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UNIVERSIDADE CATÓLICA PORTUGUESA ESCOLA SUPERIOR DE SAÚDE DE ALCOITÃO
INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
MESTRADO EM TERAPIA DA FALA
Área de Patologia da Linguagem
A CONSCIÊNCIA SINTÁCTICA EM CRIANÇAS DO 1º CICLO DE
ESCOLARIDADE: CONSTRUÇÃO E APLICAÇÃO DE UMA TAREFA DE
RECONSTITUIÇÃO
Orientação: Professora Doutora Anabela Gonçalves
Co-orientação: Professora Doutora Maria João Freitas
Discente: Magda Maria Correia de Almeida e Costa
Lisboa,
Abril de 2010
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
1
ÍNDICE
Índice de Quadros ......................................................................................................................... 3
Agradecimentos ............................................................................................................................ 6
Resumo .......................................................................................................................................... 7
Abstract.......................................................................................................................................... 8
Introdução ...................................................................................................................................... 9
1. Enquadramento Teórico ......................................................................................................... 12
1.1. Constituintes sintácticos e metodologia para a sua identificação ............................................ 12
1.2. Consciência linguística e Consciência sintáctica .................................................................... 16
2. Metodologia ............................................................................................................................. 28
2.1. Objectivo, Questões de Investigação e Hipóteses .................................................................. 28
2.2. Caracterização da amostra ..................................................................................................... 30
2.3. Material e Procedimentos ....................................................................................................... 32
2.3.1. Construção da tarefa de reconstituição ............................................................................... 32
2.3.2. Aplicação das tarefas construídas ....................................................................................... 38
2.4. Tratamento dos dados ............................................................................................................ 42
3. Apresentação, Descrição e Discussão dos Resultados ....................................................... 50
3.1. Apresentação e Descrição dos Resultados das Sequências Gramaticais............................... 51
3.1.1. Resultados do 1º ano de escolaridade................................................................................. 52
3.1.2. Resultados do 4º ano de escolaridade................................................................................. 54
3.1.3. Comparação dos resultados das sequências gramaticais no 1º e 4º anos de escolaridade . 56
3.2. Apresentação e Descrição dos Resultados das Sequências Agramaticais ............................. 58
3.2.1. Agramaticalidade por não observação de concordância nominal ........................................ 60
3.2.1.1. Resultados do 1º ano de escolaridade .............................................................................. 61
3.2.1.2. Resultados do 4º ano de escolaridade .............................................................................. 65
3.2.1.3. Comparação dos resultados das sequências agramaticais por não observação de
concordância nominal no 1º e no 4º anos de escolaridade ............................................................ 69
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
2
3.2.2. Agramaticalidade por deslocação de uma parte de um constituinte..................................... 71
3.2.2.1. Resultados do 1º ano de escolaridade .............................................................................. 71
3.2.2.2. Resultados do 4º ano de escolaridade .............................................................................. 75
3.2.2.3. Comparação dos resultados relativos às sequências agramaticais por deslocação de uma
parte de um constituinte nos 1º e 4º anos de escolaridade ............................................................ 79
3.2.3. Agramaticalidade por inserção de uma expressão no interior de um constituinte ................ 82
3.2.3.1. Resultados do 1º ano de escolaridade .............................................................................. 82
3.2.3.2. Resultados do 4º ano de escolaridade .............................................................................. 87
3.2.3.3. Comparação dos resultados das sequências agramaticais por inserção de uma expressão
no interior de um constituinte no 1º e no 4º anos de escolaridade ................................................. 92
3.2.4. Comparação dos resultados das sequências agramaticais no 1º e no 4º anos de
escolaridade .................................................................................................................................. 94
3.3. Discussão dos Resultados ..................................................................................................... 96
Conclusão .................................................................................................................................. 103
Referências Bibliográficas........................................................................................................ 106
Apêndices .................................................................................................................................. 111
Apêndice I - Ficha Socio-Profissional .......................................................................................... 112
Apêndice II - Classificação do Meio Socio-Profissional................................................................ 114
Apêndice III – Carta de pedido de autorização para elaboração do estudo nos Agrupamentos de
Escolas e no Colégio ................................................................................................................... 116
Apêndice IV – Carta de pedido de autorização aos Encarregados de Educação para participação
dos seus educandos no estudo ................................................................................................... 118
Apêndice V – Conjunto de tarefas construídas e aplicadas ........................................................ 120
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
3
ÍNDICES DE QUADROS
Quadro 1 – Compilação de tarefas e capacidades testadas para avaliação de conhecimento e de
consciência fonológica (Alves et al, em preparação, citados por Afonso, 2009) ....................................... 21
Quadro 2 – Caracterização da amostra estudada relativamente ao ano de escolaridade, ao género e ao
meio socio-profissional ..................................................................................................................... 32
Quadro 3 – Itens da tarefa de reconstituição ....................................................................................... 37
Quadro 4 – Itens da tarefa de supressão ............................................................................................ 39
Quadro 5 – Itens da tarefa de identificação ......................................................................................... 40
Quadro 6 – Itens da tarefa de manipulação ......................................................................................... 41
Quadro 7 – Ilustração da cotação das respostas na Etapa 1 ................................................................. 43
Quadro 8 – Ilustração da cotação das respostas na Etapa 2 ................................................................. 43
Quadro 9 – Itens da tarefa de reconstituição e respectivas estruturas-alvo pretendidas ............................ 44
Quadro 10 – Tipos de respostas dadas pelas crianças na análise dos itens gramaticais, tipologia de erros e
a cotação atribuída ........................................................................................................................... 45
Quadro 11 – Tipos de respostas dadas pelas crianças na análise dos itens agramaticais, tipologia de erros e
a cotação atribuída ........................................................................................................................... 46
Quadro 12 – Variáveis presentes na base de dados ............................................................................. 48
Quadro 13 – Distribuição da amostra pelos anos de escolaridade .......................................................... 51
Quadro 14 – Pontuação do reconhecimento dos itens gramaticais relativa ao 1º ano de escolaridade ....... 52
Quadro 15 – Frequência do tipo de respostas dado pelas crianças do 1º ano de escolaridade, perante os
itens gramaticais .............................................................................................................................. 53
Quadro 16 – Pontuação do reconhecimento dos itens gramaticais relativa ao 4º ano de escolaridade ....... 55
Quadro 17 – Frequência do tipo de respostas dado pelas crianças do 4º ano de escolaridade, perante os
itens gramaticais .............................................................................................................................. 55
Quadro 18 – ANOVA TWO WAY – Efeitos principais e efeitos de interacção das variáveis independentes
ano de escolaridade e género na pontuação do reconhecimento dos itens gramaticais ............................ 58
Quadro 19 – Pontuação do reconhecimento dos itens agramaticais relativa ao 1º e ao 4º anos de
escolaridade (etapa 1) ...................................................................................................................... 60
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
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Quadro 20 – Pontuação do reconhecimento e da correcção dos itens agramaticais por não observação de
concordância nominal relativa ao 1º ano de escolaridade ..................................................................... 61
Quadro 21 – Frequência do tipo de respostas dado pelas crianças a frequentar o 1º ano de escolaridade,
perante os itens agramaticais por não observação de concordância nominal .......................................... 62
Quadro 22 – Frequência das respostas conformes com as estruturas-alvo dadas pelas crianças a frequentar
o 1º ano de escolaridade aos itens agramaticais por não observação de concordância nominal ................ 64
Quadro 23 – Pontuação do reconhecimento e da correcção dos itens agramaticais por não observação de
concordância nominal, no 4º ano de escolaridade ................................................................................ 66
Quadro 24 – Frequência do tipo de respostas dado pelas crianças a frequentar o 4º ano de escolaridade aos
itens agramaticais por não observação de concordância nominal .......................................................... 66
Quadro 25 – Frequência das respostas conformes com as estruturas-alvo dadas pelas crianças a frequentar
o 4º ano de escolaridade, aos itens agramaticais por não observação de concordância nominal ............... 68
Quadro 26 – ANOVA TWO WAY – Efeitos principais e efeitos de interacção das variáveis independentes
ano de escolaridade e género na pontuação do reconhecimento e correcção dos itens agramaticais por não
observação de concordância nominal ................................................................................................. 70
Quadro 27 – Pontuação do reconhecimento e da correcção dos itens agramaticais por deslocação de uma
parte de um constituinte relativa ao 1º ano de escolaridade .................................................................. 72
Quadro 28 – Frequência do tipo de respostas dado pelas crianças a frequentar o 1º ano de escolaridade
relativamente aos itens agramaticais por deslocação de uma parte de um constituinte............................. 72
Quadro 29 – Frequência das respostas conformes com as estruturas-alvo dadas pelas crianças a frequentar
o 1º ano de escolaridade aos itens agramaticais por deslocação de uma parte de um constituinte ............ 74
Quadro 30 – Pontuação do reconhecimento e da correcção dos itens agramaticais por deslocação de uma
parte de um constituinte relativa ao 4º ano de escolaridade .................................................................. 76
Quadro 31 – Frequência do tipo de respostas dado pelas crianças a frequentar o 4º ano de escolaridade,
relativamente aos itens agramaticais por deslocação de uma parte de um constituinte............................. 76
Quadro 32 – Frequência das respostas conformes com as estruturas-alvo dadas pelas crianças a frequentar
o 4º ano de escolaridade aos itens agramaticais por deslocação de uma parte de um constituinte ............ 78
Quadro 33 – ANOVA TWO WAY – Efeitos principais e efeitos de interacção das variáveis independentes
ano de escolaridade e género na pontuação do reconhecimento e correcção dos itens agramaticais por
deslocação de uma parte de um constituinte ....................................................................................... 81
Quadro 34 – Pontuação do reconhecimento e da correcção dos itens agramaticais por inserção de uma
expressão no interior de um constituinte relativa ao 1º ano de escolaridade ............................................ 82
Quadro 35 – Frequência do tipo de respostas dado pelas crianças a frequentar o 1º ano de escolaridade,
aos itens agramaticais por inserção de uma expressão no interior de um constituinte .............................. 83
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
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Quadro 36 – Frequência das respostas conformes com as estruturas-alvo dadas pelas crianças a frequentar
o 1º ano de escolaridade, aos itens agramaticais por inserção de uma expressão no interior de um
constituinte ...................................................................................................................................... 85
Quadro 37 – Pontuação do reconhecimento e da correcção dos itens agramaticais por inserção de uma
expressão no interior de um constituinte relativa ao 4º ano de escolaridade ............................................ 87
Quadro 38 – Frequência do tipo de respostas dado pelas crianças a frequentar o 4º ano de escolaridade aos
itens agramaticais por inserção de uma expressão no interior de um constituinte .................................... 88
Quadro 39 – Frequência das respostas conformes com as estruturas-alvo dadas pelas crianças a frequentar
o 4º ano de escolaridade, aos itens agramaticais por inserção de uma expressão no interior de um
constituinte ...................................................................................................................................... 90
Quadro 40 – ANOVA TWO WAY – Efeitos principais e efeitos de interacção das variáveis independentes ano
de escolaridade e género na pontuação do reconhecimento e correcção dos itens agramaticais por inserção
de uma expressão no interior de um constituinte ................................................................................. 94
Quadro 41 – ANOVA TWO WAY – Efeitos principais e efeitos de interacção das variáveis independentes
ano de escolaridade e género na pontuação do reconhecimento dos itens agramaticais .......................... 95
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
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AGRADECIMENTOS
Às Senhoras Professoras Doutoras Anabela Gonçalves e Maria João Freitas pelo apoio, estímulo,
disponibilidade, crítica e conselhos oportunos que sempre colocaram na orientação desta tese de
mestrado.
À Senhora Professora Doutora Madalena Colaço, à Terapeuta da Fala Sónia Vieira e à Mestre em
Terapia da Fala Dulce Tavares pela ajuda e comentários pertinentes aquando da construção das
tarefas.
À Direcção do Agrupamento de Escolas de São Vicente-Telheiras, nomeadamente aos Professores
titulares das turmas da Escola nº45 Luz/Carnide pelas facilidades concedidas na fase de recolha de
dados.
Aos Encarregados de Educação por permitirem a participação dos seus educandos neste estudo, sem
os quais não teria sido possível a realização deste trabalho.
À Senhora Professora Doutora Maria Emília Santos pelo apoio, ajuda e acompanhamento deste o
início desta caminhada pelo mundo da Terapia da Fala.
À Senhora Professora Cláudia Silva pelos ensinamentos e ajuda imprescindível no tratamento
estatístico dos dados.
Às minhas colegas Ana Rita Castanheira e Rita Alexandre pelo apoio e partilha de conhecimentos e
opiniões ao longo desta jornada.
Aos meus pais, à minha irmã, à minha avó e ao meu namorado pelo incentivo constante, paciência e
apoio durante a realização desta tese.
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
7
RESUMO
O objectivo desta investigação é a criação de uma tarefa de consciência sintáctica (tarefa de
reconstituição) a ser utilizada numa prova de avaliação deste tipo de consciência, desenvolvida para
o Português Europeu por um grupo de quatro mestrandas e incluindo quatro tarefas: reconstituição,
supressão, identificação e manipulação. Neste estudo, entende-se por tarefa de reconstituição a
avaliação da capacidade de reconhecimento de frases agramaticais e de respectiva correcção, sem
retirar ou acrescentar palavras. Neste sentido, constituiu-se um conjunto de itens gramaticais e
agramaticais. Estes últimos estão divididos de acordo com a estrutura agramatical: (i) não
observação de concordância nominal, (ii) deslocação de uma parte de um constituinte e (iii)
inserção de uma expressão no interior de um constituinte.
A tarefa de reconstituição, bem como as restantes, foi aplicada a 84 crianças, 40 que frequentavam
o 1º ano de escolaridade e 44 a frequentar o 4º ano. Os resultados da aplicação da tarefa de
reconstituição revelaram que o tipo de agramaticalidade testado influencia o desempenho das
crianças no reconhecimento e correcção das sequências agramaticais, ou seja, as crianças tiveram
um melhor desempenho ao nível da agramaticalidade por não observação de concordância nominal,
e pior performance nos itens agramaticais por inserção de uma expressão no interior de um
constituinte. Outro dos resultados verificados foi o desempenho inferior no reconhecimento e
correcção da agramaticalidade por parte das crianças que frequentam o 1º ano de escolaridade e,
ainda, comparando os resultados obtidos das crianças de género masculino e feminino, não se
encontraram diferenças significativas em nenhuma das estruturas agramaticais.
Palavras-chave: consciência linguística; consciência sintáctica; ano de escolaridade; género
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
8
ABSTRACT
The aim of this research is to create a syntactic awareness task (reconstruction task) to be used in a
test to evaluate this type of consciousness, developed for European Portuguese by a group of four
master students, which includes four tasks: reconstruction, deletion, identification and
manipulation. In this study, reconstruction task means to evaluate the capacity to recognize
ungrammatical sentences and their correction without removing or adding words. In this sense, a set
of grammatical and ungrammatical items is formed. The latter are divided according to the
ungrammatical type: (i) non-observation of nominal concord, (ii) movement of part of a constituent
and (iii) putting an expression inside a constituent.
The reconstruction task, as well as the others, was applied to 84 children, 40 attending the 1st grade
and 44 attending the 4th
grade. The results of the reconstruction task revealed that the
ungrammatical type tested influences the performance of children at recognizing and correcting
ungrammatical sequences, i.e., children have a better performance at the ungrammatical level by
non-observation of nominal concord, and inferior performance on the ungrammatical items by
putting an expression within a constituent. Another conclusion was the inferior performance at
identifying and correcting what is ungrammatical by children who attend the 1st grade and, still
comparing the results obtained by boys and by girls, there were no significant differences in any of
the ungrammatical structures.
Keywords: linguistic awareness, syntactic awareness, grade, gender
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
9
INTRODUÇÃO
A presente investigação insere-se no âmbito do Mestrado em Terapia da Fala, Área de Patologia da
Linguagem, incluindo-se num projecto mais amplo, desenvolvido por um grupo de quatro
mestrandas1,2
. no âmbito do qual se propõe a criação de tarefas de consciência sintáctica que
possam ser utilizadas na construção de uma prova de avaliação deste tipo de consciência linguística,
para o Português Europeu (PE). O desenvolvimento desta investigação prende-se com o facto de os
estudos sobre consciência sintáctica em Portugal serem escassos e a ausência de provas formais
validadas para o PE que permitam avaliar esta capacidade em crianças de idade escolar. Pretendeu-
se, assim, construir e aplicar tarefas de avaliação de capacidade de consciência sintáctica.
A importância desta pesquisa para a Terapia da Fala prende-se com o facto de serem feitas, no
âmbito desta prática clínica, avaliações a um grande número de crianças com dificuldades de
aprendizagem de leitura e escrita, sentindo-se sistematicamente a necessidade de avaliar e actuar
sobre os aspectos que estão na base destas dificuldades. Torna-se necessário, para o efeito,
identificar as competências linguísticas que estão ou não dominadas, no sentido de efectuar uma
intervenção mais eficaz e direccionada para as reais dificuldades da criança.
Sendo a consciência sintáctica uma capacidade metalinguística, vem sendo definida como a
habilidade para reflectir e manipular mentalmente a estrutura gramatical dos enunciados (Barrera &
Maluf, 2003). A identificação da relevância das capacidades metalinguísticas na aprendizagem de
1 Castanheira, A. R. (2010). A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa
de identificação (em preparação); Costa, M. (2010). A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição (em preparação); Amaral, M. A. (2010). A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de supressão (em preparação); Alexandre, R. (2010). A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação (em preparação); 2 Ver Capítulo 2 – Metodologia.
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
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leitura e escrita tem sido alvo de diversos estudos, concluindo-se que esta aprendizagem é
influenciada tanto pela consciência fonológica como pela consciência sintáctica: sabe-se que a
estimulação da consciência fonológica tem um impacto na descodificação; paralelamente, a
contribuição da consciência sintáctica para a descodificação tem vindo a ser testada e parece actuar
através da facilitação contextual (Rego & Buarque, 1997).
A avaliação da consciência sintáctica tem sido estudada por diversos autores, para outras línguas,
usando-se diversas tarefas:
- julgamento de frases (a)gramaticais,
- correcção de frases agramaticais,
- inserção de palavras em frases incompletas,
- replicação de erros,
- categorização de palavras,
- localização do erro,
- analogia sintáctica (Barrera & Maluf, 2003; Capovilla, Capovilla & Soares, 2004; Rego &
Buarque, 1997; Correa, 2004).
No projecto supra-citado, foi efectuado um paralelismo entre as tarefas existentes para a avaliação
da consciência fonológica e as tarefas descritas na literatura como as mais comuns na avaliação da
consciência sintáctica. Assim, construíram-se as seguintes tarefas: reconstituição, supressão,
identificação e manipulação. No caso específico do presente estudo, pretende-se construir e aplicar
uma tarefa de reconstituição de frases gramaticais e agramaticais.
A tarefa de reconstituição foi aplicada a uma amostra contendo crianças dos 1º e 4º anos de
escolaridade. Os resultados revelaram que a tarefa permite discriminar diferentes níveis de
consciência sintáctica. Assim, verificou-se que as diferentes estruturas agramaticais testadas
influenciam o desempenho das crianças no reconhecimento e correcção dos itens, ou seja, as
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
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crianças tiveram melhores resultados no reconhecimento e correcção dos itens agramaticais por não
observação de concordância nominal e resultados mais baixos nos itens agramaticais por inserção
de uma expressão no interior de um constituinte. Verificou-se, ainda, que as crianças que
frequentam o 4º ano de escolaridade tiveram um melhor desempenho na concretização da tarefa, do
que as crianças que frequentavam o 1º ano. Não se verificaram diferenças significativas entre as
crianças do género masculino e as do feminino.
Esta tese encontra-se organizada em três capítulos centrais. No primeiro capítulo, apresenta-se um
breve enquadramento teórico relativo às questões centrais do projecto, com as seguintes secções:
uma secção incide sobre os constituintes sintácticos manipulados na tarefa construída; outra secção
refere-se à consciência linguística e competências envolventes, nomeadamente as consciências
fonológica e sintáctica, e sua relação com a leitura e a escrita.
No capítulo dois, apresentam-se o objectivo proposto, as questões gerais de investigação e as
hipóteses formuladas. Expõe-se, ainda, a metodologia utilizada, com os dados referentes à amostra,
ao material e aos métodos utilizados, dando-se informação sobre a forma como os dados foram
tratados.
O terceiro capítulo encontra-se dividido em duas partes: na primeira, descrevem-se os principais
resultados obtidos, efectuando-se uma análise estatística dos mesmos; a segunda parte contém a
discussão dos resultados, na qual se efectuará uma comparação dos resultados obtidos com as
hipóteses colocadas e com resultados de outros estudos referidos no primeiro capítulo. Na
conclusão, sumariar-se-ão os resultados mais importantes, referir-se-ão as limitações encontradas no
decorrer da investigação e a necessidade de mais investigações neste domínio.
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
12
1. ENQUADRAMENTO TEÓRICO
1.1. Constituintes sintácticos e metodologia para a sua identificação
Qualquer falante de uma língua sabe como organizar as palavras segundo um conjunto finito de
regras para produzir um conjunto infinito de frases. Na base desta capacidade está o conhecimento
sintáctico, que diz respeito “ao domínio das regras e padrões que definem as condições de
organização e de combinação de palavras de modo a formarem frases.” (Sim-Sim, 1998: 145). O
domínio da estrutura sintáctica de qualquer língua implica, simultaneamente, o conhecimento de um
conjunto de princípios conduzidos pelas propriedades da linguagem humana, em geral, e de regras
específicas da organização frásica dessa língua, em particular. São essas regras que a criança extrai
do ambiente linguístico em que vive imersa e que lhe possibilita reconhecer (compreender) o que
ouve e expressar-se (produzir enunciados) de forma a que seja compreendida (Sim-Sim, 1998: 146).
A noção de constituinte está associada à capacidade intuitiva (ou implícita) de construir e identificar
unidades dentro da frase. Assim, considera-se que as frases não são simples concatenações de
palavras, que não se relacionam entre si, sendo, antes, o resultado de combinações de palavras que
se vão organizando em grupos hierarquicamente superiores – os constituintes. A organização dos
constituintes dentro da frase obedece a padrões de ordem específicos e determina a complexidade
da estrutura. Os constituintes que se combinam para formar uma unidade sintáctica maior
denominam-se constituintes imediatos dessa unidade. A análise em constituintes é, assim, a
determinação da estrutura interna de uma combinação de palavras, nomeadamente do modo como
cada palavra se combina em unidades maiores e estruturalmente mais complexas (Duarte, 2000).
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
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O estudo da combinação de palavras numa estrutura hierárquica em que as palavras se organizam
de acordo com determinados padrões, com vista a formar unidades constituintes maiores, é o
objectivo central da sintaxe (Sim-Sim, 1998).
A ideia de que as frases são dotadas de uma estrutura hierárquica é motivada empiricamente por
diferentes factores (Duarte, 2000): (i) as intuições dos falantes sobre o modo como se organizam as
palavras numa frase, (ii) os resultados gramaticais ou agramaticais das manipulações efectuadas
pelos testes de constituência e (iii) a ambiguidade estrutural ou sintáctica.
Os testes de constituência permitem identificar os constituintes principais de cada frase,
confirmando, assim, as intuições dos falantes sobre a estrutura das frases. Estes testes permitem
identificar os constituintes da frase através de três operações fundamentais: a substituição, a
deslocação e a retoma anafórica. Como afirma Duarte (2000: 125), “quando as unidades sintácticas
determinadas intuitivamente são efectivamente constituintes principais da frase, o resultado da
aplicação destes testes são frases gramaticais; caso contrário, as sequências são agramaticais”.
Usando como exemplo a frase (1) e colocando a hipótese de que o rapaz alto é um dos constituintes
imediatos da frase, exemplifica-se, de seguida, a aplicação dos testes de constituência:
(1) O rapaz alto tem um casaco com um remendo.
(i) Teste de Substituição (por um pronome pessoal)
(a) [O rapaz alto] tem um casaco com um remendo.
(b) [Ele] tem um casaco com um remendo.
(ii) Teste de Deslocação (por clivagem (c) e por deslocação à direita (d))
(c) É [o rapaz alto] que tem um casaco com um remendo.
(d) Tem um casaco com um remendo, [o rapaz alto].
(iii) Teste de Retoma Anafórica (em estruturas de coordenação)
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
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(e) [O rapaz alto] tinha um casaco com um remendo mas todos acham que [ele]
fez um disparate.
Como se pode verificar, os resultados da aplicação dos três testes são frases gramaticais, logo, o
rapaz alto é um constituinte imediato da frase. Por essa razão, pode ser substituído por uma única
expressão (o pronome pessoal em (b)), pode ser clivado ou deslocado (cf.(c) e (d)); e pode ser
retomado anaforicamente por um pronome no 2º membro da coordenação (cf.(e)).
A ambiguidade estrutural é visível em frases a que os falantes atribuem várias interpretações, apesar
de nelas não ocorrerem palavras polissémicas (cf.(2)).
(2) Portugal importa manteiga da Holanda.
