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A Comunicação Política na Era da Internet João Canavilhas Universidade da Beira Interior Índice Introdução 1 1 Comunicação política 2 2 Dispositivos 4 2.1 Dispositivos Tradicionais .... 5 2.2 Novos dispositivos ....... 6 3 Os novos dispositivos de comunicação política 11 Bibliografia 13 Palavras-chave: e-política, marketing, novos meios. Introdução Os sistemas político e mediático têm um per- curso comum pautado por interesses diver- gentes. Se os políticos encontram nos media a forma mais eficaz para chegarem aos cida- dãos, os media procuram na política os acon- tecimentos que interessam às audiências, o que por vezes contraria os interesses dos po- líticos. Neste jogo de equilíbrios, políticos e media tentam retirar mais-valias da rela- ção. Os políticos pretendem fazer chegar uma determinada mensagem ao público, pro- curando formas de anular ou reduzir a inter- ferência do jornalismo no conteúdo. Porém, a mensagem tem de passar por um processo de selecção e codificação assente em valo- res jornalísticos que tendem a retirar à men- sagem inicial parte da sua carga persuasiva. Nesta negociação entre interesses, princípios e objectivos, surge naturalmente o conflito, com ambas as partes a procurarem formas de reduzir a dependência mútua. Os cidadãos não ficam alheios à contenda entre política e jornalismo, valorizando mais uma das partes envolvidas ou, como acon- tece nos últimos anos, pondo ambas em causa. Desfeita a confiança entre os três vértices deste triângulo, cada uma das par- tes procura novas formas de legitimação, no caso dos dois primeiros, ou alternativas de acesso à informação, no caso dos cidadãos. Um dos exemplos deste divórcio ocorreu nas eleições norte-americanas de 1992, en- tre George Bush, Bill Clinton e Ross Perot: pela primeira vez, cidadãos e políticos deixa- ram de confiar na imprensa com intermediá- rio (Salgado, 2002). A solução encontrada foi procurar formatos que não implicassem a mediação jornalística, como os talk shows e os town hall meetings televisivos, dois for- matos que agradam aos cidadãos porque têm a oportunidade de colocar perguntas directa- mente aos candidatos. Outra alternativa aos meios tradicionais é a Internet. Graças a este novo meio, a polí- tica parece ter encontrado uma forma de re-

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A Comunicação Política na Era da Internet

João CanavilhasUniversidade da Beira Interior

ÍndiceIntrodução 11 Comunicação política 22 Dispositivos 42.1 Dispositivos Tradicionais . . . . 52.2 Novos dispositivos . . . . . . . 63 Os novos dispositivos de comunicação

política 11Bibliografia 13

Palavras-chave: e-política, marketing,novos meios.

IntroduçãoOs sistemas político e mediático têm um per-curso comum pautado por interesses diver-gentes. Se os políticos encontram nos mediaa forma mais eficaz para chegarem aos cida-dãos, os media procuram na política os acon-tecimentos que interessam às audiências, oque por vezes contraria os interesses dos po-líticos. Neste jogo de equilíbrios, políticose media tentam retirar mais-valias da rela-ção. Os políticos pretendem fazer chegaruma determinada mensagem ao público, pro-curando formas de anular ou reduzir a inter-ferência do jornalismo no conteúdo. Porém,a mensagem tem de passar por um processo

de selecção e codificação assente em valo-res jornalísticos que tendem a retirar à men-sagem inicial parte da sua carga persuasiva.Nesta negociação entre interesses, princípiose objectivos, surge naturalmente o conflito,com ambas as partes a procurarem formas dereduzir a dependência mútua.

Os cidadãos não ficam alheios à contendaentre política e jornalismo, valorizando maisuma das partes envolvidas ou, como acon-tece nos últimos anos, pondo ambas emcausa. Desfeita a confiança entre os trêsvértices deste triângulo, cada uma das par-tes procura novas formas de legitimação, nocaso dos dois primeiros, ou alternativas deacesso à informação, no caso dos cidadãos.

Um dos exemplos deste divórcio ocorreunas eleições norte-americanas de 1992, en-tre George Bush, Bill Clinton e Ross Perot:pela primeira vez, cidadãos e políticos deixa-ram de confiar na imprensa com intermediá-rio (Salgado, 2002). A solução encontradafoi procurar formatos que não implicassem amediação jornalística, como os talk shows eos town hall meetings televisivos, dois for-matos que agradam aos cidadãos porque têma oportunidade de colocar perguntas directa-mente aos candidatos.

Outra alternativa aos meios tradicionais éa Internet. Graças a este novo meio, a polí-tica parece ter encontrado uma forma de re-

2 João Canavilhas

tomar o contacto directo com o eleitorado,evitando assim uma intermediação jornalís-tica que não controla. Nas Presidenciaisamericanas de 2004, a blogosfera foi um fe-nómeno em foco, com Howard Dean, candi-dato à nomeação democrata, a ser o primeiroa criar um blogue1: esta aposta na Internetpermitiu-lhe abrir vias directas no contactocom o eleitorado e arrecadar 15 milhões dedólares para apoio à campanha. Na corridaà Casa Branca, Bush e Kerry também apos-taram neste novo dispositivo, criando diáriosde campanha na blogosfera.

