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1 01. História e Historiografia da Educação A CONGREGAÇÃO DAS IRMÃS ESCOLARES DE NOSSA SENHORA DA ALEMANHA AOS ESTADOS UNIDOS SÉCULOS XVIII E XIX: PRIMEIROS APONTAMENTOS SOBRE O ENSINO PRIMÁRIO Autor: Moacir da Costa Belliato 1 Autor: André Paulo Castanha 2 Resumo: O presente texto objetiva reconstituir historicamente a caminhada da Congregação das Irmãs Escolares que surgiu a partir do desejo de Carolina Gerhardinger e orientado por sacerdotes que foram durante sua trajetória acadêmica seus conselheiros espirituais. Estes sacerdotes influenciaram diretamente Carolina na criação desta instituição educacional, que a partir do século XIX, transformou pelo itinerário educacional rigoroso e disciplinado a vida de milhares de meninas europeias e americanas. Enquanto os poderes públicos estatais machistas não cumpriam com suas obrigações frente aos direitos basilares de uma educação de qualidade, as religiosas da Congregação das Irmãs Escolares demonstraram que outro mundo era possível. Isto aconteceria apenas quando houvesse vontade política e o ser humano passasse a ser visto como gente e não meramente como peças de uma enorme engrenagem movida pelo sistema capitalista opressor e explorador. Para tanto, utilizamos fontes bibliográficas que caracterizam essa trajetória de acontecimentos antes e depois da fundação da Congregação e o ensino na Alemanha, Europa e Estados Unidos. Alguns autores são próprios da Congregação como Nelson, Oesthel, Dix e Arns. As bibliografias foram articuladas de tal forma que facilitasse a compreensão dos acontecimentos que permearam a época histórica. A articulação das bibliografias nos permitiu a aproximação com questões políticas, sociais e religiosas específicas da época. O contexto do qual Carolina fez parte foi palco de grandes conflitos. Estes eram impulsionados por grandes 1 Bacharel em Sagrada Teologia pelo STUDIUM THEOLOGICUM JEROSALOMITANUM em Jerusalém ISRAEL afiliado ao PONTIFÍCIUM ATHENEUM ANTONIANUM de Roma ITÁLIA. Graduado em Teologia pela Faculdade Kurios, Maranguape Rio de Janeiro. Graduado em Filosofia pela Faculdade Phênix de Ciências Humanas e Sociais do Brasil. Mestrando em Educação pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná Campus Francisco Beltrão UNIOESTE. Email: [email protected] 2 Professor do Colegiado de Pedagogia e do Mestrado em Educação da Unioeste Campus de Francisco Beltrão PR. Membro do Grupo de Pesquisa: História, Sociedade e Educação no Brasil HISTEDOPR GT local do HISTEDBR. Historiador e mestre em Educação pela UFMT, Doutor em Educação pela UFSCar e Pós-doutor na área de Filosofia e História da Educação pela UNICAMP. E- mail: [email protected]

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01. História e Historiografia da Educação

A CONGREGAÇÃO DAS IRMÃS ESCOLARES DE NOSSA

SENHORA DA ALEMANHA AOS ESTADOS UNIDOS SÉCULOS

XVIII E XIX: PRIMEIROS APONTAMENTOS SOBRE O ENSINO

PRIMÁRIO

Autor: Moacir da Costa Belliato1

Autor: André Paulo Castanha2

Resumo: O presente texto objetiva reconstituir historicamente a caminhada da

Congregação das Irmãs Escolares que surgiu a partir do desejo de Carolina Gerhardinger

e orientado por sacerdotes que foram durante sua trajetória acadêmica seus conselheiros

espirituais. Estes sacerdotes influenciaram diretamente Carolina na criação desta

instituição educacional, que a partir do século XIX, transformou pelo itinerário

educacional rigoroso e disciplinado a vida de milhares de meninas europeias e

americanas. Enquanto os poderes públicos estatais machistas não cumpriam com suas

obrigações frente aos direitos basilares de uma educação de qualidade, as religiosas da

Congregação das Irmãs Escolares demonstraram que outro mundo era possível. Isto

aconteceria apenas quando houvesse vontade política e o ser humano passasse a ser visto

como gente e não meramente como peças de uma enorme engrenagem movida pelo

sistema capitalista opressor e explorador. Para tanto, utilizamos fontes bibliográficas que

caracterizam essa trajetória de acontecimentos antes e depois da fundação da

Congregação e o ensino na Alemanha, Europa e Estados Unidos. Alguns autores são

próprios da Congregação como Nelson, Oesthel, Dix e Arns. As bibliografias foram

articuladas de tal forma que facilitasse a compreensão dos acontecimentos que

permearam a época histórica. A articulação das bibliografias nos permitiu a aproximação

com questões políticas, sociais e religiosas específicas da época. O contexto do qual

Carolina fez parte foi palco de grandes conflitos. Estes eram impulsionados por grandes

1 Bacharel em Sagrada Teologia pelo STUDIUM THEOLOGICUM JEROSALOMITANUM em Jerusalém

– ISRAEL afiliado ao PONTIFÍCIUM ATHENEUM ANTONIANUM de Roma – ITÁLIA. Graduado em

Teologia pela Faculdade Kurios, Maranguape – Rio de Janeiro. Graduado em Filosofia pela Faculdade

Phênix de Ciências Humanas e Sociais do Brasil. Mestrando em Educação pela Universidade Estadual do

Oeste do Paraná – Campus Francisco Beltrão – UNIOESTE. Email: [email protected] 2 Professor do Colegiado de Pedagogia e do Mestrado em Educação da Unioeste – Campus de Francisco

Beltrão – PR. Membro do Grupo de Pesquisa: História, Sociedade e Educação no Brasil – HISTEDOPR –

GT local do HISTEDBR. Historiador e mestre em Educação pela UFMT, Doutor em Educação pela

UFSCar e Pós-doutor na área de Filosofia e História da Educação pela UNICAMP. E-

mail: [email protected]

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interesses políticos e sociais movidos por forças antagônicas que combatiam

veementemente os interesses do Sacro Império Romano na Alemanha tendo como

religião oficial o catolicismo. Constatamos que o período em que viveu Carolina foi

antecedido por cinco épocas distintas que necessariamente precisaram ser levadas em

consideração para compreendermos que esta história nada mais foi que resultado de uma

sequência ou consequência de vários acontecimentos dentro das exigências de seu tempo.

Entenderemos que muitas vezes são nos momentos de tensões e conflitos que surgiram

projetos educacionais ousados capazes de responderem às necessidades de seu tempo.

Veremos que o contexto em que viveu Carolina foi o de grande instabilidade e guerras

constantes. Com a Revolução Industrial, apesar de muitos benefícios que esta

proporcionou, a população europeia precisou também arcar com as consequências

desastrosas das contradições e impactos prejudiciais na vida de muitos a começar pela

divisão de classes. Desta forma, ficou evidente a abundância para a burguesia e a miséria

para a grande maioria da população de modo geral. O surgimento da Congregação das

Irmãs Escolares de Nossa Senhora naquele contexto de barbárie social se tornou um ato

profético silencioso em meio a tanta miséria humana e intelectual. Veremos nitidamente

que através da disseminação e da manutenção de projetos educacionais ousados a

exemplo da Congregação das Irmãs na Alemanha, a realidade social das pessoas pode

mudar para melhor. Isto se evidenciará para além das fronteiras da Alemanha se

espalhando pela Europa e Estados Unidos a partir da chegada das Irmãs no ano de 1847.

