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Por Acórdão proferido no passado dia 12 de
Junho1, o To To To Tribunal de ribunal de ribunal de ribunal de JJJJustiça da ustiça da ustiça da ustiça da UUUUnião nião nião nião
EEEEuropeia uropeia uropeia uropeia pronuncioupronuncioupronuncioupronunciou----se no sentido de que se no sentido de que se no sentido de que se no sentido de que
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membro que permita a aplicação do regime da membro que permita a aplicação do regime da membro que permita a aplicação do regime da membro que permita a aplicação do regime da
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possibilidade se encontra vedada possibilidade se encontra vedada possibilidade se encontra vedada possibilidade se encontra vedada
relativamente a sociedades irmãs residentes, relativamente a sociedades irmãs residentes, relativamente a sociedades irmãs residentes, relativamente a sociedades irmãs residentes,
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Pronunciou-se, ainda, o TJUE, neste Acórdão,
no sentido de que viola, também, o princípio
da liberdade de estabelecimento a legislação
de um Estado-membro que permita a uma
sociedade-mãe beneficiar do regime da
consolidação fiscal conjuntamente com uma
subfilial residente, sempre que esta seja
detida por aquela por intermédio de uma ou
várias sociedades residentes, mas que já não
permita beneficiar desse regime, caso a
subfilial seja detida pela sociedade-mãe por
1 Acórdão proferido no âmbito dos processos apensos n.ºs
C 39/13, C 40/13 e C 41/13 2 Em Portugal, designado por Regime Especial de
Tributação dos Grupos de Sociedades, previsto no artigo
69.º e seguintes do Código do IRC
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intermédio de sociedades não residentes que
não dispõem de um estabelecimento estável
nesse Estado Membro.
Refira-se, desde já, que eeeesta decisão poderá sta decisão poderá sta decisão poderá sta decisão poderá
ter um forte impacto em Portugal, uma vez ter um forte impacto em Portugal, uma vez ter um forte impacto em Portugal, uma vez ter um forte impacto em Portugal, uma vez
que, actualmente, que, actualmente, que, actualmente, que, actualmente, a legislação fiscal a legislação fiscal a legislação fiscal a legislação fiscal
portuguesaportuguesaportuguesaportuguesa3333 aaaapenas permite a consolidação penas permite a consolidação penas permite a consolidação penas permite a consolidação
fiscal, no caso de todas as sociedades fiscal, no caso de todas as sociedades fiscal, no caso de todas as sociedades fiscal, no caso de todas as sociedades do do do do
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em território Portuguêsem território Portuguêsem território Portuguêsem território Português, não permitindo, por , não permitindo, por , não permitindo, por , não permitindo, por
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EuropeiaEuropeiaEuropeiaEuropeia....
A respeito, em concreto, da decisão do TJUE,
importa referir que tem sido entendimento
deste Tribunal4 que o princípio da liberdade de
estabelecimento compreende, relativamente
às sociedades constituídas em conformidade
com a legislação do Estado-Membro de
estabelecimento e que tenham a sua sede
social, a sua administração central, ou o seu
estabelecimento principal, no interior da
União, o direito de exercer a sua actividade no
Estado-membro em causa, por intermédio de
uma filial, de uma sucursal ou de uma agência.
3 Nos termos do disposto no Artigo 69.º, n.º 3, alínea a), do
Código do IRC, a aplicação do regime de tributação
consolidado tem como requisito: “As sociedades
pertencentes ao grupo têm todas sede e direção efetiva
em território português e a totalidade dos seus
rendimentos está sujeita ao regime geral de tributação
em IRC, à taxa normal mais elevada”. 4 Cfr. neste sentido o Acórdão “Felixstowe Dock and
Railway Company”, C-80/12
Em face deste direito, alguns Estados-
membros adoptaram na sua legislação o
regime da consolidação fiscal, o qual permite
que as sociedades-mães residentes e as suas
filiais residentes sejam tributadas como se de
uma única unidade fiscal se tratasse. Este
regime permite que as sociedades mães e
filiais sejam tributadas pelo lucro consolidado,
o que configura uma vantagem de tesouraria
para as sociedades envolvidas –
designadamente, ao permitir consolidar ao
nível da sociedade-mãe os lucros e as perdas
das sociedades integradas na unidade fiscal e
garantir a neutralidade fiscal das transacções
realizadas entre as sociedades do grupo5.
Em alguns Estados-membros
o referido regime de consolidação fiscal é
inclusivamente alargado no sentido de
abranger as sociedades subfiliais.
Ora, em face do Acórdão agora proferido, fica
claro que se encontra violado o princípio da
liberdade de estabelecimento sempre que o
alargamento do referido regime da
consolidação fiscal às sociedades mãe
residentes que queiram ser tributadas
conjuntamente com as suas subfiliais tenha
como condição o requisito de as filiais que
detêm as subfiliais serem residentes ou
disporem de um estabelecimento estável no
Estado-membro em causa.
Refira-se, a este respeito, que a legislação
portuguesa se encontra em linha com esta
decisão, uma vez que permite a aplicação do
5 Cfr. neste sentido o Acórdão “X Holding”, C 337/08
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regime especial de tributação dos grupos de
sociedades, sempre que a sociedade
dominada seja detida pela sociedade
dominante através de uma sociedade
residente num Estado-membro, desde que
esta sociedade seja detida em pelo menos
75% pela sociedade dominante6.
Contudo, o mesmo Acórdão veio, igualmente,
afirmar que se encontra, também, violado o
princípio da liberdade de estabelecimento,
sempre que a lei exclua da aplicação do regime
da consolidação fiscal sociedades irmãs
residentes, sempre que a sociedade-mãe
comum (sociedade dominante) não tenha a
sua sede nesse Estado-membro, nem aí
disponha de um estabelecimento estável.
Conforme acima referimos, Portugal não é
impermeável a esta parte da decisão, uma vez
que a legislação fiscal portuguesa não permite
a consolidação fiscal, sempre que uma das
sociedades do grupo não tenha sede ou
direcção efectiva em Portugal.
Importa, contudo, notar, que, na sequência
desta decisão, foi já aprovada em Conselho de
Ministros uma proposta de Lei que prevê a
alteração ao Código do IRC, no sentido de
“duas ou mais sociedades cuja sociedade
dominante tenha sede ou direção efetiva
noutro Estado-Membro da União Europeia, ou
do Espaço Económico Europeu, poderem
optar pelo regime especial de tributação dos
grupos de sociedades já previsto para as que
tenham sociedade dominante em território
6 Cfr. artigo 69.º, n.º 5, alínea b), do Código do IRC
português” (vd. Comunicado do Conselho de
Ministros, de 25 de Setembro de 2014).
Importa, contudo, aguardar pela publicação da
referida Lei, para que se possa concluir, com
maior precisão, sobre o âmbito da mesma e as
suas implicações fiscais.
Sem prejuízo da entrada em vigor do referido
diploma legal e do respectivo âmbito de
aplicação, a Administração tributária deveria,
doravante, em face da decisão do TJUE ora em
apreço, ser instruída no sentido de aceitar a
consolidação fiscal, independentemente do
facto de a sociedade dominante estar
localizada na União Europeia e todos os
restantes requisitos estarem preenchidos, sob
pena de, não o fazendo, violar o referido
princípio comunitário da liberdade de
estabelecimento.
Lisboa, 30 de Setembro de 2014
Rogério M. Fernandes Ferreira
Marta Machado Almeida
Pedro Saraiva Nércio