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FACULDADE CATÓLICA SALESIANA DO ESPÍRITO SANTO RACHEL SANTIAGO LEITÃO FARIA A CONTRIBUIÇÃO DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA A VIDA DOS USUÁRIOS DA POLITICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL VITÓRIA 2015

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  • FACULDADE CATLICA SALESIANA DO ESPRITO SANTO

    RACHEL SANTIAGO LEITO FARIA

    A CONTRIBUIO DO PROGRAMA BOLSA FAMLIA A VIDA DOS USURIOS DA POLITICA DE ASSISTNCIA SOCIAL

    VITRIA 2015

  • RACHEL SANTIAGO LEITO FARIA

    A CONTRIBUIO DO PROGRAMA BOLSA FAMLIA A VIDA DOS USURIOS

    DA POLITICA DE ASSISTNCIA SOCIAL

    Trabalho de Concluso de Curso apresentado

    Faculdade Catlica Salesiana do Esprito Santo,

    como requisito obrigatrio para obteno do ttulo de

    Bacharel em Servio Social.

    Orientadora: Prof

    a. Ms. Alasa de Oliveira Siqueira

    VITRIA 2015

  • RACHEL SANTIAGO LEITO FARIA

    A CONTRIBUIO DO PROGRAMA BOLSA FAMLIA A VIDA DOS USURIOS DA POLITICA DE ASSISTNCIA SOCIAL

    Trabalho de Concluso de Curso apresentado Faculdade Catlica Salesiana do Esprito Santo,

    como requisito obrigatrio para obteno do ttulo de Bacharel em Servio Social.

    Aprovado em _____ de ________________ de____, por:

    ________________________________ Profa. Ms. Alasa de Oliveira Siqueira

    Orientadora

    ________________________________ Profa. Juliane de Arajo Barroso

    ________________________________ Profa. Jaqueline da Silva

  • AGRADECIMENTOS

    Em primeiro lugar quero agradecer a Deus, que tudo em minha vida, e que me

    sustentou e me fortaleceu nos momentos mais difceis.

    Aos meus filhos Lucas e Filipe e meu esposo Isac.

    A meus pais Ancelmo e Odilia, esse sonho realizado tambm pertence a eles.

    Aos meus irmos Jackson e Loide e minha cunhada Cristiane, que sempre me

    deram fora para que eu no desistisse e prosseguisse em busca desse sonho.

    No poderia esquecer de minha querida sobrinha Fernanda.

    A minha supervisora de estgio Tatiana Daros pela pacincia e ateno dedicada a

    mim.

    A Nahor Gonalves de Oliveira por ter concedido a oportunidade para que eu

    pudesse iniciar a graduao.

    A minha amada igreja por ter colaborado para a minha formao e a pacincia e

    compreenso do nosso lder Pr. Ado Carlos de Oliveira e esposa Adlia Hubner de

    Oliveira, sempre que precisei estavam prontos a me atender.

    A minhas amigas Rosinete, Carmem, Maria Jos.

    A minha orientadora Profa Ms. Alaisa de Oliveira Siqueira pela dedicao e auxilio

    em cada passo desta pesquisa.

    A todos os professores que acompanharam a minha trajetria e contriburam para a

    minha formao, assim como os meus amigos graduandos, que sempre me

    apoiaram. E a todos aqueles que, direta ou indiretamente, contriburam para a

    realizao deste trabalho, a minha eterna gratido.

  • Bebida gua!

    Comida pasto! Voc tem sede de que?

    Voc tem fome de que?... A gente no quer s comida

    A gente quer comida Diverso e arte

    A gente no quer s comida A gente quer sada

    Para qualquer parte...

    Comida Tits

  • RESUMO

    Este Trabalho de Concluso de Curso (TCC) tem como tema A contribuio do

    Programa Bolsa Famlia na vida dos usurios da Poltica de Assistncia Social, a

    partir da percepo do prprio usurio. O Programa Bolsa Famlia (PBF) uma das

    iniciativas na atualidade relacionadas ao governo para enfrentamento da pobreza,

    um programa de transferncia de renda modelo de proteo social. A presente

    pesquisa foi realizada no Centro de Referncia de Assistncia Social (CRAS) de

    Alvorada, localizado no municpio de Vila Velha, Estado do Esprito Santo (ES). O

    objetivo geral deste estudo foi descrever qual a percepo dos usurios do

    Programa Bolsa Famlia (PBF) acompanhados no CRAS de Alvorada - Vila Velha

    (ES) sobre o PBF e os objetivos especficos foram verificar as mudanas ocorridas

    na realidade de vida dos usurios a partir da insero no programa e Identificar a

    percepo dos usurios em relao eficincia do programa no combate pobreza.

    Trata-se de uma pesquisa descritiva com abordagem qualitativa. Para subsidiar a

    coleta de dados, recorremos entrevista aberta aos Beneficirios do Programa

    Bolsa Famlia que integram o Grupo de Catadores de Materiais Reciclveis, a fim de

    conhecermos qual a percepo dos mesmos sobre o Programa. A partir da coleta de

    dados foi feita a analise dos contedos abordados que possibilitou a compreenso

    do significado do Programa para quem beneficirio.

    Palavras-chave: Programa Bolsa Famlia (PBF). Assistncia Social. Centro de

    Referncia de Assistncia Social (CRAS).

  • ABSTRACT

    This term paper has as its theme the contribution of Family Allowance Program in

    the life of the dependents of the Social Welfare Policy from the dependents

    perception. This Brazilian social program (in Portuguese Bolsa Famlia) is at the

    present time one of the initiatives created by the Brazilian Government in order to

    fight and reduce poverty by direct cash transfers. This current research was

    accomplished at the Social Work Reference Center (in Portuguese Centro de

    Referncia de Assistncia Social) in Alvorada, a neighborhood in the city of Vila

    Velha, State of Esprito Santo (ES), Brazil. The general purpose of this research

    focuses on describing these dependents perception about Family Allowance

    Program that are monitored at the Reference Center in Alvorada. "Verifying the

    occurred changes in the dependents life from insertion into the Program and

    identifying the dependents' perception in relation to the program's efficiency in

    tackling poverty are the specific objectives." It is a descriptive research with a

    qualitative approach. In order to subsidize some data collect, we resort to some open

    interviews with Beneficiaries of Family Allowance Program that are part of a group of

    Recyclable Materials collectors with the view to know their perception about the

    program. From this data collect, the analysis of some data addressed was made,

    which resulted in understanding the meaning of the Program for who is beneficiary.

    Keywords: Family Allowance Program, Social Work, Social Work Reference Center.

  • LISTA DE SIGLAS

    PBF Programa Bolsa Famlia

    TCC Trabalho de Concluso de Curso

    CRAS Centro de Referncia da Assistncia Social

    MDS Ministrio do Desenvolvimento Social e Combate a Fome

    LOAS Lei Orgnica da Assistncia Social

    PNAS Poltica Nacional de Assistncia Social

    SUAS Sistema nico da Assistncia Social

    PAIF Proteo e Atendimento Integral Famlia

    BPC Benefcio de Prestao Continuada

    PSE Proteo Social Especial

    CREAS Centro de Referncia Especializado de Assistncia Social

    PAEFI Proteo e Atendimento Especializado a Famlias e Indivduos

    LA Liberdade Assistida

    PSC Prestao de Servios Comunidade

    PIS Programa de Integrao Social

    PASEP Programa de Formao do Patrimnio do Servidor Pblico

    PGRM Programa de Garantia de Renda Mnima

    PETI Programa de Erradicao do Trabalho Infantil

    TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    DIEESE Departamento Intersindical de Estatstica e Estudos Socioeconmicos

  • SUMRIO

    1 INTRODUO.................................................................................................... 17

    2 REFERENCIAL TERICO.................................................................................. 23

    2.1 POLTICA DE ASSISTNCIA SOCIAL........................................................... 23

    2.2 PROGRAMA DE TRANSFERNCIA DE RENDA E O PROGRAMA BOLSA

    FAMLIA (PBF).......................................................................................................

    35

    2.2.1 Programa de Transferncia de Renda....................................................... 35

    2.2.2 Programa Bolsa Famlia (PBF)................................................................... 42

    3 METODOLOGIA................................................................................................. 47

    3.1 TIPO DE PESQUISA........................................................................................ 47

    3.2 O LOCAL DE REALIZAO DA PESQUISA................................................... 48

    3.3 A COLETA DE DADOS E SEUS INSTRUMENTOS........................................ 48

    3.4 O TRATAMENTO DOS DADOS...................................................................... 49

    3.5 ASPECTOS TICOS DA PESQUISA.............................................................. 49

    4 RESULTADO E DISCUSSO DA PESQUISA................................................... 51

    4.1 CARACTERSTICAS DO MUNICPIO DE VILA VELHA.................................. 51

    4.2 CARACTERIZANDO O CRAS IV ALVORADA VILA VELHA (ES): CAMPO

    DE PESQUISA.......................................................................................................

    55

    4.2.1 Os programas.............................................................................................. 58

    4.2.2 Benefcios eventuais, outros benefcios, Benefcio de Prestao

    Continuada (BPC) e servios..............................................................................

    59

    4.3 PROGRAMA BOLSA FAMLIA E A PERCEPO DOS USURIOS

    ACOMPANHADOS NO CRAS DE ALVORADA.....................................................

    61

    5 CONSIDERAES FINAIS................................................................................ 71

    REFERNCIAS...................................................................................................... 73

    APNDICE A......................................................................................................... 78

    APNDICE B......................................................................................................... 79

    APNDICE C......................................................................................................... 81

    APNDICE D......................................................................................................... 82

  • 17

    1 INTRODUO

    O presente trabalho de Concluso de Curso (TCC) tem como tema o Programa

    Bolsa Famlia (PBF) e como objeto de estudo qual a percepo dos usurios do

    Programa Bolsa Famlia (PBF) acompanhadas no Centro de Referncia da

    Assistncia Social (CRAS) de Alvorada - Vila Velha (ES) sobre o PBF.

    O referido estudo tem como objetivo geral descrever qual a percepo dos usurios

    do Programa Bolsa Famlia (PBF) acompanhadas no CRAS de Alvorada - Vila Velha

    (ES) sobre o PBF e como objetivos especficos verificar as mudanas ocorridas na

    realidade de vida dos usurios a partir da insero no programa e identificar a

    percepo dos usurios em relao eficincia do programa no combate pobreza.

    O Programa Bolsa Famlia (PBF) uma das iniciativas na atualidade relacionadas

    ao governo para enfrentamento da pobreza, um programa de transferncia de

    renda modelo de proteo social.

    importante destacar que foi a partir de 1988 com a Constituio Federal que a

    Poltica Social se materializa, isso previsto no artigo 194 da CF/1988 que

    compreende um conjunto de aes de iniciativa dos poderes pblicos e da

    sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos sade, previdncia e

    assistncia social. (PEREIRA, 1996).

    Porm a partir dos anos 1990 ocorre um choque entre o que estabelecia a

    Constituio e a construo das polticas sociais, pois o processo de ampliao dos

    direitos sociais passou a ser combatido quando o governo adota o chamado projeto

    de desenvolvimento econmico, sob orientao da ideologia neoliberal1 (SILVA,

    YAZBEK, GIOVANNI, 2004).

