a ciência do solo e o desastre de mariana

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BOLETIM INFORMATIVO ISSN 1981-979X Volume 42 Número 1 Janeiro/Abril de 2016 www.sbcs.org.br A CIÊNCIA DO SOLO E O DESASTRE DE MARIANA A AGENDA 2016

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  • BOLETIM INFORMATIVOISSN 1981-979XVolume 42Nmero 1Janeiro/Abril de 2016www.sbcs.org.br

    A CINCIA dO sOLO E O dEsAsTRE dE MARIANA

    A AgENdA 2016

  • Publicao editada pela Secretaria Executiva da SBCS.

    Tem por objetivos esclarecer as principais atividades

    da Sociedade e difundir notcias de interesse dos associados.

    Os conceitos emitidos em artigos assinados

    so de exclusiva responsabilidade de seus autores,

    no refletindo, necessariamente, a opinio da SBCS.

    Permite-se a reproduo, total ou parcial, dos trabalhos,

    desde que seja, explicitamente, indicada a sua origem.

    O Boletim da SBCS vendido, separadamente, a R$10,00

    mais o valor de postagem.

    Disponvel para download no site da SBCS.

    BOLETIM INFORMATIVO sBCsEditor-chefe: Igor Assis

    Editores: Victor Hugo Alvarez V., Reinaldo Bertola Cantarutti

    Produo e jornalismo: La Medeiros - MTb 5084

    Reviso: Joo Batista Mota

    Secretaria: Cntia Fontes, Denise Cardoso, Denise Machado

    Projeto grfico: Izabel Morais

    Diagramao: Victor Godoi

    Capa: Victor Godoi

    PARTICIPE dO BOLETIM INFORMATIVOOs artigos para o Boletim Informativo podem ser enviados

    para Sociedade Brasileira de Cincia do Solo, Caixa Postal 231,

    Viosa, Minas Gerais - 36570-900.

    Ou para o e-mail [email protected].

    ENTRE EM CONTATO COM A sBCsEndereo: Caixa Postal 231 - Viosa, Minas Gerais

    CEP: 36570-900

    Telefone: (31) 3899-2471

    E-mail da secretaria: [email protected]

    E-mails da RBCS: [email protected]

    e [email protected]

    E-mail Boletim: [email protected]

    www.sbcs.org.brwww.facebook.com/sbcs.solos

    Ficha catalogrfica

    Boletim informativo Sociedade Brasileira de Cincia do Solo / Sociedade Brasileira de Cincia do Solo - vol.1, n. 1 (jan./abr. 1976). - Campinas: SBCS.1976.

    v.: il. (algumas col.); 26 cm.

    Quadrimestral.A partir do vol. 22, n.3 publicado em Viosa.ISSN a partir do vol. 32, n.3.ISSN 1981-979X

    1. Solos - Peridicos. I. Sociedade Brasileira de Cincia do Solo.

  • Editorial

    Caros scios

    No incio de maio, ao concluir esta edio, a Fan Page da SBCS alcanou o surpreendente nmero de 10 mil amigos. um nmero maior do que tm as mdias sociais de algumas grandes universida-des brasileiras por onde passam milhares de alunos. O mais incrvel que podemos afirmar que os nossos so amigos de verdade, daqueles fieis e leais que esto sempre ao nosso lado. Isso porque o ndice de curtidas crescente a cada semana e as descurtidas so irrisrias. Ou seja, quem curte a pgina e torna-se amigo pela indicao de um post acaba mantendo-se leal a ela e a visita quase to-dos os dias. E 100% do alcance orgnico, o que significa que o nmero total de pessoas que aces-sa as publicaes chegou a elas por interesse espontneo, uma vez que a distribuio no paga.

    As publicaes alcanam homens (56%) e mulheres (44%) de forma bem equilibrada. Mais de 90% dos acessos so feitos do Brasil, seguidos do Paraguai, EUA, Peru e Portugal. Por aqui, a maioria do pblico acessa dos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais, So Paulo e Goinia.

    Os elogios tambm so muitos. Quase todos destacam a credibilidade e a utilidade das postagens, todas elas de interesse da cincia do solo. Os ndices de interao tambm so altos. H uma mdia de 300 curtidas e de mais de 200 reaes por postagem, uma vez que muitos compartilham ou se manifestam de alguma maneira publicao, potencializando o alcance das postagens. Da nossa parte, h sempre um cuidado especial em selecionar temas que valorizem o conhecimento, ainda que no seja produzido pelos scios.

    A Fan Page da SBCS faz parte de um esforo da Secretaria Executiva em promover a divulgao cientfica para todos os pblicos. Parece que estamos conseguindo! Popularizando a cincia do solo, tambm estamos divulgando o trabalho de uma sociedade cientfica que se empenha em fortalecer a cincia na qual milita. A publicao da Revista Brasileira de Cincia do Solo que, desde o incio deste ano, passou por uma grande reformulao editorial, tambm reflete este esforo da SBCS.

    Com este esforo, a cincia do solo est presente em todas as plataformas de comunicao pbli-ca da cincia. No entanto, este empenho no tem se refletido em um substancial aumento de scios. Todo incio de ano a Secretaria Executiva revive o drama de aguardar as renovaes das anuidades para prever os gastos com a manuteno das rotinas para que os resultados de nossas pesquisas e nosso trabalho circule para diferentes pblicos. muito importante ressaltar que todos os membros da Secretaria Executiva, Corpo Editorial e Conselho Diretor trabalham muito e gratuitamente. Mas h uma dinmica de secretaria, de organizao de eventos e publicaes que precisam ser custeadas pelos scios. Estes custos esto cada vez maiores e o nmero de scios mantm-se estvel.

    Para todos ns que trabalhamos com a cincia do solo deveria ser uma honra pertencer a uma sociedade cientfica prestigiada. Para ter uma insero poltica que valorize nosso trabalho preciso ser forte e participante e isso depende muito do que a sociedade brasileira conhece e pensa de ns. Neste sentido, pedimos mais uma vez aos scios que se empenhem em convidar colegas e alunos para que se associem e participem ativamente de Ncleos Regionais e Comisses Especializadas. Isso participao poltica e cidad. O benefcio para todos ns.

    Nesta edio do Boletim vamos tratar do desastre de Mariana refletindo sobre o que a cincia do solo pode fazer para minimizar os danos ambientais, econmicos e sociais desta tragdia. Tambm divulgamos um artigo sobre a importncia da conservao dos solos no Brasil, aproveitando a data comemorativa, em abril. No mais temos vrias notcias sobre eventos que sero promovidos ainda este ano pela Sociedade Brasileira de Cincia do Solo que voc, caro scio, est ajudando a fortale-cer.

    Boa leitura a todos e no deixem de acompanhar nossa Fan Page.

    Abrao

    Fatima Maria de Souza Moreira

    Presidente da SBCS

  • 2 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | JAN - ABR 2016

    CONsELHO dIRETOR 2015/2017PREsIdENTEFatima Maria de Souza Moreira (UFLA)

    VICE-PREsIdENTEAntonio Rodrigues Fernandes (UFRA)Presidente do XXXVI CBCS

    sECRETARIA EXECUTIVA (UFV)Secretrio Geral: Reinaldo Bertola Cantarutti (UFV)Secretrio Adjunto: Igor Rodrigues de Assis (UFV)Tesoureiro: Tegenes Senna de Oliveira (UFV)

    Ex-presidente: Gonalo Signorelli de Farias (IAPAR)

    Ex-presidente: Flvio A. Camargo (UFRGS)

    Editor-chefe da RBCS: Jos Miguel Reichert (UFSM)

    Presidente do XXXV CBCS: Jos Arajo Dantas (EMPARN)

    dIRETOREs dAs dIVIsEs EsPECIALIZAdAsDiviso 1: Solo no Espao e no TempoLucia Helena Cunha dos Anjos (UFRRJ)Diviso 2: Processos e Propriedades do SoloDalvan Jos Reinert (UFSM)Diviso 3: Uso e Manejo do SoloIldegardis Bertol (UDESC)Diviso 4: Solo, Ambiente e SociedadeCristine Carole Muggler (UFV)

    dIRETOREs dOs NCLEOs dA sBCsNcleo Regional Amaznia Ocidental (Amaznia e RR):Jos Frutuoso do Vale Jnior (UFRR)Ncleo Regional Amaznia Oriental (MA, TO, PA, AP)Eduardo do Valle Lima (UFRA)Ncleo Regional Noroeste (AC e RO)Alaerto Luiz Marcolan (Embrapa Rondnia)Ncleo Regional Nordeste (BA, SE, AL, PB, PE, CE, RN, PI)Jlio Csar Azevedo Nbrega (UFRPE)Ncleo Regional Centro-Oeste (MT, MS, GO, DF)Milton Ferreira de Moraes (UFMT)Ncleo Regional Leste (MG, ES, RJ)Marcos Gervasio Pereira (UFRRJ)Ncleo Estadual So Paulo (SP)Zigomar M. Souza (Unicamp)Ncleo Estadual do ParanArnaldo Colozzi Filho (IAPAR)Ncleo Regional Sul (RS e SC)Vanderlei R. Silva (UFSM)

    sECRETARIA dA sBCsSecretria Executiva da SBCS: Cntia Costa FontesJornalista da SBCS : La MedeirosSecretrias da Revista Brasileira de Cincia do Solo: Deni-se Machado Goulart e Denise Cardoso PiresAuxiliar Administrativo : Jnior Pires

    NOTCIAs4

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    Est no ar uma nova Revista Brasileira de Cincia do Solo

    As comemoraes do Dia Nacional da conservao do solo

    Ministrio prev mapeamento do solo e criao de banco de dados

    Gonalo Farias membro do comit eleitoral da IUSS

    II Encontro Paulista de Cincia do Solo (EPCiS) e I Encontro Brasileiro de Pedometria (Pedometrics Brazil)

    SBCS recebe doao deacervo fotogrfico das RCCs

    Inteligncia artificialpara amostragem do solo

    XI Reunio Sul Brasileirade cincia do solo

    Simpsio Brasileiro de Educao em Solos

    RBMCSA discute conservaoe manejo do solo e da gua

    FERTBIO 2016

    Uso do solo brasileiro pode melhorarsem atingir reas de preservao

    Amazon Soil 2016

  • 3BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | JAN - ABR 2016

    OPINIOA CINCIA dO sOLO

    E O dEsAsTRE dE MARIANA

    18

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    34

    38

    Paisagens de Lama:Os Tecnossolos para

    recuperao ambiental de reas afetadas pelo desastre da barragem do Fundo, em

    Mariana

    A Cincia do Solo como instrumento para a recuperao

    das reas afetadas pelodesastre de Mariana e dos solos

    na Bacia do Rio Doce

    CONSERVAO DO SOLO NO BRASIL: histrico, situao

    atual e o que esperar para o futuro

    Variveise unidades SI1/

    Sociedades de Cincia do Solodos pases do grupo BRICS

  • 4 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | JAN - ABR 2016

    NOTCIAs

    A SBCS lanou, em abril, o primeiro grupo de arti-gos da nova verso da Revista Brasileira de Cincia do Solo. Trata-se de uma grande mudana para modernizar a RBCS e dar maior agilidade na publicao dos artigos.

    A partir deste ano, alm dos artigos serem publica-dos em ingls, a RBCS circular somente na verso on--line com lanamento dos artigos m fluxo contnuo. A Revista tambm ganhou um novo layout, mais adequa-do para a publicao eletrnica.

    As alteraes na RBCS foram protagonizadas pelos editores Jos Miguel Reichert e Reinaldo Bertola Canta-rutti. Para eles, estas e outras modificaes realizadas recentemente j apresentaram resultados positivos e devero projetar a RBCS a patamares ainda mais altos na divulgao da cincia do solo brasileira e internacio-nal.

    As modificaes na RBCS foram descritas minucio-samente em artigo publicado na edio de dezembro de 2015 do Boletim Informativo da SBCS.

