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A AVALIAÇÃO PERIÓDICA DE DESEMPENHO DO SERVIDOR PÚBLICO ESTÁVEL: EFEITOS DO PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA SOBRE O DESEMPENHO DO SERVIDOR PÚBLICO Igor Lúcio Dantas Araújo Caldas * RESUMO O presente trabalho apresenta elementos de discussão acerca da avaliação periódica de desempenho, como um dos efeitos da efetivação do princípio da eficiência na administração pública brasileira. Apresenta ainda, as distinções existentes entre as avaliações previstas na Constituição Federal, os efeitos práticos dos resultados dessas avaliações, bem como a discussão sobre medidas preventivas para a melhoria da eficiência no serviço público, a partir da qualificação e aperfeiçoamento do servidor público. 1. INTRODUÇÃO A Avaliação periódica de desempenho surgiu no ordenamento constitucional como uma forma de representação do princípio da eficiência. Tal avaliação, que também foi inserida na Constituição através da EC nº 19/98, é pouco discutida na doutrina pátria, isso porque, nem todos os entes públicos possuem disciplina legal para procedimentalizar a mesma, logo, não existindo muitas discussões acerca do assunto. Trata-se da norma constitucional que mais afastou o instituto da estabilidade do servidor público, haja vista que o mesmo na hipótese em que já adquiriu a estabilidade, depois de ter passado pelo estágio probatório, ainda terá que passar anualmente ou semestralmente por avaliação, para ratificar a sua continuidade no serviço público. * BACHAREL EM DIREITO FORMADO PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA -UFBA - MESTRANDO EM DIREITO PÚBLICO - UFBA - SERVIDOR PÚBLICO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA BAHIA.- PROFESSOR DE DIREITO CONSTITUCIONAL, ADMINISTRATIVO, ELEITORAL E DIR. HUMANOS. Versão formatada pela SEDOC para garantir a permanência do acesso. 1

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A AVALIAÇÃO PERIÓDICA DE DESEMPENHO DO SERVIDOR PÚBLICO

ESTÁVEL: EFEITOS DO PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA SOBRE O DESEMPENHO

DO SERVIDOR PÚBLICO

Igor Lúcio Dantas Araújo Caldas*

RESUMO

O presente trabalho apresenta elementos de discussão acerca da avaliação periódica de

desempenho, como um dos efeitos da efetivação do princípio da eficiência na administração

pública brasileira. Apresenta ainda, as distinções existentes entre as avaliações previstas na

Constituição Federal, os efeitos práticos dos resultados dessas avaliações, bem como a

discussão sobre medidas preventivas para a melhoria da eficiência no serviço público, a partir

da qualificação e aperfeiçoamento do servidor público.

1. INTRODUÇÃO

A Avaliação periódica de desempenho surgiu no ordenamento constitucional como uma

forma de representação do princípio da eficiência. Tal avaliação, que também foi inserida na

Constituição através da EC nº 19/98, é pouco discutida na doutrina pátria, isso porque, nem

todos os entes públicos possuem disciplina legal para procedimentalizar a mesma, logo, não

existindo muitas discussões acerca do assunto.

Trata-se da norma constitucional que mais afastou o instituto da estabilidade do servidor

público, haja vista que o mesmo na hipótese em que já adquiriu a estabilidade, depois de ter

passado pelo estágio probatório, ainda terá que passar anualmente ou semestralmente por

avaliação, para ratificar a sua continuidade no serviço público.

* BACHAREL EM DIREITO FORMADO PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA -UFBA - MESTRANDO EM DIREITO PÚBLICO - UFBA - SERVIDOR PÚBLICO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA BAHIA.- PROFESSOR DE DIREITO CONSTITUCIONAL, ADMINISTRATIVO, ELEITORAL E DIR. HUMANOS.

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2. AVALIAÇÃO PERIÓDICA DE DESEMPENHO E AVALIAÇÃO ESPECIAL DE

DESEMPENHO

Do ponto de vista prático, a avaliação periódica de desempenho carece de fundamentos

para a sua própria existência. Tentou o legislador fazer uma analogia à avaliação especial ou

final de desempenho, que é realizada geralmente, de acordo com as leis que dispõem sobre os

estatutos dos servidores públicos, nos quatro últimos meses, antes de se completar os 3 (três)

anos exigidos de efetivo exercício. Esta avaliação possui razão de ser, no sentido em que é

analisada do servidor a sua aptidão, bem como as condições para a sua permanência no

funcionalismo público, sendo um dos requisitos para a aquisição da estabilidade.

