a chave de jacob böehme

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  • 7/29/2019 A Chave de Jacob Behme

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    A Chave de J acob Behme

    Introduo

    Jacob Behme (1575 - 1624), "O Tesofo Alemo" cuja vida criativa abarcou o

    perodo Rosacruciano; foi um mstico cujo discernimento muito contribuiu para

    estabelecer uma interpretao espiritual da alquimia. Embora tenha sido um

    sapateiro sem instruo, Behme possua um alto grau de percepo mstica dos

    mundos espirituais e para expressar suas experincias interiores decidiu revesti-

    las de termos alqumicos. Behme teve uma profunda influncia sobre idias

    teolgicas e esotricas, particularmente entre o fim do sculo XVII e incio do

    sculo XVIII, contudo, o seu sistema esotrico-filosfico da teologia continua

    inspirando a muitos nos dias atuais.

    Behme teve uma origem familiar relativamente humilde. Nasceu em 1575 em um

    povoado da Antiga Seidenburg e foi trazido para a Lusatia Superior nas

    adjacncias da Bohemia nas ltimas dcadas do sculo XVI. Era um aprendiz de

    sapateiro, estabelecendo-se posteriormente como um prspero cidado perto da

    cidade de Gorlitz.

    Quando ainda era um jovem aprendiz de sapateiro trabalhando na oficina de seu

    mestre, encontrou um misterioso estranho que teve um profundo impacto em sua

    vida.

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    Palmer Hall assim conta esta histria:

    "Um dia enquanto tomava conta da oficina de seu mestre, um misterioso estranho

    entrou. Embora parecesse ser possuidor de nada mais do que alguns pequenos

    objetos mundanos, mostrava-se ser o mais sbio e nobre em dote espiritual. O

    estranho perguntou o preo de um par de sapatos, mas o jovem Behme no se

    atreveu a estipular um preo com receio de desagradar seu mestre. O estranho

    insistiu e Behme finalmente estabeleceu um valor que considerava ser tudo que

    seu mestre possivelmente esperaria obter pelos sapatos. O estranho os comprou

    imediatamente e partiu. A uma pequena distncia o misterioso estranho parou e

    gritou em alta voz "Jacob, Jacob, venha para fora". Com surpresa e espanto,

    Behme saiu da casa. O estranho homem fixou seus olhos nos grandes olhos dorapaz que brilhavam e pareciam cheios de luz divina. O estranho pegou a mo

    direita do menino e dirigiu-se a ele dizendo: "Jacob, tu s pequeno, mas sers

    grande, e te tornars um outro homem, to grande que o mundo ir admirar.

    Contudo seja piedoso, tema a Deus e reverencie sua Palavra. Leia

    atenciosamente as Santas Escrituras, onde ters conforto e instruo, pois deves

    enfrentar muita misria, privaes e perseguies, mas sejas corajoso e

    perseveres, pois Deus te ama e tem misericrdia de ti". Profundamente

    impressionado pela profecia, Behme tornou ainda mais intensa sua busca pela

    verdade. Finalmente o seu trabalho foi recompensado. Por sete dias ele

    permaneceu numa condio misteriosa, perodo em que os mistrios do mundo

    invisvel lhe foram revelados".

    Behme descreveu sua experincia visionria da seguinte maneira:

    "Eu vi o Ser de todos os Seres, a Superfcie e o Abismo; vi tambm o nascimentoda Santa Trindade; a origem e o primeiro estado do mundo e de todas as

    criaturas. Vi em mim mesmo os trs mundos - o mundo anglico ou Divino; o

    mundo das trevas, a origem da Natureza; e o mundo externo, como uma

    substncia manifestada dos dois mundos espirituais... No meu interior vi isto muito

    bem, como em uma grande profundidade; pois vi diretamente no caos onde tudo

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    permanece envolto, mas no pude fazer revelao alguma. De tempo em tempo

    tudo isto floresce em mim como o crescer de uma planta. Por doze anos guardei

    tudo comigo, antes de poder manifestar de alguma forma externa. At ento isto

    abateu-se sobre mim, como uma carga que mata o que atinge. Escrevi tudo o que

    pude exteriorizar. A obra no minha. No sou mais do que um instrumento do

    Senhor, com o qual Ele faz o que deseja".

    A vida de Behme foi altamente influenciada por dois Pastores Luteranos em

    Gorlitz. O primeiro, Martin Mller, foi um homem notvel, de vasto saber e de

    inclinaes msticas, que organizou dentro de sua parquia um pequeno grupo,

    "Conventculo dos Reais Servos de Deus", que tinha Behme como membro.

    Parecia ser uma espcie de grupo mstico de meditao trabalhando no espritoda tradio mstica Crist; e Mller, por meio de sua forte personalidade, foi capaz

    de dar continuidade a este grupo dentro da esfera da ortodoxia Luterana. Sob sua

    tutela, Behme adquiriu confiana em suas prprias percepes espirituais e com

    o tempo comeou a escrever, de incio somente para seu prprio

    aperfeioamento, o seu primeiro volume "A Aurora Nascente" foi completado em

    1612. Cpias desta obra circularam sem a permisso de Behme e afrontou o

    novo Pastor de Gorlitz, Gregory Richter, que havia ento substitudo Mller.

    Richter era de uma disposio totalmente oposta a Mller, sendo limitado,

    ortodoxo e temeroso de qualquer coisa que no estava de acordo com os

    ensinamentos Luteranos. Ele denunciou Behme como um hertico e incitou

    tamanha corrente de oposio na parquia que Behme foi temporariamente

    banido da cidade. Behme teve que prometer parar de escrever e, de fato, nos

    sete anos seguintes, trabalhou apenas internamente com suas percepes.

    Contudo, mais tarde entrou para um crculo de alquimistas Paracelsianos tendo

    como membro mais proeminente, Balthasar Walter que havia viajado mugito,

    inclusive visitado a Grcia, Sria e Egito. Walter que era mdico do Prncipe de

    Anhalt, tinha muitos contatos entre pessoas importantes, tanto assim, que ele

    estava ativamente envolvido no movimento Rosacruciano. Ele encorajou

    constantemente Behme a escrever e o inspirou apresentando-lhe idias das

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    tradies esotricas da Alquimia e da Cabala, que espelhavam as experincias

    internas de Behme e o habilitou a criar uma linguagem que as desse forma. De

    1619 at sua morte, Behme trabalhou para escrever seus vastos volumes:

    Os trs Princpios da Essncia Divina

    A Signatura de Todas as Coisas

    Mysterium Magnum

    Sobre a Eleio da Graa

    Quarenta Perguntas sobre a Alma

    O Caminho para Cristo

    A Trplice Vida do Homem

    Tambm durante este perodo, Behme correspondeu-se com contatos feitos por

    intermdio de Balthasar Walter, e sua reputao espalhou-se atravs destas

    cartas. Alguns de seus escritos circularam, de forma privada, entre seus amigos,

    enquanto que suas publicaes tiveram que esperar a morte de Behme, uma vez

    que o Pastor Richter ainda via Behme como um perigoso hertico na sua

    parquia e os amigos altamente posicionados de Behme no poderiam preserv-lo do fanatismo deste pastor.

    Os escritos de Behme foram, depois de sua morte em 1624, rapidamente

    publicados e tambm traduzidos para o Holands. Edies Inglesas foram

    editadas por John Sparrow nos anos de 1650. As idias oculto-filosficas de

    Behme comearam a ter influncia soabre os msticos britnicos do fim do sculo

    XVII, particularmente John Pordage (1607-1681) e Jane Leade (1620-1704) que

    fundaria a "Sociedade Filadelfiana" de influncia Boehmiana, na ltima dcada do

    sculo XVII. Este movimento por uma renovao religiosa atravs da experincia

    mstica interna atraiu para si algumas almas dedicadas e influentes: Richard

    Roach, Francis Lee e outros, embora o foco central desta inspirao resida na

    personalidade forte e mstica de Jane Leade, que seria justo designar como a

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    "Behme Inglesa". Certamente seu trabalho no foi to grande como o de Behme

    e nem suas habilidades em comunicar seus discernimentos to abrangentes,

    contudo ela compartilhou com Behme uma comunho mstica direta com o

    mundo espiritual.

    Quase ao mesmo tempo, havia um pequeno grupo de Boehmistas na Alemanha

    centrado em George Gichtel (1638 - 1710), que estava editando as obras de

    Behme e ilustrando-as com figuras emblemticas. Um dos seguidores de Gichtel,

    Dionysius Andreas Freher (1647 -1725) estabeleceu-se na Inglaterra, atrado pela

    fama de Jane Leade e da Sociedade Filadelfiana. Freher reuniu sua volta seu

    prprio grupo de seguidores e trabalhou para modelar sua prpria interpretao da

    filosofia de Behme.

    Assim, a filosofia Boehmista foi perpetuada como uma corrente viva alimentada

    por estas personalidades: Gichtel, Pordage, Lade e Freher, cada um deles, a sua

    prpria maneira, possuram algo de discernimento mstico.

    Eles utilizaram a filosofia de Behme como um meio de focalizar sua percepo

    mstica e torn-la comunicvel aos outros, pois Behme encarnou um sistema de

    idias que capacitou as pessoas a descreverem e revestirem experinciasmsticas. Talvez seja nisto que resida sua maior realizao.

    A influncia de Behme teve continuidade durante a metade do sculo XVIII

    atravs da figura do Reverendo Willian Law (1686 - 1761). Law foi atrado pelos

    escritos de Jacob Behme quando ainda era jovem, entretanto ele tinha sua

    prpria inclinao mstica. Tornou-se bastante conhecido como um telogo

    independente o que levou o jovem John Wesley (que mais tarde fundaria o

    Metodismo) em certo ponto a seguir os conselhos de Law. Posteriormente Law

    comeou a traduzir e editar todo o corpo de escritos de Behme para serem

    publicados em Ingls. A coleo "The Works of Jacob Behme, The Teutonic

    Teosopher", de quatro grandes volumes, foi publicado em 1764 e a mais

    conhecida de todas as edies Inglesas de Behme. Atravs desta publicao a

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    filosofia mstica de Behme continuou a influenciar vrios escritores Britnicos, e

    em particular Willian Blake.

    O vasto sistema de Blake, de seres arquetpicos emanando em polaridades,

    reflete a prpria descrio de Behme de um processo de Tese Anttese Sntese

    que ocorre at mesmo no mais alto nvel espiritual.

    Finalmente, podemos reconhecer os pensamentos de Behme nas primeiras

    codificaes da "Sociedade Teosfica" fundada por Madame Blavatsky no final do

    sculo XIX, e assim sua filosofia oculto-mstica penetrou e impregnou as principais

    correntes esotricas do sculo XX. Desta forma, observamos que a filosofia de

    Behme ainda vive nos dias de hoje, desenvolvida nas idias formativas e nas

    formas de pensamento do esoterismo atual. Seus escritos so uma importante

    fonte onde podemos mergulhar e obter novas inspiraes e discernimentos dentro

    das formas arquetpicas das idias esotricas conhecidas.

    Com Behme, um ponto importante e decisivo na evoluo do Esoterismo

    Ocidental alcanado, uma vez que ele contribuiu, indiretamente, para aumentar

    a distncia entre a operao puramente fsica da alquimia e a busca da alquimia

    como um sistema espiritual- filosfico.

