a ciência da natureza

5
- L, N l Dr:\ i:i f: AS CiË hlcu\5 exerr:pi,;" r; i*Co é rnaior do que as pfiÌ ií.Ì*, 'ïuas grandezas igirais a uma te'ceira são iguais en- tre si; a menor distância entre dCIis pantos é umâ reta. O axioma é urn prir:cípir: regulador do raciocínio matemático fl, por ser universal e evideirte, é a priori. {Jrn postutrado é um princípio cuja evidên_ cia ilepcncle de ser aceito por torlos os que realizam unla demonstração nratemática. É uma proposição necessária para o encaclea- rnento de demonstrações, enrbora ela uresma não possa ser clemonstrada, nìrìs aceita romo verdadeira. Por exe mplo: "por Llrìr pouto tr:- mado em um plano, não se pode traçar senão uma paralela a ulnff reta clada ïïessfi plano',. os post*lados são convenções básicas, acei* tas por todas os maternáricos. {Jrna definição poele ser nofi}inal ou real.,A ,"Í1,Ë4nição nominal nos dá o *orne do otrjeto t@mático, dizendo o quo ele ó. E nrumxíti- qiãr" pois c predicado é a explicitaçac do su- jeito" Por exemplo: o triângulo é umâ figura çÌe três lados; o círc*ïo é uma fìgura cujos pontos são eqüidistantes do cnntro. I-rma cle- Íìnição real nos cliz o que é o objeto designa- do pelo nofile, isto é, oferece a gômese ou o modo de construção clo objeto. por e,xemplo: o triângulo é uma figura cujos ângulos so- rnados são iguais à soma de dois ângulos r-e- tr:s; o círculo é uma figura formacla pelo ïïlovirnento de rotação de um senri-eixo à r,'nlta cle um centro fixo. Demonstrações e operações são procecli_ rnentos submeticlos a urn conjunto cie regras que garantem a verdade e a necessidade do Quç está sendo demonstrado, ou do resultatlo do cálculo realizado. A maternática é, por excelência, a ciência hipotótico-dedutiva. porque suas demonstra- ções e cálculos se apóiam sobre um sisterna de axioï'as e postulados, a partir dos quais se constrói a dedr"rção coerente ou o resultaclo necessário do cálculo. [Jm tema muito disc*tido na Filosofia das ciências refere-se à natu reza cos objetos e princípios matemáticos. São eles riínii ab:,i;'ação e uma purilìcaçãç dos clados de nossa experiência sensível? ürj- ginanr-se da percepção? Ou são realiclarles ideais, alcançadas excÍr-rsivarnente pelas ope_ rações do pensainento puro? são inteirarnente a priori? trxistem erìt si e.por si mesmos, cÍe tal *rodo que nossCI pensâmento silnplesmen- te os descobre? flu são construções perteitas cCInseguicias pelo pensamento humano? Es_ sas perguntas tornaraüï-se necessárias p(}r vários motivos. Em prinreil o ìugar" llorq ue uma corrente filosótìca, iniciada corn pitágoras e platão, manticla por Calileu, Descartes. ir{er,vton e Leibniz, afìrma que o mnnrio é em si mes_ mo nlatemático, isto é, a estrutura da reali- dacle é de tipo rnatemático. Essa co*cepção gararrtiu o surgimento cla.física maternática moderna. Ern s*gunclo lugar, porque o clesenvolvi_ mento da rílg*bra cantemporânea e clas cha- rnadas geornetrias não euclicíeanas (ou geo_ nretrias imaginárias) deram à matemática uma liberdacÍe de c'iação teórica sem prece- dentes, justamente por haver abandonado a idéia de que a e strutura cla realidade é rnate- miítica. Nesse segunrJo caso, como dizia Kant, a rnatem á,tica é uma pura invenção clo espír'ito humano, Lrrna construção irnaginária rigorosa e perfeita, mas sem objetos corïes- pondentes no muudo. Em terceil'o lugar, porque, em nosso sécu* lo, o áìva'ço da criação e cla construção rnate- máticas foi decisivo para o surgimento cla teo- ria da relatividacle, na física, cla teoria das va' Iências, na quírnica, e da teoria sobre o ácicÍo desoxirribonucléico, na biologia. Em outras palavras, quanto mais avançou a invenção e a criação matemática, tanto mais ela tornou-se útil para as ciências da hlat'rez a, fãzendo com QUe, agora, tenhamos que indagar: Os objetcls matemáticos existem realrnente (corno queri- am Flatão, Galileu e Descartes), formando a estrutura do mundo, ou esta é tima pura cons- trução teririca e por isso pode valer-se da cons- trução rnaternática? ffi mmnmpm dms fr[&firffifrffis dffi ffim{ssrffiãffi As ciônçias da Natu riz'à estudatn cluas or- dens de fenômenos: os Íísicos e os vitais, ou as coisas e os organismos vivos. Constitllenl, assirn, duas grandes ciências: a física, cle que fazem pal"te a química, a mecânica, a óptica, a acústica, a âstronotnia, o estudo clos sólidos, líquidos e gasosos, etc., € â biologia, ramifi- cada ern ïisiologia, botânica, zoclogia, paleon- tologia, anatomia, genética, etc. Hm qualquer das trôs concepções de ciêrl- cia que virnos no capífulo anterior, considera* s* que as ciôncias da Naïureza: o estuclam fartos observáveis que poclerxÌ ser sub- metidos aos procedimentos de experimentação; CI estabelecem leis que exprirnetn relações ne- cessárias e universais entre os faios investi- gados e que são de tipo causal; 6 concebern a Natureza como um conjunto ar- ticulado de seres e acontecimentos interdepen- clentes, ligados ou por relaçõe s necessárias de c;ìusa e efeito, subordinação e dependôncia, ou por relações entre funções invariáveis e ações variáveis; o buscarn constâncias, reguiaridacles, freqüên- cias e invariantes dos fenômenos, isto ó, seus modos de funcionamento e cle relacionanlen* to, bem como estabelecem os mcios teóricos para a previsão cle novos fatos. neícle Aristóteles, as ciências cla lrJatureza cïesenvolveram-se graças ao papel conferido ìrs observações e, mais tarde, à observação controlada, isto é, à experimentação (* labo- ratório coïn seus instrutnentos tecnológicos de precisãa e meriir{a}. A experimentação é a dr- cisão do çientista de intervir no curso de r-lm fenôrneno, rnodificanclo as condições de scu aparecimento e desenvolvimento, a fim de en- contrar invariantes e constantcs que clefineill o cbjeto camo tal. A experimentação permite as cientista for- mular hipóteses sobre o fenômeno. urna hipó- tese é uma conjectura racional f'eita após um grande nútnero cle observaçõcs e cxperirnen- tos; é Lrfiìa tese que precisa ser confirmetda ou verificada por meio de novas observações e e xperimentos. A intervenção científ ica sobre os funôlnerlos se torna çada vez mais açura,Jâ, gfíl- ças à invenção dos objetos tecnológiccs de pes- quisa (balanças, termômetros, fertnostatos, ba- rômetros, aparelhos para proeluzir vár:uo, mi- croscópios e telescópios, cronômetros, tubos e curvetas, cârnaras escuras ou ilurniriadas com raios especiais, cümputaclores, ete.)" O rnétodo experitnental é hipotético-induti- vo e h ipatétiç o - $e du f i vo. Ë{ipofdfËc'o-ixnd g*iv* : o cientista observa inúrneros fatos variando as condições da observaÇão; elabora urna hipóte- se e realiza novos experirnentos ol"t irtduções parâ confirmâr ou negal a hipótese; se esfa for ccnfinnada, chega-se à lei do fenômeno estu- clad.o. Ffipot-ófico-dedntivo: tendo chegado à lei, o cientista pode formular novas hipóteses, clecluzidas do conhecirnento adquirido, e com elas prever novos fatos, ou fonnular novas ex- periências, qrie o levam a cotthecitnentos no- vos. A lei científica obtida por via iridutiva au dedutiva permite descrever, interpretar e com- preencler um campo cle fenônìenos selnelhart- tes e prever nüvos, a partir clos priine iros. A previsão é tìrnáì das maneiras pelas quais o icleal moderno da ciência - dominar e con* trolar a Natur ez,a - se manifesta e Se realiza. Uma teoria çientífica permite construir obje- tos tecnológicos para novas pesquisas e a pre- visão ou previsibilidade dos fenômenüs per- mite empregar as tecnologias com fins práti- cos, criando a ciência natural aplicada. Os objetos técnicos que usamos em nossa vida cotidiana --_ ônibus, automóvel, avião' cnpírulo 3 - .r 2ü2 2S3

