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A CONSTRUÇÃO DE SENTIDO NO GÊNERO QUADRINHOS: UMA ANÁLISE DO FENÔMENO DA MESCLAGEM Ada Lima Ferreira de Sousa (UFRN) [email protected] RESUMO: o objetivo deste trabalho é evidenciar o fenômeno da mesclagem como processo de construção dos sentidos no gênero quadrinhos. Esta discussão ancora-se nos pressupostos da Linguística Cognitiva segundo os quais construímos sentidos ao ativarmos categorias linguísticas e elementos não-linguísticos, socialmente construídos e culturalmente compartilhados, cuja mobilização permite elaborar o que chamamos de realidade. Os dados apresentados foram obtidos a partir da análise das obras V de Vingança, de Alan Moore e Davyd Lloyd, e Palestina, de Joe Sacco, à luz das teorias cognitivas sobre linguagem e compreensão. Esta pesquisa permitiu-nos a identificação de ocorrências da mesclagem, culminando em construções metafóricas, durante a leitura das histórias em quadrinhos. Propomos o conceito de mesclagem semiológica para designar o fenômeno que resulta nas metáforas próprias dos gêneros compostos por códigos verbais e não verbais. Pretendemos, através da exposição desses dados, mostrar que a junção de imagens e palavras, comumente compreendida como elemento facilitador da leitura, pode, na verdade, resultar em jogos complexos, cujas pistas nem sempre são recuperadas em um primeiro contato. Palavras-chave: Quadrinhos, Mesclagem, Metáfora. Introdução O objetivo deste artigo é evidenciar ocorrências da mesclagem como processo de construção de sentidos no gênero quadrinhos. A análise do corpus as obras Palestina: na Faixa de Gaza (SACCO, 2003), Palestina: uma nação ocupada (Id., 2005) e V de Vingança (MOORE; LLOYD, 2006) é ancorada na Teoria dos Espaços Mentais (FAUCONNIER; TURNER, 2002) e na Teoria da Metáfora (LAKOFF; JOHNSON, 1980, 1999), desenvolvidas no âmbito da Linguística Cognitiva. Com base nesse aparato teórico, e entendendo os quadrinhos como um gênero em que a união dos textos verbal e não verbal fornece pistas para a construção do sentido, pretendemos mostrar que a junção desses mecanismos de naturezas diversas, comumente compreendida como elemento facilitador da leitura, pode, na verdade, resultar em jogos complexos, cujas pistas nem sempre são recuperadas no primeiro contato do leitor com a obra. Metodologia Elegemos, como ponto de partida para a análise do corpus, a metodologia da introspecção, definida por Talmy (2005, p. 12) como “a atenção consciente direcionada por um usuário da linguagem a aspectos linguísticos particulares, como se manifestam em sua própria cognição”. Logo, a análise de dados apresentada neste artigo é fundamentada na nossa compreensão acerca das obras lidas. Considerando nosso interesse específico nos mecanismos cognitivos acionados durante esse processo, acreditamos que, nesse primeiro momento da pesquisa, a introspecção é um instrumento válido; afinal, sejam quais forem as compreensões dos leitores, as estruturas acionadas são basicamente as mesmas. No entanto, temos ciência de que o auxílio de outras metodologias possibilitará uma apreciação mais ampla. Dados obtidos junto a outros compreendedores poderão indicar aspectos não observados a partir da introspecção. Assim, pretendemos, posteriormente, realizar experimentos com um grupo de leitores, de modo a registrar os sentidos construídos por esses compreendedores durante a leitura das obras que compõem o corpus da nossa pesquisa. Mas, a princípio, a introspecção fornece as pistas necessárias à análise preliminar dos dados.

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A CONSTRUÇÃO DE SENTIDO NO GÊNERO QUADRINHOS: UMA ANÁLISE DO

FENÔMENO DA MESCLAGEM

Ada Lima Ferreira de Sousa (UFRN)

[email protected]

RESUMO: o objetivo deste trabalho é evidenciar o fenômeno da mesclagem como processo de construção dos

sentidos no gênero quadrinhos. Esta discussão ancora-se nos pressupostos da Linguística Cognitiva segundo os

quais construímos sentidos ao ativarmos categorias linguísticas e elementos não-linguísticos, socialmente

construídos e culturalmente compartilhados, cuja mobilização permite elaborar o que chamamos de realidade.

