a colorimetria aplicada como...

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30 1 Economista, MSc. [email protected], LPF/IBAMA – Brasília, DF 2 Eng. Florestal, PhD. Dep. Engenharia Florestal, UnB – Brasília, DF A COLORIMETRIA APLICADA COMO INSTRUMENTO NA ELABORAÇÃO DE UMA TABELA DE CORES DE MADEIRA José Arlete A. Camargos 1 ; Joaquim C. Gonçalez 2 RESUMO A cor da madeira é muito instável, estando sujeita a rápidas alterações. Esta instabilidade está intrinsecamente relacionada com os elementos anatômicos consti- tuintes da madeira. Por ser subjetiva, a cor da madeira pode ser interpretada de diversas formas. Neste trabalho estudaram-se as cores de 350 espécies de madeira (402 amostras). Seguiu-se o Sistema CIE La*b* de 1976. Determinaram-se os dados colorimétricos dessas amostras por meio de um espectrofotômetro Datacolor Microflash 200d. Fez-se, por meio de aplicação de um questionário, o levantamento da nomenclatura das cores das madeiras adotadas na tabela. Utilizando-se de análi- se multivariada, os dados foram classificados em 33 grupos de cores homogêneas com o objetivo de confeccionar uma tabela de cores de madeiras. Constatou-se que o ângulo de tinta (H), no sistema CIE La*b*, de todas as cores das madeiras estuda- das se enquadrou de 0º a 90º. Palavras-chave: tabela de cores, madeira, colorimetria, CIE La*b*. APPLIED COLORIMETRY AS INSTRUMENT IN THE ELABORATION OF A TIMBER COLOR CHART ABSTRACT Due to its subjectivity, color in timber can be interpreted in different ways, in addition to the fact that it is unstable and subjected to alterations caused by weathering. This experiment studied colors and figures of 380. Brazilian tropical wood species based on the CIE La*b* Color System from 1976. Colorimetric data was determined by means of a Datacolor Microflash 200d Spectophotometer. A multivariate statistical analyses by Cluster grouping method was used to determine 25 groups of colors using the variables L, a*, b* e h, with the objective of creating a wood color chart. A survey was used to define the nomenclature of the colors to be adopted in the chart. It was determined 512 color names for 34 wood specimens studied among 28 surveied. It was observed that the angle of ink (h) in the CIE La*b* System for the species studied was between 0º and 90º (first quadrant). Key-words: color chart, wood, colorimetry, CIE La*b*.

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1 Economista, MSc. [email protected], LPF/IBAMA – Brasília, DF2 Eng. Florestal, PhD. Dep. Engenharia Florestal, UnB – Brasília, DF

A COLORIMETRIA APLICADA COMO INSTRUMENTO NAELABORAÇÃO DE UMA TABELA DE CORES DE MADEIRA

José Arlete A. Camargos1 ; Joaquim C. Gonçalez2

RESUMO

A cor da madeira é muito instável, estando sujeita a rápidas alterações. Estainstabilidade está intrinsecamente relacionada com os elementos anatômicos consti-tuintes da madeira. Por ser subjetiva, a cor da madeira pode ser interpretada dediversas formas. Neste trabalho estudaram-se as cores de 350 espécies de madeira(402 amostras). Seguiu-se o Sistema CIE La*b* de 1976. Determinaram-se os dadoscolorimétricos dessas amostras por meio de um espectrofotômetro DatacolorMicroflash 200d. Fez-se, por meio de aplicação de um questionário, o levantamentoda nomenclatura das cores das madeiras adotadas na tabela. Utilizando-se de análi-se multivariada, os dados foram classificados em 33 grupos de cores homogêneascom o objetivo de confeccionar uma tabela de cores de madeiras. Constatou-se queo ângulo de tinta (H), no sistema CIE La*b*, de todas as cores das madeiras estuda-das se enquadrou de 0º a 90º.

Palavras-chave: tabela de cores, madeira, colorimetria, CIE La*b*.

APPLIED COLORIMETRY AS INSTRUMENT IN THE ELABORATION OF A TIMBER COLOR CHART

ABSTRACT

Due to its subjectivity, color in timber can be interpreted in different ways, in additionto the fact that it is unstable and subjected to alterations caused by weathering. Thisexperiment studied colors and figures of 380. Brazilian tropical wood species basedon the CIE La*b* Color System from 1976. Colorimetric data was determined by meansof a Datacolor Microflash 200d Spectophotometer. A multivariate statistical analysesby Cluster grouping method was used to determine 25 groups of colors using thevariables L, a*, b* e h, with the objective of creating a wood color chart. A survey wasused to define the nomenclature of the colors to be adopted in the chart. It wasdetermined 512 color names for 34 wood specimens studied among 28 surveied. Itwas observed that the angle of ink (h) in the CIE La*b* System for the species studiedwas between 0º and 90º (first quadrant).