A frase (2) pode ter duas interpretações, parafraseáveis por É manteiga da Holanda que Portugal
importa e É da Holanda que Portugal importa manteiga. No primeiro caso, manteiga da Holanda é
um constituinte principal, e a frase significa que há um país (Portugal) que importa um tipo
específico de manteiga, conhecida pelo nome de manteiga da Holanda; no segundo caso, manteiga
e da Holanda são dois constituintes principais que se combinam com o verbo para formarem a
unidade importa manteiga da Holanda, e a frase significa que o local de onde Portugal importa a
manteiga é da Holanda (a manteiga podia ser da Dinamarca, da Alemanha ou qualquer outro). A
existência destas frases que os falantes reconhecem como ambíguas é um forte argumento em favor
da análise em constituintes. De facto, as duas interpretações obtidas estão associadas a diferentes
possibilidades de combinação das palavras em constituintes, ou seja, a diferentes estruturas. Uma
análise que considere apenas as palavras e não os constituintes seria incapaz de dar conta de frases
estruturalmente ambíguas
Sendo um constituinte uma palavra ou combinação de palavras que funciona como uma unidade
sintáctica, é necessário saber a natureza dos constituintes que ocorrem nessa unidade. O elemento
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
15
central dentro do constituinte é o núcleo. Este pode pertencer a diferentes categorias sintácticas ou
classes de palavras.
Existem dois tipos de categorias sintácticas:
(i) categorias lexicais, ou seja, “palavras pertencentes a um inventário vasto e renovável do
vocabulário ou léxico da língua e cujo significado remete para entidades, situações,
propriedades ou relações entre entidades e categorias funcionais” (Brito, 2003: 326);
(ii) categorias funcionais, ou seja, “palavras de um conjunto reduzido de unidades morfológicas
da língua, cujo significado remete para noções mais abstractas, tais como a conexão entre
frases, a determinação, a quantificação, o tempo, o modo e o aspecto” (Brito, 2003: 326).
A categoria sintáctica dos constituintes imediatos da frase é-lhes atribuída em função do seu núcleo.
Assim, por exemplo, o nome é núcleo do Sintagma Nominal (SN), o adjectivo é o núcleo do
Sintagma Adjectival (SA), o verbo é o núcleo do Sintagma Verbal (SV), o advérbio é o núcleo do
Sintagma Adverbial (SADV), a preposição é o núcleo do Sintagma Preposicional (SP) e assim para
as restantes categorias.
Entre os elementos que formam um constituinte existem fortes relações de concordância, ou seja, de
partilha de traços de flexão de pessoa, género ou número, em função do lugar que os elementos
ocupam na frase.
Assim, para obter frases gramaticais, é obrigatório haver concordância entre (Duarte, 2000):
(3) Sujeito e verbo, flexionados em pessoa e número (ex: Eu fui a Paris);
(4) Sujeito e Predicativo do Sujeito, flexionados em género e número (ex: O teu filho está um
homem);
(5) Sujeito e particípio passado em construções passivas, flexionados em género e número (ex:
As flores foram compradas pelos rapazes);
(6) determinantes e nome, flexionados em género e número (ex: O Luís é bom rapaz);
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
16
(7) quantificador e nome, flexionados em género e número (ex: Conheci várias pessoas);
(8) adjectivo e nome, flexionados em género e número (ex: Aquelas casas são lindas);
(9) Objecto Directo e Predicativo do Objecto Directo, flexionados em género e número (ex: O
Pedro achou a aula aborrecida).
Nos itens da tarefa de reconstituição apresentada neste presente trabalho, será testada a
concordância entre determinante e nome.
A existência de relações sintácticas entre os elementos de um constituinte é também empiricamente
sustentada pelo facto de não ser possível inserir no constituinte expressões que dele não façam
parte. Assim, uma sequência como (10) é agramatical em virtude da ocorrência do advérbio de
tempo ontem entre o determinante o e o nome bolo.
(10) O menino comeu o ontem bolo.
Efectivamente, a sequência o bolo é um constituinte (O menino comeu-o), pelo que só expressões a
ele alheias não podem aí ser inseridas.
A obrigatoriedade de concordância, a impossibilidade de deslocar certos elementos de frase e de
inserir expressões em determinadas posições constituem a base que sustenta o estudo levado a cabo
nesta dissertação.
1.2. Consciência linguística e Consciência sintáctica3
Quando a criança inicia o seu processo de escolarização, há vários anos que é capaz de utilizar a
língua com função comunicativa, isto é, como instrumento de expressão e compreensão de
significados ou conteúdos. Essa competência linguística é adquirida naturalmente, durante o
3 Devido à natureza do projecto em questão e à pesquisa bibliográfica realizada, comum às três investigadoras, a
presente secção tem por base um texto de Ana Rita Castanheira.
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
17
processo de socialização, implicando o domínio de uma série de regras gramaticais, utilizadas de
forma não consciente, que orientam a actividade linguística espontânea da criança, isto é, o seu
desempenho linguístico (Barrera & Maluf, 2003: 492).
De acordo com Sim-Sim, Duarte e Ferraz (1997: 19-20), o input linguístico que a comunidade
fornece à criança (por exemplo, as trocas verbais entre os pais e os irmãos ou os discursos que os
familiares lhe dirigem) activa a faculdade da linguagem e leva-a a evoluir para um sistema de
conhecimento específico: o conhecimento implícito da língua natural falada pela comunidade
linguística a que pertence. Este conhecimento é intuitivo (isto é, não consciente) e pode conceber-se
como a gramática da língua materna desenvolvida natural e espontaneamente pelo falante a partir da
interacção entre a faculdade da linguagem e o input linguístico que o meio lhe fornece. A
observação do processo de aquisição de uma língua mostra que o que é espontânea e
universalmente adquirido é o conhecimento implícito da língua oral. A emergência e o
desenvolvimento da escrita não são um produto directo do processo de aquisição, pelo que exigem
ensino formal.
A capacidade de elaboração sobre o conhecimento intuitivo da língua concretiza-se no
conhecimento explícito da língua. O termo conhecimento explícito designa o conhecimento
reflexivo e sistemático do sistema intuitivo que os falantes conhecem e usam, bem como o
conhecimento dos princípios e regras que regulam o uso oral e escrito desse sistema. Este estádio de
conhecimento caracteriza-se por (Sim-Sim, Duarte & Ferraz, 1997: 25):
(i) a capacidade de identificar e nomear as unidades da língua (por exemplo: fonemas, sílabas,
morfemas, palavras, grupos sintácticos, frases), de caracterizar as suas propriedades, as suas
regras de combinação e os processos que actuam sobre as estruturas formadas;
(ii) a capacidade de selecção das unidades e estruturas mais adequadas à expressão de
determinados significados e à concretização de determinados objectivos em situações
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
18
concretas de uso oral e escrito da língua (por exemplo: informar, persuadir, exprimir um
desejo ou um ponto de vista).
A consciência linguística, segundo Sim-Sim (1998: 215), é a capacidade que ultrapassa o
conhecimento intuitivo da língua e que requer a consciência e controlo de tarefas linguísticas
realizadas por nós ou por outros. Ou seja, esta capacidade exige a manipulação consciente da língua
fora do contexto comunicativo e é servida por processos cognitivos de nível superior,
nomeadamente a consciência e o controlo do conhecimento. Segundo a mesma autora,
metalinguagem refere-se à capacidade de reflectir sobre a linguagem, partilhando com o domínio
cognitivo o recurso a metaprocessos que permitem planificar e regular decisões.
Gombert (1992) e Tunmer e Cole (1985, citados por Capovilla & Capovilla, 2002) definem a
metalinguagem como a capacidade de reflectir sobre a linguagem e sua utilização, promovendo a
extracção imediata dos significados dos enunciados. Para Gombert (2003), as capacidades
linguísticas são não-conscientes e não-intencionais, decorrendo apenas do conhecimento implícito,
e a sua aquisição e desenvolvimento são naturais, ao contrário das capacidades metalinguísticas,
que são conscientes e intencionais. De acordo com o mesmo autor, podem ser observados
comportamentos demonstrativos de capacidades metalinguísticas a partir dos dois anos. No entanto,
embora a sensibilidade linguística esteja presente precocemente, a consciência linguística e o
conhecimento explícito desenvolvem-se mais tardiamente, sendo especialmente promovidos
durante a aprendizagem da leitura e da escrita, ou seja, em idade escolar. Os autores referem que
julgamentos sobre a gramaticalidade de enunciados, a compreensão de metáforas ou a detecção de
ambiguidades semânticas parecem desenvolver-se tardiamente, enquanto alguns comportamentos
indicativos de reflexão sobre aspectos fonológicos da linguagem observam-se mais precocemente
(Barrera & Maluf, 2003). Há autores que referem que o desenvolvimento metalinguístico está
associado à emergência de competências metacognitivas (conhecimento que o sujeito tem sobre os
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
19
seus próprios processos cognitivos), que ocorrem em fases mais avançadas da infância (Silva,
2003).
Os conhecimentos metalinguísticos têm, como referido anteriormente, uma natureza diferente dos
conhecimentos implicados no processamento do discurso oral, em situações de comunicação
(conhecimento implícito), e não surgem como uma consequência directa da aquisição da língua.
Este ponto de vista pode ser fundamentado por estudos que dão conta de que, apesar de a maior
parte das crianças aos 5 e 6 anos disporem de capacidades básicas para compreenderem e
produzirem discursos, não são, contudo, capazes de efectuar algumas operações metalinguísticas
elementares, tais como: (i) segmentar e manipular a fala nas suas diversas unidades (palavras,
sílabas, fonemas); (ii) separar as palavras dos seus referentes (ou seja, estabelecer diferenças entre
significados e significantes); (iii) perceber semelhanças sonoras entre palavras; (iv) julgar a
coerência semântica e sintáctica de enunciados (Tunmer & Herriman, 1984, citados por Silva, 2003;
Tunmer, Herriman & Nesdale, 1988; Barrera & Maluf, 2003)
A consciência linguística envolve diversas competências, distribuídas pelos seguintes tipos
(Capovilla, Capovilla & Soares, 2004; Demont, 1997; Bialystok, 1993, citado por Correa, 2004;
Nesdale & Tunmer, 1984 e Tunmer & Bowey, 1984):
(a) a consciência fonológica (identificar e manipular as estruturas fonológicas de uma
determinada língua);
(b) a consciência da palavra (identificar e manipular itens lexicais da língua);
(c) a consciência sintáctica (identificar e manipular as estruturas sintácticas de uma
determinada língua);
(d) a consciência pragmática (entender os usos sociais da língua).
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
20
(e) a consciência morfológica (identificar e manipular as estruturas morfológicas da língua)
(Carlisle, 2000; Levin, Ravid & Rapaport, 1999; Mahony, Singson & Mann, 2000, citados
por Correa, 2004);
(f) a consciência textual (conhecimento e controle intencional da compreensão e produção de
textos) (Gombert, 1992; Duarte, 2008).
A importância da consciência linguística, entendida como conhecimento metalinguístico, para a
literacia é reconhecida há décadas (Tunmer & Bowey, 1984). Das competências acima referidas, a
consciência fonológica é a que mais tem sido estudada.
A consciência fonológica é definida por Gombert (1992) como sendo uma capacidade de
identificar as unidades fonológicas e de as manipular de uma forma voluntária e controlada. A
consciência fonológica tem sido estudada a partir de provas que pretendem avaliar a habilidade do
sujeito quer para realizar julgamentos sobre características sonoras das palavras (extensão,
semelhança, diferença), quer para isolar e manipular fonemas e outras unidades supra-segmentais da
língua, tais como sílabas e constituintes intrassilábicos (Barrera & Maluf, 2003). Diversos estudos
(Bradley & Bryant, 1983; Morais, 1995; Bowey, 1994; Capovilla & Capovilla, 2002; Capovilla,
Capovilla & Suiter, 2004; Barrera & Maluf, 2003; Cardoso-Martins, 1995) têm demonstrado que o
desempenho das crianças em tarefas de consciência fonológica está relacionado com o sucesso na
aprendizagem da leitura e da escrita.
Estudos realizados para o Português do Brasil, nomeadamente o de Capovilla, Capovilla e Soares
(2004) com crianças das quatro séries do ensino fundamental (entre os 6A4M e os 10A6M), em que
foram aplicadas provas de consciência fonológica e de consciência sintáctica revelaram resultados
com aumentos sistemáticos de respostas correctas entre a 1ª, a 2ª a 3ª e 4ª séries. Meneses, Lozi,
Souza e Assencio-Ferreira (2004) compararam crianças do género masculino e feminino a fim de
verificar se as meninas teriam um melhor desempenho nas actividades de consciência fonológica do
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
21
que os meninos. Foi aplicada a Prova de Consciência Fonológica de Capovilla e Capovilla a 15
crianças de cada género com idades compreendidas entre os 5 e 6 anos. Segundo os resultados, os
autores verificaram que não há diferenças significativas entre os géneros, na capacidade de
consciência fonológica.
Afonso (2009) faz referência à diversidade de tarefas existentes para avaliar consciência fonológica,
facto que tem dificultado a comparação entre os resultados obtidos e, consequentemente, a
formulação de generalizações sobre os mesmos. Assim, esta autora apresenta uma compilação de
tarefas e capacidades testadas para a avaliação da consciência fonológica, a partir de Alves, Correia
e Castro (em preparação), que se encontra no Quadro 1:
Quadro 1 – Compilação de tarefas e capacidades testadas para avaliação de conhecimento e de consciência fonológica
(Alves et al, em preparação, citados por Afonso, 2009).
Capacidades Provas Exemplo
Reconstituição Síntese silábica São dadas as sílabas isoladamente e é pedido ao
sujeito que identifique a palavra.
Segmentação
Segmentação
Reprodução
Análise
Contagem
É dada uma palavra e é pedido ao sujeito que a
segmente em sílabas.
Identificação
Comparação com o modelo
Igual / diferente
Exclusão da diferente
Identificação da sílaba
É pedido que o sujeito identifique as sílabas da
palavra para que possa proceder a tarefas de
identificação.
Manipulação – Exclusão Apagamento da sílaba inicial /
medial ou final
É pedido ao sujeito que mantenha em memória as
sílabas da palavra e que as manipule segundo a
tarefa proposta.
Manipulação – Transposição Inversão silábica É dada uma palavra ao sujeito e é pedido que este
inverta a ordem das sílabas.
Produção Produção
É dada uma palavra e é pedido ao sujeito que
produza outra palavra que tenha a mesma sílaba
inicial.
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
22
Embora seja a consciência fonológica a mais investigada, outros tipos de consciência linguística
têm surgido como objecto de estudo recentemente, nos quais se inclui a consciência sintáctica.
Segundo Sim-Sim (1998: 241), consciência sintáctica é a capacidade para proceder a juízos sobre a
gramaticalidade de um enunciado e à sua correcção. Para Barrera & Maluf (2003), esta consciência
é a habilidade para reflectir e manipular mentalmente a estrutura gramatical das frases. Alguns
autores têm demonstrado que a consciência sintáctica é, tal como a consciência fonológica,
importante para a aprendizagem da leitura e da escrita. O domínio sintáctico pode interagir com o
desempenho na leitura pelo menos a dois níveis: 1) nas possibilidades de o leitor se auto-
monitorizar na compreensão do texto e 2) na facilitação da descoberta e apreensão de
correspondências letra/som que até aí ignorava (Tunmer, 1990).
Gleitman, Gleitman e Shipley (1972, citados por Silva, 2003) referem que algumas crianças de dois
anos e meio são já capazes de efectuar juízos sobre frases imperativas correctas ou com a ordem
invertida, discriminando as adequadas das incorrectas. Este facto sugere que as crianças desde cedo
possuem algumas intuições sobre as estruturas frásicas. A investigação da consciência sintáctica em
crianças de idade pré-escolar tem sido efectuada com base em tarefas de avaliação da aceitabilidade
de frases. Para a elaboração dos seus juízos, as crianças acabam por combinar factores gramaticais e
factores relativos ao conteúdo semântico do enunciado. Gombert (1992) e Sim-Sim (1998) referem
que a capacidade para emitir juízos sintácticos de natureza mais formal parece não ocorrer antes dos
sete anos, no entanto, desde cedo que as crianças evidenciam possuir algumas intuições sobre as
características estruturais das frases com base em pistas de natureza semântica.
Vários trabalhos na área da consciência sintáctica têm suportado a ideia de que a interligação entre
esta competência e o desenvolvimento da leitura é de natureza interactiva. Se as crianças até aos 6/7
anos têm grandes dificuldades em efectuar juízos gramaticais, a partir dos 7/8 anos, quando
começam a revelar algum domínio na leitura, aumentam significativamente a eficácia no
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
23
desempenho daquele tipo de tarefas (Karanth & Suchitra, 1993, citados por Silva, 2003). A
confirmar este ponto de vista, Karanth, Kudva e Vijayan (1995, citados por Silva, 2003)
apresentaram dados comparativos relativos ao desempenho em tarefas sintácticas com sujeitos
analfabetos e alfabetizados. Os seus resultados mostram que, no conjunto de tarefas passadas, o
grupo alfabetizado obteve uma pontuação de 92.9 para um total de 100 pontos possíveis, enquanto o
grupo de analfabetos apresentou um score de 72.7. Os dados comparativos entre analfabetos e
sujeitos alfabetizados parecem apontar para uma contribuição decisiva da aprendizagem da leitura
no desenvolvimento destas capacidades.
Tunmer (1989) reflecte sobre a função desempenhada pela consciência sintáctica na aprendizagem
da leitura, defendendo que o seu papel é essencial para promover o reconhecimento de palavras nas
fases iniciais de aprendizagem, na medida em que o contexto sintáctico ajuda as crianças a
ultrapassarem erros de descodificação quando lêem palavras desconhecidas. Por outro lado, a
promoção da consciência sintáctica facilita os processos de compreensão, nomeadamente no que
concerne à integração das informações lidas num texto. Estas ideias são confirmadas pelos estudos
de Rego e Bryant (1993) e de Demont e Gombert (1996). O primeiro estudo demonstra como os
testes de completamento de frases, passados ao nível pré-escolar, são indicadores preditivos da
forma como posteriormente as crianças, no processo de aprendizagem, vão usar o contexto
sintáctico para facilitar a identificação de palavras difíceis. O segundo estudo referido confirma
como a consciência infantil da maneira como as frases estão organizadas está correlacionada com a
compreensão dos textos. Estes autores demonstraram que a capacidade infantil para manipular a
estrutura sintáctica das frases irá promover-lhes a monitorização do sentido dos enunciados que
estão a ser lidos. Willows e Ryan (1983, citados por Silva, 2003) passaram a crianças dos 1º, 2º e 3º
anos de escolaridade um conjunto de provas relacionadas com a inteligência, leitura e medidas de
processamento de frases. Controlando-se o efeito das medidas de inteligência não-verbal,
vocabulário e memória a curto prazo, foram encontradas correlações significativas entre os
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
24
desempenhos infantis ao nível da leitura e os seus resultados em tarefas de julgamento de
aceitabilidade de frases e de substituição de palavras em frases. Na investigação de Bohannon
(1979, citado por Silva, 2003), foi encontrada igualmente uma correlação significativa entre (i) a
capacidade de crianças entre os 5 e os 7 anos discriminarem entre frases correctas e desordenadas e
(ii) medidas de leitura obtidas um ano mais tarde para as mesmas crianças. Tunmer, Nesdale e
Wrigh (1987), ao compararem bons leitores de 6/7 anos com maus leitores de 8/9 anos, equiparados
pelo nível de leitura, verificaram que os primeiros são superiores aos segundos em tarefas de
completamento e correcção de frases.
A consciência sintáctica tem sido tradicionalmente avaliada por diversos autores (Rego & Buarque,
1997; Tunmer, Nesdale & Wright 1987; Guimarães, 2003; Barrera & Maluf, 2003; Gombert, 2003;
Tsang & Stokes, 2001, citados por Capovilla, Capovilla & Soares, 2004) através de tarefas orais
como:
(a) julgar frases - avaliar frases correctas ou com incorrecções morfossintácticas, como em O
menina está a dormir, ou com incorrecções de ordem sintácticas, como em A menina ler sabe já;
(b) corrigir frases - após ouvir frases como em Está o quente leite, com incorrecções na ordem
dos constituintes da frase, corrigi-las, produzindo a frase correctamente;
(c) localizar o erro – após ouvir frases com incorrecções, a criança terá de identificar a posição
do erro na frase;
(d) completar frases - adicionar terminações correctas em palavras integradas em frases, como
em Eu comprei um livro, o João comprou dois li__, ou adicionar as palavras que faltam num
texto (ex.: Certa vez eu sonhei que em baixo da ___ havia um ___ escondido);
(e) replicar erros - ao ouvir duas frases, uma incorrecta e uma correcta, repetir o erro da
incorrecta na correcta (ex.: a partir de Nós pegou os livros e de Nós gostamos do filme, dizer Nós
gostou do filme);
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
25
(f) categorizar unidades sintácticas - ao ouvir expressões linguísticas, conhecer a sua distribuição
tendo em conta as propriedades da sua categoria sintáctica.
São escassos os estudos sobre consciência sintáctica em Português Europeu. Um estudo realizado
por Rego (1993), envolvendo 32 crianças brasileiras, permitiu verificar que a consciência sintáctica
constitui um bom preditor do progresso das crianças tanto na descodificação quanto na
compreensão da leitura. No entanto, num estudo posterior do mesmo autor, envolvendo 50 crianças
brasileiras alfabetizadas através do método tradicional com ênfase exclusiva no ensino de padrões
silábicos, apresentou resultados diferentes. Rego (1995) não encontrou uma relação entre
consciência sintáctica e progresso inicial na descodificação das palavras. Embora os resultados do
estudo de Barrera (2000, citado por Guimarães, 2003) corroborem os resultados encontrados por
Rego (1993), é fulcral relembrar a hipótese de Rego (1995), que defende que a influência da
consciência sintáctica sobre o desempenho inicial na leitura depende do método de ensino a que a
criança/leitor é exposta/o.
Sim-Sim (1998/2001) propõe um instrumento de avaliação da linguagem oral para o PE, que inclui
tarefas que implicam o recrutamento da consciência sintáctica, a saber:
(a) Reflexão morfo-sintáctica – é pedido à criança que julgue a gramaticalidade da estrutura
sintáctica e que, em caso de agramaticalidade, identifique o erro e o corrija;
(b) Completamento de frases – exige a compreensão de uma estrutura frásica, no qual foi
suprimida uma, duas ou três palavras; pretende-se que o sujeito seja capaz de completar a
frase através da identificação dos elementos em falta.
No âmbito da aplicação do instrumento supracitado, Sim-Sim (1998) verificou que as crianças com
nove anos têm mais facilidade em identificar erros em estruturas frásicas e proceder à respectiva
correcção do que as crianças com seis anos, variando, contudo, as taxas de sucesso em função de a
estrutura frásica ser mais ou menos complexa. Por exemplo, numa tarefa de detecção do erro e de
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
26
correcção da frase, um enunciado como O muro cavalo o saltou levou a que 57% das crianças de
seis anos identificassem o erro e 41% corrigissem a frase. Perante um enunciado como O bebé fez
barulho antes que adormecer, apenas 18% das crianças com 6 anos detectaram o erro, sendo que só
10% o corrigiram. Em contrapartida, aos nove anos, 85% das crianças identificaram o erro e 63%
corrigiram o enunciado do primeiro caso, tendo essas percentagens descido, respectivamente, para
71% e 51% no segundo caso.
Duarte (2008: 39) sugere diversas actividades para estimulação da consciência sintáctica, que
podem não recorrer a metalinguagem gramatical. Ilustrando:
(a) Manipulação envolvendo substituição – construção de frases idênticas à produzida pelo
adulto, substituindo apenas uma palavra, fundamental para a identificação de classes gramaticais
(ex: “Ouve a frase que vou dizer: O menino jogou à bola. – Agora, inventa outras frases iguais
em tudo menos na palavra menino (Duarte, 2008: 41));
(b) Manipulação envolvendo redução – redução de frases sem retirar o sentido às mesmas, o que
lhes permite identificar os elementos obrigatórios da frase (ex: “Reduz o mais possível as frases
sem lhes retirares o sentido: Na semana passada, o Pedro guardou os esquis no armário do
quarto” (Duarte, 2008: 42));
(c) Manipulação envolvendo segmentação – identificação das partes fundamentais da estrutura
frásica, permitindo identificar unidades estruturais da frase e sua função (ex: “Ouve com atenção
a frase que eu vou dizer: O Pedro comeu gelatina. Agora diz-me quais são os bocados mais
importantes da frase” (Duarte, 2008: 42));
(d) Complexidade sintáctica – sensibilização da criança para tarefas que permitem alertar a
criança para a complexidade sintáctica (juntar duas frases numa só; escolher palavras de uma
lista, para completar frases; sublinhar a frase que está dentro da frase maior (cf. Duarte, 2008:
46)).
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
27
Como se pode verificar, a relevância das diversas competências de consciência linguística para a
aprendizagem de leitura e escrita têm sido estudadas e comprovadas. No entanto, ainda não é
possível afirmar, concretamente, o tipo de relação estabelecida entre estas duas áreas,
nomeadamente, na consciência sintáctica. Nesta tese, é feita apenas a avaliação da consciência
sintáctica através da aplicação de uma tarefa de reconstrução, não se estabelecendo, relações com a
aprendizagem da leitura e da escrita. Ao presente trabalho subjaz, no entanto, o pressuposto de que
a estimulação da consciência sintáctica constitui um factor promotor do nível de sucesso no
desempenho de tarefas de leitura e de escrita (Duarte, 2008, entre outros).
