a comunicação comunitária no território do sisal
DESCRIPTION
TRANSCRIPT
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA
JULIANA COSTA OLIVEIRA
A COMUNICAÇÃO COMUNITÁRIA NO
TERRITÓRIO DO SISAL
Conceição do Coité
2010
1
JULIANA COSTA OLIVEIRA
A COMUNICAÇÃO COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO
DO SISAL
Trabalho de conclusão apresentado ao curso de
Comunicação Social – Habilitação em
Radialismo, da Universidade do Estado da
Bahia, como requisito parcial de obtenção do
grau de bacharel em Comunicação, sob a
orientação da Profª Esp. Vilbégina Monteiro
dos Santos.
Conceição do Coité
2010
2
JULIANA COSTA OLIVEIRA
A COMUNICAÇÃO COMUNITÁRIA NO TERRITÓRIO
DO SISAL
Trabalho de conclusão apresentado ao curso de
Comunicação Social – Habilitação em
Radialismo, da Universidade do Estado da
Bahia, sob orientação da Profª Esp. Vilbégina
Monteiro dos Santos.
Data: _________________________________________________
Resultado: _____________________________________________
BANCA EXAMINADORA
Profª. (orientadora) _______________________________________
Assinatura: _____________________________________________
Profª. __________________________________________________
Assinatura: _____________________________________________
Prof. ___________________________________________________
Assinatura: _________________________________________
3
Dedico este trabalho aos meus avós paternos Almir
Oliveira e Dulcelina Lopes (ambos, in memoriam)
pelo exemplo de vida, dedicação e perseverança no
sertão. À minha família, em especial a minha mãe,
Elisabete Costa, pelo carinho, pelas preces, pelo apoio
incondicional que ao longo dessa jornada foram
imprescindíveis.
4
AGRADECIMENTOS
À Deus, por ter me concedido essa benção;
À toda minha família pelo amor , compreensão e generosidade de sempre;
Aos meus pais, Ernandes e Elisabete, que sempre estiveram ao meu lado me apoiando e me
incentivando em todas as etapas da minha vida;
Ao meu irmão, Diego Costa, pelo companheirismo, amizade e pela presença constante, sendo
fundamental na realização desse sonho;
À Edisvânio Nascimento, e a todos os Comunicadores Comunitários e Entidades do Território
do Sisal, pela ajuda e atenção nos momentos em que os recorri;
Aos meus professores, em especial, à professora Vilbégina Monteiro dos Santos, pela
dedicação ao orientar-me;
Aos meus colegas que sempre me auxiliaram ao longo dessa caminhada;
À todos aqueles que de alguma forma colaboraram durante o processo de realização desse
trabalho, meu MUITO OBRIGADA!
5
“Quanto mais livre a informação circula, mais
forte fica uma sociedade”.
Barack Obama (Presidente dos EUA).
6
RESUMO
Localizado no semi-árido do nordeste da Bahia, o Território do Sisal caracteriza-se pelo seu
clima seco, pela economia baseada no cultivo do agave e também por ser uma região
desfavorecida no que diz respeito a aspectos políticos, sociais, econômicos e ambientais.
Entretanto, essa região vem se destacando pela forte atuação do terceiro setor. A alteração no
processo comunicativo com o fenômeno das rádios comunitárias e a criação de entidades de
comunicação, fez com que os atores sociais instituíssem a comunicação como fundamental
para a mobilização social. O objetivo do estudo é compreender este processo dando destaque
ao Plano de Desenvolvimento Territorial, buscando identificar os avanços, desafios e
perspectivas da comunicação na viabilização do desenvolvimento local. Como estratégias
metodológicas foram utilizadas o levantamento de dados qualitativos, o que possibilitou
estabelecer um debate teórico sobre a Comunicação Comunitária e Desenvolvimento Local,
assim como, realizar um apanhado histórico da Comunicação Comunitária na região. O uso da
pesquisa de campo e das entrevistas semi-estruturas e em profundidade foram essenciais para
detectar os entraves da Comunicação Comunitária no Território do Sisal. Diante da análise,
propõe-se a necessidade de rever o conceito de participação.
PALAVRAS-CHAVE: Comunicação, Mobilização Social e Desenvolvimento Local.
7
ABSTRACT
Located in the semi-arid northeast of Bahia, the Territory of Sisal is characterized by its dry
climate, the economy based on the cultivation of agave and also for being a disadvantaged
area with regard to political, social, economic and environmental. However, this region has
been increasing by the strong performance of the third sector. The change in the
communication process with the phenomenon of community radio and the establishment of
independent media, meant that social actors institute communication as essential for social
mobilization. The study is to understand this process by highlighting the Territorial
Development Plan, aimed at identifying the progress, challenges and perspectives of
communication in facilitating the development site. As methodological strategies were used to
raise data quality, which allowed the establishment of a theoretical debate on the
Communication Community and Local Development, as well as perform a historical
overview of Communication in the region. The use of field research and semi-structure and
depth are essential to detect obstacles of Communication in the Territory of Sisal. Before the
analysis, it is proposed the need to revise the concept of participation.
KEYWORDS: Communication, Social Mobilization and Local Development.
8
SUMÁRIO
Introdução 09
1 - Comunicação Comunitária e Desenvolvimento Local: 13
Um debate possível?
1.1- O cenário da comunicação no Brasil. 14
1.2- Comunicação Comunitária, mais que uma alternativa. 17
1.3 - Uma nova proposta de desenvolvimento. 19
1.4 - A relação entre Comunicação Comunitária e desenvolvimento local. 23
2 – Sisal, um Território de Possibilidades. 26
2.1 – “Por um Sertão justo”:
A causa das organizações que compõem o Território do Sisal. 35
2.2 - A Comunicação Comunitária no Território do Sisal. 41
3 - Comunicação Comunitária e Desenvolvimento Local: 47
Uma prioridade ou uma resistência?
3.1 – Pensando a comunicação estrategicamente. 48
3.2 – Comunicação Comunitária no Território do Sisal:
Papel de mobilização ou mobilização só no papel? Avaliação dos resultados. 52
Considerações Finais 58
Referências 63
Anexos 67
9
INTRODUÇÃO
Quando criança, nas visitas a fazenda do meu avô paterno, localizada no Município de
Retirolândia, a caminho, eu sempre costumava observar o ruído dos motores de sisal nas
redondezas. No imenso silêncio das pastagens, aquele som denunciava que ali por perto havia
trabalhadores desfibrando as folhas do sisal. Anos mais tarde, já na adolescência, pude
entender melhor a história da Região em que passava a conviver. A proximidade com o lugar,
com as pessoas, me fez compreender que o barulho do motor do sisal representava muito mais
para aquela gente.
Além de ser uma importante ferramenta que facilita a extração da fibra do sisal,
principal fonte de renda da região; a chegada das primeiras máquinas, em meados da década
de 40, sinalizou o início do processo de modernização na Região Sisaleira (CODES, 2008). O
trabalho no motor, como é popularmente conhecido, baseia-se na exploração da mão-de-obra,
em péssimas condições de trabalho, assim como também oferece riscos de saúde e mutilações.
Entretanto, essa lida foi e ainda permanece sendo o sustento de inúmeras famílias.
Durante décadas, os ruídos dos motores de sisal foram os únicos sons ouvidos pela
população marcada pela subserviência e clientelismo. Numa terra castigada pela seca, onde a
pobreza, o analfabetismo, a migração e o trabalho infantil configuram os agravantes sociais; a
organização da sociedade civil passa a ser uma valiosa arma na luta por melhores condições
de vida.
A criação dos Sindicatos de Trabalhadores Rurais (STRs) configurou um passo
imprescindível para que os agricultores passassem a se mobilizar para lutar por seus
interesses, no entanto, a cultura de dominação disseminada pelos meios de comunicação,
concentrados em sua maioria nas mãos de poucas famílias ligadas a grupos políticos, se
estabelecia como o maior entrave para a viabilização da participação e conscientização dos
cidadãos.
10
As transformações na realidade social da Região Sisaleira começam a acontecer com o
surgimento dos movimentos sociais, os quais encontraram destaque através das Rádios
Comunitárias implementadas no final da década de 90. Essas rádios constituíram papel
fundamental no processo de mobilização, uma vez que o som que informa, educa e denuncia
passava a ressoar entre o ronco dos motores de sisal, aproximando as comunidades e alterando
o cenário comunicacional da Região.
A forte atuação dos movimentos sociais pode ser verificada pela inserção do Codes
Sisal (Conselho Regional de Desenvolvimento Rural Sustentável da Região Sisaleira do
Estado da Bahia), instituição responsável por promover ações de sensibilização, mobilização e
planejamento do desenvolvimento do Território. Nessa perspectiva, a comunicação aparece
como eixo prioritário do PTDRS (Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável da
Região Sisaleira), sendo eleita como fator estratégico do desenvolvimento local.
Esta monografia tem como objetivo analisar a Comunicação Comunitária no Território
do Sisal, implementada pelo Plano de Comunicação do CODES Sisal. Tal abordagem busca
compreender como é articulada a relação: Comunicação e Desenvolvimento Local no
Território Sisaleiro.
Desenvolver a pesquisa sobre a Comunicação Comunitária no Território do Sisal é de
grande relevância, pois são poucos os estudos desse foco na região, embora seja um fenômeno
evidente. Além disso, a minha própria ligação com o tema, enquanto aluna do curso de
Comunicação Social, fruto da forte mobilização dos movimentos sociais, me levou a
prosseguir a investigação. Trata-se, porém, de um retorno à comunidade, sendo que, a
abordagem pode ser uma contribuição a mais, que venha a favorecer a formação de políticas
públicas de comunicação para o Território.
Portanto, fez-se necessário analisar e dialogar com essas comunidades, com esses
atores que se organizaram e buscaram representatividade ao lado dos movimentos sociais, das
11
rádios comunitárias, e oportunidades de capacitação e qualificação com a criação de projetos
para melhorar a forma de se comunicar com o intuito de transformar a realidade social e o
olhar que a mídia faz desse lugar. Dessa forma é pertinente averiguar se os conceitos de
Comunicação Comunitária estão sendo trabalhados, avaliando as ações de interação entre
cidadão e a comunicação.
No 1º capítulo a proposta foi trazer um debate teórico buscando responder os
questionamentos a respeito da relação entre Comunicação Comunitária e Desenvolvimento
Local. Partindo pelo contexto histórico da comunicação no Brasil, desde o surgimento dos
primeiros meios de comunicação de massa no país, perpassando a formação dos grandes
conglomerados de mídia no Governo Vargas, pelas censuras e opressões marcadas no período
da ditadura militar, até chegar à constituição da organização da sociedade civil e a
necessidade de apropriação de uma comunicação voltada para os interesses da comunidade.
Logo em seguida, é apresentado o conceito de Comunicação Comunitária, sendo traçada a
relação com o Desenvolvimento Local, baseada na noção de participação, e então é trazida a
proposta de desenvolvimento.
Inteirados das noções de comunicação e desenvolvimento, prosseguimos para o 2º
capítulo onde é apresentado um apanhado histórico da Comunicação Comunitária no
Território do Sisal. A princípio são pontuados os aspectos econômicos, políticos, sociais,
culturais, comunicacionais e ambientais da Região, assim como, o seu fortalecimento através
da organização popular, sendo relatado especialmente sobre as principais entidades que
compõem o Território e a importância dessas para o desenvolvimento sustentável. Depois é
abordada especificamente a Comunicação Comunitária no Território, ressaltando as rádios
comunitárias, a criação das entidades de comunicação e a inclusão do Eixo de Comunicação
no PTDRS elaborado pelo Codes Sisal.
12
Com intuito de identificar as melhorias alcançadas e as possíveis deficiências no
desenvolvimento do Território através das práticas comunicativas, foram analisadas no 3º
capítulo as ações e projetos desenvolvidos pelo Codes Sisal, tomando por base o Eixo de
Comunicação do Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável da Região Sisaleira.
Correlacionando-o aos conhecimentos de Relações Públicas, foi possível detectar as
estratégias de comunicação para a mobilização social. A análise de outros documentos como a
Carta Coité, o Relatório do MOC (Movimento de Organização Comunitária): Como está a
Comunicação nas Organizações?, as pautas de reunião do Grupo de Trabalho de
Comunicação, assim como, as entrevistas realizadas, foram essenciais para avaliar os
avanços, desafios e perspectivas da comunicação comunitária no Território do Sisal.
Contudo, esse trabalho não significa um ponto final no processo de investigação sobre
a comunicação da Região, mas sim de uma proposta de continuidade, de incentivo aos atores
sociais para que reavaliem os conceitos, as ações, a participação dos outros setores na busca
da implementação da Comunicação Comunitária em prol do Desenvolvimento Local. Uma
vez que, os ruídos dos motores de sisal que antes eram os únicos sons ouvidos perante o
imenso silêncio que predominava naquela gente, agora dão lugar aos ruídos da transformação.
Boa leitura!
13
1 - Comunicação Comunitária e Desenvolvimento Local: Um debate possível?
Nos dias de hoje, devido aos efeitos da globalização, a comunicação passou a ser mais
utilizada para fins mercadológicos, perdendo aos poucos o seu caráter de integração para a
cidadania. É inevitável o controle que os meios de comunicação exercem sobre a sociedade,
enquanto poderosos formadores de opinião. Cada vez mais, alienam os indivíduos, ditam
modas, exacerbam o consumismo, manipulam resultados, influenciam na cultura, na política,
na economia, na educação e em outros campos, ou seja, detêm o controle das massas. É
grande o fluxo de informação no mundo, no entanto, o poder midiático se restringe à
pequenos grupos.
No Brasil, a centralidade da comunicação nas mãos de poucas famílias revela as
interfaces do contexto histórico político e social de um país em desenvolvimento. Numa
nação democrática em que a maioria dos veículos de massa são propriedades privadas, a
liberdade de expressão, a pluralidade e a democratização da comunicação, não são realidades.
É entendendo a comunicação como decisiva no processo de formação da sociedade,
que atualmente vem sendo muito discutida entre os estudiosos de diversas áreas a relação
entre comunicação e desenvolvimento. O questionamento mais preponderante é como a
comunicação pode ser trabalhada de forma a viabilizar o desenvolvimento. Para pensar nessa
lógica é preciso antes saber quais as dimensões desses termos devem ser apropriadas.
Neste capítulo, os conceitos de comunicação e desenvolvimento serão enfatizados na
perspectiva de melhorar as condições sociais de vida das pessoas através de suas relações
comunitárias. Logo, a concepção de comunicação a ser tratada é voltada para uma dinâmica
dialógica, participativa, mobilizadora, capaz de atender as demandas da comunidade, uma vez
que esta será articulada, de modo, estratégico em prol do desenvolvimento local. Sendo assim,
primeiro será abordado o panorama da comunicação no âmbito nacional e em seguida serão
14
apresentados os conceitos de Comunicação Comunitária e Desenvolvimento Local e a relação
proposta.
1.1- O cenário da comunicação no Brasil.
Historicamente, o cenário da comunicação no Brasil é marcado por repressões,
censuras e oligarquias; desde o período colonial, perpassando por vários governos e
perdurando até os dias atuais. Por se tratar de uma República democrática, onde está
assegurado na constituição federal de 1988, artigo 5, “a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”, garantindo no parágrafo IX - “é livre a
expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente
de censura ou licença”; e no artigo 220, “que a manifestação do pensamento, a criação, a
expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer
restrição”, constando no inciso 2º, que “é vedada toda e qualquer censura de natureza política,
ideológica e artística”. Entretanto, a realidade é totalmente contraditória à legislação,
principalmente quando o Estado abre concessões públicas de veículos de comunicação para
representantes políticos, religiosos, empresários, entre outros, em troca de favores, confluindo
assim, para a formação de um sistema autoritário onde o poder da informação está
concentrado nas mãos de poucas famílias, constituindo assim, o monopólio da comunicação
brasileira.
O surgimento da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, idealizada por Roquette Pinto e
Henrique Morize em 1923, em plena efervescência política, é o marco inicial para a
configuração do sistema comunicacional excludente que temos hoje. Isso porque, o rádio no
Brasil nasce privado na forma de rádio-clubes com teor erudito, tendo como público a elite
intelectual e social da época, uma vez que o Governo não havia se interessado em criar um
sistema estatal. Ao ganhar proporções com o aumento de adeptos na década de 30, ele atrai a
15
atenção do poder público, logo, o então chefe do governo provisório, Getúlio Vargas, assina o
estatuto da radiodifusão em 1931, definindo sua finalidade educativa, assim como, decreta a
permissão de veiculação de propaganda, o que torna o veículo ainda mais popular passando a
atingir outras classes.
A Revolução de 30 estabeleceu também o caráter da radiodifusão como de interesse
público, e, portanto, sujeitou tanto o rádio quanto a televisão a serem tratados como
serviços públicos, protegidos e regulados pelo Estado. Coerentemente com este
caráter, os revolucionários de 30 atribuíram à radiodifusão finalidades educacionais.
Eles falharam, contudo, na conceituação dessas finalidades e na fixação do modo
como deveriam ser alcançadas e avaliadas. Repetindo a falha, todos os governos que
se sucederam, desde então, jamais definiram substantivamente aquelas finalidades.
O resultado é que a qualificação legal da radiodifusão como um serviço de interesse
público e com finalidades educacionais tornou-se meramente retórica, sem
consequências objetivas em torno de implementação. Na prática, o modo comercial
de exploração da radiodifusão tem sido esmagadoramente predominante e o número
e qualidade de programas de entretenimento têm superado de longe aqueles com
caracteristicas educacionais.(JAMBEIRO, 2004, p.183-184)
Segundo Calabre (2003, p.2), “a capacidade de falar” para diversas pessoas e para
muitas localidades simultaneamente tornava o veículo um aliado estratégico na questão da
formação de uma unidade cultural”. Contudo, os ideólogos do Estado Novo visando o
fortalecimento do Estado e do nacionalismo, usam não só o rádio, mas, todos os veículos
como os jornais, revistas, entre outros, para disseminar os ideais de integração e paternalismo
ao mesmo tempo em que legitimavam a figura de Vargas.
