a contribuição de ep thomson

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  • 8/3/2019 A contribuio de EP Thomson

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    MEDIAESREVISTA DE CINCIAS SOCIAISVOL. 9-N.l/20rj..,.-p. 69-82

    TEMAS E DEBATES PARA A HISTRIA 00 BRASIL A CONTRffiUIO DE E.P. THOMPSON1

    Jos Carlos Barreiro2

    T hompson, por sua histria de militncia epelos inmeros debates travadoscom intelectuais de elevada estatura, dentro e fora do partido comunistaingls, acabou por produzir uma obra de grande porte, transformando-se,portanto, numa das maiores expresses da historiografiamundial. Contudo, osurgimentodo pensamento de Thompson no est desvinculado das configuraes polticas de seuprprio presente. Nesta perspectiva, torna-se imperativo relacion-lo aos principaisacontecimentos do cenrio poltico mundial. No se quer com isso repor a velhacorrespondncia mecnica entre a produo das idias e odeterminismo de seu tempo .Contudo, no se chega a uma reflexo fecunda a no ser libertando-se de uma histriadesencarnada que institui um universo de abstraes sem limites para o prpriopensamento.3Nesse sentido, se no isolarmos oconjunto das idias de Thompson, dasformas de vida social que o produziu, possvel perceber que ele foi profundamentemarcado pela emergncia das contradies que abalaram progressivamente osistematotalitrio do mundo socialista apartir dos anos 30 do sculo passado, e, sobretudo dosanos 50. Nessa conjuntura, no que diz respeito aos principais acontecimentosinternacionais, discutiam-se, entre outros temas, aGuerra Fria, os processos de Moscou, adivulgao da existncia de campos de concentrao na URSS. Osocialismo real e apoltica dos Paltidos Comunistas passaram aser questionados, porque nada diziam quepudesse anuviar a reputao socialista do regime sovitico ou dos regimes dos pases doleste .No deram ao protesto dos dissidentes aampla ressonncia que estavam em condiesI Este artigo foi gerado a partir do projeto de pesquisa "Formas rituais esimblicas da dominao edo protesto

    popular. Brasil, 1780-1880", em desenvolvimento.Doutor em Histria pela USP. Professor livre-docente do Departamento de Histria da Unesp/Assis. Autor do livroImaginrio e Viajantes no Brasil do Sculo XIX: Cultura e Cotidiano, Tradio e Resistncia. EditoraUnesp, 2003.

    I Cf. ClIARTIER, R. AHist6ria Cultural: entre prticas e representaes. Lisboa: Difel, 1990. p. 34s.

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    7O. MEDIAES VOL. 9-N.1/2004de dar. Longe de informar ou instruir seu pblico, dissimulavam esoterravam aquestodo estalinismo e a natureza do Estado totalitrio.4

    Este quadro de crise dosocialismo eda poltica dos partidos de esquerda estimuloua emergncia de alguns grupos ou escolas importantes que dariam contribuiesduradouras para a renovao do conhecimento humanstico edo conhecimento histricoem particular. Na Frana, por exemplo, no se pode ignorar as contribuies do grupovinculado Filosofia Poltica Francesa Contempornea - dentre eles Merleau Ponty,Claude Lefort eCornelius Castoriadis - edos historiadores vinculados Nova Histria.5Todavia, o pensamento de Thompson surgiria em meio aos movimentos importantesque emergiam na Inglaterra naquele momento. Acontestao ao mecanicismo estalinistaque subordinava a interpretao histrica aos cinco modos sucessivos que as sociedadeshumanas deveriam necessariamente percorrer, eas discusses internas levadas acabo peloPartido Comunista Ingls, fez surgir, por exemplo, aobra de Maurice Dobb reformulandode forma inovadora aquesto da transio do feudalismo ao capitalismo, bem como asgrandes contribuies de historiadores como Christopher Hill, Eric Hobsbawm, RaphaelSamuel edo prprio EdwardThompson, entre outros. Muitos desses historiadores reuniramse em torno daNew Lejt Review criada em 1957 abrigando debates criativos, at pelomenos 1963, quando Pen)' Anderson assume adireo da revistaeThompson marca seurompimento com o grupo escrevendo oseu Jhe Making ofthe English Working Class .Outros grupos igualmente vigorosos surgem na Inglaterra como,por exemplo, ogrupoHistory Workshop, nascido no Ruskin CoUege, de Oxford, em 1966. Este grupo se constituiuem torno da figura de Raphael Samuel. Propondo-se alutar contra osistema tradicionalde exames e adar uma participao ativa no estudo da histria aos estudantes da classeoperria, ogrupo publica uma srie de panfletos entre 1970 e1974, que origina, em 1976,aHistory Workshopjournal, revista que consegue suscitar odebate em torno das questescontemporneas de modo no ortodoxo, por engajar no s historiadores preocupadoscom os problemas atuais, mas tambm setores do movimento operrio e de outrosmovimentos populares como o feminismo.