    Na Constituio de 1988 as polticas sociais, no sem contradies e disputas constantes, so constitutivas de direitos, e os princpios so a universalidade, qualidade, descentralizao e a responsabilidade do Estado em financi-las e geri-las. J as premissas neoliberais apresentam-se como estratgia de desmonte das polticas sociais enquanto direito social, seus princpios contrapem-se aos conquistados na Carta Magna e na LOAS. Nessa perspectiva o direito passa a ser entendido como benesse, e assim

    1 O neoliberalismo nasceu logo depois da II Guerra Mundial, na regio da Europa e da Amrica do

    Norte onde imperava o capitalismo. Foi uma reao terica e poltica veemente contra o Estado intervencionista e de bem-estar. Seu texto de origem O Caminho da Servido, de Friedrich Hayek, que foi escrito em 1944 (Anderson, 1998, p. 9-23).

  • 18

    serve de aporte para polticas clientelistas, focalizadas e precrias (SIQUEIRA, 2013, p.184).

    Silva, Yazbek, Giovanni (2004) consideram que, com a adoo da ideologia

    neoliberal o Brasil teve como consequncia a estagnao do crescimento econmico

    e a precarizao e instabilidade do trabalho, o desemprego e o rebaixamento do

    valor da renda do trabalho, e com isso a ampliao e o aprofundamento da pobreza.

    Nesse tempo, a lgica adotada pelo Estado, faz com que a responsabilidade social

    sofra ainda mais com um rebaixamento, no momento em que estas demandam o

    atendimento das necessidades sociais, o Estado ento transfere para a sociedade a

    responsabilidade dos problemas sociais, retrocedendo o que parecia apontar para a

    universalizao dos direitos sociais bsicos (SILVA, YAZBEK, GIOVANNI, 2004).

    A partir de 2003, aps vrios debates sobre programas de transferncia de renda

    implantado no Brasil o Programa Bolsa Famlia.

    Segundo o Ministrio do Desenvolvimento Social e Combate a Fome (MDS) o

    Programa Bolsa Famlia contribui para o combate pobreza e desigualdade no

    Brasil, criado em outubro de 2003 possui trs eixos principais:

    Complemento da renda todos os meses, as famlias atendidas pelo Programa recebem um benefcio em dinheiro, que transferido diretamente pelo governo federal. Esse eixo garante o alvio mais imediato da pobreza. Acesso a direitos as famlias devem cumprir alguns compromissos (condicionalidades), que tm como objetivo reforar o acesso educao, sade e assistncia social. Esse eixo oferece condies para as futuras geraes quebrarem o ciclo da pobreza, graas a melhores oportunidades de incluso social. Articulao com outras aes o Bolsa Famlia tem capacidade de integrar e articular vrias polticas sociais a fim de estimular o desenvolvimento das famlias, contribuindo para elas superarem a situao de vulnerabilidade e de pobreza (BRASIL, 2015a).

    O Programa Bolsa Famlia (PBF) definido oficialmente como um programa de

    transferncia de renda com condicionalidades, destinado ao atendimento de famlias

    em situao de pobreza2 e extrema pobreza3. Atualmente, na situao de extrema

    2 A pobreza, evidentemente, no pode ser definida de forma nica e universal. Contudo, podemos

    afirmar que se refere a situaes de carncia em que os indivduos no conseguem manter um padro mnimo de vida condizente com as referncias socialmente estabelecidas em cada contexto histrico (BARROS, HENRIQUES, MENDONA, 2000, p. 124). Disponvel em: < http://www.scielo.br/pdf/rbcsoc/v15n42/1741> Acesso em 11 out. 2015. 3 A pobreza extrema o Estado mais grave de pobreza. Quando as pessoas no podem satisfazer

    algumas das necessidades bsicas de vida, tais como alimentos, beber gua,teto, sade cuidado e sade. Para determinar a populao afetada pela pobreza extrema, o Banco Mundial define a pobreza extrema como as pessoas que vivem com menos de US $ 1,25 dlares por dia. O Banco Mundial estima que 1.400 milhes de pessoas viveram sob estas condies, no ano 2008. Texto

    https://translate.googleusercontent.com/translate_c?depth=1&hl=pt-BR&prev=search&rurl=translate.google.com.br&sl=es&u=https://es.wikipedia.org/wiki/Pobreza&usg=ALkJrhiokC0HUHFvIX_hYrbjJtrPgDU0aQhttps://translate.googleusercontent.com/translate_c?depth=1&hl=pt-BR&prev=search&rurl=translate.google.com.br&sl=es&u=https://es.wikipedia.org/wiki/Alimento&usg=ALkJrhjPZouJ38BoDKzgc33dOvy-rRhptwhttps://translate.googleusercontent.com/translate_c?depth=1&hl=pt-BR&prev=search&rurl=translate.google.com.br&sl=es&u=https://es.wikipedia.org/wiki/Agua_potable&usg=ALkJrhjgXDzJcqowrhaoU-8SwlRSPJMmaghttps://translate.googleusercontent.com/translate_c?depth=1&hl=pt-BR&prev=search&rurl=translate.google.com.br&sl=es&u=https://es.wikipedia.org/wiki/Agua_potable&usg=ALkJrhjgXDzJcqowrhaoU-8SwlRSPJMmaghttps://translate.googleusercontent.com/translate_c?depth=1&hl=pt-BR&prev=search&rurl=translate.google.com.br&sl=es&u=https://es.wikipedia.org/wiki/Sanidad&usg=ALkJrhggP-F0mzugh-w_jabjIWEOMtMtiwhttps://translate.googleusercontent.com/translate_c?depth=1&hl=pt-BR&prev=search&rurl=translate.google.com.br&sl=es&u=https://es.wikipedia.org/wiki/Salud&usg=ALkJrhhSaKLXQd0WRJsoCcuL5tuWw726Pghttps://translate.googleusercontent.com/translate_c?depth=1&hl=pt-BR&prev=search&rurl=translate.google.com.br&sl=es&u=https://es.wikipedia.org/wiki/Banco_Mundial&usg=ALkJrhgjGisuyNMrUKONLZtHsMFiMv81Bwhttps://translate.googleusercontent.com/translate_c?depth=1&hl=pt-BR&prev=search&rurl=translate.google.com.br&sl=es&u=https://es.wikipedia.org/wiki/D%25C3%25B3lar_americano&usg=ALkJrhinftANB8N11BpnFXRyrCgMY864Lghttps://translate.googleusercontent.com/translate_c?depth=1&hl=pt-BR&prev=search&rurl=translate.google.com.br&sl=es&u=https://es.wikipedia.org/wiki/2008&usg=ALkJrhhJuEDqjEvk90uRBVYJcTjPl9DV5w

  • 19

    pobreza esto includas as famlias com renda familiar mensal per capita de at R$

    77,00, e na situao de pobreza aquelas com renda familiar mensal per capita de

    at R$ 154,00 (BRASIL, 2015b).

    O Programa Bolsa Famlia est previsto em lei Lei Federal n 10.836, de 9 de

    janeiro de 2004 e regulamentado pelo Decreto n 5.209, de 17 de setembro de

    2004 (BRASIL, 2015a).

    Desde que o programa foi proposto em 20 de outubro de 2003, pelo governo Luiz

    Incio Lula da Silva (2003-2010) o Bolsa Famlia considerado uma inovao no

    mbito dos Programas de Transferncia de Renda (SILVA, YAZBEK, GIOVANNI

    2004).

    Por causa disso o programa tem sido tema para muitos pesquisadores, segundo

    Ferreira (2010) nos anos de 2004 a 2009 foi observado um grande volume de

    produo cientfica sobre o Bolsa Famlia, reforando a importncia de produzir

    conhecimentos,

    Destacam-se os estudos sobre resultados e impactos do programa nas condies de vida das famlias beneficirias (45% das produes), enfocando vrias dimenses: fome; pobreza; desigualdade; excluso social; distribuio de renda; consumo de bens e servios; educao; trabalho; trabalho infantil; sade; segurana alimentar e nutricional; desigualdade de gnero; vulnerabilidade. Trazem informaes importantes sobre a repercusso das aes do programa nas realidades locais, revelando particularidades da sua implementao face s diversidades de cada municpio (FERREIRA, 2010, p. 89).

    Alm de pesquisas realizadas pela academia, o Ministrio de desenvolvimento

    Social e Combate Fome (MDS) tambm realiza pesquisas sobre o programa.

    Porm Ferreira (2010) traz uma crtica sobre isso, a partir de analises mais

    profundas que ganham uma complexidade terica e conceitual vem tona

    problemas e limitaes sobre o programa que no se tornam evidentes a partir das

    pesquisas realizadas pelo MDS.

    Considerando que no Brasil os programas de transferncia de renda sofrem duras

    crticas, seja de polticos, da mdia, da academia e de pessoas desinformadas sobre

    o assunto, foi percebido que de extrema relevncia o desenvolvimento desse

    estudo no CRAS em Alvorada, municpio de Vila Velha Esprito Santo (ES), pois

    elaborado com base nas informaes contidas na enciclopdia livre Wikipdia. Disponvel em:< http://pt.wikipedia.org/wiki/Pobrezaextrema_ >. Acesso em: 11. out .2015.

    http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/lei/l10.836.htmhttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/lei/l10.836.htmhttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/decreto/d5209.htmhttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/decreto/d5209.htm

  • 20

    interessante entender a representao do que o programa a partir do olhar de

    quem recebe o beneficio.

    O interesse pelo tema surgiu a partir das experincias vivenciadas no estgio do

    curso de Servio Social realizado no CRAS, localizado em Alvorada no municpio de

    Vila Velha (ES), durante o perodo de 2014 e 2015.

    O contato direto com o usurio no perodo de vivencia no campo de estgio foi de

    grande importncia e colaborou para que surgisse o interesse em pesquisar um

    tema to significativo como o Programa Bolsa Famlia (PBF). Visto que o assunto

    abre interesses para alm do ambiente acadmico despertando ateno na poltica

    e na sociedade, provocando discusses e controvrsias, entendo que a pesquisa

    pode contribuir para gerar esclarecimentos sobre o programa, alm de possibilitar ao

    beneficirio a oportunidade de expressar o seu olhar sobre o programa.

    O presente TCC foi estruturado em uma introduo, seguida de quatro captulos e

    as consideraes finais.

    No primeiro captulo foi apresentada a Poltica de Assistncia Social a partir da

    Constituio Federal de 1988 at os dias atuais, contemplando a Lei Orgnica de

    Assistncia Social (LOAS) de 1993, a Poltica Nacional de Assistncia Social (PNAS)

    de 2004 e o Sistema nico de Assistncia Social (SUAS) de 2005 que divide a

    assistncia em tipos de proteo e nveis de complexidade: a proteo social bsica

    e a proteo social especial de mdia e alta complexidade.

    No segundo captulo foi apresentado um breve histrico de como surgiram os

    Programas de Transferncia de Renda no Brasil com nfase no Programa Bolsa

    Famlia (PBF).

