a atividade clandestina de telecomunicaÇÃo e a...
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA – UEPBCENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS – CCJ
CURSO DIREITO
ANDESON DE AGUIAR PAES BARRETO
A ATIVIDADE CLANDESTINA DE TELECOMUNICAÇÃO E
A “INTERNET VIA RÁDIO”
CAMPINA GRANDE – PB2013
ANDESON DE AGUIAR PAES BARRETO
A ATIVIDADE CLANDESTINA DE TELECOMUNICAÇÃO E
A “INTERNET VIA RÁDIO”
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Bacharelado em Direito da Universidade Estadual da Paraíba, em cumprimento à exigência para obtenção do grau de Bacharel em Direito.
Orientador: Profº. Especialista Plínio Nunes Souza
CAMPINA GRANDE – PB2013
1
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL – UEPB
B273a Barreto, Andeson de Aguiar PaesA atividade clandestina de telecomunicações e a internet
via rádio [manuscrito] / Andeson de Aguiar Paes Barreto.− 2013.
41 f.
Digitado.Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em
Direito) – Universidade Estadual da Paraíba, Centro de Ciências Jurídicas, 2013.
“Orientação: Prof. Esp. Plínio Nunes Souza, Departamento de Direito Privado”.
1. Internet. 2. Telecomunicações. 3. Ilegalidade. I. Título.
21. ed. CDD 004.678
ANDESON DE AGUIAR PAES BARRETO
A ATIVIDADE CLANDESTINA DE TELECOMUNICAÇÃO E
A "INTERNET VIA RÁDIO"
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Bacharelado em Direito da Universidade Estadual da Paraíba, em cumprimento a exigência para obtenção do grau de Bacharel em Direito.
Aprovada em 16/08/2013
Prof. Esp.Plí o Nufies s a/ UEPB Orientadora
Q‘' - Ca ProfaMse. Maria cezilene Araúj de Morais / EPB
Examinador
10(i Vra l 05311/1 Prof Msc. Herry 1arriery da Costa tos / FACISA
Examinador
A ATIVIDADE CLANDESTINA DE TELECOMUNICAÇÃO E
A “INTERNET VIA RÁDIO”
BARRETO, Andeson de Aguiar Paes1
RESUMO
Esse trabalho tem por objeto a análise da conduta de fornecer sinal de internet através
de ondas de rádio, verificando se esta se amolda ao delito de exercer atividade
clandestina de telecomunicações. Com amparo doutrinário, jurisprudencial e,
sobretudo, com breve análise técnica, é demonstrado que o entendimento sobre o tema
ainda não é pacífico, mas que em princípio o exercício de prover a chamada “internet
via rádio” de forma clandestina não deve ser considerada crime.
PALAVRAS-CHAVE : Crime de telecomunicações, serviço clandestino de
telecomunicações, internet wireless, internet via rádio, internet clandestina.
1Aluno do curso de direito na Universidade Estadual da Paraíba. [email protected]
3
1 INTRODUÇÃO
O surgimento e acesso a novas tecnologias é crescente. Essa fenômeno tem levado a
um crescimento do uso de equipamentos emissores de radiofrequência, basta observar no
cotidiano o uso crescente de aparelhos celulares, roteadores, tablets, entre outros.
Essa nova demanda é acompanhada da ampliação de novas formas de acesso à
internet, levando ao surgimento de novas empresas fornecedoras de conexão à rede mundial
de computadores.
Atualmente, além do tradicional acesso à internet através da rede telefônica, há outros
métodos de fornecimento com utilização de radiofrequência, como os serviços denominados
de “internet via rádio”.
O crescimento se desenvolve em alta velocidade e faz surgir diversas empresas
clandestinas que passam a oferecer esse serviço, em especial em bairros onde os serviços
oferecidos por grandes empresas não chegam.
Segundo dados da Polícia Federal de Campina Grande, na circunscrição das cidades
de atribuição dessa Delegacia, foram instaurados 472 inquéritos policiais entre 2009 e 2012
para apuração da conduta das empresas clandestinas que provêm acesso à internet, através de
onda de rádio.
O número de 47 inquéritos é significativo por se tratar de uma região pequena em
quantidade de habitantes - principalmente se considerado o número de inquéritos em todo o
Brasil! Isso faz com que um enorme aparato estatal, envolvendo uma já escassa Polícia
Federal, tenha que se ocupar em investigar uma conduta que ora é considerada criminosa, ora
não, levando ao arquivamento de diversos inquéritos e denúncia de outros.
Acontece que a jurisprudência brasileira tem em sua maioria considerado que o
fornecimento clandestino de internet via rádio é crime, porém há um significativo e crescente
entendimento em sentido contrário, afirmando ser atípica a referida conduta.
Sendo assim, diante das pertinentes divergências jurisprudenciais esse trabalho tem o
intuito de fazer uma análise sobre a conduta de fornecer “internet via rádio” sem a devida
autorização, verificando seu aspecto sob a ótica do direito penal brasileiro e em especial sob a
ótica do art. 183 da Lei Geral das Telecomunicações (LGT).
2 Relatório no anexo A
4
Este trabalho buscou a resposta sobre se a atividade de fornecer sinal de internet por
radiofrequência constitui um serviço de telecomunicações ou um serviço de valor adicionado,
e também se esta atividade, quando realizada de forma clandestina, constitui crime.
A metodologia utilizada foi de pesquisa doutrinária e jurisprudencial, analisando
decisões que defendem e que combatem a criminalização da conduta, também foi feito um
breve estudo técnico sobre grandezas físicas envolvidas no tema, para que fosse realizada uma
abordagem técnica dando uma visão além da jurídica.
2 A ATIVIDADE CLANDESTINA DE TELECOMUNICAÇÃO
A norma do art. 183 da lei 9.472/97 (Lei Geral das Telecomunicações) determina ser
crime o exercício da atividade clandestina de telecomunicações. A mesma Lei logo adiante
define o que é atividade clandestina como sendo a atividade desenvolvida sem a competente
concessão, permissão ou autorização de serviço, de uso de radiofreqüência e de exploração
de satélite. (art.184, parágrafo único). Logo, conclui-se pela interpretação sistemática das
duas normas que é crime o exercício de qualquer atividade de telecomunicação que use
radiofrequência ou exploração de satélites sem a devida permissão, autorização ou licença da
autoridade competente, no caso a ANATEL.
Sendo assim, as estações de rádio que atuem sem as suas outorgas autorizativas
cometem o crime prevista no art. 183 da citada lei. Como ocorre, por exemplo, nas
comumente chamadas de “Rádios Piratas”, que são estações de radiodifusão que operam sem
a autorização competente. A jurisprudência majoritária tem afirmado que tais condutas
configuram, em tese, o crime expresso no aludido artigo. O julgado, transcrito a seguir,
exemplifica bem posição em que considera crime as rádios clandestinas:
DIREITO PENAL. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. RADIODIFUSÃO CLANDESTINA. ENQUADRAMENTO. ART. 183 DA LEI 9.472/97. CRIME DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO. INOCORRÊNCIA.1839.4721. A instalação e funcionamento de emissora de rádio clandestina é crime tipificado no art. 183 da Lei nº 9.472/97, afastando a competência dos juizados especiais federais, vez que a pena máxima cominada ultrapassa o limite previsto para as infrações penais de menor potencial ofensivo.1839.4722. O tipo do art. 70 da Lei nº 4.117/62 é reservado às hipóteses em que, devidamente autorizado, o agente desenvolve a atividade infringindo as normas e regulamentos próprios. Precedente do STJ.704.1173. Recurso provido.
5
(200151100001004 RJ 2001.51.10.000100-4, Relator: Desembargadora Federal NIZETE ANTONIA LOBATO RODRIGUES, Data de Julgamento: 19/04/2012, SEGUNDA TURMA ESPECIALIZADA, Data de Publicação: E-DJF2R - Data::04/05/2012 - Página::104)
Como observado, é considerado crime a operação de estações de rádio clandestina.
Quanto a isto não se parece ter muita discussão.
No entanto, se pode considerar crime do mesmo modo a conduta de se prover internet
através de ondas de rádio de forma clandestina, sem a outorga do órgão competente? Guarda
semelhança uma estação de radiodifusão clandestina e uma de fornecimento de internet via
ondas de rádio ?
Inicialmente é preciso ponderar a norma contida no art. 183 da lei 9.472/97:
Art. 183. Desenvolver clandestinamente atividades de telecomunicação:Pena - detenção de dois a quatro anos, aumentada da metade se houver dano a terceiro, e multa de R$ 10.000,00 (dez mil reais).
A indigitada norma preceitua um crime em tese formal, no qual a simples conduta de
exercer a atividade clandestina já consumaria o delito.
No entanto, a norma do parágrafo único do art. 184 dessa lei define a atividade
clandestina como aquela que é exercida sem a concessão, licença ou autorização do órgão
competente. Não havendo, portanto, crime quando a outorga (concessão, licença ou
autorização) não for legalmente exigida.
Nesse contexto, merece destaque a norma do § 2º, I, do art. 163, da Lei 9.472/97:
Art.163 (...)
§ 2° Independerão de outorga:I - o uso de radiofreqüência por meio de equipamentos de radiação restrita definidos pela Agência;
De acordo com o supracitado, é dispensado a outorga autorizativa para utilização de
equipamentos de radiação restrita, assim definidos pela ANATEL.
Regulamentando os equipamentos de radiação restrita, a ANATEL expediu a
Resolução ANATEL nº 506. Esta, em seu art. 1º do anexo, estabelece:
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Art. 1º Este Regulamento tem por objetivo caracterizar os equipamentos de radiação restrita e estabelecer as condições de uso de radiofreqüência para que possam ser utilizados com dispensa da licença de funcionamento de estação e independentes de outorga de autorização de uso de radiofreqüência, conforme previsto no art. 163, § 2º, inciso I da Lei nº 9.472, de 16 de julho de 1997.