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
28
2. METODOLOGIA
No segundo capítulo desta dissertação, explicitam-se os critérios metodológicos adoptados neste
estudo, apresentando-se: i) o objectivo, as questões de investigação e as hipóteses estabelecidos
(secção 2.1); ii) a caracterização da amostra (secção 2.2); iii) o material e os procedimentos
utilizados (secção 2.3); iv) o tratamento dos dados (secção 2.4).
2.1. Objectivo, Questões de Investigação e Hipóteses
Em contexto nacional, não é conhecida investigação sobre consciência sintáctica, pelo que o
principal objectivo geral deste projecto é o de contribuir para a criação de um instrumento de
avaliação de consciência sintáctica, através da construção e da aplicação de uma tarefa específica
deste tipo de consciência, que envolve a formulação de juízos de valor e a reconstrução das frases
apresentadas à criança. Com base na revisão bibliográfica efectuada no capítulo anterior, pretende-
se responder à seguinte questão geral: “A reconstituição de frases constituiu uma tarefa adequada à
avaliação da consciência sintáctica?”.
No sentido de responder à questão acima descrita, definiram-se as seguintes questões de
investigação específicas para o projecto:
1. O factor que dá origem à agramaticalidade condiciona o desempenho no reconhecimento e na
correcção das sequências agramaticais?
2. O nível de escolaridade condiciona o desempenho na tarefa de reconstituição de frases?
3. A variável género condiciona o desempenho na tarefa de reconstituição de frases?
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
29
Para responder à questão 1, foram apresentados, às crianças, estímulos linguísticos com diferentes
estruturas agramaticais. Num estudo realizado por Sim-Sim (1998), a aplicação da tarefa de
detecção do erro e de correcção de frase em sequências agramaticais por deslocação de constituintes
(ex: o muro cavalo o saltou) obteve resultados mais baixos do que as sequências que pressuponham
alterações de concordância (ex: O bebé fez barulho antes que adormecer). Assim, tendo em conta a
variação na complexidade das estruturas testadas, a hipótese que se coloca é a seguinte:
Hipótese 1: O tipo de agramaticalidade testado influencia o desempenho das crianças no
reconhecimento e correcção das sequências agramaticais.
Com o objectivo de testar a adequação da tarefa de reconstituição de frases à avaliação da
consciência sintáctica em diferentes níveis de escolaridade (cf. questão 2), seleccionaram-se
crianças de dois anos de escolaridade (do 1º e do 4º anos do Ensino Básico) para se efectuar a
avaliação à entrada e à saída do 1º Ciclo do Ensino Básico. Segundo os estudos de Sim-Sim (1998)
e Karanth e Suchitra (1993, citados por Silva, 2003), crianças com oito/nove anos demonstram um
melhor desempenho em tarefas de detecção do erro e correcção da frase, do que crianças com
seis/sete anos. Assim, colocou-se a seguinte hipótese:
Hipótese 2: As crianças a frequentar o 1º ano de escolaridade revelam níveis de sucesso inferiores
aos das crianças do 4º ano, no desempenho da tarefa de reconstituição.
A variável género (cf. questão 3) foi incluída no estudo para testar os resultados obtidos por
Meneses et al (2004), que concluiu que, perante tarefas de consciência fonológica, não há
diferenças significativas entre o género masculino e o feminino. Tendo em conta esta informação, a
hipótese que se coloca é:
Hipótese 3: Os resultados obtidos para as crianças de género masculino e feminino não diferem
significativamente.
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
30
2.2. Caracterização da amostra
A amostra utilizada neste projecto é constituída por crianças a frequentar o 1º e o 4º anos do 1º
Ciclo do Ensino Básico, sendo provenientes de dois Agrupamentos de Escolas distintos
(Agrupamento de Escolas São Vicente-Telheiras (Escola Básica Luz/Carnide), Agrupamento de
Escolas da Pontinha (Escola Básica Mello Falcão)) e do Colégio José Álvaro Vidal, integrado numa
Instituição de Solidariedade Social (IPSS) – Fundação CEBI. A recolha da amostra foi realizada por
três investigadoras que participaram na concretização do projecto referido na introdução a esta
tese4, não abrangendo os resultados obtidos pela quarta investigadora, referida anteriormente, por
motivos alheios à investigação.
A amostra foi seleccionada por conveniência e em função dos critérios de exclusão previamente
definidos, que abaixo se listam. Trata-se, por isso, de uma amostragem de tipo objectiva, sendo os
elementos seleccionados de acordo com um objectivo pré-determinado (Maroco, 2003).
Foram avaliadas todas as crianças que frequentavam as turmas dos 1º e 4º anos seleccionadas e que
se encontravam nas escolas no momento da avaliação. Excluíram-se todas as crianças que não
correspondessem aos seguintes critérios de inclusão:
- ser monolingue;
- ter como língua materna o Português;
- frequentar o 1º ou o 4º anos de escolaridade pela primeira vez;
- ser filho de pais portugueses;
- não ter perturbações físicas, mentais ou sensoriais que pudessem interferir com o normal
desenvolvimento da linguagem e da fala;
4 Castanheira, A. R. (2010). A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa
de identificação. (em preparação); Costa, M. (2010). A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição. (em preparação); Alexandre, R. (2010). A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação. (em preparação).
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
31
- não ter dificuldades na aprendizagem de leitura e de escrita detectadas pelos professores e/ou
outros técnicos.
Assim, a amostra é constituída por 84 crianças, sendo que 40 frequentam o 1º ano de escolaridade e
têm idades compreendidas entre os 6A4M (76 meses) e 7A11M (95 meses) e 44 frequentam o 4º
ano do ensino básico, com idades compreendidas entre os 9A1M (109 meses) e os 10A5M (125
meses).
Construiu-se um documento escrito para recolha de informações relativas à formação académica,
idade e situação socio-profissional dos pais/cuidadores das crianças avaliadas – ficha socio-
profissional. Visto que as informações disponibilizadas pelos professores e pelas escolas não
permitiam o preenchimento completo desta ficha, apenas foi possível recolher dados sobre a
situação profissional dos pais/cuidadores (ver Apêndice I). A classificação do nível profissional foi
efectuada a partir da profissão do pai ou da mãe (a mais elevada), recorrendo a uma escala5 com
seis categorias (ver Apêndice II), agrupadas em duas classes: classe 1 (tendencialmente alta), que
agrupa as três categorias mais altas, e classe 2 (tendencialmente baixa), que agrupa as restantes três
categorias mais baixas. No Quadro 2 apresenta-se a caracterização da amostra relativamente ao ano
de escolaridade, ao género e ao meio socio-profissional.
5 Classificação feita com base na Classificação Nacional das Profissões (1994) do Instituto de Emprego e Formação
Profissional.
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
32
Quadro 2 – Caracterização da amostra estudada relativamente ao ano de escolaridade, género e meio socio-profissional.
1º ano de
escolaridade
[6;04 – 7;11]
4º ano de
escolaridade
[9;01 – 10;05]
Total
n % n % N %
Idade 40 47,6% 44 52,4% 84 100%
Género Masculino 22 26,2% 21 25,0% 43 51,2%
Feminino 18 21,4% 23 27,4% 41 48,8%
Meio socio-
profissional
Classe 1
(tendencialmente alta) 16 19,0% 28 33,4% 44 52,4%
Classe 2
(tendencialmente baixa) 24 28,6 16 19,0% 40 47,6%
Como se pode verificar no Quadro 2, a distribuição da amostra é homogénea em relação ao ano de
escolaridade, ao género e ao meio socio-profissional, ou seja, relativamente ao ano de escolaridade,
o número de crianças que frequentam o 1º ano é de 40 e o 4º ano é de 44; quanto ao género, os
valores também são aproximados, havendo 43 sujeitos do género masculino (22 sujeitos do 1º ano e
21 do 4º ano de escolaridade) e 41 sujeitos do género feminino (18 crianças do 1º ano e 23 do 4º
ano de escolaridade); no que diz respeito ao meio socio-profissional, 44 crianças pertencem à classe
1 (16 crianças do 1º e 28 crianças do 4º ano de escolaridade) e 40 crianças pertencem à classe 2 (24
crianças do 1º ano e 16 do 4º ano de escolaridade).
2.3. Material e Procedimentos
2.3.1. Construção da tarefa de reconstituição
Para realizar o projecto referido na secção 2.1., construiu-se um instrumento de recolha de dados
constituído por tarefas de consciência sintáctica, aplicadas pelas investigadoras intervenientes no
estudo. Na já referida ausência de trabalho do domínio da consciência sintáctica para o PE, e tendo
em conta as tarefas para avaliação da consciência linguística (sintáctica ou fonológica) referidas no
capítulo 1, foram construídas as seguintes tarefas para a prova de avaliação de consciência
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
33
sintáctica proposta no projecto mencionado: reconstituição, supressão, identificação e
manipulação.
Para a construção dos estímulos linguísticos usados nas quatro tarefas, foi estabelecido um conjunto
de critérios, a fim de homogeneizar o formato dos estímulos:
a) Controlo da extensão média dos enunciados – evitar estruturas sintácticas demasiado
extensas, para evitar complexificar a tarefa em termos do recurso à memória de curto
prazo;
b) Controlo do conteúdo semântico dos itens lexicais - seleccionar itens lexicais cujo
significado seja acessível à idade e experiência das crianças de ambos os anos de
escolaridade;
c) Utilização exclusiva de nomes, verbos e adjectivos;
d) Utilização de nomes e de adjectivos em diferentes posições da frase;
e) Manipulação de verbos de diferentes subclasses;
f) Controlo do formato fonológico dos itens – para evitar complexidade fonológica,
seleccionaram-se itens lexicais:
i. com o padrão acentual paroxítono (o mais comum no PE (Mateus et al., 2003));
ii. com estruturas silábicas o mais próximas possível da estrutura consoante-vogal
(CV), a mais frequente no PE (Andrade & Viana, 1993);
iii. com extensão média da palavra equivalente a dissílabo ou a trissílabo, por serem
estas extensões de palavras as mais frequentes no léxico infantil (Vigário, Freitas e
Frota, 2006);
iv. preferencialmente, sem a ocorrência de fenómenos de sândi no contacto entre
palavras, para não perturbar a compreensão dos vários itens lexicais.
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
34
A tarefa de reconstituição estudada nesta tese foi construída com o objectivo de que a criança
identifique se o enunciado produzido é gramatical ou agramatical e, caso seja agramatical, pretende-
se que realize a sua correcção, sem qualquer tipo de justificação. Assim, construíram-se itens
gramaticais (cinco itens) (ex.: O irmão do Pedro joga futebol) e itens agramaticais (12 itens). Estes
últimos foram trabalhados de acordo com os seguintes aspectos sintácticos:
(11) concordância nominal (seis itens) (ex.: O carro do tios foi caro),
(12) deslocação de uma parte de um constituinte (três itens) (ex.: Casa é azul esta),
(13) inserção de uma expressão no interior de um constituinte (três itens) (ex.: A casa hoje da tia
está a ser pintada).
No que diz respeito à agramaticalidade por não observação de concordância nominal, construíram-
se seis itens, nos quais se realizaram alterações em várias posições:
(14) no início da frase, em posição de sujeito (três itens) (ex.: Os pais comeu uma maçã),
(15) no final da frase (três itens) (ex.: A menina pegou nos livro).
Em sequências como O carro do tios foi caro, pretende-se que a criança julgue a frase,
considerando-a como agramatical, identifique o erro e corrija a concordância nominal do primeiro
constituinte, tendo duas hipóteses de correcção:
(16) O carro do tio foi caro.
(17) O carro dos tios foi caro.
Quanto à agramaticalidade por deslocação de uma parte de um constituinte, construíram-se três
itens, movendo-se uma parte do constituinte que ocupa a posição:
(18) inicial de frase (um item) ([Casa] é azul esta),
(19) final de frase (dois itens) (ex.: O pai comprou grande [um carro]).
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
35
Numa sequência como Casa é azul esta, pretende-se que a criança julgue a frase como sendo
agramatical, identifique o erro e desloque o artigo esta para uma posição gramatical, tendo uma
hipótese de correcção: Esta casa é azul.
Relativamente à agramaticalidade por inserção de expressões (preposições e advérbios) no interior
de um constituinte, construíram-se três itens distintos quanto à posição em que essas expressões são
inseridas:
(20) no primeiro constituinte (dois itens) (ex.: A até mãe comprou um gelado),
(21) no último constituinte (um item) (O menino comeu o ontem bolo).
Perante um item como A casa hoje da tia está a ser pintada, as crianças devem reconhecer a
sequência como agramatical e, ao proporem a correcção, devem deslocar a expressão da
agramaticalidade para uma posição em que a mesma expressão possa ocorrer. Assim, no exemplo
dado, o advérbio hoje pode ocorrer em cinco posições:
(22) Hoje, a casa da tia está a ser pintada.
(23) A casa da tia, hoje, está a ser pintada.
(24) A casa da tia está hoje a ser pintada.
(25) A casa da tia está a ser hoje pintada.
(26) A casa da tia está a ser pintada hoje.
Na tarefa de reconstituição, os itens de diferentes categorias encontram-se aleatoriamente
distribuídos, para evitar fenómenos de interferência e/ou imitação nas respostas.
Na instrução dada para realização da tarefa, pedia-se à criança para reconhecer a frase como
correcta ou incorrecta e, no caso de ser incorrecta, pretendia-se que corrigisse o erro e produzisse a
frase correctamente. Era referido que se pretendia que a criança não acrescentasse nem eliminasse
qualquer palavra da frase dada. O enunciado que abaixo se transcreve faz parte do protocolo de
aplicação da tarefa de reconstituição:
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
36
Eu vou dizer-te umas frases. Algumas estão correctas e outras erradas.
Primeiro, quero que me digas se a frase está certa ou errada; se estiver
errada, tens de a corrigir e dizê-la de forma correcta, sem tirares nem pores
mais palavras. Por exemplo, a frase “O menino comprou um rebuçado”
está correcta. Mas a frase “As menina andou de carro” está errada,
porque, para estar correcta, temos de dizer “A menina andou de carro”.
Vou dar-te outro exemplo, a frase “Eu caderno escrevo no” está incorrecta
porque as palavras estão na ordem errada. O correcto é: “Eu escrevo no
caderno”. Entendeste?
De seguida, eram fornecidos à criança mais exemplos de frases ilustrativas de cada aspecto
sintáctico controlado neste estudo, para que ela compreendesse a tarefa, ou seja, o investigador
produzia a frase e, após a resposta da criança, ajudava-a fornecendo o formato gramatical da frase.
Apresentam-se, de seguida, os itens de treino presentes na tarefa:
(27) A menina gosta das boneca (após a resposta da criança, dizia-se: a frase está errada porque
o correcto é dizer A menina gosta da boneca.),
(28) O cão é preto (após a resposta da criança, dizia-se: a frase está certa.),
(29) O só pai tem um telemóvel (após a resposta da criança, dizia-se: a frase está errada porque a
frase certa é O pai só tem um telemóvel.).
Terminada a construção da tarefa, realizou-se a validação dos seus conteúdos por um painel de
validação constituído por um grupo de cinco especialistas na área da Linguística e da Terapia da
Fala: a) duas especialistas em Linguística, doutoradas na área da Sintaxe; b) uma especialista em
Linguística, doutorada na área de Aquisição da Fonologia; c) uma especialista em Terapia da Fala e
doutoranda em Linguística Aplicada - área da Sintaxe; d) uma especialista em Terapia da Fala,
Mestre na área das Perturbações Específicas do Desenvolvimento da Linguagem.
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
37
Relativamente à tarefa de reconstituição, as indicações do painel de validação prenderam-se com
aspectos fonológicos, tendo sido sugerida a substituição de palavras, para evitar que o item
apresentasse muitas fricativas em sequência. Desta forma, efectuaram-se alterações para aumentar o
contraste fonológico na sequência segmental Este menino escreveu um texto, que foi substituída por
O menino escreveu um texto.
Outra indicação do painel de validação surgiu no sentido da substituição da expressão inserida no
interior do constituinte, de forma a que o respectivo item ficasse diferente de um dos exemplos
referidos nas instruções da tarefa. Assim, a sequência A só mãe comprou um gelado foi substituída
por A até mãe comprou um gelado.
A versão final da tarefa de reconstituição, aplicada às crianças, continha os itens de treino e de teste
apresentados no Quadro 3. Os números que antecedem os itens referem-se à ordem em que
aparecem na tarefa.
Quadro 3 – Itens da tarefa de reconstituição.
Itens de treino
a) A menina gosta das boneca. c) O só pai tem um telemóvel
b) O cão é preto.
Itens de teste
1-O irmão do Pedro joga futebol. 10-Ontem eu comi massa.
2-Os pai comeu uma maçã. 11-Casa é azul esta.
3-A até mãe comprou um gelado. 12-O menino escreveu um textos.
4-O pai comprou grande um carro. 13-A casa hoje da tia está a ser pintada.
5-A menina pegou nos livro. 14-Estas flores são brancas.
6-Ela guardou os brinquedos. 15-Este é o livro das menina.
7-A caneta é bonita do pai. 16-O menino só apanhou uma flor pequenina.
8-O menino comeu o ontem bolo. 17-O carro do tios foi caro.
9-A canetas ficou estragada.
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
38
Concluída a fase de construção das tarefas, realizou-se um pré-teste com cerca de 5% dos elementos
da amostra (10 crianças pois inicialmente pensou-se que a amostra total seria de 200 crianças). Uma
vez que não foram detectadas anomalias na estrutura da tarefa, passou-se à fase da sua aplicação.
2.3.2. Aplicação das tarefas construídas
O contacto inicial com os agrupamentos de escolas e com o colégio em causa foi realizado através
de um documento escrito (ver Apêndice III), no qual se explicava sucintamente o projecto e o seu
objectivo e se solicitava aos directores dos agrupamentos/colégio a autorização para a sua aplicação
junto dos alunos dos 1º e 4º anos das escolas em causa. Posteriormente, solicitaram-se as
autorizações dos encarregados de educação das crianças envolvidas no projecto para o que se
utilizou o documento que se encontra no Apêndice IV.
As outras três investigadoras envolvidas na elaboração da presente prova construíram as tarefas já
referidas:
a. Com a tarefa de supressão6 pretende-se que a criança identifique os constituintes sintácticos
que pode suprimir/omitir das estruturas sintácticas fornecidas pelo investigador, de forma a que
estas permaneçam gramaticais. Os itens desta tarefa apresentam-se no Quadro 4. Os números
que antecedem os itens referem-se à ordem em que aparecem na tarefa.
6 Para mais informações sobre a construção e aplicação desta tarefa conferir Amaral, M. A. (2010). A consciência
sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de supressão (em
preparação).
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
39
Quadro 4 – Itens da tarefa de supressão.
Itens de treino
I - Estrutura SV
Na cozinha a Maria varre o chão. No campo a avó apanha flores.
A Maria na cozinha varre o chão. A avó no campo apanha flores.
A Maria varre o chão na cozinha. A avó apanha flores, no campo.
II - Estrutura N III - Estrutura SN + V
A loja da mãe é grande. No cinema o João viu um filme de aventuras.
A menina brinca em casa da mãe. No parque a Maria comprou um gelado de morango.
Itens de teste
1- Na sala o João arruma os livros. 5- No parque a Sara perdeu a boneca.
O João na sala arruma os livros. A Sara no parque perdeu a boneca.
O João arruma os livros na sala. A Sara perdeu a boneca no parque.
2- Os sapatos do pai são grandes. 6- Na rua a Carolina apanhou uma flor do jardim.
A mãe limpa os sapatos do pai. A Carolina apanhou uma flor do jardim na rua.
3- Em casa a Joana limpa o quarto. 7- A casa da Sara tem um jardim.
A Joana em casa limpa o quarto. O menino foi a casa da Sara.
A Joana limpa o quarto em casa.
8- Na escola a Francisca foi à sala da irmã.
4- No Algarve a Sandra vai à piscina da tia. A Francisca foi à sala da irmã na escola.
A Sandra vai à piscina da tia no Algarve.
9- O carro do Manuel é amarelo.
A ursa está no carro do Manuel.
b. Com a tarefa de identificação7, pretende-se que a criança identifique o item intruso num
conjunto de três itens, ou seja, pretende-se que a criança identifique o item cujas propriedades
sintácticas são diferentes das dos outros dois itens. Os itens desta tarefa estão apresentados no
Quadro 5. Os números que antecedem os itens referem-se à ordem em que aparecem na tarefa.
7 Para mais informações sobre a construção e aplicação desta tarefa conferir Castanheira, A. R. (2010). A consciência
sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de identificação (em
preparação).
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
40
Quadro 5 – Itens da tarefa de identificação.
Itens de treino
Adje
ctiv
os a) A bola é amarela. a) As calças de fazenda são minhas.
b) A bola é minha. b) As calças muito rasgadas são minhas.
c) A bola é grande. c) As calças bem pasSADVas são minhas.
Nom
es a) Os rapazes correram. a) Esta menina brinca no recreio.
b) Estas meninas chegaram. b) Vi um jogo na televisão.
c) Comemos muitos bolos. c) O pai lê o jornal.
Ver
bos
a) A mãe comprou um jogo. a) O avô assistiu ao filme.
b) O bebé da Rita nasceu. b) A mãe escreveu uma carta.
c) Esta menina das tranças caiu. c) A Rita obedeceu à mãe.
Itens de teste
Ad
ject
ivo
s
1- a) A mala é azul. 4- a) A casa bem pintada está aqui.
b) A mala é minha. b) A casa de pedra está aqui.
c) A mala é grande. c) A casa muito grande está aqui.
2- a) A casa está aqui. 5- a) A camisola de lã é minha.
b) A casa está pintada. b) A camisola bem lavada é minha.
c) A casa está bonita. c) A camisola muito grande é minha.
3- a) A bola de futebol é branca. 6- a) O livro muito grande caiu.
b) A bola de futebol é pequena. b) O livro menos sujo caiu.
c) A bola de futebol é minha. c) O livro da menina caiu.
Nom
es
7- a) Fizemos muitos gelados. 12- a) O avô do João joga xadrez.
b) As meninas brincaram. b) As irmãs da mãe cozinham bem.
c) Estes atletas correram. c) Brinquei com os meus primos.
8- a) Os rapazes brincam na rua. 13- a) Fizemos um trabalho grande.
b) Lemos o jornal na rua. b) Fantasmas metem muito medo
c) Aquelas senhoras caíram na rua. c) Elefantes são animais selvagens.
9- a) O João adormeceu na cama. 14- a) Limões são frutos amarelos.
b) Vi um filme na televisão. b) Coelhos comem muitas cenouras.
c) Esta menina brinca na rua. c) Brincamos sempre no intervalo.
10- a) A tia mais alta espirrou. 15- a) Bolos são guloseimas boas.
b) O amigo do João saiu. b) Encontrámos uma boneca grande.
c) A mãe da Rita chegou. c) Elefantes são animais grandes.
11- a) Aquela menina loira é bonita.
b) Os meninos altos são giros.
c) Somos todos muito morenos.
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
41
Ver
bos
Verbos intransitivos Verbos transitivos directos
16- a) O pai comprou um carro. 19- a) A mãe embala o bebé.
b) A minha sobrinha já nasceu. b) O Pedro foi a Paris.
c) O jogador de futebol caiu. c) Este menino escreveu um livro.
17- a) Os colegas da escola sorriram. 20- a) A tia fez um sumo.
b) A avó da Rita espirrou. b) O pai ouviu a música.
c) O pai lê o jornal. c) O atleta mais alto caiu.
18- a) Ela comprou um livro. 21- a) Os músicos ganharam o concurso.
b) O bebé dorme bem. b) Estes alunos estudaram muito bem.
c) Aquela criança chora muito. c) As irmãs compraram um bolo.
c. Com a tarefa de manipulação8, pretende-se que a criança substitua uma palavra por outra, sem
alterar nem a estrutura da frase nem o número de palavras da mesma. Assim, pretende-se que a
criança substitua a palavra destacada pela investigadora por outra da mesma categoria
sintáctica. Os itens desta tarefa encontram-se no Quadro 6. Os números que antecedem os itens
referem-se à ordem em que aparecem na tarefa.
Quadro 6 – Itens da tarefa de manipulação.
Itens de treino
a) Aquele carro é meu. d) A menina fez um sumo.
b) O menino tem um jogo. e) O sapato está roto.
c) O João espirrou. f) O Miguel tem uma bola furada.
Itens de teste
1- Este menino jogou à bola no recreio. 10- Aquela ponte é muito perigosa.
2- O bebé chora quando acorda. 11- O Pedro tem um carro.
3- O menino está zangado. 12- O Noddy tem um barrete engraçado.
4- As crianças dormem à noite. 13- Eu vi um grande livro.
5- Aquela boneca da Maria é cor-de-rosa. 14- Eu tenho um gato peludo.
6- Os cães são muito espertos. 15- A Mariana lê o livro.
7- O meu pai dança. 16- O João vai à loja com a tia.
8- Aquela linda casa é grande. 17- A Sara pintou um desenho.
9- O João comprou um boneco. 18- A mãe comprou uma saia rasgada.
8 Para mais informações sobre a construção e aplicação desta tarefa conferir Alexandre, R. (2010). A consciência
sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação (em
preparação).
