a ciência da ioga - mente e cérebro

Upload: ivone-matos

Post on 07-Apr-2018

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 8/3/2019 A cincia da ioga - Mente e crebro

    1/5

    Verso somente texto

    Este o cache do Google de http://www2.uol.com.br/vivermente/reportagens/a_ciencia_da_ioga_imprimir.html. Ele um instantneo da pgina com a aparncia que ela tinha em 19 dez. 2009 05:48:32 GMT. A pgina atual pode tersido alterada nesse meio tempo. Saiba mais

    Estes termos de pesquisa esto realados: sistemanervoso Estes termos aparecemsomente em links que apontam para esta pgina: respostaautonomoexerciciosrespiratorios

    PICTURE GARDEN/PHOTONICA WIDE IMAGES

    Reportagem

    edio 186 - Julho 2008

    A cincia da ioga

    A prtica milenar, desenvolvida h mais de trs mil anos, pelos indianos, atua nosistema nervoso central, reduzindo o stress e favorecendo a cognio

    por Camila Ferreira Vorkapic

    Diz o clebre texto Yoga Sutra de Patanjali que a ioga conjunto de tcnicas milenares surgidas na ndia h mais de 3mil anos a supresso das instabilidades da mente. Ouseja, a paralisao voluntria das modificaes mentais, ospensamentos. Nesse sentido, nada tem a ver com religio,

    ginstica ou terapia: ioga uma filosofia prtica. E, segundoesse sistema filosfico, no possvel atingir boa sadefsica e mental sem a aquisio de estados mais profundos deconcentrao. Tratar a prtica cientificamente requer adotaruma linha de estudo objetiva, com linguagem atualizada ecuidado de manter suas tradies e princpios originais, semdescaracteriz-los.

    O papel dos pesquisadores e da cincia em relao stcnicas observar e descrever os fenmenos fisiolgicos,verificando as formas como o organismo responde sprticas. No caso do yga, o ciclo completo para suarealizao consiste no cumprimento de oito etapas, queenvolvem no s prticas e exerccios de concentrao, mas

    tambm de respirao, de descontrao, de purificaoorgnica e gestos reflexolgicos manuais. Algumas dessastcnicas se destacam pela notria influncia no sistemanervoso central. Alguns exerccios tm efeitosneuroendcrinos e neuroqumicos e chegam a provocaralteraes estruturais em reas do crebro, favorecendofunes cognitivas e aspectos emocionais.

    Nos ltimos dez anos, com a incidncia de transtornos de ansiedade e humor em nossa sociedade,inmeros estudos tentam demonstrar a importante relao entre emoes e atividade do sistemanervoso autnomo (SNA). Tornaram-se comuns, por exemplo, as crises hipertensivas por stress eprincipalmente alteraes no sistema respiratrio em conseqncia de mudanas nos estadosemocionais. Indivduos que sofrem de distrbio do pnico freqentemente hiperventilam durante as

    ncia da ioga - Mente e Crebro http://74.125.47.132/search?q=cache:hz5b__IXm5sJ:www2.uol.c

    5 3/2/20

  • 8/3/2019 A cincia da ioga - Mente e crebro

    2/5

    Efeitos neuroendcrinos e neuroqumicos chegam a provocaralteraes estruturais, favorecendo funes cognitivas e aspectosemocionais

    ANDY LIM/SHUTTERSTOCK

    crises, e um dos recursos para diminuir a velocidade respiratria justamente a chamada respiraodiafragmtica ou abdominal, tcnica extensamente utilizada no yga.

    Tanto a ansiedade quanto o stress e a depresso envolvem a ativao do sistemanervoso simptico(SNS) e do eixo neuroendcrino hipotalmico-hipofisrio-adrenal (HPA). O hipotlamo a estruturaresponsvel pela regulao de funes bsicas, manuteno e sobrevivncia do organismo. Por meiode mecanismos controladores das funes vegetativas e endcrinas, o hipotlamo induz respostasorgnicas s alteraes no meio ambiente externo e interno, por exemplo aquelas induzidas poragentes estressores, que permitem ao organismo a adaptao para manter a homeostase(manuteno de condies estveis para as clulas). A ativao do SNA pelo hipotlamo responsvel

    por alteraes fisiolgicas, como intensificao da freqncia cardaca, aumento do fluxo sangneopara os msculos, da glicemia, do metabolismo celular e da atividade mental e liberao deadrenalina, o que permite melhor desempenho fsico e mental.