No referido artigo, verifica-se que o aludido regulamento da ANATEL define as
condições em que não se necessita de nenhuma autorização, licença ou concessão da
autoridade regulamentadora para que se utilize os equipamentos de radiação restrita.
O conceito de equipamento de radiação restrita está previsto no art. 2º, inciso VII
desse mesmo regulamento, que reza:
VII – Equipamento de Radiocomunicação de Radiação Restrita: termo genérico aplicado a equipamento, aparelho ou dispositivo, que utilize radiofreqüência para aplicações diversas em que a correspondente emissão produza campo eletromagnético com intensidade dentro dos limites estabelecidos neste Regulamento. Eventualmente, pode estar especificado neste Regulamento um valor de potência máxima de transmissão ou de densidade de potência máxima em lugar da intensidade de campo;
Os equipamentos utilizados nos serviços de internet via rádio normalmente atendem
aos especificados no citado regulamento, portanto são de radiação restrita.
Seguindo a resolução, observa-se no art. 3 :
Art. 3º As estações de radiocomunicação, que fizerem uso de equipamentos de radiação restrita caracterizados por este Regulamento, estão isentas de cadastramento ou licenciamento para instalação e funcionamento.
Conforme pode ser observado, a norma frisa que os aparelhos que atendem o
preceituado podem funcionar sem licenciamento.
Porém o parágrafo único do art. 3º prevê exceções a esta regra:
Parágrafo único. Quando a atividade de telecomunicações desenvolvida pela estação de radiocomunicação extrapolar os limites de uma mesma edificação ou propriedade móvel ou imóvel, e as estações de radiocomunicações fizerem uso de equipamentos definidos nas Seções IX e X deste Regulamento, aplicam-se as seguintes disposições:
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I - quando o funcionamento dessas estações estiver associado à exploração do serviço de telecomunicações de interesse coletivo, será necessária a correspondente autorização do serviço, bem como o licenciamento das estações que se destinem à:a) interligação às redes das prestadoras de serviços de telecomunicações; oub) interligação a outras estações da própria rede por meio de equipamentos que não sejam de radiação restrita;II - quando o funcionamento dessas estações servir de suporte à rede de telecomunicações destinada a uso próprio ou a grupos determinados de usuários, será dispensada a obtenção da autorização de serviço, devendo ainda, caso as estações estejam operando em conformidade com as alíneas a ou b do inciso I deste artigo, ser cadastradas no banco de dados da Agência;III - os incisos I e II não se aplicam quando as estações operarem nas condições previstas no § 2 º do art . 39 , deste Regulamento. Nesse caso, será necessária a autorização de serviço, assim como o licenciamento das estações.
Pela exegese dos preceitos apresentados acima, se entende que quando a
radiocomunicação não extrapola uma única edificação não é necessário qualquer permissão
ou autorização de uso. No entanto, quando a radiofrequência ultrapassa uma propriedade e
fizerem uso dos equipamentos previstos em seção específica (seções IX e X) poderão ter ou
não a dispensa da outorga.
A primeira situação está prevista no inciso I, que prega:
(...)I - quando o funcionamento dessas estações estiver associado à exploração do serviço de telecomunicações de interesse coletivo, será necessária a correspondente autorização do serviço, bem como o licenciamento das estações que se destinem à:a) interligação às redes das prestadoras de serviços de telecomunicações; oub) interligação a outras estações da própria rede por meio de equipamentos que não sejam de radiação restrita;(...)
Como perfeitamente observado, no caso a resolução exige a autorização quando as
estações de telecomunicações explorarem serviço de interesse coletivo ou quando sem a
utilização de equipamentos de radiação restrita.
Consoante a resolução nº 73/1998 da ANATEL3 o serviço de interesse coletivo é
aquele prestado a qualquer interessado na fruição do serviço, ou seja, qualquer pessoa que
tenha interesse pode utilizar o serviço (caráter comercial), por outro lado é de interesse restrito
o serviço prestado ao próprio usuário ou a um grupo determinado de usuários.
A princípio as provedoras de internet wireless, conhecidas também por “internet via
rádio” exploram um serviço de interesse coletivo, logo, em tese, é necessária a autorização
3 Art. 17 e 18. Disponível em : http://legislacao.ANATEL.gov.br/resolucoes/1998/34-resolucao-73
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para o exercício deste tipo de serviço, e sua falta atenderá o preceito do art. 183 da lei das
telecomunicações, acarretando a chamada tipicidade formal, e a conduta será delituosa.
Seguindo a análise do artigo 3º do anexo da Resolução 506 da ANATEL, observa-se o
inciso II:
II - quando o funcionamento dessas estações servir de suporte à rede de telecomunicações destinada a uso próprio ou a grupos determinados de usuários, será dispensada a obtenção da autorização de serviço, devendo ainda, caso as estações estejam operando em conformidade com as alíneas a ou b do inciso I deste artigo, ser cadastradas no banco de dados da Agência;
Segundo esse inciso, quando a estação de telecomunicação servir para o interesse do
próprio usuário ou ainda um grupo determinado de usuários, a outorga é dispensada.
Em análise sistemática das normas do inciso I e II, verifica-se que só se exige a
autorização de funcionamento quando a estação servir para exploração de serviço de interesse
coletivo. Por outro lado, não há a exigência de autorização quando for destinado ao próprio
usuário ou a um grupo determinado de usuários.
Desse modo, é preciso se analisar em qual situação se enquadram as prestadoras de
internet wireless, também denominadas prestadoras de “internet via rádio”, para se verificar
se é necessário outorga para seu funcionamento.
A ANATEL através de sua documentação intitulada de “Distribuição de internet por
redes wireless pelo poder público”4 esclarece que o provimento de acesso à terceiros é
atividade de interesse coletivo, portanto, é necessário licença. Todavia quando o serviço se
tratar de atividade de interesse restrito essa será dispensada.
Portanto, quando o fornecimento de internet via rádio é comercializado a atividade
passa a ser considerada de interesse coletivo - pois qualquer interessado pode se tornar
cliente e passar a receber o serviço - nessas situações o serviço precisará de outorga, devido a
previsão do inciso I do art. 3º do anexo da Resolução 506 da ANATEL. Por outro lado,
quando o serviço é feito sem o caráter comercial - como, por exemplo, a divisão do sinal entre
duas filiais de uma mesma empresa - trata-se de um interesse restrito, sendo desnecessária
autorização de funcionamento, pois a atividade preenche os preceitos do inciso II da citada
norma.
4 Disponível em: <http://colab.interlegis.leg.br/raw-attachment/wiki/IIEncontroGitec/ANATEL.pdf>
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Prosseguindo na norma do artigo 3º, o seu inciso III apresenta exceções:
Art.3º(...) III - os incisos I e II não se aplicam quando as estações operarem nas condições previstas no § 2 º do art . 39 , deste Regulamento. Nesse caso, será necessária a autorização de serviço, assim como o licenciamento das estações.
Como observa-se em quaisquer das hipóteses já analisadas, haverá a necessidade de
autorização ou licença quando o serviço operar nas condições previstas no §2º do art. 39, que
reza:
Art. 39. Equipamentos Utilizando Tecnologia de Espalhamento Espectral ou outras Tecnologias de Modulação Digital operando nas faixas 902-907,5 MHz, 915-928 MHz, 2.400-2.483,5 MHz e 5.725-5.850 MHz devem atender às condições estabelecidas nesta Seção.(...)§ 2º As condições estabelecidas nesta Seção, para a faixa 2.400-2.483,5 MHz, não valem para os equipamentos cujas estações utilizem potência e.i.r.p. superior a 400 mW, em localidades com população superior a 500.000 habitantes. Neste caso, as estações deverão ser licenciadas na Agência, nos termos da regulamentação específica pertinente a esta faixa.5
Assim, conclui-se que se o equipamento utilizado pela estação funcionar
cumulativamente na faixa de frequência de 2.400-2.483,5 MHz com potência superior a 400
mW (0,4 W) e ainda em cidade com população superior a 500.00,0 habitantes será necessária
a autorização do serviço e licença da estação.
Nota-se que há limitações de potência para ser exigido o licenciamento quando a
população da cidade onde ocorrer o serviço for superior a 500 mil habitantes, não havendo
essa limitação quando o local tiver população inferior a esse limite, sendo dispensada a
autorização do serviço em cidades pouco habitadas.
Nesse entendimento, já se manifestou a Justiça Federal no Estado da Paraíba em
diversos julgados, deixando claro que em cidade com menos de 500.000 habitantes, quando a
estação atua nas frequências descritas acima, não há em que se falar em materialidade
delitiva, independentemente da potência da estação, como por exemplo, em decisão
5 É importante frisar que a norma do § 2º do art. 39 da resolução 506 da ANATEL fala em potência EIRP que significa a potência na saída da antena do transmissor, ou seja, é a potência levando-se em consideração o ganho da antena e as perdas do cabo condutor do equipamento até a antena. Em nossas pesquisas, verificamos que em nenhum dos inquéritos/processos pesquisados houve a consideração do valor do ganho da antena e da perda do cabo..
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monocrática proferida nos autos do 0001539-40.2012.4.05.8201, segundo a transcrição do
trecho a seguir:
(…) 06. Ressalte-se que não são os equipamentos que operam na frequência de 2.400 a 2.483 Mhz atingidos, mesmo na hipótese de potência nominal superior a 400 mW, pela regra do art. 39, §2º, da referida Resolução, por ter a cidade de Campina Grande/PB, local de instalação da estação clandestina (f. 05), população inferior a 500.000 habitantes (fl. 112), não precisando, assim, a estação base respectiva de licenciamento da ANATEL. (grifamos)
Observa-se que as restrições de potência e de números de habitantes só se referem a
faixa de frequência de 2.400-2.483 MHz. A citada norma não faz qualquer restrição de
potência para as faixas de frequências de 902-907,5 MHz, 915-928 Mhz e 5.725-5.850 Mhz,
logo em tais situações a outorga também é dispensada.