A expansão das atividades econômicas no final da metade dos anos 30 impulsionou o
crescimento da publicidade nos meios de comunicação de massa. O desenvolvimento da
radiodifusão fez com que os empresários disputassem concessões, muitos dos quais já
detinham o poder de outras mídias. Neste ritmo, em 1938 surge o primeiro conglomerado
brasileiro de veículos de comunicação de massa, criado pelo jornalista Assis Chateaubriand.
A ele pertenciam cinco emissoras de rádio, doze jornais diários e uma revista; 20 anos mais
tarde, ele já tinha 36 rádios, 34 jornais, 18 emissoras de televisão e várias revistas
16
(JAMBEIRO, 2004) Desde então, o processo de concessão e fiscalização é controlado pelo
Governo Federal.
Somente em 1962 foi aprovada a legislação que regulamenta a radiodifusão. Fase em
que o novo modelo de desenvolvimento econômico proposto na ditadura militar, baseado em
repressões políticas, só teve êxito devido ao controle dos meios de comunicação através da
censura e também pela afinidade do empresário Roberto Marinho com o regime. A instalação
da TV Globo em 1965, surge dos interesses políticos e com o investimento recebido do grupo
estrangeiro Time-Life, o que não era permitido pela lei, mas, logo se transforma no maior
império da comunicação no país. O peso que a Rede Globo exerce na sociedade brasileira,
principalmente no quadro político, é até hoje uma realidade.
Desde o fim da ditadura militar a sociedade civil vem galgando espaço de participação
nos debates em torno de políticas públicas. São as camadas populares que se viram excluídas
e começam a se organizar e se fortalecer através dos movimentos sociais em prol de melhores
condições de vida. Nas últimas décadas, as ações desses movimentos e organizações
populares tiveram significativo crescimento nos diversos setores, sendo fundamentais para a
conscientização e mobilização da população na luta pelos seus direitos e na promoção do
desenvolvimento social, cultural e econômico das comunidades.
Os movimentos sociais são, hoje em dia, um dos principais responsáveis por captar
os problemas sociais que ressoam nas esferas privadas e transformá-los em questões
de interesse geral na esfera pública política. Além disso, têm o papel de ampliar o
próprio espectro do político, ao incorporar novos temas na agenda política. Uma
sociedade civil forte cria grupos e pressiona em direção a determinadas opções
políticas; uma sociedade civil fraca, por outro lado, será normalmente dominada
pelas esferas do Estado ou do mercado. (RAMOS E SANTOS,2007,p.134).
Nessa perspectiva, os movimentos sociais são importantes no processo de
democratização, já que estes agem como canais de representatividade da sociedade civil,
como os sindicatos e partidos políticos. Conforme Peruzzo (2007), essas organizações
17
descobriram a necessidade de apropriação pública de técnicas (de produção jornalística,
radiofônica, estratégias de relacionamento público etc.) e de tecnologias de comunicação
(instrumentos para transmissão e recepção de conteúdos etc.) para poderem se fortalecer e
realizar os objetivos propostos. Assim sendo, num primeiro momento descobriram a
utilização da comunicação desde as formas grupais e individuais até os meios tecnológicos
como uma necessidade, ou seja, como canais importantes para comunicarem-se entre si e com
seus públicos, sejam eles os usuários reais ou potenciais dos serviços oferecidos, a imprensa,
órgãos públicos, aliados e o conjunto da sociedade.
Deste modo, diante da concentração dos canais de comunicação que decretam
restrições a democratização, a Comunicação Comunitária surge como meio alternativo para
atender aos interesses e necessidades coletivos. Trata-se de uma comunicação que tem o
propósito de viabilizar a todos o direito de comunicar-se. Caracteriza-se como um espaço
plural e acessível, onde a comunidade tem o poder de informar, reivindicar e denunciar,
exercendo assim o papel de cidadão. Nesta proporção, é fundamental refletir sobre tais
princípios.
1.2- Comunicação Comunitária, mais que uma alternativa.
Em seus estudos sobre a comunicação comunitária no Brasil, Peruzzo (2007) chama
atenção para a noção de comunidade, uma vez que esta não basta a um meio de comunicação
ser local, falar das coisas do lugar e gozar de aceitação pública para configurar-se como
comunitário. Ela define comunicação comunitária como sendo aquela que é produzida no
âmbito das comunidades e fundamentada nas noções de comunidade, participação ativa,
horizontal e democrática dos cidadãos. Logo, para compreender o real significado do termo é
necessário ater-se para tais conceitos.
18
Para Sayonara Leal (2007), a comunidade existe na medida em que há o
reconhecimento mútuo de princípios morais, normativos, valores culturais, traços sociais
comuns entre os membros que a compõe. O território geográfico, o pertencimento étnico, a
identidade pelo gosto estético, podem ser modos de agregar indivíduos numa formação social.
A definição proposta por Souza (2000) vem atribuir que a susbstância de comunidade não está
no aspecto físico, mas no conjunto de relações e inter-relações, de poderes e contrapoderes
que se estruturam, tomando como referência a infra-estrutura física e social da área, que por
sua vez, tem suas determinações nas estruturas fundamentais da sociedade.
A comunidade é, portanto, uma forma particular de expressão da própria sociedade.
Sendo assim, Peruzzo (2003) cita a valorização do local na sociedade contemporânea, mesmo
no auge de globalização e em tempos de comunicações de longas distâncias, as pessoas se
interessam pelo o que está próximo, pelo que atinge diretamente suas vidas e demonstram
valorizar as coisas da comunidade, e querem saber dos acontecimentos que ocorrem ao seu
redor.
Peruzzo (2004) aponta a participação como uma das dimensões essenciais desse
sistema, a qual se concretiza numa comunicação feita dentro dos movimentos e organizações
e que reflete na existência de outra comunicação, tendo seus conteúdos vindos das bases
excluídas da sociedade e destinadas a essas mesmas bases. Neste sentido, as pessoas podem
atuar como sujeitos ativos, como protagonistas do processo.
Nesse mesmo viés a pesquisadora faz um contraponto quando relata que a questão da
participação direta não significa que todos tenham que tomar parte de tudo durante todo o
tempo, pois, conforme experiências históricas, a representatividade, se aplicada de forma
democrática, também condiz como modo de participação. Neste panorama, evidencia-se a
importância da representação coletiva proporcionada pelas entidades, quando estas operam
como porta-vozes legítimos dos coletivos organizados da sociedade civil onde estão inseridas.
19
Conforme Xavier (2002, p.22), as representações coletivas dariam sustentação a uma moral
específica, “necessária ao corpo social”, materializando-a, objetivando-a e naturalizando-a,
desempenhando, assim, o papel de amainar ou até mesmo eliminar a contradição entre o
individual e o coletivo, mantendo a ordem e o equilíbrio social.
Independente das formas com que pode revestir, a participação significa fazer parte,
tomar parte, ser parte de um ato ou processo, de uma atividade pública, de ações
coletivas. A referência à parte implica pensar o todo, a sociedade, o Estado, a
relação entre as partes entre si e das partes com o todo. Esse todo não é homogêneo;
as partes têm interesses, aspirações, valores e recursos de poder diferenciados.
Diante disto coloca-se o problema de como atingir interesses gerais, numa sociedade
dominada pelo particularismo e fragmentação. (TEIXEIRA, 1997, p.179)
Souza (2000) ainda traz a abordagem de participação como conteúdo básico na esfera
do desenvolvimento das comunidades, sendo necessário considerar a sua diversidade de
significações, pois esta pode até levar o povo à ilusão que está participando quando, de fato,
está cada vez mais submisso.
Contudo, diante do agravante histórico de uma sociedade não participativa, as
múltiplas formas de participação, enquanto possibilidades de acesso são fundamentais
mecanismos para um aprofundamento da democracia, desde que a sociedade se sinta incluída
no processo. Logo, engajar-se frente aos interesses comuns é considerada uma prática de
cidadania que remete ao objetivo do desenvolvimento local. Diante disso, é relevante saber
como essas dimensões se contemplam no contexto histórico brasileiro.
1.3 - A relação entre Comunicação Comunitária e Desenvolvimento Local.
Perante a análise de vários estudiosos, verifica-se que o conceito de desenvolvimento
local está basicamente associado à noção de participação, dessa forma, a comunicação surge
como peça importante na articulação e viabilização de ações cooperativas, de modo, a
estimular participação ativa dos cidadãos no debate em torno de políticas públicas. Em suas
20
pesquisas, Melo (1998) menciona que a ação do homem para enfrentar a natureza,
transformando-a e adaptando-a às suas necessidades de sobrevivência e de bem-estar, está
atrelada a inovações comunicacionais e informacionais. Portanto, para alcançar mudanças
sociais é necessário repensar as estruturas de comunicação inseridas nas comunidades.
Reside aí a contribuição fundamental dos sistemas de comunicação, veiculando
informações e difundindo modos de agir, pensar e sentir que predisponham os
cidadãos a adotarem comportamentos sintonizados com as estratégias do
desenvolvimento. Trata-se de uma função educativa, qual seja a de mobilizar
recursos humanos motivados a adquirirem novas habilidades sociais e técnicas,
superando o fatalismo político, o imediatismo econômico e os preconceitos
culturais. (MELO, 1998, p.296).
É justamente nesse viés educativo que a comunicação na pedagogia de Paulo Freire é
pensada, com o objetivo de buscar o diálogo e proporcionar aos homens o desenvolvimento
de uma compreensão crítica. Ele descreve a situação dos problemas de incomunicação da
sociedade brasileira, como decorrentes do aspecto histórico-político e de ordem sócio-
econômica, apontando dentre eles, o “mutismo”, próprio das sociedades com inexperiência
democrática, em que a comunicação constitui-se acrítica, num clima antidiálogo, em que
configura-se a “cultura do silêncio”, refletido como fenômeno comum aos povos colonizados,
sendo estes, alguém que não tem voz própria, que fala pela fala do opressor; ocasionando a
não-comunicação.
Outro problema levantado é o da educação bancária, em que a educação se funde em
repassar conhecimentos. Freire relaciona sua pedagogia como uma “Pedagogia do Oprimido”,
inserida na luta do homem pela sua humanização. Melo (1998, p. 281) vem ressaltar que o
educador refere-se à Pedagogia da Comunicação como uma pedagogia libertadora, aberta,
intensa e em permanente reelaboração. O autor faz menção ao conceito de comunicação
(diálogo), apontado por Paulo Freire (1978, p. 90-91): “Não é no silêncio que os homens se
fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão. Mas, se dizer a palavra, que é trabalho,
21
que é práxis, é transformar o mundo, dizer a palavra não é privilégio de alguns homens, mas
direito de todos os homens”. Tomando como base a Pedagogia Freiriana, Melo vem destacar a
função dos meios de comunicação na perspectiva do desenvolvimento social:
A contribuição que os meios de comunicação de massa podem oferecer para
intensificar o processo de desenvolvimento das sociedades que permanecem em
patamares econômicos atrasados, possuindo padrões tecnológicos e culturais
tradicionais, é justamente o de criar expectativas na população, produzindo atitudes
detonadoras da busca das informações e da manifestação de opiniões, que instauram
um “clima para o desenvolvimento”. (MELO, 1998, p.294).
Partindo dessa proposta é que a Comunicação Comunitária evolui. Como cita Peruzzo
(2003), ela surge e se desenvolve articulada aos movimentos sociais como um meio popular,
participativo, alternativo e dialógico. No Brasil, a comunicação comunitária ganha força na
década de 1980 mediante as pequenas ações dos movimentos populares no período da
ditadura militar, exatamente, quando a sociedade protestava por justiça social. Ainda nos anos
de 1990 essa comunicação se institui pelo caráter reivindicatório, já nos últimos anos ela
passa a tratar mais propriamente de temas locais, o que ocasiona o fenômeno das rádios
comunitárias, que surgem como mecanismos eficientes de enfrentamento da realidade.
Peruzzo (1998) destaca que foi no ano de 1995 que o Brasil descobriu o formato das
rádios comunitárias, no formato de rádios livres, comumente chamadas de piratas por não
terem autorização do Governo. Leal (2007) vem definir a radiodifusão comunitária no Brasil
como um sistema complementar às emissoras comerciais e ao sistema oficial estatal, tendo
como objetivos a preservação de valores culturais e sociais, a divulgação, de forma
independente, de informações sobre fatos políticos, sociais e econômicos relevantes e,
sobretudo, a disseminação de informações locais e regionais de interesse de uma coletividade.
De acordo com a autora, as rádios comunitárias são consideradas tentativas de
constituição de espaços autônomos de difusão da palavra de pessoas anônimas desatreladas
das estruturas políticas hegemônicas. Elas são reconhecidas como meios de contra-poder, de
22
expressão democrática, de pertencimento local, capazes de instaurar uma prática
comunicativa alternativa e participativa. No entanto, é necessário compreender a finalidade
dos meios comunitários, já que devido ao amplo movimento de expansão destes, nos dias de
hoje, vem ocorrendo um desvirtuamento de seus princípios.
Enfim, a comunicação comunitária é aquela que faz sentido dentro de realidades
específicas e porque é produto de cada uma dessas realidades. Ela surge das
necessidades locais e serve aos interesses da “comunidade”, embora seja normal
existir uma grande gama de distorções, como, por exemplo, a existência de meios de
comunicação que se dizem comunitários, mas que de fato servem a outros interesses
políticos eleitorais, religiosos, financeiros e personalísticos. Tais desvios podem
prejudicar a noção de comunitário diante das pessoas de uma localidade. É a
configuração de cada realidade específica que serve de parâmetro para a
compreensão do significado comunitário de cada experiência de comunicação local.
(PERUZZO, 2003, p.249).
Entende-se que os meios comunitários são formas de descentralização do poder de
comunicação no país, o que revela uma re-significação de um povo culturalmente desprovido
do exercício de participação, que passa a interagir com esses mecanismos e assim se
reapropriar do uso da fala. Nesse contexto, Peruzzo (2003) avalia esse processo comunicativo
como propiciador da cidadania, o que consiste na participação ativa da população local, a
sustentabilidade, o respeito de gênero e etnia e melhorias de vida da população envolvida, o
que implica em um desenvolvimento social com igualdade. Conforme afirma a autora,
“nessas condições o desenvolvimento não é apenas uma questão econômica ou de aumento de
renda, mas um desenvolvimento integral e sustentado em condições que permitam ser
duradouro e igualitário”. (p. 253).
Perruzo (2003) ressalta que no Brasil a participação nos meios de comunicação tem
aumentado a partir de 1990, não somente através da mídia comunitária, mas também a grande
mídia passa a oferecer espaço à população, ou seja, os conteúdos dos grandes veículos passam
a ter uma maior abertura para o regional / local. Estas mudanças resultam da demanda pela
participação social proporcionada pelos meios de comunicação locais na luta pela
23
democratização da comunicação, embora não representem ruptura na estrutura da grande
mídia. Assim, Souza (2000) contribui ao afirmar que o desenvolvimento de comunidade é
hoje um dos instrumentos principais de participação e desenvolvimento das condições de
cidadania da população, reconhecidos como recursos básicos ao desenvolvimento global.
Peruzzo (2003) conclui que apesar da Comunicação Comunitária se revelar com uma
realização coletiva que gera conteúdos voltados para o desenvolvimento comunitário local,
seu desempenho sofre distorções e contradições dentro dela mesma no que se refere a sua
importância, a sua dimensão na viabilização do desenvolvimento sustentável. No entanto,
Melo (1998) defende a idéia de que para que a comunicação venha a contribuir no processo
de desenvolvimento sócio-econômico, é preciso antes conhecer mais profundamente as
potências comunicacionais disponíveis na região e as implicações que envolvem os campos
da economia, da política e da cultural, para assim melhor exercer seu papel decisivo no
progresso local e global. Sendo assim, torna-se fundamental atentar-se para a noção de
desenvolvimento em questão.
1.4 - Uma nova proposta de desenvolvimento.
Para entender a dimensão do termo desenvolvimento local é preciso compreender o
significado de desenvolvimento, uma vez que este esteve por muito tempo associado somente
ao processo de crescimento econômico proposto pela industrialização. Contudo, falar de
desenvolvimento implica em alterações nos diversos segmentos da sociedade. Petitinga
(2008) vem dizer que além do fator econômico, existe também a melhoria da qualidade de
vida das pessoas e a conservação do meio ambiente como aspectos fundamentais para esta
concepção. Para ela, o desenvolvimento deve ser visto levando-se em conta os aspectos
locais, que têm significado em um território específico. O global passa a ter sua importância
24
associada ao local e vice e versa, já que um está em constante mudança por conta das
interferências do outro.
Da mesma forma, Muls (2008) afirma que outras formas de coordenação das relações
sociais e das atividades produtivas têm emergido como promotoras do desenvolvimento local.
A mobilização dos atores locais, a formação de redes entre organismos e instituições locais e
uma maior cooperação entre empresas situadas em um mesmo território, são instrumentos que
têm possibilitado aos territórios novas formas de inserção produtiva e uma atenuação das
desigualdades sociais. Lemos (2005) vem considerar que a noção de território não deve ser
apenas entendida pelos seus aspectos físicos e jurídicos, ou seja, para delimitar as fronteiras
de um território é preciso levar em consideração as circunstâncias sociais, simbólicas,
culturais e subjetivas.