Assim, concluímos dizendo que o projeto educacional das Irmãs Escolares de Nossa

Senhora funcionou na Alemanha e da mesma forma em várias cidades nos Estados

Unidos. Os resultados positivos se deram, devido à grande força de vontade e

determinação de Madre Teresa bem como de suas colaboradoras que movidas por uma

inspiração divina, se dedicaram totalmente pela causa da educação de qualidade tendo em

vista a dignidade e a promoção humana das meninas europeias e americanas.

Palavras-chave: Congregação das Irmãs Escolares de Nossa Senhora; Educação de

Meninas na Alemanha; Estados Unidos.

Introdução

“O educador tem que continuar, durante toda a vida, seu

aperfeiçoamento para corresponder na medida do possível, às altas

exigências do seu tempo” (Madre Teresa).

O presente estudo tem origem a partir de análises de fontes bibliográficas. Estes

materiais evidenciam o nascimento de Carolina Gerhardinger, (1797) a protagonista deste

evento histórico bem como a organização e constituição da Congregação das Irmãs

Escolares de Nossa Senhora, na Alemanha (1833) até sua instalação nos Estados Unidos

a partir de (1847).

Para articular o objeto proposto à análise, utilizamos autores que identificam e

reconstituem a história da Congregação, como: Nelson (1979) que coordenou um grupo

de estudos interprovincial em Baltimore, Maryland (Estados Unidos) com o intuito de

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atender às exigências do Concílio Vaticano II a partir do Decreto sobre a Renovação da

Vida Religiosa na Igreja (Perfectae Caritatis) que solicitou que as religiosas analisassem

a inspiração original dos seus fundadores afim de que pudessem viver os valores do

carisma original contextualizados no mundo contemporâneo. Cruz (1992), que descreveu

a história da jovem Carolina a partir de acontecimentos marcantes que fizeram parte da

vida da jovem, Arns (2012) que na comemoração dos 180 anos da existência da

Congregação, abrilhantou as festividades e reescreveu a história da fundadora e da

Congregação das Irmãs Escolares com ilustrações que facilitaram o entendimento desta

história na Alemanha e Estados Unidos, Dix (2012) que com simplicidade partilhou a

história do carisma de Madre Teresa de Jesus Gerhardinger demonstrando sua

determinação, esperas, riscos e contradições, desilusões e sofrimentos durante o período

de uma vida tocada tanto pela alegria que encontrava em seu Deus quanto pelas

realizações espirituais e educacionais, em dois continentes. Pierre Huffner (1989) que,

desenvolveu a história de Madre Teresa Gerhardinger em quadrinhos e a Madre Charlotte

Oesthel, Superiora Provincial, de Munique – Alemanha (2012) que relatou a brilhante

caminhada pedagógica da fundadora da Congregação.

Com o objetivo de analisar historicamente a constituição, manutenção e

disseminação da Congregação das Irmãs Escolares de Nossa Senhora e seu projeto

educacional, nos propomos a fazer um breve resgate histórico, desde épocas que a

antecedeu até a criação da Congregação e posteriormente sua instalação nos Estados

Unidos. Assim organizamos o estudo em pontos fundamentais para este entendimento.

Iniciamos com uma breve síntese do contexto em que antecedeu e viveu Carolina (1797)

bem como a história de forma geral da fundação da Congregação das Irmãs Escolares de

Nossa Senhora na Alemanha (1833) e as orientações de ensino. Em seguida tratamos da

ida aos Estados Unidos a partir de 1847 a pedido dos bispos americanos e o

desenvolvimento de um programa de estudos aos americanos.

As épocas que antecederam Carolina Gerhardinger e o contexto em que viveu

A vida religiosa na história da Igreja atravessou séculos com suas épocas e

características bem distintas entre si. No entanto, focaremos no século XVIII e o XIX em

diante por ser considerado a época do surgimento das Congregações Religiosas de ensino.

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Segundo Nelson3 (1979) este período histórico se dividiu em 05 épocas

específicas e são elas:

1. Época dos Padres do Deserto (200 – 500);

2. Época das Ordens Monásticas (500 – 1200);

3. Época das Ordens Mendicantes (1200 – 1500);

4. Época das Ordens Apocalípticas (1500 – 1800);

5. Época das Congregações de Ensino (1800 até o presente).

No contexto em que Carolina4 nasceu e viveu, presenciou os momentos de grandes

tensões em sua pátria dentro da triste realidade das disputas políticas e religiosas causada

por um modelo de governo embasado na ideologia iluminista. Este modelo

governamental sustentava a ideia de que o uso da razão deveria prevalecer sobre tudo e

todos ceifando da vida das pessoas a possibilidade de viver uma crença religiosa. Aliás,

esta crença era entendida pelas novas autoridades como algo supersticioso e um poderoso

instrumento de alienação.

Conforme Nelson:

O país no qual Carolina nasceu não era a Alemanha que nos é familiar

hoje. Em 1648, o tratado da Westfália tinha terminado a “Guerra dos

Trinta Anos”, muitas vezes citada como guerra religiosa. Esse conflito

viu monarquias católicas aliadas com monarquias protestantes, contra

outras nações católicas para criar “equilíbrio de poder”, um conceito

que dominaria mais tarde o movimento político do século XIX na

Europa. Em 1806 o santo Império Romano foi dissolvido e substituído

por uma criação Napoleônica, a “Confederação do Reno”. Excluindo a

Prússia e a Áustria da sua reorganização dos territórios alemães;

Napoleão procurou enfraquecer estes poderes maiores. Por outro lado,

através da secularização de muitas terras da igreja, algumas das quais

eram adquiridas pela Baviera,ele fortificou, tornando-a um estado mais

proeminente. Foi nesta época crítica que um bom número de ordens

religiosas de ensino, na Baviera, foram secularizadas, entre elas, como

vimos a Congregação de Notre Dame, fundada na Lorraine (Lorena),

no fim do século XVI, por São Pedro Fourier (1979, p.18).

3 Trata-se de um grupo interprovincial de pesquisa sobre a herança. Este encontro foi organizado pelas

Irmãs Escolares de Nossa Senhora e coordenado pela Irmã Sally Ann Nelson, IENS reunidos em Baltimore,

Maryland em 31 de julho de 1979. 4 Carolina Gerhardinger, foi o nome de batismo que recebeu ainda quando criança. Depois que Carolina

professou os votos na Congregação Religiosa, seu nome passou a ser Maria Teresa de Jesus Gerhardinger.

Em seguida, se tornou a superiora da Congregação e então passou a ser chamada Madre Maria Teresa de

Jesus Gerhardinger.