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
42
Para que cada investigadora pudesse aplicar as quatro tarefas construídas, definiu-se um conjunto de
normas, de forma a que as mesmas pudessem ser aplicadas de igual modo pelas quatro
investigadoras. A aplicação da totalidade das tarefas foi realizada em sequência pelas quatro
investigadoras, que registaram as respostas por escrito numa folha de registo e realizaram, também,
o registo áudio de todo o processo de aplicação das tarefas. Não foi possível realizar registo áudio
com 6 crianças, devido a questões de ordem técnica. A ordem de apresentação das tarefas foi a
seguinte: tarefa de reconstituição, tarefa de supressão, tarefa de identificação e tarefa de
manipulação (ver Apêndice V). A ordem foi mantida em todas as crianças.
Para aplicar a prova, retirou-se cada criança da sala de aula, sendo conduzida a uma outra sala onde
ficava apenas com a investigadora. Esta forneceu informações à criança sobre o que iria acontecer.
Colocaram-se questões pessoais à criança, incidindo sobre o nome, a idade, o agregado familiar
(nome dos pais e respectiva profissão), as actividades preferidas, etc. Seguidamente, para cada
tarefa, procedeu-se à sua aplicação iniciando-se o procedimento em função das instruções
específicas de cada tarefa, apresentadas de forma sucinta, clara e adequada ao nível de escolaridade
de cada criança. De seguida, demonstrou-se o que se pretendia através dos itens de treino da tarefa
em apresentação. Por fim, procedeu-se à aplicação dos itens da tarefa, sendo estes produzidos com
contorno entoacional próprio das frases declarativas e sem destaque prosódico de itens lexicais ou
de constituintes da frase. A aplicação das tarefas demorou entre 15 a 30 minutos, por criança.
2.4. Tratamento dos dados
Após a recolha dos dados, efectuou-se, no âmbito deste estudo, a cotação das respostas de cada
criança para a tarefa de reconstituição. Esta tarefa está dividida em duas fases:
i. Etapa 1 – consideram-se como respostas correctas as que reconhecem os itens gramaticais
como correctos e os itens agramaticais como incorrectos;
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
43
ii. Etapa 2 – consideram-se como respostas correctas as que corrigem os itens agramaticais
produzindo sequências correctas, sem alteração do número de palavras da frase ou da
estrutura sintáctica fornecida.
As respostas reconhecidas correctamente foram cotadas com valor (1) e as reconhecidas de forma
incorrecta foram cotadas com o valor zero (0), sendo que o valor desta Etapa 1 é de 17. Ilustrando
no Quadro 7:
Quadro 7 – Ilustração da cotação das respostas na Etapa 1.
Itens Reconhecimento Pontuação
1- O irmão do Pedro joga futebol. Correcta 1
6- Ela guardou os brinquedos. Incorrecta 0
2- Os pais comeu uma maçã. Incorrecta 1
7- A casa é bonita do pai. Correcta 0
Na Etapa 2 da tarefa, só são considerados 12 itens (os agramaticais), sendo cotados com valor um
(1) se a correcção produzida pelas crianças estiver de acordo com a estrutura-alvo pretendida, ou
cotação de valor zero (0) se não corresponder a uma das estruturas-alvo possíveis. Ilustrando no
Quadro 8:
Quadro 8 – Ilustração da cotação das respostas na Etapa 2.
Itens Reconhecimento Correcção Pontuação
15- Este é o livro das menina. Incorrecta Este é o livro da menina. 1
3- A até mãe comprou um gelado. Incorrecta A mãe comprou um gelado. 0
11- Casa é azul esta. Incorrecta (não corrige) 0
No Quadro 9, apresentam-se as respostas consideradas correctas em cada item, ou seja, as
estruturas-alvo pretendidas para cada item, estando estes ordenados pelos aspectos sintácticos
estudados.
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
44
Quadro 9 – Itens da tarefa de reconstituição e respectivas estruturas-alvo pretendidas.
Itens Etapa 1 -
Reconhecimento Etapa 2 - Correcção
Gram
ati
cais
1-O irmão do Pedro joga futebol. Correcta
6-Ela guardou os brinquedos. Correcta
10-Ontem eu comi massa. Correcta
14-Estas flores são brancas. Correcta
16-O menino só apanhou uma flor
pequenina. Correcta
Ag
ra
ma
ticais
Nã
o c
on
cord
ân
cia
nom
inal
2-Os pai comeu uma maçã. Errada O pai comeu uma maçã.
Os pais comeram uma maçã.
5-A menina pegou nos livro. Errada A menina pegou no livro.
A menina pegou nos livros.
9-A canetas ficou estragada. Errada A caneta ficou estragada.
As canetas ficaram estragadas.
12-O menino escreveu um textos. Errada O menino escreveu um texto.
O menino escreveu uns textos.
15-Este é o livro das menina. Errada Este é o livro da menina.
Este é o livro das meninas.
17-O carro do tios foi caro. Errada O carro do tio foi caro.
O carro dos tios foi caro.
Desl
ocaçã
o d
e u
ma
pa
rte
de
um
co
nst
itu
inte
4-O pai comprou grande um carro. Errada O pai comprou um grande carro.
O pai comprou um carro grande.
7-A caneta é bonita do pai. Errada A caneta do pai é bonita.
A caneta bonita é do pai.
11-Casa é azul esta. Errada Esta casa é azul.
Inse
rção d
e u
ma e
xp
ress
ão n
o i
nte
rio
r d
e u
m
con
stit
uin
te
3-A até mãe comprou um gelado. Errada Até a mãe comprou um gelado.
A mãe até comprou um gelado.
A mãe comprou até um gelado.
8-O menino comeu o ontem bolo. Errada Ontem, o menino comeu o bolo.
O menino, ontem, comeu o bolo.
O menino comeu ontem o bolo.
O menino comeu o bolo ontem.
13-A casa hoje da tia está a ser pintada. Errada Hoje, a casa da tia está a ser pintada.
A casa da tia, hoje, está a ser pintada.
A casa da tia está hoje a ser pintada.
A casa da tia está a ser hoje pintada.
A casa da tia está a ser pintada hoje.
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
45
Todas as respostas dadas pelas crianças que não foram ao encontro das referidas neste quadro foram
consideradas como erradas e cotadas com valor zero (0). Após analisar todos os erros produzidos
pelas crianças, foi possível agrupá-los de forma a construir os seguintes quadros, que permitem
apresentar todos os itens e os erros produzidos pelas crianças. O Quadro 10 contém informação
sobre: (i) as respostas dadas pelos sujeitos da amostra aos itens gramaticais da tarefa; (ii) a
respectiva cotação atribuída.
Quadro 10 – Tipos de respostas dadas pelas crianças na análise dos itens gramaticais, tipologia de erros e a cotação
atribuída.
Etapa 1 - Reconhecimento Etapa 2 - Correcção Cotação
Gramatical 1
Agramatical
Tipo 0 - Problema no juízo de
gramaticalidade
Corrige por gramatical 0
Não corrige 0
No que diz respeito aos itens gramaticais, foram consideradas como erradas as respostas das
crianças que as consideravam como agramaticais (erro de tipo 0), qualquer que fosse,
posteriormente, a sua correcção, podendo esta ser gramatical ou inexistente. Como exemplo,
perante o item 6, Ela guardou os brinquedos, o sujeito 16-F-49 reconheceu-o como agramatical,
substituindo-o por uma frase gramatical: Ela guardou o brinquedo; perante o item 14, Estas flores
são brancas, o sujeito 70-M-1 reconheceu-o como agramatical, embora não tenha feito qualquer
correcção. Em ambos os casos, foi atribuída cotação zero (0).
O Quadro 11 contém informação sobre (i) as respostas dadas pelos sujeitos da amostra aos itens
agramaticais da tarefa; (ii) a respectiva cotação atribuída.
9 (número do sujeito – género – ano de escolaridade) código utilizado para identificar a criança que efectuou
determinada resposta
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
46
Quadro 11 – Tipos de respostas dadas pelas crianças na análise dos itens agramaticais, tipologia de erros e a cotação
atribuída.
Etapa 1 –
Reconhecimento Etapa 2 – Correcção Cotação
Gramatical
Tipo 0 - Problema no
juízo de
gramaticalidade
0
Agramatical
Corrige por
gramatical
Conforme com a estrutura-alvo pretendida 1
Não conforme com a
estrutura-alvo pretendida
Tipo 1 - Com reformulação total 0
Tipo 2 - Com reformulação parcial 0
Corrige por
agramatical
Tipo 3 – Manutenção do erro 0
Tipo 4 – Supressão de constituintes necessários para obter uma frase 0
Tipo 5 – Reformulação total da estrutura 0
Tipo 6 – Manutenção do erro e alteração de palavras 0
Tipo 7 – Não corrige 0
Quanto aos itens agramaticais, foram consideradas como erradas as respostas das crianças que os
reconheceram como gramaticais (erro de tipo 0) e as que, embora reconhecendo-os como
agramaticais, produziram uma correcção não conforme à estrutura-alvo pretendida. Como
exemplos, perante o item 17, O carro do tios foi caro, o sujeito 12-M-4 reconheceu-o como
gramatical, sendo a resposta cotada com zero (0). Face ao item 4, O pai comprou grande um carro,
o sujeito 35-F-1 reconheceu-o como agramatical, no entanto fez uma correcção que, embora
constitua uma frase gramatical, não atingiu a estrutura-alvo pretendida, fazendo uma reformulação
total que implicou uma alteração da estrutura sintáctica do item (erro de tipo 1): O pai comprou um
carro, sendo a resposta cotada com zero (0). Ao escutar o item 8, O menino comeu o ontem bolo, o
sujeito 83-F-4, embora o tenha reconhecido como agramatical e corrigido por uma frase gramatical,
produziu uma estrutura não conforme ao pretendido, fazendo uma reformulação parcial do item
(erro de tipo 2) que implicou a supressão de um constituinte não necessário para o estabelecimento
da predicação: O menino comeu o bolo, sendo a resposta cotada com zero (0). Diante do item 12, O
menino escreveu um textos, o sujeito 38-F-4 reconheceu-o como agramatical, no entanto corrigiu-o
repetindo o item do teste e mantendo o erro (erro de tipo 3): O menino escreveu um textos, sendo a
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
47
resposta cotada com zero (0). Perante o item 15, Este é o livro das menina, o sujeito 58-M-1
reconheceu-o como agramatical e elaborou uma correcção agramatical, suprimindo constituintes
necessários para a obtenção de uma frase em PE (erro de tipo 4): O livro da menina, sendo a
resposta cotada com zero (0). Como resposta ao item 11, Casa é azul esta, o sujeito 49-M-1,
embora o tenha reconhecido como agramatical, produziu uma correcção agramatical, reformulando
totalmente a frase (erro de tipo 5): A casa fica azul por esta, sendo cotada com zero (0). Face ao
item 9, A canetas ficou estragada, o sujeito 63-F-1, embora o tenha reconhecido como agramatical,
na sua correcção manteve o erro e alterou uma palavra (erro de tipo 6): A canetas ficou errada,
enquanto o sujeito 61-F-1 o reconheceu como agramatical sem o corrigir (erro de tipo 7), sendo
ambas cotadas com zero (0).
A análise dos resultados no próximo capítulo tem na base a classificação das respostas apresentada
nos Quadros 10 e 11.
Para analisar os dados recolhidos, construiu-se uma base de dados no programa informático
Statistic Package for the Social Sciences (SPSS) 17.0, onde se inseriram as variáveis a explorar e os
dados registados no processo de recolha de amostra. A base de dados é constituída pelas variáveis
presentes no Quadro 12.
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
48
Quadro 12 – Variáveis presentes na base de dados.
Categoria Descrição Valores
Sujeito Sujeito
Idade Idade em meses
Género Género 1 = masculino 2 = feminino
Ano_Escolaridade Ano de escolaridade – Faixas
etárias 1 = [76-95] 4 = [109-125]
Meio Meio socio-profissional
1 = Grandes empresários, profissões liberais, quadros
superiores
2 = Profissões intermédias, quadros médios, grandes
agricultores
3 = Trabalhadores qualificados, comerciantes,
artesão, pequenos agricultores, operários qualificados
4 = Trabalhadores semi-qualificados, empregados
5 = Trabalhadores não qualificados
6 = Desempregados, Domésticas, reformados
TReconst_ComGram
Pontuação – Tarefa de
Reconstituição – Compreensão
de frases Gramaticais
0 = errou todas
1 = acertou 1/5
2 = acertou 2/5
3 = acertou 3/5
4 = acertou 4/5
5 = acertou 5/5
TReconst_CompAgram
Pontuação – Tarefa de
Reconstituição: Compreensão de
frases Agramaticais
0 = errou todas
1 = acertou 1/12
2 = acertou 2/12
3 = acertou 3/12
4 = acertou 4/12
5 = acertou 5/12
6 = acertou 6/12
7 = acertou 7/12
8 = acertou 8/12
9 = acertou 9/12
10 = acertou 10/12
11 = acertou 11/12
12 = acertou 12/12
TReconst_ConcNom
Pontuação – Tarefa de
Reconstituição: Correcção da
agramaticalidade por não
observação de frases
concordância nominal
0 = errou todas
1 = acertou 1/6
2 = acertou 2/6
3 = acertou 3/6
4 = acertou 4/6
5 = acertou 5/6
6 = acertou 6/6
TReconst_InsExp
Pontuação – Tarefa de
Reconstituição: Correcção da
inserção de expressão no interior
de um constituinte
0 = errou todas
1 = acertou 1/3
2 = acertou 2/3
3 = acertou 3/3
TReconst_DeslConst
Pontuação – Tarefa de
Reconstituição: Correcção da
agramaticalidade por deslocação
de uma parte do constituinte
0 = errou todas
1 = acertou 1/3
2 = acertou 2/3
3 = acertou 3/3
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
49
Após a construção da base de dados foram inseridos os dados de todos os sujeitos. Tendo em conta
as hipóteses estabelecidas neste estudo, verificou-se o número de sujeitos em cada ano de
escolaridade e de cada género. Para se proceder à análise estatística, recorreu-se a uma análise
descritiva dos dados, que se direcciona para a recolha, organização, análise e interpretação de dados
empíricos (Martinez & Ferreira, 2007). Recorreu-se igualmente a uma análise de variância com dois
factores fixos – ANOVA TWO WAY – que é uma extensão da ANOVA ONE WAY, só que em
vez de considerar apenas uma variável independente, considera duas. A aplicação deste teste tem
como principal objectivo saber qual o efeito isolado e qual o efeito em conjunto (interacção) das
variáveis independentes (ano de escolaridade e género sexual) na variável dependente
(ex: pontuação dos itens gramaticais) (Pestana & Gageiro, 2005). Recorreu-se a este teste
paramétrico uma vez que ambos os anos de escolaridade têm amostras superiores a 30 sujeitos,
assim como cada género (43 sujeitos do género masculino e 41 sujeitos do género feminino).
Segundo Maroco (2003), “de um modo geral assume-se que para amostras de dimensão superior a
30 (isto é, amostras grandes) a distribuição da média amostral é normal”, requisito fundamental para
o uso de estatística paramétrica. Embora neste estudo, quando se pretende estudar o efeito de
interacção cruzando as variáveis ano de escolaridade e género se obtenha sub-grupos com amostras
inferiores a 30 sujeitos, há autores (Pestana & Gageiro, 2005) que não testam a normalidade dentro
dos sub-grupos resultantes da análise do efeito de interacção, desde que ao nível dos efeitos
principais os grupos tenham n’s superiores a 30. O nível de significância usado foi p < 0,05.”
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
50
3. APRESENTAÇÃO, DESCRIÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Este capítulo encontra-se dividido em duas partes:
I. Na primeira parte, apresentam-se os resultados obtidos no âmbito do presente trabalho,
divididos de acordo com a (a)gramaticalidade dos itens apresentados na tarefa. Assim, numa
primeira etapa analisam-se os itens gramaticais (secção 3.1) e, numa segunda, os itens
agramaticais (secção 3.2). Nesta segunda secção, os dados são comentados em três grupos, de
acordo com a causa da agramaticalidade: não observação de concordância nominal (secção
3.2.1); deslocação de parte de um constituinte (secção 3.2.2) e inserção de uma expressão no
interior de um constituinte (secção 3.2.3). Em cada uma destas secções, apresentam-se e
descrevem-se os resultados do desempenho das crianças testadas, que frequentavam os 1º e o 4º
anos do 1º Ciclo do Ensino Básico, sendo ainda levada a cabo a comparação entre os resultados
dos sujeitos destes dois anos de escolaridade. Para finalizar, procede-se à síntese comparativa
dos resultados relativos a cada estrutura agramatical testada nas crianças dos dois anos de
escolaridade (secção 3.2.4).
II. Na segunda parte (secção 3.3), procede-se à discussão dos resultados obtidos neste estudo, em
função das hipóteses formuladas e dos estudos referidos no enquadramento teórico (capítulo 1).
Antes de se dar início à descrição dos resultados, veja-se o Quadro 13, que caracteriza a amostra:
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
51
Quadro 13 – Distribuição da amostra pelos anos de escolaridade.
Frequência Percentagem
1º ano de escolaridade
Masculino 22 26,2%
Feminino 18 21,4%
Total 40 47,6 %
4º ano de escolaridade
Masculino 21 25,0%
Feminino 23 27,4%
Total 44 52,4 %
Total 84 100,0%
Como se pode verificar pelo Quadro 13, o número total de crianças às quais foi aplicada a prova
construída é de 84. A amostra de crianças que frequentavam o 1º ano de escolaridade é de 40, sendo
22 crianças do género masculino e 18 do género feminino. Quanto às crianças que frequentavam o
4º ano de escolaridade, 21 são do género masculino e 23 do género feminino, num total de 44
crianças.
3.1. Apresentação e Descrição dos Resultados das Sequências Gramaticais
A tarefa de reconstituição é composta por cinco itens gramaticais, que as crianças devem
reconhecer como “correctos”, não propondo, por isso, qualquer alternativa. Os referidos itens de
teste são:
1 - O irmão do Pedro joga futebol.
6 - Ela guardou os brinquedos.
10 - Ontem eu comi massa.
14 - Estas flores são brancas.
16 - O menino só apanhou uma flor pequenina.
Como já foi referido no capítulo 2, secção 2.4, relativamente aos itens gramaticais, foi considerada
uma resposta errada sempre que um item fosse reconhecido como “incorrecto”, qualquer que fosse
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
52
a correcção proposta (erro de Tipo 0). Apresentam-se, nas secções seguintes, os resultados relativos
a estes para cada ano de escolaridade.
3.1.1. Resultados do 1º ano de escolaridade
Como já mencionado, neste estudo, a amostra de crianças a frequentar o 1º ano de escolaridade
inclui 40 sujeitos, sendo que 22 crianças são do género masculino e 18, do género feminino, como
se pode verificar no Quadro 13.
No Quadro 14, apresentam-se os resultados, mínimos e máximos, para a pontuação relativa ao
reconhecimento dos itens gramaticais pelas crianças do 1º ano de escolaridade de ambos os géneros.
A percentagem foi calculada de acordo com a amostra total deste ano de escolaridade.10
Quadro 14 – Pontuação do reconhecimento dos itens gramaticais relativa ao 1º ano de escolaridade.
Número de
crianças
Mínimo Máximo Média da
Pontuação
Desvio
Padrão n % n %
Masculino 22 4/5 3 7,5% 5/5 19 47,5% 4,86 0,351
Feminino 18 4/5 5 12,5% 5/5 13 32,5% 4,72 0,461
Total 40 8 20,0% 32 80,0%
Como se pode verificar pelo Quadro 14, a pontuação mínima para os dois géneros corresponde a
acertar quatro em cinco itens e a pontuação máxima equivale ao reconhecimento da gramaticalidade
da totalidade dos itens. Verifica-se que 20,0% da amostra deste ano de escolaridade acertou em
quatro dos cinco itens, encontrando-se no género feminino a maior percentagem de respostas desta
natureza (12,5%). Assim, 80% das crianças deste grupo reconheceram correctamente os itens em
causa como gramaticais, tendo os sujeitos do género masculino um melhor desempenho (47,5%).
10 Os critérios de pontuação encontram-se explicitados no capítulo 2, secção 2.4.
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
53
No Quadro 15, apresentam-se os resultados obtidos nestes itens, absolutos e em percentagem,
relativos às respostas apresentadas pelas crianças deste ano de escolaridade, incluindo os casos em
que a resposta foi cotada como incorrecta pelo facto de os itens terem sido reconhecidos como
agramaticais. A etapa 1 corresponde ao reconhecimento da (a)gramaticalidade dos itens
apresentados, enquanto a etapa 2 diz respeito à apresentação de uma proposta de correcção por
parte das crianças.
Quadro 15 – Frequência do tipo de respostas dado pelas crianças do 1º ano de escolaridade, perante os itens gramaticais.
Itens
Etapa 1 Etapa 2 1 6 10 14 16
Gramatical 40/40 (100,0%) 37/40 (92,5%) 39/40 (97,5%) 37/40 (92,5%) 39/40 (97,5%)
Agramatical
Tipo 0
Corrige por
gramatical 3/40 (7,5%) 1/40 (2,5%) 2/40 (5,0%) 1/40 (2,5%)
Não corrige 1/40 (2,5%)
Tendo em conta os resultados apresentados no Quadro 15, verifica-se que apenas o item 1, O irmão
do Pedro joga futebol, foi reconhecido como gramatical pela totalidade da amostra. O item 6, Ela
guardou os brinquedos, foi reconhecido como agramatical por três crianças, sendo que uma (2-F-1),
ao corrigi-lo, repetiu a frase da tarefa e as restantes duas realizaram o Objecto Directo no singular
(cf.(30)):
(30) Ela guardou o brinquedo. (35-F-1; 53-M-1)
O item 10, Ontem eu comi massa, foi reconhecido como agramatical por uma criança, que o
corrigiu deslocando o advérbio de tempo ontem para a posição entre o Sujeito e o verbo:
(31) Eu ontem comi massa. (71-F-1)
Por sua vez, o item 14, Estas flores são brancas, foi reconhecido como agramatical por três
crianças, das quais uma (70-M-1) não corrigiu a frase, e as restantes corrigiram-na por uma
sequência igualmente gramatical: uma criança substituiu o determinante demonstrativo estas pelo
artigo definido a, tendo efectuado as alterações de número necessárias (cf. (32)), enquanto a terceira
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
54
criança suprimiu o Sujeito e substituiu o verbo ser por estar, transformando o item numa sequência
de Sujeito nulo (cf.(33)).
(32) A flor é branca. (77-F-1)
(33) Estão brancas. (44-F-1)
Quanto ao item 16, O menino só apanhou uma flor pequenina, foi considerado como agramatical
por uma criança, que o corrigiu suprimindo o advérbio de exclusão só:
(34) O menino apanhou uma flor pequenina. (37-M-1)
Os resultados permitem-nos, assim, concluir que, no 1º ano de escolaridade, (i) 96,0% da amostra
reconheceu de forma correcta os itens gramaticais; (ii) a maioria das crianças que reconheceu os
itens como agramaticais corrigiu-os por sequências gramaticais; (iii) os itens 6, Ela guardou os
brinquedos, e 14, Estas flores são brancas, são os que revelam um maior número de respostas
erradas.
3.1.2. Resultados do 4º ano de escolaridade
No presente estudo, como se pode verificar no Quadro 13, a amostra de crianças a frequentar o 4º
ano de escolaridade é constituída por 44 sujeitos, sendo 21 crianças do género masculino e 23 do
género feminino.
Os resultados, mínimos e máximos, para a pontuação do reconhecimento dos itens gramaticais pelas
crianças do 4º ano de escolaridade e de ambos os géneros apresentam-se no Quadro 16. A
percentagem foi calculada de acordo com a amostra total deste ano de escolaridade.
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
55
Quadro 16 – Pontuação do reconhecimento dos itens gramaticais relativa ao 4º ano de escolaridade.
Número de
crianças
Mínimo Máximo Média da
Pontuação
Desvio
Padrão n % n %
Masculino 21 5/5 21 47,7% 5/5 21 47,7% 5,00 0,000
Feminino 23 3/5 1 2,3% 5/5 20 45,5% 4,83 0,491
Total 44 22 50,0% 41 93,2%
Da análise deste Quadro, verifica-se que as 21 crianças do género masculino responderam
correctamente a todos os itens, enquanto 1 das crianças do género feminino (2,3%) errou em dois
itens gramaticais e as outras 2 erraram em um item.
No Quadro 17, apresentam-se os resultados específicos, absolutos e em percentagem, relativos às
respostas dadas a estes itens, incluindo o número de respostas incorrectas por não reconhecimento
da agramaticalidade (erro de tipo 0) pelas crianças do 4º ano de escolaridade.
Quadro 17 - Frequência do tipo de respostas dado pelas crianças do 4º ano de escolaridade, perante os itens gramaticais.
Itens
Etapa 1 Etapa 2 1 6 10 14 16
Gramatical 44/44 (100,0%) 42/44 (95,4%) 43/44 (97,7%) 44/44 (100,0%) 43/44 (97,7%)
Agramatical
Tipo 0
Corrige por
gramatical 2/44 (4,6%) 1/44 (2,3%) 1/44 (2,3%)
Não corrige
Como se pode verificar no Quadro 17, os itens 1, O irmão do Pedro joga futebol, e 14, Estas flores
são brancas, foram reconhecidos como gramaticais pela totalidade da amostra. O item 6, Ela
guardou os brinquedos, foi reconhecido como agramatical por duas crianças, que passaram para
singular o Objecto Directo (cf.(35)), como também aconteceu com as crianças do 1º ano.