Os dados apresentados foram obtidos a partir da análise das obras V de Vingança, de Alan Moore e Davyd

Lloyd, e Palestina, de Joe Sacco, à luz das teorias cognitivas sobre linguagem e compreensão. Esta pesquisa

permitiu-nos a identificação de ocorrências da mesclagem, culminando em construções metafóricas, durante a

leitura das histórias em quadrinhos. Propomos o conceito de mesclagem semiológica para designar o fenômeno

que resulta nas metáforas próprias dos gêneros compostos por códigos verbais e não verbais. Pretendemos,

através da exposição desses dados, mostrar que a junção de imagens e palavras, comumente compreendida

como elemento facilitador da leitura, pode, na verdade, resultar em jogos complexos, cujas pistas nem sempre

são recuperadas em um primeiro contato.

Palavras-chave: Quadrinhos, Mesclagem, Metáfora.

Introdução

O objetivo deste artigo é evidenciar ocorrências da mesclagem como processo de

construção de sentidos no gênero quadrinhos. A análise do corpus – as obras Palestina: na

Faixa de Gaza (SACCO, 2003), Palestina: uma nação ocupada (Id., 2005) e V de Vingança

(MOORE; LLOYD, 2006) – é ancorada na Teoria dos Espaços Mentais (FAUCONNIER;

TURNER, 2002) e na Teoria da Metáfora (LAKOFF; JOHNSON, 1980, 1999), desenvolvidas no

âmbito da Linguística Cognitiva. Com base nesse aparato teórico, e entendendo os quadrinhos

como um gênero em que a união dos textos verbal e não verbal fornece pistas para a

construção do sentido, pretendemos mostrar que a junção desses mecanismos de naturezas

diversas, comumente compreendida como elemento facilitador da leitura, pode, na verdade,

resultar em jogos complexos, cujas pistas nem sempre são recuperadas no primeiro contato do

leitor com a obra.

Metodologia

Elegemos, como ponto de partida para a análise do corpus, a metodologia da

introspecção, definida por Talmy (2005, p. 12) como “a atenção consciente direcionada por

um usuário da linguagem a aspectos linguísticos particulares, como se manifestam em sua

própria cognição”. Logo, a análise de dados apresentada neste artigo é fundamentada na nossa

compreensão acerca das obras lidas. Considerando nosso interesse específico nos mecanismos

cognitivos acionados durante esse processo, acreditamos que, nesse primeiro momento da

pesquisa, a introspecção é um instrumento válido; afinal, sejam quais forem as compreensões

dos leitores, as estruturas acionadas são basicamente as mesmas. No entanto, temos ciência de que o auxílio de outras metodologias possibilitará uma

apreciação mais ampla. Dados obtidos junto a outros compreendedores poderão indicar

aspectos não observados a partir da introspecção. Assim, pretendemos, posteriormente,

realizar experimentos com um grupo de leitores, de modo a registrar os sentidos construídos

por esses compreendedores durante a leitura das obras que compõem o corpus da nossa

pesquisa. Mas, a princípio, a introspecção fornece as pistas necessárias à análise preliminar

dos dados.

O gênero quadrinhos

A estrutura dos quadrinhos é comumente caracterizada pela utilização de códigos

verbais e não verbais, embora seja possível criar uma história inteira apenas com imagens.

McCloud (2005), inclusive, aponta a existência de manifestações de arte sequencial1

totalmente compostas por figuras em pinturas egípcias datadas dos anos 1.300 a.C. e em

manuscritos em imagem pré-colombianos encontrados por Cortés em torno do ano de 1519.

Embora a invenção da imprensa não tenha impedido artistas de investirem no uso

exclusivo de figuras em suas produções2, a possibilidade de unir o texto verbal ao não verbal

iniciou um novo capítulo para a arte sequencial. Atualmente, grande parte das histórias em

quadrinhos é composta por palavras e por figuras. Apesar de haver obras que enfatizam um

desses dois mecanismos, o fato é que os leitores de quadrinhos são brindados com a

possibilidade de construir o sentido a partir de elementos de naturezas distintas. McCloud

(Ibid, p.156) observa:

em quadrinhos, as palavras e imagens são como parceiros de dança e cada

um assume sua vez conduzindo. Quando os dois tentam conduzir, a

concorrência pode subverter as metas globais, embora uma pequena

concorrência, às vezes, possa produzir resultados apreciáveis.