    Em meio efervescncia dessas idias, Thompson, na condio de historiadormarxista, levou a cabo inmeros avanos em relao ao tratamento dado questo da

    Cf. LEFORT,C.A inveno democrtica. So Paulo: Brasiliense, 1983. p. 15ss. BUKE, P. "El 'descobrimiento ' de la cultura popular". In: SAMUEL, R. (ed.) Histl'ia populal'Y teol'ia socialista. Barcelona: Editorial Crtica, 1984.

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    TEMAS E DEBATES PARA A HISTRIA DO BRASIL. 71teoria edos conceitos no materialismo histrico. Tais questes iam no sentido de que ateoria, na sua relao com as evidncias empricas, envolve uma explorao aberta domundo que supe a recusa da decretao de certezas prvias em relao ao fazer socialhistrico. Neste sentido, Thompson rompe, sob muitos aspectos, com odeterminismo dasanlises fundadas no materialismo histrico, substancialmente presente em autoresmarxistas poca em que produziu seus trabalhos mais vigorosos. Thompson tomou,portanto, omarxismo mais criativo enquanto teoria econceitos operacionalizveis.

    A CONJUNTURA DO BRASILOs trabalhos de E.P. Thompson tm sido divulgados no Brasil h cerca de duas

    dcadas. hora de iniciarmos uma reflexo mais atenta acerca de sua influncia naproduo do conhecimento histrico nacional. Parece oportuno conduzir esta reflexo luz do avano proporcionado por Thompson em relao ao tratamento dado pelomarxismo ao problema da cultura. Thompson avanou neste ponto, em relao aomarxismo da poca, graas ao seu dilogo com a Antropologia e, tambm, graas incorporao sua obra, das reflexes de Gramsci sobre oconceito de hegemonia.

    Nos anos 1970 a sociedade brasileira viveu a emergncia dos movimentossociais ressurgidos dos escombros da ditadura militar. Os movimentos de massaanteriores implantao do regime militar no haviam desaparecido, mas a repressoconfinou-os auma existncia subterrnea. Quando vieram tona, apresentaram-secom caractersticas novas, a ponto de escapar inteiramente aos padres deinteligibilidade terica ditados pela velha esquerda. Como entender as significaesnovas, os novos tipos de motivaes, os novos valores, as novas formas de luta dosmovimentos populares dos anos 70 a partir de concepes tericas que reduziam ariqueza ecomplexidade da atividade humana determinao das foras produtivas?Certamente, seria impossvel entender os novos movimentos sociais, fundamentandose em conceitos rgidos da esquerda tradicional vinculada aos partidos da poca,conceitos estes que tambm embasavam a produo do conhecimento histrico dehistoriadores importantes da sociedade brasileira.

    Assim, surpreendidos acada dia pela irreverncia eautonomia do sindicalismo edos movimentos de massa em geral, e, impossibilitados de explicar seu comportamentoapartir de conceitos inflexveis, muitos militantes, intelectuais ehistoriadores descobriramaobra de Thompson.As dificuldades iniciais de acesso aosseus textos foram vencidas pela

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    72. MEDIAES VOL.9-N. 1/2004necessidade de se entender uma realidade nova que parecia fazer mais sentido luz dasconcepes tericas da History from Below6 partilhadas e amplamente desenvolvidaspor Thompson eseus companheiros daNew Left.7Apartir da leitura dos trabalhos de Thompson, alguns setores da historiografiabrasileira adentraram o complicado terreno das relaes do marxismo com a cultura,para, apartir da, recompor amemria cultural das "camadas populares". Isto significou,ao mesmo tempo, questionar a perspectiva que concebe os homens como produtos deforas materiais que os determinam por completo. Com oexerccio thompsoniano deintroduzir a questo da cultura como fenmeno importante do materialismo histricofoi possvel recuperar as teses de Marx contra Feuerbach e, com elas, a idia revolucionriade que opovo se educa apartir de sua prpria prxis. Por conseguinte, foi possvel resgatartambm aconcepo segundo aqual os homens constituem-se em sujeitos de sua prpriahistria,emodificam continuamente as circunstncias em que vivem ese transformam.8Elenquemos, ento, alguns temas sobre os quais acontribuio de Thompson parece serbastante visvel, e outros em que se podem vislumbrar possibilidades de avano emdireo anovas pesquisas.