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Naquele período, quem estava comandando a região da Baviera eram as forças

antagônicas à doutrina da Igreja Católica conhecida como movimento iluminista que teve

sua origem na França. Este grupo era contrário aos ideais da Igreja de Roma. Napoleão

Bonaparte que se destacou como líder deste movimento, se contrapôs ao poder político

vigente bem como ao modelo de Igreja da época. Segundo este movimento racional, a

Igreja Católica propagava práticas supersticiosas alienando as pessoas da realidade em

que se encontravam. Então Napoleão com seu exército poderoso, segundo Arns (2012),

praticamente dizimou a Baviera deixando-a em um estado de extrema pobreza moral,

social e econômica. Movido pelo interesse de divulgar e implantar as ideias do

iluminismo francês, os militares combatiam de forma avassaladora a religião cristã

católica e protestante que eram compreendidas pelo movimento iluminista como

supersticiosas.

De forma imperativa, rápida e sem explicações, todas as instituições escolares

religiosas foram proibidas de ensinar sendo monitoradas constantemente pelas

autoridades governamentais iluministas. Diante disso, iniciou-se um processo

educacional estatal. Desta forma, foram ganhando espaço e força as escolas estatais do

governo dentro de uma visão educacional iluminista que na sua essência era laica. Assim,

predominava uma visão mais racional da realidade e de seus acontecimentos. Este era o

contexto em que estava inserida a jovem Carolina Gerhardinger. Assim, este período

precisa ser muito bem entendido para não se fazer pré-julgamentos precipitados

desconsiderando o momento em que Carolina viveu.

Conforme Huffner:

Durante a juventude de Carolina, o Classicismo alemão buscava

inspiração no ideal da “nobre simplicidade e silenciosa grandeza”.

Goethe escreveu seu “Fausto”; Shiller, o “Wallenstein”; Haydn compôs

seus “Oratórios”; e Bethoven, as primeiras sinfonias. A “literatura

romântica exaltava as grandes paixões e celebrava o indivíduo. O

período mais sóbrio encontrava sua expressão no realismo, em meados

do século. Na arte alternavam as formas serenas e puras da arquitetura

clássica com os quadros emotivos dos pintores românticos que se

inspiravam em motivos de contos e sonhos saudosos da Idade Média.

Quando a vida de Carolina chegava a seu fim, os impressionistas

franceses começavam um estilo de pintura totalmente novo, baseado na

luz e na cor. Dostojewiski , e Dickens escreveram seus romances sobre

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a miséria humana; Brahms e Bruckner, Wagner, Verdi e Tschaikowski

deram a música novos impulsos. A era industrial havia começado.

Numa única geração, a vida diária sofreu maiores mudanças do que

durante os séculos precedentes. Carolina Gerhardinger assistiu as

invenções importantes, tais como a instalação do primeiro trem de ferro,

a aparição dos barcos a vapor, o desenvolvimento do telefone. Todas as

conquistas ela pode usar para a expansão de sua obra. A nova era trouxe

também muita miséria e opressão. A “Revolução Industrial “ do século

XIX, provocou o crescimento das cidades, originou a emigração dos

campos; poucas fábricas grandes absorveram as forças ativas de toda a

região e condenaram as empresas pequenas à falência. No final surgiu

a sociedade classista, com um pequeno número de milionários de um

lado, e uma esmagadora massa de proletários sem direito, de outro;

grandes invenções diminuíram a fome e a mortalidade infantil, porém

para a maioria, a justiça estava fora do alcance. A Igreja nem sempre

encontrou a força de anunciar a Boa Nova. Embora Adolf Kolping

(1813-1865) recomendasse a seus religiosos que o “sacerdote deve

inclinar-se até a terra para levantar aqueles que estendem a mão,

pedindo auxílio”; embora o bispo “social” Wilhelm Emanuel von

Ketteler (1811-1877) lembrasse aos estados sua obrigação de

solucionar a questão social, contudo, em sentido amplo, havia na Igreja

uma funesta indiferença frente aos problemas dos trabalhadores. O

manifesto comunista conclamava, em tons apaixonados, para a

revolução. “Busco cidadãos para o reino da liberdade”, foi o lema

da primeira revista feminina com temas sociológicos pedagógicos

dirigida por Louise Otto-Petters (1819-1895). Ela conclamou a mulher

a se tornar independente, a desenvolver-se sua personalidade, a

interessar-se pelos direitos civis e pela situação dos pobres. Mostrou a

miséria das operárias, a falta de educação das meninas e a dependência

indigna das mulheres casadas. Ao mesmo tempo que Louise Otto-

Petters dava motivo para falar de si como publicitária socialista. Teresa

Gerhardinger, urgida por responsabilidade cristã, construía sua obra de

ensino e educação da mulher (1979, p.18).

Este texto demonstra uma sociedade alemã que almejava algo novo. Assim sendo,

o teatro, a música e aqui destaco Richar Wagner5 entre outros deram um novo impulso à

música. A arte e a literatura se tornaram canais com possibilidades para esta descoberta

uma vez que a religião católica, que na época tinha como autoridade máxima o Papa Pio

IX6 que exerceu o seu pontificado durante 32 anos de (1846-1878) sendo substituído pelo

Papa Leão XIII, que permaneceu no pontificado por mais 28 anos isto é, de (1878-1903).

5 Richar Wagner nasceu em Leipzig em 22 de maio de 1813 na Alemanha e foi maestro, compositor e

diretor de teatro. Morreu em Veneza no dia 13 de fevereiro de 1883. 6 Pio IX, cujo nome de batismo era Giovanni Maria Mastai - Ferreti nasceu em 13 de maio de 1792 em

Senigallia – Itália, estudou em Roma. Queria ser militar, mas não conseguiu por ser epilético. Foi ordenado

em 1819 e trabalhou no Chile. Em 1825 foi nomeado arcebispo de Spoleto. Em 1840 já era cardeal e em

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A Igreja já havia chegado ao máximo em um estágio de estagnação sendo pouco

compromissada com os problemas sociais de sua época. A Igreja do século XIX foi

indiferente e incapaz de responder às necessidades e aos apelos do seu tempo estando em

uma grande decadência, envolvida apenas aos aspectos do culto litúrgico cristão, aos bens

materiais esquecendo-se de desempenhar um papel importante e determinante do ponto

de vista social, humanista e solidário tendo frente as dificuldades enfrentadas pela maioria

de seus fiéis mais pobres.

Não foi por acaso que a literatura romântica do século XIX, exaltava as grandes

paixões e destacava a pessoa do indivíduo. Esta trazia a tona novamente o saudosismo da

Idade Média. Os anos se passaram e Carolina ainda assistiu o movimento impressionista

onde os artistas franceses deram por assim dizer a sua contribuição fazendo a crítica

também àquele período. Renomados escritores da literatura europeia como Dostojewiski

e Dikens que percebendo os problemas sociais de sua época escreveram romances sobre

a miséria humana de sua época apontando para alternativas mais humanas para os

indivíduos.

A era industrial chegou e Carolina Gerhardinger pode assistir enormes mudanças

e transformações que levariam séculos para ocorrer e aconteceram em uma única geração,

como enfatizou Huffner Carolina conheceu e soube tirar proveito de importantes

descobertas fruto de sua época como a instalação do trem de ferro, o surgimento dos

barcos a vapor, bem como o desenvolvimento do telefone. Estas importantes descobertas,

Carolina usou como mediação para a ampliação de sua obra. Não obstante as importantes

descobertas que facilitou a vida de muita gente, ao mesmo tempo também, a era industrial

trouxe em sua “bagagem” mecanismos que gerou muita miséria humana e opressão aos

mais pobres e desfavorecidos.