Com relação à avaliação periódica de desempenho, o legislador é merecedor de severas

críticas. O mesmo atuou com bom senso ao não determinar o aumento do período de 2 (dois)

para 5 (cinco) para aquisição da estabilidade, mas faltou-lhe ao permitir a inclusão da

avaliação supramencionada na Constituição. Isso porque, anteriormente à emenda, o servidor

poderia ser demitido em virtude de processo administrativo disciplinar, observando-se alguns

requisitos.

Acontece que, esse processo administrativo, dando-se o exemplo da Lei nº 8112/90, que

trata do estatuto do servidores públicos da União, poderia ocorrer se o servidor praticasse

alguma das infrações previstas no art. 132, sendo que, constatado a sua efetiva

responsabilidade, seria desligado do serviço público por intermédio da demissão.

Indaga-se: da análise do artigo citado da lei infraconstitucional, não está claro que se o

servidor praticar as infrações elencadas, atuará de maneira que traga a ineficiência para a

Administração? Seja por abandonar o cargo, por ser inassíduo ou por improbidade

administrativa.

Observa-se que a realidade da conjuntura política no fim do século passado influenciou

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o legislador na formulação das emendas à proposta de Emenda Constitucional, resultando

numa modificação de institutos já consagrados no nosso ordenamento jurídico, como a

estabilidade, bem como fez surgir o fenômeno da instabilidade do servidor público dentro dos

quadros públicos. Mas já que houveram essas modificações, certas distinções devem ser

feitas, a partir de conceituações próprias.

A avaliação especial de desempenho, também chamada de avaliação final de

desempenho, caracteriza-se como condição para a “conquista” da estabilidade, sendo que em

caso de não ser alcançada a avaliação necessária, o servidor será exonerado do cargo, mas

antes disso, mediante processo administrativo simplificado, em que deve ser respeitada a

ampla defesa.

A inobservância do devido processo legal invalida o ato de exoneração do servidor, na

fase probatória, ainda que não preencha os requisitos indispensáveis à conquista da

estabilidade.[1] Este entendimento está consolidado na súmula nº 21 do STF.

No período de três anos, pode-se verificar se realmente o servidor está apto a continuar

no serviço público ou não. Para isso, deverá ser acompanhado de perto pelos agentes

competentes, com vistas a verificar a sua aptidão para o cargo, bem como o desempenho das

suas funções.

No caso da avaliação periódica de desempenho, verifica-se uma contradição nos

próprios termos: como poderia ser realizada uma efetiva análise da eficiência do servidor,

adotando-se como base o período de um ano? Que critérios norteariam as leis que

regulamentassem a referida avaliação?

A priori, esta avaliação é caracterizada como ato declaratório, em que a baixa

produtividade e a insuficiência de desempenho do servidor serão declarados por ato da

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autoridade competente, partindo-se da análise de certos critérios.

Com referência a tais critérios, Edmir Netto de Araújo leciona sobre a avaliação

periódica de desempenho:

Seu objetivo é avaliar periodicamente, por critérios técnicos e supostamente objetivos, as condições de aptidão, desenvolvimento funcional e a eficiência dos serviços realizados pelo servidor.

O perigo é que tais critérios objetivos se transformem em subjetivos, pessoais ou políticos, como tantas vezes já se viu em procedimentos de avaliação para promoções realizados pela Administração. [2]

Também discorre sobre tal procedimento Marçal Justen Filho, defendendo que:

A Redação constitucional do art. 41, §1º, é deficiente e exige intrepretação adequada. É evidente que a alternativa de avaliação periódica de desempenho corresponde a uma modalidade de processo administrativo. A relevância do dispositivo reside em estabelecer que a demissão poderá fundar-se não apenas na prática de infrações graves, mas também na ausência de aptidão ou capacidade para o desempenho das atribuições inerentes ao cargo. A avaliação periódica destina-se não propriamente a verificar se o sujeito infringiu seus deveres, mas a apurar se dispõe de condições para cumpri-los. [3]

A investigação deste trabalho reside justamente na compreensão da elaboração desses

critérios para a análise do servidor. Quando as câmaras de vereadores e assembléias

legislativas pelo país começarem a formular as leis específicas sobre o tema, cuja previsão

está inserida no art. 41 da CF, disciplinando sobre os critérios de avaliação, será que os

mesmos serão apenas objetivos? Será que a eficiência administrativa será atingida com a

eliminação dos quadros públicos do servidor que obteve resultado negativo na referida

avaliação?