Em interpretação conjunta de toda norma apresentada, pode-se fazer algumas
considerações sobre a tipicidade formal da conduta de fornecer internet via rádio sem a
outorga autorizativa:
Quando o serviço é comercializado há a necessidade de outorga por se tratar de
atividade de interesse coletivo. A ausência de autorização, permissão ou licença, preencheria a
figura típica do art. 183 da lei 9.472/97. Haveria portanto tipicidade formal e a conduta seria
criminosa, sob o ponto de vista formal.
Por outro lado, se o serviço de provimento de internet através de ondas de rádio se der
sem ultrapassar a barreira de uma única edificação ou ultrapassando-a, ocorrer no interesse
restrito para uso próprio ou ainda para um grupo determinado de usuários, não haverá
necessidade de qualquer autorização (apenas um cadastro) e a ausência desta não poderá
configurar delito penal. Não haveria nesse caso a tipicidade formal.
3 SERVIÇO DE VALOR ADICIONADO
Segundo alguns posicionamentos doutrinários e jurisprudenciais, o serviço de
provimento de internet nem ao menos pode ser considerado serviço de telecomunicação, e sim
um serviço de valor adicionado.
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Conforme a Lei Geral de Telecomunicações (LG T), lei 9.472/97, que em seu art. 60
define:
Art. 60. Serviço de telecomunicações é o conjunto de atividades que possibilita a oferta de telecomunicação. § 1° Telecomunicação é a transmissão, emissão ou recepção, por fio, radioeletricidade, meios ópticos ou qualquer outro processo eletromagnético, de símbolos, caracteres, sinais, escritos, imagens, sons ou informações de qualquer natureza.
E o art. 61 reza:
Serviço de valor adicionado é a atividade que acrescenta, a um serviço de telecomunicações que lhe dá suporte e com o qual não se confunde, novas utilidades relacionadas ao acesso, armazenamento, apresentação, movimentação ou recuperação de informações.
Dessa forma, como o provimento de internet serve de suporte dando nova utilidade de
acesso, pois possibilita uma conexão sem fio, sem se tornar um serviço autônomo, se
enquadraria tal serviço ao conceito de valor adicionado. Por outro lado, essa atividade
transmite dados através de radioeletricidade, o que preenche o conceito de atividade de
telecomunicação.
A jurisprudência, em alguns julgados ainda não consolidados, se alterna entre
considerar o provimento de internet ora como serviço de telecomunicação, ora como de valor
adicionado.
Consoante o entendimento de Aranha (2005)6, nem sempre foi clara a distinção entre
serviço de telecomunicação com o serviço de valor adicionado, sendo essa distinção mais
problemática quando se trata de provimento de acesso à internet. Segundo o autor, a oferta de
acesso à rede de telecomunicação configura serviço de telecomunicações, portanto, a
princípio as provedoras de internet exerceriam essa atividade. No entanto, segundo os seus
doutos ensinamentos:
a Norma 004/95 – Uso de meios da rede pública de telecomunicações para acesso à Internet (anexo à Portaria do Ministério das Comunicações nº 148, de 31 de maio de 1995) expressamente enquadra o serviço de conexão à internet como serviço de valor adicionado.
6 ARANHA, Márcio Iorio (Org). Direito das Telecomunicações: Estrutura Institucional
regulatória e infra-estrutura das telecomunicações no Brasil. Brasília: Jf Gráfica, 2005
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Há, por conseguinte, uma norma expressa do Ministério das Comunicações que
define o provimento de acesso à internet um serviço de valor adicionado. Todavia, ainda
segundo Aranha (2005), a validade referida norma pode ser questionada tendo em vista ser
anterior a LGT, por outro lado, a mesma pode ser considerada especial em relação a essa lei,
por tratar especificamente de Internet.
A jurisprudência pátria ainda não se pacificou com relação ao tema. Aranha (2005)
afirma que o próprio STJ possui julgados nos dois sentidos, a primeira turma do tribunal já
se posicionou no sentido de considerar as provedoras de internet empresas exercentes de
atividade de telecomunicação. Por outro lado, a segunda turma apontou de forma diversa,
considerando a atividade de prover acesso à internet um serviço de valor adicionado.
No sentido de que o serviço em análise é de valor adicionado se manifestou o TRF5
em sede do mandado de segurança 0001867-46.2007.4.05.82 :
ADMINISTRATIVO. ACESSO À INTERNET. PROVEDOR. SERVIÇO DE VALOR ADICIONADO. TELECOMUNICAÇÕES. AGÊNCIA REGULADORA. LEI Nº 9.472/97. AUSÊNCIA DE TIPIFICAÇÃO DO ILÍCITO. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE. OBSERVÂNCIA.9.472I - Serviço de valor adicionado é a atividade que acrescenta, a um serviço de telecomunicações que lhe dá suporte e com o qual não se confunde, novas utilidades relacionadas ao acesso, armazenamento, apresentação, movimentação ou recuperação de informações (artigo 61 da Lei nº 9.472/97).619.472II - O serviço prestado pelo provedor de acesso à Internet não se caracteriza como serviço de telecomunicação. Precedentes do Egrégio STJ: ERESP 456650 PR, DJ 20/03/2006, relator Ministro José Delgado; RESP 511390 MG, DJ de 19/12/2005, relator Ministro Luiz Fux.III - Além da não ocorrência da tipificação, inexiste autorização legal expressa para que a Administração proceda à interrupção manu militare da atividade não autorizada, não permitida ou não concedida.IV - A apreensão dos equipamentos, no caso do ilícito, restringe-se a bens que, por si, impliquem a prática de crime.V- Apelação provida.(101491 PB 0001867-46.2007.4.05.8200, Relator: Desembargadora Federal Margarida Cantarelli, Data de Julgamento: 06/05/2008, Quarta Turma, Data de Publicação: Fonte: Diário da Justiça - Data: 16/06/2008 - Página: 338 - Nº: 113 - Ano: 2008)
Como pode ser verificado, para o referido Tribunal não pode ser considerado o
provimento de acesso à internet uma atividade de telecomunicação, mas sim um serviço de
valor adicionado. Essa decisão em seu inteiro teor deixa claro que a situação referida se tratou
de um serviço de provedor de internet via rádio.
Todavia, embora existam entendimentos que corroboram a tese de se tratar de serviço
de valor adicionado, poucos não são os entendimentos em sentido contrário, como por
exemplo:
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CRIMINAL -ARTIGO 183 DA LEI Nº 9.472/97 -ATIVIDADE CLANDESTINA DE TELECOMUNICAÇÃO - PROVEDOR DE INTERNET -VALOR ADICIONADO -AUSÊNCIA -DELITO CONSUMADO.1839.472I- Se o provedor de internet fornece aos clientes acesso direto à rede mundial de computadores através de radiofrequência, não há que se falar em serviço de telecomunicação pré-existente e serviço de valor adicionado, haja vista, o provedor fornecer o próprio serviço de telecomunicação que viabiliza o acesso à rede.II- Consumado o tipo do art. 183, da Lei nº 9472/97, se o agente explora acesso direto à internet através de radiofreqüência sem a devida autorização da ANATEL, órgão regulador.1839472III- Recurso conhecido a que se nega provimento.(6222 RJ 2003.50.02.000339-8, Relator: Desembargadora Federal MARIA HELENA CISNE, Data de Julgamento: 22/10/2008, PRIMEIRA TURMA ESPECIALIZADA, Data de Publicação: DJU - Data::07/11/2008 - Página::131)
Essa discussão deve-se ao fato do serviço de internet via rádio compor tanto um
serviço de telecomunicações como um serviço de valor adicionado. O ato de dar acesso a um
serviço de telecomunicação, como descrito no art. 61 da LGT, ser refere ao acesso lógico,
virtual, como a autenticação, validação de usuário e fornecimento de número IP (internet
protocol).
Por outro lado, o acesso físico utilizando fios ou radiofrequência para emissão de
dados amolda-se ao prescrito no art. 60 da LGT, constituindo um serviço de telecomunicação.
A empresa que presta serviço de provimento de acesso à internet através de ondas de rádio,
utiliza um meio físico de emissão de dados através de radiofrequência e também um acesso
lógico de autenticação e validação de usuário, constituindo portanto os dois serviços
(telecomunicações e valor adicionado).
Neste sentido, a ANATEL7 entende que:
o provimento de acesso à Internet via radiofreqüência, na verdade compreende dois serviços: um serviço de telecomunicações (Serviço de Comunicação Multimídia), e um Serviço de Valor Adicionado (Serviço de Conexão à Internet). Portanto, a atividade popularmente conhecida como "Internet via rádio" compreende também um serviço de telecomunicações.
Sendo assim, o entendimento da agência reguladora é de que a “internet via rádio” é
uma mescla entre serviço de telecomunicações e serviço de valor adicionado.
7Disponível em : http://www.ANATEL.gov.br/Portal/exibirPortalPaginaEspecial.do?acao=&codItemCanal=1266&codigoVisao=$visao.codigo&nomeVisao=$visao.descricao&nomeCanal=Internet&nomeItemCanal=D%FAvidas%20freq%FCentes&codCanal=366
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Assim, diante dos dois posicionamentos, conclui-se que se a atividade em questão for
considerada serviço de valor adicionado, afastada estaria a tipicidade formal, pois não se
amoldaria ao delito previsto no art. 183 da LGT, visto que não se trataria sequer de atividade
de telecomunicação.
Por outro lado, caso a atividade seja considerada de telecomunicação, para haver a
tipicidade formal será necessário que o ato de prover acesso à internet seja considerado uma
interligação de redes de interesse coletivo, ou ainda que seja utilizado equipamentos que
atuem fora das especificações contidas no anexo da Resolução 506 da ANATEL.
