a capoeira como elemento da cultura social - unisalesiano · a confundem com um jogo ou algum tipo...

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1/4 III ENCONTRO CIENTÍFICO E SIMPÓSIO DE EDUCAÇÃO UNISALESIANO Educação e Pesquisa: a produção do conhecimento e a formação de pesquisadores Lins, 17 – 21 de outubro de 2011 A CAPOEIRA COMO ELEMENTO DA CULTURA SOCIAL E SUA IMPORTÂNCIA COMO CONTEÚDO DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR Profª Ma. Suelly Therezinha Santos Moreno [email protected] Daniela Garcia [email protected] Resumo O objetivo deste trabalho foi demonstrar através de levantamento bibliográfico, que a capoeira, como componente da cultura popular pode auxiliar no processo de aprendizagem escolar, considerada como expressão mais brasileira em termos de atividade física, já que se trata de uma luta criada no Brasil por escravos de africanos. O desenvolvimento de uma proposta pedagógica e lúdica que valorize o respeito, a diversidade étnico-racial, cultural e social de cada indivíduo, promoverá o equilibrio entre o real e o imaginario. Assim, vai alimentando a formação interior da criança, para se descobrir como agente formador e reprodutor da cultura e do saber. Palavras chave: Capoeira. Conteúdo Social. Educação Física Escolar Introdução A capoeira talvez seja a expressão do que há de mais brasileiro em termos de atividade física, já que se trata de uma luta criada no Brasil por escravos de origem africana. Isso é tão significativo que no exterior a capoeira é conhecida como “brazilian martial art”, ou arte marcial brasileira. Por ser praticada em grupo e acompanhada de música constante que impõe ritmo aos movimentos, muitas pessoas a confundem com um jogo ou algum tipo de dança, mas como já disse Mestre Pastinha: Capoeira Angola é, antes de tudo, luta, e luta violenta. O termo capoeira significa: o mato que nasce depois do desmatamento, provavelmente porque era praticada entre esses matos, com os lutadores próximos ao chão, para não serem descobertos pelos seus senhores. É preciso dizer que nessa época a capoeira era uma prática proibida, pois com os escravos treinando sua forma de defesa pessoal, poderiam trazer problemas para aqueles que se consideravam seus donos. No entanto, ainda que proibida, a capoeira nunca deixou de ser praticada e ensinada. A antiga capoeira marcava-se por um grande respeito aos rituais tradicionais, diferentemente do que ocorre nos dias de hoje. Atualmente, são raras as academias que adotam a denominação de Angola ou Regional para a capoeira que é ali praticada. E, entre as que se identificam como Capoeira Regional, poucas demonstram efetivamente relação direta com o trabalho desenvolvido por Mestre Bimba. Na verdade, os mestres e professores de capoeira afirmam jogar e ensinar

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III ENCONTRO CIENTÍFICO E SIMPÓSIO DE EDUCAÇÃO UNISALESIANO

Educação e Pesquisa: a produção do conhecimento e a formação de pesquisadores

Lins, 17 – 21 de outubro de 2011

A CAPOEIRA COMO ELEMENTO DA CULTURA SOCIAL E SUA

IMPORTÂNCIA COMO CONTEÚDO DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR

Profª Ma. Suelly Therezinha Santos Moreno

[email protected] Daniela Garcia

[email protected]

Resumo

O objetivo deste trabalho foi demonstrar através de levantamento bibliográfico, que a capoeira, como componente da cultura popular pode auxiliar no processo de aprendizagem escolar, considerada como expressão mais brasileira em termos de atividade física, já que se trata de uma luta criada no Brasil por escravos de africanos. O desenvolvimento de uma proposta pedagógica e lúdica que valorize o respeito, a diversidade étnico-racial, cultural e social de cada indivíduo, promoverá o equilibrio entre o real e o imaginario. Assim, vai alimentando a formação interior da criança, para se descobrir como agente formador e reprodutor da cultura e do saber.

Palavras chave: Capoeira. Conteúdo Social. Educação Física Escolar Introdução A capoeira talvez seja a expressão do que há de mais brasileiro em termos de atividade física, já que se trata de uma luta criada no Brasil por escravos de origem africana. Isso é tão significativo que no exterior a capoeira é conhecida como “brazilian martial art”, ou arte marcial brasileira. Por ser praticada em grupo e acompanhada de música constante que impõe ritmo aos movimentos, muitas pessoas a confundem com um jogo ou algum tipo de dança, mas como já disse Mestre Pastinha: Capoeira Angola é, antes de tudo, luta, e luta violenta. ‘ O termo capoeira significa: o mato que nasce depois do desmatamento, provavelmente porque era praticada entre esses matos, com os lutadores próximos ao chão, para não serem descobertos pelos seus senhores. É preciso dizer que nessa época a capoeira era uma prática proibida, pois com os escravos treinando sua forma de defesa pessoal, poderiam trazer problemas para aqueles que se consideravam seus donos. No entanto, ainda que proibida, a capoeira nunca deixou de ser praticada e ensinada. A antiga capoeira marcava-se por um grande respeito aos rituais tradicionais, diferentemente do que ocorre nos dias de hoje. Atualmente, são raras as academias que adotam a denominação de Angola ou Regional para a capoeira que é ali praticada. E, entre as que se identificam como Capoeira Regional, poucas demonstram efetivamente relação direta com o trabalho desenvolvido por Mestre Bimba. Na verdade, os mestres e professores de capoeira afirmam jogar e ensinar