Na mais recente campanha norte-americana a Internet foi de novo umelemento importante na manobra de umcandidato, Barack Obama, que utilizouquase todas as aplicações online disponíveisno momento. Obama criou espaços nasvárias redes sociais, (Obama Everywhere)e só no Facebook chegou aos 320 mil uti-lizadores. Para além deste contacto directocom o eleitorado, o candidato arrecadouainda 28 milhões de dólares de apoio, o quelhe permitiu manter alguma distância emrelação aos grupos de pressão.

Também em Portugal está a crescer a ade-são dos partidos aos novos dispositivos. Oexemplo mais recente ocorreu no início de2009, com a Presidência da República aanunciar o reforço da sua presença na In-ternet. Foram criados canais no YouTubee no Sapo Vídeos, presença na comunidadeFlickr e na rede Twitter, “com o objectivo dedisponibilizar informação actualizada sobreas actividades do Presidente da República”2.No dia 30 de Janeiro, quatro dias depois do

1 http://www.blogforamerica.com2 http://www.presidencia.pt/?idc=10&idi=23706

seu lançamento, o vídeo de apresentação noSapo Vídeos registava já 3264 visitas.

A presença na Internet não é uma novi-dade para os cinco maiores partidos políti-cos portugueses, mas só muito recentementecomeçaram a oferecer algo mais do que umsite com textos e fotos. O sucesso da blo-gosfera, a partir de 2003, demonstrou queas novas aplicações (a que chamaremos dis-positivos) não eram um fenómeno exclusivodas novas gerações, mas o início de um fenó-meno com potencial para se alargar a toda asociedade. A adesão às redes sociais e, maisrecentemente, ao Twitter, confirmaram essatendência, e hoje estes novos dispositivos on-line fazem parte do quotidiano de milhões decidadãos em todo o mundo.

Apesar deste sucesso, subsistem algumasdúvidas em relação à eficácia destes meiosna comunicação política, ou à forma comodevem ser usados no mix de comunicaçãodos partidos. Estas aplicações informáticassubstituem a forma tradicional de contactaros eleitores ou devem complementar as ac-ções de campanha tradicionais? E como ge-rir cada uma destas aplicações para que fun-cionem como um ecossistema eficaz e nãocomo uma amálgama de dispositivos semfunção? A resposta a estas perguntas é oobjectivo deste trabalho, recorrendo-se paraisso à análise da bibliografia e à observaçãoda realidade portuguesa.

1 Comunicação políticaO conceito de comunicação política tem evo-luído ao longo dos tempos. Do estudo dasrelações entre governos e eleitorado, o seuobjecto progrediu para um campo mais vastoque inclui tudo o que está relacionado como papel da comunicação na vida política, no-

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meadamente o estudo dos discursos e com-portamentos dos três actores envolvidos: po-líticos, jornalistas e opinião pública, atravésdas sondagens (Wolton,1995).

A comunicação política assumiu assim umpapel importante no funcionamento dos sis-temas democráticos por centrar a sua aten-ção em alguns fundamentos das democraciascomo a cidadania do conhecimento, enten-dida como o acesso a informação relevantenão distorcida, ou o livre acesso aos espaçosde debate onde os cidadãos podem deliberare desenvolver os seus próprios argumentos(Barnett, 1997).

Se o acesso à informação não distorcidaé condicionado pela intervenção do terceiroelemento do sistema - a comunicação so-cial - o acesso aos espaços de debate temvindo a melhorar graças à Internet. Os blo-gues, por exemplo, são um dispositivo de su-cesso junto dos cidadãos. Trata-se de umnovo terreno onde os cidadãos, individual-mente ou em grupo, apresentam opiniões, re-agem a posições políticas, trocam argumen-tos e questionam a acção dos políticos (Cor-reia, 1998).

Num inquérito3 realizado a cidadãos comblogues ligados à política, as razões maisapontadas para a continuação da actividadeforam a participação cívica na sua comuni-dade (76,5%), constituir uma alternativa aosmedia tradicionais(70,6%) e a vontade de in-formar os leitores (82,4%).

Em relação aos efeitos, os bloguers di-

3Foram enviados questionários aos blogues parti-cipantes no estudo Blogues Políticos: o dispositivocriou novo actores? (Canavilhas, 2004). Dos 35 de2004, sobreviveram apenas 19 e destes responderam17. Em relação ao estudo anterior, em 35% dos blo-gues entraram novos autores e em 25% saíram algunselementos.

zem ter conseguido algum reconhecimentopúblico (53%), materializado em convi-tes para comentar acontecimentos nos me-diatradicionais (58,8%), na transcrição depostsnos jornais (76,5%) ou na abordagemde cidadãos que os interpelam por causa dospostspublicados (76,5%). O maior efeitodos blogues parece ser a criação de ligaçõesa pessoas com interesses comuns (94,1%),confirmando-se assim a natureza eminente-mente social desta aplicação. Para con-cluir, os bloguers referem que escrever postscontinua a ser uma actividade gratificante(82,4%).