Upload: katharine-fontes

Post on 16-Jan-2017

131 views

Category:

Education


3 download

TRANSCRIPT

Page 1: A ciência da natureza

- L, N l Dr:\ i:i f: AS CiË hlcu\5

exerr:pi,;" r; i*Co é rnaior do que as pfiÌ ií.Ì*, 'ïuasgrandezas igirais a uma te'ceira são iguais en-

tre si; a menor distância entre dCIis pantos éumâ reta. O axioma é urn prir:cípir: reguladordo raciocínio matemático fl, por ser universale evideirte, é a priori.

{Jrn postutrado é um princípio cuja evidên_cia ilepcncle de ser aceito por torlos os querealizam unla demonstração nratemática. Éuma proposição necessária para o encaclea-rnento de demonstrações, enrbora ela uresmanão possa ser clemonstrada, nìrìs aceita romoverdadeira. Por exe mplo: "por Llrìr pouto tr:-mado em um plano, não se pode traçar senãouma paralela a ulnff reta clada ïïessfi plano',.os post*lados são convenções básicas, acei*tas por todas os maternáricos.

{Jrna definição poele ser nofi}inal ou real.,A

,"Í1,Ë4nição nominal nos dá o *orne do otrjetot@mático, dizendo o quo ele ó. E nrumxíti-qiãr" pois c predicado é a explicitaçac do su-jeito" Por exemplo: o triângulo é umâ figuraçÌe três lados; o círc*ïo é uma fìgura cujospontos são eqüidistantes do cnntro. I-rma cle-Íìnição real nos cliz o que é o objeto designa-do pelo nofile, isto é, oferece a gômese ou omodo de construção clo objeto. por e,xemplo:o triângulo é uma figura cujos ângulos so-rnados são iguais à soma de dois ângulos r-e-tr:s; o círculo é uma figura formacla peloïïlovirnento de rotação de um senri-eixo àr,'nlta cle um centro fixo.

Demonstrações e operações são procecli_rnentos submeticlos a urn conjunto cie regrasque garantem a verdade e a necessidade doQuç está sendo demonstrado, ou do resultatlodo cálculo realizado.

A maternática é, por excelência, a ciênciahipotótico-dedutiva. porque suas demonstra-ções e cálculos se apóiam sobre um sisternade axioï'as e postulados, a partir dos quais seconstrói a dedr"rção coerente ou o resultaclonecessário do cálculo.

[Jm tema muito disc*tido na Filosofia dasciências refere-se à natu reza cos objetos eprincípios matemáticos.

São eles riínii ab:,i;'ação e uma purilìcaçãçdos clados de nossa experiência sensível? ürj-ginanr-se da percepção? Ou são realiclarlesideais, alcançadas excÍr-rsivarnente pelas ope_rações do pensainento puro? são inteirarnentea priori? trxistem erìt si e.por si mesmos, cÍetal *rodo que nossCI pensâmento silnplesmen-te os descobre? flu são construções perteitascCInseguicias pelo pensamento humano? Es_sas perguntas tornaraüï-se necessárias p(}rvários motivos.

Em prinreil o ìugar" llorq ue uma correntefilosótìca, iniciada corn pitágoras e platão,manticla por Calileu, Descartes. ir{er,vton eLeibniz, afìrma que o mnnrio é em si mes_mo nlatemático, isto é, a estrutura da reali-dacle é de tipo rnatemático. Essa co*cepçãogararrtiu o surgimento cla.física maternáticamoderna.

Ern s*gunclo lugar, porque o clesenvolvi_mento da rílg*bra cantemporânea e clas cha-rnadas geornetrias não euclicíeanas (ou geo_nretrias imaginárias) deram à matemáticauma liberdacÍe de c'iação teórica sem prece-dentes, justamente por haver abandonado aidéia de que a e strutura cla realidade é rnate-miítica. Nesse segunrJo caso, como já diziaKant, a rnatem á,tica é uma pura invenção cloespír'ito humano, Lrrna construção irnagináriarigorosa e perfeita, mas sem objetos corïes-pondentes no muudo.

Em terceil'o lugar, porque, em nosso sécu*lo, o áìva'ço da criação e cla construção rnate-máticas foi decisivo para o surgimento cla teo-ria da relatividacle, na física, cla teoria das va'Iências, na quírnica, e da teoria sobre o ácicÍodesoxirribonucléico, na biologia. Em outraspalavras, quanto mais avançou a invenção e acriação matemática, tanto mais ela tornou-seútil para as ciências da hlat'rez a, fãzendo comQUe, agora, tenhamos que indagar: Os objetclsmatemáticos existem realrnente (corno queri-am Flatão, Galileu e Descartes), formando aestrutura do mundo, ou esta é tima pura cons-trução teririca e por isso pode valer-se da cons-trução rnaternática?

ffi mmnmpm dms fr[&firffifrffis dffi ffim{ssrffiãffi

As ciônçias da Natu riz'à estudatn cluas or-

dens de fenômenos: os Íísicos e os vitais, ou

as coisas e os organismos vivos. Constitllenl,

assirn, duas grandes ciências: a física, cle que

fazem pal"te a química, a mecânica, a óptica, a

acústica, a âstronotnia, o estudo clos sólidos,

líquidos e gasosos, etc., € â biologia, ramifi-cada ern ïisiologia, botânica, zoclogia, paleon-

tologia, anatomia, genética, etc.

