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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL E PEDAGÓGICA A AUTOESTIMA E SUA INFLUÊNCIA NO ESPAÇO ESCOLAR, COM A ATUAÇÃO DOS ORIENTADORES EDUCACIONAL E PEDAGÓGICO Por: Plácido Ferreira Lopes Junior Orientador: Prof. Vilson Sérgio Fevereiro/2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL E PEDAGÓGICA

A AUTOESTIMA E SUA INFLUÊNCIA NO ESPAÇO

ESCOLAR, COM A ATUAÇÃO DOS ORIENTADORES

EDUCACIONAL E PEDAGÓGICO

Por:

Plácido Ferreira Lopes Junior

Orientador:

Prof. Vilson Sérgio

Fevereiro/2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL E PEDAGÓGICA

A AUTOESTIMA E SUA INFLUÊNCIA NO ESPAÇO

ESCOLAR, COM A ATUAÇÃO DOS ORIENTADORES

EDUCACIONAL E PEDAGÓGICO

Monografia apresentada à Universidade

Candido Mendes – Instituto a Vez do

Mestre – como requisito à conclusão da

Pós-Graduação “Lato sensu” – Curso de

Orientação Educacional e Pedagógica.

Por:

Plácido Ferreira Lopes Junior

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RESUMO

Observa-se cada vez mais, a importância da autoestima e de outros

fatores psicológicos na relação estabelecida entre alunos e professores e a sua

influência no processo ensino-aprendizagem. A Atuação dos orientadores

educacional e pedagógico neste processo; assim como, a importância da

família para o fortalecimento e a elevação da autoestima deste jovem são

fundamentais para a construção dele como ser - humano, capaz de pensar e

agir no mundo de forma responsável e significativa. Sendo assim, o presente

estudo monográfico busca apresentar a importância da escola na formação do

estudante como cidadão, dos professores e demais funcionários da escola,

como exemplos na construção desta cidadania. Por acreditar que a formação

do jovem, não se dá somente no espaço escolar, a participação familiar e da

sociedade como um todo, também foram contempladas neste estudo.

Palavras-chave: Autoestima no espaço escolar. Processo ensino-

aprendizagem. Relação escola, família e Sociedade. Alunos e Professores.

Orientadores educacional e pedagógico.

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METODOLOGIA

A metodologia empregada para preparação deste trabalho foi a pesquisa

bibliográfica, através de leituras de autores que apresentem estudos a respeito

do tema autoestima no espaço escolar, com a contribuição dos Orientadores

Educacional e Pedagógico neste processo. Foram analisados alguns projetos,

desenvolvidos em salas de aula, com a participação destes profissionais e da

comunidade, que obtiveram êxitos, resgatando a autoestima dos alunos e

auxiliaram no processo ensino-aprendizagem.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO........................................................................................................................01

CAPÍTULO 1 – Conceituando a autoestima e sua importância no cotidiano escolar..............04

CAPÍTULO 2 – Autoestima dos professores: atuação e importância do orientador pedagógico

neste processo...........................................................................................................................12

CAPÍTULO 3 – A autoestima dos alunos, as relações sociais no ambiente escolar e a atuação

do orientador educacional neste processo................................................................................21

CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................... ............29

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.....................................................................................32

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como referencial o estudo da influência da

autoestima no desenvolvimento da aprendizagem do aluno e as participações

dos professores, os orientadores educacional e pedagógico como sujeito

essencial neste processo.

O objetivo deste trabalho monográfico é estabelecer relações entre a

autoestima e o processo ensino-aprendizagem, com a atuação do O.E. e do

O.P.

A escolha do tema autoestima na escola e as possíveis atuações dos

orientadores educacional e pedagógico, foi baseada um pouco na minha

vivência como estudante, tanto nos níveis fundamental e médio quanto na

faculdade de Pedagogia e atualmente na minha atuação como pedagogo.

Estudei durante quinze anos (do Maternal ao 3º ano do Ensino Médio)

na mesma escola. Uma escola particular, de excelente nível e bem

reconhecida no campo da educação, no bairro da Tijuca. Uma situação que

chamava muito a minha atenção era o fato de que embora a estrutura do

colégio e a condição econômica dos alunos fossem exuberantes, observava

uma grande apatia e desinteresse de alguns alunos. Comecei a reparar

também que o desgaste dos anos de trabalho na mesma escola afetava muito

o desempenho dos professores e a relação destes com os alunos e os outros

funcionários da escola.

Em contrapartida, ao entrar na faculdade, percebi que mesmo a maioria

dos alunos não tendo condições econômicas favoráveis, trabalhando em um

turno e estudando no outro; o comprometimento, a satisfação, o empenho e os

resultados dos trabalhos eram satisfatórios, além de ações e atitudes de

cordialidade, benevolência e cooperação com os colegas de turma, que por

muitas vezes pude presenciar.

Essas contradições relatadas acima; assim como, mais recentemente a

minha atuação como profissional da educação em escolas no Rio de Janeiro,

fizeram com que eu constatasse que a autoestima no ambiente escolar deve

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ser um fator muito valorizado pelas escolas e também pela sociedade. Estas

situações foram significativas para que este trabalho fosse elaborado,

Além da minha vivência como aluno que relatei anteriormente, ainda tive

um suporte fundamental de algumas disciplinas que cursei na Pedagogia para

a escolha do tema da monografia, mas que na época que as cursei, entre os

anos 2001 e 2006, não imaginava o quanto seriam importantes para

elaboração do presente trabalho monográfico. As disciplinas Questões Atuais

em Educação Especial, Educação Inclusiva e Cotidiano Escolar, além de uma

eletiva chamada História da Profissão Docente; me encantavam quando

discutiam, muitas vezes com exemplos concretos, a autosatisfação de alunos

portadores de necessidades especiais (no caso as disciplinas Questões Atuais

em Educação Especial e Educação Inclusiva e Cotidiano Escolar) mesmo com

uma série de dificuldades para enfrentarem, mas sempre com disposição e

felizes na busca do aprender.

Eu gostava também quando na disciplina História da Profissão Docente

era trabalhada a disposição dos professores, as maneiras que eles interagiam

com os seus alunos, o senso de responsabilidade no cumprimento das tarefas,

o comprometimento com o educar, mesmo que por muitas vezes as condições

de trabalho não fossem as mais favoráveis.

Enfim, um pouco de vivência, as leituras sugeridas por algumas

disciplinas estudadas na faculdade e atualmente a maior observação que faço

da importância da autoestima e de alguns outros fatores emocionais no

processo ensino-aprendizagem direcionaram meu interesse para o estudo da

autoestima na escola, com a efetiva participação de outros profissionais da

área da educação.

Com a intenção de traçar um paralelo entre o presente curso de

orientação educacional e pedagógica, no Instituto A Vez do Mestre, as minhas

vivências como estudante e atualmente como pedagogo, foi importante trazer

uma abordagem sobre a atuação dos orientadores educacional e pedagógico

neste processo.

Aragon e Diez (2004) conceituaram a autoestima como:

... é o que pensamos de nós, a forma pela qual nos

avaliamos e aceitamos e os sentimentos que

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experimentamos a esse respeito, bem como o modo com

o qual nos comportamos em relação a nós mesmos como

resultado de tudo isso. (p.20)

Esse conceito provocou a seguinte reflexão: como o Orientador

Educacional (O.E.) e o Orientador Pedagógico (O.P.) podem contribuir para a

elevação da autoestima dos alunos e professores?

Diante dessa problematização, o presente estudo pretende alcançar os

seguintes objetivos:

• Pesquisar o que é autoestima e suas possíveis interferências. • Discutir a importância de se trabalhar a autoestima do professor

através da atuação do O.P. • Traçar um paralelo entre a autoestima dos alunos e o processo

ensino-aprendizagem, com a contribuição do O.E. nas relações interpessoais.