Ao considerar o desenvolvimento como fruto das interações sociais, a participação
constitui-se como elemento básico do desenvolvimento local. Conforme Souza (2000, p.83)
“o desenvolvimento social do homem requer participação nas definições e decisões da vida
social. É neste sentido que o resgate deste processo precisa ser trabalhado”. Segundo a autora,
o desenvolvimento de comunidade é um sistema pedagógico de ação junto às comunidades,
sendo assim, diante das dificuldades na participação, ela traz uma reflexão sobre a
conscientização como um processo contínuo e dinâmico. Como diz Paulo Freire (1980, p. 26),
“na aproximação espontânea que o homem faz do mundo, a posição normal, fundamental, não
é a posição crítica, mas a posição ingênua. A conscientização implica que ultrapassemos a
esfera espontânea de apreensão da realidade para chegarmos a uma esfera crítica”. Por sua
vez, Lima (2007) enfatiza a participação como uma das necessidades fundamentais do ser
humano e também para o desenvolvimento local. Sua essência encontra-se na tomada de
consciência, na formação de um senso crítico, de uma sensibilidade e uma identidade
comunitária.
25
Outro aspecto importante na representação do desenvolvimento local como aponta
Souza (2000), é que este permeia a condição de cooperação social, sendo esta realizada por
segmentos da população que têm interesses em comum, dadas às mesmas condições materiais
da existência humana e social. É através da organização da comunidade que as práticas de
cooperação são executadas, ocasionando a formação de sindicatos, partidos, associação de
moradores, organizações comunitárias entre outros.
Conclui-se que a comunicação comunitária é capaz de atender as expectativas de
desenvolvimento local e vice e versa, sendo que estes comungam dos mesmos princípios, o
que torna a relação possível. Contudo, para melhor compreender as interfaces entre a
comunicação comunitária e o desenvolvimento local vale verificar como acontece na prática.
Nos capítulos seguintes serão mostrados como se dá essa experiência e os resultados obtidos
do projeto de comunicação comunitária no Território do Sisal.
26
2 – Sisal, um Território de Possibilidades.
É com o objetivo de promover o desenvolvimento local sustentável que a
Comunicação Comunitária ganha força no Território do Sisal. Localizada no semi-árido
brasileiro, mas propriamente no Nordeste da Bahia, a Região Sisaleira é considerada uma das
áreas com os piores índices de desenvolvimento social e econômico do país. Sua abrangência
é de uma área de 21.256,50 Km² sendo composto por 20 municípios: Araci, Barrocas,
Biritinga, Candeal, Cansanção, Conceição do Coité, Ichu, Itiúba, Lamarão, Monte Santo,
Nordestina, Queimadas, Quinjingue, Retirolândia, Santa Luz, Serrinha, São Domingos,
Teofilândia, Tucano e Valente. A população estimada é de cerca de 552.713 habitantes, dos
quais 348.222 (63%) ocupam a área rural (segundo o censo demográfico de 2007).
Figura 1 – Mapa do Território do Sisal.
Fonte: http://sit.mda.gov.br
27
A região caracteriza-se pelo clima seco, com longos períodos de estiagem e vegetação
de caatinga, compondo a demarcação do polígono das secas feita pelo governo federal em
1936 (CODES, 2008). As limitações ambientais, assim como, as de caráter cultural, social,
política e econômica têm desafiado a plena capacidade que o sertanejo possui de sobreviver.
A exploração de pedras, o cultivo do sisal, a pecuária e a agricultura são ali as bases de
sustentação econômica mais expressiva para os trabalhadores rurais.
A denominação desse território se deve à tradicional cultura da fibra de sisal, extraído
da folha do agave, planta rústica originária do México, que consegue se desenvolver em
regiões áridas. As primeiras mudas de sisal chegaram em 1910, vindas da Paraíba para o
município de Santa Luz. Com boa adaptação ao solo, a planta logo passou a ser cultivada por
toda a região, tendo maior produção as cidades de Santa Luz, São Domingos, Valente e
Conceição do Coité (MOC, 2005). Sua fibra tem vasta utilização no mercado nacional e
internacional, sendo empregada nas indústrias de cordas, papel, confecção, tapetes, entre
outros.
Nessa região, o vestuário, a música, a culinária, o artesanato em couro e a arte popular
em geral, estão marcados pela influência do vaqueiro, expressão de força e resistência, que se
espalhou pelo país, ampliando o mercado para produtos e serviços que caracterizam a cultura
do nordestino. Antigas tradições ainda tentam resistir à modernização, como o Reisado, o Boi
roubado, os Festejos religiosos e a Literatura de cordel, que ainda possuem fiéis adeptos.
Porém, as festas de largo, assim como os diversos gêneros musicais, entre outros resultados
da modernização, estabelecem o atual contexto de identidade cultural.
Um dos primeiro efeitos da modernização ocorria na segunda metade da década de 40
com os primeiros motores de sisal, os quais pertenciam à “gente rica”, fazendeiros e
comerciantes. Com a “chegada” à região da legislação trabalhista, os proprietários de motores
transferiram tal responsabilidade para os agricultores familiares ou para os próprios
28
trabalhadores, criando-se uma situação inusitada: o dono do motor era, em muitos casos, um
trabalhador, mas tinha os seus pares como empregados diante da lei. Tal modificação no
desfibramento do sisal, que antes feito de forma artesanal, mas, logo depois com a máquina,
acabou acarretando uma série de acidentes de trabalho; em sua maioria resultava em
mutilações dos trabalhadores (CODES, 2008).
Figura 2 – Trabalhadores desfibrando o Sisal.
Fonte: http://www.redetec.org.br
Um agravante desse lugar são os indicadores de pobreza e de desigualdade. Em média,
mais da metade da população está abaixo da linha de pobreza. Os problemas mais recorrentes
são: altos números de analfabetismo e trabalho infantil, concentração da propriedade rural,
clientelismo político, inexistência de políticas públicas e falta de investimentos para os
produtores rurais. Deve-se levar em consideração que na região onde o setor agropecuário tem
importante papel na formação do PIB, a terra passa a ter papel de destaque na formulação de
políticas para incrementar a economia.
No contexto da globalização e da privatização, o estado brasileiro quase abdicou
completamente de ter uma política de desenvolvimento regional, deixando a economia mais
livre para ajustar-se de acordo com as forças de mercado, no caso, inteiramente desfavoráveis
ao homem e à economia do semi-árido. O mesmo pode ser dito quanto aos serviços que, de
modo geral, decorrem da elevação da renda e da diversificação dos padrões de consumo. Em
29
razão do baixo nível de renda e dos baixos índices de desenvolvimento humano, a migração é
a grande saída, caminho que vem sendo trilhado não apenas pela população profissionalmente
qualificada, mas também por aqueles isentos de profissionalização em busca da obtenção por
melhores condições de vida. É o que revelam as letras das canções interpretadas por Luiz
Gonzaga:
Sem chuva na terra
Descamba Janeiro,
Depois fevereiro
E o mesmo verão
Meu Deus, meu Deus
Entonce o nortista
Pensando consigo
Diz: "isso é castigo
não chove mais não"
Ai, ai, ai, ai
(...)
Agora pensando
Ele segue outra tria
Chamando a famia
Começa a dizer
Meu Deus, meu Deus
Eu vendo meu burro
Meu jegue e o cavalo
Nóis vamo a São Paulo
Viver ou morrer
Ai, ai, ai, ai
Nóis vamo a São Paulo
Que a coisa tá feia
Por terras alheia
Nós vamos vagar
Meu Deus, meu Deus
Se o nosso destino
Não for tão mesquinho
Ai pro mesmo cantinho
Nós torna a voltar1
As músicas do Rei do Baião traduzem um traço da identidade do sertanejo, um povo
que é “forçado” a deixar sua terra pelas adversidades e que ao saber de notícias de chuva, logo
voltam confiantes. Um povo religioso que atribui a Deus as dificuldades de sobrevivência,
entendendo as desigualdades sociais como um “castigo de Deus”.
1 A Triste Partida, toada, 1964, Patativa do Assaré, RCA Victor. Disponível em: www.luizluagonzaga.mus.br
30
Carente de investimentos por parte do Estado, a população sertaneja é alvo de políticos
que se utilizam das mazelas sociais para promoverem seus discursos e reforçar a política da
seca, ao invés de solucioná-las. O cenário político é marcado pelo coronelismo2, na maioria
dos municípios já se tornou comum apenas uma família estar no poder por várias décadas,
configurando uma cultura de dominação. Enraizadas historicamente no Nordeste e
evidentemente no semi-árido baiano, as práticas de compra de votos e a relação de troca de
favores entre políticos resistem até os dias atuais, o que torna ainda mais emergente a
conscientização da população.
É na perspectiva de mudança da realidade social que a população rural e urbana passa
a se organizar através de ações de mobilização impulsionadas pela Igreja Católica através das
Comunidades Eclesiais de Base, sindicatos de trabalhadores rurais, movimentos sociais,
entidades locais e organizações não governamentais e públicas.
A história social da região registra que esses movimentos nasceram do
enfrentamento dos setores populares com as situações de opressões às quais sempre
estiveram submetidos. Dentre as experiências de organização popular aí vivenciadas,
podem ser lembradas a organização das comunidades de pequenos agricultores, as
lutas pela criação dos armazéns populares, contra o clientelismo nas frentes de
trabalho durante os períodos de seca, dos mutilados do sisal pela previdência social e
pela segurança no trabalho, a luta pela erradicação do trabalho infantil e a luta pela
terra, entre outras. (NASCIMENTO, 2005, p.18)
Espremidos em propriedades de um ou dois hectares ou sem terra nenhuma, os nativos
da Região Sisaleira tem dificuldades de garantir o sustento de suas famílias. A quantidade de
terra por eles possuída é na maioria das vezes insuficiente para a sobrevivência no semi-árido,
não havendo perspectiva sustentável para as famílias da zona rural. A assessoria dos órgãos
cooperativos é entendida como ferramenta utilizada para proporcionar à comunidade uma
percepção das possibilidades de investimento na realização de trabalhos locais visando obter
uma vida digna no campo.
2 Sistema de poder político autoritário e hegemônico que estruturou-se na República Velha.
31
Espelhando-se na filosofia libertadora implementada pela Igreja Católica, surge o
Movimento de Organização Comunitária (MOC) em 1967, com o objetivo de incentivar a
transformação da realidade social. Os primeiros sinais da atuação da sociedade se tornam
mais visíveis com a organização de agricultores, diretamente ligados à cadeia econômica do
território. A mobilização pelo fim dos impostos na comercialização de seus produtos no fim
da década de 70, acarretou a criação da APAEB – Associação de Agricultores do Estado da
Bahia, entidade regional que atua na organização da comercialização, assistência técnica e
crédito. A criação da APAEB foi decisiva para consolidar o movimento de organização dos
trabalhadores rurais, iniciado na época com o apoio da Pastoral Rural pertencente à Igreja
Católica. No ano de 1993, a APAEB é municipalizada, e os agricultores de cada município
que se encarregavam de dar andamento ao projeto.
Na década de 80, alguns municípios passaram a compor movimentos sindicais buscando
sustentação por meio das APAEB’s, enquanto em outros foram conquistados Pólos Sindicais
Regionais. A FATRES - Fundação de Apoio aos Trabalhadores Rurais da Região do Sisal,
surge com grande significado nesse período, e posteriormente vão surgindo as cooperativas de
créditos na viabilização da agricultura familiar, que ao passar dos anos se espalha pelos
municípios.
Ao longo do processo de conscientização da população houve muitos desafios, uma
vez que os sertanejos já estavam marcados pela submissão. Contudo, a força e a esperança
desse povo foram imprescindíveis para lutar por melhores condições de vida. Nos anos 80, a
luta dos mutilados do sisal suscitada pelos STR’s (Sindicatos de Trabalhadores Rurais) com o
apoio da OIT (Organização Internacional do Trabalho) e do UNICEF (Fundo das Nações
Unidas para a infância) teve grande repercussão, o que garantiu ao trabalhador a conquista do
direito ao amparo previdenciário, além de reforçar a idéia dos movimentos populares na
reivindicação das várias demandas.
32
Uma das primeiras mudanças significativas se deu com a implantação do PETI –
Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, assistido pelo Governo Federal através do
Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome3. Com o propósito de combater a
exploração da mão-de-obra infantil, o programa prevê o serviço socioeducativo para crianças
e adolescentes de baixa renda, dando-os incentivo para que estes se afastem do trabalho
precoce e possam ter um futuro melhor.
Embora a organização popular já tivesse surtido efeitos, o povo ainda carregava em si
o medo e a subserviência, embutidos pelo discurso autoritário das oligarquias dominantes que
se disseminou através dos meios de comunicação como o jornal, o rádio e a televisão. O
veículo de maior aceitação na região é o rádio, que além do seu baixo custo e longo alcance,
contempla a população semi-analfabeta, podendo então atingir as classes subalternas. Na
maioria dos municípios as concessões destes veículos públicos pertencem aos mesmos grupos
políticos, que os utiliza para a manipulação das massas e abuso de poder, de modo a formar
receptores passivos, legitimando a “cultura do silêncio”. Embora tenham ocorrido mudanças
tecnológicas ao longo dos anos, os resultados dessas práticas comunicacionais hegemônicas
persistem até hoje, o que pode-se nomear de “coronelismo eletrônico”.4
Contudo, um dos maiores problemas que a sociedade civil enfrenta até os dias atuais é
a idéia de colocar o povo a protagonizar suas reivindicações, ou seja, poder re-significar o
simbolismo que instaurou-se por anos e anos. Conforme Nascimento (2005), diante do estado
de necessidade em relação à comunicação nas garantias constitucionais à liberdade de
expressão, foram surgindo em meados dos anos 90 as rádios comunitárias. Foi visando
promover o diálogo, a aproximação com as comunidades rurais, o debate sobre políticas
3 http://www.mds.gov.br
4 SANTOS, Suzy; CAPPARELLI, Sérgio. Coronelismo, radiodifusão e voto: a nova face de um velho conceito
In: BRITTOS, Valério Cruz; BOLAÑO, César Ricardo Siqueira (Org.). Rede Globo: 40 anos de poder e
hegemonia. 1 ed. São Paulo: Paulus, 2005, v.1, p. 77101.
33
públicas e o incentivo a participação, que esse meio alternativo foi sendo implantado em
vários municípios.
É dentro dessa perspectiva de sensibilização e planejamento de ações voltadas para
auxiliar o desenvolvimento sustentável do Território do Sisal que surge em dezembro de 2002
o CODES Sisal (Conselho Regional de Desenvolvimento Rural Sustentável da Região
Sisaleira do Estado da Bahia). Em 2003, a entidade concebe o PTDRS (Plano Territorial de
Desenvolvimento Rural Sustentável da Região Sisaleira) que fora elaborado por
representantes dos diversos setores da sociedade civil, o qual prevê a articulação das entidades
como exercício contínuo na viabilização das propostas dos eixos prioritário, que são:
agricultura familiar, infra-estrutura, comunicação, educação, saúde, cultura e meio ambiente.
Conforme cita Moreira (2006), o apoio do Governo Federal através do MDA
(Ministério do Desenvolvimento Agrário) e da SDT (Secretaria de Desenvolvimento
Territorial), o CODES Sisal passou a coordenar a aplicação dos recursos do PRONAF
(Programa Nacional de Agricultura Familiar), no que se refere às políticas de infra-estrutura.
Somente em 2004, a espacialidade Território do Sisal passa a ser reconhecido
oficialmente no mapa da Bahia. A divisão dos territórios é um acontecimento recente, fruto da
Política Territorial criada no primeiro mandato do Governo Lula, o Território da Cidadania é
uma estratégia de desenvolvimento regional sustentável e garantia de direitos sociais voltados
às regiões do país que mais precisam, com objetivo de levar o desenvolvimento econômico e
universalizar os programas básicos de cidadania. Trabalha com base na integração das ações
do Governo Federal e dos governos estaduais e municipais, em um plano desenvolvido em
cada território, com a participação da sociedade. Em cada território, um Conselho Territorial
composto pelas três esferas governamentais e pela sociedade determinará um plano de
desenvolvimento e uma agenda pactuada de ações. (MDA, 2008). No caso do Território do
Sisal, o CODES Sisal é quem coordena estas ações.
34
Para subdividir os territórios foram definidos conjuntos de municípios unidos pelas
mesmas características econômicas e ambientais que tivessem identidade e coesão social,
cultural e geográfica. Maiores que o município e menores que o estado, os territórios
conseguem demonstrar, de uma forma mais nítida, a realidade dos grupos sociais, das
atividades econômicas e das instituições de cada localidade, o que facilita o planejamento de
ações governamentais para o desenvolvimento dessas regiões. (MDA, 2008). Contudo, o traço
que maior se sobressai para a definição do Território Sisaleiro consiste na reapropriação de
um povo de fibra que busca meios para sair da condição de excluídos e se tornarem
protagonistas das ações.