3. OBJETIVOS DA AVALIAÇÃO PERIÓDICA DE DESEMPENHO

A avaliação periódica de desempenho, no plano ideal, caracteriza-se como uma

importante ferramenta de aprimoramento dos recursos humanos da Administração Pública. Se

efetivamente, não existissem interesses obscuros quanto à institucionalização de tal

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procedimento, certamente, com uma outra abordagem, o serviço público sairia ganhando no

pós-reforma administrativa de 1998, dando um salto na busca pela eficiência.

Um dos principais objetivos da avaliação é o levantamento de informações dos

servidores, quanto à sua eficiência diante do serviço público. Como a estruturação desta

avaliação está se formando para que ocorra anualmente, pode-se perceber que os resultados

práticos do ano anterior podem influenciar a avaliação subsequente, daí poder afirmar que tal

avaliação se contradiz nos seus próprios termos.

Possui como característica, a relação de controle de resultados no serviço público, é

dizer, tal procedimento, como bem explicitado no inciso III, § 1º, do art. 41 da CF/88, visa

garantir a plena e execução de qualidade dos serviços públicos, na maneira em que provoca a

instabilidade do servidor, que terá receio de praticar as suas atividades de forma desidiosa.

Desta forma, pode-se averiguar o “quantum” cada servidor disponibiliza da sua eficiência

para a Administração.

Se por um lado a avaliação permite fazer um diagnóstico fidedigno de como estão

procedendo os recursos humanos de uma organização, por outro, em virtude de critérios

subjetivos e com fins estranhos à Administração, pode-se praticar injustiças ao servidor

público, que poderá ser exonerado por simples perseguições políticas-partidárias,

característica tão comum na realidade administrativa brasileira.

As chefias geralmente são ocupadas por pessoas estranhas à Administração, ou seja,

através dos cargos comissionados ocupados por terceiros em relação ao vínculo estatutário,

que ingressam na Administração, tornando-se “servidores” até que a vontade e a confiança

dos seus superiores se mantiverem. Como pode então, uma autoridade competente, ocupante

de cargo comissionado exonerar o servidor baseado em avaliação periódica de desempenho?

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A própria formação da comissão especial já se torna passível de crítica, visto que um dos

membros será o próprio superior hierárquico do servidor. Em casos explícitos de conflito

existente entre superior e o servidor estável, é quase que inafastável a ideia de que o primeiro

possa não separar a relação profissional/pessoal, adotando para a realização da avaliação

periódica de desempenho, critérios extremamente subjetivos.

Para isso, é de grande importância a divisão conceitual do desempenho e do

comportamento do servidor público. Por desempenho, deve-se entender uma atividade que

tem como consequência um resultado, sendo este de caráter objetivo. O desempenho seria

uma relação prévia a determinado comportamento, que por sua vez, caracteriza-se como as

ferramentas utilizadas para que se chegue a um determinado fim esperado, onde são

verificadas as atitudes e condutas pessoais utilizadas por cada agente, no desenvolvimento de

suas atividades.

Ocorre que, no âmbito da Administração Pública, tal avaliação está inserida como forma

de se afastar o servidor da estabilidade, e por consequência do serviço público. Caso o

servidor tenha sido reputado como ineficiente, a autoridade competente, através de ato

exoneratório, formalizará o seu desligamento do serviço público.

No âmbito federal, tramita no Congresso Nacional o Projeto de Lei nº 248 – D, também

de 1998, que atualmente tramita no Senado Federal. De acordo com o texto do Projeto, a

avaliação terá por finalidade verificar o desempenho do servidor quanto aos seguintes itens:

a) cumprimento das normas de procedimento e de condutas no desempenho das atribuições do

cargo; b) produtividade no trabalho, com base em padrões previamente estabelecidos de

qualidade e de economicidade; c) assiduidade; d) pontualidade e e) disciplina.