Além do texto verbal e das representações gráficas de personagens e de cenários,

elementos típicos dos quadrinhos, como as sarjetas3, os requadros

4, os espaçamentos entre os

quadros, os formatos dos balões, entre outros, podem funcionar como pistas para que o leitor,

a partir delas, construa sua compreensão acerca da história. O enquadramento de certos

detalhes da ação, por exemplo, “não só define seu perímetro, como estabelece a posição do

leitor em relação à cena e indica a duração do evento” (EISNER, 2001, p.25). A noção de

tempo é construída a partir da quantidade de quadros, que é aumentada ou diminuída, de

modo a tornar a ação mais ou menos segmentada (Id., ibid., p.30). As sarjetas, os requadros e

o formato dos quadros podem ser explorados em função da noção de espaço (MCCLOUD,

2005, p.101). Diversas tipologias podem ser utilizadas nos textos escritos nos interiores dos

balões e dos quadros, dependendo da intenção do autor quanto à representação do tom e do

volume de voz dos personagens, de modo que o leitor possa “ouvir com os olhos” (Id., 2008,

p.146), e assim por diante.

Os autores de quadrinhos contam, ainda, com recursos que, embora nem sempre

perceptíveis à primeira vista, são muito eficientes no que diz respeito ao acionamento das

capacidades cognitivas do leitor. Eisner (2001, 2008) e McCloud (2005, 2008) abordam, entre

outros aspectos, a importância da caracterização dos personagens – através de gestos, posturas

e traços corporais e faciais – de modo a evocar as experiências e invocar as emoções do leitor.

Não se trata, apenas, de, com base num vasto repertório gestual constituído culturalmente,

reconhecer e aceitar a intenção expressa pelo autor; trata-se, também, da identificação com

certos aspectos da obra. McCloud (2005), por exemplo, cita a empatia com o cartum5 para

mostrar como somos centrados em nossa imagem, a ponto de, a partir das nossas

1 Termo popularizado por Eisner (2001) em referência à sequencialidade de imagens, característica do gênero

quadrinhos. 2 McCloud (Ibid.) cita como exemplos de “sofisticação da história com imagens”, entre outros, O progresso de

uma prostituta, sequência de ilustrações de William Hogarth publicada em 1731, e A week of kindness, romance

de Max Ernst, datado de 1934 e composto por 182 gravuras. 3 Linhas que separam os quadros.

4 Linhas que demarcam os limites dos quadros.

5 Representação simplificada do rosto humano, em que comumente a face é desenhada como um círculo, os

olhos como pontos e a boca como uma linha.

características, preenchermos formas icônicas e atribuirmos identidades e emoções a objetos

inanimados. Isso explicaria porque há uma maior identificação dos leitores com personagens

cujos traços são mais simplificados. Por outro lado, técnicas de desenho mais realistas

encaixam-se muito bem em cenários, e a utilização desta técnica, concomitantemente aos

traços cartunizados dos personagens, possibilita o que o autor chama de efeito-máscara:

Como ninguém espera que as pessoas se identifiquem com paredes ou

paisagens, os cenários tendem a ser mais realistas. Em alguns quadrinhos,

essa separação é bem mais pronunciada. O estilo Tintin6 de linhas simples

combina personagens muito icônicos com cenários extraordinariamente

realistas. Essa combinação permite que os leitores se disfarcem num

personagem e entrem num mundo sensorialmente estimulante. Um conjunto

de linhas pra ver, outro conjunto pra ser. (MCCLOUD, 2005, p. 42-43).

Esses aspectos indicam que as operações de construção de sentido a partir de códigos

distintos envolvem diversos mecanismos cognitivos. Antes de proceder à análise, na qual

serão evidenciados esses processos, faz-se mister esclarecer alguns conceitos aos quais

recorrerei.

Esquemas

Esquemas são estruturas procedentes das experiências sensoriomotoras que

proporcionam ao ser humano as noções de orientação, forma, equilíbrio, entre outras. Tratam-

se, portanto, do aparato que compõe a memória pessoal, construída a partir do que o corpo

permite experienciar na interação física com o ambiente em que o ser humano está situado. Os

esquemas mais frequentes, conforme Duque e Costa (no prelo), são representados a seguir7.

Figura 1: Esquema origem/caminho/meta

O esquema origem/caminho/meta resulta da compreensão de que os movimentos do

corpo pressupõem deslocamentos ao longo de uma trajetória, que tem, necessariamente, um

ponto de partida e um ponto de chegada.

Figura 2: Esquema contêiner

6 Protagonista de As Aventuras de Tintim, série de histórias em quadrinhos criada em 1929 pelo belga Georges

Prosper Remi, conhecido como Hergé. 7 As figuras 1, 2, 3, 4, 5 e 6 foram retiradas de Duque e Costa (no prelo).