    Esta distncia existia no incio do sculo XVII como uma semente que cresceu at

    o nascimento de uma qumica puramente materialista no sculo XVIII. Behme,

    contudo extraiu de ambas, experincias msticas internas, e das experincias

    prticas dos alquimistas daquela poca ( preciso lembrar que por intermdio de

    Balthasar Walter, Behme esteve ativamente envolvido num crculo de alquimistas

    Paracelsianos praticantes). Se formos sensveis, poderemos notar em seus

    escritos os dois caminhos que unem prtica e teoria, assim como os dois

    caminhos que as separam em dois campos distintos. Behme trabalhou para

    encarnar a Alma Alqumica, e suas obras so documentos profundos de um

    Esoterismo Protestante que coloca a idia do desenvolvimento interior

    perpendicularmente sobre a alma do indivduo. Neste Esoterismo Protestante,

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    encontrava-se a tarefa do indivduo de trabalhar para purificar e exaltar as foras

    da sua prpria alma se quisesse alcanar a plenitude da obra.

    Os escritos de Behme so de grande extenso e guarda um enorme sistema de

    idias, uma srie de pensamentos espirituais que no surgiram da rida

    intelectualizao, mas de sua vivncia em comunho com o mundo espiritual.

    Em seus volumes ele revela um Cristianismo esotrico que com certeza mantm

    alguma coneco direta com a corrente esotrica do Rosacrucianismo que estava

    sendo desenvolvida contemporaneamente com Behme.

    Behme tinha conscincia da dificuldade de seus livros e conseqentemente

    escreveu a "Clavis" ou "Chave para suas obras", como um resumo das idias

    principais contidas em seu sistema. Aqui ele trabalha com a existncia das

    polaridades, Tese, Anttese e Sntese que residem no fundamento de uma viso

    Hermtico-Alqumica do mundo; os trs Princpios: Sal, Mercrio e Enxofre e suas

    manifestaes como arqutipos em vrios campos; e as Sete Propriedades que se

    conectam com os arqutipos Planetrios que tambm contem em si a polaridade e

    os trs princpios. A "Chave" de Jacob Behme, nos fornece uma introduo

    simples aos pontos mais importantes de sua filosofia e deve simplificar nossoacesso suas maiores obras.

    Como apndice para esta edio de Willian Law encontram-se as "Ilustraes dos

    Princpios Ocultos de Jacob Behme" de Dionysius Freher, que atravs de uma

    srie de treze figuras emblemticas, oculta o quadro Boehmista da Criao. Aqui

    podemos observar as vrias emanaes da Divindade participando na formao

    do reino da terra. Este complemento contm a figura do Cristianismo Csmico,

    mostrando a descida do Ser Crstico esfera humana e a realizao de Sua tarefa

    nesta esfera.

    Acreditamos que por trazer estas duas pequenas obras para a observao dos

    estudantes do esoterismo de hoje, devemos ter-lhes dado a oportunidade de

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    aproximarem-se de uma compreenso do vasto sistema da filosofia esotrica que

    emana do discernimento mstico de Jacob Behme.

    ACLAVIS

    ouUma explicao de alguns Pontos Principais

    e Expresses em seus Escritos.por J acob Behme, o Tesofo Teutnico

    Prefcio

    Est escrito, o Homem Natural no recebe as Coisas do Esprito, nem o Mistriodo Reino de Deus, so Insensatez para ele e nem pode conhec-los: portanto

    advirto e exorto ao cristo amante dos mistrios, se pretende ler, estudar,

    pesquisar e compreender estes Escritos Elevados, que no os leia apenas

    externamente, com uma intensa especulao e meditao, pois se assim o fizer,

    permanecer somente no terreno imaginrio exterior, e no obter mais do que

    uma falsificao colorida de tais mistrios.

    A prpria Razo do homem, sem a Luz de Deus, no pode entrar na Regio dos

    Mistrios, impossvel, pois sua razo, estando isolada, permite que seu

    entendimento seja cada vez mais elevado e sutil, porm no o deixa perceber

    mais do que a sua prpria Sombra refletida num Espelho.

    O Cristo disse "Sem mim tu no podes fazer nada", e ele a Luz do Mundo e a

    Vida do Homem.

    Agora, se algum pretende pesquisar o Campo Divino, ou seja, a Revelao

    Divina, deve primeiro refletir consigo mesmo, com que finalidade deseja saber tais

    coisas; se deseja praticar aquilo que eventualmente possa obter e fazer uso disto

    para a Glria de Deus e para o Bem-estar do Prximo; e se deseja morrer para o

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    Mundo Profano e para sua Vontade prpria, para viver naquilo que ele aspira e

    deseja e com isto tornar-se um s esprito com a Revelao Divina.

    Se no houver um propsito, para que Deus revele a Si mesmo e seus mistrios a

    ele, tendo com este Homem um s Esprito e uma nica Vontade, se o Homem

    no se submeter sinceramente a Ele, a ponto de que o Esprito de Deus possa

    fazer com o Homem e pelo Homem aquilo que quiser, e que Deus seja seu

    Conhecimento, Vontade e Ao, este homem ainda no serve para tal

    Conhecimento e Compreenso.

    H muitos que aspiram aos Mistrios e aos Conhecimentos Ocultos, apenas para

    serem respeitados e altamente estimados pelo mundo, para seu benefcio e

    proveito prprio, mas eles no atingem o Plano onde o Esprito penetra em todas

    as Coisas, como est escrito, mesmo as coisas mais profundas de Deus.

    A Vontade deve ser totalmente resignada, onde o prprio Deus penetre e atue;

    Vontade que continuamente se rompe em Deus, em uma Humildade resignada e

    permissvel, buscando nada alm de sua Regio de Origem Eterna. Deve-se

    auxiliar o Prximo com aquilo que obtiver, s assim o Homem poder atingir tais

    Regies.

    Aquele que busca, deve comear com um efetivo Arrependimento, seguido de um

    Aperfeioamento e Splica (atravs da Orao), pois com isto sua Compreenso

    dever se abrir trazendo a sua vontade interna tona.

    Mas se ao ler tais Escritos, ainda no os compreender, no deve prontamente

    jog-los fora e pensar que impossvel compreend-los, ao contrrio, deve voltar

    sua mente para Deus, suplicar sua Graa e Compreenso, ler outra vez, e entoperceber mais e mais at ser atrado pelo poder de Deus para o mais profundo

    de si mesmo, e assim adentrar ao Campo sobrenatural e supersensorial, ou seja,

    na Eterna Unidade de Deus, onde dever ouvir as eficazes e impronunciveis

    Palavras de Deus que devero traz-lo de volta e para fora novamente, pela

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    Emanao Divina, mais densa e desprezvel matria da Terra e novamente de

    volta para o interior, para Deus, e ento o Esprito de Deus penetrar todas as

    Coisas, com ele e por ele, ento o Homem estar diretamente tocado e dirigido

    por Deus.

    Uma vez que os amantes dos mistrios desejam uma Clavis, ou Chave de meus

    Escritos, estou pronto e desejoso em satisfaz-los, e irei registrar uma curta

    Descrio do Plano daquelas extraordinrias Palavras, algumas das quais so

    extradas da Natureza e da Percepo (Sentimento, Razo, Compreenso,

    Sabedoria e Inteligncia) e outras so as Palavras dos notveis mestres, as quais

    eu investiguei de acordo com a percepo e as considerei justas e apropriadas.

    A razo ir falhar, quando ver termos pagos e palavras usadas na explicao das

    Coisas Naturais; supostamente deveramos usar somente Frases das Escrituras

    (ou palavras emprestadas da Bblia); mas tais Palavras no iro se aplicar ou se

    ajustar sempre fundamental Explicao das Propriedades da Natureza, nem o

    Homem pode expressar o Plano da Natureza com elas; alm disso, os Sbios

    Pagos e Judeus esconderam o profundo Plano da Natureza sob tais Palavras por

    terem compreendido bem que este Conhecimento no para todos, mas pertence

    somente queles que Deus, pela Natureza, escolheu para isso.

    Mas ningum precisa se desanimar diante disto, pois quando Deus revela seus

    mistrios a algum homem, Ele tambm lhe d uma Mente e uma Capacidade para

    express-los, uma vez que Deus sabe o que mais necessrio e proveitoso em

    todas as pocas. Sobre o estabelecimento das diferentes lnguas e opinies sobre

    o verdadeiro Plano, os Homens no devem pensar que isto ocorreu por acaso, e

    que produzido pela Razo Humana.

    As revelaes das Coisas Divinas esto abertas pelo Plano Interno do Mundo

    Espiritual e transformada em formas visveis, da mesma forma que o Criador ir

    manifest-las.

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    Irei escrever nada mais do que uma pequena descrio da Manifestao Divina;

    resumir o mais que eu possa, e explicar as notveis palavras para uma melhor

    compreenso de nossos livros; e ainda registrar aqui o teor daqueles Escritos, ou

    um exemplo, ou uma Eptome deles por considerao e ajuda aos iniciantes:

    maiores explicaes sobre isto sero encontradas nos outros livros.

    J acob Behme

    A CHAVEou

    Uma Explicao de alguns Pontosprincipais e Expresses.

    Como Deus pode ser considerado sem aNatureza e a Criatura.

    Moiss disse: "O Senhor nosso Deus seno um nico Deus". Em outra parte

    dito: "Dele, por Ele e Nele esto todas as coisas", e ainda: "No sou eu, homem,

    que preenche todas as coisas?" e mais, "Atravs de sua Palavra todas as coisas

    so feitas"; contudo pode-se dizer que Ele a Origem de todas as coisas: Ele a

    Eterna Imensurvel Unidade.

    Por exemplo, quando penso o que poderia existir no lugar deste mundo se os

    quatro Elementos, o estrelado Firmamento e a Natureza propriamente dita

    pudessem perecer e deixassem de existir, e assim no mais se encontrasse

    nenhuma Natureza ou Criatura, acredito que permaneceria esta Unidade eterna,

    da qual a Natureza e a Criatura receberam sua Origem.

    Da mesma forma, quando penso comigo mesmo o que existe a centenas demilhares de milhas, acima do estrelado Firmamento, ou o que se encontra naquele

    lugar onde no h Criaturas, acredito que a Eterna Imutvel Unidade esteja l,

    Unidade que somente o Bem, da qual no h nada, nem antes, nem depois, da

    qual no se pode acrescentar ou retirar nada, nem mesmo de onde esta unidade

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    pudesse ter sua Origem: No h espao, tempo ou superfcie, mas somente o

    Deus Eterno, ou aquele nico Bem, que um homem no pode expressar.

    Uma outra considerao: como este nico Deus triplo?

    A Santa Escritura mostra-nos que este nico Deus triplo, isto , uma nica

    Essncia tripla, tendo trs formas de atuao, e ainda sendo seno uma nica

    Essncia, como pode ser visto na emanao do Poder e Virtude, presentes em

    todas as coisas, mas especialmente representadas pelo Fogo, Luz e ter, que so

    trs diferentes formas de atuao, e ainda assim dentro de um nico fundamento

    e substncia.