Ainda versa o Projeto que a avaliação periódica de desempenho será realizada por

comissão especial, instituída para essa finalidade, composta por quatro servidores, pelo menos

três estáveis, que tenham pelo menos três anos de exercício no órgão ou entidade a que

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estejam vinculados. Todos devem ter nível hierárquico igual ou superior ao do servidor a ser

avaliado.

A grande controvérsia reside na composição da comissão, em que o chefe do servidor

avaliado fará parte da mesma, o que pode ocasionar, a depender do caso concreto, a

interferência dos requisitos subjetivos, sejam eles positivos ou negativos. O chefe imediato,

poderia ser ouvido pela comissão ou apresentar relatório à mesma, mas não figurar como um

de seus membros. Certamente, não atuará de forma imparcial, fazendo com que a avaliação

seja feita fora das idealizações anteriormente definidas, ou seja, com a adoção de critérios

objetivos para a sua realização.

Verifica-se ainda que, o termo de avaliação deverá conter todas as deficiências do

servidor avaliado e propor o treinamento necessário ao desempenho desejado, caso o

respectivo ente público possua aparato para organizar as instituições de aperfeiçoamento do

servidor público.

Por fim, observa-se que a própria Constituição determinou a existência da possível perda

de cargo, mas não enquadrou a inaptidão para o desempenho das funções como penalidade, o

que seria enquadrado como hipótese de demissão, e nem como exoneração, formas de

exclusão do servidor que ocasiona a vacância de cargo público.

Tais modalidades de desvinculação do servidor da máquina administrativa podem ser

visualizadas, como exemplos, na Lei nº 8.112/90, já mencionada anteriormente, em seus

artigos infra:

Art. 33. A vacância do cargo público decorrerá de :

I- exoneração;[...]

Art. 34. A exoneração de cargo efetivo dar-se-á:

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I- quando não satisfeitas as condições do estágio probatório;[...]

Art. 127. São penalidades disciplinares:

III – demissão;[...].

Há uma imprecisão em determinar de que forma o resultado da avaliação desvinculará o

servidor público estável do serviço público. A Constituição, assim como a lei supracitada,

preveem a exoneração em caso de não satisfeitas as exigências do estágio probatório, em que

há a exoneração depois da ocorrência de uma avaliação especial de desempenho, após o três

anos de período aquisitivo da estabilidade, deixando em aberto o entendimento quanto à

avaliação periódica de desempenho, que está sendo considerada como espécie exoneratória.

4. O PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA COMO PARÂMETRO DA AVALIAÇÃO

PERIÓDICA DE DESEMPENHO

O princípio da eficiência é o principal elemento de fundamentação da existência da

avaliação periódica de desempenho. Caracteriza-se pois, tal avaliação, como uma

representação da concretização do princípio em questão. Mas, será mesmo que o servidor que

porventura venha a ser reprovado em avaliação periódica é realmente ineficiente?

Observa-se que a ineficiência do serviço público prestado por seus servidores pode

decorrer de medidas dos administradores que ao invés de aperfeiçoar, qualificar e retribuir

condignamente os servidores de carreira, oriundos de concurso público, empenham esforços

em aumentar e criar cargos comissionados, os quais não detêm responsabilidade de

continuidade do serviço público.

Além disso, tais cargos comissionados, muitas vezes são vinculados ao cenário político-

partidário, em que partidos políticos dividem literalmente o número de cargos dispostos em

um órgão ou até mesmo em um ente público, ou seja, são cargos ocupados pelo período de

quatro anos, analisando-se que com o ingresso de um novo chefe do Poder Executivo, por

exemplo, todas essas cadeiras são entregues à nova situação.

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Isso ocasiona uma instabilidade dos órgãos públicos e, por consequência, uma grande

instabilidade na realização dos serviços públicos, visto que projetos, ações, planos de

estratégia administrativa, que porventura estejam em curso, muitas vezes são abandonados,

para que haja a nova “roupagem” de acordo com os novos representantes da Administração

Pública.

Desta forma, depreende-se que, o princípio da eficiência é abalado de períodos em

períodos, muito mais por esse fator externo da Administração, mas que acaba sendo mais

interno, visto que é por intermédio do cenário político, da negociação partidária, que esses

cargos são ocupados, logo após a realização das eleições.