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uma forma mista, que concilia elementos da Angola tradicional com as inovações introduzidas por Mestre Bimba. De fato, delimitar a separação entre essas duas escolas da capoeira é algo muito difícil hoje em dia, e há muitos anos sabe-se que a tendência é que a capoeira incorpore as características dessas duas escolas. No entanto, é fundamental que os capoeiristas conheçam a sua história, para que possam desenvolver sua luta de maneira consciente. Algumas das mais relevantes características da Angola a serem recuperadas para os dias de hoje são: a continuidade de jogo, em que os capoeiristas procuram explorar ao máximo a movimentação evitando interrupções na dinâmica do jogo; a importância das esquivas, fundamentais na Angola, em que o capoeirista evita ao máximo o bloqueio dos movimentos do adversário, procurando trabalhar dentro dos golpes, aproveitando-se dos desequilíbrios e falhas na guarda do outro; a capacidade de improvisação, típica dos angoleiros, que sabiam que os golpes e outras técnicas treinadas no dia-a-dia são um ponto de partida para a luta, mas precisam sempre ser moldadas rápida e criativamente à situação do momento; a valorização do ritual, que contém um enorme universo de informações sobre o passado de nossa arte-luta e que consiste em um grande patrimônio cultural. Já a capoeira regional apresenta movimentos mais acrobáticos, é jogada em pé e tem regras específicas, elemento característico de um esporte. Outra diferença importante entre esses dois tipos de capoeira é o modo como um membro se torna mestre: na capoeira regional, conforme os praticantes vão desenvolvendo melhor suas habilidades, aprendendo golpes diferentes e pensando sobre esses golpes, eles vão sendo graduados por meio de um cordão, em que cada cor representa um estágio em que o praticante está classificado, assim ele vai adquirindo novos cordões até se tornar um mestre. Na capoeira angola o processo é bastante diferente: após muitos anos de prática e de dedicação ao mestre e à capoeira, o praticante recebe do mestre um lenço, que representa que esse discípulo está pronto para ser mestre. Assim, na capoeira angola, a formação do mestre depende exclusivamente da vontade do mestre que ensina. Outra característica importante da capoeira é a música. A música é sempre tocada por membros da roda que se revezam, e é acompanhada de uma regra fundamental: os membros da roda sempre precisam responder ao canto, também chamado de ladainha. As ladainhas são acompanhadas pelo toque de alguns instrumentos: pandeiro, atabaque, caxixi, agogô e reco-reco. Uma relação dialética entre a capoeira e a escola, proporcionará uma analise dos aspectos social e disciplinar da capoeira Segundo Rossine (2003, p.16 apud ROCHA et al, 2007), se o ser humano não está bem afetivamente, sua ação como ser social estará comprometida, sem expressão, sem força, sem vitalidade.Isto vale para qualquer área da afetividade humana, independentemente de idade, sexo ou cultura. O afeto é uma energia necessária para que a criança construa o conhecimento com mais prazer e motivação. As crianças devem e precisam aderir às regras criadas na escola e em casa, são os professores e os pais que juntamente com as crianças, devem executar as regras estabelecidas aos alunos. Precisa-se deixar claro o que eles podem e ou não podem fazer, cabe ao professor, controlar os alunos no sentido do não cumprimento das regras, pois uma vez desrespeitada, a mesma não terá mais o mesmo objetivo.

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A capoeira, essa arte de origem controversa e que ainda desperta muita polêmica, emergiu no bojo das camadas populares e adentra as instituições públicas e privadas de forma arrebatadora e efusiva, sendo capaz de um pouco mais de quatrocentos anos de trajetória estar presente na maior parte das escolas, clubes, universidades, academias, dentre outros, se firmando com força em vários países do mundo, força esta, que ora estamos precisando verificar os interesses ideológicos que estão sendo defendidos nas entrelinhas de sua expansão pelo mundo (...). (MOREIRA, 2007, p.56)

