a corrosão do caráter

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A Corrosão do Caráter A Corrosão do Caráter: Conseqüências Pessoais do Trabalho no Novo Capitalismo. P/Rosany Mary S. Souza e Sandro R. Falcão Neste livro, organizado em oito capítulos e um apêndice, escritos em linguagem acessível e com uma interessante análise sociológica das transformações do mundo do trabalho, Richard Sennett oferece-nos uma instigante reflexão sobre as influências do capitalismo flexível no universo das relações trabalhistas e suas repercussões no caráter humano, convidando-nos a promover uma análise sobre as conseqüências sociais advindas destas inovações vividas na sociedade. Na primeira parte do livro o autor mostra como o capitalismo contemporâneo, a flexibilização do mundo do trabalho, a lógica hiper-competitiva e os padrões atuais de "sucesso", corroem a escala de valores e qualquer forma de disciplina ética, mesmo para os padrões do próprio capitalismo. Ele argumenta como este regime econômico e social vive um novo momento, caracterizado por uma natureza flexível, que ataca as formas "engessadas" da burocracia, as conseqüências da rotina e os sentidos e significados do trabalho; produzindo uma situação de angústia nas pessoas, que não tem conhecimento dos riscos que estão correndo e onde irão chegar, colocando à prova o próprio senso de caráter pessoal. Pode-se observar que Sennett dá enfoque a esta situação em citação a seguir: caráter é (...) o valor ético que atribuímos aos nossos próprios desejos e às nossas relações com os outros, ou se preferirmos... São os traços pessoais a que damos valor em nós mesmos, e pelos quais buscamos que os outros nos valorizem (p. 10).

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A Corrosão do Caráter

A Corrosão do Caráter: Conseqüências Pessoais do Trabalho no Novo Capitalismo.

P/Rosany Mary S. Souza e Sandro R. Falcão

Neste livro, organizado em oito capítulos e um apêndice, escritos em linguagem acessível e com uma interessante análise sociológica das transformações do mundo do trabalho, Richard Sennett oferece-nos uma instigante reflexão sobre as influências do capitalismo flexível no universo das relações trabalhistas e suas repercussões no caráter humano, convidando-nos a promover uma análise sobre as conseqüências sociais advindas destas inovações vividas na sociedade. Na primeira parte do livro o autor mostra como o capitalismo contemporâneo, a flexibilização do mundo do trabalho, a lógica hiper-competitiva e os padrões atuais de "sucesso", corroem a escala de valores e qualquer forma de disciplina ética, mesmo para os padrões do próprio capitalismo. Ele argumenta como este regime econômico e social vive um novo momento, caracterizado por uma natureza flexível, que ataca as formas "engessadas" da burocracia, as conseqüências da rotina e os sentidos e significados do trabalho; produzindo uma situação de angústia nas pessoas, que não tem conhecimento dos riscos que estão correndo e onde irão chegar, colocando à prova o próprio senso de caráter pessoal.

Pode-se observar que Sennett dá enfoque a esta situação em citação a seguir: caráter é (...) o valor ético que atribuímos aos nossos próprios desejos e às nossas relações com os outros, ou se preferirmos... São os traços pessoais a que damos valor em nós mesmos, e pelos quais buscamos que os outros nos valorizem (p. 10).

Segundo o autor, o capitalismo flexível afeta o caráter pessoal, principalmente porque não propõe condições para construção de uma história linear de vida, sustentada na experiência, mostra também, ao utilizar o recurso metodológico de narrações de histórias de vidas, como o assalariado apesar de desenvolver uma atividade rotineira, consegue construir uma vida planejada, onde conseguiu acumular condições para tornar realidade seus objetivos baseada no uso disciplinado do tempo com expectativas em longo prazo. Evidente que, no caso do Rico (personagem apresentado por Sennett, no Capítulo I, do livro comentado), um "discípulo" do capitalismo flexível, os laços sociais não se processam em longo prazo, em decorrência de uma dinâmica de incertezas e de mudanças contínuas de emprego e de lugares, comportamento que dificulta as pessoas, conhecer os vizinhos, estabelecer vínculos de amizade (presencial), e manter laços com a própria família, impedindo um equilíbrio emocional no que tange a este aspecto.

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Diante das mudanças no mundo do trabalho, muito bem colocadas pelo autor,... Como se podem buscar objetivos de longo prazo numa sociedade de curto prazo? Como se podem manter relações duráveis? há um convite ao leitor a refletir sobre este grande desafio que as pessoas na situação atual precisam enfrentar.

O capitalismo flexível, devido a sua dimensão no tempo (curto prazo), elimina vínculos sociais, o crescimento e a maturação interior, corrompe o caráter e as experiências, também as instituições familiares são prejudicadas, porque faz incorporar nos indivíduos falsos estigmas, como conservadorismos culturais, para amenizar a falta de coerência existente em suas próprias vidas. É um "ficar sem rumo" sem controle, confirmado pelas crises das instituições burguesas e das relações interpessoais.

No capitalismo flexível, baseado na fragmentação, no individualismo metodológico, na seleção natural de Darwin, em que os mais fortes sucumbem aos mais fracos os indivíduos valem-se do "salve-se quem puder", no Estado Mínimo que reduz o âmbito público e exacerba o privado, onde passamos a ser controlados e manipulados pelo "deus" mercado, e aquele que se apresenta pela fome de mudança, jamais permite que se façam as coisas do mesmo jeito por longos períodos de tempo, através do denominado "capital impaciente"!

O autor parece considerar que a sociedade busca resolver o problema da rotina no trabalho com uma nova estruturação do tempo, com instituições mais flexíveis, criando formas novas de poder e controle, sendo este um segundo elemento central de sua problematização.

Esta flexibilidade do tempo requer também, uma flexibilização do caráter, demonstrada pela ausência de apego temporal em longo prazo e pela tolerância com a fragmentação. O curto prazo minimiza a obrigação formal, a confiança, o compromisso mútuo, características de uma era de estabilidade, e o pior, alavanca a falta de compromisso ético, moral, dos consumidores (nova terminologia designada aos indivíduos) capitalistas. O curto prazo também prejudica o sentido de vida linear, cumulativa e narrativa, a relativa estabilidade. Para Sennett, o longo prazo torna-se uma prática disfuncional, "o setor de força de trabalho que mais rápido cresce [...] é o [...] temporário. O mercado acredita que o rápido retorno é mais bem gerado pela ágil mudança institucional (p.22). A pós-modernidade consegue desestruturar o único recurso que a plebe tinha de graça, ou seja, o tempo. Seria interessante se Sennett tivesse citado Nietzsche quando ele antecipava o espírito da nova era..." tem-se vergonha do repouso, a meditação mais demorada causa remorso. "Reflete-se com o relógio na mão, da mesma forma como se almoça, com os olhos fixos no pregão da bolsa...".

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Em função desta flexibilidade do tempo que requer maleabilidade de caráter, caracterizada, pela tolerância com a fragmentação, impelida sempre pela motivação de ascensão social, ou tão somente pela sobrevivência, são lentamente corroídos laços de amizade e de família, já que falta tempo para outras valorações, como o lazer entre amigos e até mesmo no lar, onde os ensinamentos sobre moral e ética, eram costumeiramente passados dos genitores para seus filhos, carecendo de tempo comum para tal fim. Percebe-se certa alienação, que é refletida pela ausência de limites, de orientação, dos pais para com seus filhos, deixando-os à mercê dos seus próprios conceitos e atitudes em formação.