(35) Ela guardou o brinquedo. (16-F-4 e 81-F-4)
Relativamente ao item 10, Ontem eu comi massa, foi reconhecido como agramatical por uma
criança, que o corrigiu deslocando o advérbio de tempo ontem para a posição entre o Sujeito e o
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
56
verbo, situação já verificada no 1º ano, e acrescentando o artigo indefinido uma antes do
substantivo massa (cf.(36)). Esta sequência foi considerada como gramatical, ainda que, nesta
perspectiva massa esteja a ser considerado como nome contável e não como nome massivo. Assim,
tendo em conta que a criança pode estar a pensar em sequências do tipo comi uma massinha com a
letra A ou vai uma massinha na colher, considerou-se a sequência apresentada pela criança como
gramatical.
(36) Eu ontem comi uma massa. (81-F-4)
O item 16, O menino só apanhou uma flor pequenina, foi considerado como agramatical por uma
criança, que o corrigiu deslocando o advérbio de exclusão só para uma posição pós-verbal, entre o
verbo e o respectivo Objecto Directo:
(37) O menino apanhou só uma flor pequenina. (38-F-4)
Conclui-se, da análise deste Quadro, que, no 4º ano de escolaridade, (i) mais de 98,0% da amostra
reconheceu correctamente os itens gramaticais; (ii) os restantes sujeitos, apesar de terem
reconhecido os referidos itens como agramaticais, apresentaram sempre correcções gramaticais; (iii)
o item onde se verificou um maior número de respostas erradas foi o 6, Ela guardou os brinquedos.
3.1.3. Comparação dos resultados das sequências gramaticais no 1º e no 4º anos
de escolaridade
Perante os itens gramaticais desta tarefa, a maioria da amostra respondeu de forma acertada, ou seja,
reconheceu-os como estando correctos, não propondo qualquer correcção.
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
57
Das crianças que reconheceram estes itens como incorrectos, apenas uma não fez qualquer
correcção, enquanto as restantes os corrigiram por sequências também gramaticais. O tipo de
correcções apresentadas pelas crianças é semelhante nos dois anos de escolaridade:
(i) no item 6, Ela guardou os brinquedos, procedem à alteração do número do Objecto Directo,
passando este para o singular (cf.(38));
(ii) o item 10, Ontem eu comi massa, foi corrigido por duas crianças através da deslocação do
advérbio de tempo ontem para a posição entre o Sujeito e o verbo (cf.(39));
(iii) no item 16, O menino só apanhou uma flor pequenina, o advérbio de exclusão só foi alvo de
correcção, ora sendo retirado da sequência (cf.(40)), ora sendo deslocado (cf.(41)).
(38) Ela guardou o brinquedo.
(39) Eu ontem comi uma massa.
(40) O menino apanhou uma flor pequenina.
(41) O menino só apanhou uma flor pequenina.
Relativamente ao item 14, Estas flores são brancas, apenas as crianças que frequentavam o 1º ano
de escolaridade manifestaram dificuldades no reconhecimento da sua gramaticalidade, propondo
como correcção ou a substituição do determinante demonstrativo estas pelo artigo definido a
(cf.(42)) ou a supressão do Sujeito, transformando o item numa frase de Sujeito nulo (cf.(43)).
(42) A flor é branca.
(43) Estão brancas.
Após a análise descritiva dos resultados, efectuou-se uma ANOVA TWO WAY, para averiguar a
existência de efeitos principais e de efeitos de interacção das variáveis independentes ano de
escolaridade e género, na pontuação dos itens gramaticais. Apresentam-se no Quadro 18, os
resultados deste teste.
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
58
Quadro 18 – ANOVA TWO WAY – Efeitos principais e efeitos de interacção das variáveis independentes ano de
escolaridade e género na pontuação do reconhecimento dos itens gramaticais.
Fonte df F Sig.
Ano de escolaridade 1 2,089 0,152
Género 1 3,599 0,061
Ano de escolaridade * Género 1 0,038 0,845
Tendo em consideração os dados apresentados no Quadro 18, pode-se afirmar que não existem
efeitos principais nem efeitos de interacção das variáveis independentes sobre a variável dependente
na pontuação do reconhecimento dos itens agramaticais. Dito de outra forma, não existem
diferenças significativas entre o género feminino e o masculino nem entre os anos de escolaridade,
não existindo efeito de interacção entre estas duas variáveis no reconhecimento da gramaticalidade
destes itens.
3.2. Apresentação e Descrição dos Resultados das Sequências Agramaticais
Esta tarefa incluiu doze itens agramaticais: seis por não observação de concordância nominal (por
ex. item 2, Os pai comeu uma maçã), três por deslocação de uma parte de um constituinte (por ex.
item 4, O pai comprou grande um carro) e os restantes três por inserção de uma expressão no
interior de um constituinte (por ex. item 3, A até mãe comprou um gelado). As crianças deveriam
reconhecer estes itens como “incorrectos” e produzir uma frase correcta, propondo uma correcção
do erro sem acrescentar ou retirar qualquer elemento da frase, instrução que lhes foi dada no início
da tarefa.
Como já foi referido no capítulo 2, secção 2.4, relativamente aos itens agramaticais, os erros foram
classificados da seguinte forma:
- Tipo 0 – Problema no juízo de gramaticalidade;
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
59
- Tipo 1 – Item reconhecido como agramatical, corrigido através de uma sequência gramatical
não conforme com a estrutura-alvo pretendida, devido a uma reformulação total do item, ou
seja, a uma alteração da estrutura sintáctica do item ou de um constituinte do item;
- Tipo 2 - Item reconhecido como agramatical, corrigido através de uma sequência gramatical
não conforme com a estrutura-alvo pretendida, devido a uma reformulação parcial do item, ou
seja, a alteração do número (singular/plural) ou a supressão de constituintes que não são
necessários para o estabelecimento da predicação;
- Tipo 3 - Item reconhecido como agramatical, corrigido através de uma sequência agramatical,
devido a manutenção do erro, ou seja, repetição do item de teste;
- Tipo 4 - Item reconhecido como agramatical, corrigido através de uma sequência agramatical,
devido a supressão de constituintes necessários para obter uma frase;
- Tipo 5 - Item reconhecido como agramatical, corrigido por uma sequência igualmente
agramatical, com reformulação total da estrutura;
- Tipo 6 - Item reconhecido como agramatical, corrigido através de uma sequência agramatical,
devido à manutenção do erro do item de teste e à alteração de palavras;
- Tipo 7 – Item reconhecido como agramatical, mas não corrigido.
No Quadro 19, apresentam-se os resultados, mínimos e máximos, relativos ao reconhecimento da
agramaticalidade dos itens (etapa 1 da tarefa), nos dois anos de escolaridade e em cada género. A
percentagem foi calculada de acordo com a amostra total de cada ano de escolaridade (40 sujeitos,
no 1º ano, e 44 sujeitos, no 4º ano de escolaridade).
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
60
Quadro 19 – Pontuação do reconhecimento dos itens agramaticais relativa aos 1º e 4º anos de escolaridade (etapa 1).
Número de
crianças
Mínimo Máximo Média da
Pontuação
Desvio
Padrão n % n %
1º ano de
escolaridade
Masculino 22 7/12 1 2,5% 12/12 2 5,0% 10,18 1,259
Feminino 18 8/12 1 2,5% 12/12 5 12,5% 10,22 1,353
Total 40 2 5,0% 7 17,5%
4º ano de
escolaridade
Masculino 21 10/12 3 6,8% 12/12 10 22,7% 11,33 0,730
Feminino 23 9/12 3 6,8% 12/12 15 34,1% 11,22 1,166
Total 44 6 13,6% 25 56,8%
Como se pode verificar pelo Quadro 19, a pontuação mínima é inferior nas crianças que
frequentavam o 1º ano de escolaridade, embora apenas uma criança de cada género a tenha obtido,
ou seja, uma criança do género masculino acertou em sete dos doze itens e outra criança do género
feminino acertou em oito da totalidade dos itens. Quanto à pontuação máxima (acertar na totalidade
dos itens), esta é igual para os dois anos de escolaridade, havendo uma maior frequência no 4º ano
de escolaridade (22,7% no género masculino e 34,1% no género feminino).
Nas secções seguintes, far-se-á uma análise detalhada das respostas a cada item agramatical e da
respectiva correcção, por nível de escolaridade.
3.2.1. Agramaticalidade por não observação de concordância nominal
Dos doze itens agramaticais presentes na tarefa de reconstituição, seis eram-no por não observação
de concordância nominal, ou seja, pelo facto de o determinante e o nome de um SN não
concordarem em número. As crianças deveriam reconhecê-los como “incorrectos”, apresentando
uma sequência correcta, cumprindo, assim, a instrução dada. Os referidos itens de teste são:
2 - Os pai comeu uma maçã.
5 - A menina pegou nos livro.
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
61
9 - A canetas ficou estragada.
12 - O menino escreveu um textos.
15 - Este é o livro das menina.
17 - O carro do tios foi caro.
Em seguida, apresentam-se os resultados referentes a cada ano de escolaridade.
3.2.1.1. Resultados do 1º ano de escolaridade
No Quadro 20, apresentam-se os resultados, mínimos e máximos, relativos à pontuação do
reconhecimento e da correcção dos itens agramaticais por não observação de concordância nominal,
tendo em conta as respostas das crianças do 1º ano de escolaridade, de ambos os géneros. A
percentagem foi calculada de acordo com a amostra total deste ano de escolaridade (40 sujeitos).
Quadro 20 – Pontuação do reconhecimento e da correcção dos itens agramaticais por não observação de concordância
nominal relativa ao 1º ano de escolaridade.
Número de
crianças
Mínimo Máximo Média da
Pontuação
Desvio
Padrão N % n %
Masculino 22 3/6 1 2,5% 6/6 11 27,5% 5,27 0,883
Feminino 18 3/6 1 2,5% 6/6 10 25,0% 5,33 0,907
Total 40 2 5,0% 21 52,5%
Como se pode verificar no Quadro 20, a pontuação mínima para os dois géneros corresponde a
acertar em três num total de seis itens e a pontuação máxima equivale ao reconhecimento e
correcção correctos da totalidade dos itens. Verifica-se que tanto no género masculino como no
feminino a percentagem de pontuação mínima foi de apenas de 2,5%, enquanto a percentagem de
pontuação máxima foi mais elevada no género masculino (27,5%).
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
62
No Quadro 21, apresentam-se os resultados dos itens relativos a esta estrutura agramatical,
absolutos e em percentagem, relativos às respostas dadas pelos sujeitos do 4º ano de escolaridade,
incluindo os tipos de erros produzidos.
Quadro 21 – Frequência do tipo de respostas dado pelas crianças a frequentar o 1º ano de escolaridade, perante os itens
agramaticais por não observação de concordância nominal.
Itens
Etapa 1 Etapa 2 2 5 9 12 15 17
Gramatical
Tipo 0
5/40
(12,5%)
6/40
(15,0%)
2/40
(5,0%)
Agramatical
Corrige por
gramatical
Conforme com
a estrutura-
alvo
pretendida
40/40
(100,0%)
40/40
(100,0%)
31/40
(77,5%)
34/40
(85,0%)
29/40
(72,5%)
38/40
(95,0%)
Tipo 1 7/40
(17,5%)
Tipo 2 2/40
(5,0%)
Corrige por
agramatical
Tipo 3 1/40
(2,5%)
Tipo 4 1/40
(2,5%)
Tipo 5
Tipo 6 2/40
(5,0%)
Tipo 7 – Não corrige 1/40
(2,5%)
1/40
(2,5%)
Como se pode verificar no Quadro 21, os itens 2, Os pai comeu uma maçã, e 5, A menina pegou nos
livro, foram reconhecidos como agramaticais e corrigidos de acordo com as estruturas-alvo
pretendidas pela totalidade da amostra (cf.(44) e (45) para o item 2, e (46) e (47) para o item 5) 11
.
(44) O pai comeu uma maçã.
(45) Os pais comeram uma maçã.
11 Sobre as diferentes estruturas-alvo possíveis para os itens desta tarefa, veja-se Capítulo 2, secção 2.4, Quadro 9.
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
63
(46) A menina pegou no livro.
(47) A menina pegou nos livros.
O item 9, A canetas ficou estragada, foi reconhecido como gramatical por cinco crianças e como
agramatical pelas restantes 35. Destas últimas, uma (61-F-1) não apresentou qualquer correcção e
três corrigiram a sequência apresentada por outra agramatical, sendo que uma manteve o erro e a
totalidade do item inicial (cf.(48)), enquanto as outras duas mantiveram o erro e alteraram palavras
(cf.(49)). 77,5% das crianças responderam correctamente a este item, corrigindo-o de acordo com as
duas estruturas-alvo possíveis (cf.(50) e (51)).
(48) A canetas está estragada. (35-F-1)
(49) A canetas ficou errada. (4-M-1 e 63-F-1)
(50) A caneta ficou estragada.
(51) As canetas ficaram estragadas.
Relativamente ao item 12, O menino escreveu um textos, foi considerado como gramatical por
15,0% da amostra. Os restantes 85,0% reconheceram este item como agramatical e corrigiram-no de
acordo com as estruturas-alvo pretendidas:
(52) O menino escreveu um texto.
(53) O menino escreveu uns textos.
O item 15, Este é o livro das menina, foi reconhecido como agramatical pela totalidade da amostra.
Relativamente às correcções propostas, 72,5% das crianças produziram as estruturas-alvo
pretendidas:
(54) Este é o livro da menina.
(55) Este é o livro das meninas.
Dos restantes, uma criança (53-M-1) não corrigiu o item, outra suprimiu constituintes necessários
para obter uma frase, embora tenha corrigido o erro (cf.(56)), duas mantiveram a estrutura sintáctica
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
64
do item inicial, tendo, no entanto, procedido a alterações em mais constituintes do que no gerador
da agramaticalidade (cf.(57) e (58)) e as restantes sete crianças alteraram a estrutura sintáctica do
item, ainda que tenham mantido o mesmo verbo (cf.(59)).
(56) O livro da menina. (58-M-1)
(57) Estes são os livros da menina. (33-F-1)
(58) Estes são os livros das meninas. (59-M-1)
(59) Este livro é da menina. (43-M-1, 35-F-1)
Quanto ao item 17, O carro do tios foi caro, foi reconhecido como gramatical por 5,0% da amostra.
Os restantes 95,0% reconheceram este item como agramatical e corrigiram-no de acordo com uma
das estruturas-alvo pretendidas:
(60) O carro do tio foi caro.
No quadro seguinte (Quadro 22), apresentam-se os resultados, absolutos e em percentagem,
relativos às respostas que correspondem às estruturas-alvo pretendidas para cada um dos itens que
envolvem agramaticalidade por não observação de concordância nominal.
Quadro 22 – Frequência das respostas conformes com as estruturas-alvo dadas pelas crianças a frequentar o 1º ano de
escolaridade aos itens agramaticais por não observação de concordância nominal.
Item Reposta N (%)
2- Os pai comeu uma maçã. O pai comeu uma maçã. 37/40 (92,5%)
Os pais comeram uma maçã. 3/40 (7,5%)
5- A menina pegou nos livro. A menina pegou no livro. 31/40 (77,5%)
A menina pegou nos livros. 9/40 (22,5%)
9- A canetas ficou estragada. A caneta ficou estragada. 29/40 (72,5%)
As canetas ficaram estragadas. 2/40 (5,0%)
12- O menino escreveu um textos. O menino escreveu um texto. 33/40 (82,5%)
O menino escreveu uns textos. 1/40 (2,5%)
15- Este é o livro das menina. Este é o livro da menina. 21/40 (52,5%)
Este é o livro das meninas. 8/40 (20,0%)
17- O carro do tios foi caro. O carro do tio foi caro. 38/40 (95,0%)
O carro dos tios foi caro. 0/40 (0,0%)
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
65
Como se pode verificar pelo quadro anterior, a maioria das crianças, ao propor a correcção dos
itens, optou preferencialmente pela realização do constituinte gerador da agramaticalidade na forma
singular. De notar que no item 17, O carro do tios foi caro, nenhuma criança optou pela alteração
de número do determinante que integra o constituinte gerador da agramaticalidade (do tios). Assim,
verificaram-se 189 correcções através da forma singular, contra 23 correcções através da forma
plural.
Em síntese, relativamente ao reconhecimento e correcção dos itens agramaticais por não observação
de concordância nominal, a percentagem média de respostas correctas no 1º ano de escolaridade foi
de 88,3%. Os itens em que se verificou uma maior frequência de respostas erradas, neste ano de
escolaridade, foram o 15, Este é o livro das menina, o 9, A canetas ficou estragada, e o 12, O
menino escreveu um textos. Foi nestes dois últimos itens que ocorreu, também, a maior
percentagem de reconhecimento das sequências como gramaticais. O tipo de erro mais frequente
nestes itens foi o erro de tipo 1: as crianças produziram uma sequência gramatical, apresentando, no
entanto, reformulações que levaram à alteração da estrutura sintáctica do item ou de parte do item.
3.2.1.2. Resultados do 4º ano de escolaridade
No que diz respeito ao 4º ano de escolaridade, registam-se, no Quadro 23, os resultados, mínimos e
máximos, relativos à pontuação do reconhecimento e da correcção dos itens agramaticais por não
observação de concordância nominal das crianças deste ano, de ambos os géneros. A percentagem
foi calculada de acordo com a amostra total deste ano de escolaridade.
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
66
Quadro 23 – Pontuação do reconhecimento e da correcção dos itens agramaticais por não observação de concordância
nominal, no 4º ano de escolaridade.
Número de
crianças
Mínimo Máximo Média da
Pontuação
Desvio
Padrão n % N %
Masculino 21 5/6 5 11,4% 6/6 16 33,4% 5,76 0,436
Feminino 23 5/6 6 13,6% 6/6 17 38,6% 5,74 0,449
Total 44 11 25,0% 33 72,0%
Como se pode verificar pelo Quadro 23, os resultados para os dois géneros são iguais,
correspondendo a pontuação mínima ao reconhecimento e à correcção adequada de cinco dos seis
itens e a pontuação máxima, ao reconhecimento e à correcção da totalidade dos itens.
No Quadro 24, apresentam-se os resultados, absolutos e em percentagem, relativos a estes itens
tendo em conta os tipos de erros produzidos pelas crianças deste ano de escolaridade.
Quadro 24 – Frequência do tipo de respostas dado pelas crianças a frequentar o 4º ano de escolaridade aos itens
agramaticais por não observação de concordância nominal.
Itens
Etapa 1 Etapa 2 2 5 9 12 15 17
Gramatical
Tipo 0
7/44
(15,9%)
1/44
(2,3%)
Agramatical
Corrige por
gramatical
Conforme com
a estrutura-
alvo
pretendida
44/44
(100,0%)
44/44
(100,0%)
37/44
(84,1%)
43/44
(97,7%)
42/44
(95,4%)
43/44
(97,7%)
Tipo 1 1/44
(2,3%)
Tipo 2 1/44
(2,3%)
Corrige por
agramatical
Tipo 3 1/44
(2,3%)
Tipo 4
Tipo 5
Tipo 6
Tipo 7 – Não corrige
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
67
Os itens 2, Os pai comeu uma maçã, e 5, A menina pegou nos livro, foram reconhecidos como
agramaticais pela totalidade da amostra, tendo sido corrigidos de acordo com as estruturas-alvo
possíveis (cf.(61) e (62) para o item 2, e (63) e (64) para o item 5):
(61) O pai comeu uma maçã.
(62) Os pais comeram uma maçã.
(63) A menina pegou no livro.
(64) A menina pegou nos livros.
O item 9, A canetas ficou estragada, foi reconhecido como gramatical por 15,9% da amostra e
como agramatical por 84,1%. Neste último caso, todos os sujeitos corrigiram o item por uma das
estruturas-alvo pretendidas:
(65) A caneta ficou estragada.
(66) As canetas ficaram estragadas.
Relativamente ao item 12, O menino escreveu um textos, foi considerado como agramatical pela
totalidade da amostra. No entanto, uma das crianças (38-F-4) não procedeu à correcção pretendida,
tendo produzido o item inicial, ou seja, mantendo o erro. Os restantes 97,7% corrigiram este item de
acordo com as duas estruturas-alvo possíveis:
(67) O menino escreveu um texto.
(68) O menino escreveu uns textos.
O item 15, Este é o livro das menina, foi reconhecido como agramatical pela totalidade da amostra.
Relativamente à correcção, 95,4% das crianças apresentaram propostas coincidentes com as duas
estruturas-alvo possíveis:
(69) Este é o livro da menina.
(70) Este é o livro das meninas.
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
68
Dos restantes 4,6%, uma criança alterou a estrutura sintáctica do item (cf.(71)) e a outra manteve a
estrutura sintáctica do item inicial, mas procedeu a alterações em mais do que o constituinte em
análise (cf.(72)).
(71) Este livro é da menina. (80-M-4)
(72) Estes são os livros das meninas. (81-F-4)
Finalmente, o item 17, O carro do tios foi caro, foi reconhecido como gramatical por 2,3% da
amostra. Os restantes 97,7% reconheceram este item como agramatical e corrigiram-no de acordo
com uma das estruturas-alvo possíveis:
(73) O carro do tio foi caro.
No Quadro 25, apresentam-se os resultados, absolutos e em percentagem, relativos às respostas
conformes com as estruturas-alvo para cada um dos itens agramaticais por não observação da
concordância nominal.
Quadro 25 – Frequência das respostas conformes com as estruturas-alvo dadas pelas crianças a frequentar o 4º ano de
escolaridade, aos itens agramaticais por não observação de concordância nominal.
Item Reposta N (%)
2- Os pai comeu uma maçã. O pai comeu uma maçã. 40/44 (90,9%)
Os pais comeram uma maçã. 4/44 (9,1%)
5- A menina pegou nos livro. A menina pegou no livro. 23/44 (52,3%)
A menina pegou nos livros. 21/44 (47,7%)
9- A canetas ficou estragada. A caneta ficou estragada. 33/44 (75,0%)
As canetas ficaram estragadas. 4/44 (9,1%)
12- O menino escreveu um textos. O menino escreveu um texto. 42/44 (95,4%)
O menino escreveu uns textos. 1/44 (2,3%)
15- Este é o livro das menina. Este é o livro da menina. 36/44 (81,8%)
Este é o livro das meninas. 6/44 (13,6%)
17- O carro do tios foi caro. O carro do tio foi caro. 43/44 (97,7%)
O carro dos tios foi caro. 0/44 (0,0%)
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
69
Tal como as crianças do 1º ano, também as que frequentavam o 4º ano utilizaram preferencialmente
a forma singular na correcção dos itens que envolvem esta estrutura agramatical. Também neste ano
de escolaridade, no item 17, O carro do tios foi caro, nenhuma criança optou pela alteração do
número do determinante que integra o constituinte gerador da agramaticalidade (do tios). Assim,
verificaram-se 217 correcções através da forma singular, contra 36 correcções através da forma
plural.
Concluindo, no 4º ano de escolaridade, a percentagem média de respostas correctas quanto ao
reconhecimento e correcção dos itens agramaticais por não observação de concordância nominal,
foi de 95,8%. O item em que se verificou uma maior frequência de respostas erradas foi o 9, A
canetas ficou estragada, devido ao facto de ter sido reconhecido como gramatical por 15,9% dos
sujeitos. Nesta amostra não se verificou a ocorrência predominante de um tipo de correcção
específica, variando esta entre os tipos 1, 2 e 3, sendo que cada um deles ocorreu uma vez.
3.2.1.3. Comparação dos resultados das sequências agramaticais por não
observação de concordância nominal no 1º e no 4º anos de escolaridade
Relativamente aos itens agramaticais por não observação de concordância nominal, a maioria da
amostra de crianças observadas respondeu de forma acertada, ou seja, reconheceu-os como estando
incorrectos e propôs uma correcção de acordo com as estruturas-alvo possíveis.
Os itens 2, Os pai comeu uma maçã, e 5, A menina pegou nos livro, foram reconhecidos e
corrigidos adequadamente pela totalidade da amostra, nos dois anos de escolaridade.
O maior número de respostas erradas ocorre nas crianças que frequentam o 1º ano de escolaridade,
quer seja por reconhecerem estes itens como correctos, quer por os reconhecerem como incorrectos,
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
70
mas apresentando correcções não conformes com as estruturas-alvo pretendidas. No 1º ano, o item
agramatical reconhecido como gramatical por um maior número de sujeitos é o 12, O menino
escreveu um textos, enquanto, no 4º ano, é o 9, A canetas ficou estragada.
Relativamente às crianças que corrigiram os itens de acordo com as estruturas-alvo pretendidas, a
maioria optou pela forma no singular, em ambos os anos. Assim, a frequência de sujeitos que
produziram o constituinte gerador da agramaticalidade no plural é muito baixa, excepto no item 5, A
menina pegou nos livro, em que o número de correcções através do plural é semelhante ao de
correcções através do singular, nas crianças que frequentam o 4º ano de escolaridade. Para o item
17, O carro do tios foi caro, a totalidade da amostra, apresentou a estrutura singular.
Após a análise descritiva dos resultados realizou-se uma ANOVA TWO WAY, para averiguar a
existência de efeitos principais e de efeitos de interacção das variáveis independentes ano de
escolaridade e género na pontuação dos itens agramaticais por não observação de concordância
nominal. No Quadro 26, apresentam-se os resultados deste teste.