A capoeira gradativamente vai inserindo-se no contexto escolar, podendo-se atribuir ao Mestre Bimba um papel importante neste processo, pois através de seu contato com estudantes universitários de Salvador, que o convidaram para ensinar na pensão onde residiam, o mestre pode ter acesso a uma camada social e a códigos e símbolos do conhecimento científico que possibilitaram a criação e sistematização deste novo modelo de ensino da capoeira. A partir daí, a capoeira inicia seu processo de institucionalização. O novo modelo de capoeira criado por Bimba e seus discípulos passa a ser reconhecido paulatinamente pela sociedade civil, sendo inclusive o Mestre Bimba agraciado com o título de Instrutor de Educação Física, mediante diploma oficial assinado por Dr. Gustavo Capanema, o então Ministro de Educação, no ano de 1957 pelo enquadramento do ensino da capoeira na legislação vigente. Partindo dos princípios de que a capoeira, ao longo de sua história, passou por uma série de transformações para firmar seu espaço no ambiente escolar e que a escola funciona, na maioria das vezes, como um aparelho ideológico do estado, que por sua vez estará sujeito aos ditames do capital, é preciso traçar um painel desta dialética relação entre a capoeira e a escola. Para compreender os conflitos desta relação, é preciso lembrar que o surgimento da escola teve suas bases associadas a uma estratégia de manutenção da diferença entre a classe operária e a classe burguesa, sendo esta última beneficiada pela manutenção ideológica garantida pela escola, pois ali estariam garantidos os princípios de construção da separação entre fazer e pensar, corpo e mente princípios estes que resistem até os dias atuais. A partir da análise deste contexto acima, fica fácil compreender o tamanho do desafio e das transformações, que foram necessárias para enquadrar a capoeira na lógica escolar, pois a capoeiragem historicamente foi também símbolo de contestação da lógica vigente e sua fundamentação filosófica, centra-se em uma simbologia que extrapola o conceito de educação escolar, ratificando o verdadeiro conceito de educação, que não estabelece fronteiras, nem limites para as relações de ensino-aprendizagem.

Metodologia Este estudo teve como base o levantamento bibliográfico sobre o tema, analisando o parecer dos autores, comparando suas concepções e através das mesmas se chegar a conclusões que beneficiem a introdução da capoeira no âmbito escolar. Resultados e Discussão

Os primeiros estudos sobre a utilização da Capoeira como método de defesa pessoal e ginástica somente aconteceram em 1928 através de Annibal Burlamaqui publicando "Gymnastica Nacional" (Capoeiragem) sendo, portanto essa luta brasileira,

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tratada como esporte nacional, método de defesa pessoal e ginástica metodizada em 1945 por Inezil Pena Marinho, especialista em Educação Física.

Dessa forma, pode-se observar a importância da pratica da capoeira na escola, bem como a sua importância como meio de denvolvimento físico, psíquico e social de indivíduos em qualquer faixa etária. Conclui-se com este trabalho que há uma necessidade da escola vincular os saberes acadêmico-científicos aos saberes da cultura popular, evitando assim um processo de desumanização e esquecimento da cultura pátria. Cabe ao Profissional de Educação Física Escolar contribuir para que o educando vivencie a Cultura Corporal do Movimento através das muitas manifestações que existem, inclusive a Capoeira, percebendo nela a maneira de ser e agir de um povo que procurava felicidade em meio a inquietações e dificuldades na vida, povo esse que veio contribuir com a formação da sociedade brasileira. Com isso o educando pode reter conhecimentos que o ajude a estabelecer atitudes de superação de pré-conceitos e discriminação, adotar atitudes democráticas e posicionar-se contra qualquer atitude servil. Em uma primeira aproximação, a conexão capoeira-educação parece um tanto inusitada, pois, a capoeiragem possui uma forma de organização muito diferente da lógica escolar: enquanto na sala de aula os espaços são lineares, com lugares demarcados, na capoeira há circularidade, flexibilidade temporal e espacial.

Referências

FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 3 ed. São Paulo: Paz e Terra, 1997.

GONÇALVES JUNIOR, L. Dialogando sobre a Capoeira: possibilidades de intervenção a partir da motricidade humana. Motriz: Revista de Educação Física (On-line), efdeportes.com. v. 15, p. 01-09, 2009.

MARINHO I.P. Subsídios para o Estudo de Metodologia do Treinamento da Capoeiragem, Rio de Janeiro: Ministério do Trabalho, Industria,Comércio, 1945.

MOREIRA, R; M. N. Capoeira :Sua Origem e sua Inserção no Contexto Escolar. Disponível em: >www.eddeports.com/revista< digital-Buenos Aires-ano 12-114- Novembro de 2007. Acesso em: 10/10/2010.

REIS, L. V. S. O mundo de pernas para o ar: a capoeira no Brasil. São Paulo: Publisher Brasil, 2000.

ROCHA, N.M B.et.al; Indisciplina: compreender ou reprimir? Disponível em: >www.faesi.com.br/2007/downloods/6/tcc%<20pronto%20%20noeli%20e%20neuza.pdf. Acesso em: 20/11/09