Rejeitam-se também, estilos de vida oriundos das classes proletariados; o casamento entre pessoas de classes sociais diferentes; aumentando as ideologias, ou chamados, conservadorismos culturais, em que se odeiam as parasitas sociais, os excluídos (negros, homossexuais, pobres), os quais são muitas vezes correlacionados à ausência de coerência de suas próprias vidas, das incertezas aleatórias que querem se defender, ou seja, da erosão das qualidades de caráter, lealdade, compromisso, propósitos profissionais, pessoais e familiares.

O capitalismo flexível ainda passa a idéia, e isso é bem colocado pelo autor no primeiro capítulo, que o pequeno empresário ou microempresário, terá que exercer diversas funções ao mesmo tempo, se quiser continuar "sobrevivendo" em sua economia local, enquanto que nas grandes corporações, que geram tendências de mercado, o regime baseia-se não mais em pirâmides de poder, mas sim em redes; arquipélagos de atividades relacionadas, que afrouxam os laços sociais e valorizam a lealdade institucional, adaptando-se sempre as novas tendências, caprichos ou idéias dos que pagam pelos seus produtos, já que eles mesmos tornam-se produtos dessas instituições estigmatizadas como fetiches de mercadorias, enfatizando a potencial forma de lucrar em menor espaço de tempo, associados a reduzidíssimos desvios padrões de perda. No final do primeiro capítulo do livro, o autor diz que "talvez a corrosão do caráter seja uma conseqüência inevitável" (p.33), enfocando uma visão fatalista, esquecendo-se que cresce um processo de conscientização mundial, facilitado pela globalização, que difunde ideologias de caráter ético, que refletem sobre esta realidade, às vezes com indignação, o que pode no futuro gerar uma nova revolução no modo de trabalho, baseada em valores fundamentais, como a dignidade da pessoa humana, buscando concretizá-la através de ações dominantes e, não apenas marginais e específicas.

Um ponto claro na discussão de Sennett é que embora o trabalho flexível tente romper com a rotina e a burocracia, ele não conseguiu ainda superar o trabalho fordista, pelo contrário, tornou precárias as relações de trabalho, assim como, a ética do trabalho em equipe, não superou a ética da rotina; as duas convivem em uma relação dialética. Percebe-se, entretanto, que o autor coloca os dois lados da rotina, um, baseado em uma posição frutífera e positiva, fincado na obra de Diderot, a "Enciclopédia" e o lado destrutivo, pela obra de Adam Smith – A Riqueza das Nações, como no Fordismo e Taylorismo. Além disso, é ressaltada a escravidão, que antes era baseada na combinação de abrigo e subordinação à vontade do "amo", para ser

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substituída pelo trabalho assalariado. Richard Sennett deixa claro que a fuga da rotina trouxe conseqüências de reafirmação do capitalismo, bem como, a degradação das massas trabalhadoras, que interessadas em redução de tempo de trabalho se sobrecarregam de modo intenso levando a degeneração física precoce e doenças crônicas típicas da pós-modernidade, causadas principalmente pela péssima alimentação (lanches rápidos) e pelo stress, além do fantasma da perseguição da classe média, gerando as mesmas conseqüências.

A repulsa a rotina burocrática e a busca de flexibilidade produziriam novas estruturas de poder e controle, em vez de criarem as condições para libertarem, baseadas em três elementos chaves: reinvenção descontínua de instituições; especialização flexível da produção; e a concentração de poder sem centralização.

O primeiro elemento como algo que busca reinventar decisiva e irrevogavelmente as instituições, para que o presente se torne descontínuo com o passado, uma alusão à quebra do tempo cronológico, em que o futuro é agora e de total rompimento com o passado, enfatizando uma idéia de fragmentação e imprevisibilidade. A desagregação vertical (pirâmides) oferecendo a um menor número de administradores o controle sobre um maior número de subordinados, como uma técnica de reengenharia que reduz empregos e que torna as instituições disfuncionais, mas que se tornou uma prática altamente lucrativa para os acionistas; simplesmente porque a organização deve provar ao mercado que pode mudar.

No segundo elemento parte do princípio que uma estratégia de inovação é permanente: mudar ad infinitum, ao invés de controlá-la. A antítese do fordismo, a fábrica de montagem quilométrica que é substituída por ilhas de produção especializadas e inserida pela alta tecnologia, infovias, instantâneas decisões e pela demanda mutante que o mundo externo tem que determinar estrutura das instituições internas. Assim, os regimes tendem a prosperar a desigualdade social (anglo-americano) instituída pelo livre comércio em um Estado mínimo, ou o alto desemprego (europeu) instituído por um Estado assistencialista.

É mostrada também a concentração sem centralização, pela descentralização de um poder, o que teoricamente daria as pessoas do baixo escalão das organizações mais controle sobre suas atividades, transmitindo as operações aos vários setores da organização, sobrecarregando-os, já que são pressionados a produzir ou ganhar muito mais do que está em suas capacidades. A flexibilidade de tempo, característica desse elemento gerou desordem e limitações, ou seja, autodestruição para os que trabalham na base do regime flexível; técnicas de rastreamento e controle à distância da classe média (transação de submissão pessoal pela eletrônica).

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Essas características enfatizam a mudança do paradigma da exploração industrial pela tecnológica, em que se perseguem não mais bens duráveis, estoques em demasia, mas sim, um capitalismo financeiro baseado em papéis, ações e capital de giro (dinheiro em espécie), enfatizando o justing time, o tempo justo entre a produção e a venda; enfocando cada vez, o valor agregado à mercadoria do que é produzindo em larga escala, reduzindo os empregos, os custos de produção e obtendo lucros exorbitantes num menor espaço de tempo.

No capítulo quatro, o autor aborda o desemprego estrutural proveniente do capitalismo flexível, em que homens são substituídos por máquinas, aumentando a produtividade homem/hora, sem, contudo perder em qualidade, bem como, a superficialidade dos proletariados remanescentes em suas funções. Tornam-se acríticos, dependentes totalmente, das máquinas, apenas forças de trabalho, energias para alimentar a cobiça do capitalismo.

No local de trabalho high-tech flexível, tudo é muito fácil de usar, já que a dificuldade e a resistência são contra produtivas ao avanço neoliberal do capitalismo - mas os empregados se sentem pessoalmente degradados pela maneira como trabalham situação em que o operacional é muito claro, mas o emocional totalmente incompreensível, tornando-se meras aberrações vegetativas, já que não pensam, falam, criticam, nem realizam autocríticas; os trabalhadores ficam alienados pela perda de qualificação.

Sennett mostra que a flexibilidade elevou as desigualdades sociais, criando distinções entre superfície e profundidade, aqueles que são objetos menos poderosos da flexibilidade são obrigados a permanecer na superficialidade, como meros peões de um jogo de xadrez, subalternos ao seu rei: o capitalismo.