Para alcançar os objetivos propostos, foram delineadas as seguintes

questões:

§ Como os Orientadores Pedagógicos podem contribuir para autoestima dos professores e sua influência na relação com os alunos?

§ Como os Orientadores Educacionais podem contribuir para autoestima dos alunos e a sua relação com o desempenho escolar deles?

§ Como a autoestima dos alunos e professores influencia nas relações sociais estabelecidas entre eles e demais membros da instituição, no ambiente escolar?

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CAPÍTULO I

CONCEITUANDO A AUTOESTIMA E SUA IMPORTÂNCIA NO

COTIDIANO ECOLAR

O conceito que se tem de si mesmo é primordial para se viver bem e ser

feliz. A imagem que todos nós formamos de nós mesmos, através de nosso

desenvolvimento e de nossa história de vida, nos diz quem nós somos, o que

podemos esperar dos outros e de nós, até mesmo o que achamos que

merecemos ter e ser.

Pensando a respeito da questão merecimento, Branden (2000) ao

conceituar autoestima afirma: “Vou resumir numa definição formal: autoestima

é a disposição para experimentar a si mesmo como alguém competente para

lidar com os desafios básicos da vida e ser merecedor da felicidade”. (p.50)

Lucia Moysés (2004) ao conceituar autoestima também ressalta a

importância do merecimento quando afirma:

... autoestima é a percepção que a pessoa tem do seu

próprio valor [...] O sentimento de valor que acompanha

essa percepção que temos de nós próprios se constitui na

nossa autoestima [...] Em termos práticos, a autoestima

se revela como a disposição que temos para nos ver

como pessoas merecedoras de respeito e capazes de

enfrentar os desafios básicos da vida. (p.18-19)

A definição de autoestima de Lucia Moysés apresentada anteriormente,

foi baseada nas pesquisas e nos estudos de W. Brookover, Stanley

Coopersmith e Willian Purkey, entre outros, que ofereceram subsídios que

balizaram, por muito tempo, as investigações nessa área; formando-se, assim,

um certo consenso nas décadas de 1970 e 1980. Esta definição que parece ter

sido adotada como consenso desde então, é compartilhada e adotada por

outro estudioso do assunto, o espanhol Franco Voli (2002) que a define da

seguinte maneira: “autoestima é a apreciação do próprio valor e importância e

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compromisso do indivíduo em assumir a responsabilidade por si mesmo e por

suas relações intra e interpessoais”. (p.52-53)

Segundo Moysés (2004), após o ano de 1980 começou-se a tratar a

autoestima como um aspecto muito importante na vida de todo ser humano

aumentando o número de estudos e pesquisa em torno do assunto. Em 1984 o

estado da Califórnia, nos Estados Unidos, nomeou uma comissão de

especialistas (psicólogos, sociólogos e pedagogos) para o estudo da

autoestima. A comissão dispôs de grande quantidade de fundos e recursos, o

que garantiu a colaboração, na pesquisa, de profissionais de primeira categoria

e grande experiência.

A comissão destacou que a autoestima depende de como o indivíduo

sente que percebem, aceitam e querem as pessoas importantes da sua vida e

a maneira pela qual se desenvolveu, desde a infância, sua segurança, senso

de pertença, motivação e competência, e os integram em sua personalidade.

Os autores Lourdes Cortés de Aragon e Jesús Aragón Diez (2004)

apresentam uma característica importante da autoestima ao afirmarem:

A autoestima faz parte de nossas atitudes [...] Nossa

atitude com relação a alguma coisa ou pessoa é o que

pensamos e sentimos sobre ela, a forma pela qual a

avaliamos e aceitamos e a maneira como

conseqüentemente agimos como referência a ela. (p.17-

18)

O interessante é que os autores trabalham o conceito de atitude que

pode ser relacionado com a posição de Lucia Moysés (2004) quando afirma: “...

a autoestima se revela como a disposição que temos para nos ver como

pessoas merecedoras de respeito” (p.19) e com a afirmação de Branden

(2000): “... disposição para experimentar a si mesmo como alguém competente

para lidar com os desafios básicos da vida e ser merecedor da felicidade”

(p.50)

Relacionando atitudes com disposição podemos pensar e nos indagar

com que disposição tomamos certas atitudes a nosso respeito? Será que

nossas atitudes formam nossa autoestima ou nossa autoestima direciona

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nossas atitudes? Portanto, para Aragón e Diez (2004) a autoestima faz parte

de nossas atitudes. Para eles as atitudes formam nossa autoestima. Já para

Oliveira (1994) que trabalha com a proximidade dos conceitos de autoestima,

autoimagem e autoconceito, prefere utilizar em seus estudos o conceito de

autoconceito: “a autoestima é abordada em termos de uma atitude valorativa

do indivíduo com relação a si mesmo”. (p.16)

Aragón e Diez (2004) após apontarem para a ligação entre atitudes e

autoestima conceituam autoestima como:

... o que pensamos de nós, a forma pela qual nos

avaliamos e aceitamos e os sentimentos que

experimentamos a esse respeito, bem como o modo com

o qual nos comportamos em relação a nós mesmos como

resultado de tudo isso. (p.20)

Christophe e Lelord, citados por Pereira (2004, p.3), afirmam: a

autoestima não é um dado definitivo. Ela é uma dimensão de nossa

personalidade eminentemente móvel: mais ou menos alta, mais ou menos

estável, ela precisa ser alimentada com regularidade

O conceito trazido por eles é importante quanto a questão da dinâmica

da autoestima e da necessidade de construção e alimentação contínua, para

manutenção dos que apresentam um bom nível de autoestima e para um

aumento daqueles que o nível não é satisfatório. Confirmando essa dinâmica

da autoestima, Pereira (2004) afirma: “Sem dúvida, a estima que a pessoa tem

por si mesma, é dinâmica como a vida e precisa ser protegida e nutrida”. (p.3)

As pessoas que apresentam uma boa autoestima olham a vida de

frente, confiam em si mesmas para conseguirem as coisas que almejam e para

superarem as dificuldades que possam surgir. Quem tem boa autoestima sabe

que mesmo se tudo der errado, mesmo que os problemas apareçam, ela tem

valor e pode investir em si mesma para que tudo melhore. Essa superação do

homem nos momentos de adversidades da vida é classificada por Branden

(2000) como competência ou autoeficiência:

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Ser eficiente (no sentido básico do dicionário) é ser capaz

de produzir um resultado desejado. Confiar em nossa

eficiência básica é confiar na nossa capacidade de

aprender o que precisamos e de fazer o que é preciso

para atingir nossos objetivos, desde que o sucesso

dependa de nossos próprios esforços. (p.58)

Pereira (2004) no seu estudo aponta que a autoestima pode ser

ameaçada por uma série de fatores e destaca a importância do professor se

tornando eficiente no sentido de fazer com que seus alunos descubram seus

encantos e valores, fortalecendo sua autoestima. Segundo Pereira (2004): “A

autoestima pode ser ameaçada por muitas coisas. As causas podem ser

internas, isto é, próprias da pessoa, ou externas, ou seja, sociais, familiares,

etc.; reais ou imaginárias; passageiras ou duradouras”. (p.6)

Um pouco mais adiante; ainda explicando as possíveis causas de

alteração da autoestima, ela afirma:

O modo com a pessoa se vê, abrange todos os aspectos

do seu ser: físico, mental, espiritual, familiar, social e

outros. E em cada um desses aspectos, pode alojar-se

uma causa de baixa estima. Desse modo, as possíveis

causas de baixa estima são tantas quantas são as

dimensões ou áreas da vida. (p.9)

Pensando na questão da aprendizagem, Pereira (2004) trata os

professores como capazes e eficientes quando afirma:

... é necessário levar não só o aluno com baixa admiração

por si mesmo a descobrir seus talentos e valores, bem

como seus pares. É preciso aprender que o valor está

dentro e que cada um tem uma contribuição única a dar,

de modo que todos têm valor como são. (p.7)

Como visto na conceituação de autoestima feita por autores como

Aragón e Diez (2004), Branden (2000), Christophe e Lelord (2003), Moysés

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(2004), Oliveira (1994), Pereira (2004), Voli (2002); a percepção, aceitação,

avaliação e as atitudes sobre si mesmo são de fundamental importância na

construção da autoestima. Desta forma é válido afirmar que a valorização de si

mesmo é um processo contínuo que se constrói no dia-a-dia e que pode ser

ajudado através do autoconhecimento. Quem se conhece, sabe da riqueza que

existe em seu mundo interior, sabe das suas limitações e virtudes, confia mais

em si mesmo tendendo ser mais determinado e seguro em suas atitudes

ajudando desta maneira na formação de sua autoestima.