Nosso corpo pode ser experimentado como um contêiner, cujo conteúdo são os

órgãos, e também como conteúdo de um outro contêiner, quando estamos num espaço

qualquer. Esse esquema é evidenciado quando dizemos que estamos dentro da casa, ou que a

casa fica dentro de um condomínio.

Figura 3: Esquema escalas

As escalas correspondem à relação entre quantidade e acúmulo. Com base nas nossas

experiências, compreendemos, por exemplo, que é possível agrupar elementos, e que, ao

adicionarmos substâncias a um contêiner, o nível do seu conteúdo aumenta.

Figura 4: Esquema parte-todo

O corpo humano é um todo constituído por partes (órgãos, membros etc). Essa

percepção do esquema todo-parte é estendida ao que nossos sensores identificam como sendo

estruturas inteiras compostas por peças, como as pernas da cadeira, os braços do sofá etc.

Figura 5: Esquema ligação

O esquema ligação indica conexão entre duas entidades, como a indumentária de um

indivíduo e uma situação em que essa roupa, costumeiramente, é usada. Em termos de

experiência corpórea, a ligação primordial do ser humano se dá pelo cordão umbilical, que o

liga ao corpo da sua mãe e, tão logo é cortado, deixa o umbigo como o indicador dessa

separação.

Figura 6: Esquema centro-periferia

Nosso corpo tem um centro – o tronco – e membros periféricos; acessamos esse

esquema, também, ao identificarmos as partes principais dos objetos e ressaltá-las, quando

nos referimos a eles.

Frames

De acordo com Minsky (1975), frames são estruturas de dados correspondentes a

estereótipos de situações. Compreendemos, a partir de nossa experiência no meio em que

vivemos, guiados por convenções sociais e culturais, que há cenários, roteiros e papéis

específicos para determinadas situações. Um indivíduo que vai a uma celebração religiosa,

por exemplo, tem uma expectativa sobre o ritual de que participará e sobre o comportamento

que seus pares esperam dele, e é em função dessa expectativa que ele se comportará de um

determinado modo. Essa memória social é remodelada à medida que novas informações são

agregadas ao conhecimento prévio, de modo que o indivíduo seja capaz de adaptar-se a

situações ainda não vivenciadas. Portanto, os frames são fundamentais aos processos de

interação.

A mesclagem conceptual

Fauconnier e Turner (2002) postulam que as construções de sentidos ocorrem pelo

blending8, um processo cognitivo que opera sobre dois espaços mentais

9 de modo que, a partir

dessa integração, um terceiro espaço mental – o espaço-mescla – é criado. Essa operação

envolve a projeção tanto de informações relativamente estabilizadas – tais como as que

compõem os frames e os esquemas – como de novas informações. É desse modo que criamos,

online, novas categorias e significados que emergem quando usamos a linguagem.

A arquitetura básica da mesclagem é graficamente representada por Fauconnier e

Turner conforme o gráfico a seguir:

Figura 7: Rede de integração conceptual (adaptada de Fauconnier & Turner, 2002, p.46)10

8 Blending foi traduzido no Brasil como mesclagem, por Margarida Salomão.

9 Os espaços mentais são operadores cognitivos dinâmicos, que organizam-se enquanto pensamos e falamos.

10 O diagrama da rede de integração conceptual é reproduzido a título de ilustração e de apresentação da Teoria

da Mesclagem Conceptual. Dada a natureza preliminar da análise dos dados, esta não é formalmente

representada neste trabalho.

A metáfora

Desde Lakoff e Johnson (1980), a metáfora não é mais vista como mero recurso

estilístico ou desvio de linguagem. Ela é, na verdade, uma das estratégias mais comumente

empregadas para categorizarmos o mundo. A metáfora permite-nos compreender um aspecto

de um conceito em termos de outro. As construções que resultam dessas projeções entre

domínios distintos permitem compreender a metáfora como produto das intrincadas relações

biológicas, sociais, históricas e culturais nas quais se enreda o homem.