Hm qualquer das trôs concepções de ciêrl-

cia que virnos no capífulo anterior, considera*

s* que as ciôncias da Naïureza:

o estuclam fartos observáveis que poclerxÌ ser sub-

metidos aos procedimentos de experimentação;

CI estabelecem leis que exprirnetn relações ne-

cessárias e universais entre os faios investi-gados e que são de tipo causal;

6 concebern a Natureza como um conjunto ar-

ticulado de seres e acontecimentos interdepen-

clentes, ligados ou por relaçõe s necessárias de

c;ìusa e efeito, subordinação e dependôncia,

ou por relações entre funções invariáveis e

ações variáveis;

o buscarn constâncias, reguiaridacles, freqüên-

cias e invariantes dos fenômenos, isto ó, seus

modos de funcionamento e cle relacionanlen*

to, bem como estabelecem os mcios teóricos

para a previsão cle novos fatos.

neícle Aristóteles, as ciências cla lrJatureza

cïesenvolveram-se graças ao papel conferido

ìrs observações e, mais tarde, à observação

controlada, isto é, à experimentação (* labo-

ratório coïn seus instrutnentos tecnológicos de

precisãa e meriir{a}. A experimentação é a dr-cisão do çientista de intervir no curso de r-lm

fenôrneno, rnodificanclo as condições de scu

aparecimento e desenvolvimento, a fim de en-

contrar invariantes e constantcs que clefineill

o cbjeto camo tal.A experimentação permite as cientista for-

mular hipóteses sobre o fenômeno. urna hipó-

tese é uma conjectura racional f'eita após um

grande nútnero cle observaçõcs e cxperirnen-

tos; é Lrfiìa tese que precisa ser confirmetda ou

verificada por meio de novas observações e

e xperimentos. A intervenção científ ica sobre os

funôlnerlos se torna çada vez mais açura,Jâ, gfíl-

ças à invenção dos objetos tecnológiccs de pes-

quisa (balanças, termômetros, fertnostatos, ba-

rômetros, aparelhos para proeluzir vár:uo, mi-

croscópios e telescópios, cronômetros, tubos e

curvetas, cârnaras escuras ou ilurniriadas com

raios especiais, cümputaclores, ete.)"

O rnétodo experitnental é hipotético-induti-

vo e h ipatétiç o - $e du f i vo. Ë{ipofdfËc'o-ixnd g*iv* :

o cientista observa inúrneros fatos variando as

condições da observaÇão; elabora urna hipóte-

se e realiza novos experirnentos ol"t irtduções

parâ confirmâr ou negal a hipótese; se esfa for

ccnfinnada, chega-se à lei do fenômeno estu-

clad.o. Ffipot-ófico-dedntivo: tendo chegado à

lei, o cientista pode formular novas hipóteses,

clecluzidas do conhecirnento já adquirido, e com

elas prever novos fatos, ou fonnular novas ex-

periências, qrie o levam a cotthecitnentos no-

vos. A lei científica obtida por via iridutiva au

dedutiva permite descrever, interpretar e com-

preencler um campo cle fenônìenos selnelhart-

tes e prever nüvos, a partir clos priine iros.

A previsão é tìrnáì das maneiras pelas quais

o icleal moderno da ciência - dominar e con*

trolar a Natur ez,a - se manifesta e Se realiza.

Uma teoria çientífica permite construir obje-

tos tecnológicos para novas pesquisas e a pre-

visão ou previsibilidade dos fenômenüs per-

mite empregar as tecnologias com fins práti-

cos, criando a ciência natural aplicada.

Os objetos técnicos que usamos em nossa

vida cotidiana --_ ônibus, automóvel, avião'

cnpírulo 3 - .r

2ü2 2S3

Page 2: A ciência da natureza

u N TDtPLJ _']sì c I *Lq!19 ,i :ï.],-::' Âi'Íìi:!:.

':jr;i:Ì::i: ':illl.;

:.:iiìr.'.: l-:lt:tl

'::.ili:r

.r!:íiì';zl:::::'l

lânipad:i" ìiqiririi fica-dor, máquina de {j,Ìii ; i,'i"l i .

de lavar, de cosrurai-, reïógios digitais, rádic,televisão, vícleos, aparelhos de sülrì, cletergen-te, sabonete, desodorante, cola, aclesivos, ob-

.jetos plásticos, de lauça, vidro, tecidos sinté-ticos coïl:o nïlon e paliéster, vacinas, ântibió-tìcos, radir:grafias, vitamirlas e proteínas cnleág:sulas, etc. -* são ciência aplicada ou re-sultaclo prático de ciências naturais teóricas.

:

ffi*mmmmüe$mde m ffi{Jffisffi

À ciência rJa l,iatureza, clescle sflus iníciosgregos, scr]ìpre afirmoil que a Nature;:a segueÌeis naturais racionais e necessárias, isto é,

sempre negou que horives$fl aca$o ou contin-gôncia rxo llìundo natural.

ü ac*sct se]ïÏpre f*i cçliocado s*i,' dua$; es-

pdcies Ce fat*s" srr f*tos cqja fiiïusa ainde pcr-iìraìnece dcsconhecicla, mas virá a ser conhe-r:ida {pr:rtantü, ü acasü d apcnas unla formacle ignorância); ou acontencilnf,ntos ineiivieJr:-eis, conlo, p{}r exemplü" Llïïtr vaso que cai so-bre a caiteça de um passante (portanto, o &ca-

so é apenas urì1a ocorrência singular que nãoafeta as leis universais da ï{atureza).

Fio século XïX, a afirrnação da universali-dade e da neçessidade plena que governam aS

relações causais da |Jatureza levaranì ao cotl*r:e ito cle deterrninismro. O determinislno padel;er resumiclo da seguinte maneira:

s clad* um fenôrïìeno, seïÌlpre será i:*ssível de*terminar sua causa necessária:

w conireciclo o estacÌo atual de um conjunto de

fatos, seffipre será possír'el collliecer o estadosubseqüeïìte, que será seu efeito necesíário. Enloutras paial'ras, o deternlinismo afìrrna quepodemos conÌrecer eìs causas de um fenôrnenoatual lista d, o estado antedor de um conjuntorie fatos) e os eieitos de urn fenômeno atual (istoé, o estado posterior de urn conjunto de fatosl.

