a contribuiÇÃo educacional do movimento de educaÇÃo de base- meb

28
A CONTRIBUIÇÃO EDUCACIONAL DO MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO DE BASE- MEB NO PROCESSO DE FORMAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO MUNICÍPIO DE TIANGUÁ-CE. 1 Silvani Silva de Paula [email protected] 2 Francisco Ullissis Paixão e Vasconcelos [email protected] Resumo O artigo apresentado aborda as contribuições educacionais do Movimento de Educação de Base (MEB) no processo de formação de jovens e adultos no município de Tianguá-Ce. A falta de reconhecimento da relevância das ações do MEB por parte do Governo Federal da época se deu, sobretudo, pela vivência de práticas de opressão coordenadas pelos militares, fazendo com que as ações do MEB se encontrassem nas regiões norte e nordeste do Brasil, onde se evidencia maior vulnerabilidade de vida da população; com as características ligada a formação pastoral, mas sem perder seus vínculos educativos voltados para o popular, convivendo com a realidade dos camponeses e contribuindo para que esses tenham uma consciência política e se libertem do domínio e da opressão. Alguns autores compõem o referencial teórico: FREIRE (2000; 2009), BRANDÃO (1980), ARROYO (2003) e FÁVERO (2004). As análises decorrem de uma pesquisa de Trabalho de Conclusão de Curso- TCC, no ano de 2010, do curso de pedagogia do núcleo de movimento sociais, realizado na Universidade Estadual vale do Acaraú- UVA. Utilizando-se a Pesquisa Qualitativa, através de um estudo bibliográfico documental e através do método da história oral, na qual se obteve os dados por meio de entrevistas semi-estruturadas. Os sujeitos da pesquisa estão representados por 1 do sexo feminino e 1 do sexo masculino, ex- coordenadores do movimento atuantes no período de 1973 a 1997. As informações e reflexões decorrentes sinalizam a importância da educação crítica transformadora na contribuição do desenvolvimento da sociedade e na consciência política dos cidadãos. Concebida no âmbito de referenciais educativos baseados na vivência e no diálogo. Por este estudo releva a importância sociocultural, política e educacional do MEB no processo de mobilização das comunidades na luta em favor de superação de seus problemas coletivos, a elevação da consciência política dos analfabetos e o enriquecimento do patrimônio histórico, político e pedagógico da região da Ibiapaba e por extensão do Ceará e do Brasil. Palavras- Chave Educação popular; MEB; EJA. 1 Aluna graduanda do curso de pedagogia do núcleo de movimentos sociais da Universidade Estadual Vale do Acaraú-UVA.2011 2 Professor Orientador da Universidade Estadual Vale do Acaraú-UVA.

Upload: silvani-silva

Post on 22-Jan-2018

407 views

Category:

Education


2 download

TRANSCRIPT

Page 1: A CONTRIBUIÇÃO EDUCACIONAL DO MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO DE BASE- MEB

A CONTRIBUIÇÃO EDUCACIONAL DO MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO DE

BASE- MEB NO PROCESSO DE FORMAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO

MUNICÍPIO DE TIANGUÁ-CE.

1Silvani Silva de Paula

[email protected]

2

Francisco Ullissis Paixão e Vasconcelos

[email protected]

Resumo

O artigo apresentado aborda as contribuições educacionais do Movimento de Educação de

Base (MEB) no processo de formação de jovens e adultos no município de Tianguá-Ce. A

falta de reconhecimento da relevância das ações do MEB por parte do Governo Federal da

época se deu, sobretudo, pela vivência de práticas de opressão coordenadas pelos militares,

fazendo com que as ações do MEB se encontrassem nas regiões norte e nordeste do Brasil,

onde se evidencia maior vulnerabilidade de vida da população; com as características ligada a

formação pastoral, mas sem perder seus vínculos educativos voltados para o popular,

convivendo com a realidade dos camponeses e contribuindo para que esses tenham uma

consciência política e se libertem do domínio e da opressão. Alguns autores compõem o

referencial teórico: FREIRE (2000; 2009), BRANDÃO (1980), ARROYO (2003) e FÁVERO

(2004). As análises decorrem de uma pesquisa de Trabalho de Conclusão de Curso- TCC, no

ano de 2010, do curso de pedagogia do núcleo de movimento sociais, realizado na

Universidade Estadual vale do Acaraú- UVA. Utilizando-se a Pesquisa Qualitativa, através de

um estudo bibliográfico – documental e através do método da história oral, na qual se obteve

os dados por meio de entrevistas semi-estruturadas. Os sujeitos da pesquisa estão

representados por 1 do sexo feminino e 1 do sexo masculino, ex- coordenadores do

movimento atuantes no período de 1973 a 1997. As informações e reflexões decorrentes

sinalizam a importância da educação crítica transformadora na contribuição do

desenvolvimento da sociedade e na consciência política dos cidadãos. Concebida no âmbito

de referenciais educativos baseados na vivência e no diálogo. Por este estudo releva a

importância sociocultural, política e educacional do MEB no processo de mobilização das

comunidades na luta em favor de superação de seus problemas coletivos, a elevação da

consciência política dos analfabetos e o enriquecimento do patrimônio histórico, político e

pedagógico da região da Ibiapaba e por extensão do Ceará e do Brasil.

Palavras- Chave

Educação popular; MEB; EJA.

1 Aluna graduanda do curso de pedagogia do núcleo de movimentos sociais da Universidade Estadual Vale do

Acaraú-UVA.2011 2 Professor Orientador da Universidade Estadual Vale do Acaraú-UVA.

Page 2: A CONTRIBUIÇÃO EDUCACIONAL DO MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO DE BASE- MEB

2

1- Introdução

O presente trabalho pretende conhecer as contribuições educacionais do MEB no

processo de formação dos alunos atendidos nas salas de alfabetização de jovens e adultos no

município de Tianguá – CE. Este estudo justifica-se pela escassez de trabalho sobre o tema e

pela necessidade de um estudo aprofundado das contribuições educativas do movimento de

base para preencher lacunas que ainda encontram-se abertos sendo obstáculos ao

conhecimento científico.

As reflexões desse estudo foram divididas em subtítulo para melhor compreensão. No

primeiro é feito um levantamento histórico do MEB inserido no contexto social de negação

dos direitos à cidadania. A sociedade mantinha-se oprimida, manipulada e excluída do

processo de alfabetização pelo poder político. O segundo analisa os princípios pedagógicos do

movimento na formação de cidadãos participativos na sociedade. A metodologia da ação age

psicologicamente na mentalidade dos indivíduos despertando-os para o processo de

reivindicação tornando os conscientemente politizados.

O terceiro subtítulo explicará os caminhos do MEB no município de Tianguá e a sua

contribuição educacional no despertar de consciência, na politização e no desenvolvimento

dos indivíduos e de suas comunidades.

O lócus da pesquisa fundamenta-se na abordagem de natureza qualitativa, pois este

modelo de metodologia fornece explicações científicas adequado para a elaboração dos dados

e adquirir o conhecimento desejado, através de um estudo bibliográfico-documental em livros,

artigos, relatórios, cartilhas e estatuto do MEB, complementando por meio da história oral

como principal fator para a análise dos conteúdos, obtidos por meio de entrevistas semi-

estruturadas, representando os sujeitos dessa pesquisa, dois ex-coordenadores do MEB-

Tianguá de 1973 a 1997.

Finalizando podemos perceber que o movimento discutido, instituiu uma educação de

base significativa nos alunos que se deixaram educar no sentido amplo de educação. Nesta

definição, acredita-se na necessidade de um ensino desse nível na sociedade atual cheia de

padrões e elementos que manipulam. A educação precisa fundamentar seu ensino na realidade

dos sujeitos e desenvolver-se em decorrência de uma política que possibilite programas e

ações comprometidas com desenvolvimento social.

Page 3: A CONTRIBUIÇÃO EDUCACIONAL DO MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO DE BASE- MEB

3

2- Movimento de Educação de Base (MEB): Como tudo começou.

A educação básica para adultos começou a delimitar seu lugar na história da educação

brasileira a partir da década de 30, quando começa a se firmar um sistema público de

educação no país. Estava na constituição de 1934 a garantia do ensino público gratuito para

todos e inclusive para adultos, mas só a partir do fim da ditadura de Vargas em 1945 é que

surge um sistema político de democracia, em que a ONU - Organização das Nações Unidas

em sua carta de direitos alerta a urgência para a integração dos povos, visando os direitos

sociais e políticos da população, hoje com a promulgação da LDB.