    No terceiro captulo foi apresentada a metodologia apontando o caminho a ser

    percorrido para realizar a pesquisa. Descreveu sobre o tipo de pesquisa utilizado,

    qual foi o local da realizao da pesquisa, quem foram os sujeitos envolvidos, os

    instrumentos utilizados na coleta dos dados, de que forma os dados foram tratados e

    os aspectos ticos da pesquisa.

    No quarto e ltimo captulo apresentamos um breve perfil do municpio de Vila Velha

    (ES), trazendo algumas caractersticas especficas do CRAS de Alvorada, local onde

    foi realizada a pesquisa de campo, apresentamos os dados e resultados obtidos na

  • 21

    coleta de dados realizada com os beneficirios do PBF do municpio de Vila Velha

    (ES), em destaque para o grupo de Catadores de Materiais Reciclveis.

    Por fim, apresentamos as consideraes finais resultantes das observaes,

    reflexes e estudos, expressando as opinies em relao s possibilidades e os

    limites do programa. Espera-se que com ele possa contribuir para a compreenso e

    o debate sobre o Programa de Transferncia de Renda existente no Brasil, o

    Programa Bolsa Famlia (PBF).

  • 22

  • 23

    2 REFERENCIAL TERICO

    Neste captulo foi trabalhado a Poltica de Assistncia Social a partir da Constituio

    Federal de 1988 at os dias atuais CF de 1988, Lei Orgnica da Assistncia Social

    (LOAS) de 1993, Poltica Nacional de Assistncia Social (PNAS) de 2004 e Sistema

    nico da Assistncia Social (SUAS) de 2005 Proteo Social Bsica e Proteo

    Social Especial de Mdia e Alta Complexidade.

    2.1 POLTICA DE ASSISTNCIA SOCIAL

    A Assistncia Social no Brasil at a dcada de 1980 esteve historicamente

    associada benevolncia ou favor distribudo aos pobres, era assim apresentada

    como uma prtica e no como poltica (SPOSATI, 1995).

    Conforme Sposati (1995) nesse tempo a assistncia mantinha-se arcaica e

    conservadora, no existia vontade poltica, pois modernizar ou inovar a assistncia

    seria afirmar que enquanto processo histrico e direito do cidado o acesso aos

    benefcios deveriam ter um carter universal.

    Segundo Couto (2010, p. 164):

    O campo da assistncia social sempre foi uma rea nebulosa da relao entre Estado e sociedade civil no Brasil [...] conceitos como assistencialismo

    4 e clientelismo

    5 tem sido apontados como constitutivos de

    uma sociedade conservadora que, por muito tempo, considerou a pobreza como atributo individual daqueles que no se empenharam para super-la.

    Nesse contexto o carter assistencialista era interpretado como ajuda aos

    necessitados, pela ao compensatria, por uma poltica de convenincias eleitorais

    4 Assistencialismo historicamente uma das atividades sociais que as classes dominantes implementaram para reduzir minimamente a misria que geram e para perpetuar o sistema de explorao. Essa atividade foi e realizada com matizes e particularidades, em consonncia com os respectivos perodos histricos, em nvel oficial e privado, por leigos e religiosos. A sua essncia foi sempre mesma ( margem da vontade dos agentes intervenientes): oferecer algum alvio para relativizar e tratar o conflito, para garantir a preservao de privilgios em mos de poucos (ALAYN, 1995, p.48). 5 Prtica poltica de troca de favores, na qual os eleitores so tidos como clientes. O poltico pauta seus projetos e funes de acordo com interesses de indivduos ou grupos, com os quais cultiva uma relao de proximidade pessoal. Em troca o poltico recebe votos. Desta forma, clientelismo diz respeito a trocas individuais de bens privados entre atores desiguais, chamados de patres e clientes. A origem dessas relaes vinculada sociedade rural tradicional, aos laos entre latifundirios e camponeses, fundados na reciprocidade, lealdade e confiana (Poltica para Polticos, 2012). Disponvel em: . Acesso em: 30 set 2014.

  • 24

    e pelo clientelismo ou favor pessoal, agravado pela lgica de que o carter o da

    concesso e da benesse (COUTO, 2010, p. 165).

    Este cenrio da assistncia torna-se inovador com a promulgao da Constituio

    Federal em 1988 quando a Assistncia Social passa a fazer parte do conjunto de

    Seguridade Social, alm de ser reconhecida como um direito de cidadania social,

    tornando tambm obrigao e responsabilidade do Estado. Segundo Carrara,

    Monteiro, Carvalho (2013, p. 3):

    A Constituio Federal de 1988 inaugura um novo paradigma para Assistncia Social, apontando para o seu status de poltica pblica de proteo social, no campo da Seguridade, compondo junto a Sade e a Previdncia, o trip da Seguridade Social brasileira. Logo, reconhecida enquanto direito social e dever do Estado na sua garantia. Essa concepo rompe substancialmente com a lgica historicamente impregnada na trajetria da Assistncia Social no Brasil, marcada pela caridade, benemerncia, clientelismo, assistencialismo e focalizao

    6.

    Desse modo a assistncia no mais considerada um dever moral, mas sim um

    direito. Do mesmo modo os beneficirios deixam de serem simples clientes de uma

    ateno assistencial privada espontnea, para serem considerados sujeitos

    possuidores do direito a proteo devida pelo Estado (PEREIRA, 1996).

    Para Pereira (1996), o direito a proteo social concretizado em polticas pblicas

    mediante o comprometimento do Estado com o bem estar dos indivduos, amplia a

    responsabilidade do Estado para alm das liberdades individuais, incluem tambm a

    proteo pblica contra as incertezas e riscos da vida contempornea.

    Segundo alguns estudiosos sobre polticas sociais no Brasil, a histria evidencia que

    estas polticas se caracterizam por sua pouca efetividade social e por sua

    subordinao a interesses econmicos dominantes, incapazes de interferir no perfil

    de desigualdade7 e pobreza que caracteriza a sociedade brasileira, que no caso da

    6 A focalizao, [...] no pode ser entendida como sinnimo de seletividade. [...] focalizar significa por

    em foco, fazer voltar a ateno para algo que se quer destacar, salientar, evidenciar. [...] Focalizar, nessa direo, no restringir o acesso aos direitos, mas no universo atendido, diferenciar aqueles que necessitam de ateno especial para reduzir as desigualdades. A focalizao passa a ser negativa quando, associada seletividade, restringe e reduz as aes a poucos e pequenos grupos, desconsiderando o direito de todos (BOSCHETTI, 2003, p. 86). 7 A desigualdade social refere-se a processos relacionais na sociedade que tm o efeito de limitar ou

    prejudicar o status de um determinado grupo, classe ou crculo social. As reas de desigualdade social incluem o acesso aos direitos de voto, a liberdade de expresso e de reunio, a extenso dos direitos de propriedade e de acesso educao, sade, habitao de qualidade, viajar, ter transporte, frias e outros bens e servios sociais. Alm de que tambm pode ser visto na qualidade da vida familiar e da vizinhana, ocupao, satisfao no trabalho e acesso ao crdito. Se estas divises econmicas endurecem, elas podem levar a desigualdade social. Disponvel em: < https://pt.wikipedia.org/wiki/Desigualdade_social> Acesso em 11 out. 2015.

    https://pt.wikipedia.org/wiki/Liberdade_de_express%C3%A3ohttps://pt.wikipedia.org/wiki/Desigualdade_social

  • 25

    assistncia ainda mais grave devido ao resqucio que se configura a assistncia,

    prestada como favor, clientelismo, apadrinhamento, mando (COUTO et al., 2012, p.

    54-55).

    Com a Constituio Federal ocorre um avano em relao Assistncia Social, ao

    permitir que a mesma transite do assistencialismo clientelista para o campo da

    Poltica Social prevista no artigo 194 dispondo:

    Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de aes de iniciativa dos Poderes Pblicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos sade, previdncia e assistncia social. Pargrafo nico. Compete ao Poder Pblico, nos termos da lei, organizar a seguridade social, com base nos seguintes objetivos: I - universalidade da cobertura e do atendimento; II - uniformidade e equivalncia dos benefcios e servios s populaes urbanas e rurais; III - seletividade e distributividade na prestao dos benefcios e servios; IV - irredutibilidade do valor dos benefcios; V - eqidade na forma de participao no custeio; VI - diversidade da base de financiamento; VII - carter democrtico e descentralizado da administrao, mediante gesto quadripartite, com participao dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e do Governo nos rgos colegiados. (Redao dada pela Emenda Constitucional n 20, de 1998) (BRASIL, 2015c).

    Segundo Couto (2010) a Constituio Federal de 1988 rompe com a lgica

    fragmentada, e busca, por meio da seguridade social, dar um sentido amplo rea

    social, garantindo uma proteo integral ao cidado, protegendo-o quando no

    exerccio da sua vida laboral, na falta dela, na velhice e nos diferentes imprevistos

    que a vida lhe apresentar, sendo a previdncia a partir de contribuio, e para a

    sade e assistncia a cobertura no contributiva.

    Apesar dos avanos da nova Constituio com relao Seguridade Social a

    dcada seguinte marcada pela agenda neoliberal. Em pleno processo de

    efervescncia da promulgao da Constituio de 1988 e das discusses criticas em

    torno de suas conquistas, o Brasil assina um acordo firmado com organismos

    financeiros internacionais por meio das orientaes contidas no Consenso de

    Washington8. O neoliberalismo com suas orientaes contrariam os princpios dos

    direitos garantidos pela Constituio, como a adoo da desestruturao dos

    8 Reunio realizada em novembro de 1989 entre os presidentes eleitos da America Latina e os

    representantes do Banco Mundial, Fundo Monetrio Internacional e Banco Interamericano de Desenvolvimento, que entre as reformas de cunho neoliberal prev a realizao de reformas estruturais para a estabilizao da economia como privatizaes, a desregulamentao dos mercados, a descentralizao e retomada do desenvolvimento (COUTO et al., 2012, p. 57).

  • 26

    sistemas de proteo social vinculado ao estado, porm orientados para que os

    mesmos passem a ser gestados pela iniciativa privada (COUTO, 2010).

    Desse modo s conquistas provenientes da Constituio Federal de 1988

    anunciavam uma importante reforma democrtica do Estado Brasileiro e da poltica

    social, mas as condies econmicas internas e internacionais eram desfavorveis

    (BEHRING; BOSCHETTI, 2011).

    Para Behring e Boschetti (2011) o desenvolvimento das polticas sociais brasileiras

    esteve impregnado historicamente de um forte esprito reformista, sob presso do

    movimento da classe trabalhadora [...], porm reafirma que em tempos de

    estagnao, reao burguesa e neoliberalismo ocorrem reformas orientadas para o

    mercado, dando destaque para as privatizaes de empresas estatais e previdncia,

    desprezando as conquistas de 1988 com relao Seguridade Social vista como um

    atraso e desperdcio.

    Segundo Silva, Yazbek e Giovanni (2004) os postulados neoliberais revelam-se

    contrrio ao que estabelece a CF/1988, pois coloca o bem estar social como dever

    privado da famlia, o Estado s deve intervir para aliviar a pobreza extrema, dessa

    forma os direitos sociais e a obrigao de garanti-los pelo Estado excluda.