1846 foi eleito Papa e assumiu o nome de Pio IX para homenagear seu antigo benfeitor Pio VIII. Durante

seu pontificado criticou duramente o falso liberalismo, condenou o panteísmo, o naturalismo, o socialismo,

o comunismo bem como a maçonaria, o judaísmo e outras organizações tidas como contrárias à doutrina

católica. O Papa Pio IX insistia que a única teologia e filosofia que deveria ser seguida era a de São Tomás

de Aquino. O Papa Pio IX desempenhou uma função muito importante na história da Congregação das

Irmãs Escolares. O Papa autorizou e reconheceu eclesiasticamente a forma de vida simples que elas queriam

tanto viver de forma definitiva em 26 de Agosto de 1865.

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Da mesma forma que a “Revolução Industrial” trouxe “progresso” provocando

crescimento das cidades esta também foi responsável pelas enormes “fraturas” sociais

que a emigração dos campos causaram. Surgiram as enormes fábricas que absorveram as

mãos de obra de toda a região ocasionando a falência de pequenas empresas. A

consequência disso tudo foi o surgimento de uma sociedade dividida em duas classes. Ou

seja, um pequeno grupo de milionários de um lado e do outro, uma enorme massa de

proletários sem seus direitos fundamentais legitimados.

Com isso, não se pode negar que grandes invenções até diminuíram a fome e a

mortalidade infantil, todavia, para a grande maioria da população empobrecida e

explorada, a justiça era algo inatingível. Infelizmente a Igreja naquele contexto se

comportou de forma indiferente. Ela não usou dos mecanismos que disponibilizava na

época para denunciar as injustiças e promover a dignidade das pessoas. Era muito raro

uma autoridade eclesiástica se manifestar para debater e questionar os problemas sociais

até porque a Igreja era proprietária de grandes áreas de terra

O sacerdote alemão Adolf Kolping (1813-1865) desempenhou em sua época um

trabalho brilhante de caráter humanitário. Kolping conversava abertamente com os

sacerdotes que deviam inclinar-se até a terra para levantar aqueles que estendiam a mão

pedindo auxílio. Dentre tantas, uma ou outra autoridade eclesiástica entre padres e bispos

que tiveram a coragem, grandeza e a sensibilidade em demonstrar que o Estado, bem

como a Igreja devia cumprir a sua função social humanista oferecendo uma resposta

equilibrada para resolver os problemas dos trabalhadores oprimido e explorados pela

revolução do século XIX que enriqueceu uma minoria e empobreceu e explorou a grande

maioria sem nenhum escrúpulo.

Somente com o Papa Leão XIII (1878 1903) é que a Igreja de Roma resolveu

tomar uma decisão publicando a primeira encíclica com um conteúdo tipicamente social.

A encíclica Rerum Novarum surgiu como uma resposta aos problemas sociais de seu

tempo. Nesta Encíclica ficou clara a posição da Igreja diante dos desafios sociais no

continente europeu.

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Carolina Gerhardinger estava inserida em um contexto de muita miséria e pobreza

no sentido mais amplo da palavra como consequência direta da “Revolução Industrial”

do século XIX. Justamente neste contexto o manifesto comunista de Karl Marx (1818-

1831) e Friedrich Engels (1820-1895) foi articulado como uma resposta às forças

capitalistas que massacravam, exploravam os trabalhadores com salários miseráveis

empobrecendo a população humilde da Alemanha. Este importantíssimo tratado político

se apresentou como uma “Nova Revolução” não mais a nível industrial e sim uma “Nova

Revolução Social” onde as classes trabalhadoras seriam vistas com mais humanidade e

mais igualdade social para todos. O que fez Marx e Engels no nosso entendimento é o

que poderia ter sido feito pela Igreja com o seu enorme “exército de cabeças pensantes”.

Ora, a Igreja sempre se destacou no decorrer dos séculos com importantes filósofos,

teólogos. Neste sentido, a igreja sem tolher o aspecto religioso amadurecido

ultrapassando as barreiras das meras práticas devocionais poderia ter feito muito mais.

Uma pergunta que podemos nos fazer: Por que a Igreja se comportava de forma

indiferente diante da realidade gritante em que a maioria da população era empobrecida?

A Igreja para dar uma resposta eficaz necessariamente, precisaria ser coerente com a sua

teoria e se desfazer de suas enormes riquezas que não eram poucas principalmente no que

referia às grandes áreas de terras.

Foi também neste contexto de grandes descobertas e acontecimentos em que viveu

Carolina Gerhardinger que se destacou a figura de Louise Otto-Petter. Louise foi dirigente

da primeira revista feminina com temas sociológicos e pedagógicos. Louise convocou as

mulheres de sua época a serem independentes. Para Louise, as mulheres deveriam

desenvolver sua personalidade e ao mesmo tempo, lutar pelos seus direitos civis.

Na revista em que ela foi diretora, conseguiu demonstrar a miséria em que vivia

as operárias, a falta de educação das meninas e a dependência indigna das mulheres

casadas. Diante desses acontecimentos e da acalorada luta pelos direitos femininos

promovidos por esta publicitária socialista, tanto ela que defendia os direitos humanos

das mulheres, quanto Carolina Gerhardinger intuíram a urgente necessidade de

desenvolver projetos pedagógicos de educação integral cristão católico em nome da igreja

a qual elas pertenciam na região da Baviera – Alemanha.

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Estes projetos deveriam ser capazes de corresponder às necessidades

primeiramente femininas, não apenas no âmbito espiritual, mas também humanista e

profissional. Uma vez que naquele contexto europeu, as mulheres de modo geral, não

tinham oportunidades de obterem uma educação e uma formação de qualidade a não ser

àquelas que tinham ótimas condições financeiras, que era uma pequena minoria da classe

burguesa além de viverem em um ambiente machista.

O projeto de Madre Teresa, tornou em nosso entendimento, muito mais do que

um projeto pedagógico integral humanístico. Se transformou num ato profético que

contribuiu para um salto de qualidade na vida de milhares de mulheres esquecidas pelos

programas educacionais de sua época. Estamos falando de uma Igreja do século XIX, que

era machista na sua essência, onde as crianças do sexo feminino normalmente eram

excluídas dos programas educacionais de ensino.

O fechamento de inúmeras escolas e a secularização dos Institutos Religiosos

O movimento iluminista que governava a Baviera, isto é, o sul da Alemanha,

entendia que a educação cristã era um péssimo serviço prestado à população uma vez que

esta era carregada de ideias supersticiosas. Isto precisava mudar o quanto antes. Assim, a

primeira medida que tomada de forma radical, consistiu em praticar uma política de

fechamento dos conventos católicos que normalmente funcionavam como escolas. No

entendimento das autoridades, deveria muito em breve entrar em vigor um ensino laico

mais racional e não confessional.

Arns (2012) afirma que inúmeras escolas em 1809 foram fechadas uma vez que

já vinham enfrentando dificuldades desde 1803 e na sua maioria também, os Institutos

Religiosos foram secularizados (ARNS, 2012, p.29).