Key-words: color chart, wood, colorimetry, CIE La*b*.

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Brasil Florestal, Nº 71, setembro de 2001

INTRODUÇÃO

A cor é uma das características maisimportantes para a identificação e indi-cação de usos de espécies de madeira,principalmente quando associada aosaspectos de textura e desenho. Estapode ser alterada com o teor de umida-de, com a temperatura, por degradaçõesprovocadas pelo ataque de organismosxilófagos ou, ainda, por reaçõesfotoquímicas dos elementos químicospresentes na sua estrutura.

Vários fatores podem influenciar nacor da madeira como composição quími-ca, anatomia, método de derrubada daárvore, posição da amostra na árvore,meio ambiente, altura, diâmetro e idadeda árvore, além dos fatores genéticos ine-rentes a cada espécie (Gonçalez, 1993).

Ao se observar uma madeira, a pri-meira impressão vem do seu aspecto vi-sual, proveniente, basicamente, da sua core desenho, por isso é comum a indicaçãoou o uso em larga escala de uma deter-minada espécie, levando-se em contasomente estes parâmetros. Através des-tas características, é possível, também,obter a valorização de espécies poucoconhecidas, fazendo analogias com ou-tras espécies já tradicionais, o que induzas pessoas a usarem termos de referên-cia como: “padrão mogno”, “padrão cere-jeira”, “padrão sucupira”, entre outros.

A falta de uma metodologia específi-ca para determinação da cor da madeiratem trazido grandes transtornos aos quese dedicam a estudá-las, o que, às ve-zes, nos leva ao uso de instrumentos depouca eficácia para suprir esta deficiên-cia como por exemplo, a utilização databela “Munsell Soil Color Chart”(Munsell, 1975).

O estudo da cor e do desenho damadeira é ponto fundamental para enten-der a subjetividade pertinente a estascaracterísticas.

O presente trabalho tem por objetivoestudar a cor da madeira, utilizando acolorimetria analítica como instrumentopara a obtenção dos valores cromáticos,visando elaborar uma tabela para deter-minação de cores de madeira, baseadono sistema CIE La*b* de 1976.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A luz e a corSegundo Ferreira (1986), cor é a pro-

priedade que têm os corpos, naturais ouartificiais, de absorver ou refletir a luz emmaior ou menor grau. É a característicade uma radiação eletromagnética visível,de comprimento de onda situado num pe-queno intervalo de espectro eletromag-nético (380 a 750 nm). É o aspecto doscorpos, decorrente da percepção daque-las radiações pelo órgão visual, determi-nado, basicamente, por suas variáveis (afonte de luz e a superfície refletora, umobjeto colorido) e que tem como tributosprincipais o matiz, a luminosidade e asaturação.

O aparecimento da cor está condicio-nado à existência de dois elementos: a luze o olho. Usa-se o termo matiz para desig-nar o estímulo e cor para a sensação (huee colour vision em inglês, respectivamen-te). A palavra cor designa tanto a percep-ção do fenômeno (sensação) como tam-bém as radiações luminosas, diretas ou re-fletidas pelos corpos (matiz ou coloração)que o provocam (Pedrosa, 1989).

Sistema CIEO sistema CIE (Comission

International de L’Eclairage ou ComissãoInternacional de Iluminantes) é um mé-todo que define a sensação da cor base-ado em três elementos: a luminosidadeou claridade, a tonalidade ou matiz e asaturação ou cromaticidade.

A luminosidade ou claridade definea escala cinza entre o branco e o pre-

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to. Pode ser representada, graficamen-te, por uma reta perpendicular a um cír-culo, passando pelo seu centro. É ex-pressa pela variável “L” e assume ovalor 0 para o preto absoluto e 100 parao branco total.

