a chave para a verdadeira quabbalah

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Franz Bardon A CHAVE PARA A VERDADEIRA QUABBALAH O Cabalista como Soberano no Microcosmo e no Macrocosmo Tradução livre da edição inglesa por Agammenon Anydoros. O texto não está revisado, portanto, pode conter erros de ortografia. Nota do tradutor: Decidi pôr o que já foi traduzido aqui no site, porque não irei prosseguir adiante com a tradução. Guardar para mim mesmo tal informação não faria bem algum, portanto, ela está livre para todos lerem e expandirem seu conhecimento teórico. São as primeiras 15 páginas de um manuscrito de 137 páginas. --- As primeiras 15 páginas seguem. --- Prefácio

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Page 1: A Chave Para a Verdadeira Quabbalah

Franz Bardon

 

 

A CHAVE PARA A VERDADEIRA QUABBALAH

 

O Cabalista como Soberano no Microcosmo e no Macrocosmo

Tradução livre da edição inglesa por Agammenon Anydoros. O texto não está revisado, portanto, pode conter erros de ortografia.

Nota do tradutor: Decidi pôr o que já foi traduzido aqui no site, porque não irei prosseguir adiante com a tradução. Guardar para mim mesmo tal informação não faria bem algum, portanto, ela está livre para todos lerem e expandirem seu conhecimento teórico. São as primeiras 15 páginas de um manuscrito de 137 páginas.

--- As primeiras 15 páginas seguem. ---

Prefácio

 

 

 

Como prometido nos dois trabalhos anteriores, “Iniciação ao Hermetismo” e “A Prática da Evocação Mágica”, o autor, Franz Bardon, agora publica este terceiro livro, lidando com a linguagem cósmica, chamada Cabala pelos iniciados.

Aqueles que já estão bem avançados nos seus estudos do espiritual, isto é, na ciência hermética, pelo trabalho prático em si

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mesmos, se regozijarão, por terem adquirido experiência prática. Estarão fortalecidos com sua confiança de que a estrada que tomaram é a mais confiável e irão, sem exceção, alcançar suas metas.

Muitos cientistas, que têm sido induzidos pelo seu grande interesse pela Cabala a iniciar os estudos dessa ciência, amparados até agora por vários conselhos teóricos, estarão perdidos, assombrados pelos conteúdos deste livro. Pelo menos por uma vez, será logo, certamente, que terão de admitir, gostem ou não, que todos os métodos cabalísticos deste livro, altamente  reconhecidos por sua riqueza, variedade e honestidade diferem muito dos livros cabalísticos já publicados antes.

Nem mesmo as mais escondidas e secretas bibliotecas dos monastérios mais isolados no Oriente mais distante, os denominados ashrams, que são inacessíveis para qualquer ser humano comum, podem se orgulhar de possuir a verdadeira Cabala em um livro só de tal clara e distinta linguagem.

Depois de ler atentamente este livro, aqueles que já têm um bom conhecimento da Cabala admitirão que devem trabalhar muito até poderem se chamar de verdadeiros cabalistas. Numa madura consideração, o leitor pode se convencer dos inúmeros ensinamentos incompletos até então e começar com os métodos descritos nesta obra.

Na história humana, muitos cabalistas devotaram suas vidas à incansável busca (porém, sem resultados) pelo nome impronunciável de Deus, perdido pela humanidade nos dias antigos. Tendo conseguido ultrapassar esse trabalho com consciência, o cabalista terá rapidamente a impressão de que um milagre, um imenso tesouro foi posto em suas mãos pela Divina Providência, quando, como prêmio às suas tentativas incansáveis e honestas, o verdadeiro nome de Deus, à parte de muitas outras coisas, será revelado a ele espontaneamente. E esse prêmio extremamente alto está sendo dado para todos os verdadeiros buscadores da verdade, para os quais os três volumes, que são incomparáveis na literatura oculta, não são apenas leitura interessante, mas um impulso de valor na direção da prática da Magia e da Cabala.

 

 

Otti Votavova

 

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INTRODUÇÃO

 

Ao meu terceiro volume de iniciação ao Hermetismo eu dei o título de A Chave para a Verdadeira Cabala, o que é, estritamente falando, um estudo que lida com o Conhecimento da Palavra. Ao entrar no compromisso com a Teurgia, o indivíduo deve, em qualquer caso, ter trilhado o caminho do desenvolvimento mágico, isto é, o aluno deve ter ao menos completado as práticas descritas no meu primeiro volume, Iniciação ao Hermetismo[1]. Como meus primeiros dois trabalhos, o presente livro também consiste de duas partes. Em sua primeira parte, a teoria, eu preparo o leitor para o difícil campo da Cabala, enquanto a segunda parte contém a prática.

Muito tem sido escrito sobre a Cabala, uma parte difícil na literatura hermética, mas, na prática, apenas de pouco pode ser tirado proveito. Quase sempre é dito que os estudantes da Cabala devem ter domínio da língua hebraica, sem a qual seria impossível estudá-la. A Cabala acadêmica, na maioria dos livros, é usualmente de origem hebraica e encarrega o estudante de uma filosofia de vida perfeita, nos modos da Cabala. Contudo, o número de livros indicando a prática e o uso da verdadeira Cabala é muito limitado. Alguns clérigos judeus (rabinos) tinham o conhecimento da Cabala, mas, provavelmente devido ao seu pensamento ortodoxo, o mantiveram confidencial, razão pela qual nem fragmentos das práticas cabalísticas se tornaram conhecidas ao público.