Vale ressaltar também que a noção de eficiência que foi instituída pela Emenda

Constitucional nº 19/98 não se limita à qualidade do serviço prestado pela administração

direta e indireta, mas também dos serviços que possam ser operacionalizados por terceiros

mediante concessão ou permissão.

E como ocorre esse controle? Será que as agências reguladoras atuam com o devido

controle de eficiência às empresas que estejam realizando serviços públicos?

Na realidade, o dever de eficiência era uma exigência para que a máquina estatal fosse

afastada, por ser caracterizada como ineficiente, para a partir daí, institucionalizar as

privatizações, bem como as contratações de empresas terceirizadas de recursos humanos,

muitas vezes vinculadas ao cenário político, outrora mencionado, na conjuntura da política de

desestatização ocorrida em meados da década de noventa, do século passado.

Tal dever de eficiência situa a produtividade como o principal fator na determinação do

desempenho de um ente público. O legislador reconheceu que o melhor método para alcançar

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o incremento da produtividade passa pela promoção da melhoria permanente da qualidade.

A busca pela melhoria permanente do serviço público passou a ser elemento primordial,

para que houvesse a satisfação das necessidades dos administrados.

Contudo, tal dever de eficiência não poderia estar totalmente vinculado à produtividade,

haja vista, a busca pela produtividade vai mais além da atuação do servidor público,

necessitando dos direcionamentos efetuados pelos ocupantes dos cargos de cúpula, ou seja, os

administradores, gestores públicos.

Não se lembrou o legislador de que a produtividade está ligada a aspectos quantitativos,

em que os aspectos qualitativos pouco importam para que se chegue ao fim esperado, que é a

boa prestação do serviço destinado aos administrados.

Deve-se verificar se a atuação ineficiente do serviço público é mesmo em decorrência da

própria estrutura de recursos humanos ou dos direcionamentos equivocados em se prestar o

serviço à sociedade. E isso pode-se notar com maior probabilidade, visto que como tais

gestores, geralmente são ocupantes de cargos comissionados, ou seja, demissíveis a “ad

nutum”, não possuem um vínculo efetivo, contínuo e estável com a Administração, sendo que

tal instituto é inerente ao servidor público propriamente dito, mas que pela flexibilização, viu

sua garantia constitucional “escapar” definitivamente.

A própria exigência do dever de eficiência, pregado pela mesma Emenda, caracteriza-se

com um ponto de contradição, a partir da análise da realidade. Desta forma, pode-se entender

que a eficiência então buscada não era para os administrados, mas a eficiência da máquina

para as parcerias privadas que ocorreriam em grande quantidade dali em diante.

Há aqui a necessidade de se fazer uma defesa: a estabilidade não é determinante para

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que haja a insuficiência das atividades públicas, sendo que, o servidor para adquiri-la, precisa

submeter-se a um concurso público, ser nomeado para cargo de provimento efetivo, cumprir

três anos de efetivo exercício e obter êxito em avaliação especial de desempenho, prevista no

§ 4º, do art. 41 da Constituição.

A avaliação periódica de desempenho surgiu como uma opção para evitar que o servidor

depois de superado o período do estágio probatório de três anos, previstos no caput do art. 41,

da Constituição Federal, sinta-se em pleno conforto por ter certeza de que não será demitido,

caso negligencie suas funções, acobertado pela estabilidade, havendo pois, que atender ao

requisito imposto pelo inciso III, §1º do mesmo artigo.

Já que o princípio da eficiência passou a ser explicitado, idealizações de como a sua

aplicabilidade poderia ocorrer passaram a nortear o legislador, o que certamente, fundamentou

a redação do inciso supracitado, com a possibilidade de afastamento de uma garantia do

servidor público que é a estabilidade.

Observa-se que há um nítido choque entre a estabilidade, que é garantia dada ao servidor

público e o princípio da eficiência, que é exigência da sociedade em relação ao Estado.

Verificando esse choque, qual deles prepondera? De pronto a resposta seria o princípio da

eficiência, que nesse caso, viria em conjunto com o princípio da supremacia do interesse

público, tratando como “privado” a estabilidade do servidor público.