    EsT NO AR UMA NOVA Revista BRasileiRa de CinCia do solo

  • 5BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | JAN - ABR 2016

    NOTCIAs

    Confira, abaixo, as principais altera-es.

    Submisso e tramitao de manuscritos

    feita desde fevereiro de 2015, ex-clusivamente, por meio da plataforma ScholarOne. Tambm foi adotado o sistema Vancouver para citao e refe-rncias bibliogrficas, que internacio-nalmente reconhecido.

    Corpo Editorial da RBCS constitudo, a partir deste ano,

    pelo Editor Chefe, Co-Editor, Editor--Tcnico, Editores de rea, Editores-As-sociados e Revisores. Esta estrutura re-trata a organizao cientfica da SBCS, viabiliza o novo fluxo de tramitao e possibilita um maior compartilhamento das decises. So seis Editores de rea distribudos de acordo com as Divises da SBCS: Solo no espao e no tempo (1), Processos e Propriedades do Solo (2), Uso e Manejo do Solo (2) e Solo e Ambiente e Sociedade (1).

    So 40 Editores-Associados, sendo 25 nacionais e 15 do exterior, distribu-dos de acordo com as especificidades das Comisses Especializadas.

    Fluxo de tramitaoDe acordo com o novo fluxo o ma-

    nuscrito tramita do Editor-Tcnico para o Editor de rea, deste para o Editor--Associado e posteriormente para os Revisores. Este fluxo semelhante queles adotados pelos principais pe-ridicos cientficos nacionais e interna-cionais e atende antigas proposies do Corpo Editorial. De acordo com os tempos estabelecidos para cada etapa, a tramitao do manuscrito ser finali-zada em at 90 dias.

    Neste fluxo, o Editor-Tcnico o responsvel pela verificao da confor-

    midade do manuscrito com as normas e ao escopo da Revista, pela constatao de ocorrncia de plgio, por meio de software especializado, e pela designa-o do Editor de rea de acordo com a especificidade do manuscrito. O Editor--Tcnico tambm responsvel pela co-ordenao dos processos de correes e de diagramao dos artigos aceitos.

    O Editor de rea, por sua vez, reti-fica ou ratifica a deciso de adequao do manuscrito Revista e recomenda a continuidade da tramitao com base em uma anlise ampla do mrito cient-fico, considerando a contribuio para o avano do conhecimento e a coern-cia entre objetivos e concluses. Para dar continui-dade trami-tao, ele de-signa o artigo a um Editor--Associado. O Editor de rea tambm esta-belece o fluxo de retorno dos manuscri-tos ao autor para correes e ajustes e com o Editor Chefe para a deciso final.

    O Editor-Associado avalia o mrito tcnico cientfico do manuscrito e, para dar continuidade tramitao, o enca-minha a trs revisores especializados. Posteriormente, com base nos parece-res dos revisores, emitir parecer de re-comendao ou no, a ser encaminha-do ao Editor de rea.

    Os Revisores sero responsveis pela avaliao crtica do contedo do manuscrito, acatando-o como tal ou sugerindo ajustes e correes. Os seus pareceres subsidiaro o parecer do Edi-tor-Associado.

    Ao Editor Chefe compete gerenciar o fluxo de tramitao dos manuscritos, deliberar sobre o aceite ou rejeio do manuscrito substanciado nos pareceres

    dos Editores de rea e fazer a comuni-cao final ao autor correspondente. Cabe a ele, ainda, a verificao da ver-so final dos artigos para ajustes finos.

    LnguaA partir do 40 volume (2016) os

    artigos sero publicados exclusivamen-te em ingls. Para que a mudana seja gradual, em 2016 ainda se aceitar a submisso em portugus. Se o artigo for aprovado ser exigida a traduo. A partir de 2017, a submisso ser, obrigatoriamente, em ingls. Esta ini-ciativa fundamental para a insero internacional da RBCS e a sua avaliao nacional. Apesar de apresentar ndices de impacto compatveis aos peridicos da categoria A2 (QUALIS/CAPES), no QUALIS 2014 a RBCS se manteve como B1 por no publicar exclusivamente em ingls.

    Novo layoutNeste novo formato h maiores in-

    formaes na primeira pgina para ca-racterizao do artigo e uma aparncia mais agradvel para a leitura em mdias eletrnicas.

    Publicao eletrnica e em fluxo contnuo

    Esta modalidade permite maior dinamismo na liberao dos artigos aprovados e elimina a necessidade do ahead of print. Nesta modalidade pu-blished in streaming mode os artigos estaro vinculados apenas ao volume. A falta de paginao no relevan-te porque atualmente os artigos so resgatados a partir do seu DOI (Digital Object Identifier). Apesar disso, eles so identificados sequencialmente na estrutura da Revista por meio da sua numerao eletrnica (elocation), que aparece no local da paginao.

    espeRa-se que tRamitao do

    manusCRito seja finalizada em at

    90 dias.

  • 6 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | JAN - ABR 2016

    O Seminrio apresentou uma proposta de projeto de lei sobre o uso do solo e da gua no meio rural.

    NOTCIAs

    Na semana entre os dias 10 e 17 de abril, a SBCS fez uma campanha na sua fan page para despertar a ateno para o Dia Nacional da Conservao do Solo, comemorado dia 15. A cada dia era postada uma nova mensagem conclamando as pessoas refletirem e a comemorarem a data. Vale destacar que no dia 15, a postagem um simples carto comemorativo foi compartilhada por mais de 800 amigos e visualizada por mais de 80 mil pessoas.

    Uma destas postagens chamava a ateno para dois arti-gos publicados no site da SBCS

    O primeiro, do professor da UDESC, Ildergadis Bertol, tra-ta do histrico, situao atual e o que esperar para o futuro da conservao do solo no Brasil e encontra-se publicado tambm nesta edio do Boletim.

    O segundo, dos professores Marcos Gervsio e Lcia He-lena dos Anjos e do engenheiro ambiental Joo Henrique Gaia-Gomes, todos da UFRRJ, trata da degradao dos solos no ambiente de Mar de Morros na regio Sudeste: o exemplo do Vale do Paraba do Sul.

    Os autores pertencem COMISSO 3.3 da SBCS Manejo e Conservao do Solo e da gua e prontamente aceitaram ao convite da Secretaria Executiva da SBCS para produzirem textos que subsidiassem o debate sobre a conservao do solo no Brasil. A chamada feita no Facebook para a leitura dos artigos no site surtiu excelentes resultados e os artigos foram lidos e compartilhados por muitas pessoas.

    A SBCS tem usado cada vez mais as mdias sociais para provocar reflexes e popularizar a cincia do solo. A experi-ncia com as comemoraes do Dia Nacional da Conserva-

    as ComemoRaes do dia naCional da

    CONsERVAO dO sOLO

    o do Solo demonstra esta experincia de sucesso mobili-zando um nmero cada vez maior de jovens pesquisadores e estudantes em torno do tema.

    O Dia Nacional da Conservao do Solo uma home-nagem ao nascimento de Hugh Hammond, em 1881. Ele considerado pioneiro na conservao do solo nos Estados Unidos. A data foi instituda por iniciativa do MAPA, em 13 de novembro de 1989 (Lei 7.876), com o objetivo de aprofundar os debates sobre a importncia do solo como um dos fatores bsicos da produo agropecuria.

    Para acessar os artigos citados nesta reportagem visite o site da SBCS: (http://www.sbcs.org.br/?post_type=noticia_geral&p=5023

    A presidente da SBCS, Fatima Moreira, tambm partici-pou das comemoraes do Dia Nacional da Conservao do Solo representando a Sociedade em um seminrio sobre uso, manejo e conservao do solo: desafios para a produ-o sustentvel, promovido pelo Ministrio do Meio Am-biente e pela ENAGRO, em Braslia, dia 14 de abril.

    Neste evento, representantes do Governo Federal apre-sentaram proposta de projeto de lei que institui a Poltica Nacional de Conservao do Solo e da gua no Meio Rural para regulamentar as prticas de manejo de solo e o uso de recursos hdricos.

    ministRio pRev mapeamento do solo e CRiao de BanCo de dados

  • 7BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | JAN - ABR 2016

    A presidente Fatima Moreira, representou a SBCS neste evento so-bre conservao do solo, realizado em Braslia na semana passada. Tambm participaram do evento os professores e conselheiros da SBCS, Jos Miguel Reichert, Nilvnia Mellho, Clstenes Nascimento e o pesquisador Segundo Urquiaga.

    NOTCIAs

    Depois de declinar de um convi-te do atual presidente da IUSS, Rai-ner Horn, para se tornar candidato presidncia da Unio Internacional de Cincia do Solo, o ex-presidente da SBCS, Gonalo Signorelli de Farias, aceitou ser membro do comit para es-colha do novo presidente. Ele tambm far parte da Comisso de Prmios e Distines da IUSS (Medalhas Vassily Dokuchaev e Justus von Liebig).

    Para Gonalo, tais participaes, mais do que modesta contribuio pessoal, denotam o apreo que a IUSS tem cada vez mais pela SBCS. So-bre a escolha do novo presidente da Unio Internacional, ele explica que a comisso eleitoral receber inscri-es de possveis candidatos at dia 31 de maio. As indicaes devem ser feitas por associaes de pelo menos dois pases. At o ms de julho as ins-cries j devero ser homologadas pelo Comit para serem submetidas

    Gonalo faRias memBRo do Comit eleitoRal da iuss

    estrutura diretiva da IUSS, a quem ca-ber deflagrar o processo de votao entre as sociedades afiliadas. O resul-tado final ser apresentado na reunio do Conselho Superior da entidade, em novembro, no Rio de Janeiro durante o Inter Congress Meeting.

    Os candidatos devero ter dispo-nibilidade para atuar na IUSS por pelo

    A proposta prev, por exemplo, o mapeamento do solo, a criao de uma base de dados e a capacitao de tcnicos e de produtores rurais para a difuso de conhecimentos e tecnologias capazes de prevenir e controlar os processos erosivos e outras formas de degradao.

    A sociedade precisa conhecer o valor do solo e trat-lo de forma adequada. O desafio fazer o seu mapeamento em escalas compatveis com as necessidades de cada re-gio e dar assistncia apropriada ao produtor, disse Mau-rcio Carvalho de Oliveira, chefe da Diviso de Agricultura Conservacionista do Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento (MAPA).

    A proposta do projeto de lei foi elaborada por um gru-po de tcnicos do MAPA, Agncia Nacional de gua (ANA) e ministrios do Meio Ambiente e da Integrao Nacional. O texto dever ser enviado aos ministros da rea e depois apresentada Casa Civil.

    Segundo o representante da Organizao das Naes Unidas para Agricultura e Alimentao (FAO) no Brasil, Gus-tavo Chianca, h estimativas de que 33% do solo no mundo esto em situao de risco. O Brasil um dos maiores pro-dutores de alimentos do mundo, com uma rea agricultvel de 242 milhes de hectares. Alm disso, tem 12% da reser-va mundial de gua doce.

    (Fonte: Assessoria de Imprensa Ministrio da Agricultura)

    menos seis anos, sendo dois anos como presidente eleito (2017/2018), dois como presidente efetivo (2019/2020) e outros dois (2021/2022) como ex-presidente.

    Para Gonalo de Farias, seria dese-jvel e importante a presena de candi-datos da Amrica Latina .

  • 8 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | JAN - ABR 2016

    climticas globais, eroso hdrica e eutrofizao dos corpos de gua; uti-lizao de novos sensores para aqui-sio de informaes sobre o solo baseados na radiao sncrotron e nanotecnologia; organizao de rede de dados para montagem de Big Data sobre o solo e suas caractersticas, viabilizando o eScience, utilizao das informaes para tomada de deciso e definio de polticas pblicas; po-ltica cientfica e financiamentos inter-nacionais em cincia do solo.