A tonalidade é expressa pelas coresprimárias vermelho, verde, amarelo e azul.É representada em forma de um círculocortado por duas retas perpendiculares(horizontal e vertical) passando pelo cen-tro. A reta horizontal representa o verme-lho e o verde, definidos por duas semi-retas, respectivamente, que vão do cen-tro às extremidades do círculo, ou seja, overmelho vai do centro à periferia, forman-do um ângulo de 0º. O verde vai do cen-tro à extremidade oposta ao vermelho,formando um ângulo de 180º. Na reta ver-tical estão o amarelo e o azul. A semi-retado amarelo vai do centro à extremidadedo círculo formando um ângulo de 90º. Opigmento azul vai do centro à outra extre-midade oposta ao amarelo, formando umângulo de 270º. Os pigmentos vermelho,verde, amarelo e azul são definidos pelasvariáveis “+a*”; “-a*”, “+b*” e “-b*”, respec-tivamente. Cada variável vai de 0 a 60(sem unidade de medida). A tonalidadepode ser dada também pelo ângulo docírculo, expresso pela variável “H”, conhe-cida como ângulo da tinta e derivada dosvalores de a* e b*.

A saturação ou cromaticidade é odesvio a partir do ponto correspondenteao cinza no eixo L ou de luminosidade.Quanto mais distante do eixo, maissaturada será a cor. A saturação seria oraio do círculo de tonalidade, partindo doponto cinza do eixo de luminosidade atéa cor pura espectral localizada na extre-midade do círculo. É expresso pela vari-ável “C” e varia de 0 a 60. Estes três ele-mentos (claridade, saturação e tonalida-de) definem o sistema conhecido comoCIELa*b*, atualmente utilizado nacolorimetria (CIE La*b*, 1976).

Em 1931, a CIE passou a recomen-dar a padronização da fonte de luz e doobservador e uma metodologia para de-rivar os números que provêm da medidade uma cor vista sob uma fonte de luz ede um observador padrão. O método CIE1931 estava previsto para ser usado emaparelhos de espectrofotometria.

A amostra ou objeto - Stanziola(1979) afirma que a descrição da amos-tra ou objeto é feita com a interação daluz. Esta interação é chamada de “CurvaEspectral ou Espectrométrica”. Esta cur-va pode ser observada pelo olho huma-no e também por aparelhos deespectrometria (espectrofotômetros).Para cores opacas como tintas, tecidose plásticos, a curva é chamada “curvade reflectância”. Para materiais transpa-rentes como líquidos e vidros, esta cur-va é chamada de “curva detransmitância”.

Fonte de luz e iluminante - a fontede luz é uma luz fisicamente realizável.É aquela em que a distribuição espectralpode ser determinada experimentalmen-te. Quando esta determinação é produ-zida e especificada, a fonte de luz passaa ser chamada “fonte de luz padrão”.Para o uso geral em colorimetria, a CIErecomenda os iluminantes “A” (luzincandescente) e D-65 (o que mais seaproxima da luz do dia) (Stanziola, 1979).

Iluminante é uma luz definida por umadistribuição da força espectral, a qualpode ou não ser realizável fisicamente(Billmeyer Jr. et al. 1981).

Observador - para a descrição dacor, o observador constitui o elementomais importante e mais difícil de se des-crever numericamente. Cada pessoapossui uma sensibilidade diferente paraver uma cor. Portanto, para se fazer umadescrição numérica do observador, énecessário, por meio de técnicas de pro-jeção de cores, avaliar o que cada ob-servador consegue ver. Os valores obti-

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dos desta avaliação são chamados de“valores tristímulos”, representados pe-las letras X, Y, e Z (Stanziola, 1979).

Ângulo de observação - BillmeyerJr. et al. (1981) cita que quando a CIE,em 1931, criou o sistema de descriçãode cores, as condições do observadorque foram escolhidas tinham como obje-tivo usar a área central da retina do olhohumano (fóvea). Esta área cobre 2º doângulo de visão, que equivalem a umaárea de 15 mm2, observados de uma dis-tância de ± 45 cm. Em 1964, a CIE pas-sou a recomendar o uso de uma áreamaior de 10º (± 170 mm2) de observa-ção, após constatar que um observadorpode apresentar uma sensibilidade mai-or que outros.

MATERIAIS E MÉTODOS

Este trabalho foi realizado no Labo-ratório de Produtos Florestais (LPF/IBAMA), em cooperação com a Univer-sidade de Brasília (UnB).

