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A BIODIVERSIDADE DA FLORESTA AMAZÔNICA E OS IMPACTOS DABIOPIRATARIA
Anna Luiza de Calazans Peixoto Percope1
Bárbara Danielle Miguel¹Débora Martins Bandeira¹
Jhenison Dias dos Reis¹Pablo Balboa Garrido¹
Raquel Nunes Lobo¹Ana Cristina Marques de Carvalho2
RESUMO
Este trabalho trata da questão da biopirataria na Floresta Amazônica. Tal bioma,
devido a sua rica biodiversidade, tem sido alvo lucrativo de “biopiratas”, que
exploram de maneira prejudicial e ilegal, tanto a fauna e a flora, quanto os
conhecimentos de comunidades tradicionais. São abordados nesse trabalho os
seguintes aspectos: a forma como a biopirataria tem ocorrido na região; os impactos
dessa prática para o meio ambiente e os instrumentos legais de controle e
fiscalização. Para isso, foi realizada uma pesquisa bibliográfica em livros, artigos
científicos e sites da Internet. Ao término do trabalho constatou-se que: há falhas
nos processos de monitoramento e proteção das fronteiras; na fiscalização e
punição dos infratores; além de um sério descaso das autoridades governamentais
no sentido da criação, acompanhamento e cumprimento de leis específicas para
controle da biopirataria. Tais fatores dificultam o combate à biopirataria e suas
consequências.
Palavras-chave: Biodiversidade. Biopirataria. Floresta Amazônica.
1 INTRODUÇÃO
O Brasil é considerado o maior país de diversidade biológica
(biodiversidade) do planeta. Cerca de 22% das espécies nativas mundiais estão
aqui, principalmente no bioma Floresta Amazônica. Tal floresta funciona como um
grande reator para o equilíbrio da estabilidade ambiental da Terra. Em relação aos
critérios ambientais, sua importância se deve a variedade de espécies; a riqueza da
1 Alunos do Curso de Administração da Faculdades Promove de Minas Gerais.2 Professora nos Cursos de Administração, Tecnólogos em Recursos Humanos e Marketing daFaculdades Promove e Infórium.
fitoterapia; a abundância de água doce; ao estoque de carbono e a capacidade de
transferir calor e vapor para outras regiões. Já a nível econômico, ela contribui para
a diversidade de recursos vegetais, minerais, animais; agropecuária; hidrelétrica,
etc.
Essa riqueza de biodiversidade por ser reconhecida internacionalmente,
torna-se alvo lucrativo de países ricos em tecnologia que acabam utilizando
indevidamente os recursos genéticos da região. Todos os anos são apreendidos
cerca de 40 mil animais silvestres e espécies de flora nos portos e aeroportos do
país. A isso se dá o nome de biopirataria (DE ALENCAR, 2004).
Galdino (2007) entende que, não existe uma definição clara para a
biopirataria, mas o termo é usado, principalmente, em relação a empresas e
instituições de pesquisas que exploram de maneira prejudicial e ilegal, tanto a fauna
e a flora, quanto os conhecimentos de comunidades tradicionais. A partir desse
processo, elas elaboram em escala industrial novos produtos (medicamentos,
cosméticos, alimentos, produtos agrícolas, etc).
Diante desse contexto, há duas preocupações. A primeira refere-se às
perdas de propriedade intelectual sofridas quando se tem acesso ilegal, e por vezes
irrestrito, a essas matérias primas. De acordo com Galdino (2007), após tal
exploração as empresas e instituições passam a ter posse, por meio de patentes, de
toda a renda da comercialização. Sirvinskas (2003) acrescenta ainda que, a
transferência dessa riqueza ocorre sem o pagamento de royalties ao país onde se
descobriu a matéria prima do citado produto. A segunda preocupação refere-se às
perdas ambientais significativas por conta da destruição dos ecossistemas que
abrigam a biodiversidade (PACANARO, 2010).
Este trabalho visa essencialmente apresentar a forma como tem ocorrido
a biopirataria na Floresta Amazônica, bem como, identificar a existência e eficácia
de instrumentos de controle e fiscalização.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 A Riqueza da biodiversidade da Floresta Amazônica e a problemática debiopirataria
Pacanaro (2010) define a biodiversidade como o conjunto de todas as
espécies de seres vivos existentes na biosfera. Essa inclui três categorias:
diversidade genética, diversidade de espécies e diversidade de habitats (ou de
ecossistemas).
A biodiversidade é importante para a sobrevivência e manutenção da vida
no planeta. Bensusan (2008, p.25) entende que é ela que “garante a fotossíntese, a
ciclagem das águas, a conservação dos solos, a polinização, o controle de pragas, a
competição entre organismos e a predação”.
Segundo Pires (1972 apud LEITAO FILHO, 1987) a Amazônia como um
todo é composta por nove principais diferentes tipos de vegetação, sendo que as
chamadas Matas de Terra Firme ocupam cerca de 90% da área total, representando
assim, o ecossistema mais importante e o de maior interesse científico. Lá existe
uma diversidade de tipos de solo e de espécies, normalmente maior que a dos
demais ecossistemas do mundo.
Essa diversidade biológica atrai um número elevado de cientistas, mas
também de “biopiratas”.
A expressão “biopirata” está relacionada com a clássica figura do pirata.
Esse cruzava os mares para promover pilhagens e saques em outros navios e
também em cidades. Entretanto, hoje, o “lendário pirata” já não usa mais tapa-olho,
espada e nem perna de pau. O pirata moderno, ou “biopirata”, efetua a biopirataria e
pode estar camuflado das mais variadas formas, sendo por isso, muito mais difícil de
ser identificado (PACANARO, 2010).