    Alm de estimular o SNA, o hipotlamo (quetambm responsvel pelo controle de diferentesglndulas endcrinas) ativa o eixo HPA, influindonas reaes orgnicas ao stress. Em uma situaotensa, o hipotlamo sinaliza a secreo dohormnio adrenocorticotrfico (ACTH), tambmconhecido como corticotrofina, responsvel pelocontrole da secreo de corticoesterides (quecontm o cortisol, hormnio do stress) pelaglndula adrenal. Alm do eixo HPA, o stress ativa

    a diviso simptica do sistemanervosoneurovegetativo, como parte da reao de luta oufuga. Como resultado, a noradrenalina das fibrasnervosas simpticas perifricas liberada emdiferentes tecidos, bem como a adrenalina (etambm alguma noradrenalina) da medulaadrenal, na corrente sangnea. A constanteativao do SNS, do eixo HPA e a liberao deadrenalina levam a uma situao crnica de stresse depresso, que afetam a integridade do crebro.

    Em 2005, pesquisadores da Universidade deDuisburg-Essen, Alemanha, e da Universidade deNova York, observaram em mulheres estressadas

    alteraes positivas relevantes em conseqnciada prtica de exerccios respiratrios (Prnayma)e posturas (sana) durante trs meses. Paraavali-las, os pesquisadores utilizaram testespsicolgicos como a Escala Cohen de StressPercebido, Inventrio Estado-Trao de Ansiedade(STAI), Perfil de Estados de Humor (POMS), EscalaCEDS de Depresso e at nveis salivares decortisol. Segundo a equipe de Gustav Dobos,coordenador da pesquisa, a prtica de ioga induzuma reduo imediata nos nveis de cortisol econseqentemente do stress, apontando para umefeito direto no eixo HPA. O efeito ansioltico daprtica to significativo que alguns pesquisadores

    o tm comparado influncia de medicamentos como benzodiazepnicos.Mente Alerta

    Com o objetivo de observar os efeitos calmantes daioga e sua atuao no SNS, pesquisadores dodepartamento de psiquiatria do All India Institute ofMedical Sciences, em Nova Dli, liderados por G.Sahasi, em 1989, compararam efeitos da ioga aosdo ansioltico diazepam. Ao fim de trs meses depesquisa, os autores descobriram que o grupo quepraticou ioga tinha pontuao significativamentemenor em escalas de ansiedade, reduzindo os

    ncia da ioga - Mente e Crebro http://74.125.47.132/search?q=cache:hz5b__IXm5sJ:www2.uol.c

    5 3/2/20

  • 8/3/2019 A cincia da ioga - Mente e crebro

    3/5

    Tcnicas orientam o controle voluntrio e atuam no sistemacardiovascular

    RIKA ONODERA

    sintomas. Tais resultados no foram encontrados nogrupo que havia tomado o medicamento. Em outroestudo que durou nove anos, liderado pelopesquisador N. S. Vahia, do departamento depsicologia mdica da Seth G.S. Medical College e doK.E.M. Hospital em Mumbai, na ndia, em 1973, ospesquisadores observaram a eficcia de tcnicas daioga e de medicamentos ansiolticos,separadamente, na reduo da ansiedade. Osautores concluram que o grupo praticante da

    tcnica apresentou menor ndice de ansiedade naescala de Taylor; em alguns casos, os efeitos datcnica foram mais eficientes na reduo dossintomas que a clordiazepxido (ansioltico) e aamitriptilina (antidepressivo).

    A meditao (Samyma) sem dvida a tcnica deioga mais estudada, talvez pela influncia que exerce em diferentes funes cognitivas. Meditar refletir, divagar. No entanto, durante a prtica, o objetivo justamente o oposto: evitar a corrente depensamentos, deixando que a mente foque apenas um objeto, smbolo ou mantra. Assim, durante ameditao, o esforo executado pelo crebro para se concentrar em um nico ponto torna-o ativo, aocontrrio da crena comum de que a meditao nada mais do que um estado de repouso. Ainda nose sabe ao certo o que ocorre no sistema cerebral durante a meditao, apesar de pesquisas recentescomearem a decifrar esses enigmas. Testes com eletroencefalografia vm demonstrando que aconcentrao (Dhyna), uma das etapas iniciais da prtica meditativa, um processo cognitivo querequer treinamento e integrao de diferentes redes neurais.

    O aumento de atividade de ondas alfa (ondas de 9 a 13 Hz, que refletem estados de relaxamento) e areduo de ondas teta (ondas de 4 a 8 Hz, que indicam tanto estado de sonolncia quanto de ateno),durante a meditao, mostram que o crebro se encontra mais orientado internamente, alerta eatento ou mais vigilante. A equipe de Richard Davidson, da Universidade Wisconsin-Madison, nosEstados Unidos, investigou a atividade eletroencefalogrfica de indivduos que meditavam diariamentehavia mais de 20 anos e de um grupo-controle (meditadores ocasionais). Os autores observaram oaparecimento de ondas cerebrais amplas, conhecidas como ondas gama (de 27 Hz em diante),somente em indivduos que meditavam diariamente, mostrando grande concentrao e aumento deatividade neuronal.