No que diz respeito ao papel da estrutura biológica humana, Lakoff e Johnson (1999,

p.18-19) compreendem que

as propriedades do corpo humano [...] contribuem para as peculiaridades do

sistema conceptual. Nós temos olhos e orelhas, pernas e braços que

trabalham de certas maneiras e não de outras. Temos um sistema visual, com

mapas topográficos e células sensíveis à orientação, que estruturam nossa

habilidade de conceptualizar relações espaciais. Nossas habilidades de

movimento e de percepção do movimento das outras coisas dão ao

movimento um papel fundamental em nosso sistema conceptual. O fato de

termos músculos e usá-los para aplicar força de certas formas leva à

estrutura de nosso sistema de conceitos causais. O que é importante,

portanto, não é apenas o fato de termos corpos e de que o pensamento é de

certa forma corporificado. O que importa de fato é que a natureza peculiar de

nosso corpo molda nossas possibilidades de conceptualização e

categorização11

[tradução nossa].

Ou seja, nossa experiência com o mundo, através do corpo, é fundamental para os

processos de construção dos sentidos. Dessa experiência, resulta uma categoria de metáfora.

Tomemos como exemplo a configuração da nossa face: a localização dos nossos olhos, da

boca e do nariz nos leva a concluir que somos feitos para andar para a frente. Assim,

pensamos nas situações que ainda vamos vivenciar como situadas diante de nós, e nas

situações já vividas como algo que está atrás de nós, de maneira que elaboramos enunciados

do tipo “temos um semestre inteiro pela frente” e “deixei para trás as terríveis experiências

vividas naquela casa” (MARTELOTTA; PALOMANES, 2008). Essas metáforas evidenciam

o fato de que as atividades cognitivas surgem a partir das nossas experiências com o ambiente

à nossa volta. Dessa forma, podemos concluir que a dicotomia mente/corpo não faz sentido na

atual agenda de estudos linguísticos, visto que ação e pensamento estão ligados, e isso é

evidenciado pelo fato de as experiências afetarem nosso aparato cognitivo. Paredes (2003,

p.203) observa que

um ser vivo não assimila passivamente informações provenientes de um

mundo externo independente de suas operações cognitivas, mas vive

experiências cujas características surgem das possibilidades operacionais

constituídas pela própria estrutura corporal. Em outras palavras, não se trata

de perceber um mundo, mas de constituir, historicamente, experiências

cognitivas.

11

(...) the properties of the human body (…) contribute to the peculiarities of our conceptual system. We have

eyes and ears, arms and legs that work in certain very definitive ways and not in others. We have a visual

system, with topographic maps and orientation-sensitive cells, that provides structure for our ability to

conceptualize spatial relations. Our abilities to move in the ways we do and to track the motion of other things

give motion a major role in our conceptual system. The fact that we have muscles and use them do apply force in

certain ways lead to the structure of our system of causal concepts. What is important is not just that we have

bodies and that thought is somehow embodied. What is important is that the peculiar nature of our bodies shapes

our very possibilities for conceptualization and categorization.

Existem, ainda, metáforas que resultam de mesclagens recorrentes, possíveis graças à

projeção de domínios construídos a partir de nossas experiências, na interação com o meio,

com os demais sujeitos e com todo o aparato social, histórico e cultural que nos cerca. Somos

capazes de mesclar esquemas de naturezas diversas, de modo a construir metáforas que, de

tão utilizadas, acabam se estabilizando sociocognitivamente. Lakoff e Johnson (1980, p.8)

citam, por exemplo, a metáfora TEMPO É DINHEIRO, evidenciada em construções como

“preciso ganhar tempo”; “estou perdendo tempo com você”; “cada minuto será precioso para

nós”, entre outras. Segundo os autores, fazemos essas projeções porque vivemos em uma

cultura na qual o trabalho é associado ao tempo que ele toma, e costumamos quantificar esse

tempo em horas, semanas ou dias a serem pagos em troca do serviço prestado. Com base

nessas práticas típicas nas sociedades industrializadas, pensamos no tempo como um “recurso

limitado que usamos para cumprir nossas metas” e como uma “mercadoria valiosa” que pode

ser usada, gasta, bem ou mal investida, entre outras aplicações comuns ao domínio dinheiro.

Podemos pensar em outras inúmeras construções semelhantes: o amor como um jogo, a vida

como um palco, as situações positivas como “para cima”, as situações negativas como “para

baixo”, entre outras metáforas que revelam como conceptualizamos domínios mais abstratos a

partir de experiências de caráter mais concreto. Através dessas construções metafóricas

sociocognitivamente estabilizadas, resultantes de mesclagens recorrentes, conseguimos

elaborar e mostrar a visão que construímos do mundo a partir da nossa ação nele.