A União recebeu a tarefa institucional de elaborar o Plano Nacional de Educação, com dois eixos fundamentais: a organização do ensino nos

diferentes níveis e áreas especializadas e a realização de ação supletiva junto

aos Estados, seja subsidiando com estudos e avaliações técnicas, seja aportando recursos financeiros complementares. Três outras conquistas

foram incorporadas ao texto constitucional: ensino primário gratuito para

todos, desde que oferecido em escola pública, inclusive para alunos adultos,

percentual de 10%, por parte da união e dos municípios, e de 2% por parte dos Estados e do Distrito Federal, da renda resultante de impostos,

objetivando ações de manutenção e desenvolvimento do ensino. (CANEIRO,

2009, p.19)

Com esta iniciativa, contribuiu para que a educação de adultos ganhasse respaldo entre

as preocupações sociais e houvesse uma maior atenção com a educação elementar aos adultos,

porém a redemocratização no país colocava em suas metas, a educação como forma de

progresso, surgindo assim, varias campanhas de massa para acabar com o analfabetismo, era

urgente a aprendizagem ofertada à população, mas eram apenas palavras. Também a sonhada

democracia, na realidade a prioridade para os lideres políticos resumia na necessidade dos

mesmos ampliarem o número de eleitores e assim as oligarquias dominantes continuassem no

poder, intencionalmente cada aluno significava um voto e isto era uma oportunidade de

dominação sobre as massas.

Nas campanhas de educação os adultos eram considerados como incapazes, marginais,

identificados psicologicamente e socialmente como uma criança grande irresponsável. O

analfabetismo era definido como a causa da situação econômica, social e cultural do país, e

não efeito da exclusão de massa que a população sofria, sem meios para ser feito para reverter

esse quadro, e:

No Brasil, como em vários países da América Latina, as antigas elites formadas por oligarcas com influências liberais acostumaram-se a ver na

educação “a alavanca do progresso”. Assim tomaram o tema do

Page 4: A CONTRIBUIÇÃO EDUCACIONAL DO MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO DE BASE- MEB

4

analfabetismo e despejavam rios de retóricas. Diziam que o país jamais poderia encontrar seu caminho e a democracia jamais poderia ser uma

realidade enquanto tivermos uma tão alta proporção de analfabetos. A

“ignorância” e o “atraso” eram duas faces da mesma moeda. Palavras,

muitas palavras e por certo algumas verdades mas nenhuma ação. (FREIRE,

2009, p. 21).

A forma de ensino transmitido pelas campanhas de educação recebia críticas, devido

às deficiências pedagógicas e o caráter superficial do aprendizado em curto período e as

formas inadequadas de aplicação do método para adultos, fazia com que o ensino ofertado não

possibilitasse significados importantes de conquista e realização do público atendido.

No entanto, todo esse descontentamento implicava uma nova visão sobre o problema

do analfabetismo e a consolidação de novos métodos educacionais para a educação de jovens

e adultos. Neste estado de resolução dos problemas educativos e sociais que o país vivenciava

no inicio da década de 60, expande-se no Brasil movimentos de educação popular, uma forma

básica que se agrega as demandas da população.

Esta forma de educação cujo referencial foi o educador pernambucano Paulo Freire,

traz implicações sociais e políticas que favoreceu a uma reflexão crítica da realidade, portanto

se diferencia das demais formas de educação que existia, pelo caráter educativo ligado ao

povo, mais especificamente os excluído da sociedade civil, moradores de comunidades rurais

e analfabetos.

Sua estrutura educativa estava voltada para a resolução dos problemas das

comunidades carentes e busca pedagogicamente mudar está realidade, através da

conscientização, sendo fiéis as suas linguagens, interferindo na sua vivência de modo que os

indivíduos adquiram autonomia e caminhem para a liberdade sem opressão, descobrindo a sua

identidade e atribuindo novas culturas. Com esta forma de educação é assimilado

pensamentos críticos da realidade social dos indivíduos.

Entretanto, a aprendizagem tem o objetivo de libertar a consciência individual e

coletiva, incentivando os educandos a reivindicar seus direitos democráticos na sociedade,

também estimulam as camadas dominantes a repensarem nas demandas sociais e como estão

ofertando as políticas públicas para a melhoria da população. No entanto:

Não se trata de um processo apenas de aprendizagem individual, que resulta

num processo de politização dos seus participantes. Esta é uma de suas faces

mais visíveis. Trata-se do desenvolvimento da consciência individual. Entretanto, o resultado mais importante é dado no plano coletivo. As práticas

reivindicatórias servem não apenas como indicadores das demandas e

Page 5: A CONTRIBUIÇÃO EDUCACIONAL DO MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO DE BASE- MEB

5

necessidades em mudanças, reorientando as políticas e os governantes em

busca de legitimidade. (GOHN. 2001, p.52)

E assim é de lembrar que a significação da educação popular se deu pelo método de

ação, que conseguiu mobilizar por um determinado período de tempo uma quantidade

significativa da população, ou seja, a sua mobilização contribuiu para uma pedagogia

sistematizada de uma iniciativa simples e real dos fatos, instituindo atos de mudanças no povo

subordinado a um sistema opressor. Na educação popular de caráter sociopolítico se firma na

tentativa de libertar a consciência da população para que estes usufruam de seus direitos a

cidadania.

O programa de educação popular que contribuiu nesta fase para a alfabetização

fundamental brasileira nos anos 60 e também deu iniciativa relevante à sociedade foi o

Movimento de Educação de Base- MEB surgido em 1960, com iniciativa da Igreja Católica

da arquidiocese de Natal (RN). No entanto a igreja refletia profundamente sobre uma nova

maneira de atuação dos leigos no serviço pastoral e através da metodologia de ação a igreja

conservadora dava abertura à participação de leigos atuantes na comunidade.

No Brasil essa experiência aconteceu no Nordeste, nas igrejas de Natal e Recife, com a

criação de escolas de Serviço Social e centros de treinamento, porém a igreja geograficamente

desejava ampliar sua ação pastoral e para isso era necessário que a população soubesse ler e

escrever, pois a maioria da população era analfabeta, para levar educação a este público

estavam impostos vários obstáculos, no qual o acesso a muitas comunidades do meio rural

tornava difícil pela extrema carência.

Para modificar essa situação, as emissoras de radiodifusão foram vistas pela CNBB-

Conferência Nacional dos Bispos do Brasil como o caminho mais viável para a solução do

problema, assim atingiria um número elevado de pessoas no processo educativo, seguindo

exemplo de experiência do exterior. (REIS, 1995).

Com a implantação das Escolas radiofônicas é criado um Sistema de Assistência Rural

– SAR que auxiliava os moradores do meio rural, com programas de cooperativismo,

treinamento de lideranças, politização, e sindicalismo. Foi neste contexto pioneiro da igreja e

os resultados apresentados pelas escolas radiofônicas, que em 21 de Março de 1961 pelo

decreto 50.370 publicado no diário oficial no Art. 1º o dispositivo diz que “o governo federal,

prestigiará o movimento de educação”. (SANTOS, 1992).

Com o convênio entre CNBB que se responsabiliza pela execução do projeto de

educação e Governo Federal o presidente Jânio Quadros, responsabiliza-se pela parte

Page 6: A CONTRIBUIÇÃO EDUCACIONAL DO MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO DE BASE- MEB

6

financeira, ampliando o movimento que passa a ser Movimento de Educação de Base- MEB.

Certamente para implantar um projeto, faz necessário recurso financeiro, portanto com a

ampliação do programa possibilitou; o aumento de salas de aulas, pagamento de monitores e a

conquista de materiais didáticos.

A meta inicial era de que, no período de 1961-1965, o MEB instalasse 15 mil escolas radiofônicas e conseguisse organizar, através delas, grupos e comunidades, tendo vista as já almejadas reformas de base. O trabalho era

realizado em quatorze estado e território, o MEB manteve 58 equipes,

atingindo 500 municípios. (REIS, 1995, p.14).

Obviamente a importante aliança abrangeria o maior número de comunidades com

salas de aula, mas também possibilitou à descaracterização do movimento, a atuação que era

de educação popular que criticava o sistema político das atitudes administrativas, perde sua

característica e passa a oferecer uma educação elementar, o mínimo necessário para a

educação da população, ou seja, o que era fundamental para as pessoas, agora era à base para

um ensino educativo com influência política. Segundo Brandão, (1980, p.24). “As

características do movimento de Educação Popular tornou-se uma forma tardia de Educação

Fundamental a serviço dos interesses do governo autoritário”. Isto tornava perigoso por

ocultar elementos importantes e confundir outros essenciais para o público atendido.

Mesmo com as mudanças na forma de educação a parceria entre MEC- Ministério da

Educação e Cultura e CNBB ampliaram o programa de educação com duração de cinco anos,

com o objetivo de beneficiar as regiões subdesenvolvidas do Nordeste e centro Oeste do país,

transformando as escolas radiofônicas em um projeto com maior atendimento as áreas

isoladas do país.

Com programas de rádio-educativa a educação chegaria através das ondas do rádio,

um professor no estúdio ministrando aulas e um monitor da própria comunidade com os

alunos ouvindo atentamente as explicações. Concentravam em galpões, casas de farinhas,

salões comunitários e alpendres das casas dos moradores da comunidade. Segundo Fávero,

(2004, p.4). “As emissões eram feitas no começo da noite e as escolas funcionavam em

horário adequado à população rural.”