Vale ressaltar a afirmação de Voli (2002): “Reconhecer e avaliar o

próprio valor e importância significa ser consciente, não apenas da própria

forma de agir em, determinado momento, mas também dos próprios potenciais

e possibilidades”. (p.54)

Esta consciência, o conhecimento de seus potenciais, possibilidades e

até mesmo de suas limitações contribuem no crescimento pessoal, nos

relacionamentos, nas atitudes valorativas que temos com nós mesmos e com

os outros, construindo assim uma autoestima positiva.

Ressaltando a importância que essa autoestima positiva traz para as

pessoas, não só no ambiente escolar, como também em outros setores da vida

humana, Pereira (2004) afirma: “A autoestima é o fundamento da motivação,

pela qual a pessoa se torna produtiva na aprendizagem, no trabalho, nos

relacionamentos”. (p.4)

Torna-se cada vez mais perceptível o quanto é importante em termos de

produtividade uma autoestima elevada que contribuirá na relação do ser com o

ambiente, com o tempo, com os fatos, com os estudos, com o trabalho e com

as pessoas. Pereira (2004) abordando essa integração dos seres com os seus

diversos aspectos resume: “... a autoestima depende de uma combinação da

boa visão que temos de nós mesmos, da boa visão que os outros têm de nós e

da perspectiva que isso abre diante de nós”. (p.23)

Essa produtividade também pode ser observada no ambiente escolar. A

prática tem mostrado que a autoestima difere consideravelmente de aluno para

aluno. Pode-se inferir que vários fatores contribuem para essas diferenças,

como por exemplo, o desempenho escolar, o número de horas de permanência

na escola em contato com professores e colegas, o tipo de experiências que

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vivenciam com eles, a estrutura e a qualidade da escola, o ambiente em sala

de aula.

Diante de vários fatores a serem observados que interferem na

autoestima dos alunos, Moysés (2004) sugere alguns destes a princípio, como

meios para se medir o nível de autoestima dos alunos.

Hoje, se me perguntam sobre os meios de saber sobre o

nível de autoestima dos alunos, sugiro que se observem

seus comportamentos, suas atitudes, suas reações e

tentem associá-los a informações já existentes a esse

respeito. Com bom senso, uma boa dose de experiência e

um certo feeling é possível chegar a aproximações muito

boas. (p.36-37)

O trecho transcrito, sinaliza para a dificuldade de se medir a autoestima

dos alunos. A autora também ressalta que as pesquisas realizadas sobre

autoconceito e autoestima, na sua grande maioria utilizam “enfoques

quantitativos baseados em escalas, questionários e outros instrumentos de

medida” (p.36), havendo pouca ou quase nenhuma abordagem com enfoque

qualitativo.

O desempenho escolar, um dos fatores citados, serve para medir o nível

de autoestima dos alunos; não sendo o único, nem tampouco o mais

importante. Um mau aluno pode mesmo assim ter boa autoestima? Branden

(2000) assim responde: “É claro que sim. Há um número incontável de razões

pelas quais um aluno em particular pode não ir bem na escola, que vão desde

uma condição disléxica até a falta de estímulos e desafios adequados” (p.251-

252).

Com essa resposta o autor defende que o fracasso escolar não é

determinante na formação de uma baixa autoestima. Isso significa que, para

alguns alunos, este fracasso não afeta a sua autoaceitação, não causando

neles um esgotamento emocional.

Quando o autor alerta para a falta de estímulos e situações educativas

instigantes, ele faz uma crítica ao sistema educacional. Muitos professores

estão desmotivados, completamente centrados em regras que mais se

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assemelham à uma prisão, e os alunos praticamente não têm voz para

tomarem decisões importantes. Neste sistema, como então formar bons

cidadãos? Esses problemas criticados por Branden (2000) contribuem para,

além do fracasso dos alunos, a queda de sua autoestima.

Um outro fator muito importante para a medição da autoestima dos

alunos no cotidiano escolar que é muito valorizado por Moysés (2004) em sua

pesquisa e que já foi citado anteriormente é o tipo de experiências vivenciadas

por eles com os professores e os colegas de turma.

Essas experiências, se não forem estabelecidas como relações de

poder, mas valorizando a formação de vínculos entre aluno-professor e aluno-

aluno, criará neles uma situação prazerosa, um sentimento de respeito e

cumplicidade que estimulará uma admiração pelo ambiente escolar.

No cotidiano escolar, percebe-se que alguns alunos, com rendimento

brilhante, têm extrema dificuldade de se expressar em grupo e formar vínculos

de amizade que reforçariam a autoestima deles. Enquanto isso, alguns outros

cujo rendimento é regular, até mesmo insuficiente; apresentam facilidade de

expressão, comunicação, interação com os outros colegas, elevando a

autoestima e fazendo deles líderes dentro de uma sala de aula.

A autoestima no ambiente escolar deve ser um fator muito valorizado

pelas escolas. Moysés (2004) aponta para os problemas ocasionados pelas

relações nocivas que a autoestima baixa na escola mantém com os outros

aspectos da personalidade, que podem muitas vezes acarretar a evasão

escolar, ou mais grave ainda, na prática de violências. Vale ressaltar que os

aspectos evasão escolar e uma conseqüente prática de violência, serão

aprofundados no 3º capítulo desta monografia.

Moysés (2004) afirma a respeito desse assunto:

Se é preocupante a relação entre evasão escolar e a

autoestima, mais grave ainda é a relação que ela mantém

com o crime e a violência no meio juvenil. Embora tenham

sido feitas em contextos socioculturais muito diferentes do

nosso, há uma série de pesquisas, que ao longo dos

tempos vêm atestando esse fato. (p.46)

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Acontece, e não é novidade recente, de alunos, que foram reprimidos no

ambiente escolar e sofreram abuso no interior destas instituições, ou

mantiveram durante anos relações estabelecidas com professores e colegas de

turma que o depreciavam, abandonarem os estudos, crescerem e se tornarem

adultos problemáticos, apresentando dificuldades para trabalharem em grupo,

respeitarem seus cônjuges e filhos, assim como desviarem suas vidas para a

utilização de drogas e práticas de crimes.

A importância e atuação dos profissionais da escola, principalmente,

orientadores educacionais e pedagógicos, da família e o investimento que o

professor aplica na sua formação para o fortalecimento da sua autoestima,

assim como a importância de se manter uma boa autoestima no ambiente

escolar, servindo de modelo positivo para os alunos serão os assuntos

abordados no próximo capítulo.