Além das metáforas estabilizadas, existem, ainda, construções não recorrentes,

evidenciadas por mesclagens não convencionais, que acabam por elaborar novas perspectivas

de mundo. Esse processo acontece frequentemente nos textos literários. Sendo os quadrinhos,

também, um gênero cujas características possibilitam a construção de novos sentidos para o

que chamamos de “realidade”, evidenciaremos, ao longo da discussão sobre os dados

analisados, a existência de metáforas não recorrentes, ancoradas nos textos verbal e não

verbal.

Análise dos dados

Com base no cruzamento dos dados com o referencial teórico estudado, propomos o

conceito de mesclagem semiológica para classificar o fenômeno que evidencia as construções

– metafóricas ou não – próprias do gênero quadrinhos. Baseamo-nos em Salomão (1999,

p.62), que cita o conceito de semiologização do contexto e diz ser necessário

assinalar a concorrência da semiose lingüística clássica (expressão

gramatical e lexical) com as outras semioses que a ela se agregam [...]

Como tratar, por exemplo, o discurso irônico enunciado oralmente, feita a

abstração da voz e do gesto? Como tratar, de outra parte, o discurso escrito,

desconsiderando convenções genéricas, molduras comunicativas,

informações contextualmente relevantes? Em qualquer caso, a pista léxico-

sintática precisaria ser enriquecida para a eficaz construção do sentido

[grifos do original].

O contexto, nesse caso, não é o mero conjunto de variáveis não linguísticas a serem

tomadas como respaldo à interpretação das variáveis linguísticas. Contexto, na perspectiva

cognitivista, é o que está disponível cognitivamente e nos permite ler a exterioridade. De

acordo com Duque e Costa (no prelo),

sistemas de representação, construídos discursivamente, regulam as

estruturas mentais e perceptivas dos sujeitos e, ao mesmo tempo, são

regulados por elas, organizando espaços sociais e articulando significados

coletivos. O fenômeno linguístico, portanto, é absolutamente imbricado com

o contexto sociocultural em que ocorre e, simultaneamente, o contexto em

que uma ação discursiva se realiza não é independente da memória

conversacional dos sujeitos, de suas experiências corpóreas e das estruturas

conceptuais disponibilizadas no presente, constituídas, inclusive, por suas

emoções.

Portanto, não se pode considerar a linguagem e o contexto como variáveis separadas

e estanques. Consoante as tendências mais recentes na agenda de investigações sobre a

linguagem, há uma

continuidade essencial entre linguagem, conhecimento e realidade que não

as reduz entre si, mas as redefine em sua fragmentária identidade (como

realidade, ou como conhecimento, ou como linguagem), segundo as

necessidades locais da interação humana [grifos do original] (SALOMÃO,

1999, p.71).

Destarte, na perspectiva cognitivista, a construção do sentido se dá num ambiente

constituído por indivíduos que, ao experienciarem o meio em que vivem e a interação com

seus pares, esses sujeitos não só se conhecem, se apresentam e se ajustam às mais diversas

situações, como também constroem sentidos e (re)definem a “realidade”. Como destaca

Salomão (Ibid., p.72) ao falar desse reenquadramento constante, “ao postularmos a

continuidade essencial das semioses, reconhecemos que igualmente se misturam, como

representações, a conceptualização do mundo e a comunicação do mundo [grifo do

original]”.

Esse reenquadramento constante é perceptível em nossa linguagem, nas diversas

construções discursivas, da conversa entre amigos até o texto literário. No caso dos

quadrinhos, é possível detectar ocorrências típicas do gênero, relacionadas, especificamente, à

mesclagem entre os mecanismos verbais e os não verbais.

Figura 8: Reprodução de quadro de V de Vingança, página 12.

No início do primeiro capítulo de V de vingança, o leitor depara-se com quadros nos

quais são retratados, alternadamente, trechos das ruas de Londres e a personagem Evey

Hammond arrumando-se e maquiando-se em um quarto enquanto ouve um programa de rádio.

Os balões sobrepostos aos quadros contêm a fala do locutor, que fornece um panorama da

cidade, com informações que vão da previsão meteorológica a detalhes do discurso do

ministro da Guerra. Ao final da transmissão, o locutor diz: “este é o rosto de Londres esta

noite”. O balão com essa sentença compõe um quadro no qual é focalizada a fisionomia

assustada de Evey. Esse artifício dá ao leitor a possibilidade de concluir que O ROSTO DE

EVEY É O ROSTO DE LONDRES, ou seja, a moça e a capital inglesa, nesse momento,

aproximam-se conceptualmente. A construção desse sentido é reforçada à medida que, no

decorrer da história, são reveladas várias semelhanças entre Evey e Londres, ambas vítimas de

um regime totalitário.

