a comunicação vai à escola

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  • 8/6/2019 A Comunicao vai escola

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    Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da ComunicaoXXXII Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Curitiba, PR 4 a 7 de setembro de 2009

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    A comunicao vai escola: dificuldades e conquistas no experimento daEducomunicao.1

    Cndida de Oliveira2

    Letcia Demoly de Mellos

    3

    Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJU), Iju, RS

    ResumoEsse artigo resultado da experincia na implementao do projeto experimental

    Educomunicao e prticas jornalsticas: criando um ecossistema de comunicao naEscola Agostinha Dill. Utilizando como arcabouo terico a Educomunicao, foramdesenvolvidas oficinas para capacitar os alunos na produo de informaes paraalimentar trs canais de comunicao, sendo estes criados, tambm, a partir do projeto:um jornal-mural, um blog e uma rdioweb. Os resultados obtidos tornam possvel

    compreender como a comunicao pode ser utilizada na sala de aula, visando oaperfeioamento dos processos de ensino-aprendizagem, contribuindo para umaformao crtica e cidad. Por outro lado, a experincia tambm revela dificuldades queprecisam ser superadas em conjunto com a sociedade.

    Palavras-chaveEducomunicao; Mdia; Escola; Cidadania.

    Consideraes Iniciais

    No difcil para futuros comunicadores pensar a comunicao como elemento

    essencial em processos de ensino-aprendizagem voltados formao de cidados

    crticos. Porm, quando pensamos em um projeto que possa inserir a comunicao na

    escola, surgem algumas inquietaes sobre a aplicabilidade e sobre os resultados desses

    trabalhos. Afinal, como podemos inserir a comunicao no ambiente escolar de forma

    efetiva? Como produzir contedos e criar canais de comunicao em que haja a

    participao de todos, sem com isso desprestigiar os trabalhos realizados pelos

    educadores? Como criar uma circunstncia que estimule professores e alunos a produzir

    informaes destinadas aos meios de comunicao, superando a condio de somente

    receptores? Como faz-los participar do processo de construo da informao?

    A partir dessas indagaes, optamos por desenvolver um projeto experimental

    que propiciasse aos estudantes do Ensino Fundamental o contato com linguagens e

    1 Trabalho apresentado na Diviso Temtica 6 - Interfaces Comunicacionais, da Intercom Jnior Jornada deIniciao Cientfica em Comunicao, evento componente do XXXII Congresso Brasileiro de Cincias da

    Comunicao.2 Recm-graduada como Bacharel em Jornalismo, pela UNIJU, e-mail:[email protected] Recm-graduada como Bacharel em Jornalismo, pela UNIJU, e-mail:[email protected]

    mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]
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    formatos utilizados pelo jornalismo, a fim de incentivar a produo e difuso de

    informao na escola espao formal e legtimo da educao. Para dar sustentao

    terica ao nosso trabalho, recorremos aos estudos de Educomunicao.

    Esse artigo , portanto, resultado da experincia que tivemos enquanto

    organizadoras e participantes do projeto experimental Educomunicao e prticas

    jornalsticas: criando um ecossistema de comunicao na Escola Agostinha Dill. O

    projeto foi realizado nos meses de agosto, setembro e outubro de 2008 por um grupo de

    acadmicos do Curso de Comunicao Social da UNIJU, sob orientao do professor

    Mestre Paulo Ernesto Scortegagna4.Alm de relatarmos essa experincia, apresentamos

    neste artigo pressupostos tericos que nos ajudam a entender o que a

    Educomunicao, bem como, a compreender como a comunicao pode ser utilizada no

    ambiente escolar visando contribuir para os processos de ensino-aprendizagem. Ao

    final, discorremos sobre os resultados do projeto, apresentando asprincipais conquistas

    alcanadas e as novas questes que surgem a partir da experincia.

    Mdia: fonte de conhecimento

    Os meios de comunicao social, elementos integrantes e fundamentais para a

    produo e circulao de significados e sentidos, atuam sobre o imaginrio dos sujeitos

    e ajudam a configurar os modos como a sociedade se organiza e se relaciona. Eles

    configuram e transformam o tecido social em vrios mbitos, constituindo novas formas

    de aquisio de saber, extrapolando mtodos de ensino e aprendizagem mais

    tradicionais. Conforme afirma Maria da Graa Jacintho Setton (2005)

    Se convencionalmente a educao exigia disciplina, silncio, destrezaem um nico tipo de linguagem, a saber, a leitura e a escrita; setradicionalmente somente os adultos na figura dos pais e dosprofessores detinham o conhecimento legitimado; se apenas os livros,as bibliotecas, os museus e os conservatrios de msica asseguravamo caminho da cultura e da educao, hoje a informao e o saber estopulverizados em vrias linguagens disseminados em vrios veculos einstituies produtoras de bens simblicos (SETTON, 2005:62).