Em resumo, para ser crime a conduta de prover internet através de ondas de rádio deve
explorar um interesse coletivo (inciso I do Art. 3 do anexo da resolução 506 da ANATEL) ou
ainda o equipamento funcionar em frequências que fujam das faixas de 902-907,5 MHz, 915-
928 MHz, 2.400-2.483,5 MHz e 5.725-5.850 MHz, ou ainda que funcionem com 2.400-
2.483,5 MHz mas com potência superior a 400mW (0,4W) e em cidades com mais de 500.000
habitantes. Não sendo nessas situações, a conduta será formalmente atípica.
Todavia, haja os respeitáveis entendimentos contrários constata-se mais acertada o da
ANATEL em que a “internet via rádio” é a união de um serviço de telecomunicações com um
serviço de valor adicionado, e também é um serviço que com exploração de um interesse
coletivo, sendo portanto necessária a autorização do órgão competente para funcionamento,
configurando sua ausência a figura típica do art. 183 da LGT, sob o ponto de vista da
tipicidade formal.
4 ANÁLISE DA TIPICIDADE MATERIAL
Conforme os ensinamentos de Masson (2010, p. 157)8, “crime é toda ação ou omissão
humana que lesa ou expõe a perigo de lesão bens jurídicos penalmente tutelados (grifo
nosso)” . Esse é o conceito de crime sob o aspecto da tipicidade material, pelo qual é levado
em conta para caracterizar crime a relevância do mal produzido. Desse modo, para uma
conduta ser considerada delituosa, não basta ser preceituada em norma como tal, mas deve ao
menos por em risco o bem jurídico protegido.
8 MASSON, Cleber Rogério. Direito Penal esquematizado - Parte geral - Vol. 1. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense. São Paulo: Método, 2010
15
Nesse entendimento não basta a tipicidade formal para a caracterização do crime, é
preciso também que a conduta seja tipica do ponto de vista material, logo é preciso a presença
da tipicidade material.
Nas situação apontadas anteriormente, verifica-se que dependendo da interpretação
adotada sobre o serviço das empresas que fornecem acesso à internet através de
radiofrequência, este pode ser formalmente típico ou não. Mas no caso em que houver a
tipicidade formal, haverá a chamada tipicidade material ?
Para se responder essa pergunta é necessário se perceber qual o bem jurídico protegido
pela Lei Geral das Telecomunicações e ainda também se esse bem jurídico é ameaçado pelo
serviço oferecido pelas empresas provedoras.
Em concordância com os ensinamentos de Baltazar Junior (2010)9, o bem jurídico
protegido pela norma do art. 183 da LGT é a segurança das telecomunicações contra
interferências. A própria LGT esclarece no art. 159 que um dos objetivos da norma é evitar
interferências prejudiciais que são emissões, irradiações ou induções que obstrua, degrade
seriamente ou interrompa repetidamente a telecomunicação (parágrafo único do art. 159 da
lei 9.472/97). Pode o serviço das prestadoras de acesso à internet lesar ou expor a perigo de
lesão a segurança das telecomunicações a ponto obstruir, degradar seriamente ou interromper
repetidamente algum serviço de telecomunicação ?
A resposta a esse questionamento torna-se mais clara quando se faz a comparação dos
serviços de acesso de internet via rádio com outros serviços de radiofrequência,
especialmente no tocante a frequência, potência e atenuação.
4.1 BREVE COMPARATIVO ENTRE SERVIÇOS DE RÁDIO FREQU ÊNCIA
As rádios comunitárias de baixa potência, estão definidas no art. 1, §2º da lei 9612/98,
e devem operar em frequencia modulada (FM)10, ou seja, na faixa de frequência entre 87,8
MHz a 108 MHz em estações com até 25 Watts de potência e sistema irradiante com até 30
metros de altura. Por sua vez, o Decreto 2.615/98 reza que as rádios comunitárias devem ter
um alcance de até um quilômetro a partir da antena.
9 BALTAZAR JUNIOR, José Paulo. Crimes Federais. 5ª Ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2010.10 Embora a lei fale em freqência modulada, o correto seria modulação de frequência.
16
Por outro lado, as transmissões das provedoras de internet operam normalmente nas
faixas de frequência de 902-907,5 MHz, 915-928 Mhz, 5.725-5.850 Mhz ou 2.400-2.483,5
MHz, sendo mais comum os equipamentos que atuam nessa última faixa de 2.400 MHz, o
mesmo que 2.4 GHz.
Para se entender melhor a distinção entre o serviço de “internet via rádio” com outras
atividades, é preciso inicialmente explicar que as grandezas físicas denominadas “frequência”
e “potência” são medidas distintas que não devem ser confundidas..
A primeira é uma grandeza física que representa o número de ciclos de uma dada
onda num ponto do espaço em cada segundo (Carvalho, 2007), e utiliza a unidade de medida
Hertz (Hz). Já potência é a quantidade de energia fornecida por uma fonte em cada unidade de
tempo, é normalmente medida em Watt (W). Miliwatt (mW) é a divisão de Watt por mil. Por
exemplo, 400mW é o mesmo que 0,4W.
Além dessas duas grandezas, é preciso falar de atenuação. Essa consiste numa
redução da potência do sinal ao longo do meio de transmissão (Moreira, 1999)11, ou seja, é a
perda de potência do sinal que vai ocorrendo entre o trajeto da estação emissora e a receptora.
Então pode-se concluir que a Potência do sinal que chega na recepção é igual a
potência da transmissão subtraindo-se a atenuação.
Para o cálculo preciso é necessário se levar em conta os ganhos da antena do aparelho
emissor e o ganho da antena do aparelho receptor. Mas para fins de facilitar os cálculos de
comparação entre alguns serviços de telecomunicações, é necessário desconsiderar os valores
dos ganhos das antenas e considerar livre de obstáculos o espaço entre o transmissor e
receptor.
Logo, ainda segundo Moreira, a fórmula para se saber a potência que chega no
equipamento receptor será igual a potência emitida subtraída da atenuação, o que pode ser
representado por Pr=Pt-At, onde “Pr” representa potência na recepção, “Pt” a potência na
transmissão e, por fim, “At” refere-se a atenuação.
Segundo Carvalho (2007, p.41) fórmula de atenuação no espaço livre é
atenuação=32,4+20 x log F (Mhz) + 20 x log R (Km), onde “F” é a frequência medida em
Megahertz e “R” é a distância percorrida pelo sinal em quilômetros. Com esse dado é
possível se fazer uma comparação entre uma rádio comunitária, uma grande rádio atuante na
cidade de campina grande e ainda os serviços de internet via rádio. Será denominado para fins
de comparação, respectivamente, de situação 1, situação 2 e situação 3.
11 Disponível em: <http://www3.dsi.uminho.pt/adriano/Teaching/Comum/FactDegrad.html>
17
Para fazer uma comparação de como a potência de três serviços distintos decai em
uma distância de um quilômetro, é preciso, unir essas duas fórmulas, resultando na seguinte:
Pr=Pt- (32,4+20 x log F (Mhz) + 20 x log R (Km)).
Para fins de exemplificação será adotado para situação 1 uma estação de rádio
comunitária operando com 89 MHz de frequência e 25 Watts de Potência.
Para situação dois será considerado uma rádio famosa no município de Campina
Grande, a “Campina FM”. Essa estação atua com frequência de 93,1 MHz e 50.000W de
potência12.
Já para a terceira situação será considerado um serviço de internet via rádio, adotando
nesse exemplo a frequência de 2400 Mhz e potência de 400 mW, pois são as medidas
comumente usadas por esses serviços.
Substituindo as variáveis13 da fórmula Pr=Pt- (32,4+20 x log F (Mhz) + 20 x log R
(Km)) pelos valores da situação um, resultará em uma potência a um quilômetro de distância
da transmissão na ordem de 1,8x10-6 Watts (0,000018 W).
Fazendo essa mesma análise considerando a Rádio Campina FM (situação 2) 14,
verifica-se que a potência do sinal após 1 km de distância é de aproximadamente 3,3 x 10-
3W(0,0033W).
Agora, substituindo as variáveis da fórmula pelos valores da situação 3, observa-se
que a potência de recepção a um quilômetro de distância seria de aproximadamente 3,9x10-
11W(0,000000000039W).
Comparando agora as três situações descritas, pode-se observar que para uma estação
de internet wireless que atue na frequência de 2.400MHz alcance um quilômetro de distância
com mesma intensidade de sinal de uma estação, operando nas condições descritas na
situação 1, será preciso operar com uma potência na emissão da ordem de 18.100 W (Dozoito
mil e cem Watts). Esta mesma estação para alcançar a mesma distância, porém com mesma
intensidade de sinal descrita na situação 2, precisará de uma potência de emissão da ordem de
33.000.000 W (Trinta e três milhões de Watts). Logo, para que uma provedora de internet de
2.400 MHz chegue a um quilômetro de distância com a mesma potência que chegaria o sinal
da situação 2, precisará que a emissão tenha uma potência em Watts na ordem de dez bilhões
12 http://www.campinafm.com.br/comercial/
13 Para realizar o calculo é preciso converter Watts para dbm e no final refazer a conversão.14 http://www.campinafm.com.br/comercial/
18
de vezes maior! Ou seja, quando comparado a internet via rádio com uma estação de rádio
FM observa-se que se tratam de coisas totalmente diversas.
Os exemplos esclarecem que os serviços são muito diversos entre si, resta por
evidenciado que quanto maior a frequência do sinal utilizado, maior é sua perda, sendo
necessário muito mais potência para que se mantenha a mesma área de cobertura ou alcance.
Além disso, a explicação só leva em conta a atenuação em espaço livre, sendo essa hipótese a
ideal, no entanto a perda de sinal pode ser muito maior, tendo em vista as condições
atmosféricas, existência de obstáculos e também o relevo que pode contribuir para a
diminuição do alcance da estação.
No entanto, a analogia realizada considerou uma estação de fornecimento de acesso à
internet com potência de 400mW, que já é baixa. Todavia, normalmente é comum que o
funcionamento ocorrra com potências ainda menores. Como por exemplo o caso concreto
constante nos autos do processo nº 0000100-96.2009.4.05.8201 (JFPB) que tratou de situação
em que foram utilizados equipamentos com apenas 183mW.