Se na perspectiva dos bloguers tudo parecefuncionar, no campo das audiências os dadossão algo contraditórios. De acordo com o re-latório Bloguers e Blogosfera.pt (Obercom,2008), quase um quinto da população portu-guesa (79,9%) desconhece o que é um blo-gue. Mesmo entre os utilizadores da Inter-net, a blogosfera está longe de ser conhecida,pois apenas metade dos inquiridos (44,9%)respondeu saber o que é um blogue. Deacordo com o mesmo relatório, os bloguespolíticos são procurados apenas por 3,7%dos habituais leitores de blogues, o que re-duz ainda mais a importância da blogosferapolítica. Como se explica então a força quealguns blogues têm? A resposta parece clara:pela visibilidade que lhes é dada pelos mediatradicionais (Canavilhas, 2004) em notícias,transcrição de textos e convites para partici-pação em programas. Para além disso, comobem notam Drezner & Farrell (2004), é ine-gável que existe uma forte ligação entre as“elites dos media” (editores, repórteres e co-lunistas) e a blogosfera política, com estaselites a procurarem nos blogues as informa-ções e opiniões que precisam para os seustrabalhos.

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Directa ou indirectamente, os novos dis-positivos começam a ter um papel impor-tante no processo de comunicação política,porque dão voz aos cidadãos. Veja-se o casoda blogosfera: ao funcionar como watchdogdo jornalismo„ os blogues reforçam a impor-tância da sociedade civil, reduzindo a possi-bilidade do sistema político influenciar o sis-tema informativo (Gomes, 2004), um dadoimportante se tivermos em conta que os massmedia ainda são o dispositivo mais poderoso.

2 DispositivosA percepção que os cidadãos têm dos po-líticos é condicionada por aquilo que lhesé transmitido pelos vários dispositivos decomunicação, nomeadamente os media. Aimagem projectada é previamente estudadapelas assessorias, com o objectivo de explo-rar convenientemente as diferentes caracte-rísticas de cada dispositivo de comunicação.Torna-se assim evidente a importância des-tes “palcos” na construção da imagem de umpolítico, e por isso tem crescido o recursoaos chamados spin-doctors, verdadeiros cri-adores de imagens que utilizam todas as es-tratégias e dispositivos ao seu dispor com ointuito de favorecerem o político para quemtrabalham.

Por dispositivo entendemos qualquer ele-mento que permite ao político ter contactocom os eleitores, seja individualmente ou emgrupo. As diferenças entre estes dispositivosverificam-se a seis níveis:

a) Acesso: o acesso à mensagem pode serdirecto ou indirecto. Dizemos que é directoquando não há qualquer mediador entreemissor e receptor. Nesta situação, o políticotem o controlo total sobre o conteúdo, o que

é uma vantagem, mas está sujeito a umareacção imediata imprevisível. O problemanão é tanto a reacção do cidadão, mas o factode ela ser presenciada por jornalistas o que,sendo uma reacção negativa, prejudicaria aimagem do político. A notícia desta reacçãoenquadra-se já no campo do acesso indirectoà mensagem, pois os cidadãos têm contactocom o acontecimento através de conteúdoscodificados por jornalistas que, devido àscondições do meio e à intermediação, podemreflectir melhor ou pior a realidade.

b) Características: refere-se à formaque assume a mensagem. Dependendo doformato (vídeo, áudio, papel) e do suporte(televisão, rádio, imprensa escrita ou Inter-net), a mensagem terá diferentes impactosjunto dos cidadãos, não só pela força dosconteúdos junto dos receptores, como peladimensão da audiência.

c) Dimensão da audiência: quantidadede pessoas que, potencialmente, pode rece-ber a mensagem. Por razões óbvias, esta éa variável mais valorizada pelos políticos.A maior parte das acções de campanha sãoprogramadas de acordo com as agendas dosmedia, garantindo-se assim a cobertura doacontecimento, o que aumenta a audiência.A dimensão está intimamente ligada com osuporte de distribuição.

e) Distribuição: Forma como a mensa-gem chega aos cidadãos. A distribuiçãopode ser em massa ou pessoal. Os meios decomunicação integram-se no primeiro caso,enquanto as acções de rua e as sessões deesclarecimento, por exemplo, se inscrevemna distribuição pessoal.

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f) Tempo de emissão/recepção: trata-sedo espaço temporal que decorre entre aprodução da mensagem e a sua chegada aodestino. É simultânea no caso dos comíciose das acções de rua, e diferida no caso datransmissão via media ou dos panfletos, porexemplo. A simultaneidade tem a vantagemdo político receber um feedback directo eimediato, um aspecto importante no decursode campanhas, pois é uma oportunidadepara repensar estratégias.

g) Custos de produção: despesas relati-vas à criação e distribuição das mensagens.Meios baratos, como os cartazes que eramcolados por militantes, tornaram-se maiscaros, devido à profissionalização das estru-turas de campanha, e algo ineficazes, devidoà crescente preocupação dos eleitores comquestões ecológicas. Já o recurso aos meiosaudiovisuais é mais caro, pois ainda quea exibição seja integrada nos tempos deantena, a produção é cara. Apesar disso,os custos devem ser estudados em termosde custo por contacto e não em termosabsolutos.