    Hoje, fundamental que a comunicao e a educao andem juntas com o

    objetivo de, sobretudo, permitir uma reflexo crtica. E no basta estar ciente do que a

    mdia veicula; para motivar uma atitude reflexiva sobre os significados das mensagens4 Professor do Departamento de Estudos da Linguagem, Arte e Comunicao (DELAC), da UNIJU.

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    veiculadas, o primeiro passo possibilitar o conhecimento sobre o funcionamento da

    linguagem miditica, processo este que ocorre a partir de atividades prticas que

    agreguem valor aos mtodos de ensino at ento utilizados na escola.

    A mesma autora destaca a importncia da mdia no processo educativo. Segundo

    Setton (2005), os saberes difusos so veiculados em canais de rdios e TVs atravs de

    vrios formatos: novelas, fascculos, programas didticos, entrevistas, conselhos

    mdicos, at quando a mdia opera com o humor. O formato em si no importa, pois as

    informaes esto disponveis a todos, fazendo dos meios de comunicao potenciais

    agentes educativos. Assim, agreg-los ao processo ensino-aprendizagem na escola,

    como mtodo alternativo, enriquecer e ampliar o conhecimento que o aluno adquire.

    situar o cidado como ser ativo e independente em condies de, com conhecimentos

    mais amplos, se inserir neste mundo contemporneo e globalizado.

    Conforme destaca Maria Aparecida Baccega (2002):

    No possvel ignorar o papel da mdia enquanto educadora, muitasvezes atuando mais do que a escola (...) Por outro lado, no possvelfazer ouvidos moucos ao papel do professor que, hoje, mais do queum dador de aulas, um ensinador de contedos, dever ser ocoordenador capaz de possibilitar que seus alunos aprendam aaprender (BACCEGA, 2002:48-9).

    Nesse sentido, preciso associar a comunicao com a educao para propiciar a

    formao de cidados crticos a partir da disseminao de conhecimentos que gerem

    saber, atitude, carter. O essencial hoje aprender a aprender. Vale destacar que

    atualmente o fato de saber usar a tecnologia da mdia implica em saber utilizar

    formatos, linguagens, equipamentos tcnicos e tudo que esteja relacionado produo

    miditica para produzir conhecimento e novas formas de interagir socialmente. Nesse

    sentido, aceitar aproximaes entre os campos da educao e da comunicao, pensandoo processo de ensino, reconhecer o que nos esclarece Citelli:

    ... que as experincias videotecnolgicas j esto na sala de aula,malgrado sob a forma de uma no- presena, pois tanto as crianasquanto os professores vivem em um espao social mediatizado pormensagens televisivas, radiofnicas, jornalsticas, etc., capaz deprovocar alteraes nos comportamentos, criarem referencias para odebate pblico, influenciarem a tomada de decises, alm derevelarem, muitas vezes, os prprios limites do discurso pedaggico.

    (CITELLI, 2002:107).

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    Os meios de comunicao so mediadores, dentre outros dispositivos, dos

    processos de ensino-aprendizagem no ambiente escolar. A escola no pode ignorar as

    transformaes que ocorrem no tecido social em funo da mdia e das tecnologias de

    informao. Alunos e professores esto inseridos nessa teia. Os contedos expostos pela

    mdia e os recursos tecnolgicos de nosso tempo podem servir de parmetros para

    realizao de debates e prticas na sala de aula, ampliando as fronteiras do discurso

    pedaggico. Inserir as tecnologias de informao e dos meios de comunicao na escola

    pode ajudar, ainda, na aproximao entre educador e educando. Podemos exemplificar

    com situaes experimentadas no projeto quando o professor, ao abrir espao para

    debater sobre a cultura presente na realidade cotidiana, fora da escola, percebe-se

    instaurando um dilogo com os alunos sobre assuntos que efetivamente os mobilizam.

    Dessa forma, a escola conseguir apresentar-se como um espao em que possvel

    aprender e interagir.

    Todavia, se nos reportamos escola iremos perceber processos distintos, graves

    lacunas, pois nem todos os agentes educacionais possuem conhecimento sobre a relao

    entre comunicao e educao. Quando observamos iniciativas no sentido de inserir a

    mdia na sala de aula, muitas delas se limitam a anlise dos contedos, o que pode

    resultar em interpretaes errneas a respeito do prprio processo da comunicao.

    Segundo Baccega (op.cit.), quando se fala em comunicao no mundo

    globalizado e contemporneo, pensa-se logo na mdia e no processo emissor >

    mensagem > receptor. Mas a comunicao muito mais do que isso. Conforme

    argumenta a autora, trata-se da construo de significaes e sentidos que pautam a vida

    cotidiana, por meio da circulao de mltiplos saberes, presentes na construo

    simblica, na percepo do mundo e nos processos de socializao em geral.

    Assim, se por um lado percebemos que a mdia expe informaes que levam a

    uma m formao, precisamos considerar os meios de comunicao como alternativapara superar essa condio. Direcionando um olhar pra a infncia, para as crianas que

    esto em processo de formao inicial, entendemos que o debate na escola, sobre os

    assuntos divulgados na mdia poderia ser uma possibilidade de superao, funcionando

    como forma de filtrar as mensagens para tornar mais compreensvel para as crianas os

    significados e sentidos ali produzidos. Mas o que observamos? O que nos esclarece a

    experincia na implementao do projeto?