    Contudo no texto da Constituio Federal de 1988 artigos 203 e 204, a assistncia

    social como parte integrante da seguridade social definida da seguinte forma:

    Art.203. A Assistncia Social ser prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuio seguridade social, e tem por objetivos: I- a proteo famlia, maternidade, infncia, adolescncia e velhice; II- o amparo s crianas e adolescentes carentes; III- a promoo da integrao ao mercado de trabalho; IV- a habilitao e a reabilitao das pessoas portadoras de deficincia e a promoo de sua integrao vida comunitria; V- a garantia de um salrio mnimo de benefcio mensal pessoa portadora de deficincia e ao idoso que comprovem no possuir meios de prover prpria manuteno ou de t-la provida por sua famlia, conforme dispuser a lei. Art.204. As aes governamentais na rea da assistncia social sero realizadas com recursos do oramento da seguridade social, previstos no art.195, alm de outras fontes, e organizadas com base nas seguintes diretrizes: I - descentralizao poltico-administrativa, cabendo a coordenao e as normas gerais esfera federal e a coordenao e a execuo dos respectivos programas s esferas estadual e municipal, bem como a entidades beneficentes e de assistncia social; II - participao da populao, por meio de organizaes representativas, na formulao das polticas e no controle das aes em todos os nveis. (BRASIL, 2015c)

  • 27

    Para Pereira (1996), como componente da Seguridade Social, a assistncia social

    uma providncia legal e legitima que visa livrar os cidados pobres da incerteza do

    amanh, porm, todos esses direitos seriam irrelevantes sem a Lei Orgnica da

    Assistncia Social (LOAS) - Lei n 8.742 de 7 de dezembro de 1993, pois a

    assistncia social na Constituio seria letra morta, como um dispositivo

    constitucional, ela no um direito aplicvel.

    Dessa forma, para assegurar o que prev a Constituio Federal especificamente

    nos artigos 203 e 204 que tratam da Assistncia Social, em 1993 temos a

    promulgao da Lei Orgnica da Assistncia Social (LOAS).

    A regulamentao da LOAS tem como funo, assegurar o que foi declarado na

    Constituio Federal ou seja,

    Definir, detalhar e explicitar a natureza, o significado e o campo prprio da assistncia social no mbito da Seguridade Social, a fim de compatibiliz-la [...].Vale ressaltar que a LOAS no nasce de um dia para o outro, a sua criao de 1993, porm a sua efetivao se deu a partir de 1995, devido demora de regulamentao que envolve as polticas pblicas de assistncia (PEREIRA, 1996, p.101).

    Para Pereira (1996), a demora em regulamentar a LOAS pode ser avaliada a partir

    de dois aspectos: o primeiro a ser apontado o preconceito com a rea, a falta de

    densidade poltica e de debate conceitual, o segundo aspecto a rearticulao das

    foras conservadoras, que apontavam a crise fiscal como fator de maior importncia

    para a atuao do Estado, colocando como obstculo tudo o que gerasse gastos,

    inclusive o social.

    No entanto com a sua regulamentao a LOAS inovou ao afirmar no Artigo 1 da lei,

    a Assistncia como direito do cidado e dever do Estado, como Poltica de

    Seguridade Social no contributiva, que prov os mnimos sociais9, realizadas

    9 Os mnimos sociais podem ser concebidos em duas perspectivas distintas: uma restrita, minimalista

    e outra ampla e cidad, fundando-se a primeira na pobreza e no limiar de sobrevivncia e a segunda num padro bsico de incluso na perspectiva da institucionalizao de um padro civilizacional de cidadania. Nesta linha de pensamento, a diferenciao extrema de concepes de mnimos sociais comporta cinco patamares de padro de vida: a) a sobrevivncia biolgica (sobrevivncia no limiar de pobreza absoluta); b) condio de poder trabalhar (condies para aceder e manter um emprego); c) qualidade de vida (acesso a um padro bsico de servios e garantias); d) desenvolvimento humano (possibilidade de desenvolver as capacidades humanas); e) necessidades humanas (garantia de necessidades especiais e garantia de igualdade e equidade). Neste entendimento, a institucionalizao de mnimos sociais no significa a padronizao das piores situaes detectadas, mas a perspectivao, numa lgica igualitria, de um padro bsico de vida e necessidades. Assim, o mnimo social deve ser concebido como ponto de mutao da situao de excluso para a incluso e construdo na base da discrepncia e distribuio entre as piores e as melhores condies de vida da populao, num determinado contexto social concreto e assim estabelecer a escala de qualificao de condies de vida (SPOSATI, 2004, p. 61-62).

  • 28

    atravs de um conjunto integrado de aes de iniciativa pblica e da sociedade, para

    garantir o atendimento s necessidades bsicas (BRASIL, 2015d).

    Inovao que segundo Couto e outros (2012) afirmada devido o seu carter de

    direito no contributivo, ou seja, no necessrio o cidado contribuir para ter o

    direito, alm da necessidade de estar integrada entre o econmico e o social, a

    centralidade do governo na universalizao e garantia ao acesso aos servios

    sociais de todo aquele que dela necessitar.

    Para Pereira (1996) trata-se, portanto, a LOAS, de um documento produto de

    expresso de debates e embates polticos nem sempre tranquilos, que apresentam

    algumas indefinies, mas pode ser considerada a pedra fundamental para uma

    construo futura.

    Apesar de ter um carter universal, a LOAS traz algumas indefinies e dificuldades

    de compreenso da assistncia como direito, exemplo disso a restrio para o

    nico benefcio garantido formalmente na lei, o Beneficio de Prestao Continuada

    (BPC) que se converte no direito a um salrio mnimo ao idoso e a pessoa com

    deficincia definido no Artigo 20:

    Art. 20. O benefcio de prestao continuada a garantia de um salrio-mnimo mensal pessoa com deficincia e ao idoso com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais que comprovem no possuir meios de prover a prpria manuteno nem de t-la provida por sua famlia. (Redao dada pela Lei n 12.435, de 2011) (BRASIL, 2015d).

    Aps cinco anos da regulamentao da LOAS, foi aprovada a Poltica Nacional de

    Assistncia Social (PNAS) em 2004, poltica j prevista nos artigos 18 e 19 da

    LOAS. A PNAS junto com as polticas setoriais considera a desigualdade do

    territrio, e a partir disso busca o enfrentamento das desigualdades, a garantia e

    provimento dos mnimos sociais para atender a sociedade, ou seja, os cidados que

    se encontram em situao de risco (BRASIL, 2005e).

    A PNAS busca integrar as demandas presentes na sociedade brasileira no que

    tange responsabilidade poltica, objetivando tornar claras suas diretrizes na

    efetivao da assistncia social como direito de cidadania e responsabilidade do

    Estado (BRASIL, 2005e, p.13).

    Conforme a Poltica Nacional de Assistncia (PNAS) os objetivos da poltica so: Prover servios, programas, projetos e benefcios de proteo social bsica e, ou, especial para famlias, indivduos e grupos que deles

  • 29

    necessitarem; contribuir com a incluso e a eqidade dos usurios e grupos especficos, ampliando o acesso aos bens e servios socioassistenciais bsicos e especiais, em reas urbana e rural; assegurar que as aes no mbito da assistncia social tenham centralidade na famlia, e que garantam a convivncia familiar e comunitria (BRASIL, 2005e, p. 33).

    A administrao da PNAS de responsabilidade do Sistema nico de Assistncia

    Social (SUAS), cujo modelo descentralizado e participativo, constitui-se na

    regulao e organizao, em todo o territrio nacional das aes

    socioassistenciais10. O SUAS transforma o contedo da LOAS em realidade,

    cumprindo no tempo histrico dessa poltica as exigncias para a realizao dos

    objetivos e resultados esperados que devem consagrar direitos de cidadania e

    incluso social (BRASIL, 2005f).

    Criado a partir das deliberaes da IV Conferncia Nacional de Assistncia Social e previsto na Lei Orgnica da Assistncia Social, o SUAS teve suas bases de implantao consolidadas em 2005, por meio da sua Norma Operacional Bsica do Suas (NOB/Suas), que apresenta claramente as competncias de cada rgo federado e os eixos de implementao e consolidao da iniciativa (BRASIL, 2005f).

    O Sistema nico de Assistncia Social (SUAS) organiza as aes da assistncia

    social em dois tipos de proteo social. A Proteo Social Bsica, destinada

    preveno de riscos sociais e pessoais, por meio da oferta de programas, projetos,

    servios e benefcios a indivduos e famlias em situao de vulnerabilidade social

    (BRASIL 2005e).

    Os Riscos Sociais devem ser entendidos como um evento externo, de origem

    natural, ou produzido pelo ser humano, que afeta a qualidade de vida das pessoas e

    ameaa sua subsistncia, podem estar relacionados com situaes prprias do ciclo

    de vida das pessoas quanto as condies especficas das famlias, comunidades ou

    entorno (BELO HORIZONTE, 2007).

    De acordo com a Poltica de Assistncia Social (PNAS) a vulnerabilidade social

    decorrente da pobreza, privao (ausncia de renda, precrio ou nulo acesso aos

    servios pblicos e etc.) e, ou fragilizao de vnculos afetivos (discriminaes

    etrias, tnicas, de gnero ou por deficincias, dentre outras).

    10

    De acordo com a NOB SUAS 2005, a rede socioassistencial um conjunto integrado de iniciativas pblicas e da sociedade, que ofertam e operam benefcios, servios, programas e projetos, o que supe a articulao entre todas estas unidades de proviso de proteo social, sob a hierarquia de bsica e especial e ainda por nveis de complexidade.

  • 30

    A Proteo Social Especial (de alta e mdia complexidade), destinada a famlias e

    indivduos que j se encontram em situao de risco e que tiveram seus direitos

    violados por ocorrncia de abandono, maus-tratos, abuso sexual, uso de drogas,

    entre outros aspectos (BRASIL 2005e).

    De acordo com a Poltica Nacional de Assistncia Social (PNAS) a proteo bsica

    busca a preveno e destinada populao que vive em situao de

    vulnerabilidade decorrente da pobreza, ausncia de renda, acesso precrio ou nulo

    aos servios pblicos ou fragilizao de vnculos afetivos, prev ainda o

    desenvolvimento de servios, programas e projetos que acolham e socializem as

    famlias e indivduos, alm do dever de incluir as pessoas com deficincia nas aes

    ofertadas, todos os servios referentes a proteo bsica devem ser executados

    diretamente nos Centros de Referncia da Assistncia Social (CRAS) ou de forma

    indireta pelas entidades e organizaes de assistncia social da rea de

    abrangncia dos CRAS (BRASIL, 2005e).

    A Proteo Social Bsica (PSB) responsvel por ofertar o Servio de Proteo e Atendimento Integral Famlia (PAIF) que consiste no trabalho social com famlias, com a finalidade de fortalecer a funo protetiva das famlias, prevenir a ruptura dos seus vnculos, promover seu acesso e usufruto de direitos e contribuir na melhoria de sua qualidade de vida. O PAIF realiza aes com famlias que possuem pessoas que precisam de cuidado, com foco na troca de informaes sobre questes relativas primeira infncia, a adolescncia, juventude, o envelhecimento e deficincias a fim de promover espaos para troca de experincias, expresso de dificuldades e reconhecimento de possibilidades. Tem por princpios norteadores a universalidade e gratuidade de atendimento, cabendo exclusivamente esfera estatal sua implementao (BRASIL, 2009g, p.6).