Estas seis características, combinadas dediferentes formas, transformam cada dispo-sitivo num suporte de campanha único queserve objectivos específicos no mix de comu-nicação dos políticos.

2.1 Dispositivos TradicionaisNeste trabalho chamamos dispositivos tradi-cionais aos vários mecanismos de campanhautilizados pelos políticos na era pré-Internet.São, evidentemente, dispositivos que con-tinuam a ser utilizados, mas que nalguns

casos perderam a importância do passado.

i) Meios de comunicação social.Pela capacidade que têm para influenciar

a opinião pública, os media são o disposi-tivo mais poderoso, e por isso o mais procu-rado pelos políticos, mas é também o dispo-sitivo que os políticos menos podem influen-ciar. A legitimidade dos meios de comunica-ção advém justamente do direito à informa-ção livre e à crítica (Wolton, 1995), pelo queao fiscalizarem os políticos procuram justa-mente marcar a sua posição de independên-cia. O jornal Expresso é um bom exemplodisso mesmo, ao ter ganho parte do seu pres-tígio no período em que manteve uma pos-tura crítica em relação ao primeiro-ministroPinto Balsemão (1981-83), dono do própriojornal.

É neste contexto que surgem os asses-sores, profissionais que procuram criar asmelhores condições para que a actividadedos políticos mereça a atenção dos media.Marcam-se conferências de imprensa noshorários dos telejornais para se conseguir umdirecto, programam-se acções de campanhaem função das horas de fecho dos jornaisou contactam-se militantes para fazerem in-tervenções nos fóruns radiofónicos, como sefossem meros cidadãos. Tudo para ganharespaço nos meios de comunicação, conse-guindo assim atingir uma audiência amplae heterogénea com custos muito reduzidose sem a marca de uma acção de campanhaeleitoral. Os spin-doctors são hoje uma peçafundamental em qualquer estrutura de po-der, assegurando que a informação sobre asua organização veiculada pelos mass mediamaximiza as facetas positivas e minimiza ouomite os aspectos negativos.

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Para além da informação, os meios decomunicação são ainda o suporte dos temposde antena, conteúdos cujas audiências sãointeressantes, mas que perdem importânciapor se enquadrarem num espaço identificadopelos cidadãos como “propaganda”, comtoda a carga negativa que lhe está subjacente

ii) Acções de campanha no terrenoNeste grupo enquadram-se os comícios,

colóquios, sessões de esclarecimento e vi-sitas a locais públicos. Se inicialmente es-tas acções tinham como objectivo primordialo contacto com as populações, actualmentesão vistas como uma forma de garantir a tãoansiada cobertura mediática, aumentando as-sim a dimensão da audiência.

Dependendo do tipo de campanha, estasacções podem ter mais ou menos impor-tância: numas eleições autárquicas, as ac-ções de rua são importantes porque existegrande proximidade entre candidatos e elei-tores, aproveitando estes últimos para colo-car ao candidato problemas mais pessoais.

Já os comícios têm vindo a perder impor-tância. Mais do que divulgar a mensagem,estes eventos serviam para demonstrar aforça das candidaturas em determinadaslocalidades. A partir do momento em que ospartidos começaram a disponibilizar trans-portes e a convidar músicos para actuações,este dispositivo perdeu importância: as as-sistências nada dizem acerca da capacidadede mobilização dos partidos e por isso oscomícios são mais um espectáculo montadopara os media.

iii) Suportes de propagandaCartazes, panfletos, autocolantes e brin-

des são alguns dos suportes utilizados pelospolíticos nas campanhas, cada um com uma

função muito específica. Nos mais recentesactos eleitorais, os tradicionais cartazes têmvindo a ser substituídos pelos mupis (mo-biliário urbano), uma forma mais ecológicade divulgar a mensagem. Para além de pro-moverem o político/partido, os cartazes têmainda um efeito psicológico junto dos mili-tantes do respectivo partido, pois mostramuma presença forte e funcionam como cata-lizador.

Os panfletos, autocolantes e brindes ser-vem fundamentalmente para criar uma liga-ção entre os candidatos e os eleitores. Aoferta permite a aproximação, pois quebra ogelo inicial e dá ao candidato a possibilidadede se apresentar. São ainda uma forma demultiplicar a divulgação da mensagem, umavez que as pessoas usam essas ofertas. Ape-sar destas vantagens, o recurso a brindes éum dispositivo caro e tende criar ruído nomomento da distribuição, com os cidadãosa ignorarem completamente a mensagem.

2.2 Novos dispositivosA partir da segunda metade da década de90, os partidos encontraram na Web umanova ferramenta para o processo de comu-nicação política. Após uma fase inicial algoincipiente, em que os sites serviam apenaspara disponibilizar os programas eleitorais,a oferta diversificou-se, com novos conteú-dos e novas aplicações. Esta diversidade per-mite dizer que actualmente os dispositivosonline reúnem quase todas as característicasdos dispositivos tradicionais, permitindo umacesso directo ou indirecto, em tempo realou diferido, assumindo qualquer formato etendo uma audiência global sem perder apossibilidade do contacto pessoal.