    Assim como o Fogo a Luz e o ter, surgem da vela (embora a vela no seja

    nenhum dos trs, mas a causa deles), da mesma forma a Unidade Eterna a

    causa e o fundamento da Trindade Eterna, que se manifesta a partir da Unidade, e

    gera-se a si mesmo, Primeiro em Desejo ou Vontade, Segundo em Prazer ou

    Satisfao, Terceiro em Ao ou Expanso.

    O Desejo ou a Vontade o Pai, ou seja, o ativo, a manifestao da unidade,

    atravs dele que a prpria unidade quer ou deseja.

    O Prazer ou a Satisfao, o Filho que a Vontade quer ou deseja, ou seja, seu

    Amor e Satisfao, como pode ser visto no Batismo de Nosso Senhor Jesus

    Cristo, quando o Pai testemunhou dizendo: "Tu s meu Filho bem-amado, eu hoje

    te gerei!".

    A satisfao a compresso na vontade, por esta compresso que a vontade da

    unidade se manifesta em um espao e atua; por seu meio a vontade atua e realizae este o sentimento e a virtude da vontade.

    A Vontade o Pai, isto , o desejo ativo, e a Satisfao o Filho, ou a virtude e a

    ao da vontade, atravs desta satisfao que a vontade atua; e o Esprito

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    Santo o procedimento da vontade atravs da Satisfao da virtude, ou seja, a

    vida da vontade, da virtude e da satisfao.

    Deste modo, h trs tipos de atuao na Unidade Eterna a saber: a Unidade a

    prpria vontade e desejo; a Satisfao a substncia atuante da vontade e um

    Eterno xtase de perceptibilidade na vontade; e o Esprito Santo o procedimento

    do Poder: a similitude que pode ser notada numa planta.

    A Atrao; que o Desejo Essencial da Natureza, ou seja, a vontade do Desejo

    da Natureza, se comprime dentro de uma insgnia ou substncia, para se tornar

    uma planta; e esta compresso do Desejo se transforma em sentimento ou

    atuao, onde surge o Poder e a virtude, pelo qual o Magntico Desejo da

    Natureza, ou a vontade fluda de Deus, atua de maneira natural.

    Nesta perceptibilidade atuante, a vontade desejosa magntica elevada e

    extasiada saindo da Virtude e do Poder atuante; por esta razo ocorre o

    crescimento e o aroma da planta: e assim, vemos uma representao da Trindade

    de Deus em tudo o que cresce e vive.

    Se no houvesse tal perceptibilidade do desejo e uma operao emanada da

    Trindade na Eterna Unidade, esta seria nada alm de um eterno silncio, um

    nada; no haveria natureza, nenhuma cor, forma ou figura; da mesma forma no

    haveria nada neste mundo; sem esta atuao tripla no haveria mundo em

    absoluto.

    Sobre o Verbo Eterno de Deus.

    A Santa Escritura diz: "Deus fez todas as coisas por intermdio de seu VerboEterno", e ainda: "Este Verbo Deus" (Joo - 1), o que compreendemos assim:

    O Verbo nada mais do que a vontade exalada do Poder e da Virtude, uma

    variedade distinguida do Poder em mltiplos Poderes; uma distribuio e um fluxo

    da Unidade por onde surge o conhecimento.

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    Uma nica substncia, onde no h variao ou diviso, que somente nica,

    no pode conter conhecimento, e se houvesse seria uma nica coisa, ela mesma;

    mas se a Unidade se parte, ento a vontade divisvel entra na multiplicidade e

    variedade, tal separao ocorre por si mesma. Ainda porque a Unidade no pode

    ser dividida e partida separadamente, contudo a separao existe e permanece na

    vontade exalada da Unidade; a separao da respirao origina a variedade

    diferenciada, pela qual a Vontade Eterna juntamente com a Satisfao e o

    Procedimento, penetram no conhecimento ou compreenso de infinitas formas,

    isto , numa atuao perceptvel e eterna, conhecimento sensual dos poderes,

    onde na diviso ou separao da vontade, um sentido ou forma da vontade

    sempre v, sente, prova, cheira e ouve a outra. Isto no outra coisa seno que

    uma atuao sensual, ou seja, o grande jubiloso lao do amor e o mais amvel ser

    eterno nico.

    Sobre o Santo nome YEHOVA

    Os antigos Rabinos judeus compreenderam, em parte, o Santo Nome, por terem

    dito que este o mais Elevado e mais Santo Nome de Deus, cujo sentido

    compreendiam como sendo a Divindade Atuante: Isto verdadeiro, pois neste

    sentido de atuao reside a verdadeira vida de todas as coisas no Tempo e na

    Eternidade, na superfcie e na profundidade; este o prprio Deus, ou a Divina

    Perceptibilidade atuante, Sensao, Inveno, Cincia e Amor, ou seja, a

    verdadeira compreenso na unidade atuante, de onde os cinco sentidos da

    verdadeira vida emergem.

    Cada Letra neste Nome anuncia-nos uma virtude e uma atuao peculiar, ou seja,

    uma forma (aspecto) do poder atuante.

    Y

    Y a emanao da eterna e indivisvel Unidade, ou a doce graa e o

    conhecimento pleno do Poder Divino de tornar-se algo.

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    E

    E um triplo Y, onde a Trindade se cala na Unidade. Y entra em E e unem-se, YE,

    que uma exalao da prpria Unidade.

    H

    H a palavra, ou a respirao da Trindade de Deus.

    O

    O a circunferncia, ou o sol de Deus, atravs do qual o YE e o H (respirao),

    falam a partir do Deleite do Poder e da Virtude comprimidos.

    V

    V emanao jubilosa da respirao, ou seja, o procedimento do Esprito de

    Deus.

    A

    A o que procede do poder e da virtude, isto , a sabedoria; o objeto daTrindade, por seu intermdio que a Trindade atua e se manifesta.

    Este Nome nada mais do que a articulao ou expresso da atuao tripla da

    Santa Trindade na unidade de Deus. Uma leitura complementar poder ser

    encontrada na explicao da tabela (quadro) dos trs princpios da manifestao

    Divina.

    Sobre a Sabedoria Divina.

    A Santa Escritura diz que a sabedoria a respirao do Poder Divino, um raio e

    um sopro do Onipotente; tambm diz que Deus fez todas as coisas por meio de

    sua sabedoria, o que compreendemos da forma que se segue.

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    A Sabedoria a palavra emanada do Poder, Virtude, Santidade e Conhecimento

    Divino; uma semelhana e um agente da infinita e insondvel Unidade; uma

    Substncia atravs da qual o Esprito Santo atua, forma e modela, quero dizer, ele

    forma e modela a compreenso Divina na Sabedoria; a Sabedoria o Passivo e o

    Esprito de Deus o Ativo ou sua Vida, como a alma no corpo.

    A Sabedoria o Grande Mistrio da Natureza Divina, por ela os Poderes,

    Aspectos e Virtudes se manifestam; nela est a variao do poder e da virtude,

    ou, da compreenso: ela a compreenso divina, ou ainda, a viso divina, pela

    qual a unidade manifestada.

    Ela o verdadeiro caos divino, onde todas as coisas repousam; a Imaginao

    Divina, onde as Idias dos Anjos e das Almas tm sido vistas em Forma e

    Semelhana Divina pela Eternidade, ainda que at ento no como criaturas, mas

    em imagem, assim como quando um homem observa sua face em um Espelho:

    portanto a Idia Angelical e humana fluiu da sabedoria, e foi formada em uma

    Imagem, como disse Moiss, "Deus criou o Homem sua Imagem", ou seja, ele

    criou o corpo, e soprou no seu interior o sopro da Emanao Divina, do

    Conhecimento Divino, de todos os Trs Princpios da Manifestao Divina.

    Sobre o Mysterium Magnum.

    O Mysterium Magnum um objeto da sabedoria atravs do qual a palavra viva (o

    Poder da vontade atuante da compreenso Divina), e a unidade de Deus fluem

    para se manifestarem.

    Pelo Mysterium Magnum surge a natureza eterna. Duas substncias e vontades

    so sempre compreendidas como parte do Mysterium Magnum: a primeirasubstncia a unidade de Deus, ou seja, a Virtude e o Poder Divino, a Sabedoria

    fluda.

    A segunda substncia a vontade separvel, que surge atravs do Verbo vivo e

    claro; ela no tem sua base na unidade, mas na mobilidade da emanao e

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    respirao, que se transformam em uma vontade, em um Desejo para a Natureza,

    em qualidades tanto quanto o fogo e a luz: no fogo, se compreende a Vida

    Natural, e na luz, a Vida Santa, ou uma manifestao da unidade, pela qual esta

    unidade se torna um Fogo-Amor, ou Luz.

    E neste ponto ou operao, Deus denomina a si mesmo um afetuoso, Deus

    misericordioso, segundo o contundente Amor em combusto gnea da unidade, e

    um Deus Desconfiado e Furioso segundo a Regio gnea, conforme a Natureza

    Eterna.

    O Mysterium Magnum o Caos (de onde surgem a Luz e a Escurido, ou seja, o

    princpio do cu e do inferno), manifestado e derivado da Eternidade; este

    princpio que agora chamamos de inferno, cuja existncia tem origem no prprio

    Caos, a base e a causa do fogo na Natureza Eterna; este fogo em Deus

    somente um amor ardente, onde Deus no est manifestado em algo, de acordo

    com a unidade; existe ainda um angustiante, doloroso e incandescente fogo.

    Este fogo incandescente a manifestao da vida e do Amor Divino, por meio

    deste fogo que o Amor Divino, ou a unidade arde e ilumina pela atuao gnea do

    Poder de Deus.

    Esta etapa chamada Mysterium Magnum, ou um Caos, pois o bem e o mal

    surgem dele, a Luz e as Trevas, Vida e Morte, Alegria e Tristeza, Salvao e

    Condenao.

    Esta a regio das Almas, Anjos e de toda Criatura Eterna, tanto boa quanto m;

    a regio do cu e do inferno, tambm do mundo visvel e de tudo que nele se

    encontra, pois l tudo repousa, em uma nica regio, assim como uma imagemrepousa escondida em um pedao de madeira antes do arteso esculpi-la e

    model-la.

    No podemos dizer que o mundo espiritual tenha tido algum comeo, mas foi

    manifestado da Eternidade fora deste Caos; a Luz brilhou da Eternidade na

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    escurido, e a escurido no a compreendeu; como o dia e a noite esto um no

    outro, e so dois, ainda que um.

    Devo escrever claramente, como se tivesse um comeo, para uma melhor

    considerao e apreenso da regio da manifestao Divina, e para melhor se

    distinguir a Natureza da Divindade e tambm para uma melhor compreenso, de

    onde vem o bem e o mal e o que o Ser dos Seres.

    Sobre o Centro da Natureza Eterna.

    Pela palavra centro, compreendemos o incio da natureza, ou a regio mais

    ntima, de onde a vontade auto-fortalecida se pe em ao natural; a natureza

    nada mais do que uma ferramenta ou Instrumento de Deus, com o qual a Virtude

    e o Poder de Deus operam ainda que tenham movimento prprio a partir da

    vontade de Deus emanada: assim o centro o ponto ou regio da auto-recepo,

    de onde algo se realiza e de onde as sete propriedades procedem.

    Sobre a Natureza Eterna e suasSete Propriedades.