Dix complementa dizendo que:

Nas últimas semanas de escola elementar de Carolina, os dias se

tornaram sombrios, com o fechamento de sua querida escola

conventual. Embora as irmãs tivessem suportado a tempestade de

secularização de 1803, quando outros conventos foram extintos, as

exigências de impostos da guerra e outras taxas, intoleráveis, a dura

interferência governamental nas suas escolas, nos métodos de educação

e mesmo na vida conventual forçou as irmãs a pedirem a seu bispo o

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fim da instituição. No dia 15 de agosto de 1809 foi rezada a última

missa; o oratório foi fechado e no dia 1° de setembro, as irmãs deixaram

o lugar onde haviam trabalhado durante 80 anos. Um jornal anunciou o

leilão público de suas posses: uma cômoda, mesas, cadeiras, esculturas

e pinturas, duas vacas, vinte metros quadrados de lenha e a produção de

sua horta (1993, p. 21).

Desde então, havia um controle total da vida religiosa de modo geral. Assim

também ficou evidente que até a vida pessoal de cada irmã era vigiada excluindo por

assim dizer, a liberdade que era o direito mais precioso que o ser humano poderia ter. Tais

medidas governamentais tinha por finalidade a clara expulsão das religiosas do serviço

educacional uma vez que a educação “abria os olhos” dá grandes margens para as pessoas

enxergarem para além das aparências e perceberem, descobrirem a origem de toda aquela

situação desumana aquém da vontade do Deus que Carolina acreditava.

A escola das Cônegas Agostinianas que Carolina estudava infelizmente fechou. As

religiosas não suportaram a enorme pressão governamental articuladas em taxas de guerra

altíssimas e a direta influência e controle no modo de ensinar e na vida conventual. Às

religiosas tiveram uma única alternativa, a saber, fechar definitivamente a escola

conventual. Assim, no dia 15 de Agosto foi celebrada a última missa no oratório do

convento e as simples e poucas coisas que as Cônegas possuíam foram leiloadas. Ainda

conforme Dix (1993) as Irmãs recebiam uma pensão do governo se dispersaram e

sobrevivam como costureiras. “A tristeza pela destruição da sua comunidade conventual

foi intensificada pela dor dos pais e das crianças que haviam perdido a escola, e pela

preocupação do padre Wittmann, que enfatizava o valor da educação feminina” (Dix,

1993, p. 21).

A ilustração a seguir, do Livro “A Bem Aventurada Maria de Jesus”, escrito por

Irmã Maria Helena Arns, em 2012, ilustra a cena do padre Witmann7 com as crianças às

margens do rio Danúbio em Stadtamhof, terra natal de Carolina.

7 Padre George Michel Wittman (1760-1833) recebeu uma educação jesuítica. Era professor e foi um dos

fundadores da Congregação das Irmãs Escolares de Nossa Senhora. O Padre Wittiman acreditava que as

mulheres eram as agentes de transformação pelo caminho da educação profissional integral dentro de uma

espiritualidade cristã.

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Ilustração N°. 1: Padre Witmann com as crianças caminhando às margens do rio Danúbio

Fonte: Arns, 2012, p. 23.

Segundo Nelson (1979) e Arns (2012), em Regensburg havia o pároco da Catedral

e seu nome era Padre George Michel Wittman, este padre tinha um zelo ardente pela

salvação das crianças e um enorme carinho, preferencialmente por aquelas mais pobres.

Padre Wittman também era pedagogo e inspetor escolar das cidades de Regensburg e

Stadtamhof estava muito desapontado com o fechamento das escolas. Diante de tamanhas

dificuldades, um grupo reduzido de professores da Universidade de Landshut com

Wittman, entenderam que a solução dos problemas sociais e religiosos poderiam ser

solucionados através da educação para a mulher e de modo particular aquelas que viviam

nas zonas rurais e pobres (Nelson (1979, p. 23 e Arns, 2012 p.29-30).

Um fato importante para a futura Congregação é que entre seus alunos da

Universidade de Landshut, de acordo com Arns (2012) estava o futuro Rei da Baviera,

Ludovico I, que em 1825 subiu ao trono, realizando relevantes mudanças na região da

Baviera. O Rei se aconselhava com seus antigos professores Sailer e Wittmann a respeito

das reconstruções das escolas católicas e também da fundação de novos Institutos. Vale

lembrar que naquela época, a Igreja e todas as outras instituições dependiam do Estado

(Arns, 2012, p. 32).

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Conforme Cruz (1992) em certa ocasião, o Rei Ludovico I afirmou que era

impossível uma nação estar em paz, sem a vivência religiosa (CRUZ, 1992, p.18). O Rei

entendia que o futuro de uma nação era a juventude e a infância. Apesar das enormes

tribulações que o exército de Napoleão havia causado com os projetos educacionais anti-

cristãos, Padre Wittmann não desanimou, embora a escola tinha sido fechada pelos

governantes Iluministas.

Carolina e as duas companheiras professoras

O nosso estudo se dará a partir da história do nascimento de Carolina

Gerhardinger. Segundo Lazier (1982), e Arns (2012) Carolina Gerhardinger ou Madre

Maria Tereza, nome de religiosa na Congregação nasceu em 20 de Junho em Stadtamhof

no ano de 1797 no final do século XVIII na região da Baviera - Alemanha.

Diante de tudo isso o tempo foi passando e a jovem Carolina Gerhardinger foi

crescendo diante da catástrofe causada pela guerra napoleônica. No entanto, segundo

Arns (2012), não demorou muito tempo, para Carolina descobrir o seu grande potencial

como educadora e os alunos inclusive gostarem de frequentar as aulas da jovem

professora. As crianças gostavam tanto das aulas que quando chegava o inverno, traziam

lenha para a escola no intuito de que nem o inverno por mais rigoroso que fosse não

interrompesse as aulas (ARNS, 2012, p 33).

Segundo Cruz, as Irmãs:

Estavam ocupando as grandes salas do Colégio das Irmãs de Nossa

Senhora. Mas de repente numa frieza glacial, o governo transformou o

ex-claustro em quartel para soldados. As três professorinhas tiveram

que alojar-se numa sala apertada, junto ao hospital da cidade. E esta

salinha era ocupada por uma senhora idosa que além disso, guardava

consigo um cabritinho travesso ( 1992, p. 12-13).

A situação ficou cada vez mais difícil para as professoras continuarem dando

aulas. Muito além do clima tenso, tudo começava ficar improvisado e apertado, faltava

material escolar, o ambiente já era extremamente inadequado e pairava uma insegurança

total. São os momentos de certas dificuldades que possibilitam projetos novos, ideias

novas.

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A ilustração a seguir, do Livro “A Bem Aventurada Maria Teresa de Jesus”,

escrito por Irmã Maria Helena Arns, em 2012, ilustra a cena descrita por Afonso de Santa

Cruz anteriormente. A adaptação educacional das Irmãs Escolares, no período ficou

perceptível devido ao contexto social gerado na época. Ser irmã e orientar os estudos em

uma sociedade afluída pelo iluminismo, não deveria ser uma missão fácil.