Quadro 26 – ANOVA TWO WAY – Efeitos principais e efeitos de interacção das variáveis independentes ano de
escolaridade e género na pontuação do reconhecimento e correcção dos itens agramaticais por não observação de
concordância nominal.
Fonte df F Sig.
Ano de escolaridade 1 8,640 0,004
Género 1 0,015 0,901
Ano de escolaridade * Género 1 0,075 0,785
Os resultados apresentados no Quadro 26 permitem afirmar que a ANOVA TWO WAY não
revelou um efeito de interacção entre as variáveis ano de escolaridade e género no reconhecimento
e correcção dos itens agramaticais por não observação de concordância nominal. No entanto,
observou-se um efeito principal na variável ano de escolaridade, constatando-se que, no 4º ano, se
verificou uma pontuação média de 5,8 (média da média da pontuação no Quadro 23)
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
71
comparativamente com a pontuação média de 5,3 (média da média da pontuação no Quadro 20)
observada no 1º ano de escolaridade. Assim, o ano de escolaridade influencia significativamente o
reconhecimento e a correcção dos itens agramaticais por não observação de concordância nominal.
3.2.2. Agramaticalidade por deslocação de uma parte de um constituinte
Esta tarefa inclui três itens agramaticais por deslocação de uma parte de um constituinte, que as
crianças deveriam reconhecer como “incorrectos” e para os quais deveriam apresentar uma
alternativa correcta, cumprindo as instruções dadas. Os referidos itens de teste são:
4 – O pai comprou grande um carro.
7 – A caneta é bonita do pai.
11 – Casa é azul esta.
Nas secções seguintes, apresentam-se os resultados obtidos pela aplicação da tarefa a cada ano de
escolaridade.
3.2.2.1. Resultados do 1º ano de escolaridade
Apresentam-se, no Quadro 27, os resultados, mínimos e máximos, relativos à pontuação do
reconhecimento e da correcção dos itens agramaticais por deslocação de uma parte de um
constituinte. Estes resultados dizem respeito às crianças do 1º ano de escolaridade, de ambos os
géneros. A percentagem foi calculada de acordo com a amostra total deste ano de escolaridade.
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
72
Quadro 27 – Pontuação do reconhecimento e da correcção dos itens agramaticais por deslocação de uma parte de um
constituinte relativa ao 1º ano de escolaridade.
Número de
crianças
Mínimo Máximo Média da
Pontuação
Desvio
Padrão n % N %
Masculino 22 0/3 1 2,5% 3/3 5 12,5% 1,77 0,869
Feminino 18 0/3 3 7,5% 3/3 3 7,5% 1,72 0,958
Total 40 4 10,0% 8 20,0%
Como se pode verificar pelo Quadro 27, a pontuação mínima para os dois géneros corresponde a
errar em todos os itens e a pontuação máxima equivale a acertar no reconhecimento e correcção da
agramaticalidade da totalidade dos itens. Verifica-se que a frequência, tanto nas pontuações
mínimas como nas máximas, é baixa, já que a maioria das crianças acertou em um ou em dois itens.
No Quadro 28, apresentam-se os resultados, absolutos e em percentagem, relativos às respostas aos
itens em que se verifica deslocação de uma parte de um constituinte, incluindo os tipos de erros
produzidos pelas crianças deste ano de escolaridade.
Quadro 28 – Frequência do tipo de respostas dado pelas crianças a frequentar o 1º ano de escolaridade relativamente aos
itens agramaticais por deslocação de parte do constituinte.
Itens
Etapa 1 Etapa 2 4 7 11
Gramatical
Tipo 0 1/40 (2,5%) 18/40 (45,0%) 1/40 (2,5%)
Agramatical
Corrige por
gramatical
Conforme com a estrutura-alvo
pretendida
29/40 (72,5%) 10/40 (25,0%) 31/40 (77,5%)
Tipo 1 3/40 (7,5%)
Tipo 2 10/40 (25,0%) 8/40 (20,0%)
Corrige por
agramatical
Tipo 3 1/40 (2,5%)
Tipo 4 1/40 (2,5%)
Tipo 5 5/40 (12,5%)
Tipo 6
Tipo 7 – Não corrige 2/40 (5,0%)
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
73
O item 4, O pai comprou grande um carro, foi reconhecido como gramatical por 2,5% da amostra.
Os restantes 97,5% dos sujeitos consideraram-no como agramatical e corrigiram-no por uma frase
gramatical. Destes, 25,0% suprimiram o constituinte deslocado, isto é, grande (cf.(74)) e 72,5%
corrigiram o item conforme as estruturas-alvo possíveis (cf.(75) e (76)).
(74) O pai comprou um carro. (35-F-1, 47-M-1)
(75) O pai comprou um carro grande.
(76) O pai comprou um grande carro.
O item 7, A caneta é bonita do pai, foi reconhecido como gramatical por 45,0% da amostra e como
agramatical pelos restantes sujeitos. Destes últimos, um sujeito (36-F-1; 2,5%) repetiu
integralmente a estrutura inicial, sem proceder a alterações, enquanto 52,5% produziram frases
gramaticais, embora 27,5% tenham proposto correcções não conformes com a estrutura-alvo
pretendida. Assim, em 7,5% das produções observou-se a alteração do verbo (cf.(77) e (78)), em
20,0% verificou-se a omissão de constituintes (cf.(79) - (81)).
(77) O pai tem uma caneta. (4-M-1)
(78) O pai tem uma caneta bonita. (53-M-1)
(79) A caneta era do pai. (59-M-1)
(80) A caneta é bonita. (58-M-1, 63-F-1)
(81) A caneta é do pai. (35-F-1, 46-M-1)
Os restantes 25,0% corrigiram o item em conformidade com uma das estruturas-alvo pretendidas:
(82) A caneta do pai é bonita.
O item 11, Casa é azul esta, foi reconhecido como agramatical por 97,5% da amostra, dos quais
5,0% (60-F-1, 71-F-1) não corrigem a agramaticalidade, 15,0% corrigem por outra frase
agramatical e 77,5% corrigem produzindo a estrutura-alvo pretendida (cf.(83)):
(83) Esta casa é azul.
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
74
Dos 15,0% de crianças que produziram sequências agramaticais, 2,5% suprimiram constituintes
necessários para obter uma frase (cf.(84)) e 12,5% reformularam totalmente a frase (cf.(85) - (87)).
(84) Esta casa azul. (42-M-1)
(85) A casa fica azul por esta. (49-M-1)
(86) A casa esta azul. (52-M-1)
(87) A casa é azul esta. (66-M-1, 69-M-1 e 73-M-1)
No Quadro 29, apresentam-se os resultados, absolutos e em percentagem, relativos às estruturas-
-alvo pretendidas para cada um dos itens que testam a deslocação de uma parte de um constituinte.
Quadro 29 – Frequência das respostas conformes com as estruturas-alvo dadas pelas crianças a frequentar o 1º ano de
escolaridade aos itens agramaticais por deslocação de parte do constituinte.
Item Reposta N (%)
4- O pai comprou grande um carro. O pai comprou um carro grande. 18/40 (45,0%)
O pai comprou um grande carro. 11/40 (27,5%)
7- A caneta é bonita do pai. A caneta do pai é bonita. 10/40 (25,0%)
A caneta bonita é do pai. 0/40 (0,0%)
11- Casa é azul esta. Esta casa é azul 31/40 (77,5%)
Relativamente aos itens 4, O pai comprou grande um carro, e 7, A caneta é bonita do pai, as
crianças podiam apresentar várias propostas de correcção, que se distinguem pelas diferentes
posições que os modificadores grande, bonita e do pai podem ocupar. No item 4, 45,0% colocaram
o adjectivo à direita do nome que é núcleo do Objecto Directo (cf.(88)), enquanto os restantes
27,5% dos sujeitos deslocaram o adjectivo para uma posição pré-nominal, no mesmo constituinte
(cf.(89)).
(88) O pai comprou um carro grande.
(89) O pai comprou um grande carro.
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
75
No que diz respeito ao item 7, todas as crianças que responderam adequadamente ao item
propuseram a mesma estrutura-alvo, integrando o SP do pai no sujeito, como modificador da
expressão nominal caneta (cf.(90)).
(90) A caneta do pai é bonita.
Em síntese, no que diz respeito ao reconhecimento e correcção dos itens agramaticais por
deslocação de uma parte do constituinte, a percentagem média de respostas correctas no 1º ano de
escolaridade foi de 58,3%. Verificou-se em todos os itens uma grande frequência de respostas
erradas, principalmente no item 7, A caneta é bonita do pai, que foi reconhecido como gramatical
por 45,0% da amostra. O tipo de erro mais frequente nos itens em que parte de um constituinte é
deslocada foi o de tipo 2, já que, embora a sequência tenha sido reconhecida como agramatical e a
correcção tenha dado origem a uma frase gramatical, as crianças procederam à supressão de
constituintes que não são necessários para o estabelecimento de predicação. Relembre-se que, de
acordo com as instruções dadas, a frase não podia ser alterada quanto ao número de constituintes.
3.2.2.2. Resultados do 4º ano de escolaridade
Relativamente ao reconhecimento e à correcção dos itens agramaticais por deslocação de uma parte
do constituinte, apresentam-se, no Quadro 30, os resultados, mínimos e máximos, das crianças do 4º
ano de escolaridade, de ambos os géneros. A percentagem foi calculada de acordo com a amostra
total deste ano de escolaridade (44 sujeitos).
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
76
Quadro 30 – Pontuação do reconhecimento e da correcção dos itens agramaticais por deslocação de uma parte de um
constituinte relativa ao 4º ano de escolaridade.
Número de
crianças
Mínimo Máximo Média da
Pontuação
Desvio
Padrão n % n %
Masculino 21 1/3 1 2,3% 3/3 17 38,6% 2,76 0,539
Feminino 23 1/3 3 6,8% 3/3 15 34,1% 2,52 0,730
Total 44 4 9,1% 32 72,7%
Como se pode verificar no Quadro 30, a pontuação mínima e máxima é igual para os dois géneros.
No 4º ano de escolaridade, verifica-se um maior número de ocorrências na pontuação máxima: no
género masculino, 38,6% da amostra acertou na totalidade dos itens, enquanto o género feminino
acertou em 34,1%.
No Quadro 31, apresentam-se os resultados, absolutos e em percentagem, relativos às respostas aos
itens em análise, incluindo os tipos de erros realizados no 4º ano de escolaridade.
Quadro 31 – Frequência do tipo de respostas dado pelas crianças a frequentar o 4º ano de escolaridade, relativamente
aos itens agramaticais por deslocação de uma parte de um constituinte.
Itens
Etapa 1 Etapa 2 4 7 11
Gramatical
Tipo 0 6/44 (13,6%)
Agramatical
Corrige por
gramatical
Conforme com a
estrutura-alvo
pretendida
41/44 (93,2%) 32/44 (72,7%) 43/44 (97,7%)
Tipo 1 1/44 (2,3%)
Tipo 2 3/44 (6,8%) 3/44 (6,8%)
Corrige por
agramatical
Tipo 3 2/44 (4,6%)
Tipo 4 1/44 (2,3%)
Tipo 5
Tipo 6
Tipo 7 – Não corrige
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
77
O item 4, O pai comprou grande um carro, foi reconhecido como agramatical pela totalidade da
amostra. Quanto à segunda etapa da tarefa, a proposta de correcção, 6,8% da amostra suprimiram o
item lexical grande, deslocado do constituinte (cf.(91)), e 93,2% corrigiram o item conforme as
estruturas-alvo pretendidas (cf.(92) e (93)).
(91) O pai comprou um carro. (7-F-4, 20-M-4)
(92) O pai comprou um grande carro.
(93) O pai comprou um carro grande.
O item 7, A caneta é bonita do pai, foi reconhecido como gramatical por 13,6% da amostra e como
agramatical pelos restantes sujeitos (86,4%). Destes últimos, 4,6% (18-M-4 e 20-M-4) repetiram o
item inicial, enquanto 81,8% produziram frases gramaticais. Nestes 81,8%, incluem-se 9,1% de
produções não conformes com a estrutura-alvo pretendida, pois 2,3% realizaram alterações
sintácticas ao item (cf.(94)) e 6,8% da amostra suprimiram um dos elementos constituintes que
podia ser interpretado como deslocado, do pai (cf.(95)).
(94) A caneta é muito bonita (64-F-4)
(95) A caneta é bonita. (12-M-4, 16-F-4)
Os restantes 72,7% corrigiram este item de acordo com as estruturas-alvo pretendidas:
(96) A caneta do pai é bonita.
(97) A caneta bonita é do pai.
Relativamente ao item em questão, note-se que, no 4º ano de escolaridade, as crianças apresentam
duas propostas diferentes, movendo para o SN-Sujeito ou o Modificador Preposicional (cf.(96)) ou
o Modificador Adjectival (cf.(97)).
O item 11, Casa é azul esta, foi reconhecido como agramatical pela totalidade da amostra. Um
sujeito (13-F-4), correspondendo a 2,3% da amostra, suprimiu o SA com função predicativa pelo
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
78
que a sequência obtida não é uma frase, tendo ainda mantido o erro (cf.(98)). 97,7% dos sujeitos
corrigiram a sequência apresentada, produzindo a estrutura-alvo pretendida (cf.(99)).
(98) Casa é esta.
(99) Esta casa é azul.
No Quadro 32 apresentam-se os resultados, absolutos e em percentagem, relativos às estruturas-
-alvo pretendidas para cada um dos itens relativos à deslocação de uma parte de um constituinte.
Quadro 32 – Frequência das respostas conformes com as estruturas-alvo dadas pelas crianças a frequentar o 4º ano de
escolaridade aos itens agramaticais por deslocação de uma parte de um constituinte.
Item Reposta N (%)
4- O pai comprou grande um carro. O pai comprou um carro grande. 15/44 (34,1%)
O pai comprou um grande carro. 26/44 (59,1%)
7- A caneta é bonita do pai. A caneta do pai é bonita. 31/44 (70,4%)
A caneta bonita é do pai. 1/44 (2,3%)
11- Casa é azul esta. Esta casa é azul 43/44 (97,7%)
Relativamente às correcções conformes com as estruturas-alvo pretendidas que foram efectuadas
pelas crianças do 4º ano de escolaridade, é de salientar que, no item 4, O pai comprou grande um
carro, 59,1% executaram a correcção deslocando o adjectivo para uma posição pré-nominal, em
adjacência ao nome carro (cf.(100)), enquanto os restantes sujeitos colocaram o adjectivo em
posição pós-nominal, em adjacência ao mesmo nome (cf.(101)).
(100) O pai comprou um grande carro.
(101) O pai comprou um carro grande.
De todas as crianças que responderam adequadamente ao item 7, A caneta é bonita do pai, apenas
uma não propôs a estrutura-alvo em que o SP do pai ocorre no interior do Sujeito (cf.(102)),
preferindo deslocar o SA bonita, igualmente para o interior do Sujeito (cf.(103)).
(102) A caneta do pai é bonita.
(103) A caneta bonita é do pai.
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
79
Como conclusão, os dados apresentados mostram que, no 4º ano de escolaridade, a percentagem
média de respostas correctas quanto ao reconhecimento e correcção dos itens agramaticais por
deslocação de parte do constituinte foi de 87,9%. O item que envolveu uma maior frequência de
respostas erradas foi o 7, A caneta é bonita do pai, quer por ter sido reconhecido como gramatical,
quer por ter sido corrigido não conforme com as estruturas-alvo pretendidas. O tipo de erro mais
frequente nestes três itens foi o de tipo 2, já que se verificou a produção de uma sequência
gramatical, mas com supressão de constituintes que, embora não sendo necessários para o
estabelecimento de predicação, não podiam ser omitidos tendo em conta as instruções dadas no
início da aplicação da tarefa.
3.2.2.3. Comparação dos resultados relativos às sequências agramaticais por
deslocação de uma parte de um constituinte nos 1º e 4º anos de
escolaridade
No que diz respeito aos itens agramaticais por deslocação de parte do constituinte que constituem
esta tarefa, grande parte das crianças observadas respondeu de forma acertada, ou seja, reconheceu-
-os como incorrectos e elaborou uma correcção de acordo com as estruturas-alvo pretendidas.
Comparando o 1º e o 4º anos de escolaridade, verifica-se que o maior número de respostas erradas
ocorre nas crianças que frequentam o 1º ano de escolaridade, quer por reconhecerem estes itens
como correctos, quer por os reconhecerem como incorrectos, mas sugerirem correcções não
conformes com as estruturas-alvo possíveis. O item 7, A caneta é bonita do pai, é o que apresenta
uma maior frequência de respostas erradas, enquanto o item 11, Casa é azul esta, é o que revela um
maior número de respostas de acordo com a estrutura-alvo pretendida, nos dois anos de
escolaridade.
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
80
O tipo de erro mais frequente em ambos os anos de escolaridade é o de tipo 2, pois as crianças
produziram sequências gramaticais, mas com reformulações que levaram à supressão de
constituintes do item. As crianças mais novas apresentam uma maior diversidade quanto ao tipo de
erros produzidos. Com efeito, enquanto os erros das crianças que frequentam o 4º ano residiram no
reconhecimento dos itens como gramaticais, na alteração da estrutura sintáctica dos itens, na
supressão de constituintes que não são necessários para estabelecer predicação, na manutenção do
erro e na supressão de constituintes necessários para obter uma frase, as crianças que frequentam o
1º ano de escolaridade, além dos erros já referidos, também reformularam totalmente a estrutura,
produzindo sequências agramaticais, e não propuseram qualquer correcção para alguns itens.
Alguns itens permitiam mais do que uma possibilidade de correcção, todas conformes com a
gramática do adulto. Assim, no item 4, O pai comprou grande um carro, e no item 7, A caneta é
bonita do pai, os sujeitos tinham duas opções, que diferiam pela posição pré- ou pós-nominal dos
modificadores, como se verifica nos Quadros 29 e 32 (pág. 74 e 78) e se repete em (104) – (107):
(104) O pai comprou um grande carro.
(105) O pai comprou um carro grande.
(106) A caneta do pai é bonita.
(107) A caneta bonita é do pai.
Relativamente ao item 4, a maioria das crianças do 1º ano que produziram sequências de acordo
com as estruturas-alvo pretendidas optou por deslocar o adjectivo para uma posição pós-nominal,
internamente ao Objecto Directo. Esta preferência não se verificou nas crianças do 4º ano de
escolaridade, pois a maioria optou pela estrutura em que o adjectivo ocorre em posição pré-nominal,
ainda que também internamente ao Objecto Directo.
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
81
No item 7, em ambos os anos de escolaridade, a maioria das crianças que produziram sequências de
acordo com as estruturas-alvo pretendidas optou por deslocar o Modificador Adjectival bonita para
uma posição pós-nominal interna ao Sujeito da frase.
À análise descritiva dos resultados, seguiu-se uma ANOVA TWO WAY, para averiguar se existem
efeitos principais e efeitos de interacção das variáveis independentes ano de escolaridade e género
na pontuação dos itens agramaticais por deslocação de uma parte de um constituinte. Apresentam-
se, no Quadro 33, os resultados da aplicação deste teste.
Quadro 33 – ANOVA TWO WAY – Efeitos principais e efeitos de interacção das variáveis independentes ano de
escolaridade e género na pontuação do reconhecimento e correcção dos itens agramaticais por deslocação de uma parte
de um constituinte.
Fonte df F Sig.
Ano de escolaridade 1 27,178 0,000
Género 1 0,718 0,399
Ano de escolaridade * Género 1 0,306 0,582
A observação deste quadro permite concluir que a ANOVA TWO WAY não revelou um efeito de
interacção entre as variáveis ano de escolaridade e género no reconhecimento e correcção dos itens
agramaticais por deslocação de uma parte de um constituinte. No entanto, observou-se um efeito
principal na variável ano de escolaridade, constatando-se que, no 4º ano, se verificou uma
pontuação média de 2,6 (média da média da pontuação no Quadro 30), que é superior à pontuação
média de 1,7 (média da média da pontuação no Quadro 27) observada no 1º ano de escolaridade.
Assim, o ano de escolaridade influencia significativamente o reconhecimento e a correcção dos
itens agramaticais por deslocação de uma parte de um constituinte.
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
82
3.2.3. Agramaticalidade por inserção de uma expressão no interior de um
constituinte
Nesta tarefa, a inserção de uma expressão no interior de um constituinte encontrava-se em três itens.
Tal como acontecia com os outros itens da tarefa, as crianças deveriam reconhecê-los como
“incorrectos”, apresentando uma sequência correcta, cumprindo as instruções dadas. Os itens de
teste em análise nesta secção são os seguintes:
3 – A até mãe comprou um gelado.
8 – O menino comeu o ontem bolo.
13 – A casa hoje da tia está a ser pintada.
Apresentam-se, de seguida, os resultados relativos a cada ano de escolaridade.
3.2.3.1. Resultados do 1º ano de escolaridade
No Quadro 34, apresentam-se os resultados, mínimos e máximos, relativos à pontuação do
reconhecimento e da correcção dos itens agramaticais por inserção de uma expressão no interior de
um constituinte. Os dados são relativos às crianças do 1º ano de escolaridade, de ambos os géneros.
A percentagem foi calculada de acordo com a amostra total deste ano de escolaridade (40 sujeitos).
Quadro 34 – Pontuação do reconhecimento e da correcção dos itens agramaticais por inserção de expressão no interior
de um constituinte relativa ao 1º ano de escolaridade.
Número de
crianças
Mínimo Máximo Média da
Pontuação
Desvio
Padrão n % n %
Masculino 22 0/0 9 22,5% 2/3 4 10,0% 0,77 0,752
Feminino 18 0/0 2 5,0% 3/3 3 7,5% 1,28 0,895
Total 40 11 27,5% 7 17,5%
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
83
Como se pode verificar pelo Quadro 34, a pontuação mínima para os dois géneros corresponde a
errar em todos os itens, enquanto a pontuação máxima varia consoante o género, pois nenhuma
criança do género masculino acertou na totalidade dos itens, enquanto três crianças do género
feminino (7,5%) responderam de forma correcta a todos os itens. Verifica-se que a frequência, tanto
nas pontuações mínimas como nas máximas, é baixa: o maior número de respostas correctas do
género masculino foi de uma em três itens (40,9%) e no género feminino foi de uma ou em duas de
três (72,2%).
No Quadro 35 apresentam-se os resultados, absolutos e em percentagem, relativos às respostas aos
itens em análise nesta secção, incluindo os tipos de erros produzidos, no 1º ano de escolaridade.
Quadro 35 – Frequência do tipo de respostas dado pelas crianças a frequentar o 1º ano de escolaridade, aos itens
agramaticais por inserção de uma expressão no interior de um constituinte.
Itens
Etapa 1 Etapa 2 3 8 13
Gramatical
Tipo 0 3/40 (7,5%) 9/40 (22,5%) 27/40 (67,5%)
Agramatical
Corrige por
gramatical
Conforme com a
estrutura-alvo
pretendida
7/40 (17,5%) 27/40 (67,5%) 6/40 (15,0%)
Tipo 1 2/40 (5,0%)
Tipo 2 27/40 (67,5%) 4/40 (10,0%) 7/40 (17,5%)
Corrige por
agramatical
Tipo 3 1/40 (2,5%)
Tipo 4
Tipo 5
Tipo 6
Tipo 7 – Não corrige
O item 3, A até mãe comprou um gelado, foi reconhecido como gramatical por 7,5% da amostra. Os
restantes 92,5% consideraram o item agramatical, sendo que 2,5% (37-M-1) repetiram o item ao
procederem à sua correcção, enquanto os restantes 90,0% o substituíram por uma frase gramatical.
Destes, 67,5% suprimiram o item lexical inserido no interior do constituinte (cf.(108)), 5,0%
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
84
efectuaram alterações sintácticas ao item inicial (cf.(109) e (110)) e 17,5% corrigiram o item
conforme a estrutura-alvo pretendida (cf.(111) e (112)).
(108) A mãe comprou um gelado. (ex. 2-F-1, 4-M-1)
(109) A minha mãe comprou um gelado. (68-M-1)
(110) A mãe foi comprar um gelado. (42-M-1)
(111) A mãe até comprou um gelado.
(112) Até a mãe comprou um gelado.
Note-se que, neste caso, a preposição até pode ser colocada em diferentes posições, o que resulta na
focalização de diferentes constituintes, facto reconhecido pelas crianças, como se conclui da
diversidade de respostas apresentadas (cf.(111) e (112)).
O item 8, O menino comeu o ontem bolo, foi reconhecido como gramatical por 22,5% da amostra e
como agramatical pelos restantes sujeitos. Neste último caso, 10,0% suprimiram o item lexical
inserido no interior do constituinte, produzindo uma frase gramatical, mas não conforme com a
estrutura-alvo pretendida, já que era pedido explicitamente que não fossem retirados itens lexicais
(cf.(113)). Os restantes 67,5% corrigiram o item conforme as estruturas-alvo pretendidas, ou seja,
deslocando o advérbio para três das quatro posições possíveis na frase (cf.(114) - (116)).
(113) O menino comeu o bolo. (47-M-1, 59-M-1)
(114) O menino comeu ontem o bolo.
(115) O menino, ontem, comeu o bolo.
(116) Ontem, o menino comeu o bolo.