A estação de internet sem fio possui, normalmente, um raio de alcance
exageradamente menor que as de radiodifusão. Além disso, trabalham em frequências muito
distantes das utilizadas por esses serviços. Para se esclarecer o quão distante é a frequência
utilizada entre as estações de internet e os demais serviços de telecomunicações, foi elaborado
o quadro a seguir com base nas frequências descritas no site da ANATEL15 e também nas
observadas na resolução 506:
Quadro 1 – Serviços de telecomunicações e respectivas frequências
Serviço Faixas de Frequência
Rádios AM 535 - 1605 kHz
Rádios FM 88 - 108 MHz
Móvel aeronáutico 117,975 - 137 MHz
Provedor de Internet via Rádio 907,5 MHz,915-928 MHz, 2.400-2.483,5 MHz e 5.725- 5.850 MHz.
Fontes: Pesquisa do autor a partir da análise da Resolução 506 da ANATEL e da documentação disponível em
<Http://sistemas.ANATEL.gov.br/pdff/Consulta/Consulta.asp?SISQSmodulo=1068>
15 http://sistemas.ANATEL.gov.br/pdff/Consulta/Consulta.asp?SISQSmodulo=1068
19
Sendo assim, verifica-se que as frequências do serviço de acesso à internet são muito
diferentes das utilizadas nos serviços protegidos, além disso essa atividade opera com
baixíssima potência, sendo praticamente impossível a interferência prejudicial nos serviços
primários de telecomunicações.
Importante ressaltar que o serviço que opera com equipamentos de radiação restrita só
podem causar interferências no mesmo tipo de serviço, ou seja, internet via rádio só pode
interferir em outro serviço de internet via rádio, por operar em frequências similares, mas tais
serviços não gozam de proteção legal contra interferência. Vejamos o art. 4º do anexo da
resolução 506 da ANATEL:
Art. 4º As estações de radiocomunicação correspondentes a equipamentos de radiação restrita operam em caráter secundário, isto é, não têm direito a proteção contra interferências prejudiciais provenientes de qualquer outra estação de radiocomunicação nem podem causar interferência em qualquer sistema operando em caráter primário.
Nesse mesmo entendimento o art. 6º frisa novamente que os serviços que utilizam
radiação restrita não gozam de proteção e ainda frisam os equipamentos que a utilizam não
podem interferir em serviços primários de telecomunicações, que são os que devem ser
protegidos. A norma ainda determina que tal condição seja expressa nos próprios
equipamentos. In verbis:
Art. 6º Os equipamentos de radiação restrita devem conter, em lugar facilmente visível, uma etiqueta de difícil remoção, contendo a seguinte declaração: “Este equipamento opera em caráter secundário, isto é, não tem direito a proteção contra interferência prejudicial, mesmo de estações do mesmo tipo, e não pode causar interferência a sistemas operando em caráter primário.”
A aludida norma esclarece que a: Internet via rádio, não interfere em serviços
protegidos, como radiodifusão.
Para evidenciar ainda mais o quanto é inexistente a capacidade lesiva dos
equipamentos wireless que provém acesso à internet. Transcritos abaixo os ensinamentos de
Carvalho (2007, p.36 ):
Actualmente as redes Wi-Fi comunicam numa frequência que ronda os 2.45GHz, integrando a banda Industrial, Scientific and Medical (ISM), a qual é reconhecida
20
pela Internacional Telecommunication Union (ITU) como sendo de livre uso [ITU-R, 2007]. Isto significa que não é necessário obter qualquer tipo de licença para poder transmitir nesta banda, estando aberta a todas as pessoas e empresas. Apesar de pertencerem à família das ondas rádio não se devem confundir com outros tipos de ondas rádio, como por exemplo as das emissões de rádio licenciadas, as quais são recebidas por outro tipo de equipamento (o rádio), que funciona entre os 80 e 120MHz, um valor muito mais baixo dos 2.4GHz do Wi-Fi. Os microondas funcionam tal como o Wi-Fi na gama dos 2.4GHz, mas operam a potências superiores, pois grande parte dos equipamentos Wi-Fi emitem uma potência de 0,2 Watts e os microondas emitem à volta de 700 Watts.
Com pode ser observado, os equipamentos utilizados nos serviços de rede wi-fi
(wireless) são de potências tão pequenas que chegam a ser muito inferiores a de um forno de
microondas.
Pela comparação demonstrada, o serviço de internet via rádio, embora também use
radiofrequência, não tem nenhuma relação como os serviços de Radiodifusão, funcionando
em frequências totalmente distintas e também em potências e raio de alcance infinitamente
inferiores, não podendo, portanto, provocar interferências prejudiciais nos serviços primários
de telecomunicações (Radio, televisão, comunicação de aviões), pois cada serviço possui suas
faixas de frequências reservadas. Portanto, não se pode admitir que o provimento de internet
via rádio, quando atuante nas frequências definidas no regulamento ( 902-907,5 MHz, 915-
928 MHz, 2.400-2.483,5 MHz e 5.725-5.850 MHz) e baixa potência, tenha potencial de lesar
a segurança das telecomunicações, sendo assim, como não há o potencial lesivo ao bem
jurídico protegido, não há tipicidade material, logo a conduta é atípica.
Diante do apresentado, é possível a resposta da pergunta levantada no início do
trabalho: “Guarda semelhança uma estação de radiodifusão clandestina e uma de
fornecimento de internet via ondas de rádio ?”. Por conseguinte, o serviço de radiodifusão não
nada tem de semelhança com o serviço de internet via rádio.
5 INTERPRETAÇÃO DA NORMA
Analisada a tipicidade formal e material dos serviços de internet via rádio perante o
preceito contido no art. 183 da lei 9.472/97, se faz necessária uma análise hermenêutica dessa
norma buscando alcançar o real objetivo do legislador ao promulgá-la.
21
A primeira observação que se pode fazer dessa norma é que ela foi editada em 1997.
Com esse dado é possível fazer algumas considerações hermenêuticas sob o ponto de vista
histórico.
Inicialmente é importante pontuar que conforme informações da Universidade de
Maringá16, somente em 1998 que no Brasil que foi inventado o acesso de internet via ondas de
rádio. No entanto, consoante Carvalho (2007)17 as redes “WI-FI”, que é a utilizada atualmente
nos serviços de internet por ondas de rádio, foram desenvolvidas em 1999 pelo Institute of
Electrical and Electronic Engineers (IEEE), ou seja, só após da promulgação da lei 9.472/97,
que foi publicada em16 de julho de 1997. Além disso após muitos anos é que essa tecnologia
se popularizou.
Sendo assim, através dessa interpretação histórica da norma, conclui-se que não foi
objetivo do legislador coibir a internet wireless, pois essa ainda não havia sido inventada e
estava muito longe de ser popularizada.
Por outro lado, segundo o entendimento de Neto (2002) 18, em meados da década de
noventa era crescente o número de estação de radiodifusão clandestina as ditas “rádios
piratas” e que a intenção do legislador seria criar uma barreira para esse tipo de serviço, pois,
conforme o autor, havia muita pressão das grandes emissoras de Rádio e também de
Televisão, para coibir as rádios comunitárias.
Conforme a explicação acima, fica evidente não ter sido a intenção legislativa a
coibição do serviço de internet via rádio e sim o de radiodifusão.
6 PRINCÍPIOS DA LESIVIDADE E INTERVENÇÃO MÍNIMA
Pelos ensinamentos de Nucci (2008)19 o direito penal é considerado a última ratio,
devendo ser visto como subsidiário aos demais ramos do direito, só devendo atuar no fracasso
de outras formas de punição ou solução de conflitos. É o que alguns autores chamam de
princípio da intervenção mínima ou princípio da subsidiariedade.
16 Disponível em: http://www.din.uem.br/museu/hist_dainternet.htm17 Disponível em: http://repositorio.utad.pt/bitstream/10348/78/1/msc_jfmcarvalho.pdf18 NETO, Armando Coelho. Rádio Comunitária não é crime: Direito de antena: O espectro eletromagnético como bem difuso. São Paulo: Ícone, 2002.19 NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de direito penal: parte geral : parte especial. 4. ed. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2008.
22
Além disso, os ensinamentos de Bitencourt(2010, p.52)20 sustenta que “para que se
tipifique algum crime, em sentido material, é indispensável que haja, pelo menos, um perigo
concreto, real e efetivo de dano a um bem jurídico penalmente protegido” (grifo no original).
É o que a doutrina chama de princípio da lesividade (ou ofensividade).
Dessa feita, a conduta de promover acesso à internet através de ondas de rádio sem a
devida autorização não deve ser incriminada pelo direito penal, pois como demonstrado
anteriormente não há risco a segurança das telecomunicações, sendo portanto a incriminação
uma violação direta ao princípio da intervenção mínima, bem como ao princípio da
lesividade.
Nesse sentido, já houve diversos julgados como a seguinte decisão:
PENAL. ATIVIDADE CLANDESTINA DE TELECOMUNICAÇÃO. "RÁDIO PIRATA". ART. 183 DA LEI 9.472/97. BAIXA POTENCIALIDADE LESIVA. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. ATIPICIDADE. 1. Não se configura o crime descrito no artigo 183 da Lei 9.472/97 quando a conduta não tem potencialidade lesiva ao bem jurídico tutelado (sistema de telecomunicações), em decorrência da baixa potência do aparelho clandestino (até 25 watts). 2. Aplicação do princípio da insignificância, com a consequente absolvição sumária do réu, pela atipicidade da conduta. (TRF4, ACR 2007.71.10.002668-0, Sétima Turma, Relator Sebastião Ogê Muniz, D.E. 25/03/2010)
A decisão transcrita, embora trate de rádio pirata e não internet via rádio, deixa
bastante claro que se não houver ameaça de lesão a bem jurídico protegido a conduta é
atípica. Além disso, a decisão considera potências abaixo de 25 watts como baixa, incapaz de
provocar dano. Como já explicitado, as estações de internet via rádio costumam operar com
equipamentos de potência inferior a 1 watt, sendo portanto ainda mais expressiva a ausência
de lesividade.