    Geralmente no mbito escolar principal espao de discusses e compreensodos fenmenos da vida esses assuntos so silenciados, ignorados. Segundo Ismar de

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    Oliveira Soares (2005:54) ... a educao tem sido tomada, cada vez mais, como uma

    mercadoria sujeita as leis da oferta e da procura. Ou seja, investe-se em educao sob a

    condio de se obter lucros e segue-se repetindo modelos que j mostraram que no

    correspondem as necessidades de aprendizagem. Nestas circunstncias, no podemos

    visualizar as condies necessrias para o ensinar e para o aprender nas redes de ensino.

    Diante disso, sem dvida uma das mudanas necessrias a insero da

    comunicao no espao escolar, no apenas como forma natural de interao social, mas

    como estrutura miditica presente no cotidiano que exige reflexes e anlises. Crianas

    e jovens em uma experincia de Educomunicao so tomados como observadores

    ativos, como agentes que produzem significaes e sentidos, ao interagirem com os

    contedos que os meios de comunicao social oportunizam. Pensamos que a

    Educomunicao pode ajudar a constituir uma educao slida e eficaz em termos de

    conhecimento-aprendizagem.

    Educomunicao: espao de cidadania

    A Educomunicao surge para ser explorada, tanto por comunicadores como por

    educadores, colocando em debate, por exemplo, o modo como as informaes chegam

    at as crianas e os efeitos que geram nas formas de convivncia no social. Suas

    prticas representam maneiras de interagir com alunos, a fim de desmistificar os meios

    de comunicao e analisar os alcances por eles obtidos. Alm disso, potencializa a

    participao e o engajamento dos mesmos no processo de construo das informaes

    que podem ser divulgadas pelos meios.

    Soares (2001 e 2005) explica que a associao entre comunicao e educao

    vem sendo discutida desde a dcada de 50 por tericos e estudiosos da Amrica Latina,

    como Paulo Freire, Mrio Kapln, Jess Martin Barbero e Francisco Gutirrez. Noentanto, a partir de 1990 que esse debate se amplia e se torna mais efetivo em

    universidades, associaes de profissionais de comunicao e ONGs de pases latino-

    americanos. Busca-se criar uma proposta alternativa para a formao de comunicadores.

    Essas pessoas trabalharam com referenciais tericos e metodolgicos de vrias reas das

    cincias humanas e acabaram constituindo um movimento social em torno da cidadania,

    da democracia e em torno da luta para quebrar a hegemonia dos sistemas estabelecidos.

    Por isso, conforme explica o autor, a Educomunicao uma convergncia, no apenasentre educao e comunicao, mas entre todas as reas das cincias humanas. E vista

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    como fruto de uma prtica interativa, tendo como fora a busca da cidadania pela

    participao.

    Todavia, de acordo com Soares (2005), o conceito e o termo s foram adotados

    durante o Frum Mdia e Educao, realizado em So Paulo no ano de 1999 pelo

    Ministrio da Educao e outras organizaes da sociedade civil. Este frum situa e

    reconhece a Educomunicao ... como um novo campo de interveno social e atuao

    profissional, considerando que a informao fundamental para a Educao (idem,

    2005:113-4). Distingui-se que a informao pode ser trabalhada de forma mais

    apropriada, pertinente e efetiva por profissionais que atuem inter-relacionando o campo

    da comunicao e da educao, ou melhor, instituindo a Educomunicao que ,

    portanto, entendida como:

    ... o conjunto das aes inerentes ao planejamento, implementao eavaliao de processos, produtos e programas destinados a criar efortalecer ecossistemas comunicativos em espaos educativospresenciais ou virtuais, tais como escolas, centros culturais, emissorasde TV e rdio educativos, centros produtores de materiais educativosanalgicos e digitais, centros coordenadores de educao a distncia,ou e-learning, e outros... (SOARES apud SOARES, 2005:115).

    A partir deste debate, verificamos que existem vrias possibilidades de espaos

    para o desenvolvimento de trabalhos educomunicativos. Tendo como ao norteadora a

    gerao de ecossistemas educativos mediados por processos de comunicao e pelo uso

    de tecnologias de informao, verifica-se como resultado o acesso democrtico s

    formas de produo e difuso de informaes, o que promove a expresso comunicativa

    da comunidade escolar. Nesse sentido, percebemos que a Educomunicao tem como

    ensejo valores como igualdade, liberdade, transparncia e inventividade, tanto nos

    processos de recepo como na produo de informaes. Destacamos a importncia e

    necessidade de envolvimento e interao entre vrios agentes sociais em prol de umobjetivo maior, a implementao de situaes de ensino-aprendizagem significativas,

    processos estes em que os alunos das escolas se percebam sujeitos produtores de

    informao.