    A Natureza nada mais do que as Propriedades da Capacidade e Poder de

    receber o prprio desejo que surge na variao da palavra viva, ou seja, do Poder

    e Virtude vivos de onde as Propriedades se transformam em substncia; esta

    substncia chamada de substncia natural e no Deus propriamente dito,

    embora Ele habite completamente na natureza e ainda que a natureza o

    compreenda perfeitamente; isto ocorre porque a unidade de Deus se produz em si

    mesmo e se comunica por uma substncia natural tornando-se substncia, a

    saber, a substncia da Luz, que rompe e penetra a natureza, atuando por simesma; se assim no fosse, a unidade de Deus seria incompreensvel para a

    natureza, isto , para a recepo desejosa.

    A Natureza surge na palavra fluda da percepo e do conhecimento Divino. A

    natureza a contnua criao e produo da percepo e das cincias; da mesma

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    forma que a palavra atua pela Sabedoria, a Natureza cria e produz em

    Propriedades. A Natureza como um carpinteiro que constri uma casa que a

    mente anteriormente imaginou e projetou; assim que ela deve ser

    compreendida.

    Assim como a mente eterna imagina na eterna sabedoria de Deus no Poder Divino

    e a transforma em idia, a natureza cria em propriedade.

    A Natureza em seu primeiro plano, consiste em sete Propriedades que se dividem

    ao infinito.

    A Primeira Propriedade.

    A primeira Propriedade o Desejo que causa e produz aspereza, agudeza,

    dureza, frio e substncia.

    A Segunda Propriedade.

    A segunda Propriedade o ativo, ou atrao do Desejo; ela fere, quebra e divide a

    dureza; corta em pedaos o desejo atrado; multiplica e varia a si mesmo; o

    campo da dor amarga, e tambm a verdadeira Raiz (Origem) da Vida; o vulcoque lana fogo.

    A Terceira Propriedade.

    A terceira Propriedade a perceptibilidade e sentimento na quebra da spera

    dureza; e este o campo da Angstia e da vontade Natural, por onde a vontade

    Eterna deseja ser manifestada; ou seja, ser Fogo ou Luz, a saber, um lampejo,

    ou brilho por onde os poderes, aspectos e virtudes da sabedoria podem aparecer:nestas trs primeiras Propriedades consiste o Fundamento da Ira, do Inferno e de

    tudo o que colrico.

    A Quarta Propriedade.

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    A quarta Propriedade o Fogo, onde a Unidade aparece, e vista na Luz, ou

    seja, no Amor ardente (candente) e a Ira (clera) na Essncia do Fogo.

    A Quinta Propriedade.

    A quinta Propriedade a Luz cuja Virtude do Amor, juntamente com a Unidade,

    atua na substncia Natural.

    A Sexta Propriedade.

    A sexta Propriedade o som, voz, ou compreenso natural, por onde os cincos

    sentidos trabalham espiritualmente, ou seja, numa compreenso natural da vida.

    A Stima Propriedade.

    A stima Propriedade o Objeto, ou o teor das outras seis Propriedades, na qual

    elas atuam, como a Vida atua na Matria, e estas sete Propriedades so certa e

    verdadeiramente chamadas de Regio ou Ponto da Natureza, onde as

    Propriedades permanecem em uma nica regio.

    A Primeira SUBSTNCIA nasSete Propriedades.

    Devemos sempre compreender duas Substncias nas sete Propriedades: a

    primeira, de acordo com a profundidade destas Propriedades, como sendo o Ser

    Divino, ou a vontade Divina com a fluente Unidade de Deus que juntas fluem

    atravs da Natureza, tornando-se receptoras da agudez, a fim de que o Amor

    Eterno possa se tornar atuante e sensvel, podendo ter algo que seja passivo por

    onde possa se manifestar e ser conhecido e tambm ser desejado e amadonovamente, isto , a Natureza passiva Ativa, que no Amor trocada por uma

    Alegria Eterna; e quando o Amor no Fogo se manifesta na Luz, ento ele inflama a

    Natureza como o Sol inflama a planta e o Fogo inflama o Ferro.

    A Segunda SUBSTNCIA.

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    A segunda Substncia a prpria Substncia da Natureza, que Ativa e Passiva,

    a Ferramenta e Instrumento do Agente, onde no h passividade, tambm no

    h desejo de Libertao (Redeno) ou de algo melhor, onde tudo repousa

    consigo mesmo.

    E deste modo a unidade Eterna se produz por sua Emanao e separao dentro

    da Natureza pois a unidade precisa ter um objeto no qual possa se manifestar;

    amar e ser novamente amada por algo, pois assim poder haver uma percepo

    ou uma vontade e atuao sensvel.

    Uma explicao sobre as

    Sete Propriedades da Natureza.A Primeira Propriedade.

    A primeira Propriedade um Desejo, como aquele de um im, a saber, a

    compresso da vontade; a vontade deseja ser algo, mas ainda no tem nada do

    qual possa fazer, de si, alguma coisa e por este motivo se produz uma recepo

    de si mesma comprimindo-se em algo que nada mais do que um Apetite

    (Anseio) Magntico, uma aspereza, como uma dureza (solidez) onde surgem a

    substncia, o frio e a prpria dureza.

    Esta compresso ou atrao obscurece a si mesma e se faz escurido tornando-

    se, de fato, a regio da eterna e temporria escurido.

    No comeo do mundo, o sal, pedras, ossos e todo este tipo de coisas foram

    produzidos por esta agudez.

    A Segunda Propriedade.A segunda Propriedade da Natureza Eterna surge da primeira e a atrao ou

    movimento da agudez; o magneto produz a dureza, mas o movimento a rompe

    (divide) novamente, uma contnua luta em si mesmo.

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    A vontade que o Desejo comprime e faz se tornar algo, cortada em pedaos e

    dividida pelo movimento transformando-se em formas e imagens; entre estas duas

    Propriedades surge a Aflio (Angstia), ou seja, a ferida (dor) da Percepo e da

    Sensao; pois quando h um movimento na agudez, ento a propriedade a Dor

    que tambm a causa da sensibilidade e do sofrimento; pois se no houvesse

    agudez e movimento no haveria sensibilidade. Este movimento tambm uma

    regio do Ar no mundo visvel, manifestada pelo fogo, como ser mencionado

    adiante.

    Assim, compreendemos que o Desejo a regio de algo e que este algo

    possivelmente sai do nada, cremos tambm que o Desejo tenha sido o incio deste

    mundo, por seu intermdio Deus transformou todas as coisas em ser e substncia,pois foi pelo Desejo que Deus disse, Faa-se. O Desejo o FIAT, Que produziu

    algo, naquilo que nada era alm de Esprito; o FIAT produziu o Mysterium

    Magnum, que espiritual, visvel e substancial, como podemos ver pelos

    Elementos, Estrelas, e outras Criaturas.

    A segunda Propriedade ou o Movimento, foi no comeo deste mundo, o separador

    ou divisor dos Poderes e Virtudes pelos quais o Criador, a saber, a Vontade de

    Deus, transformou todas as coisas do Mysterium Magnum em forma, pois este o

    mundo mutante (mutvel) e exterior pelo qual o Deus supernatural fez todas as

    coisas e as trouxe para a forma, imagem (aparncia) e configurao.

    A Terceira Propriedade.

    A terceira Propriedade da Natureza Eterna a Angstia ou aquela Vontade que se

    transformou em recepo para a Natureza e para ser algo; quando a prpria

    Vontade encontra-se no movimento agudo e se torna Angstia, ou seja,

    sensibilidade, pois sem a Natureza ela no capaz de tal coisa, mas na agudez

    mvel vem a ser uma sensao.

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    Esta sensao a causa do Fogo, e tambm da mente e dos sentidos, pois por

    seu intermdio a prpria vontade natural se faz voltil e busca o repouso. Deste

    modo, a separao da vontade sai de si mesma e se rompe atravs das

    Propriedades, surgindo o sabor, uma vez que uma Propriedade prova e sente a

    outra.

    A terceira Propriedade tambm a regio e a causa dos sentidos, na qual uma

    propriedade penetra e incita a outra, deste modo que a vontade sabe quando

    surge a passividade; se no houvesse sensibilidade, a vontade no poderia saber

    nada sobre as propriedades e estaria simplesmente s; e assim, a vontade recebe

    a Natureza em seu seio, atravs de seu sentimento do movimento agudo. Tal

    movimento assemelha-se a uma roda que gira, no que exista tal rotao ou giro,mas h nas Propriedades, pois o Desejo atrai para si e o movimento empurra para

    frente e para fora do Desejo e assim a vontade presente nesta angstia no pode

    ir nem para dentro, nem para fora, e ainda so ambos puxados para dentro e para

    fora, e assim permanece em tal posio como se fosse para dentro e para fora, ou

    seja, sobre e sob e ainda no pudesse ir a parte alguma, a Angstia, o

    verdadeiro fundamento do inferno e da Fria de Deus, pois esta Angstia se

    encontra no obscuro movimento agudo.

    Na criao do mundo, o Enxofre-Esprito, com a matria da Natureza Sulfrica, foi

    produzida desta regio; o Enxofre-Esprito a vida natural das criaturas terrenas e

    elementares.

    Os sbios pagos compreenderam, at certo ponto, esta regio, pois dizem que

    no Enxofre, Mercrio e Sal consistem todas as coisas deste mundo. Eles no

    observaram somente a matria, mas o Esprito de onde tal matria procede, poisesta regio no consiste em Sal, Mercrio e Enxofre, no este o significado, mas

    sim o Esprito de tais Propriedades; nisto que tudo, de fato, consiste, o que quer

    que viva, cresa e possua um ser neste mundo, seja espiritual ou material. Eles

    compreendem por Sal, o agudo Desejo Magntico da Natureza; por Mercrio, o

    Movimento e Separao da Natureza, pelo qual tudo assinalado marcado com

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    sua prpria signatura; e pelo Enxofre, a vontade perceptiva (sensvel) e a Vida

    crescente. No Enxofre-Esprito, onde a vida ardente queima, reside o Azeite, e a

    Quinta-Essncia reside no Azeite, a saber, o Mercrio ardente, que a verdadeira

    Vida da Natureza, e que uma Emanao da palavra do Poder e Movimento

    Divino, pelo qual a regio dos Cus compreendida.

    Na Quinta-Essncia reside o Sabor (colorao), a saber, a regio Paradisaca, a

    palavra fluda do poder e da virtude Divina, onde as propriedades repousam em

    igualdade (uniformidade).

    Assim, pela terceira Propriedade da Natureza, que a Angstia, queremos dizer a

    aspereza e dor do fogo, ou a queimao e consumio, pois quando a vontade

    colocada em tal aspereza, ir sempre consumir a causa desta, uma vez que a

    vontade sempre luta para alcanar novamente a unidade de Deus, que o

    repouso. A unidade se impele com sua Emanao para este movimento e

    aspereza, havendo assim uma contnua associao para a manifestao da

    vontade divina, uma vez que sempre encontramos nestes trs elementos, Sal,

    Mercrio e Azeite um pouco do cu na terra e quem quer que busque nada mais

    que a verdadeira compreenso e considere o Esprito, assim acreditar.

    A alma das coisas reside na aspereza, a verdadeira vida na Propriedade e da

    natureza sensual reside no movimento e o esprito poderoso que surge da

    colorao (sabor) permanece no Azeite do Enxofre. Assim, o que celeste

    sempre reside escondido no que terrestre, pois o mundo espiritual invisvel surge

    com e na Criao.