A construção do desenho cartográfico do Sisal na Bahia demonstra que as limitações
regionais são mais políticas que definições geográficas estáticas. Reflete o processo
de disputas entre variados atores internos e externos a este território, não entendido
como mera questão geográfica ou divisão militar, mas como discurso construído,
produto de uma rede de relações entre agentes que se reproduzem e agem com
dimensões espaciais diferentes. A divisão cartográfica desse mapa se redesenhou
segundo as acomodações de interesse de seu novo ator político e agente
comunicativo, que baseado em suas lutas e reivindicações buscou a reconstrução da
experiência do que é e do que pode vir a ser o território do sisal. [...] Sentir-se parte
do Território do Sisal se enuncia muito mais amplo que um espaço físico localizado
no semi-árido nordeste baiano, geograficamente contínuo e definido pela dimensão
de seus 20 municípios. Ele apresenta características multidimensionais, tais como o
ambiente, a economia, a sociedade, a cultura, a política e as instituições, e uma
população, com grupos sociais relativamente distintos, que se relacionam interna e
externamente por meio de processos específicos, onde se pode distinguir um ou mais
elementos que indicam identidade e coesão social, cultural e territorial. Entretanto,
no seu processo de constituição e regulamentação político-cartográfica, prevaleceu a
dimensão identitária de resistência dos grupos contra-hegemônicos, ante um longo e
complexo processo de disputas. (MOREIRA, 2006, p.124-125)
Os movimentos sociais têm se revelado com grande influência na região no sentido de
buscar reverter o quadro de exclusão e dominação política. As instituições com maior atuação
na região são as associações, sindicatos, cooperativas, ONG’s e órgãos governamentais. O
constante trabalho implementado por essas entidades proporciona o surgimento de uma
grande parcela de pequenos agricultores, motivados pela perspectiva de tornar produtivo seu
habitat através da participação e vigência cooperativa, reconhecendo o trabalho associativo
35
como alternativa de sustentabilidade, contribuição favorável à prevalência em suas
localidades de origem, tornando desnecessária a recorrência à emigração.
O fortalecimento da região através da organização e mobilização da sociedade civil
tem o apoio de entidades que vêm buscando incentivar os membros das comunidades a
exercer o papel de cidadãos conscientes, através de seus direitos e deveres. Logo, apresentar
os princípios de cada uma dessas organizações que compõe o cenário de luta do Território do
Sisal é de grande relevância.
2.1 – “Por um Sertão justo” 5: A causa das organizações que compõem o Território do
Sisal.
Atualmente, o Território Sisaleiro é considerado famoso pela atuação do terceiro setor.
Na maioria dos seus municípios, a luta por políticas públicas e por justiça social nos diversos
setores da sociedade tem ganhado expressividade. Sendo assim, faz-se necessário conhecer a
contribuição das entidades de maior destaque nessa empreitada.
A FATRES é uma organização da sociedade civil, sem fins econômicos, de natureza
beneficente, considerada de utilidade pública municipal e estadual. Desde sua fundação em
1996, direcionou sua atuação aos trabalhadores rurais, tendo como foco estratégico de ação
para o alcance de seus objetivos institucionais estratégicos, os dirigentes e lideranças sindicais
rurais, no sentido de fortalecer diretamente as organizações sindicais (STRs), de mobilizá-las
e articulá-las para fazerem frente às questões sociais relacionadas à realidade rural da região.
A Fundação tem priorizado conteúdos formativos como políticas públicas para
fortalecimento da agricultura familiar, cooperativismo e associativismo, formação
sindical, formação de conselheiros, etc, enquanto forma estratégica de organização
dos produtores para acesso ao crédito e ao mercado, planejamento estratégico e
gestão institucional, alternativas de Assessoria Técnica Social, Cultural e Ambiental
e captação, armazenamento e gestão de recursos hídricos, adequadas e viáveis à
5 Slogan do MOC – Movimento de Organização Comunitária.
36
convivência no e com o semi-árido, bem como o incentivo a experiência geradoras
de trabalho e renda. (CODES, 2008, p. 66)
Neste cenário, temos também a APAEB Valente. A instituição foi fundada em 1980
diante das reivindicações dos produtores rurais e da iniciativa do MOC. Desde então, o
objetivo da APAEB é melhorar a qualidade de vida das famílias de agricultores com trabalhos
voltados a garantir o sustento econômico, a inclusão social, visando o desenvolvimento
ecologicamente sustentável, a promoção social e a defesa dos direitos dos trabalhadores.
Dentre suas áreas de competência estão: a produção agrícola, a gestão econômica, a
capacitação de pessoas, a industrialização de produtos agrícolas, a influência no processo de
formulação de políticas públicas e a realização de pesquisas e estudos.
A associação recebe o apoio financeiro de vários parceiros a nível nacional e
internacional, o que lhe permite gerir projetos que ajudem a população a conviver com a seca.
É conceituada na região por gerar renda através dos empregos diretos e indiretos com suas
ações. São cursos profissionalizantes por meio da Escola Família Agrícola, linha de crédito
para o pequeno produtor através do SICOOB COOPERE, Cooperativa de Crédito do Semi-
árido da Bahia, assim como, lazer aos seus associados com o clube social, incentivo aos
produtores com a implantação das batedeiras comunitárias e aos artesãos com a fábrica de
tapetes de sisal, entre outras atividades. Além disso, a instituição ainda dispõe de três veículos
de comunicação que servem para aproximá-la à população e seus associados, são eles: a TV
Valente, a Rádio Comunitária Valente FM e o Jornal A Folha do Sisal. A APAEB também
conta com o espaço Casa da Cultura que promove a valorização da cultura popular regional.
Logo, com a organização da sociedade, as limitações do lugar se tornam um aspecto favorável
para repensar a participação e a cidadania, como fica claro no slogan da associação em que
diz: “O Sertão tem tudo que se precisa, se faltar a gente inventa”.
37
Uma outra instituição que desempenha um trabalho eficaz na região é o MOC,
entidade filantrópica que desde sua criação dirige sua atuação com e para as populações
menos favorecidas, discriminadas, suscitando e fortalecendo organizações comunitárias rurais
e urbanas, que tivessem a missão de promover o desenvolvimento local e territorial
sustentável.
Sediada em Feira de Santana, a instituição desenvolve seus trabalhos em alguns
municípios da Bahia, inclusive na Região Sisaleira, mas sua metodologia de apoio à
mobilização da sociedade civil na luta pelo exercício dos seus direitos se estende até mesmo
para outros estados, como Sergipe. O MOC tem como parceiros: o Governo Federal, Regional
e Municipal; a United Nations Children's Fund – UNICEF –; Every Child (Inglaterra);
Cordaid (Holanda); Cooperativas de Crédito (Sistema de Crédito Cooperativo – SICOOBs – e
Associação das Cooperativas de Apoio à Economia Familiar – ASCOOB); Associação dos
Pequenos Agricultores – APAEBs –; Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS –;
Secretaria do Trabalho e Ação Social – SETRAS; etc. Seus principais projetos se baseiam em
cinco programas, são eles:
1)Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar no Semi-árido (viabilizar a
agricultura familiar através de busca de crédito para produção; preparação para a
convivência com a seca; formação cidadã para interferência em políticas públicas; e
assistência técnica) – possui três sub-programas: Agroindústria e Comercialização,
Assistência Técnica e Capacitação, Recursos Hídricos e Crédito –; 2) Programa de
Gênero (implementar vivência de eqüidade de gênero na escola, na construção de
políticas públicas e na agricultura familiar; e assessorar o Movimento de Mulheres
Trabalhadoras Rurais para o seu fortalecimento na intervenção em políticas
públicas); 3) Programa de Educação Rural – que tem como sub-programas a
Formação de Monitores da Jornada Ampliada (Programa de Erradicação do
Trabalho Infantil – PETI), a Formação de Professores Rurais (CAT – Conhecer,
Analisar e Transformar), e o Baú de Leitura –; 4) Programa de Políticas Públicas
(formação de representantes das organizações e dos movimentos sociais para
fiscalizar e propor políticas públicas; fortalecimento da sociedade civil no meio
político; monitoramento e colaboração em programas públicos; e formação de
conselheiros da sociedade civil, para diagnosticar as necessidades políticas na área
de atuação dos conselhos) – divide-se em três sub-programas: Conselhos Municipais
de Gestão, Defesa dos Direitos da Criança e Adolescente (PETI) e Organização e
Fortalecimento da Sociedade Civil –; e 5) Programa de Comunicação – qualificar as
ações desenvolvidas nas áreas de assessoria e articulação das rádios comunitárias;
favorecer uma comunicação interna; criação e atualização de produtos institucionais
(ex: o site); e coordenar o jornal Gira Mundo em parceria com o projeto especial do
MOC, chamado Comunicação Juvenil. (PORTINHO, 2004, p.2-3)
38
A organização aposta em uma educação inovadora, baseada nos princípios de Paulo
Freire, para gerar oportunidades na construção de conhecimentos e assim motivar a população
desfavorecida a buscar meios de organização. Em face da realidade regional e com esses
princípios de transformação, o público prioritário do MOC compreende trabalhadores rurais,
empreendedores familiares, professores rurais, movimento de mulheres, organizações
populares, crianças, adolescentes, jovens, comunicadores sociais e órgãos partidários de
gestão. “O MOC vem tentando dar sua contribuição ao processo de construção e
desenvolvimento sustentável da região sisaleira, sem perder de vista a noção holística,
considerando, inclusive, o local e o global como parte de um processo”. (RODRIGUEZ,
2005, p.216).
Os Sindicato de Trabalhadores Rurais que prestam um fundamental apoio na luta por
melhores condições de vida do homem e da mulher do campo e têm sido de fundamental
importância para as conquistas no Território do Sisal. Espalhados pelos municípios, eles são
articulados em prol da defesa dos direitos trabalhistas, no combate ao trabalho infantil e
escravo, da Previdência Rural, da Educação e Saúde para o campo, da Reforma Agrária e do
Fortalecimento da Agricultura familiar. Segundo o PTDRS do CODES (2006) os STR’s têm
como objetivo maior a representação dos Trabalhadores Rurais. Tem como público pequenos
agricultores e agricultores familiares, meeiros, posseiros, arrendatários, comodatários.
A região ainda conta com os serviços da ASCOOB, Associação das Cooperativas de
Crédito da Agricultura Familiar, criada oficialmente em 1999 por cinco Cooperativas de
Crédito Rural com atuação nas micro-regiões semi-árida e litorânea da Bahia, tendo como
missão: fortalecer a economia familiar solidária, através do cooperativismo de crédito,
fomentando os processos de desenvolvimento local integrado, sustentável e solidário do
estado da Bahia. Atualmente, conta com 10 cooperativas filiadas com pontos de atendimento
em 34 municípios do estado, abrangendo oito territórios e uma base de mais de 41.000
39
cooperados. Dispõe de parcerias com os Bancos do Brasil e do Nordeste e atua a nível
nacional juntamente com a ANCOSOL (Associação do Cooperativismo de Economia
Familiar e Solidária), e a UNICAFES (União Nacional de Cooperativas da Agricultura
Familiar e Economia Solidária). A filiada de maior destaque na região semi-árida da Bahia é a
Cooperativa Valentense de Crédito Rural - SICOOB COPERE, que foi criada em 1993.
A cooperativa surgiu da iniciativa da APAEB Valente que tinha um programa
chamado de “Poupança- APAEB”. Tratava-se de um fundo rotativo feito pelos seus
associados, que logo passou a realizar pequenos financiamentos e mais tarde começou a
disponibilizar capital de giro para a própria indústria de beneficiamento de sisal mantida pela
associação. Com a proporção do crescimento de empréstimos e número de associados se deu
início a SICOOB COPERE. Um dos grandes diferenciais é que a finalidade maior da
cooperativa não é o lucro e sim o desenvolvimento regional.
Já a ARCO SERTÃO, Agência Regional de Comercialização do Sertão da Bahia é
uma associação formada por 30 empreendimentos econômicos solidários dos Territórios
Bacia do Jacuípe, Sisal e Portal do Sertão, que visa a inserção dos produtos das associações e
cooperativas de agricultores familiares no mercado. Uma das principais metas é a qualidade
social e ambiental, além do retorno econômico e o fortalecimento de suas organizações. A
organização promove a intercooperação dos empreendimentos filiados. Desta forma, ela
busca a inclusão social e econômica dos empreendimentos através da formação política dos
trabalhadores rurais, visando comercializar os produtos da Agricultura Familiar e Economia
Solidária.
Os empreendimentos filiados a ARCO Sertão estão distribuídos por 13 municípios
localizados no semi-árido baiano. Em total, são beneficiadas mais de 2.500 agricultores
familiares, que através da ARCO tem acesso ampliado ao mercado, gerando renda e cidadania
na região. Seus parceiros são: FETRAF (Federação dos Trabalhadores na Agricultura
40
Familiar), SEAGRI (Secretaria Estadual de Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária),
UNICAFES (União das Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária), MDA
(Ministério do Desenvolvimento Agrário) / SAF (Secretaria da Agricultura Familiar), PNUD
Brasil - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.
Uma outra organização forte é o MMTR, Movimento de Mulheres Trabalhadoras
Rurais, que surgiu na Região Sisaleira em 1984 com estratégias de construção, mobilização e
defesa dos direitos civis, políticos, sociais e econômicos das mulheres. Em 2006, foi criado o
conselho fiscal do movimento com o objetivo de promover a discussão em torno da
representação política das mulheres rurais e desenvolver ações de qualificação profissional de
mulheres do campo para a geração de oportunidade de trabalho e renda. Atualmente, o
MMTR está presente em sete municípios da Região Sisaleira da Bahia, desenvolvendo ações
que atendem a 150 mulheres diretamente. Com a organização do grupo, elas conseguiram
conquistar importantes espaços de discussão na região, como o Conselho Regional de
Desenvolvimento Sustentável da Região Sisaleira do Estado da Bahia (MOC, 2006).
O Território ainda dispõe do apoio do CODES Sisal. Idealizado em 2002, o conselho
foi criado com o intuito de aproximar o poder público da comunidade. Formado pela
sociedade civil juntamente com representantes governamentais e também de várias entidades
que estão inseridas no território, o CODES visa atender as demandas dos diversos setores da
região criando mecanismos que possibilitem implementar uma política de desenvolvimento
para o território.
O CODES é uma resposta social, tanto quanto à capacidade das entidades locais se
organizarem, quanto de tornar suas práticas de desenvolvimento social intrínsecas ao
poder público, através da discussão e aprovação de políticas públicas multi-setoriais
e únicas para o território, a fim de aumentar o impacto social e a eficácia dos
recursos alocados na criação e consecução destas políticas. (NATALÍCIO E
MENDES, 2007, p.8).
Pensando nas prioridades da região, foi elaborado em 2003 o PTDRS que tem como
41
missão: Contribuir para o desenvolvimento integral, participativo e ecologicamente sustentável
do Território Sisal, priorizando o fortalecimento da cidadania, a erradicação da exclusão social
e a melhoria da qualidade de vida, através da articulação dos sujeitos e das políticas públicas,
apoiando e incentivando ações e projetos referenciais.
Nesse contexto, a importante atuação das entidades que compõem o Território foi
imprescindível na construção do Plano, assim como, frente a tantas outras lutas a caminho do
desenvolvimento. O trabalho realizado por essas organizações gera a participação coletiva, a
sustentabilidade, a conscientização e, sobretudo, o capital social6.
Um outro elemento importante na construção de uma sociedade mais forte e atuante é o
trabalho através da comunicação. Diante da história de dominação político-cultural apoiada
durante séculos na região, emergem os mecanismos de Comunicação Comunitária como
possibilidade de rompimento com as práticas discursivas que impõe o “silêncio” e a
hegemonia de opiniões, como é feito comumente na mídia comercial. O Território do Sisal
caracteriza-se pela expressividade das rádios comunitárias enquanto meio de difusoras dos
ideais de desenvolvimento local. Sendo assim, é necessário compreender de que forma a
comunicação vem contribuindo para sanar as dificuldades existentes nesse lugar.
2.2 - A comunicação comunitária no Território do Sisal.
As rádios comunitárias foram os primeiros mecanismos de utilização das novas
tecnologias na elaboração de contra-discursos. Elas traduzem a fragmentação da
comunicação na experiência dos movimentos e a apropriação destes dos novos
cenários comunicativos como estratégia das lutas simbólicas locais. (FERREIRA E
MOREIRA, 2005, p.6).
6 Para Putnam (In: Moura e Barros, 2008), o capital social é uma característica de organizações sociais, como as
redes, as normas e a confiança, que facilitam a ação e a cooperação com vistas a um benefício mútuo.
42
O surgimento das Rádios Comunitárias na região aconteceu mediante a falta de
veículos comprometidos com as demandas sociais das localidades. Na sua maioria, os donos
dos meios de comunicação são políticos ou pertencem à mesma família, o que acarreta na
concentração do poder da informação nas mãos de poucos, contribuindo assim, para uma
sociedade cada vez mais alienada e passiva. De acordo com Nascimento (2005), as rádios
comunitárias inseridas no Território do Sisal são frutos da necessidade dos movimentos sociais
locais em se comunicarem com suas bases sociais. Nessa perspectiva, Cogo (1998, p.55)
citando Santoro, aponta:
O uso do rádio articulado [...] inserido e legitimado em movimentos e lutas
populares que lhe dêem razão de existir, presta-se maravilhosamente a um novo uso
voltado à promoção do ser humano, fundamentado no diálogo, em sua participação e
libertação.
Com o incentivo da Igreja Católica, STR’s, Apaebs, MOC, entre outras entidades a
nível nacional e internacional; as rádios comunitárias vão alcançando expressividade em
meados do final dos anos 90 e início de 2000, configurando um fenômeno na região. Além de
levar informações principalmente às comunidades da zona rural, que têm o rádio como único
meio de se manterem conectadas aos acontecimentos, as rádios têm desempenhado um papel
social fundamental para o fortalecimento da sociedade, enfatizando em seus discursos, debates
a respeito da cultura, educação, meio ambiente, saúde, políticas públicas e entre outras
questões.
Contudo, é pelo caráter democrático que as rádios comunitárias criam impacto, ou seja,
por reconhecerem a população enquanto interlocutores legítimos. Peruzzo (2007) vai dizer que
a democracia no poder de comunicar é condição para ampliação da cidadania. Portanto, a
participação popular nas experiências de comunicação comunitária representam um avanço
significativo na democracia comunicacional.
