a bico de pena

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Ttulo original da obra: As se dibuja a la pluma Jos M. Parramn Vilasal

Traduo de Jos Stefanino Vega. Capa realizada pelo artista Mariano Fortuny, Sirven, Gran Va, 754 - Barcelona Depsito Legal: B-26.681-87 ISBN: 84.342.0095-3

NDICE

CARACTERSTICAS GERAIS DO DESENHO A BICO DE PENA Tcnicas e estilos do desenho a bico de pena Estilo linear Estilo sombreado artstico Bicos de pena com tramas mecnicas Bicos de pena para desenhos de histrias em quadrinhos Bicos de pena por massas ou chapados O DESENHO A BICO DE PENA NA PRTICA Grisados e degradaes desenhando a bico de pena Desenho a pincel e tinta nanquim, estilo linear Desenho a pincel e tinta nanquim, estilo por massas Desenho a bico de cana Grisados e degradaes mecnicas Desenho a bico de pena, estilo Chapado Desenho a bico de pena, estilo ingls

CARACTERSTICAS GERAIS DO DESENHO A BICO DE PENA Entendemos por desenho a bico de pena, de modo geral, qualquer obra desenhada com um negro absoluto sobre uma superfcie branca, ou seja, um desenho no qual no existem meios-tons, cinzas, degradaes, ou tons intermedirios entre o branco e o negro. O meio mais representativo de um desenho a bico de pena a tinta nanquim preta. Como o nome indica, a tinta nanquim procedia antigamente da China, onde era fabricada em barras ou cubinhos slidos que para serem usados eram dissolvidos em gua. Atualmente a tinta nanquim um composto lquido de negro de fumo em suspenso coloidal, isto , desagregado em partculas extremamente pequenas. A tinta nanquim fornece um negro intenso e indelvel (que no pode ser apagado), cobre bem e ao mesmo tempo fluida, permitindo o desenho de traos finssimos. Diluda em gua destilada ou gua fervida, permite obter uma extensa gama de grises (cinzentos) de excelente tom e finura. Existem no mercado diversas marcas de tinta nanquim, destacando-se a marca Pelikan da empresa Gunther Wagner, de boa aceitao e usada, em geral, por todos os profissionais do desenho a bico de pena. A tinta Pelikan fornecida em vidros de diferentes capacidades, sendo aconselhvel a aquisio dos maiores quando existe uma continuidade de trabalhos deste tipo. Como substituto da tinta nanquim e para a obteno de determinadas feituras ou estilos, cabe tambm o uso da tinta tmpera ou guache negro. Por analogia, podemos tambm incluir, dentro das tcnicas e processos do desenho a bico de pena, as obras realizadas com esferogrfica negra e ainda com caneta-tinteiro carregada com tinta preta ou azul-preta. Cabe citar tambm, o uso de processos especiais, como a colagem de tramas, o desenho mediante Craftint, a reduo por meios qumico-fotogrficos, etc., capazes de proporcionar tambm obras artsticas ou publicitrias que por suas caractersticas e resoluo em preto-e-branco, so consideradas e includas dentro do termo geral desenho a bico de pena . O utenslio caracterstico para realizar um desenho a bico de pena, a pena de desenho, conhecida como tal pelo seu pequeno tamanho e a sua ponta flexvel e afiada, capaz de desenhar traos muito grossos ou muito finos, conforme a necessidade. Entre as marcas mais conheci das de penas para desenho destacam-se a Guillot, a Soenecken e a Perry, esta ltima fabricada na Inglaterra. Naturalmente a pena de desenho colocada num cabo ou haste, de tamanho comum ou um pouco menor que o comum. Outro utenslio usado para a realizao de um desenho a bico de pena de grande aceitao iuiltimamente, especialmente no campo da ilustrao criadora o pincel. Empregam-se pincis de plo de marta ou de plo de mangusto dos nmeros 2, 4 ou 6. A diferena essencial entre um pincel de plo de marta e um de mangusto reside na cor e na resistncia do plo. O de marta de cor siena ou bege claro e de textura suave; o de mangusto cinzento e mais resistente. Ambos so de excelente qualidade. Pessoalmente sempre usei os de mangusto por ser mais agradvel a meu ver essa ligeira resistncia ou dureza do plo.

Para a realizao de desenhos a bico de pena destinados ao campo da publicidade, em determinados casos usa-se tinta tmpera de cor branca, destinada ao retoque de pequenos defeitos, afinado de linhas e contornos e ao desenho de pequenas formas ou de rotulao sobre fundo negro. A tinta tmpera est constituda basicamente por terras muito refinadas, misturadas com substncias lquidas que permitem a sua aderncia a qualquer tipo de superfcie. Dilui-se em gua comum, trabalhando-se algo espessa; muito fluida e cobre bem. Na praa podem ser encontradas diversas marcas nacionais e estrangeiras. Outrossim, para os trabalhos de tipo publicitrio ou de arte comercial, o desenho a bico de pena exige em muitos casos o uso de rgua e esquadros, tira-linhas e compasso de mola. No descrevemos estes utenslios por serem por demais conhecidos, mencionando unicamente que o compasso de mola no outra coisa que um compasso de preciso de pequenas dimenses, prprio para desenhar pequenos crculos ou semicrculos. Um desenho a bico de pena pode ser realizado tambm com um simples pedao de cana preparado para esse fim, recebendo ento o nome de desenho a bico de cana. A cana, que faz s vezes de pena, obtm-se simplesmente de uma cana comum, como as de cabo de vassoura, cortando um pedao ou astilha de uns 15 centmetros de longitude e dando a um dos extremos a forma de uma pena, com o auxlio de uma faca ou canivete. Para que este extremo terminado em ponta retenha melhor a tinta nanquim, conveniente fazer um corte ou inciso tal qual o que apresentam as penas metlicas comuns. _________________________________________________________________________

Eis um sistema bem simples para assegurar a estabilidade do vidro de tinta nanquim. Consiste em recortar um quadrado de papelo grosso, desenhando a continuao no centro um outro quadrado cuja medida corresponda base do vidro. Depois desenha-se dentro deste ltimo quadrado duas diagonais e cortam-se de forma que dobrando os quatro tringulos resultantes para fora e introduzindo o vidro pela parte inferior, fica ele seguro, tendo por base o quadrado de papelo que impede que o tinteiro vire. _________________________________________________________________________ Existe, por ltimo, a modalidade de desenho chamada imitao da xilogravura, que consiste em pintar de negro, com tinta nanquim, a superfcie de um papel especialmente preparado, desenhando ento com uma lanceta de forma idntica s usadas para vacinar, raspando com essa lanceta e obtendo com ela traos ou manchas brancas sobre fundo negro, ou seja, desenhando em negativo, tal como se faz quando se confecciona uma gravura sobre madeira. O papel tipo Canson de pouco gro (preferivelmente Canson legtimo), o papel Marca Mayor e a cartolina Bristol de boa qualidade, so as superfcies mais apropriadas para realizar desenhos a bico de pena. A preferncia entre um papel mais ou menos liso, ou com gro mais ou menos perceptvel, depender em ltimo caso, da tcnica empregada e dos efeitos que o artista quiser conseguir. Para desenhar com a pena necessrio um papel de muito boa qualidade, muito bem engomado e acetinado, que no levante pelinhos ao passar e repassar com a pena. Para desenhar com pincel pode-se trabalhar indistintamente com um destes papis ou com um papel mais granulado se quiserem conseguir efeitos de traos inacabados maneira de passadas superficiais sobre a superfcie granulada. A tcnica do desenho a bico de cana poder exigir tambm um papel granulado para obter efeitos semelhantes. O desenho imitao de xilogravura exige imprescindivelmente um papel especial, espcie de cartolina couch, por uma s face, na qual o fabricante depositou uma grossa camada de talco ou kaolim e barita, formando uma espcie de gesso slido sobre o qual possvel pintar de negro e raspar ou fender depois com a lanceta j mencionada, fazendo reaparecer o branco da citada composio qumica. Dentro das limitaes impostas pelo meio, ou seja, pensando que s possvel desenhar com negros francos e absolutos, o desenho a bico de pena oferece um campo extraordinrio de possibilidades, tanto na realizao e criao de tcnicas e estilos, como na sua aplicao a temas artsticos, ilustrativos, comerciais ou publicitrios. No campo artstico, pode-se dizer que no existe um pintor que no tenha alguma vez desenhado a bico de pena, umas vezes desenhando figura, outras vezes paisagem, em ocasies desenhando um esboo genial, outras um estudo preliminar no qual o artista demonstra o seu profundo conhecimento da forma. Lembrando apenas uns poucos destes artistas, podemos citar a Miguel Angelo, Leonardo de Vinci, Rafael, Botticelli... Fortuny, Corot, Rodin, Maliol, Van Gogh, Gimeno, Nonell, Dali, Picasso, etc. No campo da ilustrao criativa o desenho a bico de pena constitui o principal meio de expresso, pela sua facilidade e economia de reproduo e impresso, sendo aplicado em ilustraes para livros, romances, contos, muito especialmente em revistas infantis ou gibis (os comics como so chamados na Amrica), dos quais s no Brasil editam-se mensal mente centenas de colees diferentes. Passando ao terreno da Arte Comercial e Publicitria, o desenho a bico de pena representa, sem dvida, um dos meios mais utilizados para a posterior reproduo de

anncios na imprensa, em revistas, folhetos, embalagens, catlogos e inclusive cartazes. Pode-se afirmar a respeito que no possvel trabalhar neste campo sem ter um amplo e perfeito conhecimento das tcnicas e estilos a empregar para a resoluo de um desenho a bico de pena. _________________________________________________________________________ Os trs grandes da Renascena, Rafael Sanzio, Michelangelo Buonarroti e Leonardo da Vinci, praticaram como todos os artistas clebres, o desenho a bico de pena. Nestas gravuras vemos:

uma Madona, de Rafael;

Davi, de Michelangelo

e um projeto para uma esttua equestre, de Leonardo da Vinci.

_________________________________________________________________________

Podemos dizer que todos os artistas modernos desenharam uma ou outra vez paisagens a bico de pena. Vincent Van Gogh, o famoso artista do impressionismo francs, nos d nesta ilustrao um magnfico exemplo das possibilidades do desenho a bico de pena para reproduzir e desenhar paisagens. surpreendente e ao mesmo tempo admirvel, pensar que este desenho, de estilo feio absolutamente moderno, atual, foi realizado no fim do sculo passado. A qualidade e o valor artstico de obras como esta, tornam compreensvel que o artista desenhista pintor, sinta em muitas oportunidades o desejo e a necessidade de desenhar a bico de pena.