Para Becker (2006) os “biopiratas” são pesquisadores disfarçados de
turistas ou estudantes, que entram na Amazônia para coletar elementos da
biodiversidade; organizações não governamentais (ONGs) de fachada; falsos
missionários de várias ceitas e religiões, contrabandistas, dentre outros. Todos
esses atores possuem o único propósito: roubar os recursos naturais para
fabricação de novos produtos. Isso é feito utilizando os conhecimentos tradicionais
locais que reduzem consideravelmente o tempo de pesquisa e geram para os
“biopiratas” uma economia de até 400%.
Araújo (2006 apud DE BARROS, 2007, p.48) acredita que o Brasil é um
dos países mais afetados pelo tráfico de animais e pela biopirataria. Ele descreve da
seguinte forma o perfil do “biopirata” nesta região:São jovens e desempregados, lavradores ou pescadores que se ligam aoscaminhoneiros, motoristas de ônibus e outros que transitam normalmenteentre zona rural e os médios e grandes centros urbanos. Nos centrosurbanos, são encontrados os médios traficantes que atuam no mercadoatacadista, voltado inclusive para o tráfico internacional. O processo é
finalizado com o que se poderia denominar de “promotores”. São osconsumidores normalmente localizados nas áreas metropolitanas; criadoresparticulares, nos apostadores de “rinha”, nos apreciadores de carnes“exóticas”, em alguns zoológicos particulares e empresas internacionais deprodutos farmacêuticos.
Segundo De Barros (2007, p.57) a biopirataria é a terceira atividade ilegal
mais lucrativa do planeta, movimentando no mundo, por ano, cerca de US$ 60
bilhões. “Em faturamento ilegal, a biopirataria só fica atrás do tráfico de armas e de
drogas que são as mais rentáveis da atualidade”.
De Barros (2007, p.57) mostra que a situação de pirataria no Brasil não é
recente. “Desde que a esquadra de Pedro Álvares Cabral atracou em Porto Seguro
(Bahia), o Brasil vem sendo alvo da pilhagem de seu patrimônio biológico e
genético”. Como exemplo, o autor cita o caso da borracha natural, extraída da
seringueira, espécie da Amazônia. Essa foi levada do Brasil para a Ásia onde se deu
seu plantio. Para Miranda (2005, apud DE BARROS, 2007, p.51) a seringueira
(Hevea brasiliensis) foi o caso mais conhecido de biopirataria.
De Barros (2007, p.44) apresenta a conceituação de biopirataria advinda
do Instituto Brasileiro de Direito do Comércio Internacional, da Tecnologia da
Informação e Desenvolvimento – CIITED:
Biopirataria consiste no ato de aceder ou transferir recurso genético (animalou vegetal) e/ou conhecimento tradicional associado à biodiversidade, sema expressa autorização do Estado de onde fora extraído o recurso ou dacomunidade tradicional que desenvolveu e manteve determinadoconhecimento ao longo dos tempos (prática esta que infringe as disposiçõesvinculantes da Convenção das Organizações das Nações Unidas sobreDiversidade Biológica A biopirataria envolve, ainda, a não-repartição justa eeqüitativa - entre Estados, corporações e comunidades tradicionais - dosrecursos advindos da exploração comercial ou não dos recursos econhecimentos transferidos.
Diniz (2004 apud PACANARO, 2010, p.53) define de forma sintética a
biopirataria como o “uso de patrimônio genético de um país por empresas
multinacionais para atender a fins industriais, explorando, indevida e
clandestinamente, sua fauna ou sua flora, sem efetuar qualquer pagamento por essa
matéria-prima”.
De Barros (2007, p.13) mostra como a biopirataria acontece na Amazônia:Constantemente alguns pesquisadores percorrem a região amazônica e seembrenham na mata a procura de novas espécies de potencial econômica.Muitos deles aproveitam-se do conhecimento dos habitantes locais, queconhecem muito bem as plantas e animais e sua utilização. Através dessasnovas descobertas as indústrias farmacêuticas extraem ou isolam o seu
principio ativo para comercializá-los no mundo todo, inclusive no Brasil. Oconhecimento que fora passado de geração em geração pelos povos locaistransforma-se assim em medicamentos que são patenteadosinternacionalmente, e para produzi-los em território nacional é preciso pagarroyalties para o detentor de sua patente, configurando, dessa forma, umadas formas de biopirataria.
A biopirataria reduz a riqueza da diversidade biológica da região por
retirar ilegalmente os princípios ativos da natureza e utilizá-los como matéria prima
para a produção em escala industrial de medicamentos, cosméticos, alimentos,
produtos agrícolas, etc (PACANARO, 2010).
Com a biopirataria, o Brasil deixa de arrecadar milhões de dólares devido
à retirada ilegal de recursos naturais. Para Maia (2015, apud DE BARROS, 2007,
p.58) “estima-se que o prejuízo inicial, no caso de medicamentos desenvolvidos com
base na biodiversidade brasileira, seja de US$ 240 milhões por ano”. Um estudo do
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA)
indica que, em apenas um dos ramos da biopirataria, o tráfico de animais silvestres,
o país perde hoje em dia mais de US$ 1 bilhão (SHIVA, 2005).
Para Maia (2015 apud DE BARROS, 2007, p.58) um dos fatores que
facilita a ocorrência da biopirataria é a facilidade de saída de tais materiais do país.
Segundo ele, “os aeroportos não possuem equipamentos “sofisticados” que sejam
capazes de detectar partes de plantas ou de animais, ou seja, a probabilidade de se
passar com o material pela alfândega é muito alta”.