Coleta das amostrasAs amostras foram selecionadas en-

tre as espécies de madeiras da xilotecado Laboratório de Produtos Florestais doInstituto Brasileiro do Meio Ambiente edos Recursos Naturais Renováveis -LPF/IBAMA. As amostras da xiloteca doLPF são compostas de espéciescoletadas pelo próprio LPF e espéciesrecebidas de outras instituições. Aamostragem da xiloteca do LPF foi reali-zada em conformidade com o “Sistemade Amostragem Direta ao Acaso”, deacordo com Bendtsen, Freese &Ethington (1970), Noack (1970) eCOPANT 458/71, fazendo-se as adap-tações necessárias à Região Amazôni-ca (IBAMA, 1997).

As espécies foram identificadas atra-vés de material botânico, pelo Herbáriodo Instituto de Pesquisas da Amazônia

(INPA), em Manaus/AM e pelo Setor deAnatomia da Madeira do LPF/IBAMA,em Brasília/DF.

Seleção e preparo das amostrasInicialmente, foram selecionadas 402

amostras de 350 espécies de madeira,secas à 12% de teor de umidade, consi-derando a cor e o desenho como carac-terísticas essenciais para análise.

As amostras foram retiradas do cernee do alburno, cortadas nas dimensões de10 cm de comprimento, 7 cm de largurae 1 cm de espessura. Foram lixadas comlixas 60 e 160 de granas, acondiciona-das em ambiente sem luz para manter acondição de recém-aplainadas. A esco-lha da condição recém-aplainada é ne-cessária como forma de padronizar a sis-temática de determinação das cores, emfunção das nuanças apresentadas, de-vido às condições climáticas a que asamostras foram submetidas.

Além dessas, também foramselecionadas 200 amostras, que haviamsido expostas à luz de ambiente internodurante, aproximadamente, 5 anos. Essasamostras foram utilizadas como forma dese obter a maior diversidade possível denuanças de cores para madeira. Usaram-se amostras do cerne e do alburno.

Determinação do número de tomadasde medida e mensuração das cores

Para confiabilidade nos valorescolorimétricos, em cada amostra, foi re-alizada uma tomada de medida da corpor 3 cm2, totalizando 20 medidas poramostra. Foi utilizado o valor médio dasmedições. O número de tomada de me-dida foi baseado em testes prévios, ondefoi realizada a determinação da cor damadeira, fazendo-se medição de 1 a 10tomadas de medidas por amostra, nasquais constatou-se que a variância dacor da madeira torna-se constante aci-ma das 10 medições.

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A determinação das cores foi reali-zada obedecendo ao sistema CIE La*b*,recomendado pela CIE (1976). Utilizou-se um espectrofotocolorímetro DatacolorMicroflash 200d conectado a ummicrocomputador, com iluminante D65 eângulo de 10º, em temperatura ambien-te de 22ºC e umidade relativa do ar de60%. As medições foram feitas nas fa-ces tangencial ou radial da amostra paraobtenção dos valores da claridade (L),dos matizes vermelho (+a*), verde (-a*),amarelo (+b*) e azul (-b*). O valor dasaturação da cor (C) e o ângulo de tinta(h) foram calculados pelas seguintesequações:

C = (a*2 + b*2)1/2h = tan-1(b*/a*)

Nomenclatura das coresRealizou-se, com a aplicação de

questionários destinados aos consumi-dores de madeira e profissionais da área,uma pesquisa visando obter sugestõespara uma adequada nomenclatura dosgrupos de cores levantados. Os nomesdas cores escolhidas foram dados emfunção do número de repetições sugeri-do pelas pessoas pesquisadas, sendo,posteriormente, adaptados aosparâmetros colorimétricos obtidos pormeio do espectrofotômetro. O valor do Ldefiniu se a cor é clara ou escura, o valorde h (valor derivado de a* e b*) definiuos matizes (branco, preto, amarelo, ver-melho, oliva, rosa, roxo, cinza, laranja emarrom) e a variável C definiu a satura-ção da cor. Assim, dentro de cada gru-po, a cor pode ser considerada clara ouescura em função do valor do L, ou ain-da, amarelada, acinzentada, alaranjada,amarronzada, oliva, rosada, arroxeada eavermelhada em função dos valores dea* e b* ou suas combinações.

Foi considerada escura a cor cujovalor de L foi menor ou igual a 56 e, comocor clara, o valor de L acima de 56. Por

exemplo, as cores roxo, vermelho e pre-to são consideradas cores escuras, poisos valores de L das amostras dessesgrupos estão abaixo de 56. Por outrolado, as cores branco, amarelo e rosa sãotidas como cores claras, pois os valoresde L das amostras que se enquadraramnessas cores, situaram-se acima de 56.