    A HISTORIOGRAFIA E O TEMA DA ESCRAVIDOOs estudos brasileiros que refletiram sobre as camadas populares, apartir de seuuniverso de cultura, quase sempre evocavam este tema,no para investigar asua condio

    de sujeito, mas para desenvolver aidia de passividade. Otema da escravido, por exemplo,surge nas interpretaes clssicas, apartir da comparao com aescravido antiga, paraacentuar que os escravos da Antigidade eram culturalmente superiores aos seusconquistadores, enquanto no Brasil eles eram de nvel cultural nfimo,porque provinhamde povos brbaros, arrancados de seu habitat natural e includos, sem transio, numacivilizao que aeles era inteiramente estranha. Sob esse ponto de vista, acontribuiodo escravo negro ou ndio era vista como passiva equase nula.96 "Histria concebida a partir das perspectivas dos segmentos populares".7 Cf. FENEJ.ON , D. R. E. P. Thompson - Histria e Poltica .Projeto Histria. Revista do Programa de Estudos PsGraduados em Histria da PUC-SP. So Paulo, 1981. pp . 77-93., Cf. BRREIRO,].C. OMaterialismo Histrico eaquesto da Cultura. RevistaBrasileira de Histria, 19 ,So Paulo ,Anpuh , 1990, pp. 209-218.9 Cf. Prado Jr, C.Evoluo Poltica do Brasil e outros estudos. So Paulo: Brasiliense, 1977. p. 273.

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    TEMAS E DEBATES PARA A HISTRIA 00 BRASIL. 73claro que faltava a essas interpretaes oentendimento de que adinmica da

    relao entre culturas subordina-se aum processo que envolve criao e luta. 10 Porm,mais do que isso, oproblema dessas consideraes que elas orientavam-se na direo detratar a cultura como "coisa", isto , como algo que criado pelos dominantes esimplesmente internalizado pelas "camadas populares" .Ademais, oconceito de culturaparece que tomava como fundamento uma "fixao etnocentrista" na qual tudo definido a partir da idia de "civilizao". Esta idia, por sua vez, constituda pela"convico complementarde queahistria tem um sentido nico, de que toda asociedadeest condenada a inscrever-se nesta histria eapercorrer as suas etapas que apartir daselvageria, conduzem civilizao". 11

    Thompson conseguiu produzir um resultado terico mais dinmico ao analisara plebe inglesa do sculo XVIII .Tal resultado decorre do conceito de cultura utilizadocomo ponto de partida para analisar as lutas sociais do perodo. Sua concepo de culturavincula-se ao conceito de experincia, que incorpora mltiplas evidncias de vida ou dearte dos homens, evidncias estas tratadas no plano de sua conscincia, das maneiras asmais complexas, para em seguida agirem sobre as situaes determinadas. Thompsonexamina, ento, para apreender a vida social a partir da perspectiva da "experinciahumana", os sistemas densos e complexos vinculados relaes de parentesco e aoscostumes; inclui na anlise as regras visveis einvisveis da dominao social, as formassimblicas de dominao eresistncia, f religiosa eimpulsos milenaristas. Os costumes,por exemplo, como elementos integrantes das definies consuetudinrias da plebe inglesado sculo XVIII, serviam para que ela mostrasse a dimenso rebelde da sua culturatradicional s inovaes e racionalizaes por ela experimentadas como explorao,expropriao de direitos de aproveitamentos tradicionais ou denegao violenta de modelosvalorativos de trabalho e descanso. Aexpresso simblica aparece como mecanismoparticularmente importante do comportamento da plebe em relao igrejaou nobreza,como ocaso, por exemplo, do simbolismo do nabo edos cornos, usado jocosamente paradefinir a relao da plebe comoreiJorgeLPode-se perceber, pois, queotermo "cultura",bsico no desenvolvimento do conceito de "experincia humana" ena recuperao doselementos fundamentais para a reconstituio do confronto entre a plebe e agentry,fundamenta-se na melhor tradio terica dos estudos antropolgicos utilizados por10 Cf. SAM UEI., R. (ed.) Histl'ia popular y teoria socialista. Barcelona: Editorial Crtica, 1984. p. 89ss.II Aexpresso "fixao etnocentrista"usada por Pierre Clastres ao criticar as anlises das sociedades primitivas,

    efetuadas a partir de enfoques evolucionistas, que privilegiam idias provindas do campo ideolgico doOcidente. Cf. C L ~ S T H E S , P.A Sociedade contra oEstado. Rio de]aneiro: Francisco Alves , 1978. pp. 132-152.