    O site do evento (www.epcis.net.br) teve 85.600 visitas em 35 dias, re-sultando em uma mdia de 2.446 visi-taes dirias

    NOTCIAs

    O Ncleo So Paulo e a Comisso Brasileira de Pedometria da SBCS promoveram, de 2 a 4 de maro, no Instituto Agronmico de Campinas, o II Encontro Paulista de Cincia do Solo (EPCiS) e I Encontro Brasileiro de Pedometria (Pedometrics Brazil). Os eventos debateram os desafios cien-tficos e tecnolgicos relacionados a cincia do solo paulista e brasileira no mbito da pedometria e o alinha-mento de propostas para criao de governana em solos, orientadora do planejamento sustentvel de uso e ocupao do solo.

    A Comisso organizadora avalia que o evento serviu para definir o marco zero para a avaliao do resul-tado e das evolues da interveno pblica na rea de conservao do solo e da gua e de sustentabilidade da produo agropecuria. O evento foi estrategicamente realizado no IAC porque a regio se destaca como uma das maiores do Brasil com recursos para a gerao de energia sustent-vel. Destaca-se tambm a presena de parques tecnolgicos e universidades de expresso nacional e internacional.

    Participaram do evento 34 insti-tuies de ensino e pesquisa e 14

    ii enContRo paulista de CinCia do solo (epCis) e i enContRo BRasileiRo de pedometRia (pedometRiCs BRazil)

    Palestras para dowloadPara baixar as palestras do II Encontro Pau-lista de Cincia Do Solo (EPCiS) e o I En-contro Brasileiro de Pedometria Pedome-trics Brazil. No celular voc tambm pode usar o QR Code. Para isso preciso ter um aplicativo que permita a leitura do cdigo. Mais informaes em: http://sbcssp.org.br

    Parte da Comisso Organizadora e representante da SBCS. Da esquer-da para direita: Otvio Antnio de Camargo, Tiago Osrio Ferreira, Reinaldo Bertola Cantarutti, Estvo Viccari Mellis, Rafael Otto, Jos Marques Junior, Zigomar Menezes de Souza, Janaina Braga do Car-mo, Thiago A.R. Nogueira e Diego Silva Siqueira

    Equipe organizadora

    estados brasileiros representados. O evento reuniu 215 participantes, sendo 53% profissionais de diferen-tes reas, 25% de ps-graduandos, 16% de graduandos e 6% na moda-lidade virtual. Entre os palestrantes estavam 38 especialistas em solos do Brasil, alm de dois internacionais: Tom Vanwalleghem da Universidade de Crdoba, Espanha e Eloi Carvalho Ribeiro, do ISRIC - World Soil Informa-tion, Wageningen, Holanda.

    O evento multidisciplinar deu se-quncia proposta do I Encontro Paulista de Cincia do Solo e da Con-ferencia de Pedometria, realizada em Crdoba, Espanha, em 2015, para identificao, caracterizao e organi-zao dos gestores acadmicos e em-presarias paulistas em cincia do solo para discutir os desafios cientficos e tecnolgicos sobre o tema.

    Fizeram parte da programao da reunio: tcnicas para divulgao e popularizao do conhecimento faci-litando sua converso em inovao e aumento da visibilidade sobre o tema solo; planejamento estratgico de uso e ocupao do solo com nfase na sustentabilidade, como manuteno do estoque de carbono e mudanas

  • 9BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | JAN - ABR 2016

    NOTCIAs

    O pesquisador do IBGE, Srgio Shi-mizu, doou o seu acervo fotogrfico com registros de todas as Reunies Brasileiras de Classificao e Correlao de Solos (RCC) realizadas entre 1998 e 2015. Trata--se de um precioso registro de solos nas diversas regies do pas que agora est disposio de todos os scios da SBCS.

    A RCC um evento tcnico-cientfico promovido pela SBCS com apoio de vrias instituies e vinculado ao Sistema Bra-sileiro de Classificao de Solos (SiBCS). Normalmente, o evento realizado com a participao de profissionais que atuam em instituies de pesquisa, ensino supe-rior e servios tcnicos na rea de Cincia do Solo ou correlatas, notadamente aque-les ligados s comisses especializadas de Gnese e Morfologia, Levantamento e Clas-sificao e Pedometria.

    O principal objetivo do evento a va-lidao e aprimoramento do SiBCS por meio de correlaes entre ocorrncias no territrio brasileiro das classes de solos e suas caractersticas geoambientais, suas vulnerabilidades e potencialidades para uso agrcola.

    Srgio Shimizu esclarece que no um fotografo profissional, mas sim um apaixonado pela fotografia. As fotos so registros das excurses pedolgicas e dos congressos. Tento mostrar, de uma for-ma fragmentada, como foram as histrias dessas viagens. So viagens com paradas cronometradas e com tempos reduzidos, ento no h como estudar melhor enqua-dramentos, composies e iluminao. Alm disso, preciso ouvir as discusses que ocorrem durante a apresentao dos perfis. Portanto, no so fotos para ir numa capa de revistas ou livros. A minha inten-o que as fotos sejam usadas nas salas de aulas e que de certa forma possa contri-buir com os professores.

    O acervo foi doado em formato digital, em dez DVDs com milhares de fotos. A Se-cretaria Executiva ir buscar alternativas de mdias para tonar as fotografias disponveis para os scios.

    sBCs ReCeBe doao de

    ACERVO FOTOgRFICO dAs RCCs

    A SBCS ir providenciar um sistema de buscas para disponibilizar o acervo aos scios.

    Srgio Shimizu o oriental sentado do lado direito da faixa.

  • 10 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | JAN - ABR 2016

    NOTCIAs

    O pesquisador da UFRRJ e mem-bro da Comisso de Pedometria da SBCS, Alessandro Samuel Rosa, lan-ou a verso 2.0-0 do pacote spsann, j disponvel para descarregar no CRAN. O pacote fornece mtodos para otimizar a configurao de amostras espaciais utilizando o recozimento simulado espacial. A nova verso im-plementa mltiplas funes para vrias finalidades, tais como estimativa do variograma, estimativa da tendncia espacial e interpolao espacial. Uma funo de recozimento simulado es-pacial de uso geral permite ao usurio definir sua prpria funo objetivo.

    Tcnicas modernas de mapea-mento do solo usam o modelo estats-tico Y(s) = m(s) + e(s) para explicar a correlao emprica entre as proprie-dades do solo (Y) e as condies am-bientais usando um nmero limitado de amostras (s). Para isso necess-rio que a configurao amostral seja tima para identificar e estimar ambos os componentes determinsticos (m) e estocstico (e) de variao espacial do solo, e permitir realizar predies espaciais com a menor incerteza pos-svel. Obter uma amostra que atenda aos trs objetivos simultaneamente um desafio, dado que a configurao amostral tima para cada objetivo diferente.

    Segundo o pesquisador,o pacote spsann uma maneira de obter confi-guraes amostrais timas para o ma-peamento do solo.

    INTELIgNCIA ARTIFICIALpaRa amostRaGem do solo

    O R o ambiente computacional mais po-pular de processamento e anlise de dados. Alm disso, o R um software livre e de cdigo aberto. Mais informaes em www.r--project.org.

    O spsann resolve o problema de encontrar configuraes amostrais timas usando uma tcnica chamada recozimento simulado, onde milha-res de configuraes amostrais so avaliadas sequencialmente at que a configurao amostral tima para o problema mo seja encontrada. O processo de busca funciona assim:

    spsann inicia com uma configura-o amostral qualquer e avalia a sua qualidade de acordo com o problema mo;

    Uma nova configurao amostral produzida mudando a localizao de uma das amostras.

    A qualidade da nova configurao amostral avaliada. Se for melhor do que a anterior, a nova configurao amostral aceita (usada para substi-tuir a anterior). Contudo, tambm h chance de ela ser aceita se for pior. Isso serve para spsann escapar de solues inferiores baseando-se no princpio de que, por vezes, preciso dar um passo atrs para encontrar so-lues melhores.

    O processo continua at que ne-nhuma nova configurao amostral seja melhor do que a anterior. Quanto mais prximo de encontrar a configu-rao amostral tima, menor a chan-ce de aceitar solues piores.

    O pacote spsann foi desenvolvido como parte do projeto de doutora-mento do pesquisador sob orientao de Lcia Anjos (UFRRJ), Gustavo Vas-ques (Embrapa Solos) e Gerard Heu-velink (ISRIC -- World Soil Information, Holanda), financiado pela CAPES e CNPq.

    Esto sendo preparados dois ar-tigos com avaliao do desempenho do spsann. Maiores informaes es-to disponveis na pgina de desen-volvimento de spsann (github.com/samuel-rosa/spsann/) e em minha p-gina pessoal (samuel-rosa.github.io).

  • 11BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | JAN - ABR 2016

    NOTCIAs

    De 31 de agosto a 2 de setembro, o Ncleo Regional Sul (NRS) da SBCS realizar, em Frederico Westphalen, RS, a XI Reunio Sul Brasileira de Cincia do Solo. O evento ter como tema Qualidade do Solo & Ambiente de Produo.

    Segundo a Comisso Organizadora, o tema tem como ob-jetivo provocar uma reflexo sobre como estamos cuidando do nosso ambiente de produo. Ser que todo o conheci-mento gerado nas nossas instituies de ensino e de pesqui-sa est sendo aplicado na busca pela qualidade do solo? Ser que o nosso ambiente de produo sustentvel?

    O evento ser composto de apresentao de trabalhos cientficos na forma de psteres, conferncias e painis, reu-nies das sesses tcnicas da SBCS e a assembleia geral. Nas conferncias e painis sero debatidos temas atuais como: Histria da Cincia do Solo nos estados do RS e SC, Qua-lidade de Solos, Aspectos Ambientais de Contaminao de Solos, Dinmica de Carbono e Eroso nos Ambientes de Pro-duo.

    Xi Reunio sul BRasileiRa

    dE CINCIA dO sOLO

    O VIII SBES ser realizado entre os dias 7 e 10 de setembro no Departa-mento de Geografia da Universidade de So Paulo, e ter como tema principal A educao em solos no meio urbano e a popularizao da Cincia do Solo. O simpsio reunir profissionais de todo o pas que se dedicam pesquisa em solos e atuam nas reas do ensino, pesquisa e extenso em instituies p-blicas, privadas e organizaes gover-namentais e no governamentais.

    O objetivo do evento promover a discusso de temas concernentes ao ensino do solo por meio dos agentes de divulgao/promoo do conhe-cimento e das aplicaes de prticas educativas e inovadoras na conduo de pesquisas sobre a educao em so-los. A realizao do Simpsio refora a importncia do ensino do solo e de uma viso pedaggica para o trabalho de uso e conservao do solo de forma sustentvel.

    A discusso do tema propos-to para o VIII Simpsio Brasileiro de

    simpsio BRasileiRo de eduCao em solosseR Realizado em so paulo

    Educao em Solo busca possibilitar a difuso do conhecimento do ensino do solo em uma perspectiva de inte-grao natureza/sociedade, estimu-lando a articulao e a troca de ideias, informaes, experincias e conhe-cimentos entre os participantes do simpsio, formado por pedagogos, gegrafos, agrnomos, bilogos, ge-logos e qumicos, professores, pes-quisadores, acadmicos e profissio-nais das demais reas voltadas para a temtica do simpsio.

    A realizao do Simpsio em uma grande cidade como So Paulo ser uma oportunidade para divulga-o das pesquisas e aes relacionadas educao sobre o uso e conservao dos solos, desenvolvidas a partir da re-alidade do meio urbano.

    As discusses ocorrero seguindo diferentes eixos temticos desenvol-vidos em atividades como palestras, mesas redondas, apresentao de tra-balhos em sesses de psteres e apre-sentaes orais, grupos de trabalho,

    oficinas e atividades de campo.

