E o que é o fracasso com todos os seus sabores:Um teste sagrado e vívido para o aprimoramento do espírito!Crer, confiar, perseverar e manter a paz interior na primavera, onde a prosperidade das formas, aromas, e cores jorram é importante.Mas crer, confiar, perseverar e manter a paz interior na tempestade, nas ondas dos ventos, nos cantos assustadores do trovão, é fundamental. Esta é a verdadeira iniciação da alma! Manter a paz diante dos estrondos da vida!Eis um dos mistérios das quatro direções: para treinar a paz na primavera, para rejubilar-se nela durante o verão, integrá-la no outono, e enraizá-la, assim mantendo-a firme no inverno.Assim serás um autêntico Filho do Trovão!

DA RAIZ DA PAZ

A paz é a única realidade que sustenta todas as imagens que vês.Mesmo no desconforto da guerra, esta termina e a paz não, pois logo atua regenerando a vida e cicatrizando as feridas.Mesmo no desconforto da perturbação por sofrimento, mágoa, fracasso ou queda, logo em seguida ela vai restaurar os sentidos e renovar as possibilidades da vida.A paz impertubavelmente progride mesmo na lamúria.A questão é: onde fixas a tua mente!Na perturbação efêmera da onda ou na profundidade do oceano!!!A paz atua, mas não passa.A paz flui como um rio, mas sua fonte é inesgotável.A paz não é ausência, nem vazio, nem inércia. É presença divina! A ponte do Imanifestado para todas as formas de manifestação.Paz é a vossa constituição!

DA PROSPERIDADE

Eu governo a vontade. Onde trovoa a vontade a vida viceja.Toda a natureza participa deste gesto. A água, os raios, a terra, os ventos!Assim o dia se refaz e a criação acontece!A preguiça é irmã da ignorância e inimiga da vontade!A preguiça faz sua sombra onde existir dia,E durante a noite esconde-se no escuro.Muitas vezes finge-se de repouso, que é sagrado.A vontade é a divina presença em si.A lei da natureza que impulsiona a semente chama-se vontade, assim ela rompe a escuridão do subsolo e uma vez debaixo do sol mantêm a sombra á seus pés.A lei da natureza que fortalece a semente chama se ritmo.A lei da natureza que faz crescer a semente chama-se ação.Vontade, ritmo e ação geram a verdadeira prosperidade, dentro do tempo e do espaço.

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Entre o céu e a Terra, entre o sonho e a realização, existe a vontade, o ritmo e a ação, formando os gestos necessários para trazer à manifestação todo o sagrado desejo e a mais pura aspiração!Gestos pressupõem posturas.Postura harmoniosa, postura verdadeira, gera hábito idêntico.A Mãe Terra governa o ritmo e a ação! Seus gestos são a expressão do luminoso Mistério!Siga as leis da Terra e do Céu, em silêncio e clareza, e fatalmente a prosperidade irradiará como um sol todos os seus dias!Assim é e assim será!Eu Sou!

A SAGRADA MISSÃO DA MORTE

Uma vida decompõe-se quando ela dá lugar á um novo momento de si mesma. A essa gloriosa transformação dá-se o nome de morte. No entanto esta palavra está repleta de medo e desinformação.Grande parte da humanidade confunde morte com aniquilação, quando na verdade ela é a Deusa da passagem, do desagrupamento da matéria tecida de sonhos e crenças. É o momento em que a natureza interna do ser se refaz, indo preparar-se para novas possibilidades.Cada ser encantado, cada elemental, que constituiu o corpo físico retorna á sua natureza.O que é da terra retorna á terra.O que é da água retorna á água. O que é do ar retorna ao ar.O que é do fogo retorna ao fogo.No entanto, a consciência que se utilizou das vestes corporais que os seres da natureza teceram, muitas vezes está repleta de memórias, crenças, hábitos..., difíceis de serem libertos para que ela retorne à sua verdadeira essência luminosa.É por isso que surge estudar, compreender e integrar a natureza ancestral do ser, e viver de acordo com a sua luz.