Face às enormes potencialidades destes

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dispositivos, os partidos apostaram naInternet e a investigação encontrou umanova área de estudos, a chamada Computer-Mediated Political Communication (Morrisand Ogan, 1996). Os primeiros estudos em-píricos divergiam nas abordagens ao tema,mas tinham algo em comum: concluíamque os sites partidários têm uma funçãoinformativa, fornecendo dados biográficosdo candidato ou do partido, programaseleitorais e agendas dos candidatos, masdesprezando a interactividade com os elei-tores (Schweitzer, 2005). Negligenciava-seassim uma das características mais pode-rosas da Internet - a interactividade - quepermite a cidadãos e políticos uma relaçãosimétrica, entendida como um processo decomunicação bidireccional em que ambosinfluenciam e são influenciados (Lilleaker,2006): os políticos fazem chegar a sua men-sagem directamente aos cidadãos, e estescolocam algumas das suas preocupaçõesna agenda dos políticos. A esta importantevantagem dos novos dispositivos onlinepodemos ainda juntar quatro característicasque podem influenciar o processo de co-municação política e o funcionamento dasdemocracias (Barnett, 1997).

a) Capacidade tendencialmente ilimi-tada de reunir e distribuir informação: aocontrário dos meios tradicionais, que estãocondicionados pelos espaços destinados adeterminado tipo de informação, na Webé possível disponibilizar a informação embruto, fornecendo aos cidadãos todos osdados;

b) Possibilidade dos cidadãos poderemcomunicar entre si, independentementeda sua localização geográfica: os novos

dispositivos permitem anular o espaço e otempo, colocando os cidadãos em contactocom outros de regiões diferentes;

c) Acesso à informação sem qualquer tipode constrangimento: contrariamente ao quesucede nos media tradicionais, os cidadãospodem aceder à informação quando e comodesejam, sem necessidade de se sujeitarema horários ou programações previamenteestabelecidas;

d) Acesso universal com a presençasimultânea desde qualquer local com umaligação à rede.

Apesar da importância destas caracterís-ticas no processo de comunicação política,Barnett (1997) refere que o sucesso de umademocracia baseada nos dispositivos onlinedepende de factores como o acesso univer-sal à Internet, a formação dos cidadãos comas competências necessárias para utilizaremcorrectamente os novos dispositivos e a qua-lidade e variedade da informação disponibi-lizada no meio. As preocupações do autor,muito pertinentes em 1997, têm hoje me-nos importância nalgumas zonas do globo.Nas democracias ocidentais, as taxas de pe-netração da Internet atingiram já valoresmuito interessantes4, estando excluídos des-tes números as zonas de acesso público gra-tuito. Em termos de competências verifica-seigualmente uma melhoria assinalável, comas novas gerações perfeitamente familiariza-das com as tecnologias online e uma ofertaformativa gratuita muito alargada ao resto da

4 (De acordo com a Internet World Stats, emDezembro de 2008, as taxas são as seguintes: Eu-ropa (48,3%), América do Norte (73,1%), Oceânia(59,9%))

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população. Por fim, a variedade e qualidadeda informação tem crescido graças ao apa-recimento de novas ferramentas – como osblogues – que fogem ao controlo dos media,oferecendo novos pontos de vista à informa-ção mainstream.

Estas alterações socioeconómicas estãona origem do recente sucesso dos novosdispositivos online junto dos cidadãos, oque chamou a atenção dos media tradici-onais e de alguns políticos, que aderiramimediatamente ao movimento, lançandoblogues ou criando contas nas redes soci-ais. Já os partidos demonstram uma certaindiferença, em relação a estes novos dis-positivos, continuando a usar os sites comouma mera brochura electrónica (Lilleaker,2006) para mostrar uma certa afinidade coma modernidade5. Na maioria dos casos,os sites partidários limitam-se a juntar asinformações distribuídas noutros meios e aagenda do partido num mesmo espaço, peloque neste trabalho falaremos apenas dosdispositivos nascidos com a Web 2.0.

i) Blogues e microbloguesO sucesso da blogosfera está intimamente

ligado com a sua natureza democratiza-dora. Pela primeira vez, o espaço mediáticotornou-se completamente acessível a todo equalquer cidadão, independentemente da suacondição política, religiosa, económica e so-cial. Embora todos possam dizer tudo a to-dos, a realidade demonstra que são poucos osque se conseguem fazer ouvir. Serra (2005)defende que a visibilidade na blogosfera estáreservada aos autores que pertencem às eli-tes sociais, culturais e políticas. O autor de-

5http://technology.timesonline.co.uk/tol/news/tech_and_web/article1295165.ece

fende que os bloguers de maior sucesso sãoos que já tinham o seu espaço nos media tra-dicionais, pelo que não há nada de verdadei-ramente novo no sistema. Embora essa si-tuação se verifique nalguns casos, há tam-bém inúmeros exemplos de desconhecidosque chegaram aos media tradicionais pelavia dos blogues. No inquérito já referidoneste trabalho, 58,8% dos bloguers dizem tersido convidados para comentar acontecimen-tos nos mediatradicionais e 76,5% confir-mam a transcrição de postsseus nos jornais,comprovando-se assim que a blogosfera tempotencial para lançar novos opinion makers.A importância da blogosfera pode ainda seraferida nos meios tradicionais, como o jornalPúblico, que criaram espaços próprios paracitarem blogues. Ou ainda pela utilizaçãode aplicações como o Twingly, que ligam osposts a determinadas notícias, criando-se as-sim uma rede de opinião que gera mais infor-mações passíveis de desencadear novas no-tícias sobre o tema. A blogosfera funcionaassim como um espelho da sociedade (Ca-navilhas, 2004), alimentando-se da imprensae, simultaneamente, alimentando-a como no-vos casos e dados.

