a conta que não fecha

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De onde vem o dinheiro O nanciamento das três universidades estaduais paulistas (Unicamp, USP e Unesp) ocorre por duas formas: A primeira delas, a chamada verba orçamentária, vem dos Recursos do Tesouro do Estado (RTE). O montante é denido principalmente a partir de um percentual do ICMS arrecadado em São Paulo. Do montante da arrecadação do ICMS, 75% ca com o estado e 25% é distribuído entre os municípios. Do que ca com o estado (a chamada quota- parte do estado), 9,57% é repassado para as três universidades, sendo que a parcela da Unicamp corresponde a 2,1958% da quota-parte do estado; A segunda forma de nanciamento das universidades se dá por verbas extra-orçamentárias, através de agências de fomento à pesquisa (Fapesp, CNPq), convênios, prestação de serviços etc. É importante destacar que essa verba não é contabilizada na distribuição orçamentária da universidade, mesmo sendo regular e perene em muitos casos. Folha de pagamento ou manutenção da estrutura universitária, por exemplo, não comprometem estas verbas. A principal fonte de verbas da universidade, portanto, vem um imposto porcentual sobre o preço das mercadorias. A arrecadação cresce naturalmente com o aumento dos preços, o que já garante às universidades condição de se comprometer com o poder de compra dos salários. Seja qual for o comprometimento... O comportamento da arrecadação de ICMS Todo nal de ano é feita uma previsão de arrecadação do ICMS para o ano subsequente, e com base nisso é feita a distribuição orçamentária nas universidades. É importante salientar que as arrecadações mensais não são homogêneas, visto que diversas variações sazonais fazem com que meses de maior arrecadação compensem aqueles em que há menor movimentação econômica. Em termos práticos, isso signica que na medida em que se avança o ano, a arrecadação cresce em termos reais. Considerando as arrecadações de ICMS no estado de São Paulo de 1999 a 2013, temos a seguinte relação de arrecadação: Na medida em que o orçamento das universidades varia diretamente com essa variação de arrecadação do ICMS, é notável que os últimos trimestres compensem o maior comprometimento com os gastos dos primeiros trimestres, principalmente o gasto com folha de pagamento. Porém, a apresentação feita pelos reitores do comprometimento do orçamento com folha de pagamento não leva em conta esse fator, fazendo com que os primeiros meses do ano (justamente quando acontece nossa data-base e negociações salariais) apresentem um comprometimento quase “catastróco” com folha de pagamento. Será que esse ano não é possível dar reajuste? Nesse ano de 2014 o discurso não foi diferente, talvez até mais alarmante. Os reitores têm feito um discurso enfático de armação do reajuste de 0% a partir de uma suposta crise nanceira das universidades estaduais paulistas. No entanto, é importante que olhemos para alguns dados para entender se de fato existe uma situação de crise. Olhando para a arrecadação consolidada no primeiro trimestre desse ano, podemos notar que ela foi R$ 785.021.010 maior que a previsão inicial (um aumento de 3,81%). Segundo o documento da primeira revisão orçamentária da Unicamp elaborado pela AEPLAN, o crescimento real (ou seja, o crescimento já descontando a inação) da arrecadação do ICMS no primeiro trimestre desse ano comparado com o primeiro trimestre do ano passado foi de 4,0%. Ou seja, no primeiro trimestre de 2014 o ICMS cresceu 4,0% a mais que a inação medida nesse período. Curioso também notar que a inação considerada pela AEPLAN para elaboração desse dado foi o IGP-DI. Esse índice é maior do que o IPC/FIPE, que eles usam nos momentos de negociação salarial (para efeito comparativo, se considerarmos o período de maio/2013 a abril/2014, que usamos para calcular o reajuste na nossa data-base de 2014, o IPC/FIPE é de 5,2% e o IGP-DI é de 8,0964%). Ou seja, quando negociam nossos salários usam um índice menor, mas usam outro índice (em geral maior) para “esconder” quanto o ICMS tem crescido. Em resumo, o que esse dado do primeiro trimestre nos diz é que se nos fosse concedido um reajuste salarial que considerasse a inação (pelo índice maior, do IGP-DI) mais 4,0% de aumento real, isso ainda não signicaria um maior comprometimento do orçamento da universidade com folha de pagamento. Apenas seria repassado para nosso salário o aumento da arrecadação das universidades a partir do aumento de arrecadação do ICMS. Por m, o argumento de crise orçamentária nas universidades se torna mais irreal quando presenciamos gastos como a compra da Fazenda Argentina ou o pagamento de super-salários. Para garantir os direitos dos trabalhadores, os reitores sempre dão uma desculpa e tentam nos enrolar. Não podemos aceitar! Dinheiro tem, eu quero o meu também! Vamos à Luta A conta que não fecha facebook.com/vamosaluta

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Boletim do Vamos à Luta! sobre o financiamento das universidades, para embasamento na campanha salarial 2014