43
Pensada em sua dimensão política, apesar dos conflitos e contradições inerentes ao
próprio movimento, ela torna-se elemento central de um modelo comunicativo
baseado na participação a partir da construção cotidiana da realidade. Tendo forte
inspiração em Paulo Freire, boa parte dessas iniciativas inspirara-se em sua teoria da
comunicação dialógica e libertadora. (FERREIRA E MOREIRA, 2005, P.6).
No relatório sobre as rádios comunitárias da Região Sisaleira coordenado no ano de
2005 pelo pesquisador Antonio Dias do Nascimento, as radcom’s da região se destacam pelo
espaço plural, de reivindicações, informação, valorização da cultura local; onde priorizam em
sua programação jornalística os acontecimentos locais, na programação musical a inserção
dos artistas da terra, além do serviço de utilidade pública. Entretanto, as dificuldades para
manter esses meios são grandes, devido a fatores como escassez de recursos financeiros e
humanos, processo de legalização e a repressão por parte da Anatel (Agência Nacional de
Telecomunicações) e Polícia Federal. Porém, ao longo dos anos vão surgindo alternativas
para amenizar os problemas encontrados. No que diz respeito à arrecadação de verbas, as
saídas são os patrocínios, apoio cultural e ajuda da comunidade e das associações. Já as
perseguições dos órgãos federais, acontecem na maioria das vezes por causa de denúncias
feitas ou pelos donos de rádios comerciais, por representantes do poder público municipal ou
por outros setores que são criticados ou denunciados pelas rádios, que por não serem
outorgadas terminam tendo seus equipamentos apreendidos, o que causa indignação a
população.
Nesse sentido, surge em 2004 a ABRAÇO SISAL (Associação Brasileira de Rádios
Comunitárias) voltada a representar e defender legalmente as rádios. Consolidada como a
primeira entidade de comunicação do Território, ela têm como objetivo central contribuir para
a democratização da comunicação local. Atualmente a ABRAÇO SISAL conta com 17 rádios
comunitárias filiadas, as quais prestam um trabalho de acompanhamento, apóiam as emissoras
com capacitações técnicas e de conteúdo, além de orientá-las quanto a informações sobre o
44
desenvolvimento do Território.
Uma outra deficiência que já vem sendo solucionada é a falta de profissionais
capacitados. Apesar de grande parte dessas rádios serem formadas por voluntários, a
qualificação desse pessoal vem sendo articulada pelo programa de comunicação do MOC
criado em 2002 com o apoio do UNICEF e da ONG CIPÓ (Comunicação Interativa), o qual
presta suporte e assessoria na construção de uma política cultural comunicativa para o
Território. O Projeto de Comunicação Juvenil desenvolvido pelo MOC juntamente com o
Instituto Credicard, objetivou-se na mobilização de jovens e entidades sociais em torno de
questões como juventude, democracia e participação. O projeto baseia-se no processo de
formação e qualificação de jovens em técnicas de rádio e jornalismo. Um dos resultados desse
trabalho foi criação em 2005 da Agência Mandacaru de Comunicação e Cultura (AMAC), que
desde então presta serviços de divulgação, cobertura de eventos, produz jornais, boletins
impressos, folders, fotos, campanhas, vinhetas e programas radiofônicos, além de prestar
assessoria de comunicação aos movimentos locais.
Boa parte das rádios intituladas como comunitárias espalhadas no Território, atuam de
acordo com os conceitos de comunitário. A exemplo disso, temos a Rádio Comunitária Santa
Luz FM e a Valente FM, que após muitos anos buscando a legalização, finalmente
conseguiram a outorga. Essas conquistas ajudam a sociedade civil organizada e as entidades
da região a reafirmar que as rádios comunitárias, enquanto meios democráticos, de cunho
educativo, facilitadores do exercício da cidadania, são instrumentos eficazes na luta contra a
exclusão social, mas também, passam a ver esses veículos como poderosos mecanismos em
prol do desenvolvimento das comunidades.
Considerando serem as rádios comunitárias instrumentos importantes para a
promoção do desenvolvimento sustentável local, considera-se ser importante
aprofundar os mecanismos de envolvimento das comunidades na promoção,
implementação e consolidação desses meios enquanto instrumentos de resgate e
valorização dos saberes tradicionais; de ampliação das vozes das populações locais;
45
de afirmação da cidadania e justiça social; de democratização dos processos de
desenvolvimento social, econômico e cultural; bem como da necessidade de
potencializar a participação comunitária no planejamento e gestão de programas que
visam tornar as rádios comunitárias “sustentáveis” ou até mesmo “auto-
sustentáveis”. Isto significa que todo o programa de desenvolvimento local deve ter
em conta a ação comunicativa veiculada pela rádio comunitária, comunicação no
sentido educativo, mobilizando as populações serviços voluntários e cooperativos
em prol da sustentabilidade da própria rádio. (JANE, 2004, p. 184)
Neste sentido, as rádios comunitárias são agentes fundamentais para a mobilização dos
movimentos sociais junto às comunidades, sendo assim, peças chave para integração.
Todavia, esse meio alternativo precisa também garantir formas auto-sustentáveis e não
somente ser pensados enquanto facilitador do processo. A comunicação comunitária deve ser
trabalhada num programa de desenvolvimento local, de modo, que ela também se desenvolva,
se fortaleça, para assim atingir seus idéias de cidadania. É com esse objetivo que as rádios
comunitárias vêm lutando na Região.
O povo que antes era marcado por uma cultura de dominação, silêncio e submissão,
agora se vê frente aos debates da construção de políticas de desenvolvimento territorial, com
intuito de alcançar uma cultura de participação. Então, a sociedade civil através do CODES
busca legitimar seu discurso e define o conceito de desenvolvimento mais pautado nas ações
sociais. Logo, as discussões por um modelo comunicacional alternativo para o Território
fazem com que se defina em meio a seminários e oficinas envolvendo diversos atores da
sociedade, a constituição do Eixo de Comunicação no PTDRS, dentre as demais prioridades.
Essa inserção sinaliza a necessidade de pensar a comunicação de forma estratégica para o
desenvolvimento do Território do Sisal.
Para melhor tratar, debater e elaborar as estratégias do eixo de comunicação foi
formado o Grupo Temático de Comunicação (GT-Com), sendo esse, composto por
representantes das rádios comunitárias (ABRAÇO Sisal), da Agência Mandacaru de
Comunicação e Cultura, das entidades como o MOC, Sindicato de Trabalhadores Rurais,
46
Apaeb Valente, e da Universidade do Estado da Bahia (UNEB – Campus XIV). De acordo
com Peruzzo (2007, P.14), “a formação de conselhos e/ou comitês locais de comunicação, são
maneiras de avançar na utilização das tecnologias de comunicação para colocá-las a serviço
do desenvolvimento comunitário e da cidadania”.
Os embates em torno do quadro comunicacional da região serão tratados no capítulo
seguinte, onde veremos como estão sendo concebidas as ações e projetos previstos no Plano
Territorial do CODES Sisal. Serão analisados os resultados das ações, assim como os desafios
e perspectivas encontrados pelo GT de Comunicação.
47
3 - Comunicação Comunitária e Desenvolvimento Local: uma prioridade ou uma
resistência?
Os debates em torno da necessidade de se repensar a comunicação do Território do
Sisal começam a ser pleiteados a partir do momento em que as rádios comunitárias passam a
se organizar, o que envolve o surgimento da ABRAÇO Sisal, assim como, a atuação dos
jovens comunicadores através de iniciativas como a criação da Agência Mandacaru de
Comunicação e Cultura. Outro aspecto essencial foi a formação do Programa de Comunicação
do MOC, que contribuiu significativamente para um maior engajamento desse atores que
passaram a lutar por condições que viabilizassem o fortalecimento da comunicação. Com o
apoio do CODES SISAL e de outros setores da sociedade, foi implantado o curso de
Comunicação Social com habilitação em Rádio e TV no campus da UNEB (Universidade do
Estado da Bahia) em Conceição do Coité. Além dessa, uma outra conquista importante foi a
inserção do item comunicação ao plano de desenvolvimento do CODES, o que caracteriza um
diferencial do Território.
Constituindo-se como um dos eixos prioritários no Plano Territorial de
Desenvolvimento Rural Sustentável com edições de 2006 a 2008 (em anexo), a comunicação
aparece, dentre os outros eixos, como programação elementar na promoção do
desenvolvimento local. Sendo assim, serão avaliadas as concepções, objetivos e ações
elaboradas para este eixo, uma vez que a comunicação estratégica foi concebida
especialmente pelo MOC, apropriado dos conhecimentos de Relações Públicas.
O intuito do capítulo é identificar a importância do eixo enquanto potencializador da
ação coletiva da própria organização popular, e por fim pontuar os resultados das ações do
plano, bem como, trazer as reflexões sobre a realidade da comunicação comunitária no
Território. Portanto, foram analisados os seguintes documentos: PTDRS, o Relatório do MOC
48
– Como está a comunicação nas organizações sociais?, “Carta de Coité”, assim como também
as entrevistas com os dirigentes das organizações.
3.1 – Pensando a comunicação estrategicamente.
Segundo Henriques (2007, p.20), “a comunicação planejada a partir de um horizonte
ético, passa a ser um dos principais instrumentos para auxiliar o movimento em seu processo
de transformação da realidade”. Logo, a sua principal função é gerar e manter vínculos entre o
movimento social e seu público, através de fatores de identificação, fazendo brotar o
sentimento de pertencimento e contribuindo para a formação de indivíduos co-responsáveis
com as demandas sociais. Entretanto, para que se efetive essa relação é preciso executar
outras funções, como, difundir informações, promover a coletivização, registrar a memória do
movimento e fornecer elementos de identificação com a causa e com o projeto mobilizador.
Considerando tais aspectos, é possível fazer uma correlação com as propostas encontradas no
PTDRS.
Avaliando cronologicamente o eixo de comunicação, em 2006 é detectada a carência
que a região possui em relação à inexistência de um veículo impresso voltado para a
divulgação e visibilidade das ações no Território, e também para fortalecer os segmentos
sociais. A partir dessa percepção, a proposta é que se amplie o Jornal Giramundo, idealizado
pelo MOC como instrumento para destacar as causas dos movimentos sociais, os direitos
infanto-juvenis e o desenvolvimento sustentável. A intenção desse projeto era reformular a
linha editorial para que este meio estivesse voltado também para outras temáticas como a
agricultura familiar, saúde, educação, cultura, entre outros, ou seja, pudesse interagir e
favorecer os diversos segmentos que estivessem comprometidos com o desenvolvimento
sustentável da região.
49
Figura 3: Capas do Jornal Giramundo, Edição de Novembro de 2003 e, subseqüente, a Edição de Novembro de
2008.
Fonte: www.moc.org.br
A proposta de se investir no Jornal Giramundo, para que este tenha uma abrangência a
nível regional como um instrumento democrático a serviço da população e dos movimentos,
implica em um eficaz mecanismo de mobilização social, ou seja, “a difusão de informações a
respeito do movimento é fundamental para que as pessoas tenham conhecimento de sua
existência, conheçam suas propostas, seus objetivos e possam formar um julgamento sobre
ele” (HENRIQUES, 2007, p.22). Além disso, a circulação de informações tende a estimular a
coletivização, fazendo com que as pessoas vejam que não estão sozinhas na luta e ainda se
sintam mais envolvidas pelo sentimento de pertencimento quando vêem o resultado de seus
esforços.
Nessa mesma edição do PTDRS é apresentado um outro programa voltado para o
fortalecimento das ações ligadas à comunicação a nível interno e externo, visto que, as
entidades sociais da região não dispõem de um planejamento de comunicação que as
permitam uma maior visibilidade das ações institucionais que promovem o desenvolvimento
sustentável. A idéia é que se construa uma proposta de comunicação que faça valer a
informação acessível para todos e garanta que os projetos referenciados no semi-árido tenham
espaço privilegiado nos meios de comunicação. Dentre as estratégias lançadas, verifica-se, a
aplicação de um diagnóstico sobre a comunicação institucional em cada entidade; a
construção de planos de comunicação para as mesmas; a execução de um trabalho de
50
marketing institucional e territorial do CODES Sisal abrangendo a imprensa das regiões
próximas e priorizando as rádios comunitárias, além de buscar implementar a assessoria de
comunicação do Conselho.
Pensar a comunicação organizacional nos movimentos sociais é extremamente válido
e necessário como fonte para estabelecer vínculos, por meio, da disseminação de elementos de
identificação entre os indivíduos. Para Henriques (2007, p.24), “isso se dá através da detecção
de elementos simbólicos comuns que podem ser facilmente decodificados e compartilhados e
que melhor traduzam a causa em si e os valores que a ela podem ser agregados”. Logo,
permitirá florescer o sentimento de reconhecimento e pertencimento para com o público.
No ano de 2007 somou-se ao plano a proposta de subsidiar as entidades de
comunicação regionais, sendo elas, a ABRAÇO Sisal e a Agência Mandacaru de
Comunicação e Cultura, com a intenção de obter uma comunicação descentralizadora, que
abarque as experiências do Território e, sobretudo, para viabilizar as potencialidades
econômicas, políticas, sociais, culturais e ambientais, contribuindo assim para o
desenvolvimento local.
Como o próprio autor cita, “os movimentos sociais buscam instrumentalizar os meios
de massa locais para divulgação de seus pleitos e questões, pressionando assim o processo de
formulação de decisões e políticas públicas” (HENRIQUES, 2007, p.72). Nesta perspectiva,
devido à dificuldade de acesso dos movimentos aos meios de comunicação comerciais, notou-
se o valor que as rádios comunitárias configuram para região. Na maioria dos municípios elas
são a única alternativa para as entidades se conectarem ao público; sendo também espaços
propulsores da participação, o que as permite desempenhar um papel fundamental de
mobilização social. Entretanto, a maioria dessas rádios sofre constantes perseguições da
ANATEL e Polícia Federal, já que não possuem concessão para estar funcionamento. Neste
sentido, o apoio à ABRAÇO Sisal é essencial, pois a associação está voltada a representar as
51
rádios comunitárias, prestando-lhes assistência através de capacitações, além de incentivar as
emissoras a se organizarem para lutar pela democratização dos meios de comunicação.
A outra entidade que compõe este cenário é a AMAC, a qual é responsável por
produzir peças de comunicação que pautem as questões do Território do Sisal, em especial
dos movimentos sociais, e por desenvolver um trabalho de assessoria para essas organizações.
A produção de conteúdo, de materiais que constituem a identidade dos movimentos, e
também a divulgação de informações qualificadas, são imprescindíveis para propiciar a
prática da co-responsabilidade. Contudo, tanto a ABRAÇO SISAL, quanto a AMAC
convivem com problemas de infra-estrutura, recursos financeiros, quadro funcional
especializado, falta de equipamentos, entre outros. No entanto, o direcionamento de um
projeto que visa minimizar, ou até mesmo, solucionar tais dificuldades é favorável não só para
estas organizações, mas consequentemente, para a sociedade civil e para os movimentos
populares.
Já na versão de 2008 os programas permanecem os mesmos, sem qualquer alteração
ou novidade, exceto a reformulação pensada para o Jornal Giramundo que fora retirada
dentre as prioridades previstas no plano, sem sequer chegar a ser concebida. Em conversa
com um dos componentes do Comitê de Comunicação, foi explicado que nesse ano não houve
um planejamento de fato, por falta de organização, onde a comissão articuladora do eixo não
estava bem definida. Justamente por isso foi formado o Comitê, para dar uma maior atenção
às discussões sobre a comunicação do Território.
Agora que já foram apresentadas as ações do eixo de comunicação para a promoção do
desenvolvimento, e ainda, salientado as dimensões que este pode alcançar por ser decisivo no
processo de cooptação de atores social, partiremos com esse olhar, rumo à avaliação dos
resultados até então obtidos.
52
3.2 – Comunicação Comunitária no Território do Sisal: Papel de mobilização ou
mobilização só no papel? Avaliação dos resultados.
Com embasamento na relação comunicação comunitária e desenvolvimento local
explicitada no 1º capítulo, pode-se atestar que os atores do Território do Sisal reconhecem a
essencial importância de se trabalhar a comunicação comunitária como aliada ao processo de
desenvolvimento das comunidades, tanto é que o Plano de Desenvolvimento Sustentável do
Território contempla a comunicação, o que configura um grande avanço da região. No
entanto, é relevante analisar como estão sendo implementadas estas ações.
Dentre as propostas requisitadas no PTDRS, verifica-se no projeto de fortalecimento
da comunicação interna e externa dos movimentos sociais, a aplicação de um diagnóstico
sobre a comunicação institucional de cada entidade. Apresentado no 5° Seminário Regional
de Comunicação, o relatório intitulado “Como está a comunicação nas organizações
sociais?”, realizado pelo Programa de Comunicação do MOC em 2006, constatou que a
maioria das organizações não consegue desenvolver um planejamento de comunicação
institucional, devido a impasses como, a falta de recursos humanos qualificados, financeiros,
entre outros. No item apoio externo, foram destacadas pelos entrevistados a Agência
Mandacaru, a ABRAÇO SISAL e as Rádios Comunitárias como importantes fontes de
sustentação na área de comunicação social.
A Agência Mandacaru como uma entidade independente deu um salto muito grande
no território, logo a partir do momento que ela pensou numa estrutura que pudesse
possibilitar aos movimentos sociais uma assessoria de comunicação [...] ela faz essa
produção, ela faz essa mobilização com os outros meios, ela faz essa mobilização
com a sociedade né, pra manter as pessoas informadas do que ta acontecendo, ou
seja, pautando os movimentos sociais, mas, quando se trata da garantia de
sustentabilidade, a gente ainda sente um desafio, uma resistência muito grande.
(Camila Oliveira, Presidente da AMAC)7.