Contudo, fazendo-se uma análise mais aprofundada, o servidor instável passaria a partir

de então, a ser um servidor ineficiente. Edimur Ferreira de Faria manifestou-se nesse sentido:

A estabilidade do servidor público, modernamente criticada por alguns segmentos da sociedade, principalmente pelos governos nos três níveis da Administração Pública, é de fundamental importância para respaldar decisão de servidor de não cumprir ordem superior em desacordo com a lei ou com a moralidade administrativa. O servidor instável pode ser levado a praticar atos ilegais, embora em desacordo com a sua consciência, mas

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cumprindo ordem superior, por medo de perder o cargo. A instabilidade do servidor pode fragilizar a própria Administração e resultar em prejuízo para a sociedade. A estabilidade do servidor público é garantia do cidadão e não privilégio daquele.[4]

Percebe-se, pois, que há prejuízo expresso para os administrados, a existência da

flexibilização da estabilidade e, esta, é formalizada a partir da avaliação periódica de

desempenho. Havendo a previsão de ordem constitucional de um instituto que afasta

nitidamente a estabilidade, não é só o servidor que será instável, mas a própria Administração,

visto que os gestores poderão utilizar-se de interesses particulares para a prática de seus atos,

havendo forte receio de sofrerem represálias na própria avaliação de desempenho, cujo termo

é avaliado e analisado por aqueles.

5. EFEITOS DO RESULTADO NEGATIVO DA AVALIAÇÃO PERIÓDICA DE

DESEMPENHO DE SERVIDOR PÚBLICO ESTÁVEL

Continuando com a análise de prejuízos para a Administração Pública, nota-se

logicamente que, caso o servidor seja declarado insuficiente no desempenho de suas funções,

o mesmo passará por um processo administrativo, momento em que haverá a ampla defesa.

Note-se que o servidor passará por um processo administrativo, ou seja, não será

exonerado de logo, como na hipótese do § 4º do art. 169 da CF, outra forma de flexibilização

da estabilidade trazida pela EC 19/98. Sendo assim, ratifica-se o entendimento, ainda que sem

previsão legal, mas que leva a visualizar o caráter punitivo de tal desligamento do servidor da

Administração.

Apesar de que em tese, esta medida estaria em confluência com o princípio exigido

constitucionalmente, que é o princípio da eficiência, a medida em análise mostra-se de

maneira drástica e prejudicial ao Estado. Visualizando-se os desligamentos em massa de

servidores que foram declarados ineficientes, por avaliação periódica de desempenho, outro

princípio seria afetado, qual seja: o princípio da continuidade do serviço público.

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É evidente que com o desligamento de um servidor da Administração, a mesma sai

perdendo em quantidade. Às vezes, a execução de um ato administrativo não depende da sua

qualidade, mas da quantidade de envolvidos para a sua realização.

Ainda assim, a Administração terá que promover de maneira periódica concursos

públicos, fazendo com que a máquina estatal nunca se estabilize, atuando em plena

rotatividade, o que às vezes não é interessante pela própria estrutura estatal, que se caracteriza

pela estabilidade e pela continuidade dos seus serviços. Essa dinâmica encaixa-se

perfeitamente no setor privado, em que num determinado dia a empresa existe, mas no dia

seguinte, ela pode vir a entrar em processo de falência, podendo deixar de existir. Em

contraposição, a menos que haja fusão entre Estados ou uma guerra de grandes proporções, o

Estado deixa de existir.

Desta forma, entende-se que a avaliação periódica de desempenho, a ser desenvolvida

desta maneira, surgiu como um instituto que além de ter afastado a estabilidade do servidor

público, pode ocasionar a própria instabilidade do serviço público, sendo este um reflexo da

avaliação em caso negativo.

6. ESCOLAS DE GOVERNO E O APERFEIÇOAMENTO DO SERVIDOR COMO

REQUISITO DA AVALIAÇÃO PERIÓDICA DE DESEMPENHO

Além das alterações e inclusões de normas, supracitadas, a Reforma Administrativa

também alterou o § 2º do art. 39 da Constituição, que assim versa: “ A União, os Estados e o

Distrito Federal manterão escolas de governo para a formação e aperfeiçoamento dos

servidores públicos, constituindo-se a participação nos cursos um dos requisitos para a

promoção na carreira, facultada, para isso, a celebração de convênios ou contratos entre os

entes federados”.