Com esta forma de educação à distância através do rádio cobria as regiões mais

remotas do Brasil, precisamente a parceria entre igreja e governo desejava superar suas

expectativas, ampliação religiosa e pastoral e utilizar-se de um programa existente para

concentrar seus objetivos eleitorais. De acordo com Brandão (1980, p.22). “O objetivo

político real é o controle de grupos populares”. Desta forma cada grupo utilizava da realidade

Page 7: A CONTRIBUIÇÃO EDUCACIONAL DO MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO DE BASE- MEB

7

frágil do país para satisfazer aos seus objetivos, no mais, não existem ideologias que se

fundamentem sem controle e interesses.

No entanto, a participação do povo na conquista da educação foi devida a esses

interesses político e ideológico, que aproveitaram da fragilidade do país para realizarem seus

planos, no contexto histórico a elite política é sempre quem domina, manipula e se apropria de

elementos que não fazem parte de sua linha de atuação, procuram manter vigilantes a tudo e a

todos que venham ameaçar sua ordem e hegemonia política. Contudo a sua participação na

construção da cidadania não foi gratuita e só teve significado quando a ação popular luta

contra a exclusão, pois se sabe que:

A cidadania jamais será doação do Estado, pois é essencialmente uma

conquista dos excluídos, através do exercício político, de lutas. A educação escolar, conseqüentemente, não confere cidadania a alguém que esteja dela

excluído; é, ao contrário, (...) Os excluídos se educam, sobretudo, nas lutas

de resistência, de reivindicação, de sabotagem. (ARROYO, 2003.p.8)

É a educação que leva o sujeito a reflexão é implantada na sociedade para gerar

denuncia, para a decisão incluindo os indivíduos a participação cidadã, decididos e livres e

jamais condicionados a um sistema ideológico. O grande avanço neste período é a intensidade

com que as massas populares ganham o acesso à educação, rompendo antigos conceitos

preconceituosos e o importante é que esta educação é permanente, “a educação é um ato de

amor, por isso, um ato de coragem”. (FREIRE, 2009, p.104).

Desse modo desafiando a liderança política que apoiavam, vendo que as características

de educação popular estavam descaracterizadas com influências baseadas em antigas teorias,

o movimento descarta a pedagogia do Estado afirmando sem temer a reação do governo

segundo, MEB, (2006, P.31) “A ação educativa não pode, portanto, deixar de situar-se nesses

três planos: conscientizar, motivar atitudes, proporcionar instrumentos de ação”. Portanto a

coragem de lutar por uma educação diferente, por cidadania é um ato heróico, mas enquanto

continuava ocultamente o interesse político e econômico que conduzia a exclusão de massa

mantida nas teorias pedagógicas não iria expressar mudanças na vida do povo, não

compensaria a luta pela conquista da participação a cidadania, assim afirmado pela idéia do

autor:

Enquanto os reais determinantes sociais e econômicos da exclusão da

cidadania continuarem ocultos, sob os escombros de tantas teorias

pedagógicas tradicionais, novas e novíssimas inspiradas nessa lógica, e não forem socavados e postos de manifestos para os profissionais da educação e

para as camadas populares, não haverá condições de fazer da luta pela

Page 8: A CONTRIBUIÇÃO EDUCACIONAL DO MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO DE BASE- MEB

8

educação uma expressão da participação e da cidadania.( ARROYO, 2003, p.41)

Para maior esclarecimento do movimento e a retomada a ação pedagógica sua

proposta estava em estatuto, natureza e fins do movimento, o primeiro foi escrito em 1963 sob

o decreto nº 52.267 tento passado por algumas reformulações com a continuidade do

movimento, no entanto com esse decreto passa a atuar para a promoção humana e cristã de

jovens e adultos, desenvolvendo programas de educação popular nas diversas regiões

consideras com grandes índices de subdesenvolvimento como o Norte e Nordeste do país,

estas regiões destacavam por serem lugares com áreas populacionais do país em que os

indicadores sócio-econômicos revelavam que estavam em situação de pobreza e como

conseqüência, índices sociais e econômicos abaixo do desejado. (MEB, 2006.)

Por preferência as regiões subdesenvolvidas, o MEB via na forma de educação

popular de Paulo Freire uma proposta de alfabetização de adulto utilizando o método de unir à

palavra a realidade dos educandos, esta era o diferencial da alfabetização do movimento,

trazendo a vivência do povo para a leitura das palavras, diferenciando dos antigos métodos de

alfabetizar desvinculado da realidade dos alunos, visando uma educação não só letrada, mas

informativa para uma conscientização democrática as classes popular.

Educando com palavras, sem temer o diálogo a denúncia, o programa de alfabetização

neste período de funcionamento por decreto expandia com toda efervescência, agora com seus

propósitos unidos aos ideais da população, o que estava sendo negado pelo estado, passa a ser

o compromisso do movimento, preparando os indivíduos para a educação critica, depositando

não uma educação reduzida, mais relacionada com os problemas sociopolíticos do país.

Esta denúncia através da educação obviamente seria visto pelos grupos de dominação

como uma ameaça ao poder, mas é nesse sentido que atua a verdadeira profecia educativa, ou

seja, pensando no amanhã, nas raízes ideológicas que está sendo imposto pelo sistema. Os

indivíduos são seres da ação, da indignação, da interferência e não podem deixar que o medo,

a aculturação e o domínio se apoderem do que é direito de todos.

3- Os princípios pedagógicos do MEB e a formação de cidadãos participativos.

O movimento fundamentado em torno de uma metodologia participativa, da troca de

experiência entre alfabetizando e alfabetizador, buscava idealizar nas mentes de seus

Page 9: A CONTRIBUIÇÃO EDUCACIONAL DO MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO DE BASE- MEB

9

educandos uma nova realidade dos fatos, conscientizando mentes e conceitos opressor da

nossa falha experiência político que se constituiu historicamente na população.

O programa inspirado na educação popular caracterizado na pedagogia Freiriana, o

qual propõe uma proposta de educação de alfabetização de jovens e adultos que se baseia nos

seguintes princípios “A leitura do mundo precede a leitura da palavra”, ou seja, para o

aprendizado das letras é necessário que antes os educandos tenham uma dimensão de sua

realidade, portanto o MEB tinha essa fundamentação pedagógica da educação libertadora,

propondo uma lógica humanística para homens e mulheres.

A metodologia é dialética, luta e aprofunda os objetos discutidos, pesquisa, faz análise

e traz novas formas de enxergar a sociedade e suas diversas formas de manipulação, o

essencial nessa educação popular é que partilha da vivência do povo e também torna um

sistema que induz, mas a favor da autoconsciência para que os sujeitos encontrem caminhos

para a liberdade guiados pela educação porque ela só adquire plena significação quando;

(...) Comunga com a luta concreta dos homens por libertar-se. Isto significa

que os milhões de oprimidos do Brasil semelhantes, em muitos aspectos, a todos os dominados do terceiro mundo poderão encontrar nesta concepção

educacional uma substancial ajuda ou talvez mesmo um ponto de partida.

(FREIRE, 2009, p.17).

Os métodos do Movimento de Educação estruturavam em torno da proposta curricular

de relacionar a teoria e a prática realizada na exposição de uma palavra geradora, exposta para

os educandos, tirada do seu cotidiano no sentido de que os alunos reconheçam e a discutam

seu significado real que estar em torno da palavra. Não é estudado apenas as silabas e

fonemas composto na palavra sugerida, mas refletida criticamente sobre seu papel social que

envolve o tema sugerido.

Envolver a comunidade no processo de educação estava na prioridade do movimento,

porém quem estava na monitoria das aulas eram sempre pessoas que também fazia serviços

pastorais na comunidade. Criando espaços de reflexão e ação conjunta entre comunidade e

grupo de alfabetização, realizada durante as discutições de problema sociais havendo a troca

de experiência.

Nesta didática os alunos expõem toda sua trajetória de vida, expressando sentimentos

e desejos, nos quais incidem para ações conjuntas com o alfabetizador, alimentando

instrumentos de liberdade aos alunos, incentivando-os a agir e reivindicar sobre seus anseios

que partem do individual para ações coletivas. Promover e valorizar a cultura popular e a

produção artística dos grupos. Utilizando esta prática dinâmica, os educandos além de estarem

Page 10: A CONTRIBUIÇÃO EDUCACIONAL DO MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO DE BASE- MEB

10

encaminhando para etapas alfabéticas, também constroem e valorizam sua cultura e

identidade.

É com esta didática que o processo de aprendizagem estabelece significados na vida

dos educandos, o aprender é por base em sucessivas e constantes comparações, assimilações e

acomodações, quando são colocadas situações novas para discussões, os indivíduos

comparam, assemelham com suas tradições caracterizando suas identidades ou diferenciam

assimilando novas culturas. A alfabetização inicia pelo conhecimento das realidades no

mundo e pela ação nele praticada. “A alfabetização começa com a prática e deve voltar a ela”

(MEB, 2006, P.19). As novas experiências é o que constará os reais significados do processo

de alfabetização, onde:

O primeiro passo para a aprendizagem é o contato com as coisas do mundo

exterior. É este contato com as situações novas que provocará o

desequilíbrio necessário. O segundo passo é sintetizar os dados colhidos nesta prática, ordenando-os. É a etapa dos conceitos e juízo. Em síntese: a

aprendizagem começa com a experiência prática. Esta experiência fornecerá

os elementos necessários à elaboração de novos conceitos. (MEB, 2006, p.19).