TCNICAS E ESTILOS DO DESENHO A BICO DE PENA Trataremos de qualificar sob este ttulo as diferentes maneiras de realizar um desenho a bico de pena, de acordo com os materiais, a tcnica e o estilo usados pelo artista. Eis aqui, pois, um estudo visual sobre as frmulas ou estilos mais caractersticos aplicveis a todos os campos da arte: ESTILO LINEAR Sua caracterstica a resoluo base de traos que explicam e desenham as formas prescindindo do jogo de luzes e sombras. Dentro deste estilo podem ser distinguidas as seguintes tcnicas: A. LINEAR CONTNUO Materiais: Pena e tinta nanquim. Como pode ver na gravura abaixo, o artista resolveu a obra mediante linhas muito finas, regulares em quanto ao traado e grossura, sem interrupes nem altibaixos, com uma aparncia at mecnica de to perfeita. Como detalhe significativo, que transforma este estilo com reminiscncias de desenho clssico num desenho de feitura moderna, observe o fato de que algumas linhas, nos seus extremos, sobrepassam perpendicularmente os limites de outras linhas, ou seja, saem da linha, como se o desenhista tivesse errado nesses pontos. A tcnica a empregar num desenho deste estilo, est sujeita, antes de mais nada, a uma construo muito minuciosa, feita com lpis mais para duro, a partir da qual a pena deve repassar pacientemente, carregada com pouca tinta, desenhando vagarosamente, com traos calcula- dos nas linhas longas, e com traos feitos de uma s vez mas igualmente calculados nas linhas curtas. Para um desenho deste tipo o mais apropriado realizar original (desenho definitivo) a mais uma metade ou ao dobro do tamanho a que dever ser reproduzido e impresso posteriormente, evitando assim, com a reduo que ser feita pelo gravador, as pequenas imperfeies do traado. Assim mesmo cabe a possibilidade de que no andamento do trabalho ou uma vez terminado o desenho, seja necessrio retocar com tmpera branca, retificando ou afinando algum engrossamento importuno, etc.

B. LINEAR ESPONTNEO

Materiais: Pena e tinta nanquim, ou caneta-tinteiro com tinta comum preta. Difere este estilo do anterior em que os traos no correspondem a essa perfeio matemtica que exige forosamente um clculo frio e premeditado no momento de desenhar. Pelo contrrio, vemos neste um modo de fazer mais febril, menos preocupado e por isso mais espontneo e apaixonado. Subsiste a ideia de desenhar somente com linhas, sem sombreados, reforando to somente alguns traos vitais. Observe que tambm neste desenho algumas linhas pulam e saem da linha, dentro desta frmula atual do desenho a bico de pena. Pl Narbona, autor deste desenho, disse-nos que foi realizado com caneta-tinteiro e tinta comum preta, sobre papel offset de boa qualidade com pouco gro. A caracterstica principal deste estilo reside no fato de se desenhar diretamente com a pena sobre o papel branco, sem nenhum estudo prvio feito a lpis. O que exige muita habilidade e segurana para conseguir resultados como este.

C. LINEAR A PINCEL Materiais: Pincel e tinta nanquim. Papel Offsett ou Canson de gro muito fino. caracterstica no desenho a pincel com tinta nanquim, a presena de traos grossos junto a traos finos, particularmente em desenhos como este, realizados no intuito de apontamento rpido. Observe nesta gravura a habilidade do artista, resolvendo de uma s puxada linhas bsicas como os contornos do corpo e dos braos. Repare tambm nos traos cinzentos (ali, nas rugas das costas) conseguidos passando o pincel quase seco, desenhados assim premeditadamente, para conseguir maior qualidade artstica. Pode ter certeza de que tambm este desenho foi realizado sem nenhum estudo prvio com lpis, ou seja, pintado diretamente com o pincel, conseguindo desta maneira esse frescor e espontaneidade to marcantes.

Vemos aqui um desenho a pincel, traado diretamente sobre o papel, sem nenhum desenho prvio, no qual possvel ver traos acinzentados, dentro da tcnica chamada a pincel seco . D. LINEAR A BICO DE CANA Materiais: Cana e tinta nanquim. Papel Offset ou Canson de gro mdio. A cana, obtida conforme foi dito anteriormente, da astilha de um cabo de vassoura afiada em forma de cunha num dos extremos, constitui uma ponta rgida, mais para dura, que nem entorta nem alarga como a pena. Da que o desenho a bico de cana apresente um traado uniforme, sem engrossamentos junto a traos finos. Entretanto, bastar fazer girar um pouquinho a ponta da cana, procurando um bordo ou aresta mais pontiaguda, para conseguir imediatamente traos igualmente uniformes, porm mais finos. Bastar tambm esgotar a tinta presa na ponta, deixando-a apenas mida, para conseguir traos quebrados, cinzentos inclusive, apenas perceptveis. Estas caractersticas podem ser apreciadas na ilustrao que nos serve de exemplo para este estudo, realizada diretamente com a cana, sem desenho prvio, oferecendo assim a riqueza do apontamento construdo. Observe o estilo especial do artista americano George Mocniak, com base num trao tremido, ingnuo, com linhas que traspassam os limites, com uma composio muito original, e um acabamento, em suma, muito moderno.

Comprove, por outro lado, a possibilidade de conseguir magnficos desenhos de paisagens desenhando com a cana, apurando as possibilidades mencionadas de traos uniformes de distintas grossuras, traos que brados, inconclusos e linhas quase cinzentas conseguidas com a cana quase seca, esfregando-a com fora sobre o papel. Como amostra disto, veja por obsquio, o desenho a cana da catedral de Notre Dame de Paris, reproduzido nas pginas 58 e 59. E. LINEAR COM PENA E PINCEL SECO Materiais: Pena, pincel, tinta nanquim (pode haver tambm tmpera preta) papel Canson de gro mdio. Eis uma magnfica ilustrao, obra do artista Henry C. Pitz, para uma verso americana do romance A Ilha do Tesouro. Vemos ainda no desenho de Pitz o estilo linear que vinhamos comentando, mas com notveis variantes neste caso, existindo a preocupao do volume a travs de linhas grossas e finas. Observe comigo as caractersticas principais desta maneira de desenhar, elegante e moderna ao mesmo tempo. Repare num detalhe sumamente peculiar: muitas linhas das traadas com a pena, foram desenhadas mediante traos em ziguezague, avanando e retrocedendo, tal como pode observar nas rvores da parte superior esquerda. Observe com ateno esta maneira especial de desenhar linhas, comprovando que este sistema repete-se em muitas partes do desenho, dando a estas linhas uma vibrao especial, uma espcie de atmosfera que anima o estilo e a qualidade artstica da obra. Estude, por outra parte, o uso de linhas grossas mais do que grossas, reforadas, feitas de traos superpostos coincidindo na sua maior parte com limites importantes da forma, contorneando, por exemplo, o casaco e as calas, o chapu e o perfil do rosto do homem que avana empunhando a pistola. Repare tambm nos finssimos traos que desenham as formas interiores, as feies do rosto, as rugas do colete e das calas. Observe o contraste entre essa multido de linhas finas e os esfregados feitos com o pincel, essa espcie de manchas granuladas, habilmente dosificadas, tratando de decorar com elas algumas formas, imitando a sua textura (como nos troncos das rvores) e tambm de fazer mais proeminentes as duas figuras, limitando-as, em alguns pontos, com o cinzento formado por essas manchas. Observe, por ltimo, os contrastes provocados, essa sutil forma de realar os corpos situados em primeiro plano, deixando sua volta uma espcie de halo luminoso que corta as linhas dos corpos situados detrs. Comprove este detalhe no contorno superior do brao direito que segura a pistola, vendo como se interrompem, ao chegar ao brao, as linhas que desenham os troncos da rvore situados ao fundo. Veja esses mesmos troncos na parte inferior, abaixo da coxa direita, etc. A tcnica para a realizao de um desenho como este deve estar presidida por um estudo profundo e minucioso, primeiro da composio e em segundo lugar dos personagens e da ambientao que permita re conhecer onde esto situados. Um desenho a lpis muito consciencioso, permitir depois interpretar a obra a bico de pena, terminando a com traos feitos com o pincel, que desenhar tambm, as manchas ou esfregados. Estes, exigiro um papel granulado sobre o qual possa trabalhar o pincel, com pouca tinta, de

maneira superficial, a fim de que o prprio gro do papel provoque as mencionadas manchas. Com certeza, por outro lado, medida que avana uma obra como esta, o artista alterna o uso da pena e do pincel sem seguir uma ordem premeditada, trabalhando aqui com a pena, reforando l com o pincel, voltando novamente com a pena, etc. ESTILO SOMBREADO ARTSTICO A. SOMBREADO MEDIANTE TRAOS (VALORAO NORMAL) Materiais: Pena normal com ponta de caneta-tinteiro e tinta nanquim. Um bico de pena de estilo clssico em que o artista obtm o modelado mediante sries de traos formando grisados de diferentes valores. importante notar que existe nele uma direo lgica do traado, tratando de explicar em cada caso a textura ou aparncia das formas, vertical no madeirame das casas, curvo e fino no jato de gua, em ziguezagues intencionais ao desenhar a folhagem de arbustos e rvores.

Henry C. Pitz, famoso ilustrador americano, d-nos neste desenho um magnfico exemplo de resoluo a bico de pena e pincel seco (representado pelas manchas degradadas, mais visveis nos troncos das rvores). Estude detidamente as peculiaridades deste estilo seguindo o texto de estudo da pgina anterior.

B. SOMBREADO COM TRAOS E CONTRASTADA) Materiais: Pincel do nmero 3 e tinta nanquim.

MANCHAS

(VALORAO

Neste desenho do famoso ilustrador Jess Biasco, voc pode ver uma boa amostra das possibilidades expressivas do desenho a pincel. Observe o tratamento dado ao mar, s ondas, representando de uma forma espontnea e original, mediante manchas realizadas com pincel, praticamente sem interveno de pequenos traos, o volume e movimento das ondas. Naturalmente, esta resoluo por meio de manchas, que oferece um grande contraste e empresta notvel vigor ilustrao, complementa-se na mesma zona do mar , com alguns pequenos traos feitos a pincel e inclusive alguns deles pena. Esta parte correspondente ao mar, a mais representativa do estilo que estamos comentando. A zona correspondente ao cu foi pintada a pincel, mas os traos que limitam e esbatem as nuvens, foram feitos a bico de pena. Outrossim, o navio e a sua fumaa, foram realizados basicamente com a pena, com interveno do pincel apenas para preencher as zonas negras mais extensas. Achamo-nos, pois, ante um desenho em que se complementam duas tcnicas ou estilos, coisa muito frequente no desenho a bico de pena. Para realizar uma ilustrao deste tipo, o mais apropriado fazer primeiro um estudo a lpis e um esquema com pincel e pena a escala reduzida, desenhando depois o original a tamanho um pouco maior do que dever ser reproduzido.

C. SOMBREADO POR PONTOS Materiais: Pena e tinta nanquim ou lpis litogrfico.

Desenhar um retrato como o da gravura abaixo, mediante uma srie de pontinhos que ao ser mais ou menos densos desenham o jogo de luzes e sombras, no nada fcil. No obstante, o estilo conhecido e dele conhecem-se algumas obras, especialmente no campo da ilustrao publicitria. Um desenho deste estilo pode ser feito mediante pontinhos desenhados a bico de pena com tinta nanquim, ou bem com um lpis especial negro e gorduroso (uma espcie de lpis de cera muito brando) usado pelos retocadores de pranchas litogrficas e por esse motivo chamado lpis litogrfico. O retrato abaixo, realizado por L. Bali, responde a esta tcnica de lpis litogrfico negro, de um negro to intenso que se assemelha tinta nanquim. Precisa-se para isto de um papel Canson muito engomado e de gro mdio, no qual grude a graxa ou cera do lpis litogrfico sem chegar a se introduzir nos interstcios ou rugosidades do papel. Intervir, assim mesmo, a pena e a tinta nanquim para acabar e perfilar algumas formas e perfis concretos. O mais apropriado num bico de pena deste estilo desenhar o original ao dobro do tamanho, para que a trama de pontos fique depois reduzida e compacta proporcionando a impresso de degradaes uniformes.

Desenho a bico de pena resolvido com lpis graxo litogrfico, simplesmente desenhando sobre um papel muito engomado e granulado. O lpis graxo (espcie de lpis com cera), proporciona um negro to intenso quanto o da tinta nanquim.

