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VI Encontro Nacional da Anppas18 a 21 de setembro de 2012Belém – PA – Brasil
A BACIA HIDROGRÁFICA COMO UNIDADE TERRITORIAL DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Paulo Romano Reschilian(Universidade do Vale do Paraíba)Doutor em Arquitetura e Urbanismo, Arquiteto e Urbanista, Bacharel em História, Docente e Pesquisador do Programa de Mestrado em Planejamento Urbano e Regional do Instituto de
Pesquisa e Desenvolvimento da Universidade do Vale do Paraíba, [email protected]
Andréa Francomano Bevilacqua(Parque Tecnológico de São José dos Campo)Mestre em Planejamento Urbano e Regional, Bacharel em Direito, Assesora Jurídica do Parque
Tecnológico de São José dos [email protected]
Introdução
A identificação da bacia hidrográfica como elemento catalisador dos processos ambientais e das
interferências humanas no território tem conduzido à aplicação do conceito de “gerenciamento de
bacias hidrográficas”1, dando ao recorte destas o significado de identidade/unidade territorial. A
proposta é avaliar a partir das experiências internacionais e do Brasil, no Estado de São Paulo, a
perspectiva da utilização da bacia hidrográfica como unidade territorial de planejamento e de recursos
hídricos, como estratégia de integração e articulação entre as políticas setoriais, em todas as esferas de
poder, visando o desenvolvimento sustentável.
A Bacia Hidrográfica como unidade territorial de planejamento adquiriu esse status a partir dos conflitos
relativos à oferta hídrica em quantidade e qualidade que fossem suficientes tanto a perpetuação da
acumulação de riqueza e sua reprodução, quanto à garantia da sobrevivência humana, sem a qual não
há a reprodução do capital, e consequente desenvolvimento. A bacia hidrográfica é justamente o palco
dessas ações e degradações, refletindo todos os efeitos. A identificação da bacia como elemento
catalisador dos processos ambientais e das interferências humanas tem conduzido à aplicação do
conceito de “gerenciamento de bacias hidrográficas
Essa visão de planejamento surge a partir do século XX, seguindo uma tendência mundial, quando
entram na pauta dos debates políticos, econômico e social, as questões relativas ao meio ambiente e
seu arcabouço jurídico e institucional. Visa-se orientar a gestão/ implementação de políticas capazes de
fazer frente às problemáticas que envolvem as esferas ambientais, jurídicas e institucionais, percebidas
VI Encontro Nacional da Anppas18 a 21 de setembro de 2012Belém – PA – Brasilcomo escalas, e que afetam o desenvolvimento, e adotado na contemporaneidade sob o discurso de
sustentabilidade.
Objetivo
Verificar se o atual modelo de planejamento por bacia hidrográfica, como unidade territorial, pode ser
indutor de um processo articulador e integrador de políticas setoriais, visando superar os conflitos de
atribuições dos modelos tradicionais de divisão regional, com vistas a um desenvolvimento sustentável.
Metodologias - Informações
Procedeu-se levantamento comparativo das experiências internacionais relativas à utilização da bacia
hidrográfica como unidade territorial de planejamento e sua intervenção no território, sob o enfoque do
desenvolvimento sustentável, e, em âmbito nacional, o modelo Paulista. O estudo sustenta-se em bases
documentais de órgãos oficiais, entidades e instituições relacionadas à questão dos recursos hídricos, ao
ambiente e planejamento procurando construir também um quadro histórico de ações, leis, diretrizes,
planos e políticas.
Resultados
Produziu-se inicialmente, uma leitura histórico-cronológica da visão Internacional e do Brasil, sobre
meio ambiente e desenvolvimento Sustentável. Tal investigação pretendeu gerar uma compreensão
histórico-cronológica das discussões que desencadearam ações visando um planejamento que desse
suporte a uma forma de gestão dos recursos naturais, numa tentativa de garantir padrões de
desenvolvimento econômico e social, com sustentabilidade.