É neste contexto de visibilidade que ospolíticos passam a olhar para a blogosferacomo uma forma de emitir opinião mais sus-tentada e não sujeita às pressões do momentoem que o jornalista os questiona. Nas Le-gislativas de 2005, os líderes dos maiorespartidos, excepto Francisco Louçã, lançaramblogues pessoais. O líder do Bloco de Es-querda não o fez por considerar que não te-ria tempo para o actualizar pessoalmente epor duvidar que os outros líderes o fizessem(Rodrigues, 2006). Dois anos mais tarde, emAgosto de 2007, Luís Filipe Menezes viu-seenvolvido num caso de plágio no seu blogue

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pessoal, confessando que afinal não era eleo autor, mas sim um seu assessor6. Esta si-tuação chamou a atenção para algo de quejá se suspeitava: os políticos não utilizavamos blogues como um diário, tal como seriade esperar, mas apenas como mais um dis-positivo de campanha entregue aos assesso-res. Perdia-se assim uma das grandes van-tagens dos blogues: a capacidade para criarproximidade com os eleitores, num registomuito semelhante ao dos panfletos pessoaisenviados por ocasião das campanhas eleito-rais. A pouca importância dada à blogos-fera pode ainda constatar-se pelo facto de ne-nhum destes blogues de 2005 permitir co-mentários, ainda que moderados, e apenasum, o de Paulo Portas, publicar mensagensenviadas pelos leitores. Perdeu-se assim umaoportunidade para aumentar a participaçãodos cidadãos no processo democrático e paraos políticos receberem um feedback prévioao acto eleitoral (Salgado, 2002), uma ajudaimportante para uma eventual correcção deestratégias.

O aparecimento do Twitter provocounovas alterações na forma de comunicaronline. O chamado microblogging permitiuultrapassar algumas das fragilidades que osblogues tinham na sua utilização política,reduzindo o espaço de reflexão a 140 carac-teres e permitindo ainda ao político ter umapercepção mais real da sua audiência nogrupo de “seguidores”. As dezenas de apli-cações (apps) desenvolvidas para o Twittertêm enriquecido o dispositivo, facilitando oacesso e a disponibilização de informaçãoa partir de qualquer dispositivo móvel. De

6http://dn.sapo.pt/2007/08/23/nacional/luis_filipe_menezes_alega_assessor_m.html

acordo com o Hitwise7, o Twitter parece es-tar a ser usado como uma rede social e comouma forma de distribuição de informação oque, a confirmar-se, poderia transformar oTwitter na ferramenta ideal para políticos emacções de campanha ou no decurso de mis-sões governamentais. De uma forma rápida,pessoal e permanente, eleitores e jornalistaspodem seguir qualquer político a par e passo.

ii) Redes sociaisAplicações como o Hi5, o Facebook ou o

Linkedin exploram o conceito de rede. Cas-tells (1996) considera que nas ligações emrede há um certo distanciamento pelo queas questões sociais perdem importância eas pessoas não bloqueiam a comunicação,criando-se “laços débeis” que tendem a pro-porcionar boas trocas de informações, ge-rando um precioso e descomprometido feed-back aos políticos.

Estas aplicações prometiam ser uma ala-vanca para movimentos cívicos, facilitandoa constituição de redes de pressão ancoradasnuma relação virtual sem custos para os par-ticipantes, mas a prática demonstra que asredes sociais estão a ser utilizadas para ou-tras finalidades mais lúdicas. De acordo comalguns estudos, (Boyd, 2008), a maioria daspessoas entra nestas redes simplesmente paracontactarem amigos ou conhecidos de quemestão geograficamente afastados. Embora aadesão a este tipo de redes seja um sucesso(só o Facebook tem cerca de 175 milhões deutilizadores), as redes acabam por funcionarmais como espaços de convívio informal emenos como palcos para o debate de ideias.Também neste caso têm surgido novas apps

7http://weblogs.hitwise.com/us-heather-hopkins/2009/03/where_to_from_twitter.html

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que facilitam a constituição de redes dentroda própria rede, procurando aglutinar as pes-soas em torno de causas. Pretende-se destaforma aproveitar a escala oferecida pela fer-ramenta para disseminar a informação, maso facto do conteúdo ser público não implicanecessariamente que o público esteja interes-sado nele (Boyd, 2008). Haverá, por isso,muito a fazer para explorar as particularesdas redes sociais no campo da comunicaçãopolítica.