D. BICO DE PENA IMITAO DA GRAVURA EM MADEIRA OU XILOGRAVURA Materiais: Papel estucado (scratchboard), pincel, pena, tinta nanquim e lanceta. A gravura em madeira foi um dos primitivos meios para reproduzir e imprimir imagens, remontando-se a sua existncia s postrimerias do sculo XV. Em essncia o procedimento de uma gravura em madeira consiste em traar primeiro o desenho sobre a superfcie lisa da madeira e rebaixar depois os brancos ou espaos sobrantes entre linha e linha, entre mancha e mancha, ficando estas em relvo medida que se cava a madeira das partes que devem ficar sem imprimir no momento da estampao, mediante um jogo de buris e goivas (ferramentas metlicas para gravar ou entalhar em madeira).

Xilogravura. Capa de uma famosa edio aparecida em Wittemberg em 1520.

Ilustrao atual, obra de J. Ricart, gravada em madeira.

Com a apario, no sculo passado, da gravura em cobre e sobre pranchas metlicas por processos fotomecnicos, a xilogravura passou a ser um meio de expresso artstica reservado para edies limitadas de finssima qualidade, especiais e numeradas, para biblifilos, etc. Um dos grandes artistas desta especialidade o famoso Ricart do qual reproduzimos aqui uma das obras. Como voc pode ver nesta composio de Ricart, a xilogravura caracteriza-se por sua aparncia de desenho negativo, ou seja, pela evidncia de que o artista desenha traos brancos sobre um fundo negro. Imitando este processo surgiu a princpio do presente sculo o desenho a bico de pena imitao da xilogravura, cuja tcnica pode ser resumida como segue: Comea-se por estudar a pequena escala a composio do tema a ser desenhado, trabalhando no momento com pincel e tinta nanquim sobre qualquer tipo de papel de

desenho, Offset, Canson, etc. O acabamento desta composio inicial deve responder, mais que outra coisa, a um estudo de massas, ou seja, a um esquema no qual praticamente prescinde-se de meios-tons. Trabalhando ainda com pincel, tinta nanquim, e sobre um papel de desenho comum, tal como os que mencionamos, estuda-se a seguir o planejamento de zonas em que dever intervir a lanceta, e zonas que podero ser desenhadas diretamente, com a pena sobre o branco do papel definitivo. Para compreender a necessidade e o alcance deste planejamento, necessrio ter em mente o seguinte: Em princpio, para desenhar um bico de pena imitao de xilogravura e para levar esta imitao at o grau mximo, poderamos pintar de negro, com tinta nanquim, toda a superfcie do papel estucado, raspando e obtendo os brancos, embora isto suporia um trabalho intil e incmodo. Para melhor compreenso: no desenho que ilustra este es tudo, voc pode ver a ampla zona branca correspondente s guas do rio, alm da ponte. Nela no h seno uns poucos traos. Para que pintar, ento, toda a zona branca de negro, precisando depois rasp-la totalmente a exceo destes traos, ou seja, reservando apenas estes traos? O mais apropriado, o mais prtico e eficiente, no pintar esta zona de negro, deix-la desde o incio em branco e desenhar depois, diretamente, com tinta nanquim e pena os traos negros mencionados. Eis o por que de um estudo inicial, repito, sobre as zonas que sero desenhadas pela lanceta e que, por tanto, sero pintadas inicialmente de negro; e as zonas que podero ser desenhadas diretamente a bico de pena e que, por isso, ficaro desde o incio reservadas apresentando o branco do papel. Feito o estudo mencionado, inicia-se a realizao do desenho original, trabalhando agora sobre papel especial, estucado, cujas caractersticas foram descritas anteriormente. O primeiro passo consistir em desenhar a lpis uma construo muito cuidadosa. A continuao, trabalhando com pincel, sero pintadas as zonas negras que depois sero desenhadas com lanceta. A continuao, alternando o uso da lanceta, a pena e o pincel, se levar a termo o desenho definitivo. Em determinados desenhos deste tipo, muito possvel a interveno do tira-linhas para traar linhas positivas (negro sobre branco) de tipo mecnico, como muitas das que pode ver no desenho ao lado. Pode ser usada tambm uma lanceta de tipo especial para o traado de linhas negativas, traadas com rgua, sobre fundo negro. Esta lanceta especial no outra coisa que uma agulha de costura espetada no cabo de um pincel velho e afiada em forma de bisel, utilizando para isso uma lixa muito fina. E. BICO DE PENA ESTILO INGLS Materiais: Pena, tinta nanquim, papel Canson (em alguns casos papel especial como o usado para a imitao da xilogravura). O nome no quer dizer nada. Chamamos a este estilo ingls, talvez porque algumas marcas de usque inglesas popularizaram nos anos trinta esta forma de desenhar a bico de pena, apresentando nos seus anncios composies com copos e garrafas realizados neste estilo. Na realidade este tipo de desenho a bico de pena uma verso moderna das gravuras em cobre. Seja l pelo que for, ao menos na Espanha, muitos profissionais chamam-no estilo ingls. E assim que ns tambm o chamamos. Como pode ver pela ilustrao anexa, o bico de pena ingls um dos mais difceis de realizar, ou pelo menos o mais laborioso e o que mais pacincia exige do artista. Sua aparncia magnfica aps terminado. Com somente linhas negras, que de finas passam a grossas progressiva e lentamente, consegue-se

um modelado, uma representao do jogo de luzes e sombras que no tem nada a invejar de um desenho realizado com lpis chumbo ou lpis carvo. Ah, mas quantas horas, quanto esforo e quanta pacincia para chegar a esta perfeio! Conhea a tcnica a seguir para compreend-lo:

A no ser que o artista desenhe a partir de uma fotografia, em cujo caso ela dever ser extraordinariamente boa, detalhada, e o que mais importante, com um jogo de luzes e sombras absolutamente normal (em outras palavras, nem excessivamente dura nem excessivamente suave), o primeiro passo consistir em realizar o modelo a lpis ou carvo, estudando profundamente o sombreado. Trabalhando ento com o sistema da quadrcula, o desenho ser transportado para o papel definitivo, Canson ou outro semelhante, re solvendo o sombreado com lpis, mas de forma muito dbil, sem chegar em nenhum caso a um negro intenso. Comea ento o processo propriamente dito: Com um lpis mais suave, com a ponta muito afiada, desenha-se uma trama perfeita de linhas paralelas da mesma grossura. Repassa-se ento esta trama com pena e tinta nanquim, conservando ainda a ideia do paralelismo e grossura idntica. A seguir reforam-se estas linhas, engrossando-as ou no, uma a uma, desenhando tramas degradadas que em conjunto produzem a sensao de degradados normais reproduzindo o jogo de luzes e sombras.

Para que o rendimento deste duro labor seja mais efetivo, aconselhvel, conforme a classe de trabalho, desenhar em papel estucado (o tipo especial para bico de pena imitao de xilogravura), podendo ento trabalhar algumas partes com lanceta, especialmente nas zonas escuras que s exigem sries de traos finos, brancos sobre fundo negro. Ultimamente os sistemas de reproduo fotomecnica conseguiram imitar este estilo de desenho a bico de pena, obtendo resultados parecidos, a partir de fotografias normais, mediante aplicao de tramas especiais. Assim mesmo, o sistema exige muitas vezes a mo de desenhista, embora evidentemente, o trabalho deste fica ento reduzido a um simples retoque.

F. BICO DE PENA MECNICO-MANUAL Materiais: Pincel, pena, tinta nanquim, lanceta, papel Canson acetinado, Bristol ou Estucado.

Como uma derivao do bico de pena ingls, eis um estilo baseado na resoluo mediante sries de tramas mecnicas, ou seja, desenhadas com tira-linhas e rgua, compassos e compasso de mola, na base do desenho tcnico, especialmente usado para reproduzir objetos e artigos destinados a aparecer em anncios publicitrios. Todos os utenslios ainda so poucos para desenhar um bico de pena deste estilo. O tira-linhas e a rgua para traar sries de linhas paralelas que depois sero engrossadas a pena ou pincel. A lanceta para desenhar traos brancos sobre fundo negro, como os que nesta cmara fotogrfica reproduzem o enrugamento do couro, o compasso ou o compasso de mola para traar crculos, como os que desenham as partes correspondentes objetiva da mquina, reforados e modelados depois pena, etc. certo tambm o uso de tmpera branca para retocar linhas fugidas... ou bem desenhar sobre papel estucado (aquele prprio para imitao de xilogravura), no qual os retoques supresso de extremidades de linhas que passaram do lugar, desenho de pontos ou pequenos traos brancos sobre fundo negro e retoques em geral conseguem-se facilmente com um simples toque de lanceta. Um desenho deste tipo realiza-se a tamanho maior daquele a que ser reproduzido depois, disfarando assim possveis defeitos e permitindo um trabalho mais perfeito.

BICOS DE PENA COM TRAMAS MECNICAS Comecemos por definir o significado de trama e o que entendemos por trama mecnica. Em princpio, trama um conjunto de pontos ou linhas negras dispostos uniformemente, criando oticamente a sensao de um tom cinzento perfeitamente uniforme. Em termos de Artes Grficas, quando os pontos ou linhas so normalmente visveis, d-se a esta trama o nome de trama de retcuda ou malha de retcula. Uma trama deste tipo pode ser desenhada a mo, conforme vimos no exemplo anterior reproduzindo a mo o desenho de uma cmara fotogrfica. Pois bem, utilizando procedimentos fotomecnicos, baseados na existncia de um clich ou vidro no qual foi

desenhada originalmente uma trama ou retcula, a oficina de fotogravura (lugar onde so confeccionadas gravuras para imprimir) pode realizar e reproduzir gravuras para imprimir tramas, ou seja, pode fornecer ao artista, com o auxlio de uma mquina de imprimir, folhas de papel inteiramente tramadas que depois o desenhista utiliza para os seus trabalhos aplicando as tcnicas que estudaremos a seguir. Este tipo de tramas impressas so as denominadas tramas mecnicas. As tramas mecnicas apresentam uma grande variedade de modelos, tanto de seu desenho como na sua tonalidade. Podem ser adquiridas em oficinas de fotogravura ou fotocromia que tenham este servio (geralmente todas as oficinas importantes). Vejamos agora como o artista aplica este processo em determina dos desenhos a bico de pena. A. BICO DE PENA COM COLAGEM DE TRAMAS MECNICAS Materiais: Pena ou pincel, tinta nanquim e tramas mecnicas de diferentes tonalidades.

Mostrurio de tramas mecnicas impressas, fornecidas por uma oficina de fotogravura.