A formuïação do determinisnlo como prin-cípio universaÌ e corno uÍïa doutrina sobre a

.r// tt,

)

Ildatureza Í--bi teit*, iiuii:r ;ii'imeira vf,z, pelo as-

trônomo e físico Laplacc, qlrc oscreveu:

üeven'tos cortsid€rür o esÍarlo presettte do Uni-let'so cot?to efeito rle seu esldtlo nas.ratio € c'olno

{:'ttLtsü tíat1uí[rs rpte virá a seE,uir: Unvr iiiteli-gênciri que, rtuitt únit'o ins,t*nle, putlesse us-

nhecer lodcts cs fiirç*s existetzles nn Nature:oe (ts l)osiçots de todos os .çeïes tlue rzel* e"ïr'J-

ïem trtrtderi* üpresenrür nuÍltü ún{tu formulut.irïtü lei que engIolsariu lotloJ í]J'rir$]tíntento,s

do IJ niversú, desde os msiore s ulé os minimose itn,i.çíve is. Prtra ela, trcttla seria íncerlç €, {to,ç

seu,r olht;s, o trsassudo, o futurrs e o prssenÍeseriant uru rínico e só lernpo.

O cle terrninisrno universai é, assirn, a afinna-

ção clo princípio da razãa suficiente, ou da cau-salidade, e da icldia de previsibilidacÍe absolurados fenôrnenos naturais. As leis naturais expri-rnefii essa çausalieiacÍe e essa previsibilidacÌe e,

por isso, não existe ac.iiso n* {-lnivetso,[iviCentemen{e, o cientista aclixritia qi:e, pare

nól;, sÈres humanos que não SlorÍflmos conhe-cer de uma só ve.z a totalidacle clo real, existiao aÇaso. Caminhando pür ì"lmâ rlia, para ir aomencado, posso pat;sar sob uma janetra, da qrialdespenca um vaso, que cai sobre minha cabe-

ça e, eÍr vez cle ir ao merciìclo, vou parar nulnhclspital. Fìoi um ;ìcaso.

l*ío entanto, paraesse cientista. minha icla peia

ruit ê. nece ssírria do ponto cle vista cin anatorniae ctra fisloiogia de ftieu corpo; tr]assar por urnarua determinada ó irecessário se, por exempio,ficar estabelecido geométrica e geügr;rÍìe amen-te que é o trajeto mais simples e rnais rápidr:para chegar ao rnel'caclo; peia posição rlo vaso

lia janeìa, pelo vento ou pela toqu* cle alguinacr:isa nele, é necessário, segundo a le i univer-sal ila gravitação, que ele caia. ü que é o aca-so? ü encontro fortr-rito de séries cle acoriteci-mentos independentes, cada t{rna delas per:fei-

tarnente necessária e causal ern si mssma.um outra situação em que se falava cle acâ-

so refere*se aos chamados 'Jogos cle azaï",romü cara-e-coroâ, roleta, certos jogos de car-tâs, o jogo de dados. üra, dizia o cientis{a, aqui

tambéni ;,"'r i:íi rr*priamente acâ5t;' '-'''::liÌ* í-)

séçulo XVIï, coïïl pensadores toülü ï);lseal"

Leibniz, irjelviotl e, pcsteriarrrlente. Fet'tttat,

Conheceínos os estudos mat*rnáticos cltama-

ctros cálculo de pnobabilidades. Em cacla u$Ì

desses 'Jclgos de ar,ar", cotrsideratrdo o núme-

ro de objetos (uma moeda, dois dados, vinte

catrfÍts, ete .), o núrnero de jogadçres e o núnle-

ro de pafiìdas, ó possível calcular todos os re-

sultaelos possír'eis e quais são as probabilida-

des maiorcs e filen*res ele cac-la resultado. Para

um cofilputarl*r, por exemplo. não haverá âca-

so algunÌ, ffìas deterniinisnio complefo'

A idéia de necessidacle prolrabitrística otl es-

tatístìca tornou-se um instrurnento teórico de

grancle importância para aqueïes ramns clas

ciências naturais qo* iirl*In com fatos complc-

xos, como, por exempio, a estudo dos gases,

petra química, pois, nÊssc caso, o núntero cle

moléçulas é qilase iliÍnitado e 1s-rel1tões

de

*ar,rsm e efeito sórpodem ser *@*jïïi$*::*ury"tistieeurlsnfe, pnlo cálçul* de prbÌrabílidad*s. As

treis assim obtidas são çonheçidas conl o noflle

r{e l*is clos gnmxrdes múrmerss e se exprimern

em Br$ico$, curvas, relações entre ftrnções e

variávêis, módias. Com essas leis, ü acaso es-

tava excluíclo e os dois princípios do determi-

nismo estavam mantidos, ainda que, no caso

dos fenômenos nricroscópicos altanrente com-

plexos, a noção cle causa tivesse sido substittl-

ícla pela cle freqüência estatística"

&smsm mu fr rarfletermflrlaçffi m

A física contemporânea, flo entatrto, trouxe

cle volta o acaso. Entre os r'ários estudos e vá-

rias teorias contemporâneas, vamos mencio-

ner apenas três aspectos coln os quais pode-

rn$s perceber como e por que o acaso ressur*

giu nas ciências naturais'

O pleno funcionamento do princípio da ra-

zão futiciente ou cla causalidade s do deter-

minismo universal exige que seja mantieÍa a

idéia de substância, isto é, de *ma realidade

que pefinaneça idêntica a si rnesïïlâ, seja cau-

sa cle algurnn ç; i'r, iÌ el*ito cle alguftlrÌ olrìi

Essa rea'liciade pctïc ri-'í tlllla matória. Llïlltì

energiit, uïna tnassa. um vcluffie, nÌas tem qr-re

ser algurna coisa conl prüpricdaclcs deternri-

náveis, constantes e qur püssalll sel'cotlhcci-clas" iler'fl ser urna qtl*x'atídaelc constaxl€e el

üu urra f*rrnm *enstaxlfe. *ra, A microfísicaou física qLrântica veia mcstrar Qtre rlão há nerrl

Lima coisa e nelll outra.O estudo do átomo qje hidrcgânio revelotl qlre

a quanticlade de matéria *u tïìasSa nãg pel"ïÌla-

i1eçe COnStante, iltAs ïransfq:rÍ1l3-Se enl cirergia,

e esta tanrbém nãO permaï]ece CCtrStante* Ínas, o

que é pior, não se fl'ansfornla eín coisa alguma:

simplesrlente se perCe, dcsaparece. não se saï:çr

parâ oneie foi, nem o tìuc }he acontccett' A quan-

ticJade, poitanto, não ïirï {ï}anece constante'

AO n-lcsrno tentpp, t] e"ctttda; clOS átOlTÌLlS 1'e-

velcu que, clependend* cla aparelhagem

tecnológica usada, uffi çorprisculo ó o c1*e pod*

s*r visto, ïnas, corn otitrcs aparelÌros, ent lu-

gar de unt coï:púscuÏo" vê-se ïlïï}fi anda' Corn

iun*, ulna trr*r*u re aiíclat!* au substânçia- tan-

to poclt* ter a forrna c*e algr; qïje se estende no

*tpnço (onda), quanfo a ctre urn ponto que .se

concentra no espaço {*orpúscuì-o), não tendc,

portanto, forma constanie.