Ilustração n. 3: Um cabrito com seus berros atrapalha as aulas de Carolina

Fonte: Arns, 2012, p. 34

Segundo Dix (1993) em 1812 as jovens Carolina, Anna Praun e Anna Hotz

fizeram o exame e foram aprovadas e então receberam seu certificado para a Volksschule

(escola elementar) começando no seguinte ano escolar como professoras oficialmente

reconhecidas (1993, p. 27). Em 1815 a jovem Carolina sente em seu coração, o chamado

para uma importante missão e segundo Oesthel (2012) ela conversa

com o cônego Wittmann a respeito de seu propósito da possível fundação de uma ordem,

como poderá ser constatado em anotações posteriores (Oesthel, 2012, p. 11).

Conforme Nelson:

Em 1818 Wittmann estava começando seus planos para a restauração

do convento de Notre Dame, em Stadtamhof. L. Ziegler explica que

Wittmann percebia que para levar novamente as pessoas a um amor, à

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simplicidade e ao zelo pela vida de oração e trabalho, era necessário

começar a formar as meninas. Para isto, eram necessárias

professoras provenientes do povo simples, que partilhassem sua vida

simples(...) pudessem ser enviadas pelo mundo (...). Wittmann já

percebia que o novo instituto diferia do modelo de mosteiros grandes e

formais (...). Um instituto que enviasse seus membros dois a dois e três

a três, pelo país. O essencial para este seu esquema era a mobilidade,

formação comum, uma casa mãe para a formação e educação das

postulantes e noviças e para o cuidado dos doentes e irmãs idosas, bem

como uma Superiora Geral para a administração Geral (1979, p. 22).

A educação católica da Baviera estava destruída e como consequência, a vida

moral também foi muito prejudicada. Padre Wittmann estava com seus planos de

restauração do Convento de Notre Dame em Satdtamhof. No entanto este visionário

intuiu que para recuperar a moral, a religiosidade das pessoas, seria necessário um

trabalho de base ou seja teria que se começar por uma educação básica, dentro de uma

perspectiva confessional e neste caso, católica. Para tanto, era indispensável formar as

meninas para este trabalho educacional. Sendo assim, este instituto não poderia seguir

mais os padrões tradicionais da época com grandes construções a exemplo dos enormes

mosteiros. Este novo instituto deveria oferecer mobilidade e formação comum para as

candidatas com uma administração central oferecendo assim mais praticidade e

simplicidade.

Depois de iniciar uma experiência com duas amigas em 1820 uma delas resolveu

abandonar o projeto e foi morar com seu irmão. No entanto, a convicção de Carolina

aumentava ainda mais em uma experiência original diferente. Ainda conforme Oesthel

(2012) depois do ano 1825 o novo rei da Baviera, Ludwig I, voltou permitir ordens

religiosas (Oesthel, 2012, p. 11).

A certeza se concretizou a partir das orientações do padre Wittmann em que

deveria de fato, fundar uma Congregação de Religiosas que desenvolvesse um trabalho

na área de educação com meninas e moças. Segundo Oesthel “Neste meio tempo,

Carolina tornou-se uma professora entusiasmada não restando nenhum resquício daquela

oposição contra a tarefa monótona e enfadonha de ser professora” (2012, p. 10).

A partir das orientações do seu diretor e pedagogo Padre Wittmann e do Padre

Maurer, a jovem Carolina foi se tornando uma professora exemplar e muito qualificada

no exercício de ensinar. Dentro dessa perspectiva, foi que veio a intuição para a fundação

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desta nova Congregação, cujo foco central foi o trabalho totalmente voltado para a

educação feminina e preferencialmente com as meninas e moças mais pobres do sul da

Alemanha. Mais tarde este projeto educacional naturalmente ultrapassaria as fronteiras

da Europa.

A fundação de uma Congregação Religiosa especializada na educação feminina

No dia 24 de Outubro de 1833 a jovem Carolina com suas três companheiras

começaram oficialmente a Congregação das pobres Irmãs Escolares de Notre Dame

(Nossa Senhora) (DIX, 1993, p. 13).

A ilustração abaixo representa o primeiro convento escola e Carolina com suas

duas primeiras companheiras professoras.

Ilustração N°. 2 convento e escola com as primeiras companheiras

Fonte: Arns, 2012, p.49

Naquela época, as

congregações eram ricas e as

religiosas se dedicavam especialmente na sua maioria às classes média e alta. Segundo

Arns o projeto das Irmãs Escolares, era voltado de forma exclusiva às classes mais

desfavorecidas (2012, p. 66). A ideia central era fundar pequenas comunidades rurais

inseridas, com duas ou três religiosas, vivendo de doações, mas transformando o ambiente

em que estavam através da educação. As Irmãs Escolares entendiam que a educação

escolar, era a única alternativa para tirar as jovens meninas do mundo da ignorância

intelectual e da pobreza material.

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Segundo Arns, em 1836 as irmãs assumiram uma escola em Schwarzhofen, tanto

que entre 1833 e 1843, já tinham sido fundadas 12 casas filiais e outrass 40 localidades

demonstravam interesse no projeto educacional católico das Irmãs Escolares de Nossa

Senhora. Com o passar dos anos, o covento de Neunburg já não tinha mais capacidade

para o acolhimento de novas candidatas que procuravam aquela proposta do carisma

educacional. Na verdade, inclusive o número de religiosas já naquele breve espaço de

tempo, eram 59 (2012, p. 71-73).

Desta forma, para melhor acomodar as irmãs e dar seguimento no projeto

educacional que estava em constante expansão, a fundadora da congregação Madre Maria

Teresa de Jesus Gerhardinger, precisou procurar um novo lugar para uma nova sede para

a Casa Central da Congregação. Segundo Dix (1993), em 1841, Madre Maria Teresa de

Jesus juntamente com suas seguidoras, receberam uma excelente notícia: O Rei Ludovico

I fez a doação do antigo Convento das Irmãs Clarissas de München para as Irmãs

Escolares. Madre Maria Teresa desenhou inclusive como deveria ser a estrutura do novo

Convento e Escola (sugerindo suas opiniões pertinentes). Após os reparos necessários e

convenientes (Dix, 1993, p.71-72). Em “30 de Setembro de 1843, 50 irmãs professas,

estavam reunidas com as noviças e se transferiram de Neunburg von Wald para München”

(1993, p. 77).

As religiosas professoras receberam várias críticas no início do próprio Governo

Real por aplicarem uma superformação par a as crianças do interior. No entanto, a Madre

Maria Teresa responde a altura dizendo: “como podem crianças ser superformadas, sendo

incrivelmente desleixadas quanto à formação de casa e a educação intelectual? As

crianças com pouco sentido para o belo e nobre (...). No verão, elas vem raras vezes (...)

e cada ano precisa recomeçar com as matérias tudo outras vez” (Arns, 2012, p. 84).

Mesmo com as críticas, o projeto educacional católico das Irmãs Escolares não

deu tréguas para as oportunidades que surgiam. Os pobres foram os preferidos de Madre

Maria Teresa. Segundo de Arns (2012), em 1842, as irmãs assumiram a escola elementar

dos pobres na periferia de Munique e ainda no mesmo ano, o Instituto dos Surdos e Mudos

na cidade de Amberg (2012, p.85).