De acordo com Gabeira (2015 apud DE BARROS, 2007, p.58) o Tribunal
de Contas da União (TCU), em apuração sobre a biopirataria, divulgou em Março de
2007, um relatório sobre o problema enfrentado pelo país em relação as suas
riquezas naturais.
Este relatório diz que:
No aeroporto internacional de Manaus verificou-se que a fiscalizaçãoostensiva de bagagens e passageiros só acontece quando há interessetributário, sendo nesse caso realizada pela Receita Federal, que, quandodetecta algum material genético nas bagagens solicitam a ajuda do IBAMA.O único equipamento utilizado na vistoria de bagagem é de propriedade daRF (Receita Federal). Existem ainda vôos fretados que se destinam àEuropa e, como não há interesse tributário, não há fiscalização.
Para De Barros (2007) as autoridades brasileiras vem tentando coibir a
biopirataria, entretanto, isto é um problema de difícil resolução. Isso ocorre porque a
fronteira brasileira é muito extensa com outros países. Além disso, grande parte
dessa encontra-se dentro de matas fechadas de difícil acesso. É neste contexto que
os traficantes se aproveitam.
2.2- Recursos vegetais e animais pirateados e o uso feito dos recursosextraídos
De Barros (2007, p.49) apresenta uma lista de animais utilizados para fins
científicos, tais como, a jararaca, a cascavel, as aranhas, a coral verdadeira, os
sapos Amazônicos, dentre outros. Nesse grupo encontram-se as espécies que
fornecem a matéria-prima base para a pesquisa e produção de medicamentos que
são patenteados em organismos internacionais, gerando grandes montantes de
lucros às empresas donas da patente.
De Barros (2007, p.49) mostra através do Quadro 01, o valor em dólares
para cada grama de princípio ativo extraído dos respectivos animais. Ele ainda
salienta que, o veneno extraído da cobra coral verdadeira é o mais rentável, pois sua
captura é muito difícil e sua demanda é grande. Pacanaro (2010) cita ainda o valor
do Captopril – componente do veneno da serpente jararaca. Um grama do veneno
vale cerca de US$ 450,00. O medicamento indicado para o tratamento da pressão
arterial foi patenteado nos EUA pelo laboratório Bristol-Myers Squibb. Atualmente o
mercado dessa substância gera um faturamento anual ao laboratório estimado em
US$ 5 bilhões.
Quadro 01 – Valores dos produtosNOME COMUM NOME CIENTÍFICO UTILIZAÇÃO VALOR US$ / Gr.
Jararaca Bothrops jararaca Hipertensivos 433,70
Cascavel Crotalus durissus Cola Cirúrgica 301,40
Surucucu Pico de Jaca Lachesis muta muta Homeopatia 3.200,00
Coral Verdadeira Micrurus frontalis Medicamentos 31.300,00
Aranha Marron Loxosceles SP Soro e Pesquisas 24.570,00
Escorpião Tityus serrulatus Soro e Pesquisas 14.890,00
Fonte: Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres, 2007.
Para Mesquita Filho (2003) a biopirataria rende bilhões de dólares às
indústrias químicas e farmacêuticas. Tal autor apresenta alguns dos produtos
extraídos da flora amazônica. Nesse grupo podem ser destacadas as plantas
produtoras de látex, entre elas a seringueira (responsável pelo desenvolvimento da
região), e também plantas produtoras de óleo e gorduras como as palmeiras, a
castanha-do-pará, o jatobá e a copaíba. Através dessas, são extraídas resinas que
servem para a fabricação de vernizes e substâncias aromáticas, importantes na
elaboração de cosméticos. Também existem plantas medicinais como a graviola,
empregada no tratamento do diabetes, e a copaíba, usada contra infecções.
Procópio (2005) destaca alguns outros casos de apropriação da
biodiversidade e dos conhecimentos tradicionais apontados pelo Instituto de
Tecnologia do Paraná, por meio da Agência Paranaense de Propriedade Industrial –
APPI:
A andiroba - usada pelos índios como repelente para insetos, contra febre e como
cicatrizante. Ela foi patenteada pela empresa Rocher Yves Vegetable. Tal empresa
possui direitos sobre a produção de cosméticos ou remédios que possuem seu
extrato;
O cupuaçu- fruto amazônico que foi patenteado pela empresa Asahi Foods, para a
produção do “cupulate”, uma espécie de chocolate. Em relação a esse caso,
Pacanaro (2010) esclarece que tal medida fez detonar a campanha “O cupuaçu é
nosso!”. Recentemente o nome da fruta foi reconhecido como de domínio popular e
teve seu registro anulado pelo Escritório de Marcas e Patentes do Japão (JPO);
O sapo tricolor - produtor de uma toxina analgésica duzentas vezes mais potente
que a morfina. Essa foi patenteada pelo laboratório americano Abbott;
O pau-rosa - utilizado como fixador de aroma em diversos países. Atualmente é a
matéria-prima do perfume Chanel 5, dentre muitos outros casos.
Pacanaro (2010) acrescenta a essa lista, o caso da Pilocarpina. Esse
medicamento é utilizado no tratamento do glaucoma, sendo patenteado pela
empresa alemã Merck. Tal empresa possui 34 patentes registradas no exterior, 18
delas nos EUA. Suas folhas têm propriedades antiinflamatórias e anti-reumáticas.