Por outro lado, o TRF da primeira região, acompanhando um entendimento até o
momento majoritário, julgou não importar para configuração do delito a aferição da
lesividade, in verbis:
PENAL. PROCESSUAL PENAL. REDE DE INTERNET VIA RÁDIO. FUNCIONAMENTO SEM LICENÇA DA ANATEL. LESIVIDADE DA CONDUTA. CRIME DE PERIGO ABSTRATO. DESNECESSIDADE DE EFETIVO PREJUÍZO.1. O tipo penal descrito no art. 183 da Lei 9.472/97 é crime de perigo abstrato, coletivo, cujo bem jurídico tutelado são os meios de comunicação, pois se sabe que o funcionamento dessas rádios pode causar
20 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte geral 1. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2010
23
interferência em vários sistemas afins, principalmente o aéreo, colocando em risco a navegação segura que se espera desse tipo de atividade. Para caracterização exige-se a comprovação do desenvolvimento clandestino de atividade de telecomunicações.1839.4722. Não há nos autos qualquer documento oriundo do acusado pleiteando, junto à Agência Nacional de Telecomunicações - ANATEL, a autorização prévia necessária para funcionamento do provedor de acesso à internet, o que afastaria, em tese, a clandestinidade exigida pelo tipo penal.3. Na espécie, não se trata de rádio, mas de "internet via rádio" ou "internet sem fio", a qual, apesar de ter freqüência baixa, é danosa e susceptível de causar interferência nos meios de comunicação. Não há a necessidade de efetivo prejuízo para que se caracterize o referido crime, uma vez que se trata de delito formal, cuja consumação independe de resultado naturalístico.4. Desnecessária a realização de perícia in loco para aferir a potência efetiva irradiada da internet de modo a saber se houve dano pela utilização do transmissor operado pelo réu, eis que o perigo de dano, abstratamente considerado, já é suficiente para a sua consumação e foi demonstrado pelos fiscais da ANATEL. O tipo em análise busca tutelar toda a operacionalidade do sistema de comunicações, razão pela qual, ainda que se trate de serviço de comunicação multimídia, que não provocou danos efetivos, o princípio da insignificância deve ser afastado.5. Recurso provido.(TRF1 - RECURSO EM SENTIDO ESTRITO: RSE 29197 GO 0029197-25.2011.4.01.3500, Relator: DESEMBARGADOR FEDERAL TOURINHO NETO, Data de Julgamento: 15/05/2012, TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: e-DJF1 p.882 de 18/05/2012)
Não consideramos acertada a respeitável decisão, pois a mesma afirma ser a atividade
lesiva aos serviços aéreos, sem qualquer fundamentação técnica. A decisão afirma que o
serviço é de baixa frequência, quando deveria falar de baixa potência. Sendo assim, ao que
parece, faltou aprofundamento técnico sobre o tema no referido julgamento.
Nesse contexto, os doutos ensinamentos da Exma. Dra. Acácia Suassuna, do
Ministério Público Federal na Promoção de arquivamento nº 1245/2012, aborda o aspecto da
lesividade, conforme o trecho:
Impende registrar que se tais equipamentos fossem usados da mesma forma em que foram submetidos, no entanto com fins de utilização própria (sem fins comerciais) não seria necessário nem outorga de autorização da ANATEL (visto que incidiria no inciso II do art. 3º do anexo da Resolução 506 da ANATEL, conforme já explicado acima) o que afastaria também a tipicidade formal da conduta. Ora o equipamento não se tornará mais ou menos lesivo para segurança das telecomunicações com ou sem outorga de autorização. Trata-se apenas de uma questão a ser resolvida no âmbito administrativo. Se já não é lesivo a segurança das telecomunicações por possuir menos de 400mW com autorização da ANATEL, tampouco será lesivo se com a mesma potência não possuir a referida outorga. O documento autorizativo em nada mudará a frequência ou potência do aparelho não influindo em sua condição de lesividade. (grifo no original)
24
O parecer ministerial deixa claro que a outorga autorizativa em nada influencia na
capacidade lesiva do equipamento utilizado, sendo assim não fere o bem jurídico protegido,
que é a segurança das telecomunicações.
Nesse mesmo entendimento, decidiu o juízo da 4 ª vara federal do Estado da Paraíba
nos autos do processo 0001539-40.2012.4.05.8201:
(...) 10. No entanto, essa mesma espécie de equipamento pode ser utilizada sem necessidade de qualquer autorização da ANATEL, mesmo que além dos limites de uma mesma edificação ou propriedade móvel ou imóvel, quando destinado o seu uso para fornecimento de internet sem fio ao próprio proprietário do equipametno ou a um grupo determinado de usuários, nos termos do inciso II, parágrafo único, do art. 3º da Resolução nº 508/2006 (sic) da ANATEL, vez que a ele não aplicada a exceção do § 2º do art. 39 dessa Resolução, referida pelo inciso III do seu já mencionado art. 3º.11. Ess fato demonstra que os equipamentos de radiocoumunicaçãio utilizados pelo indiciado, por operarem em caráter secundário, não trazem por si só qualquer risco às atividades de telecomunicação, tanto assim que é permitido o seu uso sem qualquer autorização, nas hipóteses mencionadas no parágrafo anterior.12. Em face disso, fica evidente que a atuorização exigida para o serviço de comunicação multimídia (SCM prestado em caráter comercial dirige-se à regulação desse tipo de serviço e não, ao disciplinamento e proteção do uso do espectro de radiofrequencias(sic), pois se houvesse qualquer risco quanto a este uso, sempre seria exigida a aputorização para sua ocorrência.13. A norma penal incriminadora do art. 183 da Lei nº 9.472/97 visa proteger bem jurídico maior consubstanciado no uso ordenado e adequado do espectro eletromagnético, não se destinando á mera garantia da observância de normas de cunho administrativo quanto à necessidade de autroização para prestação de determinado serviço de telecomunicação. (grifo no original)
Como já explicitado, não é a mínima interferência que é protegida pela norma, mas aquela
que tenha o condão de degradar seriamente, obstruir ou ainda interromper repetidamente outros
serviços (parágrafo único do art. 159 da lei 9.472/97), o que não ocorre no caso em tela.
É importante deixar claro que defender a não punição criminal não é o mesmo que
defender a impunidade, já existe a punição na esfera administrativa que é a aplicação de multa
e interrupção do serviço, no entanto a punição penal é que deve ser combatida, por se tratar
de conduta incapaz de gerar lesão a bem jurídico tutelado. Lembrando que a intervenção do
direito penal na sociedade deve ser mínima.
Sendo assim, a conduta de fornecer clandestinamente “internet via rádio” não deve ser
considerada crime por ausente a tipicidade material, ante a ausência de lesividade às
telecomunicações.
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7 POSIÇÃO JURISPRUDENCIAL
Atualmente o entendimento sobre o tema não é pacífico, havendo divergências entre
turmas e tribunais que ora tratam o provimento clandestino de internet por ondas de rádio
como crime e ora como conduta atípica. Vejamos a título de exemplo duas decisões recentes
do Tribunal Regional Federal da 5ª Região:
Apelação criminal desafiada contra sentença que absolveu o réu da prática do crime de desenvolver clandestinamente atividade de telecomunicação, previsto no art. 183, caput, da Lei 9.472, combinado com o ilícito de destruição de lacre, encastelado no art. 336, do Código Penal.- Perícia técnica realizada pela Polícia Federal que restou inconclusiva quanto à potência dos equipamentos, sobre a capacidade de prover sistemas de internet via rádio ou de provocar interferência em outros meios de comunicação, f. 438.- Inexitosa comprovação de que o réu tenha se portado dolosamente ao romper o lacre que impossibilitava o funcionamento dos equipamentos, inclusive porque esta utilização não acarretaria nenhuma consequência ilícita, parecendo o caso se assemelhar mais às hipóteses de crime impossível, previstas no art. 17, do Código Penal.- Parecer bem lançado pela Procuradoria Regional da República da 5ª Região, opinando pelo improvimento do apelo e consequente manutenção do decreto absolutório.- Fatos narrados na exordial acusatória que são de pequena monta e sequer deveriam dar ensejo a uma persecução criminal. Ao revés, melhor seria, se fosse o caso, sancioná-los através da via administrativa competente.- Outrossim, caso o presente apelo conduzisse a uma reforma do veredicto absolutório hostilizado, fatalmente a pretensão punitiva estatal restaria fulminada pela preclusão retroativa, visto que os fatos investigados datam dos anos de 2007 e 2008.Apelação improvida. Veredicto absolutório mantido, em todos os seus termos.
(TRF5 PROCESSO: 200782000069958, ACR9672/PB, RELATOR: DESEMBARGADOR FEDERAL VLADIMIR CARVALHO, Segunda Turma, JULGAMENTO: 23/04/2013, PUBLICAÇÃO: DJE 25/04/2013 - Página 434)
Em sentido totalmente oposto:
PENAL. SERVIÇO DE COMUNICAÇÃO MULTIMÍDIA, DE ACESSO À INTERNET, VIA RÁDIO, SEM AUTORIZAÇÃO DA AGÊNCIA NACIONAL DE TELECOMUNICAÇÕES - ANATEL. ART. 183 DA LEI Nº 9.472/97. CRIME EM TESE.1. Apelado denunciado pela prática do delito tipificado no art. 183 da Lei nº 9.472/97, sob alegação de que teria transmitido sinal de internet através de radiofrequência sem a autorização da Agência Nacional de Telecomunicações - ANATEL.