Se quantidade e forrna perdem a constân-

cia, a regularidade e a freqüência, como con-

tinuar falando ern câusas e efeitos?

trJm segunclo caso, que abalou a física e ficoil

conheciclo com o norne de princípio de irecer-

t*na ou de indeterwrinaçffis, foi trazidr: pelos

estuclos do ffsica }{eisesberg ao descobrir qlie,

no nível atômico, comCI ccnseqüência elos clais

fatos qìÌe apontamos acima, cç:nhecel o estaclo

orl a situação atual rje urn fenômeno, ou Lìín

conjunto de fatos, não permite prevel: a situa-

ção ou o estaclo scguiíÌte, nem' portaitto, des*

óobrir-qual foi a situação ou o estarJo anterior.

o determinisrns baseava*se no pressuposto

de que o conhecimento Íïsico causal exige que

um fenômen0 físiço cleva s*r conhecido a pâr-

tir dç ilois critérios sirnultâneos: suas prcpri-

eciades geométricas (forma. figura, vclutns'

grandeza, posição) s suâ$ prapricclades físi-

,!1i:iiiililirl/1;iiii:ì'rl

,r;;fli,j'.:i

r'i..-'ì,i.:t ,.ij

'rili,'.':lilií1:tit':.ii:ri:''

,r'l ;:.. j

.:

''..,

' t''''iiti

.,l.i.

?Õ42#5

Page 3: A ciência da natureza

cí1s ou dinârnicas (v*ìcciilitt'1,,'" movimento, re-pouso). Heisenberg descobriu que, quando co*nhecemos perfeitamente as prapriedades ge-

ométricas de um átomo' não conseguirnos co-nhecer suas propricciades físicas ctinâiiiicas e

vice-ver sa, sencïo irnpossír'e I determinâr o fls-taclo passaclo e n cstado futuro do fenôrncnoesturjacÌo, isto é, suas causas e seus efeitos.

Em outras palavras, quanclo se conliece aposição, nãü se consegue conhecer a veloci-dade, e quanclo esta é conhecida, não se con-segue conhecer a posição de urn corpúsculo.Há, portAnto, incerteza, incletenninação do fe-nômeno. A microfísica é incap az de de ternii-nar a trajetória de corpúrsculos individuais.

O terceiro acontecimento que abalou o ele-

terminismo universal Íoi a teoria da relativida-de, elaborada por Einstein. O abalo foi cluplo.

Em primeiro lugar, como vimos, a ciênciamoderna organizou-se graças à separação en-tre o subjetivo e o ob.jetivo, propondo umaidéia de observação-experirnentação eïn queo fenômeno observado será sempre o mesnloe obedecerá às mesmas leis, seja quem for osujeito observador.

Ora, Einstein clemonstrou que o tempo é acprarta dimensão clo espaço e que, na veloci-dade da luz, o espaço ëncurva-se", "dilata-se ","contrai*se" de tal modo que afeta o ten"lpo.Assim, alguém que estivesse na velocidade daluz atravessaria num tempo rnínimo um espa-

ço imerìso, mas os que ficassem abaixo rJa-

quela velocidade senfiriam o tempo escoar len-títrìlente ou "rìormAlrÌÌente". Para a prinreirapessoa, teriam se passado algulnas horu, oudias, mas para outros, anos, meses, séculos.

I)essa maneira, Einsfen demonstrou que nos-sa física é tal corno é porque depende da posi-ção do obsen'ador ou do sujeito do conheci-mento, isto é, um sujeito do conhecimentotnarciano ou venusiano prod uzirá, uma físicacompletamente diferente da nossa, porque oespaço é relativo ao observador. Assim sendo,nossa ciôncia da Natuteza não é úniversal enecessi,íïia em si mesmao mas exprime o pontode vista da sujeita do conhecimento terrestre.

c-.r n;r:gt;ncio abalo pfOVOCaci,; 1-l-,i Einsteinrefere-se à pr'ópria idéia de teoria científicada lrtratu teza.

Uma teoria científica, como vimos, é umaexplicação global para urn conjunto cle fa-tcs naturais aparentemente cliferentes, mas,na realidade, submetidos'às rnesülas leis e

aos mesrnos princípios. E isso que permite,pür exemplo, falar na teoria universal dagravitação, formulada por Newton, válid;rpara os rnovimentos de todos os corpos doLïniverso, sejam ele s grandes ou pequenos;,

leves ou pesados, celestes ou terrestres,aquáticos ou aéreos, coloridos ou sefiÌ cor"saborosos ou se Ín sabor, etc.

l"antbém a idéia de teoria nos permite falalna teoria universal da relativiclade, elabaradapor Einstein. Que cliz eia? Que a rnedida d;r

velocidade do movimento, seja este qual for, ó

Albert Einstein { 1 879-19b5} esráindissociavelmente ligado à física doséculo XX: suâ teoria da relatividade nãoso substituiu a da gravitação universal,de Newton, como é considerada porrnuitos como a mais perfeita e estetica-nnente a mais bela criação de toda ahistória da ciência.

a velocidade da luz; QLiu, i;*:;i;t velocidade, toda

matéria se transforrna cm energia, deixando,

portanto, de possuir massa e valume. Do ponto

de vista da vetrocidade cla lttz, a teoria da gravi-

tação universal, baseada na relação etrüe rnovi-

mento, massíì, tetnpo e vetrocidade, rtão tem va-

L*r, embora coiltinue verclacleira pzu"a os movi-

lnentos que não sejam rneclidos pela veloci-

dade cla luz. Mas não ó só isso. Do ponto de

vista da velocidade da luz, todo movimento é

relativo, isto é, não há como clistingrril obserua-

clor e observado (fenômeÍìo que experimenta-

mos eÍn nossa vida cotidiana, quando, estando

numa estaçãr: ferroviária, nunt trem imóvel,vgnlos outro, paralelo ao nosso, mover-se, e te-

mos a impressão de que é nosso trem que está

em movimento; ou quando, olhando uur rio ve-

loz do alto de utna ponte, ternos a irnpressão de

q$e é a ponte que se ïnove e não o rio)-

, , Qual o problema? A existência de três teori-;,.as físicas simul"tâneas quântica, para CIs./átornos; a newtouiana, pâra {)5 çorpos visívets;

a ela relatividade, para o movimento na velo-

cidade da luz -, regidas por çonceitos e méto-

dos diferentes, excluindo-se umas às. outras e

todas elas verdacleiras para os fenômènos que

explicam. E, mais: a física quântica desfaz a

idéia de causa como quantidade e forma cons-

tantes; e a física da relatividade desfaz a idéia

clássica da objetividade como separação enire

sujeito e objeto do conhecimento, base da ci-ência moderna. Em.lugar de um único paradig-

ma científïco, a física nos ofereÇe três !