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CAPÍTULO II

AUTOESTIMA DOS PROFESSORES: ATUAÇÃO E

IMPORTÂNCIA DO ORIENTADOR PEDAGÓGICO NESTE

PROCESSO

A importância do professor na formação do aluno como pessoa é um

aspecto significativo que merece atenção especial no campo da Educação.

Torna-se relevante na relação escolar estabelecida entre professores e alunos,

que os educadores conheçam o processo de aprendizagem e estejam

interessados nas crianças como seres humanos em constante processo de

desenvolvimento. Eles precisam saber o que seus alunos são fora da escola e

como são suas famílias, pois assim como os pais, os professores, por

passarem muitas horas com seus alunos e serem vistos como sinônimos de

vitória, desenvolvimento, maturidade e crescimento, tornam-se modelos e

fontes de inspiração para estes alunos. Aragón e Diez (2004) destacam esta

importância dos professores na formação de seus alunos ao afirmarem:

“Como sabemos, os pais, os educadores e, em geral, as

pessoas com alguma significação para os estudantes, são

modelos nos quais eles se fixam para construir seu

próprio EU, sua própria ESTIMA, sua própria

REALIZAÇÃO PESSOAL. Se o educador está “na mira”

ou direção do CRESCIMENTO PESSOAL, o estudante

sentirá com toda segurança “empatia” e aquele só terá de

oferecer a este as condições que lhe permitam seguir seu

próprio caminho na busca de si mesmo”. (p.182)

A responsabilidade de servir de modelo para os alunos é que torna a

carreira do professor uma das mais importantes e gratificantes, porém uma das

menos reconhecidas socialmente no Brasil. Sobre o reconhecimento social dos

professores e a importância como fator determinante da autoestima deles,

Moysés (2004) é enfática ao afirmar:

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“Tudo concorre para que a maioria dos professores

continue tendo de si, como categoria profissional,

representações sociais assinaladas pela desvalorização.

Mas não haveria uma íntima relação entre essa

representação social e a autoestima desse profissional? É

evidente que há professoras e professores que, a

despeito de qualquer representação social negativa da

classe, mantêm a seu respeito uma elevada autoestima.

As bases dessa autoestima encontram-se,

provavelmente, calcadas muito mais na autopercepção do

seu próprio valor do que na representação social dos seus

pares. Não se pode, no entanto, negar que o peso dessa

representação coletiva, que é reforçada no dia-a-dia por

inúmeros indícios externos, acabe por se impor à própria

autoestima”. (p.60)

Esta representação coletiva de desvalorização do professor citada por

Moysés (2004), reforçada dia a dia acaba impondo-se até mesmo sobre alguns

daqueles que têm uma boa estima, que acreditam no seu potencial, no seu

trabalho e no poder transformador da Educação.

Neste sentido, a Educação acaba tendo sua importância diminuída,

ocupando muitas vezes papéis secundários na sociedade brasileira, nem

sempre alcançando seus objetivos de formação e transformação, pelo contrário

passa a ser mais um dos diversos meios de reprodução de desigualdade e

injustiça no Brasil.

Observa-se então, mais uma vez, a importância da autoestima dos

professores e a atuação do orientador pedagógico neste processo. Fazendo o

papel inverso da situação apresentada acima de reprodução de injustiça e

desigualdade, acredita-se que alguns professores conseguem, com orientação

dos profissionais da escola, esforço e dedicação superar as adversidades do

dia-a-dia, como as péssimas condições de trabalho, alunos

descompromissados, rotinas desgastantes, até baixa remuneração. Quando

isso acontece esses professores reforçam sua autoestima, e

conseqüentemente influenciam na formação da autoestima do aluno.

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Mostra-se importante, portanto, que a escola e o professor, com

participação dos orientadores educacional e pedagógico, assim como a

direção, desenvolvam projetos nos quais trabalhem para a motivação do

aprender. A percepção do quanto é importante a valorização do aluno como ser

humano e pessoa, de um ser que pode criar, pensar, produzir é papel do

professor e do orientador pedagógico. O reconhecimento da produção destes

alunos, em seus pequenos detalhes, como agentes transformadores de uma

realidade social, por vezes, adversas, pode propiciar uma relevância na

satisfação pessoal e social do estudante com baixa estima e com pouca

expectativa de crescimento futuro.

Na contramão destes professores estão aqueles que com baixa

autoestima acabam sendo um modelo maléfico, que não reconhecem seus

alunos como seres pensantes e criativos. O reconhecimento desse fato tem de

estar no centro de toda filosofia educacional. Quando coloca-se essas funções

em primeiro plano nos currículos, nutre-se a autoestima. Quando um educador

respeita a criatividade, o senso crítico e, principalmente, a dignidade do aluno e

trata-o com compreensão e ajuda construtiva, ele desenvolve neste estudante

a capacidade de procurar dentro de si mesmo as repostas para seus

problemas, tornando-o responsável e, conseqüentemente, agente do seu

próprio processo de aprendizagem.

Devido à diversas razões pessoais como problemas familiares, desgaste

profissional, sentimento de culpa, sentimento de inferioridade, medo; alguns

educadores influenciam seus alunos gerando neles também, baixa autoestima.

Estes são os professores que mais precisam do apoio, colaboração e

estratégias de atuação, elaboradas pelos orientadores pedagógicos em

parceria com a direção e os orientadores educacionais da escola.

Alguns casos de alunos que são influenciados por estes professores

ainda sofrem um agravante que é o ambiente familiar onde novamente

experimentam situações desgastantes de violências, ameaças, acusações e

medo.

Voli (2002) no seu manual de reflexão e ação educativa aponta para o

fato de se estabelecer uma boa relação aluno/professor, com as participações

dos orientadores educacionais e pedagógicos:

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“A relação aluno/professor deve e pode ser uma relação

de fé, colaboração e apoio mútuo para o desenvolvimento

de cada um. Precisa basear-se no respeito, dignidade,

integridade, capacidade, abertura, amor e compaixão

mútua. Trata-se de uma relação colateral, ainda que em

contexto distinto, da relação ideal pais/filhos”. (p.145-146)

Voli (2002) em seguida faz críticas a alguns professores que consideram

o ensino uma atividade de caráter mecânico impedindo que as crianças

aprendam a automotivar-se, a autoavaliar-se e a descobrir seu efetivo interesse

na aprendizagem. O autor ressalta:

“Muitos professores, contudo, consideram o ensino uma

atividade de caráter mecânico. Dessa forma, aceitam e

praticam métodos e relações em que as crianças são

manipuladas para aprender. Não se leva em consideração

sua personalidade e seus potenciais como pessoas

únicas e diferentes. Não há preocupação com o que pode

motivá-las a aprender por seu próprio interesse, decisão e

motivação, no momento em que se encontram”. (p.146)

A respeito do interesse pela aprendizagem, em situações práticas de

resultados, como boas notas, boa assimilação de conteúdos, há uma forte

relação com professores com autoestima elevada. Neste momento, torna-se

fundamental a participação do orientador pedagógico, observando as

condições de trabalho dos professores, o seu envolvimento com o dia-a-dia da

escola, o seu interesse pelo desenvolvimento da comunidade escolar.

A elaboração de um trabalho permanente de qualificação profissional

dos professores, com fundamentos pedagógicos, através de oficinas,

dinâmicas, palestras e outras atividades; sugeridas pelos orientadores

pedagógicos, são importantes para o fortalecimento da autoestima destes

professores e a conseqüente transformação na forma que o aluno observa-se,

percebe-se e enfrenta os desafios da vida cotidiana.