As muitas descrições cabalísticas nem mesmo oferecem alguns detalhes teóricos ao estudante seriamente interessado, para não dizer nada de dicas verdadeiras para a prática. Elas apenas suprem, na maioria das vezes, uma representação filosófica do micro e do macrocosmo. O estudante de Cabala não consegue ter qualquer idéia da filosofia da vida cabalística no todo, primeiro porque não conseguirá ver esse caminho na grande confusão de idéias e segundo porque, de outro modo, ele será deixado nas sombras devido às declarações contraditórias feitas em diferentes livros.

Este volume contém a teoria, bem como a prática, a última sendo especialmente ampla, como o estudante diligente de Cabala verá por si mesmo. Representar a Cabala de forma inteira e compreensiva em um livro é, claro, impossível por meras razões técnicas. Porém, eu tomei as dores para juntar as pérolas dessa ciência maravilhosa até formar uma corrente extremamente bela. Fazendo isso, tomei naturalmente como base as leis das analogias no que se refere ao micro e ao macrocosmo, porque isso não poderia ter sido feito ao contrário, se o aspecto total da Cabala deveria ser feito sem quaisquer brechas. Eu faço uso mínimo, se possível, dos numerosos termos hebraicos que têm sido comumente usados na Cabala até agora e preferi termos que fossem facilmente entendidos

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por todos. De qualquer idade, o leitor estudando o meu livro terá uma idéia bastante diferente, isto é, a idéia correta da Cabala Prática.

Aquele que quiser ter sucesso em se convencer da realidade da Cabala na prática deverá percorrer os caminhos dos meus dois primeiros livros, Iniciação ao Hermetismo e A Prática da Evocação Mágica sistematicamente. De outra maneira, o treinamento para alcançar a perfeição demoraria muito tempo e qualquer sucesso se verificaria tarde demais. Porém, é dada a escolha aos meus leitores de estudar meus livros de modo teórico. Fazendo isso, ele conseguirá um conhecimento que ele não poderia obter de qualquer outro livro filosófico. Mas o conhecimento não é, ainda, a sabedoria. O conhecimento depende do desenvolvimento das habilidades intelectuais do espírito; a sabedoria, por outro lado, necessita do desenvolvimento equilibrado de todos os quatro aspectos do espírito. Portanto, o conhecimento é mera filosofia, que sozinha não pode formar nem um Mago nem um Cabalista. Um homem estudado será apto a dizer muito sobre Magia, Cabala e etc., mas nunca poderá entender os poderes e as faculdades de forma correta.

Com essas poucas palavras, eu expliquei ao leitor a diferença entre o filósofo e o sábio. É escolha dele seguir um caminho mais conveniente de mero conhecimento ou proceder através do mais árduo caminho da sabedoria.

Até as pessoas primitivas, não importa a qual raça pertenciam e em qual parte do mundo habitaram, tinham sua religião especial, isto é, uma idéia de Deus, e consequentemente algum tipo de teologia. Cada uma dessas teologias foi dividida em duas partes: uma exotérica e uma esotérica, o conhecimento exotérico de Deus sendo o conhecimento para as pessoas comuns e o conhecimento esotérico sendo a teologia dos iniciados e altas sacerdotisas. O conhecimento exotérico nunca conteve nada de verdadeira magia ou Cabala. Contudo, apenas magos e cabalistas poderiam ser os iniciados das pessoas primitivas.

Desde os dias antigos, houve o mais sagrado comando de se manter essa sabedoria estritamente confidencial; primeiro, para manter a autoridade; segundo, para não perder o poder para as pessoas e, terceiro, para prevenir abusos. Essa tradição foi mantida até os dias atuais, e, ainda assim, meu livro dará o conhecimento completo para meu leitor; esse conhecimento apenas o instruirá, mas nunca dará a ele a sabedoria. Ele terá de se esforçar pela última através de trabalho prático e sincero. O estágio da sabedoria que ele conseguirá alcançar dependerá de sua maturidade e de seu desenvolvimento pessoal. Meu livro tornará a mais alta sabedoria acessível apenas àqueles realmente maduros, isto é, para os iniciados, embora deixe um grande abismo entre o estudado e o sábio e não ultrapasse os domínios do silêncio, apesar da publicação das mais altas verdades e segredos. Para o homem instruído, a sabedoria sempre permanecerá oculta; ela será apenas permitida ao iniciado.