Colagem um termo aplicado genericamente a toda obra artstica ou publicitria na qual o artista expressa ou representa formas mediante a colagem de papis de cores, de jornal, de embalagem, de fotografias e inclusive de panos lisos ou estampados, etc. As tcnicas e estilos de colagem foram difundidas, inventadas, poderamos dizer, por Picasso, Braque, Gris, etc., nos tempos do cubismo, l pelos anos 1910 ao 1930. Simultaneamente foram aplicadas arte publicitria, especialmente na realizao de cartazes, sendo costume, ainda hoje, nos regulamentos de concursos de cartazes a possibilidade de realizar os mesmos com qual quer processo pictrico inclusive a colagem . Passemos agora ao estudo de um bico de pena com colagem de tramas mecnicas, utilizado geralmente no campo publicitrio. O artista comea por estudar em papel separado o contedo e com posio do tema, determinando mediante grisados uniformes feitos a lpis, as partes do desenho que sero tramadas e o tom conveniente a cada parte. A continuao realiza o desenho definitivo a pena ou a pincel, preenchendo de negro as partes negras e deixando em branco as zonas a serem resolvidas com tramas

cinzentas. Desenha ento, mediante decalque, um molde destas partes; transfere este molde para as folhas de papel tramado fornecidas pelo gravador e recorta-as, colando-as depois nos lugares correspondentes, retocando e dando por concludo o desenho. Um bico de pena deste tipo dever ser realizado forosamente a tamanho da reproduo posterior ou, no mximo, a tamanho ligeiramente maior. B. BICO DE PENA COM COLAGEM DE TRAMAS DE TIPO CRAFTINT Materiais: Pena ou pincel, tinta nanquim e tramas de pelcula transparente tipo Craftint.

O sistema descrito anteriormente, na base de recortar e colar as tramas mecnicas fornecidas pela oficina de fotogravura, est sendo substitudo por uma tcnica muito atual, muito mais prtica e perfeita, importada h poucos anos dos Estados Unidos e que responde pelo nome de Craftint, empresa que popularizou este e outros sistemas parecidos. As tramas Craftint diferem das anteriores em que so impressas sobre pelcula transparente, espcie de celofane impregnado na face posterior com um adesivo que permite a colagem direta, sobre papel ou cartolina, sem necessidade de outra cola ou goma. Para que esta colagem seja efetiva necessrio pressionar com fora, repassando com a borda da unha, o que leva uma extraordinria vantagem: aplicando uma poro de pelcula Craftint sobre um papel ou cartolina e passando simplesmente a mo por cima, a pelcula fica suficientemente aderida para comprovar efeitos, cortar, etc., mas no tanto que no

possa depois de descolada novamente, ser recuperada sem deixar a mnima marca sobre o papel ou cartolina. Tira-se a concluso de que, para realizar um bico de pena com colagem de tramas tipo Craftint, bastar cortar a olho um pedao de pelcula ligeiramente maior que a zona que dever ser tramada, aplicar este pedao sobre a mencionada zona, pressionando ligeiramente com as costas da mo (antepondo um papel de seda para no esfregar diretamente sobre a pelcula), e recortar depois os limites sobrantes com o auxlio de uma lanceta ou uma lmina de barbear, pressionando a seguir com fora, para conseguir, afinal, um trabalho mais limpo, melhor acabado e sobre tudo, realizado em muito menos tempo. O nico inconveniente do sistema que as pelculas Craftint so dez ou vinte vezes mais caras que os papis tramados a que antes me referi. C. BICO DE PENA SOBRE PAPEL CRAFTINT COM TRAMAS FOTOGRFICAS EM ESTADO LATENTE Materiais: Pen ou pincel, tinta nanquim, papel Crajtint de um s tom ou de tom duplo, e conjunto revelador Crajtint. Este , por ltimo, o sistema mais perfeito para a realizao de desenhos a bico de pena com partes tramadas. Baseia-se na utilizao de um papel verdadeiramente especial, maravilhoso e at mgico, poderamos dizer, para quem no conhece as suas caractersticas. Enfim, imagine um papel de desenho comum, de boa qualidade, prprio para desenhar a bico de pena, no qual o fabricante imprimiu uma trama invisvel, ou quase invisvel, de um tom cinza-azulado apenas perceptvel, ou seja, uma trama que se encontra em estado latente, como dizem os fotgrafos, isto , que est impressionada, mas que dever ser revelada (termo fotogrfico; voc j ouviu falar em revelar clichs), para que seja visvel. Imagine ento que voc utiliza um conjunto de revelao Craftint, consistente num pincel especial e num lquido com posto basicamente por monosulfuro, que molha o pincel nesse lquido e pinta sobre o papel Craftint, vendo com surpresa que no lugar em que aplica o pincel aparece perfeitamente visvel, em negro, a trama do papel Craftint. A vantagem deste papel sobre qualquer outro est na cara. Com o papel Craftint voc pode tramar desde uma zona muito ampla at um fino trao, desde uma complicada orla at uma circunferncia traada a compasso (carregando o compasso com o lquido revelador, evidentemente). Mas, ainda h mais. O papel Craftint fabricado num tom nico ou com tom duplo. Isto significa que existe um destes papis no qual, usando dois lquidos diferentes aparecem vontade uma ou duas tramas, a segunda de um tom mais intenso que a primeira, de forma que seja possvel pintar com dois tons de cinza diferentes.

A tcnica a seguir para desenhar com o mencionado papel, consiste basicamente em desenhar primeiro a lpis, desenhar a seguir a bico de pena ou com pincel e tinta nanquim, os perfis e manchas negras, ter minando com a resoluo das tramas, previamente estudadas e realiza das com o conjunto Craftint. Poder ser necessrio, finalmente, um reto que com a pena ou com tmpera branca e pincel. O papel Craftint, de origem estrangeira, caro e difcil de encontrar. Afortunadamente a firma Revelex fabrica na Espanha um papel semelhante, servido em sacos de dez folhas, com dez modelos de tramas, a trama por folha, que resulta muito mais econmico. Junto com cada bolsa, a firma Revelex fornece tambm o conjunto de revelar, pincel e lquido.

conveniente saber, por fim, que qualquer tipo de trama como os descritos pode ser passado pelo gravador, entregando a ele um desenho a bico de pena perfilado, com os espaos em branco nos lugares em que devem ser passadas as tramas e indicando nos mesmos, mediante um papel transparente superposto ao desenho original, os tipos de trama escolhidos pelo desenhista. Deve-se contar neste caso com o fato de que a gravura de um bico de pena com passados de trama encarece de 50 a 100 por cento. Isto e o fato de que o desenhista quer ver com os prprios olhos como ficar o desenho aplicando uma trama mais ou menos escura, faz com que o passe de tramas pelo fotogravador seja utilizado somente em casos de desenhos pouco complicados, que no exigem grandes dotes de interpretao artstica. BICOS DE PENA PARA DESENHOS DE HISTRIAS EM QUADRINHOS OU GIBIS Materiais: Pincel, pena, tinta nanquim, papel Canson ou cartolina Bristol, ou tambm papel com tramas tipo Craftint.

Em termos gerais, o estilo dos desenhos de histrias em quadrinho ou gibis est sujeito necessidade de explicar da maneira mais clara, atrativa e dinmica possvel, a narrativa ou enredo da obra. Isto comporta um estilo completamente figurativo, em que as formas so representadas com absoluta fidelidade, sem a menor distoro ou estilizao, sacrificando em determinados casos, inclusive, os efeitos de luz e sombra, a ideia de volume, em benefcio de uma melhor compreenso da forma dos objetos e personagens, e principalmente da expresso psquica destes personagens. De onde a aparncia de formas planas, de rostos e feies desenhados s com linhas, sem sombras, sabendo que estas fariam mais difcil e complicada a compreenso rpida de um estado de nimo determinado na personagem da histria. Da tambm esse jogo contnuo de primeiros e ltimos planos, essas mudanas de planos que dramatizam a ao e criam profundidade. O tema por demais complexo para ser tratado nestas poucas linhas. Como simples referncia e constncia deste estilo, veja por obsquio, os magnficos exemplos que nos d nosso artista colaborador, o famoso Jess Biasco, nos exemplos reproduzidos na pgina anterior, permitindo-lhe estudar e analisar os fatores mencionados. BICOS DE PENA POR MASSAS OU BLOCOS Chegamos, finalmente, sntese de um desenho a bico de pena, resoluo da imagem por massas ou blocos, prescindindo de traos ou tramas imitando grisados. Por ser este um estilo em que necessrio chegar a uma sntese absoluta, a uma diferenciao e corte concreto entre as zonas de luz e sombra, sem dvida uma tcnica difcil de realizar, para a qual necessrio um grande domnio da forma e da modelagem. Os estilos a estudar dentro desta tcnica abrangem desde uma resoluo de tipo chinesco (de sombras chinescas com apenas algumas luzes), at uma representao mais realista, mais modelada, na qual no obstante, subsiste a ideia de sntese realizada mediante negros ou brancos amplos. Podemos destacar os seguintes exemplos: A. BICO DE PENA POR MASSAS, ESTILO REALISTA

Materiais: Pincel e tinta nanquim ou tmpera negra, sobre papel de gro mdio.

Observe na realizao deste estilo de bico de pena os seguintes extremos. Primeiro e mais importante: a tendncia a suprimir detalhes, especialmente pequenos detalhes nascidos de pequenas formas ou de meias-luzes, meios-tons que sem dvida existiriam neste mesmo desenho se tivesse sido realizado a lpis ou a aguada (aquarela negra com todo o jogo de meias-tintas). Compreenda, por exemplo, que as vestimentas das figuras poderiam muito bem ser de diferentes tons cinzentos mesmo que fossem escuros, que dentro das partes em sombras, nessas mesmas vestes poderiam existir algumas luzes e penumbras que nos permitissem ver o corte dos casacos, os botes, a forma das lapelas, etc. Bem, no podemos ficar nas meias-tintas. Temos que nos decidir por carne ou por peixe, por branco ou por negro, tentando no possvel, desenhar amplas zonas negras, amplas zonas brancas. Observe, por outra parte, a resoluo das luzes tentando no possvel que estejam rodeadas e contrastadas por negros, de forma que estes desenhem e recortem os brancos. Repare tambm no fato de que alguns perfis correspondentes a limites iluminados (como o traseiro do homenzinho da esquerda, os contornos dos chapus, etc.) ficam apenas indicados e inclusive sem desenhar, deixando que o espectador, aquele que olha o desenho, complete as formas no seu subconsciente, acentuando assim ainda mais a sntese do estilo, o dizer com o mnimo de elementos possvel. Enfim, a realizao deste estilo de desenho a bico de pena exige uma construo prvia muito bem estudada, seguida de um esboo a tamanho real muito bem acabado no qual se estude a sntese mais desejvel e correta. A gravura anexa foi realizada com pincel e tmpera negra, esfregando em alguns perfis com a tinta muito espessa para conseguir esses ligeiros, quase imperceptveis degradados, que emprestam ao desenho mais atmosfera e sensao de movimento. B. DESENHO A BICO DE PENA BASEADO NUMA FOTOGRAFIA QUEIMADA

Materiais: Fotografia queimada, pena ou pincel, tinta nanquim e tmpera branca.

Dentro das tcnicas mais modernas, realmente inovadoras no campo de Arte Comercial e Publicitria, apareceu ultimamente um estilo de desenho chamado profissionalmente bico de pena foto queimada, cuja caracterstica mais importante a sua semelhana com uma imagem fotogrfica, idealizada, porm, pelo acusado contraste e sntese de suas luzes e sombras. A tcnica de um bico de pena de foto queimada est sujeita a um laborioso processo fotogrfico que resolve quase por completo o desenho em questo. Consiste essencialmente em fotografar um modelo iluminado com fontes de luz cuja qualidade, quantidade e direo promova inicialmente um contraste extraordinrio entre luzes e sombras, proporcionando o mais possvel brancos e negros puros. A partir desta fotografia inicial, o fotgrafo realiza uma srie de clichs e cpias por contato, com exposies curtas e material sensvel duro, eliminando assim os poucos tons cinzentos que por ventura tenham ficado na fotografia original e reduzindo a imagem a um franco desenho em branco e negro.