    Atualmente possvel identificar projetos em trs reas: 1) educao para a

    comunicao; 2) mediao tecnolgica na educao;3) gesto da comunicao e da

    informao pelo uso educativo de tecnologias. A primeira rea baseia-se nos estudos de

    recepo, voltando-se para as reflexes em torno da relao entre produtores, meios econsumidores da informao. Ela busca desenvolver programas pedaggicos para a ...

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    formao de receptores autnomos e crticos frente aos meios (SOARES, 2005:117,

    grifos do autor). Essa abordagem apresenta as tecnologias e linguagens da comunicao

    como instrumentos que constroem o pensamento e as formas de dilogo com a

    realidade, e, como estruturas indispensveis para a constituio do indivduo, das

    comunidades e da cidadania. Ela busca ensinar aos alunos como lidar com conflito,

    poder, ideologia, negociao, entre outras condies que envolvem a comunicao.

    A segunda rea compreende ... o estudo das mudanas civilizatrias

    decorrentes da incidncia das tecnologias no cotidiano das pessoas e grupos sociais,

    assim como o uso das tecnologias da informao nos processos educativos (SOARES,

    2005:119, grifos do autor). Conforme explica o autor, permite-se ao aluno compreender

    os processos globais de apropriao do saber, recebendo e oferecendo informaes

    atravs das tecnologias de comunicao e informao disponveis na sociedade. Do

    mesmo modo, amplia possibilidades de expresso e de produo cultural, bem como

    promove a interatividade e uso dos meios para aquilo que se tem interesse.

    A terceira e ltima rea caracterizada ... pelo planejamento, execuo e

    realizao de programas e projetos que se articulam no mbito da Comunicao /

    Informao / Educao, criando e implementando ecossistemas comunicacionais

    (SOARES, 2005:125, grifos do autor). Esses ecossistemas podem ser construdos

    intencionalmente a partir da vontade de agentes sociais. Nessa perspectiva, a

    Educomunicao institui desde a organizao do ambiente at o conjunto de aes que

    caracterizam determinados tipos de ao comunicativa, tudo para provocar a

    participao e a criatividade.

    O princpio bsico que sustenta a Educomunicao , segundo Soares (op. cit.), a

    relao dialgica e problemtica entre comunicao e educao, para permitir a ...

    criao de ecossistemas comunicativos abertos e eticamente comprometidos, cuja

    finalidade a formao da competncia comunicativa dos cidados (2005:115). Apartir do que nos esclarece a autora podemos considerar que a Educomunicao deva

    buscar a criao e o desenvolvimento de canais difusores de informaes e

    conhecimento no ambiente escolar, alimentados pelos prprios alunos e professores.

    Neste sentido, fundamental desenvolver metodologias no sentido de

    aperfeioar prticas de ensino na escola, situando os meios de comunicao como

    suportes que favorecem os processos de aprendizagem, um importante trabalho a ser

    desenvolvido por educomunicadores. Todavia, Flogi (op. cit.), alerta para o fato de que

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    ... a Educomunicao deve ser introduzida nos espaos educativos apartir das condies especficas que caracterizam os diferentesambientes, e, especialmente a partir das alianas possveis de seremfeitas entre os agentes sociais que atuam em determinado espaoeducativo (FLOGI, 2005 n.p.).

    Desse modo, preciso vislumbrar, principalmente, os benefcios que esse

    trabalho pode gerar e no limitar-se aos aspectos tcnicos e estruturais. Cientes de que

    as condies tcnicas e estruturais disponveis no educandrio, bem como as relaes

    com professores e alunos, que norteariam a viabilidade e realizao de nosso projeto,

    configuramos o projeto experimental Educomunicao e prticas jornalsticas, criando

    um ecossistema de comunicao na Escola Agostinha Dill, o qual passa a ser detalhado

    a partir de agora.

    O projeto e a prtica: encontros e desencontros

    A Escola Estadual de Ensino Mdio Agostinha Dill est localizada no municpio

    de Condormunicpio da Regio Noroeste do Rio Grande do Sul, com pouco mais de

    6,5 mil habitantes. Ao final de 2008, o educandrio atendia aproximadamente 700

    alunos, desde a educao bsica at o ensino mdio, contando com 38 professores e

    funcionrios. A estrutura fsica da escola est instalada sobre uma rea de dois hectares,

    contando com 14 salas de aulas dispostas em quatro prdios. Ainda existem laboratrios

    de cincias, vdeo e informtica, alm de biblioteca, ginsio poliesportivo, praas de

    recreao e refeitrio, entre outras dependncias administrativas. Dentre as atividades

    pedaggicas desenvolvidas na escola, destacam-se os trabalhos realizados a partir de

    oficinas de artes e projetos extracurriculares de cunho social, envolvendo teatro, danas,

    conscientizao ambiental, informativo em jornal local etc.