7 Entrevista concedida a autora dia 21/11/2009.
53
Na fala de Camila Oliveira percebe-se a importância do trabalho realizado pela
AMAC, enquanto entidade responsável por atender as demandas comunicacionais no âmbito
dos movimentos sociais, no entanto ela ainda relata quanto às dificuldades de se implementar
a comunicação institucional. Contudo, apesar dos desafios encontrados, as entidades de
comunicação entendem que o principal ganho para a região é a consciência crítica que a
população tem adquirido. Conforme analisa Arlene Freire, Presidente da ABRAÇO SISAL:
Avançamos pouco se pensar em estrutura física e financeira, mas demos um salto na
força que conquistamos enquanto representação e conseguimos conscientizar nossos
associados do seu papel. Nossa maior carência é mesmo financeira, precisamos ter
uma sede, equipamentos pras rádios e isso ainda estamos buscando, mas a nossa
força política nos orgulha.8
Neste contexto, percebe-se o quanto as entidades de comunicação são essenciais para
politização desses atores, sendo que elas contribuem assessorando, capacitando, organizando,
divulgando e consequentemente mobilizando. Contudo, existe uma série de questões que
impedem uma melhor atuação dessas entidades. Apesar de ter sido incluso ao plano a
necessidade de fortalecer a Agência Mandacaru e a ABRAÇO Sisal, muito ainda falta ser
executado para que se obtenha êxito nos trabalhos voltados para a sustentação da
comunicação comunitária, como relata Camila Oliveira (AMAC):
A comunicação eu ainda identifico como um desafio no território, porque, por mais
que o movimento social ele já tenha se sensibilizado do papel dela na região, a
sociedade em si ainda não entende como prioridade, ainda falta muito, não só da
sociedade, mas, de alguns movimentos que não identificam a comunicação como
parte fundamental no processo de mobilização e desenvolvimento do território [...]
ainda existe por parte dos movimentos essa falta de recursos pra investir na
comunicação, mas, além do recurso nós estamos aqui pra dá esse retorno. O
movimento ainda precisa acordar um pouco mais pra importância que a
comunicação tem para o território. Então, essa dificuldade que eu costumo dizer que
ainda existe é muito nesse sentido, além da parte financeira, ainda existe a falta de
entendimento da importância que ela tem pro território.
8 Entrevista concedida a autora dia 21/11/2009.
54
Embora os movimentos sociais compreendam o papel da comunicação comunitária
como propulsora do desenvolvimento, observa-se certa resistência destes, ao não tratar da
comunicação como uma das prioridades do Território, isso é percebido ao ver que as ações
estratégicas inseridas no plano não conseguem ser implementadas. O processo acontece da
seguinte forma: os programas vão sendo efetivados a partir de uma votação que determina
para quais as áreas as verbas serão direcionadas, além de ser minoria, o Eixo de Comunicação
vai sempre ficando nos últimos critérios de realização do CODES SISAL.
[...] na verdade o Plano de Comunicação do CODES ele foi discutido e pensado
isoladamente por três entidades, MOC, a ABRAÇO e a Agência Mandacaru. O
plano do CODES ele estava se perdendo, porque o CODES não tem condição de
tocar aquilo dali, então assim, você discute prioridades, você tem projetos que
viabilizam a agricultura familiar, você tem projetos que tratam a questão da
educação, mas você não tem projetos que viabilizem a comunicação. (Nayara Silva,
MOC). 9
Ainda que sejam recorrentes as dificuldades em relação aos investimentos, esse não
configura o único entrave da Comunicação Comunitária no Território do Sisal. Sabe-se que a
compreensão do lugar estratégico da comunicação não se traduz em financiamento dos
projetos, mas, enquanto propulsora da mobilização social. Sendo assim, questiona-se a falta
de uma ampla discussão na construção do Plano, o que envolveu apenas três entidades. Há,
porém, um embate no que se refere à participação.
De acordo com Perruzo (2005), existe necessidade de se ter clareza da importância da
efetivação de mecanismos que facilitem a representatividade da população e de duas
organizações nas várias instâncias de funcionamento de um meio de comunicação ou um
conselho comunitário. Para tanto, basta que se valorizem as organizações locais dando-lhes
espaço efetivo de participação na tomada de decisões. São nessas circunstâncias que nasce o
Comitê pela Democratização da Comunicação da Região Sisaleira, objetivando ampliar os
9 Entrevista concedida a autora dia 26/11/2009.
55
debates com os movimentos sociais e redefinir as linhas de ações. Conforme relata Nayara
Silva:
Existia antes do Comitê surgir, ações isoladas de comunicação, tinha ações de rádios
comunitárias, na época tinha os jovens comunicadores, a Agência Mandacaru. É ai
que o Comitê entra justamente para juntar todas essas ações, tendo como proposta
fugir do cunho de comunicação e pensar o desenvolvimento. O Comitê hoje não só
tem entidades que trabalham a comunicação, ele tem outras entidades como, por
exemplo, o Movimento de Mulheres, o Coletivo de Jovens, estudantes [...] que a
idéia é que essas figuras entendam que a comunicação não deve ser somente feita
por quem ta envolvido nela, então assim, o Comitê surge pra gerir o plano de
comunicação do CODES.
Com a formação do Comitê, passaram a ser discutidas e encaminhadas propostas que
fomentam o desenvolvimento do Território. A “Carta de Coité”, por exemplo, foi um
documento elaborado pelo grupo em 2008 (ver em anexo), onde constam as demandas mais
emergentes ligadas a área. Dentre os principais pontos levantados está o relacionamento do
Governo da Bahia e da Universidade do Estado da Bahia com as Rádios Comunitárias, o
estímulo a produção local de conteúdo radiofônico e audiovisual para o sistema público de
comunicação, e as intervenções sobre o funcionamento da Rádio Educativa Sabiá FM e TV
Cultura do Sertão.
O GT de Comunicação vem desenvolvendo um trabalho de avaliação e
replanejamento para a comunicação do Sisal. Os principais objetivos do seu Plano de Ação
são, estimular ações de políticas públicas do Governo do Estado voltadas para a
democratização da comunicação; fortalecer a qualificação profissional dos comunicadores
comunitários e o curso de Radialismo na UNEB Campus XIV, e estabelecer uma parceria
com os movimentos sociais; lutar pela criação de uma TV regional com caráter público e
democrático, mobilizar diferentes setores da sociedade para o debate da democratização,
assim como, informar e sensibilizar a população sobre o assunto. Os resultados das ações são
apresentados em reuniões periódicas, conforme pode-se verificar na revisão realizada em
setembro de 2009 (em anexo).
56
Embora o Comitê pela Democratização da Comunicação da Região Sisaleira tenha
surgido com o intuito de dialogar com os demais movimentos e estabelecer vínculos de
participação, isso ainda não é uma realidade. Analisando as pautas de reunião do grupo,
constata-se que efetivamente as demais esferas sociais não aparecem na tomada de decisões.
Conforme Peruzzo (2005, p.19):
Para a concretização do envolvimento direto na produção e na gestão da
comunicação comunitária há que existir canais abertos e desobstruídos de
participação. Enfim, a participação precisa ser facilitada. Não bastam críticas pela
não participação, nem convites vagos e sem perspectivas concretas de viabilização.
Por fim, classificando os avanços, desafios e perspectivas da comunicação da Região
Sisaleira temos os seguintes resultados: em termos de crescimentos, a inserção da
comunicação no Plano de Desenvolvimento do Território; o próprio surgimento do Comitê
que passa a defender a bandeira da democratização, o que até então não havia sido articulado
na região; a aproximação com o Governo do Estado, a criação do curso de Rádio e TV na
UNEB Campus XIV; o aumento do número de rádios comunitárias outorgadas; a formação de
comunicadores comunitários; a consolidação de duas entidades de comunicação, a AMAC e a
ABRAÇO SISAL; além da formação de cidadãos conscientes e politizados.
Já os retrocessos foram os seguintes: a não efetivação dos programas de comunicação
do PTDRS; a falta de apoio por parte de alguns governos municipais, a carência de recursos
financeiros e profissionais, a resistência dos atores sociais da região, e, sobretudo, a questão
da participação das demais entidades do Território nos debates sobre a comunicação. No
entanto, o GT-Com já traçou algumas estratégias para a mobilização desses atores, como o
convite para fazer parte das decisões do Comitê, assim como, a idealização de projetos, como
a campanha “Rádios e TVs são da nossa conta”, entre outros encaminhamentos.
Embora muito ainda tenha que ser feito para que as ações de comunicação saiam do
papel e se concretizem, é fato que a Região Sisaleira obteve um ganho significativo no que se
57
refere à participação, engajamento, criticidade e cidadania; desprendendo-se dos laços
históricos de subserviência e autoritarismo.
58
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Analisando todo o contexto histórico da comunicação no Brasil, percebe-se que o
quadro de dominação que permanece até os dias de hoje é reflexo da concentração dos meios
de comunicação em poder de poucos. A homogeneização das massas, fruto da formação dos
grandes conglomerados de mídia; o descumprimento da Constituição Federal, ao conceder
concessões públicas a grupos elitistas; a falta de liberdade de expressão são traços do processo
comunicativo que se constituiu ao longo dos anos. Nessas condições, acarretou-se em uma
sociedade manipulada, acrítica, com inúmeros agravantes sociais.
No entanto, diante das dificuldades, a sociedade passou a se organizar e buscar
alternativas por uma transformação social. Surgiram então os movimentos sociais, resultando
em fortes mediadores das demandas da população, dentre as quais, a comunicação era uma
das necessidades mais visíveis, sendo que, a falta de canais voltados aos interesses do povo
consiste num empecilho para o fortalecimento das comunidades. Logo, surge a Comunicação
Comunitária, com uma proposta inovadora.
Baseada nos princípios de participação, cidadania, democracia e mobilização, que a
Comunicação Comunitária surge com uma alternativa para promover o desenvolvimento
local, o qual também se apóia em tais conceitos, sendo assim, possível uma relação.
Fundamentados nas condições de igualdade, sustentabilidade e democracia, essa relação se
estabelece nas práticas de mobilização viabilizadas pela comunicação estratégica e pelo
cooperativismo. Foi pensando nessa proposta que os atores sociais do Território do Sisal
instituíram a comunicação com elemento importante para o desenvolvimento da região.
Dentre todos os meios de comunicação, o que mais se destaca na Região Sisaleira é o
rádio. Além do seu baixo custo e longo alcance, o veículo está mais próximo das pessoas, já
que trata dos assuntos da região. Nesse contexto, o surgimento das rádios comunitárias foi
59
fundamental no processo de mobilização e conscientização da população, uma vez que se
tornaram voz dos movimentos sociais e das bases excluídas da sociedade.
Aos versos do cordel, herança portuguesa que tornou-se típica do Nordeste como uma
forma peculiar e popular de se comunicar, e de expor as adversidades e criatividade através da
rima, é que pegamos carona e adentramos a realidade da comunicação comunitária, sobretudo
das Radcom no Território do Sisal...
RÁDIO COMUNITÁRIA, UMA TRAJETÓRIA DE DESAFIOS ENFRENTADOS.
Sou poeta sertanejo
E gosto de versejar,
Escrevendo meus versos
Que vão a estrofe formar,
Sobre comunicação comunitária,
Que é extraordinária,
E vem para democratizar.
Quando falo de democratizar
Estou falando da comunicação,
Que eu acredito ser responsável
Pela grande transformação,
Quando feita com responsabilidade,
Ganha credibilidade
Ao veicular a informação.
Em 1997
Se não estou enganado,
Começou o empenho
Um esforço danado,
Das lideranças sociais,
Que foram fundamentais,
Para termos resultados...
Enfrentamos os coronéis,
Demagogos e ditadores,
Que muito nos retaliaram,
Por serem perseguidores,
Foram muitas ameaças,
E também apreensões,
Sofremos muitos horrores.
Junto com a ANATEL
Vinha a Policia Federal,
Que de forma violenta,
Tratava-nos como marginal,
Apreendendo equipamentos,
Sofremos espancamentos,
Foi um sofrimento infernal...
Amparavam-se em argumentos,
Que chega a nos envergonhar,
60
Pois argumentavam artigos das leis
Aplicadas na ditadura Militar,
Fomos ridicularizados,
Perseguidos e humilhados,
Era vetado o direito de se expressar.
Contradizendo o que diz
A Constituição Federal,
Em seu Artigo quinto,
Que vem de forma fundamental,
Falar da liberdade de expressão,
Tornando-se uma contradição,
Para a manifestação artística – cultural.
Mas nem tudo foi sofrimento
Alcançamos bons resultados,
Um exemplo importante,
Deixo aqui bem explicado,
É o curso de Comunicação Social,
Que veio para o Território do Sisal,
Isso é fato consolidado.
Isso foi fruto da força
Das Rádios Comunitárias,
Que com os movimentos sociais
Foi uma revolução extraordinária,
Sugeriu e reivindicou,
Sentou, debateu e dialogou,
Sua força foi necessária.
A UNEB abraçou
Por entender a importância,
Trouxe o curso para Coité,
Com força e com elegância,
Já tem turma se formando,
E a função exercitando,
Sem atos de intolerância...
Conseguimos firmar
E fundar a ABRAÇO SISAL,
Que para as nossas conquistas
Foi muito fundamental,
Provando que o radio comunitário,
Faz-se útil e necessário,
Pra nossa área territorial.
A rádio comunitária veio
Trazer grande contribuição,
Para as nossas populações,
Carentes de informação,
Tem ajudado a democratizar,
E com responsabilidade informar,
O direito do Cidadão...
Finalizando a poesia,
Com alegria e paixão,
Falei de Rádio Comunitária,
Que é minha inspiração,
Com ela tenho aprendido
Também tenho compreendido,
61
Que é possível a democratização.
Despedindo-me nestes versos,
Com a certeza no coração,
Digo que mesmo sendo perseguido
E sofrendo retaliação,
Valeu pela grande labuta
Com certeza absoluta,
Viva o rádio e a Comunicação!
Edisvânio Nascimento.
É como um legítimo nordestino que Edisvânio Nascimento retrata a trajetória das
Rádios Comunitárias por meio da prosa poética. A inspiração de suas poesias floresceu
quando ele ainda era criança, seus primeiros versos traduziam sua indignação pelo
preconceito por qual passara, por ser portador de problemas visuais. A partir de então, o poeta
abandonou o estado de vítima e engajou-se frente às lutas pela igualdade social, porém, agora
o rádio é o instrumento pelo qual manifestava sua insatisfação e sua inquietude perante os
problemas da Região.
Poeta e também comunicador comunitário, Edisvânio é protagonista de todo o
processo de inserção das práticas de comunicação comunitária do Território do Sisal. Ao
longo desses anos ele viveu muitas perseguições e ainda vive as muitas dificuldades e
resistências de se implementar as ações de comunicação no âmbito do desenvolvimento.
Entretanto, toda sua luta e perseverança não foram em vão, em meio aos diversos entraves
aconteceram muitas conquistas, dentre as quais destacam-se a legalização de algumas das
rádios comunitárias da região; a criação de duas entidades de comunicação, a AMAC e
ABRAÇO Sisal; a inserção do Eixo de Comunicação ao Plano Territorial de
Desenvolvimento; a implantação do curso de Comunicação Social na UNEB do Campus XIV
em Conceição do Coité e entre outras.
Assim como Edisvânio Nascimento, também somos responsáveis pelo fortalecimento
da sociedade sisaleira. É nesse contexto que prossegui com a minha investigação, com o
intuito de contribuir, ou mesmo, retribuir às organizações populares todo o empenho na
62
viabilização de melhorias nas condições de vida no semi-árido. Embora sejam perceptíveis os
avanços, muito ainda tem que ser feito para que se obtenha uma sociedade forte. O primeiro
passo é rever os conceitos de participação, mobilização e conscientização que foram adotados.
O amplo debate em torno da comunicação do Território é essencial para aproximar os
diversos atores sociais e consequentemente buscar soluções coletivas, para assim começar a
ser reconstruído o conceito de Região Sisaleira, formando cidadãos e organizações capazes de
conhecer e alterar sua realidade.
63
REFERÊNCIAS
A Triste Partida, toada, 1964, Patativa do Assaré, RCA Victor. Disponível em:
www.luizluagonzaga.mus.br Acessado em 10 de novembro de 2009.
CARTA COITÉ - DISPONÍVEL EM:
http://www.moc.org.br/download/seminariodecomunicacao/cartadecoite.doc
CABRAL, Adilson. Comunicação Comunitária no século XXI. Disponível em <
http://www.comunicacao.pro.br/artcon/comcom.htm > Acesso em 19 de outubro de 2009.
CALABRE, Lia. Políticas públicas culturais de 1924 a 1945: o rádio em destaque. Estudos
Históricos (Rio de Janeiro), Rio de Janeiro, v. 31, p. 161-181, 2003.
COGO, Denise Maria. No ar... Uma rádio comunitária. São Paulo: Paulinas, 1998.
Comitê pela Democratização da Comunicação da Região Sisaleira – Plano de Ação
Avaliação e Replanejamento – Setembro de 2009.
_____. Como está a comunicação nas organizações sociais? Programa de
Comunicação do MOC, set 2006.
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm Acessado em 19
de outubro de 2009.
FANTINATTI, Márcia. Reflexões sobre a comunicação em tempos de contraditórias
interpretações sobre os significados da cidadania. Intercom, 2009.
FERREIRA, Giovandro M; MOREIRA, Gislene. A construção da comunicação
comunitária da região do Sisal: Uma rede tecida com fibra e resistência. Salvador, 2005.
FREIRE, Paulo. Conscientização. São Paulo: Moraes, 1980.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 6ª Edição, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.
FILHO, W.A.O. A Política articulada de desenvolvimento territorial rural implementada
no Estado da Bahia: Uma análise descritiva. P. 128-137.