Outro importante recurso pirateado é o açaí. Esse é uma Palmeira existente em
várias regiões da Amazônia. Sua procura no mercado tem sido crescente devido ao
seu agradável sabor e grande potencial energético. Além disso, é excelente no
combate ao colesterol e aos radicais livres, já comprovados pela ciência. A polpa do
açaí também é usada para a fabricação de sucos, sorvetes, cremes, vinhos etc (DE
BARROS, 2007).
Outra “modalidade” de biopirataria bastante praticada na região é a venda
de animais exóticos para Pet shops (lojas para animais de estimação). Tal mercado
é o principal incentivador do tráfico de animais silvestres no Brasil. De Barros (2007,
p.50) cita alguns exemplos de espécies comercializadas no mercado ilegal
internacional, tais como a jibóia, o cágado, a arara vermelha, a arara azul, a arara de
Candindé, o teiú, o sagui de cara branca, o papagaio de cara roxa, dentre outros.
Para Pacanaro (2010) a prática da biopirataria traz dupla perda. Em
primeiro lugar traz elevadas perdas, via propriedade intelectual, sofridas quando se
tem acesso ilegal, e por vezes irrestrito, a essas matérias primas. Segundo, pois
também há perdas ambientais significativas por conta da destruição dos
ecossistemas que abrigam a biodiversidade.
2.3 Instrumentos legais e internacionais contra a biopiratariaDe Alencar et al (2008) entendem que a biopirataria se configura um
crime. Entretanto, na legislação responsável pela criminalização das ofensas
ambientais- a Lei nº 9.605 de 12 de fevereiro de 1998, não tipifica a biopirataria
como crime contra o meio ambiente.
É interessante ressaltar, no entanto que, no projeto inicial dessa lei
(devidamente aprovada pelo Congresso Nacional), havia a inclusão da biopirataria
como crime, no artigo 47. Entretanto, esse foi vetado pelo então presidente da
República Fernando Henrique Cardoso. Tal artigo previa detenção de um a cinco
anos, multa ou ambas as penas cumulativamente para quem exportasse espécie
vegetal, germoplasma ou qualquer produto ou subproduto de origem vegetal, sem
licença da autoridade competente (DE ALENCAR et al 2008).
De Alencar et al (2008, p.8) apresenta as razões explanadas pelo ex-
Presidente da República para justificar o veto do artigo:O artigo, na forma como está redigido, permite a interpretação de queentidades administrativas indeterminadas terão que fornecer licença para aexportação de quaisquer produtos ou subprodutos de origem vegetal,mesmo os de espécies não incluídas dentre aquelas protegidas por leisambientais. A biodiversidade e as normas de proteção às espécies vegetaisnativas, pela sua amplitude e importância, devem ser objeto de normasespecíficas uniformes. Ademais, existem projetos de lei nesse sentido emtramitação no Congresso Nacional.
Por não existir punição específica para o crime de biopirataria, alguns
casos concretos tornam-se difíceis de serem solucionados.
Segundo Pacanaro (2010), a Câmara dos Deputados vem apresentando,
ao longo dos anos, diversos Projetos de Lei e de Emenda Constitucional para
aprimorar a legislação existente. Essas visam proteger o patrimônio genético da
biopirataria e normatizar o acesso a esses recursos.
Conforme cita Pacanaro (2010), dos 18 Projetos elaborados em Lei,
apenas 1 foi transformado em Lei. Trata-se da Lei Ordinária n°. 11.203/05 que
institui o dia 3 de dezembro como o Dia Nacional de Combate à Pirataria e à
Biopirataria.
Algumas ações educativas têm se mostrado eficazes na conscientização
sobre a importância da preservação ambiental. “O Ministério do Meio Ambiente tem
feito a sua parte nessa tarefa. Contudo, sozinho não é feitor de grandes milagres”
(PACANARO, 2010, p.65). Esse autor acredita que poucos são os agentes públicos
treinados para fiscalizar e combater a biopirataria. Pacanaro (2010, p.65) mostra
algumas atividades feitas pelo Ministério do Meio Ambiente em 2010:O MMA também iniciou atividades inéditas de capacitação e formação emduas frentes. A primeira capacitou mais de 150 agentes do Ibama, PolíciaFederal, Fundação Nacional do Índio (Funai), Abin e Ministério da Defesapara fiscalizar e combater a biopirataria. A segunda, direcionada àscomunidades indígenas e locais, teve como objetivo promover a proteçãodos conhecimentos tradicionais e o exercício dos direitos relacionados.Envolveu a realização de 11 oficinas para orientar as comunidadesindígenas e locais com base na atual legislação de acesso e repartição debenefícios.
Pacanaro (2010) acrescenta que a Associação Brasileira de Propriedade
Intelectual (ABPI) vem também preparando uma listagem com nomes de elementos
da flora brasileira que seriam potencialmente úteis industrialmente na elaboração de
medicamentos, cosméticos, alimentos ou de produtos semelhantes. Com base
nesta lista, a ABPI envia aos maiores escritórios de patentes mundiais, localizados
principalmente na Europa, Estados Unidos e Japão, na tentativa de impedir que
produtos brasileiros virem marca em outros países por meio da biopirataria.
A falta de legislação específica para coibir a biopirataria faz com que, por
um lado investimentos sejam deixados de lado por parte das empresas sérias e por
outro surge a biopirataria como forma clandestina de levar esses recursos
indevidamente para fora do país (PACANARO, 2010).
Pacanaro (2010) entende que evitar a biopirataria no Brasil é uma tarefa
extremamente árdua. Tal autor entende que uma forma eficiente de frear tal avanço
é incentivando a pesquisa científica.