    Antes de desenvolvermos o projeto, soubemos por intermdio de um colega que

    alguns discentes buscavam a instalao de uma rdio-escola que funcionasse em

    ambiente virtual. Fomos ainda informados de que o informativo semanal da escola era

    organizado e produzido por um grupo formado por seis alunos, alguns do ensino mdio

    e outros do ensino fundamental. Integrantes desse grupo comearam a demonstrar

    interesse em desenvolver capacidades tcnicas para operar os equipamentos

    radiofnicos que a escola possua (uma mesa de som acoplada a um computador). O

    nmero de integrantes comeou a ficar insuficiente para dar conta da demanda dessesdois canais difusores de informao.

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    A partir deste momento e, recorrendo aos pressupostos da Educomunicao,

    buscamos desenvolver e realizar o projeto experimental em quatro etapas: 1) elaborar

    um plano de atividades5 aps levantamento de informaes sobre recursos que a escola

    podia oferecer; 2) realizar oficinas de comunicao e tcnicas jornalsticas para

    produo de notcias em rdio, jornal impresso e internet; 3) criar, junto com alunos,

    trs canais de comunicao um blog, um jornal-mural e uma rdio-escola para

    veicular as notcias e informaes produzidas nas oficinas; 4) produzir um registro

    audiovisual das atividades do projeto a fim de socializar as informaes e os resultados

    obtidos.

    O projeto experimental tinha como objetivo destacar a importncia da

    Educomunicao no ambiente escolar, apresentando-a como mtodo que auxilia nos

    processos de ensino-aprendizagem e, portanto, na formao de cidados crticos.

    Lembramos que, conforme os pressupostos da Educomunicao, na medida em que

    podemos compreender as linguagens miditicas e ter acesso aos recursos tecnolgicos

    utilizados pela mdia, as probabilidades de nos tornarmos pessoas mais crticas, mais

    atuantes na defesa de nossos prprios interesses, aumentam. Buscamos, assim,

    desmitificar a produo jornalstica e a sua aplicabilidade, bem como, incentivar o uso

    dos meios alternativos para comunicao no ambiente escolar.

    Especificamente, buscamos desenvolver na Escola Agostinha Dill uma prtica

    que pudesse ser vinculada aos demais mtodos didtico-pedaggicos utilizados no

    espao escolar, com a finalidade de contribuir para elevar o nvel de aprendizagem dos

    alunos da educao bsica. Para tanto, buscamos envolver alunos de 5 a 8 srie na

    realizao do projeto, dividindo-os em trs grupos, os quais que teriam orientaes

    sobre tcnicas de captao e produo de informaes em formato de notcias, atravs

    5

    Este plano deveria conter, segundo Consani (2007): 1) Nome do ecossistema escolar de comunicao(definindo tambm a identidade dos veculos que sero trabalhados); 2) Concepo: definio sucinta danatureza e do alcance do que se planeja, bem como a quem, ou ao que destinado; 3) Justificativa:descrio da demanda ou necessidade que se visa atender na escola; 4) Objetivos: devem ser amplos eabrangentes, sendo avaliados no trmino do trabalho. Devem ser qualificados como cumpridos e no

    cumpridos. Podem ser gerais (associados ao projeto pedaggico) e especficos (tarefas a seremcumpridas em consonncia como objetivo geral do projeto); 5) Metas: mensurveis, devem ser viveis.Ex. Quantos alunos sero beneficiados, durante quanto tempo, quantas horas de produo radiofnica porsemana etc.; 6) Desenvolvimento: cronograma e descrio das atividades; 7) Recursos materiais:equipamentos; bens consumveis, etc (verificar configuraes possveis e alternativas, bem comopropostas de oramentos - delegar); recursos humanos: equipe de trabalho e organizao, devendo atendera um organograma, em que cada um ter definido suas tarefas; 8) Conselho gestor: definio dosrepresentantes e suas atribuies; 9) Avaliao: no tem necessidade de ser associada a avaliao de

    desempenho dos alunos, mas os responsveis pelo projeto podero avaliar se as tarefas foram concludasou no; 10)Registro: forma de documentao das atividades, que iro formar o Memorial do Projeto, comrelatrios escritos, fotos, gravaes, vdeos, depoimentos, etc.

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    de oficinas ministradas pelos trs acadmicos do curso de comunicao, participantes e

    organizadores do projeto. A tentativa de envolver, preferencialmente, alunos que

    apresentassem dificuldade em sala de aula no prosperou, de modo que optamos por

    fazer uma pesquisa de campo, visando identificar quem tinha ou no interesse em

    participar. Essa pesquisa foi realizada em horrio de aula, durante um turno de trabalho,

    no qual puderam ser convidados, aproximadamente, 200 alunos de 5 a 8 sries do

    Ensino Fundamental. Destes, mais de 60 demonstraram interesse em participar.