Neste ponto pode-se dizer que o bico de pena est j terminado, a falta apenas de alguns retoques manuais, com pena ou pincel e tinta nanquim por um lado, e pincel e tmpera branca por outro, acrescentando ou eliminando pequenas formas, retocando contornos, etc. O tratamento explicado oferece a representao da prpria realidade em quanto forma. A foto queimada fornece, por outro lado, qualidades e texturas que dificilmente podem ser conseguidas num desenho manual. Este estilo de desenho a bico de pena aplicado atualmente no s a figuras, rostos, vistas de interiores ou exteriores, mas tambm a objetos, produtos ou embalagens, por considerar que, inclusive no detalhe da representao plstica, devem estar em dia, devem responder em tudo e por tudo ideia de novidade. Damos com isto por terminado este estudo de tcnicas e estilos do desenho a bico de pena, deixando em suas mos a possibilidade de combinar os estilos uns com outros, de introduzir esta ou aquela variante dentro de um estilo determinado, etc. pensando que estas so somente as bases para despertar a sua sensibilidade e imaginao, para que voc seja, finalmente, quem experimentando com a pena, desenhando com a cana ou com o pincel, obtenha o mximo proveito destes ensinamentos.

O DESENHO A BICO DE PENA NA PRTICA________________________________________________________________________ EXERCCIO PRTICO N. 1 GRISADOS E DEGRADADOS DESENHANDO COM PENA. Iniciamos aqui o estudo prtico do desenho a bico de pena. Um meio de grande alcance artstico e que em princpio devemos considerar desconhecido por voc, exigindo por tanto, uma prtica especial destinada a estudar as possibilidades e a tcnica do meio em questo. O primeiro passo consistir, pois, em desenhar uma srie de grisados e degradados, de traos, linhas e volutas, rematadas com alguns esboos lineares, para pegar jeito, com vista s prticas seguintes e para um melhor conhecimento de causa. Para esta prtica devemos dispor do seguinte material: Uma folha de papel de desenho comum, pena de desenho e tinta nanquim, rgua, um jogo de esquadros e um lpis de tipo comum o mais indicado o de n. 2. Dentro do captulo Instrues Gerais, estudar as frmulas e truques do ofcio, relacionados com o utenslio que voc ir usar neste caso: a pena para desenhar com tinta nanquim. Assim, desta forma: INSTRUES GERAIS 1. Para desenhar com pena e cabo, o melhor trabalhar sobre uma mesa, colocando em cima uma prancheta ligeiramente inclinada. O grau da inclinao depender do tipo de desenho a realizar assim como do seu tamanho. Um desenho a bico de pena de pequenas dimenses exigir uma maior dedicao, estar mais perto, e por isso, uma inclinao pouco pronunciada da prancheta. Um desenho de grande tamanho, a folha inteira, em base artstica, de trao solto e espontneo, permitir trabalhar com a prancheta apoiada no colo e na borda da mesa, mantendo, no obstante, um grau de inclinao pouco pronunciado em relao com o apropriado para desenhar a lpis. 2. Segure o cabo da pena normalmente, como se fosse escrever com uma caneta. No existe outro sistema. Mas procurando segur-la mais acima, conseguindo assim mais soltura e mobilidade, lembrando que est desenhando e no escrevendo. Veja a figura 1 deste segundo captulo.

3. importante conseguir desde o princpio que a pena trace sem dificuldades, com fluidez, sem tropeos e respingos to comuns no modo de fazer do amador inexperiente. Faa o obsquio, pois, de estudar e pra ticar as seguintes posies bsicas do cabo e da pena para a realizao dos traados mais comuns. A saber: I. PARA TRAOS OU SRIES DE TRAOS MUITO FINOS. A inclinao do cabo deve ser, em princpio, a normal para escrever, mas com marcada tendncia a colocar-se em posio vertical. A pena deve desenhar de canto, em posio ladeada (Figura 2). II. PARA TRAOS OU SRIES DE TRAOS FINOS E GROSSOS OU SEMIGROSSOS. A inclinao do cabo ser agora completamente normal, a normal para escrever, O mesmo podemos dizer com relao pena, que ter tendncia, porm, a ladear-se um pouco para facilitar a abertura das patas, obtendo assim traos grossos ou semigrossos (Figura 3). III. PARA TRAOS OU SRIES DE TRAOS MUITO GROSSOS. O cabo deve ficar agora muito inclinado, tendendo para a horizontal, o que significa que se deve pegar no cabo mais acima. A pena ligeira mente voltada, ladeada para a direita quando o trao vai de direita esquerda e vice-versa, para a esquerda quando o trao vai de esquerda direita (Figura 4). Podemos tirar deste estudo uma consequncia de aplicao geral: Quanto mais fino o trao, mais dever colocar-se o cabo em posio vertical. Quanto mais grosso, mais horizontal ou inclinado dever trabalhar o cabo.

4. Tenha a mo um pedacinho de pano para limpar a pena. Precisar dele para limpar a pena de vez em quando, cada vez que se acumulem na ponta fibras de papel ou simplesmente quando precise limp-la para desenhar sries de traos muito finos. 5. Pode acontecer que logo ou depois de um tempo de estar desenhando com a pena, as patas da mesma no fechem perfeitamente e como consequncia a pena desenhe mal ou no desenhe a pesar de estar carregada de tinta. Como voc j sabe, a soluo

consiste em dobr-la em sentido contrrio ao normal para escrever, tentando curvar e unir de novo as mencionadas patas. Mas, cuidado. No abuse deste sistema de reparao. Sendo a pena de boa qualidade, arrisca-se a quebrar a ponta (Figura 5).

6. Lembre-se da necessidade de escorrer sempre a pena, ao retir-la do tinteiro, apoiando-a na borda do mesmo. Vigie este detalhe aparentemente sem importncia mas verdadeiramente transcendental quando, por causa dele, cai sobre o desenho meio feito ou quase terminado aquele fatdico borro da tinta acumulada em excesso na pena. 7. Desenhe colocando um papel sob a mo. No somente a causa da sujeira promovida pela passagem contnua da mo, mas principalmente para evitar que o suor ou oleosidade da mo fique depositada sobre o papel, com o que depois a tinta espalhar-se-ia, desenhando mal, com traos borrosos. 8. Quando termine o seu desenho, limpe a pena. Isto importante. A tinta nanquim ao secar forma uma verdadeira crosta que prejudica notavelmente o bom funcionamento da pena, separando as patas, obstruindo a passagem e fluidez da tinta, tirando flexibilidade, etc. 9. Utilize uma folha de papel de boa qualidade. Coloque sua frente o modelo n. 1, preferivelmente destacando-o do livro. Trata-se de copiar os grisados e degradados que figuram no citado modelo, incluindo as figuras desenhadas ao p do mesmo. 10. Comece por desenhar a lpis, com a ajuda da rgua e do esquadro, uma pauta que permita distribuir e situar os espaos correspondentes aos grisados e traados. Considere a medida destes espaos na lmina modelo. Calcule e distribua os mesmos no seu papel de desenho. Trace debilmente para obter, em resumo, uma pauta como a ilustrada na figura abaixo (Figura 6).

Inicie, por ltimo, o exerccio de acordo com as seguintes instrues: EXERCCIOS A, B e C. GRISADOS MEDIANTE DIAGONAIS E HORIZONTAIS. SRIES DE TRAOS FINOS, VERTICAIS,

11. Inclinao do cabo: com tendncia para vertical. Pena desenhando de lado. 12. Trace primeiro A MO LIVRE, o quadrado que encerra cada grisado. A questo desenhar cada um destes quadrados a mo livre, de um s trao cada linha ou lado, demonstrando que capaz de faz-lo sem o auxlio da rgua. 13. Pode girar ligeiramente o papel quando lhe convier, para uma maior comodidade e perfeio no traado. Em casos como este, quando devem ser desenhados sries de traados formando grisados, comum o profissional mover o papel, virando-o para um lado ou para o outro para facilitar o trabalho. Procure, porm, limitar no mais possvel o uso desta vantagem, tendo em mente que para o traado de desenhos em base artstica no comum fazer-se uso dela.

14. A tcnica a seguir para o traado destes exerccios A, B e C, parecida dos grisados realizados por voc, a lpis, no primeiro exerccio do nosso Curso. Aquele de traar sries de cinco ou seis linhas, levantar a mo, tornar a traar, tornar a levantar, etc. lembra-se? EXERCCIOS D, E e F. GRISADOS MEDIANTE TRAOS AMPLOS, FEITOS DE UMA S VEZ.

15. A dificuldade maior agora. Desenhe mais devagar, calculando a finura e longitude de cada trao. Com efeito, no possvel desenhar agora com a rapidez e espontaneidade com que o fz nos exerccios anteriores. Deve calcular algo mais cada movimento da mo, traando de um s movimento, detendo-se um instante, tornando a traar e detendo-se de nvo, para manter assim a regularidade e finura do conjunto. EXERCCIOS G, H e I. GRISADOS MEDIAN TE TRAOS EM ZIGUEZAGUE.

16. A intensidade destes grisados algo maior, as linhas um pouco mais grossas. A inclinao do cabo deve ser mais pronunciada, pegando-o mais acima. A posio da pena deve ser a normal para escrever. 17. Observe que no exerccio 1 existe, ainda, um degradado progressivo de esquerda para direita.

EXERCCIO J. GRISADO COM DEGRADADO CENTRAL FEITO DE TRAOS FINOS E GROSSOS.

18. Posio do cabo e da pena normais para escrever. Desenhe estes traos devagar, calculados, com muito tempo. No se afobe. Desenhe devagar, levando a pena com calma, apoiando-se nela ao chegar quele ponto em que o trao se faz mais grosso, balanceando um pouco a mo, com um ritmo lento e calculado. EXERCCIOS K, L, M e N. TRAOS QUEBRADOS, EM ZIGUEZAGUE, DE DIFERENTE ESPESSURA.

19. Lembre nesta altura que, quanto mais grosso o trao, mais inclinado deve trabalhar o cabo. Concretamente neste exerccio N o cabo deve ficar quase em posio horizontal, segurando-o mais acima, ladeando a pena para facilitar o jogo e abertura das patas, etc. EXERCCIOS O, P e Q. TRAOS EM FORMA DE VOLUTAS, FORMANDO GRISADOS OU SOMBREADOS CILNDRICOS.

20. Desenhe este exerccio um pouco a golpes sincopados, no comeo calculando cada chicotada, devagar mas com nervo, depois acelerando a marcha, para terminar com um ritmo vivo, como se desenhasse ovais ou crculos um aps o outro. importante dominar a tcnica desta maneira de traar. Apresenta-se muito a mido, sempre que, em base artstica, se desenham sombras prprias de corpos cilndricos ou esfricos. EXERCCIO R. TRAADO DE CRCULOS A MO LIVRE.

21. No h dificuldade, mas precisa-se de treino. Na realidade este treino necessrio em todos os traados e grisados estudados. O meu conselho que no se conforme com esta realizao definitiva, ou seja, que em todos os casos faa ensaios e provas em papel separado. TRAADO LINEAR DE VRIAS FIGURAS NA BASE DE APONTAMENTO 22. Condio imprescindvel: desenhar diretamente com a pena, sem nenhum esboo prvio feito a lpis. J sabe. Deve desenhar direta mente com a pena, tratando de obter desembarao com ela, de traar sem preocupao, provando ao mesmo tempo que capaz de encaixar e proporcionar de sada. No se preocupe se a coisa no vai bem. prefervel assim do que desenhar muito bem, mas sem passar por esta aprendizagem. O sistema o obrigar, alm do mais, a se concentrar pondo em jogo toda a sua capacidade e saber artstico.