    Os trabalhos podero ser submeti-dos at o dia 31 de maio. Mais informa-es no site: http://viiisbes.fflch.usp.br/

    O VIII Simpsio Brasileiro de Edu-cao em Solos um evento promovi-do pela da Diviso 4 da SBCS Solo, Ambiente e Sociedade, da Sociedade Brasileira de Cincia do solo e organi-zado por um grupo de pesquisadores vinculados s instituies de ensino su-perior que investigam e desenvolvem trabalhos na rea de ensino e pesquisa de Solos.

    Mais informaes no site do NRS. http://www.sbcs-nrs.org.br/ e na fan page: Ncleo-Regional-Sul-Sociedade-Brasi-leira-de-Cincia-do-Solo

  • 12 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | JAN - ABR 2016

    NOTCIAs

    Com o tema O solo sob ameaa: conexes necessrias ao manejo e conservao do solo e gua, o even-to promovido pela SBCS e realizado pelo Instituto Agronmico do Paran (IAPAR) e Ncleo Estadual Paran da Sociedade Brasileira de Cincia do Solo (NEPAR-SBCS).

    O objetivo suscitar discusses acerca dos grandes problemas da conservao do solo e promover sis-temas sustentveis de uso dos recur-sos solo e gua para todos os biomas brasileiros, alm de contribuir com solues sobre o aumento de produ-o aliado conservao das terras agrcolas.

    A programao do evento mes-cla a apresentao de novos conhe-cimentos cientficos com temas de cunho educacional, de difuso de tecnologia e at mesmo aspectos legais que envolvem a conservao do solo. So convidados a contribuir, professores e pesquisadores da mais alta qualificao e experincia, alm de empresas e representantes da administrao pblica que tm ao interfacial com o tema. Sero quatro dias de intensos debates, onde se-ro realizadas quatro palestras em sesso plenria nica e 14 painis de discusso tcnica com duas ou trs contribuies tcnicas em cada, o que ir proporcionar aos congres-sistas a discusso e a apropriao de extenso contedo tcnico.

    Alm das palestras e painis, sero apresentados trabalhos cientficos na

    RBMCsA dIsCUTE CONsERVAOe manejo do solo e da Gua

    forma oral ou de psteres, com resul-tados de pesquisa atuais e inovadores de todas as subcomisses cientficas ligadas ao manejo e conservao do solo. Esta prevista tambm a realiza-o de minicursos e excurses tcni-cas a campo.

    O local do eventoA cidade das Cataratas foi escolhi-

    da para sediar o evento por trs moti-vos: a profunda ligao da regio com o tema por situar-se na convergncia de duas das maiores bacias hidro-grficas do Brasil, a do Rio Paran e a do Rio Iguau, que so precursoras da formao da Bacia do Prata, uma das mais importantes da Amrica do Sul. Alm disso, trata-se de uma re-

    gio de solos frteis que abrigam uma agricultura extremamente moderna e produtiva, alm das belezas e en-cantos naturais das suas cachoeiras e parques em conjunto com boa malha area, capaz de receber participantes de todo o Pas.

    Os organizadores esperam um pblico de 600 participantes entre professores, pesquisadores e exten-sionistas, profissionais da iniciativa privada, estudantes de graduao, ps-graduao e agricultores, e a apresentao de 300 trabalhos cien-tficos.

    O site da XX RBMCSA (www.rbmcsa2016.com.br) e o Facebook (www.facebook.com/xxrbmcsa) j esto no ar com notcias, depoimen-

    pRinCipal evento da Rea, a XX Reunio BRasileiRa de manejo e ConseRvao do solo e da Gua, seR Realizada entRe os dias 20 e 24 de novemBRo em foz do iGuau

  • 13BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | JAN - ABR 2016

    NOTCIAs

    Promovida pelo Ncleo Regional Centro-Oeste em parceria com a Uni-versidade Federal de Gois, a FertBio 2016 ter como tema central Rumo aos Novos Desafios. Goinia ser o cenrio das principais discusses so-bre os caminhos a serem seguidos por produtores, empresrios e cien-tistas.

    A FertBio 2016 rene quatro im-portantes eventos da Cincia do Solo: a XXXII Reunio Brasileira de Fertili-dade do Solo e Nutrio de Plantas, a XVI Reunio Brasileira sobre Micor-rizas, o XIV Simpsio Brasileiro de Microbiologia do Solo e a XI Reunio Brasileira de Biologia do Solo.

    Essa harmonizao, que foi inicial-

    feRtBio 2016 seR Realizada em Goinia, de 16 a 20 de outuBRo

    mente estabelecida no ano de 1998, tem propiciado excelentes oportuni-dades para a promoo de debates das grandes reas temticas e para a congregao de pesquisadores, pro-fessores, estudantes, produtores ru-rais, extensionistas e empresrios de diversos setores ligados agricultura, consolidando o desejo de todos de in-tegrar as vrias reas de conhecimen-to da Cincia do Solo.

    Sero quatro conferncias a cada dia, alm de simpsios e mesas re-dondas. A programao e prazos para inscries com descontos podem ser conferidos nos site do evento: http://www.eventosolos.org.br/fertbio2016/home/

    tos, informaes da cidade que se-diar o evento, material de divulga-o e todas as informaes sobre a programao, inscrio e submisso de trabalhos.

    A RBMCSA realizada h mais de cinco dcadas

    O I Congresso Nacional de Con-servao do Solo (CNCS) aconteceu na semana de 17 a 23 de julho de 1960, em Campinas (SP), preambular evento dedicado a essa temtica no Brasil. Trs anos depois, a segunda edio foi realizada em Belo Horizonte (MG), em 1963.

    Em 1970 a Sociedade Brasileira de Conservao do Solo incorporou-se Sociedade Brasileira de Cincia do Solo (SBCS). Porm, alm dos con-gressos de conservao dos solos ou-tros eventos similares passaram a ser promovidos.

    No Paran, a primeira reunio de um grupo de pesquisadores interes-sados em conservao do solo, acon-teceu em 1975, em Londrina (PR), realizado pelo Instituto Agronmico do Paran (IAPAR), com o ttulo de Encontro Nacional de Pesquisa sobre Conservao do Solo com Simulador de Chuva. Em 1978, esse evento foi

    realizado em Passo Fundo (RS) e em 1980, em Recife (PE). No mesmo ano, em Braslia-DF, foi realizado, aps um intervalo de 17 anos, o III Congresso Brasileiro de Conservao do Solo, quando foi substituda a palavra na-cional. Os eventos que se seguiram foram realizados em Campinas - SP (1982), Porto Alegre-RS (1984), Cam-po Grande-MS (1986) e Joo Pessoa - PB (1988).

    Em 1990, quando da realizao si-multnea do VIII Congresso Brasilei-ro de Conservao do Solo e do 8. Encontro Nacional de Pesquisa Sobre Conservao do Solo, realizados pelo IAPAR, foi decido pela fuso dos dois eventos que, a partir de ento, pas-saram a ser nominados de Reunio Brasileira de Manejo e Conservao do Solo e da gua (RBMCSA), rece-bendo a mesma sequncia numrica.

  • 14 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | JAN - ABR 2016

    Um conjunto de quase 500 mapas de altssima resoluo ir permitir ao Brasil enxergar como est utilizando suas terras destinadas agricultura e pecuria. Ser tambm um olhar ao longo da histria agrcola dos ltimos 70 anos. Ao mirar passado e presen-te, ser possvel planejar o futuro com a esperana de que possvel crescer economicamente sem que mais nenhu-ma rvore seja arrancada da Amaznia ou do Cerrado. Os mapas esto dispo-nveis para quem quiser consult-los e fazem parte de uma tese de doutorado em preparao no Departamento de Engenharia Agrcola da Universidade Federal de Viosa.

    O trabalho pioneiro no Brasil. A pesquisadora Lvia Dias, orientada pelo professor Marcos Heil da Costa, com-binou dados dos censos agropecu-rios realizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE) com imagens de satlite. Para distribuir as principais culturas agrcolas do Brasil em reas j desmatadas. Os mapas tm tamanha preciso que possvel visualizar o uso agrcola do solo bra-sileiro a cada quilmetro quadrado. O trabalho, segundo os pesquisadores, consistente com todos os dados agrcolas disponveis e estima onde e como os solos brasileiros tm sido uti-lizados pela agricultura e pecuria ao longo do tempo.

    A pesquisa avaliou o padro do uso do solo e das mudanas de pro-dutividade para quatro dos principais usos agrcolas no Brasil: soja, milho, cana-de-acar e pastagens. Por isso, o resultado d subsdios importantes tanto para evitar a ocupao agrcola da Amaznia quanto para planejar o uso do solo no Brasil.

    Boas notciasO professor Marcos Heil afirma que

    os resultados avaliados ao longo do tempo permitem analisar tendncias que no sero revertidas facilmente.

    uso do solo BRasileiRo pode melhoRaR

    sEM ATINgIR REAs dE PREsERVAOO Brasil est mudando o mo-delo agrcola de extensivo para intensivo rapi-damente e essa uma mudana de direo que parece ser defi-nitiva. Essa ten-dncia comea a ser percebida a partir de 1985. A rea total utiliza-da pela agrope-curia est sen-do reduzida, mas a produo est aumentando.

    Os pesquisadores concluem que das quatro culturas analisadas, a soja e a cana-de-acar j atingiram a produtivi-dade mxima possvel com as tecnolo-gias disponveis atualmente. A cultura do milho j alcanou dois teros do que possvel atingir em produtividade, mas a pecuria ainda est na metade do caminho. H um enorme espao para crescer sem que haja expanso de rea, diz o professor Heil. Para chegar s concluses sobre dficit de produti-vidade, os pesquisadores compararam as mdias atuais com os resultados obtidos pelos 5% dos produtores mais produtivos.

    Os dados histricos mostram a no-tria baixa sustentabilidade da agrope-curia no Brasil. O Brasil adotou um modelo de expanso que sempre pre-feriu estender a rea a buscar produti-vidade. Este modelo de expanso de reas no se sustenta mais. Este pro-cesso, felizmente, est sendo reverti-do, afirma o orientador da pesquisa. Os resultados mostram que, apesar da fronteira agrcola ainda estar em expanso na Amaznia e no Cerrado, as taxas so muito menores que antes e a rea destinada agropecuria est reduzindo ao longo do Sul e Leste do pas. A boa notcia que a produtivi-dade est crescendo rapidamente em

    todo o Brasil. O pas est se movendo lentamente em direo a uma agrope-curia mais intensiva e sustentvel, conclui Heil.

    A pecuriaOs mapas produzidos pelos pesqui-

    sadores mostram com preciso o que muitos j sabem. So 53 milhes de hectares de pastagens de baixa produ-tividade em solos em franco processo de degradao. Mas a autora da tese de doutorado, Lvia Dias, afirma que hou-ve reduo das reas de pastagens em todas as regies analisadas, exceto na Amaznia. No entanto, o lento proces-so de transferncia de tecnologia ainda faz com que, em pelo menos 35% da rea total de pastagens, a taxa de lota-o de bovinos seja inferior a uma ca-bea por hectare.

    Os dados da pesquisa mostram que o Brasil tem uma rea do tamanho de Minas Gerais que pode ser usada para a expanso da agricultura desde que haja recuperao do solo. A recuperao ou substituio das pastagens depende de tecnologia e investimentos. Mesmo as reas produtivas podem melhorar muito a produo. Com tecnologia ade-quada, a rea disponvel para produo agrcola no Brasil poderia ser maior que o equivalente a toda a regio Sudeste e no haveria necessidade de expanso

    Mapas mostram evoluo do uso do solo agrcola ao longo dos lti-mos 70 anos

    NOTCIAs

  • 15BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | JAN - ABR 2016

    A Universidade Federal Rural da Amaznia (UFRA), juntamente com o Ncleo Regional da Amaznia Oriental da SBCS iro realizar o II Encontro de Ci-ncia do Solo da Amaznia entre os dias 10 e 13 de agosto, em Capanema- PA.