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Os educadores que possuem e conseguem demonstrar no dia-a-dia

características típicas de indivíduos com elevada autoestima como: respeito,

honestidade, sinceridade, senso de humor, coragem, criatividade, flexibilidade,

tolerância, otimismo, confiança, entre outras, têm maior possibilidade de

“conquistarem a confiança” dos alunos, prendendo a atenção deles, facilitando

melhor assimilação dos conteúdos, o que geralmente eleva os resultados

práticos em sala de aula. Uma abordagem mais aprofundada sobre “conquistar

a confiança dos alunos” e a importância dos professores na transformação da

autoestima dos alunos, será feita no próximo capítulo.

Essas características também contribuem para um dos fatores que mais

preocupam os professores e demais profissionais do ambiente escolar: a

disciplina. Segundo Voli (2002): “Quando falta disciplina em classe, a vocação

e o desejo do professor de alcançar resultados perdem força e eficácia”.

(p.146-147)

Um professor com elevada autoestima, não tem, em geral, problemas de

disciplina. A projeção de si mesmo que envia à classe é recebida por seus

alunos, que por sua vez vão se sentindo seguros, reforçados em seu próprio

autoconceito, partes integrantes do grupo, motivados a aprender e conscientes

de sua capacidade de fazê-lo. Sua projeção motiva seus alunos a entrarem por

si mesmos em uma situação de autoestima e, portanto, de autodisciplina.

Branden (2000) sobre a disciplina em sala de aula apresenta um aspecto

interessante relacionando o professor com baixa autoestima, geralmente pouco

assessorado pelo orientador pedagógico e direção, com aquele de autoestima

elevada. “As regras podem ser impostas á força pelo professor, ou podem ser

exploradas de forma que cativem as crianças e sejam compreendidas pelos

alunos”. (p.264)

Conforme Branden (2000), o professor que necessita impor as regras à

força consegue, na melhor das hipóteses, obediência, mas encoraja a

dependência. Já o que explica as regras de forma cativante às crianças, é

benevolente, obtendo cooperação, encorajando a responsabilidade pessoal.

Essas ações, quando aplicadas desde cedo e rotineiramente, oferecem valores

e poder ao invés de ameaças com punição.

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A disciplina que preocupa educadores em todo o mundo, pode também,

como exemplificado anteriormente, ser solucionada com professores com

autoestima elevada. Segundo Branden (2000):

“Se a baixa autoestima pode impelir alguns professores a

um comportamento rígido, punitivo, ou mesmo sádico,

outros podem ser impelidos àquele tipo de

“permissividade” piegas que sinaliza total falta de

autoridade – e o resultado é a anarquia em classe.

Compaixão e respeito não implicam falta de firmeza”. (p.

267)

O orientador pedagógico auxilia o trabalho do professor evitando a

desvalorização dos sentimentos e das emoções. Segundo Voli (2002), muito

devido ao fato de viverem reprimindo e bloqueando os alunos como

mecanismo de defesa, alguns educadores com baixa autoestima motivam

hábitos repressivos nos alunos.

“As crianças, assim como os adultos, têm emoções e

sentimentos e o direito de expressá-los livremente. [...] O

professor, como educador, deve estar consciente da

importância da livre expressão de sentimentos e emoções

na formação da personalidade da criança”. (p.162)

Com autoestima elevada, o professor é capaz também de fazer o papel

inverso, dando liberdade e tendo compreensão para os alunos exteriorizarem

seus sentimentos e emoções.

Há necessidade de questionamentos quanto às atuações dos

orientadores pedagógico e educacional em relação ao esforço que fazem para

elevação da autoestima dos professores e alunos, nas escolas. O professor,

auxiliado e incentivado pelo orientador pedagógico, comprometesse-se com a

elevação da autoestima do aluno, e procura levá-lo ao reconhecimento e à

conquista do direito a uma educação de qualidade sem discriminação e

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preconceito, que permita-o reconhecer e pensar o mundo podendo, assim,

transformá-lo.

Autores como Moysés (2004), Voli (2002), Branden (2000), contribuem

para alguns questionamentos: como deve ser abordada a questão da

autoestima na formação do professor? Qual a relação qualidade de vida e

desempenho profissional?

Os investimentos que alguns professores fazem nas suas vidas para

melhoria da qualidade de vida, muitas vezes, auxiliam no desempenho destes

como profissionais. Os educadores que investem em cursos extracurriculares,

em técnicas de relaxamento do corpo, que valorizam a participação do

orientador pedagógico no desenvolvimento de um trabalho harmonioso de

equipe e que procuram preservar um ambiente tranqüilo em suas casas;

geralmente conseguem observar uma melhoria no seu desempenho na sala de

aula, tratando os alunos com mais respeito, tendo paciência na maioria das

situações e conseguindo manter os alunos atentos em sala de aula.

Na formação do professor, aliás, de um bom professor (a referência que

utilizo neste trabalho para bom professor, é aquele considerado pela maioria

dos alunos, como bom explicador, carismático, atencioso e respeitoso com os

alunos. Essas seriam as características de um bom professor) também é muito

importante a formação continuada: o compromisso que ele adota de sempre

estar se atualizando, fazendo novos cursos, lendo livros, revistas, jornais...

Estes educadores precisam se interessar nesta continuidade de seus estudos,

visando um aprimoramento de suas metodologias e seus conhecimentos.

Fazendo isso, eles deverão compartilhar com seus alunos estes investimentos

que ajudam numa melhor prática em sala de aula.

Além de a formação continuada ser importante para o dia a dia dos

professores com seus alunos, ela também reforça a autoestima a partir do

momento que contribui nos aspectos sociais, abrindo-lhes novos horizontes; já

que com esta atualização eles conseguem estar interados nos aspectos atuais

políticos, econômicos, tecnológicos...

Alcançando estes novos horizontes, os professores estarão reforçando

sua autoestima, pois através de algo que eles investiram com esforço e

dedicação, não se acomodando, conseguiram através da cultura preencher

algumas possíveis lacunas na sua formação.

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Desta forma, sentem-se mais seguros e confiantes nas suas práticas em

sala de aula, nas suas relações com seus alunos e mais acolhidos pelos outros

profissionais da escola; assim como, em outros ambientes que costumam

frequentar.

Assim, é fundamental que o professor seja bem remunerado para que

não precise trabalhar em várias escolas podendo se dedicar mais a uma

comunidade específica, ter tempo para estudar e se atualizar, ter melhores

condições para criar projetos pedagógicos, em parceria com a equipe de

profissionais da escola, os quais possam tornar suas aulas mais atraentes e

significativas; poder aprofundar nas situações de baixa estima de suas turmas,

indo em busca de soluções. Enfim, são necessárias boas condições para que

os professores estejam profissionalmente satisfeitos, o que contribuirá

significativamente para a elevação de sua autoestima, e, consequentemente,

uma melhora da qualidade da educação.

Os professores que conseguem superar as adversidades do dia-a-dia

em sala de aula e que acreditam na importância da educação continuada como

meio para se autoconhecer e aprimorar sua prática; exercem a sua profissão e

por muitas vezes, desenvolvem e aplicam projetos inovadores com os alunos,

em parceria com os educadores educacionais e pedagógicos; reforçando,

desta maneira, a importância de um bom trabalho em equipe.

A importância da interação social dos alunos, o desenvolvimento de

projetos inovadores que reforcem a autoestima deles e a importância do

orientador educacional no fortalecimento deste processo serão os assuntos

abordados no próximo capítulo.

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CAPÍTULO III

A AUTOESTIMA DOS ALUNOS, AS RELAÇÕES SOCIAIS NO

AMBIENTE ESCOLAR E A ATUAÇÃO DO ORIENTADOR

EDUCACIONAL NESTE PROCESSO

A escola pode ser, para muitos alunos, o único espaço onde eles

conseguem expor opiniões, tomar decisões, exercer a autonomia, ser

respeitado e ouvido. A realidade tem mostrado que muitos jovens passam por

situações desgastantes no ambiente familiar onde não são ouvidos, não

participam das decisões diárias, não são respeitados; procurando dessa forma,

na escola um local de “troca”, de participação e interação.