23. Pode copiar as mesmas figuras da lmina n. 1, ou pode desenhar outras imagens criadas por voc mesmo. Partindo da lmina modelo, desenhando a partir de fotografias ou recortes de revistas, ou fazendo-o a partir de modelo vivo, do natural, tomando apontamentos de uma cadeira, uns livros, uma flor, umas frutas, de figuras reais, animais, etc. O importante que faa correr a pena tratando de conhecer e dominar os seus segredos.

EXERCCIO PRTICO N. 2 DESENHO A PINCEL E TINTA NANQUIM, ESTILO LINEAR. TEMA: RETRATO PARTINDO DE UMA FOTOGRAFIA. Continuamos com exerccios prticos sobre desenho a bico de pena, introduzindo agora a tcnica do pincel com tinta nanquim, de grande efeito e utilidade em todos os campos da arte. Iniciaremos este estudo com um desenho de tipo linear, a partir da fotografia do artista de cinema James Mason, includa neste livro em lmina fora do texto, impressa em tipografia, sobre papel couch especial uma imagem de extraordinria beleza plstica, que convida realmente a desenhar. O exerccio significar, alm de um primeiro contato direto com a tcnica do pincel, desenhando com tinta nanquim, uma interessante prtica com vistas a possveis encomendas de ilustraes de alta qualidade para livros, revistas, jornais, etc., ou simplesmente, para atender encomenda de um retrato artstico realizado neste estilo e tcnica que conforme veremos proporciona obras de grande qualidade artstica. Antes, e para um melhor conhecimento de causa, voc realizar algumas prticas em papel parte, ao tempo em que estuda as coisas do ofcio relacionadas com uso do pincel e da tinta nanquim. O material necessrio neste caso, : Uma folha de papel de qualidade superior tipo Canson , que conseguir nas lojas do ramo; lpis comum n. 2; borracha de apagar, rgua graduada e esquadro; pincel de porco n. 2; tinta nanquim; um copo com gua comum e um pedacinho de pano para limpar o pincel. TCNICA E OFCIO Uso e conservao do pincel Para esta prtica, necessitar de um pincel do n. 2, dos chamados de plo de porco. muito fcil de encontrar em qualquer loja dedicada venda de material de desenho e pintura. Uma vez que esteja em seu poder, examine-o, por obsquio. um pincel de qualidade, de rendimento realmente extraordinrio. Faa com ele o que todo profissional faz com um pincel nvo: introduza-o na boca, molhe-o com a prpria saliva e, ao retir-lo, afie a sua ponta pressionando-o suavemente com a lngua e os lbios. Repita esta operao vrias vezes at conseguir uma ponta perfeita, com os plos formando um s corpo, unidos, compactos... Que ponta boa, no ? Bem, trata-se de conservar esta ponta, melhor-la at com o uso, porque realmente, um pincel velho, tratado como necessrio, melhora com o tempo, afina-se e torna-se mais flexvel, at se converter num utenslio de inaprecivel valor para o profissional experto. Mas vejamos: trate de pintar com esse pincel. Vamos; molhe-o com tinta nanquim e trace algumas linhas em papel parte. Pinte alguns traos como os ilustrados na figura 1 deste captulo, logo abaixo: sries de linhas diagonais, de uma s grossura; sries de traos grossos e finos, pinte tambm alguma mancha.

... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... Que tal? Vai indo bem? Conservou-se bem a ponta? Trate agora de educar a mo e o pulso, desenhando traos finos, de uma finura extrema e uniforme... Mas espere, espere. imprescindvel que tenha a seu lado um copo ou recipiente com gua limpa, comum, alm dum paninho, um pedacinho de pano, para limpar o pincel de vez em quando. Isto muito importante. Cada vez que voc notar a mnima dificuldade no traado, seja porque a ponta do pincel no est to aguda, ou porque nele se acumulou sujeira, molhe-o decididamente na gua, limpe-o e enxugue-o com o paninho, penteando os plos, pressionando sempre de dentro para fora para conservar e melhorar a ponta. Esta operao pode ser necessria to amide como para no largar o pano, segurando este com a mo esquerda enquanto pinta ou traa com a mo direita. Assim mesmo, de vez em quando suspenda a tarefa e faa uma limpeza a fundo do pincel, esfregando-o e friccionando-o com certa energia, sempre no sentido e direo apropriada para manter unido o feixe do pincel. Mais importante ainda: Quando deixar de pintar por alguma causa imprevista, lave e enxugue o pincel antes de atender essa causa. Noutras palavras: NO PERMITA NUNCA QUE UM PINCEL MOLHADO DE TINTA NANQUIM FIQUE SECO. Isto o pior que pode acontecer a seu pincel: que seque estando impregnado de tinta nanquim, queimando e prejudicando a integridade do plo, tornando-o quebradio e transformando aquela magnfica ponta, numa vassoura eriada completamente imprestvel. Compreenda-o: a tinta nanquim ao secar, solidifica e endurece. Nestas condies a limpeza do pincel pode ser feita s parcialmente, ou seja, limpando a ponta propriamente dita, mas deixando na parte superior do feixe, l onde comea o pincel, pequenos grozinhos, minsculas partculas de tinta nanquim, que foram a posio de cada plo, separando-os entre si. Vigie esta necessidade de lavar e secar o pincel, especialmente quando termine o seu trabalho. Disso depende a vida do seu pincel. E nada mais; voc ter comprovado que o pincel, assim como o cabo com a pena, deve segurar-se mais acima que a pena normal para escrever; ter reparado tambm que,

com o pincel, no existe o problema do tropeo e respingado prprios da pena, de forma que tudo mais fcil e divertido. Ter comprovado, em fim, a possibilidade de pintar com o pincel meio seco, traando ento linhas quebradas, cinzentas de to dbeis, ou bem manchas formando grisados em combinao com a rugosidade do papel. questo agora de aplicar estas provas iniciais realizao de um desenho definitivo: o retrato de James Mason realizado em estilo linear a pincel e nanquim. INSTRUES GERAIS: 1. O normal, neste caso, seria desenhar eu prprio o retrato da James Mason, explicando e ilustrando o processo de execuo para que voc pudesse segu-lo e realiz-lo com sucesso. Mas pensamos que isto seria tanto como lhe dar todo o trabalho j feito, sem ter a oportunidade de interpretar por sua conta, de resolver sua maneira, de aprender, em fim. Vamos, ento, fazer algo diferente, mais eficaz do ponto de vista didtico. Voc trabalhar efetivamente a partir da reproduo fotogrfica de James Mason anexa a este livro, mas o nosso ensino, o processo de realizao da obra, estar baseada em outra fotografia, em outro re trato de caractersticas muito parecidas: a imagem de Albert Einstein reproduzida na pgina seguinte. Poder comprovar, nestas reprodues de igual tamanho, colocadas uma ao lado da outra, a extraordinria similitude de ambos retratos: posio do modelo, direo e intensidade da luz, etc. Fica entendido, no ? Repare bem: Voc trabalhar e desenhar a partir da fotografia de James Mason, includa neste livro, em lmina separada, embora ns, como exemplo de realizao, explicaremos e ilustraremos o processo a seguir partindo de uma fotografia de Albert Einstein. Tudo que voc tem a fazer e perdoe que eu insista , aplicar o processo seguinte a seu retrato, o retrato de James Mason.

Foto de James Mason que, na lmina fotogrfica de tamanho grande, ser o seu modelo.

Foto de Albert Einstein, sobre a qual ns explicaremos a realizao deste exerccio.

O SISTEMA DA QUADRCULA Sempre que o artista profissional deve reproduzir um tema, uma figura ou um retrato a partir de uma imagem impressa ou fotogrfica, sempre o artista recorre ao sistema da quadrcula, ou seja, desenha na imagem modelo, com o auxlio da rgua e do esquadro, uma srie de quadrados que depois repete no papel ou superfcie para desenhar ou pintar simplificando assim o encaixado e construo do modelo, a ob teno da semelhana exata. O processo da quadrcula, olhado assim, a primeira vista, parece estar brigado com o nobre ofcio das Belas Artes. Um profano na matria aquele mesmo a quem voc poderia ter feito o retrato da noiva, cobrando por ele , e a quem voc explicasse o desenvolvimento do sistema, talvez diria ou pensaria: , assim at eu!. Pois bem, teria razo essa pessoa ao falar assim? Deve o artista sentir escrpulos de conscincia ao pr em prtica um sistema que facilita extraordinariamente a construo da obra artstica? No, absolutamente no. O sistema de quadricular uma imagem, ampliando-a, reduzindo-a ou simplesmente copiando-a, foi empregado desde sempre, em todo o mundo, por todos os artistas, sem complexos e sem escrpulos, inclusive divulgando o sistema para que quem vier depois saiba como e quando faz-lo. Leonardo da Vinci, por exemplo, na sua obra Tratado de Pintura, explica com todo detalhe: Quadricula ligeiramente o papel sobre o qual irs desenhar. As retculas do quadriculado devero ser tanto menores que as do outro quadriculado quanto mais quiseres reduzir a cpia. Tem presente os pontos de encontro dos membros do teu modelo de acordo com os que te mostram as linhas da retcula (...).

No vou agora lhe descobrir os segredos do sistema, porque acho que do na vista apenas com notar que colocar o perfil de um nariz ou o contorno de uma boca dentro de um quadrado, muito mais fcil que colocar estas mesmas formas dentro do ovalo do rosto. Devemos pensar, no obstante, que a quadrcula no elimina por completo o problema de dimenses e propores, que mesmo com esta mecnica existe ainda a necessidade de calcular distncias, posies, etc. Veja: faamos uma pequena experincia para compreender melhor esta necessidade, vendo ao mesmo tempo a melhor maneira de fazlo: Desenhando o contorno superior da cabea Para desenhar contornos como este, amplos, curvos, que devem ser traduzidos por uma s linha, aconselho que calcule e determine de antemo a posio da linha ao cruzar cada trao da retcula (fase A), marcando esta situao mediante pequenos tracinhos e traando depois a linha inteira, com a inclinao ou curvatura apresentada pelo modelo (B). Para determinar o lugar ou posio, destes tracinhos ou pontos de referncia iniciais, no h outro jeito seno calcular a olho, dizendo a si prprio: O ponto C acha-se a um tero da vertical D; o ponto E est situado quase no centro, ou melhor, pouco mais para c, para o lado esquerdo da horizontal F... etc. (Fase C). Bem, acho que com isto fica esclarecido o funcionamento do sistema da quadrcula. Podemos, portanto, analisar detalhadamente o processo de realizao do nosso desenho.