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    74. MEDIAES VOL. 9 -N . 1/2004Thompson. Ao invs de jogar com a dicotomia civilizao versus barbrie, o autorreconstitui adinmica da vida social apartir do conjunto de normas, valores, obrigaes,expectativas e tabus existentes em cada um dos grupos sociais. 12Evidentemente, apartir dessas concepes de Thompson, alguns estudos sobreescravido no Brasil passaram aenfatizar acultura africana em sua multiplicidade,complexidade e especificidade, no mais a avaliando por comparao com a"civilizao" europia. Para isto contribuiu tambm a discusso de Thompson arespeito da operacionalidade analtica do termo "paternalismo", em substituio atermos genricos como "feudal", "capitalista" ou "patriarcal", oque oampara nacrtica s anlises tradicionais da sociedade inglesa do sculo XVIII, que aapresentavam como uma sociedade consensual.

    Estes foram pontos fundamentais buscados por alguns autores para procederem critica da historiografia da escravido dos anos 1960170. Nestes anos, a historiografiaconstruiu a imagem de um mundo governado pelos interesses senhoriais, no qual adominao sobre a massa escrava era opressiva e violenta. Anfase na violncia e naanlise dos interesses econmicos da escravido conduzia tais reflexes a privilegiar aviso senhorial e aexcluir os escravos.Recorrendo, portanto, ao conceito de cultura e discusso sobre o termopaternalismo, os historiadores comeam ainsistir na necessidade de incluir aexperinciaescrava na histria da escravido no Brasil. As anlises passaram aevidenciar que, se porum lado, os senhores consideravam os escravos como "coisas" ou seres destitudos devontade prpria, por outro, os prprios escravos emergiam na cena social como homens emulheres que impunham limites vontade senhorial. Eles possuam projetos e idiasprprias pelos quais lutavam econquistavam pequenas egrandes vitrias, que ossenhoresno reconheciam, porque se tratava, para eles, de generosas e paternais concesses.Contudo, os escravos traduziam esse paternalismo numa doutrina diferente da imaginadapelos senhores, e as concesses senhoriais transformavam-se em conquistas obtidasduramente devendo, portanto, serem mantidas como direitos. 13

    12 Cf. THOMPSON, E.P. Tradicin, revuelta yconsciencia de clase. Barcelona: Editorial Crtica, 1979. pp .45-53.13 Cf. Lw ,S.H. Blowin 's in the Wind. E.P. Thompson e a experincia negra no Brasil. Projeto Histria , 12, 1995,pp. 43-56; Idem Campos da Violncia: escravos e senhores na Capitania do Rio de janeil'O 0750-1808).Rio de Janeiro: paz eTerra, 1988; REIS,].]. Rebelio Esera/ia no Brasil: a histria do levante dos Mals. SoPaulo: Brasiliense, 1986; CfIAHOU, S. Vises da Liberdade. Uma Histria das zltimas dcadas da escravido

    na Corte. So Paulo: Companhia das Letras, 1990.

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    TEMAS E DEBATES PARA A HISTRIA DO BRASIL. 75POLTICAS E IMAGINRIOS

    Se em relao escravido os trabalhos de Thompson estimularam inovaesimportantes, preciso lembrar outros aspectos da histria do Brasil que ainda esto espera de uma reviso. este o caso do tratamento que tem sido dado ao estudo dohomem comum, sua culturaesua relao com as elites dominantes, apartir do surgimentoda modernidade. Tal lacuna pode ser observada quando voltamos nosso olhar para osestudos sobre aindependncia do Brasil, e, conseqentemente, das "ideologias importadas"que compem o quadro da formao do Estado Nacional Brasileiro. Neste terreno bastante frtil aveiculao de concepes de histria informadas pela idia de progresso.Afilma-se, em geral, que naquele momento a"pobreza ideolgica" dapopulao brasileira,em sua maioria analfabeta, "inculta" e"atrasada", constitua-se em agente deformadordas idias iluministas que chegavam ao Brasil. 14 Contudo,possvel que tais argumentosno se sustentem nem mesmo apartir da lgica de sua prpria constituio interna, pois sabido que at mesmo na Frana pr-revolucionria, o ndice de analfabetismo dapopulao era extremamente alto. As cidades maiores, como Paris, apresentavam cifrasque talvez chegassem a 60%. Aos escritos de Rousseau tinha acesso apenas uma elitealfabetizada. Ofrancs comum s conseguia ter acesso a essas idias em segunda outerceira mos. Nem por isso a Frana deixou de ser um dos pases que mais criou,sistematizou e difundiu o iderio iluminista. 1s