HENRIQUES, Márcio Simeone (org.). Comunicação e Estratégias de Mobilização Social.
Belo Horizonte, Autêntica, 2007.
JAMBEIRO, Othon (org). Tempos de Vargas: O Rádio e o Controle da Informação.
Salvador: EDUFBA, 2004.
64
JANE, T. J. O papel das rádios comunitárias na educação e mobilização das populações
para os programas de desenvolvimento local em Moçambique. Anuário Internacional de
Comunicação Lusófona, v. XXIV-2, p. 177-188, 2004
LAHNI, Claudia Regina; SILVA, Fernanda Coelho da; PEREIRA, Maria F. França;
PELEGRINI, Mariana Zibordi. Aportes teóricos para um estudo sobre a participação na
comunicação. Rev. Estud. Comun, V.9, n.20, p. 221-228, Set/Dez 2008.
LEAL, Sayonara. Radiodifusão Comunitária no Brasil: Desafios e Perspectivas para as
Políticas Públicas. In: Políticas de Comunicação. RAMOS, Murilo César e SANTOS, Suzy
dos (orgs.). São Paulo: Paulus, 2007.
LIMA, Vanuza Ribeiro de MARINHO, Marcelo. ; BRAND, Antonio. História, Identidade e
Desenvolvimento Local: Questões e Conceitos. História & Perspectivas, v. 1, p. 363-388,
2007.
LOPES, Poliana Souza de Queiroz. Participação Popular nos Meios de Comunicação
Comunitária. UFPB, 2008.
MAGALHÃES, Hélio Augusto de. Comunicação e desenvolvimento no meio rural.
Revista Esfera, v. 1, p. Nº 3, Volume 1, -11, 2009.
MAGALHÃES, Reginaldo Sales; ABRAMOVAY, Ricardo. A Formação de um Mercado
de Microfinanças no Sertão da Bahia. Revista Brasileira de Ciências Sociais, Vol.22 Nº. 63,
2007.
MELO, João Marcelo e COSTA, Rita Maria. Frente Cultural: Experiências socioculturais no
ambiente do semi-árido brasileiro. Recife: NEAD, 2003.
MELO, José Marques de. A comunicação na pedagogia de Paulo Freire. In: Teoria da
Comunicação: Paradigmas Latino-Americanos. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998.
Ministério do Desenvolvimento Agrário – Disponível em :
http://sit.mda.gov.br/territorio.php?menu=territorio&base=1&informe=s Acessado em 12 de
novembro de 2009.
Ministério do Desenvolvimento Social – Disponível em: http://www.mds.gov.br/ Acessado
em 12 de novembro de 2009.
MOREIRA, Gislene. Comunicação, cultura e participações, reflexões sobre a construção
do desenvolvimento territorial na Região Sisaleira da Bahia. Bahia: UNI revista – vol. 1,
Nº3, 2006.
MOREIRA, G islene. Cultura, Comunicação e Participação: Um olhar sobre as inter-
relações entre cultura, política e desenvolvimento no sistema de comunicação do Território do
Sisal. Salvador, 2006.
MOURA, Cristiane S. Sales; BARROS, Paula F. de Aguiar. Comunicação Organizacional,
Redes Sociais e Capital Social. Natal: Intercom, 2008.
65
Movimento de Organização Comunitária (MOC) – Disponível em: www.moc.org.br
Acessado em 15 de novembro de 2009.
MULS, Marcos Leonardo. Desenvolvimento Local, Espaço e Território: O Conceito de
Capital Social e a Importância da Formação de Redes entre Organismos e Instituições Locais.
Revista Economia, janeiro/ abril, 2008.
NASCIMENTO, Antônio Dias (coord.). Rádios Comunitárias da Região Sisaleira da
Bahia – Memória, conjuntura e perspectivas. Relatório de pesquisa. Salvador: MOC, 2005.
NATALÍCIO, Jonathan; MENDES, Maria F. P. S. Codes Sisal – Conselho de
Desenvolvimento Territorial do Sisal – Bahia. Projeto Conexão Local, 2007.
PERUZZO, Cicília Maria Krohling ; ALMEIDA, Fernando Ferreira de (orgs). Comunicação
para a cidadania. São Paulo: Intercom; Salvador: UNEB, 2003.
PERUZZO, Cicília Maria Krohling. Direito à comunicação comunitária, participação
popular e cidadania. Lumina, v. 1, p. 1-29, 2007.
PERUZZO, Cicília Maria Krohling. Direito à comunicação comunitária, participação
popular e cidadania. Revista Latinoamericana de Ciencias de la Comunicación, v. 3, p. 18-
53, 2005.
PERUZZO, Cicília Maria Krohling. Mídia local e suas interfaces com a mídia
comunitária. Anuário Internacional de Comunicação Lusófona, Bauru-SP, v. 4, n. 1/2, p. 73-
110, 2006.
PERUZZO, Cicília Maria Krohling. Mídia regional e local: aspectos conceituais e
tendências. In: Denise Cogo; João Maia. (Org.). Comunicação para a cidadania. Rio de
Janeiro: EDUERJ, 2006, p. 41-55.
PERUZZO, Cicília Maria Krohling. Participação nas rádios comunitárias no Brasil.
Disponível em: www.bocc.ubi.pt. Acessado em 14/09/2009.
PERUZZO, Cicília Maria Krohling. Revisitando os conceitos de comunicação popular,
alternativa e comunitária. In: XXIX Congresso Brasileiro de Estudos Interdisciplinares da
Comunicação, 2006, Brasília. XXIX Congresso INTERCOM. São Paulo : Intercom, 2006.
PETITINGA, C. S.; Desenvolvimento Local. In: Mais Definições em Trânsito. Disponível
em: http://www.cult.ufba.br/maisdefinicoes/DESENVOLVIMENTOLOCAL.pdf, acessado
em 18 de outubro de 2009.
Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável do Sisal. Bahia, 2008.
Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais. Ética nas Comunicações Sociais. São
Paulo-SP, Paulinas, 2000.
PORTINHO, Rafael Issa. Movimento de Organização Comunitária. Salvador, 2004.
66
RAMOS, Murilo César e SANTOS, Suzy dos (orgs.). Políticas de Comunicação. São Paulo:
Paulus, 2007.
Relatório Anual de Atividades 2005. MOC, 2005 – Disponível em: www.moc.org.br
Acessado em 10 de novembro de 2009.
RUAS, Claudia M. S. Radiodifusão Comunitária: Uma estratégia para o desenvolvimento
local. Salvador: Intercom, 2002.
SANTOS, Suzy; CAPPARELLI, Sérgio. Coronelismo, radiodifusão e voto: a nova face de um
velho conceito In: BRITTOS, Valério Cruz; BOLAÑO, César Ricardo Siqueira (Org.). Rede
Globo: 40 anos de poder e hegemonia. 1 ed. São Paulo: Paulus, 2005, v.1, p. 77101.
SANTOS, Vilbégina Monteiro dos. A construção de uma comunidade imaginada do Sisal.
V ENECULT, 2009.
SOUZA, Maria Luiza de. Desenvolvimento de comunidade e participação. Cortez, 2000.
TEIXEIRA, Celso Elenaldo. As Dimensões da participação cidadã, Salvador, n. 26/27,
p.179-209, jan./dez. 1997.
XAVIER, Rosene. Representação social e ideologia: Conceitos intercambiáveis?.
Universidade Federal de Pernambuco, 2002.
XIMENES, Sérgio. Minidicionário Ediouro da Língua Portuguesa. São Paulo, 2ª Edição,
Ediouro, 2000.
67
ANEXOS
68
TERRITÓRIO DO SISAL Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável
2006 a 2008
Eixo: COMUNICAÇÃO
Programa: DESENVOLVIMENTO DA COMUNICAÇÃO SOCIAL NO TERRITÓRIO DO SISAL PARA VISIBILIZAR ÀS POTENCIALIDADES ECONÔMICAS, POLÍTICAS, SOCIAIS, CULTURAIS E AMBIENTAIS, CONTRIBUINDO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL SOLIDÁRIO DO TERRITÓRIO SISALEIRO.
Projeto: FORTALECIMENTO DAS ENTIDADES DE COMUNICAÇÃO REGIONAIS (AGÊNCIA MANDACARU DE COMUNICAÇÃO E CULTURA E A ASSOCIAÇÃO DE RÁDIOS E TVS COMUNITÁRIAS DA REGIÃO DO SISAL – ABRAÇO SISAL)
Diagnóstico Setorial:
Os meios de comunicação popular na região do sisal, graças à profunda capacidade de articulação da sociedade civil, exercem um forte papel na articulação social. Porém, muitos são os desafios que precisam ser enfrentados. Um dos grandes desafios é o acesso e a busca pela democratização dos meios de comunicação existentes nessa região.
Um grande exemplo desse processo se encontra sob o signo das rádios comunitárias em 17 municípios, que estão funcionando têm se constituído num importante instrumento de comunicação e mobilização social. As experiências existentes, nesse campo, mostram uma relação direta entre as rádios comunitárias e o desenvolvimento das comunidades. É através das rádios comunitárias que por exemplo, a população fica sabendo dos investimentos ou falta de investimentos nos municípios. Com essas emissoras de baixa potência a população tem um espaço aberto à sua participação na programação e na gestão, comunica-se, apresenta as suas reivindicações e denúncias.
A dificuldade de acesso dos movimentos populares aos meios de comunicação regularizados impulsionou o fortalecimento destas rádios comunitárias nas Regiões Sisaleira e Vale do Jacuípe. Entretanto, apesar de haver emissoras com mais de oito anos de funcionamento e pedidos de regularização, elas ainda enfrentam uma forte repressão por parte dos meios de comunicação de massa, do poder hegemônico local, da ANATEL (Agência Nacional de Telecomunicações) e da Polícia Federal.
Elas são um dos principais instrumentos de mobilização popular e de divulgação de campanhas educativas, principalmente na área dos direitos e deveres da infância e adolescência com programas produzidos e apresentados, inclusive por crianças.
A partir de 2005 foi constituída a Abraço-Sisal (Associação de Rádio e TV Comunitária da Região do Sisal), que por sua vez faz o acompanhamento das rádios comunitárias e em parceria com o MOC, apóia as emissoras com capacitações técnicas e de conteúdo, orientações quanto à organização da entidade e documentação, e pautam as rádios com informações sobre desenvolvimento territorial e convivência com o semi-árido. Além disso, incentivam as emissoras a fomentarem discussões e articulações com os movimentos sociais para o fortalecimento da comunicação regional democrática.
Além da dificuldade encontrada pelas rádios comunitárias e sua entidade representativa (ABRAÇO Sisal) na divulgação das ações, o território sisaleiro, demanda hoje um trabalho qualificado de comunicação, principalmente uma comunicação que seja pautada pelos movimentos sociais.
Pensando em buscar alternativas para a qualificação das peças de comunicação no território do Sisal, foi constituída no inicio de 2005 a Agência Mandacaru de Comunicação e Cultura. Em caráter experimental, a Agência Mandacaru constituída por 9 jovens, atinge diretamente cerca de sete municípios: Retirolândia, Valente, Conceição do Coité, Queimadas, Santa Luz, Riachão do Jacuípe e Araci. A Agência funciona no município de Retirolândia para produção de notícias e materiais de comunicação voltados para temáticas de promoção do desenvolvimento territorial
69
sustentável no semi-árido da Bahia.
A cultura rural é um elemento central nos CDs, boletins e publicações produzidos pelo grupo, que busca transformar os meios de comunicação em alternativas de visibilização de práticas e debates sobre um sertão viável. O grupo ainda presta assessoria de imprensa e de comunicação em eventos e para o movimento social da região.
Localização: 20 municípios do Território do Sisal
Público Prioritário:
Através das ações realizadas pelas entidades regionais de comunicação, consegue-se atingir diretamente cerca de 200 mil pessoas. É possível com os meios de comunicação levar informações de qualidade que contribua de forma significante nas vidas das pessoas e divulgação das ações, além de projetar a imagem do território como uma alternativa concreta de convivência com o semi-árido. O público ao qual o projeto se destina é muito diversificado, mas deverá focar, principalmente, os agricultores familiares que muitas vezes não têm informações necessárias e de qualidade sobre os aspectos do território e para além dele.
Justificativa: Apesar do Território do Sisal possuir muitas potencialidades e ser marcado pela luta dos movimentos sociais, a dificuldade de acesso dos movimentos populares aos meios de comunicação é muito grande. Hoje é muito forte o movimento das rádios comunitárias, mas as mesmas sofrem perseguições dia a dia e acabam se enfraquecendo e deixando também a população sem nenhuma alternativa de meios que tragam informações de qualidade e que acima de tudo valorizem o homem do campo. Mesmo sofrendo essas repreensões e a burocracia do ministério das comunicações no andamento dos processos de outorga, diversa entidades contribuem e implementam ações e discussões que valorizam e promovem o desenvolvimento do território.
Nesse contexto, a Agência Mandacaru de Comunicação e Cultura acredita que através da produção de peças de comunicação e cultura e mobilização dos meios de comunicação popular pode fortalecer a identidade dos agricultores e agricultores familiares do semi-árido. O processo de gestão da Agência é feita pelos próprios jovens, com orientação de um Conselho Político composto por representantes de entidades da região. Além disso, a Agência é vista pelos seus membros como uma importante oportunidade de geração de renda para eles próprios e a juventude da região.
Objetivos: Fortalecer a comunicação social no território do sisal, buscando a democratização da comunicação;
Implantar tecnologias de comunicação que possibilitem a inclusão social e digital da população do território.
Garantir a inserção do território nas discussões sobre digitalização de rádio e TV.
Divulgar junto às rádios filiadas a ABRAÇO Sisal, as experiências do Território a nível interno e externo.
Fortalecer a ABRAÇO Sisal para acompanhamento das rádios comunitárias.
Agência Mandacaru assumindo a produção constante de notícias da e para o Território Sisaleira e prestando serviços de comunicação às entidades do movimento social.
Buscar a integração entre todos os atores/meios de comunicação social do território.
Estratégias: Fortalecimento da ABRAÇO Sisal
Aquisição de equipamentos de escritório e instalação do escritório
70
permanente da ABRAÇO Sisal numa sala sedida pelo CODES Sisal
Implantação de 03 tele-centros nos muncípios do teritório.
Capacitações para comunicadores comunitários sobre a digitalização de rádio e TV.
Garantir recursos para a articulação e acompanhamento das rádios comunitárias.
Contratação de um/a administrador/a e um/a técnico/a (20 horas semanais cada);
Aquisição de equipamentos para as rádios comunitárias filiadas a ABRAÇO Sisal.
Recursos para manutenção do espaço físico da ABRAÇO Sisal no período de dois anos;
Contratação da Agência Mandacaru como assessora de comunicação do CODES:
Produção de peças de comunicação para divulgação das ações do CODES no território do Sisal (Jornal Impresso, Programas de rádio, construção e manutenção do site para a entidade, dentre outras ações).
Rádio Educativa
Condicionar o apoio político e financeiro do CODES a rádio educativa de Valente, se houver garantia da participação dos movimentos sociais no processo de gestão;
Aquisição de equipamento e custeio para o primeiro ano de funcionamento.
Arranjos Institucionais:
Pólo Sindical (Sindicatos dos Trabalhadores Rurais da Região do Sisal), Movimento de Organização Comunitário (MOC), Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), Ministério da Cultura (Pontos de Cultura), Conselho Regional de Desenvolvimento Rural Sustentável da Região Sisaleira do Estado da Bahia (CODES), Articulação no Semi-árido brasileiro (ASA), Associação Mundial de Rádios Comunitárias (AMARC) Associação das cooperativas de apoio a economia familiar (ASCOOB), Órgãos públicos (Prefeituras municipais, poder legislativo, estaduais e municipais), dentre outros.
Indicadores de Resultado e Impacto:
Quantidade de comunicadores capacitados e dominando sobre a digitalização da TV e do rádio.
05 telecentros implantados e em funcionamento nos municípios de Retirolândia, Valente, Serrinha, Queimadas e Tucano (Marco Zero: 02).
Qualidade e quantidades dos programas de rádios e de boletins e matérias produzidas e veiculadas;
Quantidade de lideranças, dirigentes e profissionais da comunicação qualificados para assumir processo de comunicação social;
Qualidade e quantidade de matérias de interesse do CODES veiculadas nos meios de comunicação a nível local/regional/estadual e nacional.
Impacto gerado através da produção das peças de comunicação.
Funcionamento da rádio educativa com gestão participativa das entidades do movimento social.
Gestão: Criação de comissão gestora composta pelos diversos segmentos de interesse e que estejam envolvidos e tenham compromissos com a comunicação social;
71
Estratégias: Fortalecimento da ABRAÇO Sisal
Aquisição de equipamentos de escritório e instalação do escritório permanente da ABRAÇO Sisal numa sala sedida pelo CODES Sisal
Implantação de 03 tele-centros nos muncípios do teritório e fortalecimento de dois existentes.
Capacitações para comunicadores comunitários sobre a digitalização de rádio e TV.
Garantir recursos para a articulação e acompanhamento das rádios comunitárias.
Contratação de um/a administrador/a e um/a técnico/a (20 horas semanais cada);
Aquisição de equipamentos para 12 rádios comunitárias filiadas a Abraço-Sisal.
Recursos para manutenção do espaço físico da ABRAÇO Sisal no período de dois anos;
Contratação da Agência Mandacaru como assessora de comunicação do CODES:
Produção de peças de comunicação para divulgação das ações do CODES no território do Sisal (Jornal Impresso, Programas de rádio, construção e manutenção do site para a entidade, dentre outras ações).
