a comunicação do setor cafeeiro na onda da internet

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DBO Agrotecnologia maio/junho 2010 23 MUNDO VIRTUAL A comunicação, com o advento da Internet, vem sofrendo alterações em seus padrões que não eram observadas desde o surgimento da imprensa a par- tir dos inventos de Gutenberg na Alemanha do século XV, quando se in- troduziu a forma moderna de impressão que possibilitou a divulgação muito mais rápida de livros e jornais. A Internet é considerada o mais com- pleto meio de comunicação já concebido pela tecnologia humana, pois une ferra- mentas de comunicação em massa com interatividade. A grande diferença está na interatividade que possibilita ao receptor tornar-se editor de conteúdo, incorpo- rando ao cidadão comum oportunidade de efetivamente participar do jogo. São estabelecidas conexões de vias duplas, onde todos podem construir, dizer, es- crever, falar e serem ouvidos, vistos, li- dos. Passamos a viver a democratização da edição e da difusão do conhecimen- to por meio da desobstrução dos canais de comunicação. Mas e o café, onde entra? O setor ca- feeiro vem experimentando a comunica- ção dialógica proporcionada pela Internet por meio da Comunidade Manejo da Lavoura Cafeeira, na plataforma de redes sociais Peabirus. Esta é uma ferramen- ta de mídia social que possibilita a inte- gração daqueles que possuem interesses comuns, no caso, o café. Criada em 2006, muito antes da ex- plosão do Twitter, Facebook e Orkut, a “comunidade do café” vem desenvol- vendo efetivamente a construção cole- tiva do conhecimento, por meio da ação colaborativa de seus mais de 1300 integrantes. O usuário passa da posição de mero leitor para uma posi- ção construtivista, participando da ela- boração do conteúdo que fica acessível via Internet. Informações e conheci- mento do setor cafeeiro que trafegavam em caminhos unidirecionais, hoje de- batidas e enriquecidas participativa- mente, tornam-se a inteligência coleti- va cafeeira. Temas como manejo de lavoura, pós- colheita, gestão de propriedades, nutrição mineral, pragas e doenças, economia, mercado, dentre outros, são pautas que vem sendo trabalhadas via rede. Facilita- se a troca de informações e do conheci- mento a partir do debate e da crítica, aprendendo e ensinando simultanea- mente. Essa nova dinâmica amplia os flu- xos de informação, de diálogo e de in- fluência recíproca entre os distintos se- tores e, principalmente, entre seus ato- res sociais. Recentemente, a “comunidade” com- pletou a marca de um milhão de acessos, consolidando-se como uma das mais im- portantes dentre àquelas voltadas ao se- tor agropecuário. Desde sua criação, seu fórum recebeu mais de três mil pos- tagens, dos mais diferentes temas ca- feeiros, sendo que vários destes chegam a receber em torno de quarenta comen- tários dos integrantes. A comunidade se contrapõe ao siste- ma tradicional de difusão do conheci- mento, em que a academia é incentiva- da apenas à produção científica via re- vistas indexadas e os pesquisadores focam mais em seus currículos Lattes do que na geração de tecnologias para o se- tor agropecuário. De forma espontânea e colaborativa, temos unido conheci- mento científico gerado em universidades e centros de pesquisa aos saberes po- pulares de quem vive o dia a dia da pro- dução cafeeira. Articulamos o diálogo en- tre renomados pesquisadores e cafei- cultores das mais distantes regiões ca- feeiras, uma vez que a comunidade rompe barreiras geográficas, temporais, financeiras e culturais. Acreditamos na construção e disse- minação de saberes globais, baseados no acesso à informação democratizada e sua constante atualização. Devemos ampliar o relacionamento com o público de referência, pois de nada adianta os in- vestimentos em ciência e tecnologia que não chegam aos campos. Em nossa “co- munidade” ocorre uma troca dinâmica de informações que visam incentivar a in- corporação das tecnologias geradas pe- la pesquisa e colocar a cadeia produtiva do café dentro do moderno contexto da sociedade da informação. Construímos praças publicas onde antes só haviam jar- dins murados. Emerge o capital social ba- seado na confiança, cooperação e ino- vação que são desenvolvidas pelos in- divíduos, facilitando o acesso à informa- ção e ao conhecimento. Vivemos a era da inteligência coletiva cafeeira. Resta sa- ber o quanto essa revolução poderá in- fluenciar o nosso futuro, o futuro do se- tor cafeeiro. Saudações cafeeiras! A comunicação do setor cafeeiro na onda da Internet Sérgio Parreiras Pereira * * O autor é Pesquisador Científico / Centro de Café ‘Alcides Carvalho’ / Instituto Agronômico – IAC Mediador da comunidade Manejo da Lavoura Cafeeira / PEABIRUS www.peabirus.com.br/redes/form/ comunidade?id=218