Esta previsão também se coaduna com a inclusão do princípio da eficiência na texto

constitucional, haja vista prevê um direcionamento de grande valia para a Administração, que

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é o aperfeiçoamento, através de cursos específicos, dos servidores públicos. Isso pode ser

entendido como uma preocupação significativa com a manutenção de um serviço público de

qualidade, célere e atualizado, visto que sem os recursos humanos, a maquina estatal não pode

funcionar.

Essas escolas podem ser entendidas como institutos responsáveis por reaparelhar e

modernizar o serviço público. É uma relação totalmente contrária à flexibilização da

estabilidade: se por um lado o legislador derivado, determinou através da reforma, que o

servidor poderia perder o cargo por insuficiência de desempenho, por outro instituiu a

manutenção pelos entes supracitados de escola de governo, visando o pleno reaparelhamento

e aperfeiçoamento dos recursos humanos da administração pública.

Pecou o legislador em não vincular a avaliação periódica de desempenho a tal

aperfeiçoamento. É dizer: a frequência em cursos de capacitação específica, em escolas de

governo, deveria ser requisito para que houvesse a avaliação periódica de desempenho. Esta

não poderia ocorrer, caso o servidor não tivesse feito um curso ministrado por essas

instituições.

Verificando este requisito como indispensável à realização da avaliação periódica de

desempenho, tornar-se-ia mais justa a análise quanto a hipótese de insuficiência, que

certamente diminuiria em grandes proporções, visto que a própria Administração teria dado

subsídios para que houvesse uma melhora substancial do servidor, na realização de suas

atividades no serviço público.

Há nesta norma, um evidente sinal de que o legislador pretendia dar maiores bases para

a profissionalização funcionalismo público. Deu o legislador a possibilidade de ser

implantada uma tecnoburocracia, em que o servidor qualificado, estaria preparado para a

realização da atividade que lhe foi determinada, prestando um melhor serviço para os

administrados.

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Leciona sobre o tema, Régis Fernande de Oliveira:

A máquina administrativa é jurássica.O problema não é o servidor. Este, simplesmente, em função do descaso dos administradores, deixa, de bem exercer sua função, exatamente por falta de qualquer incentivo. As empresas privadas mantêm, de forma permanente, cursos de aperfeiçoamento, melhoria dos aparelhos necessários para o desempenho das atividades, reciclagem, modernização, leitura etc., tudo com o objetivo de melhorar o empregado e seu desempenho. No serviço público nada ou quase nada se faz. A determinação constitucional está prenhe de boas razões. Resta realizar, na prática, o contido na norma. É imprescindível que o servidor se sinta seguro no desempenho de suas atividades.[5]

Assim, o servidor deve ser modernizado e suas potencialidades desenvolvidas, não

sendo passível de direcionamentos equivocados pelos gestores, provocando prejuízos para a

execução dos serviços públicos.

A partir daí, verificaria-se a avaliação periódica de desempenho, se caso o servidor

passasse por este processo de aperfeiçoamento, como se fosse um estágio essencial para ser

avaliado, haja vista, a análise de aperfeiçoamento insere-se apenas em caso de promoções dos

servidores no serviço público.

CONCLUSÃO

O princípio da eficiência ficou implícito na Constituição Federal de 1988 por quase 10

anos. Apenas em 1998, com a EC nº 19, o legislador derivado incluiu tal princípio no rol dos

princípios constitucionais da Administração Pública. Desde então, doutrina e jurisprudência

não têm delimitado em definitivo qual o seu grau de interferência no âmbito da máquina

administrativa e de quais as suas interferências práticas na prestação do serviço público de

qualidade.

Muitos são os direcionamentos acerca da definição de tal princípio, mas que na verdade

não chegam a uma conclusão lógica e acabada, sendo que muito doutrinadores confundem tal

princípio com o dever de produtividade do servidor público. O equívoco já começa desta

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formulação. Não basta apenas o servidor ser eficiente. Os atos administrativos também devem

ser. Se assim não fossem, a aplicabilidade dos mesmos não incidiria de maneira significativa

na vida dos administrados. Por isso, entende-se que tal princípio sempre existiu no nosso

ordenamento, sendo que já estava implícito no texto constitucional.