    O fato de a escola j possuir um grupo de estudantes envolvidos nos processos

    de comunicao nos levou a formar um grupo de apoio que, mais tarde, se tornaria

    responsvel pela operacionalizao dos canais a serem criados. Essa equipe de

    estudantes auxiliou na definio do nome do ecossistema, bem como na organizao das

    atividades de forma mais geral. Para orient-los, realizamos alguns encontros, tarde,

    nos quais repassamos as tcnicas para produo de informaes jornalsticas trabalhadas

    nas oficinas realizadas pela manh e tcnicas para diagramao das informaes no

    jornal-mural e no blog, bem como para a produo e edio de programas sonoros,

    utilizando os programas PageMaker, Word, Internet Explorere Sound Forge.

    Conforme havamos planejado no oramento e custos do projeto, utilizamos para

    realizao das oficinas e implementao dos veculos, os recursos que a escola ofereceu:

    laboratrio de informtica com acesso internet, uma sala de aula equipada com

    cadeiras e classes, lousa, giz e com espao para aproximadamente 50 alunos, data-show,

    caixas de som e microfone, cmera fotogrfica, entre outros materiais de apoio.

    A idia de criar e manter, junto com os alunos, trs canais de comunicao um

    blog, um jornal-mural e uma rdio-escola em ambiente virtual tinha como objetivo

    conquistar novos espaos de comunicao no ambiente escolar, espaos estes criados,

    organizados e mantidos pelos prprios estudantes. Quanto periodicidade dos canais,

    estes tiveram de ser adequados quando a produo de informaes estruturadas emforma de matrias jornalsticas para os trs meios tornou-se efetiva. Verificamos, no

    entanto, que a realidade no dava conta de pretenses, ingenuamente impraticveis,

    principalmente para a rdio-escola, que acabou sendo reduzida a trs programas

    radiofnicos, com durao de 30 minutos cada, em funo de que acarretaria despesas

    extras e devido desistncia por parte dos alunos que ficaram responsveis por

    operacionaliz-la. A perspectiva de atualizar o blog semanalmente, tambm no foi

    possvel, adequando-se para quinzenal. O jornal-mural foi o nico que manteve aperiodicidade conforme o planejado: resultou em trs edies quinzenais, com 5

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    exemplares distribudos em dois corredores, refeitrio, reas de lazer e secretaria.

    Buscamos, conforme o planejado, anexar o jornal-mural, em locais de fcil acesso e de

    boa visibilidade; onde as pessoas tinham espao suficiente para lerem as notcias, sem

    perturbar a movimentao interna ou fazer aglomeraes em locais no indicados.

    O mote principal do projeto era a produo jornalstica, em formatos sonoros e

    grficos, sendo este ltimo constitudo de texto e imagem fotogrfica. Para tanto,

    tcnicas de redao, fotografia, expresso oral, planejamento grfico, entrevistas,

    programao musical, estrutura da notcia, entre outras, englobaram as atividades

    desenvolvidas durante as oficinas, conforme o planejado no projeto experimental. Para

    dar sustentao s tcnicas desenvolvidas, realizamos, constantemente, pesquisas

    bibliogrficas. O estmulo pesquisa e produo de informaes a fim de nutrir esses

    canais, outro objetivo especfico do projeto, era uma constante nos debates promovidos

    durante as oficinas.

    Tnhamos, ainda, o desejo de que, aps o trmino do trabalho desenvolvido pelo

    grupo acadmico, a escola mantivesse os meios de comunicao criados e

    desenvolvidos pelos alunos. Entretanto, a idia de realizar oficinas para os discentes,

    visando orient-los tecnicamente para adequar contedos que estivessem sendo vistos

    dentro da sala de aula com tcnicas de produo jornalstica, de modo que, mais tarde,

    eles pudessem dar continuidade aos trabalhos do projeto, no se efetivou.

    Inicialmente, realizamos contatos com os professores que demonstraram

    interesse pela proposta, a fim de verificar a viabilidade de implementao do projeto na

    escola. Por meio destes contatos foi possvel coletar as informaes sobre condies e

    aparatos tcnicos no educandrio, bem como recursos humanos disponveis para

    formao de uma equipe capaz de dar conta de atender as necessidades e demandas do

    projeto. Conforme havamos planejado, tambm apresentamos o projeto direo,

    obtendo aprovao e apoio. Na sequncia, o projeto foi apresentado aos professores, osquais se mostraram muito entusiasmados e tambm nos deram apoio. Aproveitamos a

    oportunidade para ressaltar a importncia da Educomunicao no contexto escolar, e, a

    partir disso passamos a executar o projeto com a participao dos alunos.