Os trabalhadores tornam-se indiferentes, não mais agindo com honra, trabalhando cooperativa e honestamente, como nos tempos pretéritos recentes, literalmente, não entendem o que estão fazendo, e que a maquinaria é o único verdadeiro padrão de ordem. E quando acontece a quebra acidental ou provocada, sentem o impulso de enfrentar o problema, mas ficam perplexos com a tecnologia que os deixa à deriva, levando a um esvaziamento, a uma alienação, em que a única solução é apelar para as assistências técnicas pedindo reparo imediato.

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O intuito mais uma vez perseguido é de redução de custos, tanto pela eliminação imediata do desemprego estrutural, como pela falta de qualificação que reduzem encargos e salários. Um outro ponto característico e bem explorado no texto está calcado no desperdício associado aos altos índices de produção que geram graves problemas ao meio ambiente, é o estilo marcante do capitalismo, em que a produção é desprovida de qualquer forma de efeito sustentável, o que importa é o lucro, devastando áreas e, não mais as suprindo posteriormente.

Podemos observar também a exclusão do capitalismo flexível com o passado, o velho, o anacrônico, seja do ponto vista tecnológico, humano e do conhecimento, as pessoas de meia-idade são tratadas como descartáveis, tanto do ponto de vista biológico como sociológico, suas experiências acumuladas relegadas a um ínfimo valor, sentem-se em teste, constantemente, mas nunca sabendo em que posições se encontram nas redes. E, para continuarem vivas no mercado, é necessário o risco ao extremo.

A produção da riqueza é sistematicamente acompanhada pelas produções sociais de risco, não mais exclusivas dos capitalistas de risco ou indivíduos extremamente aventureiros. A inconstância profissional na pós-modernidade está em viver constantemente no limite, apesar do risco não oferecer garantias, permanecendo num contínuo estado de vulnerabilidade e incertezas.

A sociedade não mais se baseia em tempo e espaço definidos, mas sim em formas desreguladas, descontínuas de relações espaços-temporais, de forma, que essa continuidade de exposição ao risco extermina o senso de caráter pessoal.

O risco encaminha para três buracos estruturais específicos: as mudanças laterais ambíguas, as perdas retrospectivas e dos resultados salariais imprevisíveis. O primeiro é o chamado movimento de "caranguejo", em que, embora creditem que estejam subindo de patamar, na verdade existem, apenas, deslocamentos laterais, devido exatamente à transação das pirâmides hierárquicas em redes frouxas e amorfas. O segundo está galgado no fato de perceberem que tomaram más decisões, sejam na forma de garantias trabalhistas como em qualidade de vida, somente, bem posterior às mudanças de emprego, se arriscam em demasia por um resultado que normalmente não aparece. E, finalmente, da perda salarial que, geralmente, acontecem na troca de cargos, já que as corporações traçam caminhos mais fluidos e individualizados para promoções e salários.

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Continuando sua explanação sobre o risco, Sennett diz que a moderna cultura do risco é mostrada segundo a qual, nada deve ser imutável, se assim ocorre é visto como fracasso, o destino será sempre superior que o ponto de partida, e dentro deste dinamismo do capitalismo, as pessoas passivas murcham. E a flexibilidade é vista como algo que acentua a desigualdade, do mercado, em que o vencedor leva tudo, ou seja, a elite tecnológica, somente ela irá conhecer os caminhos para tal feito, não se levando em conta as próprias instituições de ensino, que apesar do grande esforço de produzir conhecimento, as bases fundamentais e específicas destas elites, isto será um segredo somente deles, não sendo traduzidas pelas áreas de ensino. Ademais o próprio conhecimento caminha com a pós-modernidade e, se as pessoas não se atualizarem constantemente estarão fadadas a tornarem-se obsoletas, e não ser mais "de ponta"; o capitalismo não percebe o passado, a tradição, os costumes e os valores,

Só o agora e o novo, maleáveis, tanto em termos de assumir riscos quanto de submissão imediata. Quanto à ética no trabalho o que o autor demonstra é que a ficção de comunidades de trabalho justifica a feroz resistência do capitalismo frente aos sindicatos operários, em que a responsabilidade da elite é transferida para as classes de massa e intermediária, enfocando a neutralidade do capitalismo flexível pela responsabilidade limitada das corporações inteiradas por uma ficção, ou seja, a pessoa jurídica. Explicita, também, mais uma vez a deriva que o capitalismo flexível exerce sobre os indivíduos, propiciando não apenas situações intrageracionais, como também, de forma implícita as intergeracionais.

A velha ética do trabalho impunha pesados fardos que tinham que provar seu próprio valor pelo seu trabalho, existia o uso autodisciplinado do tempo, chegando ao ponto de ser mesmo uma autopunição, pondo-se ênfase mais na prática voluntária que na simples submissão passiva a horários e rotinas.

A moderna ética concentra-se no trabalho de equipe, prática de grupo da superficialidade degradante, na interminável automodelação, enfatizando mais a responsabilidade mútua do que a confirmação pessoal. A ética flexível enfoca que o adiamento é interminável, a autonegação o presente inexorável e as recompensas prometidas jamais chegam. As pessoas sentem falta de relações humanas e objetivos duráveis

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O homem torna-se intensamente competitivo, mas não pode gozar do que ganha. Os líderes são meros administradores do processo, facilitam as soluções e mediando as informações entre clientes e corporações, dessa forma um poder sem autoridade que desorienta os empregados, os quais lutam agora para adquirir poderes sobre si mesmos. As aptidões individuais parecem portáteis - processo de linguagem, lógica e tecnologia - mas que não servem de guia para recompensas presentes, tudo sempre começa do zero absoluto,

Ele enfatiza também, que o trabalho de equipe obriga os indivíduos a manipular comportamentos e aparências com os demais, são máscaras de cooperação gerando tipos de caráter irônicos, servindo a uma implacável campanha por produtividades cada vez maiores, em que os operários responsabilizam-se uns aos outros para tal intuito.

E que a verdadeira ética que se conhecia pela ciência da moralidade transforma-se em técnicas persuasivas de fragmentação social, individualismo metodológico, estilos de espionagem e sabotagem cada vez mais alicerçados na especulação expansionista de exploração humana e no intuito único de obter lucro.

No capitulo em que o fracasso na ótica do capitalismo flexível é analisado por Sennett, torna-se elemento cotidiano, tanto dos desprivilegiados quanto da classe média, qualificada ou não, que se encontra exprimida, mais se tornando um bloco único com a plebe do que existindo uma verdadeira separação de classes sociais. O capitalismo não se foca em pessoas, somente em valores.

O capitalismo destrói carreiras - antídotos de fracasso pessoal - definidas com objetivos de longo prazo, padrões de comportamento profissional ou não, e o senso de responsabilidade por sua conduta. Antes mesmo de surgirem já foram, exterminadas com o poder da revolução tecnológica, das infovias, que destroem não as carreiras, mas sim e, contundentemente, as personalidades em simples flashs de luz.