    No se trata, pois, de vincular o analfabetismo idia de atraso para apontar aleitura "errada" e "deformante" que as "camadas populares" do Brasil fizeram doIluminismo. Talvez, o caminho mais rico seja o de investigar que tipo de leitura as"camadas populares" aqui procederam, apartir de sua experincia cultural especfica.Umasociedade analfabeta recobre caractersticas que remetem s especificidadesda culturaoral em relao cultura letrada.16 Neste sentido, o importante indagar a respeito doprocesso que pode ter levado as "camadas populares" a re-traduzirem todo um universointelectual da cultura letrada e, apartir de sua cultura, herdada pela transmisso oral,14 Cf. CoSTA, E. V. da. Da monarquia Repblica: Momentos Decisivos. So Paulo: Grijalbo, 1978. pp. 27s. I; Cf. RUD, G. Ideologia eProtesto Popular .Rio de]aneiro: Zahar, 1982. p. 31s. 16 So inmeros os trabalhos que discorrem sobre a especificidade da cultura oral em relao cultura letrada.

    Vale a pena mencionar, pelo menos: THOMPSON, E.P. li'adicion, Revuelta y Conscincia de Clase. Barcelona:Editorial Crtica, 1979. Uma das caractersticas da cultura oral, para esse autor, reside no fato de que ela estreferida sobretudo a uma "sociedade analfabeta", razo pela qual a "memria popular" a"extraordinariamente ampla". Cf. especialmente p. 102. Para um estudo sobre a oralidade como formaespecfica de comunicao das sociedades tradicionais, cf. CERTEAU, Mde. "Etnographie: L'oralit ou l'espacede l'autre". In: Lcl'itul'e de I'Histoil'e. Paris: Gallimard , 1975. pp. 215-248.

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    76. MEDIAES VOL. 9-N.l/2004.conseguir pensar diferente. 17 possvel que uma abordagem de tal natureza estimulepelo menos areflexo sobre oque foi aprtica polticadas "camadas populares" brasileiras,apartir do resultado da complexa combinao entre suas formas "menos estruturadas depensamento" (mitos, idias simples, tradio) com as chamadas "ideologias derivadas"ou sistemas "mais estruturados" de idias (Direitos do Homem, Laissezjaire ,etc.).Thompson desenvolve ,de forma instigante, oproblema da especificidade dacultura oral, ao estudar os movimentos pr-industriais da Inglaterra do sculo XVIII.No limiar da Revoluo Industrial apreservao da memria significar um poderosoinstrumento de luta contra a opresso imposta pelo livre-cambismo plebe inglesa.Nos motins da fome contra o livre-cambismo aplebe exibia um modelo de condutacuja ao central referia-se ao resgate de procedimentos de 150 anos atrs contidosno Livro de Ordens, que determinavam para os funcionrios da justia a fiscalizaodos mercados para se certificarem de que eles estavam provendo os pobres dos grosnecessrios e, ao mesmo tempo, fixando os preos fora das leis da livre concorrncia.Thompson diz ento que esta legislao de emergncia se foi desmoronando duranteas guerras civis. Porm a memria popular, especialmente em uma sociedadeanalfabeta, extraordinariamente ampla. Pouca dvida existe de que h umatradio direta que se estende desde oLivro de Ordens de 1630 at os movimentosdos trabalhadores de confeco no leste e oeste da Inglaterra do sculo XVIII. Aquitambm Thompson liberta-se da interpretao simplista segundo a qual a plebeinculta eatrasada no consegue entender as novas idias eas novas prticas. Recorreraprticas medievais enquanto o liberalismo plantava a semente da "modernidade"parece caracterizar, de fato, um comportamento atrasado da plebe. Porm, trata-sede interrogar, mostra Thompson,de que forma os pobres experimentaram as novasidias na Inglaterra do perodo.18 Na verdade, o liberalismo foi experimentado pelaplebe inglesa no como progresso, mas sim como retrocesso . Os cercamentosretiraram-lhes direitos tradicionais .O ivre-cambismo gerou uma situao de escassezprofunda efome entre os pobres.Thompson revela, enfim, que aquesto do "atraso"no to linear. Ao procurar entender a histria social do sculo XVIII como umasrie de confrontos entre uma inovadora economia de mercado e aeconomia moraltradicional da plebe, o autor revela uma curiosa dialtica. Aplebe inglesa eratradicional em suas formas, ao recorrer a um modelo medieval de conduta. Porm,17 Cf. anlise de GINZBURG, C. Oqueijo e os vermes: o cotidiano e as idias de um moleiro perseguido pelaInquisio. So Paulo: Companhia das Letras, 1987.18 Cf. TliOMPSON, E.F 1989, Op. cito p. 102 .

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    era revolucionria em seu contedo, ao lutar contra a opresso das novas formassociais epolticas. um pouco desta dialtica complexa que precisamos resgatar noprocesso de reconstituio das lutas sociais no Brasil do sculo XIX.