PRIMEIRA FASE: Desenho da quadrcula 2. Comece por quadricular a fotografia de James Mason, com uma quadrcula de um centmetro quadrado, ocupando todo o espao da re produo. Pode desenhar esta quadrcula a lpis (em todo caso com um lpis muito macio cujos traos sejam perfeitamente visveis inclusive nas partes escuras), mas meu sincero conselho que o faa com tinta nanquim, traando a quadrcula com tira-linhas, desenhando linhas muito finas. Muito cuidado! Lembre-se da necessidade de desenhar uma quadrcula muito perfeita, precisamente de um centmetro por quadro, perfeitamente esquadrada, etc. Pense que qualquer defeito na construo desta quadrcula, repercutir depois e isto lamentvel no resulta do final de sua obra. 3. Passe a seguir a quadrcula para a folha de papel tipo Canson, mas no no mesmo tamanho, mas ligeiramente ampliada, desenhando-a 12 milmetros por quadro. Repito: Voc trabalhar com uma quadrcula ampliada, de 12 milmetros por quadro, ou seja, 2 milmetros a mais por quadro que a quadrcula original. Desenhar esta quadrcula a lpis, naturalmente; trabalhando com a ponta bem afiada, com um lpis comum do nmero 2, traando debilmente, com a mxima limpeza. A propsito... Lave as mos. Faa-o de vez em quando para manter em tudo a mxima pulcritude e limpeza. Por favor! SEGUNDA FASE: Construo a lpis mediante quadrcula. 4. Desenhe agora a imagem inteira de James Mason, cabea, busto, mos, operando com o sistema j conhecido da quadrcula. Faa este desenho em base absolutamente linear, prescindindo de sombras, desenhando unicamente os perfis das formas. 5. Insisto, principalmente, em que trabalhe com a ponta do lpis bem afiada. Com uma ponta longa, de profissional, tal como a ilustrada na figura ao lado nmero 2.

6. Observe na figura 3, o estado do desenho ao terminar esta segunda fase (veja, por obsquio, a fotografia de Einstein para uma melhor compreenso dos seguintes extremos): 7. Compreenda vista destas imagens que a base do sucesso radica principalmente numa construo absolutamente limpa e segura, sem falhas. Procure, ento, ser exato milimtricamente exato. 8. Trate nestes momentos de desenhar tudo, de representar todas as linhas e limites das formas; seja magnnimo, mas no at o ponto de desenhar todos os plos e sinais, porm, tratando de escolher traos bsicos e caractersticos, que definam e personalizem a imagem do retratado. Observe a respeito, no exemplo do retrato de Einstein, as poucas linhas utilizadas para desenhar o bigode, a supresso de algumas rugas minsculas, sem importncia (nas costas da mo direita, por exemplo), etc. 9. Dever desenhar, alm disso, criando e interpretando, pondo em claro o que no retrato estiver escuro. No caso do retrato de Einstein, a forma da orelha, a posio e a forma do orifcio do nariz, as rugas do queixo, etc., so praticamente invisveis, sumidas como esto na sombra ou penumbra. Pois bem, deve imaginar que no existem essas sombras, e deve desenhar as formas inteiras, visveis. Enfim, continuando a imaginar, pense em completar a cabea de James Mason, que aparece cortada na fotografia modelo. No difcil, e, logicamente, imprescindvel fazlo.

TERCEIRA FASE: Desenho a pincel com tinta nanquim. 10. Antes de iniciar a passagem a tinta nanquim, faa uma ltima re viso do desenho a lpis, apagando as linhas que considere acessrias, no necessrias, retificando e refazendo para chegar a uma sntese de acabamento que lhe permita, quase sem mais nada, redesenhar com o pincel e a tinta nanquim. (Seria conveniente que deixasse passar um tempo entre a fase anterior e esta, a fim de determinar melhor a sntese linear mencionada.) 11. Veja agora, na figura 4, o estado final do retrato de Einstein desenhado a pincel e tinta nanquim em estilo linear.

12. Antes de iniciar esta fase final, para pegar jeito e praticar com o pincel, conveniente que desenhe e pratique em papel parte, tratando de aprender principalmente, a traar linhas finas. 13. Trabalhe com um papel sob a mo. Este papel, alm de servir de proteo contra a sujidade, dever ser utilizado para afiar a ponta do pincel uma vez molhado na tinta nanquim, para descarreg-lo de tinta em excesso, para ensaiar o trao, etc. 14. Enfim, comece por desenhar numa zona de pouco compromisso; no limite posterior da cabea, no cabelo, desenhando as mechas mais visveis, etc., para passar depois a partes mais importantes, nas quais necessria uma segurana absoluta na resoluo do trao e do desenho.

15. Todo o segredo deste estilo e em geral de todo desenho com pincel e tinta nanquim est em poder desenhar com uma boa ponta, capaz de traar linhas finssimas. Isto depende, em grande parte, de saber regular a quantidade de tinta necessria no pincel. Neste ponto prefervel pecar por excesso que por defeito. Como voc prprio poder comprovar: Para conseguir traos muito finos, o pincel dever carregar pouca tinta. O que exige, por sua vez, manter o pincel limpo, tendo em conta as instrues dadas anteriormente. 16. Falando do modo de fazer neste estilo linear, e vendo o exemplo anexo do retrato de Einstein, voc poder comprovar que o trao no se mantm absolutamente uniforme, existindo, pelo contrrio, um jogo calculado de grossos e finos, tratando com isto de tornar as linhas mais expressivas. No existe a este respeito uma regra correta que permita dizer aqui fino, aqui grosso ; sendo o modelo, os traos e linhas do mesmo os que devero nos dar a pauta, considerando, em todo caso, a possibilidade de engrossar os traos que limitam formas sombreadas (no retrato de Einstein, as linhas que desenham o limite inferior do nariz, do bigode, do queixo, etc.), afinando, no possvel os que limitam formas iluminadas (mecha de cabelos de Einstein no lado direito, junto s mos; parte superior iluminada dos dedos entrelaados, etc.). Cabe dizer, por ltimo, que os traos grossos parecem apropriados para concretizar e aproximar os corpos, em tanto que os finos expressam mais a ideia de afastamento (observe a ideia de aproximar os braos de Einstein mediante traos mais grossos em seus contornos). 17. Terminado o desenho com tinta nanquim, apague a quadrcula. Deixe passar ento algumas horas antes de assin-lo, para estudar a possibilidade de algum retoque pequeno ou algo a acrescentar, de reforar algum trao ou desenhar pequenas linhas, pontos, etc. A propsito desses pontinhos desenhados em algumas partes do rosto de Einstein, nas mos, etc., no abuse deles. Ficam dentro deste estilo e do qualidade obra, mas sempre que no existam com excesso. 18. E apagar? Pode-se apagar a tinta nanquim? Pode-se eliminar um trao, uma escapulida, uma pequena mancha? Em princpio, e como princpio, NO. Rotundamente NO. Um trabalho realizado a tinta nanquim em que apaream rasuras, retoques com tmpera branca, etc., e ser sempre um trabalho sujo, de amador inexperiente. Devem-se evitar estes retoques desenhando antes, a lpis, de forma impecvel, levando a cabo um estudo profundo, definitivo, que permita depois passar a tinta sem retificaes sensveis. Mas, em fim, a pesar de todos os cuidados, cabe o fato de um erro involuntrio, de um trao desenhado fora do lugar, de uma linha mais longa do necessrio. Um trao, UMA pequena linha, UMA pequena mancha... Mais nada alm disso. Se as retificaes devem ser feitas em vrias partes, em vrias linhas e traos... Ento prefervel comear de novo. Bem; para estes casos excepcionais, os dois nicos sistemas possveis consistem em: a) cobrir a parte errada com tmpera branca; b) rasurar a parte errada com uma lmina de barbear nova. Em qualquer caso o retoque dever ser imperceptvel. Eis o processo a seguir para retificar pequenos erros operando com lmina de barbear: I. Deve-se limpar a zona, com borracha, eliminando possveis traos de lpis. Isto importante. De no ser assim, corre-se o risco de que depois, ao raspar com a lmina de barbear, a grafita do lpis suje a fibra do papel.

II. A seguir inicia-se a raspagem com a lmina de barbear. Ela deve ser preferivelmente nova a fim de que tenha um fio perfeito. Veja na figura nmero 5 A: a forma de segurar a lmina de barbear, com os dedos polegar, indicador e mdio, fazendo alavanca com o polegar, de maneira que a lmina fique ligeiramente dobrada, e B: a posio da lmina com respeito superfcie do papel, observando que, graas curvatura da lmina, possvel raspar com um ponto do fio, ou seja, com uma pequena zona do fio que permitir uma rasurao uniforme, sem fendas, nem arranhes sbitos (coisa que pode acontecer quando se raspa simplesmente com a ponta ou extremo do fio).

III. Iniciada a raspagem, a operao deve ser feita muito lentamente, com muitas passadas, de forma que pouco a pouco solte a fibra do papel e com ela o trao de tinta nanquim que estamos apagando. IV. medida que avana a raspagem, voc ver que o p da tinta nanquim desprendido do trao, suja notavelmente a pequena zona em que est operando. Pare ento! Pare de raspar e limpe a zona com a borracha, com cuidado, quase sem esfregar. Continue depois com a raspagem... Com cuidado, lentamente, evitando por todos os meios levantar a fibra do papel. V. Por ltimo, depois de limpar a zona com a borracha, arranjando e acomodando com ela os desperfeitos ocasionados na fibra do papel, passe por ltimo a unha do anelar ou mdio (Figura 6), pressionando e amassando as pequenas farpinhas e fiozinhos da fibra, de modo que a superfcie do papel fique nesse ponto como nova. Importante: antes de pressionar com a unha, certifique-se de que ela esteja bem limpa. Assim, possvel que voc consiga um bom retoque. A pesar do que, insisto: estude a fundo antes, a lpis, para evitar ter que apagar depois a tinta. Em todos os sentidos melhor, mais limpo, mais profissional.

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EXERCCIO PRTICO N. 3 DESENHO A PINCEL E TINTA NANQUIM. ESTILO: SOMBREADO POR MASSAS OU BLOCOS . TEMA: RETRATO A PARTIR DE UMA FOTOGRAFIA. Eis um exerccio verdadeiramente instrutivo. Uma prtica realmente proveitosa para o desenhista, o ilustrador, o pintor. Poderia ser intitulada assim: Estudo em sntese dos efeitos de luz e sombra. Compreende adquirir, ou melhor, comear a adquirir ou reafirmar, ao menos esse dom especial do desenhista ou do pintor capaz de explicar as formas com apenas algumas manchas, de dar volumes sem transies, sem meios-tons, maneira impressionista. Verdadeiramente instrutivo sim, senhor! Quando voc pintar a aquarela, a tempera, mas principalmente a leo, quando voc estiver possudo daquela febre criadora que impulsiona o artista a resumir, a converter um degradado num plano de cor viva, a suprimir meios-tons para dizer com tons mais concretos, voc estar ento, de certo modo, pintando por massas, chapeando valores, pres cindindo de transies para se expressar com mais fora. Como fizeram Czanne, Manet, Van Gogh. Para chegar a este domnio absoluto do volume, dos efeitos de luz e sombra, preciso saber escolher o limite certo em que se produza transio entre a passagem de luz a sombra. A essncia deste processo reside num desenho a bico de pena por massas ou blocos. Este estilo de desenho o que voc vai realizar j mesmo. No terreno da ilustrao, o desenho por massas, a resoluo dos efeitos de luz e sombra mediante planos concretos, algo que o artista deve saber e conhecer profundamente. As ilustraes a bico de pena publicadas nas pginas 29, 30, 31 e 33, falam por si mesmas a este respeito. O exerccio no fcil. Ainda mais levando em conta que tambm neste caso voc trabalhar com a fotografia de James Mason, em quanto ns exemplificaremos com a imagem de Albert Einstein. Vamos l sem mais prembulos: INSTRUES GERAIS: 19. O dito no exerccio anterior, includos os ensinamentos relativos primeira fase, completamente aplicvel realizao deste, a saber: a) Voc desenhar a partir da fotografia de James Mason anexa a este livro ainda que, por nosso lado, explicaremos e Ilustraremos o processo a seguir a partir da Imagem de Albert Einstein. b) Desenhar igualmente uma quadrcula ampliada utilizando outra folha de papel Canson a razo de 12 milmetros por quadro, situando a mesma no centro do papel de desenho. Dito isto e dando por j feita a quadrcula, podemos passar diretamente segunda fase do exerccio: SEGUNDA FASE: Construo a lpis mediante o sistema da quadrcula

20. Continuam as reiteraes. Lpis n. 2; ponta muito afiada; papel sob a sua mo; limpeza, limpeza, limpeza... 21. A figura 7 mostra-nos o estado do desenho uma vez terminado o presente estgio. Vemos no mencionado desenho, na sua construo, uma notvel diferena com respeito figura anterior nmero 3, a mesma fase no exerccio anterior. Enquanto que naquele existia a preocupao de um desenho linear definitivamente acabado, neste necessrio realizar um estudo condicionado ao estilo chapeado, ou seja, resoluo de volumes mediante planos. Observe esta figura 7. Voc poder ver nela a sntese estudada para a representao da forma da orelha (A); a localizao e forma do limite correspondente ampla sombra da bochecha e pmulo (B); a forma dada prega ou ruga existente entre a bochecha e a comissura dos lbios (C); a especial conformao das sombras correspondentes ao nariz (D); a sombra provocada pelo bigode (E), etc. Repare que, em cada caso, o problema reside em determinar e situar os limites das sombras pensando em represent-las mediante planos, ou seja, com manchas uniformes, negras.