    A Quarta Propriedade.

    A quarta Propriedade da Natureza Eterna o Fogo Espiritual, pelo qual a Luz ou a

    Unidade, manifestada, pois o raio de luz (reflexo) do fogo surge e procede da

    unidade fluda que tem incorporado e unido a si o Desejo Natural; a propriedade

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    ardente do fogo, ou o calor procede da natureza devorante e spera das trs

    primeiras Propriedades, como veremos a seguir.

    A Unidade Eterna, que em alguns de meus escritos tambm chamo de Liberdade,

    a suave e silenciosa tranqilidade, ser benevolente, como um suave e

    confortvel bem estar, no se pode expressar to suave tranqilidade sem a

    Natureza na Unidade de Deus; mas as trs Propriedades em sua Natureza so

    speras, dolorosas e horrveis (terrveis). Nestas trs dolorosas Propriedades a

    Vontade fluda consiste e produzida pela Palavra ou Respirao Divina (Sopro),

    assim como a Unidade, portanto a vontade almeja seriamente a Unidade, e esta

    almeja a Sensibilidade, isto , a regio do fogo. Assim, uma almeja a outra e

    quando h esta nsia ocorre como um estalo ou claro (lampejo) de Iluminaoassim como quando queimamos um ferro junto com uma pedra, ou despejamos

    gua no fogo.

    Isto ns dizemos por meio da comparao.

    Neste lampejo a unidade sente a sensibilidade e a vontade recebe a unidade

    tranqila e suave. A unidade se torna um brilhante raio de luz do fogo, e o fogo se

    torna um amor ardente, pois recebe a insgnia e poder da unidade suave: nestagentileza, a Luz penetra as trevas da compresso magntica que no mais

    conhecida ou discernida embora permanea contida eternamente na compresso.

    Aqui, surgem dois Princpios Eternos, as trevas, onde residem a aspereza, a

    agudez, a dor e o sentimento do poder e da virtude da unidade na Luz. Sobre isto

    a Escritura diz que Deus, ou a Unidade Eterna, reside na Luz da qual ningum

    pode aproximar-se.

    A Eterna unidade de Deus manifesta-se na Luz, atravs do Fogo Espiritual, e esta

    Luz chamada de Poder Supremo, sendo Deus ou a Unidade Supernatural seu

    poder e sua virtude.

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    O esprito deste Fogo recebe uma insgnia (ou virtude) para brilhar desde a

    unidade, do contrrio esta regio gnea no seria mais do que um desejo doloroso,

    ansioso, horrvel e atormentado; o mesmo ocorre quando a vontade se rompe da

    unidade e vai viver de acordo com seu prprio desejo, como fizeram os anjos

    decados (Demnios), e como ainda fazem as almas errantes.

    Aqui pode-se perceber dois Princpios: o primeiro a regio da queimao do

    Fogo, ou a escurido spera, mvel, perceptvel e dolorosa; a segunda a Luz do

    Fogo, por onde a unidade torna-se mobilidade e satisfao, pois o Fogo um

    objeto do grande Amor da unidade de Deus.

    O Deleite Eterno vem a ser perceptvel e esta percepo da unidade chamada

    de Amor e uma queimao ou vida na unidade de Deus; de acordo com este

    Amor Ardente, Deus denomina-se a si mesmo um Deus amoroso e misericordioso,

    pois a unidade de Deus ama e rompe atravs da vontade dolorosa do fogo que no

    incio surgiu no sopro da palavra, ou na emanao do Deleite Divino,

    transformando-a numa grande Satisfao (Prazer).

    nesta vontade gnea da natureza Eterna que permanece a alma do Homem, e

    tambm os Anjos, esta a regio e o centro deles. Portanto, se alguma alma serompe da Luz e do Amor de Deus e entra no seu prprio desejo natural, ento a

    regio desta propriedade escura e dolorosa nela se manifesta, como se pode

    verificar em Lcifer.

    O que quer que se imagine possui uma essncia, na Criatura, fora da criatura em

    todo lugar, pois a Criatura nada mais do que uma Imagem e uma Aparncia do

    separvel e variado poder, e virtude do Ser universal.

    Entenda bem o que a regio do Fogo, Frio na Compresso, Quente na Angstia

    e Vulcnico no Movimento. O Fogo consiste nos trs, mas o brilho da Luz surge e

    procede da conjuno da unidade na regio do Fogo; toda esta regio nada mais

    do que a vontade emanada.

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    Desta Forma, no Fogo e na Luz consiste a Vida de todas as coisas, isto , a

    vontade de todas as coisas que as impede de serem insensveis vegetais ou

    racionais; todas as coisas assim como o fogo tem a sua regio que tanto pode ser

    da regio eterna, como a Alma, ou da regio temporria como as coisas do Astral

    Elementar, pois o Eterno um fogo e o temporrio outro, como veremos mais

    adiante.

    A Quinta Propriedade.

    A quinta propriedade o Fogo do Amor, ou o Mundo do Poder e da Luz, que

    habitou nas Trevas e que as Trevas no a Compreenderam, como est escrito em

    Joo I "A luz resplandece nas trevas e as trevas no a compreendem". A Palavra

    tambm est na Luz, e na Palavra est a verdadeira compreenso da Vida do

    Homem, ou seja, o verdadeiro esprito. Este fogo a verdadeira Alma do Homem,

    o verdadeiro esprito que Deus soprou dentro dele, a vida da criatura.

    preciso entender no fogo espiritual da Vontade, a Alma desejosa, fora da Regio

    Eterna; no poder e virtude da Luz, a verdadeira compreenso do esprito no qual a

    unidade de Deus reside e est manifestada, como nosso Senhor Jesus Cristo

    disse:

    "O Reino de Deus est em voc" e Paulo: "Vs sois o templo do Esprito Santo,

    que habita em ti", este o lugar da Divina habitao e revelao.

    A Alma tambm vem a ser condenada quando a vontade gnea se rompe do Amor

    e da Unidade de Deus e entra na sua prpria Propriedade Natural, ou seja, em

    suas Propriedades Demonacas; o que ser tratado mais adiante.

    Oh Sio, observa esta regio e tu sers livre de Babel.

    O segundo Princpio ( ou o Mundo Anglico e os Tronos) explicado pela quinta

    Propriedade pois esta o movimento da unidade, onde todas as Propriedades da

    Natureza gnea ardem no Amor.

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    Um exemplo ou comparao desta regio pode ser observado numa vela acesa,

    onde as Propriedades residem uma na outra e podemos encontrar o Fogo, o

    Azeite, a Luz, o Ar e a gua do Ar, todos os quatro Elementos que anteriormente

    permaneciam em uma nica regio a se encontram manifestados; eles pertencem

    a regio eterna, pois a substncia temporal flui do Eterno tendo,

    conseqentemente, a mesma qualidade mas com a diferena de que uma

    eterna e a outra transitria, uma espiritual e a outra corprea.

    Quando a Luz e o Fogo Espiritual so acesos e, de fato iluminados da Eternidade

    (e a prpria Eternidade), ento, sempre, todo o Mistrio do Poder e do

    Conhecimento Divino tambm se manifesta, pois todas as Propriedades da

    Natureza Eterna se tornam espirituais no fogo (ainda que a natureza permaneacomo , interiorizada em si mesma) e a atuao da vontade se torna espiritual.

    No estalido ou claridade do Fogo, a negra receptibilidade consumida e neste

    processo, sai o brilho puro do Fogo-Esprito, rompido por um golpe de luz, e nesta

    sada encontramos trs diferentes Propriedades. A primeira o impulso (energia)

    ascendente da vontade gnea; a segunda o impulso (energia) descendente ou

    declnio do esprito aquoso, a saber, a suavidade; a terceira o procedimento

    avanado do esprito oleoso a insgnia da unidade de Deus, que se torna uma

    substncia no desejo da Natureza; ainda, tudo no passa de Esprito e Poder mas

    assim aparece na imagem da manifestao, no como se fosse alguma diviso ou

    separao, mas como Esprito e Poder.

    Esta tripla manifestao est de acordo com a Trindade, pois o centro onde est,

    o Deus nico, de acordo com sua manifestao; o gneo e flamejante esprito do

    amor a energia ascendente; a suavidade que procede do Amor a energiadescendente; no meio h o centro da circunferncia, que o Pai, ou o Deus

    Completo, de acordo com sua manifestao. Sendo isto conhecido na

    manifestao Divina, tambm o na Natureza Eterna, de acordo com as

    propriedades da Natureza pois esta nada mais do que uma semelhana deste

    processo.

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    A Natureza pode ainda ser considerada como um lampejo da origem do fogo,

    um estalo, uma regio salina, quando parte para divises infinitas, isto , para a

    multiplicidade ou variedade do Poder e da Virtude; a multiplicidade dos Anjos e

    Espritos e seus aspectos e operaes, tambm procederam dos quatro

    elementos no incio dos tempos.

    A temperatura do Fogo e da Luz o elemento santo, ou o movimento na Luz da

    unidade; desta regio salina (salitre espiritual e no o salitre terrestre) procedem

    os quatro Elementos, sendo que na compresso do Mercrio gneo, so

    produzidos a Terra e as Pedras; na Quinta-Essncia do Mercrio gneo, o Fogo e

    o Cu; e no Movimento ou impulso, o Ar; e na leitura ou interpretao do Desejo

    pelo Fogo, produzida a gua.

    O Mercrio gneo uma gua seca, que deu origem aos metais e pedras, mas o

    Mercrio partido ou dividido, produziu a gua mida, pela Mortificao no Fogo; e

    a compresso produziu a total crueza na Terra, que um puro Mercrio Saltrico

    Saturnino.

    Pela palavra Mercrio, deve se entender sempre, no sentido espiritual, a atuante,

    natural e emanada palavra de Deus, que tem sido a Separadora, Divisora eFormadora de toda substncia; e pela palavra Saturno queremos dizer

    compresso.

    Na quinta Propriedade, isto , na Luz a unidade Eterna substancial, isto , um

    santo Fogo Espiritual, uma Luz santa, um Ar santo, que nada mais do que

    Esprito, tambm uma gua santa, que o Amor emanado da unidade de Deus, e

    uma terra santa, que a virtude e a ao toda poderosa.

    Esta quinta Propriedade o verdadeiro mundo Anglico espiritual da satisfao

    Divina, escondido neste mundo visvel.

    A Sexta Propriedade

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    A sexta Propriedade da Natureza Eterna, o som, rudo, voz ou compreenso,

    pois quando o fogo clareia, todas as Propriedades juntas emitem som. O fogo a

    boca da Essncia, a Luz o esprito, e o som a compreenso pela qual todas as

    Propriedades compreendem umas as outras.

    De acordo com a manifestao da Santssima Trindade, pela emanao da

    unidade, este som ou voz a divina palavra atuante, ou seja, a compreenso na

    Natureza Eterna, pela qual o conhecimento supernatural se manifesta, mas de

    acordo com a natureza e a criatura, este som ou voz o conhecimento de Deus,

    por onde a compreenso natural conhece Deus, pois ela modelo, semelhana e

    emanao da Compreenso Divina.

    Os cinco sentidos permanecem na compreenso natural, no gnero espiritual e na

    segunda Propriedade, ou ainda, no movimento, no Mercrio gneo, e no gnero

    natural.