Negando essa metodologia, o convênio feito entre Dom José Vicente Távora

responsável pelo acordo entre CNBB e presidente da República, descaracterizaram o MEB,

com materiais didáticos disponibilizados pelo serviço de educação de adultos do ministério da

educação e Cultura- MEC e SIRENA- Sistema Radioeducativo Nacional, também pertencente

ao MEC, os livros “Ler e Saber e Riquezas do Brasil” da editora “Agir”, ofertados para os

educandos primeiro e segundo livro que se destacava as leituras, caderno de aritmética

resumidamente em uma tabuada e a rádiocartilha. (MEB, 2006). Estes materiais baseados na

leitura e escrita era para recém alfabetizados, portanto a educação estaria inviável e estava

claro que não existia preocupação governamental com a educação de base.

Assim a proposta de educação estava limitada, devido os poderes do estado que

interferia no currículo, com materiais didáticos contradizendo a proposta do programa. Esta

metodologia empregada nos livros e textos didáticos era inadequada a realidade dos alunos,

pois os conteúdos se resumiam em imagens e textos mostrando a vivência urbana, deixando

de lado toda uma história do povo, contrariando o sentido do movimento de levar para a

população uma concepção humanística e reflexiva de uma problemática.

Estes conteúdos complicavam a aprendizagem dos educandos, principalmente a

rádiocartilha. Segundo o MEB, (1996. P. 29). (...) “as cartilhas existentes adotavam o mesmo

tratamento utilizado para as crianças e projetava sistematicamente valores e imagens da vida

Page 11: A CONTRIBUIÇÃO EDUCACIONAL DO MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO DE BASE- MEB

11

urbana”. Praticamente a forma didática empregada nos conteúdos do MEB estava totalmente

seguindo modelos antigos de alfabetização, ou seja, seguindo os modelos educacionais das

campanhas educativas que não tiveram significados nenhum na vida dos alfabetizandos.

É a história inacabada, o novo que se fundamentava desdobrando antigas ideologias,

impondo neste novo período princípios metodológicos que também reproduzem poder, mas

todo processo educativo tem uma dimensão cultural instrumentalizadora que induzem para as

necessidades das pessoas e da sociedade.

Portanto, não existem programas, metodologias, conteúdos educacionais que sejam

gratuitos, ou seja, existem suas intenções, seus objetivos propositados, levando a sociedade ao

domínio, na qual se torna objeto nas mãos dos políticos. Concordando com Brandão, (1980, p.

7). “Os conteúdos e a metodologia da educação reproduzem e fazem circular símbolos e

valores dirigidos á realização de objetos sociais não declarados”.

Dentro de uma visão tradicional, a educação sempre foi imposta pelos grupos de

controle social uma forma de domínio, usa das necessidades sociais seus degraus para

manipular e assim terem sua hegemonia política, dentro deste contexto estes usou da

educação popular que se expandia nas comunidades de difícil acesso, para levar seus

conteúdos vazios indiferentes da verdadeira educação.

A finalidade dessa lógica, promover democracia às massas populares e serem

humildes são fatores intencionais, usufruir da situação que o país passava com baixos índices

sociais e um número elevado de analfabetos, porém seus programas não tiveram êxitos,

portanto o propósito é unir a um existente, na certeza que esses atingiriam as camadas

populares e ocultamente seus interesses seriam alcançados nesta participação de caráter

ilusório.

Passando metodicamente conteúdos de concepção vaga, depositando apenas informes

distorcidos da realidade anulando a participação do aluno, apresentando elementos sem

coerência, cultuando palavras ocas sem a preocupação de resolver um problema imposto a

partir de discussões criticas deixando de levar ao público alvo a reflexão de seu papel na

sociedade como cidadão participativo na comunidade democrática. Na verdade a população

necessitava de uma educação que denunciasse que verdadeiramente estivesse entrelaçada com

as ações e experiências de democracia, porém por não terem sistematicamente um projeto

próprio impõem, adestram e simplesmente não obtêm êxitos, com isso é afirmado pelo

pensamento Freiriano;

Page 12: A CONTRIBUIÇÃO EDUCACIONAL DO MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO DE BASE- MEB

12

A sua grande preocupação não é em verdade, ver criticamente o seu contexto. Integrar com ele e nele. Daí se superporem a ele com receitas

tomadas de empréstimos. E como são receitas transplantadas que não

nascem da análise crítica do próprio contexto, resultam inoperantes. Não

frutificam. Deformam-se na retificação que lhes faz a realidade. (FREIRE, 2009, p.61).

Contudo a democracia que consistia em um sonho mais do que uma realidade estava

sendo gradualmente dissimulada, treinado o povo para a acomodação e a ociosidade, mas a

esperança estava na luta popular despertada, porque era indispensável o desejo por uma

verdadeira atuação de direitos, o país historicamente vivenciava uma inexperiência

democrática, o qual afirma Freire, (2009). “Realmente o Brasil nasceu e cresceu dentro de

condições negativas às experiências democráticas.” (p.74). Portanto, não existe democracia

sem a participação popular e isto era a forma de atuação do movimento a concepção

humanística fundamentar psicologicamente o cidadão para possíveis decisões.

E assim libertando do estado de neutralidade social, no qual ocupa na comunidade,

sobretudo da servidão entre o patrão e empregados, no qual cultuava o costume do favor,

intensamente o poder condicionava às massas populares a lealdade e por conta disso

necessitava levar até esses sujeitos liberdade, através da educação crítica, mas para isso era

necessário que a sociedade estivesse aberta para o diálogo para a superação do domínio.

A dialogação implica numa mentalidade que não floresce em áreas fechadas,

autarquizadas. Estas, pelo contrario,constituem um clima ideal para o

antidiálogo. Para a verticalidade das imposições. Para a ênfase e robustez dos senhores. Para o mandonismo. Para a lei dura feita pelo próprio dono das

terras. (FREIRE, 2009, p.77)

As intervenções de outras práticas pedagógicas descaracterizaram o programa, além de

confundir a aprendizagem dos educandos como também não contribuindo para as mudanças

que necessitava os indivíduos. Impondo metodologias que apenas domesticassem e

transmitissem concepções falhas de outros sistemas, insistindo na tradicional educação

baseada nas palavras sem sentido, enraizadas desde a nossa história educativa.

Praticamente os conteúdos não ofertavam o conhecimento desejado pelo MEB,

contudo estudavam orientações e manuais da Organização das nações Unidas para a

educação, a ciência e cultura- UNESCO com exemplos de textos elaborados em outro países a

cartilha “Venceremos” elaborada em 1961 para a campanha de alfabetização de Cuba e

trazida para o Brasil pela UNE- União Nacional dos Estudantes que conheceram esta

experiência (MEB, 2006).

Page 13: A CONTRIBUIÇÃO EDUCACIONAL DO MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO DE BASE- MEB

13

As inquietações do movimento estavam em adquirir materiais didáticos que tivessem a

realidade dos educandos, ensinasse não só a ler palavras, mas ler o mundo através das

palavras, porque não traria significado às letras soltas sem que os educandos conheçam seu

sentido e reflitam sobre ela.

Pensando nestas reflexões populares e experiências de conteúdos didáticos de outro

país, o programa de educação elaborou o livro de leitura para adultos do movimento popular

de Recife em 1962, pela primeira vez foi reunidos textos de alfabetização e leitura, um

conjunto de palavras e frases às quais se associava a uma mensagem política, os conteúdos

sociais, as lições impulsionavam a reflexão estando ligada a realidade e linguagem,

questionando a falha democracia impostas a população, deste modo:

Não podíamos compreender, numa sociedade dinamicamente em fase de

transição, uma educação que levasse o homem a posição quietistas ao invés

daquela que levasse o homem a procura da verdade em comum, “ouvindo, perguntando, investigando”. Só podíamos compreender uma educação que

fizesse do homem um ser cada vez mais consciente de sua transitividade, que

deve ser usada tanto quanto possível criticamente, ou com acento cada vez maior de racionalidade. (FREIRE, 2009 p. 98).

O saber mais importante nessa defesa educacional era o que se incorporava ao homem

o saber democrático, no qual necessitava ser verbalizado, ou seja, transferido ao povo com as

possibilidades de renúncia para a liberdade, com consciência participativa nas questões

sociais, mas para estabelecer algo que contradissessem os interesses dos grupos de dominação

era necessária uma educação corajosa que enfrentasse a elite dominante, pois estes viam na

aprendizagem democrática ofertada a população uma forma de ameaça.

Contradizendo a intervenção política, o MEB prepara um livro de leitura para os

alunos do Nordeste, a proposta deveria conter mensagens que encaminhasse os alunos um

encontro no processo de transformação política e que provocasse inquietações para as

discussões e valores aos educandos para tomarem uma posição frente aos problemas sociais,

luta por justiça, igualdade de direitos e deveres.