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Page 1: A conta que não fecha

De onde vem o dinheiro

O financiamento das três universidades estaduais paulistas (Unicamp, USP e Unesp) ocorre por duas formas:

A primeira delas, a chamada verba orçamentária, vem dos Recursos do Tesouro do Estado (RTE). O montante é definido principalmente a partir de um percentual do ICMS arrecadado em São Paulo. Do montante da arrecadação do ICMS, 75% fica com o estado e 25% é distribuído entre os municípios. Do que fica com o estado (a chamada quota-parte do estado), 9,57% é repassado para as três universidades, sendo que a parcela da Unicamp corresponde a 2,1958% da quota-parte do estado;

A segunda forma de financiamento das universidades se dá por verbas extra-orçamentárias, através de agências de fomento à pesquisa (Fapesp, CNPq), convênios, prestação de serviços etc. É importante destacar que essa verba não é contabilizada na distribuição orçamentária da universidade, mesmo sendo regular e perene em muitos casos. Folha de pagamento ou manutenção da estrutura universitária, por exemplo, não comprometem estas verbas.

A principal fonte de verbas da universidade, portanto, vem um imposto porcentual sobre o preço das mercadorias. A arrecadação cresce naturalmente com o aumento dos preços, o que já garante às universidades condição de se comprometer com o poder de compra dos salários. Seja qual for o comprometimento...

O comportamento da arrecadação de ICMS

Todo final de ano é feita uma previsão de arrecadação do ICMS para o ano subsequente, e com base nisso é feita a distribuição orçamentária nas universidades. É importante salientar que as arrecadações mensais não são homogêneas, visto que diversas variações sazonais fazem com que meses de maior arrecadação compensem aqueles em que há menor movimentação econômica. Em termos práticos, isso significa que na medida em que se avança o ano, a arrecadação cresce em termos reais. Considerando as arrecadações de ICMS no estado de São Paulo de 1999 a 2013, temos a seguinte relação de arrecadação:

Na medida em que o orçamento das universidades varia diretamente com essa variação de arrecadação do ICMS, é notável que os últimos trimestres compensem o maior comprometimento com os gastos dos primeiros trimestres, principalmente o gasto com folha de pagamento. Porém, a apresentação feita pelos reitores do comprometimento do orçamento com folha de pagamento não leva em conta esse fator, fazendo com que os primeiros meses do ano (justamente quando acontece nossa data-base e negociações salariais) apresentem um comprometimento quase “catastrófico” com folha de pagamento.

Será que esse ano não é possível dar reajuste?

Nesse ano de 2014 o discurso não foi diferente, talvez até mais alarmante. Os reitores têm feito um discurso enfático de afirmação do reajuste de 0% a partir de uma suposta crise financeira das universidades estaduais paulistas. No entanto, é importante que olhemos para alguns dados para entender se de fato existe uma situação de crise.

Olhando para a arrecadação consolidada no primeiro trimestre desse ano, podemos notar que ela foi R$ 785.021.010 maior que a previsão inicial (um aumento de 3,81%).

Segundo o documento da primeira revisão orçamentária da Unicamp elaborado pela AEPLAN, o crescimento real (ou seja, o crescimento já descontando a inflação) da arrecadação do ICMS no primeiro trimestre desse ano comparado com o primeiro trimestre do ano passado foi de 4,0%. Ou seja, no primeiro trimestre de 2014 o ICMS cresceu 4,0% a mais que a inflação medida nesse período.

Curioso também notar que a inflação considerada pela AEPLAN para elaboração desse dado foi o IGP-DI. Esse índice é maior do que o IPC/FIPE, que eles usam nos momentos de negociação salarial (para efeito comparativo, se considerarmos o período de maio/2013 a abril/2014, que usamos para calcular o reajuste na nossa data-base de 2014, o IPC/FIPE é de 5,2% e o IGP-DI é de 8,0964%). Ou seja, quando negociam nossos salários usam um índice menor, mas usam outro índice (em geral maior) para “esconder” quanto o ICMS tem crescido.

Em resumo, o que esse dado do primeiro trimestre nos diz é que se nos fosse concedido um reajuste salarial que considerasse a inflação (pelo índice maior, do IGP-DI) mais 4,0% de aumento real, isso ainda não significaria um maior comprometimento do orçamento da universidade com folha de pagamento. Apenas seria repassado para nosso salário o aumento da arrecadação das universidades a partir do aumento de arrecadação do ICMS.

Por fim, o argumento de crise orçamentária nas universidades se torna mais irreal quando presenciamos gastos como a compra da Fazenda Argentina ou o pagamento de super-salários. Para garantir os direitos dos trabalhadores, os reitores sempre dão uma desculpa e tentam nos enrolar. Não podemos aceitar! Dinheiro tem, eu quero o meu também! Vamos à Luta

A conta que não fecha

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