    Aps a prtica da meditao, essas ondas

    continuavam presentes no crebro daspessoas, como se elas estivessem sempremuito focadas e concentradas, mesmoquando no estavam meditando. Em umasegunda etapa do estudo, os mesmosautores concluram que a melhoria naconcentrao pode resultar em um estadomental menos ativo cognitivamente, noqual a execuo de tarefas exija menosesforo cognitivo. As implicaes clnicaspodem favorecer indivduos com dficit deateno, que apresentam dificuldades emse concentrar. Esses processos estorelacionados a um aumento de atividade de

    redes de ateno dos lobos frontaisanteriores, incluindo uma estruturachamada crtex cingulado anterior (CCA),resultando em melhora crnica da atenoe da capacidade de concentrao. O CCA uma regio envolvida tanto em processos de atenoquanto em processos afetivos e alteraes autonmicas. O CCA e o crtex pr-frontal (CPF) modulamento respostas emocionais, provavelmente controlando a atividade neural dos componentes dosistema lmbico, como a amgdala (hipoativada).

    A ativao dessas reas cerebrais especficas durante a meditao contribui para a sensao debem-estar e conforto. Alm dos efeitos na cognio e no humor, a prtica da meditao capaz deinfluenciar o sistema imunolgico por meio da reduo de pensamentos prejudiciais, muitas vezeseliminados durante o processo. O pensamento gerado no CPF projeta-se para o sistema lmbico,

    ncia da ioga - Mente e Crebro http://74.125.47.132/search?q=cache:hz5b__IXm5sJ:www2.uol.c

    5 3/2/20

  • 8/3/2019 A cincia da ioga - Mente e crebro

    4/5

    envolvido no procesamento das emoes. Se o pensamento for prejudicial, o hipotlamo e,conseqentemente, o eixo HPA so ativados, liberando uma cascata neuroendcrina que resulta nasecreo do cortisol, o hormnio do stress. Se essa secreo contnua, o sistema imune acaba seenfraquecendo.

    A meditao tambm pode atenuar sensaes de desconforto. A reduo dos nveis plasmticos doACTH (hormnio precursor do cortisol), TSH (hormnio estimulador da tireide) e do prprio cortisol,por exemplo, aumenta a sntese de neurotransmissores como GABA (efeito inibitrio da ansiedade),dopamina (envolvida no sistema de recompensa e na sensao de satisfao), serotonina (afetopositivo), endorfinas (que aumentam a sntese de glutamato no crebro, o que estimula o hipotlamo

    a liberar beta-endorfinas, reduzindo medo e dor, produzindo uma sensao de bem-estar e alegria),acetilcolina (relao com o aumento nos sistemas de ateno nos lobos frontais). Cientistas sabem quea percepo corporal depende da ativao dos lobos parietais superiores. O hipocampo modula o nvelde excitao cortical e de responsividade, por meio de conexes com o crtex pr-frontal, amgdala ehipotlamo. Essas estruturas esto implicadas na capacidade de ateno e nas emoes e sofundamentais para a percepo de imagens.

    Hormnios do Stress

    A ativao da amgdala direita resulta em estimulao do hipotlamo, com subseqente ativao dosistema nervoso parassimptico; que responsvel por proporcionar uma sensao de relaxamento ede profunda quietude, diminuindo a freqncia cardaca, a taxa respiratria e, conseqentemente, aatividade do locus coeruleus (onde a norepinefrina sintetizada). A queda na produo denorepinefrina diminuiria a estimulao do hipotlamo, reduzindo tambm a produo de hormnios do

    stress como ACTH e cortisol (eixo HPA mecanismo citado acima). Alm disso, o hormnio argenina-vasopressina (AVP), que se encontra tambm rebaixado durante a meditao, contribui para amanuteno de afetos positivos, reduzindo fadiga e excitao, e significativamente importante naconsolidao de novas memrias e no aprendizado.