Análise dos resultadosOs dados obtidos - saturação (C),

ângulo da cor (h), claridade (L), matiz (a*e b*) e desenho da madeira - foram ana-lisados no pacote estatístico SPSS Base8.0 da SPSS Inc., correlacionando-oscom o aspecto da cor da amostra, atra-vés de avaliações estatísticas, observa-ções empíricas e analogias com outrosestudos para agrupamentos das cores eelaboração da tabela.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram testados vários métodos paraagrupamento das cores: distânciaEuclidiana, fórmulas matemáticas (segui-das de indexação), estabelecimento deintervalos para as variáveis cromáticase agrupamento de Cluster. Os gruposobtidos no agrupamento pelo método deintervalo de variáveis foram ajustadosconforme o resultado apresentado. Es-ses novos agrupamentos consideraramsomente os matizes vermelho (+a*) eamarelo (+b*) como variáveis principaise, em segundo plano, o ângulo da tinta(h). Também utilizou-se a claridade (L)para agrupar as cores preto, roxo, oliva,laranja, vermelho e branco ou para se-parar os grupos, nos quais a amplitudeda luminosidade era muito grande, com-prometendo a plotagem das cores na ta-bela. Para o agrupamento de todas ascores, não foi considerada a saturação(C), pois essa variável tem uma alta cor-relação com a variável b*, tornando osgrupos tendenciosos ao amarelo. Em to-

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dos os métodos, foi considerado tambémo aspecto da amostra.

Foram realizadas várias tentativas deagrupamento por Cluster. Primeiro, fez-se um agrupamento com dezoito grupos,utilizando as 5 variáveis (L, a*, b*, C e h).Em seguida, fez-se o agrupamento com25 grupos, utilizando também as 5 variá-veis. Por último, fizeram-se agrupamen-tos com exclusão de variáveis.

O número de grupos foi estabeleci-do em função de vários testes de agru-pamentos, levando-se em considera-ção o aspecto da amostra, o númerode matiz, o número de amostras emcada grupo, os nomes de corespesquisados no mercado madeireiro, afacilidade de manuseio da tabela, osvalores colorimétricos e a diversidadede cores das amostras.

Para elaboração da tabela para co-res de madeiras, obedeceu-se o agrupa-mento das cores pelo método de Cluster.Foi elaborado um “lay-out” com amostrasde cores para a cor padrão de cada gru-po encontrado. Quando necessário, po-derão ser inseridas na tabela mais amos-tras de cores do padrão de uma determi-nada cor para um mesmo grupo.

A tabela de cor foi dividida em gru-pos, considerando-se a claridade (L) e atonalidade (dada pelo ângulo de tinta (h)).Em cada grupo, as amostras de coresforam indexadas considerando-se osvalores colorimétricos.

Para maior facilidade de manuseio databela, cada intervalo de cor foi acompa-nhado do nome da cor correspondente acada amostra. Assim, a cor pode ser en-contrada tanto pelos dados colorimétricoscomo pela sua nomenclatura. Cadaamostra de cor foi codificada com umnúmero de 6 algarismos, sendo os doisprimeiros correspondentes à claridade,os dois algarismos seguintes represen-tando o valor do matiz vermelho e os doisúltimos números, o valor do matiz ama-

relo. Por exemplo: no código 860321, aclaridade, o matiz vermelho e o matizamarelo são representados, respectiva-mente, pelos números, 86, 03 e 21.

A entrada na tabela pode ser feitapelo nome da cor em ordem alfabética.Em seguida, pela variável L indexadadentro de cada cor. Assim, se a cor daamostra for vermelho escuro, procura-seprimeiro a cor vermelho, em seguida ovalor do L. Em caso de dúvida na cor,procura-se pelo aspecto da amostra oupelos valores cromáticos.

Para amostras com desenho, foi con-siderada como cor principal a cor de mai-or área. Foram estabelecidas as letrasabaixo para caracterizar cada figura, sen-do escritas após cada código da amostraque apresentava o respectivo desenho:

a - aspecto fibroso;b - com nuanças ou listras semelhan-

tes à cor principal;c - com nuanças ou listras diferentes

da cor principal;d - linhas vasculares destacadas.Por exemplo, o código da amostra 330

seria 511422a, por ter aspecto fibroso.Para separação das madeiras com

figura, das espécies sem figura, proce-deu-se da seguinte forma: a cor de cadaamostra foi mensurada por varredura,porém cada ponto mensurado foi anota-do separadamente. Em seguida, calcu-lou-se o desvio padrão dos valorescolorimétricos. Considerando esse des-vio e o aspecto da amostra, foi observa-do que amostras com o desvio padrãodo ângulo de tinta (h) abaixo de 1,00 apre-sentavam-se sem figura e acima dessevalor, apresentavam-se com figura.