    Alm de ofertar o servio do PAIF, a Proteo Social Bsica responsvel pelos

    seguintes benefcios:

    O Benefcio de Prestao Continuada (BPC):

    Previsto na LOAS e no Estatuto do Idoso, provido pelo Governo Federal, consistindo no repasse de 1 (um) salrio mnimo mensal ao idoso (com 65 anos ou mais) e pessoa com deficincia que comprovem no ter meios para suprir sua subsistncia ou de t-la suprida por sua famlia. Esse benefcio compe o nvel de proteo social bsica, sendo seu repasse efetuado diretamente ao beneficirio (BRASIL, 2005e, p. 94).

    OS Benefcios Eventuais que so previstos no art. 22 da LOAS e visam ao

    pagamento de:

    Auxlio por natalidade ou morte, ou para atender necessidades advindas de situaes de vulnerabilidade temporria, com prioridade para a criana, a famlia, o idoso, a pessoa com deficincia, a gestante, a nutriz e nos casos de calamidade pblica (BRASIL, 2005e, p. 94).

  • 31

    Transferncia de Renda: com programas que visam o pagamento direto de

    recursos dos fundos de Assistncia Social aos beneficirios,

    como forma de acesso renda, visando o combate fome, pobreza e outras formas de privao de direitos, que levem situao de 11

    vulnerabilidade social, criando possibilidades para a emancipao, o exerccio da autonomia das famlias e indivduos atendidos e o desenvolvimento local (BRASIL, 2005e, p. 94).

    Os servios de Proteo Social Especial (PSE) voltam-se a indivduos e grupos que

    se encontram em situao de alta vulnerabilidade pessoal ou social, destinada s

    crianas, aos adolescentes, aos jovens, aos idosos, s pessoas com deficincia e s

    pessoas em situao de rua que tiveram seus direitos violados e ou ameaados e

    cujos vnculos familiares j se romperam, ofertada diretamente no Centro de

    Referncia Especializado de Assistncia Social (CREAS) (BRASIL, 2005e).

    A PNAS prev a subdiviso desse servio em Proteo Especial de Media e de Alta

    complexidade. Dessa forma so considerados: Servios de mdia complexidade

    aqueles que oferecem atendimentos s famlias e indivduos com seus direitos

    violados, mas cujos vnculos familiar e comunitrio no foram rompidos (BRASIL,

    2005e).

    Dentre os servios oferecidos na Proteo Especial de Media Complexidade

    destacam-se:

    O servio de Proteo e Atendimento Especializado a Famlias e Indivduos

    (PAEFI), com o objetivo de:

    Orientar e acompanhar as famlias que tenham um ou mais de seus membros em situao de ameaa ou violao de direitos por ocorrncia de violncia fsica, psicolgica e negligncia; violncia sexual: abuso e/ou explorao sexual; afastamento do convvio familiar devido aplicao de medida socioeducativa ou medida de proteo; trfico de pessoas; situao de rua e mendicncia; abandono; vivncia de trabalho infantil; discriminao em decorrncia da orientao sexual e/ou raa/etnia; outras formas de violao de direitos decorrentes de discriminaes/submisses a situaes que provocam danos e agravos a sua condio de vida e os impedem de usufruir autonomia e bem estar; descumprimento de condicionalidades do PBF e do PETI em decorrncia de violao de direitos (BRASIL, 2009g, p. 25).

    11

    De acordo com a Poltica de Assistncia Social (PNAS) a vulnerabilidade social decorrente da pobreza, privao (ausncia de renda, precrio ou nulo acesso aos servios pblicos e etc.) e, ou fragilizao de vnculos afetivos (discriminaes etrias, tnicas, de gnero ou por deficincias, dentre outras).

  • 32

    Abordagem Social: Servio ofertado com a finalidade de assegurar o trabalho

    social de abordagem e busca ativa12, que identifique nos territrios a ocorrncia de

    trabalho infantil, explorao sexual de crianas e adolescentes e situao de rua. O

    servio deve buscar resolver a necessidade de forma imediata, promovendo a

    insero na rede de servios socioassistenciais (BRASIL, 2009g).

    O Servio de Proteo Social a adolescentes em cumprimento de medida

    socioeducativa de Liberdade Assistida (LA) e de Prestao de Servios

    Comunidade (PSC), cuja finalidade prover a ateno socioassistencial e

    acompanhamento ao adolescente e jovem que tenham cometido algum ato

    infracional considerado sem gravidade, optando ento pelo cumprimento de medida

    em regime meio aberto (BRASIL, 2009g).

    O Servio de Proteo Social Especial para pessoas com deficincia, idosas e

    suas famlias direciona os servios para aqueles que tiveram suas limitaes,

    agravadas por violaes de direitos, como explorao de imagem, isolamento, confinamento, atitudes discriminatrias e preconceituosas na famlia, falta de cuidados adequados por parte do cuidador, alto grau de estresse do cuidador, desvalorizao da potencialidade/capacidade da pessoa, dentre outras que agravam a dependncia e comprometem o desenvolvimento da autonomia, com a finalidade de incluir, promover e melhorar a qualidade de vida das pessoas participantes(BRASIL, 2009g, p. 33).

    J o servio especializado para pessoas em situao de rua ofertado para

    aqueles que utilizam a rua como espao de moradia e de sobrevivncia e tem como

    objetivo: viabilizar a acolhida na rede socioassistencial; e assim contribuir para a

    construo de novos projetos de vida, mantendo sempre o respeito referente s

    escolhas dos usurios e as particularidades do atendimento; contribuir para

    restaurar e preservar a integridade e a autonomia da populao em situao de rua

    e promover aes para a reinsero familiar e/ou comunitria. (BRASIL, 2009g).

    Os servios de Proteo Social Especial de Alta Complexidade so aqueles que:

    Garantem proteo integral como moradia, alimentao, higienizao e trabalho protegido para famlias e indivduos que se encontram sem referncia e, ou, em situao de ameaa, necessitando ser retirados de seu ncleo familiar e, ou, comunitrio (BRASIL, 2005e, p. 38).

    12 uma atividade realizada no mbito dos servios socioassistenciais com dois propsitos: identificar potenciais usurios do SUAS para inseri-los na rede de atendimento; buscar o retorno de um usurio desistente a um servio socioassistencial. A busca ativa pode se dar por diversos meios que viabilizem o contato com o usurio entorno (Dicionrio de termos tcnicos da Assistncia Social. Prefeitura Municipal. Secretaria Municipal Adjunta de Assistncia Social. Belo Horizonte: ASCOM, 2007).

  • 33

    Conforme a Tipificao Nacional dos Servios Socioassistenciais o atendimento

    prestado por esses equipamentos devem favorecer o convvio familiar e comunitrio,

    mantendo um ambiente acolhedor, alm de dispor dos seguintes servios de

    proteo integral: Acolhimento em Repblica; Acolhimento em Famlia Acolhedora;

    Servio de Proteo em Situaes de Calamidades Pblicas e Emergncias

    (BRASIL, 2009g).

    Conforme a Tipificao Nacional de Servios Socioassistenciais o Acolhimento em

    Repblicas deve oferecer apoio e moradia a pessoas maiores de 18 anos em Estado

    de abandono, situao de vulnerabilidade e risco pessoal e social, e que estejam

    com os vnculos familiares rompidos e fragilizados, e que no tenham como se

    autossustentar e no tenham uma moradia (BRASIL, 2009g);

    Famlia Acolhedora: organiza o acolhimento de crianas e adolescentes, afastados

    da famlia por medida de segurana, em residncia de famlias acolhedoras

    cadastradas, ou seja, um lar provisrio at que o caso seja analisado juridicamente e

    decido se a criana retorna ou no para famlia de origem (BRASIL, 2009g);

    O Servio de Proteo em Situaes de Calamidades Pblicas e de Emergncias

    busca promover o apoio e proteo populao atingida por situaes de

    emergncia e calamidade pblica ofertando alojamentos provisrios, atenes e

    provises materiais (BRASIL, 2009g).

    O Servio de Acolhimento Institucional coforme descrito na Poltica Nacional de

    Assistncia Social o acolhimento em diferentes tipos de equipamentos, como

    Casa-Lar, Repblica, Casa de Passagem, Albergue, Famlia Substituta, Famlia

    Acolhedora e Medida socioeducativas restritivas e privativas de liberdade,

    semiliberdade, internao provisria e sentenciada. O servio destinado a famlias

    e/ou indivduos com vnculos familiares rompidos ou fragilizados, a fim de garantir

    proteo integral. As unidades Casa Lar e Abrigo Institucional atendem crianas e

    adolescentes, j os adultos e famlias podem receber atendimento em Abrigo

    Institucional e Casas de Passagem (BRASIL, 2009g).

    Segundo a PNAS (2004) todos os servios de Proteo Social devem assegurar um

    conjunto de seguranas que cubram, reduzam ou previnam riscos de

    vulnerabilidades sociais, sendo:

  • 34

    Segurana de acolhida: Busca operar a partir de provises de necessidades

    humanas, como o direito a alimentao, ao vesturio e ao abrigo, para que o usurio

    alcance a sua autonomia (BRASIL, 2005e).

    Segurana de Rendimentos: Garantia de que todos tenham uma renda mnima que

    garanta a sobrevivncia, independente de suas limitaes para o trabalho ou

    desemprego, no caso pessoas com necessidades especiais, idosos,

    desempregados, famlias numerosas, famlias desprovidas das condies bsicas

    para sua sobrevivncia na sociedade (BRASIL, 2005e).

    Segurana de Vivencia Familiar ou Segurana de Convvio: Supe a no aceitao

    de situaes de recluso e de perdas das relaes, necessidade que deve ser

    preenchida pela poltica de assistncia social, pois na relao que o ser cria sua

    identidade e reconhece a sua subjetividade (BRASIL, 2005e).

    Alem de assegurar um conjunto de seguranas a PNAS deve regular o acesso ao

    direito, a informao e aos critrios de acessos aos servios da Assistncia Social

    em consonncia com o disposto na LOAS, captulo II, seo I, artigo 4, a partir dos

    seguintes princpios democrticos:

    I Supremacia do atendimento s necessidades sociais sobre as exigncias de rentabilidade econmica; II Universalizao dos direitos sociais, a fim de tornar o destinatrio da ao assistencial alcanvel pelas demais polticas pblicas; III Respeito dignidade do cidado, sua autonomia e ao seu direito a benefcios e servios de qualidade, bem como convivncia familiar e comunitria, vedando-se qualquer comprovao vexatria de necessidade; IV Igualdade de direitos no acesso ao atendimento, sem discriminao de qualquer natureza, garantindo-se equivalncia s populaes urbanas e rurais; V Divulgao ampla dos benefcios, servios, programas e projetos assistenciais, bem como dos recursos oferecidos pelo Poder Pblico e dos critrios para sua concesso (BRASIL, 2015e).

    importante ressaltar que, apesar das importantes conquistas de 1988 com a

    Constituio Federal ampliando a Assistncia Social como poltica pblica, e a

    legitimao de outros mecanismos como a Lei Orgnica da Assistncia Social

    (LOAS) em 1993 e a Poltica Nacional de Assistncia Social (PNAS) de 2004 ainda

    no eficiente ao ponto de combater e eliminar a pobreza.