    A sexta Propriedade atribui compreenso voz ou som palavra articulada; a

    segunda propriedade da Natureza a produtora e tambm a casa, ferramenta ou

    instrumento da fala ou voz; na segunda Propriedade, o Poder-Virtude doloroso,

    mas na sexta Propriedade ele prazeroso e satisfatrio. A diferena entre asegunda e sexta Propriedade, est na Luz e nas Trevas, elas esto uma na outra

    como o Fogo e a Luz, no h outra diferena entre ambas.

    A Stima Propriedade.

    A stima Propriedade a Substncia, ou seja, o subjectum, ou a casa das outras

    seis, onde todas esto substantivamente, como a alma no corpo; por isto

    compreendemos especialmente o Paraso ou o grmen do poder atuante, poistoda Propriedade produz em si mesma um Motivo ou Objeto para sua prpria

    Emanao e, na stima, todas as Propriedades esto numa temperatura, como se

    estivessem em uma nica substncia. Como elas todas foram produzidas da

    unidade, ento todas retornam novamente para uma nica regio.

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    Embora elas atuem de maneira diferente, ainda h aqui uma nica substncia,

    cujo poder-virtude chamado tintura (sabor) ou um primaveril, crescente,

    penetrante e santo grmen.

    No que as sete Propriedades so a Tintura, mas sim seu corpo; o Poder-Virtude

    do Fogo e da Luz, a Tintura no corpo substancial, mas as sete Propriedades so

    a substncia que a Tintura penetra e santifica, de acordo com o poder-virtude da

    manifestao Divina. Como a Tintura uma Propriedade da Natureza, tambm a

    substncia do desejo atrativo de todas as propriedades.

    Observe que a primeira e a stima Propriedades sempre so contadas como uma,

    da mesma forma que a segunda, a sexta, a terceira e a quinta, sendo a quarta

    somente um marco divisor ou uma fronteira, pois segundo a manifestao da

    Trindade de Deus, no h mais do que trs Propriedades da Natureza. A primeira

    o Desejo que pertence ao Deus Pai, ainda que seja somente um esprito, mas

    na stima Propriedade, o Desejo substancial. A segunda o Poder-virtude

    Divino, e pertence ao Deus filho, na segunda propriedade somente um esprito,

    mas na sexta Propriedade um Poder-Virtude substancial. A terceira pertence ao

    Esprito Santo, no incio da terceira Propriedade somente um esprito gneo, mas

    na quinta Propriedade a manifestao do grande Amor.

    Assim, a Emanao da Divina Manifestao, em trs Propriedades no primeiro

    Princpio perante a Luz, Natural, mas no segundo Princpio, na prpria Luz,

    Espiritual.

    Bem, estas so as sete Propriedades em uma nica regio, e todas as sete so

    igualmente Eternas, sem comeo; nenhuma delas pode ser contada como a

    primeira, segunda, terceira, quarta, quinta, sexta ou ltima, pois so igualmente

    Eternas, sem princpio e possuem um princpio Eterno da unidade de Deus.

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    A enumerao foi uma forma simblica de apresent-las, para se compreender

    como uma nasceu da outra, para melhor se conceber o que o Criador e o que

    so a Vida e a Substncia deste mundo.

    AS SETE FORMAS DOS ESPRITOS.Primeira Vontade Desejosa spera Mundo Negro;

    uma similitude

    Segunda Amargo ou Doloroso disto uma vela.

    Terceira Angstia at o claro do Fogo

    Quarta -f ogo negro Mundo do Fogo;

    Forma-Fogo uma similitude-fogo iluminado disto o fogo de

    uma vela.

    Quinta Luz ou Amor, onde flui a gua Mundo de Luz;

    da Vida Eterna. uma similitude

    disto a Luz de

    uma vela.

    Sexta Rudo, Som ou Mercrio

    Stima Substncia ou Natureza

    O Primeiro Princpio O Segundo Princpio

    Trevas ou Fogo da Ira Luz ou Fogo do Amor

    O mundo de Trevas: conseqentemente O Mundo de Luz: conseqentemente

    Deus o Pai chamado de Deus Irado, Deus o Filho, o Verbo, o Corao de

    Fervoroso e Ciumento, um Fogo Deus chamado de Deus Amoroso e

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    consumidor. misericordioso.

    O Terceiro Princpio.O Mundo dos quatro Elementos, produzido a partir dos dois Mundos interiores, e

    um espelho deles, onde Luz e Trevas, Bem e o Mal esto misturados, no

    Eterno, mas tem um Princpio e um Fim.

    Sobre o Terceiro Princpio, a saber,O Mundo Visvel; sobre sua Origem;

    e sobre o que o Criador.

    Este mundo visvel surge do mundo espiritual mencionado anteriormente, ou seja,

    da emanao do Poder Divino e da Virtude. O mundo visvel algo semelhante ao

    mundo espiritual, que a regio interna do mundo visvel. O visvel subsiste no

    espiritual.

    O mundo visvel somente uma emanao das sete Propriedades, pois procede a

    partir das seis Propriedades atuantes, mas na stima (ou seja, no Paraso) elarepousa, e este o eterno Sabat do descanso onde o Poder e a Virtude Divina,

    descansam.

    Moiss disse "Deus criou o Cu e a Terra, e todas as criaturas em seis dias, e

    descansou no stimo dia, e tambm ordenou que se guardasse repouso".

    A compreenso permanece oculta e secreta nestas palavras: no poderia Ele ter

    feito toda sua obra em um dia? Ns no podemos afirmar sequer que existiualgum dia antes da existncia do Sol, pois no fundo h no mais que um s dia

    (em todos). Mas a compreenso permanece oculta nestas palavras, Moiss

    compreendeu por cada dia de operao, a Criao ou Manifestao das sete

    Propriedades, pois disse: "No princpio Deus criou o Cu e a Terra".

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    No Primeiro Movimento, o Desejo Magntico compressou e compactou o Mercrio

    gneo e aquoso com as outras Propriedades, e ento a massa, o bruto se separou

    da Natureza Espiritual. O que era gneo se transformou em metais, pedras e, at

    certo grau, Salitre, que a Terra. O que era aquoso se transformou em gua.

    Assim, o Mercrio gneo da operao tornou-se limpo, e Moiss o denominou Cu.

    A Escritura diz "Deus reside no Cu", pois este Mercrio gneo o Poder e Virtude

    do Firmamento, ou seja, uma Imagem e semelhana do mundo Espiritual, no qual

    Deus est manifestado.

    Quando tal operao foi feita, Deus disse "Que haja a Luz", ento o Interno

    impeliu-se atravs do Cu gneo, surgindo assim, um brilhante poder e virtude no

    Mercrio gneo, e esta foi a Luz da Natureza externa nas Propriedades, ondeconsiste a vida vegetal.

    O Segundo Dia.

    No segundo dia de operao, Deus separou o Mercrio gneo e aquoso um do

    outro, e chamou aquele que era gneo de Firmamento do Cu, que emergiu do

    centro das guas, ou seja, do Mercrio. Aqui surge a qualidade Masculina e

    Feminina, no esprito do mundo emanado, isto , o Masculino no Mercrio gneo eo Feminino no Mercrio aquoso.

    Esta separao foi feita em todas as coisas com a finalidade de que o Mercrio

    gneo desejasse e almejasse o Mercrio aquoso, e vice-versa. Deste modo,

    existiria entre eles um Desejo de Amor, na Luz da Natureza, surgindo a

    Conjuno. Contudo, o Mercrio gneo, ou o verbo emanado separou a si mesmo,

    de acordo com a natureza gnea e aquosa da Luz, e desta forma surge a

    qualidade masculina e feminina em todas as coisas, tanto em Animais como

    Vegetais.

    O Terceiro Dia.

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    No terceiro dia de operao, o Mercrio gneo e o aquoso entraram novamente em

    Conjuno ou Mistura, envolvendo-se um ao outro, fazendo com que o Salitre, ou

    seja, o separador na terra manifestasse Pastos, Plantas e rvores; esta foi a

    primeira gerao ou produo resultante da unio entre Masculino e Feminino.

    O Quarto Dia.

    No quarto dia de operao, o Mercrio gneo manifestou seu fruto, ou seja, a

    Quinta-Essncia, um poder e virtude da vida, maior do que aquele dos quatro

    Elementos, ainda que seja encontrado nos Elementos. desta substncia que so

    feitas as estrelas.

    Pelo fato da compresso do Desejo ter trazido a terra para dentro de uma Massa,

    a compresso tambm a adentrou, assim o Mercrio gneo foi impelido para o

    exterior pela Compresso, circundando o espao deste mundo por Estrelas e pelo

    Cu estrelado.

    O Quinto Dia.

    No quinto dia de operao, o Spiritus Mundi, ou seja, a alma do grande mundo

    desdobrou-se na Quinta-Essncia (queremos dizer, a Vida do Mercrio gneo e

    aquosa); l Deus criou todos os animais, peixes, aves e rpteis; cada espcie foi

    criada de uma propriedade peculiar do Mercrio dividido.

    Aqui observamos como os Princpios Eternos movimentaram-se de acordo com o

    Bem e o Mal, assim como todas as sete Propriedades e suas Misturas e

    Emanaes, pois h criaturas boas e ms; todas as coisas como o Mercrio (o

    Separador) se formaram e estruturam numa Insgnia, como pode ser notado nascriaturas boas e ms, ainda que todo tipo de vida tenha sua Origem na Luz da

    Natureza ou no Amor da Natureza. por este motivo que todas as criaturas

    independente de seu tipo ou Propriedade, amam uma as outras, de acordo com

    este Amor emanado.

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    O Sexto Dia.

    No sexto dia de operao, Deus criou o homem, pois no sexto dia a compreenso

    da Vida se desdobrou fora do Mercrio gneo, isto , fora da Regio Interna.

    Deus o criou sua semelhana usando todos os trs Princpios e o fez uma

    Imagem; Deus soprou no seu interior a compreenso do Mercrio gneo, de

    acordo com as Regies Interna e Externa, ou seja, segundo o tempo e a

    eternidade, tornando-o assim uma alma de compreenso viva. Nesta regio da

    alma, a manifestao da Santidade Divina em movimento (o Verbo de Deus vivo e

    emanado) e a Idia de conhecimento Eterno, foram conhecidas da Eternidade na

    Sabedoria Divina como um agente ou Forma da Imaginao Divina.

    Esta Idia tornou-se ntima da Substncia do mundo seleste, passando a ser um

    Esprito de compreenso e um Templo de Deus, uma imagem da viso Divina,

    cujo esprito dado alma como esposo, assim como o Fogo e a Luz tambm se

    desposam.

    Esta Regio Divina brotou e transpassou a alma e o corpo do homem e este era

    seu verdadeiro Paraso, perdido pelo pecado, quando a regio do mundo das

    trevas, com o falso desejo, obteve a supremacia e dominou no homem.

    O Stimo Dia.

    "No stimo dia, Deus descansou de todas as obras que havia feito", disse Moiss,

    ainda que Deus no necessite de nenhum repouso, pois ele feito da Eternidade,

    e nada mais do que um mero Poder e Virtude atuante. Contudo, o sentido e

    compreenso permanece ocultos na Palavra, j que Moiss disse que Ele ordenouque descansssemos no stimo dia.