Com esta concepção leva a aprendizagem a uma razão transcendental, portanto com as

necessidades das escolas foi priorizada em livros de leitura e exercício para recém

alfabetizados, trabalhando situações problemas que explorava e viabilizava simultaneamente a

alfabetização com o título “viver é lutar”. Nele continha a didática que o movimento

afirmava em seus documentos, defendendo que:

Page 14: A CONTRIBUIÇÃO EDUCACIONAL DO MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO DE BASE- MEB

14

A educação visa, portanto, à ação. Ora, a ação humana tem três requisitos essenciais. Em primeiro lugar, o homem age diante de um fato que é real

para ele; é, portanto, imprescindível que ele tome consciência da realidade

sobre a qual vai agir. Ao lado disso, o homem assume uma atitude diante

dessa realidade, o homem parte sempre dos meios que a cultura lhe oferece, sejam esses meios instrumentos físicos, verbais etc. A organização didática

de uma ação educativa não pode, portanto, deixar de situar-se nesses três

planos: conscientizar, motivar atitudes, proporcionar instrumentos de ação. (MEB, 2006, p.31).

Com tantas mudanças no programa no ano de 1964, por conta do golpe militar, fica

inviável a participação política, no entanto as classes dominantes agiam contra qualquer efeito

democrático, as dificuldades sofridas pelo MEB eram pressões de todos os lados, estava

proibida qualquer manifestação popular, reuniões a utilização do método mesmo não exercido

com tanta intensidade que desejavam, contudo estava cortado o financiamento para execução

do Movimento de educação. Este estava desprestigiado pelo governo federal estava proibida

qualquer manifestação popular que ameaçasse a ideologia dominante.

Durante este período de ditadura todo o trabalho do movimento de encontrar material

didático que correspondesse aos seus objetivos, estava proibido até os programas de rádio

escola, estas eram transmitidas ao vivo passando a ser gravada e ouvida por forças militares

que posteriormente seriam divulgadas, a cartilha didática “viver é lutar” é apreendido, o

governo permite apenas programas de alfabetização de adultos assistencialista e conservadora.

Devido às pressões ocasionadas o movimento teve que mudar a sua metodologia,

busca apoio com outras entidades, inclusive o intercâmbio com empresas internacionais, os

estudos estavam referenciados pela lei 5.692/71 lei que ressaltava a reforma do ensino,

baseados no parecer nº 699/72 que tratava do ensino supletivo (SANTOS. 1992), trazendo em

suas explicações, uma metodologia que distinguia do ensino regular. Pois este é desenvolvido

principalmente pelo ensino direto sem a presença e influência de ensino constante do

professor.

O acontecimento político contribuiu para que a educação de base perdesse

progressivamente a sua característica, a prática questionada e a diferencial metodologia de

educação popular, na qual era instrumento para os cidadãos encontrar sua liberdade social e

por conta disso que calaram a voz do movimento, repreendendo a sua forma de educar, levar

ao homem a reflexão de seu papel na sociedade civil.

Defendendo o seu propósito de educação, que se encontrava enfraquecido, o MEB

passa a desenvolver seu trabalho dentro de três funções básicas: suplência, suprimento e

Page 15: A CONTRIBUIÇÃO EDUCACIONAL DO MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO DE BASE- MEB

15

qualificação, nas quais as atividades do movimento passam a ser planejadas dentro destes

propósitos, para poder sustentar a sua atuação e manter a relação com as massas políticas.

A participação do movimento de educação gradativamente entra em declínio,

perdendo a sua característica questionadora de educação popular, enfraquecido por conta da

ditadura e assim perder recursos para atuação, no entanto o governo só permitia os programas

de alfabetização de jovens e adultos que fosse assistencialista com metodologias tradicionais e

conservadores que não desobedecem a sua ordem e soberania.

Portanto, por conta da nova ordem que o país vivenciava, o governo assume o controle

da educação de jovens e adultos com o Movimento Brasileiro de Alfabetização – MOBRAL.

A retomada a preocupação na alfabetização é obviamente para minimizar ou eliminar a

participação do MEB na educação, sobretudo na educação crítica que mudava a consciência

dos brasileiros.

Durante os anos 70, tendo em visto sobrevivido financeiramente o movimento

funciona como uma espécie de auxilio do Ministério da Educação e cultura nos programas de

escolarização supletiva (SANTOS. 1992). Depois de sua redução tanto na quantidade de

escolas, por conta que algumas foram fechadas, mas o movimento continuou atuando dando

prioridade a regiões que necessitava de seu ensino, sobretudo conscientizando e libertando

através da ação educativa.

4- Os Caminhos do MEB no município de Tianguá: as pistas diante dos dados

coletados.

4.1- As escolhas de pesquisa.

Os dados coletados e catalogados com análise ao longo do referencial teórico

fundamentam-se com uma pesquisa de abordagem qualitativa, pois este tipo de

conhecimento se adéqua ao estudo por ser um método flexível que focaliza a realidade, para

Marconi, (2007). Esta abordagem analisa, interpreta e descreve profundamente as

complexidades de comportamento humano, detalha e fornece análise sobre as investigações.

Este tipo de abordagem científica contribuiu para os instrumentos de coleta de dados,

os quais foram coletados na observação indireta através de análise em arquivos encontrados

na cúria diocesana de Tianguá, as análises foram em roteiros de programas de rádio,

relatórios anuais, cartilhas e estatutos.

Page 16: A CONTRIBUIÇÃO EDUCACIONAL DO MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO DE BASE- MEB

16

O contexto da pesquisa foi elaborado com estudo bibliográfico-documental já

catalogado teoricamente por outros pesquisadores, fazendo uma análise em documentos para

confirmar as hipóteses encontradas através da história oral, que investiga os fatos e

acontecimentos por meio da memória de pessoas. De acordo com Marconi, (2007, p.282). “A

história oral preocupa-se com o que é importante e significativo para a compreensão de

determinada sociedade.”

O diagnóstico nestes documentos colaborou como forma de acesso indireto à história

do Movimento de Educação de Base, contribuiu para fundamentar as informações

catalogadas por meio de entrevistas semi-estruturadas a dois ex-coordenadores do

movimento atuante no período de 1973 a 1997, estes representam os sujeitos da pesquisa

que ajudaram nos conhecimentos para preencher lacunas que não são encontradas em

documentos escritos.

A análise oral favoreceu significados de valores críticos do passado, devido à temática

ter deixado de existir fez-se necessário investigar e discutir as reflexões a partir da pesquisa

oral. Assim foram reconstruído e elaborado historicamente novos conhecimentos

significativos para o estudo discutido.

4.2- Os achados da pesquisa.

Situado no interior do Nordeste brasileiro, localizado na serra da Ibiapaba do estado do

Ceará, Tianguá começa a traçar seu caminho de evolução com a criação da Diocese em 1971,

abrangendo 14 municípios, no entanto esse passo simbolizava uma relevância significativa na

história social, educativa e política do município, contudo até esse mesmo ano este pertencia a

Diocese de Sobral e necessitava de uma maior assistência.

Com a implantação da Diocese na Ibiapaba, Tianguá passa a ser a sede episcopal e o

responsável pelo núcleo educativo do MEB, o qual recebeu este movimento em 17 de

setembro de1973, a convite do seu primeiro bispo Dom Francisco Timóteo Nemésio Pereira

Cordeiro,3 com isso já se fundamentava uma conquista simbolizando possíveis mudanças na

vida da população em especial dos camponeses.

3 De acordo com Abreu este contribuiu efetivamente para o desenvolvimento do município, este homem esteve

no processo da evolução regional, foi perseguido por oligarquia política pelo seu caráter critico e revolucionário.

(2009, p.51).

Page 17: A CONTRIBUIÇÃO EDUCACIONAL DO MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO DE BASE- MEB

17

As mudanças estavam confiantes com a nova Diocese, não só na área religiosa, mas na

educação assim como toda sociedade ansiavam pelas transformações, alguns pela evolução do

mercado, outros pela liberdade da população das mãos da oligarquia política que necessitava

ser rompida. Afirma Abreu, (2009, p.52). “foi a época de novos tempos, da nova ordem, dos

novos temas, a ansiedade pelo crescimento, se congregava, se agigantavam, além de

empreendimentos, progressos e status.” Este novo momento do município deixa a dúvida se

realmente estava à oportunidade para as mudanças e o desenvolvimento a favor das camadas

populares, ou um falso progresso doado intencionalmente para o fortalecimento das elites em

adquirir novos parceiros e assim continuarem ditando ordem e poder.

A certeza de uma sociedade arrastada pelo fracasso e dominada pela opressão é a

esperança que ela se modifique, caminhe para a globalização, apresente um futuro equilibrado

e ético, não baseado em falsas modernidades sufocando os sujeitos no salve-se quem puder

isto imerso no idealismo do mercado e do lucro, gerando assim as diversas formas de

violência que excluem e oprime, é necessário que a população busque novos valores

confrontando justamente com o poder por soluções, reivindicando problemas para que a

recompensa seja a liberdade, porque ela não é recebida gratuitamente é fruto da luta e

persistência pela vida, conforme pode-se ler nas idéias de Paulo Freire:

Não somos, estamos sendo. A liberdade não se recebe de presente, é bem

que se enriquece na luta por ele, na busca permanente, na medida mesma em que não há vida sem presença, por mínima que seja, de liberdade. Mas

apesar de a vida, em si, implica a liberdade, isto não significa de modo

algum, que a tenhamos gratuitamente. (FREIRE, 2000, p.132).