As corporações tiram empregos, até mesmo de profissionais altamente qualificados, quando posteriormente são tratados como seres inferiores. Esse fato apresentava-se na decodificação dos funcionários, de três formas: 1) traição premeditada - que não resistia à lógica laboral, em que muitos dos superiores transformada em caricaturas do mal - os demitia nas primeiras fases da reestruturação das empresas (reengenharia funcional) haviam sido demitidos em fases posteriores. Baseia-se no conhecimento factual da empresa; 2) Busca de forças externas para culpar - as pessoas da pós-modernidade não queriam deixar traços pelos quais pudessem ser responsabilizados, buscando na concorrência de mão-de-obra estrangeira ou não, de igual

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ou superior potencial de qualificação, que recebiam salários menores a solução de sua demissões, meros processos de vitimização. Baseia-se no progresso tecnológico e no seu senso de qualidade profissional. E, finalmente, e mais correto; 3) Acreditava-se mais nas corporações do que neles mesmos - as pessoas começaram a falar do que poderiam e deveriam ter feito pessoalmente antes em de suas carreiras para prevenir as demissões. Baseia-se no princípio de sermos autores de nossas próprias vidas, e, não apensa de meros coadjuvantes.

Um ser maleável, uma colagem de fragmentos em incessante virem a ser, sempre aberto a novas experiências, essa tem que ser a personalidade dos agentes econômicos que querem continuar no mercado, segundo Sennett, além de conviver com sucessivos fracassos que necessitam constantemente de estruturas de caráter em recuperação

Somente através de voz ativa o indivíduo será capaz de tornar suportáveis esses processos de fracassos, diante de vários percalços de desespero e tragédia; tem-se que discutir o fracasso uns com os outros, e com isso encontrar um senso coerente de relações interpessoais e espaços-temporais.

O fracasso que é abordado no capítulo corrompe o corpo, a alma e o caráter dos indivíduos. Chega-se, ao ponto de que para alcançar o sucesso, somente será possível em uma realidade virtual, idealizada; nunca em uma vida real regada das ideologias neoliberais da pós-modernidade e fortalecida pelas alienações humanas.

No último capítulo do livro, Sennett explana acerca das duas versões do pronome pessoal reto "nós" dentro do capitalismo flexível.

Segundo o autor, um lugar se torna uma comunidade quando as pessoas usam o pronome "nós", enfatizando uma das conseqüências não pretendidas do capitalismo moderno, o fortalecimento do valor do lugar, despertando o anseio de comunidade. Contudo, rejeita-se imigrantes e outros povos marginais, tratando-os como parasitas sociais tantos na região anglo-saxônica como na européia, que pode ser mostrado em uma alusão a Montesquieu

"o comércio...lustra e suaviza modos bárbaros" (p. 168).

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O 'nós' é fundamental para as transações comerciais, que sem necessidade do outro, não há troca, contudo a vergonha da dependência tem uma conseqüência de corroer a confiança, o compromisso e a responsabilidade mútua. Quanto mais vergonhoso nosso senso de dependência, mais inclinados estamos à raiva dos humilhados, irradiando desconfiança. Nesse contexto o "nós" será o individualismo metodológico de uma comunidade, somente, trocando o elemento isolado do indivíduo pela comunidade.

Pode-se perceber que o trabalho em equipe do capitalismo flexível não reconhece diferenças em privilégio ou poder, e por isso é uma relação fraca de comunidade, já que fortes laços entre as pessoas significam enfrentar com o tempo suas diferenças e não se tornar um bloco sólido, mas que em compensação estará oco e vazio por existirem apenas semelhanças. É necessária a constante fidelidade em si, para não deixar ser corrompido pelas armadilhas do "ter", bem como a mutabilidade da manutenção em si, já que nossas circunstâncias mudam e nossa experiência se acumula. Então, o "nós" habita confortavelmente a desordem econômica, mas teme-se o confronto organizado, principalmente, focado no ressurgimento dos sindicatos, em um momento que o "nós" poderia ressurgir o sentimento de coletivo, de público em detrimento do privado. .

Conclusão

Richard Sennett nos mostra como o capitalismo flexível é devastador. Tão nocivo que consegue destruir um pronome que indica união, compreensão e sabedoria; para se entregar ao individualismo, cuja ética renega valores que não signifiquem facilitar a acumulação do dinheiro de maneira compulsiva, corrompendo o caráter do individuo, os laços que nos tornam realmente fortes, a família, as instituições, os relacionamentos de amizade e solidariedade, a essência boa que deve permear nossas vidas. Podemos criar formas inéditas para avaliar o bem que nos convêm, e por que não?Diante desta quase ausência de valores, da falta de lealdade e de compromisso mútuo, se avalia a força e a fraqueza de cada um. Fraqueza que não é sinônimo de fracasso, "fracasso" que não deva significar motivo de luta, de levantar-se com dignidade, tendo ciência que a fraqueza é inerente ao ser humano em etapas de sua existência, mas pode e deve ser encarada como mola propulsora, não exatamente ao sucesso como obrigação, mas ao sucesso como resultado de um sonho que não necessariamente signifique resultado econômico ou poder.

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Richard Sennett, professor de sociologia da Universidade de Nova York e da London School of Economics escreveu em 1998 o ensaio sobre ética do trabalho A corrosão do caráter: conseqüências pessoais do trabalho no novo capitalismo. Sennett, neste ensaio, dá continuidade a sua pesquisa e reflexão sobre as novas relações de trabalho no capitalismo moderno e suas conseqüências no caráter individual. É autor também de outros ensaios e livros como Carne e Pedra, O declínio do Homem Público e The Hidden Injuries of Class (com Jonathan Cobb), Este longo ensaio inicia-se como uma conferência feita na Universidade de Cambridge em 1996 por Sennett. Segundo o autor, a permanência no Centro de Estudo Avançado em Ciências Comportamentais lhe proporcionou tempo suficiente para escrever esta obra. Além disso, o autor evidencia suas experiências pessoais com trabalhadores americanos ao longo de sua vida e, a partir de tais experiências, passa a refletir sobre as relações de trabalho, o caráter pessoal e as suas transformações no novo capitalismo.

Com base em sua definição de caráter: “traços pessoais a que damos valor em nós mesmos, e pelos quais buscamos que os outros nos valorizem” (p.10), Sennett passa a questionar as relações de trabalho contemporâneo e suas implicações nos valores pessoais como a lealdade e os compromissos mútuos. Como definir nossos traços pessoais, nosso valor em uma sociedade onde tudo é efêmero, onde a flexibilidade, ou seja, o poder de se ajustar a qualquer meio é tido como valor? Não é possível construir um caráter em um capitalismo flexível, onde não há metas a longo prazo, pois a construção deste depende de valores duradouros, relações duradouras, de longo prazo, isto não é possível em uma sociedade onde as instituições vivem se desfazendo ou sendo continuamente reprojetadas.

Para discutir esta questão, Sennett recorre à várias fontes, como dados econômicos, narrativas históricas e teorias sociais como de Max Weber e Adam Smith e, ainda, à sua vida diária , seu método é como de um antropólogo, segundo o próprio autor. A obra é dividida em oito breves capítulos, onde se define o tempo capitalista, se compara o velho capitalismo e o novo, mostram-se as dificuldades de se compreender as novas relações de trabalho, o ataque do capitalismo ao caráter pessoal, a mudança ética do trabalho, os sentimentos despertos nos indivíduo como o fracasso, o desnorteamento, a depressão e, por fim, como lidar e viver neste meio? Há remédio para os males do trabalho? São as respostas para estas questões que Sennett procura nesta discussão.