    Os ESPAOS NO,INSTITUCIONAISThompson abriu caminhos instigantes para aelaborao de uma histria popular,

    ao valorizar oestudo de seus espaos no especificamente institucionais. Ao aferirem aao poltica das camadas populares apartir da referncia institucional, exclusivamente,muitos historiadores acabaram minimizando aquilo que, em suas obras, anunciava-secomo possibilidade frtil de recuperao da memria histrica das camadas populares,porque desconsideraram a importncia de espaos de sociabilidade especificamentepopulares. So ainda pouco expressivas, na historiografia brasileira, as pesquisas queprocuram entender a ao poltica das "camadas populares" a partir de espaos desociabilidade como os vinculados s feiras, pousadas evendas de beira de estrada. Aoestudar ce110s aspectos da organizao eda cultura das classes subalternas da sociedadebrasileira do sculo XIX, pudemos perceber, porexemplo, que nesses lugares entrecruzavamse tradies variadas e desenvolvia-se o exerccio de negao das representaes e dasprticas sociais dominantes, que dava sentido s lutas sociais dos subalternos daqueleperodo. Assim, ao apontarmos para uma abordagem que considere os diversos nveis deestruturao das "camadas populares", vamos tambm desfazendo a idia da refernciainstitucional dos partidos, das associaes sindicais eda fbrica como espaos exclusivosem que poderia ocon'er aconstituio do "sujeito revolucionrio".

    Thompson no foi, evidentemente, o nico a discutir a importncia de taisespaos. Oestudo de Benjamin, por exemplo , ao analisar a boemia na Paris dosculo XIX, registra a relevncia social e poltica do espao das tabernas e criticaMarx por t-lo visto de forma depreciativa. 19 Mas de Thompson, ao estudar aclassetrabalhadora inglesa do sculo XVIII, o trabalho mais sugestivo neste aspecto, parauma re-tematizao da histria das "camadas populares" do Brasil do sculo XIX.Este autor acentua a necessidade de estudos sobre a taberna e seus freqentadores.Diz, ao analisar oque se escreveu sobre o trabalhador ingls: "Os que pretenderam19 Cf. BEJAMIN, W. AParis do Segundo Imprio em Baudelaire. In: KHOTE, F.R. (Org.).Watter Benjam in. (Coleo

    Grandes Cientistas Sociais, vol. 50) . So Paulo: tica, 1985. p. 50.

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    78. MEDIAES VOL. 9-N. 1/2004enfatizar os antecedentes constitucionais sbrios do movimento operrio por vezesminimizaramseus traos mais robustos edesordeiros. Oque podemos fazer ter emmente a advertncia. Precisamos de mais estudos sobre as atitudes sociais doscriminosos, soldados e marinheiros, e sobre a vida de taberna; deveramos olhar asevidncias, no com olhos moralizadores (nem sempre os "pobres de Cristo" eramagradveis) , mas com olhos para os valores brechtianos - ofatalismo, a ironia emface das homilias do Establishment, a tenacidade da auto-preservao. Edevemostambm lembrar o "submundo" do cantor de baladas e das feiras, que transmitiutradies para o sculo XIX (at o music-hall, a cultura de circo de Dickens ou oscontadores de histria eanimadores de Hardy); pois desta forma os 'sem linguagemarticulada' conservam certos valores - espontaneidade, capacidade para diverso elealdade mtua -, apesar das presses inibidoras de magistrados, usineiros emetodistas" 0

    Nesta mesma linha de nfase aos nveis diversificados de socializao eestruturao dos subalternos, preciso lembrar o exemplo dos moinhos, espaosimilar venda,caractersticos de diversas regies emomentos da histria da Europa,e que foi objeto de bastante ateno por parte de Ginzburg, ao discorrer sobre acultura popular europia do sculo XVI, apartir da vida do moleiro Menocchio. Soespaos como estes, analisados por Thompson, que precisam ser relevados nareconstituio da memria cultural das "camadas populares" do sculo XIX brasileiro.Aanlise desses espaos sociais pode ensejar oacesso a fragmentos importantes da vidacotidiana do homem comum. Embora no se possa libertar aqui do carter fugidio,fragmentrio e esparso que define as ideologias populares, estudar a taberna e seusfreqentadores significa dar um passo decisivo no trabalho de reconstituio da memriacultural das camadas populares do sculo XIX brasileiro.