As metáforas não são as únicas construções evidenciadas pelas mesclagens

conceptuais: estas se imbricam a outros fenômenos relacionados à combinação dos textos

verbal e não verbal. O exemplo a seguir, também retirado de V de Vingança, evidencia a

construção de um sentido de ironia, que só é possível se houver a combinação das imagens e

das palavras.

Figura 9: Reprodução de quadro de V de Vingança, página 12.

O balão com o texto verbal “Sua Majestade vestia roupas de seda, desenhadas

especialmente para a ocasião pelo estilista real” é sobreposto à figura pobremente vestida de

Evey. É possível, a partir desse quadro, não só imaginar a discrepância entre as roupas da

rainha e as de Evey, como também inferir que a família real vive em condições opostas às

experimentadas pelos demais ingleses. Esse é um exemplo de como a mesclagem do verbal e

do não verbal, em um só quadrinho, fornece pistas para a compreensão de toda a história.

Casos semelhantes foram encontrados em Palestina: na Faixa de Gaza e Palestina: uma

nação ocupada, como pode ser visto nos casos expostos a seguir.

Figura 10: Reprodução de Palestina: uma nação ocupada, página 1.12

Uma estratégia recorrente em Palestina é a disposição caótica dos elementos que

compõem as páginas, especialmente durante os relatos de situações marcadas por desordem e

confusão. Na página que abre o capítulo 1 da obra, por exemplo, Joe Sacco narra seu percurso

na cidade do Cairo, das ruas tumultuadas e barulhentas até o hotel onde se hospeda e inicia

uma relação amistosa com dois recepcionistas. Recursos como requadros e sarjetas,

12

Texto verbal: “Trânsito? Estou engolindo fumaça e meu catarro está preto. Barulho? Os egípcios preferem

buzinas a home theaters! Que cidade! Uma loucura! 15 milhões de cabeças com as galinhas cortadas! E entre

pirâmides e meninos faraós, estou tonto! Estou girando! Táxi! Tire-me daqui! Puxo uma cadeira. Tiro o peso dos

meus pés. Estou de papo com os recepcionistas do hotel. Está bem mais calmo agora, e a conversa está ficando

filosófica. “Existem muçulmanos e muçulmanos”. Violinos, por favor! Uma mulher de Praga! Um encontro de

dois dias! Luz de velas e cruzeiros pelo Nilo! Subindo a Torre do Cairo sabe-se lá por que preço! Em dois dias

ele torrou 500 libras egípcias! E o melhor: eles nem transaram! Taha está se divertindo com a matemática!

‘600% do seu salário! O pagamento de um semestre em dois dias!’ ‘Eu a amo!’ ‘Você está bebendo para

esquecer! Ela disse que deixará o marido por mim! Os filhos!’ ‘Agora ela diz que o ama! 500 libras!’”.

comumente utilizados para delimitar os quadros e, desse modo, conferir organização à

narrativa, são dispensados. A página assemelha-se a um único grande quadro, no qual se

misturam os balões – que contém a narração de Sacco e as falas dos recepcionistas do hotel –,

o título do capítulo e as imagens, agrupadas de modo a comporem os diferentes momentos da

trajetória: na parte superior da página, pessoas, veículos e edifícios são graficamente

representados de maneira desordenada; na parte inferior, a imagem corresponde à recepção do

hotel, onde os personagens bebem e dialogam. Esses dois momentos são delimitados pelos

balões, dispostos como se seguissem uma trajetória não linear, que também é sugerida no

texto verbal. Através dessas pistas verbais e não verbais, o compreendedor aciona o esquema

origem/caminho/meta.

Figura 11: Reprodução de Palestina, uma nação ocupada, páginas 106, 111 e 113.

No capítulo em que é narrada a história de Ghassan, um homem preso sob acusação

de integrar uma organização ilegal, as sarjetas ganham destaque: negras, simétricas e retas,

elas se cruzam de tal modo que o compreendedor pode acionar o frame prisão, e associar a

disposição das sarjetas a uma cela de cárcere. Além disso, à medida que a narrativa se

desenrola, a distância entre as sarjetas diminui paulatinamente, o que torna os quadrinhos

muito estreitos e pequenos. Essa configuração é alterada na última página do capítulo, quando

o homem é libertado por falta de provas; nesse ínterim, um único grande quadro, que toma

quase metade da página, encerra a história da prisão de Ghassan. A formatação dos quadros,

mais estreitos e escuros no momento da narrativa correspondente à prisão, e mais amplos à

medida que se aproxima o momento da libertação do personagem, é uma pista que permite ao

leitor o acionamento do esquema contêiner.