    Portanto, no basta nem a existncia e nem o conhecimento da lei para que a vida da populao pobre seja alterada. preciso mecanismos que confirmem o protagonismo dessa populao. Afirmar a assistncia social como direito tarefa de uma sociedade, disputando nos marcos do capitalismo, a ampliao da fatia dos investimentos que devem ser

  • 35

    utilizados para que os efeitos perversos da explorao do capital sobre o trabalho possam ser reduzidos (COUTO, 2010, p. 187)

    Dessa forma os programas de transferncia de renda so apontados como

    possibilidade de garantir o direito humano a vida e de participao na riqueza

    socialmente produzida.

    No prximo capitulo ser apresentado evoluo dos programas de transferncia

    de renda no contexto brasileiro e como o Estado tem realizado aes para o

    enfrentamento da pobreza.

    2.2 PROGRAMA DE TRANSFERNCIA DE RENDA E O PROGRAMA BOLSA

    FAMLIA (PBF)

    Neste captulo, ser realizada uma breve trajetria sobre os Programas de

    Transferncias de Renda no Brasil contemplando especificamente o Programa Bolsa

    Famlia (PBF) um dos maiores Programas de Transferncia de Renda da atualidade.

    2.2.1Programa de Transferncia de Renda

    O debate sobre a defesa de uma transferncia de renda mnima foi pensado a partir

    do sculo XX, nesse tempo muitos foram os filsofos, economistas e pensadores

    que formularam e defenderam a renda mnima como direito a cidadania, porm com

    diferentes consensos entre si, destacando-se entre esses Tomas Moore, que a partir

    de sua obra Utopia, publicada em 1516, influenciou outros pensadores na defesa de

    uma renda mnima, como tambm a lutar por uma sociedade organizada, justa e

    igualitria (SUPLICY, 2004).

    Aps o livro de Moore, muitos pensadores passaram a expressar o mesmo desejo

    de criar uma sociedade perfeita [...] Juan Luiz Vives, seu amigo, a partir dos

    princpios defendidos por Moore, criou a primeira proposta de renda mnima para a

    populao de Flamenga de Bruges, alm disso, a obra de Moore influenciou as Leis

    de Assistncia aos pobres na Europa (SUPLICY, 2004).

    Primeiramente as leis de Assistncia aos pobres em 1531, resumia-se na permisso

    para idosos e deficientes solicitarem esmolas junto s parquias, adiante o setor

    religioso foi autorizado para junto aos proprietrios de terras levantarem recursos

  • 36

    para subsidiar aos pobres que, ento, ficavam disponveis para o trabalho, assim

    surgiram s casas de trabalho (SUPLICY, 2004).

    Porm, essa iniciativa de Assistncia aos pobres foi vigorosamente criticada por

    economistas clssicos da poca como: Adam Smith, que defendia a liberdade

    individual do ser humano e do livre comrcio, acreditando que a partir da plena

    liberdade os problemas sociais seriam resolvidos. J, David Ricardo defendia a

    abolio da assistncia aos pobres, pois acreditava que esses princpios no

    favoreciam uma concorrncia justa e de liberdade de mercado. Ao passo que

    Malthus acreditava ser a Lei de assistncia aos pobres um erro, pois, as leis de

    amparo aos pobres deveriam ser suficientes para suprir as necessidades de um

    grupo familiar e jamais sofrer variaes do mercado, e que as mesmas, jamais

    deveriam ter sido criadas, pois isso no influenciou em nada na melhoria das

    condies de vida dos trabalhadores (SUPLICY, 2004).

    Contudo as ideias de Smith, Ricardo e Malthus no foram desprezadas e sim

    fortalecidas, como defesa de que sempre existiro pobres e ricos, onde poucos

    detm o capital, e muitos no tem nada [...] apesar das criticas as Leis de

    assistncia pelos clssicos, vale ressaltar que outros autores tiveram um olhar

    diferenciado quanto garantia de uma renda mnima (SUPLICY, 2004).

    No Brasil destaca-se a obra de Eduardo Suplicy em Renda de Cidadania: a sada

    pela porta escritor brasileiro defensor de uma Poltica de Transferncia de Renda. O

    seu livro traz uma reflexo sobre as experincias do passado destacadas acima,

    declara ser fundamental conhecer os acertos e desacertos do passado para

    caminhar na melhor direo possvel (SUPLICY,2004).

    A partir desse debate, Suplicy (2004), analisou inmeras formas de garantia de

    renda, dentre elas a experincia de garantia de uma renda bsica no Alasca,

    denominada Fundo Permanente do Alasca (FPA), que transfere anualmente um

    pagamento anual aos habitantes desse Estado, experincia que tem alcanado

    resultados j por duas dcadas.

    Porm, antes de analisar o tema, vale destacar que, a instituio de mnimos sociais

    no Brasil tem sua iniciativa em 1940 com o salrio mnimo para trabalhadores

    inseridos no mercado de trabalho com carteira assinada, ficando de fora a grande

    maioria da populao que trabalhava no mercado informal. Em 1986 institudo o

  • 37

    Seguro Desemprego, o Abono Salarial no valor de um salrio mnimo, destinado aos

    empregados cadastrados no Programa de Integrao Social (PIS) e Programa de

    Formao do Patrimnio do Servidor Pblico (PASEP), alm da instituio da Renda

    Vitalcia substituda pelo Beneficio de Prestao Continuada (BPC) em 1996 (SILVA,

    YAZBECK, GIOVANNI, 2004).

    A partir de 1990 o debate sobre Programas de Transferncia de Renda se

    aprofunda, constituindo nesse inicio do sculo XXI [...] a estratgia principal no eixo

    da Poltica de Assistncia Social. [...] Um debate mais profundo sobre esse tipo de

    poltica pblica no Brasil tem como marco inicial a apresentao e aprovao da

    proposta do Programa de Garantia de Renda Mnima (PGRM) apresentado no

    Senado Federal pelo Senador Eduardo Suplicy, aprovada em 16 de dezembro de

    1991 (SILVA, YAZBECK, GIOVANNI, 2004, p. 32-33).

    Porm, estudos indicam que antes da proposta de Suplicy j existiam discusses

    sobre a introduo de um programa de transferncia de renda no Brasil. Em 1975,

    Antonio Maria da Silveira, apresentou a primeira proposta de redistribuio de renda

    para combate da pobreza fundamentada no Imposto de Renda Negativo, [...]

    transferncia monetria proporcional diferena entre um nvel mnimo de iseno e

    a renda obtida pelo pobre (SILVA, YAZBECK, GIOVANNI, 2004).

    Segundo Silva; Yazbeck; Giovanni (2004, p. 88),

    Seguindo a formulao proposta por Antonio Maria da Silveira (1975), Bacha e Unger (1978), tambm conferindo importncia redistribuio de renda, mediante uma complementao monetria, foi apresentado o que denominaram de um projeto de democracia para o Brasil, destacando a importncia da redistribuio da renda como condio para sobrevivncia da democracia poltica que requer um limite no nvel de desigualdade e de misria. Portanto, ambas so vistas como ameaa prpria democracia, o que significa que a democracia poltica no compatvel com graus elevados de desigualdade nem com a misria da maioria dos cidados. Para o enfrentamento dessa situao no Brasil, os autores apresentaram uma proposta de complementao de renda, tambm baseada no Imposto de Renda Negativo, que deveria ser financiada pelos 10% mais ricos da populao. Portanto, essa complementao monetria deveria considerar um nvel mnimo de renda, tendo por base o tamanho da famlia, devendo ser paga pelo Governo Federal a diferena entre a renda auferida e um mnimo estabelecido, sendo contemplados os que se situassem abaixo desse mnimo.

    No resta dvida de que essas propostas influenciaram o Projeto de Lei n 80/91,

    apresentado pelo senador Eduardo Suplicy para instituio de um Programa de

    Garantia de Renda Mnima para o Brasil [...] (SILVA, YAZBECK, GIOVANNI, 2004,

    p. 88).

  • 38

    Nesse perodo, o pas enfrentava a maior crise recessiva desde a dcada de 1930,

    toda a ateno do governo era voltada para o combate da inflao e para a dvida

    externa, no havia espao para a implantao de uma poltica de enfrentamento da

    pobreza, situao que se altera a partir de 1992, com a instituio do Movimento

    tica na Poltica e consequentemente o impeachment do ento presidente Fernando

    Collor de Mello, colocando na agenda pblica a temtica da fome e da pobreza

    (SILVA, YAZBECK, GIOVANNI, 2004).

    Ainda em 1992 ocorre outro momento sobre o debate brasileiro de garantia de uma

    Renda Mnima quando Jos Marcio Camargo passa a defender uma proposta de

    renda mnima com articulao da renda familiar e escolarizao de filhos e

    dependentes em idade escolar. Com uma proposta de poltica social que em curto

    prazo atenuasse a pobreza e em longo prazo reduzisse a reproduo da pobreza

    (SILVA, YAZBECK, GIOVANNI, 2004).

    Outro momento considerado como marco para os debates sobre Programas de

    Transferncia de Renda acontece em 1995, com a implantao de programas de

    Garantia de Renda Familiar Mnima nas cidades de Campinas (SP) e Ribeiro Preto

    (SP), em Santos (SP) e em Braslia (DF) destaca-se o Programa Bolsa Familiar para

    Educao e o Programa Poupana Escola. Todos esses programas estavam

    articulados a educao, sade e trabalho, ou seja, a famlia atendida deveria cumprir

    com essas condies em troca do beneficio (SILVA, YAZBECK, GIOVANNI, 2004).

    Segundo Silva, Yazbeck, Giovanni, (2004, p. 90), esse contexto faz com que a

    Poltica de Renda Mnima ultrapasse o patamar de mera utopia, constituindo numa

    alternativa concreta para a poltica social.

    Porm a conjuntura colocava a prova concretizao desse sonho, em 1995,

    Fernando Henrique Cardoso no seu primeiro mandato prioriza a estabilizao da

    economia, com a preocupao de inserir o Brasil na economia globalizada,

    assumindo uma poltica neoliberal, imprimindo novos rumos para o trato da questo

    social em especial da pobreza (SILVA, YAZBECK, GIOVANNI, 2004).

    No entanto, em 2001, no segundo mandato do Governo de Fernando Henrique

    Cardoso ocorre uma proliferao de programas de iniciativa do Governo Federal

    implantados nos municpios, denominados Rede de Proteo Social, direcionados

    a famlias pobres. Dentre eles destaca-se a transformao do Programa de Garantia

  • 39

    de Renda Mnima (PGRM), para toda criana na escola, em Programa Nacional de

    Renda Mnima vinculado a Educao Bolsa Escola, e criao do Programa Bolsa

    Alimentao, alm da expanso dos programas em nvel nacional institudos em

    1996, o Programa de Erradicao do Trabalho Infantil (PETI) e Beneficio de

    Prestao Continuada (BPC), o Auxilio Gs, o Programa Carto Alimentao e o

    Programa Agente Jovem (SILVA, YAZBECK, GIOVANNI, 2004).