Produziu-se um quadro com o levantamento das quatro últimas décadas do século XX, no plano
internacional, que envolveu fatos, publicações, cartas, eventos e conferências.
Em outro quadro, apresenta-se uma cronologia dos principais fatos e/ou ações que marcaram o final do
Século XX e início do Século XXI no Brasil relativamente às questões ambientais, ressaltando a questão
hídrica, ponto focal de estudo, para uma posterior análise sobre os impactos ambientais, sociais e
econômicos do planejamento regional a partir das questões relacionadas ao recurso natural água.
Ao observamos os quadros de âmbito Internacional e Nacional, o Brasil caracteriza-se por uma política
ambiental associada à sustentabilidade tardia. É somente a partir do final da década de 80, com a
promulgação da Constituição Federal, e a democratização do país, que se implementam políticas
descentralizadoras. O Brasil se posiciona no cenário ambiental, buscando uma consonância com a
Agenda 21, em especial valorizando o espaço local como referência para implantação das políticas.
VI Encontro Nacional da Anppas18 a 21 de setembro de 2012Belém – PA – BrasilProcedeu-se também a análise sobre a visão internacional sobre a bacia hidrográfica como unidade
territorial de planejamento em relação à estrutura federativa, planificação por bacias, participação do
usuário, contribuições por usos da água e existência de agencias de bacias.
Propostas ao debate
Da comparação das experiências analisadas, verifica-se que há uma tendência para o planejamento
relacionado aos recursos hídricos, tomando por base a bacia hidrográfica, contudo, ainda carece de
instrumentos integradores relacionados às multiplicidades de dimensões que compõem o espaço social
bacia hidrográfica, com seus limites inseridos, incrustados em outros territórios, e suas várias escalas de
poder.
Tanto sob o aspecto do gerenciamento e gestão dos recursos hídricos como no saneamento básico em
toda sua extensão de compreensão a partir da promulgação da Política Nacional de Saneamento Básico
- hoje abrangente pela sua definição -, o Brasil desenvolve uma experiência, que demonstra a
possibilidade de se organizar atores de diversas escalas, em torno de um mesmo tema – a água - com
todas suas interfaces, sob o olhar de um território definido geograficamente por aspectos que o
homogeneízam de um lado, e por outro, se identificam forças de comando que estruturam esse
território, intervindo nesse e direcionando-o.
Destaca-se, por fim, a questão relativa aos recursos hídricos, para superar essa visão setorizada: a
identificação do território como articulador de ações integradoras, uma vez que pelas características de
um planejamento por bacia hidrográfica para a gestão dos recursos hídricos, parafraseando Pereira,
guarda na sua própria origem enquanto técnica, a interdisciplinaridade e multidisciplinaridade, é um
caminho possível à articulação e integração das várias escalas e dimensões de sua área de atuação.
Bibliografia
BERTHA, B.. Síntese geral sobre Política Nacional de Ordenamento Territorial. In Oficina sobre a Política
Nacional de Ordenamento Territorial. Brasília: [s.n.], 2003.
BOURLON, N.; BERTHON, D.. Desenvolvimento sustentável e gerenciamento das bacias hidrográficas na
América Latina. In: XII SIMPÓSIO BRASILEIRO DE RECURSOS HÍDRICOS, 1997.
BURSZTYN, M.; PERSOGNA, M. A.. Grande Transformação Ambiental: uma cronologia da dialética do
homem-natureza – Rio de Janeiro: Garamond, 2008.
LANNA, A. E.. Gerenciamento de bacias hidrográficas: aspectos conceituais e metodológicos. Brasília, DF:
IBAMA, 1995.
VI Encontro Nacional da Anppas18 a 21 de setembro de 2012Belém – PA – BrasilPEREIRA, D.S.P.; FORMIGA-JOHNSSON, R.M., Descentralização da gestão dos recursos hídricos em bacias
nacionais no Brasil. Revista Espaço Acadêmico, 2004.