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DBO Agrotecnologia – maio/junho 2010 23

MUNDO VIRTUAL

A comunicação, com o advento daInternet, vem sofrendo alterações emseus padrões que não eram observadasdesde o surgimento da imprensa a par-tir dos inventos de Gutenberg naAlemanha do século XV, quando se in-troduziu a forma moderna de impressãoque possibilitou a divulgação muito maisrápida de livros e jornais.A Internet é considerada o mais com-

pleto meio de comunicação já concebidopela tecnologia humana, pois une ferra-mentas de comunicação em massa cominteratividade. Agrande diferença está nainteratividade que possibilita ao receptortornar-se editor de conteúdo, incorpo-rando ao cidadão comum oportunidadede efetivamente participar do jogo. Sãoestabelecidas conexões de vias duplas,onde todos podem construir, dizer, es-crever, falar e serem ouvidos, vistos, li-dos. Passamos a viver a democratizaçãoda edição e da difusão do conhecimen-to por meio da desobstrução dos canaisde comunicação.Mas e o café, onde entra? O setor ca-

feeiro vem experimentando a comunica-ção dialógica proporcionada pela Internetpor meio da Comunidade Manejo daLavoura Cafeeira, na plataforma de redessociais Peabirus. Esta é uma ferramen-ta de mídia social que possibilita a inte-gração daqueles que possuem interessescomuns, no caso, o café.Criada em 2006, muito antes da ex-

plosão do Twitter, Facebook e Orkut, a“comunidade do café” vem desenvol-vendo efetivamente a construção cole-tiva do conhecimento, por meio daação colaborativa de seus mais de1300 integrantes. O usuário passa daposição de mero leitor para uma posi-ção construtivista, participando da ela-boração do conteúdo que fica acessívelvia Internet. Informações e conheci-mento do setor cafeeiro que trafegavamem caminhos unidirecionais, hoje de-batidas e enriquecidas participativa-mente, tornam-se a inteligência coleti-va cafeeira.

Temas como manejo de lavoura, pós-colheita, gestão de propriedades, nutriçãomineral, pragas e doenças, economia,mercado, dentre outros, são pautas quevem sendo trabalhadas via rede. Facilita-se a troca de informações e do conheci-mento a partir do debate e da crítica,aprendendo e ensinando simultanea-mente. Essa nova dinâmica amplia os flu-xos de informação, de diálogo e de in-fluência recíproca entre os distintos se-tores e, principalmente, entre seus ato-res sociais.Recentemente, a “comunidade” com-

pletou a marca de ummilhão de acessos,consolidando-se como uma das mais im-portantes dentre àquelas voltadas ao se-tor agropecuário. Desde sua criação,seu fórum recebeu mais de três mil pos-tagens, dos mais diferentes temas ca-feeiros, sendo que vários destes chegam

a receber em torno de quarenta comen-tários dos integrantes.A comunidade se contrapõe ao siste-

ma tradicional de difusão do conheci-mento, em que a academia é incentiva-da apenas à produção científica via re-vistas indexadas e os pesquisadoresfocammais em seus currículos Lattes doque na geração de tecnologias para o se-tor agropecuário. De forma espontâneae colaborativa, temos unido conheci-mento científico gerado em universidadese centros de pesquisa aos saberes po-pulares de quem vive o dia a dia da pro-dução cafeeira. Articulamos o diálogo en-tre renomados pesquisadores e cafei-cultores das mais distantes regiões ca-feeiras, uma vez que a comunidaderompe barreiras geográficas, temporais,financeiras e culturais.Acreditamos na construção e disse-

minação de saberes globais, baseadosno acesso à informação democratizadae sua constante atualização. Devemosampliar o relacionamento com o públicode referência, pois de nada adianta os in-vestimentos em ciência e tecnologia quenão chegam aos campos. Em nossa “co-munidade” ocorre uma troca dinâmica deinformações que visam incentivar a in-corporação das tecnologias geradas pe-la pesquisa e colocar a cadeia produtivado café dentro do moderno contexto dasociedade da informação. Construímospraças publicas onde antes só haviam jar-dins murados. Emerge o capital social ba-seado na confiança, cooperação e ino-vação que são desenvolvidas pelos in-divíduos, facilitando o acesso à informa-ção e ao conhecimento. Vivemos a erada inteligência coletiva cafeeira. Resta sa-ber o quanto essa revolução poderá in-fluenciar o nosso futuro, o futuro do se-tor cafeeiro.Saudações cafeeiras!

Acomunicação

do setorcafeeiro na

onda daInternetSérgio Parreiras Pereira *

* O autor éPesquisador Científico /Centro de Café ‘AlcidesCarvalho’ / InstitutoAgronômico – IAC

Mediador da comunidade Manejo daLavoura Cafeeira / PEABIRUSwww.peabirus.com.br/redes/form/comunidade?id=218