As amostras de cor foram obtidas dasfotos das amostras das espécies corres-pondentes a cada cor.

Os dados obtidos para as variáveiscromáticas L, a*, b*, C e h, foram anali-sados quanto à normalidade, apresentan-do uma curva de distribuição normal.

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Por meio do agrupamento pelo méto-do de vizinho mais próximo não foi possí-vel obter grupos bem definidos que aten-dessem a todas as cores de madeira. Issose deve ao fato de se trabalhar com valo-res cromáticos que, apesar de apresen-tarem uma tendência de distribuição nor-mal, têm comportamento peculiar paracada faixa de comprimento de onda.

Os objetos coloridos refletem a luzem intensidade diferente em cada com-primento de onda, o que exige um trata-mento diferenciado para cada cor. Nes-te universo, trabalha-se com cores pri-márias (vermelho, azul e amarelo), co-res opostas (preto e branco), cor aditiva(branco), cor subtrativa (cinza neutro),cor secundária (laranja = vermelho +amarelo), cores terciárias (oliva = preto+ branco + amarelo) e outras. Assim,qualquer operação realizada para agru-par uma determinada cor pode ter efei-to contrário no agrupamento de umaoutra (Figura 1).

Constatou-se que a menor clarida-de (L) para a madeira foi de 25,93 (cor-respondente à cor preta), sendo que,para o preto absoluto, este valor é dezero. Por outro lado, o maior valor de Lfoi de 86,44 (correspondente à cor bran-ca), para um branco absoluto de 100. O

ângulo de tinta (H) variou de 13,94 (cor-respondente ao vermelho) a 87,00 quecorresponde à cor amarela.

Para madeira de alta claridade(L>56), o ângulo da tinta (h) é significati-vo no agrupamento, enquanto que, paramadeira de pouca claridade (L£56), avariação no ângulo da tinta pode não serexpressivo. Este fato foi detectado porNishino et al. (1998), em um trabalho re-alizado com as cores das madeiras daGuiana Francesa, onde o autor observouque para L<54 a correlação de h com o Lé de 0,584 e para L>54, essa correlaçãosobe para 0,704. O Quadro 1 apresentaquatro amostras, sendo as duas primei-ras (273 e 76) do grupo 9 do agrupamentopelo método de Cluster usando as variá-veis L, a* e b* para 25 grupos (ClusterLa*b*-25) e as outras duas (214 e 92) dogrupo 3 do mesmo agrupamento, onde oh, apesar de ter uma correlação dePearson direta com o L de 80%, tevecomportamento contrário quando compa-rado com essa variável. Quando ocorreuum baixo desvio no L, o desvio do h foielevado e vice-versa. Esse fato deve-se,provavelmente, à influência do matizamarelo sobre o ângulo da tinta. No mes-mo exemplo, pode ser observado que odesvio na diferença das cores (DE) foi

Figura 1 - Reflectância das cores de madeira em função do comprimento de onda.

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maior, quando a diferença na claridademostrou-se também elevada. Nas duasprimeiras amostras, a diferença nas co-res é motivada pela claridade, enquantoque, nas outras duas amostras, as coressão diferenciadas pelo ângulo da tinta.

Quando se trata da cor da madeira,a figura e a textura exercem grande in-fluência na definição das cores. Isso podeser avaliado quando são considerados oselementos anatômicos e os extrativos damadeira como componentes importantesna formação da cor.

No agrupamento por intervalo de va-riáveis, os intervalos apresentaram am-plitudes diferentes entre si e entre os gru-pos de cores. Esses intervalos variavamde acordo com cada variável cromáticae com cada grupo de cor.

Após ajustes, constatou-se um nú-mero muito grande de grupos. Além dis-so, os grupos de cores obtidos não aten-diam à totalidade de cores existentes,havendo assim, amostras que não seenquadravam em nenhum grupo, devi-do aos seus valores cromáticos estaremfora dos intervalos estabelecidos para osgrupos. Observou-se também que mui-tas amostras se enquadravam, ao mes-mo tempo, em mais de um grupo, o que

Quadro 1 Desvio padrão do ângulo da tinta (h) em relação à claridade (L) de 4 amostras de madeirasde dois grupos de cores do agrupamento Cluster La*b*-25.