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A ciência da Cabala, i.e., a Teurgia, é muito antiga e tomou seu lugar no Oriente. Os sábios da aurora da história traduziram os maiores segredos para a linguagem universal, a linguagem metafórica, como pode ser visto nos hieróglifos dos Antigos, os egípcios, e por aí vai. Os antigos sábios podiam apenas passar sua sabedoria na linguagem metafórica, i.e., num estilo simbólico. A absorção dessa sabedoria, então, sempre dependeu do estado de maturidade do estudante. Toda a sabedoria oriental foi traduzida única e exclusivamente para a linguagem simbólica. Essa sabedoria se manteve secreta para o imaturo ou, em outras palavras, para às pessoas que não alcançaram o estado necessário de maturidade ao desenvolverem suas individualidades sob a tutela de um mestre, um guru. É por isso que, até hoje, todos os verdadeiros livros da iniciação concordam uns com os outros no ponto que se refere à instrução através de um guru, e dizem ser o caminho impossível, até perigoso, sem um mestre. Um verdadeiro iniciado tinha de explicar os significados simbólicos dos escritos para seu estudante gradualmente, de acordo com o desenvolvimento do mesmo, ao mesmo tempo que o ensinava a linguagem metafórica ou simbólica. O estudante logo se habituava à linguagem de seu mestre e era somente apto a passar a sabedoria nesta linguagem simbólica.

É por causa disso que, até os dias atuais, esta ciência sagrada passou de um a outro meramente pela tradição. Qualquer explanação que um mestre dava a seu estudante era transmitida por inspiração, de forma que facilmente se tornava claro ao aluno o que o mestre queria ensiná-lo. Essa iluminação, i.e., a iniciação, tinha um número de nomes no Oriente, por exemplo, “abhisheka”, “angkhur”, etc. Nunca um mestre revelou os mistérios verdadeiros da sabedoria para o pobremente preparado ou para o imaturo. Houve, sem dúvidas, também magos e cabalistas que deixaram para trás alguns escritos sobre a sabedoria mais alta. Contudo, como já mencionado, as altas sabedorias eram escritas na linguagem simbólica e se, por acaso, viessem a cair nas mãos de uma pessoa imatura, permaneceriam inexplicáveis a este. Porém, algumas vezes acontecia que uma pessoa imatura tentava explicar essas sabedorias de seu próprio ponto de vista. Uma explicação como essa estava distante de qualquer interpretação verdadeira. A maioria dos escritores que conseguiu os ensinamentos escritos deixados  pelos iniciados do Oriente incorreu no mesmo erro, i.e., traduziu esses escritos para a linguagem do intelecto, interpretando-as literalmente. Sendo que não havia normalmente alguém maduro o suficiente para interpretar corretamente os símbolos de um mistério ou de uma prática, devido à falta de treinamento necessário e de verdadeiro entendimento da linguagem cósmica ou metafórica, esses escritores causaram numerosos erros sobre o hermetismo. Nos dias de hoje, dificilmente alguém poderia imaginar quantas práticas absurdas têm sido publicadas em línguas civilizadas.

Neste livro, eu transformei a linguagem simbólica na linguagem do intelecto, tornando acessível o caminho à verdadeira hermética, à

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Cabala, i.e., o mistério da palavra, de maneira que o iniciado possa seguramente proceder.

 

O Autor

O Simbolismo da Terceira Carta de Tarô

 

A figura na próxima página é a representação gráfica da Terceira Carta do Tarô.

O primeiro (ou mais exterior) círculo tem dez seções simbolizando as dez chaves cabalísticas. Essas dez chaves cabalísticas (ver seu simbolismo de cores) são idênticas às dez Sephirot judaicas.

Sendo que essas dez chaves, ou Sephirot, são compostas do conhecimento do universo inteiro com todos os seus modos de existência, métodos e sistemas, elas são colocadas no círculo exterior.

O fato é que essas dez chaves se referem tanto ao micro quanto ao macrocosmo, tornando-se evidente que o segundo círculo reflete os signos do zodíaco do universo inteiro, de novo em simbolismo de cores relevante.

O terceiro círculo (ir de fora para dentro) é o círculo planetário, que é identificado pelos símbolos dos planetas e suas cores análogas.

Todos os três círculos englobam um largo quadrado simbolizando os quatro elementos representados em seu simbolismo de cores relevante. Esse quadrado, indicando a realização dos elementos, simboliza o mundo material.

O quadrado menor, interior, significa o mistério tetragrammatônico, o Jod-He-Vau-He ou a Chave Cabalística Quádrupla necessária para se dominar os elementos e suas influências.

O sol no centro da figura representa a Divina Providência, o princípio do Akasha, a origem de tudo que existe.

Não apenas o homem (isto é, o microcosmo), mas também o inteiro macrocosmo é graficamente representado por essa figura. Mais adiante, todas as chaves podem ser desenhadas nela, a chave quádrupla sendo especialmente dominante, por ser a chave para a realização, a materialização das coisas. Tudo que o cabalista nos

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ensina, isto é, seu sistema inteiro, todas as analogias, seguem claramente essa figura e seu simbolismo claro. O cabalista meditativo irá, consequentemente, deduzir todas as analogias da Terceira Carta do Tarô.

Parte I

- TEORIA -

 

A Cabala

 

A Cabala é a ciência das letras, a ciência da palavra e da linguagem, não, porém, do intelectual, mas – preste atenção – a linguagem universal. O termo “Cabala” deriva do hebraico. Alguns sistemas religiosos têm diferentes termos para essa ciência. Dessa maneira, por exemplo, na Índia e no Tibet, a ciência das palavras é chamada “Tantra”. E, novamente, em outros sistemas religiosos eles falam de “fórmulas”, e por aí vai.