O item 13, A casa hoje da tia está a ser pintada, foi reconhecido como gramatical por 67,5% da
amostra. Dos sujeitos que o reconheceram como agramatical, 17,5% suprimiram o item lexical
inserido no interior do constituinte (cf.(117)). Os restantes 15,0% corrigiram o item conforme as
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
85
estruturas-alvo pretendidas, deslocando o advérbio para duas das cinco possíveis posições dentro da
frase (cf.(118) e (119)).
(117) A casa da tia está a ser pintada. (4-M-1, 9-F-1)
(118) A casa da tia, hoje, está a ser pintada.
(119) Hoje, a casa da tia está a ser pintada.
No Quadro 36 apresentam-se os resultados, absolutos e em percentagem, relativos às estruturas-
-alvo pretendidas para cada um dos itens que envolvem a inserção de uma expressão no interior de
um constituinte.
Quadro 36 – Frequência das respostas conformes com as estruturas-alvo dadas pelas crianças a frequentar o 1º ano de
escolaridade, aos itens agramaticais por inserção de uma expressão no interior de um constituinte.
Item Reposta N (%)
3- A até mãe comprou um gelado. Até a mãe comprou um gelado. 3/40 (7,5%)
A mãe até comprou um gelado. 4/40 (10,0%)
A mãe comprou até um gelado. 0/40 (0,0%)
8- O menino comeu o ontem bolo. Ontem, o menino comeu o bolo. 1/40 (2,5%)
O menino, ontem, comeu o bolo. 9/40 (22,5%)
O menino comeu ontem o bolo. 17/40 (42,5%)
O menino comeu o bolo ontem. 0/40 (0,0%)
13- A casa hoje da tia está a ser pintada. Hoje, a casa da tia está a ser pintada. 2/40 (5,0%)
A casa da tia, hoje, está a ser pintada. 4/40 (10,0%)
A casa da tia está hoje a ser pintada. 0/40 (0,0%)
A casa da tia está a ser hoje pintada. 0/40 (0,0%)
A casa da tia está a ser pintada hoje. 0/40 (0,0%)
Como se verifica pelo Quadro 36, para estes itens há várias opções de resposta. Assim, para o item
3, A até mãe comprou um gelado, das três respostas possíveis, as crianças produziram apenas duas:
10% dos sujeitos deslocaram a preposição para uma posição pré-verbal, focalizando, assim, o SV
(cf.(120)), e 7,5% efectuaram a correcção deslocando a preposição para o início da frase,
focalizando o sujeito (cf.(121)). Nenhuma criança deslocou a preposição para uma posição pós-
verbal, focalizando o Objecto Directo (cf.(122)).
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
86
(120) A mãe até comprou um gelado.
(121) Até a mãe comprou um gelado.
(122) A mãe comprou até um gelado.
Quanto ao item 8, O menino comeu o ontem bolo, das quatro opções de resposta possíveis, as
crianças do 1º ano de escolaridade seleccionaram três: 42,5% deslocaram o advérbio de tempo para
uma posição pós-verbal, precedendo o Objecto Directo (cf.(123)); 22,5% das crianças deslocaram o
advérbio para a posição entre o Sujeito e o verbo (cf.(124)) e 2,5% deslocaram o advérbio para o
início da frase (cf.(125)). A colocação do advérbio em posição final de frase (cf.(126)) não ocorreu
nas respostas das crianças do 1º ano de escolaridade.
(123) O menino comeu ontem o bolo.
(124) O menino, ontem, comeu o bolo.
(125) Ontem, o menino comeu o bolo.
(126) O menino comeu o bolo ontem.
Relativamente ao item 13, A casa hoje da tia está a ser pintada, das cinco estruturas-alvo possíveis,
apenas duas foram seleccionadas pelas crianças do 1º ano de escolaridade. Assim, 10,0% destas
crianças efectuaram a correcção deslocando o advérbio hoje para a posição entre o Sujeito e o verbo
(cf.(127)) e 5,0% deslocaram o advérbio para o início da frase (cf.(128)). Nenhuma criança optou
pela colocação do advérbio nem entre os verbos que constituem a sequência verbal complexa
(cf.(129) e (130)) nem em posição final de frase (cf.(131)).
(127) A casa da tia, hoje, está a ser pintada.
(128) Hoje, a casa da tia está a ser pintada.
(129) A casa da tia está hoje a ser pintada.
(130) A casa da tia está a ser hoje pintada.
(131) A casa da tia está a ser pintada hoje.
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
87
Resumindo, no reconhecimento e na correcção dos itens agramaticais por inserção de uma
expressão no interior de um constituinte, a percentagem média de respostas correctas no 1º ano de
escolaridade foi de 33,3%. Verificou-se em todos os itens uma elevada frequência de respostas
erradas, principalmente nos itens 3, A até mãe comprou um gelado, e 13, A casa hoje da tia está a
ser pintada. No que diz respeito ao primeiro item referido, existe uma concentração de respostas
erradas de tipo 2, por supressão da expressão inserida, até. Relativamente ao item 13, um grande
número de crianças reconheceu o item como gramatical. O tipo de erro mais frequente foi o erro de
tipo 2, já que se verificou a produção de uma sequência gramatical, mas com a já referida supressão
da expressão inserida, estratégia incompatível com a instrução fornecida.
3.2.3.2. Resultados do 4º ano de escolaridade
Relativamente ao 4º ano, apresentam-se no Quadro 37 os resultados, mínimos e máximos, relativos
à pontuação do reconhecimento e da correcção dos itens agramaticais por inserção de uma
expressão no interior de um constituinte, em ambos os géneros. A percentagem foi calculada de
acordo com a amostra total deste ano de escolaridade (44 sujeitos).
Quadro 37 – Pontuação do reconhecimento e da correcção dos itens agramaticais por inserção de uma expressão no
interior de um constituinte relativa ao 4º ano de escolaridade.
Número de
crianças
Mínimo Máximo Média da
Pontuação
Desvio
Padrão n % n %
Masculino 21 1/3 11 25,0% 3/3 4 9,1% 1,67 0,796
Feminino 23 0/0 2 4,6% 3/3 5 11,4% 1,65 0,935
Total 44 13 29,6% 9 20,5%
Como se pode observar no Quadro 37, a pontuação mínima no género masculino é mais elevada do
que no género feminino. No género masculino, a pontuação que ocorre com maior frequência
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
88
corresponde a acertar em um de três itens (52,4%), enquanto no género feminino as pontuações
mais frequentes foram acertar em um ou em dois dos três itens (69,5%).
No Quadro 38, apresentam-se os resultados, absolutos e em percentagem, das respostas aos itens
que envolvem inserção, incluindo-se os tipos de erros produzidos pelas crianças do 4º ano de
escolaridade.
Quadro 38 – Frequência do tipo de respostas dado pelas crianças a frequentar o 4º ano de escolaridade aos itens
agramaticais por inserção de uma expressão no interior de um constituinte.
Itens
Etapa 1 Etapa 2 3 8 13
Gramatical
Tipo 0 4/44 (9,1%) 14/44 (31,8%)
Agramatical
Corrige por
gramatical
Conforme com a estrutura-alvo
pretendida
11/44 (25,0%) 39/44 (88,6%) 23/44 (52,3%)
Tipo 1 3/44 (6,8%)
Tipo 2 30/44 (68,2%) 1/44 (2,3%) 7/44 (15,9%)
Corrige por
agramatical
Tipo 3
Tipo 4
Tipo 5
Tipo 6
Tipo 7 – Não corrige
O item 3, A até mãe comprou um gelado, foi reconhecido como agramatical pela totalidade da
amostra. Ao fazerem a correcção deste item, 68,2% da amostra suprimiram o constituinte inserido
(cf.(132)), 6,8% da amostra efectuaram alterações sintácticas ao item inicial (cf.(133) e (134)) e
25,0% corrigiram o item conforme duas das três estruturas-alvo possíveis (cf.(135) e (136)).
(132) A mãe comprou um gelado. (5-F-4, 7-F-4)
(133) A minha mãe comprou um gelado. (31-M-4)
(134) A tua mãe comprou um gelado. (6-F-4 e 30-M-4)
(135) Até a mãe comprou um gelado.
(136) A mãe até comprou um gelado.
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
89
O item 8, O menino comeu o ontem bolo, foi reconhecido como gramatical por 9,1% da amostra e
como agramatical por 90,9%. Destes últimos sujeitos, 2,3% suprimiram o constituinte inserido
(cf.(137)). Os restantes 88,6% corrigiram o item conforme as estruturas-alvo pretendidas, colocando
o advérbio nas quatro posições possíveis (cf.(138) - (141)).
(137) O menino comeu o bolo. (83-F-4)
(138) O menino, ontem, comeu o bolo.
(139) O menino comeu ontem o bolo.
(140) Ontem, o menino comeu o bolo.
(141) O menino comeu o bolo ontem.
Finalmente, o item 13, A casa hoje da tia está a ser pintada, foi reconhecido como gramatical por
31,8% da amostra. Da amostra que reconheceu este item como agramatical, 15,9% suprimiram o
item lexical inserido no interior do constituinte (cf.(142)). Os restantes 52,3% corrigiram o item
conforme as estruturas-alvo pretendidas, colocando o advérbio em duas das quatro posições
possíveis (cf.(143) e (144)).
(142) A casa da tia está a ser pintada. (12-M-4, 16-F-4)
(143) Hoje, a casa da tia está a ser pintada.
(144) A casa da tia, hoje, está a ser pintada.
No Quadro 39 apresentam-se os resultados, absolutos e em percentagem, relativos às estruturas-
-alvo pretendidas para cada um dos itens que testam esta estrutura agramatical.
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
90
Quadro 39 – Frequência das respostas conformes com as estruturas-alvo dadas pelas crianças a frequentar o 4º ano de
escolaridade, aos itens agramaticais por inserção de uma expressão no interior de um constituinte.
Item Reposta N (%)
3- A até mãe comprou um gelado. Até a mãe comprou um gelado. 9/44 (20,4%)
A mãe até comprou um gelado. 2/44 (4,5%)
A mãe comprou até um gelado. 0/44 (0,0%)
8- O menino comeu o ontem bolo. Ontem, o menino comeu o bolo. 6/44 (13,6%)
O menino, ontem, comeu o bolo. 16/44 (36,4%)
O menino comeu ontem o bolo. 13/44 (29,5%)
O menino comeu o bolo ontem. 4/44 (9,1%)
13- A casa hoje da tia está a ser pintada. Hoje, a casa da tia está a ser pintada. 15/44 (34,1%)
A casa da tia, hoje, está a ser pintada. 8/44 (18,2%)
A casa da tia está hoje a ser pintada. 0/44 (0,0%)
A casa da tia está a ser hoje pintada. 0/44 (0,0%)
A casa da tia está a ser pintada hoje. 0/44 (0,0%)
Conforme se verifica no Quadro 39, e já referido na secção 3.2.3.1, os três itens em análise
permitiam diversas respostas. Relativamente ao item 3, A até mãe comprou um gelado, que admite
três respostas, só duas foram produzidas pelas crianças do 4º ano. Assim, 20,4% dos sujeitos
efectuaram a correcção deslocando a preposição para o início da frase, focalizando o Sujeito
(cf.(145)), e 4,5% deslocaram a preposição para a posição pré-verbal, focalizando, assim, o SV
(cf.(146)). Tal como no 1º ano de escolaridade, também no 4º ano nenhuma criança deslocou a
preposição para uma posição pós-verbal, focalizando o Objecto Directo (cf.(147)).
(145) Até a mãe comprou um gelado.
(146) A mãe até comprou um gelado.
(147) A mãe comprou até um gelado.
Para o item 8, O menino comeu o ontem bolo, foram utilizadas pelas crianças do 4º ano de
escolaridade as quatro opções de respostas possíveis: 36,4% deslocaram o advérbio para a posição
entre o Sujeito e o verbo (cf.(148)); 29,5% das crianças deslocaram-no para uma posição pós-
verbal, precedendo o Objecto Directo (cf.(149)); 9,1% deslocaram o mesmo advérbio para o fim da
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
91
frase (cf.(150)) e 6,0% efectuaram a correcção deslocando o advérbio para o início da frase
(cf.(151)).
(148) O menino, ontem, comeu o bolo.
(149) O menino comeu ontem o bolo.
(150) O menino comeu o bolo ontem.
(151) Ontem, o menino comeu o bolo.
Relativamente ao item 13, A casa hoje da tia está a ser pintada, das cinco possibilidades de
resposta, apenas duas foram seleccionadas pelas crianças no 4º ano de escolaridade. Deste modo,
34,1% destas crianças procederam à correcção deslocando o advérbio para o início da frase
(cf.(152)), e 18,2% deslocaram-no para a posição entre o Sujeito e o verbo (cf.(153)). As restantes
opções de resposta (cf.(154) – (156)) não foram utilizadas.
(152) Hoje, a casa da tia está a ser pintada.
(153) A casa da tia, hoje, está a ser pintada.
(154) A casa da tia está hoje a ser pintada.
(155) A casa da tia está a ser hoje pintada.
(156) A casa da tia está a ser pintada hoje.
Para concluir, no 4º ano de escolaridade, a percentagem média de respostas correctas quanto ao
reconhecimento e à correcção dos itens agramaticais por inserção de uma expressão no interior de
um constituinte foi de 55,3%. Os itens para os quais se verificou uma maior frequência de respostas
erradas foram o 3, A até mãe comprou um gelado, devido à elevada ocorrência de supressão da
expressão inserida (até), e 13, A casa hoje da tia está a ser pintada, por se verificar um grande
número de crianças que reconheceram o item como gramatical. O tipo de erro mais frequente nas
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
92
respostas a estes três itens foi o erro de tipo 2, já que se verificou a produção de uma sequência
gramatical, mas com a já referida supressão da expressão inserida.
3.2.3.3. Comparação dos resultados das sequências agramaticais por inserção
de uma expressão no interior de um constituinte no 1º e no 4º anos de
escolaridade
O número de crianças observadas que respondeu de forma correcta aos itens agramaticais por
inserção de uma expressão no interior de um constituinte desta tarefa foi inferior a 50,0%.
Comparando os dois anos testados, verifica-se que o maior número de respostas erradas ocorre nas
crianças que frequentam o 1º ano de escolaridade, seja por reconhecerem estes itens como
correctos, seja por os reconhecerem como incorrectos mas procederem a correcções não conformes
com as estruturas-alvo pretendidas.
Em ambos os anos de escolaridade, os itens que apresentam um pior desempenho por parte dos
sujeitos são o 3, A até mãe comprou um gelado, em que se verificou com frequência a supressão da
preposição focalizadora até, e o 13, A casa hoje da tia está a ser pintada, por ter sido reconhecido
como gramatical por grande parte da amostra.
O tipo de erro mais frequente em ambos os anos de escolaridade é de tipo 2, pois as crianças
produziram sequências gramaticais, mas com reformulações parciais, uma vez que suprimiram as
expressões inseridas. Nos dois anos de escolaridade, ocorreram os mesmos tipos de erros:
reconhecimento dos itens como gramaticais, alteração total da estrutura sintáctica dos itens e
supressão da expressão inserida no constituinte.
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
93
Quanto ao número de estruturas-alvo pretendidas, todos os itens permitem diversas opções, uma vez
que os elementos inseridos podem ocupar diferentes posições na frase. Relativamente ao item 3, A
até mãe comprou um gelado, nenhuma criança deslocou a preposição para a posição pré-Objecto
Directo, focalizando, assim, este constituinte; a estrutura em que a preposição se encontra em
posição pré-verbal, focalizando o SV, foi a mais utilizada pelas crianças que frequentavam o 1º ano
de escolaridade, enquanto as que frequentavam o 4º ano recorreram mais à estrutura em que a
preposição inicia a frase, focalizando o Sujeito.
Quanto ao item 8, O menino comeu o ontem bolo, a estratégia de correcção mais utilizada pelas
crianças que frequentavam o 1º ano de escolaridade consistiu na deslocação do advérbio para a
posição entre o verbo e o Objecto Directo, enquanto as crianças que frequentavam o 4º ano
produziram com mais frequência a deslocação do advérbio para a posição entre o Sujeito e o verbo.
A estratégia menos utilizada foi a deslocação do advérbio para a posição final da frase, que não foi
sequer utilizada pelas crianças que frequentavam o 1º ano de escolaridade.
Finalmente, no que diz respeito ao item 13, A casa hoje da tia está a ser pintada, o advérbio nunca
foi deslocado para o interior da perífrase verbal, nem para o final de frase. A estratégia mais
utilizada pelas crianças que frequentavam o 1º ano de escolaridade foi a deslocação do advérbio
para a posição entre o Sujeito e o verbo, enquanto as crianças do 4º ano deslocaram mais
frequentemente o advérbio para a posição inicial de frase.
Após a análise descritiva dos resultados, efectuou-se uma ANOVA TWO WAY, para averiguar a
existência de efeitos principais e de efeitos de interacção das variáveis independentes ano de
escolaridade e género, na pontuação dos itens agramaticais por inserção de uma expressão no
interior de um constituinte. No Quadro 40, abaixo, apresentam-se os resultados da aplicação deste
teste.
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
94
Quadro 40 – ANOVA TWO WAY – Efeitos principais e efeitos de interacção das variáveis independentes ano de
escolaridade e género na pontuação do reconhecimento e correcção dos itens agramaticais por inserção de uma
expressão no interior de um constituinte.
Fonte df F Sig.
Ano de escolaridade 1 11,679 0,001
Género 1 1,747 0,190
Ano de escolaridade * Género 1 1,960 0,165
Como se conclui da observação dos resultados apresentados no Quadro 40, a ANOVA TWO WAY
não revelou um efeito de interacção entre as variáveis ano de escolaridade e género no
reconhecimento e na correcção dos itens agramaticais por inserção de uma expressão no interior de
um constituinte. No entanto, observou-se um efeito principal na variável ano de escolaridade,
constatando-se que no 4º ano se obteve uma pontuação média de 1,7 (média da média da pontuação
no Quadro 37) comparativamente com a pontuação média de 1,0 (média da média da pontuação no
Quadro 34) observada no 1º ano de escolaridade. Assim, o ano de escolaridade influencia
significativamente o reconhecimento e a correcção dos itens agramaticais por deslocação de parte
de um constituinte.
3.2.4. Comparação dos resultados das sequências agramaticais no 1º e no 4º ano
de escolaridade
Comparando os três tipos de agramaticalidade testados, verifica-se que o desempenho das crianças é
melhor quando a agramaticalidade decorre da não observação de concordância nominal. Por sua
vez, os itens agramaticais por inserção de uma expressão no interior de um constituinte são aqueles
em que se verificam mais erros nas respostas dos sujeitos.
Na maioria dos casos, ao procederem à correcção das sequências que identificam como
agramaticais, as crianças produzem uma sequência gramatical, mas não conforme com a estrutura-
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
95
-alvo pretendida. Nos casos de não observação de concordância nominal e de deslocação de uma
parte do constituinte, o erro mais frequente é de tipo 1 (reformulação total da estrutura do item,
alterando a estrutura sintáctica da sequência). Relativamente à agramaticalidade por inserção de
uma expressão no interior de um constituinte, observa-se que o erro mais frequente é de tipo 2
(reformulação parcial do item, nomeadamente por supressão de constituintes que não são
necessários para o estabelecimento da predicação).
A análise descritiva dos resultados foi seguida da aplicação do teste ANOVA TWO WAY, para
averiguar a existência de efeitos principais e de efeitos de interacção das variáveis independentes
ano de escolaridade e género, na pontuação do reconhecimento dos itens agramaticais. Os
resultados deste teste apresentam-se no Quadro 41.
Quadro 41 – ANOVA TWO WAY – Efeitos principais e efeitos de interacção das variáveis independentes ano de
escolaridade e género na pontuação do reconhecimento dos itens agramaticais.
Fonte df F Sig.
Ano de escolaridade 1 18,283 0,000
Género 1 0,023 0,881
Ano de escolaridade * Género 1 0,097 0,756
A ANOVA TWO WAY não revelou, um efeito de interacção entre as variáveis ano de escolaridade
e género no reconhecimento da totalidade dos itens agramaticais. No entanto, observou-se um efeito
principal na variável ano de escolaridade, constatando-se que no 4º ano se verificou uma pontuação
média de 11,3 (média da média da pontuação do 4º ano, no Quadro 19) comparativamente com a
pontuação média de 10,2 (média da média da pontuação do 1º ano, no Quadro 19) observada no 1º
ano de escolaridade. Assim, o ano de escolaridade influencia significativamente o reconhecimento
e a correcção dos itens agramaticais por deslocação de uma parte de um constituinte.
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
96
3.3. Discussão dos Resultados
O principal objectivo desta investigação consiste na construção de uma tarefa de avaliação de
consciência sintáctica, mais especificamente, uma tarefa de reconstituição. Assim, construíram-se
cinco itens gramaticais e doze agramaticais, que se aplicaram a crianças portuguesas a frequentar o
1º e o 4º anos de escolaridade. Os itens agramaticais apresentavam problemas de concordância
nominal, deslocação de uma parte de um constituinte e inserção de uma expressão no interior de um
constituinte. Nesta secção, discutem-se os resultados obtidos após as análises descritiva e estatística,
tendo em consideração as variáveis em análise, confrontando-os com a informação disponível na
literatura e com as hipóteses formuladas no âmbito deste trabalho.
De acordo com a primeira hipótese formulada, o tipo de agramaticalidade testado influencia o
desempenho das crianças no reconhecimento e na correcção das sequências agramaticais. Os
resultados da aplicação desta tarefa confirmam esta hipótese para os dois anos de escolaridade.
Assim, verifica-se que os itens para os quais se obtiveram melhores resultados foram, em ambos os
anos de escolaridade, os que apresentavam alterações na concordância nominal de um constituinte
(88,3% de respostas correctas no 1º ano, 95,8% no 4º ano). A estes seguiram-se aqueles em que
havia sido deslocada uma parte de um constituinte (58,3% de respostas correctas no 1º ano, 87,9%
no 4º ano). Os itens que revelaram maiores dificuldades para as crianças foram os que envolviam a
inserção de uma expressão no interior de um dos constituintes (33,3% de respostas correctas no 1º
ano, 55,3% no 4º ano).
A diferença de resultados em função da natureza de agramaticalidade pode estar relacionada com a
complexidade da tarefa relativamente a cada fenómeno. Assim, (i) nos itens em que não se
observou concordância nominal havia alteração em apenas um constituinte, o Sujeito ou um
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
97
Complemento (cf.(157)) pelo que as crianças tinham de manipular apenas uma posição sintáctica;
(ii) nos itens em que se verificou a deslocação de uma parte de um constituinte havia, também,
alteração em um só constituinte, mas era necessário recuperar a parte que tinha sido deslocada e a
parte que permaneceu in situ, pelo que a criança tinha de ser capaz de estabelecer a relação correcta
entre expressões em duas posições dentro da frase (cf.(158)); (iii) nos itens em que ocorreu a
inserção de uma expressão no interior de um constituinte era necessário manipular dois
constituintes, o que foi inserido e aquele em que ocorreu a inserção, para além de, na correcção, a
criança ter de deslocar a expressão inserida para outra em que não gerasse agramaticalidade
(cf.(159)).
(157) a. Os pai comeu uma maçã.
b. A menina pegou nos livro.
(158) O pai comprou grande [um carro].
(159) [A [até] mãe] comprou um gelado.
Considere-se, mais especificamente os itens em que a agramaticalidade é determinada pela não
observação da concordância nominal.
Nos itens 2 (cf.(157a)) e 9, A canetas ficou estragada, o constituinte gerador da agramaticalidade
encontra-se na posição de sujeito. O item 9 foi o que revelou um maior número de respostas
incorrectas, por ter sido reconhecido como gramatical por 14,2% da amostra. Embora em ambos os
casos a posição manipulada seja a de Sujeito, no item 2 a marca de plural está no determinante, mas
no item 9 está no nome. A discrepância de resultados entre estes dois itens pode ser justificada por a
marca de plural no determinante ser uma pista forte quando o constituinte está em posição de
Sujeito.
O item 12, O menino escreveu um textos, é dos que apresenta, também, um maior número de
respostas incorrectas, principalmente no 1º ano. Neste item, tal como no 5, A menina pegou nos
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
98
livro, o constituinte que origina a agramaticalidade encontra-se na posição de Complemento
Directo, em 12, ou Oblíquo, em 5. Contudo enquanto no item 5 a marca de plural se encontra no
determinante, no item 12 a mesma está no nome. Dado que todas as crianças responderam
correctamente ao item 5, mas não ao item 12, pode colocar-se de novo a hipótese (a desenvolver
futuramente) de que a marca de plural no determinante é uma pista forte para o reconhecimento da
agramaticalidade.
Relativamente aos itens 15, Este é o livro das menina, e 17, O carro do tios foi caro, o segundo
revelou um maior número de respostas correctas, o que significa que, num constituinte encaixado, a
marca de plural no nome é favorecida.