    RITUAIS POPULARESThompson devotou importante reflexo acertos rituais de protestos populares daInglaterra do sculo XVIII e s suas formas ricamente diversificadas, que receberam a

    denominao genrica de rough musicY Ele estudou-a por comparao com seucorrespondente francs, ocharivari, e, sobretudo, acompanhou com uma erudio sem20 Cf. TH OM PSON, E. P. TheMaking of heEnglish WO'king C/ass. London, Penguin Books, 1968, p. 63-64.21 Cf.TfI O)lPSO NE. P. Cus/OlnS n Common. NewYork: The New York University Press, 1991.

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    TEMAS E DEBATES PARA A HISTRlA 00 BRASIL. 79par amigrao desses rituais para vrias partes da Inglaterraesuas colnias, bem comopara outras partes do mundo . Pde ento interpret-los e aferir a sua importncia naslutas populares do sculo XVIII, e sua dimenso como componentes expressivos dovocabulrio simblico da poca. Com Thompson,entramos no universo fascinante eaomesmo tempo complicado da decifrao do significado das rough music, termocomumente usado para denotar cacofonia rude, com ou sem ritual mais elaborado,normalmente empregado para dirigir zombarias ou hostilidades contra indivduos quedesrespeitavam certas normas da comunidade.

    Thompson desenvolveu uma percepo terica bastante cuidadosa para apreenderosignificado das rough music,propondo um encaminhamento que negava qualquervalor auma anlise estritamente estruturalista, em que os elementos mticos do ritual sesobrepusessem ao processo social e osubstitussem pela lgica formal. Por outro lado,estava tambm bastante atento desintegrao das propriedades mticas do ritual, quepudesse ser ocasionada por qualquer empirismo mais afoito. Este estudo oferece algumamparo terico eabre perspectivas imensas para apesquisa das manifestaes popularescontra as formas excludentes com que as elites brasileiras encaminhavam aorganizaodo Estado brasileiro desde fins do sculo XVIII .

    Se os rituais vinculados s rough music inglesas echarivari franceses eramextremamente complexos e diversificados em suas formas, como reconheciaThompson, oque dizer de formas expressivas dessa mesma natureza, que emergiamdo interior de uma sociedade multirracial, como a brasileira, com elementos devrios povos eetnias compondo seu universo cultural? Trata-se, efetivamente, de umgrande desafio , entender como, no amplo movimento de povos e culturas quecaracterizou onascimento da modernidade , estas formas acomodaram-se ao caldocultural brasileiro, ganhando vida prpria .

    No difcil encontrarmos no Brasil manifestaes populares com caractersticasbastante similares s rough music, estudadas por Thompson na Inglaterra do sculoXVIII . Em Pernambuco, os escritos de um folclorista22 nos fazem reviver os momentosque antecederam a partida de Dom Toms, quando este deixava em 1798 ogoverno daProvncia. Naquela oportunidade ouvia-se o povo cantar em versos jocosos, o fato doGovernador ter sido "chifrado" por sua amante,Dona Brites.Opovo cantava em versosque quando Dom Toms partira, Dona Brites aparentou chorar de tristeza, mas22 Cf. PERE IRA DA COSTAF. A. Anais Pernambucanos. 1795-1817. Recife,Arquivo Pblico Es tadual - Secretaria do

    Interior eJustia, 1958,vol. VI.

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    8O. MEDIAES VOL. 9-N.l/2004.disfaradamente sorria, porque, to logo Dom Toms virara as costas ela j estava nosbraos de Chiquinho da Ribeira, oarrematante de dzimos do mercado pblico do BairroSanto Antnio, que D. Toms construra. No se tm detalhes a respeito dessa zombariahostil do povo contraseu Governador, exceto ade que os versoseram cantados com msicaprpria. Contudo, eram versos fceis de serem memorizados pela multido, os chamadosnominy.23No h tambm informaes a respeito do acompanhamento instrumentalrude e primitivo que normalmente compunha esse tipo de ritual na Inglaterra e emoutras partes do mundo em que foi encontrado. Sabendo, contudo, da forma draconianacom que o povo era tratado naquela provncia, possvel que essa zombaria fossedesencadeada de forma mais ou menos contida, para evitar reprimendas. De qualquerforma, tratava-se de uma manifestao popular que respondeu aos maus tratos eabusosdesfechados pelo Governador, ridicularizando-o no que havia de mais sagrado numasociedade de tipo patriarcal:a traio e ainfidelidade.Estes eram temas sempre exploradosquando a plebe inglesa queria hostilizar seu rei ou autoridade importante do reino,caracterizando tambm os rituais franceses denominados charivari.