L é a claridade, a* é o matiz vermelho, b* é o matiz amarelo, C é a saturação e h é a tonalidade daamostra de madeira.

caracterizava a sobreposição de interva-los ou ainda a falta de um perfeito ajustenos seus limites. A reflectância das co-res roxa, oliva e laranja mostra essasobreposição de cores em alguns com-primentos de onda (Figura 1).

É possível agrupar as cores, usan-do-se fórmulas matemáticas como, porexemplo, L+a*, L+b*, a*+b*, a*/b*, L+a*/(b*+a*), L+a*+b*, L+C+h, L+C+h-b*,L+(b*-a*). Entretanto, torna-se difícil ob-ter um agrupamento homogêneo de co-res por meio dessas fórmulas, uma vezque as variáveis cromáticas têm correla-ção entre si e significância diferente paracada cor, o que exigiria uma fórmulamatemática para cada cor.

Algumas cores podem ser agrupadaspela indexação de uma das variáveis cro-máticas: o branco e o preto pelaindexação do L; o amarelo pelo b*; o ver-melho pelo a*. Entretanto, é necessárioestabelecer um limite para os valores decada variável como forma de evitar a dis-persão das cores dentro dos grupos.

Após avaliações entre os métodos deagrupamentos por análise multivariada,por fórmulas matemáticas (seguidas deindexação) e pelo estabelecimento deintervalos para as variáveis cromáticas,

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obtiveram-se melhores resultados peloúltimo método. Porém, por ser um méto-do empírico de difícil repetição e compouco respaldo estatístico, optou-se emfazer o trabalho pelo agrupamento deCluster. Esse método apresentou os re-sultados próximos aos alcançados pelasfórmulas matemáticas, tendo a vantagemde gerar um agrupamento rápido econfiável e permitir análises estatísticasmais aprofundadas dos resultados, comrepetitividade dos mesmos.

No agrupamento Cluster La*b*CH-18obteve-se um resultado não satisfatório.No agrupamento Cluster La*b*CH-25,houve uma sensível melhora nahomogeneidade dos grupos, mas os re-sultados ainda não foram aceitáveis. Nosagrupamentos Cluster LCH-25 e ClusterLa*b*-25, os resultados não foramsatisfatórios, quando correlacionadoscom os obtidos pelo método de intervalode variáveis. Os grupos obtidos aindamostraram-se heterogêneos.

No agrupamento usando as variáveisLa*b*CH com 18 grupos, ocorreu umatendência de grupos para o amarelo. Issoporque a saturação tem grande correla-ção com o matiz amarelo. Amostras quepoderiam, por exemplo, estar em gruposde matiz branco foram agrupadas junta-mente com amostras de matiz amarelo.

Com a exclusão da variável C, ocor-reu um ajuste na claridade, uma vez queo h guarda grande correlação (80%) como L. Observou-se que a maioria dasamostras que saíram do amarelo-amarronzado passou para o branco-ama-relado, sendo esse último grupo mais cla-ro e menos saturado que o anterior.

Apesar das diferenças existentes en-tre o agrupamento Cluster La*b*CH-18 eo agrupamento por intervalo de variáveis,no confronto dos agrupamentos ClusterLa*b*H-25 com o de intervalo de variáveis,pode ser observado que estes gruposcoincidiram em mais de 50%. Esse fato

mostra a importância do agrupamento porintervalo de variáveis (visual), apesar deser possível agrupar as cores de madei-ras por métodos objetivos.

Neste confronto, observou-se aindaque um dos grupos do agrupamento porintervalo de variáveis apresentou-se omais heterogêneo, sendo as amostraspulverizadas em 8 grupos em relação aoagrupamento Cluster La*b*H-25. Poroutro lado, neste mesmo agrupamentoencontrou-se o grupo mais homogêneo.Houve grupos que coincidiram em 100%.