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Neste trabalho eu mantenho o termo “Cabala”. Falar cabalisticamente é formar palavras de letras; palavras análogas a esta ou aquela idéia de acordo com as leis universais. O uso da linguagem cabalística tem de ser treinada de forma prática. Cabala, portanto, é a linguagem universal pela qual tudo foi criado, e é a encarnação de uma ou várias idéias divinas. Por meio da Cabala, ou seja, a linguagem universal, Deus criou tudo. O evangelista São João, na Bíblia, também referiu-se à cabala quando disse, “No início havia o Verbo; e o Verbo estava com Deus”. Relacionado a isso, São João claramente diz que Deus fez uso da Palavra a fim de criar, por meio Dela, para fora de Si mesmo.

Apenas aquele que é verdadeiramente apto a materializar a divindade de tal modo que falará, para fora de si mesmo, como uma Divindade em acordo com leis universais, poderá ser referido como verdadeiro cabalista. O cabalista praticante, portanto, é um teurgista, um Deus encarnado, capaz de aplicar as leis universais no mesmo modo que o Deus macrocósmico.

Justo como o mago que, logo após sua iniciação e desenvolvimento pessoal através da perfeição, realizou a conexão com sua Divindade, com a qual pode agir de acordo, o cabalista pode fazê-lo, também, com a única diferença de que o cabalista estará fazendo o uso da Palavra Divina ao expressar seu espírito divino externamente. Cada verdadeiro mago que tenha comandado as leis universais poderá tornar-se um cabalista, apropriando para si o conhecimento da cabala prática. As estruturas da Cabala, citadas em numerosos livros, certamente servem ao teórico que deseja uma idéia dos princípios, mas elas são profundamente insuficientes para a prática, que promete a correta aplicação dos poderes da palavra.

Isso claramente mostra que um cabalista perfeito deve ser um homem conectado a Deus, um homem que tenha concretizado Deus dentro de si e quem, sendo um Deus encarnado, faz uso da linguagem universal materializando tudo que diz no exato momento em que ele diz. Se, em qualquer esfera, ele quiser que sua linguagem seja materializada, ela será materializada. Na Índia, por exemplo, um homem que pode na hora materializar cada palavra que ele diz é chamado de “Wag”. Na yoga Kundalini esse poder e habilidade é identificada com o centro Visuddha. Um cabalista perfeito conhece as regras da Palavra micro e macrocósmica, pela qual a lei da Criação pela Palavra é mantida, e ele também sabe o que a verdadeira harmonia é. Um genuíno cabalista nunca violará as leis da harmonia, desde que ele está representando – com sua linguagem microssísmica – a Divindade. Se ele age contrariamente às leis da harmonia, ele não seria um genuíno cabalista e sim um charlatão. Do ponto de vista hermético, o corpo de um cabalista, ou teurgista, uma representação da Divindade macrocósmica em nosso globo. Tudo que ele fale na linguagem original, como representante de Deus, é realizado, porque ele tem o mesmo poder que o Criador, Deus, tem.

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Para alcançar essa maturidade e abrangência de iniciação cabalística, o teurgista deve primeiro aprender as letras do alfabeto como uma criança. Ele deve possuir um completo comando delas de forma que consiga formar palavras e sentenças com elas e então falá-las, eventualmente, na linguagem cósmica. A prática envolvida nisso se encontra na parte prática deste livro.

Qualquer pessoa pode se ocupar com a verdadeira cabala, teoricamente, bem como praticamente, não importa a qual sistema religioso ele possa aderir. A ciência cabalística agora não é mais privilégio para pessoas que professam o sistema religioso hebreu. Os hebreus dizem que a cabala é de origem hebraica, mas no misticismo hebreu o conhecimento da cabala é de origem do Antigo Egito. A história da cabala hebraica, sua origem e desenvolvimento, etc., está para ser achada na literatura do assunto, porque muito já foi escrito sobre esse campo.

Em meu livro, a síntese da cabala é tratada a tal ponto que é absolutamente necessária para a prática. Eu me abstenho de todos os fardos desnecessários de história e outras estruturas de filosofia cabalística.

O termo “cabala” tem frequentemente sido abusado, ao ser degradado ao nível de brincadeiras com números, previsões de horóscopo, analogias de nomes e vários outros propósitos adivinhatórios. Embora números tenham uma certa relação às letras, como o leitor será capaz de ver na parte prática deste livro, este é um dos mais baixos aspectos da cabala com o qual não queremos lidar aqui. A verdadeira cabala não é ciência adivinhatória que faz a previsão do futuro possível, nem é um facilitador astrológico para a interpretação de horóscopos ou um anagrama, nome construído capaz de ajudar em previsões.

Sendo que a verdadeira cabala, quando aplicada corretamente, representa as leis universais, as analogias relevantes de harmonia de acordo com as analogias cósmicas são, até certo ponto, possíveis. Isso, porém, é previsão de futuro ordinária e não tem nada a ver com a verdadeira ciência da linguagem universal.

O leitor concordará que essa ciência é a mais sagrada e nunca ousará degradar as leis universais para usá-las em simples propósitos adivinhatórios. Cada sistema religioso tem sua genuína cabala que foi sendo perdida devido às várias reformas dos sistemas religiosos; ela está sendo completamente mantida apenas no Oriente. Os antigos celtas e druidas também tinham sua cabala genuína, a qual era bem conhecida pelos sacerdotes druidas. O uso prático da magia rúnica pelos sacerdotes dos templos druidas se origina de seu antigo conhecimento da cabala. Hoje há, infelizmente, apenas poucas pessoas que compreendem a cabala rúnica dos antigos druidas e

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sabem aplicá-la praticamente. A cabala rúnica prática foi sendo perdida completamente durante o passar dos tempos.