Quanto às estruturas-alvo pretendidas, cada item tinha duas opções, uma estrutura singular e outra
plural. As respostas das crianças, nos dois anos de escolaridade, evidenciaram uma preferência
notória pela estrutura singular que corresponde à estrutura não marcada (406 respostas singulares,
contra 59 no plural). No caso dos itens em que o constituinte gerador da agramaticalidade se
encontra na posição de sujeito, tal preferência pela estrutura singular pode ainda dever-se ao facto
de não ser necessário alterar a forma verbal do item de teste, que se encontra também ela no
singular. Com efeito, para efectuarem a correcção, as crianças tiveram de estabelecer a relação de
concordância entre o nome e o determinante. Ao optarem pela forma singular, a estrutura ficou
imediatamente gramatical; porém, ao produzirem o SN-Sujeito no plural, e dado que, em português,
este constituinte controla a concordância verbal, as crianças tiveram de proceder ainda à alteração
do verbo em número.
No que diz respeito aos itens agramaticais por deslocação de uma parte de um constituinte, o item
em que se verificou um maior número de respostas incorrectas foi o 7, A caneta é bonita do pai.
Este pior desempenho pode decorrer do facto de, neste item, poderem ser deslocados dois
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
99
constituintes, o SP, do pai, ou o SA, bonita, o que torna a tarefa mais complexa, uma vez que a
criança deverá fazer uma opção entre duas estruturas sintácticas concorrentes.
Nos itens 11, Casa é azul esta, e 4, O pai comprou grande um carro, apenas um constituinte estava
deslocado: esta, em 11, e grande em 4. Se a nossa hipótese relativa ao maior sucesso no item 7
estiver correcta, então, podemos afirmar que o maior sucesso nos itens 11 e 4 se deve ao facto de,
nesta, a criança ter de identificar como deslocado um único constituinte.
Relativamente ao item 11, veja-se ainda que a frequência das duas estruturas-alvo possíveis
(colocação do adjectivo em posição pré ou pós-nominal) varia consoante o ano de escolaridade.
Assim, enquanto as crianças do 1º ano optaram pela posição pós-nominal, as crianças do 4º ano
preferiram a posição pré-nominal. Esta diferença pode decorrer de diferentes factores. Uma hipótese
a explorar é a de que as crianças do 1º ano ainda não tenham disponível a posição pré-nominal, o
que não acontece nas de 4º ano, possivelmente porque, neste último ano, o conhecimento explícito
desta estrutura já foi trabalhado.
Finalmente, entre os itens agramaticais por inserção de uma expressão no interior de um
constituinte, o item em que se verifica um maior número de respostas correctas é o 8, O menino
comeu o ontem bolo. Neste item, o SADV deslocado, ontem, foi inserido no interior do SV, como
acontece no item 13, A casa hoje da tia está a ser pintada, que revelou um menor número de
respostas correctas, no 1º ano de escolaridade, pois foi reconhecido como gramatical por grande
parte destes sujeitos. Embora em ambos os itens o constituinte inserido tenha uma natureza
semelhante (Modificadores Adverbiais Temporais), a diferença nos resultados pode advir da
complexidade do constituinte em que o advérbio foi inserido. Com efeito, no item 8, o advérbio
encontra-se entre o determinante e o nome, que são os únicos elementos do SN; no item 13, o
advérbio ocupa a posição entre o nome e o seu modificador, ou seja, num SN mais complexo do
que o do item 8.
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
100
O item 3, A até mãe comprou um gelado, foi o que revelou um maior número de respostas erradas,
pois grande parte dos sujeitos, ao corrigirem este item, suprimiu a expressão inserida até. O facto
de, neste item, a estrutura-alvo conter a focalização de um constituinte pode estar na base do menor
insucesso relativamente aos restantes itens que envolvem inserção.
Para além dos itens agramaticais, a tarefa incluía, também, itens gramaticais, com a função de
distractores. Como se pôde verificar pelos resultados, a maioria das crianças reconheceu-os como
gramaticais, respondendo de forma adequada. As crianças que os reconheceram como agramaticais
procederam, na maior parte dos casos, a correcções em que alteraram as marcas de concordância do
Objecto Directo (item 6, Ela guardou os brinquedos), alteraram a posição do advérbio (item 10,
Ontem eu comi massa) e eliminaram o advérbio de exclusão (item 16, O menino só apanhou uma
flor pequenina).
De acordo com a segunda hipótese formulada neste estudo, as crianças a frequentar o 1º ano de
escolaridade revelam níveis de sucesso inferiores aos das crianças do 4º ano, no desempenho da
tarefa de reconstituição.
Estudos realizados por diversos autores (Sim-Sim, 1998; Karanth & Suchitra, 1993, citados por
Silva, 2003) com crianças de 1º ciclo revelam que as crianças com nove anos têm mais facilidade
em identificar erros em estruturas frásicas e proceder à respectiva correcção, do que as crianças com
seis anos. Os mesmos estudos revelam, ainda, que as crianças até aos seis/sete anos têm grandes
dificuldades em formular juízos de gramaticalidade mas, a partir dos sete/oito anos, quando
começam a revelar algum domínio na leitura, dão um salto significativo na eficácia que apresentam
neste tipo de tarefa.
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
101
Os resultados confirmam a hipótese formulada e vão ao encontro dos resultados obtidos nos citados
estudos. Assim, verificou-se que, no reconhecimento e na correcção dos itens agramaticais as
crianças que frequentavam o 1º ano obtiveram resultados inferiores às do 4º ano:
(i) Nos itens agramaticais por não observação de concordância nominal, 95,0% das crianças
que frequentavam o 4º ano de escolaridade tiveram um desempenho positivo, contra 88,3% das
crianças de 1º ano. Em ambos os anos de escolaridade, os itens com melhores resultados foram o
2, Os pai comeu uma maçã, e o 5, A menina pegou nos livro, enquanto os que obtiveram os
resultados mais baixos foram o 9, A canetas ficou estragada, e o 15, Este é o livro das menina.
(ii) Nos itens agramaticais por deslocação de uma parte de um constituinte, 87,9% das crianças
do 4º ano tiveram um desempenho positivo, contra os 58,3% das crianças do 1º ano. Também
nesta estrutura se verificou que, em ambos os anos de escolaridade, o item com maior número de
respostas correctas é o 11, Casa é azul esta, e o que apresenta os valores mais baixos é o 7, A
caneta é bonita do pai.
(iii) Nos itens agramaticais por inserção de uma expressão no interior de um constituinte,
55,3% das crianças que frequentavam o 4º ano de escolaridade tiveram um resultado positivo,
contra os 33,3% do 1º ano. Entre os itens que envolvem inserção, o que revelou valores mais
elevados de respostas correctas foi o 8, O menino comeu o ontem bolo, em ambos os anos de
escolaridade. No entanto, o item com valores mais baixos de respostas acertadas varia com o ano
de escolaridade: no 1º ano de escolaridade, foi o item 13, Estas flores são brancas, e no 4º ano
foi o item 3, A até mãe comprou um gelado.
O facto de se verificarem diferenças significativas entre os dois anos de escolaridade testados revela
que a reconstituição de frases constituiu uma tarefa adequada à avaliação da consciência sintáctica.
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
102
Finalmente, na terceira hipótese formulada neste estudo afirma-se que os resultados obtidos para as
crianças de género masculino e feminino não diferem significativamente. Esta hipótese tem como
fundamento estudos anteriores sobre consciência linguística, como Meneses, et al (2004), cujos
resultados mostraram que não existem diferenças significativas entes os dois géneros, numa prova
de consciência fonológica. Também no presente estudo, não se verificaram diferenças significativas
entre os géneros, em nenhuma das estruturas agramaticais estudadas, pelo que a hipótese três se
confirma.
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
103
CONCLUSÃO
Com o presente estudo, pretendeu-se avaliar o desempenho de crianças de 1º Ciclo do Ensino
Básico numa tarefa de consciência sintáctica, nomeadamente numa tarefa de reconstituição de
sequência agramaticais.
Os resultados revelam que o tipo de agramaticalidade testado influencia o desempenho das crianças
no reconhecimento e correcção das sequências agramaticais, ou seja, a estrutura agramatical por não
observação de concordância nominal revelou os melhores resultados, enquanto que a estrutura
agramatical por inserção de uma expressão no interior de um constituinte foi a que revelou maiores
dificuldades, em ambos os anos de escolaridade.
O tipo de erros produzidos pelas crianças na correcção dos itens difere em função do tipo de
agramaticalidade. Assim, na estrutura agramatical por não observação de concordância nominal, a
maioria dos erros produzidos prende-se com o reconhecimento dos itens como gramaticais. Nos
itens agramaticais por deslocação de uma parte de um constituinte, o maior número de respostas
erradas ocorreu devido ao reconhecimento dos itens como gramaticais; seguidamente, surgem as
respostas com supressão das expressões deslocadas nos constituintes. Na agramaticalidade por
inserção de uma expressão no interior de um constituinte, o maior número de ocorrências de
respostas incorrectas deveu-se à supressão das expressões inseridas nos constituintes e ao
reconhecimento dos itens como gramaticais.
No que diz respeito aos resultados dos dois anos de escolaridade avaliados, verificaram-se
diferentes comportamentos entre as crianças do 1º e as do 4º ano, perante os itens da tarefa. As
crianças que frequentavam o 4º ano apresentaram um melhor desempenho, tanto no reconhecimento
da (a)gramaticalidade, como na correcção dos erros.
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
104
Comparando os resultados obtidos para as crianças do género masculino e feminino, não se
observaram diferenças significativas relativamente ao reconhecimento e correcção da
agramaticalidade.
Com estes resultados, verifica-se que, tanto para crianças que frequentam o 1º ano como para as do
4º ano de escolaridade, o reconhecimento e correcção da agramaticalidade é problemático. Esta
investigação permitiu verificar que as crianças do 1º ano de escolaridade têm um fraco domínio da
consciência sintáctica, o que, segundo estudos referidos no enquadramento teórico, poderá ter
impacto no grau de sucesso no desempenho de tarefas de leitura e de escrita, pelo que se considera
importante que as crianças sejam estimuladas precocemente ao nível de consciência sintáctica. As
crianças do 4º ano, embora com resultados superiores às do 1º ano, também apresentam muitas
dificuldades na execução da tarefa de consciência sintáctica testada neste estudo, o que revela falta
de estimulação a este nível.
Considera-se que a tarefa de reconstituição é adequada à avaliação de consciência sintáctica, no
sentido em que foram identificadas diferenças significativas entre os resultados do 1º ano e os do 4º
ano, o que permite verificar a evolução desta consciência linguística ao longo do 1º Ciclo do Ensino
Básico.
Retomando o que foi referido na introdução a esta tese, a inexistência de uma prova de avaliação de
consciência sintáctica aferida à população portuguesa tem impacto na prática clínica dos Terapeutas
da Fala, que precisam de instrumentos de avaliação linguisticamente controlados para um aumento
da qualidade do diagnóstico e da eficácia de intervenção.
No decurso desta investigação, identificaram-se algumas limitações, que se prendem com a
aplicação das quatro tarefas construídas:
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
105
(i) As instruções, os itens de treino e os de teste apresentados às crianças deveriam ter sido
previamente gravados para assegurar que todos os sujeitos seriam expostos às mesmas
condições de teste;
(ii) Não foi possível gravar a aplicação das tarefas a todas as crianças, devido a falhas no
sistema de gravação áudio utilizado.
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
106
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A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
111
APÊNDICES
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
112
Apêndice I – Ficha Socio-profissional
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
113
Ficha Socio-profissional
Criança
Nome:________________________________________________________
Data de Nascimento: ___________________ Idade: _______________
Escola: ______________________________ Ano/Turma: ______________
Agregado Familiar
_____________________________________________________________
Pai / Cuidador
Nome: _______________________________________ Idade: __________
Profissão: _________________________ Habilitações: _________________
Mãe / Cuidador
Nome: _______________________________________ Idade: __________
Profissão: _________________________ Habilitações: _________________
Fratria
Nome: _____________________ Idade: ________ Escolaridade: _________
Nome: _____________________ Idade: ________ Escolaridade: _________
Nome: _____________________ Idade: ________ Escolaridade: _________
Nome: _____________________ Idade: ________ Escolaridade: _________
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
114
Apêndice II - Caracterização do Meio Socio-profissional
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
115
n Classe
1. Grandes empresários, profissões liberais, quadros superiores
2. Profissões intermédias, quadros médios, grandes agricultores
3. Trabalhadores qualificados, comerciantes, artesão, pequenos agricultores, operários
qualificados
11
11
22 1
4. Trabalhadores semi-qualificados, empregados
5. Trabalhadores não qualificados
6. Desempregados, Domésticas, reformados
23
13
4
2
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
116
Apêndice III - Carta de pedido de autorização para elaboração
do estudo nos Agrupamentos de Escolas e no Colégio
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
117
Lisboa, ________ de ____________ de 2009
Exmo. Sr.(a) Presidente da Comissão Executiva
A signatária, aluna do mestrado de Terapia da Fala - área de Patologia da Linguagem da
Universidade Católica Portuguesa – Instituto de Ciências da Saúde em parceria com a Escola
Superior de Saúde do Alcoitão, encontra-se a realizar um trabalho final de investigação com vista a
construção de tarefas de avaliação de consciência linguística, cujo título é: A consciência sintáctica
em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição.
Neste sentido, solicita-se a V.Exa o consentimento para a realização de recolha de dados no âmbito
do referido projecto, com alunos do 1º e do 4º anos de escolaridade.
O estudo implica a avaliação de cada criança através de quatro tarefas de conversação, com
respectiva gravação áudio e realizada uma única vez na própria escola, devendo ocorrer no período
decorrente entre ___________ e __________. Os dados a obter destinam-se apenas a fins
académicos e científicos, sendo confidenciais.
Pretende-se concretizar este estudo na Escola Básica nº45 Luz / Carnide, que envolverá 25
alunos de cada ano (1º e 4º anos). Para tal previamente será necessário realizar um pré-teste com
5% da amostra.
Caso a realização do respectivo projecto seja aceite, solicito a disponibilização de uma lista
dos alunos que frequentam os 1º e 4º anos da referida escola, para realizar a selecção aleatória da
amostra.
Grata pela disponibilidade, aguardo a sua resposta,
___________________________________,
Magda Costa
Para qualquer esclarecimento:
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
118
Apêndice IV - Carta de pedido de autorização aos
Encarregados de Educação para participação dos seus educandos
no estudo
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
119
Lisboa, ____ de _____ de 2009
Exmº Encarregado de Educação,
A signatária, aluna do mestrado de Terapia da Fala - área de Patologia da Linguagem da
Universidade Católica Portuguesa – Instituto de Ciências da Saúde em parceria com a Escola
Superior de Saúde do Alcoitão, está a realizar um trabalho final de investigação com vista a
construção de tarefas de avaliação de consciência linguística, cujo título é: A consciência sintáctica
em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição.
Neste sentido já foi obtido consentimento da escola _____________________________.
O estudo implica a avaliação de cada criança através de quatro tarefas de conversação, com
respectiva gravação áudio e realizada uma única vez na própria escola, devendo ocorrer no período
decorrente entre ________ e _________. Os dados a obter destinam-se apenas a fins académicos e
científicos, sendo confidenciais.
Caso concorde, agradeço que preencha o destacável em baixo e o entregue ao professor
titular da turma.
Grata pela disponibilidade,
___________________________________,
Magda Costa
Para qualquer esclarecimento:
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
Eu, ___________________________________________________, Encarregado de Educação do
aluno _____________________________________________, declaro que autorizo o meu
educando a participar no estudo que visa a construção de tarefas de avaliação de consciência
sintáctica, em curso na escola que frequenta.
____ / ____ / ____ ______________________________
(Assinatura)
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
120
Apêndice V - Conjunto de tarefas construídas e aplicadas
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
121
I - TAREFA DE RECONSTITUIÇÃO:
Instrução: Eu vou dizer-te umas frases. Algumas estão correctas e outras erradas. Primeiro, quero que me
digas se a frase está certa ou errada; se estiver errada, tens de a corrigir e dizê-la de forma correcta, sem
tirares nem pores mais palavras. Por exemplo, a frase O menino comprou um rebuçado, está correcta. Mas a
frase As menina andou de carro, está errada, porque, para estar correcta, temos de dizer A menina andou de
carro. Vou dar-te outro exemplo, a frase Eu caderno escrevo no, está incorrecta porque as palavras estão na
ordem errada. O correcto é Eu escrevo no caderno. Entendeste?
Itens de treino (o terapeuta diz a frase, após a resposta da criança, deve ajudá-la produzindo a frase
gramatical):
(1) A menina gosta das boneca (após a resposta da criança, dizer: a frase está errada porque o correcto é dizer
A menina gosta da boneca)
(2) O cão é preto (após a resposta da criança, dizer: a frase está certa!)
(3) O só pai tem um telemóvel (após a resposta da criança, dizer: a frase está errada porque a frase certa é O
pai só tem um telemóvel).
Itens de teste (o terapeuta regista a resposta da criança):
Frase Reconhecimento Correcção
1-O irmão do Pedro joga futebol.
2-Os pai comeu uma maçã.
3-A até mãe comprou um gelado.
4-O pai comprou grande um carro.
5-A menina pegou nos livro.
6-Ela guardou os brinquedos.
7-A caneta é bonita do pai.
8-O menino comeu o ontem bolo.
9-A canetas ficou estragada.
10-Ontem eu comi massa.
11-Casa é azul esta.
12-O menino escreveu um textos.
13-A casa hoje da tia está a ser pintada.
14-Estas flores são brancas.
15-Este é o livro das menina.
16-O menino só apanhou uma flor pequenina.
17-O carro do tios foi caro.
Total /17 /12
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
122
II – TAREFA DE SUPRESSÃO
Instrução - Eu vou dizer-te umas frases. Quero que tu me digas o que é que podes tirar da frase de forma a
ficar uma frase boa, que se perceba. Por exemplo, para a frase Na cozinha, a Maria varre o chão, podemos
dizer só A Maria varre o chão, porque a frase fica bem na mesma se retirarmos na cozinha. Vou dar-te outro
exemplo: No cinema o João viu um filme de aventuras. Nesta frase podemos tirar duas coisas no cinema e de
aventuras porque a frase O João viu um filme, já é boa. Percebeste?
Itens de treino (o terapeuta diz a frase, dá a instrução e volta a repetir a frase, pedindo para retirar o que for
necessário de forma a que se obtenha uma frase gramatical):
I - Estrutura SV
Na cozinha a Maria varre o chão. No campo a avó apanha flores.
A Maria na cozinha varre o chão. A avó no campo apanha flores.
A Maria varre o chão na cozinha. A avó apanha flores, no campo.
II - Estrutura N
A loja da mãe é grande.
A menina brinca em casa da mãe.
III - Estrutura SN + V
No cinema o João viu um filme de aventuras.
No parque a Maria comprou um gelado de morango.
Itens de teste (Novamente o terapeuta diz a frase, dá a instrução e volta a repetir a frase registando a resposta
da criança):
Frases Resposta Cotação 1 – 0
1.
Na sala o João arruma os livros.
O João na sala arruma os livros.
O João arruma os livros na casa.
2.
Os sapatos do pai são grandes.
A mãe limpa os sapatos do pai.
3.
Em casa a Joana limpa o quarto.
A Joana em casa limpa o quarto.
A Joana limpa o quarto em casa.
4.
No Algarve a Sandra vai à piscina da tia.
A Sandra vai à piscina da tia no Algarve.
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
123
5.
No parque a Sara perdeu a boneca.
A Sara no parque perdeu a boneca.
A Sara perdeu a boneca no parque.
6.
Na rua a Carolina apanhou uma flor do jardim.
A Carolina apanhou uma flor do jardim na rua.
7.
A casa da Sara tem um jardim.
O menino foi a casa da Sara.
8.
Na escola a Francisca foi à sala da irmã.
A Francisca foi à sala da irmã na escola.
9.
O carro do Manuel é amarelo.
A ursa está no carro do Manuel.
Total /21
III – TAREFA DE IDENTIFICAÇÃO
Instrução: Eu vou dizer-te três frases. Há uma que não pertence ao grupo. Quero que me digas qual é a frase
que não pertence ao grupo, a que achas que é diferente. Por exemplo: nas frases (a) O João é bonito; (b) O
João é alto e (c) O João é meu, a frase (c) não pertence ao grupo.
Itens de treino (o terapeuta produz as três frases, dá a instrução e diz se a resposta está ou não correcta):
Adjectivos:
a) A bola é amarela. a) As calças de fazenda são minhas.
b) A bola é minha. b) As calças muito rasgadas são minhas.
c) A bola é grande. c) As calças bem pasSADVas são minhas.
Nomes:
a) Os rapazes correram. a) Esta menina brinca no recreio.
b) Estas meninas chegaram. b) Vi um jogo na televisão.
c) Comemos muitos bolos. c) O pai lê o jornal.
Verbos:
a) A mãe comprou um jogo. a) O avô assistiu ao filme.
b) O bebé da Rita nasceu. b) A mãe escreveu uma carta.
c) Esta menina das tranças caiu. c) A Rita obedeceu à mãe.
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
124
Itens de teste (a terapeuta regista a resposta da criança):
Adjectivos:
1. a) A mala é azul.
b) A mala é minha.
c) A mala é grande.
2. a) A casa está aqui.
b) A casa está pintada.
c) A casa está bonita.
3. a) A bola de futebol é branca.
b) A bola de futebol é pequena.
c) A bola de futebol é minha.
4. a) A casa bem pintada está aqui.
b) A casa de pedra está aqui.
c) A casa muito grande está aqui.
5. a) A camisola de lã é minha.
b) A camisola bem lavada é minha.
c) A camisola muito grande é minha.
6. a) O livro muito grande caiu.
b) O livro menos sujo caiu.
c) O livro da menina caiu.
Nomes:
7. a) Fizemos muitos gelados.
b) As meninas brincaram.
c) Estes atletas correram.
8. a) Os rapazes brincam na rua
b) Lemos o jornal na rua.
c) Aquelas senhoras caíram na rua.
9. a) O João adormeceu na cama.
b) Vi um filme na televisão.
c) Esta menina brinca na rua.
10. a) A tia mais alta espirrou.
b) O amigo do João saiu.
c) A mãe da Rita chegou.
11. a) Aquela menina loira é bonita.
b) Os meninos altos são giros.
c) Somos todos muito morenos.
12. a) O avô do João joga xadrez.
b) As irmãs da mãe cozinham bem.
c) Brinquei com os meus primos.
13. a) Fizemos um trabalho grande.
b) Fantasmas metem muito medo
c) Elefantes são animais selvagens.
14. a) Limões são frutos amarelos.
b) Coelhos comem muitas cenouras.
c) Brincamos sempre no intervalo.
15. a) Bolos são guloseimas boas.
b) Encontrámos uma boneca grande.
c) Elefantes são animais grandes.
Verbos:
Verbos intransitivos
16. a) O pai comprou um carro.
b) A minha sobrinha já nasceu.
c) O jogador de futebol caiu.
17. a) Os colegas da escola sorriram
b) A avó da Rita espirrou.
c) O pai lê o jornal.
18. a) Ela comprou um livro.
b) O bebé dorme bem.
c) Aquela criança chora muito.
Verbos transitivos directos
19. a) A mãe embala o bebé.
b) O Pedro foi a Paris.
c) Este menino escreveu um livro.
20. a) A tia fez um sumo.
b) O pai ouviu a música.
c) O atleta mais alto caiu.
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
125
21. a) Os músicos ganharam o concurso.
b) Estes alunos estudaram muito bem.
c) As irmãs compraram um bolo.
O Quadro seguinte é a folha de registo desta tarefa:
Estimulo Resultado
Pontuação a) b) c)
Adjectivos
1.
2.
3.
4.
5.
6.
Nomes
7.
8.
9.
10.
11.
12.
13.
14.
15.
Verbos
- Verbos intransitivos
16.
17.
18.
- Verbos transitivos directos
19.
20.
21.
Total /21
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição
126
IV – TAREFA DE SUBSTITUIÇÃO
Instrução: Eu vou dizer-te umas frases e quero que digas outra frase igual em tudo menos na palavra que eu
disser. Por exemplo Esta saia (pasta, boneca) da Ana é verde. Diz outra frase igual em tudo menos na
palavra X. Só podes mudar mesmo esta palavra. Assim, poderíamos dizer Esta pasta da Ana é verde. Vou
dar-te mais alguns exemplos:
Itens de treino (o terapeuta diz a frase, dá a instrução e volta a repetir a frase dando a hipótese de
substituição):
a) Aquele carro (gelado, caderno) é meu.
b) Esse menino tem um jogo (lápis, computador)
c) O João espirrou (cantou, saltou).
d) A menina fez (bebeu, entornou) um sumo.
e) O sapato está roto (velho, estragado).
f) O Miguel tem uma bola furada (redonda, pequena).
Itens de treino pela negativa (itens representativos daquilo que a criança não deve fazer):
a) Aquele carro é meu – Aquele jogo é do João.
b) A menina fez um sumo – A menina comprou um bolo.
c) O sapato está roto – O casaco está roto.
Itens de teste (Novamente o terapeuta diz a frase, dá a instrução e volta a repetir a frase registando a resposta
da criança):
Frase Substituição
1- Este menino jogou à bola no recreio.
2- O bebé chora quando acorda.
3- O menino está zangado.
4- As crianças dormem à noite.
5- Aquela boneca da Maria é cor-de-rosa.
6- Os cães são muito espertos.
7- O meu pai dança.
8- Aquela linda casa é grande.
9- O João comprou um boneco.
10- Aquela ponte é muito perigosa.
11- O Pedro tem um carro.
12- O Noddy tem um barrete engraçado.
13- Eu vi um grande livro.
14- Eu tenho um gato peludo.
15- A Mariana lê o livro.