    A realizao do evento visa ampliar os conhecimentos tcnicos e cientficos necessrios para assegurar o desen-volvimento sustentvel da Amaznia. A programao prev abordar reas

    ii enContRo ReGional de CinCia do solo na amaznia oRiental amazon soil 2016

    de fertilidade do solo e nutrio mi-neral de plantas, matria orgnica do solo, biologia do solo, fsica do solo, qumica e mineralogia do solo, gnese, morfologia e classificao do solo, ma-nejo e conservao do solo e da gua, fertilizantes e corretivos, educao em cincia do solo e poluio, qualidade ambiental e etnopedologia e discutidas as tcnicas e sistemas de manejo ado-tados na Amaznia, bem como a com-

    parao com as adotadas em outras re-gies brasileiras, visando minimizar os impactos sobre a conservao do solo e da gua, quando submetidos direta ou indiretamente s alteraes em fun-o da adoo de sistemas produtivos

    Mais informaes no site do evento: http://amazonsoil2016.com.br/

    ABERTAs As INsCRIEs paRa o pRmio ipni BRasil

    medalha Guy smith de CinCia do solo

    para regies ainda com vegetao na-tiva, diz Lvia.

    Esses resultados do ainda mais ar-gumentos para vrios outros trabalhos publicados pela equipe do professor Marcos Heil Costa no Grupo de Pesqui-sa em Interao Atmosfera-Biosfera da UFV. O grupo tem demonstrado cien-tificamente que o desmatamento da Floresta Amaznica e do Cerrado ter

    impactos negativos no clima da regio e ir afetar negativamente a produo agrcola e pecuria nacional.

    O estudo fornece uma viso histri-ca abrangente do uso do solo e da pro-dutividade na agricultura e na pecuria. Segundo Lvia, os resultados demons-tram que reduzir o dficit de produti-vidade pode aumentar drasticamente a produo do agronegcio e fornece

    informaes claras para orientar o pla-nejamento territorial e as decises pol-ticas para a agricultura sustentvel.

    Os mapas podem ser visualizados e baixados em http://www.biosfera.dea.ufv.br e o artigo publicado na Global Change Biology pode ser conferi-do em http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/gcb.13314/full

    Esto abertas, at dia 12 de agosto, as inscries para o Prmio Pesqui-sador Senior do IPNI Brasil (International Plant Nutrition Institute). A pre-miao tem por objetivo reconhecer pesquisadores que contribuem com pesquisas relevantes para o uso eficiente dos fertilizantes e a manuteno da qualidade ambiental, de modo a garantir a produo de alimentos para a hu-manidade. A premiao conta com o apoio da Sociedade Brasileira de Cincia do Solo.

    O Prmio IPNI Brasil ser entregue durante a FertBio 2016, que acontecer em outubro, em Goinia.

    O Prmio de Pesquisador Snior concedido a pesquisadores que se des-tacam com relevantes contribuies cientficas para o manejo responsvel dos nutrientes das plantas. Os candidatos devero ser indicados por at dois emi-nentes pesquisadores. As regras para a candidatura podem ser consultadas no site: http://info.ipni.net/Premio_Brasil.

    Todos os anos o IPNI tambm premia um trabalho cientfico de jovens pes-quisadores que tenha sido apresentado no evento e contenha informao re-levante e fornea suporte misso do Instituto. Na modalidade Jovem Pesqui-sador no h inscries. Todos os trabalhos aceitos para o evento concorrem e so julgados pela comisso que os avalia. Mais informaes no site da SBCS.

    Esto abertas, at 30 de julho, as ins-cries para a medalha Guy Smith de Cincia do Solo. A premiao con-cedida pela Comisso de Classificao dos Solos da Unio Internacional de Ci-ncia do Solo (IUSS) a cada dois anos. A entrega do prmio ser feita durante o 5th International Soil Classification Con-gress, que ser realizado de 1 a 7 de setem-bro, na frica do Sul. Os candidatos brasi-leiros indicados devem ser pesquisadores proeminentes e serem associados SBCS.

    Mais informaes no site:https://sites.google.com/a/vt.edu/iuss1-4_soil_classifi-cation/home/guy-smith-award

    Outras informaes sobre indicaes de brasileiros com a Diretora da Diviso 1 da SBCS e membro da Comisso da IUSS, Lcia dos Anjos pelo e-mail: [email protected]

    NOTCIAs

  • 16 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | JAN - ABR 2016

    a CinCia do soloE O dEsAsTRE dE MARIANA

    Toda sociedade deseja se desen-volver, gerar riquezas e possuir ele-vada qualidade de vida. No entanto, importante lembrarmos que todo desenvolvimento, por mais sustent-vel que seja, requer uso dos recursos naturais e, portanto, possui um custo ambiental. Exemplo disso a dispa-ridade de vegetao nativa existente no Brasil (65%) e na Europa (7%). Este continente pagou caro pelo desen-volvimento conquistado e hoje gasta fortunas para ajudar a preservar reas em outros continentes. Conscientes disto, temos que nos empenhar cada vez mais em nossa obrigao de gerar conhecimento, tcnicas, produtos e processos para viabilizar o desenvol-vimento com o menor custo ambiental possvel. Todo empreendimento gera impactos ambientais que devem, da melhor maneira possvel, ser minimi-zados, mitigados ou compensados. A viso simplista de que esta ou aquela atividade deva ser descontinuada no resolve nossos problemas e gera con-flitos sociais dos mais diversos nveis.

    Neste sentido a Cincia do Solo tem papel fundamental. O recurso solo a base de sustentao do am-

    biente, por onde passam todos os ciclos da natureza. A mitigao ou a compensao dos impactos ambien-tais envolve, diretamente, o uso do solo. Infelizmente a maior parte da sociedade no conhece a importn-cia deste recurso, e tem uma melhor percepo apenas dos recursos vege-tao e gua. Este desconhecimento faz com que muitos dos processos de produo no sejam sustentveis, no havendo, portanto, como atingir o al-mejado desenvolvimento sustentvel.

    Atualmente presenciamos as elo-quentes discusses relacionadas grandes empreendimentos, tais como, a construo da Usina de Belo Monte, e mais recentemente o desas-tre de Mariana decorrente do rompi-mento da barragem de rejeitos de mi-nerao do Fundo. Ambos eventos evidenciam a necessidade de refor-mulao das legislaes pertinentes e a importncia de corpo tcnico quali-ficado. Alm disso, preciso entender os novos ambientes formados e como manej-los para que voltem a exercer suas funes.

    Atenta ao compromisso de dar respostas sociedade para proble-

    mas que envolvem os solos, a SBCS pretendeu apresentar, nesta edio do Boletim Informativo, artigos que ajudassem a compreender o desastre acontecido em Mariana, MG. A cin-cia do solo pode compreender, auxi-liar a identificar problemas e apontar solues que possam mitigar as con-sequncias deste desastre para a po-pulao atingida. H muitos pesquisa-dores estudando os impactos deste desastre. A SBCS procurou identifica--los e convid-los a escrever artigos, mas, infelizmente, alguns no pude-ram atender a este chamado. Aos que prontamente aceitaram este desafio, a gratido da SBCS.

    Mais que contribuir para minimizar os impactos do desastre, aprender com os erros e formular alternativas para o desenvolvimento de forma tc-nica, responsvel e eficaz: sustent-vel, porque no!

    Igor Assis

    Editor-chefe do Boletim Informativo da SBCS

  • 17BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | JAN - ABR 2016

  • 18 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | JAN - ABR 2016

    O restabelecimento dos ecossiste-mas afetados por desastres socioam-bientais da magnitude do acidente da Barragem do Fundo, em Mariana, suscita questes mais imediatas e b-vias, vinculadas forte degradao da paisagem total: rios, plancies fluviais, terraos, reas rurais habitadas, estru-turas, pontes, animais, coletividades, zonas urbanas e todo um modo de vida e um tecido social rompido, des-continuado ou, ainda pior, irremedia-velmente perdido. Em meio mirade de problemas correlatos, prprio de uma tragdia como essa uma reflexo sobre nosso papel na natureza e do quanto estamos vulnerveis a desas-tres que trazem consequncias impon-derveis sobre tantas facetas socioam-bientais.

    Em termos prticos, o desastre da Barragem do Fundo evidenciou a morte e a destruio em sua face mais temvel: 17 vidas humanas perdidas, milhes de animais aquticos e terres-tres mortos, uma Bacia Hidrogrfica essencial para Minas e Esprito Santo,

    PAIsAgENs dE LAMA:os teCnossolos paRa ReCupeRao amBiental de Reas afetadas pelo desastRe da BaRRaGem do fundo, em maRiana

    Carlos Ernesto G. Reynaud SchaeferEliana Elizabet dos SantosElpdio Incio Fernandes FilhoIgor Rodrigues de Assis

    diretamente e fortemente afetada em sua integridade ambiental. Por muito tempo ser difcil de estimar todos os danos com alguma certeza!

    A ruptura repentina gerou o deslo-camento de uma onda desproporcio-nal de rejeitos que galgou a barragem de Santarm, a jusante, e desceu de forma avassaladora pelos rios Gualaxo do Norte e Carmo at atingir a barra-gem de Candonga. L, boa parte des-tes rejeitos ficou represada, mas aca-bou extravasando um volume ainda gigantesco, que permanece na calha do Rio Doce. Neste trecho de mon-tante, desde a barragem e por mais de 95 km, boa parte das margens dos terraos baixos, at 4 metros de altura, e toda plancie fluvial e leito menor, fo-ram recobertos ou assoreados por um imenso volume de rejeito, atingindo profundidade mxima de 200 cm de material, alm de galhos e restos org-nicos mais leves (Figura 1).

    Toda essa dimenso trgica , con-tudo, indutora imediata da busca de solues tcnicas e medidas prticas

    Paisagem de ponte do Rio Doce com depsito de lama e galha-da proveniente da destruio de APPs a montante.

    OPINIO

    Foto: Hugo Galvo

  • 19BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | JAN - ABR 2016

    que podem alavancar o processo de recuperao. Para tanto, numa primei-ra etapa, preciso mensurar e conhe-cer o desastre em todas suas facetas e detalhes. Num plano mais evidente, as guas e o leito menor dos rios foram diretamente impactados. Neste caso, imediatamente foram implementados estudos hidrolgicos, sedimentolgi-cos e de ictiofauna. Porm, o rastro de destruio da onda de rejeitos criou um ambiente inspito e inteiramente novo nas margens dos rios: uma anti-ga plancie fluvial outrora intensamen-te cultivada ou pastejada, agora est recoberta por um lenol de sedimen-tos estranhos Bacia, que suprimiram as reas ribeirinhas mais nobres, onde o uso consolidado com cultivo de ro-as e pastagens representavam o pa-norama tpico. Alm disso, os poucos fragmentos residuais de Mata Atlnti-ca ripria, j to empobrecidos, agora esto praticamente arrasados e sem qualquer conectividade.

    Neste trabalho, procuramos enfa-tizar os aspectos dos solos nas zonas ribeirinhas afetadas, deixando de lado o imenso passivo social, hidrogrfico e hidrolgico do sistema Gualaxo-Car-mo-Doce, to severamente afetado. O enfoque escolhido o cenrio e o des-tino da imensa quantidade de rejeito que extravasou para o leito menor dos rios e ocupou suas margens, at atingir

    Figura 1. Cenrio imediatamente aps o

    desastre. Perfil esquemtico do depsito

    de lama proveniente do rompimento da

    barragem e Tecnossolos em seu estgio

    zero de evoluo.

    a barragem de Candonga. Aqui vamos destacar sua dimenso, sua quantifica-o e sua repercusso ambiental.

    O que vimos no local um rejeito complexo: areia, silte, argila e restos orgnicos tudo junto e misturado, com pouca seleo e natureza mine-ralgica nica, decorrente de resduos de minerao e de seu tratamento. Partimos da premissa de que o con-ceito de Tecnossolos pode, a nosso ver, ajudar a buscar solues para fa-tos to pouco comuns aos problemas habituais de recuperao de solos de-gradados.