22. A soluo deste problema est dada pelo velho truque de olhar o modelo com os olhos semifechados, para ver, dentro do possvel, as luzes separadas das sombras. Isto, em princpio, porque evidentemente, a pesar de entrefechar os olhos, a soluo no fcil em determinados pontos. Na fotografia de James Mason, por exemplo, onde comea e onde termina a degradao que modela o pmulo e a bochecha do retratado? O que fazer ao chegar a essas tnues sombras meios tons que modelam a zona direita correspondente ao bigode (ali, junto comissura dos lbios, pelo lado direito, conforme ns vemos a imagem)? Pode-se pensar, por outro lado, em eliminar a forma da orelha, deixando toda essa parte sumida em negro, ou cabe a reserva de alguns espaos brancos para representla? Parece que no, que a forma do ouvido deve ser absorvida pela escurido quase total desta zona; parece, tambm, que aquele meio-tom do bigode no deve ser levado em conta, mas a verdade que ningum (nem eu prprio) pode assegurar nada at ter realizado alguma prova, at que no tenha visto como fica desta maneira, como desta outra. Para isto, nada melhor que se deixar levar agora pela primeira inteno, esperando confirm-la ou retific-la na fase seguinte. 23. Observe no desenho de Einstein, representando o final desta fase o fato de que, na maioria dos casos, os limites das partes em sombra foram resolvidos mediante linhas quebradas, formando ngulos, tringulos, etc. Em princpio, isto pode ser parte de um estilo, que de todas as formas enquadra perfeitamente com a ideia de resumo e sntese que preside este tipo de desenho. No possvel, pois, procure ater-se a esta ideia de limites de sombras formando ngulos e linhas quebradas. 24. Ademais, no necessrio dizer-lhe que tambm aqui, como no exerccio anterior, imprescindvel uma construo firmemente assegurada, sem falhas, que permita depois despreocupar-se da semelhana. TERCEIRA FASE: Sombreado por massas, feito a lpis. 25. Este o ensaio geral da obra. Como na arte do teatro, trata-se aqui de experimentar todos os efeitos, todas as formas de dizer e de explicar, com a possibilidade ainda de retificar, de estudar e calcular, antes de estreiar e realizar definitivamente a obra. A figura 8 lhe dar uma ideia do que deve fazer durante este ensaio geral. Simplesmente desenhar tudo, com lpis, de modo definitivo, para conseguir uma representao idntica final, mas em tom menor, feita mediante grisados a lpis.

26. Muita ateno, muito cuidado, por favor, na resoluo desta fase. Dela depende o resultado final. Pense que depois, por assim dizer, somente ter que preencher de tinta nanquim os espaos e sombras calculados agora; que depende deste clculo para que o seu desenho seja ou no perfeito. Primeira condio: Mxima pulcritude no acabamento de limites e contornos. Devem ser cortados em seco, com bordas vivas, imaginando uma resoluo feita por planos. Segunda condio: Dever conseguir, mediante grisados feitos a lpis, um efeito final, em tom menor, que lhe permita ver e estudar o resultado definitivo. Isto significa trabalhar as zonas em sombra com o lpis, desenhando grisados absolutamente uniformes, de uma intensidade igual em todas as zonas, como se em lugar de trabalhar com um lpis estivesse trabalhando com um pincel e tinta de cor cinza. necessrio, imprescindvel, que esta tarefa seja executada com o mximo cuidado. Bem, agora o momento de retificar, de experimentar ampliando, alongando ou encurtando tal ou qual forma, esta ou aquela sombra. O que est fazendo significa uma reviso da sntese estudada anteriormente. Agora est em tempo de experimentar e retificar.

Faa-o com calma. E quando tiver terminado este estgio, deixe passar pelo menos uma noite de um dia para o outro , para v-lo depois mais friamente, com maior capacidade para discernir e decidir. QUARTA FASE: Resoluo final com tinta nanquim e pincel. 27. Se o estudo anterior foi feito a conscincia, pesando todos os prs e os contras, ou muito pouco ter que resolver nesta fase final. Redesenhar e preencher com tinta nanquim, isto ser tudo. Mas no se conforme ainda. Tente ainda melhorar seu estudo. Coloque a seu lado a imagem de James Mason e analise novamente, como coisa nova cada caso, cada contorno, cada forma, cada limite, cada mancha. possvel que agora, neste momento final, lhe ocorra uma nova ideia, uma ligeira modificao que aumente a qualidade artstica de sua obra. Repare no meu caso, no caso do desenho de Einstein. Eu prprio fui retificando, pondo e tirando a medida que avanava na resoluo e estudo da sntese por massas. Um exemplo, apenas: na primeira fase, ao desenhar a ruga situada junto comissura dos lbios (Figura 7, letra C), pensei que poderia alongar-se at o nvel do nariz. Ao resolver a imagem por massas mediante grisados realizados a lpis, experimentei e conclu que seria melhor encurtar a forma desta sombra. Por ltimo, ao pintar com tinta nanquim, em base definitiva, voltei primeira verso, mas mudando ligeiramente a forma geral desta sombra. Observe tambm, as mudanas efetuadas na resoluo de pequenas e grandes formas, de contornos e limites, principalmente, tratando sempre de melhorar, de ir alm, de conseguir uma obra melhor. No se conforme com o primeiro achado; tenha sempre o propsito de madur-lo, reconsider-lo e... se for para bem, no duvide em retificar. 28. Creio que est tudo dito. Estude detidamente os exemplos dados com o processo de Einstein, inclusive a figura 9, e como final deste exerccio apague os traos iniciais a lpis e a quadrcula. Faa-o com a mxima limpeza. Procure deixar os tons das manchas de tinta nanquim completamente uniformes, passando e repassando o pincel com tinta uma vez sca a mancha para conseguir um negro absoluto, compacto, uniforme.

29. E passe todo o tempo que seja necessrio. No corra. Esses cantos vivos, esses ngulos recortados, essas pequenas formas angulosas, quebradas, perfeitamente cortadas, so fruto de trabalho paciente, de arteso que sabe o seu ofcio: um ofcio em que o tempo no conta; somente tem valor o resultado final. ___________________________________________________________________ _____

EXERCCIO PRTICO N. 4 DESENHO COM CANA. TEMA E ESTILO: SUA ESCOLHA. E este o ltimo da srie: um desenho a bico de cana (que voc prprio poder construir de acordo com as seguintes instrues), podendo escolher entre o tema figura ou o terna paisagem, recomendo-lhe, neste ltimo caso que seja uma paisagem urbana, uma ruela de aldeia, um recanto da praa de um lugarejo, a viso de um grupo de casas, a rua ou praa de um bairro antigo numa cidade, etc. Interessa igualmente desenhar este exerccio sem nenhum encaixe prvio feito a lpis, ou seja, diretamente com a cana, embora seja necessrio estudar antes, em papel separado e a pequena escala alguns esboos que lhe permitam afirmar a composio da obra. Os materiais necessrios so: cana, construda por voc prprio; lmina de barbear e tinta nanquim; uma folha de papel de boa qualidade. Como construir uma cana para desenhar com tinta nanquim.

39. Procure uma cana de milho oca e lustrosa, sca, de um dimetro aproximado ao de um cabo de vassoura (se tiver uma vassoura com cabo de cana no procure mais. Esta a que necessita).

40. Pise na cana para estilha-la mas de forma que possa conseguir uma astilha de uns 15 centmetros de com primento por uns dois de largura.

41. Com o auxlio de uma lmina de barbear ou de uma faca, faa ponta como se fosse um lpis.

42. A seguir faa um corte no centro da ponta, de uns dois centmetros de longitude.

43. Molhe a cana na tinta nanquim e tente desenhar com ela sobre um pedao qualquer de papel. De primeira inteno a cana pintar muito pouco e mal. Insista, torne a molhar e tente traar de nvo. Pouco a pouco, medida que toda a ponta fica impregnada de tinta nanquim, a cana converte-se num excelente veculo, de grande fluidez, correndo a tinta regularmente. ques to ento de adaptar a ponta a seu gsto, afinando-a, dando forma de cunha ou deixando-a em bisel, cortando-a com uma lmina de barbear at que trace a seu gsto. Comeando a desenhar, possvel que pouco depois a ponta se desgaste, desenhando ento traos grossos. Afie-a novamente, ou procure desenhar com outra aresta da ponta, virando ligeiramente a cana, inclinando-a para um lado ou para outro. fcil, vai ver. E divertido. Em fim, experimente desenhar com a cana quase sca, quando quase no resta tinta nela, vendo ento que, ao esfregar com fra, conseguem-se traos menos potentes, muito necessrios em certas partes do desenho.

E isto tudo. Deixamo-lo com a sua cana e os seus desenhos, esperando e desejando que se afeioe a este meio, o desenho a bico de pena, usado e praticado por todos os artistas famosos do mundo. _________________________________________________________________________ (DESENHO PUBLICITRIO) EXERCCIO PRTICO N. 5 GRISADOS E DEGRADADOS MECNICOS, APLICADOS ARTE COMERCIAL E PUBLICITRIA.

Como fica esclarecido no ttulo que precede, este um exerccio especial destinado ao ensino do desenho a bico de pena, dentro da Arte Comercial e Publicitria. Se voc no estiver interessado em seguir estes ensinamentos, pode passar por alto a realizao deste exerccio. Se voc pensa dedicar-se a esta especialidade da arte, ento disponha-se a realizar este importante exerccio, levando em conta as seguintes consideraes prvias, j no referentes ao desenho a bico de pena, mas aplicveis ao desenho publicitrio em geral.

A Arte Comercial e Publicitria uma verdadeira especializao, uma verdadeira profisso, cuja aprendizagem exige um esforo continua do, sem limite, no que se refere a horas de estudo e aperfeioamento. Bem, realmente isto no exclusivo da Arte comercial e publicitria, sendo aplicvel a toda a Arte em geral, ou melhor dizendo, a todas as empresas e conquistas desta vida. Mas acontece que no caso que nos ocupa existe uma srie de fatores que dramatizam ainda mais, se isto possvel, a questo. Em primeiro lugar, o fator tempo, o pouco tempo