Ademais, verifica-se que o servidor público passa por uma prova, por um concurso. Daí

pode-se depreender, caso a avaliação de ingresso tenha sido feita com critérios de análise

intelectual, que a máquina pública é “oxigenada” de pessoas capacitadas para exercer as

atribuições escolhidas, antes da submissão no certame.

Além disso, passam por um período de análise funcional, ou seja, são avaliadas as suas

características e seu desempenho diante das atribuições que lhe foram delegadas.

Por isso, a defesa de que a avaliação periódica de desempenho caracteriza-se como um

contra-senso criado pelo legislador, na medida em que flexibiliza a estabilidade, ou seja, torna

o serviço público por conseqüência instável, além de potencializar a violação da continuidade

do serviço público, com a retirada do servidor ineficiente.

Ademais, determinou o legislador derivado que a regulamentação de tal avaliação

ocorreria por lei complementar, adotando-se critérios para a sua realização. Já há uma

imprecisão interpretativa, visto que pode-se entender que todos os entes da Administração

podem realizar a avaliação de desempenho, de acordo com a leis específicas.

Desta forma, na edição de tais leis, os critérios adotados poderão ser objetivos, mas a

aplicação dos mesmos pode ganhar um viés subjetivo, em que a parcialidade da comissão de

avaliação será prejudicial para o servidor, que certamente, mesmo com a previsão

constitucional da existência da ampla defesa, ainda em âmbito administrativo, poderá sofrer

prejuízos, com a saída injusta do serviço público, necessitando para isso, ingressar no Poder

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Judiciário, buscando a reintegração na administração, com o ônus de provar a nulidade do ato

que gerou a sua exclusão.

A estabilidade dos servidores públicos representa uma forma de preservação do

funcionamento da máquina administrativa contra a descontinuidade do serviço público, ao

dispor da mudanças de grupos políticos, além de representar a independência dos mesmos, em

respeito ao dever servir bem aos administrados.

Não se deve equipar os servidores ocupantes de cargo efetivo, que dedicaram momentos

de suas vidas ao estudo, afastando-se muitas vezes das relações sociais, para ingressarem no

serviço público, aos ocupantes de cargo comissionado, que sejam estranhos à administração, e

como tais, possuem vínculo precário e momentâneo, vivendo das trocas de favores, muitas

vezes político-partidários, caracterizando-se na maioria das vezes como uma verdadeira

“doença institucional”. Cabe ressaltar também, como efeito da flexibilização da estabilidade,

a equiparação dos servidores a um outro regime existente no país, que é o Regime Especial de

Direito Administrativo, de caráter também precário e temporário, pois excepcional, sendo

utilizado em muitas ocasiões como mais uma brecha de ingresso na máquina pública, sem a

dificuldade de se fazer e passar em um concurso público.

A eficiência do servidor público passa pelo seu aperfeiçoamento em escolas de governo,

realizando-se cursos para a melhoria da sua intelectualidade e capacidade de executar as suas

atribuições. Além disso, antes de serem formuladas as leis específicas que tratam da avaliação

periódica de desempenho, lei que obrigasse os entes citados no § 2º do art. 39 da CF, deveria

ser formulada, tentando-se a partir daí, resolver a problemática em questão com uma solução

e não com mais um problema, conduta quase que corriqueira do nosso sistema legislativo.

Desta forma, o Estado brasileiro poderia ser caracterizado como Estado eficiente e faria

valer a inclusão expressa do princípio da eficiência no rol dos princípios constitucionais do

direito administrativo, de maneira que estaria-se fortalecendo os verdadeiros pilares da

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máquina estatal, que são em verdade, os servidores públicos.

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Notas:

[1] FARIA, Edimur Ferreira de. Curso de Direito Administrativo Positivo. 6ª Ed., Belo Horizonte: Del Rey, 2007, p.50.

[2] ARAÚJO, Edmir Netto de. Curso de Direito Administrativo, São Paulo, Saraiva, 2005, p. 295

[3] JUSTEN FILHO, Marçal. op. cit., p. 622.

[4] Ibid . Ibidem

[5] OLIVEIRA, Régis Fernandes de. Servidores Públicos, 2ª ed. São Paulo. Malheiros, 2008, p. 37.

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