    Como pesquisas anteriores demonstraram, pelo fato de a meditao estar associada a alteraes nospadres e eletroencefalogrficos de repouso, o que sugere mudanas duradouras na atividadecerebral, os cientistas comearam a desconfiar que a meditao pudesse ocasionar tambm alteraesmorfolgicas em estruturas envolvidas nessa prtica. Em 2005, a pesquisadora Sara Lazar e equipe,do Massachusetts General Hospital, Estados Unidos, comprovaram que as tcnicas de meditao estosignificativamente associadas ao aumento da espessura de determinadas regies corticais (massacinzenta) relacionadas a processos somatossensoriais, auditivos, visuais e interoceptivos e emocionais.A equipe de Lazar utilizou ressonncia magntica funcional (fMRI) para identificar reas ativadasdurante uma forma simples de meditao e descobriram um aumento da atividade dos crtices

    pr-frontal e parietal, hipocampo, lobo temporal, crtex cingulado anterior, estriado e giros pr eps-central.

    Os resultados das pesquisas indicaram que o exerccio ativa estruturas neurais relacionadas atenoe ao controle do sistema nervoso autnomo. Alm disso, a prtica regular de meditao previne ouretarda a reduo cortical nas reas pr-frontais relacionadas idade (a mais vulnervel aos efeitosdo envelhecimento), o que pode indicar o envolvimento de mltiplos mecanismos de neuroproteo.As evidncias cientficas a respeito dos efeitos positivos da ioga parecem confirmar o que j sepraticava na civilizao indiana h mais de 3 milnios: a meditao proporciona respostas benficas aocorpo por meio de seus efeitos potenciais no crebro. Evitar o turbilho de pensamentos e acalmar amente para que ela se torne focada e alerta, como tem sido preconizado por praticantes, soprocessos que a cincia comea a investigar em profundidade, ajudando a preservar e difundir essacorrente filosfica milenar.

    Respirao e Ritmo influenciam estado de humorEntre as vrias tcnicas do yga, os exerccios respiratrios (Prnayma) parecem ser os que exercemmaior influncia nos estados de humor, justamente pela notria relao das emoes com arespirao. A regulao respiratria depende de uma srie de mecanismos involuntrios, podendo serrealizada sem a interferncia do controle voluntrio. Assim, as caractersticas da respirao seajustam de acordo com as emoes. Entretanto, possvel alterar voluntariamente seu ritmo,freqncia e profundidade. As tcnicas respiratrias orientam justamente esse controle voluntrio,exercendo influncia em mecanismos involuntrios que regulam a respirao e o sistemacardiovascular, podendo modular a interao entre sistema nervoso simptico e parassimptico e,conseqentemente, o eixo HPHPA. Esses exerccios ativam o sistema nervoso autnomo com afinalidade de inibir o sistema simptico e estimular o sistema parassimptico.

    Com a prtica dos exerccios propostos pelo yga, os quimiorreceptores sensveis elevao de CO2,

    ncia da ioga - Mente e Crebro http://74.125.47.132/search?q=cache:hz5b__IXm5sJ:www2.uol.c

    5 3/2/20

  • 8/3/2019 A cincia da ioga - Mente e crebro

    5/5

    localizados no centro respiratrio do crebro (no tronco cerebral), comeam a responder menos a esseaumento durante a expirao, de modo que o indivduo consegue expirar mais prolongadamente,reduzindo a freqncia cardaca. As tcnicas tm como finalidade prolongar a expirao e valorizar areteno de ar. Esse princpio conduz a um treinamento to forte do SNA que ocorre um aumento dasvariaes da freqncia cardaca, mesmo quando o indivduo no est praticando, pois o padrorespiratrio involuntrio profundamente alterado. Essas pesquisas talvez expliquem por que ospraticantes de ioga sejam menos propensos a desenvolver transtornos de ansiedade e de humor erespondam melhor s alteraes emocionais negativas.

    Conhecimento Anscestral

    Especula-se que a ioga tenha surgido na civilizao dravdica, que se expandiu a partir do vale do rioIndo, atual Paquisto, regio que na poca pertencia ndia. No existem documentos desse perodosobre o assunto, embora a palavra seja mencionada nos Vedas, textos sagrados do hindusmo escritospor volta de 1500 a.C. Desde ento, a prtica passou por muitas transformaes e foi incorporada tradio oral, at que seus principais conceitos fossem compilados em forma de aforismos porPatanjali, cerca de 300 a.C. A origem do termo vem do snscrito, yuj, que significa unio, juno.

    Camila Ferreira Vorkapic pesquisadora, doutoranda no Laboratrio de NeuroanatomiaComparada no Departamento de Anatomia do Instituto de Cincias Biomdicas da UniversidadeFederal do Rio de Janeiro (UFRJ) e praticante de Swsthya Yga.

    Duetto Editorial. Todos os direitos reservados.

    ncia da ioga - Mente e Crebro http://74.125.47.132/search?q=cache:hz5b__IXm5sJ:www2.uol.c