Figura 12: Reprodução de quadro de Palestina, uma nação ocupada, página 137.13

Diante do quadro acima (cf. figura 12), ao mesclar os mecanismos verbais e os não

verbais, o compreendedor pode acionar o esquema parte/todo. A fala “essa roupa é um nada,

eu praticamente anulo todas as mulheres que a usam” é sobreposta à representação gráfica de

mulheres com seus rostos cobertos, de modo que é possível associar os rostos das mulheres às

suas identidades.

Vejamos mais dois casos.

Figura 13: Reprodução de quadro de Palestina, na Faixa de Gaza, página 1814

.

13

“Tudo bem, é ótimo falar com feministas, todo mundo fez faculdade, estamos todos do mesmo lado, às vezes

poderíamos completas as frases uns dos outros... São as mulheres que vejo na rua que eu não entendo, as

mulheres muçulmanas que usam o hijab, o “véu” que esconde seus cabelos e as roupas que cobrem tudo menos o

rosto e as mãos... Vamos encarar, sou do Ocidente, já vi muitas pernas, cabelo laranja também, e outros

adereços... Mas essa roupa é um nada, eu praticamente anulo todas as mulheres que a usam, elas são apenas

sombras para mim, formas abstratas, como pombos andando pela calçada...” (Tradução retirada de Sacco, 2005). 14

“O que os americanos acham do que Israel fez? O que os americanos acham das leis internacionais? Pelo

menos eles sabem que isso existe? E as resoluções da ONU que mandam Israel se retirar? 242? 338? Ou as

resoluções da ONU só valem para o Iraque?” (Tradução retirada de Sacco, 2003).

Figura 14: Reprodução de quadro de Palestina, na Faixa de Gaza, página 30.15

Os dois quadros reproduzidos logo acima são exemplo de pistas que permitem ao

compreendedor acionar o esquema de escala. No primeiro quadrinho (cf. figura 13), os balões

são dispostos de modo a cercar e isolar a representação gráfica do personagem no momento

em que ele é duramente interpelado por seus interlocutores. No quadro seguinte (cf. figura

14), o personagem esboça alguma reação às questões que lhe são destinadas, mas seus balões

de fala quase somem, se comparados ao tamanho dos balões em que são apresentados os

temas da discussão em que Sacco está envolvido. A partir dessas pistas e do acionamento do

esquema de escalas, o leitor pode construir a compreensão de que as opiniões e as falas –

inclusive em termos de volume da voz – dos demais personagens sobrepõem-se às de Joe

Sacco.

Considerações finais

Através da exposição da análise preliminar dos dados colhidos em V de vingança e

em Palestina, pretendemos mostrar que a junção de imagens e palavras, típica do gênero

quadrinhos, pode resultar em refinados processos de construção de sentido. Os exemplos

escolhidos corroboram a ideia de que os significados, mais do que objetos mentais, são

operações de integração de espaços conceptuais que resultam do acionamento de frames e de

esquemas.

Infelizmente, a utilização de textos de naturezas distintas ainda é comumente

compreendida como um elemento facilitador para leitores inexperientes ou preguiçosos,

pouco dados a um esforço de compreensão. No entanto, os dados apresentados neste artigo

indicam que as semioses características dos quadrinhos podem resultar em complexos jogos

semânticos. Assim, o alcance das obras, em termos de significação, corresponde à

competência do leitor como sujeito capaz de recuperar as pistas linguísticas deixadas pelos

autores e de, com base nesses sinais e no conhecimento prévio que construímos a partir de

nossas experiências, compreendermos o discurso em sua amplitude.

Ressaltamos, também, a contribuição desta pesquisa com a fortuna acadêmica sobre

quadrinhos, ainda escassa na área da Linguística. Esperamos, inclusive, proporcionar uma

mudança na percepção sobre os quadrinhos, recorrentemente tratados como um gênero menor.

15

“Agora querem a minha opinião... O que acho do Hanan Ashrawi? Assad da Síria? Saddam Hussein? George

Habash? Arafat? Abu Jihad? O que os americanos acham? Da 242? 338? As outras resoluções da ON? ‘Bem...

Realmente... Como eu disse... E digo mais...” (Tradução retirada de Sacco, 2003).

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