 

O Homem Como Um Cabalista

 

Em meu primeiro volume, “Iniciação ao Hermetismo, eu dividi o homem em três regiões – em corpo, alma e espírito – e lá eu também mencionei o magneto quadripolar. É claro para o estudante meditativo que o corpo mental é conectado ao corpo astral pela matriz mental e que a matriz astral mantém os corpos mental e astral juntos com o corpo material. É certamente também muito claro a ele que o corpo físico é mantido vivo por comida (matéria condensada constituída pelos elementos), e que o corpo astral é mantido pela respiração. A faculdade perceptiva dos sentidos é amarrada aos corpos material e astral pela matriz mental. O futuro cabalista deve saber tudo isso bem e deve, nessa conexão, ser capaz de adquirir uma idéia clara do processo em seu próprio corpo se ele realmente quer prosseguir na cabala. À parte desse conhecimento fundamental, o cabalista precisa procurar um relacionamento mais profundo ao seu próprio ser, e essas relações profundas são realmente fundamentais para se estudar cabala.

O funcionamento e o mecanismo entre corpo, alma e espírito vem a acontecer automaticamente em cada ser humano, não importa se ele foi iniciado nos segredos da ciência hermética ou não. Para o cabalista esta é apenas a “tabuada”: ele conhece todos os processos e, por causa disso, é apto a organizar sua vida de acordo com as leis universais.

O conhecimento distingue o iniciado do não-iniciado, porque o iniciado, tendo aprendido as leis, sabe como fazer uso prático delas e pode balancear qualquer desarmonia entre corpo, alma e espírito. Em adição a isso, o iniciado, por sua atitude consciente no que tange às leis universais, é capaz de liderar uma vida sensível de acordo com essas leis universais e de proceder ainda mais sobre o caminho da perfeição. Quando isso é olhado por esse ângulo, reconhece-se que a iniciação é algo bastante especial, ao oferecer uma visão de vida particular, porque o iniciado olha para o mundo com olhos muito diferentes que todas as outras pessoas. As várias pancadas do destino às quais um iniciado pode ser exposto nunca poderão atingi-lo com muita força, e ele nunca sofrerá tanto. Uma pessoa pode perceber isso facilmente ao considerar o que foi dito acima.

Do ponto de vista cabalístico, o homem é uma perfeita incorporação do universo, porque ele foi feito à imagem de Deus. O homem é o mais alto ser na nossa terra e tudo que toma lugar no

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universo em larga escala também toma lugar no homem em pequena escala. Visto do ângulo hermético, o homem representa o mundo em miniatura, isto é, o microcosmo, em contraste com o universo, o macrocosmo.

Um cabalista verdadeiro, que realmente deseja trabalhar de forma prática em conformidade às leis universais, i.e., que quer participar ativamente no Grande Trabalho, deve ter se submetido, de qualquer maneira, a um desenvolvimento mágico e deve proteger as idéias genuínas em acordo com as leis universais. Aquele que ficará feliz com a mera teoria absorverá conhecimento cabalístico e, por conseqüência disso, enriquecerá os traços intelectuais do espírito, mas os outros três princípios fundamentais do espírito serão deixados para trás. Um teórico nunca poderá a obter a essência do conhecimento, para não dizer nada sobre sua falta de habilidade para conseguir quase qualquer coisa. Ele pode se tornar um filósofo cabalista se ele for intelectualmente talentoso, mas nunca um cabalista genuíno e magicamente treinado, cujas palavras pronunciadas se tornam realidade. Um teórico pode se tornar um cientista, mas nunca um sábio. A diferença entre um homem estudado e um sábio é enorme. O mago, devido ao seu desenvolvimento mágico, materializa suas intenções pelo poder de sua vontade, mas devido aos seus laços a Deus ele não pode fazer mesmo uso das palavras mágicas com o cabalista pode. Um mago que não é engajado na cabala prática pode usar os poderes que desenvolveu para si, e, além disso, é capaz de chamar diversos seres para ajudá-lo com seu trabalho, mas um cabalista consegue tudo através de suas palavras cabalísticas, sem a ajuda de seres, espíritos, e etc.

Então, do ponto de vista hermético, um cabalista genuíno é o mais alto iniciado, porque ele age por Deus no mundo em miniatura, o microcosmo e, aplicando as leis da analogia, pode tornar-se ativo também no macrocosmo. Esta é a diferença entre o mago e o cabalista, e por conseqüência disso qualquer pessoa que se esforce por perfeição quererá se ocupar, na prática, com a cabala. Um cabalista tomando parte no Grande Trabalho é normalmente selecionado pela Providência Divina para ser encarregado de certas missões. O cabalista genuíno deste modo é um representante da Criação, mas ele continua sendo o mais obediente servo das leis universais; quanto mais ele se torna um iniciado, mais humilde ele é diante da Providência Divina. Ele, embora possua o maior dos poderes, nunca o usará para seus propósitos, e sim para o bem-estar da humanidade. O genuíno cabalista é o mais alto iniciado, para o qual nada é impossível, e cada palavra que pronuncia será transformada em realidade sem exceções.