A liberdade que o ser humano alimentava e ninguém queria explicar era sufocada pelo

contexto social vivenciado em plena ditadura militar, contudo isso também trazia implicações

em Tianguá, assim como na maioria dos territórios brasileiros esquecidos pelo poder público

e especialmente o Norte e Nordeste, os quais eram regiões subdesenvolvidas. Nestes

acontecimentos o município do mesmo modo passava por esses abalos, encontrava um

número elevado de analfabetos, como também não existia uma atenção ao ensino de adultos

que penetrasse na base buscando a valorização dos indivíduos e levasse um novo olhar para a

inclusão e comungasse com a democracia.

Ofertas de trabalho não existiam, o qual o foco maior era empregos de doméstica e o

trabalho com o arado, as perspectivas para o povo simples não existia, era acomodar, calar e

obedecer ao poder que abusava da ingenuidade da população para permanecer no domínio

político, além dos conflitos armados e morte que se assolavam no município, porém a cidade

Page 18: A CONTRIBUIÇÃO EDUCACIONAL DO MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO DE BASE- MEB

18

estava já há vinte anos sobre o domínio de uma oligarquia que confrontava intensamente com

quem ameaçasse a sua estadia de domínio sobre a população.

Nesse momento e imediato Tianguá necessitava de elementos que levasse a

conscientização e isso veio a ser modificado com a fundação do Movimento de Educação de

Base no município, depois de terem dado os primeiros passos em 1961 e por conseqüência da

situação política, acontece seu declínio, mas em algumas regiões ainda encontrava a sua

participação com novas características, mas ligado ainda em fundamentos populares na

realidade vivenciada pelos camponeses.

Com o objetivo de fazer com que a diocese crescesse e possibilitasse alterações na

vida do povo, o MEB-Tianguá vinha trazer os sujeitos a reflexão de vários questionamentos e

apontar direções para que os indivíduos entendessem da situação ocorrente no país, já que

como em todo o território brasileiro vivenciava um descaso político no contexto

socioeconômico com exceção o sul, porém era nessa região que se concentrava burguesia que

massificava e enumerava cada pessoa em eleitores, deste modo o movimento veio agir,

conscientizar, unir a democracia a realidade por meio do diálogo, afirmado pelo entrevistado;

“(...) O ensino do MEB era ligado ao despertar de consciência de muitos

fatos que acontecia na época que Tianguá vivia a oligarquia política Nunes,

portanto só há liberdade quando há mudança na mente (...) com o movimento foi criado um despertar para a consciência e a aprendizagem.”

[Entrevistado 2].

Denunciando essa forma de atuação dos governantes com a educação, depois do

movimento resumido a um programa assistencialista com o golpe militar nos seus primeiros

anos, contudo essa foi a única instituição de educação popular que sobreviveu a este período

ditador, mas pouco a pouco se fortalece mesmo depois de perseguições e seu foco centrar

principalmente no serviço pastoral, ou seja, as ações eram voltadas para o caráter religioso.

Abrindo espaços gradualmente para a denúncia, o movimento em Tianguá erguia-se

com o objetivo de “Educar, evangelizar e promover” 4 despertando na população o interesse

pela luta, por seus direitos sociais, contudo a cidade tornava influente, conduzia para um

desenvolvimento promissor ligado a leitura da palavra a leitura da vida e do mundo. Assim

afirma:

Os primeiros anos são plenos de lutas e vitória: Órgãos de caráter regional se estalam aqui, somos a cabeça da região, - a capital! Cursos, seminários,

4 Lema do MEB em 1973. (ABREU, 2009, p.87).

Page 19: A CONTRIBUIÇÃO EDUCACIONAL DO MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO DE BASE- MEB

19

assembléias, encontros são rotinas: fazem parte do cotidiano, era a marca dos

novos tempos, da nova ordem, dos novos temas. (ABREU, 2009, p. 52).

Portanto, a sociedade só se torna bem-sucedida, quando ela alimenta um desejo de

mudança de um mundo idealizado onde gostariam de viver, sobretudo da participação

coletiva, da negação da ordem que aliena, porém unidos fundamentados na educação e no

conhecimento, concordando com Freire, (2000). Que a sociedade sozinha não muda e também

a educação sozinha não transforma, necessita do saber e da denúncia para que o verdadeiro

discurso progressista seja o anúncio de novos períodos.

A idealização do novo chega com a participação do Movimento, este órgão educativo

passa a atuar na educação solidária, pastoral estabelecendo uma educação assistencialista,

fortalecendo seus objetivos com ações voltadas para a evangelização e a promoção das

comunidades com implantações das Comunidades Eclesiais de Base- CEBs, vivenciando a

influência da ação evangelizadora desenvolvendo suas atividades no tripé ver, julgar e agir.

Entretanto, o MEB-Tianguá nesse período, ao mesmo tempo levava até as

comunidades a formação, a participação coletiva, à reivindicação, a valorização dos sujeitos,

sobretudo a leitura e da escrita a qual é a conquista da fala, das reivindicações a formação

política e a crítica, além da propagação da evangelização, o fortalecimento e a criação das

pastorais; da família, da juventude e da terra, além da conciliação com o Movimento dia do

Senhor5 o qual era fortificado com a atuação religiosa e a participação do homem do campo

na ação de conscientização.

Penetrando na realidade do homem do campo o Movimento de Educação na sua fase

de implantação, favoreceu na educação de base que correspondia até a 4ª série em um ensino

continuado, convivendo paralelo com o MOBRAL conseguia gradualmente conquistar a sua

educação libertadora fundamentada na ética. Despertando a principio psicologicamente os

camponeses das comunidades, Bom Jesus, Olho D`Água, Pé do Morro, Pindoguaba, São José

do Carasco e Tucuns.

Estas comunidades deram abertura ao diálogo, a inovação o diferente chegava para

despertá-las da mentalidade subordinada à opressão, porém estas já tinham uma tendência à

ação pastoral na comunidade, deste modo foi possível a penetração do projeto de educação na

sua formação, como também dá inicio ao seu desenvolvimento, assim é relatado:

5 O Movimento do Dia do Senhor era um movimento específico de Sobral criado pelo padre Albani Linhares em

1965, surgido junto com o MEB com as mesmas orientações político-pedagógica, este não tinha função de

alfabetizar, mas motivar a celebração dominical, evangelizar e conscientizar. Vale ressaltar que Tianguá

pertencia à extensão do MEB-Sobral, porém esse movimento ainda era influência da sua existência nos

primeiros tempos. (BEZERRA, 2006).

Page 20: A CONTRIBUIÇÃO EDUCACIONAL DO MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO DE BASE- MEB

20

“(...) Com a criação da diocese tudo era novo e o novo é sempre bem aceito pelas pessoas que não tem assim uma formação criteriosa, a gente vive de

modismo, então o MEB começou esse movimento chegando nas

comunidades, fazendo reunião e foi pouco a pouco congregando as pessoas

que já tinha tendência já a vida comunitária, então isso foi muito importante, (...) o povo é quem aceita ou não, onde esse movimento foi aceito teve um

desenvolvimento muito significativo principalmente de consciência política,

onde esse movimento foi negligenciado pela própria população, por isso ai não temos esses resultados.” [Entrevistado 2].

As comunidades que receberam o Movimento de Educação estavam lançadas a

oportunidade de mudar, porém teve comunidades que não aceitara a metodologia do

movimento, assim como os políticos não aceitavam as idéias de liberdade. “Onde você tá e

você falam de liberdade ai as coisas desandam, porque as pessoas querem o monopólio das

massas como o MEB era um movimento de libertação era de certa forma uma pedra no

caminho dos políticos das prefeituras”. [Entrevistado 2]. Contudo, não teve uma repressão

frontal, mas discordavam da forma de atuação do projeto.

A conquista da autonomia e na valorização do saber popular, neste contexto ficava

limitada para quem recebia o movimento, o processo da escrita iniciava com a evidência das

reivindicações que geravam mudanças, no entanto o povo nunca escreve senão para viver. A

importância apresentada a essas comunidades se deu por conta de serem localizadas em

regiões semiáridas e de difícil acesso, além por se manterem subordinadas aos grupos de

dominação política.

Fazia necessária uma educação que verbalizasse as necessidades do povo e que

também fosse corajosa, contribuindo no despertar da consciência crítica, levasse os indivíduos

à indignação do comportamento do poder e assumissem uma nova postura de reivindicação e

liberdade, portanto o pensamento freiriano defende:

Era ir ao encontro desse povo emerso nos centros urbanos e emergido já nos

rurais e ajudá-lo a inserir-se no processo, criticamente. É esta passagem,

absolutamente indispensável a humanização do homem brasileiro, não poderia ser feita nem pelo engodo, nem pelo medo, nem pela força. Mas, por

uma educação que, por ser corajosa, propondo ao povo a reflexão sobre seu

tempo, sobre seu papel no novo clima cultural da época de transição. (FREIRE, 2009, p.67).