DO ESPÍRITO

O espírito é uma fonte luminosa que reside no interior da cada ser que deve ser cultivado diariamente para que floresça.O silêncio é o mel que alimenta o espírito. A fabricação deste mel exige constância como assim demonstra o coração.O corpo físico é a casa do espírito, o coração é o altar.Cultivar diariamente significa limpar a casa todos os dias, organizar suas imagens internas, seus quadros, pinturas, formas, símbolos, qualidades.Quais quadros devem permanecer!!!Quais imagens!!!Quais símbolos!!!Aqueles que expandem a luz do espírito são os que aprimoram a compaixão, refinam a sabedoria,eleva o caráter.Cultivar significa visitar o altar, depois de todos os departamentos, salas e corredores da casa estarem limpos e organizados.A chave que abre a porta do altar é o silêncio que vibra nas ondas da respiração!Ao chegar ali, a luz da inspiração pode ativar o fogo sagrado, com a casa limpa, a roupa leve epura, o espírito floresce!

DO EGO

Aquilo que é chamado de ego por diversas filosofias e pela psicologia pode ser um servidor do espírito, assim como um fiel animal que, para evoluir, liga-se ao ser humano, podendo aprender por treinamento, pelo exemplo, pelo serviço prestado, pela ressonância com seu senhor.O ego executa, a alma inspira e o espírito rege. É o que ensina os mestres. Para isso, temos que conhecê-lo bem: seus hábitos, suas necessidades, suas potencialidades, seus impulsos.Assim também temos que conhecer a alma, pois sua luz vivifica o ego e muitas vezes se confundem, ora negativamente, quando a luz da alma fica aprisionada pelas construções e crenças do ego, ora positivamente, quando o ego absorve e incorpora os atributos divinos da alma.

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A MISSÃO DO DIA

Agora mesmo neste momento eu sou um com o Grande Espírito, mesmo estando a mente agitada e distraindo aminha atenção, levando como ondas os meus pensamentos para lá e para cá, eu não sou a onda, eu sou o oceano.Quando respiro sei que é o Grande Espírito vivificando o meu corpo físico, o meu corpo vibratório, o meu corpo de luz.Quando penso sei que é a luz relampejante como os raios de um trovão divino que atua, com o seu poder criador.Ah, Grande Espírito! Que eu possa qualificar bem este sagrado dom que me deste e também á toda a humanidade!Que cada pensamento, cada palavra, cada sentimento e cada gesto que realizar a cada dia seja formoso, bem aventurado e límpido, como a luz que Eu Sou.

DA BELEZA, SAÚDE E LONGEVIDADE DO SER

A civilização criou um ritmo alucinante e agora não o suporta mais! Acelerou sua vida, desvitalizou suas emoções, poluiu seus pensamentos de crenças errôneas e agora busca soluções artificiais para a sua beleza, sua longevidade e sua saúde.Cabelos, pele, líquidos do organismo vicejam quando recebem a luz da lua em sua dança com osol de acordo com suas quatro fases, onde cada fase realiza uma tarefa profunda, sutil e sagrada para a saúde, para a beleza e para a longevidade!Honrar a luz da lua, a luz do sol e a luz da terra é gerar saúde, beleza e longevidade.Honrar é acolher os raios do sol, da lua e da terra com reverência e abertura interior, no tempo correto e no momento correto. Honrar é reconhecê-los como nossos ancestrais mais antigos e potentes de sabedoria e amor.Há uma íntima relação entre a sensibilidade da lua e a expressão da mulher. Há uma íntima relação entre o vigor do sol e o homem. Há uma íntima relação entre o corpo físico humano e a Terra.Verdadeiramente o segredo da cura para todos os males está aí, na honra e reverência.Em Honra a todos estes seres!!!Agradecemos!

DO MOMENTO DE DESPERTAR

Ontem, hoje e amanhã significam nada perante a consciência. Por isso é agora o momento exato da manifestação das virtudes sagradas e valores promissoresdo ser.É agora que o ouro da sabedoria se manifesta no mínimo gesto, na mínima expressão, na mínimafala.É agora que o lábio abandona a lamúria possível e constrói um arco formando um riso no rosto de si para si mesmo.É agora que o olhar apreende a essência verdadeira e luminosa em cada situação ou fato, mesmoaparentemente desagradável.É agora que um aroma agradável se sobrepõe a qualquer situação difícil.É agora que o julgamento transforma-se em discernimento.É agora que se percebe uma sutil luminosidade penetrar na consciência, e ali permanecer límpida e silenciosa, mesmo rodeada de outras crenças, que pela própria luz dissolvera o que não foi tecido de coerência e verdade.É agora que a luz se faz!!!