Finalmente, eu gostaria de apontar novamente a diferença entre um perfeito iniciado e um santo. O mago verdadeiro não precisará dessa explicação, porque ele será capaz de entender tudo a

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partir do que foi dito aqui. A aqueles leitores, porém, que leram os meus livros só teoricamente, pode-se dizer que um ser humano perfeito adere a todas as leis universais, e em tempo as leva em consideração no macrocosmo bem como nos planos material, astral e mental e vive por essas leis, enquanto o santo é apenas interessado num sistema religioso particular, não mantendo paz e equilíbrio iguais em todos os lugares, i.e., em todas as esferas. A pessoa que apenas se esforça por atingir a santidade normalmente negligencia o corpo e o mundo material, observando os dois como maya, uma ilusão, e percebe, após treinamento relevante, que dentro dele se desenvolveram pouquíssimos aspectos das leis universais. Tais pessoas conseguem atingir o que desejam nos aspectos que puseram a si mesmos como “metas”, como possuir o aspecto divino da caridade, da piedade, da gentileza, etc., coisas que conseguem realizar dentro de si mesmos. Essas pessoas, portanto, vêem as leis universais apenas do ângulo de seu treinamento mental, e não são capazes de compreender um quadro completo do sistema de leis universal, nem conseguem interpretá-lo. Do ponto de vista hermético, tal caminho não é observado como “perfeito” e é designado de “o caminho da santidade”. Um verdadeiro iniciado, um cabalista, por outro lado, buscará reconhecer todos os aspectos divinos de forma igual e tentará desenvolvê-los gradualmente. Esse modo, é claro, é mais longo e mais árduo e, normalmente, uma encarnação não é suficiente para completá-lo. A coisa mais importante ao iniciado é estar consciente de estar procedendo pelo caminho correto.

No caminho em busca da perfeição não deveria haver qualquer pressa. Tudo leva tempo e precisa da maturidade necessária para sua perfeição. Do ponto de vista hermético existem apenas dois caminhos: o caminho para a “santidade” e o caminho para a “perfeição”. O caminho da santidade tem tantos sistemas quanto há religiões nessa terra. Aquele que escolhe o caminho da santidade decide concretizar em si mesmo apenas um ou alguns aspectos divinos e é normalmente visto como um símbolo relativo à idéia divina em questão. Com muito poucas exceções, sua santidade então se torna um obstáculo em seu caminho, considerando o mundo ou os seres humanos menos maduros, porque, por causa de sua devoção de seus discípulos, adoradores, seguidores, etc., ele é frequentemente impedido de sua missão, tarefa e elevação.

Eu não quero lidar aqui com aquele tipo de pessoa que conscientemente se decoram com uma auréola, afim de serem respeitados, adorados, seguidos, etc. Infelizmente, existe um grande número de pessoas nesse mundo. Um verdadeiro santo entrega-se à solidão, enquanto um hipócrita se mostra com sua auréola. Mas aquele que segue o curso para a perfeição nunca buscará solidão; ele permanecerá no lugar que a Providência Divina separou para ele e continuará trabalhando em seu desenvolvimento pessoal sem atrair a atenção dos outros. Ele nunca fará a mínima coisa para mostrar seu estado de maturidade ao mundo externo. No contrário, ele tentará

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evitá-lo para não ser perturbado por pessoas curiosas e imaturas. Isso mostrará que há também uma grande diferença na atitude e comportamento de um santo e de um ser humano perfeito. O santo perderá sua individualidade tão logo que alcançou sua meta; mas esse não é o caso com o ser humano perfeito. Não digo da individualidade como pessoa estar em risco, e sim da individualidade como um Deus encarnado.

 

As Leis da Analogia

 

As leis da analogia têm grande significância em todos os verdadeiros sistemas religiosos, incluindo a ciência hermética, e portanto representam o mais importante papel. No universo, tudo foi criado sob leis estritas, e é por isso que tudo se encaixa mutuamente com impressionante precisão, como num relógio muito preciso. Na ciência hermética, o estudo da aplicação prática desse conjunto de leis é chamado de “cabala”. Qualquer sistema hermético e seu método, ou qualquer filosofia ou religião ou sistema religioso, que não levam em conta as leis universais, ou apenas parte delas, é parcial e imperfeito. Sistemas religiosos que compreendem apenas um aspecto da lei e negligenciam todos os outros aspectos, ou até se opõem a eles, podem possuir apenas uma curta duração, embora sua queda possa não vir depois de centenas ou de milhares de anos. Apenas os sistemas religiosos que levam em conta as leis universais absolutas serão duráveis e durarão eternamente.

Todas as idéias originais, por exemplo, harmonia absoluta, ordem, periodicidade, etc., podem ser refletidas na absoluta legalidade das leis universais.