É comum, portanto, alguns jovens transferirem para professores e

colegas, as relações não estabelecidas no ambiente familiar, daí a importância

das figuras dos professores e orientadores educacionais, como orientadores e

conselheiros, servindo como referências na construção da personalidade do

indivíduo como sujeito atuante da sociedade.

Como afirma Moysés (2004): “É lenta e gradual a aprendizagem que a

criança faz sobre as referências a seu respeito. As mais fáceis de ter seu

sentido apreendido são as que nascem de comentários ao seu

comportamento”. (p.23)

A autora ressalta que o desenvolvimento da autoestima provém de

opiniões, elogios, aprovações e críticas que a criança recebe ao longo da sua

vida. Isto significa que o professor e orientador educacional devem estar

atentos e perceber os alunos que apresentam baixa autoestima, fruto muitas

vezes de relações familiares problemáticas. Se esses educadores acreditam no

papel transformador da educação, eles procuram apresentar para estes alunos

com baixa autoestima, uma nova visão da realidade; valorizando seus

sentimentos e emoções, cultivando respeito e valores.

As crianças que conseguem experimentar uma realidade escolar mais

estimulante, tendo a oportunidade de fazer novos amigos, aprender a respeitar

as opiniões dos outros e a valorizar seus esforços nos estudos, elevando seus

resultados, com certeza perceberá a escola como um ambiente prazeroso. O

professor e os demais profissionais de educação podem elaborar estratégias

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que estimulem este ambiente escolar mais confortável, sadio e com maior

aceitação dos alunos. Estas atitudes trarão como consequências, melhorias na

qualidade de ensino; assim como, elevação da autoestima não só dos alunos,

mas também dos próprios profissionais desta escola.

Segundo Aragon e Diez (2004) “Se há qualidades que os estudantes

admiram em seus educadores são sua equanimidade e seu senso de justiça”.

(p.198) A partir desta admiração dos estudantes, eles, interiorizam estes

aspectos tratando seus colegas e professores com igualdade e justiça. Estes

dois fatores também são bem trabalhados através do desenvolvimento de

projetos em sala de aula e extracurriculares, que valorizem o estudante não

somente de forma acadêmica, mas como um ser humano em processo de

formação.

Convivendo diariamente em um ambiente onde são valorizados como

seres humanos, trocando ideias com os novos amigos, sendo respeitados

pelos professores, estes estudantes podem fazer da escola uma parceira como

meio de obtenção de conhecimentos e como mais um local para novas

amizades.

O professor, muitas vezes sem perceber, consegue agir de forma

transformadora, na medida em que consegue fazer com que essas crianças

valorizem e acreditem na escola, mostrando novos horizontes e novas

perspectivas futuras. Na medida em que a confiança do aluno com o professor

é estabelecida, abre-se a oportunidade para o envolvimento do orientador

educacional nesta relação. Este profissional pode, junto com a família do

estudante, desenvolver projetos que estimulem e desenvolvam novas

competências, fortalecendo a autoestima do aluno, e por vezes também, a

própria estima dos outros componentes desta família.

O orientador educacional é um articulador e vai proporcionar à unidade

escolar uma nova dinamização, atuando de forma integrada com os gestores,

os coordenadores pedagógicos, professores e alunos. Elaborar projetos,

estratégias e ações que garantam ao estudante, uma maior preparação para o

futuro, e muitas vezes para o presente também, são algumas das contribuições

que o orientador educacional agrega ao campo da educação. A atuação dele,

além de contemplar ações positivas que interferem na autoestima da

comunidade escolar que atua, serve de exemplo para outras escolas,

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comunidades e instituições; mobilizando as pessoas destes outros espaços

para a investigação coletiva da realidade na qual todos estão inseridos.

Dessa forma, havendo a possibilidade de contar com o aluno como um

aliado disposto a aprender, a trocar, a se esforçar na busca do conhecimento, a

equipe pedagógica da escola, que também valoriza a educação continuada

coloca em prática novos projetos interdisciplinares que reforçam a autoestima

dos seus alunos e consegue até mesmo compensar a rigidez dos conteúdos

que muitas vezes são desgastantes e desapropriadas para a faixa etária dos

estudantes.

Para reforçar essa ideia, foram pesquisadas em diferentes exemplares

da Revista Nova Escola, experiências relatadas que demonstrassem que é

possível, na prática, o professor em parceria com os orientadores educacional

e pedagógico, trabalharem de forma criativa e inovadora, contribuindo, desse

modo, para o desenvolvimento da autoestima do aluno.

Foram selecionados seis projetos que valorizavam, principalmente, a

interação social dos alunos. As análises de cada projeto selecionado,

procuraram observar em que medida essas experiências estimulavam a

autoestima do aluno, contribuindo para que ele interagisse melhor com o

ambiente escolar, os colegas de classe e os professores. São apenas

exemplos do que pode e está sendo feito, não só em relação à autoestima,

como também, em muitos casos, em relação à própria consciência grupal e de

cidadania.

Esses projetos são frutos das mais diferentes iniciativas e servem,

sobretudo, como estímulo e exemplo para as pessoas que trabalham

diretamente com educação, e já não conseguem acreditar que uma nova

geração está sendo formada, muitas vezes sem valores, princípios e boas

atitudes. Destaca-se a atuação dos orientadores educacional e pedagógico na

elaboração dos projetos, em parceria com os professores; assim como, a

atuação destes profissionais desenvolvendo trabalhos de integração:

responsáveis - escola, professores – responsáveis, responsáveis – estudantes

e professores – estudantes.

Na seleção dos seis projetos que serão utilizados como exemplos, deu-

se prioridade para cinco que foram desenvolvidos em sala de aula com

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crianças e adolescentes; e um extracurricular, o da Fundação Gol de Letra; que

será o primeiro a ser apresentado.

A Fundação Gol de Letra (Raí Souza Vieira de Oliveira e Leonardo

Nascimento de Araújo, 1998), citada por Moysés, nasceu de um sonho

acalentado pelos ex-jogadores de futebol Raí e Leonardo, conhecidos por suas

atuações na seleção brasileira de futebol, principalmente na Copa do Mundo de

1994. Localizada na zona Sul de São Paulo e instituída em 1998 como uma

organização não governamental, atende a 150 jovens de ambos os sexos, com

idade entre 7 e 14 anos.

Essa Fundação trabalha com quatro eixos de atuação, buscando

integrar todos os grupos sociais envolvidos: 1)atendimento direto,

2)desenvolvimento cultural, 3)mobilização e 4)desenvolvimento institucional.

Apesar de muitas crianças desejarem participar desse projeto, só as que

se enquadram nos critérios de seleção são escolhidas. Para isso, é preciso ser

moradora da localidade, ter renda familiar de, no máximo, quatro salários

mínimos, e estar frequentando a escola.

O subprojeto “Virando o jogo” vem dando visíveis sinais de estar

melhorando a autoestima dos seus participantes. Realizando atividades

esportivas, de arte-educação (dança, música, teatro e artes plásticas), de

informática, de leitura e escrita, além de passeios, as crianças e os jovens

aprendem a se comportar e vestir adequadamente, manter o cuidado com a

higiene, cumprir horários e compromissos, respeitar regras e executar tarefas.

Segundo Moysés estes aprendizados cristalizam sentimentos de

autoconfiança, autoestima e de identidade grupal, reforçando a importância do

trabalho em equipe.

O segundo projeto selecionado ocorreu de forma pioneira em Novembro

de 2004 através da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo (Revista

Nova Escola, nº 177), que cumprindo a Lei nº 10.639, distribuiu 58 mil livros de

literatura e de formação para a maioria das escolas desta cidade, além de

lançar um kit com 40 títulos que valorizam a cultura e a identidade negra.