A história demonstrou que não foi necessário muito tempo para o Angar se tornar

repleto de candidatas para a vida religiosa e o carisma educacional feminino. Madre Maria

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Teresa com o apoio do grande educador e pedagogo Padre Sieger fizeram da Nova Casa

Mãe, um Centro de Educação modelo de formação para que fossem preparadas Irmãs

educadoras para o Magistério. Certamente essa experiência pode ser considerada umas

das primeiras Escola para formar professoras. Segundo Arns, somente depois de 30 anos

em 1872 o Estado Alemão começou a fundar Escolas de magistério para mulheres (2012,

p. 88).

Este projeto educacional ganhando cada vez mais espaço. As famílias das

comunidades e as autoridades sentiam uma transformação social que aos poucos vinha

dando certo. Mas não era apenas isso, pois de acordo com Arns (2012) em Munique havia

muitas crianças que não tinham para onde ir e ficavam vagando pelas ruas da cidade.

Neste sentido os pedidos dos “Kinderhorte”, isto é escolas de apoio eram solicitadas cada

vez mais. Logo, Madre Teresa entendeu que era necessário um curso que preparasse

professoras para esta modalidade escolar (2012, p. 88 - 89).

Em 1848, o Rei Ludovico I renunciou ao Trono Real e assumiu seu filho

Maximiliano II. O trabalho das irmãs prosseguiu O novo Rei também via com muitos

bom olhos este projeto educacional transformador e humanista que em 1852 publicou

uma bula em que dizia: deveria ser incentivado a expansão o Instituto das Irmãs Escolares.

No dia 29 de maio de 1879 faleceu Madre Maria Teresa de Jesus esta educadora de visão

mundial reconhecida pelas autoridades alemãs e da Igreja Católica como a pedagoga do

século XIX.

O Documento resultante do III Encontro Interprovincial de Educação das Irmãs

Escolares da América do Sul (1999) indicou que na Alemanha sob o domínio do sistema

iluminista, imperava:

O espírito anti-clerical e principalmente anti-religioso que tinha como

meta, tirar o povo da “escravidão”, da superstição religiosa e

automaticamente levá-los a auto determinação exercitando o uso da

razão. Assim, esta ideologia provocou o confisco dos bens da Igreja e a

secularização dos Conventos e Escolas (1999, p.7).

Não é difícil imaginar, a vida das Irmãs, devido as circunstâncias, precisarem levar

uma vida frugal, inclusive no que se refere à alimentação. Diante de um contexto de

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guerras e perseguições religiosas era natural faltar o conforto, a comida, a bebida e

dignidade humana.

Oesthel (2012) destacou um novo momento importante para a Congregação das

irmãs. A Madre Teresa, teria que concluir, definitivamente, a redação da regra, para

enviá-la a Roma. Já em 1855, ela conseguiu cumprir essa exigência de Roma. Em 1859,

a congregação obteve o reconhecimento da regra por seis anos. O reconhecimento

definitivo da regra das Irmãs Escolares por Roma, se deu no dia 26 de agosto de 1865

(2012, p.25).

A trajetória das Irmãs Escolares de Nossa Senhora nos Estados Unidos no Século

XIX

Para Oesthel (2012), Os Estados Unidos da América foram, no fim do século

XVIII e início do Século XIX, o país da esperança para muitos imigrantes alemães,

atendendo solicitações do Rei Luddwig I (Oesthel, 2012, 21). A educação dos imigrantes

alemães estava praticamente abandonada. Os imigrantes alemães sofriam diferentes

formas de discriminação inclusive nos projetos educacionais do estado americano.

Conforme Nelson (1979)

Diversos Bispos e missionários da América vieram aqui e pediram com

urgência Pobres Irmãs Escolares para a educação cristã, especialmente

das meninas, que para a tristeza deles estão completamente desprovidas

deste benefício. Eles consideram a missão das Irmãs Escolares tão

necessárias como a de sacerdotes se é que o cristianismo católico requer

raízes mais profundas nas famílias, e que se florir aí, torna-se produtivo

permanentemente (1979, 72).

Na medida em que os imigrantes alemães se deslocavam em direção às Américas,

eles eram acompanhados por sacerdotes missionários alemães. Desta forma, eles teriam

uma assistência espiritual dentro do que eles acreditavam e estavam inseridos. Os

missionários alemães, entendendo que não era suficiente apenas a administração dos

sacramentos aos imigrantes retornaram à Alemanha e conversaram com o Rei para pedir

reforço nos trabalhos apostólicos e projetos educacionais.

Dix (1993) confirma que no começo do ano de 1845, o Provincial dos Redentorista

tinham pedido ao Rei Irmãs para ajudarem nos projetos das missões americanas... a ideia

era construir um provincialado na cidade de Santa Maria no estado da Pensilvânia como

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centro do território católico alemão... Muitas religiosas de forma entusiasmada se

dispuseram a ajudar nos projetos educacionais nos Estados Unidos (Dix, 1993, p. 84).

Segundo Oesthel no dia 18 de junho de 1847, Madre Maria Teresa viajou aos Estados

Unidos Madre Teresa Gerhardinger com cinco irmãs (Oesthel 2012, p. 22).

De acordo com Arns, as irmãs que acompanharam a Madre foram as seguintes:

Irmã Magdalena Steiner, 37 anos, Irmã Maria Weinzierl, 36 anos, Irmã Serafina von

Pronath, 28 anos, Irmã Maria Carolina Friess, 22 anos, e a Noviça M. Emanuela

Breindenbach, 23 anos (2012, p. 101). Dix (1993) afirma que as irmãs partiram às 3:30

da madrugada do porto da cidade, de Bremen no navio Washington. Esta viagem, que

deveria ser rápida acabou sofrendo vários dias de atraso devido à necessidade do

alargamento de um canal para atracar o novo navio que estava fazendo sua estreia no mar.

Além do mais, as novas caldeiras não suportavam o enorme teor de ácido sulfúrico do

carvão, precisando ser substituído. (Dix, 1993, p. 90-91).

Segundo Arns a que a viagem foi difícil. Apesar “de a Madre Teresa se sentir 10

anos mais velha”, logo depois de atravessar o Oceano Atlântico ficou doente na viagem,

mas chegou feliz na nova missão (...). As irmãs foram recebidas muito bem pela

comunidade, a noviça Emanuela adoeceu e morreu. Santa Maria na concepção da Madre

Teresa era muito pobre e não disponibilizava das condições necessárias para abrigar a

casa central nos Estados Unidos (...). Assim, ela foi a outra cidade chamada Pittsburgh.

No entanto, o bispo não foi nada receptível pelo fato das irmãs terem vindo e ainda não

terem a regra aprovada pela Santa Sé. De lá, a Madre se dirigiu ao Bispo de Baltimore

onde também não foi bem recebida (...). Mesmo assim, a Madre não desanimou e logo

conheceu o Padre João Nepomuceno Neumann que logo deu sinal de que estava feliz

percebendo que as missionárias poderiam dar um grande apoio nos projetos educacionais

católico de Baltimore (Arns, 2012, p. 103 – 104).