    O stimo dia foi o verdadeiro Paraso, o que deve ser compreendido

    espiritualmente como a Tintura do Poder e Virtude Divino, que um

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    temperamento. Este transpassa todas as Propriedades e formado na stima ou

    na substncia de todas as outras.

    A Tintura transpassa a Terra e todos os Elementos, e tinge tudo.

    O Paraso estava na terra e no homem, pois o mal estava oculto assim como a

    noite est oculta no dia, do mesmo modo, a fria da natureza tambm estava

    oculta no primeiro Princpio, at a queda do homem, quando ento a atuao

    Divina, com a Tintura refugiaram-se em seu prprio Princpio ou na regio interna

    do mundo de luz. A ira surgiu nas alturas e predominou. Esta a maldio,

    quando dito "Deus amaldioou a Terra", pois sua maldio parte e recai de sua

    operao, da mesma forma que quando a virtude e o Poder de Deus atuam em

    algo em conjunto com a Vida e o esprito deste algo e posteriormente afasta-se

    com sua operao. A partir de ento aquele algo estar amaldioado pois opera

    segundo sua prpria vontade e no segundo a Vontade de Deus.

    Sobre o Spiritus Mundi esobre os Quatro Elementos.

    preciso observar muito bem e considerar o mundo espiritual oculto, atravs do

    mundo visvel, pois sabemos que o Fogo, a Luz e o Ar, so continuamente

    produzidos nas profundezas deste mundo. No h descanso ou interrupo desta

    produo, e assim tem sido desde o incio do mundo.

    Ainda que os homens no tenham encontrado uma causa para isto no mundo

    exterior, ou descoberto em que regio isto provavelmente ocorra, a razo diz que

    Deus assim o fez, e assim continua sendo. De fato, isto verdade, mas a razo

    no conhece o Criador, que assim cria sem cessar, ou seja, o verdadeiroArchaeus, ou Separador, que uma Emanao do mundo Invisvel ou a palavra

    de Deus emanada. Por esta palavra quero dizer e compreendo o Mercrio gneo

    do verbo, pois o que o mundo invisvel , numa operao espiritual, onde Luz e

    Trevas esto uma na outra, ainda que uma no compreenda a outra, isto o

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    mundo visvel numa operao substancial. Quaisquer poderes e virtudes do verbo

    emanado, devem ser compreendidos no mundo Espiritual e Interno; o mesmo

    serve para o mundo visvel, nas Estrelas e Elementos ou ainda em outro Princpio

    de uma natureza mais santa.

    Os quatro Elementos fluram do Archaeus da regio Interna, ou seja, das quatro

    Propriedades da Natureza Eterna. No incio dos tempos, foram aspirados da

    regio Interna, ou seja, das quatro Propriedades da Natureza Eterna e foram

    compressados e formados numa substncia atuante e em vida. por este motivo

    que o mundo exterior chamado de um Princpio e um agente do mundo

    Interno, ou seja, uma Ferramenta e um Instrumento do Senhor Interno, Senhor

    que o verbo e o Poder de Deus.

    Como o mundo Divino Interior contm em si uma vida de compreenso

    proveniente da emanao do conhecimento divino, por onde se explicam os Anjos

    e as Almas, da mesma forma o mundo exterior contm em si uma Vida Racional

    que consiste nos poderes e virtudes emanados do mundo interior. Esta vida

    (Racional) exterior no contm nenhuma compreenso mais elevada e no pode

    alcanar nada alm do que aquilo que faz parte de sua esfera, que a das

    Estrelas e dos quatro Elementos.

    O Spiritus Mundi esta oculto nos quatro elementos, como a Alma no corpo, e nada

    mais do que um poder atuante e imanente, que procede do Sol e das Estrelas;

    ele reside onde sua obra espiritual, encerrado pelos quatro elementos.

    A casa espiritual , em primeiro lugar, um poder e virtude magntico-agudo da

    emanao do mundo interior, que ocorre da primeira propriedade da Natureza

    Eterna; esta a esfera de toda virtude poderosa e salgada, tambm de toda

    virtude substancial e formadora. Em segundo lugar, a casa Espiritual, uma

    emanao do Movimento Interno, emanado da segunda forma da Natureza

    Eterna. Consiste em uma Natureza gnea, como uma espcie de fonte de gua

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    seca, compreendida como sendo a regio de todos os Metais e Pedras, pois

    desta substncia que foram criados.

    Chamo este movimento interno de Mercrio gneo, no esprito deste mundo, pois

    este o que movimenta todas as coisas, o separador dos poderes e virtudes, um

    formador de todas as formas, uma regio de vida externa como o Movimento e a

    Sensibilidade.

    A terceira regio a percepo no Movimento e Aspereza, que uma fonte

    espiritual de Enxofre. Tem origem na regio da vontade dolorosa da regio

    interna: Assim surge o Esprito com os cinco sentidos ou seja, viso, audio, tato,

    gosto e olfato. Esta a verdadeira Vida Essencial por onde o fogo, ou a quarta

    forma se faz manifestar.

    Os antigos homens sbios chamaram estas trs propriedades de Enxofre,

    Mercrio e Sal, assim como a seus materiais que foram produzidos por meio dos

    quatro Elementos onde este esprito se coagula ou se faz substancial.

    Os quatro Elementos tambm residem nesta regio, de onde no h nada

    separado ou diferente. Os quatro Elementos so apenas a manifestao desta

    regio espiritual; o esprito reside e opera neles.

    A terra a emanao mais densa deste esprito sutil; em seguida vem a gua, o

    Ar e o Fogo. Todos procedem de uma nica regio, ou seja, do Spiritus Mundi,

    que tem sua raiz no mundo interior.

    A razo perguntar: Com que finalidade o Criador realizou esta manifestao? Eu

    respondo, dizendo que no h outro motivo alm da possibilidade do mundoespiritual se tornar uma forma visvel ou uma imagem, e para que os poderes e

    virtudes internos pudessem ter uma forma e uma imagem.

    Sendo isto admirvel, a substncia espiritual necessariamente deve se manifestar

    numa regio material, para que assim possa se caracterizar e se formar; deve

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    haver tal separao, uma vez que esta existncia separada deve almejar

    continuamente a primeira regio. o Interno que almeja o Externo e o Externo

    que almeja o Interno.

    Assim, os quatro Elementos, que no mais esto interiorizados, mas em uma

    mesma regio, devem ansiar, desejar e buscar a regio interna um no outro, pois

    os quatro Elementos possuem o Elemento Interior dividido e so as propriedades

    deste elemento dividido. isto que causa esta grande ansiedade e desejo entre

    eles. Desejam continuamente estarem novamente na primeira regio, isto ,

    naquele elemento onde possam repousar. As Escrituras se referem a este

    elemento assim: "Toda criatura sofre conosco e anseia sinceramente livrar-se do

    orgulho, que um agente contrrio sua vontade".

    Nesta nsia e desejo, a emanao da virtude e do poder divino, atravs da

    atuao da natureza, tambm so formadas e transformadas em imagem, para a

    Glria Eterna e contemplao dos anjos, homens e todas as criaturas eternas.

    Podemos observar claramente como a virtude e o poder divino se imprimem e se

    formam em tudo o que vivo e tambm nos vegetais, pois no h nada

    substancial neste mundo por onde a imagem, semelhana e forma do mundo

    espiritual no se apresente, seja de acordo com a ira da regio interna ou com a

    boa virtude; e ainda que se encontre em sua regio interna, a mais maligna virtude

    ou qualidade, muitas vezes reside l a maior virtude do mundo interior. Mas onde

    h a Vida de Trevas, ou seja, um Azeite Negro, h pouco o que se esperar dele, j

    que o alicerce da ira, ou seja, um veneno, mal e falso a ser terminantemente

    rejeitado. Ainda que a vida consista em veneno, se h uma Luz ou Claridade

    brilhando no Azeite ou Quinta-Essncia, o cu estar manifestado no inferno, e

    uma grande virtude ali permanece oculta. Um bom exemplo disto so as nossasprprias vidas.

    Todo o mundo visvel uma mera regio seminal atuante. Todas as coisas tem

    uma inclinao e aspirao em relao outra, o mais elevado sobre o menos

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    elevado e vice-versa, pois esto separados um do outro. Nesta nsia eles se

    abraam no desejo.

    Pelo o que devemos saber sobre a terra, que est sempre vida das estrelas (da

    influncia e virtude das estrelas) e sobre o Spiritus Mundi, vido do esprito de

    onde no princpio teve sua origem, no h repouso para esta nsia. A nsia da

    terra consome corpos, de onde o esprito possa mais uma vez ser separado da

    condio elementar expressa, e retornar novamente para o seu Archaeus.

    Notamos tambm nesta nsia, a impregnao do Archaeus, ou Separador, vemos

    como o mais inferior Archaeus da Terra atrai o mais afastado e sutil Archaeus da

    Constelao acima da terra; a regio compactada do mais superior Archaeus

    aspira novamente sua regio, inclinando-se ao mais elevado. nesta inclinao

    que tem origem os Metais, Plantas e rvores. que o Archaeus da Terra torna-se,

    nesta ocasio, extremamente prazeroso, pois prova e sente novamente em si a

    sua primeira regio, e neste prazer todas as coisas brotam da terra. Disto tambm

    consiste o crescimento dos animais, a contnua conjuno entre o cu e a terra,

    onde a virtude e o poder divino tambm atuam, como pode ser visto pela tintura

    dos vegetais em suas regies internas.

    Contudo, o homem, que to nobre em imagem e tem sua regio no Tempo e na

    Eternidade, deve refletir muito bem sobre si mesmo e no lanar-se precipitado e

    cegamente em busca de seu lugar de origem longe de si mesmo, sendo que ele

    est consigo mesmo, embora coberto com a espessura dos Elementos e pela luta

    entre eles.

    Agora, quando a luta entre os Elementos cessar, pela morte do corpo espesso,

    ento o Homem Espiritual se manifestar. Ele pode nascer na Luz e para a Luz ou

    nas Trevas e para as Trevas; Uma das duas exerce a influncia e tem o domnio

    sobre ele; o Homem Espiritual tem sua existncia na eternidade, seja

    fundamentada no Amor ou na Ira de Deus. O homem visvel externo no agora a

    Imagem de Deus, nada mais do que uma Imagem do Archaeus, ou seja uma

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    casa (ou casca) do Homem Espiritual onde este Homem Espiritual cresce, como o

    ouro na pedra espessa, e uma planta na terra selvagem. Como diz a Escritura

    "Assim como temos um corpo natural temos tambm um corpo espiritual: tal como

    o natural tambm o espiritual".

    O corpo espesso externo dos quatro Elementos no vai herdar o Reino de Deus,

    mas herdar sim aquele que nasceu do Elemento, ou seja, da manifestao e

    atuao divina. Certamente este herdeiro no o corpo de carne e da vontade do

    homem, mas aquele formado pelo Archaeus celeste neste Corpo espesso que

    sua casa, ferramenta e instrumento. Quando a crosta for retirada, aparecer a

    razo de sermos chamados, aqui, de homens, ainda que alguns de ns no

    passamos de bestas, e mais ainda, alguns de longe so piores do que bestas.