26
2. Segundo o entendimento do eg. STJ, o ato de transmitir, clandestinamente, sinal de internet através de rádio configura, em tese, o delito descrito no art. 183 da Lei Geral de Telecomunicações.3. Considerando a tipicidade da conduta atribuída ao recorrido e que a ação criminal teve seu curso interrompido em face da aplicação do art. 397, III, do CPP (absolvição sumária), deve retornar o feito ao juízo a quo para o seu normal prosseguimento, em homenagem aos princípios do devido processo legal, da ampla defesa e do contraditório.4. Apelação provida.
(TRF5 PROCESSO: 200882010025087, ACR9542/PB, RELATOR: DESEMBARGADOR FEDERAL ÉLIO WANDERLEY DE SIQUEIRA FILHO (CONVOCADO), Terceira Turma, JULGAMENTO: 21/02/2013, PUBLICAÇÃO: DJE 26/02/2013 - Página 235)
Observam-se do enxerto duas decisões recentes de um mesmo tribunal divergindo em
entendimento consoante a turma julgadora. Tal situação se repete em outros tribunais, no
Tribunal Regional Federal da 4ª Região a alternância de julgados é ainda mais expressiva.
Constata-se:
EMENTA: PENAL. DESENVOLVIMENTO CLANDESTINO DE ATIVIDADE DE TELECOMUNICAÇÃO. ART. 183, CAPUT, DA LEI Nº 9.472/97. SERVIÇO DE ACESSO A INTERNET VIA RADIOFREQÜÊNCIA. POTENCIALIDADE LESIVA NÃO DEMONSTRADA. AUSÊNCIA DE ELEMENTOS PARA AFERIÇÃO DA CAPACIDADE DOS EQUIPAMENTOS UTILIZADOS. ABSOLVIÇÃO MANTIDA. 1. Não basta para a configuração do crime previsto no art. 183 da Lei nº 9.472/97 a simples ausência de licença para operar o serviço de comunicação. Faz-se necessário conhecer a potência do transmissor usado, por imprescindível para a verificação da real potencialidade lesiva da conduta. 2. No caso, não havendo sequer descrição do aparelho utilizado para a operação do serviço de comunicação via rádio, tendo sido apreendidos apenas computadores e outros acessórios, não é possível determinar a capacidade de interferência nas atividades regulares, o que, via de conseqüência, afasta a caracterização do delito. 3. Absolvição mantida. (TRF4, ACR 2004.72.07.006895-1, Sétima Turma, Relator Tadaaqui Hirose, D.E. 25/07/2007)
EMENTA: PENAL. ARTIGO 183 DA LEI Nº 9.472/97. TELECOMUNICAÇÕES. PROVEDOR DE INTERNET. AUTORIA E MATERIALIDADE COMPROVADAS. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. CLANDESTINIDADE. PEDIDO ADMINISTRATIVO. A prática habitual de atividade de telecomunicação sem a devida autorização dos órgãos públicos competentes subsume-se ao tipo previsto no artigo 183 da Lei nº 9.472/97. O afastamento da tipicidade pela ausência de clandestinidade, somente se verifica, segundo reiterada jurisprudência, se anteriormente a colocação do equipamento de telecomunicação em funcionamento o requerente protocola pedido junto à ANATEL. Requerimento posterior a verificação do funcionamento não afasta a tipicidade penal. É de se rechaçar a aventada insignificância quando se tratar de serviço clandestino de provedor à internet. Precedentes. (TRF4, ACR 0000793-07.2008.404.7211, Oitava Turma, Relator Sebastião Ogê Muniz, D.E. 07/02/2012)
27
EMENTA: PENAL E PROCESSUAL PENAL. PROVEDOR DE INTERNET CLANDESTINO. ARTIGO 183 DA LEI Nº 9.472/97. POTÊNCIA INFERIOR A 25 WATTS. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. APLICAÇÃO. ATIPICIDADE. ABSOLVIÇÃO MANTIDA. 1. Embora exigida a autorização do órgão competente, a utilização de aparelho com potência abaixo de 25W autoriza a aplicação do princípio da insignificância, por sua incapacidade de ocasionar prejuízo ao bem jurídico tutelado pela norma. 2. Mantida a absolvição. (TRF4, ACR 5002857-82.2010.404.7000, Oitava Turma, Relator p/ Acórdão Victor Luiz dos Santos Laus, D.E. 22/07/2011)
Pelo transcrito, fica demonstrado que a oitava turma do tribunal num momento julga
que o provimento clandestino da internet via rádio é crime previsto na art. 183 da LGT,
noutro decide ser atípica a radiodifusão operando com menos de 25 watts de potência por não
ser lesivo à segurança das telecomunicações. Esse último julgado, embora não se refira de
internet via rádio demonstra ser insignificante a operação com menos de 25 Watts, então pode
ser perfeitamente aplicado ao fornecimento de internet que normalmente opera em potências
muito menores, geralmente na casa dos Miliwatts.
Noutro entendimento, a oitava turma se pronuncia afirmando não bastar a adequação
da conduta a norma, mas também é necessário averiguação da lesividade dos equipamentos
utilizados.
A jurisprudência majoritária ainda julga como criminosa a conduta em estudo, porém
o melhor posicionamento considera necessária a análise da lesividade da conduta.
8 EQUIPAMENTOS EM CONDIÇÕES QUE FUJAM DO PREVISTO N A RESOLUÇÃO 506
DA ANATEL
Pelas razões já demonstradas ao longo desse trabalho, não deve ser considerado crime
o fornecimento de internet quando funcionem com equipamentos de radiação restrita,
atuando nas frequências previstas o regulamento, em cidade com menos de 500 mil
habitantes e também em cidades com habitantes superior a esse limite desde que operem até o
limite de 400mW.
Quando o serviço se der em equipamentos que não sejam de radiação restrita, ou
sendo atuem em outras frequências, ou em potências elevadas em cidades com mais de 500
28
mil habitantes, nesses casos será necessária uma análise técnica/pericial no caso concreto que
busque a lesividade do equipamento para a segurança das telecomunicações.
No entanto, não é salutar considerar crime quando se puder comprovar a ofensividade
do serviço sob pena de se ferir diversos princípios de direito penal, entre eles o da lesividade,
ultima ratio, insignificância, presunção de inocência.
29
9 CONCLUSÃO
Diante de todo o explanado, concluímos que o serviço não autorizado das empresas
denominadas “internet via rádio” é considerado crime por grande parte da jurisprudência, por
outro lado, decisões mais principiológicas consideram a atividade atípica.
Verifica-se ao longo do trabalho, alguns julgados que não levam em consideração os
aspectos técnicos em questão, mas limita-se no caso concreto apenas uma subsunção formal
da conduta à norma. Em outras situações, limitam-se de forma genérica a afirmar que há
perigo às telecomunicações sem contudo adentrar nos aspectos técnicos pertinente ao tema.
Observa-se que tecnicamente difere bastante em frequência e potência os
equipamentos utilizados pelo serviço de fornecimento de internet com outros serviços de
telecomunicação em especial com os de rádio difusão.
Esse trabalho buscou dar uma resposta sobre a dúvida se a “internet via rádio”
constitui um serviço de telecomunicação ou um serviço de valor adicionado. Foi verificado
que o serviço constitui uma mescla de ambos.
O presente estudo focou nas situações das frequências descritas na resolução da
ANATEL, com baixas potências e em cidades com menos de 500 mil habitantes. No entanto,
situações que fujam dessas condições, como nos casos em que a potência utilizada for muito
alto, não foi objeto de aprofundamento deste trabalho, portanto são questões que ainda devem
ser respondidas.
Ficou demonstrado que o serviço de prover sinal de internet através de
radiofrequência, não deve ser confundido com outros serviços de telecomunicação como os de
radiodifusão.
Desse modo concluímos que deve ser considerada atípica a conduta de fornecer sem
autorização o sinal de internet através de ondas de rádio, até que estudos mais aprofundados
possa servir de base para tornar as decisões mais unificadas.
30
ABSTRACT
This work aims at the analysis of the approach to provide internet signal via radio waves,
verifying that it conforms to the crime of illegal activity exercise telecommunications. With
support doctrinal, jurisprudential, and above all, with a brief technical analysis, it is shown
that the understanding of the topic is not yet disputed, but in principle the exercise of
providing so-called "internet radio" clandestinely should not be considered a crime .
KEYWORDS: Crime telecommunications, telecommunications clandestine service, wireless
internet, internet radio, internet underground.