    Este ritual, zombando de D. Toms e sua amante, tem estreita conexo comoutro, que pudemos recolher do mesmo folclorista. Trata-se de um castigo imposto peloGovernador em questo aSimplcio, um indivduo do segmento social livre esem posseda poca. Por ter roubado uma tainha do viveiro do Governador, foi preso econdenado atrabalho forado at secar opeixe furtado que trazia amarrado ao prprio pescoo. Ocrime de Simplcio foi, neste episdio, considerado duplamente grave. Primeiramente,porque aao criminal foi desencadeada contra oGovernador,que personificavaopoderde Estado. Em segundo lugar,ocrime mereceu severa punio porque violava os preceitosjudiciais burgueses relativos propriedade privada, numa ordem social em que amesmaestava em pleno processo de constituio.Em ambos os rituais, a publicizao aparece como componente importantetanto do castigo imposto a um homem comum , quanto a hostilidade dirigida aoGovernador esua amante. Trata-se de estratgias que derivam seus recursos da transmissooral, numa sociedade que regula a sua autoridade econduta moral por meio de formasteatrais, do espetculo da justia e da punio pblica. possvel que o elemento dapublicizao dos castigos, instrumento comum das classes dominantes at incios dosculo XIX, tenha se irradiado sobre a cultura popular e enriquecido seu vocabulriosimblico de contestao.23 Eram versos to fceis de serem memorizados como as rimas infantis e que tambm permitiam que seacrescentassem improvisaes apropriadas vtima e ocasio. Cf. THOMPSON. 1991 , op. cito

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    TEMAS E DEBATES PARA A HISTRIA DO BRASIL. 81Mas preciso lembrar que no apenas os folcloristas so fontes nas quais

    encontramos registros desses rituais.Os viajantes estrangeiros so muitas vezes as fontesprimrias de que se servem os prprios folcloristas.Debret, por exemplo, recolhe detalhespreciosos de certos rituais cercados de componentes culturais e religiosos maisespecificamente portugueses,como amalhao doJudas. Trata-se de um ritual encenadocom efeito teatral extraordinrio,animado por um grupo bastante agitado ebarulhentode pessoas, entremeadas por turbilhes de fumaas epetardos detonados.Dois bonecoscompem ocenrio central, um representandoJudas eoutro oDiabo, que serve de carrasco.Desde a vinda da Corte portuguesa, as autoridades policiais tentavam impedir osajuntamentos em tomo desses rituais, temerosas de protestos populares. Aqui tambmzombarias ehostilidades eram impingidas, sobretudo, contra personagens importantesdo governo,como foi ocaso dos rituais do sbado de Aleluia de 1831, em que vrios delesforam submetidos ao simulacro do enforcamento, inclusive oministro intendente gerale ocomandante das foras militares da polcia.24Arua era sempre oprincipal cenrio utilizado pela populao para ridicularizarpersonagens que se destacavam nas fileiras dos infames. Oviaj ante ingls Luccock assistiueregistrou no Rio de Janeiro , rituais cuja estratgia era ade introduzir letra jocosa comonome do indivduo visado, em msica conhecida, que se tocava geralmente pelas ruas,como, por exemplo, a que acompanhava diariamente os militares no Rio de Janeiro ,quando marchavam do quartel at o palcio. O ridculo era aplicado de forma toeficiente que o indivduo visado s vezes perdia o cargo e tinha que desaparecer. Umadessas reprimendas foi aplicada em incios do sculo XIX aum ilustre membro das elites,como castigo por liderar uma reforma do catolicismo no Brasil.25Estes no constituem os nicos exemplos de rituais de protestos que podemser encontrados na histria da participao das classes subalternas e sua coparticipao na formao do Estado eda nao no Brasil. Nem mesmo poderamosdizer que se tratam de manifestaes desconectadas umas das outras.mais plausvelconceb-las como parte da formao cultural complexa emultiforme da formaodas classes trabalhadoras no Brasil.

    24 Cf. DEi RET , ].-B. Viagem pitoresca ehist6rica ao Brasil.So Paulo/Braslia: Martins Fontes/Instituto Nacionaldo Livro e Ministrio da Educao e Cultura, 1975. tomo 11 , vol. m.p. 190ss.

    25 Cf. LuCCOCK,]. Notas sobre o Rio dejaneiro epartes meridionais do Brasil. (Coleo Reconquista do Brasil ,vol. 21) . So PaulolBelo Horizonte: Edusp/Itatiaia, 1975.

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    82. M E D ~ E S VOL. 9-N.l/2004Por fim, necessrio enfatizar que as reflexes deste artigo no se pretendem

    como crtica exaustiva do percurso intelectual de Edward Thompson, nem tampouco dahistoriografia clssicaecontemporneado Brasil. Nosso objetivo foi muito mais explorarpossibilidades que aobrade Thompson oferece paraapesquisahistrica no Brasil, algumasdas quais temos abraado como causa importante.