Em 21 de agosto de 2002, foi encaminhado, por intermédio do então
Ministro de Estado do Meio Ambiente, José Carlos Carvalho, outro projeto de Lei
(N.º 7.211/2002). Esse é uma tentativa de emendar a Lei de Crimes Ambientais,
anteriormente vetada pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso (PACANARO,
2010).
Em 07/11/2003 foi constituída a ―Comissão Parlamentar de Inquérito
Destinada a Investigar o Tráfico Ilegal de Animais e Plantas Silvestres da Fauna e
da Flora Brasileiras – CPITRAFI. Essa funcionou por apenas três meses, mas
efetuou relevantes investigações, produzindo um relatório final que foi encaminhado
a diversos órgãos e entidades ligadas à temática (PACANARO, 2010).
A proposta da CPIBIOPI (Comissão Parlamentar de Inquérito Destinada a
Investigar o Tráfico de Animais e Plantas Silvestres Brasileiros, a Exploração e
Comércio Ilegal de Madeira e a Biopirataria no País) é ter natureza mais
investigativa e propositiva. Tem o objetivo de identificar os problemas e influenciar
as políticas públicas nas três linhas de atuação – Tráfico de Animais e Plantas
Silvestres Brasileiras, Exploração e Comércio Ilegal de Madeira e Biopirataria. Foram
ouvidos suspeitos de tráfico de animais, madeireiros, biopiratas, testemunhas,
agentes e delegados da Polícia Federal, jornalistas, pesquisadores de universidades
renomadas, servidores do IBAMA, CNPq, INPA, MMA/SBF, EMBRAPA, INPE,
FUNAI (PACANARO, 2010).
Alves (2007) tem uma opinião importante sobre a questão do combate a
biopirataria. Para ela, a grande dificuldade em se verificar e combater esse crime
não está na falta de legislação, mas na prática de um ato legal que ocorre após a
biopirataria: a patente. “As patentes são concedidas para invenções por um período
de 20 anos. Para caracterizar o direito à patente, essas invenções devem ser de uso
prático, mostrar um elemento de novidade e um passo inventivo” (ALVES, 2007,
p.9).
A facilidade de se registrar marcas e patentes em âmbito internacional
têm gerado um aumento na biopirataria mundial. Acaba ocorrendo “um maior
investimento em pesquisas e tecnologia por parte dos países mais ricos e uma
dependência intelectual e econômica dos países mais pobres que possuem a
matéria-prima para tal investimento” (ALVES, 2007, p.9).
Segundo Alves (2007) o Tratado sobre Direitos de Propriedade Intelectual
da OMC – TRIPS, firmado em 1995, estabeleceu o direito das empresas terem
respeitadas as patentes em todos os países membros da OMC. Isto permite que
essas empresas, geralmente de países industrializados que detém uma maior
capacitação tecnológica e econômica, utilizem esses direitos para piratear o
conhecimento indígena e a biodiversidade dos países mais pobres do mundo que
detém esta imensa fonte de riquezas, mas pouco recurso financeiro e baixa
capacitação humana para investir em pesquisas.
Alves (2007) acredita que a atual Lei de Patentes precisa ser revista. Para
Alves (2007, p.10) :(...) Novos acordos devem proibir o patenteamento de organismos semespecificação de origem e forma de obtenção, e garantir propriedadeintelectual às populações que geraram o conhecimento. Seria bem vindotambém o acréscimo de artigos à legislação de crimes ambientais, comoforma de dar efetividade ao trabalho de fiscalização. É preciso tipificarmelhor as penalidades em relação ao tráfico de animais e à biopirataria.Hoje, a falta de objetividade põe no mesmo banco de réus um traficanteinternacional e uma idosa que possua um papagaio há duas décadas.(fonte: Correio Braziliense de 29 de outubro de 2005).
A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – CTNBio; a
organização civil denominada de Conselho de Informações sobre Biotecnologia –
CIB; o site www.amazonlink.org e outros sites relacionados à biotecnologia buscam
combater direta e indiretamente à biopirataria na Amazônia, alertando as
autoridades para casos de registros de 46 patentes ainda pouco conhecidos como o
Cupuaçu e a Andiroba, que trazem prejuízos para as comunidades tradicionais que
comercializam os produtos na região. A luta contra essa monopolização de
conhecimentos e produtos de comunidades tradicionais e indígenas na região
amazônica tem proporcionado alianças entre a sociedade, o Estado e o chamado
terceiro setor. Esse último atua como uma ponte entre o Estado e a sociedade, pois
é composto por instituições como ONGs, fundações e associações, com o objetivo
de esclarecer a obscuridade que ainda paira sobre a biopirataria na região (ALVES,
2007).
2.3.1- Atuais instrumentos legais
As discussões em torno do acesso à biodiversidade nacional,
conhecimentos tradicionais associados, e da repartição de benefícios sobre sua
exploração acontecem há mais de 20 anos, no Brasil. No entanto, segundo a
Organização de Direitos Humanos – Terra de Direitos, a autuação de empresas
nacionais e internacionais pela prática de biopirataria, gerou, nos últimos meses,
uma movimentação do setor para a construção de uma proposta que atendesse aos
seus interesses. O Projeto de Lei 7735/2014, proclamado como “marco regulatório
da biodiversidade” foi proposto em regime de urgência pelo Poder Executivo no meio
do ano de 2014. A proposição é considerada uma forma de pagamento pelo
financiamento de campanha para atender os interesses das indústrias cosméticas e
farmacêuticas criminalizadas pela prática de biopirataria
(www.terradedireitos.org.br).
A Organização de Direitos Humanos – Terra de Direitos defende
alterações nesse projeto de lei, pois acreditam que esse projeto “surge como uma
forma conveniente de impedir a biopirataria: afirmando que essa prática é legal”.