No primeiro capítulo, Deriva, Sennett relata a história de duas gerações norte-americanas, Enrico e Rico, filho de Enrico. Este relato serve como comparação entre dois modelos de trabalhadores. O trabalhador fordista, burocratizado e rotinizado, que planeja sua vida e suas metas se baseando em um tempo linear, cumulativo e disciplinado, que constrói sua história e expectativas a partir de uma progressão de longo prazo. E o trabalhador flexibilizado do capitalismo mais recente, que muda de endereço freqüentemente, não estabelece laços duráveis de afinidade com os vizinhos, muda de emprego constantemente, não planeja suas metas a partir de expectativas de longo prazo, ou seja, vive uma vida de incertezas, vida sem laços duráveis. O trabalhador flexível não possui laços duráveis nem com sua própria família. Segundo Sennett, a dificuldade de se estabelecer laços duráveis está corrompendo o caráter e como isso acontece é demonstrado ao longo do ensaio.

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A rotina era o grande mal do velho capitalismo, segundo Adam Smith ela embrutecia o espírito, na tentativa de se livrar deste mal a nova sociedade buscou flexibilizar o tempo, de forma a não ficar presa a uma rotina, a uma programação. Esta negação da rotina, do velho capitalismo, pode ser vista na negação do modo de vida de Enrico por seu filho Rico. Rico se esforça para não demonstrar nenhum laço ou vestígio do trabalhador braçal que buscava o Sonho americano como que era seu pai, Rico quer fugir da rotina. O grande problema é que esta rotina baseada no tempo linear foi substituída por novas formas de domínio e controle. No velho capitalismo fordista, o poder e o controle eram visíveis, o patrão no alto do escritório controlava e supervisionava o trabalho dos operários, regulava o tempo. O novo capitalismo flexibilizou o tempo, os produtos são cada vez menos duráveis, seguindo a dinâmica de curto prazo, os empregos são temporários. Contudo, esta lógica de desburocratização concentrou o poder ainda mais nas mãos dos capitalistas que, agora, são invisíveis dentro das empresas. A aparente liberdade dada ao trabalhador através do trabalho em equipe, onde ele decide o que fazer sem o patrão lhe dar comandos, na verdade colocou o trabalhador ainda mais sob o comando do capitalista. Isso aconteceu porque ele já não domina mais o que faz, a atomização cada vez maior das tarefas fez com que não se precisasse mais de tanta preparação, treinamento por parte do trabalhador, como conseqüência este deixou de possuir o domínio sobre seu emprego, por isso ele sempre está mudando de área, de empresa, de função, já não possui vínculos fortes com suas tarefas, com seus colegas. A ausência de apego ao longo prazo com seu trabalho, a não formação de laços duráveis acabou flexibilizando e por fim corrompendo o caráter, pois este depende de tempo para se consolidar na medida em que só podemos definir quem somos, o valor que temos quando buscamos a valorização de nós pelos outros. Ou seja, só definimos nosso caráter quando constituímos laços duráveis que permitam nos situar dentro de um meio social.

O novo capitalismo, pois, se caracteriza pela capacidade imediata, a flexibilização, o risco, a alienação completa do indivíduo, “não se mexer é tomado como sinal de fracasso, parecendo a estabilidade quase uma morte em vida” (p.102). Mudar o tempo todo faz a pessoa se esquecer da realidade a qual pertence, no antigo capitalismo a consciência de se pertencer a uma classe era facilmente perceptível, no capitalismo atual não se sabe a que grupo social se pertence. Esta realidade pode ser vista quando Sennett pergunta a alguns padeiros a que classe pertencem, dizem indefinidamente serem da classe média. No jogo capitalista atual todos acreditam serem potenciais vencedores, sabem que os vencedores fazem parte de um minúsculo grupo, porém não se mexer é condenar-se ao fracasso. “O risco é um teste de caráter; o importante é fazer o esforço, arriscar a sorte, mesmo sabendo-se racionalmente que se está condenado a fracassar” (p.106). Assim, os indivíduos se vêem esvaziados moral, social, cultural e politicamente. As relações humanas se tornam uma simulação teatral, relações sem poder, sem autoridade. Desta forma, a construção de uma história de vida que una as pessoas fica impossibilitada, pois não há padrão e nem responsabilidade. As pessoas estão sujeitas ao sentimento de fracasso.

Neste sentido, as pessoas mais velhas ou mais experientes são vistas como decadentes, fracassadas, pois flexibilidade, risco, não combinam com acumulação de experiência, de tempo de vida. A história de Rose é um bom exemplo dado pelo autor, ela admite “não ter mais coragem” (p.107). “As atuais condições da vida empresarial encerram muitos preconceitos contra a meia-idade. Dispostos a negar o valor da experiência passada da pessoa” (p.107).

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Além disso, este exemplo demonstra como o novo capitalismo se tornou desnorteante e deprimente, criou éticas contrárias à autodisciplina e à auto-modelação da ética de trabalho como a descrita em A ética protestante e o espírito de capitalismo de Max Weber. O poder está presente, mas a autoridade está ausente. O repúdio da autoridade e da responsabilidade permite a fuga das greves e das crises, já que não há laços fortes o suficiente para haver uma coesão. Não há nenhuma autoridade para reconhecer nosso valor, estamos à deriva do fracasso, estamos à deriva de nós mesmos. O pronome nós é temido pelos capitalistas, temem o ressurgimento dos sindicatos, assim no capitalismo moderno não dá motivos para as pessoas se unirem, “há história, mas não narrativa partilhada de dificuldade e portanto tampouco destino partilhado” (p.176). Para Sennett, um regime assim não pode se preservar por muito tempo.

A corrosão do caráter foi escolhido pela revista Business Week como um dos dez melhores livros de 1998 devido a sua crítica ao ambiente de trabalho do capitalismo moderno, tido como mais humano do que as insalubres e monótonas fábricas do velho capitalismo. Para Sennett, a aparente melhoria das condições de trabalho tão elogiadas, não passam de pura ilusão, a verdade é que o caráter humano foi profundamente corrompido. A lealdade, os compromissos pessoais são impraticáveis, é a desumanização total do ser humano. Assim, o autor consegue demonstrar como esta corrosão acontece utilizando exemplos reais, ao optar pela narrativa e não puramente o uso de estatísticas e tabelas, consegue dar vida, expressão, para provar sua hipótese inicial de que as novas relações do novo capitalismo flexível corromperam e corrompem o caráter do ser humano. A partir desta conclusão o autor leva o leitor a refletir sobre o tipo de sociedade que está sendo construída, uma sociedade em que os indivíduos não se vêem necessários uns aos outros, ou seja, é o individualismo nascido da burguesia industrial do velho capitalismo levado ao extremo, potencializado.