&s çi&ntifis da vida

As ciências biológicas (&ios, effi grego, sig-

nifica victa) ou ciências da vida fazem parte

das ciências da Ìr{atureza ou ciências experi-mentais.

Osprirneiros hiólogos foram médicos: os pré-.:r

socráticos Empédocles ouAnaxágoras, e o pós-

socrático Aristóteles. Para todos eles, interes-

$ava, antes de srais nada, determinar a fonte ou

origem da vida e a localizaram no çalor, dan-

üÉi.f)í-ïUL() 3 - "AS CIENCIAS nÃ. N;\TUÍìEZ'r\

r-1r., iì'iu cümo sede o fígad$ i; r;'rpi:rì*cles) ou ocoração (Anaxágoras e Aristóteles). Além da

busca do princípio vital, Aristóteles interessou-

se pelo fenômeno da reprodução, distinguindoos seres vivos em vivíparos e ovíparos. H a ele

cJeveuros a classificação dos seres vivos errÌ

gêneros e espécies.

Do século XVIï até a primeira rnetade do

séçulo XX (1939-1940), predominou na biolo-gia a investigação fìsiológica. A fisiotogia in-teressa-se peias funções realizadas pelos seres

vivcs: circulação do sangue (com Harvey),digestão {com Réaumur e Spallanzani)', respi-ração (com Priestley e Lavoisier e locomoçãoou neuromusculatura (cam Haller, V/hytt). Aseguir, o itrteresse fisiológico dirigiu-se para

o estudo do funcionamento específico dos r'á*

rios órgãos e seus tecidos e, finaïmente, para â

investigação das células. Foi no estudo celu-lar que, no século XIX, Mendel deu iníçio ao

que iria tomar-se o centro da biologia do nos-

so sécnlo: a genética.

Todo problema epistemológico clas ciênciasbiológicas consiste ern saber se os procedi-

mentos e os conceitos usados pela fïsica e pelaquímica podem ser empregados para a inves-tigação do fenômeno da vida.

De fato, a biologia partiu da distinção entre

seres inorgânicos e seres orgânicos - plantas

e animais - para distinguir os fenômenos vi-tais dos fatos físicos e quírnicos. Entretanto,dois acontecimentos puseram em dúvida a 4*t-continuidade entre a matéria (inorgânica) e a

vida (orgânica). Em primeiro iugar, ro século

XtrX, a síntese quírnica da uréia, que revelou

fenômenos químicos como essenciais ao pro-

cesso vital, dando origem à bioquímica. Ern

segundo lugar, em nosso século, a descoberta

das nucleoproteínas revelou que os corpos quí-

micos (as xnoléculas) e os corpos vivos (as

cólulas) comportatn-se da mesma maneira. Os

estudos de bacteriologia, dos corpos catrcerí-

genos, assim como os trabalhos de embriolo-gia e a descoberta dos vírus foram na mesma

direção, revelando profundas semelhanças en-

tre fatos químicos e vitais.

{JNIDADË7-ASC!ËNCIÂS

2fi6 2#7

Page 4: A ciência da natureza

. rìeprodução: a célula tem o poder de repr.o-duzir-se e a reprodução *:::::lll"^:: l: DiÍiculdades metodológicasou pela fusão de certo tipo especral de células j ,

(os gametas femininos J.";"ii;;;. ;,;;; da biologiachamados organismos unicelulares, pela auto-reprodução da célula, sem a função sexual. A As ciências biológicas enfrentam vrírias di-reprodução gaÍante a sobrevivência da espé- ficuldades para a definição de seu objeto e decie através dos indivíduos; seus métodos. As principais dificuldades são:

cApíruLo3-AÉ ffiFÉn_ _. ._,,. - * cqpírulo s - as ctÊN,ctAs DA NATURÊZA---ffisl-I definição e d*ss!{ïcação dos objetos i:loló- mais fenômenos iísico-químicos e está,

gicos: o objeto da biologia não é o indivíduo, como eles, submetida ao determinismo das

mas o gênero e a espécie. As dificuldades cien- causas e efeitos, ou é um fenômeno totalmen-

úficas estão na escolha dos critérios de classi- te diferente, corn suas leis próprias? A pri-

ficação para definir um gênero e uma espécie. meira tendência chama-se mecanicismo; a

É u iot-u dos seres vivos que deterrdina o gê- segunda, vitalismo.

nero e a espécie? Nesse caso, o critério é a Ovitalismotendeuaservitoriosoporinvo-

morfologia. Ou é a ordem temporal de apari- car dois fenômenos que só existem para os

çãodeumgêneroeumaespéciequedevesero seles vivos: arelação como tempo (diferença

óltgriot Nesse caso, a paleontologia e a em- entrevidaemorte)eafinalidade(avidaéumbriologia definiriam gêneros e espécies; processo ativo de interação com o meio am-

biente para arcalizaçáo de fins como conser-

e dificuldatles do método experimental: a vação, reprodução, reparação)'

vida é uma relação ativa, dinâmica e diferen- O vitalismo é filosoficamente problemáti-

ciada dos organismos com o meio ambiente, co. De fato, durante muitos séculos, para ex-

mas o coúecimento experirnental é realiza- plicar a temporalidade e a flnalidade dos Í'e-

do em iaboratórios, que definem condições nômenos vitais, afirmou-se a existência, nos

fixas para o relacionamento organismo-meio. corpos vivos, de almas ou inteligências, que

Comó confiar inteiramente nos resultados dirigiriamracionalmenteavida'Mesmoafas-

experimentais, se as conüções de laboratório tando essas idéias, a {ìnalidade não se toma

são abstratas e artificiais, não correspondendo um conceito cientificamente claro' Por exem-

à jtuaçao vital concreta dos organiimo?; plo, devemos dizer que é para poder voar (fï-- ^: ', naiidade) que os pássaros desenvolvem a for-

I diticuldades de experimentação.no,orga' ma ovóide de tfonco, a estrutura de ossos Ie-

nismo.humano: de modo geral, aexperimen- ves e ocos, aleveza do pescoço e da cabeça, a

taçãobiológicatrabalhaco;animaise,nãocom disposição das penas nas asas, ou, ao contrá-

seres humúos, e o primeiro problema consiste rio, que é por haver desenvolvido essas carac-

em saber se as conciusões obidas com animais tedsticas que, com o passar do tempo, os pás-

teriamvalidadeparaoorganismohumano.Pro- saros puderam voar?

crüa-se coiÌrpenr* tul dificuldade com o estu- os embaraços para definir com clareza o

do dos organismos humanos doentes, toman- que seja a finalidade Íepercute numa outra

do-se a doença como ulna espécie de "experi- idéia da biologia: a de evolução. Avida, por

mento natural". Mas o problãma, agora, é sa- ser interação ativa com o meio ambiente.' leva

ber se o modo de funcionamento de um orga- a mudanças nos organismos para a adapta-