    Tal aporte repentino resultou no completo desaparecimento e assorea-mento das vrzeas mais baixas e em profundas mudanas nos terraos, que foram enterrados por volume de sedimentos tecnognicos de origem minerria, gerando um quadro degra-dado onde tecnossolos so a nova rea-lidade. Tecnossolos praticamente est-reis, em forte contraste com os antigos Neossolos Flvicos, Gleissolos e Cam-bissolos, na maioria eutrficos, que sustentavam a paisagem ribeirinha, e hoje truncados e enterrados. Neste novo cenrio, tem-se uma oportunida-de para acompanhar, de maneira pio-neira, transformaes pedogenticas em um novo solo artificial, desprovido de estrutura e com teores muito baixos de matria orgnica.

    Que lama essa?Ao longo do trecho impactado pela

    deposio, foram coletados material de sedimento e dos solos artificiais e outros afetados, e procedidas anlises de rotina qumica e fsica (EMBRAPA, 2011), para uma primeira viso da fertilidade natural brevemente relatadas e discutidas a seguir. Embora tais anlises sejam usualmente destinadas ao diagnstico da fertilidade e prescrio de corretivos e adubao, servem tambm como indicadores da qualidade ambiental do solo artificial criado pelo desastre, com algumas ressalvas.

    De maneira geral, a lama depositada como Tecnossolo quimicamente pobre, mas os problemas fsicos parecem maiores que os qumicos para a recuperao ambiental. Os valores de densidade do solo ao longo de todo o trecho ribeirinho, determinados logo aps o desastre, mostraram faixa varivel de 0,94 a 2,38 g/cm3 (Tabela 1). Os valores extremos so muito altos e a situao aparentemente se agravou com a passagem do vero chuvoso e quente. Quatro meses aps o desastre, houve assentamento e selamento do solo (hard-setting) formando uma crosta de areia fina/silte durssima penetrao.

    A densidade do solo (lama) foi extremamente varivel, com mdia

    OPINIO

    Arte: C

    arlos Schaefer

  • 20 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | JAN - ABR 2016

    de 1,41 g/cm3 em superfcie e 1,54 g/cm3 na lama enterrada, com valores de desvio padro de 0,53 a 0,52, respectivamente. A densidade de partcula bem mais elevada pela natureza do minrio de ferro que possui alta massa especfica 2,75 g/cm3 (superfcie); 2,80 g/cm3 (enterrada) e menor desvio padro - 0,29 e 0,23 g/cm3, respectivamente.

    O material de lama possui CTC muito baixa, sendo praticamente destitudo de carga eltrica negativa, como pode ser avaliado pelo pHpositivo (diferena entre pH KCl e pH em H2O), o que indica um substrato com carga lquida positiva, tpico de materiais oxdicos muito intemperizados e semelhantes solos e materiais de canga ferrfera do Quadriltero (Schaefer et al., 2015) (mdia pH KCl = 6,25, mdia pH em gua = 5,69). Os valores de pH tendem a ser relativamente elevados, no devido presena de bases (Ca, Mg), que baixa, mas sim aproximao do Ponto de Carga Zero dos xidos de Ferro (prximo da neutralidade), que predominam nesses substratos muito intemperizados. O pH elevado pode ser atribudo, ainda, ao uso de hidrxido de sdio na chamada gelatinizao na mistura com amido, com o material suspenso atingindo pH 10,5.

    J os solos enterrados (Neossolos Flvicos e/ou Cambissolos) mostram valores de pH em gua bem maiores que pH KCl, e portanto, CTC e carga lquida negativa. A CTC mdia da lama muito baixa (2,96) e os solos do entorno possuem valores maiores, com destaque para os Cambissolos das encostas. O Alumnio trocvel praticamente nulo em todos os solos e o teor de MO encontrado foi baixo e pouco varivel, tendo em vista que os solos adjacentes foram truncados pela eroso antes da deposio da lama, perdendo todo o horizonte A mais rico em matria orgnica. Contudo, como o rejeito da minerao normalmente rico em mangans, os valores devem ser afetados pela oxidao do dicromato pelo mangans reduzido presente, e os teores de MO seriam, assim, bem menores. Por outro lado, estudos prvios indicaram baixos

    AnlisesMdia

    Tecnossolo (lama) Neossolo Flvico Cambissolo

    MdiaDesvio

    Pad.Mdia

    Desvio Pad.

    MdiaDesvio

    Pad.

    pHH2O 5,69 0,19 5,65 0,19 5,77 0,15

    KCl 6,25 1,25 4,91 0,6 4,6 0,3

    P

    mg/dm3

    9,34 3,48 11,05 24,5 5,38 3,97

    K 18,43 22 15,87 12,32 46,67 62,81

    Na 11,61 11,98 5,23 4,62 4,88 8,91

    Ca2+

    cmolc/dm3

    1,45 0,69 1,61 0,99 1,76 1,44

    Mg2+ 0,34 0,48 0,57 0,43 0,48 0,37

    Al3+ 0,016 0,07 0,07 0,15 0,14 0,22

    H+Al 1,06 1,33 1,53 1,07 3,28 1,23

    CTC (T) 2,96 2,09 3,78 1,54 5,67 2,3

    MO dag/kg 0,91 1,54 0,85 0,69 1,42 1,03

    P-rem mg/L 28,68 11,07 29,57 11,2 24 9,4

    Femg/dm3

    499,2 476,01 610,3 528,28 604,72 556,04

    Pb 0,41 0,44 0,73 1,38 1,57 1,45

    Areia Grossa

    kg/kg

    0,16 0,18 0,24 0,21 0,26 0,08

    Areia Fina 0,33 0,19 0,36 0,21 0,2 0,08

    Silte 0,32 0,18 0,16 0,1 0,14 0,07

    Argila 0,18 0,17 0,23 0,19 0,39 0,11

    Dens. Solo

    g/cm3

    1,41 0,53 _ _ _ _

    Dens. Solo pro-fundidade

    1,54 0,42 _ _ _ _

    Dens.Part 2,75 0,29 _ _ _ _

    Dens.Part. Pro-fundidade

    2,8 0,23 _ _ _ _

    Tabela 1. Sntese dos resultados das anlises qumicas e fsicas de 26 amostras de lama e solos afetados pelo desastre

    Terrao fluvial de lama adjacente barragem de Candonga.

    OPINIO

  • 21BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | JAN - ABR 2016

    teores de Mn nas barragens de rejeitos de Germano e Santarm, com a lama do rejeito sendo constituda, basicamente, de Goethita (63 %), Hematita (24 %), Quartzo (11 %) e Caulinita (7%), o que corrobora a baixssima CTC e condio eletropositiva. A determinao de C neste material deve ser realizada em analisador elementar, por infravermelho.

    A lama possui teor de P extravel por Melich I mais alto (mdia 9,34 mg/dm3) que os Cambissolos/ Argissolos (5,38 mg/dm3) e menores que os Neossolos Flvicos/Gleissolos (11,05 mg/dm3). So teores relativamente altos e podem tanto refletir a intensa mistura do material com os solos superficiais arrastados pela eroso na passagem da onda de lama, quanto a presena de arsnio, pois o rejeito normalmente pobre em P. Neste caso, o mtodo colorimtrico no se aplica, e teores totais devem ser investigados por espectrometria de emisso ptica (ICP ou MS). Os teores de Na so maiores na lama e devem refletir efeitos do tratamento do minrio.

    No campo, observa-se um intenso e generalizado selamento superficial, agravado pela eroso preferencial do material fino, mais dispersvel,

    deixando um substrato residual rico em areia fina e silte, altamente compactado (Hard-setting), constituindo um entrave recuperao natural sem alguma interveno. Quase cinco meses aps o desastre, a lama compactada permanece fisicamente inspita, e praticamente sem vegetao natural.

    Medidas de recuperao e cenrio prognstico nas reas cultivadas

    Para exemplificar os processos de recuperao em curso, escolheu-se a maior rea de Tecnossolos, de cer-ca de 11 ha de terra de vrzea soter-rada pela lama, pertence fazenda Porto Alegre, voltada pecuria lei-teira de alto rendimento, com muitas instalaes de currais e ordenhas se-veramente afetadas pela inundao e soterramento. Imediatamente aps o acidente, o proprietrio solicitou Samarco o empenho na reduo ime-diata dos prejuzos e que fosse traado um plano de recuperao das reas atingidas. O grupo da UFV sugeriu, en-to, que o material tecnognico (lama) fosse tentativamente recoberto com uma camada de solo frtil oriunda do entorno, o que foi imediatamente im-plementado com apoio da empresa. Foi realizado uma gradagem prvia da lama que se encontrava assentada e selada, com uma camada de 10 cm de solo solto para permitir romper o selamento natural do material de alta densidade e resistente penetrao. Aps essa etapa de gradagem, foi de-positado cerca de 50 cm de solo frtil devidamente sistematizado e nivelado, permitindo recompor o terrao origi-nal (Figura 2). Os resultados finais pa-recem muito promissores e revelam a exequibilidade de estender a prtica boa parte da rea afetada.

    Nas encostas onde foi desaterrado o material de solo eutrfico, evitou-se a exposio do saprolito e foram to-madas medidas de recomposio dos taludes para minimizar os processos erosivos. J esto sendo implantadas pastagens e capineiras nos locais, e estamos iniciando a montagem de um experimento para comparar os Tec-nossolos e os diferentes tratamentos/estratgias para sua recuperao pro-

    OPINIOFoto: Hugo G

    alvo

  • 22 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | JAN - ABR 2016

    Figura 2. Cenrio atual quatro meses aps o desastre. Corte e aterro das encostas vizinhas para promover a formao de um novo terrao e Tecnossolo com melhores caractersticas fsicas e qumicas (Depsito de Cambissolo sobre lama gradeada). Fazenda Porto Alegre.

    dutiva. O proprietrio destinou uma rea experimental para que a UFV realize ensaio de acompanhamento das mudanas fsicas, qumicas e bio-lgicas com diferentes tratamentos do material, com e sem sobreposio do solo. O projeto trabalha com a di-menso conceitual de Tecnossolos, ou seja: solos que se desenvolvem de substratos decorrentes da atividade antrpica, inclusive da minerao, e que podem sofrer intervenes visan-do a recuperao da qualidade.

    Para ser considerado um Tecnosso-lo, o solo artificial deve conter mais de 20 % de material tecnognico nos pri-meiros 100 cm (IUSS Working Group WRB 2006), e embora sejam mais comuns em reas urbanas, tm sido cada vez mais detectados em larga escala em reas rurais, onde represen-tam as maiores reas contaminadas do planeta (ROSSITER, 2007). Uma das principais aplicaes dos estudos de Tecnossolos tem sido sua recupe-rao para permitir o uso sustentvel e livre de riscos maiores. Assim, estudos diagnsticos dos Tecnossolos da rea afetada fornecem o modelo ideal para sua recuperao, como denotam es-tudos recentes com nfase na Matria Orgnica (ZIKELI et al., 2002; HOWARD

    e OLSZEWSKA, 2010); transformaes minerais e geoqumicas (UZAROWICZ e SKIBA, 2011) e recuperao de estru-tura e funes ecolgicas (MONSERIE et al., 2009; SERE et al., 2010).

    Restaurar a Vegetao nas reas de Preservao Permanente

    Alm dos Tecnossolos gerados pelo desastre e perdas de reas cultivadas, houve uma perda igualmente significativa da vegetao nas APPs no trecho estudado. Segundo o IBAMA (nota tcnica) houve a destruio parcial ou total de 1469 ha ao longo de 77 km de cursos dgua, em boa parte APPs. O avano da gigantesca onda de lama, logo aps o desastre, praticamente devastou ou arrancou a totalidade de indivduos arbreos mais prximos calha dos rios, com exceo dos bambuzais que se curvaram ou quebraram sem sofrer arranque total.