Por conseguinte, pode-se inclusive traçar um paralelo entre a visão de Sennet e as teses dos filósofos Foucault e Hannah Arendt. Para Foucault os indivíduos exercem “papéis” dentro de uma sociedade baseada em relações de poder, na sua mais conhecida obra “Vigiar e Punir”, o filósofo mostra como essas relações de poder mudaram e mudam ao longo da história, relações que estão o tempo todo se reconfigurando. Da mesma forma, Sennett analisa o capitalismo dos finais do século XX e suas relações de trabalho a partir da reconstrução das mudanças e reconfigurações ocorridas no capitalismo desde a época em que surgiram os primeiros trabalhos pensando este sistema como algo configurado, como a análise de Adam Smith em A Riqueza das Nações do século XVIII, até a consolidação do chamado capitalismo flexível, onde, diferentemente do antigo capitalismo da análise foucaultiana, o poder existe, mas a autoridade é invisível, porém a ausência desta autoridade visível não extingue as relações de poder entre trabalhadores e capitalistas. Aliás, este ponto sobre a crise na autoridade também é destacada por Arendt em “Entre o passado e o futuro” no capítulo sobre o que é autoridade, onde ela vê nesta crise, assim como Sennet, algo que corrompe o ser humano

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Reflexão sobre o livro “A Corrosão do caráter” sob a ótica da psicologia do trabalho

Lucianagaudio

18/1/08

Sempre pensei na importância do trabalho por experiência própria e por observar o meio a minha olta. As aulas sobre a psicologia do trabalho e a leitura do livro de Sennett me distanciaram deste sentimento visceral da importância do trabalho para entendê-lo com mais profundidade. Ao mesmo tempo pude entender melhor a mim mesma e às minhas reações diante do trabalho (ou da falta dele). Percebi que o trabalho tem um papel na sociedade muito maior do que eu supunha. Ele é insuperável em todos os modos de produção que já existiu e que ainda virá. O trabalho é ainda considerado categoria fundante e a linguagem aparece de forma praticamente concomitante, o que foi uma revelação para mim.

Atualmente é fácil constatar que o trabalho é a categoria central de organização social. O que “se faz” virou um sobrenome. Importa saber quem é pelo que a pessoa faz. Se a pessoa diz, sou psicóloga da empresa X, somente com esta frase (não é preciso nem saber seu nome) é possível deduzir o nível social da pessoa, a importância da sua função de acordo com o status da empresa X, se ela tem crédito para consumir ou não e várias outras suposições ligadas ao seu posto. Desta maneira, se torna muito mais coerente entender como o modo de produção atual tem conduzido suas relações de trabalho para conhecer os dilemas que o indivíduo enfrenta hoje.

Eu considero que a reflexão do Sennett é antecipada ou talvez anunciatória da urgência de mudanças no novo capitalismo. Eu me sinto no meio do “fogo” das questões colocadas por Sennett, e geralmente conseguimos enxergar com mais clareza uma situação quando tomamos uma distância mínima dela. A corrosão do caráter colocado por ele, eu li com a angústia de quem vive este momento e com o alívio de saber que o incômodo sentido é legítimo e, ainda, que o sistema que produz esta corrosão contém em si mesmo os germes da sua destruição. Estes germes se configuram pelas suas inúmeras contradições como por exemplo, exaurir a vida existente dentro do capitalismo e não permitir que haja vida fora dele.

Uma das questões centrais do livro é a idéia de que o caráter é algo construído com o tempo, pois suas qualidades como lealdade, compromisso, propósit

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o e resolução são de longo prazo na natureza. Atualmente não há estabilidade e os contratos formais de empregos estão sendo substituídos por projetos de curto prazo que não permitem a evolução destas qualidades do caráter contribuindo assim para sua corrosão.

Esta corrosão já atingiu níveis tão altos que ela já está incorporada por muitas instituições que valorizam as pessoas que têm a personalidade totalmente maleável aos interesses do momento. Uma experiência pessoal ilustra este fato. Participei de um processo de seleção contendo várias etapas, para trabalhar como analista de RH em uma consultoria de pequeno porte. Nos testes e dinâmicas, que foram as etapas iniciais eu passei. As etapas finais seriam entrevistas individuais. Havia cerca de 60 candidatas para duas vagas. Comentei com uma amiga sobre o processo que estava participando e ela (que já estava empregada em outro lugar), para minha surpresa, disse que conhecia a dona da consultoria, pois havia trabalhado com ela no início do negócio e haviam se tornado amigas. Ela, tentando me ajudar, me deu as seguintes dicas para passar pela entrevista; disse-me que a empresa gostava de pessoas muito práticas, secas, já que o volume do trabalho era grande e não dava tempo de praticar bobagens como “humanização” do RH. Esta amiga, sabendo dos meus ideais de praticar uma psicologia organizacional mais humana me alertou para que não demonstrasse tais idéias que não seriam vistas com bons olhos. Não consegui trair a mim mesma e como de fato não passei pelas entrevistas. Na verdade a empresa queria uma pessoa com um perfil agressivo e frio, o que entendi como o seu conceito de pessoa “prática”. Foi uma escolha cruel: Fingir ser quem não sou e trabalhar em um lugar onde me sentiria violada nos meus propósitos constantemente ou enfrentar por tempo indeterminado todas a agruras do desemprego. Sei que não haverá empresa ideal, mas sua cultura não pode estar totalmente dissociada dos valores dos seus empregados.

Este é um dos motivos do adoecimento no trabalho. É preciso desenvolver habilidades de preservar-se mesmo em um ambiente hostil. Não haverá outras saídas? Lembro-me da pesquisa da professora Vanessa, os trabalhadores do cemitério estão se tornando alcoólatras, muitos trabalham ali por sobrevivência porque não conseguiram outra coisa. A identificação com o trabalho é tão frágil como a dos padeiros da moderna padaria de Boston citada por Sennett. A saída dos primeiros foi à bebida. A dos padeiros a indiferença, já que não pretendem permanecer no trabalho por muito tempo. E qual seria uma saída “saudável”, se há pouca opção? A minha amiga, citada anteriormente, ao saber da oportunidade na consultoria pensou que seria melhor para ela que o emprego atual e pelo telefone mesmo acertou com a dona, sua amiga, a sua contratação. E aquelas 60 candidatas que não souberam deste outro lado da história nem sequer imaginam quem foi à contratada que não passou por nenhuma das etapas. Pouco tempo depois, ela mesma já não considerava a “chefe” tão amiga assim e reclamava por ter que engolir a comida e às vezes nem poder almoçar para dar conta do serviço. Várias vezes a encontrei doente (gripada ou rouca) queixando-me da extrema competição que havia entre as colegas analistas e das exigências absurdas da dona da consultoria. Esta exigia que ficassem 3, 4 horas além do horário (que é de 8 horas) sem que recebessem mais por isso. Um dia me ligou chorando dizendo que não agüentava mais, mas

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isto ainda era melhor do que ficar desempregada. Ao meu ver, o seu caráter está sendo moldado.

Aprendi nas aulas que o trabalho é a categoria central no processo de auto construção humana. Sennett diz que o capitalismo hoje “afrouxa os laços de confiança e compromisso e divorcia a vontade do comportamento” (p.33). Sendo assim, como fica a construção humana se o trabalho exercido o dissocia dele mesmo? Eu mantive minha coerência interna ao recusar fingir para conseguir o emprego, mas esta começa a se abalar pelo desemprego prolongado. A falta de trabalho me exclui da sociedade e é o trabalho a porta principal para minha reinserção. Manter meu valor como pessoa perante a sociedade, sem estar trabalhando, é um grande desafio. A maior estabilidade hoje é se adaptar a instabilidade inerente ao trabalho. Esta adaptação pode ter um preço alto já que não nos permitir solidificar nenhum traço de caráter como alerta Sennett.