    Acreditvamos que todos os envolvidos deveriam ter as mesmas informaes do

    projeto, compartilhar os mesmos objetivos etc. Inclusive, entregamos uma cpia do

    projeto para a escola, possibilitando que os professores e alunos pudessem consultar o

    projeto sempre que necessrio. Todavia, o plano de atividades era a chave principal paraa eficcia do projeto. Embora no projeto constasse a descrio sucinta de itens como

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    objetivos, cronograma e atividades, o plano poderia descrever todas as informaes de

    forma mais detalhada e especfica. Infelizmente, essa etapa no foi efetivamente

    concluda. Chegamos a desenvolver alguns itens durante a execuo do projeto. Junto

    com a equipe responsvel pela operacionalizao, conseguimos definir um nome que

    identificaria o ecossistema de comunicao que estava sendo construdo atravs do

    projeto. Os trs canais e seus membros foram denominados GEADCOM Grupo

    Escolar Agostinha Dill de Comunicao. Inclusive, um conjunto de logomarcas foi

    criado para identificar o grupo, sendo estas utilizadas no blog e no jornal-mural.

    Sabamos, desde o incio que, pela natureza de nosso projeto (essencialmente

    institucional e financiado com recursos prprios nossos e da escola) conseguiramos

    atingir, no mximo, a comunidade escolar. E, de fato, esse era o pblico que

    buscvamos atingir, pois eram os principais destinatrios de nosso projeto.

    Surpreendeu-nos a construo de parcerias com veculos de comunicao locais (jornais

    e rdios) e empresas que financiaram a divulgao das produes sonoras e do jornal-

    mural. A rdio comunitria de Condor contribuiu para a divulgao dos programas

    radiofnicos elaborados pelos alunos, rodando-os na ntegra durante sua programao.

    Essa foi uma alternativa buscada, tendo em vista que a implementao de uma rdio-

    escola em ambiente virtual tornou-se invivel para a escola Agostinha Dill, conforme

    mencionamos anteriormente.

    Um dos aspectos que no avaliamos foi o atendimento as demandas da escola.

    Na poca, ela necessitava de mais recursos humanos para viabilizar a produo e edio

    de informaes nos dois canais de comunicao, um que j estava em funcionamento (o

    informativo) e outro que estava para ser criado (rdio-escola em ambiente virtual). Se

    considerarmos que essa era a principal demanda, no s capacitamos mais alunos para

    produzir informaes e manter canais de comunicao na escola, como tambm criamos

    e oferecemos outras possibilidades atravs do jornal-mural e do blog.Embora no tenhamos definido metas especficas, conseguimos atingir toda a

    comunidade escolar, seja atravs da participao em oficinas, ajudando a alimentar e

    manter durante trs meses os canais de comunicao criados; seja atravs de entrevistas

    cedidas aos alunos participantes que asseguravam, ao interpelar professores, pais,

    funcionrios da escola e outros alunos, o carter jornalstico da informao. Ainda, as

    produes foram divulgadas nos canais criados, estando estes disponveis para toda a

    comunidade escolar e, no caso do blog, para quem quisesse acessar por meio do site:www.geadcom.wordpress.com. Os pais dos alunos participantes das oficinas tambm

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    puderam apreciar o trabalho desenvolvido por seus filhos em nosso ltimo encontro. Foi

    realizado um evento de confraternizao para marcar o encerramento do projeto,

    momento em que foram entregues certificados aos estudantes que participaram at o

    final, como forma de incentivo e reconhecimento.

    A principal dificuldade durante a realizao do projeto foi de mobilidade, j que

    tnhamos que realizar as oficinas no turno da manh turno inverso ao das aulas e

    dependamos de nibus intermunicipal para nos deslocar de Iju a Condor. Por isso,

    tivemos que adequar o cronograma, reduzindo o prazo para realizao do projeto para

    trs meses. Durante esse perodo fomos todas as semanas para a escola, ao menos uma

    vez para desenvolver as oficinas e orientar a operacionalizao dos veculos que

    comearam a ser editados, efetivamente, no final do segundo ms do projeto. A

    continuidade nesta construo era considerada essencial no estabelecimento de um

    vnculo de confiana com professores e estudantes.

    Outra dificuldade refere-se organizao de atividades e delegao de tarefas

    para a equipe responsvel por operacionalizar os canais. Percebemos, no decorrer das

    atividades, que se os estudantes no fossem acompanhados diariamente, logo

    demonstrariam interesse por outras atividades, resultando na desistncia do projeto. Ao

    final tnhamos um grupo 25 participantes. Avaliamos que este processo ocorreu porque

    no conseguimos formar na escola um conselho ou comit gestor para dar sequncia s

    atividades e orientar o trabalho que estava sendo realizado. Acreditamos que houve

    resistncia por parte dos professores, em funo do ritmo de atividades que estava sendo

    desenvolvido na escola e devido carncia de discentes para dar conta dessas outras

    atividades.

    Ao olharmos novamente para a experincia realizada, podemos considerar que

    os objetivos gerais do projeto foram alcanados. Os estudantes que participaram

    efetivamente mostraram-se interessados e comprometidos com as idias. Trabalharamintensamente na produo de informaes, o que permitiu criar e desenvolver os trs

    canais de comunicao inicialmente propostos. Mas, sobretudo, puderam expressar suas

    opinies a respeito da prtica que lhes possibilitou desenvolver vrias atitudes,

    habilidades e capacidades, tais como iniciativa, curiosidade, criatividade, interesse pelos

    acontecimentos pblicos e locais, interlocuo e interao junto a outras pessoas,

    manuseio de programas no computador para pesquisa, para digitao e organizao de

    textos, tcnicas fotogrficas, etc. O grupo acadmico registrou todas essas conquistas

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    atravs de fotos e imagens audiovisuais durante o projeto e elaborado, ao final do

    mesmo, um vdeo-documental de aproximadamente 13 minutos.