O leitor atento não pode deixar de notar que, já no meu primeiro livro, “Iniciação ao Hermetismo”, eu ilustro um sistema para o desenvolvimento do corpo, alma e espírito baseado nas leis universais, as quais representam o primeiro passo da iniciação no caminho da perfeição. Como pode ser concluído das leis absolutas, a iniciação verdadeira não é um privilégio de seitas nem é dependente de qualquer crença religiosa. Não é preciso mencionar que a compreensão das leis fundamentais, isto é, as leis universais, necessita um equilíbrio em todos os três planos. Aquele que estritamente adere às leis universais em todos os três planos, que as compreende claramente e as domina completamente, não é apenas mestre de seu próprio mundo em miniatura mas também mestre do universo. A iniciação prática  conduz para essa meta e para, especialmente, o conhecimento da cabala.

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Na parte prática deste livro, eu publiquei um sistema que lida com a prática da cabala em estrita concordância com as leis universais. Esse sistema prático de cabala têm existido por milhares de anos e já foi ensinado de boca à orelha nos dias antigos, e depois foi passada nas escolas dos profetas e nos templos de iniciação de várias pessoas e raças. Sabendo as leis da analogia, o iniciado pode relacionar essas leis a qualquer ciência, e ele sempre acertará. Se, por exemplo, um doutor é um hermetista, ele poderá trazer seu conhecimento em conjunto com as leis universais e, usando a analogia, não apenas achará a desarmonia (i.e., doença) e sua causa, mas também prescrever o remédio para a remoção do “ninho” (local ou centro da doença) pela ajuda da chave de analogias. Com essas possibilidades únicas em mente e o fato de que estão abertas para o iniciado, pode ser de valia não fazer bem só a si mesmo, mas também se tornar ativo em favor da humanidade que sofre. A mesma chave de analogias pode ser usada em qualquer outro campo e rende bom serviço tanto para o indivíduo tanto para a raça humana.

A expressão “caos”, que as pessoas gostam de usar, é apenas um termo de ignorância. Na verdade, Deus, o Criador mais alto imaginável, formou tudo precisamente e legalmente em concordância com Seus princípios, e é nessa legalidade e em todos os seus aspectos que podemos reconhecer Deus mais facilmente. Deus, como o princípio universal, é o Ser Supremo, é incompreensível e inimaginável. Apenas de seu processo de criação do universo, ou seja, de Seus trabalhos, pode alguém fazer conclusões análogas para obter,  pelo menos, alguma idéia da grandeza e eminência de Deus.

Rabinos hebreus, no Livro da Criação, “Sefer Jezirah”, tentaram descrever a cabala, i.e., a legalidade da criação. Embora o “Sefer Jezirah” seja de origem hebraica, isso não significa que outras pessoas não tentaram descrever as leis universais de criação também. Como no livro “Sefer Jezirah”, nós encontramos a história da criação descrita também, de acordo com as leis universais, no Bhagavad Gita. Também outros documentos, passados por tradição, construções históricas, monumentos, etc., deram evidência escrita e visual às leis universais da criação. No Egito, por exemplo, Hermes Trismegisto já sabia da história da criação e das leis universais, que ele perpetuou na Tábua de Hermes com o ditado “O que está acima é como o que está embaixo”. Hermes, dessa forma, dá claro testemunho do fato de que, o mundo em miniatura, o homem, foi criado analogamente ao mundo maior, o universo. Exemplos inumeráveis poderiam ser declarados sobre as analogias das leis universais, mas essas dicas devem bastar.

A maioria das analogias são tratadas na parte prática deste livro, no qual é dada ao cabalista a exata informação com a qual, de acordo com as leis universais, ele obtém um comando perfeito da linguagem genuína do micro e do macrocosmo e como ele aprende

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essa aplicação prática. No corpo humano, as analogias se tornam claras e elas podem ser identificadas por números.

O fato de que o homem tem exatamente dez dedos da mão e dez dedos do pé, e não seis, ou três, também representa uma analogia com a qual eu trato em detalhes nesse livro mais tarde. O mesmo é verdadeiro para com todas as outras analogias que o leitor pode achar, por exemplo, no livro “Sefer Jezirah”, e as analogias teóricas deverão ser negligenciadas, mas também levadas em conta. Na parte prática deste livro eu também discutirei profundamente, no ponto de vista do esoterismo, as letras individuais que se relacionam aos mundos mental, astral e material, as quais não só são representadas em números, mas também em números e idéias.

O indivíduo experiente na cabala se torna familiar com um diferente tipo de matemática e será capaz de expressar idéias através de números e, o contrário, converter números em idéias e, mais adiante, traduzi-las para números e convertê-los em letras. Ao fazê-lo, a ele se torna possível conhecer a si mesmo, e conhecer também a Deus. O cabalista compreenderá a perfeição das leis; perceberá que o bem e o mal, tomados literalmente, são apenas expressões religiosas, mas, na verdade, ambos princípios, i.e., o positivo e o negativo, são necessários, porque um não pode existir sem o outro. O cabalista sempre tenderá ao bem e nunca desdenhar o negativo, mas sim aprender a dominá-lo, porque nenhuma coisa inútil foi criada pelo Criador.