    O soterramento concomitante do solo, banco de semente e plantas mais jovens ou de menor porte, comprometeu severamente a sucesso vegetal. As reas mais crticas iro necessitar de um amplo e integrado plano de recuperao de reas

    Degradadas (PRAD). Neste sentido, o cercamento das reas ribeirinhas, j afetadas, pode auxiliar muito na recuperao da vegetao ciliar (oportunidade aberta pelo desastre) j que praticamente pouca vegetao ciliar remanescente existia no trecho mais afetado. Quatro meses depois, contudo, o simples cercamento e isolamento de acesso aos animais j revela sinais de recuperao incipientes, que podem e devem ser assistidos por medidas diretas que acelerem e facilitem a sucesso inicial. Isso poder permitir imaginar uma situao de recuperao de um corredor contnuo de Mata Atlntica, hoje praticamente inexistente.

    A prioridade deve ser dada s espcies nativas de rpido crescimento, tpicas de sucesso inicial, que permitam criar (ou recriar) os gradientes ambientais dos solos preexistentes, facilitando a entrada de espcies mais tardias da Mata Atlntica, com capacidade para sustentar a fauna ribeirinha, igualmente arrasada pelo desastre. Todo um trabalho com espcies facilitadoras deve ser buscado, e identificadas as espcies que mostraram maior resilincia e adaptao aos Tecnossolos gerados.

    OPINIO

    Arte:C

    arlos Schaefer

  • 23BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | JAN - ABR 2016

    Em termos de suprimento de recursos devem ser realizados estudos de performance que comparem a sucesso vegetal nos dois cenrios de Tecnossolos (com e sem lama exposta). Deve-se, ainda, buscar a conexo dos fragmentos para facilitar a reintroduo de espcies localmente extintas.

    Talvez no seja realmente factvel imaginar uma restaurao ecolgica em nvel pr-desastre, com heterogeneidade ambiental restaurada, dada a complexidade das perdas correlatas (macrofauna, mesofauna, solos, nascentes, afluentes menores) de todo o sistema afetado. Contudo, o paradigma da restaurao ecolgica contemporneo visa mais a integridade, resilincia e sustentabilidade dos ecossistemas como objetivos a serem buscados (Martins et al., 2005). Isso nos parece possvel e realizvel no trecho Candonga - Fundo. Ressalta-se que uma caracterstica marcante dos trpicos sua capacidade de recuperar-se de distrbios. Assim, a cincia do solo pode ser uma grande mediadora que concilie os imperativos da recuperao, em suas dimenses fsico-qumica e bitica, de forma mais integrada e harmoniosa. Este ambiente, parcial ou plenamente recuperado, beneficia toda a sociedade local e, desde j, podemos imaginar alguns frutos positivos e lies educativas dessa tragdia, usando este exemplo como modelo de superao para situaes de igual complexidade no Brasil.

    ReferencialIUSS WORKING GROUP WRB. World reference base for

    soil resources 2006. World Soil Resources Reports n. 103. FAO, Rome. 2006.

    MARTINS SV, RODRIGUES RR, GANDOLFI S, CALEGARI L. Sucesso Ecolgica: fundamentos e aplicaes na restaurao de ecossistemas florestais. In: S.V. Martins (editor), Ecologia de Florestas Tropicais do Brasil, pp 19-39. 2009.

    MONSERIE MF, WATTEAU F, VILLEMIN G, OUVRARD S, MOREL JL.Technosol genesis: identification of organo-mineral associations in a young Technosol derived from coking plant waste materials. J Soils Sediment. 2009. 9:537546. doi:10.1007/s11368-009-0084-y

    PIRES JMM, LENA JC, MACHADO CC, PEREIRA RS. Potencial poluidor de resduo slido da Samarco Minerao: estudo de caso da barragem de Germano. Revista rvore, 27(3):393-97. 2003.

    ROSSITER D G. Classification of Urban and Industrial Soils in The World Reference Base for Soil Resources. In: Journal of Soil and Sediments 7(2)96-100, 2007.

    SCHAEFER CEGR, CANDIDO HG, CORREA GR, PEREIRA A, NUNES JA, SOUZA OFF, MARINS A, FERNANDES FILHO E, KER JC. Solos desenvolvidos sobre Canga Ferruginosa no Brasil: uma reviso crtica e papel ecolgico de termiteiros. In: Geossistemas Ferruginosos do Brasil (org. F.F Carmo & L. Y. Kamino, Edi. Int Pristino.) 2015. pp. 77-102.

    UZAROWICZ L, SKIBA S Technogenic soils developed on mine spoils containing iron sulphides: mineral transformations as an indicator of pedogenesis. Geoderma, 163:95108, 2011.

    ZIKELI S, JAHN R, KASTLER M. Initial soil development in lignite ash landfills and settling ponds in Saxony-Anhalt, Germany. J Plant Nutr Soil Sci 165:530536, 2002.

    Autores: Carlos Ernesto G. Reynaud Schaefer professor do Departamento de Solos da Universidade Federal de Viosa ([email protected])Eliana Elizabet dos Santos pesquisadora e aluna de doutorado no Departamento de Solos da Universidade Federal de Viosa ([email protected])Elpdio Incio Fernandes Filho professor do Departamento de Solos da Universidade Federal de Viosa ([email protected])Igor Rodrigues de Assis professor do Departamento de Solos da Universidade Federal de Viosa ([email protected])

    Camada de lama compactada entre camadas de Cambissolo de encosta a 5 m do nvel do Rio Doce.

    OPINIOFoto: Hugo G

    alvo

  • 24 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | JAN - ABR 2016

    a CinCia do solo Como instRumento paRa a ReCupeRao das Reas afetadas pelo

    dEsAsTRE dE MARIANA E dOs sOLOs NA BACIA dO RIO dOCEJoo Herbert Moreira Viana Adriana Monteiro da Costa

    OPINIO

    Propriedade rural gravemente afetada pelo desastre em Mariana - MG.

  • 25BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | JAN - ABR 2016

    A Cincia do Solo apresenta pa-pel fundamental na anlise, proposi-o e soluo de diversos problemas presentes na sociedade. O seu amplo campo de atuao permite uma viso integrada dos problemas e fornece fer-ramentas necessrias ao uso continua-do e sustentvel dos recursos naturais nas diversas atividades econmicas. Os conhecimentos gerados por ela permitem, sempre que possvel, pre-ver e evitar, mas tambm tratar e re-mediar, desastres e catstrofes, tanto naturais quanto causados pela ativida-de humana.

    Nesse contexto, desastres, como a ruptura da barragem de rejeitos de Fundo, da empresa Samarco, no mu-nicpio de Mariana (MG), ocorrida em novembro de 2015, se apresentam como um desafio aos profissionais e tcnicos envolvidos nas tarefas de ava-liao, de monitoramento e de repara-o dos danos provocados. A tragdia foi ocasionada por uma avalanche de material lamoso, basicamente consti-tudo por material particulado fino pro-veniente do processo de flotao do minrio de ferro, que desceu o curso do crrego Santarm e atingiu os rios Gualaxo do Norte, Carmo e, finalmen-te, o Rio Doce, seguindo seu curso at o mar.

    Alm do impacto direto sobre a qualidade dos recursos hdricos, esse evento provocou a sedimentao do material sobre as margens dos rios, soterrando o leito menor e, em alguns locais, at alm dele. Nas regies mais prximas do local de ruptura, onde a onda de sedimentos atingiu as margens com maior energia, hou-ve intenso processo erosivo, com re-moo da vegetao ciliar. O impacto nas margens se estendeu at as pro-ximidades da regio do Reservatrio de Candonga, a aproximadamente 80 quilmetros do local do desastre. Houve danos generalizados nas pro-priedades rurais e em reas urbanas localizadas s margens, com danos diversos a instalaes e a destruio e o soterramento por sedimento e entulho de reas de produo, como pastagens, capineiras, canaviais e de produo de silagem.

    Primeira contribuioA primeira contribuio importante

    da Cincia do Solo consiste na caracte-rizao do ambiente e no mapeamento das reas atingidas. A identificao e a distino das diversas fisionomias da paisagem so essenciais para o planejamento e definio dos procedi-mentos corretivos necessrios. As ati-vidades devem ser realizadas de forma multidisciplinar, envolvendo a Pedolo-gia, a Geomorfologia e a Hidrologia, buscando segmentar e mapear tanto o ambiente quanto a extenso espacial do impacto.

    Dessa forma, torna-se necessrio o conhecimento da distribuio das clas-ses de solo nos locais e de sua intera-o com os sedimentos depositados, assim como a sua caracterizao. O material depositado apresenta carac-tersticas pouco conhecidas, que pre-cisam ser estudadas, a fim de definir o seu comportamento e propor medidas para sua correo em futuros usos e manejo. Nesse sentido, cita-se a ne-cessidade de conhecimento do com-portamento fsico-hdrico do material e de sua interao com a drenagem interna do solo subjacente.

    Tais questes so imprescindveis para a destinao de uso da rea, para

    a escolha de espcies a serem planta-das nos procedimentos de revegeta-o e para a definio de prticas de controle de processos erosivos. Da mesma forma, necessrio conhecer, em detalhes, no apenas a extenso da rea soterrada, mas tambm a es-pessura da camada de sedimentos, j que no se depositou de forma homo-gnea e formou cunhas que se es-pessam em direo drenagem.

    Segunda contribuioA segunda contribuio importante

    da Cincia do Solo consiste na carac-terizao do material depositado como substrato para o crescimento de plan-tas. Alguns trabalhos j foram realiza-dos visando caracterizao qumica e mineralgica do material das barragens de sedimentos para aproveitamento industrial de diversas formas, como matria-prima de construo civil; ou-tros visando identificao de eventual presena de elementos txicos, e ainda outros com o objetivo de recuperao ou de reabilitao de depsitos de sedi-mentos e de cavas de minerao.

    Todos esses trabalhos so impor-tantes como balizadores e referncias, contudo, neste momento, surge a ne-cessidade de caracterizao do novo material depositado, visto que por ter

    OPINIO

    Sedimento acumulado na vrzea, municpio de Barra longa - MG. Note-se no fundo da ravina a

    pastagem original recoberta pel a lama

  • 26 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | JAN - ABR 2016

    sido retrabalhado e misturado aos sedi-mentos naturais do rio e das margens. Alm disso, tambm por ter sofrido se-leo e segregao durante o processo de transporte e deposio, pode diferir daqueles presentes na barragem.

    Da mesma forma, as caractersticas do processo e dos locais de deposio fazem com que esses ambientes sejam distintos das reas j estudadas nas mi-neraes. Assumindo-se que esse ma-terial no seja removido, em funo do custo, do tempo e do impacto gerado pela remoo da gigantesca quantida-de (da ordem de dezenas de milhes de toneladas), torna-se necessrio conhe-cer o comportamento desse material in situ, e de sua interao com a biota.

    Desdobram-se, assim, as pesquisas em vrias vertentes. A Qumica e a Mi-neralogia podem fornecer as informa-es necessrias ao entendimento do comportamento desse material, seja como fonte de nutrientes, seja como eventual fonte de elementos txicos. Essas informaes iro subsidiar os estudos sobre a fertilidade do material, ajudando a estabelecer seus atributos

    relativos capacidade de reteno de ctions e nions, necessidade de adi-o ou suplementao de corretivos e de fertilizantes e indicar procedimentos de manejo, para evitar problemas cola-terais pela adubao, como a lixiviao de nutrientes para os rios. Tambm aju-daro a prever e entender como ser a evoluo desse material, na medida em que as aes promovam o estabeleci-mento dos processos pedogenticos, como a acumulao de matria orgni-ca, a formao de estrutura e a translo-cao de materiais nos perfis.