As grandes vantagens destas redes são aescala e a proximidade, dois conceitos muitocaros aos políticos. A aposta nestas ferra-mentas tem por base a ideia de que o acessovirtual tranquiliza tanto como o acesso real(Kerbel, 1998), o que em grande escala tendea transformar estas ferramentas num disposi-tivo mais poderoso do que os meios tradici-onais, pois permitem codificar a mensagemem vários formatos (multimedialidade), têmuma abrangência global (ubiquidade), possi-bilitam a personalização da informação, dãoao utilizador a sensação de que é ele quemcontrola todo o processo (interactividade) eescapam ao controlo dos media tradicionais.

As redes sociais têm um enorme potencialcomo ferramenta individual de contacto en-tre candidatos e eleitores, mas podem aindaser exploradas na vertente interna dos par-tidos, pois funcionam como um espaço vir-tual de encontro com os militantes e simpati-zantes. A participação numa rede com estascaracterísticas facilita o desenvolvimento desentimentos de pertença em relação ao par-tido e tende a criar aquilo a que Jones (1998)chama uma “comunidade genuína” pela sualigação a uma determinada acção política fu-tura.

iii) Videocast e podcastA disponibilização de vídeos e sons para

visionamento/audição imediata ou downloadé outro dos dispositivos com enorme sucessojunto dos utilizadores. A partilha de fichei-ros, alguns dos quais copiados dos media tra-dicionais, esteve na origem de um fenómenoque muito rapidamente evoluiu para utiliza-ções mais profissionais. Embora os chama-dos vídeos caseiros constituam ainda a maio-ria dos conteúdos disponibilizados em locaiscomo o Youtube, a qualidade dos trabalhospublicados tem melhorado. Actualmente, épossível distinguir perfeitamente dois mun-dos radicalmente diferentes: um dominadopelos vídeos caseiros e outro onde predomi-nam empresas e organizações que encontramaqui forma de divulgar os seus conteúdosjunto de um público mais vasto.

Pelas suas semelhanças com o meio maispoderoso, a televisão, o videocast desper-tou a cobiça das organizações políticas, bemcomo o interesse das empresas em adaptar oserviço à comunicação política, oferecendoespaços como o CitizenTube8. Um outroexemplo aconteceu nas mais recentes elei-ções norte-americanas, com a CNN a pediraos seus telespectadores que colocassem noYoutube vídeos com perguntas que seriamdepois mostradas aos candidatos num pro-grama transmitido em directo.

Se do lado das empresas e dos cidadãos odispositivo parece funcionar, do lado dos po-líticos há igual interesse. Um exemplo dissomesmo é a aposta dos partidos na criação decanais de vídeo na Web, alguns dos quais jácom sucesso no seu objectivo primeiro que éfazer chegar a mensagem ao maior númeropossível de cidadãos. No dia 18 de Dezem-

8 http://www.youtube.com/citizentube

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bro, a RTP exibiu uma peça com excertosda Mensagem de Natal9 de Manuela FerreiraLeite, colocada no site do PSD no dia ante-rior. Embora o vídeo tenha registado ape-nas cerca de 850 visitas, um número poucosignificativo, a projecção que lhe foi dadapela RTP permitiu que a líder do maior par-tido da oposição conseguisse fazer chegar asua mensagem de Natal ao eleitorado, numregisto semelhante ao do primeiro-ministro,embora com menor duração.

O Partido Socialista faz uma utilização di-ferente do vídeo: no seu site, a PS TV com-pila as notícias televisivas relacionadas como partido ou com o Governo. O PP tem tam-bém um canal no Sapo, com vídeos da ARTV e alguma produção própria, justamenteos trabalhos que registam melhores audiên-cias. O PCP disponibiliza ficheiros em ví-deo e áudio com intervenções em iniciati-vas do partido, e o Bloco de Esquerda ofe-rece os tempos de antena. Estes dados per-mitem afirmar que o videocast é o disposi-tivo mais usado pelos partidos políticos por-tugueses, uma situação que poderá estar re-lacionada com a semelhança deste conteúdocom aquele que é o meio tradicional mais po-deroso: a televisão. Outro facto que podeestar a contribuir para este sucesso é a possi-bilidade de carregar estes ficheiros em dispo-sitivos móveis (PDAs, leitores de MP4, etc),o que permite o visionamento em qualquerlocal e a qualquer hora.

9 http://ww1.rtp.pt/noticias/index.php?headline=98&visual=25&article=378485&tema=28

3 Os novos dispositivos decomunicação política

Numa sociedade em rede caracterizada pelamobilidade, o recurso aos novos dispositivosde comunicação é uma enorme oportunidadepara a política. Embora subsistam algumasdúvidas em relação à sua eficácia junto dealgumas franjas do eleitorado, sobretudoas gerações mais velhas, é indiscutívelque estes novos dispositivos apresentamvantagens importantes:

Em primeiro lugar, aumentam a percep-ção de participação cívica dos cidadãos, poisum factor que afasta os cidadãos da polí-tica é a ideia generalizada de que a sua opi-nião conta apenas nos momentos eleitorais.O contacto regular com os políticos nas re-des sociais, ainda que virtual, devolve aoscidadãos a importância que sentem mere-cer, reaproximando-os da política. Acresceo facto da Internet ser um meio especial-mente apreciado pelas gerações mais novas,o que pode funcionar como uma motivaçãoextra para chamar os jovens à vida política.Como refere Lilleaker, “the «wired genera-tion», those computer-literate activists, feelthey gain representation from participatingin e-politics” (2006, 74).