A seguir serão mostradas no Quadro 02 as principais conquistas obtidas
com o Projeto de Lei 7735/2014, no senado:
Quadro 02– Principais conquistas em relação ao PL 7735 no SenadoComo ficou Como era
Indústrias e pesquisadores estrangeiros serãoobrigados a se associar a entidades nacionais parapoder acessar e explorar o patrimônio genéticonacional e os conhecimentos tradicionais a elesassociados;
Indústrias e pesquisadores estrangeiros nãotinham essa obrigação (estava legalizada abiopirataria);
Mecanismos de fiscalização e controle sobreacesso por estrangeiros e remessa de patrimôniogenético para o exterior, foram aprimorados;
Mecanismos de fiscalização e controle nãodefinidos (mais uma facilitação à biopirataria);
Foram excluídos dispositivos incompatíveis com aratificação do Protocolo de Nagoya – mecanismointernacional de combate à biopirataria e deregulação sobre acesso ao patrimônio genético erepartição justa e equitativa sobre os benefícios noâmbito da Convenção da Diversidade Biológica eque não foi ratificada no ano passado pelo Brasiljustamente por pressão da bancada ruralista;
Continha disposições que claramenteimpediam a ratificação do protocolo deNagoya, fazendo o Brasil caminhar nacontramão dos acordos internacionais;
Desburocratizou significativamente a repartição debenefícios através da modificação de diversostermos que colocavam obstáculos para que issoocorresse e também simplificou o acesso aopatrimônio genético para fins de pesquisa científica;
Cantando aos ventos que o PLdesburocratiza o acesso ao patrimôniogenético nacional (agro e biodiversidade) eaos conhecimentos tradicionais associados(os saberes dos Povos do Campo, dasFlorestas e das Águas), a outra face do PLaprovado na Câmara era de burocratizar ashipóteses de repartição de benefícios.
Agricultores familiares passam a ser sujeito dedireito e seus saberes sobre as sementes crioulassão intrinsecamente reconhecidos;
Tratava de um sujeito inexistente (AgricultorTradicional) e submetia o reconhecimento desementes crioulas a determinado Ministério,distorcendo o conceito de sementes crioulase reduzindo os direitos dos agricultores, alémde impactar negativamente em diversaspolíticas públicas duramente conquistadas.
A repartição de benefício ocorrerá baseada em umalista definida pelo executivo.
A repartição de benefícios só ocorreria seuma lista elaborada por sete ministérios fosseelaborada
Fonte: www.terradedireitos, 2015
2.4 Principais Projetos para monitoração e proteção da Amazônia.Segundo Miranda (2005 apud BARROS, 2007) muitas das riquezas da
Amazônia tem saído ilegalmente pelas fronteiras da Amazônia sem o menor controle
por parte do governo.
Por isso, cabe ao Brasil o grande desafio de cuidar dessa região evitando
sua devastação, exploração e atos ilícitos nas suas fronteiras.
A seguir serão descritos alguns projetos que vem sendo criados visando à
monitoração e proteção da Amazônia.
2.5.1 Projeto SIVAMO Projeto SIVAM (Sistema de Vigilância da Amazônia) foi concebido
inicialmente em 1990, no governo do Presidente Fernando Collor e teve como
objetivo monitorar os 5,2 milhões de km² da Região Amazônica.
O SIVAM é um projeto da Secretaria de Estudos Estratégicos (SAE) e do
Ministério da Aeronáutica. Fazem parte ainda desse projeto, os Ministérios da
Justiça, Comunicações, Meio Ambiente, Marinha e Exército. Esse visa, além de dar
suporte lógico e material ao Sistema de Proteção da Amazônia (SIPAM), ser uma
rede integrada de telecomunicações com base no sensoriamento remoto. Esse
processa imagens conseguidas por satélite e sensores instalados em aviões que
fazem a varredura das áreas a serem protegidas. Essas informações ficam
armazenadas em Brasília. Tal projeto opera em paralelo com centros de vigilância,
que estão localizados nas capitais dos estados Amazônia, Pará e Rondônia
(MIRANDA, 2005 apud BARROS, 2007).
Através desse projeto, o governo visa além de mapear as bacias
hidrográficas e jazidas de minérios, controlar o tráfego aéreo e atividades ilegais, tais
como o narcotráfico e contrabando. Pretende também, cuidar e combater o
desmatamento, queimadas e mineração ilegal (MIRANDA, 2005 apud BARROS,
2007).
Miranda (2005 apud BARROS, 2007, p.30) apresenta atribuições do
SIVAM:
Proteção do Meio Ambiente; Controle, ocupação e uso da terra; Atualizaçãocartográfica; Vigilância e controle das fronteiras; Monitoração de navegaçãofluvial e de queimadas; Identificação e combate às atividades ilegais;Monitoração e controle do tráfico aéreo cooperativo e não cooperativo;Combate ao tráfico de drogas, Animais e Biopirataria.
Em 2002 o Projeto SIVAM entrou em ação total e nos primeiros 30 dias de
operação, foram detectados, apreendidos e destruídos 33 pistas de pouso e 84
aeronaves (MIRANDA, 2005 apud BARROS, 2007).
Sobre a atuação do projeto De Barros (2007) reconhece algumas
dificuldades encontradas na implantação do Projeto SIVAM, entretanto, vê que
resultados positivos já têm aparecido. Acredita também que o mais importante é
garantir a soberania do país. Tal autor entende que, monitorar a Amazônia não é
tarefa fácil, pois há uma extensão imensa a ser monitorada e a quota de funcionários
é escassa. Ainda assim, acredita que tal projeto possa colaborar para uma redução
significativa do problema.