;h-" ãgen; pode ser generalizado p*u o iu- ção dos indivíduos e a mariutenção da espé-

dio. o mesmo problema se põe quando a bio- cie. como essas transfonnações ocorrem no

logia estuda os^cadáveres humanos, pois cabe tempo e como se considera que os organis-

p"ïg*t* se o morto pode explicar o vivo. mos "progridem" ou "melhoram o desempe-

nho" graças à invenção de mecanismos no-

Finaridade, evor$ção ;Ïiii,,ï'ãlïi3i;i*";: iï,ïï'üïï";fx:e 0Íigem da vida pécie. Surge,_então, a.pergunta: o que leva a

vida à finalidade evolutiva?

uma disputa atravessou a história das ci- Essa pergunta é djfíc:l de ser respondida,

ências biológicas e pode ser assim formula- potqo" ã idéiu de gvolução se refere às espéci-

oar É a vida"de *"r*u natureza que os de- es 1não aos indivíduos) e pressupõe a noção de

..;r'l,rr.ifJ...r;..j': i:Ì,!ji:lÌ'!;

tt,'.iiÏ'::.i4.;::_1. al;;

i i1{:1:,r,r:i

,+iÈ..::.iìi:,'

:ii:li- .'

rfi:.'lllai.:F{c entttriii(). ;!-'-;.,:ìr das discussões sui,r*. ;i

essôncia da vida nã* tcrem chegado a coílclu-sões deÍ-initivas. a biolcgia distinglÌe os seres

incrgânicos e üs \rivGS definindo estes úItimospclas icÌtiias de cóNuïa e flunções realizaclas pe lacólu1a, unidade vital e orgâllica hásica. A viCacaracteriz-a-se pelas seguirrtes frrnçõcs:

w ürrËtaltilÍdade: unla célula ó uma ativicla-rÌe que ïeage e responde iìs excitações rìu e s-

tíinuïos clo meio arnbier:te *-_- temperirtura,iriz, obscuriclade, pres são, al inlent*. etc. AvirJa é rima adaptação afiva e pr*tetara dían-[e d*s alt*rações do rneio anr]:i*nte, Eenelo.

a.qsim, relaçã* do organisnlc com seu ambi-eil[e. na qual o ser vivo busca eqmitríbrto como meio" A rupïura desse equilíbrio é a rJoen-

ça e â rnorte;

ffi rffietafum$fisnas: a imitabilidarie ou adaptação. r' f n.

rro meio e t'eita por Llm conjunfo de tr*cas en*trt o *rganisrnnl fl o m*i*. A *dìuia assinrila rfransfarma aquilç r4ue consoïne sob a formacle aïimentação, respiração, assinrilação ouperda de substância, gastos *nergéticos, etc.(} metabolismo é, pois, um conjunto de trans-frrrmações químicas realizadas no interior clo

organisïno numa relação de troca e corìsilmoÇom o rneio ambiente;

a clivisão e crescinrent*: uma célula teln oproder de dividir-se, .ou seja, cle cresr:er paragarantir que o ser vivo atinja seu desenvoivi-mento próprio e tambérn para reparar clanossofridos pelo organisïïìo, coïno por exemplo atÌivisão e a multiplicação de cólulas daepidernie para curar um ferimento;

& in*lividuatris'Ë*sr-Ìa:" iiiìì ser vivo, rnesrnounieelular, forma uïït inclivídu*, isto d. um sis-tema único e fechado, cujas p;ìrtes se cones-ptrndem recipracarnente e conÇürrenÌ para â

mesïna ação;

âoE& or"gÍìnf,cËdmde: o s*r vivc ó constituíelo porórgãos (palavra quc vcrn d* gr"ego, órgrmon,instrumento que reaiira rnna função), isto é, porurn conjunto cliterenciado de funções, qrre ga-

rantem e conservação e a repïoclução da virJa.

O ser vil,o ó, pois, um organismo e uiïl indi-r,íduo. H portador cÍe quatro característicasprincipaÍs: a iuterioriclarJe. a auto-apresenïa-

Ção, a auíc*organizeção e a aLÌfo-reproduçrão.

Imferiorielade: realiza coïïportamentcrs, istoé, possui disposições int*rnas, que lhe pemri-tem relacionâr*se ativarnente com o rneio anl*biente. Amts-apreserntnçx*CI: maniÍ'esta-se coÍÏlilffira estrutura ou f,qlnna extnrna cornplefa, quepressupõe a existência *Íe estrilturas intei:ras

Xlarciais, çoïtl as quais CI ürgenisrno se aprosen*ta ccrno indivíduü e çoíno espá*ie diferente detoclas as outras. Auto-rlrgnmiuaç#o: é o resul-tarÌo cle um longo processo de evolução e acïap-tação ao meio, qtte pemite â um organismotornar-se cada vez rnais complexo e ter, internae externarnente, funções cada yez rnaisespecializadas para seus órgãos. Auto-r*pro-dnção: por meio cla função sexual, o organis-mo é c.apaz cle reproduzir um outro seu sefile-Ihante, perpetuando, tanto quanto possível, a

espécie; por meio da clivisão e da separação (nocaso dos seres que se reproduzem assexuada-mente), o organismo é, capaz de engendrar umoutro, semelhante a si, perpetuando-se.

?ffi8 ?fis

Page 5: A ciência da natureza

uNtDAnË7-Â,$iltÊNCTAS

heredimïlLjii;i'-!r, irlr: é, transmissão clo;; '.,iiì r;r.)

teres adquiridos por evolução a todos os lÌleln-bros da espécie. Com a idéia de evolução das

espécies e hereditariedade dos caracteres ad-quiridos, surgem novas indagações:

6 se a evolução não é do indivíduo e sim daespécie, porém, se são os indivíctuos qne são

levados a se transfonnar para se adaptar, o q$eé uma espécie?

@ se a espócie evolui, mas se o faz transmitin-do as estruturas hereditárias, o clue podem seras leis da hereditariedade, já que uma espóciepode rnuclar?

ü: se há leis da hereditariedade e se há muta-

ção das espécies, como se relacionam a l'ina-lidade hereditária e a finalidade evolutiva?

#ffi so g;prganisrno vivo é, como dizem a bio-quím$_$a e a gonética contemporâneas, umarnáqr$na que se constrói a si mesma e dá a simesr&â sua finalidade , o que significa a icléiade adaptação ao rneio, central na teoria dae vol ução ?

Questões conlo essas não invalidam a bio-logia como ciência, pelo contrário, indicamque esta não é um conjunto de verdades aca-badas e absolutas, mas um processo cle çonhe-cimento. For isso, a biologia também possuisuas rupturas epistemológicas e Íiuas revolu-çÕes científicas.