A lei nº 10.639, institui a valorização da África através da arte, literatura

e história. Desta forma, as escolas são obrigadas a trabalhar a cultura afro,

discutindo questões raciais, enfocando as contribuições dos africanos para o

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desenvolvimento da humanidade e reconhecendo a existência do racismo no

Brasil.

Muitas escolas de São Paulo na época, e em outros estados

posteriormente, desenvolveram e continuam desenvolvendo trabalhos

exemplares de reeducação através de leituras de livros, revistas, jornais,

confecção de cartazes, desenhos e histórias; seguidas de palestras, workshop

e dinâmicas, organizadas pelos orientadores educacional e pedagógico,

gestores escolares e professores; que valorizam a cultura africana e afro-

brasileira.

Além de despertar os jovens para um conhecimento pouco abordado

nas escolas, este projeto trouxe ótimos resultados ao promover a igualdade

racial e o combate ao racismo; fazendo a integração dos jovens e reforçando a

autoestima dos alunos e funcionários negros das escolas que identificaram-se

e sentiram-se orgulhosos pela riqueza da cultura africana.

O terceiro projeto (Revista Nova Escola, nº180) destacado aconteceu

em Março de 2005, na cidade de Concórdia (SC), no bairro Santa Rita,

elaborado pela professora Edione de Língua Portuguesa, do 7º ano de uma

escola do município citado.

Comovida com a não-identificação das crianças com o local em que

vivem, a professora sugeriu aos alunos o projeto “Conhecer para mudar”. Neste

projeto eles seriam responsáveis em pesquisar as causas da pobreza e a

poluição do rio malcheiroso que cortava o bairro.

A primeira ação da professora Edione em parceria com a orientadora

educacional da escola foi se aprofundar na realidade de vida de seus alunos,

através da leitura das pastas referentes a cada estudante, onde continham

dados referentes a estrutura familiar e o histórico de cada aluno. Após as

leituras e a visitação as casas de algumas crianças, a professora anotava em

um caderno frases e palavras significativas. Assim descobriu que, há 18 anos,

famílias pobres espalhadas pela cidade, foram levadas pela prefeitura para

viver distante do centro, num antigo lixão.

A professora selecionou e escreveu em um cartaz 40 palavras ouvidas

dos entrevistados. Conforme a proposta os alunos deveriam comentar o

significado de dez delas e fazer uma redação.

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Os textos foram exibidos com a ajuda de um retroprojetor e analisados

pela turma. Dessa forma, a professora pretendia levar os alunos a refletirem

para que compreendessem melhor a realidade, deixassem de lado os

preconceitos e descobrissem que cada um é capaz de mudar o presente para

colherem no futuro.

Os resultados foram surpreendentes, pois através deste projeto, a

professora Edione conseguiu incentivar os alunos para a leitura e a escrita,

trabalhou produção e interpretação de textos, além de outros conteúdos de

Língua Portuguesa como tempos verbais, gêneros textuais, pontuação,

pronomes; juntamente com a história do bairro e da cidade.

Conhecendo melhor o bairro e a cidade, os alunos passaram a respeitar

e preservar a localidade, procurando combater a poluição do rio. Segundo a

reportagem muitos dos alunos que antes tinham vergonha de morar neste

antigo lixão, depois do projeto passaram a se sentirem mais confiantes para a

melhoria da qualidade de vida naquele local; reconhecendo que não era

somente a pobreza, o lixo, o desemprego, o roubo, as drogas (exemplos de

palavras ouvidas dos entrevistados), que existiam neste bairro, mas também

uma história e uma população de gente honesta e trabalhadora que tinha

condições de mudar aquele “triste” panorama.

Com certeza, essas crianças melhoraram sua autoestima e o da

professora também. Através de uma iniciativa bem elaborada, conseguiu

transformar a pouca perspectiva daqueles jovens daquela turma e de seus

familiares, em esperança de um futuro mais justo e com menos pobreza e

diferença social.

O quarto projeto selecionado (Revista Nova Escola, nº 184) está

relacionado à crianças agressivas que transferem a violência presenciada em

casa para a escola. Temperamento difícil e impulsivo, falta de carinho, violência

física ou emocional, ausência de limites ou tolerância excessiva dos

responsáveis, excesso de energia mal canalizada, são alguns dos fatores

desencadeadores de procedimentos agressivos.

Algumas escolas; principalmente em São Paulo, recorreram à

psicólogos, terapeutas, orientadores educacional e pedagógico para

desenvolverem estratégias de autocontrole, mostrando para as crianças

comportamentos positivos e sempre focando a atenção para afetividade.

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Além do apoio destes profissionais, as escolas desenvolveram

atividades que promovessem a boa convivência do grupo como, por exemplo:

contar histórias sobre amizade; programar atividades físicas em que houvesse

contato físico entre as crianças; levar as crianças para que brincassem ao ar

livre; aplicar técnicas de relaxamento; montar uma brinquedoteca, entre outras.

Toda essa movimentação das escolas, seria insuficiente se não fossem

realizadas conversas dos profissionais envolvidos com os pais na busca de

atitudes equilibradas. Essas conversas no começo do processo eram bem

difíceis, porém com o tempo, os pais conseguiram compreender que esta

comunicação é imprescindível; além de passarem a acreditar na importância

deles para as mudanças emocionais dos filhos.

Na avaliação desse projeto, as escolas conseguiram aproximar os pais,

elevar a autoestima das crianças que perceberam uma melhoria e aproximação

na relação com os seus pais, controlar a maioria dos comportamentos

agressivos, impor limites e incentivar manifestações de afeto, segurança,

respeito e amizade. Estes fatores foram importantes para a formação destas

crianças e para a reestruturação de algumas famílias.

O quinto projeto (Revista Nova Escola, nº190) foi selecionado para

demonstrar uma iniciativa autêntica, inovadora e para ratificar a importância

das aulas de Educação Física e outras disciplinas, por vezes, nem tão

valorizadas, para a interdisciplinaridade.

Este projeto aconteceu em Três Corações (MG) em Março de 2006,

numa escola Municipal desta cidade. A professora de Educação Física

resolveu acabar com a “mesmice” das aulas; e incentivada pela curiosidade

dos alunos da 6º ano, implantou uma pesquisa sobre as pipas.

A pesquisa foi dividida em etapas desde a busca de informações sobre a

história e a ciência do brinquedo, a base científica para a brincadeira, até o

momento mais prazeroso que é o de empinar e curtir a pipa.

Para que o projeto obtivesse o êxito esperado foram necessárias

algumas noções de Educação Física, Geografia, Ciências e Cidadania.

A professora no período de aplicação do projeto, explicou as normas de

segurança, os mecanismos, que fazem a pipa voar e os possíveis defeitos que

a impedem de ganhar altura.

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O objetivo principal da professora além de transmitir o conhecimento

técnico desta brincadeira, era o desenvolvimento emocional da turma por meio

do trabalho em grupo e do movimento corporal.

Os resultados obtidos, segundo a reportagem, foram emocionantes, pois

foi percebido pela professora que a turma sentiu-se valorizada ao ver uma

atividade tão agradável transformada em conteúdo escolar. Além do

envolvimento e da intensa participação das crianças; inclusive de algumas que

apresentavam dificuldades com as disciplinas escolares, a professora observou

que através da técnica apurada para empinar pipa, as crianças puderam trocar

experiências com os colegas elevando a autoestima.

O sexto projeto (Revista Nova Escola, nº190) escolhido aconteceu em

uma escola Municipal em São Paulo, no começo do ano de 2005, contemplou

alunos da educação infantil de 4 anos da professora Deborah.