2.5.2- Projeto SIPAM
Conforme já mencionado por De Barros (2007), o Projeto SIPAM (Sistema
de Proteção da Amazônia) é interligado ao Projeto SIVAM e tem como objetivo,
completar informações e gerar conhecimento atualizado para a articulação,
planejamento e coordenação de ações na Amazônia brasileira. Visa, portanto, a
proteção, a inclusão social e o desenvolvimento sustentável da região (SIPAM,
2007).
A Amazônia legal é uma área que abrange nove estados brasileiros que
pertencem a Bacia amazônica, possuindo em seus territórios, alguns trechos da
Floresta Amazônica. O SIPAM integra informações atualizadas sobre a Amazônia
Legal e faz uso dessas em projetos para a proteção da mesma. O projeto possui
uma infraestrutura de ponta, com alta tecnologia. Através de imagens de satélites é
possível visualizar dados específicos, como por exemplo, desmatamento, recursos
minerais e naturais e áreas de preservação, onde esses dados são gerados,
armazenados e processados, gerando material para estudos (DE BARROS, 2007).
3. METODOLOGIAEsse trabalho visa identificar e analisar a forma como a biopirataria tem
ocorrido na Floresta Amazônica, os impactos negativos dessa prática para o meio
ambiente, bem como, a existência e eficácia de instrumentos de controle e
fiscalização.
Em relação aos objetivos, essa pesquisa pode ser classificada como
descritiva, uma vez que procura aprofundar no problema e identificar suas principais
causas e consequências.A pesquisa descritiva observa, registra, analisa e correlaciona fatos oufenômenos (variáveis) sem manipulá-los. Procura descobrir, com a precisãopossível, a frequência com que um fenômeno ocorre, sua relação e conexãocom outros, sua natureza e características (CERVO; BERVIAN, 2002, p.66).
Para a realização desta pesquisa foi utilizado o método denominado
“pesquisa bibliográfica”. “A pesquisa bibliográfica procura explicar um problema a
partir de referências teóricas publicadas em documentos” (CERVO; BERVIAN, 2002,
p. 65).
Após a pesquisa dos dados, foi realizada análise qualitativa e elaboração
de recomendações estratégicas e conclusão.
4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS
4.1 Pontos positivos e negativosA Floresta Amazônica é o lugar no mundo onde existem mais espécies de
animais e de plantas. A riqueza de sua flora tem sido estimada, em
aproximadamente, 30.000 espécies. Esse valor corresponde a cerca de 10% das
plantas de todo o planeta. Há nesta região, cerca de 5.000 espécies diferentes de
árvores (maiores que 15cm de diâmetro). Tal dado é surpreendente quando se
identifica que em toda a América do Norte há somente cerca de 650 espécies de
árvores. A diversidade das árvores varia entre 40 e 300 espécies diferentes por
hectare.
Vista do alto, a Floresta Amazônica é uma extensa mata verde fechada.
As copas de suas árvores são muito próximas o que dificulta a entrada dos raios
solares. A biodiversidade amazônica ainda não é muito conhecida pela sociedade
em geral, entretanto, sabe-se que lá estão concentradas 60% de todas as formas de
vida do planeta.
Contudo, essa imensa riqueza natural está sendo ameaçada por um
crime letal: a biopirataria. Esta é capaz de colocar em risco de extinção, espécies da
fauna e da flora, e promover a devastação de extensas áreas naturais. Esse crime é
considerado a terceira atividade clandestina que mais movimenta dinheiro (inferior
apenas ao tráfico de drogas e armas). Tal prática é caracterizada pela retirada ilegal
de material genético, espécies de seres vivos e exploração da sabedoria popular de
uma nação para a exploração comercial em outra, sem que haja o devido
pagamento de patente. Na Amazônia, a biopirataria ocorre de forma marcante,
causando prejuízos ambientais e econômicos para o país. Alguns fatores colaboram
para a fragilidade das fronteiras internacionais, terrestres e aéreas, tais como: o
imenso vazio demográfico; o ambiente insalubre; a pouca presença do poder
público; a ocorrência na região de conflitos envolvendo indígenas, garimpeiros,
posseiros e empresas de mineração.
Alguns projetos de monitoração e proteção da Amazônia foram criados
pelo governo ao longo do tempo, como o SIVAM e o SIPAM.Ficou claro nos estudos
que os projetos SIVAM e SIPAM são projetos distintos, entretanto, complementares.
O projeto SIPAM gera, armazena e processa os dados obtidos, gerando material
para estudos feitos pelo SIVAM. Esse último processa esses materiais para obter o
máximo de informações, agindo paralelamente com centros de vigilância, que estão
localizados nas capitais dos estados Amazônia, Pará e Rondônia, para controlar o
tráfego aéreo e atividades ilegais, tais como o narcotráfico e contrabando.
Entretanto, há indícios que tais projetos não consigam atingir a eficácia necessária
devido a questões políticas, econômicas, tecnológicas e de infraestrutura.
No Brasil, por enquanto, existe apenas uma Medida Provisória (N. 2.186)
sobre a biopirataria. Essa foi criada após a conclusão da Comissão Parlamentar de
Inquérito (CPI) de 2003. Sabe-se que a CPI investigou o crime de biopirataria no
Brasil, entretanto, ela não obteve grandes resultados. A partir da Medida Provisória,
o acesso a qualquer recurso genético depende da autorização da União, mas tal
medida não pune os praticantes da biopirataria.