Quando são considerados os agru-pamentos Cluster La*b*CH-25 e oLa*b*CH-18 com o agrupamento por in-tervalo de variáveis, o número de coinci-dências acima de 50% obtidas no agru-pamento La*b*CH-18 cai de 12 para 9,em relação ao agrupamento pelo méto-do de intervalo de variáveis. Esse fato jáera esperado, uma vez que quando foiaumentado o número de grupos de 18para 25, houve também, um aumento nadispersão das cores. Porém, esse núme-ro de coincidências volta novamente para12, no agrupamento Cluster LCH-25;subindo para 13, no agrupamento ClusterLa*b*-25 e, para 14, no Cluster La*b*H-25. Comprova-se, assim, que esse últi-mo agrupamento foi o que apresentoumelhores resultados. No Quadro 2 sãoapresentados os 25 grupos de cores eseus respectivos intervalos das variáveis,obtidos por meio do agrupamento pelométodo de Cluster com a utilização dasvariáveis L, a*, b* e h.

Foi constatado que os ângulos de tin-ta (h) no sistema CIE La*b*, de todas ascores das madeiras tropicais brasileiras,enquadraram-se de 0º a 90º (primeiroquadrante). Os valores máximos encon-trados para cada variável foram: L=86,44,a*=26,82, b*=46,59, C=47,03 e h=87,00.Os valores mínimos foram: L=25,93,a*=1,16, b*=1,92, C=2,31 e h=13,94, eos valores médios: L=56,18, a*10,44,

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b*=20,54, C=23,39 e h=23,39, confirman-do uma pesquisa realizada por Nishinoet al. (1998) sobre a colorimetria deespécimens de madeira da Guiana Fran-cesa, na qual esse autor classificou a cla-ridade das madeiras dessa região emdois grupos: L>54 e L<54.

Na pesquisa sobre a nomenclaturadas cores de madeiras, foram entrevis-tadas 28 pessoas e levantados 512 no-mes para 34 amostras. A madeira éba-no - Diospyros sp. foi a que teve maiorconsenso com apenas 3 nomes de co-res, seguida do pau-roxo – Peltogynemaranhensis com 4 nomes. Ressalta-se que essas duas espécies de madei-ras têm cores bem definidas: preto eroxo, respectivamente.

Com maior número de nomes de co-res para uma mesma amostra, destacou-se, com 23 nomes, a espécie de abiorana-bacuri – Ecclinusa guianensis, seguida damadeira de umiri – Humiria sp. com 22nomes. Para a amostra de abiorana-bacuri– Ecclinusa guianensis a cor marrom-cla-

ro foi mencionada 4 vezes e para a espé-cie de umiri – Humiria sp., houve um em-pate entre as cores cinza e o marrom, com3 indicações cada uma.

Observou-se que alguns nomes decor como marfim, bege, castanho e la-ranja foram indicados com freqüência,podendo ser adotados na tabela de co-res proposta.

CONCLUSÕES

Constatou-se que o ângulo de tinta(h) no sistema CIE La*b*, de todas ascores das madeiras tropicais brasileiras,se enquadrou de 0º a 90º (primeiroquadrante). Os valores máximos encon-trados para cada variável foram: L=86,44,a*=26,82, b*=46,59, C=47,03 e h=87,00.Valores médios de: L=56,79, a*=10,44,b*=20,54, C=23,39 e h=62,18. Os valo-res mínimos foram: L=25,93, a*=1,16,b*=1,92, C=2,31 e h=13,94.

Foi observado que as amostras demadeiras que haviam sido expostas à luz

Quadro 2 Grupos de cores obtidos no agrupamento de Cluster usando as variáveis cromáticas L, a*, b* e h.

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ambiente apresentaram menor claridadee maior valor no matiz amarelo.

O agrupamento pelo método deCluster usando as variáveis L, a*, b* e hcom 25 grupos foi o que apresentou me-lhores resultados. Por outro lado, o agru-pamento Cluster usando as variáveis L,a*, b*, C e h com 25 grupos foi o queapresentou pior resultado.

Quando não foi considerada a vari-ável da saturação (C) no agrupamento,ocorreu uma tendência de grupos maisclaros e menos saturados, ou seja,amostras passaram do grupo de matiz

amarelo para grupos de matiz branco.A exclusão da variável C e a inclusão

da variável h proporcionaram um ajuste naclaridade, uma vez que o h guarda grandecorrelação (80%) com o L, tornando os gru-pos de cores mais homogêneos.

Por meio do agrupamento visual, épossível obterem-se cores mais homo-gêneas dentro de um mesmo grupo. To-davia, por esse método torna-se maisdifícil determinar a diversidade denuanças de cores que melhor represen-tam os grupos de cores, além de suasubjetividade.

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