    Conforme indicado anteriormente, a partir de 2001 o Governo se props a

    desenvolver uma Rede De Proteo Social, e a articulao de vrios programas

    direcionados a populao empobrecida do pas (SILVA, YAZBECK, GIOVANNI,

    2004).

    Vejamos no (quadro 1) a seguir, algumas caractersticas desses programas

    chamados Programas Remanescentes: (Bolsa Escola, Bolsa Alimentao, Auxlio

    Gs e Carto Alimentao), do Programa de Erradicao do Trabalho Infantil (PETI),

    do Projeto Agente Jovem de Desenvolvimento Social do Ministrio de Assistncia

    Social e Humano e do Benefcio de Prestao Continuada (BPC).

    Todos esses programas estavam destinados a um pblico especfico, cujo corte de

    renda, para fixao da linha da pobreza, era de salrio mnimo de renda per

    capita, com exceo do BPC que determinava uma renda per capita ainda menor,

    ou seja, inferior a do salrio mnimo (SILVA, YAZBECK, GIOVANNI, 2004).

  • 40

    Quadro 1 - Programas Remanescentes

    Nome do Programa Descrio

    AUXILIO GS Programa do Ministrio das Minas e Energia (MME), regulamentado em 2002, que tinha por objetivo transferir R$ 15,00 a cada dois meses, para famlias com renda mensal per capita de at salrio mnimo.

    BOLSA ALIMENTAO

    Criado em 2001 pelo Ministrio da Sade, tinha como pblico-alvo famlias com renda mensal per capita de at R$ 90,00, com presena de gestantes, nutrizes e crianas ente 0 e 6 anos de idade.

    BOLSA ESCOLA Antigo Programa gerido pelo Ministrio da Educao (MEC) que tinha por pblico-alvo famlias com crianas e/ou adolescentes em idade escolar, entre 7 e 15 anos, e com renda mensal per capita de at R$ 90,00.

    CARTO ALIMENTAO

    . O Programa Nacional de Acesso Alimentao Carto Alimentao foi institudo pela Lei n 10.689, de 13 de junho de 2003, cujo pblico-alvo eram famlias com renda entre R$ 50,01 e R$100, 00, sem crianas ou adolescentes na faixa etria de 0 a 15 anos

    PROGRAMA DE ERRADICAO DO

    TRABALHO INFANTIL (PETI)

    O programa foi institudo com o objetivo de erradicar as formas de trabalho infantil nas reas rurais e urbanas, possibilitando o acesso e permanncia de crianas e adolescentes na escola. Era direcionado a famlias com renda per capita familiar de ate salrio mnimo, com crianas e adolescentes entre 7 a 15 anos de idade. O repasse monetrio variava entre R$ 25,00 e R$ 40,00 mensais para crianas e adolescentes na zona rural ou urbana.Em 2005, ocorreu integrao do PETI com o Programa Bolsa Famlia, o que trouxe mudanas significativas para o aprimoramento da gesto da transferncia de renda.

    BENEFICIO DE PRESTAO CONTINUADA

    (BPC)

    Beneficio previsto na Constituio Federal de 1988, artigo 203 e assegurado pela Lei de Assistncia Social (LOAS) e regulamentado pelo Decreto n 1.744 de 11/12/1995. O Benefcio de Prestao Continuada da Assistncia Social (BPC) um benefcio individual, no vitalcio e intransfervel, que garante a transferncia mensal de 01 (um) salrio mnimo pessoa idosa, com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais, e pessoa com deficincia de qualquer idade, que comprovem no possuir meios de se sustentar ou de ser sustentado pela famlia.

    PROGRAMA AGENTE JOVEM

    Programa de mbito nacional, direcionado a jovens de 15 e 17 anos de idade que se encontravam fora da escola, e cuja renda per capita famlia no ultrapassasse at meio salrio mnimo. Para receber a bolsa era exigida uma frequncia mnima a escola e a outras atividades desenvolvidas pelo programa de at 75%. A proposta principal do programa era oferecer capacitao terica e pratica de preparao para o mercado de trabalho.

    Fonte: Elaborao prpria

    Nota: As informaes para a elaborao do (quadro 1) foram retiradas do livro A Poltica Social Brasileira no Sculo XXI: a prevalncia dos programas de Transferncia de Renda (SILVA, YASBEK, GIOVANNI, 2004) e do site do MDS, disponvel em: http://mds.gov.br/acesso-a-informacao/perguntas-frequentes/bolsa-familia/gestor/programas-remanescentes Acesso em 30 out. 2015.

    Esses foram os programas existentes at 2002 no Brasil, porm com a transio do

    governo de Fernando Henrique Cardoso para o governo de Luiz Incio Lula da Silva

    no terceiro semestre de 2002 elaborada uma proposta de unificao dos

    http://mds.gov.br/acesso-a-informacao/perguntas-frequentes/bolsa-familia/gestor/programas-remanescenteshttp://mds.gov.br/acesso-a-informacao/perguntas-frequentes/bolsa-familia/gestor/programas-remanescentes

  • 41

    Programas de Transferncia de Renda com a criao do Programa Bolsa Famlia

    (PBF), unificando os quatro Programas de Transferncia de Renda anteriores: Bolsa

    Escola, Auxlio Gs, Bolsa Alimentao e Carto Alimentao (SILVA, YAZBECK,

    GIOVANNI, 2004).

    A situao dos programas de transferncia de renda condicionada em 2003 era simples: o caos. Cada programa federal tinha sua agncia executora e a coordenao entre elas era mnima. Os sistemas de informao desses quatro programas eram separados e no se comunicavam, de modo que uma famlia poderia receber todos os quatro, enquanto outra, vivendo em condies iguais, poderia no receber transferncia alguma. Os valores dos benefcios e critrios de incluso variavam entre programas, de modo que o governo federal estava fazendo transferncias distintas para famlias em situaes semelhantes, justificando-as com praticamente os mesmos argumentos. Como nenhum dos programas cobria todo o territrio nacional, havia ainda os programas estaduais e municipais. Se a coordenao entre os programas federais era difcil, com os programas municipais e estaduais era totalmente inexistente. O que existia no se parecia, mesmo remotamente, com um sistema de proteo social. Era um emaranhado de iniciativas isoladas, com objetivos diferentes, porm sobrepostos, e para pblicos diferentes, mas tambm sobrepostos. Nenhum desses programas era universal ou sequer tinha a pretenso de vir a ser. Nenhum cobria todo o territrio nacional (BRASIL, 2009r, p.10).

    Segundo Weisshmeimer (2006, p. 32), em janeiro de 2003, quando o Presidente

    Luiz Incio Lula da Silva tomou posse, se deparou com um sistema de programas

    sociais de transferncia de renda dispersos por vrios ministrios, com diferentes

    listas de beneficirios e critrios para o recebimento, essa conjuntura justificou a

    unificao os programas.

    Nascia o Programa Bolsa Famlia, que se integra a um guarda-chuva maior

    denominado Programa Fome Zero (WEISSHMEIMER, 2006, p. 32).

    Portanto, a unificao dos Programas de Transferncia de Renda, mediante a criao do BolsaFamlia, situa-se no mbito da prioridade de combate fome e a pobreza, representam, no entendimento dos seus idealizadores uma evoluo dos Programas de Transferncia de Renda (SILVA, YAZBECK, GIOVANNI, 2004, p. 136).

    Dessa forma o Programa Bolsa Famlia (PBF) tem em sua gnese duas evolues

    importantes para o sistema brasileiro de proteo social: a unificao dos programas

    anteriores que operavam separadamente, eliminando lacunas, sobreposies e

    ineficincias; conferindo uma nova dimenso ao sistema, ao passar a atender

    tambm populao pobre em idade ativa, alcanando grupos que contavam com

    baixssima cobertura da proteo social, especialmente as crianas (BRASIL, 2015i).

    Portanto para (SILVA, YAZBECK, GIOVANNI, 2004) apesar de o Programa Bolsa

    Famlia ser considerado uma evoluo dos Programas de Transferncia de Renda,

  • 42

    destaca-se que no Brasil esses Programas foram marcados por um vis liberal, so

    meramente compensatrios e seletivos. Dessa forma para efetivar uma Renda de

    Cidadania para incluso de todos em condies de dignidade necessrio um

    esforo articulado a uma poltica econmica que supere o modelo de concentrao

    de renda.

    2.2.2 Programa Bolsa Famlia (PBF)

    O Programa Bolsa Famlia como um Programa de Transferncia de renda foi

    implementado a partir de 2003 no governo de Luiz Incio Lula da Silva. O programa

    nasceu da juno de quatro programas federais: BolsaEscola, Bolsa-Alimentao,

    Vale-Gs e Carto-Alimentao, o programa foi estabelecido pela Medida Provisria

    n 132, de 20 de outubro de 2003 [...] com prioridade de combate fome e a

    pobreza (SILVA, YAZBECK, GIOVANNI, 2004, p. 136).

    Atualmente o Programa Bolsa Famlia est previsto em lei Lei Federal n 10.836,

    de 9 de janeiro de 2004 e regulamentado pelo Decreto n 5.209, de 17 de

    setembro de 2004, e outras normas (BRASIL, 2015a).

    Segundo o Ministrio de Desenvolvimento Social e Combate a Fome (MDS) o

    programa possui trs eixos principais: a transferncia de renda promove o alvio

    imediato da pobreza; as condicionalidades reforam o acesso a direitos sociais

    bsicos nas reas de educao, sade e assistncia social; e as aes e programas

    complementares objetivam o desenvolvimento das famlias, de modo que os

    beneficirios consigam superar a situao de vulnerabilidade social (BRASIL,

    2015a).

    Como um programa de transferncia de renda, o Bolsa Famlia beneficia famlias em

    situao de pobreza e de extrema pobreza em todo o pas, integra o Plano Brasil

    sem misria, com foco nas famlias com renda familiar per capita inferior a R$ 77,00

    mensais e famlias com renda entre R$ 77,01 e R$ 154,00 (BRASIL, 2015j).

    Para ter o direito de receber o Beneficio necessrio incluso no Cadastro nico

    para Programas Sociais do Governo Federal (Cadastro nico) a partir do Cadastro

    que as famlias de baixa renda so identificadas, permitindo ento que o governo

    conhea melhor a realidade socioeconmica dessa populao (BRASIL, 2015k).

    http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/lei/l10.836.htmhttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/lei/l10.836.htmhttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/decreto/d5209.htmhttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/decreto/d5209.htm

  • 43

    O Bolsa Famlia apenas um dos programas a que a populao de baixa renda pode ter acesso ao se inscrever no Cadastro nico para Programas Sociais do Governo Federal. O sistema porta de entrada para 20 polticas pblicas. Para se cadastrar, as famlias devem ter renda mensal de at meio salrio mnimo (R$ 394) por pessoa). A partir de 2003, o Cadastro nico se tornou o principal instrumento do Estado brasileiro para a seleo e a incluso de famlias de baixa renda em programas federais (BRASIL, 2015k).