E as vantagens não se esgotam nesteponto: em termos de novas tecnologias, osjovens são os influenciadores e os deciso-res no seio da família. Por isso é naturalque a informação recebida através da Inter-net passe de filhos para pais, aumentando as-sim a audiência das mensagens difundidaspelos novos dispositivos.

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Recomendação: Criar contas nas diversasredes sociais, procurando criar “grupos”com interesses e preocupações comuns.Estes grupos podem ser os destinatários dasactividades desenvolvidas pelo político, masfuncionam também como forma de sentir aspreocupações da opinião pública em relaçãoa temas muito específicos. Podem aindaser exploradas as aplicações oferecidas poressas redes – como os leitores de RSS -para compilar num mesmo espaço toda ainformação publicada no blogue do político,por exemplo.

Em segundo lugar, estes dispositivos per-mitem fazer uma segmentação do eleitoradode acordo com os mais variados critérios.Desta forma, é possível responder a ques-tões específicas, dando expressão a mais umanseio do eleitorado, que vulgarmente acusaos políticos de serem demasiado generalistasnas suas intervenções.

Recomendação: Criar uma rede deblogues temáticos que abordem as diver-sas áreas de interesse dos cidadãos. Aalternativa é ter apenas um blogue, masfazer uma correcta utilização de etiquetas,facilitando a pesquisa de respostas. Estesblogues devem permitir comentários, aindaque moderados.A possibilidade de comentaré muito apreciada pelos leitores e aumentao tráfego, pois quem comenta regressa aoblogue para ler as reacções à sua posição.

Em terceiro lugar, estes dispositivos po-dem ser usados como forma indirecta de che-gar ao eleitorado, ao ser disponibilizada in-formação em formatos que sirvam as carac-terísticas dos media tradicionais.

Recomendação: Criação de um canal noYoutube ou no Sapo Vídeos para fazer che-

gar a mensagem directamente aos eleitoressem qualquer tipo de cortes. Os media tradi-cionais são muito condicionados pelo factortempo, por isso declarações longas são ne-cessariamente cortadas e resumidas. Um es-paço que permita explicar detalhadamente aspropostas pode ser uma ajuda para os eleito-res, mas também para os opinion makers.

Este tipo de canais tem ainda uma outravantagem: devido a questões financeiras,televisões e rádios estão impossibilitadas deacompanhar todas as acções dos políticos.Se a informação for disponibilizada pelopartido para videocast/podcast, há a possi-bilidade dos canais tradicionais utilizaremesses vídeos/sons nos seus serviços informa-tivos.

Em quarto lugar, alguns destes disposi-tivos permitem um contacto mais próximoe periódico com os cidadãos, demonstrandodisponibilidade do político para atender aosproblemas das pessoas.

Recomendação: Abertura de uma contano Twitter, um dispositivo que permite acriação de uma rede de proximidade atravésdos seguidores. A utilização deste dispo-sitivo é especialmente recomendada emcampanhas eleitorais ou eventos especiais,funcionando ao estilo de um directo.

As quatro situações referidas comprovama existência de um enorme potencial de co-municação política nestes dispositivos de co-municação online, no entanto a sua utiliza-ção deve obedecer a um conjunto de regraspara que não exista uma desadequação entreo meio e a mensagem.

Tratando-se de dispositivos de comunica-ção pessoal dirigidos a públicos muito diver-sos, é importante que as mensagens utilizem

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uma linguagem que vá de encontro às carac-terísticas do público-alvo: escrever para jo-vens dos 10 aos 25 anos não é o mesmo queescrever para pessoas com mais de 60 anos,pelo que a diferença de temáticas e interessesdeve também verificar-se ao nível da lingua-gem utilizada.

Outra variável a ter em conta é a dimen-são da mensagem, especialmente no casodo texto. Na Web, escrever bem é escreverpouco, pelo que deve ser utilizado um estilosemelhante ao do texto jornalístico: claro,preciso e conciso. Também no caso do ví-deo deve haver alguma moderação na dura-ção das peças disponibilizadas na Web.

Por fim, é de referir que apesar do poten-cial destes novos dispositivos, o seu sucessodependerá muito da forma como a comuni-cação política os integrar no mix de comuni-cação. São meios que complementam os dis-positivos tradicionais e que só cumprem osseus objectivos quando essa complementari-dade é explorada naquilo que são os pontosfortes destes novos dispositivos: a personali-zação e a interactividade. São, por isso, fer-ramentas que se adaptam melhor a uma uti-lização pessoal dos candidatos. Aos partidoscompete fazer a integração desta participa-ção pessoal nos seus sites, demonstrando as-sim que um partido é um conjunto de pessoasunidas no objectivo de responder aos anseiosdos cidadãos, e não um mero grupo de inte-resses pessoais.

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(Texto apresentado no VIII Lusocom)

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