A missão seguiu em frente depois que as irmãs conquistaram a confiança dos

bispos. Segundo Arns a Madre em companhia do Padre Neumann, visitou nove cidades

que poderiam receber novas filiais da Congregação como: Pittsburg, Cleveland, Chicago,

Milwaukee, Detroit, Buffalo, Rochester, Nova York e Philadelphia (Arns, 2012, p104-

105).

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A missão nos Estados Unidos expandiu-se de uma forma fantástica. Madre Teresa

ficou por lá apenas um ano. Em 9 de agosto de 1848 a madre com 51 anos de idade retorna

à sua terra natal Alemanha exausta (Oesthel, 2012, p. 22). Em 1850 a casa mãe estava

pronta em Milwaukee. Em apenas 30 anos de missão, nos Estados Unidos apesar das

inúmeras dificuldades iniciais conforme Oesthel (2012) já eram 1.164 irmãs e 254

candidatas trabalhando com mais 36.000 mil alunas. Já na Europa a congregação tinha

ultrapassado as barreiras estaduais da Baviera com novas filiais na Westfália, Silésia,

Hungria, Boemia e nos bispados de Rottenbug e Freiburg e em 1864 as irmãs iniciaram

um trabalho na Inglaterra (Oesthel, 2012, p.22 - 23).

Os anos foram passando e as forças físicas de Madre Teresa naturalmente foram

se esgotando. Assim a Madre foi adoecendo e se tornando cada vez mais fraca e

vulnerável às enfermidades. Às vezes ficava acamada em seu quarto e em outras ocasiões,

por muitas vezes os biógrafos confirmam que a Madre Teresa visitava a capela do

Santíssimo Sacramento. Assim, seguindo o ciclo natural da vida, Cruz (1992) confirma

que em 09 de maio de 1879 o Núncio Apostólico Aloisi-Mazella lhe deu a bênção papal

e não se afastou até que ela tivesse vencido a última barreira do cristão, que é a morte. Às

12:30 minutos o corpo antes tão castigado por dolorosas contrações, aquietou-se

totalmente. Mãe Teresa acabou de vencer o último inimigo do pecado: a morte. Entrou

na vida, que é pra valer, a vida eterna (1992, p. 103, 104).

Considerações

Como podemos perceber no texto acima, o projeto educacional das Irmãs

Escolares de Nossa Senhora funcionou na Alemanha e da mesma forma em várias cidades

nos Estados Unidos. Este resultado se deu devido a grande força de vontade e

determinação de Madre Teresa e suas colaboradoras que movidas por uma inspiração

divina, se dedicaram totalmente pela causa educacional tendo em vista a dignidade e a

promoção humana das meninas europeias e americanas.

Madre Teresa com seu “exército de irmãs professoras” durante quase todo o

século XIX principalmente, contribuíram de forma singela em importantes projetos

educacionais voltados para a formação feminina. Na época, a própria Alemanha bem

como outros países da Europa ainda não tinham cogitado projetos dentro dessa

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modalidade de ensinar. E ainda mais, que o ensino fosse feito a partir de pequenas

comunidades inseridas nos locais mais pobres.

Oesthel, afirmou categoricamente que, Madre Maria Teresa colaborou e muito na

sua época com uma nova concepção de educação e formação integral para as mulheres

jovens. A Madre sempre entendeu que as mulheres deveriam ter independência e

maioridade. O seu modo de pensar, estava muito à frente de sua época e, junto com suas

irmãs, foi uma pioneira na formação moderna das mulheres. Dentro do contexto da

história da Igreja, Madre Teresa foi uma importante pedagoga no século XIX (Oesthel,

2012, p. 30).

Este projeto foi tão importante no século XIX que não se enraizou apenas na

Europa e nos Estados Unidos, a história vai demonstrar que o projeto será levado para

outros continentes. Conforme o entendimento de Fregonese:

Apesar dos vários períodos de dificuldades e perseguições que

enfrentaram na Alemanha durante o governo de Bismarck e, já no

século XX, no período de Adolf Hitler, as irmãs procuraram continuar

com seu trabalho. Entretanto, outros obstáculos surgiram e, por isso,

muitas delas refugiaram-se em outros países, inclusive na América do

Sul ( 2012, p. 253).

A partir das convicções desumanas de Adolfo Hitler como a barbárie do

extermínio dos judeus, bem como a perseguição à vida religiosa em geral e demais

situações assustadoras que uma guerra provoca. A Congregação das Irmãs Escolares de

Nossa Senhora teve a possibilidade de chegar às terras da América do Sul a exemplo do

Brasil, Argentina bem como em vários outros continentes que vão para além da Europa,

como a Ásia, a Oceania, a África.

Para uma melhor visualização da abrangência da Congregação das irmãs

Escolares no mundo, apresentamos o mapa, esboçado a mão pela Irmã Artúris.

Imagem n. 4: Mapa indicando a presença das Irmãs Escolares de Nossa Senhora em 1992.

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Fonte: Irmã Artúris, IENS, 1992 capa do livro

No mapa é perceptível a presença das irmãs Escolares de Nossa Senhora em todos

os continentes, levando seus projetos e orientações educacionais defendidas na

Congregação fundada na Alemanha e que depois de muitas dificuldades, sua proposta

pedagógica seria disseminada em toda a Europa e em vários países de vários continentes.

Referências

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das Irmãs Escolares de Nossa Senhora, 2ª Edição, Formsul Editora e Gráfica, Forquilinha – SC,

2012.

DIX, Irmã Benilda, O Amor não Pode Esperar, Edições Paulinas, São Paulo – SP, 1993.

FREGONESE, Vera Lúcia. UMA INSTITUICÃO ESCOLAR NA VILA MARRECAS (1952-

1953) IN: (Carlos Antonio Bonamigo, Claides Rejane Schneider, Cleverton Luiz da Silva,

Ismael Antônio Vannini, Odair Eduardo Geller, Rodrigo Kummer e Vera Lúcia

Fregonese). História e Territórios, Diversidades de Abordagens e Domínios, Editora Jornal

de Beltrão, Francisco Beltrão – PR, 2012 (250 a 265).

HUFFNER, Pierre. Teresa Gerhardinger, Corajosa Mulher de Fé e de visão Mundial, Editions

du Signe, Lingolsheim – Strasbourg – France – 1989.

LAZIER, Hermógenes, Escola Nossa Senhora da Glória, “A Semente que Germinou”, Grafisul

– Gráfica Sulina Ltda, Francisco Beltrão - PR, 1982.

NELSON, Sally Ann. MADRE TERESA, Mulher de Visão , Editora Gráfica Metrópolis, Porto

Alegre, RS, s/d.

MADRE TERESA E OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO, Irmãs Escolares de Nossa Senhora, III

ENCONTRO INTERPROVINCIAL DE EDUCAÇAO das Irmãs Escolares da América do Sul,

Porto Alegre, Fevereiro de 1999.

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24

OESHTEL, Madre Charlotte, Superiora Provincial, Maria Teresa Gerhardinger, Pedagoga do

Século XIX, Editora Sadifa Media, Munique – Alemanha, 2012.

CRUZ, Afonso de Santa. A Carolina do Danúbio, 5ª Edição, Edições Rosário, Curitiba 1992.