 

Os Segredos das Letras

 

        O mistério da palavra, ou, falando de forma mais inteligente, o mistério do conhecimento da palavra e seu uso genuíno, requerem a mais alta forma de iniciação que existe. Durante todo o tempo, aquele que era chamado “mestre da palavra” sempre foi o mais alto iniciado, o mais alto sacerdote, o verdadeiro representante de Deus. Cada sistema religioso, cada iniciação considera o conhecimento da palavra como o mais alto de todos. Até se considerando Jesus, sabemos que seu favorito discípulo, João, ocupava-se com a palavra, e portanto com a cabala, que eventualmente é descrita em seu evangelho, como dito antes, você pode ler literalmente: “No início havia a Palavra [o Verbo] e a Palavra estava com Deus”, etc. Nenhum outro discípulo de Cristo foi tão profundamente iniciado no mistério da palavra como foi São João. Sendo o “mestre da palavra”, ele era capaz de concretizar os maiores milagres, e como o próprio evangelho diz, o discípulo foi o único que morreu de morte natural. Ele só pôde morrer dessa maneira porque ele era um cabalista, um perfeito mestre das palavras. Todos os outros discípulos morreram

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como mártires. Como a tradição nos conta, muitos outros iniciados já foram mestres da palavra milhares de anos antes de São João.

        Cada palavra consiste de letras e cada letra, do ponto esotérico de vista, expressa uma idéia e portanto algum tipo de poder, qualidade, etc., a qual, porém, pode não apenas ser expressada apenas por letras, mas também por números análogos à lei universal. Portanto, as leis são compreendidas por números, e as idéias anunciam-se através de letras. O significado de cada letra é análogo aos três mundos conhecidos por nós. Como o cabalista é capaz de expressar o sentido de uma idéia através das letras, e como ele conhece muito bem cada número relevante a alguma idéia, as letras têm um significado bem diferente para ele do que na linguagem intelectual. Portanto, sob as leis universais, as letras ganham um significado cabalístico. Esse conhecimento das leis universais torna possível ao cabalista expressar várias linhas de pensamento pelas letras, e também pelos números análogos a elas. Uma palavra, que tem referência às leis absolutas e que é composta em analogia às letras relevantes e seus números, é uma palavra cabalística; isto é, uma palavra expressada na linguagem cósmica ou universal. Para ser capaz de formar uma palavra cabalística, o indivíduo deve conhecer precisamente a analogia completa das letras e dos números.

        Na parte prática deste livro, o cabalista será ensinado a usar exatamente qualquer palavra composta de acordo com as leis universais com relação aos mundos mental, astral e material e com relação aos elementos. Ele aprenderá a expressar palavras, e consequentemente também frases, não apenas intelectualmente, ou seja, através de sua inteligência, mas também através de sua inteira personalidade. Apenas uma palavra expressada de tal forma terá um efeito de criação. A correta pronunciação das letras no espírito, na alma e, mais tarde, no corpo, é a base verdadeira do misticismo cabalístico e prático.

        Para que se torne efetivo criativamente, o cabalista deve aprender a falar como uma criança que apenas balbucia no começo e depois aprende a pronunciar letras e palavras. As letras têm sua significância análoga nos mundos mental, astral e material e também nos vários planos e hierarquias, e o cabalista deve aprendê-las e finalmente ter comando sobre elas.

        Dessas palavras, pode-se ver que o teórico, que é capaz apenas de pensar intelectualmente e que compreende as letras, palavras e sentenças com seu intelecto, nunca poderá se tornar um cabalista genuíno. De acordo com seu grau de maturidade, ele será capaz de compreender a cabala meramente do ponto de vista intelectual, ou filosófico. O cabalista prático, porém, conseguirá compreender e fazer uso dos significados de cada letra, de sua idéia e legalidade (número).

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        O estudo da cabala começa com os segredos das letras. Quando criou idéias para fora de Si Mesmo e as arranjou de acordo com as leis universais, Deus formou as letras, e com as letras os números, que têm uma conexão mútua exata e análoga e representam o universo por inteiro do mais alto até o mais baixo. A declaração de Hermes Trismegisto de que “o que está acima, também está abaixo” parece bastante razoável do ponto cabalístico de vista. As letras que Deus usou para criar de dentro de Si Mesmo, as idéias que o satisfizeram, são claramente explicadas no Livro da Criação, no Sefer Jezirah.

        Nesse ponto da criação, sobre todas as coisas, dez idéias principais surgiram, as quais, na cabala, são refletidas pelo assim chamado Sephiroth. O número dez, por exemplo, é um reflexo de Deus na sua mais alta forma e mais baixa emanação. Conhecendo as leis das analogias, o cabalista compreenderá o que eu quis dizer ao apontar que, em relação às dez idéias principais, o homem tem dez dedos da mão e dez dedos do pé. Já nesse ponto, o cabalista presumirá uma certa relação ou uma conexão análoga entre as idéias divinas principais e o Sefer Jezirah. O fato de que cada número  matemático em nossa terra pode ser reduzido aos números 1 a 9 por adição dos algarismos tem também uma coerência cabalisticamente análoga. Na cabala hebraica, por exemplo, as combinações de números eram conhecidas como “gematria”. Porém, eu devo apenas mencionar as coisas essenciais que são necessárias para a aplicação prática do misticismo cabalístico, i.e., para o uso da palavra cabalística. Aquele que se encontra ansioso para aprender sobre as combinações numéricas especiais relativas aos versos na literatura hebraica pode, se ele desejar, consultar a literatura relevante às combinações numéricas.

[1]              No Brasil publicado sob o nome “Magia Prática – O Caminho do Adepto”, pela Editora Ground. [N.T.]