O MEB foi conquistando o povo, influenciando a educação política e a educação

letrada, estabelecendo o livre-arbítrio aos camponeses, iniciava um momento de mudança, a

acomodação e a ingenuidade davam lugar a denúncia e a conscientização, devido à educação

que atingia as camadas populares, pois:

Page 21: A CONTRIBUIÇÃO EDUCACIONAL DO MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO DE BASE- MEB

21

(...) “O MEB teve influência, primeira influência da consciência, um município só é conscientemente educado quando seu povo discute e pode

optar sobre o distino do município, então o MEB teve essa formação básica

das comunidades e pouco a pouco foi despertando o povo para a consciência

política.” [Entrevistado 2].

Várias pessoas conseguiram se alfabetizar, ao mesmo tempo em que começavam a ler

a escrever, estabelecia uma nova consciência política, quebrando conceitos que excluíam

homens e mulheres, porém por serem pessoas do campo já despertava um olhar de

discriminação. Prevalecia na concepção da burguesia que era nas comunidades rurais, onde

encontrava o depósito das empregadas domésticas e isso também refletia na mentalidade dos

camponeses, concordando e correspondendo com o estado de inferioridade que os colocavam.

Portanto, os sujeitos deixavam manipular-se pelas necessidades econômicas e

principalmente pela falta de formação educativa, criteriosa que os levassem a inclusão e

despertasse para o anseio do desenvolvimento individual e coletivo. Assim sendo, o

movimento buscou nos três primeiros anos de fundação em Tianguá a implantação e o

desempenho junto às pastorais, depois foi se capacitando dentro dos planos do projeto e a

exigência de relatórios trienais para a diretória de assuntos internacionais, o qual

acompanhava, controlava as atividades pelo sistema de educação. (SANTOS, 1992). Saindo

do campo religioso para fundamentar principalmente a educação, mesmo que este foco tivesse

se tornado mínimo.

O MEB passa a agir na conquista da leitura e da escrita nas diversas comunidades,

sobre isso o entrevistado 1 relata “(...)Tivemos época que tinha 190 escolas dentro da

Diocese, então um ano às vezes estava em uma região às vezes estava em outra, aquela turma

ia ficando a gente ia pra outra (...) agora Tianguá, o foco era maior.” Contudo, estava

possibilitando transformar mentalidade na população atendida pelo projeto, levando os a

refletirem sobre sua participação na sociedade para que estes pudessem aderir o processo de

luta, agindo contra as arbitrariedades e alienação dos grupos de dominação política,

favorecendo melhoria, estimulando o processo de lutar por seus direitos sociais. Concordando

com Freire, (2000): “Não importa em que sociedade estejamos e a que sociedade

pertençamos, urge lutar com esperança e denodo.” (p.134). É discordando dos elementos de

exclusão que se inicia a ação ousada de batalha para a acessão das classes populares.

O movimento em Tianguá não trabalhou com o rádio-aula como foi nos seus

primeiros anos, mas aprimorou o projeto com programas educativo através da emissora de

rádio (AM 1540 khtz) “a Rádio Santana”, fundada em 1980 com a boa música e programas

Page 22: A CONTRIBUIÇÃO EDUCACIONAL DO MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO DE BASE- MEB

22

dirigidos pelo MEB, voltados para a educação política, na área sindical, programas religioso,

voltado para as pastorais, “(...) todos os dias tinha um agente do MEB com um tema lá, então

cada um tinha um tema pra desenvolver.” [Entrevistado 1]. Os programas de rádio eram

totalmente voluntários. Contudo a educação era frequente na vida da população, não só de

quem era educando do movimento, mas a todos que se deixava informa se pelo

entretenimento e a cultura.

Neste processo, portanto de conscientização e iniciativa que a população das

comunidades atendidas se mobilizava junto à ação educativa do movimento de educação

opondo se a status e autoridades locais, os quais encontravam sobre seu domínio grandes

quantidades de terra, o trabalhador rural mantinha servindo ao patrão, para que estes

concedessem terras para morra e plantar como também seus direitos de trabalhador rural não

era concedido, porém “A questão sindical aqui antes era voltada para o patrão não era muito

do trabalhador.” [Entrevistado 1]

A concentração do poder estava principalmente na administração das coisas públicas,

na oligarquia, na concentração de latifúndios e no domínio das massas populares. Com a

educação oferecida pelo MEB, trabalhando na valorização da cultura, refletindo a sociedade

em geral e a administração local, dentro da temática exposta, construindo mentalidades,

favorecendo aos moradores das comunidades a conquista da fala com a escrita, que torna

fluentemente na consciência do povo que aceitaram a metodologia do projeto.

Portanto, com esse método da pedagogia baseada no saber que cada um dos educandos

adquiria na sua vivência e na sua relação com o mundo a atuação de luta, porém estes grupos

populares do município, junto à ação do movimento trabalhando as questões agrárias, o valor

da terra, as diferenças de gênero, valorizando os direitos da mulher, despertando dentro de

cada temática a exigência por políticas públicas.

O movimento de educação através da metodologia do despertar de consciência

possibilitou aos alunos atendidos que estes realizassem ações de mobilização para melhoria de

suas comunidades e como forma de reivindicar a existência de seus direitos. Com a análise

das pesquisas em arquivos e através dos dados coletados com as entrevistas, foi compreendido

que o programa de educação possibilitou:

O rompimento da oligarquia política, com a criação do partido dos trabalhadores- P T

no município, dando uma visão política de esquerda a população rural.

A candidatura de uma mulher para prefeita, valorizando a mulher como também

capaz de assumir posições na sociedade.

Page 23: A CONTRIBUIÇÃO EDUCACIONAL DO MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO DE BASE- MEB

23

Eleição de um sindicalista para a câmara municipal.

A presidência sindical de um trabalhador rural com eleições diretas, depois de muito

tempo sobre o domínio de fazendeiros, o sindicato passa de fato a ser do trabalhador

rural.

Terras para morar e plantar, assentando 21 famílias de várias comunidades atendidas o

assentamento Valparaíso.

A elaboração de Projetos na área dos assentados, o MEB atuava como assessor.

Uma educação de base diferenciada que não instruiu, mas desenvolveu a fala e a

crítica, tornou pessoas politizadas ao desenvolver a leitura e a escrita.

A criação e o fortalecimento de pastorais, como pastoral da terra, pastoral da mulher,

pastoral da criança e pastoral social. Tornando os sujeitos mais humanos e éticos.

A consciência nos educandos para a educação continuada, portanto teve como

produto final dessa educação uma secretária da saúde e um secretário da agricultura.

O MEB em Tianguá alfabetizou jovens e adultos despertou consciência, capacitou os

alfabetizandos a ler e escrever, bem como resolver operações matemática numa perspectiva

crítica transformadora, teve uma participação significativa na individualidade dos alunos, na

própria comunidade e na história educativa nos diversos sentidos educacionais no município

conquistados pelos sujeitos. Contudo, hoje é válido afirmar que:

“(...) O que tá faltando ainda no nosso país é a consciência cidadã do povo, porque tudo ainda anda a reboque é porque as pessoas não têm consciência

da importância, nem do conhecimento e nem da organização popular e da

própria força coletiva e isso o MEB trabalhou, o MEB construiu

mentalidades e o MEB mudou comportamento não tem uma pessoa que não tenha passado pelo MEB que hoje não tenha uma visão diferente de mudar e

que não tente mudar a sua comunidade como um todo,... mesmo aqueles que

tiveram assim uma certa imobilidade para aceitar as idéias do MEB... nunca será de mais no nosso pais, ele será sempre necessário nessa linha triples de

educação evangelizar, educar e ajudar na formação comunitária de novas

idéias.” [Entrevistado 2].

Portanto, é correto afirmar que a educação vai mais além da capacidade de aprender

ler e escrever, mas a de captar as informações conscientemente e praticá-las. Essa relevância

implantada pelo projeto de educação foi possível prevalecer nos tempos atuais e encontrar

elementos dessa educação de base libertadora que ainda são atuantes, buscando superar outros

fatores, porque hoje a realidade não é acabar com o analfabetismo mesmo que ainda exista,

mas preencher vazios sociais, diferenças deixadas pela falta de assistência que antes não era

ofertado à população.

Page 24: A CONTRIBUIÇÃO EDUCACIONAL DO MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO DE BASE- MEB

24

Encontra-se como forma de continuidade da metodologia do MEB em Tianguá;

movimento de mulheres, promovidas pelo sindicato, as pastorais da terra, da juventude, da

família pastoral social trabalhando o religioso vinculado no social. “O MEB de Tianguá

contribuiu com a criação e a animação de comunidades de base, de associações comunitárias e

de várias organizações populares”. (SANTOS, 1992). Esse projeto foi fundamental para as

comunidades, pois estas tornaram conscientemente educadas na forma mais abrangente da

área do conhecimento.