    A famlia beneficiaria do programa precisa atender as condicionalidades impostas,

    para continuar recebendo o benefcio, estes abrangem a rea da educao, sade e

    assistncia social.

    Quadro 2 - Condicionalidades do Programa Bolsa Famlia (PBF)

    Educao

    Portaria MEC/MDS n 3.789, de 17 de novembro de 2004

    Sade

    Portaria MS/MDS n 2.509, de 18 de novembro de 2004

    Assistncia Social

    Centro de Referencia da Assistncia Social (CRAS)

    - Os responsveis devem matricular as crianas e os adolescentes de 6 a 17 anos na escola; - A frequncia escolar deve ser de, pelo menos, 85% das aulas para crianas e adolescentes de 6 a 15 anos e de 75% para jovens de 16 e 17 anos, todo ms.

    - Os responsveis devem levar as crianas menores de 7 anos para tomar as vacinas recomendadas pelas equipes de sade e para pesar, medir e fazer o acompanhamento do crescimento e do desenvolvimento; - As gestantes devem fazer o pr-natal e ir s consultas na Unidade de Sade.

    - O Centro de Referencia da Assistncia Social (CRAS) o responsvel por realizar o Cadastro nico, porta de entrada para os programas sociais, dentre eles o Programa Bolsa Famlia; - Quem recebe Bolsa Famlia precisa manter seu cadastro sempre atualizado para continuar a receber o benefcio. Mudanas na situao da famlia devem ser informadas, a qualquer tempo, no setor responsvel pelo Cadastro nico/ Bolsa Famlia na cidade em que a famlia mora.

    Fonte: Brasil, 2015l. Disponvel em: . Acesso em 21 out.2015.

    Aqueles que descumprem com esses compromissos, sofrem efeitos gradativos, pois:

    Quando as condicionalidades no so atendidas o beneficirio do Programa Bolsa Famlia recebe uma advertncia, que no afeta o recebimento do benefcio. Quando o descumprimento se repete em um perodo de at seis meses, h o bloqueio, que impede o saque do benefcio por um ms, embora esse valor possa ser sacado depois. Se, aps o bloqueio, houver novo descumprimento em at seis meses, o benefcio fica suspenso por dois meses, sem possibilidade de a famlia reaver essas parcelas. O efeito mais grave o cancelamento do benefcio, antes a famlia passa por acompanhamento pela rea de assistncia social no municpio (BRASIL, 2015l).

    Sobre as condicionalidades impostas com respeito educao e sade, autores

    como Silva; Yazbeck; Giovanni (2004, p. 200) levantam aspectos problemticos,

    http://mds.gov.br/assuntos/bolsa-familia/o-que-e/acesso-a-educacao-e-saudehttp://mds.gov.br/assuntos/bolsa-familia/o-que-e/acesso-a-educacao-e-saude

  • 44

    [...] a articulao da transferncia monetria com a obrigatoriedade de freqncia escola por parte de crianas e adolescentes de 7 a 14 anos de idade no um aspecto pacfico e nem to simples, posto que a obrigatoriedade de freqncia escola no suficiente para alterar o quadro educacional das futuras geraes e, consequentemente, alterar a pobreza. Essa exigncia implica na expanso, na democratizao e na melhoria dos sistemas educacionais estaduais e municipais. No basta a criana estar matriculada e freqentando a escola. O ensino precisa ser de boa qualidade e estar em consonncia com as demandas da sociedade contempornea. O mesmo questionamento aplica-se a sade, o que implica tambm uma ampliao e democratizao dos servios [...].

    Longe de eliminar a pobreza, a articulao de uma transferncia monetria com a

    obrigatoriedade de insero das crianas de famlias pobres na escola, significa a

    articulao de uma poltica compensatria, apenas ameniza a pobreza, pressupe

    que essa articulao esta relacionada com oportunidades de emprego, porm deve-

    se considerar que a pobreza no Brasil tem como causa a desigualdade na

    distribuio de renda e da riqueza socialmente produzida mais do que a

    incapacidade de gerar renda (SILVA, YAZBECK, GIOVANNI, 2004).

    Os benefcios financeiros do Programa Bolsa Famlia so definidos pela Lei

    10.836/04, e so transferidos mensalmente s famlias beneficiadas.

    Quanto ao valor do beneficio que cada familia ira receber por ms dependera do

    numero de pessoas da familia, a idade de cada um, se existe alguem em situao

    de gravidez, e tambm da renda por pessoa que tenha algum ganho, essa renda

    calculada a partir da diviso pelo numero de pessoas da familia (BRASIL, 2015j).

    Abaixo segue o (quadro 3) especificando o tipo de benefcio para cada situao da

    familia:

  • 45

    Quadro 3 - Valores de benefcios do Programa Bolsa Famlia (PBF)

    Fonte: Brasil, 2015j. Disponvel em: .

    Segundo Zimmermann (2006, p.152),

    Mesmo sendo considerado uma inovao como programa de transferncia de renda o bolsa famlia no esta baseado na concepo de direitos, pois o acesso ao Programa no garantido de forma incondicional aos portadores de um direito. Em outros termos, o Bolsa Famlia no garante o acesso irrestrito ao benefcio, j que existe uma limitao da quantidade de famlias a serem beneficiadas em cada municpio. Essa limitao ocorre, como j se afirmou, porque a cada municpio designa-se um nmero mximo de famlias a serem contempladas pelo benefcio. A partir do momento em que essa quota preenchida, fica impossibilitada a insero de novas famlias, mesmo que sejam extremamente vulnerveis e, portanto, portadoras desse direito. Em virtude disso, o Bolsa Famlia no concebido com base na concepo de garantir o benefcio a todos que dele necessitem. Adota, ao contrrio, uma seletividade por vezes excludente. A consequncia dessa concepo que famlias e pessoas pobres acabam no sendo includas no Programa, mesmo que sejam miserveis e tenham a necessidade urgente de serem beneficiadas.

    Enfim, na opinio de Silva, Yazbeck e Giovanni (2004), apesar dos resultados

    identificados em relao implementao do programa parecer ser limitada,

    subjetiva e imediata, deve-se considerar que para grande parte da populao esse

    programa a nica possibilidade de uma renda, mesmo que muito baixa, pois para

    Benefcio Bsico, no valor de R$ 77,00

    Pago apenas a famlias extremamente pobres (renda mensal por pessoa de at R$ 77,00).

    Benefcios Variveis, no valor de R$ 35,00 cada um (at cinco por famlia):

    Benefcio Varivel Vinculado Criana ou ao Adolescente de 0 a 15 anos. - Pago s famlias com renda mensal de at R$ 154,00 por pessoa e que tenham crianas ou adolescentes de 0 a 15 anos de idade em sua composio. exigida frequncia escolar das crianas e adolescentes entre 6 e 15 anos de idade. Benefcio Varivel Vinculado Gestante. - Pago s famlias com renda mensal de at R$ 154,00 por pessoa e que tenham grvidas em sua composio. Pagamento de nove parcelas mensais. O benefcio s pago se a gravidez for identificada pela rea de sade para que a informao seja inserida no Sistema Bolsa Famlia na Sade. Benefcio Varivel Vinculado Nutriz. - Pago s famlias com renda mensal de at R$ 154,00 por pessoa e que tenham crianas com idade entre 0 e 6 meses em sua composio, para reforar a alimentao do beb, mesmo nos casos em que o beb no more com a me. Pagamento de seis parcelas mensais. Para que o benefcio seja concedido, a criana precisa ter seus dados includos no Cadastro nico at o sexto ms de vida.

    Benefcio Varivel Vinculado ao Adolescente, no valor de R$ 42,00 (at dois por famlia). Pago s famlias com renda mensal de at R$ 154,00 por pessoa e que tenham adolescentes entre 16 e 17 anos em sua composio. exigida frequncia escolar dos adolescentes.

    Benefcio para Superao da Extrema Pobreza, em valor calculado individualmente para cada famlia. Pago s famlias que continuem com renda mensal por pessoa inferior a R$ 77,00, mesmo aps receberem os outros tipos de benefcios do Programa; O valor do benefcio calculado de acordo com a renda e quantidade de pessoas da famlia, para garantir que a famlia ultrapasse o piso de R$ 77,00 de renda por pessoa.

    http://mds.gov.br/assuntos/bolsa-familia/o-que-e/beneficios

  • 46

    muitas famlias usurias do programa representa a aquisio ou ampliao de uma

    renda inexistente ou insignificante, oriunda do trabalho.

    Segundo algumas pesquisas realizadas pelo Instituto de Economia Aplicada (IPEA),

    em 10 (dez) anos, uma ampla agenda de aperfeioamentos foi cumprida, o Bolsa

    Famlia criou uma nova estrutura, aperfeioou mecanismos, adicionou benefcios e

    ampliou o alcance e o impacto distributivo das transferncias.

    Diante disso, o Programa Bolsa Famlia se apresenta como uma estratgia para o

    enfrentamento da pobreza, prevendo condicionalidades para que o beneficirio

    garanta o recebimento mensal.

    O prximo capitulo trata-se da metodologia, que ira traar os caminhos que foram

    percorridos para a realizao desse estudo.

  • 47

    3 METODOLOGIA

    3.1 TIPO DE PESQUISA

    A fim de alcanar o objetivo proposto, qual seja descrever qual a percepo dos

    usurios do Programa Bolsa Famlia (PBF) acompanhadas no CRAS de Alvorada -

    Vila Velha (ES) sobre o PBF foi traado alguns procedimentos necessrios

    pesquisa.

    A pesquisa social possibilita a construo de conhecimentos a partir do contato

    direto com o sujeito, permite a obteno de novos conhecimentos no campo da

    realidade social (GIL, 2009).

    De acordo com Gil (2009) o mtodo o caminho para chegar a um determinado fim

    ou conhecimento. a partir da metodologia que se determina o tipo de estudo

    adequado para a pesquisa.

    Como forma de subsidiar o presente trabalho, para a realizao desse estudo foi

    utilizada a pesquisa do tipo descritiva. A pesquisa do tipo descritiva tem como

    objetivo fundamental a descrio de caractersticas de determinada populao ou

    fenmeno, tem ainda como um dos seus objetivos levantar as opinies, atitudes e

    crenas de uma populao, ou estudar o nvel de atendimento dos rgos pblicos

    de uma comunidade (GIL, 2009).

    Visto que o objetivo desta investigao foi descrever qual a percepo dos usurios

    do Programa Bolsa Famlia (PBF) acompanhadas no CRAS de Alvorada - Vila Velha

    (ES) sobre o PBF a pesquisa descritiva a ideal, pois a partir disso o pesquisador

    descreve quais caractersticas, relaes e conexes do fenmeno sem interferir na

    pesquisa (BARROS, LEHFELD, p 84, 2014).

    Foi tambm utilizada uma reviso bibliogrfica desenvolvida a partir de material j

    existente, como artigos cientficos e livros que tratam da temtica Poltica de

    Assistncia S