    A fsica do solo tem papel importan-te na compreenso do comportamento do material com relao aos processos de fluxo de gua e de gases, dinmica da gua e s restries mecnicas ao desenvolvimento de plantas. Tambm vai permitir avaliar o desenvolvimento da estrutura e os processos erosivos nas reas. A microbiologia tem papel importante na escolha de estratgias de revegetao e no monitoramento da evoluo da populao de microrganis-mos nos locais atingidos e vizinhanas. Tambm poder auxiliar no entendi-

    mento dos processos de decomposi-o dos reagentes (etil-aminas e amido de milho) do processo de flotao do minrio de ferro, presentes na lama de rejeito.

    Terceira contribuioA terceira contribuio consiste no

    estabelecimento das estratgias de re-cuperao das reas afetadas e de seu acompanhamento e monitoramento. Essa etapa incluiria a adaptao e/ou o desenvolvimento de tcnicas para pro-mover a cobertura do terreno por uma vegetao, que permita o desenvolvi-mento dos processos pedogenticos, a acumulao de matria orgnica, o estabelecimento de fauna e microbiota edficas funcionais, a estabilizao fsi-ca e a reduo da eroso e a recupera-o funcional das reas, em funo dos objetivos previamente estabelecidos. Dentre os objetivos destacam-se o res-tabelecimento dos processos produti-vos ou o restabelecimento de vegeta-o com funes ambientais.

    Estas tcnicas incluiriam a escolha de espcies de plantas e microrganis-

    OPINIO

    Eroso e carreamento do sedimento depositado para o rio. Municpio de Rio Doce - MG.

  • 27BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | JAN - ABR 2016

    rompimento da barragem - esses so bem mais amplos e o antecedem. A regio, h dcadas, apresenta proble-mas relacionados ao uso intensivo dos solos, degradao de pastagens, ao uso e ocupao de solos em reas n-gremes e de vrzeas, aos processos erosivos e ao assoreamento dos cursos dgua. Dessa forma, a proposio de solues futuras deve abranger todos os problemas inerentes regio, assim como considerar todo o contexto so-cioeconmico e ambiental nos quais se inserem.

    Cincia do Solo cabe a importante misso de viabilizar a transformao da situao de crise atual em oportunidade de reverso e recuperao no apenas dos danos produzidos pelo desastre, mas de dcadas de uso inadequado e degradao ambiental na Bacia do Rio Doce.

    mos apropriados funo de revege-tao, e de procedimentos e produtos necessrios ao ajuste da composio qumica e fertilidade e ao manejo das reas, podendo incluir procedimentos de rotao ou sucesso de espcies. As estratgias devem ser abrangen-tes, atuando no somente nas reas diretamente atingidas, mas visando totalidade dos processos que ocorrem nas propriedades, e que podem impac-tar as aes de recuperao. Deve-se, por exemplo, considerar que as reas adjacentes com uso inadequado po-dem contribuir para o aumento do es-corrimento superficial e dos processos erosivos, levando continuidade dos processos de degradao. Ressalta-se que, provavelmente, essas reas deve-ro ser utilizadas pelos produtores en-quanto as outras atingidas esto sendo recuperadas.

    Quarta contribuioPor fim, a ltima, mas no menos

    importante contribuio, decorre da necessidade de pensar a recuperao da bacia de maneira integrada, consi-derando todo o conjunto e a sua din-

    mica, no espao e no tempo. Assim, os procedimentos de recuperao devem ser executados no apenas visando remediao local, mas como oportuni-dade de se pensar conjuntamente os problemas socioambientais e agrope-curios da regio, focando na gesto integrada e compartilhada da bacia hi-drogrfica.

    A anlise integrada dever contem-plar abordagem multidisciplinar e en-volver o conhecimento da distribuio dos solos e de todos os demais ele-mentos naturais, fornecendo subsdios tomada de deciso, ao planejamento e direcionamento dos recursos finan-ceiros de forma eficiente e abrangente.

    Os conhecimentos de Pedologia, por meio do mapeamento dos solos, associados aos de Hidrologia e Cli-matologia, so essenciais para que se estabelea o zoneamento da rea e, posteriormente, o planejamento do ordenamento territorial visando ade-quao do uso do solo, para que atenda s suas mltiplas funes.

    Por fim, ressalta-se que os proble-mas das regies atingidas no se re-sumem ao desastre provocado pelo

    Autores: Joo Herbert Moreira Viana pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo. [email protected] Monteiro da Costa professora do Departamento de Geografia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). [email protected]

    OPINIO

    Destruio da vegetao ripria na margem do rio. Municpio de Mariana - MG.

  • 28 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | JAN - ABR 2016

    ARTIgO

    Histrico e situao atualAt a dcada de 1960, aproximadamente, predominou no

    Brasil o regime colonial de explorao das terras, em peque-nas reas, em que o preparo mecnico do solo era pouco agressivo. O manejo do solo iniciava com a eliminao da ve-getao nativa (mata ou campo), seguida de preparo mecni-co com trao animal, semeadura manual ou com trao ani-mal e terminava com a queima dos resduos aps a colheita. Nas poucas reas em que o regime era empresarial, o manejo do solo j envolvia algum preparo com trao motorizada em que a queima dos resduos culturais tambm era praticada aps a colheita. Nessa poca, o principal fator de degradao do solo era o fogo que deixava o solo descoberto e diminua o teor de matria orgnica. A compactao do solo era pouco evidente, a infiltrao de gua era relativamente alta e a ero-so hdrica era menos intensa do que atualmente. A explora-o florestal era pouco intensa nessa poca, limitando-se a extrao de madeiras para atender a demanda de energia e edificaes. Os restos vegetais eram deixados na superfcie do solo para que fossem decompostos ou queimados. Essa forma de explorao das terras teve baixa influncia no au-mento da degradao do solo e da prpria eroso.

    Nessa poca, os terraos agrcolas eram estudados com interesse nas Faculdades de Agronomia e o terraceamento era adotado nas lavouras. O cultivo em contorno fazia parte do sistema de manejo do solo, j que as operaes de mane-jo acompanhavam as curvas dos terraos. Reconhecia-se a eficcia da cobertura do solo por resduos culturais na infiltra-o de gua no solo e na reduo da eroso hdrica, segundo os trabalhos de Duley (1939) e de Ellison (1947). Apesar dis-so, a prtica da cobertura do solo no era comum devido ao preparo mecnico que incorporava os resduos ao solo e queima que os eliminava. Nas pastagens naturais, a presso de pastejo era baixa, a superfcie do solo era mantida coberta

    CONsERVAO dO sOLO NO BRAsIL:histRiCo, situao atual e o que espeRaR paRa o futuRo

    Ildegardis Bertol

    com a sobra de forragem e o solo ficava protegido da chuva e da presso mecnica dos animais. Assim, a degradao do solo era menos intensa do que atualmente.

    O reflorestamento era pouco expressivo nessa poca, pois havia grande oferta de mata natural que atendia a de-manda, alm do pouco controle do poder pblico com rela-o ao desmatamento. Este era at mesmo estimulado para atender a chamada abertura de fronteira agrcola. Portanto, essa poca se caracterizou, em termos gerais, pela forte dila-pidao dos recursos naturais relativos cobertura florestal no Brasil, mas ainda com baixo impacto negativo sobre a con-servao do solo.

    Entre as dcadas de 1960 e 1970, o solo passou a ser manejado com maior intensidade nas lavouras do Brasil, as matas eram derrubadas e destocadas mecanicamente. Poste-riormente, a biomassa era amontoada em leiras e geralmente queimada. O preparo do solo em geral era feito com arados e

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    grades (aradora, destorroadora e niveladora) e a semeadura com trao mecnica. Na fase de preparo, incorporava-se ao solo o calcrio e os adubos fosfatados. Aps a colheita, os resduos culturais eram queimados. Os fatores de degra-dao do solo eram a desagregao mecnica pelo preparo e energia da chuva, a compactao do solo, a eliminao da biomassa pela queima e a degradao qumica ocasionada pelo calcrio (precipitao do alumnio trocvel). Como re-sultado, tinha-se elevadssima eroso hdrica com profundo sulcamento do solo, resultando em assoreamento de rios e lagos, pelos sedimentos.

    Nessa poca, em geral, adotava-se o terraceamento agr-cola, muito bem estudado nas Faculdades de Agronomia , in-clusive, nos mestrados existentes em Conservao do Solo. Adotava-se tambm o cultivo em contorno, por necessida-de, pois as operaes de manejo do solo acompanhavam as curvas dos terraos. Estimulava-se a cobertura do solo por

    resduos culturais para a reduo da eroso hdrica, mas, ape-sar do conhecimento da eficcia da cobertura, ela era ainda pouco comum devido ao preparo mecnico que incorporava os resduos ao solo e queima. Nessa poca, a presso de pastejo nas reas de explorao pecuria j era mais intensa, resultando em baixa oferta de forragem. Com isso, a presso sobre o solo era alta, compactando-o. A cobertura do solo era baixa reduzindo a infiltrao de gua e aumentando a eroso. Assim, a degradao do solo pelo pastejo era mais intensa do que antes, especialmente em solos frgeis.

    A partir da dcada de 1970, aproximadamente, o sistema tradicional de manejo de solo que utilizava arados e grades (preparo convencional PC) foi substitudo por um sistema que envolvia cobertura do solo por resduos culturais e re-duo/eliminao do preparo mecnico (semeadura direta SD). A adoo da SD reduziu a eroso hdrica e os custos das lavouras em relao ao PC. O grande problema que a SD foi

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    instalada em solo j degradado devido ao PC anterior, o que resultou numa s-rie de vantagens e tambm de proble-mas. As vantagens foram reduo da eroso (Figura 1) e custos de produo, enquanto, os problemas ocorriam devi-dos ao efeito residual no solo deixado pelo PC adotado anteriormente. Nessas lavouras, parte ou toda a camada su-perficial do solo havia j sido perdida pela eroso durante o perodo de ex-plorao com o PC. A rea de cultivo em SD comeou com cerca de 100 ha, em 1969, em algumas lavouras em ca-rter experimental, inicialmente no Rio Grande do Sul e em seguida no Paran, atingindo atualmente aproximadamen-te 30 milhes de ha.

    A reduo da eroso hdrica foi uma das grandes vantagens da adoo da SD, comparada ao tradicional PC, do ponto de vista da conservao do solo. As perdas de solo eram diminudas, ini-cialmente, em at mais de 90% enquan-to as perdas de gua eram de menor magnitude. A cobertura do solo pelos resduos culturais dissipava a energia cintica da chuva, mas, no a da enxur-rada, o que concorria para a continuida-de da eroso hdrica. No entanto, a con-tinuidade da explorao do solo, cada vez mais intensa, com maquinaria cada vez mais pesada e com nmero cada vez maior de operaes de manejo durante os cultivos, concorreu para o aumento da degradao do solo, principalmente por compactao. Isso resultou em infil-trao e gua cada vez menor e eroso hdrica cada vez maior, mesmo na SD.

    Figura 1. Lavouras de aveia dessecada e milho em Santa Catarina. (Autor)

    A presena de resduos culturais na superfcie do solo mascarava a eroso que continuava a ocorrer, e aumentava na SD embora ainda em menor quan-tidade do que no PC, tornando-se um srio problema para a sobrevivncia da SD (Figura 2). As perdas de gua que eram altas na SD nunca foram conside-radas como um problema, j que, apa-rentemente, a gua saa limpa das la-vouras. Isto era motivo para afirmaes como a eroso hdrica estava final-mente controlada nas lavouras do Brasil com o advento da SD. Tais afirmaes eram feitas por agricultores que no mais enxergavam eroso, por tcnicos, inclusive agrnomos representantes de empresas de insumos variados e de cooperativas que, por desconheci-mento do assunto, e/ou, para agradar os agricultores, afirmavam no mais existir eroso. Com isso, era mais fcil comercializar os insumos. Vendedores de mquinas agrcolas tambm afirma-vam que os terraos eram um proble-ma para o bom desempenho das mes-mas na lavoura e, por isso, podiam s