A mais recente dessas nrpturas e revoluçõesliga-se ao que se convençionou chamar de "des-coberta clo segredo da origem da vida", isto é,

a descoberta das nucleoproteínas" ou do ADI{_* ácido desoxirribonucléico -, defïniclo comocódigo genético. Essa descoberta, recentíssima(data dos fins dos anos 60), resulta do estudomicroscópico de açúcares e bases nitrogenaclas,que são macromoléculas constituídas pormicramoléculas chamadas aminoácidos {oDI.íA e o RNA), consideraclos, até o momento,responsáveis pelo fenômena da vida.

.Essa clesçoberfa i e ve;ï;r *1go muito novo: porum lado, que a vicla resulta de um processoquínúco, ïnas, por outro, que esse processo ó

uma ruptura que separa os seres naturaisinorgânicos e os seres naturais vivos.

No entarlto, os estudiosos do ADN não he-sitam em aflrrïlar qlre, embòra com esse coíì-ceito se possa construir um paradigma bio-lógico que tenha por modelo a cibernética ea informática (donde a ielóia de cóeligo gené-

tico), a existência e os modos cle funciona-mento do ADN são enigrnas e rnistórios e,

por enqnanto, a origem da vida parece terresultado de um puro acaso e não de umanecessidade causal, nem de uma finalidaclenecessári a.

O que é espantoso, porém, é que nìe smo sern

conhecer exata e rigorosamente os fenômenosinvestigaclos, a biologia genética já desenvolrveu teçnologias para a invenção de novos ali-rnentos, mutações ern anirnais e vegetais, a fa-bricação ele vacinas Çontra vírus, etÇ.

ffis dmil$ Wrffi$Bdms ffiffiËïrpos da bilmtmgim

A biologia contemporânea trabalha ern doisgrandes campos de investigação:

1. o da investigação genética e fisiológica nonível hiper-microscópico clos processos e for-nìas micromoleculares e, com ajuda da bio-quírnica, o estudo da célula em seus fenôme-nos internos e de reprodução, isto é, investi-ga o ADÌt{;

2. o da investigação das formas, das estrutu-ras e dos processos visíveis dos organismos'na relação com o meio ambiente, isto ó, o es-

tudo do comportamento dos seres vivos e, por-tanto, as relações vitais entre meios e fins. Temem seu centro a idéia de equilíbrio vital, en-tendido como conjunto de processos e funçÕes

que permitem ao organismo conservar-se e re-produzir-se.

"r

Sffi m pffi$$ívmEs çã#sr*Fms $xaxr"nrsmíçffis?

Embora seja evidente que toda e qualquer

ciência é hurnana, porque resulta da atividade

humana de conhecimento, ã expressão ciên-

cias hunaanas €k$;Sg*qggffi*têirr o próprio ser hutnatto cotìlo objeto. A si-

tdãç..-àïo ãe tais ciências ó muito especial. Em

primeiro higar, porque seu objefo é bastante

recetrte: o hotnem coïno otrieto científico é

:'*L:t}éi* b#&*Je-Sg**-ggsgstsle*sg:ekg-Maestudado nela fìilosofia.

ïegündo lugar, porque surgirarn depois

,r nuç as ciências matemáticas e naturais esta*

f .,la* corìstitgídas e já haviam definiclo a idéia

\ ** çientificiclacle, de métodos e conhecinren-

\ tor científicoso de modo que as ciências hu-

\*onu, foram leva6as a ir*itar e copiar o queI

/ aquelas ciências haviam estabelecido, tratan*

( do o homem como unla coisa natural mate-

\ matizável e experimentável. Em outras pala-ì

f uror, para ga'har respeiiabilidade científica,

Í ur disciplinas corlhecidas como ciências hu-

\ *unus procuraraltl estudar seu objeto empre-\gatrdo conceitos, métoclos e técnicas propos-

tos pelas ciências da Ì{atttreza.

dos ïorilâIítriír-:,' i,li;i{'o cotlt*stírveis ü tr-rr

cientí{icírs.Essa situação levou tnuitos cientistas e fi-

lósofos a cluviriar cla possibilitlacJe dt-' ciêrlcias

que tivessem o horuem cütllo abjeto" Quaisas principais objeções feitas à possibilirJacle

das ciências hurnanas?

* A ciência lida coffì fatos obserr'áveis. isl.o é.,

com seres e acontecirnentos qlÌe, nas condi-

ções especiais cle iaboratório. são objetiis de

experirnentação" Corno observar-expel itnen-

tar, p*r exernpìo, a consciência hutnana indi-vidual, qiln ssria o objeto da psicologia? Ou

unla sociedade, objeto da saciologia? Cu utna

época passada, cbjeto da histórialt

í** A ciência lida coilÌ fatos regiclos pela íleces-

I sidade causal au pelo princípio clo determi-I

;rrisino universaï. O homem é dotado de ra*

z,ãa, vontade e liberdade, é capaz de criar fins

e valores, ile escolher entle várias opçõe s pos-

síveis. Como dar ltma explicação científica

neçessária àquilo que, por essência, ó contin-

gente, pois é livre Õ age por liberdade'?

ciência lida com fatos objetivos, isto é,

os fenÔmenos, depois que forattt puritì-

fà n ciôncia busca as leis objetivus ge rais, uni-

bersais e nece$sárias dos fatos. Corno estabe-

leçer leis objetivas para o qrÀe é essençialmen-

te subjetivo, colllo o psiquisrno hutnauo?

C*rno estabelecer leis universais piu:a algo que

ó particular, eotno ó o caso de uma sociedade

lir;mar:a? Como estabelccer leis necessárias

paÍa o que acontece uma única vflz, como é o

caso do acontecimento histórico?

$ n ciência opera por análise (decomposição

I de urn fato complexo em elementos simples)

I e síntese (recomposição do fato cotnplexo por

l', seleção dos elementos sirnple s, clistinguinclo

[os essenciais rlos acictrentais). conro analisar

ì sinteLtzar o psiquismo hutnapo. tllllÍÌ stlcie-

clacle, unÌ acontecimeuto histórico?^/ Em terceiro lugar, por terern surgido no pe-

{ ríodo em que prevalecia a concepção empi-

{ rista e determinista cla ciência, tatnbérn pro-

\ curaram tr atar o objeto humano usanclo os mo-

\ a*tor hipotético-indutivos e experinrentais de

) esdlo empirista, e buscavarn leis cartsais ne-

\ cessárias e universais para os fe1ômenos hu-t***os.

Como, entretanto, não era possível re-

alizar uma transposição integral e perfeita das

méiodos, clas técnicas e das tecrias naturais

para os estudos dos tatos humanos, as ciên-

,,, cias humanas acabaram trabalhantlo por anâ-,,,' tcgin collL as ciências naturais e Seus resulta-

f.n\corn

274?71