Se o trabalho é a categoria central, todos os outros aspectos da nossa vida serão afetados por ele. O primeiro capítulo do livro de Sennett ilustra este fato, pois mostra a influência do trabalho na família de Rico. Eu considero preocupante o fato de o desemprego não ser mais privilégio apenas das classes menos favorecidas. O livro, as aulas e a experiência prática deixa bem claro que há cada vez mais concentração de poder e dinheiro na mão de poucos bem sucedidos “enquanto a massa de perdedores fica com migalhas para dividir entre si” p.105. A classe média já foi atingida. Se há cada vez mais desempregados e empregados precários, qual será o efeito disso nas outras áreas da vida de uma pessoa? E na sociedade como um todo? Será que estarei indo longe demais em pensar que esta rebelião de marginais que está assombrando São Paulo tem a ver com esta discussão toda? Desemprego, exclusão, marginalidade... Chega a ser um exercício físico pensar em possibilidades alternativas para esta situação.

Sennett aponta alguns caminhos interessantes, que, ao meu ver, está em sintonia com as críticas de Politzer a psicologia. Em primeiro lugar, a sua análise é psicossociológica, o que sugere que não é possível tratar um assunto tão complexo e dinâmico considerando apenas uma vertente. O diálogo entre abordagens múltiplas é possível e desejável para o melhor entendimento do objeto em questão. Foi o que Politzer fez na sua análise sobre a psicologia. Em segundo, Sennett aponta que o próprio capitalismo é construído cheio de falhas e é nelas que encontraremos algumas soluções. Ao ler esta passagem em Sennett, lembrei-me de uma aula em que foi colocado que é através das brechas deixadas pelo capitalismo que os movimentos sociais irão atuar e provocar mudanças que, posteriormente serão incorporadas pelo capitalismo como parte do sistema. Isso significa que somos nós quem produzimos as mudanças e a alimentação do sistema e que somos nós também quem devemos começar a mudá-lo. Refletir sobre estas questões pode ser um primeiro passo. Sennett descreve a evolução do pensamento dos programadores demitidos da IBM, que se inicia culpando a administração de traição, passa pela idéia de que intrusos chegam à cena e culminam na própria responsabilidade sobre o ocorrido; a demissão deles. Sennett os considera os caracteres mais fortes que já encontrou porque “assumiram a responsabilidade pelo seu

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fracasso e (...) construíram um esquema narrativo para sua experiência” p.173. Ler isso me fez vir à mente uma das principais propostas da psicologia: a cura pela fala. Atualmente, a divisão do trabalho, a falta de controle do tempo, a falta de um responsável a quem se dirigir ou culpabilizar, a frouxidão dos laços de caráter, a excessiva flexibilização das formas do trabalho e várias outras características derivadas do capitalismo exercido hoje, deixa a pessoa sem referência e confusa. Fica muito mais fácil dominá-la, principalmente subjetivamente. Resgatar alguma coerência de si mesma e do que lhe acontece através da fala, ajuda a organizar por dentro o reflexo da desorganização produzida pela situação externa. Muitas vezes não se sabe nem contra o que se está lutando.

As formas encontradas pelo neoliberalismo para conter as massas excluídas são desabonadoras, como por exemplo, o assistencialismo feito através de programas sociais que reforçam a exclusão. Estas formas podem parecer sutis as grandes massas que não saberão identificar o que exatamente devem reivindicar. Por isso, acredito que refletir sobre estes temas, dar-lhe luz é ao mesmo tempo terapêutico e um modo de começar a melhorar as relações de trabalho. Foi também uma novidade para mim Sennett dizer que os laços da comunidade se reforçam pelo conflito. Nunca havia pensado por este lado, mas faz muito sentido. O conflito é dissolvido através de “tapa-bocas” como o assistencialismo por um lado e a idéia cada vez mais vigente de ser um privilégio sobreviver no mercado de trabalho (o que não permite contestar, afinal tem um monte de desempregado querendo sua vaga) por outro. Sendo assim, não há luta, não há discussão, não há comunidade porque não há enfrentamento das diferenças. Foi com grande alívio que constatei que é preciso aumentar a possibilidade de escolha para ampliar a consciência. O trabalhador (ou desempregado) não é uma vítima passiva, mas também não é o único culpado da sua condição.

Escutar que a ação efetiva do psicólogo do trabalho deve ser dirigida as condições de trabalho, ou seja, adaptar o trabalho ao homem e não o contrário, veio totalmente ao encontro dos meus anseios como psicóloga. Como disse anteriormente, o livro e as aulas, sintonizados com o que estamos vivendo, suscitou-me muitas reflexões que ainda estão fervilhando na minha mente. Há mais dúvidas do que respostas, mas foi possível tirar muitos véus e alimentar com riqueza uma discussão inacabada em que eu própria faço parte da construção desta história.

Bibliografia

Sennett, Richard. A corrosão do caráter: Conseqüências pessoais do trabalho no novo capitalismo. Tradução Marcos Santarrita. – 10º edição – Rio de Janeiro: Record, 2005.

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Título: A Corrosão do Carácter - As Consequências Pessoais do Trabalho no Novo Capitalismo

Edição Original: The Corrosion of Character - The Personal Consequences of Work in the New Capitalism (1998)

Autor: Richard Sennett

Tradução: Freitas e Silva

Edição: Fevereiro de 2007 (2ª ed.)*

Editora: Terramar

ISBN: 972-710-9287-5

Paginação: 259 páginas

Na verdade, ao partir para a leitura deste livro, esperava algo ainda mais próximo de nós, ou algo em que melhor revíssemos a realidade que nos afecta. Aquilo que sentimos e que esperávamos ver igualmente reflectido neste livro foi mais ou menos esboçado no artigo anterior.

Esta -de certa forma- "decepção" (ou não correspondência) prende-se, cremos, com a objectividade necessária (necessária para a credibilidade) à análise sociológica. Aquela "frieza" do analista social, que se mantém à parte, apenas como observador. Postura que erradamente tendemos a considerar como neutra ou apolítica.

Sabemos que não é o caso de Richard Sennett. Quanto mais não seja porque, à partida, todos somos seres humanos. Mas mais que isso: como pode ficar indiferente alguém que contactou com pessoas que sentiram, na pele, efeitos económicos, familiares e psicológicos causados pelo "novo capitalismo"?

O autor apelida-o assim para o distinguir de um outro (menos selvagem e destruidor?), anterior à "economia global" proporcionada pela revolução nas comunicações e telecomunicações.

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Através da análise

a) da despromoção (descida nos quadros da empresa);

b) da desvalorização (não reconhecimento pelo trabalho prestado);

c) do desenraizamento (quando os trabalhadores são obrigados a ir trabalhar para outra região);

d) da redução dos efectivos (nem vamos reproduzir mais um anglicismo desnecessário por que é apelidado);

e) do abaixamento salarial e da perda dos direitos sociais associados;

f) da "flexibilidade" (flexibilidade para quem?, importa sempre perguntar);

...