Percebendo a dificuldade das crianças em expressarem vontade de

narrar histórias ou algum fato acontecido em casa ou na escola, a professora

decidiu criar situações em que elas sentissem vontade de falar. Propôs a

montagem de caixas de histórias que servissem de cenário para a narração de

contos.

A professora queria que a turma desenvolvesse a capacidade de

expressar sentimentos e opiniões ao mesmo tempo que tivesse prazer em

escutar histórias. Conseguindo com que as crianças expressassem opiniões

estaria ampliando o vocabulário delas e fazendo com que começassem a

tornar algumas decisões; que encadeariam um processo de autonomia.

Durante o projeto, a professora reparou que as crianças começaram a

participar mais das aulas; pediam a palavra em diversas situações em que

antes permaneciam caladas e faziam perguntas pertinentes ao tema.

Além de conseguir um desenvolvimento na oralidade e participação da

turma, na autonomia das crianças; o projeto conseguiu uma aproximação maior

entre elas, pois passaram a estabelecer vínculos de respeito, afeto, confiança e

amizade.

A intenção, ao trazer estes projetos, foi mostrar que é possível na

prática desenvolver atividades que reforcem a autoestima. A criatividade dos

professores e demais profissionais da área de educação que elaboram e

aplicam estes projetos também são fundamentais, contribuindo ainda mais, na

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importância que a escola representa na formação de muitas crianças e jovens

que antes não enxergavam nela, um espaço de aprendizados, trocas,

interações.

Como observado, as mudanças para os alunos podem ocorrer tanto no

espaço escolar quanto no ambiente familiar, colaborando numa reaproximação

dos pais com os filhos, no estabelecimento de uma relação sadia entre eles,

além da satisfação que esta nova relação traz para ambas as partes.

As mudanças apresentadas no ambiente familiar, refletem na forma que

a criança percebe o mundo e interage com ele. A autoestima deste aluno

atuará de forma positiva, elevando sua capacidade de raciocínio, interação

social e no seu desempenho escolar.

Embora estes projetos não estivessem necessariamente voltados para o

desenvolvimento da autoestima dos alunos, eles através dos resultados obtidos

e as mudanças de comportamento observadas, reforçaram a autoestima no

sentido que ampliaram os desejos destes alunos de aprender, interagir,

trabalhar em equipe respeitando as opiniões dos colegas; trazendo novas

perspectivas e uma satisfação pessoal muito grande para todos os envolvidos

neste processo.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo buscou estabelecer uma relação entre a autoestima

do aluno e do professor no que diz respeito ao processo de ensino-

aprendizagem, com a atuação dos orientadores educacional e pedagógico. O

importante papel que estes profissionais desempenham para intermediar esta

relação no cotidiano em sala de aula, as relações sociais estabelecidas no

ambiente escolar e a influência da autoestima e de outros fatores psicológicos

no desempenho dos alunos foram os aspectos analisados neste estudo

monográfico.

Neste sentido, foram observadas que as relações que os alunos

estabelecem com os professores, assim como o envolvimento e interesse deles

com os estudos, para que o rendimento escolar seja satisfatório, está

intimamente vinculado ao nível de autoestima, autorealização e contentamento

destes alunos.

A autoestima, fator importante na formação dos indivíduos, atua como

um aspecto social e educacional, no sentido que fortalece as relações

interpessoais dos estudantes, além de contribuir para que eles observem e

identifiquem a importância da educação para uma boa formação.

A aprendizagem, através da escola, desempenha papel central no

desenvolvimento humano, sendo sua principal característica o processo de

mudança que acontece como resultado das mais diversas experiências.

Um dos elementos fundamentais no processo de aprendizagem é a

escola. A escola é o espaço físico institucional onde se ministra de forma

sistemática o ensino coletivo. Deve ser entendida como espaço social

responsável pela educação das pessoas, vinculada à realidade e necessidade

da comunidade na qual está inserida. Podemos observar a importância da

realidade de cada comunidade e os diferentes tipos de atuação dos

professores e dos orientadores, com a análise dos projetos apresentados no 3º

capítulo.

Contudo, não é somente no espaço escolar que o aluno estabelece suas

relações sociais. Estas, ocorrem também no ambiente familiar e com os

amigos, sendo determinantes para que as crianças e jovens se autopercebam.

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Entretanto, a realidade tem mostrado que muitos jovens passam por situações

desgastantes no ambiente familiar onde não são ouvidos, não participam das

decisões diárias, não são respeitados; procurando dessa forma, na escola um

local de “troca”, de participação e interação.

Como reflexo desta pouca aceitação no espaço familiar, e de um

ambiente desfavorável para elevação da autoestima, muitas vezes tomam

atitudes e reagem com interesse em relação aos estudos e com as pessoas

com quem se relacionam ou ao contrário com desinteresse e dificuldades. É

importante, portanto, lidar com os sentimentos para fortalecer a autoestima.

Dessa forma, percebe-se que a importância não só da escola, mas

também da família é fundamental, tendo em vista que melhorando a

autoimagem destas crianças e jovens, através do carinho, respeito,

compreensão; contribui para eles desenvolverem interesse pelos estudos,

confiarem nos seus potenciais, criarem vínculos de amizades com os colegas

de classe; aumentando ou mantendo, dessa maneira, o bom desempenho

escolar.

O orientador educacional para contribuir com a autoestima do aluno,

deve realizar um trabalho com a família dele, através de orientações e

acompanhamentos de rotina que fortaleçam a relação dos membros familiares,

agregando valores e consequentemente elevando a autoestima de todos.

A importância da autoestima do professor, com a efetiva participação do

orientador pedagógico neste processo, também foi referendada neste trabalho

e as análises dos projetos selecionados foram significativas para as conclusões

deste estudo. As experiências relatadas reforçaram que através da autoestima

os alunos conseguem desenvolver competências para lidar com os desafios

básicos da vida. Conforme observados nesses projetos, mesmo enfrentando

dificuldades, os alunos que apresentam um bom nível de autoestima são

capazes de superar os obstáculos, convivendo com as situações adversas,

reconhecendo seus aspectos favoráveis.

Quando se desenvolve a autoestima do aluno, e não podemos deixar de

destacar mais uma vez, a importância da família, professores e do orientador

educacional neste processo, ele começa a perceber que a participação dele é

essencial e que ele é importante para os colegas e para a turma que ele faz

parte.

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Percebe-se que a autoestima motiva o aluno a não desistir de um

aprendizado, de um desafio mesmo que difícil, que demore um pouco mais,

fazendo-o acreditar que conseguirá atingir o seu objetivo. A autoestima

desenvolvida com o grupo reflete no individual e é muito importante que os

orientadores educacional e pedagógico estimulem os estudantes e os

professores no desenvolvimento de projetos, com a utilização de trabalhos em

grupo, formação de grêmios estudantis, ações culturais, atividades esportivas,

entre outros. Desta forma, a escola passa a ter movimento, inserindo-se

efetivamente na realidade de cada comunidade.

Sendo assim, pode-se concluir que para a construção do conhecimento

há necessidade de professores, em parceria com os seus orientadores e a

comunidade, que planejam e desenvolvam projetos criativos e interessantes na

sua prática pedagógica. Dessa maneira, estarão contribuindo com o processo

ensino-aprendizagem, auxiliando na consolidação da autoestima dos alunos e

no estabelecimento de boas relações sociais no espaço escolar.

Na verdade, uma grande parte do sucesso dos alunos está ao alcance

dos professores, desde que haja parceria, consciência e comprometimento que

é necessário oferecer e estar pronto para receber. Gerando, assim, um

processo de troca de conhecimentos, saberes, experiências e afetividade, pois

se não houver troca a magia não acontece.

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