    Contudo, apesar das prticas desenvolvidas durante o projeto terem se revelado

    potencialmente criativas e educativas, estas no puderam ser incorporadas como

    mtodos de ensino na escola. Aps o final do projeto, os alunos e professores se

    depararam com as restries econmicas do educandrio que podem no potencializar

    estas prticas, tendo em vista que se trata de uma escola mantida pelo estado. O jornal-

    mural no continuou devido aos custos de impresso e a rdio-escola no foi efetivada,

    tambm, em parte, porque a escola teria que adquirir outros equipamentos. O blog foi o

    nico canal de comunicao que os alunos mantiveram em funcionamento aps o final

    do projeto, todavia, a ltima atualizao foi em dezembro de 2008, prova de que o

    trabalho no teve continuidade, pelo menos, no nos moldes do projeto que

    desenvolvemos.

    Consideraes finais

    Muitos profissionais em educao no sabem como a comunicao pode ser

    utilizada em sala de aula de forma a agregar no processo de ensino-aprendizagem.

    Outros profissionais, com viso conservadora sobre a prtica pedaggica, criam

    barreiras para inserir a comunicao e mdias nas aulas. Quando so realizadas

    atividades desta natureza, os profissionais da escola limitam-se a analisar os contedos

    miditicos, produzindo uma viso errnea do que se prope a mdia, pois a

    responsabilizam pelos problemas que acontecem na sociedade, o que resulta no

    afastamento e indeferimento da importncia da comunicao social no contexto escolar.

    importante destacar, nesta perspectiva, que a Educomunicao ultrapassa a

    questo de anlise de contedo da mdia para tratar a comunicao como elementoessencial para apropriao de conhecimento e formao de cidados crticos frente aos

    sistemas estabelecidos na sociedade. Dentre as metodologias utilizadas em trabalhos de

    Educomunicao, destacamos a utilizao de canais de comunicao no ambiente

    escolar, criados e desenvolvidos pelos prprios alunos e professores.

    As transformaes que resultam dessa experincia, sem dvida so

    enriquecedoras. O cultivo de relaes simtricas e bidirecionais entre educando e

    educadores; o compartilhamento de situaes e processos criativos para a construo doconhecimento; a transversalidade do discurso no sentido de se conduzir a um

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    pensamento transdisciplinar, o qual libera o fazer educativo dos cnones ritualizados,

    das grades curriculares engessadas e de todo um conjunto de procedimentos regimentais

    anacrnicos; e, finalmente, a devoluo da centralidade da dimenso afetiva a educao,

    utilizando-se para isso a expresso comunicativa atravs da arte, so exemplos de

    resultados que podem ser obtidos com a Educomunicao.

    Salientamos, contudo, que existe a necessidade de se criarem polticas efetivas

    que garantam recursos para que a Educomunicao possa ser praticada na escola. E h,

    tambm, necessidade de disseminar os pressupostos de tais prticas. Aprendemos que,

    com amplo conhecimento e apoio, projetos de Educomunicao podero vingar e

    resultar naquilo que se espera: a formao de pessoas crticas e cidads.

    Referncias bibliogrficas

    BACCEGA, Maria Aparecida. Comunicao e educao. In: FGARO, Roseli (org).Gesto da Comunicao: no Mundo do Trabalho, Educao, Terceiro Setor eCooperativismo. So Paulo: Atlas, 2005. p. 47 p. 52.

    CITELLI, Adilson. Comunicao e educao: aproximaes. In: BACCEGA, MariaAparecida (org). Gesto de Processos Comunicacionais. So Paulo: Atlas, 2002. p. 101 p. 112.

    CONSANI, Marciel. Como usar o rdio na sala de aula. So Paulo: Contexto, 2007.187 p. (Coleo como usar na sala de aula)

    FLOGLI, Marcelo. A produo de audiovisual luz da educomunicao. 2005. Disp.em: Acessoem 25.06.07.

    SETTON, Maria da Graa Jacintho. A educao popular no Brasil a partir da cultura demassa: uma abordagem sociolgica. In: FGARO, Roseli (org). Gesto daComunicao: no Mundo do Trabalho, Educao, Terceiro Setor e Cooperativismo. So

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    SOARES, Ismar de Oliveira. A educomunicao como processo de gesto participativa.In: FGARO, Roseli (org). Gesto da Comunicao: no Mundo do Trabalho, Educao,Terceiro Setor e Cooperativismo. So Paulo: Atlas, 2005. p. 53 p. 59.

    ________. Caminhos da Educomunicao. So Paulo: Salesianas, 2001.