Sennett está, portanto, a descrever as consequências que derivam da perda e/ou desvalorização do factor trabalho e do trabalhador de que o capitalismo precisa para funcionar.

Não obstante nos parecer ainda pouco violento e denunciador (estaremos nós noutro patamar de sensibilidade?), trata-se de um trabalho importante para melhor compreendermos "as traseiras" da "aldeia global" em que cada vez mais somos obrigados a viver.

A Corrosão do Caráter

São Leopoldo

2006

Richard Sennet, o autor do livro a corrosão do carater, nasceu em chicago, estudou e formou-se em economia pela Universidade de Harvard, seguindo carreira acadêmica e dedicando-se aos estudos de economia da sociedade da atualidade, tendo lecionado nas universidades de yale, Brandeis, New York, e mais recentemente na London School Economics.

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A Corrosão do Caráter é a sua obra mais recente, dentre outras na área dos estudos econômicos e sociais, esta obra tem como objetivo de mostrar as conseqüências e influências do novo capitalismo na vida profissional e pessoal dos indivíduos. Podemos chamar de capitalismo flexivel uma nova forma do próprio capitalismo antigo.

Nos dias de hoje o grande objetivo das instituições é acabar com a rigidez burocratica e a rotina. O que as empresas buscam nos colaboradores atualmente é que ele seja ágil, consiga trabalhar em grupo, esteja disposto a assumir riscos e que tenha iniciativa. Hoje as pessoas não sabem se vale a pena ou não correr riscos pela sua empresa, e correndo estes riscos, fica a duvida se serão bem recompensados. Elas perderam a confiança entre si, e perderam também a confiança que depositavam na empresa em que trabalhavam. Somente com um bom tempo, poderiam desenvolver seu carater, e ao invés disso a flexibilidade faz com que todas etapas de contrução deste carater fossem esquecidas..

O caráter são os traços pessoais aos quais damos valor em nós mesmos e temos a expectativa que as pessoas ao nosso redor e a sociedade nos reconheça e os valorizem, sendo eles expressos pela lealdade e o compromisso mutuo de objetivos e metas a longo prazo. As qualidades que podemos encontrar em um bom emprego não são as mesmas do bom carater, pois não podemos dar o exemplo de um bom carater só porque temos um emprego com um alto salario.

No momento em que se muda a todo instante procurando acompanhar os avanços da tecnologia, não estabelecendo um objetivo em longo prazo como fazia "Rico", estamos corroendo a confiança e lealdade, as pessoas sentem muita falta de relações humanas com objetivos mais duraveis.

Apesar de conseguir conquistar sucesso em sua vida profissional, ele esta muito confuso devido ao comportamento flexivel e as grandes incerteza que envolvem o mundo capitalista. Além disso estas conquistas a curto prazo estão enfraquecendo o seu carater, devido as suas ansiedades sobre mudanças. Com isto tudo acontecendo em sua vida profissional, ele não consegue exigir que seus filhos tenham um bom carater, pois sua historia de vida não serve com um bom exemplo para seus filhos.

O modelo atual de trabalho flexível das organizações do novo capitalismo supera a temida rotina do trabalho em série de produção e o horário rígido, mas segundo Sennett, a flexibilidade que se converteu em algo "normal", afeta a nossa concepção de mundo e principalmente nosso caráter. Sennet diz que o descontentamento que detectou não estava vinculado com nenhuma linguagem política

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Rico esta revoltado contra o tempo rotineiro e burocratico das empresas, como o que ocorria na época de Ford. A rotina e a repetição pode fazer com que as pessoas tenham pleno controle sobre seu trabalho, mas isso as privam de pensar, tornando-as estupidas e ignorantes. A rotina, junto com o estudo de movimento de Taylor, faz perceber que os trabalhadores não possuem uma visão ampla do futuro, com a mesma tarefa sempre, eles ficavam incapacitados de mudar.

Para o desenvolvimento do carater, temos de fugir da rotina, pois ela impossibilita de mudar, nos tornando deprimidos no trabalho, o que acaba degradando nosso carater. As pessoas são motivadas pelas experiencias mais flexiveis e isso deixava Rico confuso e ancioso.

Esta repulsa a rotina burocratica e a busca de maior flexibilidade, fizeram com que surgissem novas estruturas de poder e controle, em vez de serem criadas condições de trabalhos que não prendessem tanto as pessoas, essas novas praticas administrativas fazem com que um numero menor de administradores, controle um numero maior de subordinados, dando a eles sobrecarga de multiplas tarefas a cumprir.

No capitalismo atual, a rotina esta cada vez mais esquecida. Hoje em dia o dinamismo esta sendo muito mais utilizado pelas instituições. Mas o dinamismo pode trazer a falta de seguraça no emprego, futuro incerto e isso é tão ruim quanto a rotina e a burocratização do começo do século.

Sennett faz uma analise de uma padaria conhecida por ele. De acordo com ele, antes todos eram padeiros, hoje somente o gerente tem conhecimento de como se faz um pão. Toda produção é controlada por botões e maquinas. Com isso os padeiros não precisam mais coperar entre si para coordenar as tarefas como era feito antigamente. Assim sendo, os padeiros chegam a conclusão que executam tarefas simples demais, fazendo menos do que sabem. Quando um colaborador sente que esta subutilizando suas capacidades, seja em uma padaria, ou em qualquer outro lugar, pouco motivados com o local de trabalho, acaba largando seu emprego.

Em todas as formas de trabalho desde as mais simples a mais complicada as pessoas se sentem mais importantes quando são desafiadas a enfrentar as dificuldades que são grandes fontes de estimulo mental, se as tarefas são simples demais e tudo é facilitado tornamo-nos fracos; nosso compromisso sobre o trabalho é superficial, uma vez que não entendemos o que fazemos.

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Correr risco pode ser , em muitas circunstancias, um teste de alta carga do caráter; os seres humanos excepcionalmente se desenvolvem vivendo constantemente no limite. Na vida diária as pessoas se interessam mais pelas perdas que pelos ganham, sendo muito mais sensíveis a estímulos negativos dando grande importância a ele que aos positivos, pois ignoramos os fatos rotineiros presentes em nossa vida.

Estar exposto por muito tempo a riscos pode corroer o nosso carater, porque vivemos em uma sociedade cheia de incertezas e dinamica, com isso as pessoas passivas acabam desaparecendo. No caso de Rose que se sentiu privilegiada por ter sido contratada devido sua longa experiencia, mas acaba constrangida ao ser demitida por ser velha demais para seu cargo, com isso acentua-se que no mercado de trabalho o ganhador sempre leva tudo, não restando nada para os que perdem.

Atualmente o fracasso não é apenas uma realidade de pessoas da classe baixa. Não importa qual seja sua classe, todos nós podemos fracassar. E estes fracassos fazem as pessoas botar a culpa em fatores que estão fora do seu alcance, mas depois de algum tempo chega-se a conclusão que poderiam ter arriscado mais e isto faz lembrar que hoje somos apenas peças e que podem ser substiduidas a qualquer momento.

Quando entramos no mercado de trabalho definimos um objetivo a longo prazo, e para chegar a este objetivo iremos passar por diversas situações que irão ajudar na construção de nosso carater