31
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SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MJ-DEPARTAMENTO DE POLÍCIA FEDERAL DELEGACIA DE POLÍCIA FEDERAL
14/05/2013- 15:17
INQUÉRITOS
Instaurado Proced. Sit. Iniciativa Delegado Escriváo Lei [arIi_g_ol 17/05/2012 IPL 121/2012-4 R Portaria ! GUSTAVO PAIVA ia - LEI 9472/97 - ORGANIZACAO DOS SERVWS DE
TELECOMUNICACOES [183] 25/06/2012 IPL 192/2012-4 NP Portaria ALCANTARA DICGENES - LEI 9472/97 - OFIGANIZACAO DOS SERVICOS DE
TELECOMUNICACOES [183] 13/10/2011 1PL 211/2011-4 NP Portaria FELIPE rANDRÓ 1a - LEI 9472/97 - ORGANIZACAO DOS SERVICOS DE
TELECOMUNICACOES [183] 09/09/2009 IPL 225/2009-4 CC Portara GUSTAVO PAIVA 1a - LEI 9472/97 - ORGANIZACAO DOS SERVICOS DE
TELECOMUNICACOES [183] 23/08/2010 1PL 225/2010-4 CC Portaria FELIPE MARCIA a - LEI 9472/97 - ORGANIZACAO DOS SERVICOS DE
TELECOMUNICACOES [183] 14/09/2009 [PL 227/2009-4 AR Portaria ADRIANO PAIVA 1 2 - LEI 9472/97 - ORGANIZACAO DOS SERVICOS DE
TELECOMUNICACOES [183] 12/02/2009 IPL 23/2009-4 R Portaria BESSA LUCIANA 1 2 - LEI 9472/97 - ORGANIZACAO DOS SERVICOS DE
TELECOMÚNICACOES [183] , 14/09/2009 IPL 230/2009-4 Portaria BESSA LUCIANA ia - LEI 9472/97 - ORGANIZACAO DOS SERVICOS DE
TELECOMUMCACOES [183] 25/08/2010 IPL 233/2010-4 R Portaria RICARDO DIÓGENES - LEI 9472/97 - ORGANIZACAO DOS SERVICOS DE
TELECOMUNICACOES [183], 2a - LEI 4.117/62 (CODIGO BRASILEIRO DE TELECOMUNICACOES) [70]
112/02/2009 IPL 24/2009-4 AR Portaria GUSTAVO PAIVA 1a - LEI 9472/97 - ORGANIZACAO DOS SERVICOS DE TELECOMUNICACOES [183]
30/09/2009 IPL 253/2009-4 AR ! Portaria RICARDO DIÓGENES ia - LEI 9472/97 - ORGANIZACAO DOS SERVICOS DE TELECOMUNICACOES [183]
30/09/2009 IPL 254/2009-4 R Portaria RICARDO DIÓGENES la - LEI 9472/97 - ORGANIZACAO DOS SERVICOS DE TELECOMUNICACOES1183]
10709/2009 IPL 256/2009-4 R Portaria I ADRIANO GADELHA 1a - LEI 9472/97 - ORGANIZACAO DOS SERVIÇOS DE TELECOMUNICACOES [183]
1 30/09/2009 IPL 257/2009-4 CC Portaria RICARDO DIOGENES 1 2 - LEI 9472/97 - ORGANIZACAO DOS SERVICOS DE TELECOMUNICACOES [183]
16/02/2009 IP L 26/2009-4 R Portaria BESSA LUCIANA 1 2 - LEI 9472/97 - ORGANIZACAO DOS SERVICOS DE TELECOMUNICACOES [183]
20/08/2012 [PL 268/2012-4 NP Portaria 1ALCANTARA . DIÓGENES la - LEI 9472/97 - ORGANIZACAO DOS SERVICOS DE TELECOMUNICACOES [183]
22/10/2009 IPL 286/2009-4 CC ' Portaria 1 RICARDO DIÓGENES 1a - LE1 4.117/62 (CODIGO BRASILEIRO DE TELECOMUNICACOES) [70], 2a - LEI 9472/97 - ORGANIZACAO DOS SERVICOS DE TELECOMUNICACOES [1831
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22/10/2009 IPL 289/2009-4 AB Portaria RICARDO DIÓGENES 1 2 - LEI 4.117/62 (CODIGO BRASILEIRO DE TELECOMUNICACOES) [70], 22 - LEI 9472/97 - ORGANIZACAO DOS SERViCOS DE TELECOMUNICACOES [183]
22/10/2009 IPL 290/2009-4 Portaria ALEXANDRE ENIO 1a - LEI 4.117/62 (CODIGO BRASILEIRO DE TELECOMUNICACOES) [701, 2a - LEI 9472/97 - ORGANIZACAO DOS SERVICOS DE TELECOMUNICACOES [183]
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14/10/2010 IPL 301/2010-4 AR Portaria RICARDO DlóGENES ia - LEI 9472/97 - ORGANIZACAO DOS SERVICOS DE TELECOMU N ICACO ES [183]
14/10/2010 IPL 302/2010-4 AR Portaria RICARDO DIÓGENES 1a - LEI 9472/97 - ORGANIZACAO DOS SERVICOS DE TELECOMUNiCACOES [183j
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INQUÉRITOS
14/05/2013 - 15:17
• Instaurado Proced. Sit. Iniciativa ' Delegado Escriváo Lei [artigo] 12/11/2009 IPL 309/2009-4 CG Portaria ALEXANDRE ENIO ia - LEI 4.117/62 (CODIGO BRASILEIRO DE
TELECOMUNICACOES) [70], 2a - LEI 9472/97 - OFIGANIZACAO DOS SERVICOS DE TELECOMUNICACOES [183]
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04/11/2010 IPL 320/2010-4 Portaria FELIPE WASHINGTON i - LEI 9472/97 - ORGANIZACAO DOS SERVICOS DE TELECOMUNICACOES [183]
04/11/2010 IPL 321/2010-4 R Portaria FELIPE I WASHINGTON 1 8 - LEI 9472/97 - ORGANIZACAO DOS SERVICOS DE TELECOMUNICACOES [[83]
04/11/2010 IPL 322/2010-4 Portaria FELIPE DIÓGENES ia - LEI 9472/97 - ORGANIZACAO DOS SERVICOS DE TELECOMUNICACOES [183]
21/02/2011 IPL 34/2011-4 Portaria , GUSTAVO PAIVA ia - LEI 9472/97 - ORGANIZACAO DOS SERVICOS DE TELECOMUNICACOES [183]
11/12/2009 IPL 347/2009-4 AR Portaria BESSA LUCIANA 1 3 - LEI 9472/97 - ORGANIZACAO DOS SERVICOS DE TELECOMUNICACOESJ183]
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02/04/2009 I PL 54/2009-4 AR Portaria ADRIANO WASHINGTON 1 3 - LEI 9472/97 - ORGANIZACAO DOS SERVICOS DF TELECOMUNICACOFS [183]
02/04/2009 IPL 55/2009-4 CC Portaria ADRIANO ANDRe 1 a - LEI 9472/97 - ORGANIZACAO DOS SERVICOS DE TELECOMUNICACOES [183]
06/04/2009 IPL 62/2009-4 CC Portaria ADRIANO PAIVA 1a - LEI 9472/97 - ORGANIZACAO DOS SFRVICOS DE TELECOMUNICACOES [183]
07/04/2009 IPL 63/2009-4 AP Portaria BESSA LUCIANA 1a - LEI 9472/97 - ORGANIZACAO DOS SERVICOS DF TELECOMUNICACOES [183]
-E 18/02/2010 IPL 76/2010-4 CC Portaria RICARDO DtÓGENES 1 3 - LEI 9472/97 - ORGANIZACAO DOS SERVICOS DE TELECOMUNICACOES [183]
04/05/2011 IPL 76/2011-4 NP Portaria FELIPE ANDRé la - LEI 9472/97 - ORGANIZACAO DOS SERVICOS DE TELECOMUNICACOES_[183]
14/04/2009 IPL 77/2009-4 AR Portaria BESSA LUCIANA 1 3 - LEI 9472/97 - ORGANIZACAO DOS SERVICOS DE TELECOMUNICACOES [183]
17/04/2009 IPL 81/2009-4 AR Portaria ADRIANO ANDRé ia - LEI 9472/97 - ORGANIZACAO DOS SERVICOS DE TELECOMUNICACOES [183]
04/05/2009 ]PL 92/2009-4 R Portaria RICARDO DIÓGENES 1 3 - LEI 9472/97 - ORGANIZACAO DOS SERVICOS DF TELECOMUNICACOES [183], 2a - LEI 4.117/62 (CODIGO BRASILEIRO DE TELECOMUNICACOES) [70]
24/05/2011 i IPL 92/2011-4 CC Flagrante ADRIANO MAX 1 3 - LEI 9472/97 - ORGANIZACAO DOS SERVICOS DE TFLECOMUNICACOES [183]
Subtotal 47
TOTAL DE PROCEDIMENTOS: 47
SISCART Página: 2 de 2
Demonstrativo de cálculos
Primeiramente, para se trabalhar com fórmula de atenuação é preciso converter as potências de Watt
para dbm.
A fórmula de conversão1 é a seguinte: Potência em dbm = 10 x log(potência em watt x 1000)
Fazendo a conversão da situação 1 (25w para dbm): Pdbm = 10xlog(25x1000)
Isso vai resultar numa potência de 43,98dbm
Agora de posse é possível trabalhar com a fórmula da perda do sinal apresentada no trabalho:
Pr = Pt- At
Pr= 43,98-(32,4+20 x log F (Mhz) + 20 x log R (Km))
Substituindo as variáveis:
Pr=43,98 -(32,4+20xLog 89 + 20 x Log 1)
Pr=43,98 -(32,4+20x1,95+20x0)
Pr=43,98-(32,4+38,99)
Pr=43,98-71,39
Pr=-27,41dbm
A potência após um quilômetro de distância é de -27,41dbm, agora para converter dbm em Watt é
preciso aplicar a seguinte fórmula: PWatt = (10 (0,1*Pdbm))/1000
Fazendo a conversão: P em watt = 10(0,1x-27,41)/1000
Pwatt= 0,000018 W
Agora os valores da situação 2:
Convertendo a potência de 50.000W
Pdbm=10xlog(50000x1000)
Pdbm=76,99dbm
Substituindo os valores na fórmula da perda do sinal
Preceptor=Ptransmissor-Atenuação
P=76,99-(32,4+20 x log F (Mhz) + 20 x log R (Km))
P=76,99-(32,4+20 x log (93,1) + 20 x log R (1))
P=76,99-(32,4+20 x 1,967 + 20 x 0)
P=76,99-(32,4+39,4 + 0)
P=76,99-71,74
P=5,25dbm (valores aproximados devido a arredondamentos)
Convertendo para Watt
Pwatt = 10(0,1x5,25)/1000
1 Disponível em: <http://www.novanetwork.com.br/suporte/calculos/db-para-mw.php>
Pwatt= 0,0033W
Situação 3:
Conversão de potência
Pdbm=10xlog(0,4*1000)
Pdbm=26,04dbm
Substituindo os valores na fórmula de perda de potência:
P=26,04-(32,4+20 x log F (Mhz) + 20 x log R (Km))
P=26,04-(32,4+20xlog(2400)+0)
P=26,04-(32,4+20x3,38)
P=26,04-(100)
P= -73,96dbm
Convertendo para Watt resulta em uma potência de 0,000000000039W