DA VISÃO

Cada olho que vê assim o faz de acordo como olho de cada crença que existe dentro de si. Como são inúmeras as crenças, são inúmeros os olhos de cada olho que vemos. Como temos dois olhos externos, multiplique tudo isso por dois e teremos como resultadoexatamente a maneira como vemos as nossas vidas e as vidas dos outros.

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Há aqueles que querem ainda abrir uma terceira visão, ás vezes por meio de plantas sagradas, chás, líquidos, exercícios espirituais, autoflagelação e tantas outras técnicas disponíveis experimentadas ou teorizadas pela magnífica capacidade humana de utilizar sua inteligência.Poucos são aqueles que buscam primeiro tornarem-se melhores seres humanos, aperfeiçoarem seus relacionamentos, refinarem o próprio caráter, os valores, dissolverem falsas crenças, curarem-se de hábitos e padrões destrutivos, ou exageradamente egóicos.Poucos são aqueles que experimentamo chá da sinceridade consigo mesmo, da auto-observação, da humildade, dos estudos profundos, da sabedoria, do discernimento, do serviço prestado ao próximo. Dissolvendo, assim, inúmeros falsos olhos de crenças errôneas que são construídas em seu interior.O caminho para a visão clara do espírito exige mente cristalina e coração limpo.

DA ÁRVORE DA SEMENTE

A semente cresce dentro de si mesma. Também ela cresce em contato com o mundo exterior. Só assim se torna árvore, agindo dentro e fora. Se relacionando com seu mundo interior e com o mundo exterior.A semente busca o alto e tão somente o céu, impulsionada pela luz, alcança através do trabalho diário seu destino.A semente se enraíza na terra. Quanto mais profunda sua raiz, mais alto alcança.Destas relações com o mundo interior, o mundo subterrâneo e o mundo superior, cria inúmeros galhos, mas um só eixo, um só tronco.Assim se torna árvore, assim frutifica, assim multiplica, assim se fortalece.No livro da natureza muitas verdades estão escritas, muitas lições de vida, muitas orientações para aquele que busca o alto.No livro da natureza está o remédio, a filosofia, o acolhimento e o alimento.Sagrada é esta Mãe Viva que nos orienta permanentemente em seu silêncio!Sejamos como a semente da árvore então!!!

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QUARTA PARTE

PORÃ-HEI

O QUE É PORÁ-HEI

Quando nos dedicamos uma pequena porção do dia para visitarmos o nosso ambá (altar) interno, geralmente passamos por três estados: o primeiro é o nhém-nhém-nhém, que na língua tupy-guarany significa falação, ou tagarelice.

Nos damos conta de que nossa mente está repleta de espíritos faladores, a que chamamos anguery. São muitos, há os lamuriosos, os nervosos, os chorões, os impetuosos, os orgulhosos, os ciumentos, os glamorosos, os acusadores, etc. Na verdade foram criados por nós mesmos, e caberá á nós percebê-los, dissolvê-los, não os alimentando mais, a ponto de incorporá-los em nós como hábitos, personalidades ou padrões, e transcendê-los, avançando na capacidade de auto-observação, autotransformação e auto-transcendência. Após este estado, passamos a escolher melhor onde podemos por a nossa atenção, a nossa energia, o nosso foco. Neste momento é que surge o estado de nhen-porã. Das palavras formosas, positivas, mais elevadas, que também são espíritos falantes dentro de nós, mas que levam á uma sadia direção. A partir daí, entre lapsos de serenidade e silêncio é que podemos absorver a energia criativa e manifestar o estado de porã-hei, que é a sagrada oração que emerge de nosso desejo elevado de reverenciar e honrar a causa de nossa existência. O Porã-hei pode curar nossa alma, pode elevar o padrão vibratório de nossos corpos, pode nos alinhar na vertical, entre o céu e a terra. Após o porá-hei, com mais algum esforço, podemos absorver a não-palavra , a mudez serena, talvez por um instante, e avançarmos um pouco mais.