O Movimento de Educação de Base deu o primeiro passo para as questões sindicais,

na formação humana, na conquista da leitura e escrita que se dava na expressão da fala de

reivindicações, assim afirma o entrevistado.

“(...) Este movimento foi muito significativo nesse despertar de consciência crítica das pessoas... ficou a semente então o MEB não exista talvez com

esse nome aqui, mas talvez exista a pastoral social... o que eles focam hoje é

de forma diferenciada porque o tempo mudou a realidade é outra, mas não deixam de estarem preocupados com o social com a consciência critica das

pessoas.” [Entrevistado 1].

Com este processo de superação do desequilíbrio entre as classes sociais, entre o poder

e a fragilidade, foi possível estabelecer as comunidades que aceitaram a proposta de educação

uma mentalidade politizada e hoje são desenvolvidas e assistidas pelas políticas públicas e

construíram uma identidade cultural.

“(...) As comunidades que aceitaram esse desafio, que lutaram elas vivem

muito melhor a partir daí, não adianta libertação sem a consciência e com o MEB era um trabalho de conscientização, aqueles que se deixaram conduzir

pelas orientações do MEB hoje têm uma vida diferente.”

[Entrevistado 2].

A educação teve uma tarefa importante para a compreensão política e social dos

educandos, afirma Freire que “A consciência e a alfabetização jamais se separam.” (2010,

p.14). Sobretudo a educação não tem um ponto final, ela é continuada e foi dessa diferença

que alcançou resultados significativos na história educativa de Tianguá.

5- Desafios conclusivos.

Ao deparar com o estudo coletado foi possível perceber a contribuição deixada pelo

MEB e como ele possibilitou a inclusão, sobretudo na educação, valorizou cultura e a

identidade de um povo, despertou para a consciência critica as pessoas no que se refere ao

processo eleitor, favoreceu para o surgimento de outros movimentos a partir da educação, as

Page 25: A CONTRIBUIÇÃO EDUCACIONAL DO MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO DE BASE- MEB

25

comunidades hoje são atendidas pelas políticas públicas, sabem reivindicar seus direitos

devido a uma consciência crítica.

A distância social ainda existe, as questões que traz violência são notáveis contra o ser

humano, mas o papel da educação popular não finalizou e não se limita na simples técnica de

aprender a ler e escrever, mas na vivência e superação destas distâncias. Portanto é necessário

que hoje se dê procedimento a está educação que reivindica, visto que não é possível educar

sem saber o sentido real das ações imposta pelos projetos, se a educação é a expressão da

democracia, porém é fundamental que ela seja discutida e confrontada com a realidade de

cada educando.

A sociedade precisa de uma educação que expresse liberdade e esteja aberta ao

diálogo, estabeleça uma abrangência dos fatos, esteja ligada a realidade social dos indivíduos,

porém na atualidade temos uma educação limitada em simples técnicas e adestramentos,

sintetizados em disciplinas e métodos tradicionais que condicionam os sujeitos em pessoas

treinadas, manipuladas e desta forma jamais teremos uma vivência concreta de democracia

em nosso país, porém a superação do analfabetismo ainda hoje é um desafio brasileiro, sendo

absoluta na zona rural, segundo o IBGE, portanto cabe uma avaliação de como está utilizado

os métodos educacionais para adultos para a superação desta instância social.

A educação exige uma fundamentação, um ensino dinâmico, um currículo que seja

interdisciplinar que conviva com a prática de cada educando. Quando se pensa em educação

corresponde apenas na aprendizagem de elementos já escritos e acontecimentos históricos

vazios, fantasiosos que não traz nenhuma influência na vida dos sujeitos sociais, portanto é

preciso que o sistema de organização do país repense de que forma é transmitido o

conhecimento e isso seja exigido pelo cidadão, uma educação que vai além do ato de aprender

a ler e escrever, mas abrangente ao poder da crítica, reivindicações sociais e autonomia,

sobretudo liberdade de pensar e agir sobre o quer oprime e aliena.

Contudo, essa educação é um desejo progressista, porque seria contradição os

dominadores ofertando consciência à população, porém eles temem a crítica e a reivindicação

estes querem a manipulação das massas populares. Os tempos mudaram com novas realidades

e diferenças sociais é o período da tecnologia e da informação que veio desdobrada com

antigas formas de dominação disfarçadas de novas, expressando poder e manipulação sobre os

indivíduos.

De maneira geral o domínio e a manipulação sobre as pessoas estão presente nos

diversos sistemas sociais, a mesma educação que hoje educa pode deseducar as instituições

Page 26: A CONTRIBUIÇÃO EDUCACIONAL DO MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO DE BASE- MEB

26

escola, trabalho, igreja e os meios de comunicação são aparelhos que expressão ideologias

condicionando os sujeitos a seguir seus ideais. Contudo necessitamos pensar em novas

medidas educacionais que não gerem exclusão e a manipulação de massa, mas uma educação

popular, porque esta partilha da cidadania formando sujeitos e mundos é este o verdadeiro

sentido da educação, a exemplo das ações do MEB.

Page 27: A CONTRIBUIÇÃO EDUCACIONAL DO MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO DE BASE- MEB

27

Referencias

ABREU, Valdecy Santo de. A Tianguá um Canto de amor, doação e alerta e saudade.

Sobral: Global Gráfica. 2009.

AIDIL, Brites Guimarães Fonseca; CRUZ, Adriano Charles da silva. Uma onda de Educação:

O rádio no MEB. In. Anais... Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. 9. Salvador.

p.1-10. Disponível em: < WWW. Intercon. Org.br/ papers/ regionais>. Acesso em: ago. 2010.

ARROYO, Miguel G. Educação e Exclusão da cidadania. Educação e Cidadania: quem

educa o cidadão? 11. Ed: São Paulo: Cortez, 2003. p.31-79.

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Da educação fundamental ao fundamental da educação.

Concepções e Experiências de Educação Popular. Caderno do CEDES. São Paulo: Cortez,

1980.

BEZERRA, Viviane Prado. Cultura (RE) colhidas: MEB e o dia do Senhor representações

Sociais Populares na Diocese de Sobral (1960-1980). Disponível em: < WWW: Ce, anpuh.

Org/downd/anais-2006 >. Acesso em: 20 out. 2010.

CARNEIRO, Moaci Alves. LDB fácil: leitura crítico-compreensivo: artigo a artigo. 16. ed.

Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.

DESLANDES, Suely Ferreira. Pesquisa Social: Teoria, método e criatividade. 7ed.

Petropolis. RJ: Vozes. 1994.

FÁVERO, Osmar. Movimento de Educação de Base primeiros tempos 1961-1960. In:

Anais... Encontro Luso- Brasileiro de História da Educação. 5. Évora, Portugal: 2004. p.1-15.

Disponível em: < WWW. Forumeja. Org./ files/ meb- história>. Acesso em: 26 ago. 2010.

FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. São Paulo: ed. Paz e terra. 2009.

________. Denúncia, anúncio, profecia e sonho Pedagogia da Indignação: In: ______. Cartas

Pedagógicas e Outros Escritos. São Paulo: UNESP, 2000.p.117-134.

GOHN, Maria da Glória. As Principais Formas de Organização Popular no Brasil.______.

Movimentos Sociais e Educação. 4. ed, São Paulo: Cortez, 2001. (Coleção Questões da

Nossa Época; v.5). P. 42-55.

HAGUETTE, Teresa Maria Frota. Metodologias qualitativas na sociologia. 11. ed.

Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.

LAKATOA, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia Científica. 5. Ed.

São Paulo: Atlas, 2007.

MEB. MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO DE BASE. Conjunto Didático Saber, viver e lutar,

inspirado no livro Saber para viver. rev. Brasília: 2006.

Page 28: A CONTRIBUIÇÃO EDUCACIONAL DO MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO DE BASE- MEB

28

MEB. MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO DE BASE. Estatuto, (1994). 34. Aniversário do

MEB. Brasília: Arte e Movimento, 1995.

REIS, José Orlando Vieira. Alfabetização de Jovens e Adultos: Sistematização regional

MEB/ MAPA (Maranhão e Pará) In: REIS, José Orlando Vieira, LIMA, Rosilene M.(Orgs.).

Brasília-DF: Arte e Movimento, 1995.

RODRIGUES, Rui Martinho. Pesquisa acadêmica: como facilitar o processo de preparação

de sua etapa. São Paulo: Atlas, 2007.

SANTOS, Antonio Raimundo dos. Metodologia científica, a construção do conhecimento.

7. ed. rer. Conforme NBR 14724:2005. Rio de Janeiro: Lamparina, 2007.

SANTOS, Raimundo Clarindo dos. Movimento de Educação de Base departamento de

Tianguá-Ce Relatório anual, 1992. [Texto mimeografado].

SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do Trabalho científico. 23. ed. rev. e atual. São

Paulo: Cortez, 2007.

SOUZA, Iracema Maria Alves de. Movimento de Educação de Base-MEB. Alfabetização

de Jovens e Adultos. Anotações sobre cartilha, tema, gerador, leitura e escrita. Tianguá, CE,

1997. [Texto mimeografado].