A biopirataria não é hoje fruto apenas da falta de fiscalização e de
legislação. Ela resulta também, de uma postura equivocada do atual governo sobre
a utilização e conservação do gigantesco patrimônio natural do país - como
florestas, água e solo. Isso impede que a sociedade brasileira faça desse patrimônio
uma alavanca eficaz para o desenvolvimento e que proporcione geração de
emprego, renda e melhoria da qualidade de vida para todos.
4.2 Recomendações EstratégicasPercebe-se o quão importante e significativa é a biodiversidade da
Floresta Amazônica, não só para os brasileiros, mas para todo o mundo. Por isso, é
preciso promover ampla conscientização a respeito da sua preservação. O assunto
deve ser abordado, analisado e detalhado para o maior número possível de
pessoas. A maneira mais fácil de alcançar isso é através das escolas e da mídia.
Acredita-se que grande parte da população já conheça um pouco sobre essa riqueza
natural, porém, não imagina que ela está sendo seriamente ameaçada por
atividades clandestinas. Essas colocam em risco a vida de espécies de plantas,
animais e de moradores locais.
Acredita-se que essa mobilização possa ser feita de diversas formas.
Uma delas é através da maior valorização e auxílio de ONG’s que desenvolvem
campanhas e projetos ambientais. Esses vêm sofrendo, em algumas regiões, com a
carência de voluntários. Sabe-se que a divulgação de muitos projetos não é
totalmente eficaz, por não alcançar um número significativo de pessoas. Tal aspecto
é quase inadmissível na atual era da informação, já que, há hoje diversos canais de
comunicação. O principal deles é a Internet, sem excluir a grande importância dos
demais canais, tais como, a televisão, os jornais, as revistas, os panfletos e até o
canal “boca a boca”.
Entretanto, não se pode delegar a responsabilidade desse assunto para
as Organizações Não Governamentais (ONG’s). O governo deve ser o principal
responsável pela preservação das riquezas naturais e no combate ao crime
relacionado à degradação desses ambientes. Isto pode ocorrer através:
da Criação de Projetos de Leis que obriguem a preservação da Floresta
Amazônica, assim como, das demais vegetações e áreas naturais;
da criação de Leis coercitivas e mais severas, para aqueles que forem pegos
causando qualquer tipo de crime ambiental, como desmatamento, queimada,
corte e colheita ilegal nas plantações, biopirataria, entre outros;
da obrigação às fábricas e indústrias a reduzir o impacto gerado no meio
ambiente resultante de suas atividades. As punições para isso precisam ser
criadas e devem ser proporcionais à dimensão do impacto gerado;
da maior valorização, ampliação e acompanhamento das leis já criadas para
auxílio e preservação da Floresta Amazônica. Deve ser criada também,
punição cabível aos infratores;
de maior apoio às ONG’s e aos Projetos Ambientais para que o objetivo de
conscientização, informação e mobilização possa ser atingido de forma
eficiente e eficaz junto ao maior número de pessoas possível;
da utilização com seriedade e competência das verbas destinadas a
programas de monitoração e proteção da Amazônia.
Enfim, não adianta colocar a culpa de todos esses crimes em alguém
específico. É necessário buscar, de todas as formas, aprofundar nesse assunto para
saber combater as ameaças eminentes. Não se pode, entretanto, focar apenas nos
problemas. Deve-se correr atrás da solução. A solução deve partir de todos: de
empresas, associações, órgãos, mídia, comunidades e grupos sociais. Só assim se
irá demonstrar a real preocupação e dar valor àquilo que a mão do homem não
consegue criar, mas consegue e deve preservar.
5 CONCLUSÃOFoi feita, através desse trabalho, uma pesquisa bibliográfica a respeito do
impacto gerado pela biopirataria na Floresta Amazônica, bem como, sobre as leis e
projetos em prol da sua preservação. A partir daí, pôde-se concluir que: a) há
deficiências no processo de divulgação da importância da preservação da
biodiversidade da Floresta Amazônica; b) há falhas nos processos de
monitoramento e proteção (vigilância) das fronteiras; c) há falhas na fiscalização e
punição dos infratores; d) há ainda, um sério descaso das autoridades
governamentais no sentido da criação, acompanhamento e cumprimento de leis
específicas para controle da biopirataria. Tais fatores dificultam o combate à
biopirataria e suas consequências.
Em relação à questão da divulgação, pode-se dizer que, muitos até
possuem conhecimento acerca da problemática, entretanto, desconhecem os seus
reais efeitos. É necessário promover, portanto, ampla conscientização sobre a
importância da preservação da Amazônia, dos efeitos maléficos da biopirataria, bem
como, sobre a necessidade de proteção das fronteiras internacionais.
Em relação aos processos de monitoração e proteção (vigilância),
percebe-se que foram criados ao longo do tempo, importantes e sofisticados
projetos de monitoramento e proteção das fronteiras, tais como o SIVAM e SIPAM.
Entretanto, os mesmos não demonstraram total eficácia seja por falhas políticas,
tecnológicas e de infraestrutura. Sendo assim, é necessário rever tais mecanismos,
tornando-os fortes aliados contra a biopirataria.
Em relação aos infratores (“biopiratas”), entende-se que esses precisam
ser fortemente fiscalizados e punidos. Isso só é possível através de leis específicas
coercitivas e severas criadas pelo governo.
Não se pode dar espaço para as ambições e desrespeitos capitalistas, ou
para qualquer um que deseja se apropriar ou explorar ilegalmente a rica Floresta
Amazônica ou outro tipo de bem natural brasileiro.
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