Rádio Educativa
Condicionar o apoio político e financeiro do CODES a rádio educativa de Valente, se houver garantia da participação dos movimentos sociais no processo de gestão;
Aquisição de equipamento e custeio para o primeiro ano de funcionamento.
Custos:
17.000,00
301.000,00
9.600,00
14.000,00
53.480,00
78.000,00
14.400,00
72
TERRITÓRIO DO SISAL Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável
2006 a 2008
Eixo: COMUNICAÇÃO
Programa: DESENVOLVER AÇÕES DE COMUNICAÇÃO PLANEJADAS E ACOMPANHADAS SISTEMATICAMENTE, PARA QUE HAJA VISIBILIDADE DAS AÇÕES DOS MOVIMENTOS POPULARES DO TERRITÓRIO SISALEIRO DA BAHIA.
Projeto: FORTALECIMENTO DAS ENTIDADES DO MOVIMENTO SOCIAL DO TERRITÓRIO DO SISAL EM RELAÇÃO ÀS AÇÕES LIGADAS À COMUNICAÇÃO A NÍVEL INTERNO E EXTERNO.
Diagnóstico Setorial:
É um grande desafio trabalhar a comunicação numa região em que se evidencia a pouca visibilidade das ações institucionais que promovem o desenvolvimento sustentável. A comunicação pode exercer um papel importantíssimo no fortalecimento da imagem do semi-árido, bem como na sensibilização e divulgação das ações voltadas para o desenvolvimento e fortalecimento da Agricultura Familiar na região.
Localização: 20 municípios do Território do Sisal
Público Prioritário:
Lideranças e dirigentes das seguintes entidades: Pólo Sindical do Sisal, CEAIC, UAPAC, ARCO Sertão, MMTR Regional, SICOOB-COOPERE, SICOOB-Itapicuru, Coopergama, Cooperjovens e Cooperafis. Através das ações de comunicação desenvolvidas pelas entidades deve-se atingir um público de 200 mil pessoas.
Justificativa: As entidades sociais assumem e contribuem de forma significante a gestão de um projeto de desenvolvimento sustentável para a Região Sisaleira. No entanto, não possuem um planejamento de comunicação para divulgar as suas ações e as suas potencialidades. Neste contexto, a comunicação assume um papel importante na visibilidade das ações, no fortalecimento das instituições e na mobilização das comunidades e entidades locais para participarem do processo. Com este propósito, as entidades regionais de comunicação (ABRAÇO Sisal e Agência Mandacaru) identificam a necessidade de produzir estratégias de divulgação e comunicação que apóiem o desenvolvimento dos movimentos sociais e contribuam para o fortalecimento da Agricultura Familiar, em especial a ovinocaprinocultura e a apicultura. É importante destacar que a Agência Mandacaru de Comunicação e Cultura é uma das entidades que pode suprir essa lacuna, pois já desenvolve ações de comunicação social, por já possuir estúdios de produção em rádio e jornalismo e as rádios comunitárias se configura como um instrumento estratégico de veiculação. A idéia é construir uma proposta de comunicação que faça valer a informação acessível para todos/as e garanta que os projetos referenciais do semi-árido tenham espaço privilegiado nos meios de comunicação.
Objetivo: Garantir a disseminação das informações sobre as potencialidades, experiências, ações e produtos desenvolvidos pelos diferentes atores sociais, políticos e econômicos no Território Sisaleiro e até mesmo fora dele.
Contribuir e apoiar a construção de planos de comunicação para as entidades do território.
Estratégias: Aplicação de um diagnóstico sobre a comunicação institucional de cada entidade (Marco Zero: 01).
Construção de planos de comunicação das entidades regionais do território e prestar apoio na sua execução.
Fazer um trabalho de marketing institucional e territorial do CODES Sisal voltada para a imprensa de regiões próximas, dando prioridade às rádios comunitárias filiadas a ABRAÇO Sisal na divulgação das ações.
73
Contribuir como elo para fortalecer a integração entre os eixos do Plano de Desenvolvimento Territorial.
Implementar a assessoria de comunicação do CODES Sisal voltada para os meios de comunicação comunitários, educativos e comerciais, realizada pela Agência Mandacaru de Comunicação e Cultura.
Busca de informações externas que digam respeito as ações do território para divulgá-las dentro do território sisaleiro.
Arranjos Institucionais:
Pólo Sindical (Sindicatos dos Trabalhadores Rurais da Região do Sisal), Movimento de Organização Comunitário (MOC), Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), Ministério da Cultura (Pontos de Cultura), Conselho Regional de Desenvolvimento Rural Sustentável da Região Sisaleira do Estado da Bahia (CODES), Articulação no Semi-árido brasileiro (ASA), Associação Mundial de Rádios Comunitárias (AMARC) Associação das cooperativas de apoio a economia familiar (ASCOOB), Órgãos públicos (Prefeituras municipais, poder legislativo, estaduais e municipais), dentre outros.
Indicadores de Resultado e Impacto:
09 entidades da sociedade civil com Planejamento Estratégico em Comunicação concluído e em execução. (Marco Zero: 0)
20 programas de rádio institucionais de entidades da sociedade civil veiculados em rede de emissoras filiadas à ABRAÇO-Sisal (Marco Zero:0)
08 sites institucionais de entidades da sociedade civil criados e atualizados pelo menos bimestralmente. (Marco Zero: 03).
05 produtos de comunicação territorial produzidos e em circulação (progr. de rádio, boletins, jornais, sites, programa de TV) - (Marco Zero: 01)
15 entidades do movimento social contratando serviços de comunicação à Agência Mandacaru (Marco Zero: 01)
Recursos arrecadados pela Agência Mandacaru para a prestação de serviços de comunicação a entidades da sociedade civil
Gestão: Criação de comissão gestora composta pelos diversos segmentos de interesse e que estejam envolvidos e tenham compromissos com a comunicação social;
74
TERRITÓRIO DO SISAL Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável
2006 a 2008
Eixo: COMUNICAÇÃO
Programa: DESENVOLVIMENTO DA COMUNICAÇÃO SOCIAL NO TERRITÓRIO DO SISAL PARA VISIBILIZAR ÀS POTENCIALIDADES ECONÔMICAS, POLÍTICAS, SOCIAIS, CULTURAIS E AMBIENTAIS, CONTRIBUINDO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL SOLIDÁRIO DO TERRITÓRIO SISALEIRO.
Projeto: FORTALECIMENTO DO JORNAL GIRAMUNDO COMO INSTRUMENTO DEMOCRÁTICO DE DIVULGAÇÃO DAS AÇÕES DO TERRITÓRIO SISALEIRO.
Diagnóstico Setorial:
Detecta-se na região, a existência de diversos jornais que atendem interesses particulares de grupos segmentados. Por outro lado, existe um veículo impresso voltado para a divulgação e visibilidade das ações no território, porém, sua estrutura técnica e manutenção financeira não é suficiente para atender a demanda existente de informações que o território apresenta. A publicação do jornal giramundo circula bimestralmente no território, e atende, ainda que precariamente ao papel de fortalecimento dos segmentos sociais com o foco voltado para os direitos da criança e adolescente.
Localização: 20 municípios do Território do Sisal
Público Prioritário:
100 mil pessoas
Justificativa: A inexistência de um veículo de comunicação impresso que atenda aos interesses da população do território do sisal é hoje um dos grandes desafios não só dos movimentos sociais, como dos poderes públicos locais. A perspectiva do projeto é dar visibilidade as ações que promovem o desenvolvimento sustentável. Para isso, é preciso melhor a estrutura técnica da equipe de produção giramundo, bem como aumentar a quantidade de páginas que garantam a cobertura das ações desenvolvidas nos municípios do território. Além disso, será reformulada também a sua linha editorial para comportar outros temáticas além dos direitos da criança e adolescente, como por exemplo, a agricultura familiar, saúde, educação, cultura, dentre outros.
Objetivos: Divulgar ações e experiências que promovam o desenvolvimento sustentável e solidário do território sisaleiro.
Estratégias: Redefinição da linha editorial;
Cobertura jornalística das ações desenvolvidas em todos os municípios que compõe o CODES Sisal;
Contratação de profissionais para a produção do jornal;
Arranjos Institucionais:
Pólo Sindical (Sindicatos dos Trabalhadores Rurais da Região do Sisal), Movimento de Organização Comunitário (MOC), Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), Ministério da Cultura (Pontos de Cultura), Conselho Regional de Desenvolvimento Rural Sustentável da Região Sisaleira do Estado da Bahia (CODES), Associação das cooperativas de apoio a economia familiar (ASCOOB), dentre outras.
Indicadores de Resultado e Impacto:
Quantidades de municípios atendidos pelo jornal;
Número de exemplares;
Qualidade e quantidade das matérias sobre o território;
Periodicidade do jornal
Número de mobilizações causadas nos municípios e ou na região de acordo com as notícias divulgadas.
75
Gestão: Criação de comissão gestora composta pelos diversos segmentos de interesse e que estejam envolvidos e tenham compromissos com a comunicação social;
76
“Carta de Coité”
Principais encaminhamentos do Seminário de Comunicação promovido pelo Comitê pela Democratização da
Comunicação da Região Sisaleira
25 de abril de 2008, AABB, Conceição do Coité.
Os comunicadores comunitários, jovens, mulheres, trabalhadores rurais, educadores do campo
e representantes de ONG’s, rádios comunitárias e movimentos sociais reunidos em Conceição
do Coité elaboraram as seguintes propostas:
1. Relacionamento entre as rádios comunitárias e o Governo do Estado da Bahia/AGECOM
:
a. Formação de um Grupo de Trabalho (GT) para negociações e encaminhamentos
entre Abraço Bahia, AGECOM e IRDEB;
b. Promoção de um encontro estadual das rádios comunitárias no processo das
Conferências Regionais e Estadual de Comunicação;
c. Reconhecimento da Abraço-Sisal como intermediadora da veiculação de
publicidade radiofônica do Governo do Estado nas rádios comunitárias filiadas
(Abraço Sisal dispõe de identidade jurídica e nota fiscal);
d. Possibilidade de firmar convênio entre Abraço Sisal e AGECOM para a formação
de comunicadores comunitários (mas não em substituição à participação das rádios
comunitárias no bolo publicitário do Governo);
e. Concretização da proposta da AGECOM de promover e integrar uma “rede de
proteção às rádios comunitárias” contra a perseguição da ANATEL, Política
Federal e, às vezes, inclusive da Polícia Militar e Civil?
2. Parceria entre rádios comunitárias e a Universidade do Estado da Bahia (UNEB):
a. Audiências com o Secretário de Educação e o reitor da UNEB;
b. Realização de um projeto científico-experimental pelo curso de radialismo do
Campus XIV da UNEB em Conceição do Coité para possibilitar o funcionamento
das rádios comunitárias não outorgadas da Abraço Sisal e a atuação dos estudantes
nas rádios comunitárias;
c. Realização de um curso de extensão voltado especificamente para os
comunicadores comunitários da Abraço Sisal;
d. Realização de um curso pré-vestibular voltado especificamente para os
comunicadores comunitários da Abraço Sisal;
e. Ampliação do número de professores e do acervo bibliográfico do curso de
radialismo em Conceição do Coité para viabilizar a abertura de novas turmas além
das duas atualmente em andamento.
3. Cooperação e estímulo para a produção local e independente de conteúdo radiofônico e
audiovisual para o sistema público de comunicação (IRDEB/AGECOM):
a. Edital de seleção pública de parceiros do segmento de radiodifusão comunitária
para o financiamento da produção de conteúdos a integrar uma “cesta pública de
produtos de comunicação” para veiculação na rede pública de rádio e TV a nível
regional, estadual e nacional;
77
b. Negociação conjunta entre Abraço Bahia/Sisal e IRDEB sobre um tratamento
diferenciado das rádios públicas e comunitárias pelo ECAD (pagamento de
direitos autorais).
4. Estimular o debate sobre o funcionamento das outorgas de rádio e TV da Fundação Bailon
Lopes Carneiro (Rádio Sabiá FM, TV Cultura do Sertão)
a. Mesa de negociação entre o Comitê, a Fundação, a AGECOM e o IRDEB para
debater a viabilização de uma TV e rádio pública a serviço do Território do Sisal;
b. Estudo dos procedimentos legais cabíveis para exigir a atuação da Fundação em
conformidade com o propósito das radiodifusões educativas.
78
Reunião do Comitê pela Democratização da Comunicação da Região Sisaleira
16 de setembro de 2009 | Agência Mandacaru | Retirolândia – Bahia
1. Presentes:
Nome Entidade Contatos novos / alterados
Klaus Minihuber MOC
Lorena Amorim MOC
Arlene Freire Abraço Sisal
Laudécio Agência Mandacaru
Deniza Centro Estadual de Formação
Profissional do Semiárido
(75) 3695.5063, (75) 8110.6411
2. Pauta da reunião:
a. Leitura e atualização dos encaminhamentos da reunião anterior;
b. Informes;
c. Avaliação dos avanços e desafios da comunicação no território do Sisal – debate sobre
o PTDS e a necessidade de sua atualização;
d. Avaliação e qualificação do Plano de Ação do Comitê e definição de ações novas ou
redefinidas;
e. Mobilização para a Conferência Nacional de Comunicação: Conferência Livre,
Comissão Pró-Conferência Estadual, Conferência Estadual nos dias 24 e 25.
3. Informes:
a. Leitura e atualização dos encaminhamentos da reunião anterior – reencaminhamento:
- Cléber Menezes, articulador cultural do Território (Arlene)
- Coletivo de Jovens (Lorena vai ver com Givaldo)
- ASCOOB (Klaus vai cobrar resposta)
- Refazer o convite do e-grupo, incluindo Deniza
- Convidar articuladore municipal de educomunicação de Valente para
participarem do Comitê (Nayara)
- Convidar Roquinho (LIDER) para participar do Comitê como representante do
Fórum dos Pontos de Cultura (Arlene)
- Ver com Toni se fez contato com a Fundação APAEB e reitarar convite
(Klaus)
b. Apresentação do Centro de Formação Profissional do Semiárido:
- oferece cursos técnicos de nível médio. Atualmente tem os cursos: Alimentos,
Agropecuário e Informática (integrados ao ensino médio), enfermagem
(susequente);
- Para o próximo ano é planejada a implementação de 03 novos cursos, que não
foram definidas ainda.
- Abraço Sisal mandou um ofício pedindo a implementação de um curso de
formação subseqüente na área de comunicação, com ênfase em rádio, e com
ensino à distância – para certificação do comunicadores comunitários na área
de rádio (DRT).
c. DIREC 12 (Serrinha) atua em 12 municípios do território e está fazendo ações de
divulgação através das rádios comunitárias à Abraço Sisal, já estão sendo veiculados
spots.
79
d. Negociação da veiculação de publicidade institucional do Governo do Estado nos
blogs e sites da Abraço Sisal: proposta da Layout era de abrir um CNPJ próprio (com
fins lucrativos) para cada um dos sites/blogs – estudar a alternativa
- Propor uma reunião com Luiz da Layout para debater a melhor forma de
estruturar uma agência que receberia os recursos da veiculação (Arlene/Klaus);
- Buscar assessoria jurídica e contábil para formatar essa agência – ver a
experiência da cooperativa da Rede de Produtoras com Célia do MOC
(Klaus/Lorena);
4. Avaliação dos avanços/desafios da comunicação no Território:
a. Avanços na comunicação do Território:
- A própria existência do eixo e plano de comunicação território;
- Amadurecimento do debate e da articulação em torno da democratização da
comunicação;
- Visão mais integrada ao cenário estadual e nacional do debate da comunicação
(processo das Conferências, FNDC) ante uma visão mais isolada da questão no
território em 2004/5;
- Criação do curso de rádio e TV na UNEB;
- Qualificação dos atores no território – processo continuado de formação de
comunicadores comunitários (Abraço Sisal, AMAC), formações mais pontuais em
entidades sociais (FATRES, MMTR, Rede, Coletivo de Jovens);
- Consolidação de duas entidades de comunicação no território (Abraço Sisal e
AMAC);
- Outorgas para rádios comunitárias (S. Domingos, Sta. Luz, Ichu), antes de 2005 só
tinha Valente, Tucano e Araci.
- Surgimento de novas rádios comunitárias dentro da proposta da Abraço Sisal;
- Resistência das rádios comunitárias não outorgadas;
- Consolidação da proposta de educomunicação em três municípios (Valente, Coité
e Retirolândia);
- Avanço na inclusão digital através dos Centros Digitais de Cidadania;
b. Retrocessos/desafios na comunicação do Território:
- Municípios sem rádios comunitárias (p.ex. Serrinha);
- Efetivação do plano de comunicação do território;
5. Encaminhamentos:
a. Mandar convites para participar do Comitê para: (prazo: 30/09)
- Cléber Silva, AMARC (Laudécio)
- Cléber Menezes, articulador cultural do Território (Arlene)
- Coletivo de Jovens (Lorena vai ver com Givaldo)
- ASCOOB (Klaus vai cobrar resposta)
- Refazer o convite do e-grupo, incluindo Deniza
- Convidar articuladore municipal de educomunicação de Valente para
participarem do Comitê (Nayara)
- Convidar Roquinho (LIDER) para participar do Comitê como representante do
Fórum dos Pontos de Cultura (Arlene)
- Ver com Toni se fez contato com a Fundação APAEB e reitarar convite
(Klaus)
80
b. Elaborar um briefing da campanha “Rádios e TVs são da nossa conta”. Lorena/Klaus,
prazo: 07/10/2009.
c. Próxima reunião do Comitê: 07/10/2009, 09 horas, AMAC, com pauta indicativa:
- Mobilização para a Conferência Estadual;
- Planejamento e mobilização para a campanha “Rádios e TVs são da nossa conta”;
- Debate sobre a coordenação do Comitê.
Relator: Klaus Minihuber.