PORÃ-HEI DO CENTRO DO CÍRCULO

Grande Sol!Meus sentimentos por vezes oscilam como a fases da lua,Por isso me centro em vossa luz,Mesmo quando atravesso a noite mais escura.Meus pensamentos por vezes vagueiam como o vento,Por isso me centro no silêncio e respiroProfundamente, guiando o soproEm direção ao centro.Assim não me perco; e permitoQue o sol do coração conduzir-me no seu ritmo.

PORÃ-HEI DA QUATRO DIREÇÕES

Sagrado Senhor que tem muitos nomesEm inúmeras tradições, línguas, culturas!Que se manifesta pelo fogo do sol que vem do leste,Pelas águas que descem do sul,Pela terra que germina no oeste,E pelo sopro que se recolhe ao norte;Eu te saúdo e reverencio e agradeço-lhe pela vida saudável e harmoniosa que pulsa em mim!Meu nariz é o leste que inspira a luz do seu sol e vivifica o meu ser.Meu ventre é a terra que acolhe a tua luz que nutre e germina, como o oeste.Minhas veias e sangue fluemas águas de um vermelho luminoso, como as águas do sul.E minha mente repousa o sopro da vida como o norte,Pronto para vir a expressar palavras formosas:Paz, Saúde, harmonia e abundância no dia de hoje!!!

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PORÃ-HEI DA ILUMINAÇÃO DAS RAÍZES

Sagrada Mãe Terra, peço-lhe humildemente que regenere minhas raízes mais antigas!Sagrada Mãe Terra, peço-lhe que transmute os males que trago desde as minhas raízes!Sagrada Mãe Terra, peço-lhe que dissolva toda a escuridão e a ilusão que por ventura possa estar envolvida minhas raízes.Sagrada Mãe Terra, peço perdão pelo falta de respeito que em algum momento causei á ti e ás minhas raízes!Peço perdão pelas desonras que tenha causado aos meus pais, avós, tataravôs, até o primeiro ancestral.Peço a cura de toda memória negativa ou maléfica que por ventura tenha se instalado desde o primeiro ancestral até aqui!!!Que a luz do Grande Sol eleve á todos aqueles que me antecederam, pois assim foi necessário para que por esta graça divina pudesse então me manifestar!!!Sagrada Mãe Terra, peço perdão por todos os momentos em que virei as costas para aqueles que teceram minha alma!Peço perdão ao espírito do fogo!Peço perdão ao espírito da água!Peço perdão ao espírito do ar!Peço perdão ao espírito da Terra!Peço perdão ás consciências divinas que regem á cada um destes espíritos!Peço perdão ao Pai Maior, aquele que tem muitos nomes, em muitas línguas, em muitas raças e tradições!Peço perdão á Mãe Maior, aquela que tem muitos nomes, em muitas línguas, em muitas raças e tradições!Sagrada Mãe Terra, peço que agora a luz estenda e irradie á todos, como uma benção e um bálsamo!!!Agora e sempre!!!

PORÃ-HEI DO SAGRADO SILÊNCIO

Nosso Pai, o Mistério que se veste de Clara Luz, do Silêncio manifestou-se como um Trovão Criador.Nossa Mãe, a Seiva da Vida de Tudo que é, vivifica a tudo pelo silencio e pela fala. Pelo sopro e pelo ato da respiração.Nosso corpo, a casa sagrada construída pelo Pai e pela Mãe mora o filho bem amado preenchido das riquezas, dons e bênçãos do sagrado silêncio e do sagrado trovão!Possa então hoje honrar vossa luz e vossos raios!Honro!Possa então hoje agradecer vossas riquezas e bênçãos á mim depositadas!Agradeço!Possa então hoje reverenciar os dons e as possibilidades que me deste!Reverencio!Honro, agradeço e reverencio!!!Agora, com a mais pura intenção do coração, da mente e do corpo!Assim é e assim será!!!