    Devemos refletir corretamente sobre o que o esprito do mundo externo. uma

    casca de casa, um instrumento do mundo Espiritual Interior que nele est oculto,

    que atua atravs dele e assim se manifesta em Forma e Imagem.

    Deste modo, a razo humana nada mais do que a casa da verdadeira

    compreenso do conhecimento divino. Ningum deve confiar demais em sua

    razo e na inteligncia aguada, pois isto nada mais que a constelao dasestrelas externas, que seduzem o homem ao invs de lev-lo unidade de Deus.

    A razo deve se submeter completamente a Deus, para que o Archaeus possa ser

    revelado e para que isto atue e atraia uma verdadeira regio de compreenso

    espiritual, uniforme com Deus, onde o Esprito de Deus ser revelado e trar a

    compreenso at Deus e ento, nesta regio, "O esprito investiga todas as

    coisas, mesmo as mais profundas coisas de Deus" como disse So Paulo.

    Penso ser bom expor isto a seguir, de maneira breve, para maiores consideraes

    por parte dos amantes dos mistrios.

    Uma pequena explicao ou descrio damanifestao divina.

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    Deus a eterna, imensa e incompreensvel unidade que se manifesta em si

    mesma, de Eternidade em Eternidade, pela Trindade; e Pai, Filho e Esprito

    Santo, numa atuao tripla, como foi mencionado anteriormente.

    A primeira emanao e manifestao desta trindade o Verbo Eterno, ou o

    pronunciamento da virtude e poder divino.

    A primeira substncia pronunciada deste poder a sabedoria divina, que a

    substncia atravs da qual o poder atua.

    Da sabedoria flui o poder e a virtude da respirao que entra na separabilidade e

    formao manifestando o Poder Divino em suas virtudes.

    Estes Poderes e Virtudes separveis transformam-se num poder de recepo para

    sua prpria perceptibilidade; e da perceptibilidade surge a prpria vontade e o

    desejo; esta vontade a regio da Natureza Eterna que invade com o desejo, as

    Propriedades to longe quanto o Fogo.

    No desejo est a origem das trevas; no Fogo a unidade eterna se manifesta com a

    Luz, na Natureza gnea. Os anjos e as almas tm sua origem nesta propriedade

    gnea e na propriedade da Luz, que a divina manifestao.

    O poder e virtude do Fogo e da Luz chamado de Tintura e o movimento desta

    virtude, de elemento santo e puro.

    As trevas se tornam substancial em si mesma. A luz tambm se torna substancial

    no Desejo gneo. Ambos formam dois Princpios, ou seja, a Ira de Deus nas trevas

    e o Amor de Deus na luz; cada um trabalha por si mesmo e s h uma diferena

    entre eles, aquela que h entre o dia e a noite. Ambos possuem uma nica regio

    e um sempre a causa do outro, um se faz conhecido e manifestado do outro,

    como a Luz do Fogo.

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    O mundo visvel o terceiro Princpio, ou seja, a terceira regio e princpio; o

    mundo visvel soprado da regio interna ou dos dois primeiros Princpios, e foi

    produzido na natureza e na forma de uma criatura.

    A atuao Eterna Interna est oculta no mundo visvel, est em todas as coisas,

    atravs de todas as coisas e ainda no compreendida pelo prprio poder das

    coisas; os poderes e virtudes externos so passivos e a casa onde o interno atua.

    Todas as outras criaturas mundanas nada mais so do que uma substncia do

    mundo exterior, exceto o homem, criado tanto do tempo como da Eternidade, do

    Ser de todos os Seres, e feito uma imagem da manifestao divina.

    A manifestao Eterna da Luz Divina chamada o Reino dos Cus, e a Morada

    dos santos Anjos e Almas. A Escurido gnea chamada de Inferno, ou Ira de

    Deus, onde reside o diabo, juntamente com as almas condenadas.

    Neste mundo, o cu e o inferno esto presentes em todo lugar, mas de acordo

    com a regio interna.

    Internamente, a atuao divina est manifestada nas crianas de Deus; mas no

    que maligno manifesta-se a atuao das trevas dolorosas.

    O Paraso Eterno est oculto neste mundo, na regio interna, mas se manifesta no

    interior do homem, onde opera o poder e a Virtude de Deus.

    Neste mundo s iro perecer os quatro Elementos juntamente com o cu

    estrelado e as criaturas terrenas, ou seja, a vida grosseira e exterior de todas as

    coisas.

    O poder e a virtude interna de toda substncia permanece eternamente.

    Uma Outra Explicao sobre oMysterium Magnum.

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    Deus manifestou o Mysterium Magnum do poder e virtude de seu verbo. Neste

    Mysterium Magnum toda a criao permanecia em essncia, sem forma, no

    Temperamento. Por ele Deus pronunciou as formaes espirituais na

    separabilidade (variedades). Em tais formaes as cincias dos poderes e virtudes

    no desejo, isto no FIAT permaneceram, onde cada cincia, no desejo de

    manifestao, transformou-se numa Substncia Corprea.

    Tal Mysterium Magnum tambm reside no homem, ou seja, na Imagem de Deus, e

    o Verbo Essencial do Poder de Deus, de acordo com o tempo e a eternidade,

    atravs do qual a palavra viva de Deus se pronuncia, ou se expressa, tanto no

    Amor como na Ira ou na concepo. Tudo, assim como o Mysterium, se encontra

    num desejo mvel para o bem ou para o mal. Assim so as pessoas, assim oDeus que elas possuem.

    O Mysterium est despertado no homem, em qualquer propriedade que seja,

    deste modo, seu verbo tambm se revela a partir de seus poderes. Estamos

    cansados de saber que nada alm da futilidade se revela do que ruim. "Louvado

    seja o Senhor, e todas as suas obras, halleluyah".

    Sobre a Palavra CINCIA.

    A palavra Cincia no tomada por mim da mesma forma que os homens

    compreendem a palavra Scientia da Lngua Latina como em outras Lnguas; pois

    toda palavra em sua impresso, formao e expresso, fornece a verdadeira

    compreenso sobre o que uma determinada coisa de tal forma denominada.

    Os homens entendem por Cincia alguma habilidade ou conhecimento, onde se

    diz a verdade mas no se explica completamente o significado.

    A Cincia a raiz do centro de impresso do nada em alguma coisa; como

    quando a vontade da profundidade atrai a si mesma para si mesma e para um

    centro de impresso, ou seja, para o Verbo, surgindo ento a verdadeira

    Compreenso.

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    A vontade est na separabilidade da Cincia e a separa-se da compactao

    impressa. Os homens, antes de tudo, compreendem a essncia onde a Cincia

    esta separada. Esta separabilidade se imprime numa Substncia.

    A Essncia um poder e virtude substancial, mas a Cincia um poder e virtude

    mvel e incerto, assim como os sentidos, de fato ela a Raiz dos Sentidos.

    Ainda que se entenda por Cincia uma compreenso, no h uma percepo,

    mas uma causa da percepo. Desta forma, quando a compreenso se imprime

    na mente, necessariamente deve ter havido em primeiro lugar uma causa que deu

    origem a mente por onde flui a compreenso at a sua contemplao. Depois

    disto podemos dizer que esta Cincia a Raiz da Mente gnea, e em poucas

    palavras, a raiz de todos os "Princpios Espirituais"; a regio de onde surge a

    vida.

    No poderia dar Cincia um nome melhor. Este produz uma completa harmonia

    e concordncia nos sentidos, pois a Cincia a causa pela qual a profunda

    vontade divina se compacta e se imprime na natureza, para a separvel (variada),

    inteligvel e perceptvel vida da compreenso e distino; na impresso da

    Cincia, por onde a vontade a atrai para si, surge a vida natural, e o verbo de todaa vida original.

    A distino ou separao a partir do fogo deve ser compreendida da seguinte

    maneira: A Cincia Eterna na vontade do Pai atrai a vontade (dentro de si mesma)

    que passa a ser chamada de Pai e se fecha formando um Centro de Gerao

    Divina da Trindade, e atravs da Cincia que se articula num Verbo de

    compreenso; neste pronunciamento encontra-se a separao da Cincia, e em

    toda separao h o desejo de impresso da expresso; a impresso essencial

    e chamada de Essncia Divina.

    A partir desta Essncia o verbo se expressa na segunda separao, isto , na

    Natureza, e nesta expresso (onde a Vontade Natural se separa no seu Centro)

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    transforma-se num preceito. Assim se explica a separao da Cincia gnea, pois

    aqui surgem a Alma e todos os Espritos Anglicos.

    A terceira Separao ocorre segundo a Natureza externa do Verbo expresso e

    formado, onde reside a Cincia Bestial, como pode ser vista na obra "Eleio da

    Graa", que possui uma apurada compreenso e um dos mais claros de nossos

    escritos.

    FIMUMA ILUSTRAO

    DOS

    PRINCPIOS OCULTOSDEJ ACOB Behme, o Tesofo Teutnico

    EM TREZE FIGURASpor DIONYSIUS ANDREW FREHER

    I

    Deus, sem qualquer Natureza ou Criatura. O Verbo Informe na Trindade sem

    qualquer Natureza. (Vid. et N.B. Mysterium Magnum, IV3).

    Alfa e Omega; o Princpio Eterno e o Fim Eterno, o Primeiro e o ltimo.

    A maior Generosidade, Brandura, Tranqilidade, etc.

    Tudo e Nada. Liberdade Eterna.

    Profundidade, sem nenhuma Esfera, Tempo, Lugar.

    A Eternidade Tranqila. Mysterium Magnum sem Natureza. Caos.

    O Espelho das Maravilhas, ou o Maravilhoso Olho da Eternidade.

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    A primeira temperatura, ou Temperatura na Inexistncia; uma Calma, Habitao

    Serena, mas sem qualquer Esplendor ou Glria.

    A Trindade Imanifesta, ou melhor, aquele Ser Trino e Insondvel, que no pode

    ser Objeto de qualquer compreenso criada.

    II

    Os trs Primeiros (Sal, Enxofre e Mercrio).

    O Tringulo na Natureza.

    A Parte inferior e agitada da Natureza.

    As Propriedades das Trevas. A Raiz do Fogo.

    A Roda da Natureza.

    As trs Propriedades Esquerda, utilizveis no Sentido do Pai, Filho e Esprito

    Santo.

    O Mundo Infernal, se em uma criatura separada dos trs da Direita.

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    N. B. Virgem... Oposto quilo que no Mundo da Luz chamado de Sabedoria

    Virgem.

    III

    A Quarta Propriedade da Natureza Eterna.

    O Fogo Mgico. O Mundo gneo.

    O Primeiro Princpio.

    A Gerao da Cruz.

    O Vigor, a Fora e o Poder da Natureza Eterna.

    A Introduo da Profundidade ou da Liberdade Eterna no Mundo de trevas,

    quebrando e consumindo toda forte Atrao das Trevas.

    A Marca Distintiva que permanece no meio, entre trs e trs, ocasionada pela

    primeira terrvel Ruptura (feita na primeira spera e grosseira Solidez) no Mundo

    de Trevas e pela segunda prazerosa Ruptura (feita na segunda suave, aquosa ou

    conquistada Solidez) no Mundo da Luz; resultando em cada um o que capaz, ou

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    seja, Vigor, Fora, terror, etc., na primeira e Luz, Esplendor, Brilho e Glri